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NOTÍCIAS

13 junho 2021 / Número 1516


Esta revista faz parte integrante
do Jornal de Notícias n.º 12/134 e do
Diário de Notícias n.º 55571 e não pode
ser vendida separadamente

LISBOA-MADRID

ma-
4 comboios
e 10 horas de viagem
ao passado

gazine
MAIS UM
VERÃO SEM
FESTAS
A saudade vai vencer o medo?

@jornaisPT
A NOSSA HISTÓRIA,
O NOSSO PATRIMÓNIO,
AO ALCANCE DE TODOS.

TEMA DE CAPA EVOCAÇÃO


Salazar, salazarismo, Concluindo um caminho
fascismo. Três coisas iniciado na edição anterior,
diferentes, mas irmanadas. revisitamos o modo como
Do Integralismo Lusitano Portugal, depois da Grande
e do movimento católico Guerra, honrou o Soldado
à proibição do Nacional- Desconhecido. A “chama
Sindicalismo, analisamos da Pátria” e o “Cristo das
ideias e momentos que trincheiras” são, apenas,
fizeram do Estado Novo um partes deste percurso pouco
regime de tipo fascista. conhecido.

HISTÓRIAS SOLTAS ENTREVISTA


Todos os portugueses José d’Encarnação é o
tropeçam, algures na vida, em homem das “pedras que
D. Pedro I e D. Inês de Castro. falam”. Mas, mais do que
Que houve de verdadeiro vulto maior da epigrafia
na mais fantasiada história romana em Portugal, é,
de amor portuguesa? Ou ainda, alguém que, em
foi essa história, apenas, tudo o que faz, dá corpo à
um somatório de jogos de vocação maior de toda a sua
poder? Vamos em busca das vida: ensinar os outros.
respostas.

REVISTA N.º 31
POR APENAS
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@jornaisPT
alma-
ESPELHO
MEU Inês Schreck
POR
naque

ANDRÉ ROLO/GLOBAL IMAGENS

ANTÓNIO VEJO BEM... ❶ Fiel. Sou muito profissional naquilo que


faço, entrego-me de verdade ao que estou a fazer. ❷ Amo
MÃO DE FERRO a minha família acima de tudo e de todos. ❸ Muito aven-
tureiro. Adoro arriscar até ao limite, dá-me prazer. ❹ Sou
Músico super intuitivo. ❺ Humildade acima de tudo. ❻ Apaixo-
44 anos nado. Adoro estar apaixonado.
VEJO MAL... ❶ Teimosia. Não me dou muito bem com
críticas. ❷ “Lunático”. Perco o foco das coisas, por estar a
pensar em milhares de coisas. ❸ Ingenuidade. Deixo-me
levar com facilidade. ❹ Intempestividade. Às vezes, pego
Com quatro discos a solo e uma carreira consoli- com tudo e todos, é o meu outro lado. Fico fulo comigo
dada, o guitarrista apresenta, na quinta-feira, na mesmo. ❺ Não sei lidar bem com o elogio. ❻ Inseguro. Te-
Casa da Música, no Porto, o novo álbum “Luna- nho sempre muitas dúvidas sobre o que realmente valho
tic”. Foi fotografado na Casa do Livro, Porto. como profissional e enquanto pessoa.

Notícias Magazine 13.06.2021 3

@jornaisPT
sumário#1516
HISTÓRIA A VER
DA SEMANA PASSAR OS
COMBOIOS
Verão
sem festa
Em 2021, a ligação
entre as duas capi-
tais ibéricas obriga
Pelo menos até ao fim de agosto a três transbordos
não há romarias, procissões, e dez horas em
arraiais. É mais um ano sem comboios antigos
santos populares, sem celebra- e pouco confortá-
ções de emigrantes. Como será veis. Uma viagem
o regresso das festas? A euforia que evidencia a falta
vencerá o medo? A jornalista de investimento
Sara Dias Oliveira ouviu empre- na ferrovia
sários, autarcas e comissões de em Portugal. P. 20
festas, artistas e sociólogos para
avaliar o impacto económico e
simbólico de mais um verão
A REVOLUÇÃO DOS COMPORTAMENTO BEM-ESTAR
BIOMARCADORES
sem festa. P. 14 CUIDAR ATÉ MARCADAS
Covid, cancro, demências À EXAUSTÃO PELO SOL
e doenças cardiovasculares
são apenas algumas das As manchas no rosto, que se
áreas em que os biomarca-
agravam no verão, são motivo de
dores já desempenham
descontentamento para muitas
um papel determinante
quer no diagnóstico, quer mulheres. Evitar o sol sem prote-
na definição de terapias ção é a melhor forma de preca-
mais dirigidas e eficazes. ver, já se sabe, mas os melasmas
São a via para a tão dese- podem ter outras causas. E, para
jada medicina personali- quem já tem o problema insta-
zada. A jornalista Sofia lado, há soluções, desde cremes,
Teixeira dá a conhecer suplementos, medicamentos a
algumas aplicações, em tratamentos com laser e peelings
contexto clínico, destes nanotecnológicos. A jornalista
parâmetros biológicos Catarina Silva falou com duas
que estão a revolucionar Uma enfermeira que trabalhou até mulheres e três médicos e
a medicina. P. 26 ficar doente. Uma mãe exaurida por explica como prevenir e tratar,
tratar do filho doente 24 horas por dia. até no verão, essa causa cres-
Dois casos de burnout, que afeta mais cente de procura de ajuda espe-
quem cuida dos outros, como conta a cializada. P. 38
jornalista Sofia Teixeira. P. 34

magazine
NOTÍCIAS
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4 13.06.2021 Notícias Magazine

@jornaisPT
@jornaisPT
alma-
naque
RAIO-X OBJETOS
POR Inês Schreck POR Inês Schreck

OBSERVAÇÃO EM RÃS
IMPULSIONOU
CRIAÇÃO DA PILHA
Turismo encalhado Alexandro Volta descobriu que
no abre e fecha os metais é que faziam contrair
os músculos e produziam energia.
Napoleão tornou-o conde.
Em menos de um mês, as portas abriram-se e fecharam-se.
Inglaterra voltou a retirar Portugal do corredor verde turístico Sempre presente no dia a dia, nos comandos,
nas máquinas fotográficas ou nos brinquedos,
e a debandada não tardou. O argumento britânico não colhe e as a pilha é um dispositivo tão banal que poucos
expectativas de recuperação do turismo já parecem uma miragem. saberão como nasceu e muito menos que tudo
começou com uma experiência falhada.
No século XVIII, o médico e investigador
italiano Luigi Galvani descobriu, em experiên-
TEMPESTADE NUM COPO DE ÁGUA JOÃO cias com rãs mortas, que as suas perninhas se
Milhares de britânicos de férias no Algarve a FERNANDES contraíam ao serem tocadas com dois aros de
correrem de regresso a casa para evitar um Presidente metais diferentes. Ficou totalmente conven-
do Turismo
isolamento obrigatório de dez dias. O argu- cido de que tinha descoberto a eletricidade
do Algarve
mento do aumento de casos associados à va- animal. Estava enganado, mas pode dizer-se
riante nepalesa do vírus da covid-19 não colhe que foi esta observação, que acabou por ser
junto do Governo e especialistas. “Estão a fa- corrigida, a impulsionar a investigação do uso
zer uma tempestade num copo de água”, ga- da química na geração da en energia elétrica.
rantem. Serão vozes que ninguém ouve? Observando o trabalho de Galvani, o físico
Alessa
italiano Alessandro Volta percebeu
que as rãs não produziam eletrici-
ESPANHA RECUA E PORTUGAL RESPIRA dade própria, mas
m que esta resul-
Dias depois da decisão inglesa, um despacho tava dos metais usados para
do Ministério da Saúde espanhol a impor tes- contrair os seus nervos e músculos.
tes à covid-19 a quem atravessasse as frontei- A partir daqui, decidiu
de investigar
ras terrestres, sob pena de multa até três mil m
quais os melhores componen-
euros, indignou Portugal. Mas tudo não pas- “O Algarve teve tes para a produção de eletri-
sou de um erro. Espanha recuou, pediu des- cidade e concluiu
c que eram o
culpas e o imbróglio ficou sanado. cem mil p
zinco e a prata. Por volta de
movimentos de 1800, Alessandro
Alessa
dispositivo com
c
Volta criou um
várias camadas
passageiros m
destes dois metais, separadas
EUROPA ACREDITA NOS CERTIFICADOS por um disco de material poroso
A Europa acredita que o certificado digital de de origem britânica impregnado numa solução
vacinação é a solução para um regresso à nor-
malidade. Há pelo menos oito países que já
durante as duas ácida. Assim nasce a pilha de
Volta, ou pilha
pil voltaica, o
estão a emiti-lo (Bulgária, Croácia, República últimas semanas e primeiro gerador
ge estático de
Checa, Dinamarca, Alemanha, Grécia, Polónia energia elétrica
elét a ser criado.
e Espanha). Portugal está em testes e, garante [segundo dados da A descoberta
descobe foi de tal forma
o Governo, receberá esta semana os primeiros
estrangeiros com certificado.
Administração importante para a evolução da
eletroquími que, em 1810,
eletroquímica
Regional de Saúde]

75%
Napoleão Bonaparte
Bo fez do seu
criador um conde.
c Nos dias de
entre os hoje, são po
poucas as aplicações da
passageiros pilha de Volta,
Vol que sofreu várias
evoluções porque
p se descarre-
britânicos houve gava rapidam
rapidamente, mas ainda
se utiliza em certas baterias de
da quebra no PIB português em 2020 deve- apenas a registar – automóveis. ●
automóveis m
-se à redução da atividade turística. O Go-
e todos eles são
RAMA

verno anunciou seis mil milhões de euros para re- A pilha de Volta foi o primeiro
lançar este setor estratégico para a economia. testados – seis casos” ger
gerador estático
de energia elétrica

6 13.06.2021 Notícias Magazine

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Fernando Santos Madrugada, desce ao rio para ganhar cinco ou seis horas que
lhe valem anos de vida. Ali, no meio do Alentejo, casa esco-
lhida para retiro, um dia feliz deste lisboeta de origem beirã

O pescador pragmático abre com pescaria. A pensar em nada. Nunca tal imaginara. “A
calma não está no meu ADN.” O mesmo respondia a cada con-
vite do pai, pescador amador, contou-me em 2014. “Quando
partiu, dei o material de pesca aos amigos dele”, disse. “E agora,
Nascido e criado num bairro de Lisboa, foi um miúdo reguila. lá estou eu no rio, a pescar.”
Queria ser guarda-redes ou oficial da Marinha. Venceu o Aos 50 anos decidiu que aos 60 aceitaria a reforma. Nas véspe-
futebol. Distingue entre jogar bonito e jogar bem. Chegou ras, reconsiderou. A seleção de Portugal, depois de duas tenta-
a campeão da Europa. Agora tem de defender o título. tivas falhadas, acabava de lhe cair nas mãos. E dela faria campeã
da Europa. Agora, tal como em 2016, leva para o Euro 2020 mala
para um mês, confiante de que fica até ao fim. Nunca teve agen-
te, não gosta sequer do nome. O percurso foi correndo de forma
PERFIL natural. Sem apoderado chegou ao F. C. Porto e a campeão na-
POR Alexandra Tavares-Teles cional. Ao Benfica e ao Sporting. A melhor treinador do cam-
peonato grego, país que também lhe confiou a equipa nacional.
A cara fechada engana. “Apesar de muita gente achar que sou
um bicho do mato, tenho com os jogadores uma relação de gran-
de proximidade”, confidencia. Quando se ri parece mais jovem.
“Sempre tive um rosto pesado, tenho ar de velho desde miú-
do, mas parece que com o tempo vou ficando mais jovem.”
Na seleção está menos tenso. “O treinador de um clube de
alto nível é um bicho muito solitário, com as defesas aler-
ta. Treinar o Benfica, o F. C. Porto ou o Sporting significa ter
muita gente contra nós. E isso pesa. Mas com amigos e jo-
gadores não é assim. Esses conhecem bem o meu feitio”,
dizia em 2014.
Não é um feitio fácil. Sobretudo de manhã. “Há ali
uma primeira hora em que na realidade é muito difícil
lidar comigo.” Mas para os jogadores, a porta está sem-
pre aberta. “Têm deste lado um amigo e um disciplina-
dor.” Quando os jogadores gregos lhe disseram que seria
difícil chegar a horas aos treinos das oito por causa do trân-
sito, respondeu-lhes que então começariam às sete. No
regresso a Portugal, confessou que se sentiu parte daque-
la gente, o esforço para entender a cultura e o povo e a deci-
são de nunca cantar o hino grego em Portugal e o português
na Grécia.
Em autorretrato, sobressaiu a lealdade. Mas, admite: “Sou mui-
to autoritário, fervo em pouca água”. Se fazem dele parvo, irri-
ta-se. E, quando se irrita, fala alto e gesticula muito, natureza
que lhe custou, já, alguns castigos no futebol. Foi jogador, é en-
genheiro e treinador. Filho de um guarda-redes amador, em
criança queria ser Costa Pereira, o lendário keeper do Benfica.
Ou oficial da Marinha, por causa de um rapaz da Penha de Fran-
ça, seu vizinho, que via passar, da janela de casa, tinha uns seis
anos. Um alfacinha típico, miúdo de bairro, reguila, capaz de
O: ES
ÇÃ EV saltar redes para ir à fruta ou ver os aviões, de ir para o Parque
TRA A N
D
US L Eduardo VII nadar com os patos.
IL AFA
M
“Um miúdo de bairro, mas com um pai rijo. E com alguma ra-
zão. Vários dos meus amigos da altura foram por caminhos pio-
res e alguns faleceram”, contou. “Levei tantas. A maior delas,
tinha uns 12 ou 13 anos. Em vez de ir para casa, fui jogar ma-
traquilhos com um amigo. O pessoal apostava uns trocos, eu
e ele fazíamos bluff, dizíamos que não jogávamos nada e
no final ainda comíamos uns bolos. Perdi a noção do tem-
FERNANDO MANUEL po. Estive vários minutos a servir de saco de boxe. Não
FERNANDES me fez mal.” Tinha ambição. Com 11 anos, já fumador,
DA COSTA SANTOS entrou na Escola Afonso Domingos, onde tirou o cur-
so de montador eletricista. Chegaria a engenhei-
Cargo ro. Pai de dois filhos, é padrinho de 50 afilhados,
Selecionador de fute- alguns deles herdados do pai, outros em razão da
bol de Portugal “fé”. Fé, fundação inabalável de Fernando Santos.
Nascimento De volta ao Alentejo, ao fim da tarde, na casa re-
10/10/1954 fúgio, reúne os amigos. Um dia feliz do seleciona-
(66 anos) dor fecha à volta de uma mesa de jogo, seja bridge ou
Nacionalidade sueca. Tem uma aptidão natural para as cartas e detesta per-
Portuguesa der. Por isso, é pragmático. Por isso, distingue entre jogar boni-
(Lisboa) to e jogar bem. Por isso, ganhamos. ● m

Notícias Magazine 13.06.2021 7

@jornaisPT
alma-
naque
AS HISTÓRIAS A CULTURA
DOS DIAS Jorge Manuel Lopes
POR
POR Catarina Silva
Música

Restaurante francês DE FILADÉLFIA,


serve insetos: a comida do futuro COM AMOR

FREEPIK.COM
O cardápio do restaurante Lauren Vayet não é Há meio século, a dupla de produtores e compo-
para medrosos e o chef parisiense acredita que sitores Kenneth Gamble e Leon Huff, com a
está a apontar o caminho do futuro da ajuda essencial de Thom Bell, deu à sua cidade
alimentação. Aqui, há salada de camarão com uma editora e uma sonoridade que se transfor-
larva de farinha, também conhecida como mou numa cultura global. A Philadelphia Inter-
farinha amarela (produzida a partir de larvas de national Recordings formou um núcleo de
escaravelho), insetos crocantes em cama de músicos e artistas locais e procedeu a uma atua-
vegetais ou gafanhotos cobertos de chocolate. lização sumptuosa da Soul, do R&B e do Funk.
“Há alguns sabores muito interessantes. Não há Geraram um estilo, a Philly Soul, abriram o
muita gente que possa dizer que não gosta caminho para o disco e colecionaram êxitos nos
disto”, disse o chef à agência Reuters. Este ano, anos 1970 e 80. A sua influência na música
a Autoridade Europeia para a Segurança dos negra e de dança não se esbateu até hoje.
Alimentos considerou a larva de farinha A caixa “Get on board the soul train: The
adequada para consumo humano e aprovou a sound of Philadelphia International Records
sua venda no mercado. Os insetos podem vir a volume 1” junta os primeiros oito álbuns lança-
ser uma fonte de alimento sustentável, e é nisso dos pela editora entre 1971 e 73, mais uns brin-
em que acredita Vayet, que cultiva a sua larva de des, prometendo assim inaugurar um projeto
farinha localmente. E embora possa soar pouco de reedição integral. Tudo começou, e começa,
apetitosa, é rica em proteínas, gorduras e fibras. com Billy Paul, aqui com três discos a meio
Pode ser usada inteira em saladas ou moída em caminho entre uma Soul com fortes reflexos da
farinha para massas, biscoitos ou pão. Para década anterior e as primeiras, ambiciosas,
Veyet, o desafio é duplo: conquistar a opinião agitações rítmicas e orquestrais dos novos
pública e aprender a combinar o gosto dos tempos. Harold Melvin & the Blue Notes
insetos com outros alimentos. estreiam-se em longa-duração através de “I
miss you”. Há romantismo requintado e admi-
rável apuro no canto, e um Teddy Pendergrass já

HOMEM ESCOCÊS em destaque. Contém “If you don’t know me


by now”, êxito à época e de novo em 1989 pelos

REENCONTRA Simply Red. O salto registado em “Back


stabbers”, do trio O’Jays, é notório e nele

CARTEIRA vislumbra-se enfim, de forma nítida, a estética


da editora: Funk e Soul numa síntese orquestral

ROUBADA NUM luxuosa e dinâmica, versos de observação social


e celebração da dança, um hedonismo utópico,

BAR HÁ 17 ANOS comunitário. O único álbum do havaiano Dick


Jensen para esta etiqueta, homónimo, é o

PRATICAMENTE
menos alinhado nos carris sonoros da casa, pop
melodramática reminiscente de um Tom Jones

