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1

Lucas Alan Pinto (Kidd)

Momentos:
Um livro de poesias

2
Página de Registros

Direitos autorais devidos a Lucas Alan Pinto;


É feito o registro no Escritório de Direitos Autorais da Biblioteca Nacional.

Registro ISBN:

Editor-Autor: Lucas Alan Pinto

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Pinto, Lucas Alan
Momentos : um livro de poesias / Lucas
Alan
Pinto. -- 1. ed. -- Belo Horizonte, MG :
Ed. do Autor, 2010.

ISBN 978-85-911211-0-6

1. Poesia brasileira I. Título.


10-10510
CDD-869.91
Índices para catálogo sistemático:
1. Poesia : Literatura brasileira 869.91

Idiomas usados: Português e Inglês


Suporte: Papel
Capa: Brochura
Edição: 1ª
Pseudônimo do autor:
Lucas Alan Pinto (Kidd)
Nome da obra:
Momentos: Um livro de poesias

Capa:
Arte e design de Tiago Castro (Geraldão)
Foto por Vicente França

Livro escrito, editado


e publicado nas plagas do Brasil.

3
Lucas Alan Pinto

MOMENTOS
Um livro de poesias

1ª Edição

2010
Belo Horizonte

4
Índice
Sobre o autor e a obra .................................................. 13
Depoimento-poema: ....................................................... 14
Minhas influências literárias poéticas: ................................. 14
‚Não discuto com o destino, o que pintar eu assino.‛ .................... 15
Grupos de poesias organizados por símbolos: ............................. 15
Momentos ............................................................... 16
Ânimo dobre *** ¨ ....................................................... 17
Acertar o erro *** ° .................................................... 17
Gosto *** ............................................................... 18
A Felicidade *** ........................................................ 19
Poema Feliz £ ........................................................... 21
Um Sonho *** £ .......................................................... 22
Morte ‘ ................................................................. 25
O Olho .................................................................. 26
Olhos do Mal ‘ .......................................................... 27
Triste esperança *** .................................................... 28
É preciso ............................................................... 29
Fazer poesia ‚ .......................................................... 30
Triste .................................................................. 30
Escrita ‘ ............................................................... 31
Teatro .................................................................. 32
Danças ‘ ................................................................ 32
Fragilidade ** .......................................................... 33
Preenchendo o vazio ‘ ................................................... 34
Eu era assim ‘ .......................................................... 35
Ela ..................................................................... 37
Ser Bom ‘ ............................................................... 37
É... .................................................................... 38
O Universo .............................................................. 39
Nós dois ‘ .............................................................. 39
Tocar o Barco ‘ ......................................................... 40

5
Coração vazio ........................................................... 41
Sacie-me ................................................................ 41
Só Eu Sei ‘ ............................................................. 42
É Tudo Cinzas ........................................................... 43
Here I Am ‘ ............................................................. 44
Verborragia # ........................................................... 44
Alma Apagada ‚ .......................................................... 45
Preciso De Um Sábio ..................................................... 45
Temendo ‚ ............................................................... 46
Os Ventos ............................................................... 46
O Tempo Passa * ......................................................... 47
Meu Violão, Minha Vida ‚ ¬ .............................................. 47
A Paz ................................................................... 48
Meu Herói £ ‘ ** ........................................................ 49
Estou Tão Cansado ‚ ¬ ................................................... 51
Da Morte Uma Flecha ‘ ................................................... 52
Todas As Palavras ....................................................... 52
Saber sentir * .......................................................... 53
Represando Sentimentos .................................................. 53
O Mundo é Sombrio ** .................................................... 54
De Onde Vem A Inspiração? ............................................... 54
Fly to Pluton ........................................................... 56
Esperar ‘ ............................................................... 56
És Meu Sol ‘ ............................................................ 57
Marcelos ^ .............................................................. 57
Marcelo I ......................................................................................................................................... 57
Marcelo II ........................................................................................................................................ 58
Marcelo III ....................................................................................................................................... 59
Flores que Andam *** ¨ .................................................. 59
Fugaz Minuto Eterno *** ................................................. 60
Ler-te ** ° ............................................................. 61
Sol * ................................................................... 61
Dor da Saudade * ........................................................ 61
Pena Hemotintória ....................................................... 61

6
Thomas Hobbes ^^ ........................................................ 62
Mendigo * ............................................................... 62
Éses ^ .................................................................. 62
Amor e Sexo * ........................................................... 62
Arras ................................................................... 63
Uma ordem! ^^ ........................................................... 63
I know + ^ .............................................................. 63
Art. 122, CP 1940 ^^ ................................................... 64
Ele ia ser ^ ............................................................ 64
Um Momento ^ ............................................................ 64
Grass + ................................................................. 64
O Ideal ** .............................................................. 65
Condições do amor * ..................................................... 65
Sem palavras * .......................................................... 65
O Não ^^ ................................................................ 65
... ^^ ................................................................. 65
Um poema chamado amor ^^ ................................................ 66
Vida e Morte ^ .......................................................... 66
Ideal Meal + ^^ ......................................................... 66
Indecisão ............................................................... 66
Homenagem a João ........................................................ 68
Realismo ^ .............................................................. 68
Versão Original – Hallelujah ............................................ 68
Versão Minha – Hallelujah *** ¨ ......................................... 69
Última Vela ............................................................. 69
Esperança Também ........................................................ 71
Estrelas * .............................................................. 71
Limitação ............................................................... 73
Beloved planet of shadows + ............................................. 74
Folhas e galhos * ....................................................... 74
Poesia ao Meu Lado ...................................................... 74
Fungos .................................................................. 75
Forças .................................................................. 75
Sentia .................................................................. 76

7
Alcoolismo .............................................................. 76
Caravelas no Céu ‚ ...................................................... 77
Saudade de Nunca ........................................................ 78
Cinza e Carmim .......................................................... 78
Sétimo Dia .............................................................. 79
Eu não *** ^^ ........................................................... 79
Tempo ................................................................... 79
Um Haikai ............................................................... 80
Vestes .................................................................. 80
Ele ..................................................................... 80
Penar ‚ ................................................................. 80
Traças ‘ ................................................................ 81
Louca Vida ‘ ............................................................ 81
Paz... Sei lá ‘ ......................................................... 82
Fome .................................................................... 83
Fantasma ................................................................ 83
Ilusão * ^ .............................................................. 83
Porque ¬ ................................................................ 84
Um Nada ¬ ‚ ............................................................. 84
Minha Solidão ........................................................... 84
Somos Parecidos Demais ‘ ................................................ 85
Queimei ................................................................. 85
Puro Mel ................................................................ 86
Ganância Humana ......................................................... 86
Conta-me ‘ .............................................................. 87
Rock n’ Roll ‘ .......................................................... 88
O Violeiro Triste ....................................................... 89
Aliteração, Assonância, Paronomásia, e Pensamentos. ..................... 89
E Anáfora ............................................................... 90
Eles .................................................................... 91
Ray ..................................................................... 91
Aves voando ^ ........................................................... 92
Não sinto ‘ ............................................................. 92
Sufocado ‘ , ............................................................ 92

8
Mundo Mudo ‘ ............................................................ 93
Venha ................................................................... 93
10/06/09 ................................................................ 93
Trechos ‚ ............................................................... 94
Um Mundo Feliz .......................................................... 95
Moça Bonita ° ........................................................... 96
Exaltação Alegre ........................................................ 97
Denial .................................................................. 98
Na Estrada .............................................................. 99
Longos Anos ............................................................. 99
Ter-te ao Lado ......................................................... 100
Mas .................................................................... 101
Sabe ................................................................... 101
Não, Agora ............................................................. 101
Ah... Há ............................................................... 102
Digam .................................................................. 102
À dama que roubou os meus olhos ........................................ 102
Pequeno ‘ .............................................................. 103
Será? - 14 de abril de 2009 ............................................ 103
Também ................................................................. 104
Do dia 15/04/09 ........................................................ 104
Perfeição .............................................................. 105
Santa Arte * ........................................................... 105
Migalhas e Portas ...................................................... 105
Se fosse minha ‘ ....................................................... 106
Sopros ................................................................. 106
Pó ..................................................................... 107
Saiba .................................................................. 107
Fragmentos ‚ ........................................................... 107
23/04/09 ‚ ............................................................. 109
Fantasia Lasciva ....................................................... 109
Cheiro da Noite ‘ ...................................................... 110
Genesis ................................................................ 111
Pomba que canta ........................................................ 111

9
Revolta ‘ .............................................................. 111
My Last Poem ‘ ......................................................... 112
Horizonte .............................................................. 112
Grain Image ............................................................ 113
O grande segredo ....................................................... 113
Alma Lua ............................................................... 114
Me mate ou me beije .................................................... 114
Escrevendo ............................................................. 114
Chá no Escuro .......................................................... 114
Chamas ................................................................. 115
História ............................................................... 115
A arte vai beij-arte * ................................................. 115
Vendo coisas ........................................................... 115
Maria Mariana .......................................................... 116
Eu te amo ^ ............................................................ 116
Luminosas * ............................................................ 116
Em si .................................................................. 117
Importa ................................................................ 117
Se morri para ti ....................................................... 117
Equação Irônica ^ ...................................................... 118
Perdoes-me, mas... ..................................................... 118
Não te amo mais ........................................................ 118
Hipocrisia ............................................................. 118
Vão .................................................................... 118
Vera Gota .............................................................. 119
Meretriz ............................................................... 120
Criança ................................................................ 120
Paixão pelo mundo ...................................................... 121

* * *

10
11
A todos os seres viventes, que amo,
dedico cada página de minha vida,
na Terra e além,
hoje e sempre.

12
Sobre o autor e a obra
Lucas Alan Pinto (Kidd) é um jovem do ano de 1987, que procura ter
muitos questionamentos profundos sobre a vida e por menos que a idade faça
aparentar, já viveu muito e intensamente. Já sofreu demais. Amou demais.
Sorriu um tanto. Derramou lágrimas sem fim, pelas dores da vida, pelas
mazelas do mundo, e por sublimes e inacreditáveis alegrias.
Aos dezesseis anos, teve sua primeira namorada, amada para a
eternidade. Mas com pouco tempo de namoro, a vida dela foi violentamente
tirada (por um acidente de carro) do seio da convivência física dos que
tanto a queriam e querem.
Com dezoito anos, recebeu de Deus o aval para amar novamente, e o
amor à sua namorada nunca queimou em vão. A chama uma vez acesa, não se
enxerga apagada no futuro.
O amor, as tristezas do mundo, as dores da saudade, sofrimentos
diversos, angústias profundas, desesperança para algumas coisas, esperança
enorme para outras, desejos sinceros, cogitações filosóficas, são objetos
de suas inspirações.
Algumas de suas poesias são simples resultados de inspirações
provindas de algo externo a ele, ou seja, não têm tanto a ver com a sua
vida. Algumas são sobre fatos, outras são fruto de sua imaginação (é claro
que toda imaginação é provinda de alguma base factual), por exemplo, o
poema Um Sonho, que está neste livro, é de uma estética muito boa, mas o
relato não é verídico. Porém, grande parte dos poemas é manifestação
sincera de seus sentimentos, que podem ser apenas momentâneos ou não.
A obra se chama Momentos porque cada poema é surgido de um
diferente momento do autor e daquilo que lhe inspira. Há momentos de todo
tipo. Há momentos tristes, felizes, esperançosos, rápidos, eternos. Há
aqueles que nos lembram o orvalho depositado nas flores de uma azaléia em
uma fresca manhã e nos fazem querer viver mais; e há aqueles que nos
lembram de realidades como a fome, e de moscas sobrevoando o corpo de uma
criança suja, raquítica e triste, e nos fazem não gostar muito desta vida
(quando não temos força para mudá-la).
Lucas é nascido na cidade de Belo Horizonte, capital do estado de
Minas Gerais, do Brasil. Viveu todo o tempo de sua vida nesta mesma cidade,
um lugar muito agradável e civilizado. Ele é hoje estudante de Direito
(FUMEC1), mas já começou o estudo da Terapia Ocupacional e das Ciências
Econômicas (FELUMA e PUC), dois cursos que ele, não obstante ter gostado
muito, deixou, para encontrar aquilo que está mais adequado às suas
habilidades. Quando na área das médicas, participou de um grupo de
desenvolvimento de projetos de tecnologia assistiva, na Faculdade de
Engenharia Mecânica da UFMG. Quando na área da economia, se empenhou em
alguns estudos pessoais interessantes, mas que não chegou a desenrolar e
pôr em prática. Contudo, ambos âmbitos científicos continuam lhe atraindo,
por sua personalidade multidisciplinar. Agora, no Direito, encontra um
mundo de imensa possibilidade de exploração. A Ciência do Direito e tudo
que a envolve, têm sintonia enorme com a personalidade de Alan.
Letras, é hoje uma das áreas que mais lhe interessam.

1
Fundação Mineira de Educação e Cultura. Mais adiante as siglas são da
Fundação Educacional Lucas Machado, e da Pontifícia Universidade Católica.
13
Sua primeira experiência mais intensa em escrita foi aos 17 anos.
Daí em frente, a intensidade foi aumentando.
Em seus escritos pessoais, há ideias em todos os estágios de
desenvolvimento, e Lucas procura trabalhá-las, podendo eventualmente dar
luz a mais produções literárias ou científicas que sirvam ao gosto de quem
queira lê-lo.
Lucas adora filosofia, é cheio de suas teorias, e está sempre
aberto para novas visões, se interessando por todas as religiões,
orientações filosóficas, políticas, sexuais, etc. Enfim, Lucas tem uma
cabeça aberta e sabe ver o triste e o belo em tudo, o belo do triste e
triste no belo, a relatividade da felicidade e de tudo que há neste
mundo...

Contatos:
E-mail: lucasalanpinto@gmail.com
* * *

‚O poeta não é uma excrescência ornamental da sociedade. Ele é uma


necessidade orgânica da sociedade.‛;
‚Não discuto com o destino,
O que pintar eu assino.‛

Paulo Leminski

Depoimento-poema:
Kidd menino tem:
Sua barba escritora de poemas.
Na cabeça que tudo pensa.
Preocupada com cada palavra dita e por dizer.
Num dia, Kidd menino, diz tudo bonito que quer.
Diz as coisas que moram debaixo de sua barba escura.
E enfeita um mundo um pouco estranho.
Necessitado de mais presença do menino.

Júlia Félix Azevedo

Minhas influências literárias poéticas:


Adoro Cecília Meireles, Gonçalves Dias, Paulo Leminski, Fernando Pessoa,
José Régio, Augusto dos Anjos, Carlos Drummond de Andrade, Vinicius de
Moraes, W. Shakespeare, Guerra Junqueiro, Diogo Alone, Castro Alves,
Charles Bukowski, Jorge de Lima, Manuel Bandeira, Olavo Bilac, Álvares de
Azevedo, Casimiro de Abreu, Mário Quintana, Cleide Canton, Lorde Byron,
Manuel Du Bocage... Entre outros.

Não quer dizer que eu conheça tudo de cada autor destes, contudo, posso
dizer que muito do que li que levou seus nomes me agradou sobremaneira.

14
‚Não discuto com o destino, o que pintar
eu assino.‛
Na área da literatura, sempre há o dia seguinte da produção. E
nesse dia seguinte, é quando o autor julga a própria obra. E se o autor
fizer esse exercício de julgamento de mês em mês, ele nunca parará de
modificar seus poemas. Na literatura é preciso aceitar que o passado é como
é, e que por mais que modifiquemos a forma de vê-lo, precisamos aceita-lo,
e aprender a gostar da espontaneidade que nele surgiu.
Nós mudamos constantemente. O Lucas de ontem não é igual ao de
hoje, nem o de hoje deve ser igual ao de amanhã. Isso também depende do
conceito de pessoa que se considerará na interpretação. Mas em geral é
isso. Portanto, não se preocupe demais com qualquer coisa dita, mas busque
encontrar o que há de mais valioso nas construções de palavras que ler.
Gosto de pegar poemas antigos meus, e reescrevê-los. E noto como essa forma
de trabalhar pode ser muito mais produtiva. É como se fossem duas pessoas
trabalhando juntas, e essas duas pessoas são você. O você de um ano atrás,
que escreveu primeiro (contando todos os fatores que influenciaram na
escrita), e o você de hoje (que costuma ser mais amadurecido).
Confesso que, como qualquer artista, tenho minhas produções
preferidas. E separei as que estão neste livro em diferentes grupos, que
obedecem a uma seleção que deve fazer mais sentido para mim mesmo. Mas
quanto mais você ler, mais encontrará sentido nelas.
Paulo Leminski dizia que tão ou mais poeta que o escritor, pode ser
o leitor. E é absolutamente verdade. O leitor poeta, torna qualquer poesia
muito maior, e possivelmente até maior que o próprio poeta imaginou.

Grupos de poesias organizados por símbolos:


Aqui há uma grande variedade de poesias, que podem ser divididas de
diversas maneiras. Organizei-as em alguns grupos, que se seguem, com os
respectivos símbolos à frente de cada um deles.
***; as poesias mais antigas‘;
Há as poesias que eu mais gosto de mostrar

as poesias mais recentes¨; as poesias sem tempo°; as poesias em que

predomina a ficção£; as em inglês+; as de um estilo mais modernista^; as

modernistas que eu gosto mais ainda^^;as que são bem tristes de uma época

sombria ¬ ; há algumas muuito antigas, das quais peguei poucas e alguns

trechos ‚; há os poemas que podem, talvez, não ser considerados como

poemas #; e há muitos outros que gosto muito mas não coloquei símbolo
algum para dizer isso ou caracterizar de outro modo. O símbolo é só um guia
ao leitor. Se eu gosto muito de um poema e pus três asteriscos ao lado
dele, não quer dizer que eu goste menos de algum que eu não pus qualquer
símbolo.

