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XIII Reunião de Antropologia do Mercosul

22 a 25 de Julho de 2019, Porto Alegre (RS)

Grupo de Trabalho: GT 57 - Experimentações etnográficas acerca das associações


entre humanos e não-humanos

Oráculos-Ciborgues: agenciamento não-humano em aplicativos de cartomancia em


aplicativos de celular

Bruno Ueno Bertão1

1Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal do Paraná.


Contato: brunoueno@hotmail.com.
Introdução

“Em uma conversa com N., cartomante de grande projeção no Brasil, passei
a questioná-lo sobre as formas como os oráculos tem sido ‘virtualizados’ e de como
os seus praticantes se utilizam de ferramentas tecnológicas para a realização de
leituras. N. me relata sobre as páginas nos espaços virtuais em que se concentram
vários oraculistas e o consulente decide quanto tempo “gastará” com cada um2. Cada
oraculista recebe avaliações, elogios e críticas de seus consulentes após cada
atendimento. N. conta que consulentes acabam por gastar um determinado valor
monetário para adquirir algumas dezenas de minutos. Em seguida, despendem cada
dezena com um oraculista diferente. A situação gera uma grande tensão, de acordo
com N., já que as comparações de um jogo oracular em relação ao outro são
costumeiras. O uso destes espaços confere uma série de quebras de tabus que
costumam cercar a prática cartomântica, especialmente no que concerne ao tempo
necessário de distanciamento entre as leituras de cartas que se realizam. Contudo,
os oraculistas acabam por aceitar esse tipo de trabalho por necessidade financeira e
também como uma forma de estabelecer uma clientela maior de consulentes,
promovendo seus trabalhos para além de seus círculos sociais”.
O relato emitido por N. reverbera situações já encontradas em uma pesquisa
de campo anterior (BERTÃO, 2017), na qual foi proposta uma análise dos discursos
e das tensões em uma escola de astrologia tradicional quanto à produção do saber
dinivatório3. Naquele campo em questão, foi observado como os recursos
tecnológicos estavam incorporados à prática dos oraculistas, seja com a utilização de
aplicativos para a montagem dos mapas astrais4, seja com o uso de celulares para o
atendimento de consulentes. Inclusive, naquele campo foi constatado uma série de

2 Dentre as muitas páginas disponíveis, mobilizo aqui como referência a “Cartas Ciganas”, cuja
definição de “quem somos nós” se apresenta como: “O Site Cartas Ciganas conta com profissionais
engajados e dedicados a orientar, ampliar sua visão e trazer esclarecimentos em diversas áreas de
sua vida, seja em questões de amor, relacionamentos, dinheiro, carreira, saúde e tudo que é importante
para você”. Disponível em: https://cartasciganas.com/. Acesso em 13/06/2019.
3 O trabalho procura dar enfoque na cartomancia e na astrologia, tendo em vista serem os meios mais

popularizados de artes divinatórias no Brasil. Contudo, são muitas as técnicas existentes para predizer
o futuro ou realizar análises de contextos do presente ou do passado. Para uma lista possível de artes
divinatórias, consultar: http://www.clubedotaro.com.br/site/r68_0_mancias.asp. Acesso em 15/06/2019.
4 Os mapas astrais são as principais ferramentas para a realização do oraculismo na astrologia.

