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1 ORIGENS HISTÓRICAS E DESENVOLVIMENTO DO SEGURO

1.1 O Risco

Como dominar o risco? Conforme Bernstein (Desafio aos Deuses, uma Breve História do
Risco), a idéia revolucionária que define a fronteira entre os tempos modernos e o passado
se baseia no domínio do risco, na noção de que o futuro é mais do que um capricho dos
deuses e de que os homens não são passivos perante a natureza. “Até os seres humanos
descobrirem como transpor essa fronteira, o futuro era um espelho do passado ou o domínio
obscuro de oráculos e adivinhos que detinham o monopólio sobre os eventos previstos”.

A gestão do risco tornou-se uma importante ferramenta para a ampla gama de tomada de
decisões: da alocação de riquezas à salvaguarda dos regimes previdenciários, do
planejamento familiar ao cultivo de uma determinada cultura, do lançamento de um satélite à
contratação de um seguro vida. O risco acompanha o homem e é inerente à sua natureza.

Um evento aleatório é todo evento capaz de, em determinada experiência ou observação,


ocorrer ou não ocorrer. Um evento aleatório cuja ocorrência implica prejuízos econômicos é
denominado risco. Alguns autores identificam o risco como sendo uma variável aleatória
cuja distribuição de probabilidade é conhecida. Incerteza seria lidar com outra variável cuja
distribuição de probabilidade é desconhecida.

A necessidade de proteção contra o perigo, a insegurança diante do desconhecido, a


incerteza do futuro e o medo em relação à imprevisibilidade dos acontecimentos estiveram
sempre presentes na vida do homem. Tais sentimentos o levaram a criar formas de
proteção para si e para o seu patrimônio. Assim nasceu a idéia do seguro, fruto da
imaginação do homem, que encontrou, desta forma, um mecanismo para a sua proteção. O
seguro é um organismo que progressivamente se aperfeiçoa para restabelecer, de alguma
forma, o equilíbrio perturbado pela materialização do risco. A finalidade do seguro, portanto,
é de restabelecer o equilíbrio econômico perturbado pela materialização de algum risco
(evento) previsto no contrato de seguro. Assim, é proibido ao segurado ter lucro em uma
operação de seguros.

1.2 Origens do Seguro no Mundo

Existem controvérsias quanto à data do nascimento da instituição do seguro. Entretanto,


alguns registros sugerem que os cameleiros da Babilônia, 23 séculos antes do nascimento
de Cristo, atravessavam o deserto em caravanas para comercializar seus animais nas
cidades vizinhas. Sentindo as dificuldades e os perigos da travessia, como a morte ou
desaparecimento dos animais, os cameleiros estabeleceram um acordo: cada membro do
grupo que perdia um camelo tinha a garantia de receber um outro animal pago pelos demais
cameleiros. Da mesma forma, o Código de Hammurabi também promovia, na época, a
criação de uma associação que se encarregava de fornecer um novo barco aos que o
perdiam por causa de tempestades.

Na Grécia clássica, tiveram impulso diversas formas de associação, desde as religiosas e


políticas até as comerciais. Foram os gregos que criaram as primeiras sociedades de
socorro mútuo, que continuaram a existir durante o Império Romano sob o nome de collegia.
As sociedades não tinham fins lucrativos e reuniam indivíduos pertencentes às classes mais
humildes com o propósito de cobrir, por ocasião da morte de um associado, as despesas
funerárias que permitissem uma sepultura honrosa.

Também coube aos romanos, no tempo de Júlio César, congregarem-se para formar
sociedades, com intuito de protegerem-se mutuamente contra prejuízos monetários
advindos de dias chuvosos, pragas e casos de morte. O imperador Cláudio (10 a.C. - 54
d.C.), interessado em estimular o plantio e comércio de grãos, criou um seguro gratuito para
todos os agricultores e mercadores romanos ao tomar para si a responsabilidade sobre
qualquer perda do cereal decorrente do mau tempo.

