Você está na página 1de 9

LIVROS SOBRE REGÊNCIA

_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
CARTOLANO, R, Botti. Regência, Coral. Orfeão, Percussão. São Paulo, Irmãos Vitale, 1968.

Página 48
O Regente frente ao Grupo
“O regente não produz diretamente nenhum som; limita-se a traçar estranhos círculos no ar, mas, com
estes sinais, combina, condensa o som dos executantes, prescrevendo a significação que para eles deve ter
a obra”.

“(...) saber diferenciar a convenção coletiva e individual (...)”

O Regente e a Interpretação
“O regente é, indiscutivelmente, o ser que representa, da forma mais espiritual, a arte da interpretação
musical”.

“Pois é ele quem dá vida à nossa arte, é ele quem pode ressuscitar ou deformar em nossa consciência a
fisionomia das obras e dos séculos” apud SCHERCHEN.

O instrumento: Orquestra
O regente “toca’ esse instrumento, a orquestra, que é um organismo vivente. Junto às leis que regem sua
própria atividade, deve conhecer, portanto, as leis pelas quais se rege o organismo que lhe serve de
instrumento, sua estrutura e características peculiares” apud SCHERCHEN.

Página 49
Decodificando o Código – o Domínio da Partitura
Preparação
“O trabalho do regente é iniciado muito antes do primeiro ensaio. Em primeiro lugar, ele deverá estudar
a partitura da composição musical e a sua estrutura, para, depois, examinar e decompor, frase por frase, as
partes das diferentes vozes, prestando o máximo de atenção às menores indicações do autor”.

Representação Mental – Apreensão & Transmissão do Código


“Sendo a música, como é, uma arte espiritual, deve ele ser capaz de criar em sua fantasia a imagem
sonora da obra, de tal forma perfeita, que a “sinta” como parte de si mesmo, cantando em todo o seu ser.
Essa audição interna da obra deve ser tão perfeita e intensa, como a teve seu autor quando a criou. Só então,
poderá transformar, para o conjunto coral, a criação esculpida em sua mente dentro do mais elevado grau
de perfeição. Esse transporte será feito através do gesto manual, como se fizesse “tocar” o instrumento
representado pelo côro; como se mantivesse enfeitiçados pelas suas todos os cantores, fazendo-os
participantes da imagem, ou como se os transformasse na própria imagem sonora, que vibra em sua mente
com toda intensidade e pureza cristalina, numa realização imaterial. Isto é dirigir. Para poder chegar a esse
resultado, é necessário, porém, que o regente possua um domínio absoluto da representação mental da
partitura”.

Fases do Domínio do Código


“1. de preparação – criação da imagem sonora; 2. de realização – solução prática dos problemas de
interpretação e vocais”.

Gestos submetidos ao Código


“a imagem mental da obra acima do corpo, como soberana que não se submete aos gestos do regente,
mas sugere, guia e impõe seus movimentos.”

1
Página 52
Comunicação
Meios de Expressão
“São três os meios de expressão de que o regente dispõe para comunicar-se com o conjunto: o gesto, a
mímica expressiva e a palavra. Dessas três maneiras, a mais completa e importante é o gesto. A mímica
nem sempre produz o efeito desejado. A palavra, obviamente, só deverá ser usada nos ensaios. O gesto pode
ser analisado sob dois aspectos:
a) como clareza;
b) como expressão do som imaginado.

Página 53
Sobre o gesto
“a) como clareza – o gesto do regente deve ter precisão e clareza inalteráveis, seja ele amplo ou bem
curto, lento ou rápido, suave ou impetuoso;
b) como expressão do som imaginado – o gesto deve ser a expressão direta do som imaginado. Ele deve
representar em seu movimento tudo aquilo que o regente criou na sua fantasia. Deve ser fácil, preciso, ter
sentido inequívoco, ser reduzido a um mínimo de movimentos e, ao mesmo tempo, dotado de um máximo
de significação, modelando e organizando a sonoridade. O seu movimento deve ser a emanação direta da
audição interior e sua expressão, não se convertendo jamais em finalidade, mas em pura coreografia.

Gesto e emoção
“Isso servirá para ajudar a eliminar toda contorção e movimento violento do corpo de do rosto, pois, o
gesto, ainda que traduza emoções fortes, deve ser sempre natural e sem afetação”.

