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Resumo
Com base na análise da narrativa Aminadab, do
escritor Maurice Blanchot, são propostas algumas
reflexões em torno da ideia de desastre apresentada
pelo próprio escritor em seu livro L’écriture du
désastre. O objetivo desse diálogo é observar como
este livro em desastre retoma, reafirma e ressignifica
grande parte do pensamento blanchotiano sobre
literatura que acompanhamos ao longo de sua carreira
literária, tanto crítica quanto ficcional.
Palavras-chave: L’écriture du désastre,
Aminadab, Maurice Blanchot, desastre, fragmento.
a
Davi Andrade Pimentel é pós-doutorando do Instituto de Letras da Universidade Federal Fluminense (UFF).
E-mail: davi_a_pimentel@yahoo.com.br.
2
Datas da publicação em 19422. Com suas frases longas, de sintaxe simples, mas que
o r i g i n a l do s l i v r o s perversamente não resultam em um pensamento simples, com
de Maurice Blanchot:
T h o m a s l ’o b s c u r ,
Ed. Gallimard, 1941;
seus parágrafos extensos e labirínticos embebidos na escuridão
Comment la littérature de um prédio, que, mais tarde, após a publicação de L’écriture
est-elle possible?, Ed.
Corti, 1942; Aminadab, du désastre, em 1980, poderíamos considerá-lo, com base em
Ed. Gallimard, 1942;
Faux Pas, Ed. Gallimard, uma perspectiva retroativa, como o rascunho em desastre de
194 3; L e Tr è s -H aut,
Ed. Gallimard, 1948;
um pensamento sobre o fazer literário que estava ganhando
L’Ar rêt de mort, Ed.
Gallimard, 1948; La Part
forma nos escritos de seu autor, Aminadab é, sobretudo, um
du feu, Ed. Gallimard, lugar de experimentação de escrita-pensamento-literatura na
1949; Lautréamont et
Sade, Ed. Minuit, 1949 obra blanchotiana. Trata-se de uma experimentação que
(reeditado em 1963);
Thomas l’obscur (nova teve o seu início em 1941, quando da publicação da primeira
versão), Ed. Gallimard,
1950; Le Ressassement versão da primeira narrativa e do primeiro livro de Maurice
éternel, Ed. Minuit, 1951;
Au moment voulu, Ed.
Blanchot: Thomas, l’obscur. Entre os dois Thomas, há o mar, o
Gallimard, 1951; Celui sal e a maresia:
qui ne m’accompagnait
pa s, Ed. Ga l l i m a rd,
1953; L’Espace littéraire, Thomas se sentou e observou o mar. Durante algum tempo,
Ed. Gallimard, 1955; Le ele ficou imóvel como se tivesse vindo ali para seguir os
Der n ier hom me, Ed.
Ga l l i m a rd, 1957; L a
movimentos dos outros nadadores, e embora a bruma o
Bête de Lascaux, Ed. impedisse de ver muito longe, ele demorou com obstinação
Guy Lévis Mano, 1958 os olhos fixos nos corpos que avançavam dificilmente na
(reeditado por Ed. Fata
Morgana, Montpellier, água. (BLANCHOT, 1941, p. 23, grifo nosso)
1982); Le Livre à venir,
Ed. Gallimard, 1959;
L’A t t e n t e l ’o u b l i , O sal marítimo, ao tocar o corpo-escrita de Thomas,
Ed. Gallimard, 1962; sucumbe, tornando-se, logo em seguida, a marca improdutiva
L’ E n t r e t i e n i n f i n i ,
Ed. Gallimard, 1969;
L’Amitié, Ed. Gallimard,
de um pecado original que assombrará os demais personagens
1971; La Folie du jour, blanchotianos: “Bela coisa é o sal. Mas se o sal perder o seu
E d . Fa t a M o r g a n a ,
1973; Le Pas au-delà, sabor, com que será [o sal] temperado? Não serve nem para a
Ed. Gallimard, 1973;
L’Écriture du désastre, terra, nem para a estrumeira: joga-se fora. Quem tem ouvidos
Ed. Gallimard, 1980;
De Kaf ka à Kaf ka,
para ouvir que ouça” (BÍBLIA, Lucas, 14:34). Certamente,
Ed. Gallimard, 1981;
Après Coup précédé
Thomas, o obscuro, não deu ouvidos às palavras do Salvador,
par Le Ressassement pois o sal de sua estrutura narrativa é da ordem da desobra,
é ter nel, Ed. M i nu it,
1983; Le Nom de Berlin, da ociosidade, da improdutividade e da ruína, jamais um sal
Ed. Mer ve, Berl i n,
1983; La Communauté consagrado à produtividade da luz divina, luz solar. Enquanto
inavouable, Ed. Minuit,
1983; Le Dernier à parler, sal sem sabor, a escrita de Thomas, sendo a primeira, dará
Ed. Fata Morgana, 1984;
Michel Foucault tel que
origem a uma linhagem de personagens que desde sempre
je l’imagine, Ed. Fata estarão abandonados ao fracasso: “Thomas observou por sua
Morgana, 1986; Sade et
Restif de la Bretonne, Ed. vez esse fluxo de imagens grosseiras, depois se precipitou nele
Complexe, Bruxelles,
1986; Joë Bousquet, Ed. tristemente, desesperadamente, como se a vergonha tivesse
Fata Morgana, 1987; Une
Voix venue d’ailleurs, começado por ele” (BLANCHOT, 1941, p. 323). Marcados desde
Ed. Ulysse Fin de Siècle,
1992; L’Instant de ma
sempre pela queda do primeiro personagem blanchotiano, os
mort, Ed. Fata Morgana, demais personagens, principalmente o Thomas, de Aminadab,
1994; Les Intellectuels en
question, Ed. Fourbis, por sua proximidade quase física com o primeiro Thomas,
1996; e Pour l’amitié, Ed.
Fourbis, 1996. passam a sofrer de um mal de escrita: suas narrativas para
Epílogo
“É o desastre obscuro que carrega a luz” (BLANCHOT, 1980,
p. 17, grifo do autor).
REFERÊNCIAS
Abstract
Maurice Blanchot: reflections (in disaster)
on Aminadab
From the analysis of Aminadab’s narrative,
a work of Maurice Blanchot, some reflections
about the idea of disaster presented by the
author on his book L’écriture du désastre are
proposed. The aim of this dialog is to observe
how this book in disaster retakes, reaffirms
and gives new meaning to a great part of
Blanchot’s thinking on literature, that we follow
throughout his career, both critical and fictional.
Keywords: L’écriture du désastre, Aminadab,
Maurice Blanchot, disaster, fragment.