Podendo apresentar diferentes formas de desenho, o mapa astral é uma representação da posição dos
planetas na abóboda celeste a partir de uma perspectiva geocêntrica. A partir da sua disposição e
movimentação em relação ao nativo são feitas as predições.
astrólogos que preferem o atendimento à distância. O compartilhamento de materiais
entre os alunos e professores, livros astrológicos tidos como “tradicionais”, era
realizado por meio de um grupo localizado em uma rede social, espaço no qual
também se estendiam os questionamentos colocados em sala de aula.
Posteriormente, as redes sociais serviriam como base para a publicação de análises
contextuais e da biografia de personalidades artísticas com base na astrologia por
parte tanto dos professores da escola, quanto dos seus estudantes.
As artes divinatórias não estão isentas dos processos atuais de digitalização
da modernidade. As ferramentas disponíveis (aplicativos, redes sociais, celulares,
bibliotecas virtuais) acabam por potencializar não só o aprendizado, como também a
manutenção da prática profissional ao possibilitar atendimentos que extravasem o
lugar físico no qual o oraculista se encontra. Há de se colocar, contudo, que estes
processos também promovem uma massificação destas práticas antes exclusivas a
grupos “esotéricos”. Uma expansão dos oráculos que já havia iniciado anteriormente,
entre as décadas de 1970 e 1980, com a divulgação de horóscopos em jornais e de
livros com os principais fundamentos da cartomancia (acompanhados do próprio
baralho de jogo). A questão da contemporaneidade se diferencia por conta dos
múltiplos materiais encontrados em redes virtuais que extravasam àquele
disponibilizado pelas editoras ou escolas esotéricas. Os grupos de compartilhamento
e de estudo das artes oraculares trazem diferentes vertentes de artes oraculares antes
disponíveis apenas para pequenos grupos isolados (como a astrologia védica, o
estudo da cabala e a cartomancia de Crowley).
Para além da consideração do saber que envolve as artes divinatórias, os
objetos que intermediam as leituras oraculares também passaram a ser massificados.
Os baralhos, agentes principais na intermediação da leitura oracular, nunca foram
exclusivos para a função preditiva. Por séculos, os baralhos foram popularizados para
usos de entretenimento e espetáculos em jogos de azar e truques de ilusionismo. O
baralho, considerado nesta dimensão de análise como um ator não-humano, é
integrando em diferentes redes e circuitos populares e esotéricos, por muitas vezes
se afastando da intencionalidade inicial daqueles que os desenharam e coloriram.
Hoje, com a digitalização dos baralhos, é possível abdicar não só da configuração
física das cartas, como também do agenciamento humano no momento de embaralhar
e interpretar as cartas no momento da tiragem. Algoritmos e interpretações pré-
setadas passam a compor o cotidiano de indivíduos que se utilizam de baralhos em
aplicativos como forma de orientação das suas disposições diárias. Da mesma forma,
os baralhos utilizados em jogos de azar (como poker, truco e paciência) têm sido
igualmente disseminados e massificados nos espaços virtuais, a ponto de serem
organizados eventos e competições com o uso de suas versões digitalizadas.
A partir destas constatações iniciais, certas questões podem ser apontadas a
respeito da forma como a eficácia simbólica vem sendo reconfigurada e resignificada
a partir da inserção dos oraculistas e dos baralhos em redes virtuais. No presente
trabalho, parto da eficácia simbólica a partir dos termos mais sistemáticos de Lévi-
Strauss (1958), atribuindo também uma importância fundamental às relações
corporais, mobilizando Le Breton (1999). A partir dessa base teórica, evidencia-se de
antemão que o atendimento oracular feito dentro de uma tenda ou um quarto mobiliza
diferentes sensorialidades e formas de articulação do discurso daquelas realizadas
em sites que reúnem oraculistas ou dos aplicativos que realizam leituras oraculares.
Diante dos presentes questionamentos, será preciso responder de que forma as
relações corporais e as mudanças dos meios a partir da digitalização estão
transformando as práticas oraculares, reconfigurando as noções dos indivíduos
acerca da sua eficácia.
Diante dos estudos antropológicos já realizados que procuram abarcar estas
práticas, é possível denotar um relativo distanciamento dos autores em relação ao
agenciamentos humanos e não-humanos ou às interações dos oraculistas com
aparelhos eletrônicos ou campos digitais. Os trabalhos de José G. C. Magnani (1999)
e Maluf (2005; 2011), como exemplo, partem de uma análise de circuitos ou redes de
eventos promovidos por grupos específicos de “esotéricos” que assumem uma
abordagem mais fragmentada e terapêutica, incorporando diferentes sistemas de
saber (“new agers”, “neoesotéricos”, “terapeutas holísticos”). Por sua vez, obras
fundamentais como a de Vilhena (1990), metodologicamente limitaram o estudo das
práticas da astrologia em um determinado espaço, promovendo discussões profícuos
acerca das tensões entre os saberes “ocultistas” e a epistemologia científica da
modernidade. Esforço que se aproxima do também relevante trabalho de Tavares
acerca da cartomancia (1999). Contemporaneamente, autores como Junglebut (2010)
enfocam a questão do oraculismo em redes sociais mobilizando a noção de
ciberespaço, contudo, evitando articulações maiores entre os interstícios das esferas
online e off-line. Enquanto Boas Huz (2014) coloca estas práticas dentro do campo da
“espiritualidade” e alocando em uma visão que remete ao uso fragmentado do
esoterismo da “New Age”.
Atualmente, por conta da influência dos trabalhos citados e de outros que
seguem um uso de categorias antropológicas similares, há ainda uma associação
muito presente entre as práticas oraculares e o movimento New Age, característico
da metade do século XX5. O equívoco primário no uso indiscriminado do termo é tratar
antecipadamente todos usos possíveis destes saberes a partir da ótica de um conjunto
de práticas “espirituais” híbridas que procuram estabelecer o “desenvolvimento
individual” ou a “construção do self”. Desconsiderando grupos que procuram se
contrapor às relações mais fragmentadas dos saberes esotéricos, como já apontei em
trabalho anterior a respeito dos astrólogos “tradicionais” (BERTÃO, 2018). Além disso,
este tipo de abordagem emana um enfoque concedido apenas na interação entre os
agentes humanos dentro de um contexto pós-moderno cuja lógica individualista
impera, deixando de considerar os agenciamentos de “espíritos”, “cristais”, “astros”,
“baralhos”, entre outros tantos agentes que tem presença ativa nestes circuitos. Não
intenciono tratar o New Age como categoria não aplicável, contudo, há de se ter um
cuidado maior quanto às generalizações prontas de tratar as práticas oraculares
sempre sob o viés terapêutico holístico. Inclusive, este cuidado já se apresenta nas
discussões relativas à “espiritualidade” dentro das práticas hospitalares por Giumbelli
e Toniol (2014), relevante trabalho para questionar as interfaces entre saberes, sem
recair numa ótica “híbrida”, “pós-moderna”, ancorada unicamente na dispersão das
práticas e das construções individuais.
Com intuito de agregar aos estudos anteriores, o presente artigo se apresenta
como um ensaio com o objetivo de demonstrar por meio de relatos etnográficos
situações nas quais é possível observar a forma como a interação “humano” e “não-
humano” tem ocorrido em tempos de digitalização das práticas oraculares. As
experiências etnográficas tem como origem a minha progressiva inserção dentro de
círculos de cartomantes no Brasil (tanto por meios digitais, como presenciais),
enquanto participante de eventos, entrevistas e cursos. Utilizo o termo “círculos”, pois,
apesar de existirem algumas associações que conglomeram praticantes profissionais
das atividades oraculares, este tipo de atividade não tem um sindicato nacional

