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LISTA DE QUESTÕES 1

Conteúdos referentes à lista:


A literatura e outros discursos - As características dos textos literários e dos textos
científicos. As linguagens: formas de comunicação. O que chamamos Linguagem verbal
e Linguagem não verbal. As linguagens: formas de comunicação. A variação linguística.
O preconceito linguístico. Crônica.

Questão 01
Leia o texto para responder à questão:

“Café de tucumã” é apresentado em mostra de ciência da SBPC

Produzido com a amêndoa do fruto do tucumã, o café da Amazônia faz sucesso na


ExpoT&C, mostra de ciência, tecnologia e inovação da 64ª Reunião Anual da Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Segundo a professora de química
Alessandra Lopes Guimarães, a descoberta do café ocorreu por acaso, na busca de
potencialidades do fruto bastante conhecido na Amazônia Legal:
“Junto com meus alunos do ensino médio, ao pesquisar o fruto, começamos a sentir
um cheiro muito forte, semelhante ao do café. Depois de algumas análises, chegamos ao
produto”, contou a professora à Agência Brasil.
O pó de café de tucumã tem o mesmo aspecto e odor do tradicional, “com o
benefício de ser descafeinado”, relatou a professora. Além dele, a amêndoa do fruto
produz óleo, manteiga
e azeite. O tucumã é ingrediente de várias receitas amazonenses. Com a polpa é possível
fazer sorvete, iogurte, bolo e o X-Caboclinho, sanduíche regional com presunto, queijo
de coalho e o fruto. “É o preferido da região”, disse ela.
O fruto do tucumanzeiro, palmeira espinhosa que chega a alcançar 15 metros de
altura, é colhido ao cair, quando maduro. A casca também é aproveitada para produção
de adubo, e o
caroço serve para artesanato. “Nós que vivemos em comunidades rurais e ribeirinhas
temos dificuldades de ir até a cidade, muitas vezes por falta de acessibilidade. Para
compensar, aproveitamos ao máximo todas as possibilidades que a mata tem a nos
oferecer. Ela não deixa nos faltar nada”, ressaltou.
De acordo com Alessandra Lopes, o café de tucumã está em fase experimental e
ainda não é produzido comercialmente.
(http://agenciabrasil.ebc.com.br. Adaptado.)
03
Pode-se inferir da leitura do texto que

(A) o café de tucumã tem qualidade inferior ao tradicional, mas é mais saboroso.
(B) caso seja comercializado, o café de tucumã superará em vendas o tradicional.
(C) o café tradicional, por não ser descafeinado, não tem os benefícios do café de
tucumã.
(D) o café tradicional é inferior ao de tucumã, pois não dá origem a outros produtos.
(E) o café de tucumã, mesmo tendo o mesmo aroma do tradicional, não pode ser
equiparado a ele em sabor.
QUESTÃO 02

Na tirinha, a associação entre linguagem verbal e não verbal permitiu ao autor explorar
o recurso das figuras de linguagem.

Leia a definição de quatro dessas figuras:


• Eufemismo consiste em suavizar expressões que são rudes
ou desagradáveis.
• Antítese consiste em confrontar ideias opostas.
• Personificação consiste em atribuir qualidades humanas a
seres não humanos.
• Hipérbole consiste na expressão exagerada de uma ideia.

Considerando a capacidade de dialogar e a dimensão das personagens, as figuras


presentes na tirinha são, respectivamente,

(A) eufemismo e antítese.


(B) eufemismo e hipérbole.
(C) personificação e eufemismo.
(D) personificação e antítese.
(E) hipérbole e personificação.
QUESTÃO 03

Leia um trecho da crônica A carta, de Rubem Braga.