INTACTA
ou Scott Walker do Pacífico. The Intruders
foram das primeiras escolhas de Gamble e Huff
para a nova editora e em “Save the children”
toda a doçura soul em manta instrumental
requintada está presente. O trabalho com mais
sementes plantadas é a estreia
homónima dos MFSB, ajunta-
mento fluido de músicos da casa
que lança os alicerces multicul-
turais, multissensoriais e
Um escocês cuja carteira foi roubada disse que não, mas acabou por se lembrar virtuosos do disco. “MFSB”
há 17 anos num bar recuperou-a, após a do episódio. Em 2004, esqueceu-se da (iniciais de “mother father
mesma ter sido encontrada num arbusto carteira no WC do bar e, quando voltou, sister brother”) é uma
perto de um pub. Ryan Seymour, 37 já tinha sido roubada. À exceção de 70 obra-prima visionária;
anos, ficou inicialmente confuso euros, o conteúdo estava praticamente tem salsa, jazz, tem visão.
quando a Polícia o contactou a perguntar intacto, incluindo um cartão de aluguer Bem-vindos ao big bang,
se tinha perdido a carteira. Primeiro de filmes de um videoclube. em direto de Filadélfia. ●
m

8 13.06.2021 Notícias Magazine

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OJOGO
GRANDE PREMIO Patrocinadores Institucionais

DE
CICLISMO
DOURO
INTERNACIONAL

À BELEZA DO DOURO JUNTA-SE ESTE NOVO


GRANDE PRÉMIO DE CICLISMO
QUE LEVA O DESPORTO A TANTAS LOCALIDADES REMOTAS DO NOSSO PAÍS
Veja os momentos mais vibrantes da prova em jn.pt e ojogo.pt
DE 10 A 13 DE JUNHO
10
JUN 1.ª ETAPA
TORRE DE MONCORVO - MOGADOURO | 140,2 KM
PARTIDA (12H00) – FIM LOCALIDADE DE TORRE DE MONCORVO, N220 12
CHEGADA (15H41) – AV. NOSSA SRA. DO CAMINHO JUN 4.ª ETAPA
(JUNTO AO MILLENNIUM)
RESENDE – S. JOÃO DA PESQUEIRA | 66,2 KM
PARTIDA (16H30) – PLACA ROTA DO ROMÂNICO, N222
CHEGADA (18H14) – AV. MARQUÊS DE SOVERAL (JARDIM DO CABO)
11
JUN 2.ª ETAPA
CARRAZEDA DE ANSIÃES – MIRANDA DO DOURO | 144,7 KM
PARTIDA (12H00) – JUNTO RESTAURANTE DO CARECA, N124
13
CHEGADA (15H48) – AV. ARANDA DE DUERO JUN 5.ª ETAPA
TABUAÇO - LAMEGO | 148 KM
12 PARTIDA (12H00) – MARCO 43
JUN 3.ª ETAPA CHEGADA (15H53) – AV. DR. ALFREDO SOUSA (CENTRO MULTIUSOS/JARDIM)
CRI RESENDE | 10,8 KM
PARTIDA 1.º CORREDOR (10H00) – RUA EGAS MONIZ
CHEGADA (12H26) – RUA JOSÉ MONTEIRO

Patrocinios Apoios

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alma- Susana Romana
naque Partida, Largada, Fugida

1 2 3

H j é feriado
Hoje f i d dde S
Santo
t António. P
Porém, se quiserem mesmo fes-
É normal que não tenham dado por t
tejar têm um subterfúgio legal:
ele, já que calhou a um domingo e ca- p
podem sempre dizer que foi o
lhou a uma pandemia, também. senhor
se juiz que mandou. Rui
A Câmara de Lisboa proibiu marchas e Fon
Fonseca e Castro, conhecido Começou na sexta o Euro 2020,
arraiais. Querem mão na anca e berra- com o juiz negacionista que
como aqui em versão 2021. Este ano esta-
ria? – aproveitem a campanha de ameaçou
ameaç de porrada o diretor nacio- va tão desligada do certame que
Moedas e Medina para as autárquicas. nal da PSP
PSP, ffez um vídeo a apelar à celebração nem sabia ao certo onde ia ser. De-
dos Santos Populares. Está mesmo a pedir um pois percebi: é como a pandemia,
novo êxito de Rosinha “Ele Não Enfia O Dele vai ser um bocadinho em todo o
(O Nariz Dentro da Máscara)”. lado. Bonita homenagem.

5 4

Uma das broncas da semana foi a O primeiro jogo de Portugal vai ser na
q
questão de Espanha alegadamente terça, contra a Hungria. O estádio pode-
passar
passa a exigir que quem cruzar as fron- rá estar cheio na sua capacidade máxi-
teiras terrestres
te vindo de Portugal apresen- ma. Espera-se um resultado positivo,
te um tteste negativo ou uma prova de vaci- menos ao nível de zaragatoas de adep-
nação.
nação Afinal, tratou-se de um erro não in- tos que mamaram da mesma cerveja.
tencional,
tencio já resolvido. Suspeito que alguém
na DGS espanhola tem um namorado em
Famalicão que queria mesmo era evitar
que ele a fosse visitar. “Vires cá amanhã?
Ó amor, não dá, a fronteira está fecha-
da. Não, tem nada a ver com o Pablo
do meu ginásio, é de lei, juro.” Entretanto, já se deu a debandada
de ingleses que estavam no Algar-
ve, que regressaram atabalhoada-
6 mente depois da crise de dalto-
nismo que fez Boris
Johnson retirar Portugal
da lista verde. Mas não
O erro deu azo a uma madrugada de conversas se preocupem, eles es-
diplomáticas entre ambos os países. A coisa azedou tão bem. A fazer
de tal modo que Portugal até ameaçou nunca mais dar umas incríveis férias
pontos a Espanha na Eurovisão. de praia na provín-
7 cia de Shitty
Weather Upon
Avon, com um bi-
E por falar em ingleses: nasceu a segunda descendên- quíni de lã revesti-
cia de príncipe Harry e Meghan Markle, uma menina do a tecido polar.
chamada Lilibet Diana em homenagem respetiva-
mente à avó e à mãe de Harry. Suspeito que a
Oprah está piursa por ter sido preterida, depois
de tanto que fez por eles.

8
10 13.06.2021 Notícias Magazine

@jornaisPT
Cidadania Impura
Valter Hugo Mãe
Por

No cimo do monte, subido o miradouro, as terras de Coura ainda se portam


como um afinador do Mundo. Parece que ensinam o Planeta a rodar sobre
si mesmo, mantendo a bênção dos dias, a fertilidade dos solos, a graça
da nossa vida, a esperança em alguma felicidade.

Mudei para dentro do campo, fora do centro de Coura e à tor veio soltar debaixo da janela comem ainda mais de-
vista da paisagem. A Natureza aqui chega a ser excêntri- vagar só para manterem a minha calma. São educadíssi-
ca. Sinto que me passa a Arca de Noé à janela, apresen- mas e descem um pouco a ver como passa o rio entre as
tando um a um os bichos que, perfeitos, sobrevivem à árvores e eu reparo que a água também vai mais lenta a
revelia da incúria humana. demorar por aqui.
Estava a ouvir o Pergolesi de cada dia quando súbito A melhor coisa é quando descemos a estrada e as ove-
um bando de pássaros veio parar sobre a minha cabeça e lhas vão em recolha e olham o carro como um animal es-
deviam ser três vezes muitos mil. Eram pequenos e co- túpido que não pasta. Contornam nossa presença ao
mentavam certamente como a música barroca chegou mando do pastor e seguem cheias de tarefas alimenta-
tão perto de explicar tudo sobre o divino. res, bolas de lã obedientes e sem caprichos. São os bichos
Agora, ando convencido de que as ovelhas que o pas- mais crédulos, as ovelhas. São inteiras à nossa mercê e
isso gera em mim uma profunda compaixão.

A ARCA DE NOÉ
Há um cavalo negro que fica numa leira por onde pas-
so. Se abrando, ele vem ansioso ver-me. Julgo que espera
umas carícias, alguma conversa ou um passeio. Não en-
tendo nada de cavalos, fico a fazer comparações certa-
mente disparatadas com o meu cão. Este cavalo é um bi-
cho de companhia que cresceu demasiado. Tenho pena
que não caiba numa casa, num canto do sofá.
Uns tipos chamam-se bêbados e riem. Os domingos à
tarde dão tempo para estas alegrias. Enquanto flores eu-
foricamente abrem por toda a parte, ouvem-se vozes es-
parsas que são altas para vencerem as distâncias. Há vizi-
nhos de um lado para o outro das montanhas. O conví-
vio é lonjura e conquista da lonjura. Eu ouço baixo o Per-
golesi porque não quero obrigar ninguém à minha fanta-
sia, mas tudo em torno desta casa virou sagrado. A Arca
de Noé mandou agora os jacarés. Acho que sobem jacarés
do rio. Ou é do livro que estou escrever. O que é verdade
anda misturado.
Fui com a Isabel ver o pôr-do-sol ao miradouro da Se-
nhora da Pena e parecia estarmos num documentário da
National Geographic em que fazem photoshop às cores.
A vista é inacreditável e o modo como o astro deita exu-
bera. O Sol, eis a prova, é voluptuoso e vai para a cama
cheio de véus de seda e tule. Eu e a Isabel achamos que
deve ter na cama alguém à espera que justifique tanta
vaidade. No cimo do monte, subido o miradouro, as ter-
ras de Coura ainda se portam como um afinador do
Mundo. Parece que ensinam o Planeta a rodar sobre si
mesmo, mantendo a bênção dos dias, a fertilidade dos
solos, a graça da nossa vida, a esperança em alguma feli-
cidade. Está tudo como certo. Tudo certo.
Que curiosa simplicidade a de nos sentirmos apazi-
guados pela simples coisa de anoitecer. E sabermos que
voltamos a casa com vontade de gritar para o outro lado
da montanha a dizer que, afinal, mesmo sem copos tam-
bém estamos um pouco bêbados.● m

O AUTOR ESCREVE DE ACORDO COM A ANTERIOR ORTOGRAFIA.

Notícias Magazine 13.06.2021 11

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alma-
naque
A SEMANA


QUE VEM
POR Catarina Silva

OS ROSTOS SEGUNDA-FEIRA
Ivo Rosa
Acaba o teletrabalho


Juiz de instrução
criminal
obrigatório
O magistrado recusou
os pedidos de nuli- Acaba o teletrabalho obrigatório, os restaurantes
dade e enviou José alargam o horário e os adeptos regressam às banca-
Sócrates e Carlos das dos recintos desportivos. Começam em Portale- TERÇA-FEIRA
Santos Silva para gre as Jornadas Parlamentares do PSD, que quer
julgamento, no âmbito atualizar as propostas do partido para a reforma da Portugal defronta
Justiça. Os bolseiros científicos voltam a manifes-
da Operação
Marquês. O Ministério tar-se em Lisboa, em frente ao Ministério da tutela, a Hungria no Europeu
Público ainda pode dois meses após o primeiro protesto. Ainda na capi- e acaba censo de aves
recorrer. tal, os agricultores vão
Os bolseiros de investi-
contestar a política de gação científica vão exi-
A seleção portuguesa O Festival South Music é
preços baixos à produção. defronta, neste dia, a uma feira profissional que
gir prorrogação do pra-
pretende dar a conhecer os
Eduardo Pinheiro Começa a conferência zo de todas as bolsas Hungria, na fase de
projetos musicais algarvios
Candidato à Câmara anual sobre cibersegu- cujo trabalho foi afeta- grupos do Europeu ao meio e ajudá-los a saí-
do Porto rança, C-Days, no Porto. do pela pandemia 2020. O jogo, que acon- rem da região
tece em Budapeste,
O secretário de Estado começa às 17 horas. Termina, nesta data, o Censo
da Mobilidade, antigo de Aves Comuns, promovido pela Sociedade
vereador e presidente Portuguesa para o Estudo das Aves, que faz um
da Câmara de Matosi- retrato da nossa fauna avícola. A data marca
nhos, foi a escolha também o arranque do Festival South Music, em
do PS para concorrer Faro. No mesmo dia, o Vinha Boutique Hotel, novo
contra Rui Moreira. hotel de luxo em Vila Nova de Gaia, abre portas
quase um ano depois da previsão inicial. A nova
unidade de cinco estrelas, num investimento que
José Silvano chegou aos seis milhões de euros, foi construída na
Secretário-geral do PSD antiga Quinta Fonte da Vinha.

O deputado do PSD,
que vai a julgamento
COMEÇA O JULGAMENTO QUARTA-FEIRA
DE RICARDO SALGADO
no caso das alegadas
falsas presenças na
GREVE DOS TRABALHADORES
DA TRANSTEJO/SOFTLUSA
Assembleia da Repú-
blica, qualificou como
“absurda” a imputação O início do julgamento começa o interrogató-
que lhe é feita, reite- de Ricardo Salgado foi rio das sete pessoas
adiado para este dia. A indiciadas pela morte
rando estar inocente.
cimeira de líderes da do ex-futebolista Os funcionários da Trans-
NATO, a primeira com a
participação do novo
Diego Maradona. tejo/Softlusa, que liga
presidente dos EUA, Joe Para o Ministério Público,
a morte de Maradona,
Lisboa e a Margem Sul,
Biden, tem lugar em
Bruxelas. Na mesma
aos 60 anos, foi fruto
de falha ou negligência
voltam à greve por au-
data, na Argentina, da equipa médica mentos salariais. Biden
e Putin encontram-se em
“LEVO MALA PARA UM MÊS... Genebra. A relação entre


E TABACO TAMBÉM” EUA e Rússia vive mo-
mento de grande tensão.
Fernando Santos
Selecionador nacional, a propósito do Euro 2020,
que vai durar precisamente um mês, mostrando-
-se convicto, tal como em 2016, de que a sele-
ção portuguesa vai chegar longe na prova

12 13.06.2021 Notícias Magazine

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5ª QUINTA-FEIRA
S SÁBADO
Portugal joga com
a Alemanha e Festas


de São João de Braga
A seleção nacional de futebol joga, neste
SEXTA-FEIRA dia, com a Alemanha, em Munique (17
horas), no segundo jogo de Portugal no
Euro 2020. No mesmo dia, o Theatro
Circo recebe a Gala Sanjoanina, que conta
LANÇAMENTO EUROPEU DO com a participação da cantora Ana Baca-

PROGRAMA ERASMUS+ EM VIANA


lhau, no âmbito das Festas do São João de
Braga, este ano dentro de portas, na
icónica sala bracarense. No Porto, no Coli-
O novo programa Eras- O juiz Carlos Alexandre vai seu, há “I AM Humor Especial de S. João”,
mus+ da Comissão Eu- decidir se os 27 elementos às 21 horas, com Fernando Rocha, Miguel
do grupo Hammerskins,
ropeia e o seu regula- 7 Estacas, Hugo Sousa, João Seabra, a
Fim do protesto dos mento será lançado
oficialmente, em Via-
acusados de crimes de
ódio, vão a julgamento dupla Quim Roscas & Zeca Estacionâncio
e Toy. No mesmo dia, atuam Pedro Abru-
funcionários judiciais na do Castelo, no âm-
bito da presidência
para os 9.º, 11.º e 12.º
anos. O debate instru-
nhosa no Super Bock Arena – Pavilhão
Rosa Mota, no Porto, e Ana Moura no
portuguesa do Conse- tório do megaprocesso Campo Pequeno,
Termina, neste dia e ao fim de um mês, a greve de lho da União Europeia. contra o grupo neonazi em Lisboa. Nesta O 23.º Congresso
uma hora diária dos funcionários judiciais, para O programa para os se- Hammerskins arranca data, acabam as elei- do PS está marca-
reivindicar o estatuto profissional. Na mesma data, tores da educação e no Tribunal de Instru- ções para secretário- do para os dias 10
e 11 de julho, em
Marcelo Rebelo de Sousa completa cem dias do seu formação, da juventu- ção Criminal de Lisboa. -geral do Partido 13 pontos diferen-
segundo mandato presidencial. Neste Dia Nacional de e do desporto (2021- Na capital, terminam Socialista. tes do país
em Memória das Vítimas dos Incêndios Florestais, -2027) envolverá mais as candidaturas para
começa o Fórum de Inovação Social, no Altice de 28 mil milhões de o quinto concurso de
Fórum de Braga, em formato de streaming. Termina euros para financiar renda acessível da au- DOMINGO
o período de consulta projetos de mobilidade tarquia. O prazo para as
pública ao Estatuto dos
Profissionais da Cultura.
Só nos primeiros 13
dias, a greve parcial
para fins de aprendiza-
gem e vai abranger dez
candidaturas a vagas
para astronautas da
COMEÇA A VACINAÇÃO
E Anselmo Ralph atua
no Campo Pequeno,
dos funcionários judi-
ciais levou à suspensão
ou interrupção de mais
milhões de cidadãos
europeus. Neste dia,
Agência Espacial Euro-
peia foi estendido até
DA FAIXA ETÁRIA DOS 30
em Lisboa. de duas mil diligências termina o ano letivo este dia. Neste dia, começa a vacinação das pessoas
com 30 anos ou mais, segundo garantiu a
task force, cumprindo assim o calendário
KÁTIA estabelecido até agora pelas autoridades
de saúde. Começam, nesta data, as Olim-
GUERREIRO píadas Internacionais de Informática,

CELEBRA 20
em Singapura. Portugal volta a marcar
presença com quatro alunos que vão

ANOS DE FADO tentar trazer medalhas para


casa. No mesmo dia,
Sérgio Godinho leva
O espetáculo “20 Anos “Os Fadinhos do
de Fado”, de Kátia Godinho” ao
Guerreiro, está marca- Cine-Teatro
do para este dia, no Garrett, na
Teatro Tivoli BBVA, em Póvoa do
Lisboa. A fadista cele- Varzim.
bra duas décadas de
carreira. No mesmo
dia, os Moonspell co-
memoram 25 anos de
“Irreligious”, segundo
álbum da banda, no
LIV - Lisboa ao Vivo.

Notícias Magazine 13.06.2021 13

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PEDRO KIRILOS/GLOBAL IMAGENS

MAIS UM VERÃO
SEM FESTAS E
ARRAIAIS. E TUDO
FICARÁ COMO
DANTES?
Mais um ano sem romarias, procissões nas ruas,
santos populares, marchas na avenida, balões
no ar, fogo de artifício no céu, carrosséis a girar,
farturas em rulotes. Há uma economia quase
parada, em suspenso, em agonia. Mas nem tudo
estará perdido. As tradições não se vergam
e a saudade poderá vencer o medo.

TEXTO
Sara Dias Oliveira

14 13.06.2021 Notícias Magazine

@jornaisPT
Notícias Magazine 13.06.2021 15

@jornaisPT
O
MAIS UM VERÃO SEM FESTAS E ARRAIAIS. E TUDO FICARÁ COMO DANTES?