Observação: Momentos não é um livro de leitura linear. Você pode ler como
quiser. Abra uma página qualquer, ou procure, através dos símbolos, dos
nomes dos poemas e do índice, o poema que mais lhe interessa ler.

15
Momentos

16
Ânimo dobre *** ¨
Faces múltiplas que se apresentam
Em minha mente a mim mesmo,
Todas sinceras cantam com força,
Todas loucas, cantam a esmo.

Nenhuma escuta, mas todas atentas,


Entende cada uma o que a outra fala;
Na encomiástica e no aviltamento,
Dialética estranha, mas justa, se trava.

E eu, em meio a esse reboliço


Procuro a minha humilde posição.
Procuro ser um tanto imparcial, e a todas,
Digo também ‚sim‛, mas também ‚não‛.

-----§-----

Acertar o erro *** °


Cada acerto vosso é um erro.
Fazeis de tudo para acertardes.
Tentais com tanta força e atenção
Lançar vossa flecha pelos ares.

Mirais ao ponto mais exato


De uma abelha a agulha afiada
Visando acertar o mal do mundo
Que fere a todos, e à abelha mata

E nesse intento de acertar o veneno da agrura


Aventurais-vos em complicados labirintos
Em movimentos precisamente estudados
Faiscando a luz na noite em negrura

Esforçais-vos qual herói ou heroína


E em luta de uma vida que já vos cansa
Pelo bem e pelo certo afanais
No anelo de ao mundo uma bonança

Com o alvo do acerto farfallando em vossa mira


Acertais bem o erro, para que no acerto feneça
Digo-vos: se cada acerto vosso é um erro
Vós sois um erro dos pés à cabeça.

-----§-----

17
Gosto ***
Gosto de pessoas erradas,
Pois perto delas sinto menos errado.
Gosto de pessoas certas,
Com elas sou mais valorizado.

Gosto do perdedor,
Pois ele me compreenderá.
Gosto de quem ganha,
Pois posso com ele ganhar.

Gosto do canto escuro,


Pois nele me escondo e descanso.
Mas sem as luzes,
Eu não faria qualquer avanço.

Gosto do prazer,
Pois ele me faz feliz.
Mas é a dor mais profunda,
Que forma o mais justo juiz.

Gosto da alegria,
Pois ela me faz sorridente.
Mas é a sábia tristeza,
Que ensina a ser complacente.

O orgulho é muito importante,


Pois fortalece e incha a pessoa.
Mas é a humildade sincera,
Que faz do forte uma alma boa.

Apraz-me o tempo moroso,


Quando o momento é de prazer.
Mas quando o momento é da dor,
Quero que o tempo a faça morrer.

Enquanto tranqüila em paz,


A vida é um tanto bela.
Mas se o destino é falaz,
A vida é estar numa cela.

O amor é sempre bonito,


Mesmo manchado em vermelho.
Desde que na alma do que ama,
Coração e consciência façam parelho.

18
É triste o penar,
Do escravo a infindável labuta.
Que chora esperando o herói,
Que mudará enfim sua luta.

O escravo que resolve um dia,


Escrever o que acha bonito,
Mesmo nunca tendo estudado,
Tem a verve de um vate erudito.

-----§-----

A Felicidade ***
A felicidade talvez esteja
Bem no fundo do mar
Num baú bem trancado
De um navio naufragado
Que os peixes estão a guardar

Digam-me, oh peixinhos
Onde poderei encontrar
Este navio e seus tesouros
Mais valiosos que ouros
Para eu me felicitar?

A felicidade pode estar


No meio de uma floresta
E um grupo de bichos a esconde
E na mata a revelam, onde
Cantam hinos, fazem festa

Contem-me, oh bichinhos
Que rincão encerra tal valor
Que por ele eu vou buscar
Pois ele é tudo que quero encontrar
Esteja onde estiver ou vá onde ele for

Mas talvez ela esteja


Numa estrela ou planeta
Que podemos ver no céu
Numa via láctea ou de mel
Ou numa cauda de um cometa

Diga-me, oh cometa
Que os céus todos conhece
Em que orbe está guardada
A felicidade tão almejada
Antes que aos céus regresse

19
Talvez a felicidade esteja
Nos olhos de alguém
Que de tão profundos
Guardam as verdades dos mundos
Da Terra, do Céu e além

Diga-me, oh irmão
Se é homem ou mulher
Dos olhos qual é a cor
Se dentro deles mora um amor
Me diga, quem essa pessoa é

Mas talvez a felicidade seja


Algo muito diferente
Um modo de pensar
Um jeito de olhar
Que esteja dentro da gente

Diga-me, oh sábio
Como posso encontrar
Num universo imenso assim
Que vive dentro de mim
A felicidade a brilhar?

Eu gostaria que a felicidade


Fosse algo de comer
Que bastaria se ingerir
Para a alegria fluir
E feliz a gente viver

Ou melhor,
Que fosse uma frase
Que bastasse escutá-la
Ou mesmo pronunciá-la
E a alegria faz-se!

Eu queria que existisse


A eterna felicidade
E todos a tivessem
Enquanto acontecem
A paz e a igualdade

Diga-me que é possível


A felicidade acontecer
Para mim e para todos
Partindo de uns e de outros
E eu acredito em você!

(Será que eu acredito mesmo? ...será?..Tomara.)


-----§-----

20
Poema Feliz £
Os pássaros cantam à luz do alvorecer
Rejubilam-se com o nascimento de mais um dia
Todo dia é cantar, é festa
Todo dia é sublime alegria

O vergel recebe toda família


Que vive junta, a gorjear
Ali existem frutas, goiabeiras
Nas quais ela pode se saciar

E eu em meio à passarada, observo


Em minha simples, mas florida casa
Onde a natureza descansa tranqüila
E gostosamente, o tempo passa

Depois de farta refeição


Feita por mãos que eu amo
Eu me deito e me deleito ao ler a vida
Livro Sem Fim, assim o chamo

Recebo os amigos em casa


Para papos de todo agradáveis
Eles respeitam minha palavra
E sempre foram muito amáveis

Afagos carinhosos recebo e entrego


Faço elogios sinceros aos amigos
Amigos que eu tanto quero perto
Nunca quero nem posso perdê-los

O dia passa envolto em ternura


E como se não bastasse, o cheiro do jasmim
Penetra por toda a casa
Ah, como amo dias assim!

Ao findar do dia contemplo


Fortemente colorido arrebol
Que me traz toda a beleza
Que é possível tirar da luz do sol

Meus dias são de muito prazer


Mas não tanto quanto as minhas noites
É tão lindo ver as constelações de estrelas
De faces sempre risonhas e cintilantes!

Com o belíssimo céu que se estampa


Me inspiro a profundas elucubrações
Vou à escrivaninha e ponho a termo
Perfeitas teorias sobre as almas e os corações

21
E banhado pela luz da lua
Poetizo, cheio de emoções
Canto os céus, os mares, as pessoas
Exponho com graça todas as sensações

E na alacridade costumeira
Escrevo tudo que minha alma diz
E ponho no papel como é minha vida
Fagueira, agradável, muito feliz!

(tanto podemos dizer que este poema é verdadeiro quanto falso, em parte)
-----§-----

Um Sonho *** £
Eu estava em meu quarto e comecei
A minha mente ao alto elevar
E perguntando, com muito fervor
Sobre o que seria o amor
Sobre o que seria o amar

Depois de intensos questionamentos


Eu fui então para a cama, me deitar
Dormi sono gostoso
E com algum gozo
Começo então a sonhar

Como que eu me acordasse ali mesmo


Ao lado de minha própria cama
Eu não sabia se eu estava sonhando
Ou se já estava me acordando
Minha mente se engana

Olho para a janela e vejo


Uma estrela ao longe brilhar
Então o brilho se aumenta
E a bela estrela intenta
Em se aproximar

A luz vem e chega, cada vez maior


E fulge em maravilhas ao meu lado
E toma o formato de uma pessoa
E um forte sino soa
E fico assombrado

Ela, ante meu palor


Começa logo a se apresentar
‚Olá, sou a fada do amor
Venho a supor
Que posso te ajudar‛

22
Meu coração retumbava
Era uma linda mulher
Com jeito sublime de anjo
Na fronte, um arranjo;
Pendem flores, a florescer

Tinha pele negra como a noite ao alto


E qual um sol em meus olhos reluzia
Seu corpo airoso, de forma bela
Revelava nobre donzela
Que, castamente, me atraía

Sua candidez se expressava


Já no seu modo de falar
E eu nunca vira tanta doçura
Qual nesta sublime moldura
D’este seu meigo olhar

Ela então, radiante


Para sair me convidou
‚Vamos lá fora, preciso lhe mostrar
Venha comigo, podemos voar‛
Então, de súbito, a gente voou

Uma sensação incrível


Esta de poder ao céu voar
Víamos tudo lá embaixo, pequenininho
Me senti um alegre passarinho
Livre e solto, no ar

Dali ela pôde me mostrar


A vida de cada homem
‚Veja amigo, como todos vão
Entenda que mesmo diferentes, parecidos são
Nascem, morrem; aparecem, somem‛

‚E nas vivências do homem


Ele gera em si sentimentos e vontades
E com elas, direciona seu agir
Fazendo por sua personalidade fluir
Alegrias, carências, quereres, saudades‛

‚É o amor que faz as pessoas


Se impelirem para o que acham belo;
Pode ser em relação a coisa qualquer
Mas é isso que acontece se houver
Entre duas pessoas um elo‛

23
‚Ela parou numa praça e disse
Veja este casal, por exemplo,
Estão aí se amando,
O coração tão bem festejando
Que até se esqueceram do tempo‛

‚A luz do amor é tão bela


Que faz as pessoas a seguirem
Mesmo em situações adversas
E nesta luz se põem imersas
Tanto quanto conseguirem‛

‚Amar nem sempre é prazer


Pode ser muito sofrimento
Mas a pessoa fica tão anestesiada,
Que ela só pensa na pessoa amada
Em todo e cada momento‛

‚Dizem também que amar


É abraçar a mais vistosa roseira
E ao passo que se sente doces eflúvios
Sente-se a pungência dos acúleos,
Continuando ela a ser amável e faceira‛

‚Cada um faz com sua roseira


Aquilo que sua vontade mandar
Uns tratam, matando ramos daninhos
Outros podam, retirando os espinhos
Outros, sendo espetados, preferem chorar‛

‚Acontece também
De o amor virar ódio.
É quando alguém é ferido
E pelos anjos não é protegido
Durante pesado episódio‛

‚Ódio é o avesso do amor,


E muitas vezes é o amor enrustido;
É o amor que não consegue retorno
Que querendo ser amado, causou transtorno
E pelos fatos foi combalido‛

‚O amor é como o mar.


Pode ser que seja pacífico,
Ou que seja revolto e a onda bata
Como balas de ferro na fragata;
As ondas do amor, estrondo magnífico‛

24
‚Um coração é sempre uma usina
Não para nunca de produzir
É energia e mais energia
Que na tristeza ou n’alegria
Move cada um em seu agir‛

‚Hoje te falei somente o que pude


E você aprendeu um pouco mais sobre o amar
Sou uma simples amiga
Que d’alma frases arriga
Para tentar te ajudar‛

‚Mas sei que você tem


Ainda muito a perguntar
Mas viva e observe a vida
Que, curta ou cumprida,
Vai muito ainda te ensinar‛

‚Só te deixo um firme conselho


Um breve e conhecido ditame
Por mais que a vida seja contra
E amor grande como o seu você não encontre...
Ame muito! Ame sempre! Ame! Ame!‛

Então, de súbito, acordei


Sabendo aquilo que eu quis
Sobre o bendito amar
Pronto para exercitar
Uma vida mais feliz

-----§-----

Morte ‘
Ela é quem me trouxe o maior dos meus sofrimentos
E é também quem trará a maior de minhas alegrias
Espero somente o fatídico momento
Para que estejamos novamente juntos e sejam decretadas minhas alforrias

Estaremos juntos, seja na escuridão do nada


Ou seja no clarão dos céus
Seja na beleza da alvorada
Ou seja na turveza dos escarcéus

E minha tristeza findará


E tudo que me atormenta
Terá destino justo
Isso muito me alenta

Mas o que acontecerá de verdade pouco se sabe


Os meus destinos e os seus, quem pôde lobrigar?
25
O que importa é sermos felizes,
E eu amar você, e você me amar.

-----§-----

O Olho
Olho que olha,
Olho que chora
Olho que vê
Olho que namora

Olho que sente


Olho que faz
Olho que olha
Também para traz

Passado e presente,
Também o futuro
Dentro do olho
Se vê quase tudo

Dentro dele
Se vê um amar
Também se vê
Esperança, sonhar

Vê-se ali
Muita verdade
Que não foi contada
Sem que se tivesse amizade

Olhando pro olho


Se pode encontrar
O sentimento antes mesmo
D’a boca falar

-----§-----

26
Olhos do Mal ‘
Que olhos!
Mas que olhos mais loucos!
Eles me medem e me pesam
E me matam aos poucos

Estes são grandes olhos


São os olhos da maldade
Abertos hoje e sempre
Enxergam a eternidade

Eles são faustosos


Têm grande poder
Eles não abrem exceções
Estão com todo e cada ser

Eles estão sempre atentos


E promovem sempre a dor
Para onde eles miram
Se destrói a vida, se destrói o amor

Eles usam de violência


Usam da pior crueldade
É tortura, sangue, humilhação
Mentiras, desrespeito, falsidade

O ser que estes olhos vêem


Aos poucos e dolorosamente vai minguando
E sua alma se entristece quase sem fim
E sem forças, vai cedendo, se acabando

Estes olhos se escondem


Nos olhos de um qualquer
Pode estar no mais bondoso homem
Pode estar na mais meiga mulher

Longe, no infinito
Eles são inalcançáveis
Só eles alcançam a gente
Somos nós os maltratáveis

Os olhos queimam em ódio


Com malignas e fortes brasas
E para seu ódio a nós chegar
Deus concedeu-lhes asas

Não temos qualquer escolha


É sofrer ou então sofrer
A triste desventura
De sob estes olhos viver
27
-----§-----

Triste esperança ***


O amor fala
[Palavras silenciosas]
Que só quem ama escuta
A frase, que, absoluta
É melodia e prosa

É um amor maior
[Ele olha para o Alto]
E vive dentro do peito,
Errante e escorreito
[Como mendigo no asfalto]

Na vida que vive,


Ainda que bem quisto,
Por detrás de minhas costelas
Se sente em uma cela
[Ergástulo sinistro]

Vira, e ainda vê
De Deus o feitio,
A epítome da beleza
A mostrar sua lhaneza
[Quebrantada pelo frio]

Olhando para frente,


Ainda sente o passado
[Ele o quer e o namora]
Ele adora. Muito embora,
Corre azafamado

Esperando e sonhando
[Ao provar flores amargosas]
Quando a vida ao chão se eiva
Ele dá à sua mente a seiva
De realidades esplendorosas

Guarda um trevo
[Verde cardiopétalo]
Que te dá sorte e força
Ama a Deus e ama a moça
E vai com o mundo [é seu bucéfalo]

E triste, vê os montes
Vê o rio que corta as alterosas
Como corta meu coração
A sua alta canção
[Que alimentam terras viçosas]
28
-----§-----

É preciso
É preciso manter a alma serena
Mesmo quando o céu se enche de nuvens
E não mostrar ao mundo somente revolta
Porque existem coisas boas, incríveis

É preciso permanecer gentil


Mesmo com o seu pior algoz
E mostrar para as pessoas um sorriso
De quem conhece do amor a voz

É preciso ao sentir o vento soprar


Ver que podemos ser ainda felizes
E pegar um pincel e tinta variada
E pintar a vida em diversos matizes

Saber fazer silêncio a exemplo


Das estrelas que caladas
Fazem brilhar intensas luzes
Que pelos poetas são amadas

Mas saber falar também é importante


Devemos falar aquilo que nos importa
Porque quem não fala o que o coração grita
A pressão a alma não suporta

É preciso saber também dar fim


A toda e qualquer coisa que acabou
Como o passarinho que não precisa mais voar
Pois toda uma vida ele já voou

E é preciso, mais ainda, continuar


E passar a vida como um cantor
As alegrias infindas de um cantar
Eternizando o verdadeiro amor

-----§-----

29
Fazer poesia ‚
I
Fazer poesia é assim
A gente fala o que sente
Mas isso depende demais
De outros fatores quais
A lua que nasce e o sol poente
II
Oh, poesia, arte,
Expressão d’alma,
Mostra o que há dentro
E que o coração fala

Explode em forças,
Presas pela conveniência,
Que não deixa sair
A verdade em florescência.

Adianta falar?
Adianta acontecer?
Adianta tentar?
Adianta viver?
III
Mas eu ainda vou falar
Aquilo que meu coração grita.
Mas não tudo, não posso;
Somente o que se me permita.