No século XII, um novo impulso de comércio provocou o reflorescimento de um sistema de


cobertura de riscos que já era conhecido desde a Antigüidade: o Contrato de Dinheiro a
Risco Marítimo. Essa operação consistia num empréstimo em dinheiro concedido por um
capitalista ao navegador que empreendia uma viagem. O navegador não pagava nenhum
prêmio, mas deixava em garantia uma hipoteca sobre o seu navio e o valor da carga a ser
transportada. Se a embarcação e a carga fossem perdidas na viagem, o empréstimo não
era restituído. Caso a viagem fosse bem-sucedida, o navegador pagaria o que havia
recebido como empréstimo, acrescido de juros elevados como compensação pelos riscos
assumidos.
Em 1310 surgiu em Bruges, na Bélgica, uma Câmara de Seguros que efetuava o registro de
todos os contratos de seguro negociados e arbitrava entre as partes em caso de litígio. A
maior parte dos contratos era de seguros mútuos realizados por corporações e sindicatos de
navegação em benefício dos seus associados, cobrindo não só os riscos materiais, mas
também prevendo auxílio em caso de doença ou morte.

A primeira apólice de seguro de que se tem conhecimento foi emitida em 18 de junho de


1583, na cidade de Londres. Coube também a essa cidade a primazia de ter abrigado a
primeira Companhia de Seguros de Vida, conhecida pelo nome de “The Society of Insurance
for Widows and Orphans”.

No século XVII surgiram algumas instituições conhecidas como “Tontinas”, nome originado
do seu idealizador, o banqueiro de nacionalidade italiana Lourenço Tonti. As Tontinas
tinham por objetivo inicial facilitar ao Estado o levantamento de empréstimos públicos. Na
sua concepção, a operacionalidade de tais instituições baseava-se no princípio da reunião
de pessoas que colocavam em comum certa quantia em dinheiro para constituir um fundo
destinado a ser repartido em determinada época entre os sobreviventes do grupo. As
Tontinas tornaram-se a antítese do seguro de vida e, como conseqüência, trouxeram muitas
práticas amorais e anti-sociais, como fraudes, seqüestros e assassinatos. Entretanto, no
estudo do desenvolvimento científico e prático do seguro de vida, as Tontinas não deixaram
de ser uma semente lançada, embora mal concebida e com finalidade nebulosa. Como era
de se esperar, o desaparecimento de tais instituições veio a ocorrer no século seguinte.

Com o aparecimento de John Graunt (1620-1674) o seguro começou a tomar um maior


impulso como instituição. Graunt realizou seu trabalho em uma época em que a sociedade,
essencialmente agrícola da Inglaterra, estava se tornando cada vez mais sofisticada, com
possessões e empreendimentos comerciais ultramarinos. Foi ele quem projetou os primeiros
raios de luz sobre o, até então, obscuro ramo e fez despertar o mundo científico com as
suas especulações sobre as vicissitudes da vida, iniciando assim a era do moderno seguro
de vida.

As observações de John Graunt, publicadas em 1662 no seu livro Natural and Political
Observations made upon the Bills of Mortality, constituíram o primeiro exemplo de método
estatístico aplicado. Foi ao longo deste período que se observou um grande esforço para a
obtenção de dados referentes à mortalidade de pessoas. Mesmo percebendo que as
estatísticas disponíveis representavam uma mera fração de todos os nascimentos e mortes
já ocorridos em Londres, Graunt não se absteve de elaborar amplas conclusões sobre os
dados disponíveis. Sua linha de análise é conhecida atualmente como inferência estatística.
A partir da inferência de uma estimativa global de uma amostra de dados, os estatísticos
subseqüentes descobriram como calcular o erro provável entre a estimativa e os valores
reais. Com o seu esforço inovador, Graunt transformou o processo simples de coleta de
informações em um instrumento poderoso e complexo de interpretação do mundo.