Governo proibiu festas e arraiais até ao final de agosto. Mais um tida, recupera-se tudo rapidamente, nada se perde, este amor à causa está no nos-
verão sem romarias, procissões, santos populares, festas dedi- so coração.” Gente do movimento associativo está sempre pronta e dá tudo. Há
cadas aos emigrantes. Há uma economia em sofrimento, uma quem lhe diz que será tudo melhor, que trabalhará dia e noite sem parar, que a ci-
indústria parada. Há desânimo e desalento. Lisboa não teve San- dade ficará linda e as marchas ainda mais bonitas.
to António. O São João do Porto não terá fogo de artifício, nem Em 2019, a festa do Senhor de Matosinhos juntou cerca de dois milhões de visi-
concertos, apenas três zonas de diversão na rotunda da Boavis- tantes ao longo de quase um mês. Em 2020, com a pandemia, a procissão não saiu,
ta, nas Fontainhas e em Lordelo do Ouro. O embate económi- a imagem do santo circulou pelas ruas num carro dos bombeiros. Este ano, houve
co é elevado, o impacto simbólico aperta o coração. Como será missa, a igreja foi decorada e ornamentada, a procissão não saiu e a imagem do san-
o regresso das festas? A balança pende para a euforia. to também não. Não há carrosséis nem farturas, montou-se uma exposição de fo-
Lisboa não festejou a noite de Santo António. É o segundo ano tografias e cartazes da festa em frente ao edifício dos Paços do Concelho, que ali
sem desfile das marchas populares, sem casamentos de Santo ficará todo o verão. “No dia em que foi colocado um tapete de flores, na exposição,
António, sem bailaricos. Pedro Franco, presidente da Associa- houve uma senhora que percorreu o tapete e se ajoelhou em frente à imagem do
ção de Coletividades do Concelho de Lisboa e presidente do júri santo a rezar”, recorda Luísa Salgueiro, presidente da Câmara de Matosinhos.
das marchas populares, fala em “mais um ano desgraçado”, mas “A nossa preocupação foi a de manter a essência da festa viva na vida das pes-
entende a decisão de não arriscar comprometer meses por dias de festa. “Natu- soas, sobretudo na questão religiosa.” A autarca sente a tristeza da população,
ralmente que há um grande impacto para as nossas coletividades que organizam mais um ano sem festa, assegura que a maioria entende as circunstâncias e que
as festas, as marchas, e para os comerciantes dos bairros históricos.” São 400 co- não tem havido reações negativas. Não tem números do abalo económico para a
letividades que, garante, “sempre respeitaram as ordens da DGS [Direção-Geral restauração, comércio local, atividades culturais, sabe que todos foram prejudi-
da Saúde] e as regras emanadas do Governo”. “A pandemia não é para brincadei- cados, mas compreende a posição do Governo que coincide com a perspetiva do
ras, isto mata.” Município que já tinha decidido não avançar com uma das romarias mais emble-
É uma economia de mãos atadas e com um nó apertado na garganta. Os ensaia- máticas do norte do país nos moldes habituais. “São as contingências do período
dores que vivem das marchas, as costureiras que se ocupam das roupas dos des- que vivemos.” E afasta qualquer perigo da festa perder importância e imponên-
files, compositores das letras e das músicas, o pessoal que instala arcos e palcos, cia. “Haverá um regresso entusiástico às festas, as pessoas estão com muitas sau-
os que tratam do calçado. “É uma economia que pára”, constata Pedro Franco. No dades”, prevê Luísa Salgueiro.
ano passado, a câmara deu 7 500 euros a cada marcha, este ano subiu para 15 mil, Em Lamego, a festa em honra de Nossa Senhora dos Remédios é o ponto alto e
metade do apoio habitual de 30 mil. Pedro Franco olha também para o país e para festivo do ano, arrasta multidões e muitos emigrantes de volta à terra. O progra-
o impacto que a pandemia está a causar na economia social, nas cerca de 31 mil ma habitual tem momentos musicais, marcha luminosa, batalhas de flores, cor-
coletividades, nos mais de 400 mil dirigentes e quatro milhões de associados. tejo etnográfico, a procissão em que os andores, que carregam imagens sagradas,
“Noventa e nove por cento trabalham graciosamente”, enfatiza. são puxados por juntas de bois. “No ano passado, transformámos as festividades
Pedro Franco tem atendido chamadas de gente em lágrimas e vozes embarga- numa homenagem com alguns momentos culturais. Este ano, estamos a traba-
das, comove-se também, mas pressente que o tempo perdido será recuperado do lhar em vários planos que vamos ajustar em função do contexto da altura”, avan-
dia para a noite. “As pessoas estão ansiosas, no dia em que for dado o sinal de par- ça Ana Catarina Rocha, presidente da Comissão de Festas dos Remédios e verea-

6 Lisboa, pelo segundo


ano consecutivo, não teve
marchas de Santo
António na avenida

E Em 2019, a festa do
Senhor de Matosinhos
recebeu cerca de dois
milhões de visitantes

6 Quim Barreiros vê
um povo com vontade
de rua, de festas,
de bailaricos

16 13.06.2021 Notícias Magazine

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AMIN CHAAR/GLOBAL IMAGENS
“As romarias são
rituais que carregam
as energias sociais
e carregam também
o sentimento de
pertença”
JOÃO TEIXEIRA LOPES
Sociólogo, professor catedrático

“As festas são o


autêntico pulmão
da população.
A população respira
e renova-se a partir
das festas”

PAULO SPRANGER /GLOBAL IMAGENS


ALBERTINO GONÇALVES
Sociólogo do Instituto de Ciências Sociais
da Universidade do Minho

faturação anda pelos 75%, no ano passado chegou aos


85%. Em 2020, nem 5% do setor teve trabalho, nes-
te não deve chegar aos 30% – o que, a confirmar-se, é
uma excelente perspetiva.
A proibição de festas e arraiais custa a engolir. “Re-
pugnamos e não nos revemos nestas políticas. Ha-
MIGUEL PEREIRA/GLOBAL IMAGENS

vendo promotores responsáveis, cumprindo os pla-


nos de contingência da DGS, é exequível fazerem-se
eventos”, defende. “Dentro dos estádios, dentro dos
parques, há controlo, há cumprimento de regras. Apli-
cando-se isto às festas populares, qual era o proble-
ma de delegar às empresas locais ou às câmaras a cons-
tituição destes parques?”. Era preferível ter espaços
alternativos de diversão devidamente organizados,
até porque “ao não se fazerem festas e arraiais, have-
rá uma sobrecarga nas praias e nos shoppings”, repa-
ra. E o argumento da prudência não cola. “É pura de-
magogia, é para desresponsabilizar essa vontade de
dora da Cultura da Câmara de Lamego. Em 2020, houve missa e novenas, mas a querer controlar.”
procissão não saiu. Este ano, não se sabe, uma vez que as festas acontecem de 27 Luís Paulo Fernandes conhece o país de ponta a ponta. Por um lado, vê o desâni-
de agosto a 9 de setembro. mo do setor que representa, muitos que se tornaram camionistas e padeiros e já
Seja como for, a romaria acontecerá, falta acertar em que moldes. “Temos uma não voltarão. Do outro, a sofreguidão da gente. “Estão todos com vontade de ir
perspetiva otimista, consideramos que ainda se vão impor alguns cuidados, al- para a rua. Não impeçam que as pessoas criem parques alternativos às festas”, in-
gumas restrições e algumas medidas sanitárias. A parte mais emocional, mais re- siste. Nem oito, nem 80. “A vacinação está a correr bem, os parques alternativos
ligiosa, as celebrações irão manter-se, naturalmente no contexto que na altura estão a correr bem e estão bem organizados, as autoridades policiais podem agir
for permitido.” A comissão de festas tem consciência do enorme impacto na eco- para que a lei seja cumprida, se o Rt [índice de transmissibilidade] for superior ao
nomia da região a vários níveis. Mas a fé é inabalável. estipulado ou estiver em risco, encerramos no dia seguinte. Isto é ser corajoso.”
“Achamos que nada se perde do ponto de vista do que é o interesse das pessoas O presidente da APIC teme que se percam costumes e tradições, que os even-
pelo território e pelo património e do ponto de vista religioso.” Nada se perde, tos populares se adaptem aos novos tempos, aos modelos híbridos das novas tec-
tudo se recupera. “A fé é a mesma”, sustenta. nologias, e que assim se perca a identidade de um povo. Que o orgulho na tradi-
ção deixe de ser o que é ou era.
QUEBRAS DE FATURAÇÃO, VIDAS PARADAS NAS RULOTES Para Francisco Bernardo, presidente da APED – Associação Portuguesa de Em-
A indústria que faz rolar festas e romarias faz contas à vida. São mais de sete mil presas de Diversões, há raízes que uma pandemia ou decisões de um Governo
empresários e microempresas espalhados pelo país, carrosséis, carrinhos de cho- não conseguem arrancar por dá cá aquela palha. “Quero acreditar que a tradição
que, restaurantes itinerantes, bandas, palcos móveis, fogo de artifício, rulotes e a cultura do nosso povo não vão ser eliminadas desta forma. O povo português
de farturas, pipocas, algodão-doce. Tudo o que alimenta a diversão. Luís Paulo não se desliga assim das tradições do seu país. O povo está sedento de liberdade,
Fernandes, presidente da Associação dos Profissionais Itinerantes Certificados está oprimido, logo que haja uma brecha, volta para a rua.”
(APIC), adianta cálculos e não cala a tristeza e a indignação. Este ano, a quebra na Esta é uma parte, há outra mais dura. Há um setor que anima as festas a sofrer.

Notícias Magazine 13.06.2021 17

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MAIS UM VERÃO SEM FESTAS E ARRAIAIS. E TUDO FICARÁ COMO DANTES?

RUI MANUEL FERREIRA/GLOBAL IMAGENS


Há vidas paradas dentro de rulotes, famílias descrentes no futuro. É a burocracia
que aumenta no atual contexto, a dualidade de critérios, a falta de alternativas.
“Não se pode falar em prejuízos quando não se trabalha e a receita é zero.” Fran-
cisco Bernardo não apresenta números ou percentagens, fala de angústia, deso-
rientação, pés sem chão, mais um verão sem romarias, sem sustento. “Ninguém
sobrevive sem dinheiro, a grande percentagem tenta arranjar trabalho, criar al-
ternativas para sobreviver.” E ninguém se pode dar ao luxo de recusar trabalho,
é aproveitar o que há, cumprindo todas as limitações impostas.

QUIM BARREIROS E NEL MONTEIRO, CANTORES A ZERO


No ano passado, por esta altura, Quim Barreiros sabia o número exato de concer-
tos que tinham saído da sua agenda e adiados para 2021. Sabia-os de cor, 124 es-
petáculos, a maioria não chegou a acontecer. “Está como no ano passado, tudo a
zero, outro verão sem trabalho”, lamenta. Pouca coisa em perspetiva, o que tem
marcado está em dúvida, a aguardar confirmação. “Todos os dias, há indicações,
aqui pode-se, ali não se pode. É mais um verão sem emigrantes, podem vir alguns,
mas não virão muitos.”
Quim Barreiros não esteve parado durante o confinamento, criou novas canti-
gas, lançou um disco para celebrar os 50 anos de música gravada, ainda compôs a
canção “Vamos todos à vacina”. O cantor não tem dúvidas, há vontade de cantar,
dançar, celebrar. “Está tudo à espera de ordens, depois das autoridades darem luz
verde, salta tudo para a rua. Quem não tem saudades de uma cerveja, de uma fes-
ta popular, de um bailarico? Isto tem de abrir e vai tudo voltar ao normal.” Será
imediato, acredita, como um clique.
Nel Monteiro não está tão otimista, sem estrada há ano e meio, um concerto
ontem, um casamento em setembro, antevê que o regresso ao verão das festas
seja feito aos poucos. “Portugal é um país de festa, mas não vai ser muito fácil vol-
tar ao que era, vai sempre haver um bocado de medo dos ajuntamentos. Se ca-
lhar, no primeiro e no segundo ano será um bocadinho assim”, diz. Uma retoma
com receio, antevê.
Neste momento, o coração vive apertado, sem palcos, sem música ao vivo, sem
festas. Nel Monteiro vai desabafando. “Mais um verão sem trabalhar, sem festas
e arraiais. Todos nós, estamos mesmo em baixo. Qualquer pessoa das artes, an-
tes da pandemia, fazia a vida de acordo com a agenda. Há ano e meio, nada entra de artifício do distrito de Viana do Castelo, com 120 anos de existência e filiais na
e tudo sai. Não temos ordenado, o Estado não nos dá apoios.” E acrescenta, com Madeira e em Angola, teve uma quebra de 95%, menos cerca de 1,5 milhões de
desalento: “Somos fechados e proibidos de fazer espetáculos por causa de uma euros de faturação. “Nunca fomos proibidos de trabalhar, não temos é clientes a
pandemia, mas somos livres de morrer à fome”. encomendar. Estamos a caminho de 18 meses a faturar 5% do que era usual”, re-
A Pirotecnia Minhota, em Ponte de Lima, a maior empresa de fabrico de fogo vela David Costa, um dos proprietários da empresa. Dos poucos mais de 30 fun-

18 13.06.2021 Notícias Magazine

@jornaisPT
a A Nossa Senhora i O cantor popular q O São João, alegria ao povo no meio de tudo isto, mas os governantes não entendem da mes-
dos Remédios, em Lamego, Nel Monteiro tem mais em Braga, não será ma forma.”
está a ser planeada um verão sem concertos igual a 2019
O EMBATE ENTRE O MEDO E A EUFORIA
O verão é tempo de férias, de festas e romarias, das visitas de emigrantes. “As fes-
tas são rituais que conseguem, ainda que por algumas horas, virar o Mundo às

PAULO JORGE MAGALHÃES/GLOBAL IMAGENS


avessas, nessa efervescência coletiva, de comunhão”, salienta o sociólogo João
Teixeira Lopes. Sem essas festas populares, que acontecem por todo o país, há la-
ços que se quebram. “Esses rituais carregam as energias sociais e carregam tam-
bém o sentimento de pertença”, adiciona.
Por um lado, há o medo de multidões e de ajuntamentos sustentado em medi-
das restritivas do contexto pandémico. Por outro, a euforia, a saudade e a vonta-
de fechadas numa panela de pressão. “As pessoas têm uma imensa necessidade
de contacto e de catarse.” João Teixeira Lopes não sabe como o medo e a euforia
se vão cruzar, o que acontecerá. “Se a pós-pandemia vai trazer euforia e uma gran-
de necessidade de as pessoas se tocarem, se juntarem? Não sei, não consigo pre-
ver o futuro. Os dois cenários são possíveis.” Talvez nada seja da mesma manei-
ra. “Os modelos matemáticos falham, as pessoas são pessoas, os comportamen-
tos humanos têm uma dose de imprevisibilidade que escapa à folha de Excel.”
São dois anos que se perdem de festas e romarias, mas o povo empenha-se nes-
tes momentos coletivos, seja a fazer e a organizar, seja a desfrutar. Nada está per-
dido, segundo Albertino Gonçalves, sociólogo do Instituto de Ciências Sociais
da Universidade do Minho. Mesmo que algumas festas, ao longo dos anos, te-
nham perdido a sua feição original e “o menu completo de emoções”, a vontade
persiste e toda a carga simbólica não desaparece de um ano para o outro. Seja como
for, cada festa que não se realiza é uma falha que tem impacto social, simbólico,
coletivo. “As festas são o autêntico pulmão da população. A população respira e
MARIA JOÃO GALA /GLOBAL IMAGENS

renova-se a partir das festas”, sustenta. Tal como as feiras que, por vezes, se mis-
turam com as festas, experiências muito próprias em que se mostram os frutos
do trabalho, em que as pessoas se sentem “heroínas das suas obras”. “Um mo-
“Somos fechados mento em que as pessoas veem o seu valor reconhecido.”
e proibidos de O ADN DAS COMUNIDADES QUE NÃO SE APAGA
fazer espetáculos Festas significam comunidades que se cruzam, que se cimentam, que criam laços.
por causa de uma “Os romeiros que andam de freguesia em freguesia a dançar e a cantar são um espe-
táculo em si que se sente até às entranhas.” Albertino Gonçalves lembra a força des-
pandemia, mas tas manifestações coletivas. “É algo que está no ADN social, que está nas entranhas
somos livres de e não desaparece.” Por isso, este ano há lágrimas outra vez. “As pessoas vão sentir a
perda e não vão parar de carpir as festas.” Mas o que não se faz este ano, não desapa-
morrer à fome” rece, não sai da memória. “Um São João que não se faz é um São João que obceca, há
NEL MONTEIRO uma enorme tendência para colmatar a falha e fazer outra vez.” Para recuperar não
Cantor apenas o que se perdeu na festa, mas tudo o resto, todo o tempo perdido. “As festas
vão ser canais de sensações e emoções que vão muito além do que é uma festa.”
Não há borracha que consiga apagar o passado, usos e costumes, tradições de
anos e de séculos. “Estes acontecimentos coletivos não acontecem por acaso, não
aparecem de um momento para o outro, dão muito trabalho, implicam organi-
zação, pessoas e investimento. As festas que são fortes vão continuar e ser for-
tes, as menos fortes podem fraquejar”, conclui Albertino Gonçalves.
A fruição cultural mudou com a pandemia. Há um novo contexto que não pode
cionários, restam três. Quase não há trabalho, uma ser ignorado, mais tecnológico, provavelmente mais abrangente, mais distante
das raras encomendas dos últimos meses chegou da também. “Haverá uma tendência para insistir nos formatos híbridos”, diz João
Figueira da Foz que vai celebrar a noite de São João Teixeira Lopes. Até porque, sublinha, foi feito um investimento nas novas tec-
em seis praias, numa extensão de 20 quilómetros, nologias que será necessário rentabilizar. Há um antes e um depois da pandemia
com fogo de artifício. e há, frisa o sociólogo, “o conformismo doméstico” que se acentuou nas atuais
David Costa entende que há festas e romarias em al- circunstâncias. A tendência para a domesticidade, a vontade de eliminar atritos
deias e vilas que poderiam acontecer com os devidos cui- por comodismo, a reorganização de horários, a fruição cultural no sofá de casa, a
dados, cumprindo as regras estipuladas. “Os nossos go- preguiça social. “A ideia de uma sociedade sem contacto é uma ideia perigosa.”
vernantes preferem sacrificar as nossas festinhas em prol Sem contacto perdem-se ligações sociais.
do turismo”, comenta. Um verão sem festas e sem fogo Albertino Gonçalves concede a tendência para o digital, para o online que já se
no céu não é a mesma coisa. “Cria alguma tristeza, algum apodera de muitas festas. O sociólogo admite essa vertente. “Há uma transfigu-
desalento. O fogo de artifício cria um certo fascínio.” ração das festas do digital, dos concursos, das televisões, por exemplo.”.
A Pirotecnia Minhota vive dia após dia, as despesas Hoje, 13 de junho, Dia de Santo António, Pedro Franco estará numa sessão so-
fixas são parcelas a somar, as receitas mingaram de uma forma nunca antes sen- lene do Santana Futebol Clube, de Campolide, que assinala cem anos de vida.
tida, é complicado aguentar muito mais tempo. David Costa teme que as tradi- Tem certeza de que se vai comover, confessa. Amanhã, 14 de junho, o país entra
ções das pequenas festas se percam. “Um ano sem fazer, outro ano sem fazer, há numa nova fase de desconfinamento, o comércio e a restauração alargam horá-
coisas que se perdem, perdem-se tradições por desabituação, porque se deixam rios, respiram melhor. Nel Monteiro, apesar de tudo, vai mantendo a esperança.
de fazer.” Este verão, em seu entender, poderia ser diferente. “Fazia sentido dar “Este verão está feito. Para o ano, estaremos cá para ver.” ● m

Notícias Magazine 13.06.2021 19

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DEZ HORAS E QUATRO COMBOIOS:
A VIAGEM POSSÍVEL ENTRE LISBOA E MADRID
Os atrasos no Ferrovia 2020 e a falta de aposta na alta velocidade
levaram a que, em 2021, Portugal esteja mais isolado do que
nunca em termos ferroviários. Viajar sobre carris entre as duas
capitais ibéricas exige mudanças, paragens e tempo livre
de sobra para passar dentro das automotoras.