Mas eu quero gritar


Ela me ama! Ela me ama!
E no meu coração de novo
Sinto aquela bela chama

Guardo a verdade
Para momento propício
Vou contar para todos
Meu amor, desde o início

-----§-----

Triste
Quando
A noite chega e tudo se esfria
Fico querendo estar à luz do dia
O sol brilhando em todo seu calor
Quando
A solidão me faz ficar aqui calado
Fico querendo estar de novo ao seu lado
Sentindo a luz de todo seu amor
30
Mas
Tanto a noite quanto a solidão
Que juntos estão a castigar meu coração
Me fazem triste por onde eu for
Tudo
Que está à minha volta parece esquecido
O mundo já não é mais colorido
E tudo aqui só sabe causar dor

Cadê você, oh meu amor?


Cadê o sol e todo seu calor?
Tudo está cinza, onde está a cor?
Já é primavera, mas e o beija-flor?

-----§-----

Escrita ‘
A suave volúpia da escrita
É meu tão único prazer
Entregar algo de mim para os outros
Para que eles possam me ler

Lembro de tristezas e glórias


Vivências que jazem em minha mente
O que posso fazer é escrever
E escrevo tão somente

Escrevendo talvez eu seja ouvido


E minha dor talvez fique menor
E creio que eu possa engrandecer
Deste modo meu casto amor

E escrevendo esqueço-me da dor


E lembro e relembro o meu prazer
Escreverei sobre o melhor de minha vida
E mostrarei então para você

Infelizmente, esquecerei os males


Deixá-los-ei de lado
Pois falar deles, sinceramente
Me causa tremendo enfado

Falarei somente das belezas


Falarei somente do amor
Daquilo de que quando eu falo
Causa-me benéfico e suave torpor

-----§-----

31
Teatro
Fazes-me caras e bocas
Mostras-me teu talento
Estampas-me fácies louca
De julgamentos eu te isento

Vida, oh palco dos teatros mais belos e mais vis


Comporta amores infindos e traições sutis

No fim tudo é amor


No fim tudo é dor
Seja como for
Exala teu olor
Para que todos sintam teu calor
Pois se nos bastidores és minha, no palco és do povo e seu furor

-----§-----

Danças ‘
Danças,
Sobre o palco
Sobre o meu corpo
Em minha mente

Fazes movimentos
Abruptos e suaves
Levas-me contigo
Pois contigo meu coração sente

Emocionas-me
Tu fazes-me amar
Tu fazes-me cantar
Por mais que ficar calado eu tente

Tua dança me hipnotiza


Sou como a cobra
Tu és a flauta
Carreias minh’alma em ritmo fremente

Tu me chocas
E me acaricias
E para mim brilhas
Queimando ao céu como estrela cadente

Somos criminosos
Somos traidores
Sou inocente
Tu és inocente

32
Meus atos
E os teus
Se assemelham,
mas nosso amor, é permanente

-----§-----

Fragilidade **
Sou frágil, sou fraco
Sou ninguém
Sou criança
Vejo além

Tenho visão
Mas não tenho voz
Sinto o cheiro e o gosto
Mas não posso comer

Se tu me afagas
Feito mulher, ou feito pai
Digo logo, sem pensar
‚venha cá, amo você‛

Se alguém me empurra
Derramo lágrimas
Não tenho forças
Mas quero ter

Vivo inibido
Quero me expressar
Faço poemas
É o que posso fazer

Dize-me palavras
Doces e sinceras
E agradas meu coração
Para um melhor viver

Mas se disseres palavras


Torpes e malévolas
Farás murchar
Todo meu ser

Sou fraco
Sou pequeno
Por quê?
Por quê?

-----§-----

33
Preenchendo o vazio ‘
Precisamos construir para preencher o vazio de nossos corações
Precisamos estudar, trabalhar, ler, poetizar
E nosso sonho é estar de coração afinado às nossas canções
Até que delas e de tudo a gente passe a cansar

Cantamos e falamos sem saber bem o que queremos


Quem dita o que a gente quer são outras pessoas
A gente é que acha que tem vontade própria, e vivemos
A fazer o que achamos que são coisas boas

A tentar nos completar, nos encaixar em diversos padrões


Ter carro, casa, cachorro, mulher
Pra quê isso? São sempre as mesmas emoções
A vida será somente isso? Há quem diga que é

As nossas vidas vão mudando ao sabor do vento


Às vezes revôlto, às vezes calmo, às vezes almo
Segurar as minhas roupas que estavam no varal, eu tento
Enquanto mais um louco ou sábio me lê um salmo

Deixo todos os dias minhas preces em barquinhos de papel


No rio dos pensamentos, que vive em cheia
Que nos traz respostas só de vez em quando, direto do céu
E por vezes tento uma pepita de ouro no rio com minha bateia

É tudo vazio e sem valor quando se está como estou


Me dá um presente, abro um sorriso
Mas o que valem sempre mais são as palavras que você falou
Se confia em mim e em tudo que eu digo

Palavras são como caixinhas que carregam algum valor


Pode ser brita, pode ser ouro
Depende da sinceridade que você ali pôr
Ela pode ser também de papel ou revestida em couro

Se você não põe as palavras na caixa da sinceridade


Elas correm o risco de voarem com o vento
Vento que desvaloriza, tira a validade
Do que poderia ser dito com algum acento

E a cerimônia e ritual que você faz para entregar a palavra


Sempre mostra o valor do documento
É como um escultor que um trabalho com cuidado lavra
Que se demora nos detalhes, valorizando o ornamento

É preciso valorizar a beleza e também o prazer


Mas e nós, feios e desconcertados?
O que é que nós vamos fazer?
Somos esquecidos e à vala jogados

34
Que mundo esquisito em que não existe igualdade
Deus ainda não explicou nada disso pra gente
Este mundo é feito de uma complexidade
Que ninguém explica e ninguém entende

Seria justo um ser belo e rico e cheio de dons


Enquanto outros são feios, pobres, desajeitados?
Uns têm soberba voz, cantam majestosamente, são bons
Já nós mal conseguimos falar, somos renegados

Não fico em lamentações simplesmente por dó de mim


Olho é para o mundo e não sei mais se existe justiça
Não sei por que Deus inventou um mundo tão triste assim
Tenho toda certeza de que não foi por preguiça

Podemos pensar diferente deste modo que estou pensando


Podemos achar que as desigualdades são tempero para o mundo
Senão nada teria graça e viveríamos como robôs, executando
Tarefas que Deus nos legaria de segundo a segundo

É porque somos diferentes que existe o feio e belo


Que passamos a ter olhares diferentes para coisas desiguais
É por isso que há os que ao invés de ter casa têm castelo
Mas vou te falar que uma boa casinha eu admiro bem mais

Eu não ligo pra se a comida é cara ou não


Pra mim o que importa é ter o sal pra eu pôr
Gosto de temperos, talvez manjericão
Coentro, noz moscada, e uma pimentinha, pra dar sabor

Ô Brasil sofrido, mas que sabe fazer arte


Faz-se samba, comida boa, capoeira esperta
Faz-se de tudo, também ciência por toda parte
E já vi até quem faz o rock n’ roll e poesia concreta

-----§-----

Eu era assim ‘
Eu costumava me encantar com vida
E ter a alma fagueira
E para tudo que eu defendia
Eu levantava a bandeira

Eu via os fatos com deslumbramento


Acreditava no mais belo
A vida era uma canção
E eu era muito sincero

35
Os sonhos iluminavam minha mente
E me faziam muito alegre
E nos campos, contente
Eu corria como uma lebre

Eu queria ser meigo com todos


Nunca desprezara ninguém
Mas é claro, sim
Já cometi erros, porém

Mas nossa... como eu queria


O bem de cada ser!
Sim, o meu, mas o de todos
Também o de você

Eu entendia e amava a cada um


Tanto os que vivem na opulência dos palácios
Quanto os que habitam as choças
Ou mesmo fazem de morada os destroços

Eu queria igualdade
Que todos pudessem comer bem
E dizia: Você merece tudo que há de bom
Olhando para os olhos de qualquer alguém

Ao sentir o zéfiro das madrugadas


No anelo de uma ventura sem fim
Desejava me unir à Natureza
E me tornar um querubim

Eu tinha inocentes quereres


Desses que todo humano tem
De servir a Deus e ao mundo
De praticar o bem

Eu levantava a fronte
Em questionamentos ao Pai
‚Vai me responder, oh, Magnânimo?
Por favor, diga que vai‛

...Eu mudei, mas pouco

-----§-----

36
Ela
Ela é para mim o meu único motivo de viver
Ela é linda, celeste, almo ser
Pudibunda, esconde os erros
Para que eu não possa ver
E esquece o passado
E diz para mim ‚amo você‚

-----§-----

Ser Bom ‘
É busca incessante por ser bom em alguma coisa
E por mais que eu tente, não consigo direito
A gente quer se mostrar pros outros
Você quer que a pessoa te sinta no peito

A gente quer amizade


Tão eterna quanto boa
Eu quero que me vejam
Como uma boa pessoa

Gosto da solidão
Porque nela ninguém me julga e eu não julgo ninguém
Gosto de viver com amigos
Mas parece que eu vivo sem

É algo estranho dentro de mim


Que não me deixa me aproximar.
Também, será que isso importa?
Será que eu deixo pra lá?

Sinto-me distante
Também acho que nunca estarei perto
Acho que a vida é assim
Somos todos distantes, certo?

Não adianta tentar entrar em mim


Você não conseguirá
Sou uma pedra fria e triste
Que não pode se expressar

O jeito é viver
Por mais algum tempo
Enquanto ainda posso
Até certo momento

37
Duas importantes coisas:
Sou sincero e não minto
Falo a verdade acima de tudo
E também falo o que sinto

-----§-----

É...
O universo é isso
É eu, você, cada um de nós
E vamos vivendo e morrendo
A morte é da vida a foz

Somos iguais, mas somos diferentes


É complicado entender
Lá no fundo, bem no fundo
Temos um mesmo modo de ser

Mas por fora


São tantas diferenças
Tantas diferenças
Que eu nem sei por quê

Se eu soubesse eu não ficaria


A vida inteira me perguntando
Porque eu sou negro e você é branco
Ele não pode andar e eu estou andando

Se existe Deus, eu não sei


Sei que existe amor
E que quando peço alguém ouve
Seja onde for

Mas também sinto que existe muita prece esquecida


Muito sofrimento deixado pra lá
Pergunto: pra quê tudo isso?
Porque terra, céu e mar?

-----§-----

38
O Universo
O Universo É MUITO MAIS
É MUITO MAIS além
É a dança maluca que vemos
Entre o Mal e o Bem

O Mal ACABA COMIGO


ACABA COMIGO pra sempre
O Bem me sorri
Ao ver a lua crescente

O Universo TALVEZ SEJA


TALVEZ SEJA complicado
Mas porque não ser simples,
Para não ser errado?

Seja ele BELO OU FEIO


BELO OU FEIO é qualquer um
Depende do ponto de vista
Melhor o de quem bebe rum

Quem criou O UNIVERSO


O UNIVERSO meu e teu
De algo muito importante
Fazer se esqueceu

Esqueceu-se DE ENTREGAR
DE ENTREGAR aos corações
Um simples manual
Um manual de instruções

-----§-----

Nós dois ‘
Sou eu quem te aprisiona
Sou eu quem te liberta
Teu auspicioso dia
É quando a mim tua flecha acerta

Fui eu quem te produziu


És tu quem me produz
Fazes tua parte, esperando
Que ninguém te ponha na cruz

És tu quem me dá felicidade
És tu quem me dá prazer
Porém és também o motor
Do maior ódio que meu coração sabe fazer

39
Por ti, odeio o mundo
Por ti, amo a todos
Por ti, me destruo
Por ti, faço-me novo

Por mim, fazes o bem


Por mim, fazes o mal
A mim, fazes a quem?
A ti, faço a qual?

Sou homem, e tu, mulher


Sou mulher, e tu, homem
Sou mulher, e tu, mulher
Sou homem, e tu, homem

-----§-----

Tocar o Barco ‘
O amor por ti governa minha mente e vida
Nada que eu faça é liberto a isso
Gritei aos céus que te amaria eternamente
Firmei um pacto, meu compromisso

Os dias passam porém


Amargamente longe de ti
É doce saber que me amas
Mas eu gostaria de todos os dias te ouvir

Quero-te muito
Todos os dias
Vivo em penas
De indizíveis agonias

Um dia isso vai findar


Isso eu sei
Mas eu não posso o tempo adiantar
Espero tudo como já muito esperei

Eu sei minha querida


Não há muito que fazer
Fique aí me esperando
Não dá para correr

Você já fez muito, ou tudo


E foi muito lindo, lindo
Mas o que podemos fazer agora
É tocar o barco, indo, indo

-----§-----

40
Coração vazio
Quando as cachoeiras de teus olhos enchem a represa de minha melancolia
As águas fazem tudo que o vento há muito tempo já fazia
Preenchendo o espaço vago que há em minha vida tão vazia
E quando abro as torneiras de minha alma
Sai o que há dentro que é deixado em minha pia
Sai revolta, tristeza, felicidade e calma
Tudo de novo pra fora, virando poesia

Quero as rosas do teu campo florido em meu buquê


Quero em meus olhos a sua imagem, pr’eu te ver
E que tu fiques gravada em minha mente para eu não esquecer

Porque se a chuva cai o sol a faz subir novamente


Daí a pouco olha ela caindo para alegrar a gente
Mordes a maçã que é o fruto recomendado pela serpente
E faz do teu corpo motivo de uma pessoa contente

Porque
Essa vida é assim, pra se viver
Porque
Um dia todo mundo tem que morrer
Porque
Nesta vida o que faço é te querer

-----§-----

Sacie-me
Abra o seu coração
Você não tem o direito de me deixar sozinho
Você é minha única esperança
O meu único caminho

Por favor
Sacie minha vontade inocente
Eu sinto tudo isso
Será que você sente?

Será que você não tem coração


Para me contrariar deste jeito?
Fico imaginando
Se algo bate no seu peito.

-----§-----

41
Só Eu Sei ‘
Antes, tudo que era bonito me fazia vibrar
E eu escrevia para você cheio de emoção
Cada palavra tinha grande valor
Tinha a importância de uma oblação

Eu era melancólico
E apaixonado
Tudo que eu te escrevia
Parecia ter passado por um tornado

Parecia que eu sabia


Do destino que nos guardava
Daquilo que nos cabia
Do sinistro que nos esperava

Eu queria ser perfeito


Para então te servir
Sem esta condição
Eu temia nossa relação ruir

Eu era perfeccionista
Porque se tratava de você
Queria a todo momento
Te ver, te ter

Mas eu chorava por dentro


Porque eu não era lá
Aquilo tudo que eu ficava
Todo dia a imaginar

Mas você dizia coisas tão lindas


Era como se me injetasse alegria
E eu saia quase voando
Como ditosa cotovia

E quando eu ficava a ver


Você, maravilhosa, dançar
Eu queria ser tudo seu
Suas roupas, seu suor, seu ar

Como meu coração já sofreu por ti


Sei que você sabe, e sabe,
Que continuarei a te amar
Um amor no peito não cabe

Você viu e vê claramente


Quem te ama, em verdade
E passou por cima de tudo
42
Sofreu horrores, muita maldade

E infelizmente...
Infelizmente...
Só eu sei o quanto você me ama
Está tudo em minha mente.

-----§-----

É Tudo Cinzas
O que é o corpo e o prazer?
O que é o tempo, que passa?
O que são as construções de todo ser?
O que é a jovialidade e a graça?

Vivemos a tentar agradar alguém e a nós mesmos


Mas que importa a nossa opinião ou a de outro qualquer?

Que são tempo e espaço?


Que é a vida e a morte?
Que são as coisas que eu faço?
Que são os fatos da sorte?

É tudo cinzas
É tudo destroços
É tudo passado
Só restam os ossos

Mas e tu, minha querida?


Porque mesmo assim permaneces?
Porque nosso amor continua?
Porque tu ouves minhas preces?

Imaginei que tudo acabaria junto com a morte


Mas não. Eis que tu estás aí
Sei que és bem forte
E consolas quem está aqui

Acredito que toda crença seja verdadeira


Tu estás viva e tens vontade e amas
Mas também estás morta, como quando
Vi-te ao leito em tuas últimas forças humanas

É tudo cinzas
É tudo destroços
É tudo passado

43
Só sei que quero
Algum dia
Ter-te ao meu lado

(Você existe!!!!!!)
(E me ama!!!)

-----§-----

Here I Am ‘
Here I am, thinking about this life
How long will be this pain?
When this suffering will stop?
When I will see you again?

I saw you in my dreams


You changed my sad way
When you hug me
I think I’ll fly with you, away

Please say to me
My suffering will end
And again and again
My messages for you I’ll send

I love you, yes, so much


Thanks for loving me too
Because you are everything to me
Without you, I’ll adore who?

-----§-----

Verborragia #
-Então, qual é o quadro doutor?
-Ahh... É realmente grave.
-Não diga que é...?
-Sim... Verborragia aguda associada à verbofilia. Não estamos conseguindo
estancar.
-Eu já suspeitava. – Cai em prantos.
-Sinto muito. Fizemos tudo ao nosso alcance.