Padronização & Particularidades


“Os gestos de um regente não podem ser estudados dentro de uma padronização generalizada, pois
representam uma técnica individual, cujo conhecimento e aplicação prática são desenvolvidos de acordo
com as condições pessoais de cada um”.

Página 56
Técnicas Individuais
“A verdade é que, possuímos cada corpo particularidades próprias, as variações individuais de
movimentos são inúmeras, mas, quaisquer que sejam, elas devem ser sempre subordinadas à representação
mental da obra dirigida; é essa representação mental que impõe ao regente a técnica do gesto para cada
caso, de acordo com os seus objetivos e a sua maneira pessoal de dirigir”.

Batuta
“o uso da batuta, que, de certa forma, simboliza a direção, é outra particularidade da regência, bastante
pessoal”.

Sem Batuta
“Geralmente, porém, [a batuta] não é adotada pelos regentes de corais (...). Mesmo entre grandes
regentes de orquestra, onde o seu uso é bastante comum, vários são os que nem sempre se utilizaram ou se
utilizam dela”.
“Dimitri Mitropoulos, no início de sua carreira achava que a batuta impedia um melhor contato do
regente com o conjunto (...) e Leopold Stokowski que por várias vezes, fez com que suas mãos, em seus
movimentos, durante as execuções, fossem acompanhadas pelo facho de luz de um refletor que as
focalizava”.

Movimentos Simétricos NÃO


“Deve o regente evitar o movimento simétrico dos braços. Com esse gesto ele não conseguirá clareza e
muito menos eficiência expressiva”.

2
Página 57
As Mãos
“1º) O braço direito deve funcionar sempre como sinal métrico fundamental, claramente compreensível;
2º) A mão esquerda tem a missão de sublinhar e matizar, constituindo-se, portanto, num dos mais eficazes
fatores de articulação, graduação e diferenciação do processo sonoro.
“a amplitude do gesto varia naturalmente segundo a feição da obra executada, exigindo igualmente o
apressar e o retardar [agógica] do andamento, alteração de postura. Gestos mais breves para andamentos
rápidos; mais largos para andamentos lentos”.

Página 57 - 58
“o gesto que começa no ponto de partida normal indicado e retorna a ele, indica sonoridade e intensidade
de caráter neutro, o meio forte (mf); no crescendo não só é aumentada a amplitude do gesto, como também
é deslocado para frente o seu ponto de partida, estendendo-se mais o braço; inversamente no decrescendo
e no piano (p) é reduzido progressivamente a amplitude do gesto, aproximando-se as mãos do corpo para
simbolizar a diminuição de intensidade sonora. Um movimento abreviado sucedendo um movimento mais
amplo para indicar o contraste repetindo de um fortíssimo (ff) a um pianíssimo (pp). Um movimento seco
e curto para indicar um sforzato (sfz)”.

Página 58
Mão esquerda x Mão direita
“o braço esquerdo deve estar sempre preparado para um movimento preventivo, para indicar as entradas
das diferentes vozes, ou, as vezes, para reforçar o gesto do braço direito. A maneira correta e diferente de
servir-se da mão esquerda (juntamente com a mão direita, porém com a autonomia indispensável) deve ser
tão precisa e inequívoca que jamais dê lugar à dúvida acerca de sua significação correta”.

Página 64
Não há Padronização?
“(...) em matéria de regência, é prejudicial fixar-se em qualquer regra absoluta (...)”.

Dirigir é:
“dirigir significa estabelecer um contato espiritual entre a pluralidade de seres humanos; quanto mais
sensível, pura e concentrada seja a atividade que a tal fim se encaminha, mais eloquente e mais e mais
tangível será seu resultado e com mais puro prazer e maior intensidade emotiva se entregarão os cantores
ao trabalho de transformar em ritmos e sons a imagem sonora criada pela mente do regente” apud
SCHERCHEN..

