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Por que Emile Durkheim, Karl Marx e Max Weber são considerados “clássicos”?

Para
saber, acompanhe a “árvore genealógica” de suas ideias.

Observe que os estudos, as teorias e os conceitos destes autores se tornaram


fundamentais para seus sucessores, os sociólogos (e outros intelectuais) modernos e
contemporâneos, desenvolverem suas análises sobre as diversas sociedades onde atuam.
Por isso, as teorias da atualidade mantêm uma relação com eles, seja direta ou
indiretamente, seja afirmativa ou criticamente.

Aula 1 - Emile Durkheim e a solidariedade


social

Emile Durkheim (1858-1917) foi o pensador francês responsável por estabelecer a


sociologia como disciplina rigorosamente científica. Transformou a sociedade em
objeto de análise científica ao considerá-la um fato “sui generis“.
Por isso, entendia que era preciso:

Livro Didático
Para aprofundar seu conhecimento sobre o autor, estude, agora, no livro didático, a
seção “A perspectiva sociológica”, o item Durkheim: de problemas sociais a
estruturas sociais. (p.09-11); e na seção “A questão social e a necessidade de uma
ciência social”, o item Durkheim e o método. (p.23) No primeiro item, especialmente
aborda um dos temas-chave de seus estudos: a supremacia do social sobre o individual,
ao estudar o suicídio.
Ao desenvolver seus estudos, produziu conceitos que ainda hoje são importantes
instrumentos de análise: divisão do trabalho social e solidariedade; consciência
coletiva, normalidade, patologia e fatos sociais.
DIVISÃO DO TRABALHO SOCIAL
Segundo Durkheim, as sociedades organizam seus membros – indivíduos, grupos e
instituições sociais – através de uma divisão do trabalho social, ou seja, são divididos
em diferentes funções necessárias ao funcionamento de uma sociedade.
O grau de desenvolvimento de uma sociedade seria identificado pela quantidade de
funções existentes. Veja:

Sociedades simples ou segmentadas

Nessas sociedades, quase não haveria uma divisão do trabalho social, pois um
indivíduo poderia realizar diversas funções, como: caçar, pescar etc.

Sociedades complexas

Ao evoluir, as sociedades tendem a dividir cada vez mais os papéis especializados,


tornando a relação entre os indivíduos mais complexa.

SOLIDARIEDADE SOCIAL
Para você, o que mantém a coesão, a harmonia e, portanto, uma
adequada articulação funcional entre todos os elementos que
compõem uma sociedade complexa?
O sociólogo responde a esta reflexão da seguinte forma: asolidariedade social, que
nada mais é do que a base que garante a integração social, pois expressa que os
indivíduos compartilham algo em comum que permite a ligação, a coesão entre eles.
Com essa ideia, Durkheim passa a analisar a evolução das formas de solidariedade entre
os homens, classificando-as em duas formas:

Mecânica

Ocorre em sociedades onde os indivíduos praticamente partilham os mesmos valores,


objetivos e sentimentos. São sociedades mais homogêneas e pequenas.

Orgânica

Ocorre em sociedades onde existem mais variações de valores, metas e sentimentos


individuais. São sociedades mais complexas em sua divisão do trabalho social.

O fundamento da solidariedade orgânica é a crença – partilhada através de várias


instituições sociais – de que cada um sabe que depende do outro. Isto é, há uma
“interdependência funcional”. Segundo Durkheim, dependemos cada vez mais das
funções desempenhadas por outros (indivíduos e organizações). Por essa linha de análise,
podemos deduzir que quanto melhor desempenhamos nossas funções, menores serão os
problemas de nossa sociedade.

Exemplo: um bom funcionamento da escola permite um mercado de trabalho mais


qualificado e, consequentemente, uma economia mais desenvolvida. E assim por diante.

CONSCIÊNCIA COLETIVA
Mas como Durkheim chegou a esse conceito de solidariedade como
base da vida social?
Preocupado em entender os problemas de sua época, Durkheim chegou à conclusão de
que a solidariedade era possível porque os indivíduos estavam submetidos a
“consciência coletiva” de sua sociedade, ou seja:
Sistema de representações coletivas em uma determinada sociedade. As ideias, crenças,
linguagem, regras, normas ou práticas de trabalho e os dogmas que todos os indivíduos
devem partilhar.
Cada sociedade tem sua consciência coletiva que rege e impulsiona a maneira de pensar,
agir e sentir das consciências individuais. Observe o esquema:

O indivíduo pode tentar avançar por diversos caminhos, em ritmos diferentes, mas sempre estará
sujeito a uma meta pré-fixada, externa ao seu desejo particular. É a sociedade que produz e governa
nossos caminhos, sem que tenhamos percepção disso.
Considerando a consciência coletiva como um parâmetro, podemos ter duas situações
em uma sociedade:

Normalidade social

Acontece quando vivemos de acordo com as leis, normas e os costumes vigentes em


nossa sociedade.

