É muito curiosa a maneira pela qual Immanuel Kant define o termo
minoridade. Para ele, alguém só saí da minoridade quando se torna capaz de pensar a respeito de decisões importantes para si mesmo sem o auxílio de outra pessoa. Dessa forma, é atingiu a maioridade aquele que por si só consegue organizar sua vida e fazê-la funcionar. Alguém que organiza seus horários para estudar sem que ninguém precise ficar lhe lembrando ou um funcionário que faz seu dever de forma prática e organizada sem ter de ser constantemente lembrado pela gerencia, são exemplos práticos desse pensamento de Kant. Uma vez que tenhamos alcançado a maioridade é preciso que as pessoas tenham a liberdade de publicamente questionar os modelos sociais vigentes. Afinal, se não pudermos declarar nossos pensamentos a respeito de uma situação, ela nunca mudará. Entretanto, Kant afirma que essa liberdade deve ser limitada na estrutura privada, uma vez que sem a obediência várias estruturas sociais sucumbiriam. Mas a crítica deve existir, para possa haver mudança. A dificuldade de alcançarmos a maioridade e de declararmos publicamente nossas reflexões a respeito do mundo a nossa volta derivam da comodidade e do medo. É muito mais fácil e cômodo que outra pessoa pense e tome minhas decisões em meu lugar, mas ao pensar dessa forma estarei agindo como uma criança. Para solucionar a questão do medo, podemos fazer uso dos ensaios de Montaigne a respeito da morte. Montaigne afirma que embora a morte seja vista como um grande inimigo a ser temido, não existe real motivo para tal. Ele afirma que a morte de um indivíduo nunca será um empecilho para ele mesmo, uma vez que enquanto vivo a morte não lhe afeta, e quando morto, ele não mais existirá para se preocupar com ela. Dessa forma, aceitar que somos seres finitos e que a morte pode vir a qualquer momento das mais variadas formas possíveis nós concede liberdade. A liberdade de saber que não é necessário temer ser quem nós realmente somos, uma vez que não importando nossas decisões, a morte nos alcançará. Aprender a morrer nos ensina a ser livres. E sendo verdadeiramente livres, podemos definir nossos próprios objetivos e usar da nossa liberdade para torna-los realidades. Dentro do meio acadêmico, essa liberdade é essencial para que possamos de fato fazer ciência. De acordo com Thomas Kuhn, a evolução da ciência se dá através do confronto de novas ideias com antigos paradigmas. É a liberdade de se fazer do uso público da razão que permite que leis e teorias vigentes sejam criticadas e confrontadas com novas ideias e fatos, afim de se gerar um novo paradigma, agora melhorado, capaz de explicar muito mais do que os antigos paradigmas faziam. Durante o fazer cientifico, precisamos nos atentar também a complexidade das relações entre as diversas áreas do conhecimento. Para Edgar Morin, não basta estudar apenas as partes das coisas que compões nosso mundo, mas também a relação entre elas. Como estudante de apenas uma área, é muito fácil se esquecer da multiplicidade de saberes científicos e sociais que afetam minha área de estudo. Se atentar as relações complexas entre elas também é ciência e é uma forma de se manter conectado ao mundo mesmo ao entrar em um nicho de estudo. Por fim, alcançar a maioridade é se tornar livre para pensar por si mesmo, livre para montar meu próprio futuro e livre para poder questionar e apresentar minhas reflexões a respeito do mundo em que vivo e dos estudos ao qual me dedicar.