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LISBOA-MADRID
ma-
4 comboios
e 10 horas de viagem
ao passado
gazine
MAIS UM
VERÃO SEM
FESTAS
A saudade vai vencer o medo?
@jornaisPT
A NOSSA HISTÓRIA,
O NOSSO PATRIMÓNIO,
AO ALCANCE DE TODOS.
REVISTA N.º 31
POR APENAS
SAIBA MAIS EM
3,90 €
NAS
BANCAS JNHISTORIA.JN.PT
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alma-
ESPELHO
MEU Inês Schreck
POR
naque
@jornaisPT
sumário#1516
HISTÓRIA A VER
DA SEMANA PASSAR OS
COMBOIOS
Verão
sem festa
Em 2021, a ligação
entre as duas capi-
tais ibéricas obriga
Pelo menos até ao fim de agosto a três transbordos
não há romarias, procissões, e dez horas em
arraiais. É mais um ano sem comboios antigos
santos populares, sem celebra- e pouco confortá-
ções de emigrantes. Como será veis. Uma viagem
o regresso das festas? A euforia que evidencia a falta
vencerá o medo? A jornalista de investimento
Sara Dias Oliveira ouviu empre- na ferrovia
sários, autarcas e comissões de em Portugal. P. 20
festas, artistas e sociólogos para
avaliar o impacto económico e
simbólico de mais um verão
A REVOLUÇÃO DOS COMPORTAMENTO BEM-ESTAR
BIOMARCADORES
sem festa. P. 14 CUIDAR ATÉ MARCADAS
Covid, cancro, demências À EXAUSTÃO PELO SOL
e doenças cardiovasculares
são apenas algumas das As manchas no rosto, que se
áreas em que os biomarca-
agravam no verão, são motivo de
dores já desempenham
descontentamento para muitas
um papel determinante
quer no diagnóstico, quer mulheres. Evitar o sol sem prote-
na definição de terapias ção é a melhor forma de preca-
mais dirigidas e eficazes. ver, já se sabe, mas os melasmas
São a via para a tão dese- podem ter outras causas. E, para
jada medicina personali- quem já tem o problema insta-
zada. A jornalista Sofia lado, há soluções, desde cremes,
Teixeira dá a conhecer suplementos, medicamentos a
algumas aplicações, em tratamentos com laser e peelings
contexto clínico, destes nanotecnológicos. A jornalista
parâmetros biológicos Catarina Silva falou com duas
que estão a revolucionar Uma enfermeira que trabalhou até mulheres e três médicos e
a medicina. P. 26 ficar doente. Uma mãe exaurida por explica como prevenir e tratar,
tratar do filho doente 24 horas por dia. até no verão, essa causa cres-
Dois casos de burnout, que afeta mais cente de procura de ajuda espe-
quem cuida dos outros, como conta a cializada. P. 38
jornalista Sofia Teixeira. P. 34
magazine
NOTÍCIAS
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RAIO-X OBJETOS
POR Inês Schreck POR Inês Schreck
OBSERVAÇÃO EM RÃS
IMPULSIONOU
CRIAÇÃO DA PILHA
Turismo encalhado Alexandro Volta descobriu que
no abre e fecha os metais é que faziam contrair
os músculos e produziam energia.
Napoleão tornou-o conde.
Em menos de um mês, as portas abriram-se e fecharam-se.
Inglaterra voltou a retirar Portugal do corredor verde turístico Sempre presente no dia a dia, nos comandos,
nas máquinas fotográficas ou nos brinquedos,
e a debandada não tardou. O argumento britânico não colhe e as a pilha é um dispositivo tão banal que poucos
expectativas de recuperação do turismo já parecem uma miragem. saberão como nasceu e muito menos que tudo
começou com uma experiência falhada.
No século XVIII, o médico e investigador
italiano Luigi Galvani descobriu, em experiên-
TEMPESTADE NUM COPO DE ÁGUA JOÃO cias com rãs mortas, que as suas perninhas se
Milhares de britânicos de férias no Algarve a FERNANDES contraíam ao serem tocadas com dois aros de
correrem de regresso a casa para evitar um Presidente metais diferentes. Ficou totalmente conven-
do Turismo
isolamento obrigatório de dez dias. O argu- cido de que tinha descoberto a eletricidade
do Algarve
mento do aumento de casos associados à va- animal. Estava enganado, mas pode dizer-se
riante nepalesa do vírus da covid-19 não colhe que foi esta observação, que acabou por ser
junto do Governo e especialistas. “Estão a fa- corrigida, a impulsionar a investigação do uso
zer uma tempestade num copo de água”, ga- da química na geração da en energia elétrica.
rantem. Serão vozes que ninguém ouve? Observando o trabalho de Galvani, o físico
Alessa
italiano Alessandro Volta percebeu
que as rãs não produziam eletrici-
ESPANHA RECUA E PORTUGAL RESPIRA dade própria, mas
m que esta resul-
Dias depois da decisão inglesa, um despacho tava dos metais usados para
do Ministério da Saúde espanhol a impor tes- contrair os seus nervos e músculos.
tes à covid-19 a quem atravessasse as frontei- A partir daqui, decidiu
de investigar
ras terrestres, sob pena de multa até três mil m
quais os melhores componen-
euros, indignou Portugal. Mas tudo não pas- “O Algarve teve tes para a produção de eletri-
sou de um erro. Espanha recuou, pediu des- cidade e concluiu
c que eram o
culpas e o imbróglio ficou sanado. cem mil p
zinco e a prata. Por volta de
movimentos de 1800, Alessandro
Alessa
dispositivo com
c
Volta criou um
várias camadas
passageiros m
destes dois metais, separadas
EUROPA ACREDITA NOS CERTIFICADOS por um disco de material poroso
A Europa acredita que o certificado digital de de origem britânica impregnado numa solução
vacinação é a solução para um regresso à nor-
malidade. Há pelo menos oito países que já
durante as duas ácida. Assim nasce a pilha de
Volta, ou pilha
pil voltaica, o
estão a emiti-lo (Bulgária, Croácia, República últimas semanas e primeiro gerador
ge estático de
Checa, Dinamarca, Alemanha, Grécia, Polónia energia elétrica
elét a ser criado.
e Espanha). Portugal está em testes e, garante [segundo dados da A descoberta
descobe foi de tal forma
o Governo, receberá esta semana os primeiros
estrangeiros com certificado.
Administração importante para a evolução da
eletroquími que, em 1810,
eletroquímica
Regional de Saúde]
75%
Napoleão Bonaparte
Bo fez do seu
criador um conde.
c Nos dias de
entre os hoje, são po
poucas as aplicações da
passageiros pilha de Volta,
Vol que sofreu várias
evoluções porque
p se descarre-
britânicos houve gava rapidam
rapidamente, mas ainda
se utiliza em certas baterias de
da quebra no PIB português em 2020 deve- apenas a registar – automóveis. ●
automóveis m
-se à redução da atividade turística. O Go-
e todos eles são
RAMA
verno anunciou seis mil milhões de euros para re- A pilha de Volta foi o primeiro
lançar este setor estratégico para a economia. testados – seis casos” ger
gerador estático
de energia elétrica
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Fernando Santos Madrugada, desce ao rio para ganhar cinco ou seis horas que
lhe valem anos de vida. Ali, no meio do Alentejo, casa esco-
lhida para retiro, um dia feliz deste lisboeta de origem beirã
O pescador pragmático abre com pescaria. A pensar em nada. Nunca tal imaginara. “A
calma não está no meu ADN.” O mesmo respondia a cada con-
vite do pai, pescador amador, contou-me em 2014. “Quando
partiu, dei o material de pesca aos amigos dele”, disse. “E agora,
Nascido e criado num bairro de Lisboa, foi um miúdo reguila. lá estou eu no rio, a pescar.”
Queria ser guarda-redes ou oficial da Marinha. Venceu o Aos 50 anos decidiu que aos 60 aceitaria a reforma. Nas véspe-
futebol. Distingue entre jogar bonito e jogar bem. Chegou ras, reconsiderou. A seleção de Portugal, depois de duas tenta-
a campeão da Europa. Agora tem de defender o título. tivas falhadas, acabava de lhe cair nas mãos. E dela faria campeã
da Europa. Agora, tal como em 2016, leva para o Euro 2020 mala
para um mês, confiante de que fica até ao fim. Nunca teve agen-
te, não gosta sequer do nome. O percurso foi correndo de forma
PERFIL natural. Sem apoderado chegou ao F. C. Porto e a campeão na-
POR Alexandra Tavares-Teles cional. Ao Benfica e ao Sporting. A melhor treinador do cam-
peonato grego, país que também lhe confiou a equipa nacional.
A cara fechada engana. “Apesar de muita gente achar que sou
um bicho do mato, tenho com os jogadores uma relação de gran-
de proximidade”, confidencia. Quando se ri parece mais jovem.
“Sempre tive um rosto pesado, tenho ar de velho desde miú-
do, mas parece que com o tempo vou ficando mais jovem.”
Na seleção está menos tenso. “O treinador de um clube de
alto nível é um bicho muito solitário, com as defesas aler-
ta. Treinar o Benfica, o F. C. Porto ou o Sporting significa ter
muita gente contra nós. E isso pesa. Mas com amigos e jo-
gadores não é assim. Esses conhecem bem o meu feitio”,
dizia em 2014.
Não é um feitio fácil. Sobretudo de manhã. “Há ali
uma primeira hora em que na realidade é muito difícil
lidar comigo.” Mas para os jogadores, a porta está sem-
pre aberta. “Têm deste lado um amigo e um disciplina-
dor.” Quando os jogadores gregos lhe disseram que seria
difícil chegar a horas aos treinos das oito por causa do trân-
sito, respondeu-lhes que então começariam às sete. No
regresso a Portugal, confessou que se sentiu parte daque-
la gente, o esforço para entender a cultura e o povo e a deci-
são de nunca cantar o hino grego em Portugal e o português
na Grécia.
Em autorretrato, sobressaiu a lealdade. Mas, admite: “Sou mui-
to autoritário, fervo em pouca água”. Se fazem dele parvo, irri-
ta-se. E, quando se irrita, fala alto e gesticula muito, natureza
que lhe custou, já, alguns castigos no futebol. Foi jogador, é en-
genheiro e treinador. Filho de um guarda-redes amador, em
criança queria ser Costa Pereira, o lendário keeper do Benfica.
Ou oficial da Marinha, por causa de um rapaz da Penha de Fran-
ça, seu vizinho, que via passar, da janela de casa, tinha uns seis
anos. Um alfacinha típico, miúdo de bairro, reguila, capaz de
O: ES
ÇÃ EV saltar redes para ir à fruta ou ver os aviões, de ir para o Parque
TRA A N
D
US L Eduardo VII nadar com os patos.
IL AFA
M
“Um miúdo de bairro, mas com um pai rijo. E com alguma ra-
zão. Vários dos meus amigos da altura foram por caminhos pio-
res e alguns faleceram”, contou. “Levei tantas. A maior delas,
tinha uns 12 ou 13 anos. Em vez de ir para casa, fui jogar ma-
traquilhos com um amigo. O pessoal apostava uns trocos, eu
e ele fazíamos bluff, dizíamos que não jogávamos nada e
no final ainda comíamos uns bolos. Perdi a noção do tem-
FERNANDO MANUEL po. Estive vários minutos a servir de saco de boxe. Não
FERNANDES me fez mal.” Tinha ambição. Com 11 anos, já fumador,
DA COSTA SANTOS entrou na Escola Afonso Domingos, onde tirou o cur-
so de montador eletricista. Chegaria a engenhei-
Cargo ro. Pai de dois filhos, é padrinho de 50 afilhados,
Selecionador de fute- alguns deles herdados do pai, outros em razão da
bol de Portugal “fé”. Fé, fundação inabalável de Fernando Santos.
Nascimento De volta ao Alentejo, ao fim da tarde, na casa re-
10/10/1954 fúgio, reúne os amigos. Um dia feliz do seleciona-
(66 anos) dor fecha à volta de uma mesa de jogo, seja bridge ou
Nacionalidade sueca. Tem uma aptidão natural para as cartas e detesta per-
Portuguesa der. Por isso, é pragmático. Por isso, distingue entre jogar boni-
(Lisboa) to e jogar bem. Por isso, ganhamos. ● m
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AS HISTÓRIAS A CULTURA
DOS DIAS Jorge Manuel Lopes
POR
POR Catarina Silva
Música
FREEPIK.COM
O cardápio do restaurante Lauren Vayet não é Há meio século, a dupla de produtores e compo-
para medrosos e o chef parisiense acredita que sitores Kenneth Gamble e Leon Huff, com a
está a apontar o caminho do futuro da ajuda essencial de Thom Bell, deu à sua cidade
alimentação. Aqui, há salada de camarão com uma editora e uma sonoridade que se transfor-
larva de farinha, também conhecida como mou numa cultura global. A Philadelphia Inter-
farinha amarela (produzida a partir de larvas de national Recordings formou um núcleo de
escaravelho), insetos crocantes em cama de músicos e artistas locais e procedeu a uma atua-
vegetais ou gafanhotos cobertos de chocolate. lização sumptuosa da Soul, do R&B e do Funk.