TEXTOCarlos Cipriano, Diogo Ferreira Nunes


e Ruben Martins
FOTOGRAFIA Leonardo Negrão

20 13.06.2021 Notícias Magazine

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Lisboa

C
om Lisboa e Madrid separadas por 600 quilóme- de autocarro. “Na estrada, não há transbordos, mas o comboio é M A aventura até Madrid
tros, as melhores práticas recomendariam que a muito melhor em termos de comodidade. O comboio é um boca- começa antes das 9
viagem fosse feita de comboio. Mas não há ligação dinho mais rápido do que antigamente só que prefiro as carruagens horas. É fundamental ir
direta. Quem se atrever a fazer a deslocação em via antigas às automotoras.” aos cafés na Gare do
ferroviária tem de se preparar para a aventura, mu- Quando João começou a viajar entre a capital e o Crato, Lisboa e Oriente antes da viagem
nir-se de paciência e ter uma boa dose de tempo li- Madrid já estavam ligadas pelo comboio há 59 anos. Foi em 23 de porque nos comboios que
vre. Em 2021, a única viagem possível sobre car- julho de 1943 que arrancou a viagem entre as duas capitais. Três ve- se seguem não há bebida
ris entre as duas capitais ibéricas leva mais de dez zes por semana, o Lusitânia partia às 19.20 horas da estação do Ros- nem comida a bordo
horas e implica mudar de comboio três vezes. sio e chegava pelas 9.30 horas a Delícias, já em Madrid. As 13 horas
No início, a culpa foi da pandemia. Mas desde de percurso incluíam as formalidades alfandegárias e não faltava o
março do ano passado que não há uma ligação fer- luxo na restauração e nas camas, a cargo da Wagons Lits. A partir do
roviária direta entre Lisboa e Madrid porque o Lu- verão de 1955, o Lusitânia passou a partir de Santa Apolónia e, em
sitânia Comboio Hotel foi suspenso e não tem ha- 1961, tornou-se num comboio diário. Em 1969, a estação terminal
vido vontade (ou capacidade) do Governo portu- mudou-se de Delícias para Atocha.
guês em convencer “nuestros hermanos” (que neste particular
têm sido muito pouco irmãos) a retomar aquele serviço que era “Caganito sobre carris”
uma parceria entre a CP e a Renfe. João segue numa velha Allan, hoje com um ar apresentável, devi-
A nossa viagem começa em Santa Apolónia às 8.45 horas numa damente lavada e sem grafitos. Trata-se de uma automotora diesel
sexta-feira de maio. Até ao Entroncamento, viajamos numa auto- formada por um só veículo e cujo interior é um salão com 94 luga-
motora que os ferroviários apelidam ironicamente de “Lili Cane- res sentados, bastante apertados e demasiado próximos, já que obri-
ças”. É velha, mas parece nova. As UTE (Unidades Triplas Elétricas) ga a uma intimidade de joelhos e pernas pouco desejável, pelo me-
foram construídas na Sorefame nos anos 60 do século passado, mas nos, em tempos de covid.
foram sujeitas a um rejuvenescimento em 2003, que lhes deu um Não é confortável. A Allan é barulhenta, sacode-se, bamboleia, vi-
ar mais moderno, além de um óbvio aumento do conforto. Podem bra, saltita. É talvez o material da CP menos adaptado para fazer uma
circular a 120 km/h e têm capacidade para 264 passageiros. Circu- viagem de 174 quilómetros ao longo de duas horas e 50 minutos.
lam hoje em praticamente todas as linhas eletrificadas a norte do “Ui, é isto?! Parecia um caganito sobre carris, que só tinha a cabe-
Tejo, assegurando sobretudo ligações regionais. ça. Foi chocante quando vimos o comboio.” Nelson veio com Ca-
Chegados ao Entroncamento, temos apenas três minutos para tarina, do Porto, e nem queria acreditar quando viu que era naque-
apanhar a ligação para Badajoz. Não se trata da ligação oficial. A ver- la automotora que iria viajar até Badajoz. “Parece um autocarro so-
dadeira ligação para a Linha do Leste obriga quem vem de Lisboa a bre carris”, diz Catarina. Mas, perante o aspeto limpo da Allan, os
esperar uma hora e três minutos na estação do Entroncamento, au- jovens questionaram-se até se o comboio seria novo. Nada disso.
mentando assim desmesuradamente o tempo de viagem. Foi o que Há uma explicação.
fez João, 50 anos, que vai para o Crato e partiu de Lisboa no Inter- Na verdade, é um comboio antigo. As Allan foram compradas à
cidades que saiu às 8.15 horas de Santa Apolónia. Quem preferir ar- Holanda nos anos 50 do século passado e foram das primeiras au-
riscar os três minutos de ligação no Entroncamento, pode escolher tomotoras a diesel que circularam em Portugal (a par das Nohab,
o Regional que sai às 8.45 horas de Lisboa. importadas da Suécia). As automotoras holandesas circularam em
A viagem entre Lisboa e o Crato fá-la João uma vez por mês des- grande parte da rede, mas marcaram sobretudo a geografia ferro-
de 1992. Houve um período em que a deslocação teve de ser feita viária das linhas do Oeste e da Lousã. Em finais dos anos 1990, so-

Notícias Magazine 13.06.2021 21

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DEZ HORAS E QUATRO COMBOIOS: A VIAGEM POSSÍVEL ENTRE LISBOA E MADRID

Entroncamento

a Fora das horas de


ponta, é fácil encontrar
um lugar sentado no
Regional que liga Lisboa
ao Entroncamento. As
janelas permitem apreciar
a paisagem ribatejana e
mais de uma dezena de
estações e apeadeiros
da Linha do Norte

freram uma profunda remodelação. As 1.ª e 2.ª classes e respetivas


casas de banho desapareceram, eliminou-se o furgão dedicado ao
transporte de mercadorias e os hall de entrada e transformou-se
toda a caixa num único salão com 94 lugares. Objetivo: prestar ser-
viço suburbano no agora extinto ramal da Lousã.
Depois de mais 20 anos de serviço, foram sendo progressivamen-
te encostadas, sobrando apenas quatro, que estão afetas à Linha do
Leste. A viagem entre o Entroncamento e Badajoz é realizada num
dos últimos exemplares desta espécie em vias de extinção. Conta-
da a história da vetusta composição, os turistas reagem com um
surpreendente “Uau!”.
Com as promoções, o bilhete entre Porto e Portalegre ficou por
cerca de 13 euros, acrescentando a viagem até Badajoz com a com-
pra do ingresso a bordo. Na página da CP, apenas é possível comprar
até Elvas – não é permitida a venda do bilhete para Badajoz, que é
apenas mais uma paragem. Também nas viagens entre o Porto e Vi-
go, só é possível comprar bilhete nas estações.
“O comboio abana um bocado mas é bonita a vista”, assinala a ra-
pariga, pouco depois de partir do Entroncamento. A beleza deve-
-se à proximidade com o rio. “Estou muito surpreendido, porque
até já passámos junto ao castelo de Almourol. Não estava nada à es-
pera porque já vi o castelo em muitos postais. Foi giro ter-nos apa-
recido logo à frente”, acrescenta o amigo. Até 2012, o comboio para Madrid passava sempre pelo Ramal de M O bilhete para chegar
Até Badajoz a viagem é monótona mas, como testemunham Nel- Cáceres, entre Torre das Vargens e Marvão-Beirã, a última estação a Badajoz não pode ser
son e Catarina, até começa bem: Barquinha, Praia do Ribatejo, Al- antes da fronteira. Desde então, o Lusitânia passou a fazer a via- comprado no site ou
mourol, Tancos, Constância, Tramagal, Abrantes. O Tejo por com- gem pela Linha da Beira Alta, em conjunto com o Sud Expresso (para aplicação da CP. O título
panhia como, de resto, já acontecia desde Lisboa. Dá para recrear a Hendaye, em França). A separação entre os dois comboios interna- só está disponível nas
vista perante uma paisagem verdejante e pequenas povoações bem cionais dava-se em Medina del Campo, onde cada um seguia para bilheteiras ou junto
cuidadas. E o rio, claro, omnipresente, que cruzamos em Constân- o seu destino. Na viagem de regresso, as duas composições uniam- dos revisores
cia e que só abandonaremos em Abrantes. -se nesta estação para seguir para Lisboa.
Não é de hoje que se viaja à luz do dia entre Portugal e Espanha. Em Voltemos à Allan que vai para Badajoz. Agora, são sobreiros que
1980, por exemplo, o comboio TER Lisboa-Expresso partia de Santa nos vão acompanhar sempre ao longo da linha, avistados e por en-
Apolónia às 7.30 horas e chegava a Madrid-Chamartín dez horas de- tre extensões de terreno a perder de vista. A automotora avança
pois, pelas 17.29 (hora portuguesa). Entre 1989 e 1995, o Talgo Luís lenta e monotonamente, às vezes, em retas intermináveis. O tra-
de Camões assegurou a ligação diurna, complementando o Lusitâ- çado não é sinuoso e a linha até está em bom estado. Mais de 70%
nia Expresso. Quando o Luís de Camões saiu da linha, o Lusitânia tor- deste trajeto permite velocidades de, pelo menos, 120 km/h. A ve-
nou-se num verdadeiro comboio-hotel, com compartimentos-cama lha Allan não dá mais do que 100 km/h e soçobra até em algumas
com casa de banho privativa, que incluía lavatório, WC e duche. rampas onde se esfalfa à vertiginosa velocidade de 60 km/h.

22 13.06.2021 Notícias Magazine

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Contas feitas, tem razão Manuela Cunha, da Comissão Nacional “Mas para a fronteira, tentei ver qual é o trajeto mais rápido e mais
d’Os Verdes, quando diz que faz falta um material circulante mais conveniente. Procurei os percursos nas plataformas de autocarros
rápido na Linha do Leste, o que permitiria encurtar o tempo de via- e de comboios e depois comparei.” A jovem conta que fora até Coim-
gem “já”. O “já” significa que não é preciso esperar pela desejável bra duas semanas antes. “Andar de comboio é uma das minhas via-
eletrificação da linha para colocar comboios rápidos elétricos a ace- gens preferidas. Ponho música e vou a apreciar uma paisagem mui-
lerar pelo Alto Alentejo. Ou seja, mesmo com material diesel, po- to melhor do que as do autocarro.” Rita também mostra satisfação
dia melhorar-se já o serviço ferroviário na região. A CP já tem algu- pelo regresso da Linha da Beira Baixa, que permite a deslocação di- Badajoz
mas opções imediatas: colocar, por exemplo, uma automotora UDD reta de Guarda até Abrantes.
(unidade dupla diesel) da série 450, com velocidade máxima de 120 Os três amigos estão a caminho de umas férias com colegas de
km/h; ou pôr em marcha composições de locomotiva e carruagens. Erasmus em Sevilha. Em Badajoz, têm quem os leve de carro. Mas
A também coordenadora para a ferrovia do partido foi quem mais não sabiam ainda como iriam regressar a Portugal. Provavelmen-
se bateu pela reabertura do serviço de passageiros na Linha do Les- te de autocarro. Manuela Cunha também defende o aumento da
te depois de o Governo da troika a ter encerrado em 2011. E conta frequência das circulações, pois não faz sentido ter apenas um com-
histórias singelas de pessoas que se viram abandonadas por não te- boio por dia em cada sentido.
rem transporte e para quem o regresso do comboio representou Em Santa Eulália, entram quatro jovens a conversar animada-
voltar à vida, às deslocações ao hospital, à visita de familiares. mente. Miguel Manjerico, 25 anos, Miguel Conceição, 17 anos, Da-
Uma década antes da troika, Portugal anunciou o compromisso niel F., 18 anos, e Érica, 20 anos, decidiram ir almoçar a Badajoz e
de ligar Lisboa a Madrid pelo TGV: primeiro, em 2001, ainda com viram no único comboio que serve a sua terra o meio ideal para o
António Guterres no poder; dois anos mais tarde, na Cimeira Ibé- fazerem. “É mais rápido, mais económico e sobretudo é uma coisa
rica da Figueira da Foz, o troço entre as duas capitais era uma das que não fazemos todos os dias. Eu, mesmo que tivesse a carta [de
quatro novas linhas. O tema começou a perder velocidade em 2005 condução], viria sempre de comboio”, atira Érica, que ainda não ti- q Por ser velha por
e acabou por desaparecer do mapa assim que o país pediu o emprés- nha experimentado viajar na velha automotora desde que o servi- dentro mas nova por fora,
timo de 78 mil milhões de euros. ço foi retomado em 2017. Os quatro almoçam em Badajoz, mas re- a automotora elétrica UTE
Rita entrou em Abrantes, vinda da Guarda, para se juntar aos ami- gressam de autocarro porque “os horários são maus” e já não há 2240 é conhecida como
gos Nelson e Catarina. “Eu nem conhecia este comboio. Tem uma “comboio para voltar”, lamenta Miguel Manjerico. “Lili Caneças” no meio
forma um pouco estranha.” É da Guarda e trabalha no Porto, não ferroviário. Faz o primeiro
costuma apanhar o comboio porque “a linha não é direta nem é a Viagem analógica troço da viagem, entre
melhor”, já que obriga a transbordo em Pampilhosa ou Coimbra B. A chegada a Espanha faz-se já sobre linha nova numa larga reta. A Lisboa e o Entroncamento

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DEZ HORAS E QUATRO COMBOIOS: A VIAGEM POSSÍVEL ENTRE LISBOA E MADRID

Mérida

a A primeira troca de
comboios acontece no
Entroncamento. De uma
unidade elétrica com três
carruagens, o passageiro
passa para uma pequena
automotora diesel

obra entre Évora e o Caia foi a primeira a estar concluída no corre-


dor internacional sul e permitiu à velha Allan atingir o máximo da
velocidade na chegada à maior cidade da Estremadura. Aqui só fal-
ta colocar a catenária, que apenas terá utilidade quando a constru-
ção da linha nova entre Évora e o Caia estiver concluída.
No final de 2023, Lisboa e Badajoz deverão estar a duas horas de
comboio de distância, menos duas horas e 21 minutos do que o tem-
po de viagem atual (e com um transbordo no Entroncamento). A
“maior obra ferroviária dos últimos cem anos” soma atrasos e já de-
via estar concluída em janeiro de 2020.
Em Badajoz, tudo parece diferente: a estação está em obras para
receber as ligações de alta velocidade, assim como as restantes três
principais estações da Estremadura espanhola (Mérida, Cáceres e
Plasencia). Quando a automotora da CP chega à linha três, a má-
quina com destino a Puertollano está à espera de mais passageiros
no principal cais da estação, com algumas dezenas de viajantes já
embarcados. Em Puertollano, é possível fazer a ligação com a alta
velocidade vinda de Sevilha, mas a opção é mais cara. Preferimos,
por isso, fazer transbordo em Mérida e seguir na via convencional
por Cáceres.
Pela frente temos cinco horas e 40 minutos de viagem, em com-
boios de “média distância” sem bar e com as máquinas de venda va-
zias e desligadas devido à pandemia. Iremos viajar em automoto- mente, Madrid não tem pressa de se ligar a Badajoz e, ironia dos M Como não há muitos
ras da série 599, construídas pela empresa basca CAF para a Renfe tempos, também no século XIX, a linha vinda de Lisboa chegou pri- passageiros, o comboio
em 2008 e que, mesmo a diesel, atingem 160 km/h. A bordo, o wi- meiro a Badajoz do que a vinda de Madrid. E, se algum dia teve esse transforma-se num local
-fi não existe e as redes móveis também falham em grande parte interesse, perdeu-o quando se deu conta dos avanços e recuos dos de estudo ou de trabalho
da viagem. É melhor arranjar algo mais analógico, como um livro, portugueses em darem continuidade à alta velocidade até Lisboa. para alguns dos viajantes,
para entretenimento na viagem até à capital espanhola. Chegados apesar das vibrações
a Mérida, a mudança de comboio é rápida: da capital estremenha a A Estremadura esquecida da automotora Allan,
Madrid já a viagem será direta, numa automotora igual à que nos Chegados a Plascencia, a boa notícia para quem vai de costas é que que segue pela planície
trouxe de Badajoz. passa a viajar de frente até Madrid. Na estação da cidade, a automo- alentejana até Badajoz
Nos campos secos da Estremadura, o montado é paisagem predo- tora inverte a marcha em escassos minutos. Apesar de serem auto-
minante assim que se deixa de ter o Guadiana como companhia. motoras com poucos anos comparadas com as da CP, na Estrema-
Lado a lado com a linha convencional temos já marcas daquela que dura desespera-se com a chegada das novas ligações de alta veloci-
será a futura ligação de alta velocidade. Nalguns pontos, está já pra- dade, mesmo que isso condene ao desaparecimento de algumas pe-
ticamente finalizada; noutros as obras mal se veem: a revolução da quenas estações intermédias, já hoje despidas de serviços pela fra-
mobilidade na região está agora dependente da concretização des- ca aposta nos serviços regionais pela operadora estatal espanhola.
ta obra que acumula promessas e contabiliza atrasos. Aparente- Na Estremadura, a luta por um “tren” digno tem marcado os úl-

