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Disciplina:

Metrologia e Instrumentação Industrial


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Apostila destinada ao Curso Técnico de Nível Médio em Química das Escolas Estaduais de Educação
Profissional – EEEP
Material elaborado/organizado pela professora Hilana Bezerra Moura Frota -
2018
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SUMÁRIO

CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO 3

CAPÍTULO 2: PROCESSOS INDUSTRIAIS 4

CAPÍTULO 3: METROLOGIA 1 0

CAPÍTULO 4: METROLOGIA QUÍMICA 1 6

CAPÍTULO 5: UNIDADES LEGAIS DE MEDIDA 2 6

CAPÍTULO 6: CARACTERISTICAS DS SISTEMAS DE MEDIÇÃO 3 1

CAPÍTULO 7: PROCESSOS DE MEDIÇÃO 3 5

CAPÍTULO 8: ELEMENTOS DE ESTATISTICA 3 8

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS 5 4

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CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO

A metrologia foi normalizada internacionalmente em meados da década de 90 (ISO-GUM 95) através


da avaliação da incerteza de medição e, desde então vem se popularizando tanto no meio acadêmico como
no industrial. De acordo com os requisitos da norma ABNT NBR ISO/IEC 17025:2005, para que um
resultado de medição seja confiável, o mesmo deve apresentar evidências quanto à sua rastreabilidade e ter a
sua confiabilidade metrológica comprovada. O resultado de medição deve, ainda, ser acompanhado de sua
incerteza de medição.
Este livro tem por objetivo esclarecer e auxiliar, do ponto de vista teórico e prático, alunos,
professores e pesquisadores na aplicação dos conceitos de incerteza de medição aos dados experimentais e,
por consequência, na interpretação metrológica destes dados.
Possibilitar a avaliação criteriosa e quantitativa do impacto (percentual) de cada etapa do método
estudado, na incerteza final do ensaio. E avaliar a qualidade do resultado final através do percentual de
incerteza no resultado de medição.

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CAPÍTULO 2
PROCESSOS INDUSTRIAIS

OS PROCESSOS PODEM SER REALIZADOS DE DIVERSAS MANEIRAS:


a) Gerando produtos continuamente, passando por diversos equipamentos, denominado processo
continuo.
b) Gerando um produto que pode ser inteiramente elaborado em uma única maquina, denominado
processo por bateladas.

PROCESSO CONTÍNUO
Opera em altos volumes e baixa variedade de produtos. Seus produtos são indivisiveis e produzidos
em fluxo ininterrupto. Sao relacionados a altos investimentos (capital intensivo), com fluxo altamente
previsivel e tecnologia inflexivel.
Exemplo
Refinaria de petroleo, processos petroquimicos, fabricacao de papel em altos volumes, geracao de
energia nuclear e geracao de energia hidroeletrica.

PROCESSO DESCONTÍNUO (BATELADAS)


A operacao tem periodos em que e repetida, enquanto se produz um lote. E associada a maior
variedade de produtos e menor volume.
Exemplo
Polimerizacao, fabricacao de produtos farmaceuticos, iogurte.
Uma panela de arroz para o nosso almoco e um exemplo de processo descontinuo
ou por batelada, pois passa por diversas etapas, que ocorrem uma
depois da outra.
INSTRUMENTAÇÃO INDUSTRIAL
Para termos uma ideia do que e instrumentacao e controle, podemos olhar para qualquer ser vivo,
especialmente os humanos.
O nosso corpo e complexo, pois precisamos de varios sensores (ou instrumentos), para avaliar
diversas grandezas e diversos processos.
 Quais sao os sensores?
Nossos olhos, nariz, ouvidos, lingua, pele para o sentido do tato, (temperatura, entre outros).
 Quais as grandezas a serem avaliadas?
Como exemplo, usamos os olhos para avaliar distancias, baseados nas informações recebidas pelo
cerebro e na experiencia; portanto, a grandeza e a distancia, que pode ser determinada em metros ou por
aproximacao (longe ou perto).

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 Quais sao os processos?
Sao aqueles que envolvem a vida: andar, saltar, trabalhar, entre outros.
 O que gerencia tudo isso?
O processo da ida e gerenciado pelo nosso controlador, o cerebro.
INSTRUMENTAÇÃO PARA CONTROLE DE PROCESSOS
Os processos industriais sao variados, envolvem muitos tipos de produtos, maquina e materias-
primas. Tambem exigem controle adequado as exigências da precisao dos produtos gerados. Normalmente,
os maiores usuários de instrumentação industrial pesada sao as industrias que atuam nas areas de energia
(petroleo, geracao de energia eletrica, petroquimica), quimica, alimentos, siderurgica, celulose e papel. Tais
processos decorrem da complexidade de seus processos e exigencia de muitos pontos de controle, alem da
rapida variacao e exigencia de valores precisos nos seus parametros.
Nos processos em geral e necessario controlar e manter constantes as principais variaveis como
pressao, nivel, vazao, temperatura, pH, condutividade e outras especificas para cada industria.
Os instrumentos de medicao, ligados aos elementos de controle, permitem controlar e manter estas
variaveis em condicoes mais adequadas/precisas do que se elas fossem controladas manualmente por um
operador. Isto se deve ao fato de que um operador nao pode manter a sua atencao em tempo total.
INSTRUMENTOS
Sao ferramentas indispensaveis utilizadas para estabelecer e manter os padrões operacionais que
identificam um produto a ser fabricado. Sao utilizados para controlar as variaveis em um processo ou sistema
tao precisamente quanto necessario, a fim de alcancar as especificacoes do produto em composicao, forma,
cor ou acabamento.
O instrumento ou sistema de instrumentacao pode ser:
Mecanico, hidraulico, eletronico, pneumatico, eletrico ou a combinacao destes.
 Exemplo de instrumento mecanico: Manometro de Bourdon.

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Figura: (a) Funcionamento do manômetro de Bourdon; (b) manômetro de Bourdon;
(c) o tubo Bourdon funciona como a língua de sogra (brinquedo) quanto mais forte
é o sopro, mais desenrola

No manometro, os dispositivos basicos sao:


Detector – entrada de ar
Transdutor – tubo de Bourdon
Dispositivo de saída – o ponteiro e a escala
Com a finalidade de demonstrar a importancia do controle de um processo,vamos exemplificar coisas
do cotidiano.
a) Liste produtos ou processos que fazemos todos os dias e que voce conhece.
b) Escolha um dos processos que voce conheca profundamente.
c) Descreva o processo, listando materias primas, utensilios, ferramentas, salientando onde deverao
ser controladas as variaveis do processo.
Cada instrumento ou sistema possui tres dispositivos basicos: detector; transdutor (dispositivo de
transferencia intermediario) e dispositivo de saida.