5 Para uma possível leitura da estruturação das práticas declaras “New Age” e a sua relação com a
“crise da modernidade” ver D’Andrea (2000).
estabelecido ou uma associação que legitime e fiscalize amplamente a prática6. Cada
praticante de arte divinatória acaba por decidir se integrará ou não estes círculos mais
amplos, sendo assim, a presente pesquisa não tem acesso ao “circuito cartomântico”.
Os seguintes relatos surgiram de “percursos” em meio aos seus praticantes, em
diferentes eventos, estabelecendo contato tanto com aqueles que se ligam à
associações maiores, quanto os praticantes mais independentes. Declaro também
que parto destas experiências enquanto antropólogo reconhecido por estes círculos
que realiza práticas astrológicas e produções contínuas de artigos ambas as áreas.
Considero que a astrologia e a cartomancia apresentam distinções suficientes, mesmo
se tratando de “artes divinatórias” ou “práticas oraculares”, para que um relativo
distanciamento seja tomado no momento da construção dos textos etnográficos.
Neste artigo-ensaio, reproduzirei um molde similar à da pesquisa feita por
Saba Mahmood (2006), na qual “momentos”, “flashes”, advindos da pesquisa de
campo serão mobilizados de forma à trazer proposições de análise para o campo de
estudos das práticas oraculares e, possivelmente, campos antropológicos que
envolvam “espiritualidade” e “religião”. Ainda com base nesta estética de escrita, não
mobilizarei imersões teóricas que esgotem as possibilidades de análise das
experiências. Os “momentos” descritos tem a função mais de se estruturarem como
“pontos de partida” do que propriamente como “argumentos estruturantes” de uma
hipótese. Na sequência do artigo, serão apresentados três momentos durante a
pesquisa de campo realizada na qual foi possível estabelecer problematizações
acerca das práticas oraculares no campo das Ciências Sociais a partir da digitalização
de seus meios de atendimento e agentes não-humanos.