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DIREITOS RESERVADOS
Madrid

timos anos, mas, com apenas um milhão de habitantes, a região pa- M Apesar de ser a diesel,
rece não ter força suficiente para ser uma aposta do Governo cen- a automotora da série 599
tral. As ligações com Portugal são assim essenciais para dar outra
centralidade à mais pobre região da Espanha peninsular. Com a li-
da Renfe pode circular à
velocidade máxima de 160
1H15
Voo Lisboa-Madrid
gação a Lisboa, a Estremadura deixa de ser periférica em relação a km/h. No interior, há mesas (TAP), desde 25 euros
Madrid e passa a estar no meio da ligação com a capital portugue- em cada lugar, tomadas
sa, com o potencial de poder levar turistas a vários de locais patri- elétricas e espaço
mónio da Humanidade que se cruzam pelo caminho entre as capi- para quatro bicicletas
tais ibéricas, como Évora, Elvas, Mérida, Cáceres e Toledo.
A Plataforma do Sudoeste Ibérico, que junta empresas e institui-
ções dos dois lados da raia, é o rosto mais visível na luta pela melho-
ria das ligações ibéricas, com um plano ambicioso que promete re-
volucionar a mobilidade e as ligações transfronteiriças. Entre as
principais propostas está o prolongamento, já este ano, do serviço
Talgo direto entre Lisboa e Madrid passando por Badajoz,
mas ainda sem qualquer compromisso por parte das ope-
radoras ibéricas. Desta forma, a viagem demoraria sete
horas e 25 minutos.
10H30
Comboio, três transbordos, 60 euros
Já depois das oito da noite, à chegada a Madrid, avista-
-se, perto da gare de Atocha, um comboio de alta veloci-
dade da Ouigo, a primeira concorrente da Renfe em Espanha. A con-
corrência estreia-se no pote de ouro da Renfe: a ligação de 600 qui-
lómetros em três horas entre Madrid a Barcelona e que a Ouigo faz
8H45
Autocarro low-cost noturno direto
por um preço mínimo de nove euros por passageiro. “Este é o eco- (Gipsyy), a partir de 9,99 euros
nómico”, comenta uma idosa que apanhara o comboio em Orpesa
de Toledo, em Castela-La Mancha. Enquanto uns viajam por nove
euros para fazer 600 quilómetros, ela pagou 18 euros para fazer 160. 7H36
À tabela, quase dez horas e meia depois e mais de 700 quilóme- Carro a gasolina (sem portagens):
tros percorridos em quatro comboios e duas operadoras diferentes, 63,57 euros de combustível
a viagem termina no centro de Madrid. O custo é de 60 euros. Ape-
sar da monotonia em certos momentos, as paisagens são agradá- 6H18
veis, mas ficam as saudades do conforto de fazer todos estes quiló- Carro a gasolina (com portagens):
metros durante uma noite de sono a bordo do histórico Lusitânia. 79,06 euros (portagem 16,75 euros,
O comboio-hotel ibérico já não deverá voltar aos carris mesmo combustível 59,34 euros)
enquanto Portugal comanda a presidência do Conselho da União
Europeia, que incentiva as viagens transfronteiriças de comboio.
Só os verdadeiros aventureiros se atrevem a viajar entre Lisboa e
Madrid desta forma. ● m

Notícias Magazine 13.06.2021 25

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Biomarcadores:
o futuro da medicina
A descoberta e medição de novos parâmetros
biológicos é a grande revolução em direção à
medicina personalizada e de precisão. O diagnóstico
precoce, a previsão de como a doença se comportará
no futuro e a eficácia dos tratamentos é cada vez
mais determinada por estes indicadores.

TEXTO Sofia Teixeira

26 13.06.2021 Notícias Magazine

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FOTO: FREEPIK.COM

Notícias Magazine 13.06.2021 27

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BIOMARCADORES: O FUTURO DA MEDICINA

N
ível baixo de linfócitos, diminui-
ção das plaquetas no sangue, D-
-dímeros elevados, proteína C-
-reativa elevada. Nomes difíceis
com um significado prático pou-
co favorável: os pacientes inter-
nados com covid-19 que apre-
sentam estas e outras alterações
estão em desvantagem, têm pro-
babilidade mais elevada de
doença muito grave e mortali-
dade aumentada. Que vários es-
tudos o tenham detetado logo
nos primeiros meses da pande-
mia é de grande valor para os médicos que têm de
tomar decisões, uma vez que, através de um grupo
de biomarcadores específicos, podem estratificar o
risco de cada paciente e, em conjunto com outros
parâmetros clínicos, estabelecer um prognóstico
mais confiável. E isso permite, de certa forma, pre-
dizer qual vai ser a evolução da doença em cada pa-
ciente.
Os biomarcadores são definidos como qualquer pa-
râmetro mensurável que possa ser usado como indi-
cador de um estado fisiológico ou patológico. E, hoje,
quase tudo na prática clínica, em várias especialida-
des e patologias, gira em torno deles: permitem per-
ceber os mecanismos da doença, são usados para de-
terminar um diagnóstico e um prognóstico e forne-
cem as bases tanto para o desenvolvimento de trata-
mentos como para a monitorização dos seus efeitos.
Sempre que fazemos uma análise ao sangue, por
exemplo, o médico procura determinar o nosso es- apenas em doentes jovens e com sintomas atípicos. como vai responder, aproximadamente, a doença a
tado de saúde através deles. O marcador ideal é aque- Ainda falta, porém, o mais importante, apesar de um certo tratamento. “Os recetores hormonais são
le que se relaciona com os mecanismos da doença e, haver vários ensaios clínicos em curso: identificar preditivos da resposta à hormonoterapia e o HER2 é
por isso, pode tornar-se também num alvo terapêu- um medicamento que a previna. “Nisso não temos preditivo da resposta a um grupo de tratamentos cha-
tico para a controlar. “No caso do colesterol, sabemos sido muito bem-sucedidos porque ainda não perce- mado anti-HER2 que mudaram o prognóstico deste
que valores aumentados correspondem a um risco bemos, na totalidade, o complexo processo biológi- cancro, era dos mais agressivos e passou a ser daque-
mais elevado de desenvolver eventos vasculares, co subjacente. Temos biomarcadores que melhoram les que têm melhor prognóstico”, salienta a investi-
como enfarte e acidente vascular cerebral”, exem- a precisão diagnóstica, mas a nossa capacidade de mu- gadora. Sem surpresa, o tipo triplo negativo é aque-
plifica Miguel Viana Baptista, diretor do Serviço de dar o curso dos acontecimentos ainda é diminuta, le que tem pior prognóstico, exatamente por não exis-
Neurologia do Hospital Egas Moniz e professor de pese embora haja medicação que pode ajudar a pro- tir a possibilidade de tratamento dirigido.“É uma das
Neurologia da Nova Medical School, Lisboa. “Por isso, telar os sintomas”, refere o médico e investigador. áreas em que tem havido mais investigação – tentar
usamos fármacos, as estatinas, que diminuem esses definir subgrupos dentro deste tipo de cancro da
valores, minimizando o risco desses eventos.” A REVOLUÇÃO NO TRATAMENTO DO CANCRO mama para ser possível defini-lo não pela ausência
Na área da neurologia, o uso de biomarcadores está Uma área em que, pelo contrário, os biomarcadores de biomarcadores, mas pela presença de alguns, de
condicionado por várias limitações, nomeadamente, já têm um papel essencial – e também no tratamen- forma a ser possível desenvolver medicamentos con-
a irreversibilidade dos danos. “Como as células ner- to – é a oncologia. Desde logo, porque é através deles tra esses alvos.”
vosas não se reproduzem, uma vez lesadas, já não con- que é possível subcategorizar as várias doenças a que Também no prognóstico (leia-se no curso natural
seguimos tratar a doença”, explica o médico. Assim, se chama cancro. No caso do carcinoma da mama, por da doença), os biomarcadores são essenciais. Nesse
o biomarcador ideal seria aquele que “conseguisse pre- exemplo, é a presença ou ausência de biomarcadores campo, Fátima Cardoso destaca o marcador de proli-
ver a lesão das células antes de ela acontecer e, ao mes- que determina os seus três subtipos principais. “O feração Ki67 e as assinaturas genómicas Mamma-
mo tempo, pudesse funcionar com alvo terapêutico, cancro da mama mais frequente, o hormonodepen- print e Oncotype. “Decidir o melhor tratamento para
ou seja, evitando que ela ocorresse”. dente, caracterizado pela presença do recetor de es- um cancro passa por perceber a velocidade a que o tu-
No caso da doença de Alzheimer, que o médico con- trogénio e/ou de progesterona; o HER2, caracteriza- mor se está a dividir, distinguindo um tumor agres-
sidera o grande desafio do século, parte já é possível. do pela presença do recetor para o fator de crescimen- sivo de um de crescimento lento.” O Ki67 ou as assi-
Através de uma PET (tomografia por emissão de po- to epidérmico tipo 2, e o triplo negativo, assim cha- naturas genómicas (a análise dos genes do tumor)
sitrões) com beta-amiloide (proteína solúvel que re- mado exatamente por não ser positivo para nenhum permitem perceber, por exemplo, se num determi-
flete o processo de degeneração neuronal) ou dos bio- desses três marcadores já conhecidos”, sintetiza Fá- nado cancro hormonodependente basta usar a hor-
marcadores A 1-42 e P-TAU no líquido cefalorraqui- tima Cardoso, médica oncologista, investigadora, di- monoterapia como tratamento ou se pode ser bené-
diano, é possível diagnosticar a demência em fase retora da Unidade da Mama do Centro Clínico Cham- fico adicionar a quimioterapia para prevenir, mais
pré-clínica. Ou seja, quando ainda não há um quadro palimaud, Lisboa. tarde, uma recidiva.
de défice cognitivo instalado. Este tipo de exame, re- A classificação é muito importante porque estes Há mais tratamentos desenvolvidos com base em
correndo a biomarcadores, não é feito por rotina, mas biomarcadores são também preditivos, isto é, dizem biomarcadores identificados, que, embora já dispo-

28 13.06.2021 Notícias Magazine

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FOTO: FREEPIK.COM
com DRC têm uma enorme propensão para a calci- DOS BIOMARCADORES
ficação vascular”, observa Dina Simes. Apesar dis-
so, os métodos radiográficos ou ecográficos para a
AO BIOSSENSORES
detetar têm muitas limitações e baixa sensibilida- O desenvolvimento de
de. “A proteína ‘Gla Rich Protein’ (GRP) demons- biomarcadores pode,
trou já claramente um papel fundamental para im- em alguns casos, dar
pedir esta calcificação vascular.” A GRP, que pode origem à criação de
ser medida através de uma análise ao sangue, tem biossensores – peque-
vindo a ser foco de estudos pré-clínicos e clínicos. nos aparelhos portáteis
“Num estudo clínico realizado em colaboração com capazes de avaliar o
o Departamento de Nefrologia do Centro Hospita- parâmetro em questão,
lar e Universitário do Algarve, envolvendo 80 doen- seja a nível hospitalar,
tes diabéticos com doença renal crónica, foi demons- seja para uso domés-
trado que os níveis de GRP no sangue vão diminuin- tico. Entre estes últimos,
do com a progressão da DRC, correlacionando-se o mais conhecido e utili-
com um aumento da calcificação vascular e pressão zado dos biossensores é
de pulso. Estes resultados claramente demonstram o medidor de glicose,
a potencialidade de utilização da GRP como biomar- que veio revolucionar o
cador para avaliar a deterioração da função renal e controlo da diabetes
calcificação vascular nestes doentes”, garante a in- pelos pacientes, dando-
vestigadora. Novos ensaios clínicos estão em curso -lhes um instrumento
para validar estes resultados e, se isso acontecer, “o para monitorizar e
biomarcador permitirá não só contribuir para o prog- controlar a doença
nóstico clínico, como será muito útil para a monito- diariamente, sem neces-
rização personalizada dos tratamentos, evitando as- sidade de uma desloca-
sim alguns efeitos secundários”. ção ao médico, com
apenas uma gota de
QUANDO NÃO TRATAR É O MELHOR REMÉDIO sangue. Há cada vez
A norte, no Grupo de Epigenética e Biologia do Can- mais destes aparelhos a
cro do Centro de Investigação do Instituto Português serem criados para uso
de Oncologia (IPO) do Porto, Vera Constâncio está doméstico, de forma a
também a desenvolver um trabalho que espera vir a monitorizar outras doen-
níveis comercialmente, ainda são pouco ou nada usa- ter um impacto num dos tipos de cancros mais fre- ças crónicas que preci-
dos em Portugal. É o caso da terapia-alvo dirigida a quente: o da próstata. O foco do seu trabalho na área sam de vigilância aper-
uma mutação no gene tumoral PI3K, no caso do can- dos biomarcadores está relacionado com outro pro- tada, como a insuficiên-
cro metastático, e também dos inibidores da PARP, blema na área oncológica menos falado: o sobredia- cia cardíaca.
usados para certos tumores causados por mutações gnóstico e sobretratamento. “O problema do cancro
no gene BRCA. “A medicina individualizada é um ob- da próstata, sobretudo em homens mais velhos, é que
jetivo que ainda não alcançámos, mas é através dos são detetados uma série de tumores que no curso nor-
biomarcadores que nos aproximamos dela”, resume mal da vida não os irão afetar em nada e, ainda assim,
a médica da Fundação Champalimaud. “Quanto mais por precaução são tratados”. É a versão clínica do clás- PARA QUE SERVEM
e melhores biomarcadores tivermos, melhor vamos sico “mais vale prevenir do que remediar”, mas o cer- OS BIOMARCADORES?
conseguir caracterizar e tratar aquele tumor especí- to é que o tratamento de uma patologia oncológica
fico, naquele doente em particular.” também tem um impacto na qualidade de vida do – Diagnosticar precoce-
Em pacientes com cancro de pulmão, os biomarca- doente. O ideal era conseguir prever que cancros vão mente uma doença;
dores têm tido um papel muito importante na defi- metastizar – sabe-se que são cerca de 30% – e quais
nição de tratamentos dirigidos, permitindo opções não vão e podem ser apenas vigiados. – Fazer o seguimento da
terapêuticas mais adequadas e eficazes. E é precisamente isso que Vera Constâncio está a sua evolução, preferen-
tentar fazer através do estudo dos exossomas. “São cialmente de forma não
INVESTIGAÇÃO PROMISSORA pequenas vesículas extracelulares, que todas as cé- invasiva;
Para chegar a novos biomarcadores que possam ser lulas libertam, e que se julga que conseguem trans-
validados e ajudem os médicos a tomar decisões clí- mitir informação a outras células, tendo um papel no – Ter uma noção do
nicas com segurança, o caminho começa na investi- desenvolvimento de nichos pré-metastático, um am- prognóstico clínico;
gação. Um pouco por todo o país, centenas de inves- biente, noutro órgão, que pode levar à metástase do
tigadores tentam validar novos biomarcadores – pre- tumor primário.” A investigadora está a tentar des- – Escolher um trata-
ferencialmente não invasivos, através de uma sim- cobrir um biomarcador que consiga, na altura do dia- mento adaptado às
ples análise ao sangue – que possam ser úteis no dia- gnóstico, medir esse tipo de comunicação entre ór- características da
gnóstico precoce, prognóstico e tratamento de várias gãos e, “dependendo se ela se está a estabelecer ou doença e ao paciente;
patologias. não, conseguiríamos perceber se é ou não provável
Na Faculdade de Ciências da Universidade do Al- que a metastização ocorra”. Se for bem-sucedida, no – Monitorizar a eficácia
garve, por exemplo, Dina Simes e Carla Viegas estão futuro, poderemos ter um biomarcador cujo objeti- da terapêutica;
a estudar um biomarcador que parece promissor para vo não é definir um tratamento oncológico, mas an-
quem tem doença renal crónica (DRC), uma das prin- tes evitar, com segurança, que um tratamento des- – Desenvolver novos
cipais causas de doença cardiovascular. “Os doentes necessário seja feito. ●
m medicamentos.

Notícias Magazine 13.06.2021 29

@jornaisPT
3.º
P
Príncipe George
Ge
George Alexander Louis,
22 de julho de 2013.
Primeiro filho do príncipe
Pri
William e de Kate Middleton.
Will
Neto do
d príncipe Charles, bisneto
da rainha Elizabeth II.
d

2.º
Kate Middleton Príncipe William
ill
Catherine Elizabeth Middleton, William Arthur Philip Louis,
duquesa de Cambridge, duque de Cambridge,
9 de janeiro de 1982. 21 de junho de 1982.
Mulher do príncipe William e Filho primogénito do príncipe
mãe dos príncipes George, Charles e da princesa Diana, irmão
Charlotte e Louis. Nora do do príncipe Harry. Casado com Kate
príncipe Charles. Middleton, duquesa de Cambridge.

Camilla
Camilla Rosemary Shand,
1.º
duquesa da Cornualha, Príncipe Charles
17 de julho de 1947. Charles Philip Arthur George,
Mulher do príncipe príncipe de Gales,
Charles desde 2005. 14 de novembro de 1948.
Madrasta dos príncipes Filho primogénito da rainha
William e Harry. Elizabeth II de Inglaterra e do
príncipe Philip, duque de Edimburgo.
É o primeiro na linha sucessória ao
trono britânico.

Diana
Diana Frances Spencer,
princesa de Gales,
1 de julho de 1961.
Primeira mulher do
príncipe Charles.
Divorciaram-se em 28 de
agosto de 1996. Tiveram
dois filhos, os príncipes
William e Harry. Morreu
em 31 de agosto de 1997.

30 13.06.2021 Notícias Magazine

@jornaisPT
avenida
4.º
Princesa Charlotte
Charlotte Elizabeth Diana,
2 de maio de 2015.
Filha do príncipe William e de 5.º
Kate Middleton. Neta do
príncipe Charles, bisneta da Príncipe Louis
rainha Elizabeth II. Louis Arthur Charles,
23 de abril de 2018.
T
Terceiro filho do príncipe
William e de Kate Middleton.
Wi
Neto do príncipe Charles,
N
bisneto da rainha Elizabeth II.
bis

6.º
Príncipe Har
Harry
Henry Charles Albert David, Meghan Markle
7.º
duque de Sussex, Rachel Meghan Markle, Archie Harrison
15 de setembro de 1984. duquesa de Sussex, Archie Harrison Mountbatten-Windsor,
É o filho mais novo do príncipe 4 de agosto de 1981. 6 de maio de 2019.
Charles e da princesa Diana, irmão Mulher do príncipe Harry e Primeiro filho do príncipe Harry e de
do príncipe William e neto da mãe de Archie Harrison e Meghan Markle. Neto do príncipe Charles,
rainha Elizabeth II de Inglaterra. Lilibet Diana. Nora do bisneto da rainha Elizabeth II, primo dos
Casado com Meghan Markle. príncipe Charles. príncipes George, Charlotte e Louis.