No século XVII, surgiram novos tipos de seguro por influência do grande incêndio de
Londres de 1666, que destruiu 25% da cidade e obrigou a reforma dos sistemas de seguro
de incêndio. Foram destruídas 13.200 casas e 89 igrejas, deixando 20 mil pessoas
desabrigadas. Essa tragédia despertou a atenção das pessoas para os riscos de incêndio e
estimulou a criação das primeiras Companhias de Seguros destinadas à sua cobertura: a
Fire Office, em 1680; a Friendly Society, em 1684; e a Hand in Hand, em 1696. O advento
dessas empresas marcou o início de uma nova etapa na evolução dos seguros, que
passaram a interessar-se, também, pelos riscos terrestres.

Despertado o interesse pelo assunto, um grande número de matemáticos de renome, de


diferentes países, começou a prestar o seu apoio à causa, colaboração que foi de valor
inestimável para o desenvolvimento de uma ciência que surgia. Em 1693, Edmund Halley
elaborou um estudo pelo qual apresentava uma tábua de mortalidade conhecida por
Breslaw Table. Esta tábua de mortalidade foi a primeira construída sobre princípios
realmente científicos. Embora Halley fosse inglês, os dados que usou provieram da cidade
silesiana de Breslaw (atualmente com o nome de Wroclaw, na Polônia). Os dados recebidos
por Halley sobre idades e sexo de todas as pessoas mortas e o número de nascimentos a
cada ano eram apurados com toda a exatidão e fidelidade possível. Breslaw estava
localizada geograficamente longe do mar, de modo que a confluência dos estrangeiros era
pequena. Os nascimentos excediam os funerais (falecimentos) por apenas uma pequena
margem, e a população era muito mais estável que a londrina quando dos primeiros estudos
de John Graunt.

A matemática atuarial aprimorou-se profundamente durante o século XVII, principalmente


devido ao desenvolvimento do cálculo de probabilidades e dos avanços da matéria
efetuados por Pascal, Fermat, Galileo, Bayes, Laplace, Markov e Kolmogorov, entre outros.

Coube a Abraham De Moivre, em 1725, o privilégio de calcular os prêmios dos seguros de


vida com bases efetivamente científicas. Cinqüenta anos depois, ficou a cargo de James
Dodson, não só calcular os prêmios para distintos seguros de vida, mas também os valores
das reservas matemáticas decorrentes. Estabelecia-se, pela primeira vez, um modelo
aplicável à sistematização de uma Companhia de Seguros de Vida, que viria a garantir a
sua existência e estabilidade num futuro próximo.
Deve-se enaltecer os trabalhos de Zillmer, Meikle, Woolhouse e Lexis pelo desenvolvimento
das questões técnicas, mais precisamente na área probabilística e demográfica, importantes
à fundamentação da ciência atuarial. No século XIX, os estudos sobre a mortalidade
efetuados pelos eminentes atuários Benjamin Gompertz e William Makeham foram de vital
importância para a estruturação do seguro moderno.

1.3 Origens do Seguro no Brasil

No Brasil, com a vinda da Família Real em 1808 e a conseqüente instalação de fábricas


propiciando a abertura econômica do país, foi possível a instalação de uma Companhia de
Seguros no território nacional. A Companhia de Seguros Boa Fé, cujas normas se
regulavam pela Casa de Seguros de Lisboa, foi a primeira a se instalar. Mesmo depois de
consumada a independência do Brasil em 1822, as regras de seguro continuaram baseadas
na legislação portuguesa, que se sujeitava às normas comerciais da Europa. A legislação
interna sobre o seguro, assim, continuou precária até 1850, quando foi promulgado o Código
Comercial que, embora tratasse apenas do seguro marítimo, estabeleceu com clareza os
direitos e deveres entre as partes contratantes, tornando-se uma medida legislativa de
significativo alcance para o desenvolvimento do setor como um todo. O advento do Código
Comercial foi de fundamental importância para o desenvolvimento do seguro no Brasil,
incentivando o aparecimento de inúmeras Companhias de Seguros, que passaram a operar
não só com o seguro marítimo, expressamente previsto na legislação, mas também com o
seguro terrestre.

O seguro de vida teve a sua prática protelada no Brasil por ter sido considerado, durante
longo tempo, como uma especulação imoral. O Código Comercial brasileiro de 1850 proibia
a contração de seguro de vida de pessoa livre, mas admitia a contratação sobre a vida de
escravos, por serem eles objeto de propriedade. Nesta é poça surgiu a Companhia de
Seguros Mútuos sobre a Vida de Escravos.