Existe, no jornal em que trabalho, como existe em muitos jornais, um redator


essencialmente agrícola. É um homem encarregado de explicar diariamente aos seus
leitores qual o melhor meio de plantar batatas. Recebe do interior misteriosos
embrulhinhos registrados, contendo lagartas, pedacinhos de raízes e punhados de terra,
para opinar sobre esses objetos. E opina. É um ofício heroico, remediar a distância a dor
de barriga de um porco ou matar os insetos que atacam um pé de abacate situado a
novecentos e cinquenta quilômetros da redação do jornal.
Na sua correspondência de hoje, o meu colega recebeu uma carta que o deixou
profundamente triste. Passou-a à minha mesa, dizendo que eu devo respondê-la. Na sua
opinião, eu sou um literato, e a carta é de literata. Veio de Lençóis. Quem a assina [...] é
uma senhorita que, estando profundamente sem ter o que fazer, diverte-se escrevendo
cartas anônimas a todos os jornalistas. [...]
Creio que mora em alguma fazenda, onde se entrega à contemplação da natureza e à
leitura de bons livros. Ela mandou dizer ao meu colega agrícola [...] que está procurando
se consolar, no campo, das mágoas que a cidade lhe causou. E pede conselhos
minuciosos a respeito.
(Apud Paulo Elias Allane Franchetti e Antônio Alcir Bernardez Pecora.
Rubem Braga (Literatura comentada), 1980. Adaptado.)

Levando-se em consideração esse trecho, depreende-se que as crônicas, em geral,

(A) expressam-se por meio de linguagem formal e rebuscada que visa se distanciar do
coloquial.
(B) têm semelhanças com a notícia, texto em que o repórter também deve ser impessoal
ao relatar os fatos.
(C) optam por expressões poéticas, não admitindo observações irônicas ou cômicas por
parte do narrador.
(D) são textos que, por sua extensão, tornam-se inadequados para a publicação em
jornais e revistas.
(E) apresentam narrador em primeira pessoa o qual se atém a eventos do cotidiano para
elaborar o texto.

QUESTÃO 04

Peixe elétrico ajuda a monitorar qualidade da água dos rios da Amazônia

Em meio à diversidade de animais da Amazônia, o sarapó, pequeno peixe elétrico,


parente do famoso poraquê, é foco de estudo do Instituto Nacional de Pesquisas da
Amazônia (Inpa) para ser usado como biomonitor da qualidade da água dos rios e
minimizar possíveis impactos ambientais na Bacia Amazônia. Diferentes do seu maior
representante, o poraquê – que emite uma descarga de até 600 volts –, os sarapós
produzem 1 volt, menos que uma pilha comum.
De acordo com os pesquisadores do Inpa, a capacidade do peixe em ajudar os
cientistas a detectarem o nível de qualidade é baseada no padrão de emissões de
descargas elétricas do animal. As descargas são captadas por meio de equipamentos e
utilizadas como parâmetro para identificação de água contaminada por combustíveis.
“Há uma taxa de repetição de descargas que é usada como parâmetro. A variação
indica se o peixe está bem ou não. Com testes usando gasolina e óleo diesel, a
frequência das descargas elétricas aumenta ou diminui. Isto nos indica em tempo real
se há algum problema na água”, explicou um dos pesquisadores.
(www.portalamazonia.com.br. Adaptado.)

A função da linguagem que se destaca no texto é a

(A) referencial, pois a intenção é informar os leitores sobre determinados fatos.


(B) emotiva, pois o texto é um meio de o autor revelar as próprias emoções e
sentimentos.
(C) poética, pois existem elaboração artística e traços literários na composição do texto.
(D) fática, pois há um discurso destinado a convencer os leitores da veracidade dos
fatos.
(E) apelativa, pois utiliza linguagem idêntica à da publicidade cujo objetivo é
comercializar um produto.

QUESTÃO 05

Leia a letra da canção “Garota de Ipanema”, de Vinicius de Moraes e Tom Jobim, para
responder à questão de número 05.

Olha que coisa mais linda


Mais cheia de graça
É ela menina
Que vem e que passa
Num doce balanço
A caminho do mar
Moça do corpo dourado
Do sol de lpanema
O seu balançado é mais que um poema
É a coisa mais linda que eu já vi passar
Ah, por que estou tão sozinho?
Ah, por que tudo é tão triste?
Ah, a beleza que existe
A beleza que não é só minha
Que também passa sozinha
Ah, se ela soubesse
Que quando ela passa
O mundo inteirinho se enche de graça
E fica mais lindo
Por causa do amor
(www.viniciusdemoraes.com.br)

Assinale a alternativa que faz uma observação correta sobre o texto.