Oráculos-ciborgue: corporalidade e espaços digitais

“Q. está realizando um jogo de cartomancia para uma consulente por áudios
e mensagens em um aplicativo de conversação. Ao mesmo tempo, se comunica
comigo por meio do mesmo aplicativo. Em determinado momento, Q. me envia um
pequeno áudio explicando parte do atendimento que está realizando: as dificuldades

6 Apesar disso, a profissão é reconhecida pelo Estado a partir da classificação “atividades esotéricas e
paranormais” contidas na “Classificação Brasileira de Ocupações”. A descrição da atividade é:
“orientam pessoas e organizações, elegem momentos e locais por meio de oráculos ou de dons de
paranormalidade. Podem ministrar cursos”. Disponível em:
http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/home.jsf. Acesso em 17 de Junho de 2019.
frente à consulente, a repetição de questões e algumas das cartas tiradas. Dias
depois, Q. se consultou astrologicamente comigo. Ao mesmo tempo em que atendia
Q., realizava anotações no caderno de campo. Noto, a partir das duas experiências,
que o atraso entre a mensagem do oraculista e a resposta do consulente é comum
em atendimentos que são feitos por mensagens e áudio, ao contrário das ligações e
videoconferências. Nestes pequenos intervalos entre uma mensagem e outra, tanto
consulente quanto oraculistas não estão se observando, o que pode ter como
consequência a simultaneidade das atividades. Uma percepção muito distinta de
quando oraculista e consulente estão no mesmo ambiente físico com uma série de
elementos que procuram aprofundar a sensação de ‘ambiente eficaz para o
atendimento’ (música, incensos, chás, almofadas, quadros, entre outros elementos).
Um dia depois de atender Q., ele me envia uma mensagem na qual uma amiga dele
comentava um trecho da minha fala. Q. teria enviado uma parte do áudio de meu
atendimento para ela. Passo também a questionar internamente a forma como os
atendimentos virtuais possibilitam a fragmentação da narrativa do atendimento.
Incorrendo, assim, em diferentes formas de apropriação”.
Antes de partir propriamente para uma análise da forma como os baralhos
têm sido mobilizados em atendimentos virtuais, cabe uma reflexão quanto às
delimitações entre o espaço virtual e o não-virtual. Em pesquisas recentes no campo
das “religiões” (FILHO, 2013; SILVEIRA, AVELLAR, 2014), é possível notar um uso
extensivo da noção de “ciberespaço” como um lugar autônomo em relação aos demais
espaços. De forma que as pesquisas empreendidas no “ciberespaço” acabam por se
limitar às interações e construções discursivas encontradas em determinadas páginas
ou redes sociais. Fica em falta, assim, uma análise que procure também apontar como
os corpos estão em interação com as máquinas possibilitando a respectiva atividade
nos “ciberespaços”. O fato de um consulente utilizar um celular em uma consulta
oracular em meio ao saguão de um hotel é em muito distinta de um outro que usa um
computador em seu quarto. Dentre outros fatores que perturbam ou ampliam a
eficácia no atendimento seria possível mobilizar: a velocidade da rede, qual aplicativo
é utilizado, se o áudio está sendo escutado por fones de ouvido ou vazado para o
ambiente, se as reações do consulente são gravadas ou se há um foco maior em sua
mão e no baralho. Estas interações corpo-máquina provocam reações distintas dos
oraculistas, causando efeitos também diversos em suas formas de atendimento. Não
desconsidero Le Breton (1993, p. 210) ao tratar de uma corporalidade distinta quando
os meios são mais virtualizados. Contudo, declarar um “fim ao corpo” é desconsiderar
todo esse conjunto de potenciais interações do corpo em relação à máquina. É
justamente na consideração de ambos que seria possível avaliar uma geração de
“oráculos-ciborgues”, se apropriando aqui de uma denominação de Donna Haraway
(1985). Em suma, seria difícil distinguir na totalidade do evento os limites entre “corpo”
e “máquina”. Seria mais plausível considerar o híbrido, humano e não-humano, digital
e não-digital, sendo que as separações são mobilizadas mais para fins de análise do
que propriamente da realidade em si.
Ademais, os detalhes que permeiam a interação entre consulente e oraculista
vão se distinguindo do atendimento não-virtual a partir do momento em que várias
destas situações relatadas escapam do controle e da percepção de ambos. O
atendimento realizado por um oraculista, quando gravado em uma fita ou em áudios
pelo celular, pode ser fragmentado e reproduzido sem que o oraculista tenha
conhecimento disso. Caso o atendimento não seja por vídeo, o que cada indivíduo
realiza no intervalo entre as mensagens e áudios também não pode ser controlado
por ambos. A relação de distância do espaço entre oraculista e consulente também
pode ter como consequência o atendimento em fusos horários distintos, promovendo
novamente um fator a mais que amplia a porosidade entre o atendimento virtual e o
meio não-virtual no qual os dois participantes do diálogo participam. O espaço-tempo
passa a ser reconfigurado de maneira diversa ao ocorrer o deslocamento da
mensagem do seu contexto original de enunciação. Diante destes deslocamentos que
visualizo a necessidade dos pesquisadores se aterem ao “ciberespaço”. Contudo, a
análise deve procurar percorrer os agentes humanos que estão carregando seus
celulares, procurando torres com sinal para acessar as redes digitais e digitando em
seus teclados eletrônicos nos ambientes mais diversos.
Cada um destes fatores enunciados acabam por influenciar diretamente na
eficácia simbólica do rito oracular. Tanto no que tange aos resultado de uma “boa
leitura”, quanto às proibições e tabus que podem cercar a prática. A falta de um
“contato” mais próximo entre as duas partes ou o fato do consulente não “cortar
fisicamente” o baralho no momento da tiragem pode resultar em incômodos frente
àqueles que ainda ancoram suas práticas e discursos dentro de uma “tradição” que
antecede aos meios digitais. Entretanto, o fato de existirem atendimentos que se
realizam desta forma, não significa necessariamente que os tabus deixam de produzir
efeitos na eficácia simbólica dos atendimentos presenciais. É justamente nestas
negociações do oraculista com sua prática e seu entorno que recaem grandes
potenciais para um investimento de pesquisa e imersão etnográfica.