Somente após alguns anos, este ramo começou a se desenvolver, quando em 1855 surgiu a
Companhia de Seguros Tranqüilidade, primeira sociedade fundada no Brasil para operar em
seguros de vida de pessoas livres, mas admitias sobre a vida de pessoas livres.

A partir de 1862 começaram a surgir as primeiras sociedades estrangeiras, como a


Companhia de Garantia do Porto, a Royal Insurance, a Liverpool & London & Globe, entre
outras. Estas sucursais transferiam para suas matrizes os recursos financeiros obtidos pelos
prêmios cobrados, provocando uma significativa evasão de divisas. Assim, visando proteger
os interesses econômicos do país, foi promulgada, em 5 de setembro de 1895, a Lei n° 294,
dispondo exclusivamente sobre as companhias estrangeiras de seguros, determinando que
suas reservas técnicas fossem constituídas e tivessem seus recursos aplicados no Brasil,
para fazer frente aos riscos aqui assumidos. Algumas empresas estrangeiras, divergindo
sobre as disposições contidas no referido diploma legal, fecharam suas sucursais no país.

No início do século XX o Decreto n.° 4.270/1901 e s eu regulamento direcionavam o


funcionamento das Companhias de Seguros de Vida, marítimos e terrestres, nacionais e
estrangeiras, já existentes ou que viessem a se organizar no território nacional. Além de
estender as normas de fiscalização a todos os seguradores que operavam no país, tais
dispositivos legais criaram a Superintendência Geral de Seguros, subordinada diretamente
ao Ministério da Fazenda. Com a criação da Superintendência, foram concentradas, numa
única repartição especializada, todas as questões atinentes à fiscalização de seguros, antes
distribuídas entre diferentes órgãos. Sua jurisdição alcançava todo o território nacional cuja
competência incluía as fiscalizações preventivas, exercidas por ocasião do exame da
documentação da sociedade que requeria autorização para funcionar, e as repressivas, sob
a forma de inspeção direta e periódica das sociedades.

Em 1916, com a promulgação do Código Civil Brasileiro, foram previstos e regulamentados


todos os ramos de seguros, inclusive o de vida. A atividade de seguros passava a ter, desta
feita, uma estrutura legal, sólida e de caráter duradouro, deixando de se basear em normas
de decretos e regulamentos. Mais tarde, em julho de 1934, foi criado no Ministério do
Trabalho, Indústria e Comércio o Departamento Nacional de Seguros Privados e
Capitalização (DNSPC), cujo objetivo era atender às seguintes finalidades: fiscalizar as
operações de seguros privados em geral, amparar, nos limites de suas atribuições
administrativas, os interesses e direitos do público relativos às operações de seguros e,
ainda, promover o desenvolvimento das operações técnicas.

A primeira Companhia de Seguros no Brasil a emitir uma apólice de Seguro de Vida em


Grupo foi a Sul América - Companhia Nacional de Seguros de Vida, no ano de 1929.
Tratava-se de uma nova modalidade de seguro que se instalava no país, diferente, em
vários aspectos, do Seguro de Vida Individual clássico.

Em 1939, o presidente Getúlio Vargas deu o maior passo para o progresso do seguro no
país, criando o Instituto de Resseguros do Brasil (IRB). Esta instituição foi fundada com o
objetivo de regular o resseguro no país e desenvolver as operações de seguros em geral.
As Companhias de Seguros ficaram obrigadas, desde então, a ressegurar no IRB as
responsabilidades que excedessem sua capacidade de retenção. Com esta medida, o
Governo Federal procurou evitar que grande parte das divisas nacionais fosse consumida
com a remessa de prêmios ao exterior.
Em 1966, através do Decreto-lei n.° 73/66, foram re guladas todas as operações de seguros
e resseguros. Além disso, também foi instituído o Sistema Nacional de Seguros Privados,
assim constituído:

 Conselho Nacional de Seguros Privados – CNSP;

 Superintendência de Seguros Privados – SUSEP;

 Instituto de Resseguros do Brasil – IRB (atualmente IRB-Brasil Re);

 Sociedades autorizadas a operar em Seguros Privados;

 Corretores habilitados.

