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Revista Multidisciplinar da Saúde (RMS), XX, 2020

Centro Universitário Padre Anchieta


____________________________________________________________ RMS - Unianchieta

ÁGUA PARA USO FARMACÊUTICO

Rafael Gonçalves de Araújo ¹, Nathalia Kayron Ribeiro Sousa ¹, Mariana


Cecchetto Figueiredo ²

¹ Graduandos do curso de Farmácia do Centro Universitário Padre Anchieta

² Docente do curso de Farmácia do Centro Universitário Padre Anchieta

Autor para Correspondência: Rafael Gonçalves de Araújo, Centro Universitário Padre


Anchieta, Avenida Doutor Adoniro Ladeira, 94, (KM 55,5 Rodovia Anhanguera),
Jundiaí, São Paulo, CEP 13210-795, Brasil. Email: rafael.gaj@gmail.com.

Resumo

É notório que o maior componente empregado na produção e utilização da indústria


farmacêutica refere-se à água. Podendo esta, ser utilizada direta ou indiretamente,
obtendo um alto potencial de impacto tanto na qualidade, como na segurança do
consumidor e paciente. Deste modo, o presente trabalho explana os benefícios e
impactos na utilização da água para a indústria farmacêutica, bem como analisar seus
benefícios e malefícios em todo o processo, abordando os critérios julgados como
essenciais em seu processo. Sendo isso, a metodologia empregada para a pesquisa desta
monografia foi de revisão literária, sendo assim, as fontes de pesquisa serão:
bibliografias e as bibliotecas virtuais, plataformas de pesquisas (Google Acadêmicos,
Artigos.com, Scielo, etc). Desta forma, os critérios de escolha dos artigos foram:
Artigos publicados de 2000 a 2020, e ou trabalhos cuja temática se assemelha ao tema
proposto. Entre os critérios de exclusão adota-se: trabalhos com divergência de
informações, e projetos não definidos. De acordo com os dados apresentados na revisão
bibliográfica, a água é uma substância que possui diversas funções, e, ao mesmo tempo
apresenta grande facilidade de solubilizar, absorver e adsorver ou suspender inúmeros
compostos, inclusive os contaminantes e substâncias indesejáveis que possam alterar a
pureza, eficácia e qualidade do produto farmacêutico. Sendo assim, não podemos
utilizar qualquer tipo de água para a fabricação dos medicamentos e produtos destinados
ao uso farmacêutico, a mesma deve passar por processos de purificação. No entanto, tais
processos devem garantir que as especificações farmacopeicas sejam atendidas,
controladas e mantidas adequadamente. Dentre os tipos de água para uso farmacêutico
existentes, foram mencionadas a água purificada e água para injetáveis, porém, também
é importante ressaltar a água potável, que através dela se obtém a partida para obter
outras águas de finalidade farmacêutica, devendo, então, ser monitorada e de qualidade.
A água purificada é a matéria-prima utilizada em boa parte dos produtos fabricados nas
indústrias farmacêuticas, e, pode interferir na qualidade dos medicamentos caso esteja
contaminada, podendo gerar perda de produtos, efeitos farmacológicos e prejuízos a
empresa, assim como a água para injetáveis, utilizada em medicamentos de uso
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parenteral e estéreis, sendo imprescindível o controle de endotoxinas. Os equipamentos


devem ser projetados de forma que evitem a contaminação da água antes, durante e pós
sua purificação, foi constatado que somente o método de deionização não consegue
atingir certo grau de pureza por liberar fragmentos de resinas, comparado aos outros. O
método osmose reversa foi o que se destacou mais prático, por ser relativamente
compacto e pode produzir os dois tipos de água. Outro aspecto muito importante é a
sanitização e monitoramento dos equipamentos que entram em contato com a água para
uso farmacêutico, pois os mesmos são suscetíveis à contaminação microbiológica, ainda
mais durante períodos de pouca ou nenhuma demanda de água, então, os materiais
devem ser selecionados a fim de evitar vazamentos, fissuras, corrosão e outros. E, serem
compatíveis com temperaturas e produtos químicos utilizados, com bom acabamento.
Tendo também todas as partes do processo devidamente documentado.