A manipulação e o agenciamento dos baralhos digitais

“Em conversa com N. (o mesmo cartomante do relato da introdução) passo a


questionar sobre os oráculos disponíveis em aplicativos de celular. Aponto sobre
consulentes e até mesmo cartomantes que se utilizam dos aplicativos (tanto para
atendimentos quanto para construção de textos e análises de baralhos) e de como
estes têm recebido boas avaliações nas lojas virtuais nas quais são ofertados. N. me
relata que em um momento anterior foi requisitado por um consulente para realizar
um jogo com um baralho que não havia adquirido ainda. N. questionou ao consulente
se poderia se utilizar de um aplicativo de celular que tivesse esse baralho à disposição.
O consulente aceitou. O jogo transcorreu normalmente, com a única diferença de que
as cartas físicas estavam ‘dentro’ de um aparelho eletrônico, embaralhadas pelo
esquema de algoritmo que o cartomante não havia participado de seu
desenvolvimento. Para N., a eficácia de um jogo depende mais do método de tiragem
e de sua precisão frente aos processos do que propriamente do baralho ser digital ou
físico. Quanto ao corte das cortas, o consulente permite a tiragem, logo, não é preciso
necessariamente que ele toque nas cartas.”.
Hoje, páginas nas redes7 e aplicativos de celular8 oferecem serviços de
cartomancia gratuitos e pagos, sem que com isso envolva uma interpretação humana
frente ao resultado do jogo. De fato, este tipo de interface entre os saberes oraculares
e a engenharia de software se mostra como um dos campos mais profícuos em
iniciativas que procurem reestabelecer os “rastros” no desenvolvimento de um
aplicativo oracular. A partir da perspectiva de Latour, é possível analisar que assim

7 A página “iquilibrio” possui um sistema de atendimento similar ao já referenciado “Cartas Ciganas”,


disponibilizando uma série de cartomantes e astrólogos para atendimentos oraculares à distância.
Ademais, há uma sessão para tiragens gratuitas de cartas. A página conta com mais de 500.000 fãs
na rede social Facebook. Disponível em: https://www.iquilibrio.com/blog/tarot-marselha-3-cartas/.
Acesso em 13/06/2019.
8 Trago como exemplo, o aplicativo disponível na PlayStore: “Tarot Grátis (Tarô) – Tarot do día”.