(A) A garota da praia de Ipanema sente-se envaidecida, pois tem consciência do fascínio
que exerce sobre o eu lírico.
(B) A existência dessa garota que caminha por Ipanema desperta no eu lírico a ideia de
que a beleza e o amor amenizam a solidão.
(C) Outros homens também observam essa garota de corpo dourado, mas, ao contrário
do eu lírico, eles não se sentem atraídos por ela.
(D) A linguagem utilizada pelo eu lírico para dialogar com essa garota é formal e sóbria,
pois ele deseja impressioná-la.
(E) O eu lírico descreve de forma elogiosa essa garota de Ipanema e a compara a outras
mulheres igualmente belas.

QUESTÃO 06

Quando se olha uma obra de arte, a primeira pergunta a fazer é: do que ela trata?
Uma vez estabelecido o conteúdo, você poderá analisar como o artista arranjou os
elementos da obra: a composição. Independentemente de ser um retrato, uma paisagem,
uma natureza-morta ou uma pintura abstrata, ela tem que funcionar como um todo
integrado, no qual outras qualidades pictóricas, como cor, luz e sombra, têm papel
importante.
(Andrew Graham-Dixon. Arte: o guia visual definitivo da arte, 2011.)

Nesse texto, a função da linguagem predominante é a

(A) emotiva, pois se expõe a preferência do autor por determinados estilos de pintura.
(B) poética, visto que o tema é a complexidade de se entender uma obra de arte.
(C) fática, pois se estabelece um diálogo entre o autor e os leitores leigos em artes
plásticas.
(D) apelativa, pois o autor se expressa por meio de linguagem específica de sua área de
atuação.
(E) referencial, visto que o texto pretende orientar o leitor sobre como apreciar uma
obra de arte.

QUESTÃO 07

Não é incomum que as pessoas indaguem:


“Onde se fala o melhor português no Brasil?”
Tal questão

(A) tem como resposta o estado de Santa Catarina, que guardou em seu modo de falar
mais proximidade com o português de Portugal.
(B) parte de um equívoco, porque o único português verdadeiro é falado em Portugal,
circulando no Brasil apenas variedades incorretas.
(C) é falha, pois desconsidera que há várias pessoas, em várias regiões, que conhecem o
português erudito.
(D) expressa a ideia preconceituosa de que a variedade do idioma comumente falada em
uma região é melhor do que outra.
(E) é equivalente a perguntar em que lugar os alunos tiram notas mais altas em
português.

QUESTÃO 08

Leia a crônica “Menina no jardim” do escritor Paulo Mendes Campos (1922-1991) para
responder à questão 08:

Em seus 14 meses de permanência neste mundo, a garotinha não tinha tomado o


menor conhecimento das leis que governam a nação. Isso se deu agora na praça, logo na
chamada República Livre de Ipanema.
Até ontem ela se comprazia em brincar com a terra. Hoje, de repente, deu-lhe um
tédio enorme do barro de que somos feitos: atirou o punhado de pó ao chão, ergueu o
rosto, ficou pensativa, investigando com ar aborrecido o mundo exterior. Por um
momento seus olhos buscaram o jardim à procura de qualquer novidade. E aí ela
descobriu o verde extraordinário: a grama. Determinada, levantou- -se do chão e correu
para a relva, que era, vá lá, bonita, mas já bastante chamuscada pela estiagem.
Não durou mais que três minutos seu deslumbramento. Da esquina, um crioulão de
bigodes, representante dos Poderes da República, marchou até ela, buscando convencê-
la de que estava desrespeitando uma lei nacional, um regulamento estadual, uma postura
municipal, ela ia lá saber o quê.
Diga-se, em nome da verdade, que no diálogo que se travou em seguida, maior
violência se registrou por parte da infratora do que por parte da Lei, um guarda civil
feio, mas invulgarmente urbano.
— Desce da grama, garotinha – disse a Lei.
— Blá blé bli bá – protestou a garotinha.
— É proibido pisar na grama – explicou o guarda.
— Bá bá bá – retrucou a garotinha com veemência.
— Vamos, desce, vem para a sombra, que é melhor.
— Buh buh – afirmou a garotinha, com toda razão, pois o sol estava mais agradável do
que a sombra.
A insubmissão da garotinha atingiu o clímax quando o guarda estendeu-lhe a mão
com a intenção de ajudá-la a abandonar o gramado. A gentileza foi revidada com um
safanão. Dura lex sed lex1.
— Onde está sua mamãe?
A garotinha virou as costas ao guarda, com desprezo. A essa altura levantou-se do
banco, de onde assistia à cena, o pai da garota, que a reconduziu, sob chorosos
protestos, à terra seca dos homens, ao mundo sem relva que o Estado faculta ao ir e vir
dos cidadãos.
A própria Lei, meio encabulada com o seu rigor, tudo fez para que o pai da garotinha
se persuadisse de que, se não há mal para que uma brasileira tão pequenininha pise na
grama, isso de qualquer forma poderia ser um péssimo exemplo para os brasileiros
maiores.