“Há alguns sabores muito interessantes. Não há Geraram um estilo, a Philly Soul, abriram o
muita gente que possa dizer que não gosta caminho para o disco e colecionaram êxitos nos
disto”, disse o chef à agência Reuters. Este ano, anos 1970 e 80. A sua influência na música
a Autoridade Europeia para a Segurança dos negra e de dança não se esbateu até hoje.
Alimentos considerou a larva de farinha A caixa “Get on board the soul train: The
adequada para consumo humano e aprovou a sound of Philadelphia International Records
sua venda no mercado. Os insetos podem vir a volume 1” junta os primeiros oito álbuns lança-
ser uma fonte de alimento sustentável, e é nisso dos pela editora entre 1971 e 73, mais uns brin-
em que acredita Vayet, que cultiva a sua larva de des, prometendo assim inaugurar um projeto
farinha localmente. E embora possa soar pouco de reedição integral. Tudo começou, e começa,
apetitosa, é rica em proteínas, gorduras e fibras. com Billy Paul, aqui com três discos a meio
Pode ser usada inteira em saladas ou moída em caminho entre uma Soul com fortes reflexos da
farinha para massas, biscoitos ou pão. Para década anterior e as primeiras, ambiciosas,
Veyet, o desafio é duplo: conquistar a opinião agitações rítmicas e orquestrais dos novos
pública e aprender a combinar o gosto dos tempos. Harold Melvin & the Blue Notes
insetos com outros alimentos. estreiam-se em longa-duração através de “I
miss you”. Há romantismo requintado e admi-
rável apuro no canto, e um Teddy Pendergrass já
PRATICAMENTE
menos alinhado nos carris sonoros da casa, pop
melodramática reminiscente de um Tom Jones
INTACTA
ou Scott Walker do Pacífico. The Intruders
foram das primeiras escolhas de Gamble e Huff
para a nova editora e em “Save the children”
toda a doçura soul em manta instrumental
requintada está presente. O trabalho com mais
sementes plantadas é a estreia
homónima dos MFSB, ajunta-
mento fluido de músicos da casa
que lança os alicerces multicul-
turais, multissensoriais e
Um escocês cuja carteira foi roubada disse que não, mas acabou por se lembrar virtuosos do disco. “MFSB”
há 17 anos num bar recuperou-a, após a do episódio. Em 2004, esqueceu-se da (iniciais de “mother father
mesma ter sido encontrada num arbusto carteira no WC do bar e, quando voltou, sister brother”) é uma
perto de um pub. Ryan Seymour, 37 já tinha sido roubada. À exceção de 70 obra-prima visionária;
anos, ficou inicialmente confuso euros, o conteúdo estava praticamente tem salsa, jazz, tem visão.
quando a Polícia o contactou a perguntar intacto, incluindo um cartão de aluguer Bem-vindos ao big bang,
se tinha perdido a carteira. Primeiro de filmes de um videoclube. em direto de Filadélfia. ●
m
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OJOGO
GRANDE PREMIO Patrocinadores Institucionais
DE
CICLISMO
DOURO
INTERNACIONAL
Patrocinios Apoios
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alma- Susana Romana
naque Partida, Largada, Fugida
1 2 3
H j é feriado
Hoje f i d dde S
Santo
t António. P
Porém, se quiserem mesmo fes-
É normal que não tenham dado por t
tejar têm um subterfúgio legal:
ele, já que calhou a um domingo e ca- p
podem sempre dizer que foi o
lhou a uma pandemia, também. senhor
se juiz que mandou. Rui
A Câmara de Lisboa proibiu marchas e Fon
Fonseca e Castro, conhecido Começou na sexta o Euro 2020,
arraiais. Querem mão na anca e berra- com o juiz negacionista que
como aqui em versão 2021. Este ano esta-
ria? – aproveitem a campanha de ameaçou
ameaç de porrada o diretor nacio- va tão desligada do certame que
Moedas e Medina para as autárquicas. nal da PSP
PSP, ffez um vídeo a apelar à celebração nem sabia ao certo onde ia ser. De-
dos Santos Populares. Está mesmo a pedir um pois percebi: é como a pandemia,
novo êxito de Rosinha “Ele Não Enfia O Dele vai ser um bocadinho em todo o
(O Nariz Dentro da Máscara)”. lado. Bonita homenagem.
5 4
Uma das broncas da semana foi a O primeiro jogo de Portugal vai ser na
q
questão de Espanha alegadamente terça, contra a Hungria. O estádio pode-
passar
passa a exigir que quem cruzar as fron- rá estar cheio na sua capacidade máxi-
teiras terrestres
te vindo de Portugal apresen- ma. Espera-se um resultado positivo,
te um tteste negativo ou uma prova de vaci- menos ao nível de zaragatoas de adep-
nação.
nação Afinal, tratou-se de um erro não in- tos que mamaram da mesma cerveja.
tencional,
tencio já resolvido. Suspeito que alguém
na DGS espanhola tem um namorado em
Famalicão que queria mesmo era evitar
que ele a fosse visitar. “Vires cá amanhã?
Ó amor, não dá, a fronteira está fecha-
da. Não, tem nada a ver com o Pablo
do meu ginásio, é de lei, juro.” Entretanto, já se deu a debandada
de ingleses que estavam no Algar-
ve, que regressaram atabalhoada-
6 mente depois da crise de dalto-
nismo que fez Boris
Johnson retirar Portugal
da lista verde. Mas não
O erro deu azo a uma madrugada de conversas se preocupem, eles es-
diplomáticas entre ambos os países. A coisa azedou tão bem. A fazer
de tal modo que Portugal até ameaçou nunca mais dar umas incríveis férias
pontos a Espanha na Eurovisão. de praia na provín-
7 cia de Shitty
Weather Upon
Avon, com um bi-
E por falar em ingleses: nasceu a segunda descendên- quíni de lã revesti-
cia de príncipe Harry e Meghan Markle, uma menina do a tecido polar.
chamada Lilibet Diana em homenagem respetiva-
mente à avó e à mãe de Harry. Suspeito que a
Oprah está piursa por ter sido preterida, depois
de tanto que fez por eles.
8
10 13.06.2021 Notícias Magazine
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Cidadania Impura
Valter Hugo Mãe
Por
Mudei para dentro do campo, fora do centro de Coura e à tor veio soltar debaixo da janela comem ainda mais de-
vista da paisagem. A Natureza aqui chega a ser excêntri- vagar só para manterem a minha calma. São educadíssi-
ca. Sinto que me passa a Arca de Noé à janela, apresen- mas e descem um pouco a ver como passa o rio entre as
tando um a um os bichos que, perfeitos, sobrevivem à árvores e eu reparo que a água também vai mais lenta a
revelia da incúria humana. demorar por aqui.
Estava a ouvir o Pergolesi de cada dia quando súbito A melhor coisa é quando descemos a estrada e as ove-
um bando de pássaros veio parar sobre a minha cabeça e lhas vão em recolha e olham o carro como um animal es-
deviam ser três vezes muitos mil. Eram pequenos e co- túpido que não pasta. Contornam nossa presença ao
mentavam certamente como a música barroca chegou mando do pastor e seguem cheias de tarefas alimenta-
tão perto de explicar tudo sobre o divino. res, bolas de lã obedientes e sem caprichos. São os bichos
Agora, ando convencido de que as ovelhas que o pas- mais crédulos, as ovelhas. São inteiras à nossa mercê e
isso gera em mim uma profunda compaixão.
A ARCA DE NOÉ
Há um cavalo negro que fica numa leira por onde pas-
so. Se abrando, ele vem ansioso ver-me. Julgo que espera
umas carícias, alguma conversa ou um passeio. Não en-
tendo nada de cavalos, fico a fazer comparações certa-
mente disparatadas com o meu cão. Este cavalo é um bi-
cho de companhia que cresceu demasiado. Tenho pena
que não caiba numa casa, num canto do sofá.
Uns tipos chamam-se bêbados e riem. Os domingos à
tarde dão tempo para estas alegrias. Enquanto flores eu-
foricamente abrem por toda a parte, ouvem-se vozes es-
parsas que são altas para vencerem as distâncias. Há vizi-
nhos de um lado para o outro das montanhas. O conví-
vio é lonjura e conquista da lonjura. Eu ouço baixo o Per-
golesi porque não quero obrigar ninguém à minha fanta-
sia, mas tudo em torno desta casa virou sagrado. A Arca
de Noé mandou agora os jacarés. Acho que sobem jacarés
do rio. Ou é do livro que estou escrever. O que é verdade
anda misturado.
Fui com a Isabel ver o pôr-do-sol ao miradouro da Se-
nhora da Pena e parecia estarmos num documentário da
National Geographic em que fazem photoshop às cores.
A vista é inacreditável e o modo como o astro deita exu-
bera. O Sol, eis a prova, é voluptuoso e vai para a cama
cheio de véus de seda e tule. Eu e a Isabel achamos que
deve ter na cama alguém à espera que justifique tanta
vaidade. No cimo do monte, subido o miradouro, as ter-
ras de Coura ainda se portam como um afinador do
Mundo. Parece que ensinam o Planeta a rodar sobre si
mesmo, mantendo a bênção dos dias, a fertilidade dos
solos, a graça da nossa vida, a esperança em alguma feli-
cidade. Está tudo como certo. Tudo certo.
Que curiosa simplicidade a de nos sentirmos apazi-
guados pela simples coisa de anoitecer. E sabermos que
voltamos a casa com vontade de gritar para o outro lado
da montanha a dizer que, afinal, mesmo sem copos tam-
bém estamos um pouco bêbados.● m
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A SEMANA
2ª
QUE VEM
POR Catarina Silva
OS ROSTOS SEGUNDA-FEIRA
Ivo Rosa
Acaba o teletrabalho
3ª
Juiz de instrução
criminal
obrigatório
O magistrado recusou
os pedidos de nuli- Acaba o teletrabalho obrigatório, os restaurantes
dade e enviou José alargam o horário e os adeptos regressam às banca-
Sócrates e Carlos das dos recintos desportivos. Começam em Portale- TERÇA-FEIRA
Santos Silva para gre as Jornadas Parlamentares do PSD, que quer
julgamento, no âmbito atualizar as propostas do partido para a reforma da Portugal defronta
Justiça. Os bolseiros científicos voltam a manifes-
da Operação
Marquês. O Ministério tar-se em Lisboa, em frente ao Ministério da tutela, a Hungria no Europeu
Público ainda pode dois meses após o primeiro protesto. Ainda na capi- e acaba censo de aves
recorrer. tal, os agricultores vão
Os bolseiros de investi-
contestar a política de gação científica vão exi-
A seleção portuguesa O Festival South Music é
preços baixos à produção. defronta, neste dia, a uma feira profissional que
gir prorrogação do pra-
pretende dar a conhecer os
Eduardo Pinheiro Começa a conferência zo de todas as bolsas Hungria, na fase de
projetos musicais algarvios
Candidato à Câmara anual sobre cibersegu- cujo trabalho foi afeta- grupos do Europeu ao meio e ajudá-los a saí-
do Porto rança, C-Days, no Porto. do pela pandemia 2020. O jogo, que acon- rem da região
tece em Budapeste,
O secretário de Estado começa às 17 horas. Termina, nesta data, o Censo
da Mobilidade, antigo de Aves Comuns, promovido pela Sociedade
vereador e presidente Portuguesa para o Estudo das Aves, que faz um
da Câmara de Matosi- retrato da nossa fauna avícola. A data marca
nhos, foi a escolha também o arranque do Festival South Music, em
do PS para concorrer Faro. No mesmo dia, o Vinha Boutique Hotel, novo
contra Rui Moreira. hotel de luxo em Vila Nova de Gaia, abre portas
quase um ano depois da previsão inicial. A nova
unidade de cinco estrelas, num investimento que
José Silvano chegou aos seis milhões de euros, foi construída na
Secretário-geral do PSD antiga Quinta Fonte da Vinha.