Palavras Chave: Água para uso farmacêutico, Métodos de purificação, Água para
injetáveis.

WATER FOR PHARMACEUTICAL USE

Abstract

It is notorious that the largest component employed in the production and use of the
pharmaceutical industry refers to water. It can be used directly or indirectly, obtaining a
high potential impact on both quality and consumer and patient safety. Thus, the present
study explains the benefits and impacts on the use of water for the pharmaceutical
industry, as well as analyzing its benefits and harms throughout the process, addressing
the criteria considered essential in its process. Therefore, the methodology used to
research this monograph was literary review, so the research sources will be:
bibliographies and virtual libraries, research platforms (Google Academics,
Articles.com, Scielo, etc). Thus, the criteria for choosing the articles were: Articles
published from 2000 to 2020, and or works whose theme resembles the proposed
theme. Among the exclusion criteria it is adopted: works with divergence of
information, and projects not defined. According to the data presented in the literature
review, water is a substance that has several functions, and at the same time has great
facility to solubilize, absorb and adsorb or suspend numerous compounds, including
contaminants and undesirable substances which may affect the purity, efficacy and
quality of the pharmaceutical product. Therefore, we cannot use any type of water for
the manufacture of medicines and products for pharmaceutical use, it must undergo
purification processes. However, such processes should ensure that pharmacopoeia
specifications are met, monitored and maintained appropriately. Among the existing
types of water for pharmaceutical use, purified water and injectable water were
mentioned, however, it is also important to highlight the drinking water, which is
obtained through it to obtain other waters of pharmaceutical purpose, must then be
monitored and of quality. Purified water is the raw material used in most of the products
manufactured in the pharmaceutical industries, and may interfere with the quality of the
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medicines if it is contaminated, and may lead to loss of products, pharmacological


effects and harm to the company, as well as water for injectables, used in parenteral and
sterile medicines, being It is essential to control endotoxins. The equipment must be
designed in such a way that it avoids the contamination of the water before, during and
after its purification, it was found that only the method of deionization cannot achieve a
certain degree of purity by releasing fragments of resins, compared to others. The
reverse osmosis method was the most practical, because it is relatively compact and can
produce both types of water. Another very important aspect is the sanitization and
monitoring of equipment that comes into contact with water for pharmaceutical use, as
they are susceptible to microbiological contamination, especially during periods of little
or no water demand, then, materials should be selected in order to avoid leaks, cracks,
corrosion and others. And, be compatible with temperatures and chemicals used, with
good finish. Having also documented all parts of the process.

Keywords: Water for pharmaceutical use, Purification methods, Water for injectables.

INTRODUÇÃO

A água é uma substância química cuja fórmula molecular é H 2O, ou seja,


composta por duas moléculas de hidrogênio e uma de oxigênio, cujas características
organolépticas são: incolor, inodora e insípida. É utilizada para diversas funções, desde
as principais atividades básicas diárias dos seres humanos quanto a sua utilização em
medicamentos e finalidades farmacêuticas, designada então, água para uso
farmacêutico³.
A produção da água purificada deve ser tida como uma operação delicada, sendo
a mesma utilizada como componente de preparações de formas farmacêuticas líquidas
de uso oral ou parenteral, formulações semissólidas, operações de limpeza e
esterilização de ambientes, equipamentos e vidrarias, é imprescindível atender aos
parâmetros estabelecidos para seu uso e aplicação atendendo as especificações
existentes em monografias específicas³.
A qualidade da água e os métodos de purificação também devem atender ao seu
grau de pureza estabelecido. Esses sistemas são responsáveis pela eliminação dos
contaminantes físicos, químicos e microbiológicos¹.
A partir da leitura dos artigos selecionados, foi feita uma análise das
informações neles contidas, ordenadas e pontuadas de modo a gerar um conteúdo
conciso. Correlacionando as informações obtidas com os objetivos propostos pela
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pesquisa. Com este trabalho, será possível conhecer os tipos de água para as diversas
finalidades farmacêuticas além dos métodos de purificação mais empregados para sua
obtenção³.

