Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1. Introdução
Já é fato que “o adulto deste século é um ser-em-processo de educação permanente”
Carmo (1997, p.133, apud Scremim 2002) o que gera uma perspectiva de aprendizagem
para toda a vida. E isto exige programas de níveis e modalidades diversas, tanto na
educação formal como no aperfeiçoamento profissional, onde é crescente a demanda por
educação, especialmente na modalidade a distância, direcionada quase que
exclusivamente ao aprendiz adulto. Portanto, a educação é o alicerce para a inclusão
social, geração de trabalho e renda e para o desenvolvimento científico e tecnológico de
um país. No entanto, no Brasil:
- mais de 65 milhões de trabalhadores não têm o ensino médio, e muitos não concluíram
o ensino fundamental (Haddad, 2005);
- apenas duas em cada cinco pessoas entre 15 e 18 anos conseguem completar o ensino
fundamental (IBGE, 2004).
As principais razões para que isto esteja acontecendo são:
- um número expressivo de crianças não freqüentam a educação infantil;
- o desestímulo do aluno quando chega à 8ª série do ensino fundamental sem a
oportunidade de continuar os estudos no ensino médio.
Em função desta falta de acesso à educação da maioria dos cidadãos brasileiros,
aumenta a cada dia a exclusão social e a carência de profissionais bem qualificados. A
questão, portanto, é: como reverter esta situação? Como possibilitar a inclusão social
deste tipo de público alvo composto em sua maioria por aprendizes adultos?
Neste artigo são relatados: o processo de gestão em educação a distância - EAD
e alguns resultados da implementação do projeto piloto Educação Profissional de
Formação Inicial e Continuada de Trabalhadores na modalidade semipresencial, no
período agosto-dezembro de 2007. Este projeto é fruto de uma parceria firmada, em
fevereiro de 2007 entre a Fundação de Apoio à Escola Técnica do Estado do Rio de
Janeiro – FAETEC, detentora da competência acadêmica para a educação profissional
presencial e a Fundação Centro de Ciências e Educação Superior a Distância do Estado
do Rio de Janeiro – CECIERJ, detentora da metodologia e logística do ensino a
distância na modalidade semipresencial. O principal objetivo deste projeto é permitir a
inclusão social, uma vez que o público alvo são cidadãos brasileiros desempregados
com uma idade mínima de 17 anos e que não terminaram o ensino fundamental (pelo
menos a 7ª série completa). Também se pretende suprir a demanda por mão-de-obra
qualificada no mercado de trabalho, principalmente nas áreas da indústria e comércio,
atendendo, prioritariamente, às demandas oriundas das características locais e regionais
de trabalhadores no Estado do Rio de Janeiro. E isto está sendo possível através de 7
(sete) cursos gratuitos de formação profissional inicial na modalidade semipresencial, de
curta duração (5 meses), para a formação de pessoas que anseiam por uma qualificação
profissional e estão impossibilitados de freqüentar cursos totalmente presenciais.
3.2- FAETEC
A FAETEC - Fundação de Apoio à Escola Técnica (http://www.faetec.rj.gov.br),
também vinculada a SECT, oferece educação profissional gratuita, em diversos níveis
de ensino, à população do Estado do Rio de Janeiro. Criada em 10 de junho de 1997, a
Fundação reúne Escolas Técnicas Estaduais; Unidades de Educação Infantil, Ensino
fundamental, Industrial e Comercial; Institutos Superiores de Educação e Tecnologia, e
Centros de Educação Tecnológica e Profissionalizante.
A estrutura de ensino da FAETEC apresenta de modo primordial a educação
técnica como um pilar relevante na formação do indivíduo. Sendo assim, o aluno pode
optar por uma gama variada de 40 cursos técnicos integrantes de distintas áreas, nas
quais pode-se ressaltar as destinadas ao segmento de saúde, como Enfermagem e
Patologia Clínica; Gestão, Administração e Contabilidade, e Comunicação, Propaganda
e Marketing e Design Gráfico. Em nível superior, também são oferecidos inúmeros
cursos, entre eles, os de Tecnologia em Sistemas de Informação, Gestão Ambiental, de
Produção de Polímeros e Gestão em Construção Naval e Offshore. Os cursos de idiomas
(Inglês, Francês e Espanhol), Informática, Telemarketing, Vendas e Recepção, dentre
outros, com duração média de quatro meses, também compõem esta rede de ensino da
FAETEC.