O tipo de instrumento ou sistema depende das variaveis a serem controladas ou medidas e da rapidez
e precisao requeridas.

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A automacao, com requisitos de controle por computador e registro de dados, expandiu o uso de
estacoes ou sistemas de medicao e controle. Para cada aplicacao deve existir compreensao clara da funcao de
cada instrumento e de suas limitacoes no sistema de medicao e controle.
Devemos conhecer a teoria, a operacao funcional e as interacoes entre os componentes do processo a
ser medido ou controlado.
A importancia de um instrumento em qualquer sistema de medicao e controle depende da sua
capacidade de ativar um dispositivo de controle e de seguranca.
A instrumentacao torna possivel colocar a producao em massa sob controle e permite que se
estabelecam os limites do processo.
Instrumentacao e a ciencia que desenvolve e aplica tecnicas de medicao, indicacao, registro e controle
de processos de fabricacao, visando a otimizacao e eficiencia desses processos.
A selecao e aplicacao de instrumentos de processo deverao ser concomitantes com a competencia de
processos industriais. Sao competencias amplas e complexas, pelo volume de conhecimentos necessarios
para a operacionalizacao, pois ainda exigem conhecimentos de eletronica, obtencao, transformacao,
movimentacao de materiais e tubulacoes industriais.

INSTRUMENTAÇÃO INDUSTRIAL
Os processos industriais sao semelhantes aos do corpo humano, porem iniciamos com a decisao do
grau de automacao desejado, pois no corpo humano, diversos processos sao “automaticos”,
independentemente da decisão ou da vontade, como a respiracao, circulacao sanguinea, os processos que
envolvem a digestao e outros. Na area industrial, o grau de automacao menor e de implantacao mais barata
e, um alto grau de automacao exige compra e instalacao de maquinas caras e complexas como os robos
industriais.
As antigas plantas de processo possuiam controladores e registradores instalados diretamente no
campo, fisicamente muito proximos aos sensores e elementos finais de controle, o que garantia simplicidade
e velocidade de comunicacao entre esses elementos. Com o crescimento do numero de processos gerenciados
nas plantas, necessitou-se implantar salas de controle centralizado, perdendo-se as vantagens obtidas pela
referida proximidade entre os equipamentos. Isso gerou atrasos e dificuldades de manutencao na planta;
entretanto, as vantagens geradas compensavam essas desvantagens.
A sala de controle pode ser guarnecida (com a presenca de um operador), ou nao.

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Figura : Sala de controle da usina nuclear de Angra dos Reis

Com a evolucao dos sistemas eletronicos e das comunicacoes digitais que permitiu
comunicacao a longa distancia, pode-se retornar com os elementos controladores para o campo.
Assim, diminuiu o atraso e a dificuldade de manutencao sem, contudo, perderem-se as
funcionalidades de monitoramento, ajuste e configuracao a partir de uma localizacao remota via
internet ou por antenas (sistemas wireless).
A tecnologia atual evoluiu dessas implantacoes, concretizando os chamados Protocolos Abertos de
Comunicacao Digital, os quais possuem normas bem definidas e de dominio publico que, se seguidas,
garantem a intercomunicação entre equipamentos certificados, os quais podem ser fornecidos por varios
fabricantes diferentes.
Esses protocolos ficaram conhecidos como barramentos de campo ou fieldbus, sendo os mesmos,
classificados quanto ao tipo de dispositivo que comunicam e quanto ao formato dos dados que transportam.
Para que a automacao de um processo possa ser executada adequadamente e necessario que tenhamos
conhecimentos significativos de conceitos iniciando pelos conceitos basicos.
a) Processo – e o conjunto de operacoes necessarias para a obtencao de um produto ou o controle de
uma operacao. Assim, transportamos esse conceito basico para a industria em todos os seus segmentos, pois
convivemos com diversos processos, alguns específicos – como na medicina encontramos os processos de
sensoriamento e manutencao da vida: medidores de pressao, respiradores artificiais, maquinas de dialise
(utilizadas para substituir um rim doente) entre outros, como os processos voltados a area de informacao,
transito de automoveis, etc.

Vamos fixar nossa atencao na industria.


b) Processo industrial – e o conjunto de operacoes necessarias para a obtenção de um produto, simples
ou complexo, ou o controle de uma operação no ambito da industria, que pode ser continuo ou discreto.

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A instrumentacao e muito variada e ao mesmo tempo especifica para cada segmento industrial e,
ainda, ser especializada para um setor dentro de uma industria.

Exemplo
Para a industria de usinagem que utiliza as maquinas CNC, necessita-se dos parametros de medidas
lineares (comprimento, diametro) e rugosidade. Ja na industria petroquimica teremos a necessidade de
parametros diversos relacionados a fluidos (como temperatura, vazao e pressao), mas ainda teremos
diferencas de instrumentos. Alguns serao comuns, outros serao utilizados em areas classificadas, o que exige
caracteristicas especiais, o que torna um instrumento de area classificada, caro quando comparado a um
instrumento comum.
Dessa maneira, este estudo devera ser complementado sempre em função da especificidade de cada
empresa ou de cada segmento.
Atividades de aprendizagem
1. O que e processo?
2. O que e processo industrial?
3. Cite um processo de producao industrial continuo e um descontinuo.
4. Cite cinco variaveis de processo.
5. O que sao instrumentos?
6. Explique os tres dispositivos basicos dos instrumentos.
7. Defina instrumentacao.
8. Liste quatro instrumentos industriais.

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CAPÍTULO 3
METROLOGIA

CONCEITOS FUNDAMENTAIS
Juntamente com a colocacao dos conceitos fundamentais relacionados a Metrologia, sera
definida uma terminologia compativel, com normas nacionais e internacionais. Essa terminologia sera
usada nesta disciplina.
Procura-se respeitar uma base tecnica cientifica e a objetividade. Pode-se encontrar diferenca
em relacao a outras instituicoes, ja que ainda nao existe uma terminologia comum em uso no Brasil.
A terminologia a ser utilizada possui uma forte influencia do VIM, Vocabulario Internacional de
Metrologia (no Brasil publicado pelo INMETRO).

IMPORTÂNCIA DA MEDIÇÃO
Medição é definida como o “processo de obtenção experimental dum ou mais valores que
podem ser, razoavelmente, atribuídos a uma grandeza” (VIM, 2012).
Em geral, o resultado de uma medição é somente uma aproximação ou estimativa do valor
verdadeiro e, dessa forma, só é completa quando acompanhada pela incerteza dessa estimativa
(ALBERTAZZI & SOUZA,2008).
Para evidenciar a importância da metrologia, segue um fragmento de texto do físico Inglês
Lord Kelvin:
“sempre afirmo que se você puder medir
aquilo de que estiver falando e conseguir
expressá-lo em números, você conhece alguma
coisa sobre o assunto – mas quando você não
pode expressá-lo em número seu
conhecimento é pobre e insatisfatório”. Lord Kelvin em 1883.