— Aberto o precedente, os outros fariam o mesmo – disse o guarda com imponência.


— Que fizessem, deveriam fazê-lo – disse o pai.
— Como? – perguntou o guarda confuso e vexado.
— A grama só podia ter sido feita, por Deus ou pelo Estado, para ser pisada. Não há
sentido em uma relva na qual não se pode pisar.
— Mas isso estraga a grama, cavalheiro!
— E daí? Que tem isso?
— Se a grama morrer, ninguém mais pode ver ela – raciocinou a Lei.
— E o senhor deixa de matar a sua galinha só porque o senhor não pode mais ver ela?
O guarda ficou perplexo e mudo. O pai, indignado, chegou à peroração2:
— É evidente que a relva só pode ter sido feita para ser pisada. Se morre, é porque não
cuidam dela. Ou porque não presta. Que morra. Que seja plantado em nossos parques o
bom capim do trópico. Ou que não se plante nada. Que se aumente pelo menos o pouco
espaço dos nossos poucos jardins. O que é preciso plantar, seu guarda, é uma semente
de bom senso nos sujeitos que fazem os regulamentos.
— Buh bah – concordou a menina, correndo em disparada para a grama.
— O senhor entende o que ela diz? – perguntou o guarda.
— Claro – respondeu o pai.
— Que foi que ela disse agora?
— Não a leve a mal, mas ela mandou o regulamento para o diabo que o carregue.

(Carlos Drummond de Andrade et al. Para gostar de ler, vol. 1, 1984.)


1 Dura lex sed lex: “A lei é dura, mas é a lei.”
2 peroração: a última parte de um discurso, conclusão.

Depreende-se da leitura da crônica que


(A) o guarda repreende o pai por ser um mau exemplo para a filha.
(B) o pai censura a filha por desrespeitar o guarda.
(C) o pai questiona o regulamento do parque.
(D) o pai repreende o guarda por ter maltratado a filha.
(E) o próprio guarda infringe o regulamento do parque.

QUESTÃO 09

Assinale a alternativa em que se verifica a ocorrência de um desvio no emprego da


norma-padrão da língua portuguesa.

(A) “Aberto o precedente, os outros fariam o mesmo – disse o guarda com imponência.”
(B) “Se a grama morrer, ninguém mais pode ver ela – raciocinou a Lei.”
(C) “Que fizessem, deveriam fazê-lo – disse o pai.”
(D) “O guarda ficou perplexo e mudo. O pai, indignado, chegou à peroração: – É
evidente que a relva só pode ter sido feita para ser pisada.”
(E) “Não há sentido em uma relva na qual não se pode pisar.”

QUESTÃO 10

Leia a crônica “Conversinha mineira” do escritor Fernando


Sabino (1923-2004) para responder à QUESTÃO 10

– É bom mesmo o cafezinho daqui, meu amigo?