A arte de dirigir
“Para que o regente consiga, porém, estabelecer esse contato espiritual entre os cantores e a sua própria
pessoa, é indispensável que os movimentos de seus braços sejam espontâneos, fáceis, significativos,
calorosos, sinceros, não ditados por regra inflexível, mas que representem realmente o extravasamento de
seus sentimentos, marcados pela sua personalidade; é indispensável que a música pareça fluir de suas mãos
sem esforço nem violência, (...) ganhando em transparência, objetividade, brilhantismo, plasticidade de
detalhes e encanto. É indispensável, portanto, que os movimentos de seus braços sejam ditados apenas pela
vibração de seus sentimentos; que o seu braço direito tenha a liberdade de, quando necessário, poder
reforçar o que faz o esquerdo e vice-versa, ainda que isso venha contrariar a opinião de técnicos”.

Não há um gesto único


“Não pode ser pretendido que, para determinada indicação, exista um gesto único a ser usado por todos
os regentes. Cada qual tem a sua maneira de ser, o seu modo de expressar-se”.

Página 67
O Gesto é pessoal
“(...) o gesto além de convencional, é uma cousa pessoal”.

3
Regra Geral
“Tudo o que for apresentado, portanto, como norma de regência, no que diz respeito aos gestos, incluindo,
logicamente, as nossas indicações, deve ser considerado apenas como regra geral que pode e deve ser
adaptada às características pessoais de cada regente”.

A marcação dos compassos


“No que diz respeito à marcação do compasso, qualquer que seja o esquema adotado, duas condições,
porém, são essenciais numa regência:
1º) Os movimentos devem ser de claridade absoluta;
2º) O 1º tempo (tempo forte) de um compasso marca-se de cima para baixo; o último, naturalmente, de
baixo para cima”.

Comunicação com o olhar


“O regente deve ter um perfeito domínio mental da obra, pois assim, habituando-se a dirigir de memória,
terá livre – para vigiar constantemente o conjunto e comunicar-se com ele – o mais poderoso meio de
comunicação muda que existe entre os homens: a vista”.

Página 67 – 68
A Função do Gesto
“O seu gesto tem a função de expor e interpretar a obra, ao mesmo tempo que conduz o conjunto. Isto
quer dizer: vigiar e corrigir, preparar e facilitar, equilibrar as vacilações durante a execução, assim como
cortar de início os arroubos individuais deste ou daquele elemento do conjunto, controlando a todos (...)”.

Efeitos dos Gestos


“O gesto deve ter dois efeitos:
a) Indicar o curso métrico da obra;
b) Expor suas forças expressivas e geradoras da forma.
As entradas das vozes que intervêm sucessivamente na obra devem ser dadas com o gesto ou com a
vista. Tudo isto, porém, só é possível se o regente possuir um domínio ideal da partitura”. Apud
SCHERCHEN.

Página 74
O Êxito do Regente
“Charles Munch, assinala que “o êxito de um regente não deveria depender, como ocorre frequentemente
(...) de certos elementos exteriores, como a beleza de seus gestos ou a elegância de sua silhueta”.

O corpo do Regente
“Os gestos devem ser naturais, traduzindo a imagem sonora criada pela fantasia do regente. Os braços
devem, portanto, movimentar-se com sobriedade. As pernas devem ficar juntas, porém, sem afetação, com
naturalidade”.

Página 75
Autocontrole
“(...) eliminar todos os movimentos inúteis da parte baixa do corpo. Note-se, porém, que tudo isso deve
ser feito com naturalidade, sem rigidez. Contudo, não se deve pretender suprimir completamente todos os
pequenos movimentos e reflexos que se realizam de modo involuntário”.

O gesto
“(...) o seu gesto (...), é “a emanação direta da audição interior e sua expressão, não se convertendo
jamais em uma finalidade, mas em pura coreografia”.

4
Página 76
ENSAIO - Quando o grupo conhece os gestos de seu maestro
“É no ensaio que os componentes de um coral aprendem a conhecer os gestos habituais do regente. É,
portanto, no ensaio que o regente realiza o seu verdadeiro trabalho, revelando ao conjunto, através do gesto
manual, a imagem sonora da obra”.