Durante uma medição, qualquer que seja, é praticamente impossível obter um resultado sem que haja
erros (ALBERTAZZI & SOUZA, 2008), porém nenhuma medição, seja no comércio, na indústria ou na
pesquisa, possui significado se não estiver associada à incerteza de medição. Desta maneira, a incerteza torna-
se uma ferramenta fundamental para o crescimento e inovação tecnológica, possibilitando a promoção da
competitividade e do desenvolvimento tecnológico (MENDES & ROSARIO, 2005).
A Metrologia abrange todos os aspectos técnicos e práticos relativos às medições, quaisquer que
sejam os campos da ciência ou da tecnologia. É a base física da qualidade e fundamental para a
competitividade. No mundo industrializado, as operações metrológicas representam cerca de 5% do Produto
Interno Bruto (PIB) (MADALENO, 2012).
De acordo com Madaleno (2012) a metrologia aplicava-se, inicialmente, apenas às grandezas físicas
(comprimento, massa, tempo, corrente elétrica, intensidade luminosa e temperatura). As medidas das
substâncias e dos compostos químicos eram expressas segundo as grandezas físicas. Como exemplo,
concentração (massa/volume), capacidade calorífica (energia/pelo produto da massa pela temperatura) e

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assim para uma série de outras unidades. Não havia necessidade de se falar em metrologia química, pois
todas as medições realizadas eram rastreadas à uma grandeza física.
O objetivo da metrologia é a determinação do valor numérico de uma grandeza mensurável. Para tal,
deve-se executar um conjunto de operações de medição, utilizando dispositivos apropriados, aparelhos ou
instrumentos de medição (IPS, 2012).
Além de ser um requisito para obtenção da acreditação, o laboratório pretendente deve estimar a
incerteza expandida dos resultados de análise para os quais almeja o reconhecimento. A incerteza de medição,
por ser uma ferramenta importante no monitoramento da qualidade analítica de ensaios, vem se
desenvolvendo muito em diversas áreas do conhecimento, inclusive na área de ensaios químicos em
alimentos (VICENTE et al., 2010).

A DIFERENÇA ENTRE METROLOGIA E INSTRUMENTAÇÃO


Para iniciar o estudo da metrologia, torna-se necessario fazer uma distinção entre metrologia e
instrumentacao.
A metrologia e a ciencia da medicao. Trata dos conceitos basicos, dos metodos, dos erros e sua
propagacao, das unidades e dos padroes envolvidos na quantificacao de grandezas fisicas, bem como da
caracterizacao do comportamento estatico e dinamico dos sistemas de medicao. Na metrologia, o sistema de
medicao e considerado uma caixa preta.
A instrumentacao e o conjunto de tecnicas e instrumentos usados para observar, medir, registrar,
controlar e atuar em fenomenos fisicos. A instrumentação preocupa-se com o estudo, desenvolvimento,
aplicacao e operação dos instrumentos.

O PROCEDIMENTO DE MEDIR
Medição (measurement) – conjunto de operacoes que tem por objetivo determinar o valor de uma
grandeza (a medir), por meio de processos manuais ou automaticos.
A “Grandeza a Medir” (GM) pode ser temperatura, forca, umidade, intensidade luminosa, pH,
comprimento, etc. A operacao de medicao e realizada, genericamente, por um “Sistema de Medicao”
(SM).
Varios outros nomes podem ser encontrados para designar um sistema de medicao, tais como maquina
de medir, medidor, instrumento de medicao, aparelho de medir, equipamento de medicao.
Obtem-se da operacao instrumentada a chamada “Leitura” (L) que e caracterizada por um numero
(lido pelo operador) acompanhado da unidade de leitura.
A medida e o valor correspondente ao valor momentaneo da grandeza a medir, no instante da leitura,
obtida pela aplicacao dos parametros do sistema de medicao. A leitura e expressa por um numero
acompanhado da unidade da grandeza a medir. A transformacao da leitura em medida obedece aos parametros
do sistema de medicao que podem ser:

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Para o leigo, o trabalho de medicao terminaria ao se obter um numero. Para que se pudesse afirmar
isto, duas hipoteses deveriam ser cumpridas:
 A medida e relativa a uma dimensao perfeita.
 O sistema de medicao e pereito.
Efetivamente nada e perfeito, portanto o trabalho de medicao nao termina neste ponto. Na verdade,
aqui se inicia o trabalho do profissional dedicado a metrologia, que deve chegar a informacao denominada
“Resultado de Medicao” (RM).
O resultado de medicao expressa propriamente o que se conhece sobre o valor da grandeza medida, e
e um “Resultado Base” (RB) acompanhado de sua indeterminacao ou “Incerteza da Medicao” (IM) e
da unidade da “Grandeza Medida” (GM). Veja a formula abaixo:

No resultado de medicao, o resultado base pode ser uma medida, ou a obtenção de varias medidas,
ou um valor calculado em funcao de diversas outras grandezas medidas, etc.
A incerteza de medicao, caracterizada pelo limite superior e inferior em relação ao resultado base,
aparece devido a:
 Erros no sistema de medicao;
 Variacao da grandeza medida.
Em funcao dos erros dos sistemas de medicao e da variacao da grandeza medida, a medicao devera
ser realizada, com base no:

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 Conhecimento do processo que define a grandeza medida;
 Conhecimento do sistema de medicao;
 Bom senso.
A determinacao do resultado da medicao nao e uma atividade simples. E necessario que todos os
envolvidos em metrologia dominem:
 Estatistica basica;
 Conhecimento de qualificacao de sistemas de medicao;
 Metodos.
Somente assim se pode fazer uma metrologia dimensional correta e com confiabilidade. Antes de
abordar mais profundamente esse assunto, outros conceitos precisam ser revistos.
SISTEMA GENERALIZADO DE MEDIÇÃO
Apesar de a metrologia ocupar-se, do SM (Sistema de Medicao) como “caixa preta”, e importante,
neste ponto, analisar sua constituicao básica. Em muitos casos torna-se interessante caracterizar em módulos
estes SMs, de forma independente ou para formar um novo sistema de Medicao pelo acoplamento de modulos
diversos. Pode-se caracterizar da seguinte forma:
Transdutor – transforma a grandeza medida em um sinal proporcional (mecanico, pneumatico eletrico
ou outro) segundo uma funcao transferencia, baseada em um ou mais fenomenos fisicos.
Tratamento do sinal – necessario, pois na maioria dos casos, os transdutores oferecem um sinal de
baixa amplitude. Alem da funcao amplificacao, pode tambem ter filtros, processamento, etc.
Indicador – recebe o sinal tratado e transforma em dados inteligiveis para o usuario.