O deputado do PSD,
que vai a julgamento
COMEÇA O JULGAMENTO QUARTA-FEIRA
DE RICARDO SALGADO
no caso das alegadas
falsas presenças na
GREVE DOS TRABALHADORES
DA TRANSTEJO/SOFTLUSA
Assembleia da Repú-
blica, qualificou como
“absurda” a imputação O início do julgamento começa o interrogató-
que lhe é feita, reite- de Ricardo Salgado foi rio das sete pessoas
adiado para este dia. A indiciadas pela morte
rando estar inocente.
cimeira de líderes da do ex-futebolista Os funcionários da Trans-
NATO, a primeira com a
participação do novo
Diego Maradona. tejo/Softlusa, que liga
presidente dos EUA, Joe Para o Ministério Público,
a morte de Maradona,
Lisboa e a Margem Sul,
Biden, tem lugar em
Bruxelas. Na mesma
aos 60 anos, foi fruto
de falha ou negligência
voltam à greve por au-
data, na Argentina, da equipa médica mentos salariais. Biden
e Putin encontram-se em
“LEVO MALA PARA UM MÊS... Genebra. A relação entre
4ª
E TABACO TAMBÉM” EUA e Rússia vive mo-
mento de grande tensão.
Fernando Santos
Selecionador nacional, a propósito do Euro 2020,
que vai durar precisamente um mês, mostrando-
-se convicto, tal como em 2016, de que a sele-
ção portuguesa vai chegar longe na prova
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5ª QUINTA-FEIRA
S SÁBADO
Portugal joga com
a Alemanha e Festas
6ª
de São João de Braga
A seleção nacional de futebol joga, neste
SEXTA-FEIRA dia, com a Alemanha, em Munique (17
horas), no segundo jogo de Portugal no
Euro 2020. No mesmo dia, o Theatro
Circo recebe a Gala Sanjoanina, que conta
LANÇAMENTO EUROPEU DO com a participação da cantora Ana Baca-
CELEBRA 20
em Singapura. Portugal volta a marcar
presença com quatro alunos que vão
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PEDRO KIRILOS/GLOBAL IMAGENS
MAIS UM VERÃO
SEM FESTAS E
ARRAIAIS. E TUDO
FICARÁ COMO
DANTES?
Mais um ano sem romarias, procissões nas ruas,
santos populares, marchas na avenida, balões
no ar, fogo de artifício no céu, carrosséis a girar,
farturas em rulotes. Há uma economia quase
parada, em suspenso, em agonia. Mas nem tudo
estará perdido. As tradições não se vergam
e a saudade poderá vencer o medo.
TEXTO
Sara Dias Oliveira
@jornaisPT
Notícias Magazine 13.06.2021 15
@jornaisPT
O
MAIS UM VERÃO SEM FESTAS E ARRAIAIS. E TUDO FICARÁ COMO DANTES?
Governo proibiu festas e arraiais até ao final de agosto. Mais um tida, recupera-se tudo rapidamente, nada se perde, este amor à causa está no nos-
verão sem romarias, procissões, santos populares, festas dedi- so coração.” Gente do movimento associativo está sempre pronta e dá tudo. Há
cadas aos emigrantes. Há uma economia em sofrimento, uma quem lhe diz que será tudo melhor, que trabalhará dia e noite sem parar, que a ci-
indústria parada. Há desânimo e desalento. Lisboa não teve San- dade ficará linda e as marchas ainda mais bonitas.
to António. O São João do Porto não terá fogo de artifício, nem Em 2019, a festa do Senhor de Matosinhos juntou cerca de dois milhões de visi-
concertos, apenas três zonas de diversão na rotunda da Boavis- tantes ao longo de quase um mês. Em 2020, com a pandemia, a procissão não saiu,
ta, nas Fontainhas e em Lordelo do Ouro. O embate económi- a imagem do santo circulou pelas ruas num carro dos bombeiros. Este ano, houve
co é elevado, o impacto simbólico aperta o coração. Como será missa, a igreja foi decorada e ornamentada, a procissão não saiu e a imagem do san-
o regresso das festas? A balança pende para a euforia. to também não. Não há carrosséis nem farturas, montou-se uma exposição de fo-
Lisboa não festejou a noite de Santo António. É o segundo ano tografias e cartazes da festa em frente ao edifício dos Paços do Concelho, que ali
sem desfile das marchas populares, sem casamentos de Santo ficará todo o verão. “No dia em que foi colocado um tapete de flores, na exposição,
António, sem bailaricos. Pedro Franco, presidente da Associa- houve uma senhora que percorreu o tapete e se ajoelhou em frente à imagem do
ção de Coletividades do Concelho de Lisboa e presidente do júri santo a rezar”, recorda Luísa Salgueiro, presidente da Câmara de Matosinhos.
das marchas populares, fala em “mais um ano desgraçado”, mas “A nossa preocupação foi a de manter a essência da festa viva na vida das pes-
entende a decisão de não arriscar comprometer meses por dias de festa. “Natu- soas, sobretudo na questão religiosa.” A autarca sente a tristeza da população,
ralmente que há um grande impacto para as nossas coletividades que organizam mais um ano sem festa, assegura que a maioria entende as circunstâncias e que
as festas, as marchas, e para os comerciantes dos bairros históricos.” São 400 co- não tem havido reações negativas. Não tem números do abalo económico para a
letividades que, garante, “sempre respeitaram as ordens da DGS [Direção-Geral restauração, comércio local, atividades culturais, sabe que todos foram prejudi-
da Saúde] e as regras emanadas do Governo”. “A pandemia não é para brincadei- cados, mas compreende a posição do Governo que coincide com a perspetiva do
ras, isto mata.” Município que já tinha decidido não avançar com uma das romarias mais emble-
É uma economia de mãos atadas e com um nó apertado na garganta. Os ensaia- máticas do norte do país nos moldes habituais. “São as contingências do período
dores que vivem das marchas, as costureiras que se ocupam das roupas dos des- que vivemos.” E afasta qualquer perigo da festa perder importância e imponên-
files, compositores das letras e das músicas, o pessoal que instala arcos e palcos, cia. “Haverá um regresso entusiástico às festas, as pessoas estão com muitas sau-
os que tratam do calçado. “É uma economia que pára”, constata Pedro Franco. No dades”, prevê Luísa Salgueiro.
ano passado, a câmara deu 7 500 euros a cada marcha, este ano subiu para 15 mil, Em Lamego, a festa em honra de Nossa Senhora dos Remédios é o ponto alto e
metade do apoio habitual de 30 mil. Pedro Franco olha também para o país e para festivo do ano, arrasta multidões e muitos emigrantes de volta à terra. O progra-
o impacto que a pandemia está a causar na economia social, nas cerca de 31 mil ma habitual tem momentos musicais, marcha luminosa, batalhas de flores, cor-
coletividades, nos mais de 400 mil dirigentes e quatro milhões de associados. tejo etnográfico, a procissão em que os andores, que carregam imagens sagradas,
“Noventa e nove por cento trabalham graciosamente”, enfatiza. são puxados por juntas de bois. “No ano passado, transformámos as festividades
Pedro Franco tem atendido chamadas de gente em lágrimas e vozes embarga- numa homenagem com alguns momentos culturais. Este ano, estamos a traba-
das, comove-se também, mas pressente que o tempo perdido será recuperado do lhar em vários planos que vamos ajustar em função do contexto da altura”, avan-
dia para a noite. “As pessoas estão ansiosas, no dia em que for dado o sinal de par- ça Ana Catarina Rocha, presidente da Comissão de Festas dos Remédios e verea-
E Em 2019, a festa do
Senhor de Matosinhos
recebeu cerca de dois
milhões de visitantes
6 Quim Barreiros vê
um povo com vontade
de rua, de festas,
de bailaricos
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AMIN CHAAR/GLOBAL IMAGENS
“As romarias são
rituais que carregam
as energias sociais
e carregam também
o sentimento de
pertença”
JOÃO TEIXEIRA LOPES
Sociólogo, professor catedrático
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MAIS UM VERÃO SEM FESTAS E ARRAIAIS. E TUDO FICARÁ COMO DANTES?
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a A Nossa Senhora i O cantor popular q O São João, alegria ao povo no meio de tudo isto, mas os governantes não entendem da mes-
dos Remédios, em Lamego, Nel Monteiro tem mais em Braga, não será ma forma.”
está a ser planeada um verão sem concertos igual a 2019
O EMBATE ENTRE O MEDO E A EUFORIA
O verão é tempo de férias, de festas e romarias, das visitas de emigrantes. “As fes-
tas são rituais que conseguem, ainda que por algumas horas, virar o Mundo às
renova-se a partir das festas”, sustenta. Tal como as feiras que, por vezes, se mis-
turam com as festas, experiências muito próprias em que se mostram os frutos
do trabalho, em que as pessoas se sentem “heroínas das suas obras”. “Um mo-
“Somos fechados mento em que as pessoas veem o seu valor reconhecido.”
e proibidos de O ADN DAS COMUNIDADES QUE NÃO SE APAGA
fazer espetáculos Festas significam comunidades que se cruzam, que se cimentam, que criam laços.
por causa de uma “Os romeiros que andam de freguesia em freguesia a dançar e a cantar são um espe-
táculo em si que se sente até às entranhas.” Albertino Gonçalves lembra a força des-
pandemia, mas tas manifestações coletivas. “É algo que está no ADN social, que está nas entranhas
somos livres de e não desaparece.” Por isso, este ano há lágrimas outra vez. “As pessoas vão sentir a
perda e não vão parar de carpir as festas.” Mas o que não se faz este ano, não desapa-
morrer à fome” rece, não sai da memória. “Um São João que não se faz é um São João que obceca, há
NEL MONTEIRO uma enorme tendência para colmatar a falha e fazer outra vez.” Para recuperar não
Cantor apenas o que se perdeu na festa, mas tudo o resto, todo o tempo perdido. “As festas
vão ser canais de sensações e emoções que vão muito além do que é uma festa.”
Não há borracha que consiga apagar o passado, usos e costumes, tradições de
anos e de séculos. “Estes acontecimentos coletivos não acontecem por acaso, não
aparecem de um momento para o outro, dão muito trabalho, implicam organi-
zação, pessoas e investimento. As festas que são fortes vão continuar e ser for-
tes, as menos fortes podem fraquejar”, conclui Albertino Gonçalves.
A fruição cultural mudou com a pandemia. Há um novo contexto que não pode
cionários, restam três. Quase não há trabalho, uma ser ignorado, mais tecnológico, provavelmente mais abrangente, mais distante
das raras encomendas dos últimos meses chegou da também. “Haverá uma tendência para insistir nos formatos híbridos”, diz João
Figueira da Foz que vai celebrar a noite de São João Teixeira Lopes. Até porque, sublinha, foi feito um investimento nas novas tec-
em seis praias, numa extensão de 20 quilómetros, nologias que será necessário rentabilizar. Há um antes e um depois da pandemia
com fogo de artifício. e há, frisa o sociólogo, “o conformismo doméstico” que se acentuou nas atuais
David Costa entende que há festas e romarias em al- circunstâncias. A tendência para a domesticidade, a vontade de eliminar atritos
deias e vilas que poderiam acontecer com os devidos cui- por comodismo, a reorganização de horários, a fruição cultural no sofá de casa, a
dados, cumprindo as regras estipuladas. “Os nossos go- preguiça social. “A ideia de uma sociedade sem contacto é uma ideia perigosa.”
vernantes preferem sacrificar as nossas festinhas em prol Sem contacto perdem-se ligações sociais.
do turismo”, comenta. Um verão sem festas e sem fogo Albertino Gonçalves concede a tendência para o digital, para o online que já se
no céu não é a mesma coisa. “Cria alguma tristeza, algum apodera de muitas festas. O sociólogo admite essa vertente. “Há uma transfigu-
desalento. O fogo de artifício cria um certo fascínio.” ração das festas do digital, dos concursos, das televisões, por exemplo.”.
A Pirotecnia Minhota vive dia após dia, as despesas Hoje, 13 de junho, Dia de Santo António, Pedro Franco estará numa sessão so-
fixas são parcelas a somar, as receitas mingaram de uma forma nunca antes sen- lene do Santana Futebol Clube, de Campolide, que assinala cem anos de vida.
tida, é complicado aguentar muito mais tempo. David Costa teme que as tradi- Tem certeza de que se vai comover, confessa. Amanhã, 14 de junho, o país entra
ções das pequenas festas se percam. “Um ano sem fazer, outro ano sem fazer, há numa nova fase de desconfinamento, o comércio e a restauração alargam horá-
coisas que se perdem, perdem-se tradições por desabituação, porque se deixam rios, respiram melhor. Nel Monteiro, apesar de tudo, vai mantendo a esperança.
de fazer.” Este verão, em seu entender, poderia ser diferente. “Fazia sentido dar “Este verão está feito. Para o ano, estaremos cá para ver.” ● m
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DEZ HORAS E QUATRO COMBOIOS:
A VIAGEM POSSÍVEL ENTRE LISBOA E MADRID
Os atrasos no Ferrovia 2020 e a falta de aposta na alta velocidade
levaram a que, em 2021, Portugal esteja mais isolado do que
nunca em termos ferroviários. Viajar sobre carris entre as duas
capitais ibéricas exige mudanças, paragens e tempo livre
de sobra para passar dentro das automotoras.