Na década de 60, reaviva o surgimento de várias instituições privadas, genericamente


conhecidas por Montepios. Na década de 70, em decorrência de uma necessidade
previdenciária complementar ao serviço prestado pelo Estado, já haviam surgido as
instituições fechadas de previdência, congregando empregados de uma única empresa. Sob
o modelo da PETROS, implantada pela Petrobrás, de maior envergadura técnica, este
período fica marcado pelo início da grande expansão dos atuais Fundos de Pensões.

É consolidada, em 1977, a legislação de Previdência Privada, que se desdobra em dois


segmentos básicos: Aberto e o Fechado.

A Superintendência de Seguros Privados – SUSEP sucede o DNSPC. Como uma autarquia


dotada de personalidade jurídica de Direito Público, com autonomia administrativa e
financeira, a SUSEP ficou vinculada ao Ministério da Indústria e do Comércio até o ano de
1979, quando passou a estar vinculada ao Ministério da Fazenda.

1.3.1 Previdência Social

O reconhecimento universal do direito de qualquer pessoa a um nível de vida digno,


principalmente quando, por circunstâncias independentes de sua vontade, perde seus meios
de subsistência, fez desenvolver-se no mundo inteiro os sistemas de previdência.

A previdência oficial começa a ganhar corpo e voltar-se para os trabalhadores privados a


partir de 1919, com a Lei de Acidentes Pessoais, e em 1923, com a Lei Eloy Chaves,
introdutora das caixas e considerada, historicamente, como o marco inicial da socialização
da previdência. Os últimos 50 anos marcaram definitivamente, numa quase vertiginosa
hierarquia de fatos, a evolução da previdência estatal, chegando-se ao instituto único para
os trabalhadores do setor privado, o regime especial para os servidores públicos e os
dispositivos de reciprocidade. A Previdência Social consiste em uma forma de assegurar ao
trabalhador, com base no princípio da solidariedade, benefícios ou serviços quando seja
atingido por alguma contingência social ( morte , doença , invalidez , velhice , maternidade ,
desemprego etc ). O sistema é baseado na solidariedade humana, em que a população
ativa deve sustentar a inativa, os aposentados. O sistema brasileiro de Previdência Social é
um modelo de repartição simples, em que existe uma solidariedade entre pessoas na
cotização do sistema para a concessão do futuro benefício, sendo que é a massa
arrecadada por todos que paga os benefícios aos trabalhadores.

1.3.2 Previdência Privada

O desenvolvimento da previdência em nível estatal, cercada de grande expectativa, não


chegou a inibir a evolução da Previdência Privada. Não abrangendo, de início, todas as
categorias ocupacionais, a Previdência Social deixou a descoberto os autônomos, os
profissionais liberais, os empregadores e os trabalhadores rurais. Surge, então, a
necessidade deles se organizarem em sociedades mutuárias que lhes dessem cobertura.
Proliferam, assim, as Caixas de Pecúlios e as Sociedades de Mútuo Socorro (sociedades,
que admitiam sócios mediante pagamento de módica taxa de inscrição e sob o
compromisso de se cotizarem entre si no caso de falecimento de um deles). Obtido um certo
número de sócios, a sociedade passaria a oferecer esses benefícios nos moldes do
mutualismo.

Mais adiante, com a universalização da Previdência Social, agora abrangendo praticamente


todas as categorias, a Previdência Privada ganha outra significado, de não mais o de levar
a proteção inicial, básica e única, mas a de complementar a ação da previdência oficial. A
década de 60 reaviva o surgimento de muitas instituições privadas, genericamente
conhecidas sob a denominação de montepios. Outras, já existentes, mas restritas a uma
classe, abrem-se à participação geral.