Figura: Sistema generalizado de medição

UNIDADES E PADRÕES
Medir e comparar uma grandeza qualquer com uma unidade previamente estabelecida. Como se ve a
unidade e essencial para a realizacao da medicao.
As unidades sao entao estabelecidas por padroes segundo normas da convencao propria, regional,
nacional ou internacional.

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No transcorrer do tempo, diversos foram os sistemas de unidades estabelecidos nas diferentes regioes
do mundo. Em funcao do intercambio internacional de produtos e informacoes, bem como da propria
incoerencia entre muitas unidades anteriormente adotadas, estabeleceu-se em 1960, um conjunto coerente de
unidades (SI), que consta de unidades de base, derivadas e suplementares.

O sistema internacional e homogeneo, coerente, absoluto e decimal.


a) E homogeneo porque, fixadas as grandezas e suas unidades fundamentais, e possivel derivar delas
outras grandezas e unidades.
b) E coerente porque a multiplicacao ou a divisao de duas ou mais grandezas origina a unidade de
uma nova grandeza.
c) E absoluto porque as unidades fundamentais sao inalteraveis.
d) E decimal porque as unidades das grandezas sao sempre multiplos ou submultiplos de dez.

Existem diversos sistemas de unidade, sendo que o sistema ingles e ainda bastante utilizado, sendo
ele baseado, supostamente, nas medidas do rei.
a) Polegada – correspondente a largura do polegar do rei.
b) Uma polegada equivale a 25,4 mm.
c) O pe equivale a 12 polegadas.
d) Uma jarda, equivalente a um passo, vale 3 pes de comprimento.
Para se ter uma ideia da razao e evolucao das unidades, vamos fazer um breve relato da historia do
metro.
A historia do metro inicia por volta do ano de 1790 na Franca, onde se procurava a definicao de um
padrao do comprimento que nao dependesse nem do corpo humano nem de materializacoes deterioraveis
pelo tempo.
Nessa epoca ele foi definido como a decima milionesima parte de um quarto do meridiano terrestre
que passa por Paris. Em 20 de maio de 1875 foi adotada, como unidade oficial de medidas de 18 nacoes.
O metro foi definido em 1960 como sendo 1.670.763,73 vezes o comprimento de onda de uma luz
emitida pela transicao entre os niveis de energia 2p10 e 5d5 do atomo de Kriptonio 86 no vacuo. Dessa forma,
conseguia-se uma reproducao do metro com um erro de •} 1f nm.
Em 1983, o metro passou a ter uma nova definicao que e a seguinte: “um metro e a distancia
percorrida pela luz no vacuo, no intervalo do tempo de 1/299.792.458 de segundo”. O erro atual de
reproducao por este meio corresponde
a •} 1,3 nm, o que significa um erro de 1,3 milimetros para 1000 quilometros.
O metro em si, com o passar do tempo, nao foi alterado. O que ocorreu foi uma impressionante
melhoria na precisao de sua definicao. Alem disso, obteve-se dessa forma, um padrao internacional
indestrutivel, nao sujeito ao desgaste devido ao uso ou mudanca fisica e que pode ser repetido
simultaneamente em todas as partes do mundo.

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A materializacao da dimensao pode ser realizada atraves de trenas, reguas e diversos instrumentos,
selecionados conforme a precisao exigida. Veja abaixo.

Figura: (a) Trena comum e (b) paquímetro

O uso do sistema internacional e obrigatorio no Brasil e traz uma serie de vantagens:


 Simplificacao das equacoes que descrevem os fenomenos fisicos, pelo fato de existir
coerencia entre as unidades das grandezas envolvidas.
 Facilidade de entendimento das informacoes em nivel internacional (comercial e
cientifico).
 Demonstracao da maturidade tecnico-cientifica pelo abandono dos sistemas
superados.

ATIVIDADES DE APRENDIZAGEM
1. Qual o conceito de metrologia?
2. Cite cinco grandezas que podem ser medidas.
3. O que e medida?
4. O resultado de uma medicao e exato? Justifique.
5. Quais sao os procedimentos de determinacao do resultado de medicao?
6. Quais as bases do procedimento de determinacao do resultado de medicao?
7. O que e medir?
8. Quais sao as caracteristicas do Sistema Internacional?
9. Qual a definicao de metro?
10. Quais as vantagens do uso do Sistema Internacional?

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CAPÍTULO 4
METROLOGIA QUÍMICA

O QUE É?
Uma análise química consiste na aplicação de uma série de processos para identificar (análise
qualitativa) ou quantificar (determinar a quantidade, a concentração, o teor, etc) de uma espécie química
(analito) presente em uma amostra.
As medições químicas são efetuadas, praticamente, em todos os ramos da atividade humana. Na área
industrial as discussões sobre confiabilidade metrológica que iniciou na metrologia dimensional e em seguida
no estudo da incerteza das medições instrumentais no processo, inclui também as técnicas de garantia da
qualidade das medições químicas.
A análise quantitativa, muito usada em sistemas de análises online, visa determinar a concentração
das espécies de interesse. Em uma análise química o analito é a substância a ser determinada. A matriz é o
sistema em que o analito está contido (é tudo que a amostra contém menos o analito).
Segundo o INMETRO, o objetivo principal da metrologia química é prover confiança para as
medições químicas. Embora este assunto seja de suma importância no mundo moderno, ainda é pouco
conhecido ou até mesmo desconhecido de grande parcela dos profissionais da química.

A figura acima mostra o mural intitulado “The Proclamation regarding Weights and Measures” (A
Proclamação em matéria de pesos e medidas) concluído em 1884, localizado no Manchester Town Hall.

Desde o início do século XXI o INMETRO já apontava como mudança de paradigma alguns pontos,
indicando como um cenário de antes de 2000: a metrologia química era descentralizada, pulverizada em
diversos institutos, as iniciativas eram isoladas e tinha-se com isso pouca eficiência. O instituto apontava
também como uma tendência após o ano de 2000 como: iniciativas de controle metrológico centrada no
INMETRO; uma maior robustez, garantindo inserção internacional; uma melhor defesa dos interesses
nacionais e uma maior eficiência e melhor gestão da metrologia no país.

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Falar sobre o tema Metrologia Química é importante para o técnico de analisadores que trabalha com
analisadores em linha (online), porque contribui na evolução do entendimento das variáveis medidas, na
compreensão da incerteza das medições dos analisadores de processo e de modo geral na confiabilidade das
medições analíticas feitas dentro da área industrial, com amostras tomadas diretamente no processo industrial.
De modo geral a metrologia química está relacionada a 80% das cadeias produtivas e pode contribuir
para: a qualidade, inovação e competitividade, a eliminação das barreiras técnicas ao comércio, a garantia
das relações de troca mais justa. Por outro lado, muitos sistemas com analisadores precisam ser projetados,
mantidos e calibrados segundo normas rígidas de especificação de produto e outros sistemas analíticos
precisam atender a padrões e normas de regulações ambientais.