8.º
Lilibet Diana
Lilibet Diana Mountbatten-Windsor, UM REINADO ETERNO
A CAMINHO DA SUCESSÃO
6 de junho de 2021.
Segundo filho do príncipe Harry e de
Meghan Markle. Neta do príncipe
Charles, bisneta da rainha
Elizabeth II, prima dos príncipes
George, Charlotte e Louis. A FILHA DE HARRY E MEGHAN MARKLE, LILIBET DIANA,
ACABADA DE NASCER NO OUTRO LADO DO ATLÂNTICO,
É A 8.ª NA LINHA DE SUCESSÃO DA SOBERANA COM O MAIS
LONGO REINADO DA HISTÓRIA DE INGLATERRA. O NOME
LILIBET É PRECISAMENTE UMA HOMENAGEM A ELIZABETH II,
QUE CONTA QUASE 70 ANOS DE TRONO E 95 DE VIDA. MAS A
BISNETA DE SUA MAJESTADE ESTÁ MUITO LONGE DA
COROAÇÃO. O PRIMOGÉNITO DA RAINHA, O POUCO AMADO
PRÍNCIPE CHARLES, JÁ COM MAIS DE 70 ANOS, É O HERDEIRO
HÁ MAIS TEMPO À ESPERA E O PRIMEIRO NA LINHA DE
SUCESSÃO. LOGO A SEGUIR, O NETO WILLIAM E O PEQUENO
GEORGE, BISNETO, ESTÃO NO CAMINHO PARA ASSUMIR OS
DESTINOS DA CASA REAL BRITÂNICA, QUE RESISTE FIRME E
HIRTA ÀS POLÉMICAS E AOS ABANÕES DOS TEMPOS.
Notícias Magazine 13.06.2021 31

@jornaisPT
PERGUNTA TU

ARTUR MACHADO/GLOBAL IMAGENS


quiserem vir experimentar alguma
coisa, podem vir. Na altura, era para ser
apresentadora de televisão. Fiz um tes-
te, fui ficando e fazendo testes, testes,
testes, e fiquei como apresentadora da
RTP e, a partir daí, fui estudando.
A vida, às vezes, dá muitas voltas!

Há quantos anos trabalhas na RTP?


Há 14 anos. Já é um bocadinho, há
quem trabalhe até há mais anos. E te-
nho muita sorte de fazer o que gosto.

Como é que se chama a marca da


roupa de grávidas que fazes?
Oh Mi, tu queres ser professora? Pare-
ces uma jornalista, andaste a pesquisar
tudo sobre mim! Bom trabalho! A mi-
nha marca nasceu exatamente numa
situação como esta. Estava grávida e es-
tava a apresentar um programa que se
chamava “À conversa”. Estava assim

“Sempre gostei de
com um convidado em estúdio e eu es-
tava à frente dele, grávida, com uma
barriga grande e tinha um vestido cheio
de botõezinhos à frente. Comecei e

várias coisas. Podemos tudo impecável. A meio da conversa, o


vestido começou a abrir, a barriga cres-
ceu naquele momento, fiquei tão en-

ser muitas coisas”


vergonhada. Tinha uns cartões do pro-
grama com as minhas perguntas pre-
paradas e coloquei à frente da barriga e
fiquei aflitíssima. Cheguei a casa e pen-
sei “Isto não pode acontecer” e decidi
inventar as minhas próprias roupas de
Já! Sabes, antes de eu entrar na RTP es- grávida. Depois, comecei a pensar as-
A Maria Inês tem sete Maria Inês (Mi) tava a estudar para ser enfermeira! Não sim num nome e “BB me” é de “Baby
anos e prefere ser tem nada a ver ou pelo menos parece. and Me by Joana Teles”. Até hoje, já lá
O que querias ser quando tinhas a No meio desta minha caminhada, vão seis anos, desenho roupas de grá-
tratada por Mi; minha idade? sempre gostei de várias coisas. Vocês vidas e de bebés. E lá está: é outra ativi-
o Gabriel tem dez e Com sete anos, não é, Mi? Olha, queria são iguais, não é? Fica difícil decidir- dade que tenho. É como falámos há
ser duas coisas e acho que ao mesmo mos o que queremos ser, porque exis- pouco, podemos ser muitas coisas.
gosta que lhe chamem tempo: tratar de golfinhos e ir para o tem tantas coisas incríveis que pode-
meio da selva, porque gosto muito de mos fazer. No meio desta coisa de gos-
Gabi. Juntos não se animais, e estudar astrologia porque tar de animais e gostar do Universo, de Gabriel (Gabi)
inibiram de fazer as também gostava muito dos astros, das tratar das pessoas, à medida que fui
estrelas, do Universo. Então, queria crescendo, fui vendo aquilo que real- Quando tinhas a minha idade,
perguntas mais curiosas conciliar as duas coisas. Um bocadinho mente gostava de fazer. Cheguei ali a o que gostavas mais de fazer?
à apresentadora da RTP mais tarde, desejei ser atriz e ainda me um ponto em que gostava de comuni- Jogar ao elástico. Sabem jogar ao elás-
passou pela cabeça ser cantora, mas car com as pessoas e tratar de pessoas tico? Estão a ver um elástico muito
Joana Teles. olha, acabei em televisão. [risos] e acabei por estudar Enfermagem. Es- grande? São precisas três pessoas ideal-
tava quase a acabar o meu curso quan- mente, ou então, duas. Estão a imagi-
Antes de trabalhares em televisão, do a RTP lançou um casting. Sabem o nar um elástico de cabelo gigante pre-
já pensaste em outra coisa que que- que é um casting? É uma espécie de um so às pernas, e eu passava a tarde intei-
POR Joana M. Soares rias fazer? anúncio geral que diz às pessoas que se ra a jogar elástico! Era tão fixe e era o

32 13.06.2021 Notícias Magazine

@jornaisPT
ANOTA AÍ À V O LTA D O M U N D O VÊ MAIS EM

TAG.JN.PT

que mais gostava de fazer! IMPOSTO DE 15%


PARA GRANDES
Como é que decidiste entrar para a MULTINACIONAIS GOSTAS DE
RTP? FRUTA? ENTÃO,
Sempre gostei de muitas coisas e chegou Os ministros das Finan- TRATA BEM
a um ponto da minha vida que gostava ças do G7 (grupo dos AS ABELHAS
muito de comunicar. Comunicar é fa- sete países mais indus-
lar, não é acharmos que temos coisas trializados do Mundo) al- São responsáveis
muito importantes para dizer, às vezes cançaram, em Londres, pela polinização,
é partilharmos e sermos um veículo para um acordo histórico, ao função essencial
comunicar alguma coisa. Por exemplo, decidirem aplicar um im- para os ecossiste-
um apresentador de televisão não in-
venta as notícias, as notícias existem, e OS LIVROS SÃO posto mínimo de 15%
sobre as grandes multi-
mas, mas as abe-
lhas estão em risco.
ele comunica-as. E eu queria ser assim,
queria ser esse veículo para comunicar GIGANTES QUE NÃO nacionais. O objetivo é
garantir que “as empre-
Os alertas sobre a
perda da biodiversi-
as coisas. Gostava dessa área, e então,
quando vi aquele anúncio, aquele cas-
ting da RTP, há 15 anos, eu disse assim:
SE VEEM MAS ANDAM AÍ sas certas paguem os
impostos certos, nos lo-
cais certos”.
dade já soaram e
vários países têm
planos para prote-
“Vou experimentar”. Porque eu sou as- ger estes importan-
sim, sempre quis experimentar muitas É um festival que promove a leitura através das tes insetos, mas
coisas. Vou experimentar a ver o que é artes. Gigantes Invisíveis – 6. Encontro Literá- Portugal ainda não.
que dá. E, olha, tanto deu que até fiquei! rio para os Mais Novos Leitores, está de volta Sabe mais sobre
nos dias 19 e 20 de junho ao Parque Ambiental o tema em tag.jn.pt.
Como é que te sentes a gravar pro- do Buçaquinho, na floresta entre Esmoriz e
gramas e a fazê-los em direto? Cortegaça, em Ovar. Dois dias de espetáculos,
É muita diferença? oficinas, conversas, artes plásticas e performa-
Ui, imensa! Inicialmente, quando en- tivas. Sempre na companhia de livros. Desta
trei, ficava mais confortável em fazer vez, os ilustradores vão às escolas.
programas gravados. Porque nos pro- Sábado, 19, às 15.30 horas, a “Dama pé de
gramas gravados, se nos enganamos, mim”, de Ana Madureira, farta de olhar para
podemos cortar. E quando são em dire- o umbigo, monta o seu cavalo, parte à
to e dizemos alguma asneira, no senti- procura de um amigo, encontra várias perso-
do de alguma palavra que não esteja cer- nagens pelo caminho. Uma história com MORREU
ta no contexto, e depois toda a gente vê, música e texto que rima. Às 16.30 horas, SOLDADO RECICLA
pode ser uma grande vergonha. Agora, oficinas de ilustração e desenho, conversas QUE LIBERTOU BRINQUEDOS,
com o passar do tempo, prefiro mil ve- pelo meio, para toda a família. Duas horas AUSCHWITZ AJUDA O
zes fazer diretos, porque é mais espon- depois, Rita Pimenta explica por que razão PLANETA
tâneo. Eu sou mais eu quando estou escrever sobre os livros dos outros é bastante David Dushman, o últi-
num programa em direto. Se for um complicado. Domingo, 20, 15.30 horas: Já mo soldado vivo que es- A Terra está em
programa gravado, podemos ter um te- falaste com um autor? Não? Então é o dia teve envolvido na liber- apuros: excesso de
leponto. O teleponto é uma televisão- com Marco Taylor, escritor, ilustrador e tação do campo de con- poluição, de quími-
zinha pequenina que normalmente editor, que estará à conversa. Duas horas centração de cos e de plásticos.
está em cima da câmara ou ao lado. E ela mais tarde, os livros rodopiam no teatro e na Auschwitz-Birkenau Podes ajudar, entre-
vai passando o que temos que dizer. Vai dança. “Como se encontram as perguntas” é (Polónia), morreu, no gando os teus brin-
passando um texto que o apresentador um momento em que uma bailarina procura passado fim de semana, quedos antigos
tem que dizer e interpretar, é quase um a pergunta mais difícil do Mundo. Às 18.30 em Munique. Tinha 98 para reciclagem nos
bocadinho de trabalho de atriz, não é horas, é tempo de olhar à volta com atenção, anos. Ao comando de pontos do projeto
bem, porque temos que ser nós pró- o que ouves, o que sentes, numa oficina de um tanque T-34, o anti- Replay nos municí-
prios, mas é preciso saber ler o texto, to- filosofia para famílias. Criar perguntas, arris- go soldado derrubou pios parceiros (Por-
mar as palavras como nossas. Com o car respostas. ●m SARA DIAS OLIVEIRA a vedação eletrificada to, Figueira de Cas-
tempo, aprendi a gostar de estar mais que rodeava o campo telo Rodrigo, Cas-
em contacto com as pessoas, com o pú- Gigantes Invisíveis de concentração nazi cais, Lisboa e Évo-
blico, estar nos programas de rua e a di- 19 e 20 de junho, entrada livre onde foram extermina- ra). Aprende mais
zer aquilo que estou a sentir no mo- Parque Ambiental do Buçaquinho, Ovar dos milhares de judeus. no site do TAG.
mento. É mais fixe! ● m

Notícias Magazine 13.06.2021 33

@jornaisPT
esti-
los COMPORTAMENTO
POR Sofia Teixeira

Ardidos por dentro


Os profissionais de saúde e os cuidadores informais
são dois dos grupos mais afetados pelo burnout.
A prestação de cuidados aos outros é geradora
de grande stress e pode levar à exaustão emocional.

O
s 14 anos a trabalhar em cuidados intensivos neona-
tais e pediátricos fizeram-lhe mossa. Quando se mu-
“Não me ção profissional – são os dois dos três sinais típicos do burnout, que
inclui ainda o cinismo ou despersonalização, ou seja, uma atitude
dou para os cuidados de saúde primários, em 2018, a sentia re- distanciada na prestação de cuidados. O estudo “Resiliência e bur-
enfermeira Mónica Sousa ia já exausta. Admite que
talvez já estivesse em processo de burnout não dia-
conhecida nout em organizações de saúde”, apresentado em fevereiro deste
ano e liderado por Sofia Gomes e Pedro Ferreira, da Universidade
gnosticado. E o que encontrou pela frente no centro pelo traba- Portucalense, revelou que, durante a pandemia, um em cada três
de saúde encarregou-se de continuar essa erosão.
“Cheguei desgastada e deparei-me com uma carga de
lho que fa- profissionais de saúde apresentaram níveis severos desta doença.
Em concreto, 58,2% revelavam elevada exaustão emocional, 54,6%
trabalho brutal: chegava a fazer 20 consultas a grávi- zia. Inves- uma grande perda de realização pessoal e 33,7% um enorme nível
das numa manhã ou a estar numa sala de tratamentos onde aten-
dia 50 pessoas por dia”, recorda. Tentava descansar, mas o alívio
tia muito, de despersonalização.
No mesmo estudo, os profissionais de saúde foram questionados
durava sempre pouco e não se sentia apoiada pelos superiores. mas sentia sobre como reduzir e prevenir o seu próprio burnout e, não por aca-
“Trabalhar exigia um grande esforço. Sentia muita pressão, fi-
cava agitada e ansiosa, mas depois de 14 anos a trabalhar em cui-
que inves- so, apontaram os mesmos aspetos destacados pela enfermeira Mó-
nica Sousa. “Referiram sobretudo aspetos relacionados com o con-
dados intensivos, estava habituada a esconder as emoções que tiam pouco texto de trabalho e que vão ao encontro daquilo que são os princi-
sentia e a continuar o trabalho.” O que viria a revelar-se uma op-
ção pouco saudável.
em mim” pais fatores de risco: menos horas de trabalho contínuo e mais meios
físicos e humanos nas estruturas de saúde”, explica Sofia Gomes.
Passou quase um ano assim, até perceber que teria de cuidar de si MÓNICA SOUSA “Mas também mencionaram, embora em menor número, aspetos
antes de poder continuar a tratar dos outros. Foi já em 2019 – o ano Enfermeira de cariz mais emocional, como o reconhecimento.”
em que o burnout foi oficialmente reconhecido como uma doen-
ça pela Organização Mundial de Saúde (OMS) – que Mónica, 40 Trabalhar 24 horas por dia
anos, procurou ajuda. “Estava com uma irritabilidade imensa, ex- Mudar a fralda ao João. Fazer manutenção da gastrostomia por onde
plodia com coisas pequenas, sentia uma dor e tristeza atroz. Mar- o alimenta. Posicioná-lo de duas em duas horas para evitar úlceras
quei uma consulta com a médica de família e escrevi uma carta ao de pressão e vigiar-lhe em permanência as crises diárias de epilep-
meu marido a contar-lhe como me sentia, porque nem conseguia sia. Dar banho e medicar o João. Aspirar as secreções do João. Sem-
verbalizar.” Na consulta de Medicina Geral e Familiar, recebeu o pre o João. Há 11 anos que a vida de Célia Grazina Teixeira, de 49
diagnóstico de depressão, foi medicada, passou por uma psiquia- anos, é dominada pelas necessidades do filho – uma criança com
tra para rever e ajustar a medicação, esteve de baixa e iniciou um paralisia cerebral bilateral espástica e uma série de outras condi-
processo de psicoterapia que durou cerca de seis meses. ções de saúde associadas – de quem ela cuida 24 horas por dia, 365
“Percebi como tudo isto estava associado ao trabalho: aos anos ex- dias por ano.
posta à pressão e ao sofrimento, à carga de trabalho imensa e à mi- Sorri quando lhe dizem que é bonita. “Maquilho-me sempre, fo-
nha autoestima profissional, porque não me sentia reconhecida”, ram 20 anos a trabalhar em cosmética”, justifica. “Agarro-me um
diz. E repete: “Não me sentia reconhecida pelo trabalho que fazia. bocadinho à imagem para me tentar sentir melhor, ter alguma di-
Investia muito, mas sentia que investiam pouco em mim”. gnidade e não fazer o papel de coitadinha. Mas é uma capa.” Por bai-
Os sintomas principais de Mónica – a exaustão e perda de realiza- xo da capa, está aquilo que é invisível aos olhos e denuncia o pro-

34 13.06.2021 Notícias Magazine

@jornaisPT
LEONARDO NEGRÃO/GLOBAL IMAGENS
a Célia Teixeira cuida há
11 anos, 24 horas por dia,
do filho João. “Não sei até
quando aguentarei sem
quebrar”