Em fevereiro de 2007 foi firmada uma parceria entre a FAETEC e a Fundação
CECIERJ para a elaboração dos primeiros cursos de Educação Profissional de Formação
Inicial na modalidade semipresencial, cujo lançamento aconteceu em agosto do mesmo
ano. Até o momento já se formaram 1047 alunos em 7(sete) cursos oferecidos em seis
unidades da FAETEC no período agosto-dezembro de 2007 (Tabela 3). Veja a seguir a
Metodologia do Projeto Piloto.
5. Resultados e conclusões
Este item procura mostrar os primeiros resultados do projeto piloto. De acordo com
as informações prestadas pela coordenação da FAETEC, das 1680 vagas oferecidas no início
do projeto, após a segunda reclassificação, 1563 alunos participaram efetivamente dos
cursos. Dos 998 alunos que iniciaram o módulo específico, 916 alunos (60%) completaram
os cursos, sendo que 670 alunos (43%) foram aprovados e 246 alunos (17%) reprovados.
Portanto, no projeto piloto 622 alunos (40%) evadiram. Os motivos que contribuíram para
esta taxa de evasão foram: 1) falta de familiaridade dos professores e alunos com a
modalidade a distância; 2) problemas com a Internet em algumas unidades dificultando o
acesso à Plataforma. Em São Gonçalo, por exemplo, não houve conexão à Internet durante
todo o projeto piloto, mas apesar disso, graças ao empenho da diretora desta unidade,
apresentou uma baixa taxa de evasão; 3) houve atraso na entrega dos materiais de consumo
para as aulas práticas nos laboratórios, principalmente para os cursos: Bombeiro Hidráulico,
Eletricista Predial e Manutenção de Eletro-Eletrônicos. E isto provocou uma grande evasão
nestes cursos; 4) o processo de seleção levou em consideração apenas o critério sócio-
econômico, ou seja, não foi possível avaliar questões tais como proficiência em informática e
letramento; 5) faltou definir, detalhadamente, as responsabilidades de cada profissional
envolvido no projeto, contribuindo para um distanciamento entre a direção das unidades e os
coordenadores / tutores presenciais de cada curso.
Foram encaminhados questionários de avaliação qualitativa aos participantes do
projeto piloto, ou seja: diretores das unidades, professores coordenadores dos cursos e
tutores presenciais que lecionaram as aulas práticas e alunos. Estes instrumentos de
avaliação envolvem uma grande quantidade de informação que ainda está sendo
processada. Em função disso, optou-se por mostrar os resultados dos questionários com
as respostas de três diretores das seis unidades localizadas nas áreas mais carentes, ou
seja, Belford Roxo, São Gonçalo e Vilar dos Teles e que foram os profissionais
responsáveis pela gestão do processo em EAD do projeto na sua unidade. Veja a seguir
um resumo das opiniões mais significativas desses diretores:
PERGUNTA 1: O projeto piloto trouxe contribuições à sua unidade? Em caso positivo
diga de que forma?
“Sim, pois, de acordo com os indicadores sociais (IDH) do Centro de Informações e Dados
do Rio de Janeiro – CIDE (2000), grande parte da população de Belford Roxo apresenta baixa
escolaridade, não tem vínculos formais de trabalho e, conseqüentemente, possui ganhos em
torno de um salário mínimo.” Prof. A.M.P., CETEP Belford Roxo.
“O projeto piloto trouxe várias contribuições para nossa unidade, pois ofereceu material
permanente que não possuíamos, que muito contribuiu para dinamizar e diversificar as aulas de todos
os professores, além de oferecer uma modalidade de curso diferenciada, possibilitando-nos sairmos do
foco da informática.” Profa A.C.S., CETEP São Gonçalo.
“Sim. Poderia relacionar diversas contribuições, valendo citar: inclusão digital; novas opções de
cursos profissionalizantes; implantação de novos laboratórios; implementação de uma filosofia de
Ensino (EAD); criação de uma pequena biblioteca técnica com as apostilas dos cursos para utilização
por nossa comunidade escolar; geração de parcerias com empresas para empregar os alunos que se
formarem”. Prof. P.F.L., CETEP Vilar dos Teles.
PERGUNTA 2 - Como foi o projeto piloto para os alunos? Faça uma síntese em
relação à sua percepção.
“No cômputo geral, os cursos atenderam às expectativas da maioria dos alunos, exceto os
cursos de Eletricista Predial, Bombeiro Hidráulico e Promotor de Vendas, considerando que o
material só chegou à unidade em fevereiro/2008 e os cursos terminaram em dezembro/2007”.