Figura: Metrologia em Química: Ramo da Química Analítica

A metrologia química atua na qualidade e na confiabilidade dos resultados das medições químicas,
através de várias ferramentas como por exemplo: o desenvolvimento de padrões/referências, que em química
são chamados de materiais de referência; o desenvolvimento de métodos, procedimentos e protocolos de
referência; a organização de ensaios de proficiência para avaliar como os laboratórios estão medindo e a
capacitação de profissionais.
ENQUADRAMENTO HISTÓRICO
No segundo milénio antes de Cristo (A. C.) a pureza do ouro já era avaliada recorrendo à comparação
da massa inicial do metal com a massa obtida após a sua purificação (ensaio do fogo). O Rei da Babilónia,
Kadašman-Enlil, apresentou uma reclamação ao quarto Faraó do Egipto, Amenophis III, 1375 – 1350 A. C.,
sobre um fornecimento de ouro: “depois de colocado no forno, este ouro era menos do que o seu peso”.
No entanto, os fenómenos físico-químicos envolvidos nas avaliações efetuadas só começaram a ser
compreendidos do ponto de vista teórico após os trabalhos de Ostwald (1853 -1932), realizados nos finais do
século XIX, os quais resultaram da introdução da teoria iónica na análise qualitativa.
Estes trabalhos representam os primeiros passos da Química Analítica moderna e foram realizados mais de
um século após os estudos de Lavoisier (1743 – 1794). E hoje, a metrologia em química desenvolveu-se com
a globalização dos mercados.
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Figura: Ostwald(esquerda) e Lavoisier (direita).

A ESCOLHA DO MÉTODO

Os métodos analíticos, qualitativos ou quantitativos, usados em laboratório e em processo, nas


medições online poder ser relacionados como: Espectrometria no infravermelho, visível e ultravioleta;
espectrometria de absorção atômica, molecular ou de fluorescência; espectrometria de ressonância magnética
nuclear; espectrometria de massa; espectrometria de raio X espectrometria de ressonância de spin eletrônico;
espectro-analíticos, eletroanalíticos (Potenciometria, Coulometria, Voltametria, Condutometria e
Eletrogravimetria); radioanalíticos; termoanalíticos; Cromatográficos e outros.

Ainda a nível de planejamento ou projeto da aplicação, a escolha do método analítico apropriado para
a caracterização das amostras, deve considerar fatores como: o tipo de informação que se pretende obter; a
quantidade de amostra disponível e a proporção dos constituintes a analisar; a exatidão e a precisão do método
analítico; as interferências analíticas e o seu controle; as dificuldades com possíveis contaminações; o tempo
necessário para analisar cada amostra e o custo da análise de cada elemento por amostra.

ACOMPANHAMENTO METROLÓGICO
Análises feitas em laboratórios podem ser realizadas em situações mais controladas e padronizadas
enquanto o analisador industrial opera com condicionamento de amostras automáticos ou com medições “in
situ”, onde a agressividade e a instabilidade do processo aumentam a incerteza das medições.

O método é a aplicação de uma técnica para a determinação de um analito específico em uma matriz
específica. Os métodos usados em analises químicas geralmente são classificados como sendo clássicos ou
instrumentais. Os métodos instrumentais compreendem o uso de algum instrumento para monitorar qualquer
alteração física nas espécies químicas ou nas reações. Por outro lado, denomina-se de procedimento um
conjunto de recomendações escritas, que detalham como aplicar um método para uma amostra particular,
incluindo informações sobre amostragem adequada, eliminação de interferências e validação de resultados.
Além disso, temos ainda o protocolo de análise, que é um conjunto de orientações, que detalham um

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procedimento que deve ser seguido para a aceitação da análise por uma instituição oficial que estabeleceu o
protocolo.

A foto acima mostra as instalações do INMETRO no município de Xerém, na cidade de Duque de


Caxias, RJ.

VALIDAÇÃO DE MÉTODOS DE ANÁLISE


Segundo o INMETRO/DOQ-CGCRE-008, é fundamental que os laboratórios disponham de meios e
critérios objetivos para demonstrar, por meio da validação, que os métodos de ensaio que executam conduzem
a resultados confiáveis e adequados à qualidade pretendida. Se um método existente for modificado para
atender à requisitos específicos, ou um método totalmente novo for desenvolvido, o laboratório deve se
assegurar de que as características de desempenho do método atendem aos requisitos para as operações
analíticas pretendidas. O laboratório, necessita demonstrar que tem condições de operar de maneira adequada
estes métodos normalizados, dentro das condições específicas existentes nas suas instalações antes de
implantá-los.

Para validar um método faz-se necessária a aplicação de parâmetros como: Especificidade e


Seletividade; Faixa de trabalho e Faixa linear de trabalho; Sensibilidade; Limite de detecção; Limite de
quantificação; Exatidão e tendência; Precisão; Robustez; Incerteza de medição.

Ainda na etapa de planejamento e projeto de aplicação do sistema/metodologia analítica a ser utilizada


recomenda-se considerar: a exatidão necessária, a quantidade de amostra disponível, o intervalo de
concentração do analito, os componentes da amostra que poderão causar interferência, as propriedades físicas
e químicas da matriz da amostra e a frequência necessária de análises.

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Uma das primeiras questões a ser considerada no processo de seleção do método é o nível de exatidão
requerido. Geralmente, o método selecionado representa um compromisso entre a exatidão requerida e o
tempo e recursos disponíveis para a análise. A exatidão indica a proximidade da medida do valor verdadeiro
ou aceito. A precisão descreve a concordância entre os vários resultados obtidos da mesma forma.

A validação deve ser avaliada após as etapas de seleção, desenvolvimento, e otimização dos métodos.
É fundamental que as empresas disponham de meios e critérios objetivos para demonstrar que os métodos
que utilizam conduzem a resultados confiáveis, que garantam qualidade, idoneidade e credibilidade de seus
produtos e/ou serviços. Qualquer alteração de métodos normalizados implica em revalidar o método. Os
laboratórios de metrologia e química têm a responsabilidade de verificar se as características de desempenho
prescritas no método oficial podem ser obtidas.