Avaliado por quase 80.000 pessoas, o aplicativo carrega consigo milhares de comentários que atestam
a sua eficácia e a forma como estes jogos têm auxiliado para “orientar” a vida dos consulentes. O
aplicativo é ofertado pelo Grupo Precedo, não contando com informações mais profundas sobre a
empresa ou os possíveis desenvolvedores. Disponível em:
https://play.google.com/store/apps/details?id=com.grupoprecedo.tarotgratis&hl=pt_BR. Acesso em
13/06/2019.
que o aplicativo é lançado e tem seus diferentes usos operacionalizados pelos
sujeitos, pode-se considerar o produto final como uma espécie de “caixa preta”
(LATOUR, 1998, p. 4). Em outras palavras, não há um questionamento maior acerca
das experiências e teorias construídas que foram progressivamente encadeadas para
a finalização do ator não-humano, inclusive as diferentes esferas que estavam
imbricadas em sua constituição. Como o financiamento do projeto, as diferentes
intenções dos seus desenvolvedores e os possíveis processos que entrecortam
saberes tanto seculares, quanto não-seculares. A partir do momento em que o
aplicativo oracular é finalizado, é possível também levantar uma série de questões
quanto aos ajustes internos à “caixa preta” (atualizações, funções que tenham custo
ao usuário, variações sobre o mesmo aplicativo). Em outras palavras, o baralho físico
quando é impresso pela editora é dificilmente “ajustável” às novas demandas e
questionamentos quantos às imagens: os desenhos, as analogias impostas na própria
lâmina, as cores escolhidas, o número correspondente para cada imagem. O baralho
digital, por sua vez, permite em poucas horas o ajuste ou a alteração total das suas
imagens. Este último, contudo, não pode ser manipulado manualmente de maneira
tão autônoma quanto o baralho físico, tendo em vista que todas as funções do
aplicativo devem estar previamente programadas, enquanto o baralho permite que se
faça colagens, usos em jogos de azar, truques de ilusionismo, mistura de baralhos
diferentes, entre outras formas criativas de uso.
Em um campo de estudos que considere mais o agenciamento dos indivíduos
sobre o baralho digital, pode-se tomar os diferentes usos como ponto de partida. Em
suma, apesar dos desenvolvedores e oraculistas envolvidos no processo terem
determinadas intenções frente ao uso posterior do aplicativo, os usuários podem ter
os usos mais variados a partir do momento em que carregam este oráculo consigo,
sem que outras pessoas acompanhem suas rotinas para saber qual o uso de fato. O
relato da experiência de N. citado anteriormente pode ser tomado como uma forma
de uso que toma o baralho virtualizado como um “intermediário” da experiência
oracular. O aplicativo conta já com as lâminas e seus respectivos desenhos, além da
possibilidade de “direcionar” o jogo para alguma demanda do consulente (amor,
trabalho, família, geral). O algoritmo possibilitará que as cartas sejam embaralhadas
e dispostas ao oraculista humano e ao consulente. Neste caso, a interpretação posta
pelo aplicativo é negligenciada para o oraculista tomar frente ao processo e construir
suas assertivas. Trata-se de um “híbrido”, humano e não-humano, cuja eficácia
simbólica se estabelece de maneira muito distinta do atendimento não-virtual, já que
deverá levar em conta a confiança do oraculista e do consulente quanto ao terceiro
agente do processo (o baralho digital) que realiza parte expressiva das ações do
atendimento.

Sincronicidade entre baralhos digitais e não-digitais

“P. me contou de uma situação na qual realizou um atendimento oracular por


áudios e mensagens textuais em um aplicativo de conversação para uma mulher em
tensão em relação à um relacionamento amoroso. P. mobilizou diferentes técnicas de
predição da astrologia sem obter relativo sucesso. Em determinado ponto do
atendimento, decide tirar uma carta do baralho para que pudesse orientar a
consulente acerca das ações possíveis diante do conflito. A consulente permite, a
carta é retirada e lida e o resultado é eficaz. Com a leitura dos significados atribuídos
àquela carta, a consulente se acalma e passa a narrar com mais profundidade sobre
sua situação, procurando saídas baseadas na carta lida pelo oraculista. Com o final
do atendimento, a consulente anuncia que havia tirado a mesma carta em um
aplicativo de cartomancia horas antes do atendimento com o oraculista. P. fica
surpreso e me conta sobre o uso destes baralhos, alegando que acredita em uma
interligação de ‘tudo’ sob as mesmas regras e condições dadas pelo ‘Destino’.
Visualizo de imediato como a experiência de tirar a mesma carta em um baralho digital
e em um não-digital produziu um profundo reforço na crença de P. enquanto ‘ser-
oraculista’ e no resultado eficaz da leitura sobre a consulente”.
O último relato de campo apresenta um caso com pontos de distinção frente
ao momento anterior. A consulente havia realizado a mesma pergunta em um oráculo-
ciborgue na manhã do mesmo dia em que se consulta com o oráculo-humano. Nota-
se que a consulente não contou ao cartomante que havia já realizado o jogo, tendo
ferido um possível tabu9. Revela a carta tirada de manhã apenas no momento em que