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Lisboa
C
om Lisboa e Madrid separadas por 600 quilóme- de autocarro. “Na estrada, não há transbordos, mas o comboio é M A aventura até Madrid
tros, as melhores práticas recomendariam que a muito melhor em termos de comodidade. O comboio é um boca- começa antes das 9
viagem fosse feita de comboio. Mas não há ligação dinho mais rápido do que antigamente só que prefiro as carruagens horas. É fundamental ir
direta. Quem se atrever a fazer a deslocação em via antigas às automotoras.” aos cafés na Gare do
ferroviária tem de se preparar para a aventura, mu- Quando João começou a viajar entre a capital e o Crato, Lisboa e Oriente antes da viagem
nir-se de paciência e ter uma boa dose de tempo li- Madrid já estavam ligadas pelo comboio há 59 anos. Foi em 23 de porque nos comboios que
vre. Em 2021, a única viagem possível sobre car- julho de 1943 que arrancou a viagem entre as duas capitais. Três ve- se seguem não há bebida
ris entre as duas capitais ibéricas leva mais de dez zes por semana, o Lusitânia partia às 19.20 horas da estação do Ros- nem comida a bordo
horas e implica mudar de comboio três vezes. sio e chegava pelas 9.30 horas a Delícias, já em Madrid. As 13 horas
No início, a culpa foi da pandemia. Mas desde de percurso incluíam as formalidades alfandegárias e não faltava o
março do ano passado que não há uma ligação fer- luxo na restauração e nas camas, a cargo da Wagons Lits. A partir do
roviária direta entre Lisboa e Madrid porque o Lu- verão de 1955, o Lusitânia passou a partir de Santa Apolónia e, em
sitânia Comboio Hotel foi suspenso e não tem ha- 1961, tornou-se num comboio diário. Em 1969, a estação terminal
vido vontade (ou capacidade) do Governo portu- mudou-se de Delícias para Atocha.
guês em convencer “nuestros hermanos” (que neste particular
têm sido muito pouco irmãos) a retomar aquele serviço que era “Caganito sobre carris”
uma parceria entre a CP e a Renfe. João segue numa velha Allan, hoje com um ar apresentável, devi-
A nossa viagem começa em Santa Apolónia às 8.45 horas numa damente lavada e sem grafitos. Trata-se de uma automotora diesel
sexta-feira de maio. Até ao Entroncamento, viajamos numa auto- formada por um só veículo e cujo interior é um salão com 94 luga-
motora que os ferroviários apelidam ironicamente de “Lili Cane- res sentados, bastante apertados e demasiado próximos, já que obri-
ças”. É velha, mas parece nova. As UTE (Unidades Triplas Elétricas) ga a uma intimidade de joelhos e pernas pouco desejável, pelo me-
foram construídas na Sorefame nos anos 60 do século passado, mas nos, em tempos de covid.
foram sujeitas a um rejuvenescimento em 2003, que lhes deu um Não é confortável. A Allan é barulhenta, sacode-se, bamboleia, vi-
ar mais moderno, além de um óbvio aumento do conforto. Podem bra, saltita. É talvez o material da CP menos adaptado para fazer uma
circular a 120 km/h e têm capacidade para 264 passageiros. Circu- viagem de 174 quilómetros ao longo de duas horas e 50 minutos.
lam hoje em praticamente todas as linhas eletrificadas a norte do “Ui, é isto?! Parecia um caganito sobre carris, que só tinha a cabe-
Tejo, assegurando sobretudo ligações regionais. ça. Foi chocante quando vimos o comboio.” Nelson veio com Ca-
Chegados ao Entroncamento, temos apenas três minutos para tarina, do Porto, e nem queria acreditar quando viu que era naque-
apanhar a ligação para Badajoz. Não se trata da ligação oficial. A ver- la automotora que iria viajar até Badajoz. “Parece um autocarro so-
dadeira ligação para a Linha do Leste obriga quem vem de Lisboa a bre carris”, diz Catarina. Mas, perante o aspeto limpo da Allan, os
esperar uma hora e três minutos na estação do Entroncamento, au- jovens questionaram-se até se o comboio seria novo. Nada disso.
mentando assim desmesuradamente o tempo de viagem. Foi o que Há uma explicação.
fez João, 50 anos, que vai para o Crato e partiu de Lisboa no Inter- Na verdade, é um comboio antigo. As Allan foram compradas à
cidades que saiu às 8.15 horas de Santa Apolónia. Quem preferir ar- Holanda nos anos 50 do século passado e foram das primeiras au-
riscar os três minutos de ligação no Entroncamento, pode escolher tomotoras a diesel que circularam em Portugal (a par das Nohab,
o Regional que sai às 8.45 horas de Lisboa. importadas da Suécia). As automotoras holandesas circularam em
A viagem entre Lisboa e o Crato fá-la João uma vez por mês des- grande parte da rede, mas marcaram sobretudo a geografia ferro-
de 1992. Houve um período em que a deslocação teve de ser feita viária das linhas do Oeste e da Lousã. Em finais dos anos 1990, so-
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DEZ HORAS E QUATRO COMBOIOS: A VIAGEM POSSÍVEL ENTRE LISBOA E MADRID
Entroncamento
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Contas feitas, tem razão Manuela Cunha, da Comissão Nacional “Mas para a fronteira, tentei ver qual é o trajeto mais rápido e mais
d’Os Verdes, quando diz que faz falta um material circulante mais conveniente. Procurei os percursos nas plataformas de autocarros
rápido na Linha do Leste, o que permitiria encurtar o tempo de via- e de comboios e depois comparei.” A jovem conta que fora até Coim-
gem “já”. O “já” significa que não é preciso esperar pela desejável bra duas semanas antes. “Andar de comboio é uma das minhas via-
eletrificação da linha para colocar comboios rápidos elétricos a ace- gens preferidas. Ponho música e vou a apreciar uma paisagem mui-
lerar pelo Alto Alentejo. Ou seja, mesmo com material diesel, po- to melhor do que as do autocarro.” Rita também mostra satisfação
dia melhorar-se já o serviço ferroviário na região. A CP já tem algu- pelo regresso da Linha da Beira Baixa, que permite a deslocação di- Badajoz
mas opções imediatas: colocar, por exemplo, uma automotora UDD reta de Guarda até Abrantes.
(unidade dupla diesel) da série 450, com velocidade máxima de 120 Os três amigos estão a caminho de umas férias com colegas de
km/h; ou pôr em marcha composições de locomotiva e carruagens. Erasmus em Sevilha. Em Badajoz, têm quem os leve de carro. Mas
A também coordenadora para a ferrovia do partido foi quem mais não sabiam ainda como iriam regressar a Portugal. Provavelmen-
se bateu pela reabertura do serviço de passageiros na Linha do Les- te de autocarro. Manuela Cunha também defende o aumento da
te depois de o Governo da troika a ter encerrado em 2011. E conta frequência das circulações, pois não faz sentido ter apenas um com-
histórias singelas de pessoas que se viram abandonadas por não te- boio por dia em cada sentido.
rem transporte e para quem o regresso do comboio representou Em Santa Eulália, entram quatro jovens a conversar animada-
voltar à vida, às deslocações ao hospital, à visita de familiares. mente. Miguel Manjerico, 25 anos, Miguel Conceição, 17 anos, Da-
Uma década antes da troika, Portugal anunciou o compromisso niel F., 18 anos, e Érica, 20 anos, decidiram ir almoçar a Badajoz e
de ligar Lisboa a Madrid pelo TGV: primeiro, em 2001, ainda com viram no único comboio que serve a sua terra o meio ideal para o
António Guterres no poder; dois anos mais tarde, na Cimeira Ibé- fazerem. “É mais rápido, mais económico e sobretudo é uma coisa
rica da Figueira da Foz, o troço entre as duas capitais era uma das que não fazemos todos os dias. Eu, mesmo que tivesse a carta [de
quatro novas linhas. O tema começou a perder velocidade em 2005 condução], viria sempre de comboio”, atira Érica, que ainda não ti- q Por ser velha por
e acabou por desaparecer do mapa assim que o país pediu o emprés- nha experimentado viajar na velha automotora desde que o servi- dentro mas nova por fora,
timo de 78 mil milhões de euros. ço foi retomado em 2017. Os quatro almoçam em Badajoz, mas re- a automotora elétrica UTE
Rita entrou em Abrantes, vinda da Guarda, para se juntar aos ami- gressam de autocarro porque “os horários são maus” e já não há 2240 é conhecida como
gos Nelson e Catarina. “Eu nem conhecia este comboio. Tem uma “comboio para voltar”, lamenta Miguel Manjerico. “Lili Caneças” no meio
forma um pouco estranha.” É da Guarda e trabalha no Porto, não ferroviário. Faz o primeiro
costuma apanhar o comboio porque “a linha não é direta nem é a Viagem analógica troço da viagem, entre
melhor”, já que obriga a transbordo em Pampilhosa ou Coimbra B. A chegada a Espanha faz-se já sobre linha nova numa larga reta. A Lisboa e o Entroncamento
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DEZ HORAS E QUATRO COMBOIOS: A VIAGEM POSSÍVEL ENTRE LISBOA E MADRID
Mérida
a A primeira troca de
comboios acontece no
Entroncamento. De uma
unidade elétrica com três
carruagens, o passageiro
passa para uma pequena
automotora diesel
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DIREITOS RESERVADOS
Madrid
timos anos, mas, com apenas um milhão de habitantes, a região pa- M Apesar de ser a diesel,
rece não ter força suficiente para ser uma aposta do Governo cen- a automotora da série 599
tral. As ligações com Portugal são assim essenciais para dar outra
centralidade à mais pobre região da Espanha peninsular. Com a li-
da Renfe pode circular à
velocidade máxima de 160
1H15
Voo Lisboa-Madrid
gação a Lisboa, a Estremadura deixa de ser periférica em relação a km/h. No interior, há mesas (TAP), desde 25 euros
Madrid e passa a estar no meio da ligação com a capital portugue- em cada lugar, tomadas
sa, com o potencial de poder levar turistas a vários de locais patri- elétricas e espaço
mónio da Humanidade que se cruzam pelo caminho entre as capi- para quatro bicicletas
tais ibéricas, como Évora, Elvas, Mérida, Cáceres e Toledo.
A Plataforma do Sudoeste Ibérico, que junta empresas e institui-
ções dos dois lados da raia, é o rosto mais visível na luta pela melho-
ria das ligações ibéricas, com um plano ambicioso que promete re-
volucionar a mobilidade e as ligações transfronteiriças. Entre as
principais propostas está o prolongamento, já este ano, do serviço
Talgo direto entre Lisboa e Madrid passando por Badajoz,
mas ainda sem qualquer compromisso por parte das ope-
radoras ibéricas. Desta forma, a viagem demoraria sete
horas e 25 minutos.
10H30
Comboio, três transbordos, 60 euros
Já depois das oito da noite, à chegada a Madrid, avista-
-se, perto da gare de Atocha, um comboio de alta veloci-
dade da Ouigo, a primeira concorrente da Renfe em Espanha. A con-
corrência estreia-se no pote de ouro da Renfe: a ligação de 600 qui-
lómetros em três horas entre Madrid a Barcelona e que a Ouigo faz
8H45
Autocarro low-cost noturno direto
por um preço mínimo de nove euros por passageiro. “Este é o eco- (Gipsyy), a partir de 9,99 euros
nómico”, comenta uma idosa que apanhara o comboio em Orpesa
de Toledo, em Castela-La Mancha. Enquanto uns viajam por nove
euros para fazer 600 quilómetros, ela pagou 18 euros para fazer 160. 7H36
À tabela, quase dez horas e meia depois e mais de 700 quilóme- Carro a gasolina (sem portagens):
tros percorridos em quatro comboios e duas operadoras diferentes, 63,57 euros de combustível
a viagem termina no centro de Madrid. O custo é de 60 euros. Ape-
sar da monotonia em certos momentos, as paisagens são agradá- 6H18
veis, mas ficam as saudades do conforto de fazer todos estes quiló- Carro a gasolina (com portagens):
metros durante uma noite de sono a bordo do histórico Lusitânia. 79,06 euros (portagem 16,75 euros,
O comboio-hotel ibérico já não deverá voltar aos carris mesmo combustível 59,34 euros)
enquanto Portugal comanda a presidência do Conselho da União
Europeia, que incentiva as viagens transfronteiriças de comboio.