Segundo a norma ABNT NBR ISO/IEC 17025, com o objetivo de confirmar que os métodos são
apropriados para o uso pretendido, o laboratório deve validar: Métodos não normalizados; Métodos
criados/desenvolvidos pelo próprio laboratório; Métodos normalizados usados fora dos escopos para os quais
foram concebidos; Ampliações e modificações de métodos normalizados. As comparações entre métodos,
consistem na comparação dos resultados obtidos utilizando um método interno com os resultados
conseguidos por meio de um método de referência. O objetivo é estudar o grau de proximidade dos resultados
obtidos pelos dois métodos de ensaio, ou seja, avaliar a exatidão do método interno com o de
referência. Existem várias técnicas para comparar os resultados obtidos por dois métodos de ensaio, entre as
quais: Testes de Hipótese, Regressão Linear entre os dois métodos e Planejamento de Experimentos.

INCERTEZA DAS ANÁLISES


Toda medida possui alguma incerteza, que é chamada de erro experimental. As conclusões podem ser
expressas com um alto ou baixo grau de confiança, mas nunca com completa certeza. O erro experimental é
classificado como sistemático (determinado) ou aleatório (indeterminado). Importante que se busque estimar
e fixar em análises industriais feitas diretamente no processo por analisadores online, as incertezas
combinadas e expandidas de cada resultado da medição do sistema analítico instalado, incluindo:
amostragem, transporte, condicionamento, análise, medição, cálculos, materiais de referência e calibrações.

Há de se considerar que muito embora um sistema automático de análises online faça a repetição do
método indefinidamente até o evento da falha. Com a operação contínua internamente os componentes do
sistema vão sujando, sofrendo incrustações, os sensores e materiais de referência vão sofrendo degradação e
o resultado sofre uma derivação que deve ser monitorada através de calibrações e verificações periódicas.
Estas verificações deverão estar contidas num plano de garantia da qualidade a ser elaborado.

AMOSTRAGEM
Uma amostra analítica é uma pequena porção do material objeto da análise química que representa a
composição média qualitativa e quantitativa da população. A amostragem é um conjunto de operações que
nos permite obter, deste modo uma amostra reduzida em tamanho para uma quantidade de material
homogêneo que pode ser convenientemente transportada, condicionada e cuja composição seja representativa
da situação dentro do processo monitorado. A integridade da amostra deve ser mantida até ser analisada. As
condições de recolha, transporte e armazenamento devem garantir a não alteração da amostra.

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A figura acima mostra um sistema extrativo de gases em chaminé com diluição, interligado ao sistema de
condicionamento, calibração e analise.

O analito é uma espécie química presente na amostra cuja concentração se deseja determinar em uma
análise, no entanto a matriz compreende todos os constituintes de amostra analítica.

A figura acima mostra um sistema de condicionamento de amostras. Gentileza Thyson Technology.

Na amostragem contínua feita diretamente num processo dinâmico em condições de estabilidade


relativa, a distribuição dos constituintes é heterogênea e assim um grande esforço é requerido para se obter
uma amostra representativa. Esta etapa é a mais difícil e a fonte de maiores erros. Algumas recomendações
e métodos de amostragem são propostos para a obtenção de amostras representativas, como evitar mudanças
de fase da amostra, com alterações de pressão, vazão e temperatura. Uma vez que temos a amostra em solução
líquida ou gasosa e convertemos o analito a uma forma apropriada para a medida, é importante eliminar
substâncias presentes na amostra que possam interferir na medida. Algumas amostras não requerem nenhum
processamento antes da etapa da medida, contudo a maioria das amostras precisa ser processada. As amostras
líquidas podem conter partículas sólidas que precisam ser removidas.

21
ANÁLISE
As análises devem ser realizadas com partes da amostra condicionadas e preparadas de forma
adequado. É preciso ainda que o analito esteja em uma forma adequada para a determinação. Caso isto não
ocorra é preciso convertê-lo a uma forma adequada para efetuar a sua determinação, segundo requisitos do
método e do próprio analisador.

A figura acima mostra um analisador contínuo para efluentes líquidos industriais do tipo colorímetro, com
os reagentes armazenados dentro da caixa do analisador. Gentileza Endress+Hauser

Toda medida analítica é constituída de dois componentes, o sinal e o ruído. O primeiro contém informação
sobre o analito e o ruído é a parte indesejada, pois é constituída de informação espúria. O ruído pode degradar
a exatidão e a precisão de um método, bem como prejudicar o limite inferior da quantidade do analito que
pode ser detectada (o limite de detecção).

CALIBRAÇÕES EM SISTEMAS ANALÍTICOS


A calibração de um sistema analítico é um conjunto de operações que estabelece, sob condições
especificadas, a relação entre as medidas obtidas pelo instrumento e a quantidade do analito. Os métodos
mais comuns incluem as curvas de calibração, uso de padrões internos certificados e métodos de adição
padrão. Várias soluções de concentração conhecida do analito são preparadas (padrões) e introduzidas no
instrumento. A resposta é registrada e plotada em uma curva com o resultado da medida versus a concentração
do analito, também chamadas de curvas de trabalho ou curvas analíticas, as incertezas são estimadas e os
coeficientes de correlações são calculados.

22
A figura acima mostra uma casa de analisadores de um sistema de monitoramento contínuo de emissões
com seus respectivos cilindros de gases padrões de calibração.

Segundo o VIM 2009, a rastreabilidade metrológica é um conceito associado à qualidade de uma


medição e é definida como a “propriedade de um resultado de medição pela qual tal resultado pode ser
relacionado a uma referência através de uma cadeia ininterrupta e documentada de calibrações, cada uma
contribuindo para a incerteza de medição”.

A Revista de Química Industrial-RQI, da Associação Brasileira de Química, define a quimiometria como


o uso de métodos matemáticos e estatísticos para obter resultados mais confiáveis fazendo um número
mínimo de experiências e para extrair a máxima de informação útil de dados químicos. Métodos
quimiométricos englobam uma visão multivariada de sistemas, processos e produtos químicos. Além de ter
capacidade de explorar métodos quimiométricos para resolver problemas que não podem ser resolvidos sem
uma visão multivariada, o profissional que lida com análises químicas e sistemas analíticos online, deve
procurar ter um conhecimento de estatística básica que permitirá uma atuação mais completa. A incerteza
dos cálculos quimiométricos deve ser considerada na estimativa da incerteza combinada que esta tecnologia
é utilizada na obtenção de resultados de análises químicas. Muitos analisadores que utilizam a tecnologia de
FTIR, utilizam a técnica de quimiometria para obtenção dos resultados.

REFERÊNCIAS
Para garantir a confiabilidade e comparabilidade das medições químicas, o INMETRO recomenda o
uso de: Procedimentos Primários de Medição (Métodos Primários); o uso de Materiais de Referência
Certificados (MRC); a adoção de programas de intercomparações e aplicação de serviços padronizados de
calibração e ensaio.