O toque final – O CONCERTO


“Fazendo-se conhece e compreender, pelo conjunto, preparando-o de tal forma que, embora sem
automatizar a execução da obra, apresenta-o em público com o pleno domínio das dificuldades técnicas da
peça, inteiramente senhor da interpretação estudada e com inteiro conhecimento dos gestos
convencionados pela direção para a obtenção deste ou daquele efeito. Nada poderá ser improvisado ou
“inventado” na hora do concerto. Apenas o menor ou maior “calor” interpretativo poderá ser alterado, uma
vez que ele estará condicionado ao estado de espírito de que se achar o regente no momento da execução”.

_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
LAGO, Sylvio. Arte da Regência. São Paulo, Algol Editora, 2008.

Página 179
3 Etapas da memorização
“(...) a memorização passa por três etapas: a da armazenagem ou conservação, a do tratamento da
informação pelo qual esta é organizada e hierarquizada e, por fim, pelo fenômeno da lembrança, quando
então a informação é transferida, restituída para o momento presente”.

Ter a partitura na cabeça


“Von Bülow (...) não só regia de memória como exigia de seus músicos que seguissem seu exemplo. No
entender, “vale mais a pena ter a partitura na cabeça do que a cabeça na partitura”.

Página 179 - 180


Falhas de memória – Reger de memória
“O fato é que alguns regentes notáveis tiveram e têm déficit ou perturbação da memória e preferem não
dispensar a partitura. Outros diretores entendem que a partitura os confunde, tanto mentalmente quanto na
expressão seus sentimentos e na liberdade para o controle da orquestra”.

Página 180
Lapsos de memória
“Não há unanimidade de opinião sobre a vantagem do completo abandono físico da partitura em
execuções públicas, e muitos regentes não o consideram digno de risco de ficarem sujeitos aos caprichos
da memória, com relação aos quais qualquer ser humano pode ser transformado em vítima ocasional” apud
John MUELLER.

Mesmo COM a partitura, reger de memória


“Mas, de todo modo, a memória é absolutamente importante até mesmo ao maestro que recorre à
partitura durante a execução. (…) é de fundamental importância que o regente conheça completamente de
cor a partitura, antes mesmo que uma nota seja tocada”.

Memória
“Sem memória, não existe inteligência, nem imaginação, nem juízo, nem linguagem ou consciência”
cientista francês Charles Richet.
“uma vida sem memória não seria uma vida, assim como uma inteligência sem possibilidade de
exprimir-se não seria uma inteligência”. “Nossa memória é nossa coerência, nossa razão, nossa ação,
nosso sentimento. Sem ela, não somos nada” diretor de cinema Luis Buñel.

5
Relação da memória com funções regenciais
“E a memória tem função direta com outras funções que são primordiais para o exercício da regência,
como a atenção e a concentração. Para o regente o trabalho de mentalização é sobretudo o trinfo da
paciência, do esforço aplicado, do trabalho e da perseverança. A memória tem constituído para o intérprete
um dos principais fatores para o desenvolvimento artístico de suas possibilidades. Fica evidente que o
artista necessita dela sob os aspectos visual, tátil, muscular, nominativo, analítico, rítmico e auditivo”
teórico do ensino de piano L.E. Gratia.

Página 180-181
Opinião de especialista sobre a memória
“a memória musical é rítmica, auditiva, mental ou intuitiva e a memória instrumental é visual, tátil e
muscular” especialista em psicologia e educação para a música Edgar Willems.

Página 181
Não há unanimidade
“É interessante observar que se não existe unanimidade de opinião, e tendência majoritária, todavia, é a
da direção sem partitura”.

E se o regente esquecer?
“(…) mesmo que um regente sofra uma falha de memória, a obra pode ser executada até o final pela
orquestra”.

Quando posso deixar a partitura de lado?


“Unicamente quando se é capaz de recordar do mais ínfimo detalhe de uma obra, da mais recôndita
ligadura, ao menor signo da dinâmica, pode-se prescindir da partitura”.

Página 182
Desvantagens em dirigir com a partitura
“Claudio Abbado, diz sobre a ópera, que “quando se olha a partitura, fica-se impossibilitado de
acompanhar o que se passa no palco” (…) “reger de memória é um meio que me permite penetrar mais
profundamente na música”.
Karajan diz: (…) “Esta é uma das razões pelas quais não uso a partitura quando dirijo. O contínuo
deslocamento entre ver e o ouvir é impossível para mim” (…) “por força de exercícios e das condições que
lhes eram próprias”.
Furtwägler diz: (…) “dirigir de memória tem uma grande vantagem: exige que o intérprete se dedique
longa e intensivamente à obra – o que é uma condição absolutamente necessária”.
“Toscanini sempre dirigia de memória. Tinha uma visão deficiente e, assim, adestrou-se a reger sem
necessitar da partitura”.
“Mitropoulos associava o profundo conhecimento da música com uma memória infalível”.