DESENVOLVIMENTO

Pode-se reconhecer que para a obtenção de água, as quais são destinadas a todo
o setor farmacêutico, a mesma está diretamente baseada na eliminação de impurezas
sendo elas físico-químico e macrobióticas, até que haja o alcance de seus níveis pré-
estabelecidos⁶.
Tais requisitos, frente a qualidade da água, dependem diretamente da sua
finalidade, por obter uma complexidade em todo seu processo de purificação, onde
torna-se necessário a escolha correta do grau de pureza o qual será alcançado⁶.
Portanto, a responsabilidade, bem como desenvolvimento esperado, está
diretamente relacionado ao tipo de uso, objetivos esperados, controle e verificações
necessárias, para que se garanta uma manutenção bem como qualidade desejada¹.

A UTILIZAÇÃO DE ÁGUA NA INDUSTRIA FARMACÊUTICA

Diversos tipos e fins se obtém a utilização da água, suas definições, bem como
métodos, preparação, qualidade, são variações para cada objetivo nas farmacopeias,
sendo a harmonização seu objeto de esforço o qual foi alcançado³.
Com isso, as farmacopeias internacionais, ordenam os tipos de água em duas
principais categorias, sendo elas: água bulk, a qual é produzida no local onde a mesma
será utilizada, e a água estéril, tratando-se de uma acondicionada como produto, ou seja,
sendo produzida e embalada, bem como esterilizada a fim de que seja possível preservar
toda a qualidade microbiológica, durante todo seu prazo de validade³.
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De acordo com Brasil⁶, existem apenas três tipos de água para o uso
farmacêutico, sendo eles: água purificada, água para injetáveis e água ultra purificada.
No entanto, os compêndios internacionais derivam desses três tipos, os quais podem ser
tratados como fundamentais, possuindo assim, características de pureza que se
assemelham a alguns desses.
Segunda a imagem a, é possível verificar tipos de águas para fins farmacêuticos,
seguindo assim as principais farmacopeias, completando então os tipos de águas
preconizadas internacionalmente¹.
Com isso, se tratando de água potável sua importância está diretamente
relacionada a estas especificações para a indústria farmacêutica, a qual se justifica pelo
fato de que os limites das concentrações dos contaminantes especificados, bem como os
níveis considerados seguros para ingestão e etc³’².
Deste modo, a imagem b apresenta um organograma sobre os tipos de águas
utilizados, bem como sua origem, obtendo nele as águas bulk, água purificada e água
altamente purificada³.
Para a utilização da água purificada, pode-se utilizar para diversos fins
farmacêuticos, podendo ser como excipiente ou na produção de formas. Já a água
altamente purificada, seu uso é exclusivamente para medicamentos estéreis, ou seja, que
não possuam uma exigência a apirogenicidade, como exemplo para preparações
oftálmicas, otológicas, nasais dentre outras².
Dentre os processos e a inovação tecnológica a qual está todo o processo de
tratamento de água, existem processos como por exemplo de ozonização, desinfecção
dentre outros. Se tratando de utilização de osmose reversa, como demostrado na
imagem c, é possível reter até 99,98% de microrganismos, toxinas e os mais variados
componentes que possam estar presentes na água².

Figura 1 – Máquina Para Osmose Reversa. Figura 2 – Membrana de Osmose.


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Fonte: Autor, 2020. Fonte: Majop, 2020.