Os Métodos Primários de Medição (MPM) são métodos que possuem as mais altas qualidades
metrológicas para o qual uma declaração completa de incerteza possa ser feita em termos de unidades SI e
cujos resultados são, portanto, aceitos sem referência a um padrão ou grandeza sob medição. O INMETRO
afirma que os MPMs já definidos para quantidade de matéria são: gravimetria, coulometria, titulometria,
espectrometria de massas por diluição isotópica, medição de pH e calorimetria.

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A figura acima mostra a pirâmide da rastreabilidade metrológica para vincular os padrões e materiais de
referências dentro de uma cadeia internacional de certificação.

Ao empregar métodos de ensaios químicos emitidos por órgão de normalização, organizações


reconhecidas na sua área de atuação ou publicados em livros e/ou periódicos de grande credibilidade na
comunidade científica, o laboratório responsável pela qualidade da medição precisa demonstrar que tem
condições de aplicar de maneira adequada estes métodos normalizados, dentro das condições específicas
existentes nas suas instalações antes de implantá-los. Como os métodos normalizados são métodos validados,
não é necessário realizar o processo completo de validação, desde que não ocorram alterações significativas
dos mesmos. Entretanto, a conformidade dos métodos normalizados utilizados deve ser verificada sob
condições reais de uso.

O procedimento operacional padrão objetivo e completo de acordo com a norma ISO 78-2, deve ser
claro, aprovado, autorizado e revisado pelo grupo de garantia da qualidade da empresa. A documentação da
validação deve conter ainda, especificação dos requisitos, características de desempenho obtidas, critérios de
aceitação dos valores obtidos das características de desempenho em comparação com os requisitos, e a
afirmação da validade dos resultados quanto ao atendimento das necessidades do problema analítico. O uso
de testes estatísticos adequados torna as decisões menos subjetivas o que faz com que o processo de validação
de métodos analíticos seja mais objetivo, mais fácil de demonstrar e implementar.

Uma análise química de alta qualidade requer reagentes e soluções com purezas conhecidas. Um
frasco de um reagente de grau químico, aberto recentemente, pode ser utilizado normalmente, com confiança;
se essa mesma confiança pode ser justificada quando o frasco estiver pela metade, isso depende inteiramente
da maneira como ele tem sido manuseado desde que foi aberto.

Segundo o VIM-2009, o Material de Referência é um material ou substância que tem um ou mais


valores da propriedade que são suficientemente homogêneos e bem estabelecidos para ser usado na calibração
de um aparelho, na avaliação de um método de medição ou atribuição de valores a materiais. O Material de

24
Referência Certificado é acompanhado por um certificado, com um ou mais valores da propriedade, e
certificados por um procedimento que estabelece sua rastreabilidade à obtenção exata da unidade na qual os
valores da propriedade são expressos, e cada valor certificado é acompanhado por uma incerteza para um
nível de confiança estabelecido.

Os ensaios de proficiência tem a finalidade de realizar uma avaliação contínua da competência técnica
dos laboratórios participantes e de fornecer aos laboratórios um mecanismo para avaliar e demonstrar a
confiabilidade de suas medições, através da discussão dos resultados detectar os pontos de melhoria de cada
laboratório.

25
CAPÍTULO 5
UNIDADES LEGAIS DE MEDIDA

INTRODUÇÃO ÀS UNIDADES DE MEDIDAS


As informacoes aqui apresentadas irao ajudar voce a compreender e a usar corretamente as unidades
de medida adotadas no Brasil. A necessidade de medir e muito antiga e remonta a origem das civilizacoes.
Por longo tempo, cada pais, cada regiao, teve o seu proprio sistema de medidas, baseado em unidades
arbitrarias e imprecisas, como as baseadas no corpo humano: palmo, pe, polegada, braca, covado, e outras
unidades.
Isso criava muitos problemas para o comercio, porque as pessoas de uma regiao nao estavam
familiarizadas com o sistema de medida das outras. Imagine a dificuldade em comprar ou vender produtos
cujas quantidades eram expressas em unidades de medida diferentes e que nao tinham correspondencia entre
si.
Em 1789, a Academia de Ciencias da Franca criou um sistema de medidas baseado numa “constante
natural”. Assim, foi criado o Sistema Métrico Decimal. Posteriormente, muitos outros paises adotaram o
sistema, inclusive o Brasil, aderindo a “Convencao do Metro”.
O Sistema Metrico Decimal adotou, inicialmente, tres unidades basicas de medida: metro, litro e
quilograma.
Entretanto, o desenvolvimento cientifico e tecnologico passou a exigir medições cada vez mais
precisas e diversificadas. Por isso, em 1960, o sistema metrico decimal foi substituido pelo Sistema
Internacional de Unidades (SI), mais complexo e sofisticado, adotado tambem pelo Brasil em 1962 e rati-
ficado pela Resolucao no 12 de 1988 do Conselho Nacional de Metrologia, Normalizacao e Qualidade
Industrial (Conmetro), tornando-se de uso obrigatório em todo o Territorio Nacional.
O Quadro 3.1 esclarece como escrever as unidades SI.

Unidades do Sistema Internacional múltiplos e submúltiplos das unidades

O GRAMA
O grama pertence ao genero masculino. Por isso, ao escrever e pronunciar essa unidade, seus
multiplos e submultiplos, faca a concordancia correta.
Exemplo
Dois quilogramas, quinhentos miligramas, duzentos e dez gramas, oitocentos e um gramas.

PREFIXO QUILO
O prefixo quilo (simbolo k) indica que a unidade esta multiplicada por mil. Portanto, nao pode ser
usado sozinho. Veja o Quadro 3.2, como se usam os prefixos quilo de maneira correta.

26
MEDIDAS DE TEMPO
Ao escrever as medidas de tempo, observe o uso correto dos simbolos para hora, minuto e segundo.

Os simbolos ‘ e “ representam minuto e segundo em unidades de ângulo plano e nao de tempo.

Unidades do SI em uso

27
Unidades do SI fora de uso

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Os multiplos mega, giga e tera sao utilizados na informatica para designar as capacidades de
processamento dos processadores e computadores.
a) Para formar o multiplo ou submultiplo de uma unidade, basta colocar o nome do prefixo desejado na frente
do nome dessa unidade. O mesmo se da com o simbolo.
Exemplo
Para multiplicar a unidade volt por mil:
quilo + volt = quilovolt ; k + V = kV
Para dividir a unidadde volt por mil:
mili + volt = milivolt ; m + V = mV

b) Os prefixos SI tambem podem ser empregados com unidades fora do SI.