Só os verdadeiros aventureiros se atrevem a viajar entre Lisboa e
Madrid desta forma. ● m
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Biomarcadores:
o futuro da medicina
A descoberta e medição de novos parâmetros
biológicos é a grande revolução em direção à
medicina personalizada e de precisão. O diagnóstico
precoce, a previsão de como a doença se comportará
no futuro e a eficácia dos tratamentos é cada vez
mais determinada por estes indicadores.
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FOTO: FREEPIK.COM
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BIOMARCADORES: O FUTURO DA MEDICINA
N
ível baixo de linfócitos, diminui-
ção das plaquetas no sangue, D-
-dímeros elevados, proteína C-
-reativa elevada. Nomes difíceis
com um significado prático pou-
co favorável: os pacientes inter-
nados com covid-19 que apre-
sentam estas e outras alterações
estão em desvantagem, têm pro-
babilidade mais elevada de
doença muito grave e mortali-
dade aumentada. Que vários es-
tudos o tenham detetado logo
nos primeiros meses da pande-
mia é de grande valor para os médicos que têm de
tomar decisões, uma vez que, através de um grupo
de biomarcadores específicos, podem estratificar o
risco de cada paciente e, em conjunto com outros
parâmetros clínicos, estabelecer um prognóstico
mais confiável. E isso permite, de certa forma, pre-
dizer qual vai ser a evolução da doença em cada pa-
ciente.
Os biomarcadores são definidos como qualquer pa-
râmetro mensurável que possa ser usado como indi-
cador de um estado fisiológico ou patológico. E, hoje,
quase tudo na prática clínica, em várias especialida-
des e patologias, gira em torno deles: permitem per-
ceber os mecanismos da doença, são usados para de-
terminar um diagnóstico e um prognóstico e forne-
cem as bases tanto para o desenvolvimento de trata-
mentos como para a monitorização dos seus efeitos.
Sempre que fazemos uma análise ao sangue, por
exemplo, o médico procura determinar o nosso es- apenas em doentes jovens e com sintomas atípicos. como vai responder, aproximadamente, a doença a
tado de saúde através deles. O marcador ideal é aque- Ainda falta, porém, o mais importante, apesar de um certo tratamento. “Os recetores hormonais são
le que se relaciona com os mecanismos da doença e, haver vários ensaios clínicos em curso: identificar preditivos da resposta à hormonoterapia e o HER2 é
por isso, pode tornar-se também num alvo terapêu- um medicamento que a previna. “Nisso não temos preditivo da resposta a um grupo de tratamentos cha-
tico para a controlar. “No caso do colesterol, sabemos sido muito bem-sucedidos porque ainda não perce- mado anti-HER2 que mudaram o prognóstico deste
que valores aumentados correspondem a um risco bemos, na totalidade, o complexo processo biológi- cancro, era dos mais agressivos e passou a ser daque-
mais elevado de desenvolver eventos vasculares, co subjacente. Temos biomarcadores que melhoram les que têm melhor prognóstico”, salienta a investi-
como enfarte e acidente vascular cerebral”, exem- a precisão diagnóstica, mas a nossa capacidade de mu- gadora. Sem surpresa, o tipo triplo negativo é aque-
plifica Miguel Viana Baptista, diretor do Serviço de dar o curso dos acontecimentos ainda é diminuta, le que tem pior prognóstico, exatamente por não exis-
Neurologia do Hospital Egas Moniz e professor de pese embora haja medicação que pode ajudar a pro- tir a possibilidade de tratamento dirigido.“É uma das
Neurologia da Nova Medical School, Lisboa. “Por isso, telar os sintomas”, refere o médico e investigador. áreas em que tem havido mais investigação – tentar
usamos fármacos, as estatinas, que diminuem esses definir subgrupos dentro deste tipo de cancro da
valores, minimizando o risco desses eventos.” A REVOLUÇÃO NO TRATAMENTO DO CANCRO mama para ser possível defini-lo não pela ausência
Na área da neurologia, o uso de biomarcadores está Uma área em que, pelo contrário, os biomarcadores de biomarcadores, mas pela presença de alguns, de
condicionado por várias limitações, nomeadamente, já têm um papel essencial – e também no tratamen- forma a ser possível desenvolver medicamentos con-
a irreversibilidade dos danos. “Como as células ner- to – é a oncologia. Desde logo, porque é através deles tra esses alvos.”
vosas não se reproduzem, uma vez lesadas, já não con- que é possível subcategorizar as várias doenças a que Também no prognóstico (leia-se no curso natural
seguimos tratar a doença”, explica o médico. Assim, se chama cancro. No caso do carcinoma da mama, por da doença), os biomarcadores são essenciais. Nesse
o biomarcador ideal seria aquele que “conseguisse pre- exemplo, é a presença ou ausência de biomarcadores campo, Fátima Cardoso destaca o marcador de proli-
ver a lesão das células antes de ela acontecer e, ao mes- que determina os seus três subtipos principais. “O feração Ki67 e as assinaturas genómicas Mamma-
mo tempo, pudesse funcionar com alvo terapêutico, cancro da mama mais frequente, o hormonodepen- print e Oncotype. “Decidir o melhor tratamento para
ou seja, evitando que ela ocorresse”. dente, caracterizado pela presença do recetor de es- um cancro passa por perceber a velocidade a que o tu-
No caso da doença de Alzheimer, que o médico con- trogénio e/ou de progesterona; o HER2, caracteriza- mor se está a dividir, distinguindo um tumor agres-
sidera o grande desafio do século, parte já é possível. do pela presença do recetor para o fator de crescimen- sivo de um de crescimento lento.” O Ki67 ou as assi-
Através de uma PET (tomografia por emissão de po- to epidérmico tipo 2, e o triplo negativo, assim cha- naturas genómicas (a análise dos genes do tumor)
sitrões) com beta-amiloide (proteína solúvel que re- mado exatamente por não ser positivo para nenhum permitem perceber, por exemplo, se num determi-
flete o processo de degeneração neuronal) ou dos bio- desses três marcadores já conhecidos”, sintetiza Fá- nado cancro hormonodependente basta usar a hor-
marcadores A 1-42 e P-TAU no líquido cefalorraqui- tima Cardoso, médica oncologista, investigadora, di- monoterapia como tratamento ou se pode ser bené-
diano, é possível diagnosticar a demência em fase retora da Unidade da Mama do Centro Clínico Cham- fico adicionar a quimioterapia para prevenir, mais
pré-clínica. Ou seja, quando ainda não há um quadro palimaud, Lisboa. tarde, uma recidiva.
de défice cognitivo instalado. Este tipo de exame, re- A classificação é muito importante porque estes Há mais tratamentos desenvolvidos com base em
correndo a biomarcadores, não é feito por rotina, mas biomarcadores são também preditivos, isto é, dizem biomarcadores identificados, que, embora já dispo-
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FOTO: FREEPIK.COM
com DRC têm uma enorme propensão para a calci- DOS BIOMARCADORES
ficação vascular”, observa Dina Simes. Apesar dis-
so, os métodos radiográficos ou ecográficos para a
AO BIOSSENSORES
detetar têm muitas limitações e baixa sensibilida- O desenvolvimento de
de. “A proteína ‘Gla Rich Protein’ (GRP) demons- biomarcadores pode,
trou já claramente um papel fundamental para im- em alguns casos, dar
pedir esta calcificação vascular.” A GRP, que pode origem à criação de
ser medida através de uma análise ao sangue, tem biossensores – peque-
vindo a ser foco de estudos pré-clínicos e clínicos. nos aparelhos portáteis
“Num estudo clínico realizado em colaboração com capazes de avaliar o
o Departamento de Nefrologia do Centro Hospita- parâmetro em questão,
lar e Universitário do Algarve, envolvendo 80 doen- seja a nível hospitalar,
tes diabéticos com doença renal crónica, foi demons- seja para uso domés-
trado que os níveis de GRP no sangue vão diminuin- tico. Entre estes últimos,
do com a progressão da DRC, correlacionando-se o mais conhecido e utili-
com um aumento da calcificação vascular e pressão zado dos biossensores é
de pulso. Estes resultados claramente demonstram o medidor de glicose,
a potencialidade de utilização da GRP como biomar- que veio revolucionar o
cador para avaliar a deterioração da função renal e controlo da diabetes
calcificação vascular nestes doentes”, garante a in- pelos pacientes, dando-
vestigadora. Novos ensaios clínicos estão em curso -lhes um instrumento
para validar estes resultados e, se isso acontecer, “o para monitorizar e
biomarcador permitirá não só contribuir para o prog- controlar a doença
nóstico clínico, como será muito útil para a monito- diariamente, sem neces-
rização personalizada dos tratamentos, evitando as- sidade de uma desloca-
sim alguns efeitos secundários”. ção ao médico, com
apenas uma gota de
QUANDO NÃO TRATAR É O MELHOR REMÉDIO sangue. Há cada vez
A norte, no Grupo de Epigenética e Biologia do Can- mais destes aparelhos a
cro do Centro de Investigação do Instituto Português serem criados para uso
de Oncologia (IPO) do Porto, Vera Constâncio está doméstico, de forma a
também a desenvolver um trabalho que espera vir a monitorizar outras doen-
níveis comercialmente, ainda são pouco ou nada usa- ter um impacto num dos tipos de cancros mais fre- ças crónicas que preci-
dos em Portugal. É o caso da terapia-alvo dirigida a quente: o da próstata. O foco do seu trabalho na área sam de vigilância aper-
uma mutação no gene tumoral PI3K, no caso do can- dos biomarcadores está relacionado com outro pro- tada, como a insuficiên-
cro metastático, e também dos inibidores da PARP, blema na área oncológica menos falado: o sobredia- cia cardíaca.
usados para certos tumores causados por mutações gnóstico e sobretratamento. “O problema do cancro
no gene BRCA. “A medicina individualizada é um ob- da próstata, sobretudo em homens mais velhos, é que
jetivo que ainda não alcançámos, mas é através dos são detetados uma série de tumores que no curso nor-
biomarcadores que nos aproximamos dela”, resume mal da vida não os irão afetar em nada e, ainda assim,
a médica da Fundação Champalimaud. “Quanto mais por precaução são tratados”. É a versão clínica do clás- PARA QUE SERVEM
e melhores biomarcadores tivermos, melhor vamos sico “mais vale prevenir do que remediar”, mas o cer- OS BIOMARCADORES?
conseguir caracterizar e tratar aquele tumor especí- to é que o tratamento de uma patologia oncológica
fico, naquele doente em particular.” também tem um impacto na qualidade de vida do – Diagnosticar precoce-
Em pacientes com cancro de pulmão, os biomarca- doente. O ideal era conseguir prever que cancros vão mente uma doença;
dores têm tido um papel muito importante na defi- metastizar – sabe-se que são cerca de 30% – e quais
nição de tratamentos dirigidos, permitindo opções não vão e podem ser apenas vigiados. – Fazer o seguimento da
terapêuticas mais adequadas e eficazes. E é precisamente isso que Vera Constâncio está a sua evolução, preferen-
tentar fazer através do estudo dos exossomas. “São cialmente de forma não
INVESTIGAÇÃO PROMISSORA pequenas vesículas extracelulares, que todas as cé- invasiva;
Para chegar a novos biomarcadores que possam ser lulas libertam, e que se julga que conseguem trans-
validados e ajudem os médicos a tomar decisões clí- mitir informação a outras células, tendo um papel no – Ter uma noção do
nicas com segurança, o caminho começa na investi- desenvolvimento de nichos pré-metastático, um am- prognóstico clínico;
gação. Um pouco por todo o país, centenas de inves- biente, noutro órgão, que pode levar à metástase do
tigadores tentam validar novos biomarcadores – pre- tumor primário.” A investigadora está a tentar des- – Escolher um trata-
ferencialmente não invasivos, através de uma sim- cobrir um biomarcador que consiga, na altura do dia- mento adaptado às
ples análise ao sangue – que possam ser úteis no dia- gnóstico, medir esse tipo de comunicação entre ór- características da
gnóstico precoce, prognóstico e tratamento de várias gãos e, “dependendo se ela se está a estabelecer ou doença e ao paciente;
patologias. não, conseguiríamos perceber se é ou não provável
Na Faculdade de Ciências da Universidade do Al- que a metastização ocorra”. Se for bem-sucedida, no – Monitorizar a eficácia
garve, por exemplo, Dina Simes e Carla Viegas estão futuro, poderemos ter um biomarcador cujo objeti- da terapêutica;
a estudar um biomarcador que parece promissor para vo não é definir um tratamento oncológico, mas an-
quem tem doença renal crónica (DRC), uma das prin- tes evitar, com segurança, que um tratamento des- – Desenvolver novos
cipais causas de doença cardiovascular. “Os doentes necessário seja feito. ●
m medicamentos.