-----§-----

44
Alma Apagada ‚
Meu irmão
Sei que é contra o meu amor
Sei que pensa que vou suicidar
Sei que acha que isto me faz mal
E que vagaroso, vou definhar

Mas não,
Se estou destruído
De alma apagada
Você sabe bem
Não tenho culpa de nada

Eu simplesmente amei
E por isso ele me arrasou
Acabou com minha vida
E com tudo que sou

Saiba que a única coisa


Que me impede de minha vida findar
É este lindo amor
Que posso cultivar

E este amor é verdadeiro


Sei que é difícil acreditar
Mas um dia você vai entender
Quando eu puder lhe contar

-----§-----

Preciso De Um Sábio
Não sei que não sabe
Não sabe de não saber
Ninguém sabe, não sabemos
Então o que vamos fazer?

A insapiência do homem sábio


É de se notar, é de se ver
Quem sabe, mas sabe mesmo
Talvez seja somente você

Você, que diz que sabe


Que imperfeito, está a viver
Diga-me logo o que tem
Nesta cabeça, para eu ver
45
Quero logo, algo agora
Preciso de um sábio, pra me entender
Pegar minha vida, e me explicar
Tintim por tintim, porquê por porquê.

-----§-----

Temendo ‚
Um coração assustado
Gostaria de ver no mundo
Mais uma vítima do medo
Gostaria, lá no fundo

Não,
Não quereria mais um sofrer
Mas ter um amigo
Bem que quereria, sim, ter

E gostaria
De com ele confabular
E ver que existe alguém igual
Pro seu drama compartilhar

Porque quem nunca sentiu medo


Não entende esta gente
Não entende seu segredo
Seu motivo cogente

Quem nunca chorou


Nunca entenderá
Quem já não derrama mais lágrimas
Já cansado de chorar

-----§-----

Os Ventos
No céu os ventos correm
E seus corpos roçam no meio
Das cidades, das pessoas
Tomando seu cheiro

Eu o vento canto
Enquanto ele dança com o ar
Com sua força me encanto
E continuo a ele cantar

A luz da lua
Nos diz que o sol continua
Vivo e forte
Sem medo da morte
46
Esse poema não diz nada
A uma pessoa interessada
Em algo de mim, ver

Eu canto a estrada
Uma poesia já cantada
Por outros e por você

-----§-----

O Tempo Passa *
I
O tempo vai passando
E eu aqui pensado
Fazendo nada mais
Que um novo poeta faz

Eu vejo o tempo passar


E gostaria de ver ele parar
Simplesmente por não querer
Mais a dor nem o prazer
II
Eu quero que o vento me leve
Qual folha despendida
Que, leve, vai com o vento
Para mata mais garrida

E porventura cair na água


E ser levado pelo rio
Até o mar e conhecer
E talvez viajar num navio

Eu vou me deixar levar


E ver onde as ondas vão me deixar
E se for numa praia bonita
Ali mesmo vou ficar

Mas posso até lá não agüentar


E vou eu mesmo meu rumo caçar
E deixo de lado o vento e o mar
Para o destino encontrar

-----§-----

Meu Violão, Minha Vida ‚ ¬


Ali está meu violão, parado
Como minha vida
Às vezes pego um pouco para tocar
Depois a deixo esquecida
47
Eu vou deixando ela ir
Porque ela parece querer existir
Enquanto eu não quero,
Mas deixo ela fluir

Até quando isso vai durar?


Eu não sei
Não estou com vontade de tocar
Como um dia eu já toquei

As cordas estão enferrujadas


Também está o meu corpo
Que nada mais me causa
Que um leve desconforto

No meu jazz falta o sax


E o baterista leva sozinho
Na platéia não se houve ninguém
Somente um fraco burburinho

E neste ritmo seco


Eu me solto
Se alguém atrapalha
Eu me revolto

Só quero a paz
Me deixa cantar
E devagarinho
A vida levar

Não vejo a hora


De o violão eu encostar
E essa coisa sem sentido
Se acabar ou ao menos mudar

-----§-----

A Paz
O sol um dia morrerá
E junto com ele toda a vida na Terra
E o homem, que pelos seus caminhos erra
Um grande muro encontrará

Então o que se não faz


Hoje no nosso planeta
Ocorrerá de forma concreta
Que é a verdadeira paz

-----§-----

48
Meu Herói £ ‘ **
Nesta vida atual
O homem constrói, faz
Obras grandiosas
Sempre, cada vez mais

São belos castelos


Arranha-céus, navios no mar
A civilização cresce
Sempre, sem parar

Mas enquanto isso


Enquanto as megalópoles fervem
Em algum lugar estou
Sem que os grandes observem

Moro na África
Na América Central
Ou talvez no Brasil
Em região rural

Neste lugar incógnito


Vivo um pouco esquecido
Pelas pessoas de um mundo louco
Mundo em que tenho vivido

E na pobreza em que vivo


Neste meu lugar
A única coisa que posso fazer
É, graças a Deus, sonhar!

E deste modo
Dei pra pensar
Que o mundo precisa de um herói
Para nos ajudar

E então comecei
A imaginar
Um perfeito herói
Como ele será?

Não é como os heróis


Que ostenta a mente infantil
A forma física pouco lhe importa
Não é velho nem moço, mas tem espírito juvenil

Ele pode vir dos céus


Ou de qualquer lugar
De qualquer terra
Ou de qualquer mar
49
Ele um dia
Vai chegar
E neste dia
Todos vão festejar!

Imagino-o andando pela multidão


Andaria dando mãos ao povo
Todos sorririam para ele
E ele sorriria de novo

Ele entoaria
Sublime canção
E todos tirariam a voz
De dentro do coração

Ouviria a todos
E a todos daria resposta
E em via de qualquer problema
Estaria ali, tomando nota

O requisitariam
Nos júris, nos tribunais
E ele ali mostraria
Que todos somos iguais

Sua espada
Somente a palavra seria
Que como que por magia
Cada um acataria

Seus argumentos e seu agir


Seriam muito bem fundamentados
Sua palavra seria a de todos
Pois em todos seria embasado

Aos fracos e aos perdidos


Ele salvaria
Mostraria aos de alma enclausurada
Como entender a luz do dia

Ele amaria a lei,


Que sairia de sua boca
Para ser executada
Com cuidado e força

Por sua natureza poderia ver-nos de cima


Mas desceria de seu brilhoso pedestal
Para nos olhar de olhos a olhos
Olhar de igual para igual

50
Meu herói
Oh, como te quero
Qual ventura não seria
A que em ti espero?

Aparecei, oh homem
Ou ser doutra natureza
Salvai-nos do mal
E de toda tristeza!

De vossa primorosa mente


Fazei fluir toda sabedoria
Para que, sedentos, experimentemos
Da verdade que já se prometia

Basta-vos um simples gesto


E as trevas com vossa luz abris
E transformais tristes desertos
Em jardins primaveris

Dai-nos vossa glória


Mostrai o vosso poder
Erradicai a miséria
Que há em cada ser!

Oh, almo herói


Sois tudo que eu quis
Plangente vos pergunto
Será que existis?

-----§-----

Estou Tão Cansado ‚ ¬


Eu estou tão cansado
Eu já não me movo como antigamente
Quando eu fazia tudo com muita energia
E era bem mais contente

Hoje sou simplesmente um velho


Que já está cansado da vida
Já vivi e vi demais, não quero
Mais saber no que vai dar esta corrida

Quero descansar somente


Quero descansar somente
Quero descansar somente

Quero a morte.

(este poema é bem antigo)


-----§-----
51
Da Morte Uma Flecha ‘
Da morte, um dia, certeira
Uma flecha o meu corpo encontrará
E então algo de importante
Para mim acontecerá

A esperança gloriosa
É de minha amada de novo ver
E então viverei muuuuito
Muito mais feliz eu vou viver

Vou sair deste corpo fraco


Que não me dá muito prazer
E vou conhecer coisas novas
Coisas novas vou fazer

Tudo sobre lá
É um grande mistério
Não posso muita coisa afirmar
Só afirmo se for sério

Mas esperança
Não há problema em ter
Tenho muita esperança
De eu me tornar um melhor ser

Espero muito
Espero demais na morte
Mas não deixa de em parte ser
Um belo jogo de sorte

Não pense que isto é loucura


Loucura é viver num mundo
Que ao lado do quase-perfeito
Mora o triste, deslocado e imundo.

-----§-----

Todas As Palavras
Eu queria saber todas as palavras do mundo
Para que quando eu me expressasse
Eu conseguisse dizer da melhor forma
Passar em palavras tudo aquilo que informa
Toda cor, sombra e brilho que meu coração pintasse

-----§-----

52
Saber sentir *
Saber sentir a alegria e a tristeza que estão no mundo
Saber ver a mesma beleza que está no limpo e no imundo

Olhar para os céus e ver uma nova esperança


Olhar para a Terra e saber amar uma criança

Receber com prazer de alguém uma flor


E entender que pode ser o símbolo de um grande amor

Enquanto olhamos, pegamos, ouvimos, cheiramos, captamos, sentimos


A vida acontece e entre uns e outros nos repelimos e atraímos

E aí vêm os valores que damos para pessoas e objetos


Que podem ser maus ou bons, errados ou certos

-----§-----

Represando Sentimentos
A lua, mansa, observa a Terra
Como mãe, está próxima, sempre a velar
E o sol, como pai, traz a energia
A tudo dá força e tudo faz iluminar

A terra é onde a vida do homem acontece


O ar supre do oxigênio e a água cai, a molhar
Então todos bebem de sua força
E o resto é todo lavado para o mar

Os peixinhos são como nós homens


Vivem em função do alimento
Mas não sei se eles podem, como nós
Adorar o mar e adorar o vento

Nós somos como aves, de várias espécies


Uns andam em bando, outros vivem sozinhos
Uns saem voando a procurar outros ares
Outros ficam em seu canto e não largam dos ninhos

O homem aprendeu com as aves


Que é preciso viver a cantar
E uns que são mais audaciosos
Aprenderam também a dançar

A dança e o canto são modos de se expressar


Quem não se expressa acaba ficando
Como um rio que não chega até o mar
E represa seus sentimentos, a mente alagando

53
-----§-----

O Mundo é Sombrio **
Não sou só eu quem acha
A vida na Terra sombria
Achavam isso também
Cecília Meireles e Gonçalves Dias

Cecília recomendava ao Pássaro Azul


Não descer aos ares humanos
Pois são muito pesados
Todos os dias, e todos os anos

Gonçalves Dias dizia:


O homem nasce e vive um pouco
E sofre até morrer.
Este mundo é muito louco

Eu não penso de modo diferente


A vida é muito mais desprazer do que prazer
Algumas horas, alguns dias de alegria
O resto de todo o tempo é sofrer, sofrer

Os homens têm pouca culpa de serem como são


A sociedade já traz valores e problemas
Fora as desditas que atribuímos a Deus
Não podemos mudar muita coisa, são nossos tristes sistemas

Deus que nos ajude a nos melhorar


Pois se hoje já vivemos em contenda
Quero ver quando a água e o petróleo acabarem
Vamos trilhar uma triste senda

-----§-----

De Onde Vem A Inspiração?


De onde vem a inspiração?
Será que é do coração?
Mas o coração tira de onde
O sentimento, qual sua fonte?
No espírito? Na alma? No além?
Tira de si? Ou de outro alguém?
Já disseram que vem das estrelas;
Que é por isso que devemos compreendê-las,
Que o falerno sagrado que derrama
A escuridão da noite e do dia a chama,
Traz os sonhos das almas vivas e mortas
E nossas mentes são como casas cheias de portas.
Ali entra e sai informação por todos os lados;
Filetes de luz, dos mais fortes e dos delgados;
54
Filetes de trevas, porque não?
Tremo ao pensar no Mal e sua pesada mão.
(O mal e o bem são relativos
Depende da cultura e seus motivos)
Teria o homem culpa do que passa dentro de si?
Ele é só produto ou pode produzir?
Se Deus existe, porque Ele não impõe o bem?
Talvez já esteja impondo; as pessoas é que não vêem?
Mas se Ele não existe, quem é o autor da Criação?
De quem são as constelações do céu na imensidão?

Acredito que tudo seja possível,


Do mais simples ao mais incrível.
A cabeça teria limite por acaso?
Ela é a flor ou ela é o vaso?
Sinto em mim meu limite.
Isso me deixa sempre triste.
Mas acredito que num quando,
Limites não existirão, e viveremos brilhando.
A isso falta sentido, limites temos que ter.
Se não, não distinguiríamos o eu do você.
Mas que mal há em sonhar?
Que um dia poderei voar...?
(Mas nem sei mais se quero isso
Eu já pouca coisa cobiço
Quero mais é descansar
E talvez também amar)

Dizem que a nossa mente pode proporcionar


Tudo o que há para se alegrar,
E que precisamos ser donos dela
Para construirmos uma vida bela.
Mas não sei se somos tão donos assim.
Talvez minha mente seja do mundo e o mundo seja de mim?
(loucura e egoísmo pensar deste modo
Mas talvez não esteja errado de todo)

Há quem diga também que a mente


É campo fechado, recanto da gente.
Que com o outro não se tem contato;
Que tudo é ilusão, até mesmo o tato;
Que o outro existe, mas está bem longe;
Que por trás do corpo a alma esconde;
E que união verdadeira é sonho, ideal;
Que nunca será alcançado objetivo tal.
Este modo de pensar pode ser bem triste...

Sei que tudo pode ser verdade,


Mas dizer que tudo é ilusão é muita maldade.
Seria dizer que meu amor é mentira
E que o coração carrega falsa pira.

55
Mas que posso eu dizer em meio a tantas teorias?
Não desprezo nenhuma, pois são filosofias.

-----§-----

Fly to Pluton
I’ll get away
I’ll do the same
As you have done

I’ll fight it out


Without screaming out loud
And I will be gone

To the happy place


To the glorious space
Where the stars shows on

And will have a full smile


That’s what I’ll try, oh
And I call you, come on

Let’s find our happiness


Let’s fly, even wingless
From here out to Pluton

------§------

Esperar ‘
I
Tinha de ser nós dois
Você no Céu e eu na Terra
O beijo, somente nos sonhos
Este foi o tempo de dizer te amo
Agora é tempo de quem espera, espera.

II
Guardo no coração
Belíssimas verdades
Ela me ama, nós nos amamos
Hoje e na eternidade

Ouça, um dia
Vou abrir a boca para dizer
Tudo o que ela já fez
Para seu amor me dizer

É tão difícil guardar


Eu queria tudo gritar
E poder a todos que amo
As belas verdades revelar
56
-----§-----

És Meu Sol ‘
Meu coração é todo teu
Minha eterna amada
Que já um dia morreu
Como minha namorada

Aguardo contando cada minuto


O momento de nosso reencontro
O tempo, vagaroso, é para mim
Terrível, horrendo monstro

Quero tanto tocar tua mão


De pele macia como seda
Quero ouvir as palavras
Que vêm de tua alma leda

Mas agradeço tanto, oh, sim


O que por mim já fizeste
E espero por nosso encontro, fiel
Isso a mim me compete

És linda, e meu único motivo


De na eternidade eu existir
A este meu coração escuro
Tu fazes um sol surgir

-----§-----

Marcelos ^

Marcelo I
Dançar. No chão
Deitados como
Bombom mordido
Esquecido dentro da boca.

A lagartixa já não canta


O céu já não ferve
Mas eu ainda gosto
Eu ainda vou morrer.

Caleidoscópio ambulante
É a minha mente
Essa gente ingente
Que não gosta de chocolate branco.
57
Álcool e cigarros,
Sorrisos e pigarros,
Manifestação amorfa,
E compreensível.
E gostosa.

Cheiro de lixo,
No luxo dos seus olhos vermelhos.
É tão gostoso que
Eu respirei profundo.

Eu quero minha digital na sua pele


Porque mesmo em eclipse
Lua e Sol não se tocam,
Tocam?

Seu toque me queima


Cinzas cor-de-alaranjado
Rosa, verde e roxo,
E as outras cores também.

O azul é bom.

Me abraça e dorme.
Vou dormir, me abraça.
E não faça mais
Nunca mais.

Não...

-----§-----

Marcelo II
Gosto de simples
E de floreações
Por sobre o pegão
E do burro de carga

A enseada
Sob a chuva
E o azedume mordido
Daquela curva sinuosa

-----§-----

58
Marcelo III
É aquilo que acontece
Entre correntes, uma e outra
Anéis que se prendem
Sôlta vertigem pelos ares e o céu
Já parece não ter mais cor
Reação em cadeia

Também é alegria.
É tudo.

-----§-----

Flores que Andam *** ¨


Cortando em partes
As pétalas das flores,
Carregam nas costas
Pedaços de dores;

Afanosas, trabalham,
Por rumos rompantes
Passam pela vida,
Como flores andantes;

Pequenas, cada uma


Parece não importar,
Mas um mundo inteiro
De formigas e formigueiro,
Pode logo mudar;

Cortam flores das árvores,


Sem saber do amanhã;
São pessoas empenhadas
Numa luta que parece vã

Com a grandeza das flores,


Beleza inútil para quem tem fome
Matam a sede de inspiração de quem a sorve
E co’o sabor das pétalas, em emoções se comove
Quando antes a garganta a tristeza consome

Mostra o formigueiro,
A face de um povo soturno
Em que a tristeza e a dor são escondidas
Pelo brilho do estrelado véu noturno

-----§-----

59
Fugaz Minuto Eterno ***
Um homem cansado,
Se encontra deitado,
Pensando sobre a vida;
Olhando para o céu,
E ouve recitar o menestrel,
História ainda não lida.