– Sei dizer não senhor: não tomo café.
– Você é dono do café, não sabe dizer?
– Ninguém tem reclamado dele não senhor.
– Então me dá café com leite, pão e manteiga.
– Café com leite só se for sem leite.
– Não tem leite?
– Hoje, não senhor.
– Por que hoje não?
– Porque hoje o leiteiro não veio.
– Ontem ele veio?
– Ontem não.
– Quando é que ele vem?
– Tem dia certo não senhor. Às vezes vem, às vezes não vem. Só que no dia que devia
vir em geral não vem.
– Mas ali fora está escrito “Leiteria”!
– Ah, isso está sim senhor.
– Quando é que tem leite?
– Quando o leiteiro vem.
– Tem ali um sujeito comendo coalhada. É feita de quê?
– O quê: coalhada? Então o senhor não sabe de que é feita a coalhada?
– Está bem, você ganhou. Me traz um café com leite sem leite. Escuta uma coisa: como
é que vai indo a política aqui na sua cidade?
– Sei dizer não senhor: eu não sou daqui.
– E há quanto tempo o senhor mora aqui?
– Vai para uns quinze anos. Isto é, não posso agarantir com certeza: um pouco mais, um
pouco menos.
– Já dava para saber como vai indo a situação,não acha?
– Ah, o senhor fala a situação? Dizem que vai bem.
– Para que Partido?
– Para todos os Partidos, parece.
– Eu gostaria de saber quem é que vai ganhar a eleição aqui.
– Eu também gostaria. Uns falam que é um, outros falam que outro. Nessa mexida…
– E o Prefeito?
– Que é que tem o Prefeito?
– Que tal o Prefeito daqui?
– O Prefeito? É tal e qual eles falam dele.
– Que é que falam dele?
– Dele? Uai, esse trem todo que falam de tudo quanto é Prefeito.
– Você, certamente, já tem candidato.
– Quem, eu? Estou esperando as plataformas.
– Mas tem ali o retrato de um candidato dependurado na parede, que história é essa?
– Aonde, ali? Uê, gente: penduraram isso aí...
(Fernando Sabino. A mulher do vizinho, 1976.)

Na crônica, o dono do café comporta-se, sobretudo, de modo


(A) expansivo.
(B) questionador.
(C) extrovertido.
(D) evasivo.
(E) agressivo.

QUESTÃO 11

Leia a crônica “A velha contrabandista”, do escritor Stanislaw Ponte Preta (1923-1968),


para responder à questão 11.

Diz que era uma velhinha que sabia andar de lambreta. Todo dia ela passava pela
fronteira montada na lambreta, com um bruto saco atrás da lambreta. O pessoal da
Alfândega – tudo malandro velho – começou a desconfiar da velhinha.
Um dia, quando ela vinha na lambreta com o saco atrás, o fiscal da Alfândega
mandou ela parar. A velhinha parou e então o fiscal perguntou assim pra ela:

– Escuta aqui, vovozinha, a senhora passa por aqui todo dia, com esse saco aí atrás. Que
diabo a senhora leva nesse saco?

A velhinha sorriu com os poucos dentes que lhe restavam e mais os outros, que ela
adquirira no odontólogo, e respondeu:

– É areia!

Aí quem sorriu foi o fiscal. Achou que não era areia nenhuma e mandou a velhinha
saltar da lambreta para examinar o saco. A velhinha saltou, o fiscal esvaziou o saco e
dentro só tinha areia. Muito encabulado, ordenou à velhinha que fosse em frente. Ela
montou na lambreta e foi embora, com o saco de areia atrás.
Mas o fiscal ficou desconfiado ainda. Talvez a velhinha passasse um dia com areia e
no outro com muamba, dentro daquele maldito saco. No dia seguinte, quando ela passou
na lambreta com o saco atrás, o fiscal mandou parar outra vez. Perguntou o que é que
ela levava no saco e ela respondeu que era areia, uai! O fiscal examinou e era mesmo.
Durante um mês seguido o fiscal interceptou a velhinha e, todas as vezes, o que ela
levava no saco era areia.
Diz que foi aí que o fiscal se chateou:
– Olha, vovozinha, eu sou fiscal de alfândega com 40 anos de serviço. Manjo essa coisa
de contrabando pra burro. Ninguém me tira da cabeça que a senhora é contrabandista.
– Mas no saco só tem areia! – insistiu a velhinha. E já ia tocar a lambreta, quando o
fiscal propôs:
– Eu prometo à senhora que deixo a senhora passar. Não dou parte, não apreendo, não
conto nada a ninguém, mas a senhora vai me dizer: qual é o contrabando que a senhora
está passando por aqui todos os dias?
– O senhor promete que não “espáia”? – quis saber
a velhinha.
– Juro – respondeu o fiscal.
– É lambreta.
(Primo Altamirando e elas, 1975.)

Na crônica, a velhinha é caracterizada, sobretudo, como


(A) distraída.
(B) agressiva.
(C) astuta.
(D) mentirosa.
(E) atrapalhada.