Prof. A.M.P., CETEP Belford Roxo.
“Nota-se que a comunidade gostou dessa nova modalidade de ensino. Hoje, podemos
oferecer outros cursos e não somente os de informática. Tal conquista, em tão breve tempo,
leva-nos a uma rápida constatação: a nossa disponibilidade e o anseio em efetivar um projeto
para beneficiar a comunidade". Profa. A.C.S., CETEP São Gonçalo.
“Em uma visão simplificada posso resumir em uma palavra "VALEU”. Temos consciência
que há muito a fazer, mas devidas todas as dificuldades obtidas houve uma superação em todos
os sentidos”. Prof. P.F.L., CETEP Vilar dos Teles.
PERGUNTA 3: O que poderia ser feito para melhorar os cursos?
“A necessidade da construção de políticas públicas e de uma prática de formação
profissional voltada para a cidadania e para a inserção social. Essa ação deve ser coletiva,
envolvendo os representantes dos diferentes setores comprometidos com o trabalho e a
formação de trabalhadores, ocorrendo em espaços públicos, com objetivos, conteúdos e
métodos democráticos". Prof A.M.P., CETEP Belford Roxo.
“Para que os cursos melhorem se faz necessário que os profissionais participem de uma
nova capacitação que esclareça a metodologia de trabalho do curso semipresencial, que a
plataforma seja fortalecida e se estimule a participação dos alunos”. Profa. A.C.S, CETEP São
Gonçalo.
“Por ser um curso a Distância, além de ter os tutores nos dias pré-fixados pela Unidade
Escolar, a presença de“Estagiários” que auxiliassem os alunos nas aulas práticas e na
utilização das plataformas, revezando turnos manhã, tarde e noite”. Prof. P.F.L., CETEP Vilar
dos Teles.
Em janeiro de 2008 foi providenciada a aquisição dos materiais de consumo que ainda
faltavam nos laboratórios dos cursos de Bombeiro Hidráulico, Eletricista Predial e Manutenção
de Eletro-Eletrônicos. Dessa forma, foram elaboradas, pelos coordenadores desses 3 cursos,
aulas de reposição que foram oferecidas aos alunos em março de 2008. No início de abril
aconteceu a cerimônia de entrega dos certificados para os 670 alunos aprovados nos 7(sete)
cursos nas 5(cinco) unidades da FAETEC. O início da segunda edição dos 7(sete) cursos
também aconteceu no início de abril mostrando que, o empenho, o comprometimento e a união
de toda a equipe foram imprescindíveis para a continuidade do projeto. Pretende-se, no entanto,
monitorar continuamente, todo o processo de gestão em EAD do projeto nesta segunda edição,
com o objetivo de corrigir o quanto antes os problemas que forem surgindo. Dessa forma, será
possível melhorar cada vez mais a qualidade na formação profissional de cidadãos que almejam
uma colocação no mercado de trabalho.
6. Referências Bibliográficas
Assmann, H. (2003). Reencantar a educação: rumo à sociedade aprendente. 7ª ed.
Petrópolis: Vozes.
Blattmann, U. & Dutra, S.K.W. (1998). “Atividades em Bibliotecas colaborando com a
Educação a Distância”. UFSC: Programa de Pós-Graduação em Engenharia de
Produção. http://www.ced.ufsc.br/%7Eursula/papers/atividade_ead.html
Haddad, F. (2005). “Educação para induzir e democratizar o conhecimento científico”.
Inclusão Social. Vol. 1, Nº 1, IBICT, Ministério da Ciência e Tecnologia.
http://www.ibict.br/revistainclusaosocial/viewarticle.php?id=14&layout=html.
IBGE (2004). “O Brasil em números”. http://www.ibge.org.br.
Monteiro, A.V. et al (2006). “Estratégias para a implantação de Bibliotecas Híbridas
como apoio à Aprendizagem Semipresencial de cursos a Distância”. Revista
Informação&Informação (www.uel.br/revistas/informacao). Volume 11, N º 2. 2006.
Peters, O. (2004). A educação a distância em transição. Novo Hamburgo: Unisinos.
Pfeiffer, C. & Cassano, M.G. (2007). “Práticas Leitoras e Alfabetização Digital: Uma
parceria possível?”. II Encontro Nacional sobre Hipertexto. UFC. Fortaleza.
Sremin, S. B. (2002). Educação a Distância: Uma Possibilidade na Educação
Profissional Básica. Editora Visual Books, SC: Florianópolis.