As rimas em seus ouvidos,


Caem como versos caídos,
De um céu que cobre tudo;
Que cobre meu triste olhar,
Cobre céu e cobre mar,
E o coração mudo.

E os corações, sem tê-los,


Tocam teus fulvos cabelos,
Que inspiram-nos uma canção,
Enquanto ouves-me cantando,
Corada, escondes-te, tapando
Teus sorriso sobre a mão.

E o poeta ainda canta,


Pulcro, doce e lene,
O poema, que perene,
Cobre-nos anil manta

E ouvimos, eu e tu,
O poema que canta a flor,
Que és tu, que é um amor,
Que brilha cor-de-azul.

E deita sobre mim a tinta,


Dessa cor que os céus pinta,
E posso ainda provar;
Deita em minha pele nua,
A tempestade da beleza tua,
Que vira um rio ao eu chorar.

Esqueces que hoje podes,


Entoar os cânticos e as odes,
Como pássaro em primavera.
Amanhã, contudo, pensaremos
Naquilo que não fizemos,
O que não foi e o que não era.

Se não queres ouvir meu canto,


Entendas somente meu pranto;
Se eu te quero e ainda quererei,
Choro porque já tive no mundo,
Nem que por um eterno minuto,
O amor que de ti inspirei.
60
-----§-----

Ler-te ** °
Eu não quero te usar, assim
Como quero ser usado por ti.
Quero te usar como uso,
O romance que ontem eu li.

Quero ler-te a mão, a pele e os olhos.


Quero ler-te os lábios também.
Quero ler pra ti o que há muito,
Não leio para quase ninguém.

-----§-----

Sol *
Ahh, que grande Sol!!!
Que amplo e glorioso Sol,
Imponente, majestoso Sol.
Que maravilha, que grandeza...
Que enorme Sol... Mas que eennnnorme... Solidão...

-----§-----

Dor da Saudade *
Por onde anda a dor,
Que sumiu tão de repente?
Tenho medo, oh Senhor,
Da saudade que de mim ela sente...

-----§-----

Pena Hemotintória
Ardo, e corre silente um rio salgado dos meus olhos.
Cardo, e fura o tecido do miocárdio em meu peito.
Fardo, e carrego desde sempre por sobre o tergo,
O petardo, que explode esparzindo minhas vísceras,
E o bardo, canta a mancha vermelha na noite de seu papel,
Que, do meu sangue, palavras de sol e lua, vento e chuva guarda.
Guardo, amálgama ubíqua de sentimentos dos homens por ti,
Adorado, adorada, adorando, ante a alma enlevada.

-----§-----

61
Thomas Hobbes ^^
O homem é o lobo do homem?
Eu diria que o homem é o bobo do homem.
Ou melhor: o homem é o bobo da mulher!
Ou talvez do homem mesmo... Também.

-----§-----

Mendigo *
Se eu não tivesse recebido
Dos amigos e da família
Amor, educação e recursos,
Eu te juro que eu seria

Eu seria um bom mendigo


Melhor que eu, não imagino
Um mendigo de muito valor
Eu seria, com meu jeito mofino.

Mas quem diz que não fui,


Não percebe que fora eu
O maior mendigo do amor,
Que mendiga desde sempre o amor teu.

-----§-----

Éses ^
Tu, tu, tu, tu, e tu
Não me atendem.
Tus são maus.

-----§-----

Amor e Sexo *
Amor e sexo são duas palavras afins
Elas flertam já há muito tempo
E concordo que têm elas muito a ver

Amor e sexo têm ambas quatro letras


As duas podem ser escritas entre quatro paredes
E as duas podem ser entre mim e você

Um pode ser o oposto do outro,


E é dito que os opostos se atraem

62
Mas se opostos se atraem, os iguais se fundem
E se confundem e sentimentos contraem

Contraindo também a doença mais temida


A doença que te tira tudo, te tira a vida,

É o fogo que enlaça sexo e amor num mistifório suicida,


Energia que tem do prazer e da dor o condão
Que provoca mais que câncer, mal homicida
É a doença de ser humano e ter coração.

(Obs: Animais também são humanos e têm coração. Haha)


-----§-----

Arras
As arras da vida,
A garantia que dás;
O pingo no poker;
A pena mordaz.

Pois hás de perder caso não cumpras,


A cláusula primeira de nosso contrato
A cláusula que diz em letras calibrosas
Que se não amares, a morte é um fato.

(obs: me refiro à morte interior, em que a vida não faz sentido. E amar não
é necessariamente ter um parceiro. É, na verdade, ter amor a algo ou
alguém, inclusive a si mesmo. Quem não ama nem a um ideal, ou a sociedade,
ou a uma pedra, prefere a morte, ou é melhor morto. E, claro, pensei em mim
quando escrevi este poema. Se eu não amar nada, estarei mais morto que quem
já tem o corpo a sete palmos do chão)
-----§-----

Uma ordem! ^^
Seu idiota! Não obedeça ordens!!

-----§-----

I know + ^
-D’youknow?
-I no.
-‚Me, no‛... ?
-Neither.

-----§-----

63
Art. 122, CP 1940 ^^
Art. 122. Induzir ou instigar alguém a amar, ou prestar auxílio para que o
faça:
Pena: Sentimento de culpa enquanto persistir a memória do fato.
Parágrafo único. A pena é duplicada:
I – Se o crime é praticado por motivo egoístico;
II – Se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade
de resistência.

<<Além da esfera criminal, ainda pode haver ação na esfera civil.>>

-----§-----

Ele ia ser ^
Dizem que ele ia ser,
Mas quem sabe saber?
Tem ainda quem prefira
Esperar para ver.

-----§-----

Um Momento ^
Amor tecido,
Amortecido pelo tempo.
Se tivera sido amor tecido,
Ter sido amor, foi por um momento.

-----§-----

Grass +
The grass grows green
The green grass grows
Our bodies get older
But not older than our souls

-----§-----

64
O Ideal **
Meu sonho era sonhar o mundo,
Como ele poderia ou deveria ser.
Pensar nas suas regras e como
Elas poderiam ou deveriam reger.

Deveriam fazer, construir,


Estudando de Platão a Nietzsche,
Aquilo que seria o mais ideal,
Para descobrir que o ideal não existe.

Ainda.

-----§-----

Condições do amor *
Para o amor funcionar
Duas condições precisam ser satisfeitas
Eu e você.

-----§-----

Sem palavras *
Me fugiram as palavras
Eu já não sabia o que dizer
Então vasculhei no dicionário
E encontrei a palavra você

-----§-----

O Não ^^
Não: é possível.
O não é possível.
Não é possível...
Não, é possível...?

Eu não diria não.

-----§-----

... ^^
Um ponto final é um fim.
Três deles, dizem ser continuada
A história que com reticências
Caminha e nunca acaba...
65
-----§-----

Um poema chamado amor ^^


Hoje torci o pé.
Nossa, doeu demais...

-----§-----

Vida e Morte ^
Adoro.
Ah, dor.
Oh, dor.
Odor.

Tente imaginar o que ocorreu do início do poema até o final.


Traduzo como vida no início e morte no final.
-----§-----

Ideal Meal + ^^
D’you doubt that we could bring
To this world a new ideal?
If you doubt, come with me
And we will start to cook a meal

-----§-----

Indecisão
Um velho já cansado,
Decidido sobre a vida,
Depara-se com a dúvida,
Sobre a trilha escolhida.

‚Será que Deus quer?


Ele quer o quê?‛
Pensa o velho,
Sobre o fato de ser.

‚Será que serei capaz,


De fazer algo de bom?‛
‚Ou serei só espectador,
Como quem morre sem emitir som?‛

Ao lado do velhinho,
Havia uma bela moça,
Ela agora o fita de longe,
E pra enxergá-la, ele faz força.
66
‚O que será que elas pensam?
O que será que elas querem?
Será que querem um mundo melhor?‛
Respostas tanto constroem quanto ferem.

‚Se ela quer que eu morra,


Morrerei, tomara, por bem.
Se ela quiser que eu viva,
Talvez eu sofra também‛

O que a moça tem por dentro?


Porque ela nada fala?
A nossa alegria-tristeza
Voa como farfalla

Que tristeza é a indecisão!


Quero resolver isso logo.
‚Seu velho, morra de uma vez!‛
Ou então força e amor eu rogo!

O velho, já bem cabisbaixo,


De tanto olhar para o céu,
Pôde sentir um perfume de flor
Sentiu aquele cheiro de mel.

Seria apenas ilusão?


‚O que eu devo fazer?‛
Pensava o velhinho....

Será que deve seguir junto,


Ou seguir sozinho?

O velho, indeciso
Percebe que ama a humanidade
E que se Deus quiser dele algo ligado a isso,
Vai querer também que ele tenha humildade

Humildade para mudar,


Um pouco o pensamento,
E mudar suas trilhas e rumos
A qualquer momento.

‚Mas pense muito, velho,


Pense com cuidado...
Pois você não quer fazer sofrer
A quem ame e tenha amado‛

-----§-----

67
Homenagem a João
Esta é a minha homenagem ao grande Jão.
Ele viveu durante anos... De um jeito comum.
Numerosas obras!... Ele não escreveu.
Cultura! Muitos livros!... Ele não leu.
Amizades valorosas! Muita fama! Na TV! Ele não esteve.
Habilidades diversas! Música! Poesia! Oratória! Ele não teve.
Honrosos cargos! Ser professor! Pai! Ele não foi.
Não tinha terras. Não tinha pasto. Não tinha boi.
Depois de tantos anos neste mundo, fazendo tudo que ele era capaz...
Sabendo não fazer tanto, quanto o que é chamado grande faz...
Ele morreu (anônimo), e mereceu novamente a paz...
Este foi Jão... Aqui jaz... Mais um humano pertinaz.

-----§-----

Realismo ^
É preciso ver se o olor da flor
Compensa, do acúleo, a dor.

-----§-----

Uma versão em português que fiz da música Hallelujah, que toca no filme
Shreck, do autor original Leonard Cohen.

Versão Original – Hallelujah


I heard there was a secret chord
That David played and it pleased the lord
But you don't really care for music, do you

It goes like this the fourth, the fifth


The minor fall and the major lift
The baffled king composing hallelujah

Hallelujah...

Your faith was strong but you needed proof


You saw her bathing on the roof
Her beauty and the moonlight overthrew you

She tied you to her kitchen chair


She broke your throne and she cut your hair
And from your lips she drew the hallelujah

Hallelujah...
Well, maybe there's a god above
But all i've ever learned from love
Was how to shoot somebody who outdrew you
68
It's not a cry that you hear at night
It's not somebody who's seen the light
It's a cold and it's a broken hallelujah

Hallelujah...

Versão Minha – Hallelujah *** ¨


Ouvi que há no coração,
A força de uma canção,
Que em noites belas, brilha como a lua;

Reverbera pelo ar,


Só ouve quem sabe cantar,
Atônito, proferes um Aleluia

Aleluia, aleluia,,,

Tu tens fé e vês o mundo,


Mas não entendes o mais profundo
Alegre olhar de’uma alegoria;

Ela olhou pra ti e recitou,


O poema do maior amor,
Dos teus lábios, arrancou um aleluiah

Aleluia, aleluia...

Eu pensava sobre o amor,


Mas não sabia qual sua cor,
Até que tudo em mim se coloria;

Lamentas, pois provaste o tom,


Deste doce e amargo som,
Que corta tua pura pele nua;

Tu não choras mais em vão,


Planges hoje com razão,
Entoando um triste e rouco aleluia.

Aleluia, aleluia...

-----§-----

Última Vela
Haverá um dia
Em que só falarei de coisas doces
E tudo parecerá ventura
Como se tudo belo fosse
69
Olharão para mim
E verão um homem feliz
Que vive tranqüilo
É só coisas boas diz

Tenho muita coisa boa


De verdade, pra contar
Mas é, também, tanta coisa ruim
Que nem dá pra acreditar

O jeito é esquecer
O que de mal há
E tentar esta vida
Levar, completar

Eu vejo alguma luz


Consigo enxergar
Uma vela, lá longe, acesa
Que o vento ainda não conseguiu apagar

As tempestades de vento
Já me tiraram coisa demais
Está na hora de eu controlá-las
De eu fazer os vendavais

Mas tudo, claro


Silenciosamente
Sou correto, não faço mal
Faço o bem somente

O vento vai sair


De explosões do meu peito
E vai fazer tudo aquilo
Que eu quero que seja feito

Mas tudo que eu quero


É como se fosse nada
Quero somente
Seguir minha estrada

Nada de grande demais


Vai acontecer
Eu só quero encontrar
O meu jeito de ser

Se eu tivesse força
Ah se eu tivesse
A única força que eu tenho
É a força da prece

70
Oro no meu cantinho
Faço meus poemas
Vem-me a inspiração
E resolvo alguns dilemas

Eu estou até tranqüilo


Porque vejo essa chama ao fundo
Que queima gostosamente
E me faz, ao ter nada, ter tudo

Mas não tenho ainda


Nada mais que esperança
Ando com cuidado
Sempre em vigilância

Só peço ao sagrado Vento


Que não me apague esta última vela
Porque a única coisa que me faz feliz
É ter na mão, ainda, ela

-----§-----

Esperança Também
Tem muita coisa boa em minha vida
Mas também tem muita coisa ruim
Se perguntarem se quero outro mundo
Não hesitarei em dizer que sim

Me parece que não existe justiça


Nós confundimos as pessoas com os bens
Olho para o mundo e tenho preguiça
Pois não tenho força, são poucos os que têm

Continuo vivendo mesmo com tudo


E vou esquecendo tudo que passei
Lembro somente das coisas boas
E penso naquilo que eu farei

Vejo à frente muita esperança


E acredito no que há de melhor
Que tudo de bom vai ser aumentado
E será destruído o que há de pior

-----§-----

Estrelas *
I
Que querem, oh estrelas?
Que vivem em pompa e gala
Cada qual de vocês brilha lindamente
Mas olhando para os homens, nada fala
71
Expõem sua beleza suntuosa
Seu brilho majestoso
E vivem alegres, esbanjando
Seu material grandioso

Do falerno negro da noite


Bebem o vinho mais valoroso
E riem das realidades diversas
E seu riso, em luzes, é escutado por todos

Depois das noites festivas


São cobertas com anil véu
E dormem gostosamente, tranqüilas,
Nos recônditos mais calmos do céu

E em sua glória poderosa


E sua natureza rutilante
Que querem, oh estrelas
Com tal beleza emocionante?

Querem talvez dizer


Algo de importante
Se for, oh, digam logo!
Esperar é lancinante

Vocês vivem uma vida


De somente prazer
Não interessa o que aconteça
Vocês brilham até morrer

No cosmos espalham sua matéria


E a força da gravidade
Faz amarem-se umas as outras
Com graça na eternidade

Até a sua morte é um esplendor


Fulgem luzes em grande proporção
Forma-se então uma supernova
A partir de uma bela explosão

E dali nascem muitas outras estrelas


Formando nova constelação
Com também novos planetas
Onde, talvez, pessoas morarão

E vocês continuam aí
Mesmo depois de suas mortes
Eu só queria saber o que querem
E porque são assim tão fortes

Querem acaso humilhar

72
A triste e pobre humanidade?
Que tem tristeza, dor e fome
E não brilha com grandiosidade?

Ou querem então
Algo nos ensinar?
Se sim, digam sem demora,
Pois não consigo esperar

II
Estrelas tão queridas
Que inspiram os poetas
São dos homens para Deus
Os únicos e sublimes estafetas

As mensagens que vocês guardam


São preciosidades para nós
O céu é um imenso rio
E cada uma de vocês, foz

A água que corre aí


É tudo que nós desejamos
Beber da fonte do Alto
É sorver o que nós amamos

-----§-----

Limitação
I
Choro, qual rebento,
Ao ver o mundo famulento
De ordem e de igualdade

Pois sei ser pouco capaz


De ser quem dá ao mundo a paz
Quem dá aos inocentes a liberdade

Queria ser a esperança


De toda essa gente que se cansa
Ao ver tanta maldade

Eu queria ser seu ideal


Como quem se une a falange astral
E ao Bem, sua potestade
II
Se de um lado tenho fraqueza
Doutro lado vejo tua beleza
Que me faz lembrar-me daquela tarde

Em que mais que luzes e mais que cor


Mostraram toda a força de teu amor
Mostraram a minha felicidade!
73
-----§-----

Beloved planet of shadows +


…And all of us would be stars
Just shining and shining
And there would be no problems
No scuffle, no fighting

Oh God, my dear father


I believe someday I’ll be a star
And from this dark planet
I will be away, so far

-----§-----

Folhas e galhos *
O vento passa
Nas galhas de minha mente
E faz caírem as folhas, onde
Estavam escritas coisas da gente

O rio da vida corre sem dó


E quebra plantas, galhadas
Deus fica nos olhando
E o diabo dando gargalhadas

-----§-----

Poesia ao Meu Lado


Eu amo tanto a poesia
Amo tanto a literatura
Quem é muito bom nisso
Vive sublime ventura

Mas pisco novamente


E não amo mais
Tudo que é hoje
Não é como era dias atrás

O amor permanece
Mesmo que calado
Eu ainda a quero
Quero a poesia ao meu lado

-----§-----

74
Fungos
As pessoas neste mundo
São como pequenos fungos
Vivem e cantam em um dia
No outro dia estão mudos

-----§-----

Forças
I
Muita gente vive,
Sente as coisas,
Tem prazer.
Já eu,
Somente posso observar
E me ponho sempre a escrever

É a beleza de uma mulher


A tristeza de uma flor
A existência ou a falta de um amor.
Para tudo que eu olho,
Como não posso querer
O que eu faço é poesias compor

...E os enredos coser.