A organização Mundial da Saúde, apresenta um processo o qual está sendo


utilizado em purificações, por exemplo da água de mar. Deste modo, osmose trata-se do
nome dado ao fenômeno que ocorre quando a água é tida como solvente, ou seja, flui de
ambientes poucos concentrados em solutos¹.
Para que seja possível uma melhor compreensão a imagem d, trata-se de uma
membrana de osmose, a qual tem como objetivo de separar todo o soluto do solvente,
para que seja possível a purificação da água, onde estão respectivamente todas as
impurezas, sendo assim uma ferramenta de extrema necessidade⁶.
Já para a utilização de água para injetáveis, sua utilização está ligada ao
excipiente na produção de parenterais, bem como preparações de níveis de endotoxinas
bacterianas, as quais devem ser então controladas. Seus parâmetros químicos, os quais
são exigidos para o teste, assemelham-se ao de água purificada⁴.
Sendo assim, os sistemas os quais estão envolvidos em todo a sua produção e
purificação, bem como armazenamento e distribuição, devem ser projetados de modo
que minimizem e previnam a contaminação microbiana⁴.
A deionização e a eletrodeionização contínua são tecnologias eficazes para a
remoção de sais inorgânicos dissolvidos e produzem água purificada de uso rotineiro,
por meio de resinas de troca iônica específicas para cátions ou para ânions.¹ Essas
resinas possuem função de facilitar a transferência de massa no interior do equipamento
devido à ação da corrente elétrica. Ocorrendo a eletrólise da água que se encontra
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próxima à superfície das resinas, resultando então na liberação de íons de hidrogênio


(H+) e hidroxilas (OH) pelas resinas catiônicas e aniônicas, respectivamente3.
Sua desvantagem é que apresenta vários componentes, podendo resultar em um
grande custo operacional, principalmente devido à necessidade de substituição de
materiais consumíveis4, e, além disso, é um processo que não produz água de alta
pureza, pelo fato de liberar fragmentos de resina, que facilita o crescimento bacteriano e
promove baixa remoção de resíduos orgânicos¹,3.
Baseada em membranas semipermeáveis com propriedades de remoção de íons;
endotoxinas e microorganismos, com taxa de recuperação superior a 80%, a osmose
reversa é uma processo adequado para a separação de substâncias iônicas ou
moleculares dissolvidas na água e, removendo também compostos não iônicos, baterias,
vírus e compostos orgânicos.5 A osmose reversa é obtida através da aplicação mecânica
de uma pressão superior à pressão osmótica do lado da solução mais concentrada, ou
seja, a água pode ser retirada de um solução salina por meio da membrana
semipermeável (que pode ser composta por ésteres de celulose ou poliamidas), sendo
eficaz na retenção de todas macromoléculas e pequenos íons8. O fluxo de água é
interrompido quando se atinge o equilíbrio4.
Para aplicações farmacêuticas foram desenvolvidas membranas de osmose
resistentes à altas temperaturas (›80◦C), possibilitando então, processos de sanitização
com água quente, com o processo de osmose reversa pode-se obter uma água com alto
grau de qualidade com condutividade elétrica inferior a 1 μS/cm, praticamente isenta de
microorganismos 4.
As membranas que revestem a osmose reversa devem ser controladas a fim de
controlar formação de incrustações vindas de sais de cálcio, magnésio e outros, e de
biofilme, fonte crítica de contaminação microbiana e de endotoxinas. Sendo
imprescindível instalar um sistema de pré-tratamento antes da osmose, removendo
partículas e agentes oxidantes¹.
A osmose reversa apresenta como vantagem ser um equipamento relativamente
compacto, com um baixo consumo de energia, e eficiente na remoção de íons, vírus e
moléculas bacterianas. Sua desvantagem se dá ao fato de não separar compostos de
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baixo peso molecular e gases dissolvidos, utilizando-se então, um filtro de cinco