Página 183
Sobre a aptidão de reger de cor
“Estas aptidões resultam certamente de um extraordinário poder de atenção e concentração
unidirecionais capazes de fixar na mente todos os inumeráveis signos e instruções que integram uma
complexa partitura”.

Página 184
Nem sempre é possível memorizar tudo
Berstein diz: (…) “A memorização vem espontaneamente r quanto mais clara a partitura, tanto mais fácil
é apreendê-la de memória. Bach, Beethoven e Mozart, por exemplo, nunca tive nenhuma dificuldade de
memorizá-los. Mas ao contrário, sempre tive problemas com a Sinfonia Escocesa de Mendelssohn”.

6
Capacidade de Memorizar
“a visualização “eidética” é a capacidade e a disposição de certas pessoas de reproduzirem mentalmente
e com fidelidade quase que fotográfica qualquer objeto ou repertório de informações” (…) “retém
mnemonicamente a cor, a forma, e os detalhes” conforme descreve o psicólogo E. R. Jaensch.

A perda de memória de Toscanini


“Um dos momentos mais trágicos da carreira de Toscanini foi o do fatídico 4 de abril de 1954, quase
uma semana antes do mestre completar 87 anos. Durante o concerto com a NBC, Toscanini perde a memória
no momento em que dirigia a Bacanal de Tanhäuser e a orquestra se desorienta. O maestro para de marcar
o compasso e fica de pé com uma expressão de ausência. Ao fim de uns trinta segundos Toscanini recobra
a consciência e retoma a execução da obra. Mas para ele foi o seu último concerto e o princípio do fim”.

Página 185
A apreensão e compreensão dos gestos
“Uma das questões mais intrigantes e de grande evidência para o público que assiste a um concerto
sinfônico é a de saber como o músico apreende as instruções resultantes dos gestos (…) e as indicações
expressadas pelas duas mãos do regente”.

Página 186
Entendimento e comunicação do gesto
“E o mais notável é que toda a grandeza do regente resulta dessas possibilidades imperceptíveis, mas
quase infinitas, de entendimento e comunicação, por meio de um código gestual”.

O Receptor (músico)
“A outra razão que se destaca é a que concerne à percepção que o músico desenvolve como destinatário
das instruções do maestro. É evidente que essa percepção, em linhas gerais, é obtida pela acuidade visual e
auditiva, pelos estímulos da percepção estética e por uma espécie de comunhão bio-psico-energética que
pode se estabelecer entre os integrantes da orquestra e o próprio maestro.

A relação músico-maestro
O regente inglês Colin Davis, diz sobre os músicos: “todos aqueles olhos fixam o maestro sem vê-lo”.
O poeta francês Paul Claudel, diz: “o olho escuta”, para indicar que a visão e a audição se fundem de
modo sutil, como receptores cinestésicos, buscando a tradução do significado musical”.

O olhar do maestro
Furtwägler diz: que “o olhar do maestro é a materialização do espírito e a espiritualização do sensível”.

O que é o ato de reger?


O maestro italiano, Carlo Maria Giulini, “considera o ato de reger muito além de seus aspectos
meramente práticos ou teórico. Para ele, a significação essencial da comunicação da regência é a de ser
uma arte misteriosa, onde o maestro está só, entre uma infinidade de músicos e sem qualquer contato
material com o som. O maestro forma um quadrado mental daquilo que o compositor deseja expressar e,
em consequência, tenta comunicá-lo, em primeiro lugar, às mãos e através delas, aos cento e poucos
músicos da orquestra.

Página 186 - 187


O que é a percepção do músico?
“A percepção do músico, é basicamente, um ato cognitivo e intuitivo, pelo qual este apreende a
representação da linguagem mímica e expressiva do regente, dotada de uma multiplicidade de signos e com
significados evidentes, que são transformados pela visão dos instrumentos, em informação, em som
coletivo”.