9 Os tabus não são consensuais por parte dos cartomantes. Contudo, existe alguns consensos, com
funcionamento similar aos tradicionais “fatos sociais”, como regras que não são devidamente colocadas
em um cânone seguido obrigatoriamente por seus praticantes. Um dos tabus mais correntes é o de que
cada jogo oracular deve ser feito em uma certa distância temporal, não sendo aconselhável realizar a
mesma pergunta em um espaço curto de tempo. Este tabu foi ferido no terceiro exemplo e também na
situação contada no início do artigo, em relação aos consulentes que realizam as mesmas perguntas
para diferentes oraculistas em redes sociais. As consequências da infração dos tabus também não são
claras entre os oraculistas.
visualiza, surpresa, a mesma carta, dessa vez em um jogo produzido por um agente
humano. A consulente, provavelmente, já havia lido uma primeira interpretação da
carta no próprio aplicativo. As explicações de aplicativo, contudo, costumam
apresentar uma interpretação geral da carta em si a partir da pergunta realizada. Não
há uma análise maior do contexto pelo qual a consulente está passando, tão pouco a
resposta de questões para além da tiragem. Quando estes serviços são ofertados
pelos aplicativos, costuma-se cobrar para o consulente ter acesso a algum
agenciamento humano. Ainda sobre o evento citado, o fato da coincidência ter
ocorrido é um reforçador que garante a estabilidade da “eficácia simbólica”, mesmo
que o oraculista possa considerar que houve uma infração de tabu latente à
experiência obtida. Justamente, estas pequenas ambiguidades contidas no relato
podem ser materiais substanciais para a reconstrução dos termos de como os
oraculistas produzem leituras eficazes dentro de um contexto mais informatizado e
digitalizado.
Para além dessa reflexão, outra questão que se coloca é a forma como os
aplicativos gratuitos de cartomancia produzem uma massificação mais extensa do que
aquela promovida por editoras ou páginas nas redes nas quais os cartomantes
realizam “leituras sobre a semana”. A partir do momento em que os aplicativos e
baralhos são disponibilizados, o controle sobre os diferentes usos que se fazem sobre
eles fica ainda mais impossibilitado. Eles vão ganhando múltiplos agenciamentos ao
influenciar as motivações dos indivíduos em funções diversas (predição de futuro,
análise de conjuntura, resposta de perguntas). Ao oferecer aos usuários uma
interpretação pronta das cartas que foram tiradas, cada um passa a administrar
diariamente a sua percepção frente à relação entre a “carta escolhida”, a
“interpretação do oráculo digital” e a “vida vivida”. Em aplicativos gratuitos não há um
cartomante que possa “direcionar” o sentido que aquela imagem se adequará à
resposta da pergunta. Retomando os trabalhos anterior que contemplam o oraculismo,
este tipo de prática se aproxima daquelas postuladas sob o gênero “New Age”, ao
propor um uso mais “livre” e “individualizado” das ferramentas e saberes esotéricos.
Na situação descrita, o consulente poderá manipular suas leituras e inclusive realizar
consultas oraculares para outras pessoas, em um nível maior de acesso e de menor
custo do que aquele em relação às cartas físicas. Ao digitalizar o ator não-humano,
os tabus antes relacionados à manipulação das cartas progressivamente se
dissolvem, passando a se estabelecer novos tipos de significados e ritos atribuídos às
práticas oraculares.