@jornaisPT
3.º
P
Príncipe George
Ge
George Alexander Louis,
22 de julho de 2013.
Primeiro filho do príncipe
Pri
William e de Kate Middleton.
Will
Neto do
d príncipe Charles, bisneto
da rainha Elizabeth II.
d
2.º
Kate Middleton Príncipe William
ill
Catherine Elizabeth Middleton, William Arthur Philip Louis,
duquesa de Cambridge, duque de Cambridge,
9 de janeiro de 1982. 21 de junho de 1982.
Mulher do príncipe William e Filho primogénito do príncipe
mãe dos príncipes George, Charles e da princesa Diana, irmão
Charlotte e Louis. Nora do do príncipe Harry. Casado com Kate
príncipe Charles. Middleton, duquesa de Cambridge.
Camilla
Camilla Rosemary Shand,
1.º
duquesa da Cornualha, Príncipe Charles
17 de julho de 1947. Charles Philip Arthur George,
Mulher do príncipe príncipe de Gales,
Charles desde 2005. 14 de novembro de 1948.
Madrasta dos príncipes Filho primogénito da rainha
William e Harry. Elizabeth II de Inglaterra e do
príncipe Philip, duque de Edimburgo.
É o primeiro na linha sucessória ao
trono britânico.
Diana
Diana Frances Spencer,
princesa de Gales,
1 de julho de 1961.
Primeira mulher do
príncipe Charles.
Divorciaram-se em 28 de
agosto de 1996. Tiveram
dois filhos, os príncipes
William e Harry. Morreu
em 31 de agosto de 1997.
@jornaisPT
avenida
4.º
Princesa Charlotte
Charlotte Elizabeth Diana,
2 de maio de 2015.
Filha do príncipe William e de 5.º
Kate Middleton. Neta do
príncipe Charles, bisneta da Príncipe Louis
rainha Elizabeth II. Louis Arthur Charles,
23 de abril de 2018.
T
Terceiro filho do príncipe
William e de Kate Middleton.
Wi
Neto do príncipe Charles,
N
bisneto da rainha Elizabeth II.
bis
6.º
Príncipe Har
Harry
Henry Charles Albert David, Meghan Markle
7.º
duque de Sussex, Rachel Meghan Markle, Archie Harrison
15 de setembro de 1984. duquesa de Sussex, Archie Harrison Mountbatten-Windsor,
É o filho mais novo do príncipe 4 de agosto de 1981. 6 de maio de 2019.
Charles e da princesa Diana, irmão Mulher do príncipe Harry e Primeiro filho do príncipe Harry e de
do príncipe William e neto da mãe de Archie Harrison e Meghan Markle. Neto do príncipe Charles,
rainha Elizabeth II de Inglaterra. Lilibet Diana. Nora do bisneto da rainha Elizabeth II, primo dos
Casado com Meghan Markle. príncipe Charles. príncipes George, Charlotte e Louis.
8.º
Lilibet Diana
Lilibet Diana Mountbatten-Windsor, UM REINADO ETERNO
A CAMINHO DA SUCESSÃO
6 de junho de 2021.
Segundo filho do príncipe Harry e de
Meghan Markle. Neta do príncipe
Charles, bisneta da rainha
Elizabeth II, prima dos príncipes
George, Charlotte e Louis. A FILHA DE HARRY E MEGHAN MARKLE, LILIBET DIANA,
ACABADA DE NASCER NO OUTRO LADO DO ATLÂNTICO,
É A 8.ª NA LINHA DE SUCESSÃO DA SOBERANA COM O MAIS
LONGO REINADO DA HISTÓRIA DE INGLATERRA. O NOME
LILIBET É PRECISAMENTE UMA HOMENAGEM A ELIZABETH II,
QUE CONTA QUASE 70 ANOS DE TRONO E 95 DE VIDA. MAS A
BISNETA DE SUA MAJESTADE ESTÁ MUITO LONGE DA
COROAÇÃO. O PRIMOGÉNITO DA RAINHA, O POUCO AMADO
PRÍNCIPE CHARLES, JÁ COM MAIS DE 70 ANOS, É O HERDEIRO
HÁ MAIS TEMPO À ESPERA E O PRIMEIRO NA LINHA DE
SUCESSÃO. LOGO A SEGUIR, O NETO WILLIAM E O PEQUENO
GEORGE, BISNETO, ESTÃO NO CAMINHO PARA ASSUMIR OS
DESTINOS DA CASA REAL BRITÂNICA, QUE RESISTE FIRME E
HIRTA ÀS POLÉMICAS E AOS ABANÕES DOS TEMPOS.
Notícias Magazine 13.06.2021 31
@jornaisPT
PERGUNTA TU
“Sempre gostei de
com um convidado em estúdio e eu es-
tava à frente dele, grávida, com uma
barriga grande e tinha um vestido cheio
de botõezinhos à frente. Comecei e
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ANOTA AÍ À V O LTA D O M U N D O VÊ MAIS EM
TAG.JN.PT
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esti-
los COMPORTAMENTO
POR Sofia Teixeira
O
s 14 anos a trabalhar em cuidados intensivos neona-
tais e pediátricos fizeram-lhe mossa. Quando se mu-
“Não me ção profissional – são os dois dos três sinais típicos do burnout, que
inclui ainda o cinismo ou despersonalização, ou seja, uma atitude
dou para os cuidados de saúde primários, em 2018, a sentia re- distanciada na prestação de cuidados. O estudo “Resiliência e bur-
enfermeira Mónica Sousa ia já exausta. Admite que
talvez já estivesse em processo de burnout não dia-
conhecida nout em organizações de saúde”, apresentado em fevereiro deste
ano e liderado por Sofia Gomes e Pedro Ferreira, da Universidade
gnosticado. E o que encontrou pela frente no centro pelo traba- Portucalense, revelou que, durante a pandemia, um em cada três
de saúde encarregou-se de continuar essa erosão.
“Cheguei desgastada e deparei-me com uma carga de
lho que fa- profissionais de saúde apresentaram níveis severos desta doença.
Em concreto, 58,2% revelavam elevada exaustão emocional, 54,6%
trabalho brutal: chegava a fazer 20 consultas a grávi- zia. Inves- uma grande perda de realização pessoal e 33,7% um enorme nível
das numa manhã ou a estar numa sala de tratamentos onde aten-
dia 50 pessoas por dia”, recorda. Tentava descansar, mas o alívio
tia muito, de despersonalização.
No mesmo estudo, os profissionais de saúde foram questionados
durava sempre pouco e não se sentia apoiada pelos superiores. mas sentia sobre como reduzir e prevenir o seu próprio burnout e, não por aca-
“Trabalhar exigia um grande esforço. Sentia muita pressão, fi-
cava agitada e ansiosa, mas depois de 14 anos a trabalhar em cui-
que inves- so, apontaram os mesmos aspetos destacados pela enfermeira Mó-
nica Sousa. “Referiram sobretudo aspetos relacionados com o con-
dados intensivos, estava habituada a esconder as emoções que tiam pouco texto de trabalho e que vão ao encontro daquilo que são os princi-
sentia e a continuar o trabalho.” O que viria a revelar-se uma op-
ção pouco saudável.
em mim” pais fatores de risco: menos horas de trabalho contínuo e mais meios
físicos e humanos nas estruturas de saúde”, explica Sofia Gomes.
Passou quase um ano assim, até perceber que teria de cuidar de si MÓNICA SOUSA “Mas também mencionaram, embora em menor número, aspetos
antes de poder continuar a tratar dos outros. Foi já em 2019 – o ano Enfermeira de cariz mais emocional, como o reconhecimento.”
em que o burnout foi oficialmente reconhecido como uma doen-
ça pela Organização Mundial de Saúde (OMS) – que Mónica, 40 Trabalhar 24 horas por dia
anos, procurou ajuda. “Estava com uma irritabilidade imensa, ex- Mudar a fralda ao João. Fazer manutenção da gastrostomia por onde
plodia com coisas pequenas, sentia uma dor e tristeza atroz. Mar- o alimenta. Posicioná-lo de duas em duas horas para evitar úlceras
quei uma consulta com a médica de família e escrevi uma carta ao de pressão e vigiar-lhe em permanência as crises diárias de epilep-
meu marido a contar-lhe como me sentia, porque nem conseguia sia. Dar banho e medicar o João. Aspirar as secreções do João. Sem-
verbalizar.” Na consulta de Medicina Geral e Familiar, recebeu o pre o João. Há 11 anos que a vida de Célia Grazina Teixeira, de 49
diagnóstico de depressão, foi medicada, passou por uma psiquia- anos, é dominada pelas necessidades do filho – uma criança com
tra para rever e ajustar a medicação, esteve de baixa e iniciou um paralisia cerebral bilateral espástica e uma série de outras condi-
processo de psicoterapia que durou cerca de seis meses. ções de saúde associadas – de quem ela cuida 24 horas por dia, 365
“Percebi como tudo isto estava associado ao trabalho: aos anos ex- dias por ano.
posta à pressão e ao sofrimento, à carga de trabalho imensa e à mi- Sorri quando lhe dizem que é bonita. “Maquilho-me sempre, fo-
nha autoestima profissional, porque não me sentia reconhecida”, ram 20 anos a trabalhar em cosmética”, justifica. “Agarro-me um
diz. E repete: “Não me sentia reconhecida pelo trabalho que fazia. bocadinho à imagem para me tentar sentir melhor, ter alguma di-
Investia muito, mas sentia que investiam pouco em mim”. gnidade e não fazer o papel de coitadinha. Mas é uma capa.” Por bai-
Os sintomas principais de Mónica – a exaustão e perda de realiza- xo da capa, está aquilo que é invisível aos olhos e denuncia o pro-
@jornaisPT
LEONARDO NEGRÃO/GLOBAL IMAGENS
a Célia Teixeira cuida há
11 anos, 24 horas por dia,
do filho João. “Não sei até
quando aguentarei sem
quebrar”
@jornaisPT
esti-
los COMPORTAMENTO
“Faço-o
com amor,
mas esta é
uma pro-
fissão que
me foi im-
posta. Sou
enfermei-
ra do João.
Só que o
meu turno
blema. E que acaba por confessar: “Sinto-me esgotada todos os dias”, nunca che- tensão produzida pelo Mundo complexo, os seus recursos inter-
“Há dias em que nem me apetece abrir as janelas”, “Muitas vezes nos consomem-se, como pela ação das chamas, não deixando se-
ir tomar banho é um esforço”, “Tiram-me tudo: não trabalho, não
ga ao fim” não um imenso vazio no interior, ainda que o invólucro exterior
tenho vida social”, “Não há quem aguente isto. Não sei até quan- CÉLIA TEIXEIRA pareça mais ou menos intacto.” Assim descreveu o burnout, em
do aguentarei sem quebrar”. Cuidadora do filho 1980, o psicólogo Herbert Freudenberger, um dos primeiros a de-
Célia está em burnout. E aplicar este termo, por norma associado tetar e estudar a síndrome do esgotamento profissional que, cu-
à exaustão profissional, aos cuidadores informais como ela não é riosamente, começou por notar em si próprio e alguns colegas,
um acaso. Cuidar torna-se um trabalho que não deixa espaço para durante os anos 1970, ao trabalhar em clínicas gratuitas em Nova
mais nada. “Faço-o com amor, mas esta é uma profissão que me foi
“O cuida- Iorque.
imposta. Sou enfermeira do João. Só que o meu turno nunca che- dor infor- Mónica Sousa, consumida pelas chamas, recuperou e aprendeu
ga ao fim”, desabafa. a tratar de si para o evitar. No ano passado, com o início da pande-
“É um problema gravíssimo”, resume Eva de Sousa, psicóloga clí-
mal não mia, voluntariou-se para as equipas das Áreas Dedicadas Covid-19
nica que presta apoio psicológico a muitos cuidadores informais. tem remu- nos Cuidados de Saúde Primários e foi destacada para fora do seu
“Os cuidadores formais embora sujeitos a um elevado stress asso- local de trabalho habitual. “Senti que estava a ser útil, fui sendo re-
ciados aos horários por turnos, ao convívio com o sofrimento e com
neração, conhecida pelo meu bom desempenho pelos meus superiores e
a morte e à pressão da tomada de decisão que envolve outros, têm não tem isso, juntamente com a psicoterapia, ajudou-me a ultrapassar o pro-
apesar de tudo um vínculo laboral, um ordenado, horários, vida fa- blema.” Hoje, de volta ao seu centro de saúde, tenta moderar o seu
miliar e vida social”, esclarece. Por comparação, “o cuidador infor-
horários esforço. “Cumpro com todas as minhas responsabilidades, mas per-
mal não tem remuneração, não tem horários e fica gradualmente e fica gra- mito-me dizer não, arranjar tempo para ir comer e para dar dois de-
com uma vida restrita ao familiar que cuida”. dos de conversa com uma colega.”