Notícias Magazine 13.06.2021 35

@jornaisPT
esti-
los COMPORTAMENTO

“Faço-o
com amor,
mas esta é
uma pro-
fissão que
me foi im-
posta. Sou
enfermei-
ra do João.
Só que o
meu turno
blema. E que acaba por confessar: “Sinto-me esgotada todos os dias”, nunca che- tensão produzida pelo Mundo complexo, os seus recursos inter-
“Há dias em que nem me apetece abrir as janelas”, “Muitas vezes nos consomem-se, como pela ação das chamas, não deixando se-
ir tomar banho é um esforço”, “Tiram-me tudo: não trabalho, não
ga ao fim” não um imenso vazio no interior, ainda que o invólucro exterior
tenho vida social”, “Não há quem aguente isto. Não sei até quan- CÉLIA TEIXEIRA pareça mais ou menos intacto.” Assim descreveu o burnout, em
do aguentarei sem quebrar”. Cuidadora do filho 1980, o psicólogo Herbert Freudenberger, um dos primeiros a de-
Célia está em burnout. E aplicar este termo, por norma associado tetar e estudar a síndrome do esgotamento profissional que, cu-
à exaustão profissional, aos cuidadores informais como ela não é riosamente, começou por notar em si próprio e alguns colegas,
um acaso. Cuidar torna-se um trabalho que não deixa espaço para durante os anos 1970, ao trabalhar em clínicas gratuitas em Nova
mais nada. “Faço-o com amor, mas esta é uma profissão que me foi
“O cuida- Iorque.
imposta. Sou enfermeira do João. Só que o meu turno nunca che- dor infor- Mónica Sousa, consumida pelas chamas, recuperou e aprendeu
ga ao fim”, desabafa. a tratar de si para o evitar. No ano passado, com o início da pande-
“É um problema gravíssimo”, resume Eva de Sousa, psicóloga clí-
mal não mia, voluntariou-se para as equipas das Áreas Dedicadas Covid-19
nica que presta apoio psicológico a muitos cuidadores informais. tem remu- nos Cuidados de Saúde Primários e foi destacada para fora do seu
“Os cuidadores formais embora sujeitos a um elevado stress asso- local de trabalho habitual. “Senti que estava a ser útil, fui sendo re-
ciados aos horários por turnos, ao convívio com o sofrimento e com
neração, conhecida pelo meu bom desempenho pelos meus superiores e
a morte e à pressão da tomada de decisão que envolve outros, têm não tem isso, juntamente com a psicoterapia, ajudou-me a ultrapassar o pro-
apesar de tudo um vínculo laboral, um ordenado, horários, vida fa- blema.” Hoje, de volta ao seu centro de saúde, tenta moderar o seu
miliar e vida social”, esclarece. Por comparação, “o cuidador infor-
horários esforço. “Cumpro com todas as minhas responsabilidades, mas per-
mal não tem remuneração, não tem horários e fica gradualmente e fica gra- mito-me dizer não, arranjar tempo para ir comer e para dar dois de-
com uma vida restrita ao familiar que cuida”. dos de conversa com uma colega.”
Por isso, uma das estratégias mais importantes é mobilizar ou-
dualmente Numa perspetiva individual, quando o cuidador percebe os sinais
tras pessoas para ajudar. “É essencial que haja cuidadores secun- com uma de fadiga psicológica, “deve procurar um psicólogo e iniciar uma
dários, outros familiares, um vizinho, alguém que possa substi- psicoterapia, necessária para reforçar a capacidade de resiliência,
tuir o cuidador principal por umas horas, para que a pessoa possa
vida restri- através do autoconhecimento, aprendizagem de estratégias para
ter um hobby, fazer desporto, ir às compras ou ao cabeleireiro, ta ao fami- lidar com as emoções, e enfrentar os problemas com outra atitu-
não ficando prisioneira dos cuidados ao outro”, refere a psicólo- de”, aconselha a psicóloga Eva Sousa. Mas as organizações e che-
ga clínica. Para Célia Teixeira, isso tem sido difícil. Sem apoio fa-
liar que fias também têm um importante papel a desempenhar. “Os aspe-
miliar além do marido (que trabalha fora o dia todo), o principal cuida” tos organizacionais, nomeadamente o ambiente de trabalho, con-
problema é a falta de reconhecimento do Estado face às necessi- tam muito”, pormenoriza. Isso implica que haja colaboração, coo-
EVA DE SOUSA
dades – tanto financeiras, como de descanso – dos cuidadores in- peração e apoio por parte das chefias. E também elogios, “uma fer-
Psicóloga clínica
formais como ela. ramenta de reconhecimento muito importante e por vezes subva-
lorizada”. Evitar o burnout, conclui a psicóloga clínica, “passa pelo
Aprender a equilibrar a balança equilíbrio entre os fatores stressores e os fatores protetores.” Para
“Apercebi-me ao longo do meu trabalho diário que, por vezes, as não ser consumido pelas chamas, é preciso que seja mais o que nos
pessoas são vítimas de incêndio, tal como os edifícios. Sujeitas à nutre do que o que nos desgasta. ● m

36 13.06.2021 Notícias Magazine

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RECEITAS DA ÉPOCA
POR Ana Bravo
Nutricionista, autora e blogger (Nutrição com Coração)

TODOS OS MESES,
AS MINHAS RECEITAS TÊM
UM ALIMENTO EM DESTAQUE.
EM JUNHO SÃO AS NECTARINAS

A nectarina é uma
variedade genética
do pêssego, na qual
a casca é lisa. É uma
planta de clima
temperado e acredita-
-se que teve origem
na Ásia. A sua polpa
é suculenta e pode ser
branca, amarela
ou avermelhada.

SALADA DE INGREDIENTES Preparação ❶ Programei o forno a


180 graus. ❷ Lavei e cortei as nectari-
NECTARINAS 2 nectarinas
1/2 requeijão
nas em rodelas (rejeitando o caroço),
dispus num tabuleiro forrado com pa-
ASSADAS 1 chávena de favas
cozidas
pel vegetal e levei ao forno até estarem
cozinhadas. Demorou cerca de 30 mi-
100 g de agrião nutos. ❸ Deixei arrefecer. ➍ Numa
A comida simples encanta- 1 colher de sopa de taça, misturei o mel com o azeite e o
-me. Hoje apresento uma sementes de cânhamo sumo de limão e envolvi as favas e o
salada que desperta os 1 colher de chá de mel agrião (já lavado). ➎ Coloquei numa
1 colher de sobremesa de travessa o agrião, as favas e as nectari-
sentidos, não só pelo sabor. azeite nas assadas. Polvilhei com o requeijão
As cores maravilham os 1 colher de sopa de sumo e com as sementes.
olhos e o cheirinho abre de limão
o apetite para os santos
Duas pessoas
populares! Comemoremos Uma hora
com saúde. Fácil

Notícias Magazine 13.06.2021 37

@jornaisPT
esti-
los BEM-ESTAR
POR Catarina Silva

MANCHAS NA PELE:
O SOL É INIMIGO
DA PERFEIÇÃO
Os melasmas no rosto são um problema frequente
nas mulheres, que se agrava com a chegada do verão.
A exposição solar é uma das principais causas e o
protetor é o melhor amigo durante todo o ano. Mas já
há tratamentos, desde cremes a peelings não agressivos,
que se podem fazer na época da praia.

Maria Sousa teria uns 40 anos quando causas em dermatologia são muito di-
algumas manchas escuras lhe aparece- fíceis de apurar.” António Massa vê lar-
ram na pele, “na zona da bochecha e do gas dezenas de doentes por mês, tem “a
buço”. Lembra-se bem, foi no ano em maior clínica privada de dermatologia
que passou uma quinzena debaixo do do país”, no Porto. Vai direto ao assun-
sol das Caraíbas. É morena, cabelos es- to: “Há literatura que diz que as man-
curos, vive à face da praia. Sempre apa- chas podem estar ligadas a problemas
nhou sol, nunca sofreu com grandes es- de fígado ou até ao uso da pílula, mas os
caldões, mas na meninice não tinha fatores que realmente contam são a pre-
grandes cuidados com a pele. Pelo me- disposição genética e a exposição solar,
nos não tantos como hoje. Faça chuva, que é quase sempre excessiva”.
faça sol, seja verão ou inverno, o prote-
tor solar de fator 50 na cara não falha, Protetor solar em camada espessa
logo pela manhã. Entrou na rotina. Mas O dermatologista e também presiden-
as manchas teimosas, essas, nunca as te da Sociedade Portuguesa de Derma-
conseguiu eliminar. tologia e Venereologia ressalva outro
Não levou muito a procurar ajuda. Já pormenor. “Em países como o México,
tentou cremes despigmentantes e, no e volto a falar da genética, uma grande
inverno, alguns tratamentos que aju- percentagem de mulheres que en-
daram “a tornar o tom de pele mais ho- gravida fica com essas manchas,
mogéneo, mas que nunca resolveram é o chamado cloasma.” Ainda
totalmente as manchas”. No tempo assim, tem mais certezas do
frio, ficam mais atenuadas, só que há que dúvidas quando diz que
“três ou quatro mais persistentes que é o sol o maior inimigo. “As
continuam visíveis”. Tem 49 anos, não pessoas põem pouco pro-
complica, “há coisas piores”. “Uso um tetor solar. Não conta só o
bocadinho de maquilhagem para tra- fator de proteção. Aliás, o
balhar e para sair, mas se tiver que sair fator 30 quase chegava se
para uma caminhada, nem uso. Não é fosse em camada espes-
uma coisa extremamente visível e sa, massajando muito
também lido bem com isso.” em toda a face, e se fosse
O problema não lhe é exclusivo, lon- reaplicado duas, três,
ge disso. Há muitas mulheres que so- quatro vezes ao longo do
frem com melasmas no rosto. E a per- dia.” E lembra o que as
centagem é muito superior à dos ho- pessoas teimam em não
mens. “É claramente mais comum em ouvir: evitar a exposição
mulheres, embora também haja ho- solar entre as 11 e as 16
mens atingidos pelo problema. Mas as horas.

38 13.06.2021 Notícias Magazine

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Notícias Magazine 13.06.2021 39

@jornaisPT
Certo é que as manchas na pele são chovesse ou trovejasse.” Duas consulta eficazes se as expectativas forem rea-
CONSELHOS
situação recorrente no consultório.
Mas há solução? “Sim. Com cremes
s bastaram, nunca mais ganhou as mal-
ditas manchas. “Porque tenho tido
listas. “Os tratamentos andam sempre
à volta dos 300 euros e o número de ses- PARA O VERÃO
específicos e medicação que se adap- sempre esse cuidado, uso fator 50+.” sões depende muito de pessoa para pes-
ta, conseguimos inverter o processo Largou a maquilhagem no dia a dia. soa”, observa a especialista. Proteção solar em quantidade
em muitos casos.” Numa segunda li- Ainda assim, no verão, confessa, há um Fazer proteção solar durante todo
nha, os peelings químicos – que está ligeiro reaparecimento. “Mas nada que Peelings no verão? Já é possível o ano é meio caminho andado para
fora de questão fazer no verão – con- se compare, nunca mais fiquei como Sofia Santareno, cirurgiã plástica, con- evitar o agravamento dos melas-
seguem acelerar o processo e contro- naquela altura.” corda que há melasmas que já são tão mas. O ideal é usar proteção 50+ e
lar a maior parte das manchas. E de- profundos que não se conseguem apa- aplicar dois mililitros de creme por
pois, os lasers de luz pulsada que, se- “Há manchas que não gar por completo. A única solução é pre- centímetro quadrado de pele.
gundo António Massa, só são úteis desaparecem” venir que escureça. “Com um protetor
quando “debaixo das manchas casta- Segundo a dermatologista Susana Vi- solar que resguarde do sol e da radiação Reposição ao longo do dia
nhas há os chamados raios de sangue laça, “há pacientes que respondem dos ecrãs, dos computadores e televi- É importante repor o protetor solar
e a destruição desses raios melhora a muito bem com um ou dois tratamen- sores, que também podem provocar le- ao longo do dia. Já há brumas para
situação”. O nível de intervenção é tos, e outros que exigem mais, sobre- são. Só existe um que faz isso, o Helio- facilitar a reposição a quem usa
proporcional à necessidade. Mas no tudo peles muito pigmentadas, casos care, que tem Fernblock e também maquilhagem ou protetores com
pós-tratamento, se não houver prote- em que as manchas até podem escure- existe em suplemento oral que já in- cor que permitem o duplo efeito:
ção solar eficaz, “as manchas têm ten- cer mais ainda”. E assegura que há mui- clui vitamina D.” Com a proteção, diz, proteção e camuflagem.
dência a reaparecer”. “Se a pessoa se tas mulheres a procurar ajuda, “porque há manchas que reduzem logo, mas há
expuser outra vez, estraga tudo, é uma isto afeta muito a autoestima, talvez outras que não. E, além de tratamen- Chapéu de abas largas
questão de opção.” até mais do que as rugas”. tos superficiais com cremes que dimi- Além de evitar o sol nas horas de
Aos 54 anos, Natália Sá lembra-se bem Ao contrário de António Massa, Susa- nuem a atividade da enzima que leva à mais calor, usar chapéu de abas
de seguir as recomendações do derma- na Vilaça defende que “as hiperpig- produção de melanina, a cirurgiã de- largas, sobretudo na praia, ajuda
tologista à risca. “Devia ter 40 e poucos mentações são multifatoriais”. “Po- fende o recurso aos peelings. na proteção. Uma regra simples
anos quando comecei a ficar com man- dem ser predisposições genéticas, ter “Há muita gente que pensa, de forma para quando nos expomos ao sol
chas escuras no buço, a parecer um bi- causas hormonais, nomeadamente no errada, que os peelings das manchas só é perceber que quanto menor for
gode, e à volta dos olhos a fazer lembrar pós-parto, ou estar ligadas ao tipo de se podem fazer no inverno. Já não é ver- a nossa sombra, maior é o risco.
uns óculos.” Nunca foi de estar “a tor- pele, uma pele escura só de si está mais dade. Os peelings no inverno são mais
rar ao sol”, tem a pele branquinha. Co- propensa.” Mas a dermatologista reco- agressivos. Mas agora há peelings na- Consultar dermatologista
meçou a sentir-se feia. “Aquilo não nhece que o fator mais determinante notecnológicos que conseguem levar As terapias têm de ser adaptadas
desaparecia, cada vez tinha mais, é a exposição solar, que agrava o proble- informação aos núcleos das células em a cada pessoa e nem todas as
e no verão então, acentuava-se ma. E a proteção nem sempre é sufi- profundidade para que deixem de pro- manchas na pele são melasmas.
muito. Ainda levei uns dois ciente, “porque não é um ecrã total e a duzir melanina. Como não esfola a Há várias lesões que podem ter
anos a ir ao dermatologista, maioria das pessoas não usa a quanti- pele, podem ser feitos durante o verão, a aparência de manchas, desde
que uma pessoa conhecida dade adequada e não repõe”. porque não é uma agressão química.” queratoses actínicas a lentigos.
me sugeriu.” Mesmo com tratamento, alerta, “há Normalmente, explica Sofia Santare- O diagnóstico é fundamental.
Para disfarçar as man- manchas que não desaparecem”. Por- no, são necessários três peelings segui-
chas, até começou a que os “melasmas, além do escureci- dos, um por mês. Mas a cirurgiã acres- Tratamentos no verão
usar base e cremes mento que depende da profundidade, centa outra novidade nos tratamentos. Para os melasmas, há alguns trata-
com cor. Mas a ida ao também têm a componente vascular, Além dos lasers a luz pulsada que atuam mentos possíveis de fazer no
médico foi remédio e até com recurso a laser vascular al- nas manchas e cujos resultados são di- verão, desde cremes antioxidantes
santo. “O dermato- guns reaparecem”. Durante o verão, fíceis de prever, já há “pico lasers que a suplementação ou até peelings
logista receitou- além do protetor solar, há algumas so- permitem uma descarga rápida de nanotecnológicos.
-me medicação luções: cremes clareadores e antioxi- energia no melanócito numa duração
para despig- dantes ou suplementação para quem tão curtinha – num “picossegundo” ou
mentar a pele, tem fotossensibilidade alta. “São pró- bilionésimo de segundo – que não dá
que fiz na- -vitamínicos, com vitamina D, caro- tempo para as células à volta ficarem
quela fase. E tenos, para ter uma estimulação ho- inflamadas”. São mais precisos.
protetor mogénea e ajudar nos melasmas”, fri- Não faltam alternativas, contudo a
solar sem- sa Susana Vilaça. especialista aponta que o primeiro
pre, de Mas é fora da época dos banhos de sol passo é a aceitação. “Temos de assu-
verão, que a maioria das terapias, sobretudo mir que muitas manchas acabam por
inver- as abrasivas que renovam a pele, po- se tornar numa condição crónica. É
no, dem ser feitas. Peelings químicos, cre- uma cicatriz de cor na nossa pele. Mui-
mes despigmentantes, laserterapia. tas vezes, o único caminho é proteger
Embora reconheça que “são caros”, são para não piorar.” ● m

40 13.06.2021 Notícias Magazine

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esti-
los MODA
POR Sara Oliveira

PRÓ MENINO
E PRÁ MENINA
Marcas apostam em coleções sem género, com
propostas para todos os estilos que vestem
homens e mulheres sem qualquer distinção.
Sem (pre)conceitos. Focadas em pessoas.

A moda sem género ganha terreno Já Inês Torcato vê e apresenta a moda


num tempo rodeado pela incerteza e sem género como a “libertação de es-
pelo debate em torno dos Direitos Hu- tereótipos enraizados, até porque “de-
manos e justiça social, marcando uma vemos todos ser livres de vestir aquilo
posição pela igualdade entre pessoas. que nos representa enquanto indiví-
Como conceito base ou através de co- duos e aquilo que transmite a nossa
leções-cápsula, são muitas as marcas e identidade para os outros”.
designers que vão dando o exemplo,
focando as criações no ser humano, Promover a autoexpressão
sem distinção entre mulheres ou ho- No ano passado, a Gucci lançou a cate-
mens, afirmando o “genderless” como goria MX, com vestuário “genderless”
o caminho a seguir. Com propostas va- para promover a autoexpressão. Além
riadas (algumas descritas como unis- de roupa, tem sapatos, bolsas e acessó-
sexo, pela ausência de silhueta), discre- rios fiéis à grife e para todos. Mesmo
tas ou mais excêntricas, sugerem dife- sem linha específica, por cá, o designer
rentes estilos à medida de todos os gos- Gonçalo Peixoto não esconde que tam-
tos, cumprindo o princípio eclético na bém tem peças que vestem os homens
sua plenitude. – basta quererem –, “como os blazers
Lançada há quatro anos, a THE Nº 55 ‘oversize’ e, agora, os conjuntos de cal-
sempre se direcionou para o andrógi- ções e blusas de linho”. E a prova é que
no. A diretora criativa, Elia Lé, assume os mesmos conjuntos já foram usados
que “a missão é mudar mentalidades por ele próprio e pela influenciadora
para uma nova visão de como usar e ad- Anita da Costa.
quirir moda”. Assim, “a mesma mode- Ativista pela igualdade, o stylist Má-
lagem é usada por homem e mulher” e rio de Carvalho defende que “a roupa
ela própria veste as peças que tem no ‘no gender’ é para quem a quiser e só não
guarda-roupa. Elia inspira-se na “si- a pode usar quem não tiver dinheiro para
lhueta clássica”, e no “clássico intem- a comprar”. Desejoso que se entre numa
poral com toque contemporâneo”. loja que não esteja dividida por secções
O designer Hugo Costa foi dos primei- para homem ou mulher, lançou recen-
ros a descrever-se como autor “no gen- temente as sapatilhas “Out of box”, no
der”. Embora tenha começado por usar âmbito do projeto “No gender by Mário
as suas criações em modelos masculi- de Carvalho”, depois de duas coleções-
nos, sublinha que sempre desenhou -cápsula de roupa. Para o criador, “tudo
“roupa para pessoas, sem quaisquer passa por ser feliz”, sem os espartilhos
preconceitos”. “O facto de trabalhar- de ideias preconcebidas ou ditadas pela
mos ‘oversize’ facilita-nos o processo”, história, afirmando personalidade. Sem
reconhece, revelando que partilha o ar- julgamentos, olhares de esguelha ou dis-
mário com a mulher. criminações. ● m

42 13.06.2021 Notícias Magazine

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UGG
T-shirt
55 euros

INÊS TORCATO
Blazer preto
320 euros
Saia de pregas
140 euros
Blazer azul
320 euros
Calças azuis
97 euros

GONÇALO PEIXOTO
Camisa
65 euros

HUGO COSTA
Casaco
180 euros
Calças
160 euros
Camisa UCMORE BY MÁRIO
95 euros DE CARVALHO
Sapatilhas
129 euros

THE Nº 55
Camisa
132 euros
Calças
269 euros

Notícias Magazine 13.06.2021 43

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esti-
los IDEIAS
POR Sara Dias Oliveira

DESFEITA.
AS MALAS DE
TRICÔ DE MARIA
Nenhum modelo é iguaigual ao outro, a frente é
diferente da parte de trás, o forro sai e ganha outra
dif
portuguesas e uma máquina
vida. Feitas com lãs portug
com mais de 200 agulhas comprada em Chaves.