micrômetros como pré-tratamento4.
A ultrapurificação ou ultrafiltração frequentemente é utilizada em sistemas de
tratamento de água para uso farmacêutico, pois utiliza uma membrana com capacidade
de reter moléculas conforme peso molecular e estereoquímica, sendo útil para a
remoção de endotoxinas da água¹. Tem como vantagem a capacidade de separação dos
compostos orgânicos com elevado peso molecular e capacidade de retenção de vírus,
sua desvantagem está relacionada ao alto custo5.
Destilação é um processo de tratamento de água, utilizado para a separação de
compostos de pontos de ebulição diferentes. Consiste em aquecer, evaporar, condensar e
resfriar a água em dispositivo adequado. Podendo-se apresentar na forma de
destiladores simples, de múltiplos efeitos e de compressão de vapor. Os destiladores são
utilizados para produção de grandes volumes de água4. A água para injetáveis também
pode ser produzida por método de osmose reversa, porém qualidade da água não é tão
segura quanto a preparada por destilação, devido a um maior risco de contaminação da
água³.
Este processo de purificação é de primeira escolha para obtenção da API, em
equipamento cujas paredes internas sejam fabricadas em metal apropriado, como o aço
inox AISI 316L, o vidro neutro ou o quartzo2,3.
Referências e padrões de água purificada (AP) e água para injetáveis
(API) podem ser encontrados em várias publicações. Sendo as mais utilizadas:
Farmacopéia Americana (USP), Farmacopéia Européia, Farmacopéia Japonesa e, a
Farmacopéia Brasileira8.
A diretriz fundamental para o armazenamento da água purificada, da água
ultrapurificada, ou da água para injetáveis é levar em conta que, quanto maior o grau de
purificação da água, mais rapidamente ela tente a se recontaminar¹.
Os projetos, instalações e operação de sistemas para produção de água
purificada, água para injetáveis e água ultrapurificada possuem componentes, controles
e procedimentos similares, a diferença reside na presença do parâmetro de endotoxinas
bacterianas¹.
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Os equipamentos utilizados para o tratamento e os sistemas de armazenamento e


distribuição de água purificada e água para injetáveis, devem ser projetados de modo a
evitarem a contaminação microbiana durante o uso e proporcionar o emprego de
técnicas de sanitização ou esterilização do sistema após intervenções para manutenção
ou modificação3,9. Devendo também possuir um sistema de armazenamento e
distribuição de água afim evitar a recontaminação da água após o tratamento e sendo
submetida a monitoramento garantindo que a especificação da água seja mantido5.

MICROBIOLOGIA DA ÁGUA PARA FINS FARMACÊUTICOS

De acordo com o autor Mazzola (2002), diversos são os tipos de pureza da água,
onde apresentam suas características microbiológicas, as quais estão diretamente
relacionadas ao método, bem como grau de purificação.
Frente a microbiologia da água potável, foram desenvolvidos em meados do
século XX, a fim de que fosse possível obter uma proteção a toda a população diante
das doenças as quais eram transmitidas por consumo ou contato, como leptospirose,
cólera e etc. ¹³.
Quanto a sua composição microbiana, pode-se reconhecer como amplamente
variável, a qual depende do manancial de onde se origina, ser superficial ou subterrânea,
seus principais nutrientes, sendo eles oligotrófico ou eutrófico, bem como sua
temperatura ³.
No entanto, águas as quais são oriundas de poços, bem como de lençóis
freáticos, podem sofrer alterações em seu trajeto, onde assim seu processo de filtração
através do solo, podendo ser bacteriologicamente puras, ou dependendo de sua
profundidade, apresentar uma contaminação microbiana baixa¹³.
Antes de iniciar o processo de purificação para obtenção da água para uso
farmacêutico, deve-se saber o tipo de água desejada, o modo a ser aplicada e o método
de purificação2,3.
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Segundo a Farmacopéia Brasileira 5ª edição “basicamente há três tipos de água