Com este mesmo sentido complementar, já haviam surgido as instituições fechadas de


previdência, congregando empregados de uma única empresa, mais notadamente entre as
organizações bancárias Sob o modelo da Petros, implantada na Petrobrás, de maior
envergadura técnica, a década de 70 marca o início da grande expansão das entidades
fechadas.

Essas raízes históricas conduziram a previdência brasileira a um modelo nacional, baseado


no binômio social-privado:
 Seguridade básica, campo da Previdência Social, compulsória e gerida pelo
Estado, voltada para a garantia dos direitos mínimos de preservação de qualidade
de vida; de modo condizente com a justiça social, é de objetivos médios e módicos
e, por conseguinte, insuficiente do ponto de vista individual, já que ao Estado
compete a preservação de padrões mínimos, não sacrificando a grande massa
contribuinte com a sustentação obrigatória de padrões mais elevados;

 Seguridade supletiva, facultativa, desenvolvida pela iniciativa privada para atender


aos anseios individuais de preservação do modo de vida. Através dela é possível
ao trabalhador, seja assalariado ou autônomo, integralizar a renda familiar na
inatividade quando, por doença, idade ou morte, a família não disporia mais do que
os proventos da Previdência Social, insuficientes para a manutenção dos mesmos
padrões.

A Previdência Privada institucionalizou-se em duas classes distintas de entidades, o


segmento fechado e o aberto. O segmento fechado é constituído pelas instituições que
operam no seio de uma empresa ou grupo de empresas, com planos de formulação grupal,
absolutamente mutualistas, para a prestação de benefícios complementares e
assemelhados aos da Previdência Social. Já o segmento aberto, é constituído pelas
instituições abertas à participação do público em geral, para a prestação de benefícios
previdenciários opcionais, de caráter mais individual.

Os ativos das Entidades Abertas de Previdência Privada constituem-se num dos mais
expressivos mecanismos de formação de poupança interna, assim como o segmento das
Entidades Fechadas que acumulam patrimônios significativos. A Previdência Privada é hoje
o maior investidor institucional no Brasil. Seus ativos financeiros estão a serviço da
economia nacional, fortalecendo as atividades produtivas e servindo à política econômica,
direcionadas que são suas aplicações pelos órgãos governamentais.

1.3.3 Capitalização

Na acepção econômico-financeira, capitalização é o processo de aplicação a juros


compostos e de crescimento desse principal por força da incorporação desses mesmos
juros. As Sociedades de Capitalização, formadas como sociedades anônimas, objetivam a
operacionalização de "Títulos de Capitalização". Estes papéis que caracterizam
investimentos e são representados por cautelas (nominativas ou ao portador) contendo um
contrato de adesão denominado Condições Gerais. Tratando-se de um Título de
Capitalização, a primeira constatação que se impõe é de que o prêmio pago pelo mesmo
não é um depósito, mas uma importância ou uma parcela contributiva que se divide em três
partes distintas, a saber:

 uma parte destinada a cobrir os custos do sorteio, denominada "Provisão


para Sorteio";

 uma parte destinada a cobrir as despesas operacionais da empresa,


denominada "Carregamento" ou "Sobrecarga";

 uma parte destinada a constituir um plano de poupança programada, que se


convencionou denominar "Provisão Matemática".

Objetivando proporcionar auxílio financeiro aos sócios através de suas próprias poupanças,
Paul Viget, diretor de uma cooperativa de minérios da França, idealizou, em 1850, a
Capitalização. O sistema era baseado em contribuições mensais, visando à constituição de
um capital garantido, pago no final de prazo previamente estipulado ou, antecipadamente,
através de sorteio. No início do século XX, a Capitalização tomou um grande impulso na
França e de lá se difundiu através dos países de origem latina.

As atividades no setor de Capitalização surgiram no Brasil em 1929, tomando grande


impulso na década de 30. Em 1947, o número de companhias de Capitalização operando no
país já ascendia a dezesseis, sediadas no Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre e
Salvador. Na década de 50, entretanto, o processo inflacionário acelerou-se de tal forma,
que o sistema de Capitalização se tornou desinteressante para a clientela, pois o Capital
inicialmente contratado era corroído pela incessante desvalorização da moeda. Com a
instituição da correção monetária em 1964, criaram-se as premissas básicas para o
ressurgimento da Capitalização, embora esse processo só tenha deslanchado mesmo dez
anos depois, quando surgiram no Brasil muitas novas empresas.