II
Como eu queria poder
Sentir o mesmo prazer
Que antes eu sentia

Hoje já não posso sentir amor


Por pessoas ou o que for
Como antes eu podia

Do meu coração jorrava


Sentimento e emoção, transbordava
Tinha de tudo, tristeza e alegria

Eu tinha forças para o mundo mudar


Mas hoje mal quero me levantar
Não faço mais o que eu faria

(Há quem diga que é melhor assim)

-----§-----

75
Sentia
Eu sou sozinho
Sozinho como um homem no deserto
Meu coração está longe, e não tem ninguém por perto
E é na busca dele que eu caminho

Como é ruim!
Ter o peito completamente vazio
E sentir n’alma medonho frio
E não sentir as pessoas e nem a mim!

É como se meu coração


Tivesse sido retirado
E meu amor esmagado
E restasse somente um grande vão

Eu antes sentia
Sentia amor, saudade, emoções
Coisas dos nossos corações
Que muito feliz me fazia

Pra quê?

Uma pessoa morta, dentro de um corpo vivo.

-----§-----

Alcoolismo
Nesse bar da vida
Eu já bebi demais
Meu copo está seco, mas
Eu gostaria de me embebedar

Olho para o lado


É gente bebendo e bebendo
Uns ficam calados em seus cantos
Outros se animam a cantar

Uns bebem alegria


E cantam, felizes.
Mas os que bebem somente tristeza
Só sabem chorar e chorar

E beber da solidão?
Beber do erro?
Da incapacidade?
Queremos isso negar

76
A bebida que eu tomo
É assim estranha
É um misto de tudo
Um redemoinho no mar

-----§-----

Caravelas no Céu ‚
Meu coração é vazio
Assim como o céu é negro
E o vento traz o frio

Não tenho nada para oferecer


Também já nem quero
Mesmo que seja pra você

Sou um homem sem coração


Tem vez que sou dela
Tem vez que não

No meu peito só tem vento


E gélido como as noites silenciosas,
É um tanto pálido e cinzento

O que batia veloz em meu peito


Foi submerso a regiões plutônicas
E agora bate de outro jeito

Segue o ritmo das caladas estrelas


Que sozinhas na imensidão
São como vazias caravelas

E carregam ninguém para nenhum lugar


E andam paradas na mesma rota
...Mas é preciso um dia mudar

Até que elas se explodam lindamente,


Vivem uma vida... A queimar!

-----§-----

77
Saudade de Nunca
A delicadeza de suas mãos
A ternura de sua voz
Causam-me uma saudade
Que me é uma dor atroz

Saudade de coisas
Que nunca aconteceram
Que os fios da história
Ainda não teceram

Saudade de te ter
Como nunca tive
E de estar ao seu lado
Como nunca estive

Saudade de nossas conversas


Que nunca tivemos
Vontade de ter te falado
Algo quando nos conhecemos

Vontade de ter amor


Dentro do coração
Para te entregar
Com sua aceitação

Vontade de eu ser
A pessoa certa para você
Coisa que estou certo
Nunca vai acontecer

-----§-----

Cinza e Carmim
Minha vida está toda em tons de cinza
Que faz contraste com o vermelho
De tua boca de moça
Que se pinta ao espelho

Tua inocente boca e teu coração


Estão tingidos com vívido carmesim
Em tuas veias corre jovialidade e perfeição
Que inveja é de dar em mim!

-----§-----

78
Sétimo Dia
Uma campa soa
É o padre a chamar
As pessoas vão chegando
A missa vai começar

Nasce mais uma morte

-----§-----

Eu não *** ^^
Como um grande tufão
A vida gira e acontece
-Eu não

Alguns vêem na vida uma canção


Mas estou já muito cansado
-Eu não

Todos querem um amor no coração


Eu já cansei de tudo isso
-Eu não

As pessoas vivem em construção


Todavia, Eu só passo, passamos
-Eu não

Penso que hoje tudo parece vão


Eu esqueço e finjo que sou alegre
-Eu não

-----§-----

Tempo
O tempo passa e me consome
O tempo também me produz
E o passado atrás de mim some.

O tempo passa e me produz


Mas também ele me consome
E o passado atrás de mim some

-----§-----

79
Um Haikai
O tempo faz ir
Nosso tempo que passou,
Passou a sumir.

-----§-----

Vestes
Sofri tanto
Hoje já quase esqueço que sofro
Estou tão acostumado
Que é como se fosse com outro

O mundo me revelou a maldade


E aprendi a ser triste
Mas sei o que é a felicidade
Sei que ela também existe

Já não ligo muito para o meu destino


Cansei das lutas deste mundo
O que eu quero é escrever (um pouco)
E entender o que há de profundo

Filosofia é a ciência mais alta


Donde surgiram todas as outras
Ela esta na cabeça dos ricos
E também na dos que têm vestes rotas

-----§-----

Ele
Eu queria que ele me amasse
Assim como eu o amo
Mas ele, calado, vira a face
Quando eu o peço, o chamo

-----§-----

Penar ‚
Oh penar!
Que vida mais amarga
Minha mente mal consegue fazer
Construção que seja mais larga

Eu queria tanto ser


Um homem de realizações
80
Um homem que produz muito
De muitas construções

Mas não,
Minha mente é um tanto fraca
Mal eu tenho memória
E de dons ela é parca

E ainda veio a vida


E peso em minhas costas colocou
Como se não bastasse
O pouco ou nada que sou

E assim vou andando


Entre tropeçar e cair
O meu prédio vou levantando
Que talvez irá ruir

Alegrias, tenho sim


São belas, muito belas
Mas não é agora
Que vou falar delas

-----§-----

Traças ‘
Existe uma traça que come o livro da minha vida
Ela vai comendo devagarinho cada pedaço
Ela anda por mim, mas fica bem escondida
Ela come e come, enquanto eu não passo

Vão-se embora letras e palavras


Ela vai desfazendo minhas rimas
E eu vou desligando-me de tudo
Amigos, pessoas, ideais e signas

A traça está a comer


E um dia ela vai acabar
Neste trágico fim eu vou morrer
E ela só vai engordar

-----§-----

Louca Vida ‘
A vida é louca
Agimos muitas vezes sem saber o que fazemos
Pensamos ter algum controle sobre a vida
Mas não, nunca temos

81
Erramos uma vez
Não paramos de errar
Quando vamos perceber
Nós praticamente só erramos
Erramos sem parar

Acertamos muito também


Gostamos de acertar
Mas o que são acertos?
O que são erros?
Você pode me falar?

(Eu acredito que existam erros e acertos, mas nada é completamente errado
nem completamente certo)
-----§-----

Paz... Sei lá ‘
Tem alguns aspectos na vida
Que me fazem entristecer
Que se ligam a mim
Ligam ao meu ser

Existe em minha vida


Maldoso algoz
Que tem agido comigo
De maneira atroz

Não sabe o que eu passo


Nem o que passei
Por causa desse monstro
Só eu mesmo sei

Não quero contar


É um caso muito triste
Talvez exista coisa pior
Sim, sei que existe

Mas em minha vida


Não consigo me satisfazer
Vejo este mundo imperfeito
Que não dá para viver

É gente sofrendo
Desigualdade
E aos homens grandes
Falta humildade

E eu, o que posso fazer?


Sou somente mais um sofredor
Não tenho forças, como pode ver
Mal posso cuidar da minha dor
82
O mundo é estranho demais
E além dos meus erros tem os erros dos outros
Como podemos suportar
Os erros de todos?

Já nem sei mais se é errado errar


Já não quero saber de nada
Minha vida
Já é muito complicada

Este mundo é muito louco


Estou procurando ficar em paz
Coisa que já procuro
Desde uns tempos atrás

-----§-----

Fome
A vida é muito triste e estranha
Tudo está sujeito à sorte
Tanto a morte quanto a vida
Com que segurança vamos andar?

Já vi muita coisa que prova


A existência de um destino
Que estaria gravado em nosso imo
Mas será que posso nisso confiar?

-----§-----

Fantasma
Seu fantasma continuou a rondar minha vida
E é por isso que não toco em assuntos importantes
Ele pode interferir no que eu mais amo
Como já fizera, muuuito, antes.

-----§-----

Ilusão * ^
Ilusão é algo que brilha muito
E a gente acha que é de verdade
E às vezes é mesmo
A luz que aos olhos arde.

-----§-----

83
Porque ¬
Porque
Sou tão triste e tudo é assim?
Porque
É tudo tão errado e tão ruim?
Porque meu amor?
Porque, meu amor?
Responda-me agora

-----§-----

Um Nada ¬ ‚
Quer saber sinceramente?
Se nem você acreditar em mim
Desisti deste mundo, não tem mais jeito
Não dá pra ser assim

Vou viver como um nada


Esperando para ser o que já é
Um nada, sem ninguém
Sem um amigo qualquer

Esqueça-me, não é difícil


Não represento muito para você
Para contrariar-me, muito simples
Basta você querer

Sem você, sinceramente


Não sei como vai ser
É o meu melhor amigo
Que talvez eu deixe de ter

Mas eu ainda tenho esperança


De que ainda confie em mim
E se cale, esperando
Minha palavra ou algo assim

-----§-----

Minha Solidão
Minha solidão é assim
De um jeito feliz e triste
De saber que eu sem você
É algo que não existe

É doce saber que és minha


Mas amargo, estarmos tão distantes
Mas eu acredito que um dia
Será bem melhor do que antes
84
Mas sinto-me venturoso
Por ter-te longe da Terra
Que é um lugar tenebroso
Face que azul esconde a fera

Quero-te bem distante daqui


Não me importo de ficar sozinho
Sou um pássaro filhote
Que um dia sairá de seu ninho

E quando eu puder
Uma vez voar
Vai demorar, mas iremos
Novamente nos encontrar

-----§-----

Somos Parecidos Demais ‘


Li poemas de outras pessoas
Vi coisas ruins e também coisas boas
E sei que todo mundo aqui é igual

Mesmo as pessoas mais estranhas


Todos têm as mesmas manhas
Todos têm medo do mal

Todos são sentir, querer, amar


Todos algo se põem a adorar
E o mar é o mesmo aqui e o mesmo lá
Uns querem ver outros querem nadar
E todos consomem do mesmo sal

Uns são melhores em qualquer cousa


Cantam, desenham, vão à lousa
Mostram talento especial

Outros sabem ser fiéis à sua palavra


E a estaca do amor no meu peito encrava
E faz de mim um sentimental

-----§-----

Queimei
Queimei tudo que eu tinha de ti
Por muito amor a ela
Mas senti pesar por isso
Quando te encontrei, tão boa e bela

85
Viveríamos juntos por lindos dias
E com a alma fagueira nos amaríamos
Amaríamos muito a vida
E muito felizes seríamos

Digo a verdade, te amo muito


E na eternidade, não te esquecerei
Você estará sempre aqui no peito
Sempre te amarei

Mas como um sino plange para todos os lados


Meu coração parece também soar deste modo
E não consigo deixar de dizer que sou dela e seu
O destino me joga mais um engodo

Eu a quero muito,
Mas quero a ti também
Quero a todos
Quero alguém

-----§-----

Puro Mel
Amo-te os gestos
Na observação deles nunca me canso
Enquanto danças no palco
Por dentro n’alma eu também danço

Amo-te a forma física


Que de tão bela
Atraiu a todos
Como uma estrela

Amo-te o sorriso estonteante


Que posso ver nos meus sonhos
Ver nos belos momentos
Em que nos abraçamos, risonhos

Amei a mensagem de amor


Que estampastes no céu
Foi como se derramasses de teu coração ao meu
Puro e poético mel

-----§-----

Ganância Humana
Enquanto somos loucos pela posse
Queremos dos outros tudo
O dinheiro, a alma, coração
E para isso não existe escudo
86
Somos uns dos outros
Entendo isso, tudo bem
Mas e os pobres sofredores
São de quem? São de quem?!

Quero-te toda
Seu coração, sua mente, sua vida
Mas sou antes seu e entrego-te
Todo meu ser, numa salva florida.

-----§-----

Conta-me ‘
Você diz TE AMO
E é motivo de eu entrar no quarto de seu coração
Fechar as portas com cadeados inquebráveis
E jogar a chave fora

Deito-me na cama
E olho para todo o seu quarto com emoção
Já vi coisas inenarráveis
Quero-te hoje, agora

Vivo morrendo
Transformo nosso amor numa canção
Repito por vezes incalculáveis
Quero-te hoje, agora

Morro vivendo
Não sei como descrever esta sensação
É como engolir desejos infláveis
Que me arrebentam, dentro a fora

-----§-----

87
Rock n’ Roll ‘
<<Este poema lembra aquelas coisas que são boas, mesmo que em pontos de
vista diferentes pareçam inadequados ou imperfeitos, talvez. No clima da
música e da exaltação inebriada, não interessam tanto as formalidades
quanto em outras situações. Isto é, elas importam, mas são mais flexíveis.
Há quem queira pular e gritar. Há quem queira deitar-se e viajar. Há quem
queira vestir-se de modo diferente, dançar de qualquer jeito, se expressar
da maneira que mais lhe aprouver.
E este poema é um exemplo disso. Sendo respeitoso, mesmo que saia algo
feio, deixe sair o que há dentro de ti, se isso for o melhor a fazer.>>

Explosão alegre
Emoções, quereres, ahhhh!
Som alto, quebradeira
Cantahhhhhr!!

Gira os cabelos no ar
A harmonia nos faz exaltar os ânimos
Mas o que é louco me faz admirar mais
Quando há espontaneidade entre os amigos

Soltar a voz como se cantasse bem


E olhar para os amigos esperando o sorriso de alguém

Gritar se necessário
Pular nos ombros do amigo que é um armário

Rock n’ roll na cabeça


Caixas lá no talo
Gente nova pulando
Fazendo espetáculo

Cante também
Sei lá
Faça o que quiser
O negócio é gostar

O mundo é loucura
Tem-se que tentar ser feliz
Tente fazer o que quiser
Ou faça o que outro diz

Chega de conversa
O mundo é complicado demais
Solta o corpo gira e grita
E sinta o rock n’ roll em altos astrais

-----§-----

88
O Violeiro Triste
‚Deixo meu corpo se render ao cansaço e inclino minha cabeça
Eu, em sujos andrajos, para me jogarem uma moeda não é preciso que eu peça‛

Toca nas cordas do seu violão e nada mais sai que a tristeza que está em
seu peito
Seus melindres, como se tivessem vida dominam-no de todo jeito

Fazem com que ele exponha como uma grande ferida que impressiona
Toda a amargura que de sua vida é dona
Palavras pouco descrevem a situação deste homem, que emociona

Ele nada fez de mal. É do mundo uma vítima, que culpa nenhuma tem de ser o
que é
É completamente inocente. Nunca fez mal a ninguém, nem a homem nem a mulher

Seu coração é um deserto. Já não lhe resta ninguém


Somente toca o seu violão. É a única coisa que tem

Mesmo assim, um tocar débil, que faz ressoar a tristeza de uma vida
minguada
Ele é tão triste que nunca pôde nem vai pensar em ter uma namorada

Uma companheira? Sim, muitas. Aflição, agonia, melancolia


Está pensando em deixá-las. Quem sabe um dia?

‚Não sou triste nem feliz. Já não tenho sentimento


Talvez eu já tenha tido mas o perdido em algum tempo

Minha vida é um quarto vazio e gélido que inspira solidão


Ali não tem móveis, nada, ninguém; somente um grande vão
Não sei se o culpado sou eu. Se for, eu peço perdão
Não precisa ter dó de mim, já faz tempo que vivo como um cão
Desde minha meninice, desde sempre, desde então
Nesta vida sofrida, já não tenho nenhuma ambição
Espero somente a morte, para me tirar deste chão
O que sei fazer, sem muito talento, é tocar meu violão
Se puder deixe uma moedinha, se não puder, deixe não‛

-----§-----

Aliteração, Assonância, Paronomásia, e


Pensamentos.
Ensimesmado na mesmice dos mesmos dias, ando
Repetindo a repetitiva petição aos deuses
Livrai-me de ser livre do livreiro da livraria
Pois quero livros que me aprisionem a mente livre
Livre assim, vivo sem rumo; e enquanto vivos, vi-vos, e ouvi que houve
rumores que indicam o rumo da romaria. Ouve,
89
Não julgo. Pois julgo que jogar-me para fora dos jogos da vida é justo;
Justamente quando eu iria ajustar minha justa capacidade de julgar
Eis que a vida assenta sessenta centos de seu peso sobre mim
Acabando com minhas inacabáveis forças no cabo de guerra interior
E o que faço agora, diante dos incontáveis dias adiante
É ligar o piloto automático e contemplar a vista de onde estou
Vista que vai se modificando na medida em que mudo o modo mudo de carregar
a minha pedra
Que como Sísifo levo-a, não tão leve, enquanto levo o livro que lendo vou
levando
A pedra cai novamente, e com uma nova mente de novas novas, e inovando sem
qualquer inovação, pego-a de novo
Num outro e igual dia, em que minha mente faz a diálise dos pensamentos que
por ela passam, escolho entre a filosofia do alcançável e do possivelmente
impossível
Filosofar sobre as filosofias das perguntas sem resposta

O que me faz estar aqui? Quais são os motivos das alegrias e dos
sofrimentos?
O que é o Homem? Para onde ele deve rumar? Porque a vida é como é?
Porque tem tanta gente sofrendo?