Desintegração social

Como a sociedade está em constante processo de desenvolvimento, podem surgir


momentos de patologia social (neste caso, a sociedade estaria “doente”, com
conflitos e problemas que comprometeriam seu funcionamento). Isto, porque a
consciência coletiva não conseguiria manter a sociedade funcionando de forma
coesa.

anomia
Livro Didático
Para aprofundar seu conhecimento sobre o tema e a sua extensão, estude, agora, no livro
didático, a seção “Desvio social, crime e controle social” (p.83-92). Veja
especialmente o termo anomia na p. 92. Vale destacar que Durkheim foi um pensador
que ofereceu grandes contribuições ao estudo do Direito.
FATOS SOCIAIS
Finalmente, não podemos deixar de tratar um conceito importante na teoria
durkheimiana: os fatos sociais.

Estes são exemplos de fatos sociais, pois sofreram influência do coletivo.


Ao vivermos em uma sociedade, estamos sujeitos a um sem-número de fatos sociais. Ao
identificarmos esses fatos e suas causas, poderemos analisar melhor o funcionamento de
uma sociedade.
Mas como identificar os fatos, suas causas e consequências de modo
objetivo, sem a interferência de nossos preconceitos e sentimentos
pessoais?
Segundo Durkheim, é preciso usar o método científico, mantendo certa neutralidade em
relação aos fatos, para não distorcer a realidade. Ao tratar o fato como “coisa” (De
forma objetiva, sem nossa opinião ou julgamento), é possível identificar
características de sua natureza social. São elas:

Generalidade
Significa que precisa se repetir em todos (em pequenas sociedades, como as
indígenas), ou, como acontece em uma sociedade complexa como a
capitalista, na maioria, dos indivíduos, representando uma condição comum
ao grupo. Afeta direta ou indiretamente a maioria em uma sociedade e
mesmo que um indivíduo nessa sociedade não o partilhe diretamente, mesmo
assim estará no seu âmbito social (no seu universo cultural).Exemplo: jogar
lixo na rua.

Coercividade
Devem ter uma força sobre o indivíduo, levando-o a aceitar as regras e os
costumes do grupo em que vive, muitas vezes contra a sua vontade. Exemplo:
pagar impostos ao Estado.

Exterioridade
Existem independentemente do indivíduo e de sua aceitação consciente deles.
Por isso não temos controle particular sobre eles. São exteriores a
nós.Exemplo: trabalhar para sobreviver.

Anterioridade
Muitos fatos são anteriores à nossa existência individual, já existiam em nossa
sociedade. Exemplo: o casamento.

Posteridade
Após a nossa morte, muitos fenômenos continuarão a existir, sem serem
afetados por nosso desaparecimento.Exemplo: votar em um representante do
legislativo.

Importante!
Em uma dada sociedade, um fato pode ser social em uma e em outra não, como, por
exemplo, o uso da burca entre algumas sociedades islâmicas é fato social e na brasileira
não.
MARX E O MARXISMO
A importância de Karl Marx (1818-1883) reside no fato de ter produzido a primeira
teoria da vida social identificada com a classe trabalhadora industrial e de propor
uma ação política transformadora (ter um projeto político) para eliminar a sociedade
capitalista que, segundo ele, era fonte de empobrecimento dos trabalhadores.
Nessa concepção, quando os trabalhadores tomassem consciência de sua condição de
explorados no capitalismo, poderiam se organizar e criar um novo tipo de sociedade,
tomando o controle do Estado.

No total, Marx produziu 21 livros, entre eles os dois mais conhecidos: O capital e O
manifesto comunista. Suas teses deram origem ao marxismo.
CLASSES SOCIAIS

Tendo como pressuposto que a história do homem é fundamentada naexploração do


homem pelo homem, Marx concluiu que o trabalho não era organizado visando à
necessidade humana (como pensava Emile Durkheim) e sim para atender aos interesses
de alguns homens em posições sociais mais privilegiadas.