Capitalização é, portanto, uma combinação de economia programada e sorteio, sendo que o


conceito financeiro acima exposto aplica-se apenas ao componente "economia
programada", cabendo ao componente lotérico o papel de poder antecipar, a qualquer
tempo, o recebimento da quantia que se pretende economizar ou de um múltiplo dela de
conformidade com o plano. Para a venda de um título de Capitalização é necessário uma
série de formalidades, que objetivam a garantia do consumidor. A Sociedade de
Capitalização deve submeter o seu plano ao órgão fiscalizador do Sistema Nacional de
Capitalização – SUSEP.
1.3.4 Seguro Privado

Sob o aspecto jurídico, segundo o art. 757 do Código Civil Brasileiro, “pelo contrato de
seguro, o segurador se obriga, mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse
legítimo do segurado, relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados”. Assim, o
contrato de seguro é um acordo pelo qual o segurado, mediante pagamento de um prêmio
ao segurador, garante para si ou para seus beneficiários, indenizações de prejuízos que
venha a sofrer em conseqüência da realização de um dos eventos previstos no contrato.
São dois os principais elementos do contrato de seguro – proposta e apólice –
indispensáveis ao estabelecimento do compromisso entre as partes.

A proposta é o instrumento através do qual o proponente manifesta à Companhia de


Seguros o desejo de realizar o contrato. De fato, para que exista um contrato de seguro tem
que haver, em primeiro lugar, este pedido do proponente ao segurador que é livre para
aceitá-lo ou recusá-lo. Esta exigência é inclusive corroborada por lei, já que, segundo o art.
759 do Código Civil Brasileiro, “a emissão da apólice deverá ser precedida de proposta
escrita com a declaração dos elementos essenciais do interesse a ser garantido e do risco.”

Assim, uma vez que esta oferta seja definitivamente aceita, é emitida a apólice de seguro,
documento que determina e regula as relações entre o segurado e o segurador. Segundo o
art. 758 do Código Civil Brasileiro, “o contrato de seguro prova-se com a exibição da apólice
ou do bilhete do seguro, e, na falta deles, por documento comprobatório do pagamento do
respectivo prêmio”.

De forma geral, em todo contrato de seguro existe uma prestação e uma contraprestação
em que está, de um lado, o segurado que paga o prêmio pela cobertura do risco e, de outro,
a Companhia de Seguros que toma o encargo das perdas que este risco ocasione.

O Decreto Lei 73/66 regulamentou no Brasil a toda a atividade econômica relacionada com
o Seguro Privado. Conforme a referida norma o Seguro é um contrato bilateral e oneroso,
através do qual uma das partes (segurador), recebendo uma remuneração (prêmio), obriga-
se com a outra (segurado) a indeniza-la, ou a terceiros, por ela indicados (beneficiários ou
prejudicados), no caso da realização de um determinado risco (sinistro). O Decreto Lei 73/66
divide o seguro em três categorias: a) Seguros de Pessoas; b) Seguros de Bens; e c)
Seguros de Responsabilidade;

Nos seguros de pessoas encontramos as seguintes modalidades: vida, acidentes pessoais,


saúde e outros. Nos seguros de bens enquadram-se: incêndio, cascos, transportes, lucros
cessantes, automóvel, roubo, vidros, riscos diversos, etc. Finalmente, nos seguros de
responsabilidade podemos destacar: crédito, fidelidade, responsabilidade civil, etc.

As Sociedades de Seguro Privado (Companhias Seguradoras) e as Sociedades de


Capitalização, em virtude da promulgação do referido Decreto-Lei, ficam subordinadas ao
Mistério da Fazenda, via o Conselho Nacional de Seguros Privados (C.N.S.P.) e a
Superintendência de Seguros Privados (S.U.S.E.P.).