Maria Mira é bailarina da Companhia


Com Portuguesa de
Bailado Contemporâneo, em Lisboa. Ao fim de sema-
na, está em Proença-a-Nova, à volta das malas que faz
com lãs nacionais. A ideia marinou
ma algum tempo, en-
quanto matutava em como ocupar as pausas entre
confinamento. Focou-se no tri-
ensaios e durante o confinam
cô, comprou agulhas e um n novelo de lã numa retro-
saria, pesquisou na Internet como fazer uma cami-
sola com as próprias mãos. A dúvida surgiu. Como
unir as mangas à camisola? Mudança de planos e a
Desfeita viu a luz do dia com malas cheias de cor. or.
“Decidi criar uma coisa que não precisasse de unir,
uma coisa que fosse desfeita e que se pudesse construir.
struir
struir.
transformar em várias”, conta.
Uma coisa que se pode transfo
desmanchar, o desconstruir. Daí o
Interessava-lhe o desmanch
batismo e os forros de algodão que podem ser segunda gunda
mala, presos com botões para facilitar uma outraa vida.
A pesquisa foi apurada. Mergulhou
Me no mundo do das
máquinas de tricô, horas na n net, percebeu que jáá não
se fabricavam aparelhos para par a sua arte. Mais nave-
gações, descobriu uma senhorasenh em França com m vá-
rias máquinas, enviou-lhe um u email, recebeu como
resposta indicações do melh melhor equipamento para o
seu projeto. Mais pesquisas
pesquisa e esbarrou numaa má-
quina à venda na net, de 1975, com todos os ex-
tras, como nova, em ChavChaves. Rumou a nortee para
levar a máquina com ma mais de 200 agulhas e dois
metros que agora não ttem sossego. “Fui expe-
percebendo como funcionava,
rimentando, perceben va, se
amanhar-me sozinha.” Conseguiu,
conseguia amanhar-m eguiu,
avançou, explorand
explorando texturas, cores, possi-
bilidades, todo um mundo
m de descobertas.
ertas.
Mala a mala, 200 voltas na máquinaa para
a frente e para trás
trás. Nenhuma é iguall a ou-
frente não é igual ao dee trás,
tra. O lado da fren
as alças também não condizem umaa com
a outra. Tudo o q que é para coser é feito
eito à
desfeita é modelo único,
mão. Cada desf o, ex-
clusivo. “O quque é giro é essa constru-
nstru-
ção, com risc
riscas, sem riscas, juntar
ar co-
criatividade vai muito além
res. A criativ ém do
que apenas fazer malas.”A ideia deia é
não haver n nenhum modelo igual. gual.
“Há todo um mundo
m para explorar
ar em
cores e texturas.”. À v venda online, no Insta-
nsta-
gram (desfeita.pt), a pa partir de 32 euros. ●
m

44 13.06.2021 Notícias Magazine

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Encomende no quiosque NAS BANCAS 13 de
NAS junho
BANCAS 20 de junho 27 de junho 4 de julho 11 de julho

18 de julho 25 de julho 1 de agosto 8 de agosto 15 de agosto 22 de agosto 29 de agosto

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esti-
los TENDÊNCIAS
POR Sara Oliveira

ALIADOS
PARA A PUBLISHED KENZO

PRAIA 373 euros 185 euros

A época balnear já começou e o tempo


vai convidando a dias na praia ouu cami-
nhadas no areal, de preferência com le-
veza e sem grandes apetrechos. s. A par
do que se veste e calça, o telemóvel
móvel e
algum dinheiro ou cartões dee débi-
to/crédito são objetos que não podem
faltar e, na hora de lazer, há quee saber
onde os guardar. Mesmo que se leve
eve um
saco maior, até para guardar o protetor
otetor
solar, ter uma bolsa mais pequena ena e à
medida de um qualquer smartphone,phone,
é sempre o ideal para o proteger da areia
ou da água quando se está perto do mar.
Além disso, é um acessório prático
quando se gosta de andar de um m lado
para o outro sem quase nada a pesar.
sar.. Há

muitas propostas feitas com esse se pro-
pósito, algumas estanques, outras ras emm
tecidos ou materiais impermeáveis.
eáv vei
eis.
s.
BIMBA Y LOLA Para andar a tiracolo ou penduradas
adaassnno
no
58 euros braço, quase sem se notar. Lisas ou cocom
om
padrões, servem todas as idades, es, atéé
porque são aliados perfeitos para raa ter
ter o HAVAIANAS PARFOIS
essencial à mão e relaxar. ●m 18 euros 15,99 euros
WOMEN’S SECRET
6,99 euros

EASTPAK
27 euros

JO & MR. JOE


24,90 euros

46 13.06.2021 Notícias Magazine

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EM FORMA
POR Sara Oliveira

COM CONTA
E MEDIDA
Ter uma balança que indica, além do peso, XIAOMI
a quantidade aproximada de músculo, 23,99 euros

osso e gordura e avalia a composição


corporal já é acessível.

Por questões estéticas e de saúde, to- lanças inteligentes para ter em casa a “Muitos aparelhos não são muito fiá- sânimos, que é preciso combater em
dos querem estar em forma, com os nú- preços acessíveis. veis e o ideal são aqueles em que se co- processos de controlo de peso. Andreia
meros na balança nas medidas certas. Digitais e intuitivas, mas nem sem- locam os pés e as mãos e que, por nor- Santos aconselha, por isso, a que se
Mas o peso não é o único parâmetro a pre funcionam com a precisão deseja- ma, têm uns elétrodos de lado.” atente só “ao peso”, deixando os res-
ter em conta, até porque os corpos são da, alerta a nutricionista Andreia San- A nutricionista sugere que se façam tantes parâmetros para interpretar sob
todos diferentes. É importante perce- tos. Por exemplo, “há aquelas em que pesagens, no mesmo dia, a horas dife- orientação de quem sabe.
ber também a composição corporal, só se colocam os pés o que vai privile- rentes. Caso os resultados de massa Ainda assim, os resultados são indica-
apurando a quantidade aproximada de giar o que está nos membros inferiores, gorda e de massa muscular sejam dife- dores e permitem ter uma perceção dos
músculo, osso e gordura. enquanto as que só se tocam com as rentes, é fácil “tirar as dúvidas sobre a intervalos de referência, o que pode ser
Os resultados são normalmente afe- mãos vão medir sobretudo a gordura fiabilidade do aparelho”, já que “não é útil para uma primeira avaliação. Algu-
ridos através de um exame de bioimpe- dos membros superiores. Neste caso, suposto variar a massa gorda no mes- mas balanças estão conectadas a aplica-
dância, muito usado em consultas de quem ganha mais gordura nas coxas e mo dia”. ções que registam os dados biométricos
nutrição e nas avaliações nos ginásios. ancas sai mais favorecida numa medi- Fazer estas avaliações em casa “pode e o exercício praticado e permitem com-
Mas, atualmente, já se encontram ba- ção dessas”, aponta a profissional. criar uma pressão extra”, levando a de- parar os progressos atingidos. ●m

PROZIS WITHINGS
59,99 euros 150 euros

TANITA BC
219 euros

BEURER
29,90 euros ADE
99 euros

Notícias Magazine 13.06.2021 47

@jornaisPT
esti-
los A SAIR
PRECISÃO EM TODOS
OS MOMENTOS
Reconhecida por conceber
instrumentos fiáveis com
mecânica avançada, a Panerai
criou os Luminor Chrono,
que se distinguem pela colo-
cação original à esquerda dos
botões do cronógrafo e pelos
ponteiros azuis. Relógios com
precisão duradoura em cada
momento da vida.

MAIS PRODUTOS,
MENOS EMBALAGEM
PARA MÃES Pensada para todas as mães que adoram fazer A pandemia alterou os hábitos e os consumidores
QUE ADORAM match de roupa e swimwear com os mais
pequenos, a My First Cantê lança uma nova
preferem ir menos vezes às compras. Os novos packs
familiares da Campofrio, de peru e frango, com 220
COMBINAR coleção cápsula. Polos, t-shirts, calções e gramas de produto, são uma opção mais económica
COM OS FILHOS macacões, em tons como creme, azul e lilás, e que promove uma atitude mais sustentável através
são alguns dos destaques. da diminuição da utilização de embalagens.

COMO UMA FEITA DE


SEGUNDA PELE RESÍDUOS DO MAR
Liberdade, minima- Produzida com mate-
lismo e feminilidade riais feitos a partir de
são a essência da nova resíduos de plásticos
coleção de verão da recolhidos no mar, a
Dinh Van. Joias de nova coleção de banho
design depurado, leves da Oiôba é mais um
e versáteis, perfeitas passo rumo à sustentabi-
para serem uma lidade ambiental. Além
segunda pele em dias de biquínis e fatos de
quentes, que permitem banho, a marca
acompanhar looks fres- portuense propõe vesti-
cos, femininos e modernos. dos, calções de banho,
Em ouro amarelo, branco t-shirts e mochilas para
e rosa, e diamantes. os looks de verão.

48 13.06.2021 Notícias Magazine

@jornaisPT
HORÓSCOPO
POR Isabel Guimarães
Astróloga — ISAR/CAP

ANIVERSÁRIO
14 a 20
de junho

Carneiro Touro Gémeos Caranguejo


21.03 a 20.04 21.04 a 21.05 22.05 a 20.06 21.06 a 22.07

Necessidade de fazer Dificuldades em sentir-se A festejar o novo ciclo, Começa a chegar ao fe-
ajustes na sua vida, prin- reconhecido ou até com- principalmente os nasci- cho do seu ciclo, e com
cipalmente nas iniciati- preendido, com impacto dos no terceiro decanato, ele uma forte necessida-
vas que precisam de mais na vida pessoal e afetiva. tente ser mais realista. de para restruturar o tra-
foco e realismo. Pode pa- Promova diálogos em que Observe o que deixou balho e refletir de forma
recer que nunca aprende possa expor o que sente para trás sem estar resol- mais profunda o que pre-
a lição porque cai repeti- sem receio de perder e te- vido. Liberte-se para criar tende fazer a partir do
damente nas mesmas nha atenção ao excesso novos começos de forma seu aniversário. Vai lidar
ilusões ou no otimismo de teimosia. Aproveite mais otimista e realista. com situações de difícil
excessivo. Procure apoio para rever contratos e ar- Reveja contratos e inves- resolução e mal resolvi-
em quem confia. ranjar novas soluções. timentos. das. Reveja e reflita.

Leão Virgem Balança Escorpião


23.07 a 23.08 24.08 a 22.09 23.09 a 23.10 24.10 a 22.11 Boy George
Cantor, 59 anos
Altura em que vai sentir A forma como comunica De forma imprevista, É necessário uma análise George Alan O’Dowd, conhecido pelo
dificuldade em tomar de- está mais ativa e a neces- surge uma oportunidade mais realista da sua vida nome artístico de Boy George, é um
cisões, apesar de estar a sidade de partilhar cres- financeira, analise com afetiva e dos seus inves- famoso cantor e compositor nascido
aprofundar alguns te- ce. Boa capacidade de or- atenção antes de avan- timentos. Procure não a 14 de junho de 1961 no Reino Unido.
mas, participar em cur- ganizar. No entanto, pro- çar. O relacionamento reagir de forma agressiva De signo solar Gémeos com ascen-
sos ou fazer leituras. Dê cure rever detalhes e dar afetivo pode trazer um ou manipuladora. Apro- dente em Touro, revela uma inteligên-
mais tempo. Não descui- mais tempo para que novo sentido. Pode co- veite para integrar aspe- cia sensível e delicada, com boas ca-
de a sua vida afetiva. Per- possa ter melhores resul- nhecer pessoas de dife- tos da sua vida, valori- pacidades de compreensão, o que
mita-se expor os seus tados. A vida familiar re- rentes níveis sociais e ter zando os processos de denota uma forte intuição e recetivi-
sentimentos, o outro não quer mais a sua atenção e de lidar com assuntos do transformação que tem dade. A Lua no signo de Caranguejo
pode adivinhar o que dedicação, levando a mo- passado. Revelações in- realizado. Cuidado com indica uma excelente memória seleti-
está a sentir. mentos de conforto. esperadas. a falta de descanso. va. A afetividade e a intuição estão
muito desenvolvidas.

PLANETAS
Esta semana, a Lua ao ingressar no
Sagitário Capricórnio Aquário Peixes signo de Leão, na sua fase crescente, en-
23.11 a 21.12 22.12 a 20.01 21.01 a 18.02 19.02 a 20.03 contra Marte começando a criar uma pon-
te a Saturno, que está no movimento re-
Semana desafiante e com É importante estar aten- Boa altura para promover Período em que sente trógrado. A tendência será de relaxar e di-
contrariedades. Pode to aos excessos que po- o seu senso de responsa- uma maior pressão no vertir. No entanto, as regras impostas po-
sentir menos vitalidade e dem acabar por influen- bilidade nas relações pro- trabalho. As negociações dem levar a limites e sacrifícios que aca-
ter ações mais repenti- ciar a vida afetiva. Será fissionais. As recentes não estão facilitadas, as- bam por criar tensão e repressão. As ne-
nas, trazendo discórdia e necessário atenção para mudanças podem trazer- sim como a forma como gociações precisam de ser revistas e os
tensão. Procure refletir e encontrar formas de se li- -lhe receios e começar a pretende expandir os contratos renegociados, devido à influên-
cuidar da sua saúde. As bertar de emoções do sabotar as suas decisões. seus projetos. Reveja cia de Mercúrio no seu próprio signo no
mudanças sentidas po- passado e criar novos co- Boa altura para exercitar com atenção os detalhes. movimento retrógrado. Júpiter no signo
dem trazer dúvidas. Pro- meços nesta área de vida. o físico, procurar reforçar A vida afetiva pode estar de Peixes entra no movimento retrógrado,
cure informação e alter- Reveja novos projetos e o seu organismo e respei- a criar desafios devido sendo necessário rever viagens e a forma
nativas. tenha foco nas decisões. tar as horas de descanso. a recentes mudanças. como projetamos os nossos ideais.

Notícias Magazine 13.06.2021 49

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cró-
nica LEVANTE-SE
O RÉU
POR Rui Cardoso Martins

ILUSTRAÇÃO: JOÃO VASCO CORREIA

RESPONSO DE SANTO
nização por violência doméstica. Agora, era ele o acusador. O que
as advogadas e a juíza iam tentar era que a ex-mulher lhe baixasse
a dívida para 3 500 euros, isto é, um acordo que lhe amortizasse

ANTÓNIO (OU O
em 1 500 euros. Tudo certo, mas ele só aceitaria com um pedido
formal de desculpas da ex-mulher e da sogra. E o máximo que elas
admitiam dizer, depois de a juíza ter ensaiado, em directo na sala

ALEGADO MONSTRO)
de audiências, várias versões, era:
— Declaram que não pretenderam ofender o queixoso.
— Não sei se será suficiente, suspirou a advogada do homem
em Madrid. Parece-me que o mais importante para ele é o pedi-
Estranho dia para vos contar tal história, mas os dias são estra- do de desculpas.
nhos há ano e meio, não só no Santo António de Lisboa, a 13 de Até porque as injúrias e difamações foram “publicitadas”. A
Junho de 2021, aniversário da morte do sábio religioso em Pá- juíza lembrou que ele já foi condenado e que, continuando o jul-
dua, há 790 anos. É muito tempo, santo casamenteiro, muito gamento, nunca qualquer decisão seria aceite pelas duas par-
tempo a casar, a atender preces, e daqui te faço um responso, tes, que o processo subiria à Relação, e daí sabe-se lá até que pon-
oração dos aflitos quando uma coisa importante se perde nesta to do aparelho jurídico e da insanidade.
pandemia repetitiva: pensa na filha, não deixes a criança, salva — Não é um crime de homicídio nem de violência, continuar
a inocente vítima de um casamento perdido, quebrado como com isto para quê? O que está aqui é muito mau, tanto para a
um copo atirado contra as pedras. parte materna, quanto paterna!
A juíza tentou. Quando soube que o homem, o acusador, não Então, encontrando-nos nós no século XXI, ligou-se para um
podia vir a tribunal por estar retido num hotel de Madrid com hotel em Madrid, e a um homem retido pela pandemia pergun-
suspeitas de covid, ouviu da advogada de defesa: tou-se se queria chegar a acordo, pagando ele muito menos pela
— Acho que a arguida ficará muito feliz de saber que ele não sua própria condenação. Mas o homem, com a imagem trazida
pode regressar a Portugal. pelo éter da internet, começou a beber água sem autorização da
A juíza começou a tirar as medidas ao caso, a traçar os azimutes juíza e a rolar os olhos, mostrando, como disse a magistrada,
do ódio e a chegar ao único destino que interessava: o bem-estar “um perfil difícil”.
da filha do casal, que precisava de um acordo entre os (como se — Estamos a propor-lhe uma proposta razoável. E está aqui a
diz agora) progenitores e um fim imediato para isto. Várias ve- beber água?! Estamos num julgamento, não num café. E não
zes a magistrada disse que o importante era poupar a menina a me revire os olhos.
um processo que, condenando a mãe ou absolvendo-a, só podia — Não vou aceitar, sem desculpas não é razoável. Foi para de-
terminar em mais sofrimentos da menor. E aquela mulher nos negrir o meu nome, e como pai, terminou o homem.
seus trinta e poucos anos, parada no banco dos réus como mos- Mais tarde, ouvi o resumo da difamação: diante de várias pes-
quinha na teia, só mexendo uma asinha transparente com medo soas, no meio da rua, as duas, mãe e filha (avó e mãe da criança),
de se enredar mais? Comecei a perceber que, tanto ela como a gritaram “Monstro violador. Tu vais preso!”.
mãe – a sogra do suspeito de covid retido em Madrid – tinham Meu rico santo antoninho: Recupera-se o perdido/Rompe-se
dito coisas graves sobre o homem. Injúria e difamação. a dura prisão/E no lugar do coração/Cede o mar embravecido.
— Para ele, é mais importante o pedido de desculpas do que o /Pela sua intercessão/ Foge a peste, o erro, a morte/ O fraco tor-
dinheiro, disse a advogada do homem em Madrid. na-se forte/ E torna-se o enfermo são.
— Disparate!, respondeu a advogada da mulher. E acendam por esta menina, que sei eu mais!, uma vela branca.● m
O problema do dinheiro é mais antigo. Há meses, num outro pro-
cesso, o homem foi condenado a pagar cinco mil euros de indem- O AUTOR ESCREVE DE ACORDO COM A ANTERIOR ORTOGRAFIA.

50 13.06.2021 Notícias Magazine

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