QUESTÃO 12 (Enem 2017)

O exercício da crônica
Escrever prosa é uma arte ingrata. Eu digo prosa fiada, como faz um cronista; não a
prosa de um ficcionista, na qual este é levado meio a tapas pelas personagens e
situações que, azar dele, criou porque quis. Com um prosador cotidiano, a coisa fia mais
fino. Senta-se diante de sua máquina, acende um cigarro, olha através da janela e busca
fundo em sua imaginação um fato qualquer, de preferência colhido no noticiário
matutino, ou da véspera, em que, com as suas artimanhas peculiares, possa injetar um
sangue novo.
MORAES, V. Para viver um grande amor: crônicas e poemas. São Paulo: Cia. das
Letras, 1991.

Nesse trecho, Vinícius de Moraes exercita a crônica para pensá-la como gênero e
prática. Do ponto de vista dele, cabe ao cronista

a) criar fatos com a imaginação.


b) reproduzir as notícias dos jornais.
c) escrever em linguagem coloquial.
d) construir personagens verossímeis.
e) ressignificar o cotidiano pela escrita.

QUESTÃO 13 (Enem 2015)

Posso mandar por e-mail?


Atualmente, é comum “disparar” currículos na internet com a expectativa de alcançar o
maior número possível de selecionadores. Essa, no entanto, é uma ideia equivocada: é
preciso saber quem vai receber seu currículo e se a vaga é realmente indicada para seu
perfil, sob o risco de estar “queimando o filme” com um futuro empregador. Ao enviar
o currículo por e-mail, tente saber quem vai recebê-lo e faça um texto sucinto de
apresentação, com a sugestão a seguir:
Assunto: Currículo para a vaga de gerente de marketing
Mensagem: Boa tarde. Meu nome é José da Silva e gostaria de me candidatar à vaga de
gerente de marketing. Meu currículo segue anexo.
Guia da língua 2010: modelos e técnicas. Língua Portuguesa, 2010 (adaptado).

O texto integra um guia de modelos e técnicas de elaboração de textos e cumpre a


função social de
A) divulgar um padrão oficial de redação e envio de currículos.
B) indicar um modelo de currículo para pleitear uma vaga de emprego.
C) Instruir o leitor sobre como ser eficiente no envio de currículo por e-mail.
D) responder a uma pergunta de um assinante da revista sobre o envio de
currículo por e-mail.
E) orientar o leitor sobre como alcançar o maior número possível de
selecionadores de currículos
QUESTÃO 14 (Enem 2014)

O telefone tocou.
— Alô?
Quem fala?
— Como? Com quem deseja falar?
— Quero falar com o sr. Samuel Cardoso.
— É ele mesmo. Quem fala, por obséquio?
— Não se lembra mais da minha voz, seu Samuel? Faça um esforço.
— Lamento muito, minha senhora, mas não me lembro. Pode dizer-me de quem se
trata?
ANDRADE, C. D. Contos de aprendiz. Rio de Janeiro: José Olympio, 1958
(fragmento).

Pela insistência em manter o contato entre o emissor e o receptor, predomina no texto a


função
A) metalinguística.
B) fática.
C) referencial.
D) emotiva.
E) conativa.

QUESTÃO 15 (ENEM– 2013)


Os objetivos que motivam os seres humanos a estabelecer comunicação determinam, em
uma situação de interlocução, o predomínio de uma ou de outra função de linguagem.
Nesse texto, predomina a função que se caracteriza por:

A tentar persuadir o leitor acerca da necessidade de se tomarem certas medidas


para a elaboração de um livro.
B enfatizar a percepção subjetiva do autor, que projetam para sua obra seus
sonhos e histórias.
C apontar para o estabelecimento de interlocução de modo superficial e
automático, entre o leitor e o livro.
D fazer um exercício de reflexão a respeito dos princípios que estruturam a
forma e o conteúdo de um livro.
E retratar as etapas do processo de produção de um livro, as quais antecedem o
contato entre leitor e obra.