Dentro deste contexto, ao Banco Central do Brasil (B.C) delegou-se a responsabilidade pela
normatização e fiscalização das aplicações dos recursos oriundos dos planos de seguros e
títulos de capitalização operados pelas Sociedades, segundo as diretrizes estabelecidas
pelo Conselho Monetário Nacional (C.M.N.).

São elementos essenciais do Seguro - Segurador, Segurado, Prêmio e o Risco.

 Segurador (Seguradora): é a empresa legalmente constituída para assumir e


gerir coletivamente os riscos, obedecidos os critérios técnicos e administrativos
específicos; Segurador é, portanto, a pessoa jurídica que assume a
responsabilidade de determinados riscos e paga a "INDENIZAÇÃO" ao Segurado
ou aos seus beneficiários, no caso da ocorrência do "Sinistro"; nesse contexto a
efetivação do evento fica caracterizado como o "Sinistro", e a possibilidade de
materialização do evento é o "Risco".

 Segurado: é a pessoa física ou jurídica em nome de que se faz o seguro; é


comum a pessoa do segurado apresentar, também, características de Estipulante
e de Beneficiário:

 Prêmio: é o valor devido pelo Segurado ao Segurador, para que este assuma os
riscos previstos no contrato de seguro; a cobrança do Prêmio deverá ser feita,
obrigatoriamente, pela rede bancária.

 Risco: é um acontecimento possível, porém futuro e incerto, quer quanto a sua


ocorrência, quer quanto ao momento em que se deverá produzir,
independentemente da vontade do Segurado e do Segurador. Risco pode ser
avaliado por três prismas diferentes: crescentes (risco de morte, em função da
idade); decrescentes (risco de sobrevivência, em função da idade) e estacionários
(incêndio). Riscos Excluídos são os riscos não cobertos pelo seguro, como por
exemplo, os riscos decorrentes de atos ilícitos do segurado; vale observar que nas
Condições Gerais de cada Apólice de seguro são especificados os riscos que, por
suas características, do ramo ou do próprio risco, são considerados como não
cobertos.

São características básicas do seguro:

 Previdência: processo pelo qual as pessoas buscam de proteção contra efeitos


danosos de riscos (eventos) que, eventualmente, possam acontecer no futuro;

 Incerteza: característica inerente a todo e qualquer seguro, muito embora em


algumas situações a incerteza possa estar associada a data em que o risco irá se
materializar (por exemplo: seguro de vida);

 Mutualismo: fundamenta-se na reunião de um grupo de pessoas (expostos) com


interesses seguráveis comuns, sujeitas aos mesmos riscos que, juntas, formam
uma massa econômica e compartilham benefícios e/ou prejuízos. A Bíblia, no Novo
Testamento (Gálatas, 6:2), faz alusão ao mutualismo quando diz: “levai as cargas
uns dos outros”.

As operações de seguro também se fundamentam nos seguintes princípios norteadores:

 Cálculo das Probabilidades: é o meio de prever a ocorrência de sinistro por meio


de estatísticas de numerosos casos análogos, sendo uma importante ferramenta
na avaliação do preço do seguro (precificação);

 Lei dos Grandes Números: é o princípio pelo qual a freqüência de determinados


acontecimentos, observada em um grande número de casos análogos, tende a se
estabilizar a medida que aumenta o número de casos observados, aproximando-se
dos números previstos pelo cálculo das probabilidades;

 Subscrição de Riscos: representam as regras e princípios utilizados pelo


subscritor para a aceitar, selecionar e classificar os riscos – normais (padrão),
agravados e preferentes; tem por objetivo assegurar que os riscos assumidos
estejam de acordo com aqueles esperados e que os prêmios cobrados
representem, efetivamente, um reflexo justo dos níveis de risco que venham a ser
subscritos;

 Pulverização e Homogeneização dos Riscos: é o princípio da repartição do


risco, que geralmente é realizado por meio de operações de co-seguro e
resseguro; já a homogeneização tem por objetivo fazer com que as previsões
sobre o comportamento dos sinistros sejam mais eficazes, principalmente quando
os riscos são agrupados em função de similaridades (por exemplo a fixação de
limites de capitais segurados).

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