Será que existe um Código de Defesa do Sofredor (perante a autoridade


criadora do mundo ou responsável por ele)?
Você assinou algum contrato antes de nascer? Se sim, será que tinha
consciência do que fazia?
Onde está o contrato da vida? Quero ver se não há nenhuma cláusula abusiva
ou desnecessariamente incisiva.
E o direito de greve contra o Estado Planeta Terra? Posso reclamar, ou Deus
vai mandar uma PM dos anjos para conter a manifestação?
Só falta Deus querer privatizar. De duas uma, ou melhora tudo, ou estamos
perdidos.

Quer saber, esquece isso tudo que eu disse, o mundo é perfeito.


Eu consigo ver ele como perfeito, juro que eu consigo. Mas perfeição em que
ponto de vista? No meu? No seu? No nosso? Aí dançou tudo. Não existe
perfeição. É sempre um juízo de valor. Mas qual é o juízo ideal? Qual o
juízo de Deus?
Interrogações e mais interrogações... talvez um dia cheguemos lá.
Acho que dá pra chegar.

-----§-----

E Anáfora
Você teme
Você tem-me
Você teima
Você tema
Você é a mim.

-----§-----
90
Eles
Eles nasceram para comprar e vender
Produtos de toda sorte;
Aqui se mercadeia tudo
Até mesmo a morte

Quem aqui é dono de si?


Nem eu nem você;
Eles são? Não sei
Talvez você possa saber

-----§-----

Ray
As dúvidas perpassam minha mente
E como se tornassem orgânicas, fluem por meu corpo
Interrogações são minhas amigas
E nelas fico um tanto absorto

Eu era antes diferente


Eu explodia
Eu gerava energia
Eu era
Eu fazia

Saía de mim ou a mim entrava ou em mim se produzia


Algo como a alegria
Como aquilo que te satisfaria

Como seria bom, gritar e o grito sair do meu coração


Lá de dentro, bem forte, com toda a emoção
Aquilo saindo de mim
Brotando de minha mente a produção

Mas isso virá


Terá o dia, sinto, terá
Em que sentirei novamente, isso em mim se estourar

Quero que de mim saia perfumes musicais


Que se assemelhem às estrelas em seus brilhos astrais

Quero que meus talentos floresçam


E que seus frutos sejam mais do que simplesmente doces
Quero que quem prove sinta emoções
De quem sente quando tem grandes amores

91
Quero que cada instante gostoso de meus dias
Seja afixado à minha mente
De modo que eu aproveite muito tudo
E não pequenas ou grandes coisas somente

Quero cada momento de prazer multiplicado


Quero ter você ao meu lado
Quero explosões de amor, de vida, seu afago acalorado
E estar sempre junto de tudo aquilo que por mim é adorado

-----§-----

Aves voando ^
Ele aves-tô
Nós aves-tamos,
Voando,
Eles nos avistam
No tão belo céu.

-----§-----

Não sinto ‘
Tanto quero o prazer
Quero me unir a você
Quero nós dois em um mesmo barco

Quero contigo sofrer


Sonhar, sorrir, viver, morrer
Em tudo estando ao seu lado

Eu queria ser capaz


De sua vontade satisfazer

Mas te abraço, e não sinto seu corpo


Está longe, e de tanto te gritar estou rouco

-----§-----

Sufocado ‘ ,
Não há nada que posso fazer
O mundo grita suas loucuras
E eu sem você

O tempo passa
E os socos da vida começam a parar de doer
Fico anestesiado
E eu sem você

92
Sou um impotente
E tudo que o mal quer ele consegue
Sou fraco
E o mundo se perde

Você pode estar comigo


Mas estaria eu com você?
Eu já vi seus sinais
Será que poderei novamente te ver?

Eu pedi, e eis você novamente comigo


Será que vai ser sempre assim?
Eu te amo, [...]

-----§-----

Mundo Mudo ‘
Porque que este mundo nada fala?
Deus então aos homens se cala
E a tristeza a garganta entala
Porque a fome ainda existe
E ainda somos tristes
Porque o mundo é erro em meio a dissabor?
Mas tu, em meio a essa tristeza
Me mostrou tua beleza
E encheu o céu de cores com seu amor

-----§-----

Venha
Morte, oh morte bendita!
Espero-te com muita ânsia
Na esperança de uma nova vida
Um novo mundo, uma esperança

-----§-----

10/06/09
É preciso dizer!
É preciso dizer?
O que é preciso?
O que vou fazer?

Não sei
Estou perplexo
Já não consigo entender a vida
Falta a uma causa um nexo

93
Falta um motivo
Falta uma razão
Falta um abrigo
Talvez uma emoção

Não sei, tenho medo


De tudo e de todos
Guardo no peito um segredo
Que quero mostrar para os outros

Espero que eu faça algo que adiante


Espero que Deus me ajude
Para que eu não perca as esperanças
Para que tudo se mude

Oh Deus, que tudo melhore


Que eu consiga o que quero
Que tudo aconteça
Da maneira como espero

-----§-----

Trechos ‚
1
Era eu quem a amava!
Fui eu quem sofri!
Fui eu quem chorei!
Eu quase morri!
2
Abraço-os, não sinto nada além de emoção
Mas onde estaria a verdadeira união?
3
O mundo me entristece
Enquanto sou feliz
Sofrendo e dizendo
O que se quer ou se quis
4
O mundo é um cão que ladra sem dono
Gritando por uma explicação se cansa
E se deixa levar por anestesiante sono
5
Mas mesmo com esta glória
Mesmo com esta alegria saborosa
Vivo o dissabor de não entender
Do mundo a realidade amargosa
6
Ensina-me, Pai bondoso,
As fórmulas desta vida
Quero saber o que é melhor
Quero entender a Justiça
94
7
Porque não há explicação
Simplesmente não há um ideal
Todos buscam a salvação
Mas todos encontram à frente o mal
8
Mas me recuso, oh Pai, a aceitar
Que as diferenças entre os homens
Coloquem uns à sarjeta, ouros ao altar
9
Mesmo os momentos de tristeza
Seriam nada mais
Que motivos para a inspiração
De novos e melhores carnavais

-----§-----

Um Mundo Feliz
Eu imagino um mundo
Em que a vida seja bela
E todos sejam felizes
Eu, você, ele, ela

Não haveria problemas


E os sonhos seriam realizados
A vida seria amar; confortarmos
E sermos confortados

Tudo seria cor-de-rosa


E andaríamos sobre as nuvens
E seriam todos irmãos
Pessoas de todas as origens

A lua, terna amiga


Toda noite ia brilhar
E o sol ia queimar mais brando
Mas esquentaria a todo lugar

Não seria preciso


De nada para comer
Tudo que se fizesse
Seria por simples prazer

Todos poetizariam
Todos com bela voz cantariam
Seria arte para todos os lados
E todos participariam

95
E se um quisesse parar
Para contemplar o horizonte
E simplesmente se ausentar
Longe de todos, num monte

Todos concordariam
E não achariam ruim
Pois qualquer decisão seria boa
As coisas seriam assim

Não seriam necessárias leis


Para conter a população
Tudo que se fizesse daria certo
Toda seria uma boa ação

Não existiria maldade


Não precisaria perdão
Não haveria ofensas
Nem também aflição

É assim que eu imagino


Um mundo um tanto perfeito
Onde somente a alegria e o amor
Encheriam todos os dias o meu peito

-----§-----

Moça Bonita °
Moça bonita
Ouça-me agora
Tenho um grande amor
Uma mulher que me namora

Mas ela foi tirada de mim


Já há muito tempo
E vivo procurando-a em outros rostos
Mas não tenho sucesso em meu intento

Porém em ti vejo algo


Que dela me faz lembrar
És mulher, e muito bela
Que dá vontade de beijar

Um dia, espero
Te beijarei
E como se beijasse a ela
Rejubilar-me-ei

Nesse dia
Afogar-nos-emos em prazer
E estando contigo, regozijar-me-ei
Da manhã ao anoitecer
96
Bela mulher
De beleza inigualável
Você me atrair
É um fato muito provável

Mas esse dia


Que a ti beijarei
Trairei minha mulher
E muito festejarei,

Está marcado
Para uma data única
Isso acontecerá
Num dia chamado NUNCA...

-----§-----

Exaltação Alegre
Quando a luz do sol exaure suas forças e se perde
Pelos labirintos profundos do meu olhar
Minha alma, esperançosa pode ver
As cores que no céu você fez brilhar

Elas dizem ‚te amo‛ para selar


As promessas de nosso eterno amor
Que é tão efêmero e eterno quanto
É eterna e efêmera a alma de uma flor

Ele perdura, ele é


Se é passageiro, não sei
Sei que ele é, assim como você
Como te conheci e te conhecerei

Você vive, nos meus sonhos e no céu


Gritando, falando, sorrindo, chorando
E quando a encontrei nos meus sonhos
Me alegrou, com seu amor, me abraçando

Sou triste e feliz porque te tenho longe de mim


E porque te amo tanto assim
E quando penso em você
Nada parece ser ruim!

Mas o mundo continua sendo um lugar estranho


Onde vivo esperando por te encontrar
Busco novamente nos céus, e vejo
Aquilo que minha mente me faz lembrar

Amor!

97
-----§-----

Denial
You don’t know how it hurt’s
To be a beggar for your love,
While you drop my heart on ground
I try to take (it) and you just shove.

Is this kind of love you give?


And all this time I endure
I thought you’d be the one
That would bring my heart a cure

The fact is that no other man


Have loved you like my love has been
And I know that once again
I will be tied to my chains beam

But who really loves me, is


Someone that is here with me
She is my sublime angel
And in her, my love, I see.

When I cry here alone


She seems to hold me tight
When the shadows and rain come
I know I can see your light

But I seem to be alone


When I stop praying
And the Night comes
And again on darkness I’m laying

So please, don’t leave me


Tied to this dark rope
Cause I know you know I love you
Don’t burn up all my hope

And desperately, into my heart, again


With my fingers, I will hollow
A deep hole of pain
To bury all my sorrow

My light that is with me


My love that makes me cry
She will be forever saying
I love you, honey, in the sky

I am angry at this people


That don’t give a shit
To this world we are living
'Swear my heart will stop to beat
98
If you don’t say you love me
I will love you the same way
But if you do really love me
My sorrows will decay

Some say I have to forget


Do you know I’ll never do this
Your heart and mine, together
Would shine in a new good bliss.

Fuck off these people


Who just want to be above
They will never know what is
The real feeling of real love.

I just want...
I'd want...
I wanted.

-----§-----

Na Estrada
Quando um homem caminha pelas lembranças da vida
Pode então ver as passagens esquecidas
Deixadas de lado por todos, as andanças já idas

Mas o Vento sabe muito bem


Deus vê lá do além
Esse coração surrado que lembra de um alguém

A vida pede paciência, e ele pede a não demora


Enquanto isso, espera ao seu canto, a contemplar a aurora

Os anos passaram e continuarão a passar


Ele aprendeu a não ter medo da vida, e que é muito normal errar
Aprendeu segredos profundos, até mesmo o segredo do amar
E sabe que a vida é passageira, e que logo Deus a irá levar

Por afagos e carinhos a alma cansada anseia


Para seguir essa velha jornada que ele estradeia
Colher a flor de rosa que no caminho deixou
E agasalhá-la junto ao peito da melhor maneira

-----§-----

Longos Anos
Ah, tenho tanto a te contar
Mas se eu te encontrasse por esses dias
Eu nada ia falar
99
Sinto-me preso
Algo me prende
É difícil de explicar

Você é linda
Minha querida
Nunca deixarei de te amar

Que Deus não me impeça


E Ele pode
De nosso encontro realizar

Agora os anos
Serão longos
Longe de ti
É o meu pesar

-----§-----

Ter-te ao Lado
Quando te vi
Da primeira vez
Estava tão linda
Em sua candidez

Quando vou poder


Novamente encontrar
Esses belos olhos
Que me fazem te amar?

Hei de querer
De você muito mais
Do que as vãs amizades
Que morrem no cais

Preciso de um tempo
Para mim, para pensar
Encaixar-me nesse complexo
Sistema do amar

Compartilho com você


Este meu estado
O bom não é compartilhar?
É como ter-te ao lado

-----§-----

100
Mas
Sou ciente da vida
Da morte
E de um pouco mais

Sei que a vida me guarda


Algo que somente a morte
Algum dia me traz.

Amo muito, amo a todos


É isso que na vida
Muito me apraz.

-----§-----

Sabe
Sabe
Quando não se sabe
O que sentir?

Quando fico a pensar


Ainda sem ti

Quando lembro que o tempo


É a única solução

Para um problema
Que não tem qualquer razão

Sabe,
Quando a frialdade invade o coração,

E se vive
Quase como se não houvesse emoção?

-----§-----

Não, Agora
Não agora
Ouça Maria
É porque me importo, que atraso esse dia
Mas irei te ver
De te ver hei,
Se detiver, hei
De ter seu coração
Talvez como um irmão
Talvez não.

101
-----§-----

Ah... Há
Se há emoção? Há
Escrevo aqui
Escrevo acolá
Tenho escrevido
Sem saber onde vai dar

-----§-----

Digam
Será que os céus
Não oram por mim
Para que esse romance
Tenha um bom fim?

Que será que quereriam


Os anjos de luz
Sobre esse caminho
Por que me conduz?

-----§-----

À dama que roubou os meus olhos


Porque tu roubaste os meus olhos?
Devolva-me com eles o meu coração
Tu me retiraste de um escolho
Do qual ia desferir um pulo são

Teus pés, que já não são mais teus


Andam em minha direção
Eles são agora meus
Mas a mim eles ainda dizem não

Se não fores devolver meus olhos


Guardes com muito carinho
Quero ver ainda algum dia
Cantar num galho um passarinho

Meus olhos, meu coração


Seus pés, as nossas mãos
Esperam que em algum tempo
Possam se ver, e que não seja em vão.

-----§-----

102
Pequeno ‘
Não tenho dons, não tenho habilidades
Não tenho a melhor personalidade

Sou um cara simples,


O que tenho é um coração
E alguma força de vontade

‚Vai Carlos! Ser gauche na vida‛, nas palavras de Drummond

-----§-----

Será? - 14 de abril de 2009


Vivo nas brumas de um monstro estranho
Que em minha vida derrama ácido sulfuroso
E consome todas lembranças de antanho
De quando meu mundo era mais ditoso

Ainda não posso a ti me dirigir


Eis que a ansiedade toma meu peito
A tua figura faz em mim espargir
Tudo aquilo por que deleito

Frente a ti, hoje, porém, fico calado


Enquanto o coração está aos brados
Esperando, atormentado
Por algo que o console, pobre e sovado

Mas não há, oh, não há tanta esperança


Este meu coração já ama a morte
Espera somente, qual inocente criança
O golpe fatídico da sorte

Será que dele alguém precisa


Deste coração que já não agüenta mais nada
Será que tu, uma princesa
Olharia para ele encantada?

Mas talvez ele se sinta necessário


Quando conhecer o sofrimento das pessoas
Quando olhar para este mundo triste, depositário
De sofrimentos e carente de coisas boas

Quando encontrar com a fome


E pouco ou nada puder fazer
Quando ver aquilo que o homem
Deixou à míngua, fenecer

103
Quando encontrar com as crianças
Que trabalham longe do brinquedo
E encontrar mulheres
Que vivem triste enredo

Será, oh Senhor, será


Que algum ânimo nesse coração se despertará?

-----§-----

Também
Percebo, agora
Um pouco mais desafogado
Que a tristeza também é bela,
E a dor, às vezes necessária, às vezes não

Ando, embora
Um pouco acabrunhado
Às vezes acho que me falta uma centelha
Como um samba sem uma canção

-----§-----

Do dia 15/04/09
Amo tudo aquilo que é imperfeito
A perfeição? Dela eu me escondo
Guardo um outeiro de erros no peito
Mas se deles perguntam, eu não respondo

Mas quê heresia,


Maldizer o belo?
Seria então o belo perfeito?

Talvez fosse extrema maldade


O Pai ser muito, se o filho não é
Acho que Deus também é humildade
Pois que vive até na mais tosca fé

Deus é bom, mas há jeito


De outra coisa dizer.
Se Ele é Bom, Eterno, e Amigo
Na tristeza Ele também pode aparecer

-----§-----

104
Perfeição
Ao buscá-la
Sei que nunca a toparei
E isso me mata,
Me mata, eu sei!

E é por isso
Que mudei de idéia.
Buscar a perfeição
Torna-se impossível corveia

-----§-----

Santa Arte *
Filosofia
Oh santa arte
Que abraçada à Ciência
Traz bonança a toda parte

-----§-----

Migalhas e Portas
Eu queria poder consolar
Os pobres e os que estão aflitos
Não é difícil encontrá-los
Já lhes ouço os gritos

Que posso fazer?