para uso farmacêutico: a água purificada (AP); a água para injetáveis (API) e a água
ultrapurificada (AUP)¹.” Neste trabalho será apresentado apenas AP e API.
A água purificada (AP), deve ser preparada a partir de uma fonte de água potável
e atender as especificações determinadas pela farmacopéia com relação à química e
pureza microbiológica, sendo também protegida de recontaminação e proliferação
microbiana².
A água purificada pode ser produzida através de diferentes tecnologias, dentre as
utilizadas podemos destacar: deionizadores, osmose reversa, ultrafiltração e/ou
eletrodeionização3.
A água purificada tem sua utilização como veículo de formas farmacêuticas não
parenterais, em formulações magistrais, lavagem de materiais utilizados em processos
de análises, preparo de reagentes, meios de cultura, e microbiologia em geral, a água
purificada (AP) tem grande utilização em laboratório de análises qualitativas ou
quantitativa, e também, pode ser empregada em cromatografia a líquido de alta
eficiência, se confirmado que o seu emprego não afeta a exatidão nem a precisão dos
resultados¹.
Todo o sistema de obtenção, armazenamento e distribuição de água deve ser
devidamente validado e monitorado quanto aos parâmetros de condutividade e
contagem microbiana1,3.
A água para injetáveis (API) é utilizada como veículo em formas farmacêuticas
parenterais, produtos estéreis e os demais que requeiram um controle de endotoxinas¹.
A técnica preferida para obtenção da água para injetáveis é a destilação, uma vez
que é considerada mais robusta devido à mudança de fase da água, e o equipamento ser
operado em temperaturas muito elevadas 3.
A API pode ser obtida também por processos superiores ou equivalentes à
destilação para a remoção de contaminantes químicos e microorganismos, o aparelho de
osmose reversa pode ser utilizado, desde que validado e de forma que garanta a
qualidade da água1,3. A água de alimentação deve ser, no mínimo, potável e, em geral,
necessitará ser pré-tratada para alimentar os equipamentos. O processo é assim
especificado em razão da robustez que tais equipamentos apresentam quanto à operação
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e ao desempenho e seus sistemas utilizados para a produção, armazenagem e


distribuição devem ser validado e apropriado, a fim de impedir a contaminação
microbiana e a formação de endotoxinas bacterianas atendendo aos requisitos
estabelecidos na monografia especifica ¹,4.
Os materiais que entram em contato com a água para uso farmacêutico
(tubulações, válvulas e armações, lacres, diafragmas e os instrumentos), devem ser
selecionados de modo que atenda aos requisitos básicos, dentre os quais podem ser
citados:
 Compatibilidade: todos os materiais utilizados devem ser
compatíveis com a temperatura e as substâncias químicas
utilizadas pelo sistema ou dentro dele.
 Prevenção de vazamento: nenhum dos materiais que entram
em contato com a água para uso farmacêutico pode
apresentar vazamentos dentro da faixa de temperatura de
trabalho.
 Resistência à corrosão: a água purificada e a água para
injetáveis são altamente corrosivas. Para evitar falha do
sistema e contaminação da água, os materiais selecionados
devem ser apropriados, o processo de soldagem deve ser
controlado cuidadosamente, e todos os vedantes e
componentes devem ser compatíveis com a tubulação
utilizada. O sistema deve ser submetido à passivação após a
instalação inicial ou após modificações. Quando a
passivação for realizada, o sistema deve ser totalmente limpo
antes do uso. O processo de passivação deve ser realizado
em consonância com um procedimento documentado
claramente definido.
 Acabamento interno liso: devem ser utilizadas superfícies
internas lisas que ajudem a evitar aspereza e fissuras no
sistema de água.
 Soldagem: os materiais selecionados para o sistema devem
ser facilmente soldáveis, de forma controlada.
 Desenho de flanges ou juntas: quando são utilizados flanges
ou juntas, eles devem ser desenhados para atender a critérios
higiênicos ou sanitários. Devem ser realizadas verificações
para garantir que os lacres corretos sejam usados e que
estejam encaixados e ajustados corretamente.
 Documentação: todas as informações referentes aos
componentes do sistema devem ser plenamente
documentadas.
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Materiais: devem ser utilizados materiais adequados que possam ser


considerados como elementos sanitários do sistema3,5.