7
Página 187
Teorias sobre a percepção do músico?
“A percepção do músico ainda é um fenômeno que está sujeito a várias interpretações científicas e
musicológicas, (...) algumas teorias buscam compreender um pouco essa intrincada questão”.

Percepção Global
“A percepção global é aquela pela qual o músico da orquestra com uma acuidade visual pode, ao mesmo
tempo, captar todos os movimentos do maestro e fixar-se na linguagem musical da partitura, a partir do seu
centro de perspectiva auditiva. Essa espécie de automatismo visual e sensorial propicia-lhe, assim, uma
percepção “unificada” da partitura, do maestro (fisionomia, gestos e atitudes) e também da audição de seus
companheiros de execução, numa completa interação comunicativa e interpretativa”.
“Portanto, no momento em que cada atenção se concentra na partitura, o músico pode ainda ver os gestos
do maestro, ouvir o som da orquestra e até mesmo ter outra imagem que lhe atravesse o espírito.
O maestro Ernest Ansermet utiliza para isso expressões como “percepção dos sons musicais”,
“consciência musical”, “espaço sonoro”. É de notar que todas essas realidades, durante uma execução
orquestral, são clara e simultaneamente percebidas pelo músico”.

Percepção da comunicação não-verbal do regente.


“O músico, por adestramento, está sempre num estado de percepção de todas as mensagens de
“comunicação não-verbal” do regente”.

Página 188
Receptivo-Perceptivo
“Por meio desse mecanismo perceptivo e receptivo, as informações chegam ao músico e o levam a
realizar todas as operações mentais relacionadas à sua execução, sem desviar-se o maestro e da partitura e
em ligação íntima com os demais músicos da orquestra”.

O músico e o Gestual
“O músico, é capaz de estabelecer pelas impressões sensoriais, as distinções e diferenças entre o código
gestual e os sinais indicativos do maestro, de compreender o significado das notações da partitura e todos
os demais acontecimentos significativos relacionados ao momento de sua execução da música, (...) a
execução do material sonoro e sua interação e interpretativa com o maestro e os demais músicos. Pode-se
afirmar que essa percepção global e seletiva é a fonte de toda a sua atenção e concentração”.

A partitura e a percepção
No tocante a partitura, o músico já tem, pelos seus estudos e ensaios, uma representação mental de seu
conteúdo, mas mesmo assim, ele precisa fixar sua atenção nela e “decodificar” cada movimento, cada
intenção, cada gesto do maestro. O maestro, por sua vez, continua a ser a figura central, o ponto fixo de
visão do músico, apesar do seu sistema receptor continuar também fixado em outros dados sensoriais
recolhidos da partitura e dos demais músicos. Ele músico receberá do maestro uma infinidade de indicações
destinadas a fazê-lo executar e observar as determinações saídas das determinações saídas da partitura,
principalmente quanto:

Página 189
Elementos que o maestro comunica no seu gesto
 às entradas;
 ao andamento;
 à dinâmica;
 aos timbres;
 aos planos sonoros;
 à precisão rítmica;
 à realização de ritardando e accelerando;
 às mudanças de compasso;
8
 às mudanças de tonalidade;
 às fermatas;
 às cadências;
 à atenção às passagens de maior dificuldade técnica ou expressiva;
 à propriedade dos fraseados;
 à articulação, que consiste na adequada execução de trechos em legato ou non legato;
 à correta respiração, entendendo-se por isso a sua própria, e da execução da música;
 à qualidade da sonoridade de ser um instrumento.

O maestro e o conjunto
“Quanto ao Maestro em síntese ele deve fazer os músicos tocarem em conjunto, orientando-os e
conduzindo-os por força daquilo que o maestro francês Frederik Goldbeck denomina de “ação de presença”:
 marcando o tempo;
 cuidando dos andamentos;
 mantendo o equilíbrio do volume sonoro;
 dando as entradas aos solistas e aos grupos instrumentais;
 observando as linhas melódicas;
 orientando quanto à dinâmica;
 observando as leis agógicas.
Enfim, cuidar da execução geral, da interpretação, da expressão e da fidelidade interpretativa.

Página 190

Você também pode gostar