Conclusão

“Em evento recente que promoveu o encontro de oraculistas de diferentes


regiões do Brasil10, um dos cartomantes, cujos livros foram mais popularizados no
Brasil, realizava um discurso sobre como determinados tipos de baralhos poderiam
induzir um oraculista ao erro no momento de uma consulta. Para o cartomante, as
editoras, partindo de uma expectativa de lucratividade maior, estariam disseminando
uma série de baralhos sem fundamentos esotéricos claros ao promover analogias das
cartas do tarô com outros saberes, como a mitologia, a cabala e a astrologia. Ao fugir
da ‘base’ necessária para o exercício da cartomancia, a prática oracular estaria
prejudicada por conta dos interesses capitalistas da atualidade. O palestrante alega
que os cartomantes devem se preocupar mais com o estudo e não necessariamente
em adquirir uma quantidade grande de baralhos”.
Trago o último exemplo na conclusão como uma forma de contrabalancear os
relatos anteriores, muito ancorados na aceitação e uso de formas mais modernas de
cartomancia, para resgatar a necessidade de compreender as diferentes tensões
envolvidas nas práticas esotéricas. Os discursos que permeiam a atividade oracular
não se restringem ao conteúdo propriamente esotérico ou mágico. As relações dos
sujeitos com suas práticas e objetos atravessam reflexões sobre o mercado editorial,
o campo da política, a produção e venda de baralhos e a “perda das tradições e
referências” na contemporaneidade. Mais do que tratar os discursos como emanações
de uma estrutura concebida, atribuindo às artes divinatórias como um conjunto de
práticas ancoradas na fugacidade e fragmentação pós-moderna ou como um
contradiscurso da modernidade, a antropologia deve tratar também do estudo das
ambiguidades e das disputas discursivas dos sujeitos frente ao seu campo de
atividades. Inclusive tratar como o “baralho” vai sendo manipulado para dentro, para
fora ou situado nas margens do entendimento de uma prática eficaz de um oraculista.
Ainda sendo possível refletir acerca dos usos em muito distintos daqueles
programados em sua origem.

10Oracular: Encontro Anual de Artes Divinatórias, organizado pelo Centro Cultural Esotérico e pela
Gaia Escola de Astrologia, evento ocorrido em São Paulo no dia 09 de Junho de 2019.
O presente ensaio procurou apontar algumas das diretrizes que podem se
configurar para o estudo das artes oraculares na contemporaneidade a partir das
experiências de campo citadas e das reflexões implicadas. Procurei apontar a
necessidade de questionar determinadas categorias instituídas dentro do arcabouço
conceitual antropológico ao tratar da cartomancia e outras artes oraculares. Um
exercício já proposto anteriormente por autores como Talal Asad (2003) no cuidado
em mobilizar as categorias “secular” e “religioso” ao tratar de espaços públicos e
manifestações que se assumam religiosas. Outro exemplo de base é a obra de
Tomoko Masukawa (2005) ao questionar a genealogia do usual conceito de “world
religions” amplamente disseminado nas Ciências da Religião. Atualmente, a mesma
desconstrução pode deslocar as categorias de “espiritualidade” e “New Age” para um
patamar distinto do momento em que foram estabelecidas como conceitos eficazes.
Evitando que estas construções teóricas ditem de antemão as motivações dos
indivíduos e os circuitos que envolvem suas práticas. Como apontado no último relato
do artigo, não é possível mais estabelecer uma homogeneidade frente ao
entendimento da fragmentação decorrente da “mercantilização do self” que ocorreu
com o “esoterismo”.
Quanto aos agentes não-humanos da cartomancia, os baralhos, há uma série
de estudos que podem contemplar a historicidade do seu uso, sendo possível
estabelecer como meios distintos se apropriaram deles (círculos esotéricos, ciganos,
outros grupos populares). Procurei focar neste artigo como os baralhos reconfiguram
tabus e práticas oraculares a partir do momento em que passam a ser digitalizados e
disponibilizados gratuitamente nos aplicativos dos indivíduos. Os usos não se limitam
apenas aos consulentes, como também se estendem aos próprios cartomantes que
podem encontrar meios de defender o uso destes baralhos sem que com isso recaiam
em quebras ou questionamentos maiores da eficácia simbólica. Fica também um
questionamento amplo acerca da respeito da criação e desenvolvimento de um
aplicativo de cartomancia, com seus devidos questionamentos sobre a interface que
se constrói entre os programadores e os oraculistas. Inclusive considerando a
possibilidade de oraculistas que consigam articular estes dois saberes para a
produção de um aplicativo.
Diante das questões colocadas, tanto tecnológicas, quanto as disputas de
discursos frente às práticas oraculares, este ainda se mostra um campo profícuo para
questões antropológicas sobre a relação entre corpos e máquinas, as práticas
esotéricas na contemporaneidade e as produções de novos agentes não-humanos a
partir do incremente tecnológico. Caberá aos trabalhos posteriores darem formas mais
definidas para estas diferentes práticas e da construção de conceitos que consigam
abarcar estes fenômenos.

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