Por isso, uma das estratégias mais importantes é mobilizar ou-
dualmente Numa perspetiva individual, quando o cuidador percebe os sinais
tras pessoas para ajudar. “É essencial que haja cuidadores secun- com uma de fadiga psicológica, “deve procurar um psicólogo e iniciar uma
dários, outros familiares, um vizinho, alguém que possa substi- psicoterapia, necessária para reforçar a capacidade de resiliência,
tuir o cuidador principal por umas horas, para que a pessoa possa
vida restri- através do autoconhecimento, aprendizagem de estratégias para
ter um hobby, fazer desporto, ir às compras ou ao cabeleireiro, ta ao fami- lidar com as emoções, e enfrentar os problemas com outra atitu-
não ficando prisioneira dos cuidados ao outro”, refere a psicólo- de”, aconselha a psicóloga Eva Sousa. Mas as organizações e che-
ga clínica. Para Célia Teixeira, isso tem sido difícil. Sem apoio fa-
liar que fias também têm um importante papel a desempenhar. “Os aspe-
miliar além do marido (que trabalha fora o dia todo), o principal cuida” tos organizacionais, nomeadamente o ambiente de trabalho, con-
problema é a falta de reconhecimento do Estado face às necessi- tam muito”, pormenoriza. Isso implica que haja colaboração, coo-
EVA DE SOUSA
dades – tanto financeiras, como de descanso – dos cuidadores in- peração e apoio por parte das chefias. E também elogios, “uma fer-
Psicóloga clínica
formais como ela. ramenta de reconhecimento muito importante e por vezes subva-
lorizada”. Evitar o burnout, conclui a psicóloga clínica, “passa pelo
Aprender a equilibrar a balança equilíbrio entre os fatores stressores e os fatores protetores.” Para
“Apercebi-me ao longo do meu trabalho diário que, por vezes, as não ser consumido pelas chamas, é preciso que seja mais o que nos
pessoas são vítimas de incêndio, tal como os edifícios. Sujeitas à nutre do que o que nos desgasta. ● m
@jornaisPT
RECEITAS DA ÉPOCA
POR Ana Bravo
Nutricionista, autora e blogger (Nutrição com Coração)
TODOS OS MESES,
AS MINHAS RECEITAS TÊM
UM ALIMENTO EM DESTAQUE.
EM JUNHO SÃO AS NECTARINAS
A nectarina é uma
variedade genética
do pêssego, na qual
a casca é lisa. É uma
planta de clima
temperado e acredita-
-se que teve origem
na Ásia. A sua polpa
é suculenta e pode ser
branca, amarela
ou avermelhada.
@jornaisPT
esti-
los BEM-ESTAR
POR Catarina Silva
MANCHAS NA PELE:
O SOL É INIMIGO
DA PERFEIÇÃO
Os melasmas no rosto são um problema frequente
nas mulheres, que se agrava com a chegada do verão.
A exposição solar é uma das principais causas e o
protetor é o melhor amigo durante todo o ano. Mas já
há tratamentos, desde cremes a peelings não agressivos,
que se podem fazer na época da praia.
Maria Sousa teria uns 40 anos quando causas em dermatologia são muito di-
algumas manchas escuras lhe aparece- fíceis de apurar.” António Massa vê lar-
ram na pele, “na zona da bochecha e do gas dezenas de doentes por mês, tem “a
buço”. Lembra-se bem, foi no ano em maior clínica privada de dermatologia
que passou uma quinzena debaixo do do país”, no Porto. Vai direto ao assun-
sol das Caraíbas. É morena, cabelos es- to: “Há literatura que diz que as man-
curos, vive à face da praia. Sempre apa- chas podem estar ligadas a problemas
nhou sol, nunca sofreu com grandes es- de fígado ou até ao uso da pílula, mas os
caldões, mas na meninice não tinha fatores que realmente contam são a pre-
grandes cuidados com a pele. Pelo me- disposição genética e a exposição solar,
nos não tantos como hoje. Faça chuva, que é quase sempre excessiva”.
faça sol, seja verão ou inverno, o prote-
tor solar de fator 50 na cara não falha, Protetor solar em camada espessa
logo pela manhã. Entrou na rotina. Mas O dermatologista e também presiden-
as manchas teimosas, essas, nunca as te da Sociedade Portuguesa de Derma-
conseguiu eliminar. tologia e Venereologia ressalva outro
Não levou muito a procurar ajuda. Já pormenor. “Em países como o México,
tentou cremes despigmentantes e, no e volto a falar da genética, uma grande
inverno, alguns tratamentos que aju- percentagem de mulheres que en-
daram “a tornar o tom de pele mais ho- gravida fica com essas manchas,
mogéneo, mas que nunca resolveram é o chamado cloasma.” Ainda
totalmente as manchas”. No tempo assim, tem mais certezas do
frio, ficam mais atenuadas, só que há que dúvidas quando diz que
“três ou quatro mais persistentes que é o sol o maior inimigo. “As
continuam visíveis”. Tem 49 anos, não pessoas põem pouco pro-
complica, “há coisas piores”. “Uso um tetor solar. Não conta só o
bocadinho de maquilhagem para tra- fator de proteção. Aliás, o
balhar e para sair, mas se tiver que sair fator 30 quase chegava se
para uma caminhada, nem uso. Não é fosse em camada espes-
uma coisa extremamente visível e sa, massajando muito
também lido bem com isso.” em toda a face, e se fosse
O problema não lhe é exclusivo, lon- reaplicado duas, três,
ge disso. Há muitas mulheres que so- quatro vezes ao longo do
frem com melasmas no rosto. E a per- dia.” E lembra o que as
centagem é muito superior à dos ho- pessoas teimam em não
mens. “É claramente mais comum em ouvir: evitar a exposição
mulheres, embora também haja ho- solar entre as 11 e as 16
mens atingidos pelo problema. Mas as horas.
@jornaisPT
Notícias Magazine 13.06.2021 39
@jornaisPT
Certo é que as manchas na pele são chovesse ou trovejasse.” Duas consulta eficazes se as expectativas forem rea-
CONSELHOS
situação recorrente no consultório.
Mas há solução? “Sim. Com cremes
s bastaram, nunca mais ganhou as mal-
ditas manchas. “Porque tenho tido
listas. “Os tratamentos andam sempre
à volta dos 300 euros e o número de ses- PARA O VERÃO
específicos e medicação que se adap- sempre esse cuidado, uso fator 50+.” sões depende muito de pessoa para pes-
ta, conseguimos inverter o processo Largou a maquilhagem no dia a dia. soa”, observa a especialista. Proteção solar em quantidade
em muitos casos.” Numa segunda li- Ainda assim, no verão, confessa, há um Fazer proteção solar durante todo
nha, os peelings químicos – que está ligeiro reaparecimento. “Mas nada que Peelings no verão? Já é possível o ano é meio caminho andado para
fora de questão fazer no verão – con- se compare, nunca mais fiquei como Sofia Santareno, cirurgiã plástica, con- evitar o agravamento dos melas-
seguem acelerar o processo e contro- naquela altura.” corda que há melasmas que já são tão mas. O ideal é usar proteção 50+ e
lar a maior parte das manchas. E de- profundos que não se conseguem apa- aplicar dois mililitros de creme por
pois, os lasers de luz pulsada que, se- “Há manchas que não gar por completo. A única solução é pre- centímetro quadrado de pele.
gundo António Massa, só são úteis desaparecem” venir que escureça. “Com um protetor
quando “debaixo das manchas casta- Segundo a dermatologista Susana Vi- solar que resguarde do sol e da radiação Reposição ao longo do dia
nhas há os chamados raios de sangue laça, “há pacientes que respondem dos ecrãs, dos computadores e televi- É importante repor o protetor solar
e a destruição desses raios melhora a muito bem com um ou dois tratamen- sores, que também podem provocar le- ao longo do dia. Já há brumas para
situação”. O nível de intervenção é tos, e outros que exigem mais, sobre- são. Só existe um que faz isso, o Helio- facilitar a reposição a quem usa
proporcional à necessidade. Mas no tudo peles muito pigmentadas, casos care, que tem Fernblock e também maquilhagem ou protetores com
pós-tratamento, se não houver prote- em que as manchas até podem escure- existe em suplemento oral que já in- cor que permitem o duplo efeito:
ção solar eficaz, “as manchas têm ten- cer mais ainda”. E assegura que há mui- clui vitamina D.” Com a proteção, diz, proteção e camuflagem.
dência a reaparecer”. “Se a pessoa se tas mulheres a procurar ajuda, “porque há manchas que reduzem logo, mas há
expuser outra vez, estraga tudo, é uma isto afeta muito a autoestima, talvez outras que não. E, além de tratamen- Chapéu de abas largas
questão de opção.” até mais do que as rugas”. tos superficiais com cremes que dimi- Além de evitar o sol nas horas de
Aos 54 anos, Natália Sá lembra-se bem Ao contrário de António Massa, Susa- nuem a atividade da enzima que leva à mais calor, usar chapéu de abas
de seguir as recomendações do derma- na Vilaça defende que “as hiperpig- produção de melanina, a cirurgiã de- largas, sobretudo na praia, ajuda
tologista à risca. “Devia ter 40 e poucos mentações são multifatoriais”. “Po- fende o recurso aos peelings. na proteção. Uma regra simples
anos quando comecei a ficar com man- dem ser predisposições genéticas, ter “Há muita gente que pensa, de forma para quando nos expomos ao sol
chas escuras no buço, a parecer um bi- causas hormonais, nomeadamente no errada, que os peelings das manchas só é perceber que quanto menor for
gode, e à volta dos olhos a fazer lembrar pós-parto, ou estar ligadas ao tipo de se podem fazer no inverno. Já não é ver- a nossa sombra, maior é o risco.
uns óculos.” Nunca foi de estar “a tor- pele, uma pele escura só de si está mais dade. Os peelings no inverno são mais
rar ao sol”, tem a pele branquinha. Co- propensa.” Mas a dermatologista reco- agressivos. Mas agora há peelings na- Consultar dermatologista
meçou a sentir-se feia. “Aquilo não nhece que o fator mais determinante notecnológicos que conseguem levar As terapias têm de ser adaptadas
desaparecia, cada vez tinha mais, é a exposição solar, que agrava o proble- informação aos núcleos das células em a cada pessoa e nem todas as
e no verão então, acentuava-se ma. E a proteção nem sempre é sufi- profundidade para que deixem de pro- manchas na pele são melasmas.
muito. Ainda levei uns dois ciente, “porque não é um ecrã total e a duzir melanina. Como não esfola a Há várias lesões que podem ter
anos a ir ao dermatologista, maioria das pessoas não usa a quanti- pele, podem ser feitos durante o verão, a aparência de manchas, desde
que uma pessoa conhecida dade adequada e não repõe”. porque não é uma agressão química.” queratoses actínicas a lentigos.
me sugeriu.” Mesmo com tratamento, alerta, “há Normalmente, explica Sofia Santare- O diagnóstico é fundamental.
Para disfarçar as man- manchas que não desaparecem”. Por- no, são necessários três peelings segui-
chas, até começou a que os “melasmas, além do escureci- dos, um por mês. Mas a cirurgiã acres- Tratamentos no verão
usar base e cremes mento que depende da profundidade, centa outra novidade nos tratamentos. Para os melasmas, há alguns trata-
com cor. Mas a ida ao também têm a componente vascular, Além dos lasers a luz pulsada que atuam mentos possíveis de fazer no
médico foi remédio e até com recurso a laser vascular al- nas manchas e cujos resultados são di- verão, desde cremes antioxidantes
santo. “O dermato- guns reaparecem”. Durante o verão, fíceis de prever, já há “pico lasers que a suplementação ou até peelings
logista receitou- além do protetor solar, há algumas so- permitem uma descarga rápida de nanotecnológicos.