Mas que grande ilusão
Ajudar a quem,
Se a nós nos falta o pão?

O mundo já é organizado
Não precisam de mim.
Será que é verdade,
Será que é assim?

Portas tantas
Muitas há
O difícil é escolhê-las
E nelas se encontrar

Eis o que farei


Serei um porteiro!
Abrirei as portas do mundo
Para todos, o mundo inteiro

105
-----§-----

Se fosse minha ‘
Se essa rua
Se essa rua fosse minha
Eu mandava
Eu mandava ladrilhar
Com pedrinhas
Com pedrinhas de brilhante
Para o meu
Para o meu amor passar

Nessa rua
Nessa rua tem um bosque
Que se chama
Que se chama solidão
Dentro dele
Dentro dele mora um anjo
Que roubou
Que roubou meu coração

O coração
O coração que é para ti
Ele roubou
Ele roubou das minhas mãos
Como hei
Como hei de entregar-te
Esse pobre
E apaixonado coração?

Não se canse
Não se canse oh querida
De esse tempo todo
Viver a esperar
Pois um dia
Sim um dia oh querida
Poderemos
Poderemos nos amar

-----§-----

Sopros
Se os anos passarão
E me farão te esquecer
Cada sopro do Vento me lembra
Que meu coração ama você

-----§-----

106

O homem é sociável por natureza
Mas se muito é sociável, antes é só
Sozinho ele veio ao mundo
E sozinho retornará ao pó

-----§-----

Saiba
Se não quiser esperar
Não há o que fazer
Se algum dia me ver chorar
Saiba que choro por você

-----§-----

Fragmentos ‚
1
Meus medos eu limito
E nesse mundo, em meio às nuvens minha luz
Brilha e atinge o infinito
Atingindo longe a estrela que tremeluz
2
Para mim tu és princesa
Que deve em toda vida ser protegida
Das tristezas e maldades deste mundo
Que já conheci e conheço em minha vida
3
Quero dizer que te amo
Quero o amor! E Deus mo tolhe
Meu coração inda pouco pulsa
Mas inda pulsa, olhe!
4
Cadê você, que não tem me respondido
Enquanto minha cabeça voa os céus
Parece que você tem se escondido
E eu já pareço um vagabundo ao léu
De tanto que meus pensares vagueiam o mundo
Sem se fixarem felizes num local
5
Você ama aquele que eu fui
Quem talvez eu possa ainda ser
Preciso de um tempo para mim
E você de um para você

107
4
Por duas vezes em minha vida
Salvou-me das garras da tristeza
E trouxe-me luz, brilho, amor
Carregado de sua formosura e beleza
5
Nos Ventos que giram o Tempo
Nossas almas se embalam
E mesmo estando de longe
Levemente se resvalam
6
Minha vida acabou
Perdeu o sentido
Meu coração murchou
Como se tivesse morrido
7
Meu imo me olha,
Fraco, triste, acinzentado
Como se nunca tivesse tido cor
Nem tivesse estado ao seu lado
8
Vejo do mundo o sofrimento
E me sinto um nada
Que posso fazer?
Sou somente um caminhante da estrada

Vou contribuir com minhas idéias,


Mais nada, ademais,
Cansei, cansei até de rimar
Vou-me embora, jogar-me ao mar
9
Continuo a te amar
Porém como uma amiga
Que para vida vou levar
Levar para toda vida
10
Há muita gente sofrendo nesse mundo
Sou somente mais um
E você, é também, pois o mundo é assim
É assim com qualquer um
11
Ouvindo o canto das flores e o perfume que exalam os pássaros
O falar do Vento e a normal loucura dos homens
Enxergo a vida com outros olhos
Olhos que eu não tinha antes

-----§-----

108
23/04/09 ‚
Ando, porém, confiante
Deus é meu guia
E com ele sigo adiante
Regido pela Filosofia

Espero, como espero


O dia em que poderei
Abraçar-te e contar-te
Tudo o que passei

Neste dia, ah
Será tão bom
Ouvirei somente
Tua voz, doce som

Às palavras e aos abraços


Noite e dia ficaremos
E o clima será de tanta paz
Que abraçados dormiremos

Oh doçura e suavidade
Que desejo para minha vida
Pena que está muito longe
Mas não está perdida

Desejo para ti
Tudo o que seja proteção
Deste mundo louco e bravio
De que conheço a maldição

-----§-----

Fantasia Lasciva
Ideias que, lenes
Adentram minha mente
Lúbricos sonhos de uma
Aventura deveras indolente

Volto olhos à moça mimosa


Também à boa senhora
É um desejo absurdo
Que em mim hoje se aflora

Um afeto que me sai


Para todos, de todos recebo
É um amor mefítico e puro
Que vai da garota ao mancebo

109
É algo quase casto
Mas luxúria bem a fundo;
À vista do moralista
Afogo em poço imundo

Abraço a alma de todos


Com amor um tanto sobejo
Mas abraço também o retrógrado
E dou-lhe na boca um beijo

-----§-----

Cheiro da Noite ‘
Ah, como a noite é bela
O zéfiro da madrugada balança as folhagens
Os grilos cantando por entre as ramagens
E o homem ouve e olha as paisagens

Mas a noite é para os libertos


Que podem por ela caminhar
Cantando até cansar
E depois voltando a cantar

O homem liberto grita


O homem liberto fala
E quando quer se cala
E se envolve na mortalha

Quisera eu ser um liberto


Os limites impostos intensamente
A minha vida não me pertence
Nem me pertence minha mente

O beijo durou um momento


E os decênios correm no chão
E eu vivo neles a solidão
E tudo parece triste, vão

Não sei se vou agüentar


A noite não é minha
Não posso me libertar
Tudo em mim se esfarinha

Eu me perco
Não sou meu
Não sou quase nada
Sou um pontinho na estrada
Que triste, ainda não morreu

-----§-----

110
Genesis
Dum turbilhão de luzes e explosões de matéria
Se formam planetas, estrelas e a própria Terra
E num torvelinho de idéias e atos, surge
Este nosso amor de cor ruge
Que no meio do nunca jamais se encerra...

-----§-----

Pomba que canta


Eu queria ser uma pomba
Que viveria cantando
E comendo cisquinhos
E pelos ares voando

Um dia eu iria encontrar


Um outro passarinho
Nós íamos nos amar
E faríamos um ninho

Felizes íamos fazer


Pombinhas nascerem
E tudo iríamos ensinar a elas
Para elas viverem

Até que um dia ia acontecer


De um gato mal entrar em nossa vida
Destruir o nosso ninho
E nos fazer de comida

Muito sangue
Muita tristeza
Muita dor

Mas só podemos
Continuar cantando:
Amor, amor!

-----§-----

Revolta ‘
Que revolta!
Revolto-me, mas mantenho-me calado
Não posso fazer nada
Já fui apunhalado

111
O que está perdido já era
Agora é minha revolta que vive
Dentro do meu coração
Como nunca antes tive

E agora basta cortar da revolta


As suas incisivas hastes promontórias
Retirando o que dela vale, e jogando
O que resta ao fosso das memórias

-----§-----

My Last Poem ‘
I'm happy today,
It's what i have to say;
Love me anyway,
My love is like a ray,
You broke any shade
That is in my way;
And i believe my fate
Is not that gray

But if i suffer,
I know i have bills to pay,
Before i rest and lay
Down to the clouds,
Upper.

-----§-----

Horizonte
É o povo lá de cima que manda,
Eu preciso reconhecer
Que não há nada mais sincero,
Do que amar até morrer.

Amar até lançar


Os olhos ao mar
E deixá-los navegar.

Enxergando então,
O que há além do vão
Entre o céu e a água no horizonte.

Vendo assim,
O que há dentro de mim,
Vendo o meu próprio fim,
Vendo minha fonte.

-----§-----
112
Grain Image
If you’d falled, i’d come back to take your hand
And when your image, in my hands, turn to sand
And the sand grains start to slip through my fingers
I’d say that I know, that despite that image, your core still lingers

-----§-----

O grande segredo
-Cochicho...
[...]

[...]
-O que?

-----§-----

113
Alma Lua
Quero contigo voar
Por sobre o horizonte
Por cima de cada vale
Cada rio, cada monte

A tua luz carinhosa


Colore de prata os mares
Banhando com beleza tudo que toca
Aqui e ali, todos os lugares

-----§-----

Me mate ou me beije
Anda,
Não demore querida
Pois, sozinho nesta vida
Não sei mais o que posso fazer

Querida Morte, promotora do viver.


Ossos secos de alma subnutrida
Morte, jamais será esquecida

Beija-me,
Ou deixa-me ser.

-----§-----

Escrevendo
Quem sou eu?
Um simples homem vadio
Que seu coração já entregou
E vive de peito vazio

-----§-----

Chá no Escuro
Uma vela na mesa;
Ele pega o fogo e aproxima do peito,
Para ver se a paixão acontece ali dentro.
Ver se ela pega fogo.
A vela queima seu peito.
Dor. Amor.

-----§-----

114
Chamas
O problema é o seguinte?
Como eu a chama?
Como a chamaria?
Como chá Maria?

-----§-----

História
Dir-vo-lo-ei
Se vós mo fizerdes
Ides pro criando
Cento a esperar
Até que a pagueis à história

-----§-----

A arte vai beij-arte *


A tez que amarga ao beijo,
Não merece o gosto acre
Da arte que beija com gosto
Gosto de vinagre.

-----§-----

Vendo coisas
Na cidade, na televisão
Nas ruas, na mídia, nos jornais
Por todo lado, vejo coisas
Humanos, seres astrais

Bloco de notas à mão,


Caneta no bolso, a tiro,
E escrevo tudo o que vi,
Coisas se transformam num livro.

Hoje, vendo coisas.

-----§-----

115
Maria Mariana
Maria, Mariana
Mulher amada
Mulheres

Maria, Mariana
Com tua lágrima derramada
Me feres

-----§-----

Eu te amo ^
Meu amor por ti,
A cada passo que dás
Muda de tom a tom
Do preto ao lilás

Tu que ama a humanidade


Que embora sem esperança,
Prezas pelo bem e a igualdade

Gostas do homem, da mulher, da criança.


Gostas de gostar. Não significa que sempre gostas.
Tens defeitos. Se não tivesses, não serias: perfeição.

Das emoções, a soturna rutilância,


A febre do vermelho calor que lhe arrebatas,
E a frialdade calculista de tua boa razão,

Inspiram-te para que eu te ame.


Tu, que nem sabes meu nome.
Que nem sabes quem és.

Tu quem?
Tu.

-----§-----

Luminosas *
Eu estou crendo uma crença
Que diz que há caixas de luz
Abri uma outro dia
E encontrei mais uma cruz.

-----§-----

116
Em si
Cada um, aqui, pensa em si mesmo
Eu, penso em ti mesmo.

-----§-----

Importa
Todos precisam, na vida, de uma porta para abrir ou para fechar.
Não importa para onde ela dá ou de onde ela vem.
Para ela, importa.
Para quem?
Para a pessoa ou para a porta?
Não sei.

"Dê-me uma porta, ó senhor!",


Pede-se.
"Dê-me uma mão para que eu possa abri-la"
Peço.

-----§-----

Se morri para ti
Se eu morri para ti, algum dia,
Vive você ainda em meu seio;
Se morres, para mim, qualquer dia,
A bandeira de minha dor eu hasteio.

Se me pusestes sob a campa pesada e fria,


Do sepulcro que encerra tuas memórias,
Esquecidas como o vento que viaja invisível,
Guardaste flores que esperam o impossível,
Que exalam o perfume daquela história,
Que já ninguém nesse mundo sentia.

Digo-te, que o perfume que elas exalam,


Não é como os gases do pútrido monturo,
Nem tanto tem histórias só do passado;
Há memórias de paixão que hei lembrado,
Que falam também hoje e no futuro,
Mas que no passado se calam.

-----§-----

117
Equação Irônica ^
A = (G x E) + (D x Pi)
Em que:
A = Alegria
G = Ganho*
E = Emoção
D = Distração
Pi = Perda Inconsciente

*Conceito extremamente valorativo


-----§-----

Perdoes-me, mas...
Eu sei que pode soar triste
Pode pungir ao tocar teus brios
Pode ser que nem queiras saber
Pode opor-se ao teu alvedrio

Mas saibas que ainda amo-te.

-----§-----

Não te amo mais


É triste pensar
Naquele que não ama ninguém
Ontem eu te amava
Hoje também

Mas talvez amanhã eu ame

-----§-----

Hipocrisia
A falsidade daquele que batia o olho,
E hoje, outrossim, o olho bate,
Mas ama... como se tão belo fosse
O soco do amor quanto o beijo do sabre

-----§-----

Vão
Não me faças chorar, não;
Por sua falta de compreensão.
Sabes que um afago eu não nego,
E que só amo se for em vão.
118
-----§-----

Vera Gota
I
Fique com seu mundo real,
E me chame quando uma gota cair
Sob o copo do romantismo,
Vazando e encontrando o abismo
Da realidade do seu sentir

Eu não passo de um mal fingidor,


Que o Pessoa já muito entendia.
Quem finge e nisso é sincero,
Não nega êxtase nem nega agonia;

A gota que se lança do copo,


Romântica, toca minha pele fria.
E enquanto finjo senti-la correr,
Sinto quão mentirosa faz-me crer,
Dizendo que a vida é magia.
II
Esqueça do mundo amigo!
Viva o sonho da verdade!
Tenha o mundo na mira,
Toque sua humilde lira,
Com a devida intensidade.

Ninguém merece esse som,


Nem a ti, nem um deus: o ‚Cantor‛.
Pois se ele canta alto e belo,
Você toca sem precisar clamor.

Vim aqui para o fogo acender,


Depois o fogo apagar novamente.
Minto e desminto, e falo a verdade,
Tenho fatos, atos, coisas más e bondade,
Tudo que ameniza e o que é comburente.
III
Escabro aos tímpanos
É o corte do zéfiro frio
Que traça a mente incauta
Lançando-a sem culpa ao desvario

O choro da catarata vultosa


É grande, enorme, sem fim.
E o mar conversa com ela,
Chorando a chuva de volta;
Eu sou um e sou a outra,
Sou ambos, e ambos são a mim.

-----§-----

119
Meretriz
I
Deus permite,
Sim, tudo isso que vês.
Permite que o grito corte a garganta
E que o mal sangre sobre a tez.

Deus permite que chores,


E Ele olha, compreensivo,
E ante o choro que choras,
Ele parece positivamente passivo.

Permite a fome e a cólera,


O assassínio e o ódio,
E permite que homens nasçam para morrer,
Desprezíveis como sumo emunctório.

E aqueles que O amam, como eu,


Com jactância verbalizam tom laudatório.
Contudo quem sincero e honesto julga,
Chega a limite peremptório:
Não há filosofia que contenha
A platitude sem o devido revulsório.
Se a Deus tu amas muito e rende graças,
Questiones tudo evitando o ilusório.

Se o Pai é o grande dono desta casa


E Seu seio é dela o grande propugnáculo,
Deduzo eu que tudo aqui é mercadoria,
Vendida a moedas de luz em Seu tabernáculo.

Envidando pela força do estabelecimento,


Soe pôr na tábua escrita a Sua lei.
E usa os homens, que transcrevem de Sua língua,
As palavras que ‘Ele’ derrama como ‘Rei’.

‚Oh caros filhos que tanto amo,


Plantaram em nossa prole um prostíbulo.
E a mais bela e boa alma que aqui conheço,
É esta meretriz que decapitam num patíbulo!‛

-----§-----

Criança
Se multiplique o doce e o mel que sorve tu;
Tu que locupleta-se sobre a mesa,
Enquanto embaixo chora a criança
Que por um pedaço de pão se moireja

120
E talvez um dia, fiques bom,
E compreendas até mesmo o nosso ‘demo’;
Tendo pego e dado a ela o mais valioso
Dos frutos encontrados no jardim de Academo

-----§-----

Paixão pelo mundo


O espírito do amálgama anacrônico
Que minha alma de antanho deliqüesce
Se espalha em minha mente com a prece,
Tal qual néctico liquor que estremece
Quem o sorve de meu fojo sorumbático

Sou um nada, sou um ponto em meio ao cosmos


A vida é inútil e o mundo despiciendo.
Se verti um liquor pútrido e horrendo,
É preciso sublimar-se e acima de tudo, vendo;
Vendo, acima de tudo, como olhar com outros olhos.

Minhas fibras de humano entremeando,


Crassas forças de outro mundo se meneiam.
E o outro mundo que muito hoje estou amando,
Em lampejos fúlgidos de um frenesi quase nefando
Outros seres inconscientemente delineiam

E pronto voto minha pobre oblação


Ovacionando a tão querida paisagem
Aclamando o belo e o bom em voz enfática
Sabendo estes pertencentes à Matemática,
É ao bem do Relativo que presto homenagem

-----§-----

121
122
Créditos
-Geraldão (Tiago Castro Eiras) - Capa.
-Vicente França - Fotos.
-Bistrô Des Amis - Noite do lançamento e a comida estupenda do Chef Edgard.
-Olbaid - Pelo que ele não ensinou, mas foi aprendido.
-Demais pessoas - Que contribuíram material ou imaterialmente, inclusive
com afeto. Família, amigos e pais, nem é preciso dizer.

123

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