QUESTÃO 16

A notícia veiculada em uma revista de grande circulação apresenta fatos relacionados


com o turismo ecológico. Nessa situação específica de comunicação, a função
referencial da linguagem predomina porque o autor do texto prioriza:
a) as suas opiniões baseadas em fatos.
b) os aspectos objetivos e precisos.
c) os elementos de persuasão do leitor.
d) os elementos estéticos na construção do texto.
e) os aspectos subjetivos da mencionada pesquisa.
QUESTÃO 17

Assinale a afirmativa INCORRETA.


a) Enquanto a linguagem do historiador, do cientista se define como denotativa, a
linguagem do autor literário se define como conotativa.
b) A literatura não existe fora de um contexto social, já que cada autor tem uma
vivência social.
c) A obra literária não permite aos leitores gerar várias ideias e interpretações, pois
trabalha a linguagem de forma exclusivamente objetiva.
d) A linguagem poética é constituída por uma estrutura complexa, pois acrescenta ao
discurso linguístico um significado novo, surpreendente.
e) Para o entendimento de um texto literário, é necessário o conhecimento do código
linguístico e de uma pluralidade de códigos: retóricos, míticos, culturais, que se
encontram na base da estrutura artístico-ideológica do texto.

QUESTÃO 18 - (UERJ)

   (…) Não resguardei os apontamentos obtidos em largos dias e meses de observação: num

momento de aperto fui obrigado a atirá-los na água. Certamente me irão fazer falta, mas terá sido

uma perda irreparável?

  Quase me inclino a supor que foi bom privar-me desse material. Se ele existisse, ver-me-ia

propenso a consultá-lo a cada instante, mortificar-me-ia por dizer com rigor a hora exata de uma

partida, quantas demoradas tristezas se aqueciam ao sol pálido, em manhã de bruma, a cor das

folhas que tombavam das árvores, num pátio branco, a forma dos montes verdes, tintos de luz,

frases autênticas, gestos, gritos, gemidos. Mas que significa isso?

  Essas coisas verdadeiras não ser verossímeis. E se esmoreceram, deixá-las no esquecimento:

valiam pouco, pelo menos imagino que valiam pouco. Outras, porém, conservaram-se, cresceram,

associaram-se, e é inevitável mencioná-las. Afirmarei que sejam absolutamente exatas?

Leviandade.

  (…) Nesta reconstituição de fatos velhos, neste esmiuçamento, exponho o que notei, o que julgo

ter notado. Outros devem possuir lembranças diversas. Não as contesto, mas espero que não

recusem as minhas: conjugam-se, completam-se e me dão hoje impressão de realidade (…)

(RAMOS, Graciliano. Memórias do cárcere. Rio, São Paulo: Record, 1984.)


O fragmento transcrito expressa uma reflexão do autor-narrador quanto à escrita de seu livro

contando a experiência que viveu como preso político, durante o Estado Novo.

No que diz respeito às relações entre escrita literária e realidade, é possível depreender, da leitura do

texto, a seguinte característica da literatura:

a) revela ao leitor vivências humanas concretas e reais.

b) representa uma conscientização do artista sobre a realidade.

c) dispensa elementos da realidade social exterior à arte literária.

d) constitui uma interpretação de dados da realidade conhecida

QUESTÃO 19 (Enem 2011)

Motivadas ou não historicamente, normas prestigiadas ou estigmatizadas pela


comunidade sobrepõem-se ao longo do território, seja numa relação de oposição, seja de
complementaridade, sem, contudo, anular a interseção de usos que configuram uma
norma nacional distinta da do português europeu. Ao focalizar essa questão, que opõe
não só as normas do português de Portugal às normas do português brasileiro, mas
também as chamadas normas cultas locais às populares ou vernáculas, deve-se insistir
na ideia de que essas normas se consolidaram em diferentes momentos da nossa história
e que só a partir do século XVIII se pode começar a pensar na bifurcação das variantes
continentais, ora em consequência de mudanças ocorridas no Brasil, ora em Portugal,
ora, ainda, em ambos os territórios. O português do Brasil não é uma língua uniforme. A
variação linguística é um fenômeno natural, ao qual todas as línguas estão sujeitas.

Ao considerar as variedades linguísticas, o texto mostra que as normas podem ser


aprovadas ou condenadas socialmente, chamando a atenção do leitor para a:

a) desconsideração da existência das normas populares pelos falantes da norma culta.


b) difusão do português de Portugal em todas as regiões do Brasil só a partir do séc.
XVIII
c) existência de usos da língua que caracterizam uma norma nacional do Brasil,
distinta da de Portugal.
d) inexistência de normas cultas locais e populares ou vernáculas em um determinado
país.
e) necessidade de se rejeitar a ideia de que os usos frequentes de uma língua devem
ser aceitos.

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