VANTAGENS E DESVANTAGENS EM SUA UTILIZAÇÃO

Para que seja possível o reconhecimento das vantagens e desvantagens na


utilização da água para fins farmacêuticos, torna-se necessário compreender todos os
seus métodos¹¹.
No entanto, também torna-se necessário o reconhecimento dos tipos de água, as
quais são potável, purificada e ultrapurificada. Tendo a para injetáveis, e todos os seus
sistemas de purificações os quais foram apresentados³.
Deste modo, para que se torne adequada a utilização da água, sua purificação
deve passar por diversas etapas, a fim de que se obtenha a eliminação dos
contaminantes dissolvidos nela, a fim de que torne a água reagente¹¹.
Com seus diversos métodos, para a remoção das impurezas, uma tecnologia bem
como combinações são requisitos para esse processo. De acordo com a imagem e, é
possível reconhecer as vantagens e desvantagens de se obter uma água de alta
qualidade¹¹.
O pré-tratamento, (conhecido como filtração de profundidade ou filtração
inicial)¹, se bem projetado, aumenta a confiabilidade e a vida útil do sistema de
tratamento final6, destina-se em remover contaminantes particulados na faixa de
tamanho que pode variar de 5 a 10μm, utilizando filtros de areia ou combinação de
filtros, sendo essenciais na proteção das tecnologias subseqüentes1,6. Os resultados de
análises físico-químicas e microbiológicas da água de alimentação do sistema devem ser
levados em consideração como base para o projeto do pré-tratamento6.
As fontes e os reservatórios de água potável estão sujeitos a contaminações
físicas, químicas e microbiológicas1,5,7. Assim, para assegurar a baixa contaminação
microbiana, uma das medidas tomadas é a adição de um agente antimicrobiano à água
potável, sendo o mais utilizado o cloro. Entretanto, falhas nas tubulações ou falta de
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limpeza nos reservatórios podem fazer com que a concentração do cloro adicionada não
seja efetiva. Portanto, a indústria farmacêutica deve realizar testes periódicos para
confirmar se a água potável atende aos parâmetros exigidos7.
É fundamental que se tenha uma quantidade de resultados representativos da
água de alimentação do sistema frente à sazonalidade (variação de qualidade de água
nas diferentes estações do ano)2,6, evitando-se, desta maneira, problemas no pré-
tratamento, que poderia acarretar vários problemas nos equipamentos finais para
geração de água para uso farmacêutico6.
A partir desta água potável, selecionam-se as etapas e tratamento (deionizadores,
osmose reversa, ultrafiltração, eletrodeionização, destilação, ou outro
equivalente/superior), chegando à produção de água purificada e/ou água para injetáveis
utilizadas para as finalidades farmacêuticas citadas anteriormente, conforme o esquema
abaixo:

Figura 3 – Esquema de métodos para purificação de água para fins


farmacêuticos, tipos de água obtida e utilização dos tipos de água.

Fonte: The United States Pharmacopeia (USP 34), 2011.


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Deste modo, é possível reconhecer os parâmetros os quais são sugestões para


cada uso farmacêutico. Pois cada processo deve obter seus padrões e níveis quanto a
escolha e a destilação nos equipamentos¹².
Com isso, obtendo e respeitando o padrão de controle e qualidade rígido, bem
como o monitoramento de todas a purificação necessário, seu uso torna-se
extremamente viável, obtenha inúmeros benefícios aos fabricantes e usuários¹³.
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REFERÊNCIAS

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