Max vê O indivíduo como um agente social e racional diante da sociedade.

A cada época se definem os perfis e as relações entre as classes sociais{Agrupamento


de pessoas que compartilham a mesma situação na organização da produção
econômica. As relações sociais de produção dividem os homens em duas classes
fundamentais: proprietários e não proprietários dos meios de produção. Ao longo do
tempo elas ganham outras denominações (senhores e escravos; senhores e servos;
burguesia e proletariado)}. Tais classes mantêm entre si uma relação que é ao mesmo
tempo de:

Exploração e complementariedade
Não conseguem existir sem a outra, o que significa que o fim de uma seria o
fim da outra.

Oposição
Têm interesses diferentes e inconciliáveis.

Para saber um pouco sobre os debates quanto ao tema “classe social”, vale a leitura do
artigo Luiz Felipe Miguel.De que falam os marxista quando falam em classes? Rev.
Mediações, Londrina, v. 3, n. 1, p. 23-29, jan./jul. 1998.
SOCIEDADE COMO MODO DE PRODUÇÃO
Para tentar compreender a forma como os homens se organizavam para produzir e viver
a cada período (lógica de funcionamento), Marx formulou alguns conceitos e, dentre
eles, está o conceito de modo de produção (Eixo central da sua teoria materialista
histórica dialética).

Mas o que é modo de produção?


Veja através do esquema, a seguir.

TIPOS DE SOCIEDADE
Utilizando o conceito de modo de produção, Marx identificou as etapas de
desenvolvimento das sociedades humanas. A mudança ocorreria a cada conflito entre as
classes sociais, quando as desigualdades chegassem ao seu limite máximo. Então, um
tipo suplantaria o outro.

Comunal primitivo ➭ Asiático e germânico ➭ ➭ Escravista Servil ou

feudal ➭ Capitalista

CONCEPÇÃO DE SOCIEDADE
Entenda a concepção de sociedade de Marx:
Atenção!
A infraestrutura (base econômica), por sua vez, está dividida em forças
produtivas e relações sociais de produção, que, combinadas, gerariam a cada fase da
história humana um tipo de modo de produção, isto é, um tipo de sociedade.

Há, ainda, outras categorias relevantes na análise marxista: força de


trabalho, mais valia, salário, alienação e Estado. Confira:

Força de trabalho:
O trabalho é uma habilidade humana capaz de gerar valor ao transformar um
produto ou uma ideia em bens e serviços. A força de trabalho expressa o conjunto de
trabalhadores de diversas categorias profissionais que vendem seu trabalho em troca
de salário. Por isso, Marx acreditava que a força de trabalho é, também,
uma mercadoria.
Mais Valia
O lucro capitalista está baseado não na relação de compra e venda de uma
mercadoria ou serviço. Acontece na fase da produção, quando é extraída amais-
valia do trabalhador. Ou seja, parte do que o trabalhador produz volta para ele na
forma de salário e uma outra, o excedente, para o capitalista.

Salário
É uma remuneração recebida pelo trabalhador na relação capitalista em troca de sua
força de trabalho. Na concepção de Marx, o salário capitalista só equivale ao
necessário para o trabalhador se reproduzir, ou seja, para se manter. Sua variação
dependerá do perfil da profissão, da habilidade do trabalhador e do preço dos bens
necessários para alimentação, transporte e moradia.

Alienação
O trabalhador, pelo seu ritmo de trabalho e complexidade do processo de produção,
não tinha consciência da importância de seu trabalho e de sua condição de classe.
Aprendia, nas instituições capitalistas (meios de comunicação, empresa, escola), a
ter ideias, valores, desejos de um outra classe social (falsa ideologia). Por isso, não
podia mudar sua realidade social a não ser que desenvolvesse uma ação política
consciente (consciência de classe).

Estado
Uma instituição política que tinha o papel de amenizar os conflitos sociais
inerentes as desigualdades geradas pela sociedade capitalista. Um
instrumento que visa garantir os interesses dos detentores dos meios de
produção. Trocando em miúdos, o Estado não representa a sociedade, mas os
interesses de um grupo dentro de sociedade.
Transforma interesses particulares (de uma classe) em coletivos (toda
população) através da força (Estado Ditatorial) ou de medidas de seleção de
recursos públicos destinados aos meios de consumo coletivos (equipamentos e
serviços de saúde, educação, transporte, saneamento, lazer) para a
reprodução da força de trabalho em graus variados (Estado Liberal, de Bem-
Estar Social).

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