-me medicação luções: cremes clareadores e antioxi- energia no melanócito numa duração
para despig- dantes ou suplementação para quem tão curtinha – num “picossegundo” ou
mentar a pele, tem fotossensibilidade alta. “São pró- bilionésimo de segundo – que não dá
que fiz na- -vitamínicos, com vitamina D, caro- tempo para as células à volta ficarem
quela fase. E tenos, para ter uma estimulação ho- inflamadas”. São mais precisos.
protetor mogénea e ajudar nos melasmas”, fri- Não faltam alternativas, contudo a
solar sem- sa Susana Vilaça. especialista aponta que o primeiro
pre, de Mas é fora da época dos banhos de sol passo é a aceitação. “Temos de assu-
verão, que a maioria das terapias, sobretudo mir que muitas manchas acabam por
inver- as abrasivas que renovam a pele, po- se tornar numa condição crónica. É
no, dem ser feitas. Peelings químicos, cre- uma cicatriz de cor na nossa pele. Mui-
mes despigmentantes, laserterapia. tas vezes, o único caminho é proteger
Embora reconheça que “são caros”, são para não piorar.” ● m
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esti-
los MODA
POR Sara Oliveira
PRÓ MENINO
E PRÁ MENINA
Marcas apostam em coleções sem género, com
propostas para todos os estilos que vestem
homens e mulheres sem qualquer distinção.
Sem (pre)conceitos. Focadas em pessoas.
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Camisa
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esti-
los IDEIAS
POR Sara Dias Oliveira
DESFEITA.
AS MALAS DE
TRICÔ DE MARIA
Nenhum modelo é iguaigual ao outro, a frente é
diferente da parte de trás, o forro sai e ganha outra
dif
portuguesas e uma máquina
vida. Feitas com lãs portug
com mais de 200 agulhas comprada em Chaves.
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BANCAS 20 de junho 27 de junho 4 de julho 11 de julho
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Guy de Maupassant | F. Scott Fitzgerald
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ALIADOS
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EM FORMA
POR Sara Oliveira
COM CONTA
E MEDIDA
Ter uma balança que indica, além do peso, XIAOMI
a quantidade aproximada de músculo, 23,99 euros
Por questões estéticas e de saúde, to- lanças inteligentes para ter em casa a “Muitos aparelhos não são muito fiá- sânimos, que é preciso combater em
dos querem estar em forma, com os nú- preços acessíveis. veis e o ideal são aqueles em que se co- processos de controlo de peso. Andreia
meros na balança nas medidas certas. Digitais e intuitivas, mas nem sem- locam os pés e as mãos e que, por nor- Santos aconselha, por isso, a que se
Mas o peso não é o único parâmetro a pre funcionam com a precisão deseja- ma, têm uns elétrodos de lado.” atente só “ao peso”, deixando os res-
ter em conta, até porque os corpos são da, alerta a nutricionista Andreia San- A nutricionista sugere que se façam tantes parâmetros para interpretar sob
todos diferentes. É importante perce- tos. Por exemplo, “há aquelas em que pesagens, no mesmo dia, a horas dife- orientação de quem sabe.
ber também a composição corporal, só se colocam os pés o que vai privile- rentes. Caso os resultados de massa Ainda assim, os resultados são indica-
apurando a quantidade aproximada de giar o que está nos membros inferiores, gorda e de massa muscular sejam dife- dores e permitem ter uma perceção dos
músculo, osso e gordura. enquanto as que só se tocam com as rentes, é fácil “tirar as dúvidas sobre a intervalos de referência, o que pode ser
Os resultados são normalmente afe- mãos vão medir sobretudo a gordura fiabilidade do aparelho”, já que “não é útil para uma primeira avaliação. Algu-
ridos através de um exame de bioimpe- dos membros superiores. Neste caso, suposto variar a massa gorda no mes- mas balanças estão conectadas a aplica-
dância, muito usado em consultas de quem ganha mais gordura nas coxas e mo dia”. ções que registam os dados biométricos
nutrição e nas avaliações nos ginásios. ancas sai mais favorecida numa medi- Fazer estas avaliações em casa “pode e o exercício praticado e permitem com-
Mas, atualmente, já se encontram ba- ção dessas”, aponta a profissional. criar uma pressão extra”, levando a de- parar os progressos atingidos. ●m
PROZIS WITHINGS
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esti-
los A SAIR
PRECISÃO EM TODOS
OS MOMENTOS
Reconhecida por conceber
instrumentos fiáveis com
mecânica avançada, a Panerai
criou os Luminor Chrono,
que se distinguem pela colo-
cação original à esquerda dos
botões do cronógrafo e pelos
ponteiros azuis. Relógios com
precisão duradoura em cada
momento da vida.
MAIS PRODUTOS,
MENOS EMBALAGEM
PARA MÃES Pensada para todas as mães que adoram fazer A pandemia alterou os hábitos e os consumidores
QUE ADORAM match de roupa e swimwear com os mais
pequenos, a My First Cantê lança uma nova
preferem ir menos vezes às compras. Os novos packs
familiares da Campofrio, de peru e frango, com 220
COMBINAR coleção cápsula. Polos, t-shirts, calções e gramas de produto, são uma opção mais económica
COM OS FILHOS macacões, em tons como creme, azul e lilás, e que promove uma atitude mais sustentável através
são alguns dos destaques. da diminuição da utilização de embalagens.
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HORÓSCOPO
POR Isabel Guimarães
Astróloga — ISAR/CAP
ANIVERSÁRIO
14 a 20
de junho
Necessidade de fazer Dificuldades em sentir-se A festejar o novo ciclo, Começa a chegar ao fe-
ajustes na sua vida, prin- reconhecido ou até com- principalmente os nasci- cho do seu ciclo, e com
cipalmente nas iniciati- preendido, com impacto dos no terceiro decanato, ele uma forte necessida-
vas que precisam de mais na vida pessoal e afetiva. tente ser mais realista. de para restruturar o tra-
foco e realismo. Pode pa- Promova diálogos em que Observe o que deixou balho e refletir de forma
recer que nunca aprende possa expor o que sente para trás sem estar resol- mais profunda o que pre-
a lição porque cai repeti- sem receio de perder e te- vido. Liberte-se para criar tende fazer a partir do
damente nas mesmas nha atenção ao excesso novos começos de forma seu aniversário. Vai lidar
ilusões ou no otimismo de teimosia. Aproveite mais otimista e realista. com situações de difícil
excessivo. Procure apoio para rever contratos e ar- Reveja contratos e inves- resolução e mal resolvi-
em quem confia. ranjar novas soluções. timentos. das. Reveja e reflita.
PLANETAS
Esta semana, a Lua ao ingressar no
Sagitário Capricórnio Aquário Peixes signo de Leão, na sua fase crescente, en-
23.11 a 21.12 22.12 a 20.01 21.01 a 18.02 19.02 a 20.03 contra Marte começando a criar uma pon-
te a Saturno, que está no movimento re-
Semana desafiante e com É importante estar aten- Boa altura para promover Período em que sente trógrado. A tendência será de relaxar e di-
contrariedades. Pode to aos excessos que po- o seu senso de responsa- uma maior pressão no vertir. No entanto, as regras impostas po-
sentir menos vitalidade e dem acabar por influen- bilidade nas relações pro- trabalho. As negociações dem levar a limites e sacrifícios que aca-
ter ações mais repenti- ciar a vida afetiva. Será fissionais. As recentes não estão facilitadas, as- bam por criar tensão e repressão. As ne-
nas, trazendo discórdia e necessário atenção para mudanças podem trazer- sim como a forma como gociações precisam de ser revistas e os
tensão. Procure refletir e encontrar formas de se li- -lhe receios e começar a pretende expandir os contratos renegociados, devido à influên-
cuidar da sua saúde. As bertar de emoções do sabotar as suas decisões. seus projetos. Reveja cia de Mercúrio no seu próprio signo no
mudanças sentidas po- passado e criar novos co- Boa altura para exercitar com atenção os detalhes. movimento retrógrado. Júpiter no signo
dem trazer dúvidas. Pro- meços nesta área de vida. o físico, procurar reforçar A vida afetiva pode estar de Peixes entra no movimento retrógrado,
cure informação e alter- Reveja novos projetos e o seu organismo e respei- a criar desafios devido sendo necessário rever viagens e a forma
nativas. tenha foco nas decisões. tar as horas de descanso. a recentes mudanças. como projetamos os nossos ideais.
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cró-
nica LEVANTE-SE
O RÉU
POR Rui Cardoso Martins
RESPONSO DE SANTO
nização por violência doméstica. Agora, era ele o acusador. O que
as advogadas e a juíza iam tentar era que a ex-mulher lhe baixasse
a dívida para 3 500 euros, isto é, um acordo que lhe amortizasse
ANTÓNIO (OU O
em 1 500 euros. Tudo certo, mas ele só aceitaria com um pedido
formal de desculpas da ex-mulher e da sogra. E o máximo que elas
admitiam dizer, depois de a juíza ter ensaiado, em directo na sala
ALEGADO MONSTRO)
de audiências, várias versões, era:
— Declaram que não pretenderam ofender o queixoso.
— Não sei se será suficiente, suspirou a advogada do homem
em Madrid. Parece-me que o mais importante para ele é o pedi-
Estranho dia para vos contar tal história, mas os dias são estra- do de desculpas.
nhos há ano e meio, não só no Santo António de Lisboa, a 13 de Até porque as injúrias e difamações foram “publicitadas”. A
Junho de 2021, aniversário da morte do sábio religioso em Pá- juíza lembrou que ele já foi condenado e que, continuando o jul-
dua, há 790 anos. É muito tempo, santo casamenteiro, muito gamento, nunca qualquer decisão seria aceite pelas duas par-
tempo a casar, a atender preces, e daqui te faço um responso, tes, que o processo subiria à Relação, e daí sabe-se lá até que pon-
oração dos aflitos quando uma coisa importante se perde nesta to do aparelho jurídico e da insanidade.
pandemia repetitiva: pensa na filha, não deixes a criança, salva — Não é um crime de homicídio nem de violência, continuar
a inocente vítima de um casamento perdido, quebrado como com isto para quê? O que está aqui é muito mau, tanto para a
um copo atirado contra as pedras. parte materna, quanto paterna!
A juíza tentou. Quando soube que o homem, o acusador, não Então, encontrando-nos nós no século XXI, ligou-se para um
podia vir a tribunal por estar retido num hotel de Madrid com hotel em Madrid, e a um homem retido pela pandemia pergun-
suspeitas de covid, ouviu da advogada de defesa: tou-se se queria chegar a acordo, pagando ele muito menos pela
— Acho que a arguida ficará muito feliz de saber que ele não sua própria condenação. Mas o homem, com a imagem trazida
pode regressar a Portugal. pelo éter da internet, começou a beber água sem autorização da
A juíza começou a tirar as medidas ao caso, a traçar os azimutes juíza e a rolar os olhos, mostrando, como disse a magistrada,
do ódio e a chegar ao único destino que interessava: o bem-estar “um perfil difícil”.
da filha do casal, que precisava de um acordo entre os (como se — Estamos a propor-lhe uma proposta razoável. E está aqui a
diz agora) progenitores e um fim imediato para isto. Várias ve- beber água?! Estamos num julgamento, não num café. E não
zes a magistrada disse que o importante era poupar a menina a me revire os olhos.
um processo que, condenando a mãe ou absolvendo-a, só podia — Não vou aceitar, sem desculpas não é razoável. Foi para de-
terminar em mais sofrimentos da menor. E aquela mulher nos negrir o meu nome, e como pai, terminou o homem.
seus trinta e poucos anos, parada no banco dos réus como mos- Mais tarde, ouvi o resumo da difamação: diante de várias pes-
quinha na teia, só mexendo uma asinha transparente com medo soas, no meio da rua, as duas, mãe e filha (avó e mãe da criança),
de se enredar mais? Comecei a perceber que, tanto ela como a gritaram “Monstro violador. Tu vais preso!”.
mãe – a sogra do suspeito de covid retido em Madrid – tinham Meu rico santo antoninho: Recupera-se o perdido/Rompe-se
dito coisas graves sobre o homem. Injúria e difamação. a dura prisão/E no lugar do coração/Cede o mar embravecido.
— Para ele, é mais importante o pedido de desculpas do que o /Pela sua intercessão/ Foge a peste, o erro, a morte/ O fraco tor-
dinheiro, disse a advogada do homem em Madrid. na-se forte/ E torna-se o enfermo são.
— Disparate!, respondeu a advogada da mulher. E acendam por esta menina, que sei eu mais!, uma vela branca.● m
O problema do dinheiro é mais antigo. Há meses, num outro pro-
cesso, o homem foi condenado a pagar cinco mil euros de indem- O AUTOR ESCREVE DE ACORDO COM A ANTERIOR ORTOGRAFIA.
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