Exemplo
Milibar, quilocaloria, megatonelada, hectolitro.
O hectolitro e uma unidade de medida usada na industria de vinhos e cervejarias para tanques de estocagem
e processamento.
Equidade a 100 litros.

c) Por motivos historicos, o nome da unidade SI de massa contem um prefixo, por exemplo: quilo, mili, etc.
Por isso, os multiplos e submúltiplos dessa unidade sao formados a partir do grama.

UNIDADES DE BASE
O SI definiu sete grandezas físicas independentes e estabeleceu para cada grandeza um valor unitario
definido por um padrao.
A mudanca do padrao pode ocorrer, mas nao significa que o valor unitário seja alterado. Atraves de
um novo padrao podera ser alcancada uma forma de reproducao mais pratica e/ou com menos erros.

29
As unidades bases sao:

UNIDADES DERIVADAS

Unidades derivadas sao aquelas formadas pela combinacao das unidades de base segundo relacoes
algebricas que correlacionam as grandezas correspondentes.
Como exemplos de unidades derivadas podem citar, entre muitas outras:

UNIDADES SUPLEMENTARES
Sao unidades que nao foram enquadradas ainda nas categorias anteriores. Trata-se basicamente das
unidades de angulo plano (radiano) e angulo solido (esteradiano) que nao sao derivadas e tem definicoes
matematicas proprias, nao necessitando de um padrao fisico.

POR QUE MEDIDAS CONFIÁVEIS?


A necessidade de uma boa definicao do processo de medicao e medidas confiaveis de comprimento
e percebida no mundo moderno, pois as industrias dependem da medicao de comprimento. Desde a rosca de
uma porca e de um parafuso, ate as partes usinadas do motor de um carro ou as pequenas estruturas dos
microchips requerem um padrao de comprimento internacional bastante acurado. Essa necessidade e mais
importante se considerarmos a economia global. Sem essa preocupacao, por exemplo, a asa de um aviao
fabricada no Reino Unido nao se ajustaria a fuselagem fabricada na Franca.

ATIVIDADES DE APRENDIZAGEM
1. Que organismo criou o “Sistema Metrico Decimal”?
2. Pesquise na rede outros sistemas de medida. Verifique o sistema de unidade de medida baseado nas
partes do corpo humano.
3. Quando o Sistema Internacional de Unidades foi adotado oficialmente no Brasil e quando foi ratificado?
4. O prefixo quilo (k) tem qual significado? De um exemplo.
5. Qual e a grandeza representada pelas unidades Bar? Cite a unidade oficial para esta grandeza.
6. A unidade “no” representa que grandeza? Cite a sua equivalencia no Sistema Internacional de
Unidades.
7. A producao de bebidas e medida com o uso da grandeza de volume em hectolitros? Qual volume
equivalente a 2,5 hectolitros?
8. Quais sao as sete unidades base do SI?
9. O que sao unidades derivadas do SI?
10. Qual e a unidade de medida considerada suplementar?

30
CAPÍTULO 6
CARACTERÍSTICAS DOS SISTEMAS DE MEDIÇÃO

O comportamento funcional de um sistema de medicao e descrito pelas suas caracteristicas


(parametros) operacionais e metrologicas. Aqui se define e analisa uma serie desses parametros para uso
correto da terminologia e melhor caracterizacao dos sistemas de medicao.
Pelo uso frequente da lingua inglesa nos sistemas de automacao, sera colocada entre parenteses a
expressao equivalente em ingles.

PADRÕES DA CALIBRAÇÃO
PADRÃO (STANDARD)
Medida materializada, instrumento de medicao, material de referencia ou sistema de medicao
destinado a definir, realizar, conservar ou reproduzir uma unidade de um ou mais valores de uma grandeza
para servir como referencia.

CALIBRAÇÃO (CALIBRATION)
Conjunto de operacoes que estabelece, sob condicoes especificadas, a relação entre os valores
indicados por um instrumento de medicao ou sistema de medicao ou valores representados por uma medida
materializada ou um material de referencia, e os valores correspondentes das grandezas estabelecidos por
padroes.

Exemplo
Massa padrao de 1 kg
Resistor padrao de 100 Ω
Padrao de frequencia de cesio
Amperimetro padrao
Eletrodo padrao de hidrogenio
Solucao de referencia de cortisol no soro humano, tendo uma concentração certificada.

Observação
Um conjunto de medidas materializadas similares ou instrumentos de medicao que, utilizados em conjunto,
constituem um padrao coletivo.
Um conjunto de padroes de valores escolhidos que, individualmente ou combinados, formam uma serie de
valores de grandezas de uma mesma natureza e denominado colecao padrao.

Observação
O resultado de uma calibracao permite tanto o estabelecimento dos valores do mensurando para as indicacoes
como a determinacao das correcoes a serem aplicadas.

FAIXA NOMINAL (NOMINAL RANGE)


Faixa de indicacao que se pode obter em uma posicao especifica dos controles de um instrumento
de medicao.
Observação
Faixa nominal e geralmente definida em termos de limite inferior e superior, por exemplo: ”100°C a
200°C”.
Quando o limite inferior e zero, a faixa nominal e definida unicamente no limite superior:
Exemplo
A faixa nominal de 0 V a 100 V e expressa como “100 V”.
Exemplo
FI (Faixa de Indicacao) manometro: 0 a 20 bar
FI (Faixa de Indicacao) termometro: 700 a 1200°C

31
AMPLITUDE DA FAIXA NOMINAL (SPAN)
Diferenca, em modulo, entre os dois limites de uma faixa nominal.
Exemplo
Para uma faixa nominal de - 10°C a + 50°C a amplitude da faixa nominal e 60°C.
Observação
Em algumas areas, a diferenca entre o maior e o menor valor e denominada faixa.
Exemplos
Termometro: FO (Faixa de Operacao): de - 50° a + 50° Celsius.
Medidor de deslocamento: FO (Faixa de Operacao): de - 0,050 a + 0,050 mm.

Figura: Termômetro de haste flexível: (a) sensor; (b) haste flexível; (c) mostrador e (d) poço do termômetro

Poco do termometro e um tubo fechado em um dos lados. Este lado e conectado ao processo. No
lado posto e introduzido o sensor do termometro.
O poco e utilizado quando se necessita desconectar o sensor sem a parada do processo ou, quando o
sensor nao suporta a agressao quimica ou pressão do processo.

FAIXA DE MEDIÇÃO (MEASURING RANGE)


Conjunto de valores de um mensurando para o qual se admite que o erro de um instrumento de
medicao mantem-se dentro dos limites especificados.
Tambem e conhecido como FO (Faixa de Operacao) que e menor ou, no maximo, igual a FI (Faixa
de Indicacao). A FO pode ser obtida por meio de:
 Manual de utilizacao do Sistema de Medicao.
 Sinais gravados sobre a escala.
 Especificacoes de normas tecnicas.

ESCALA DE UM INSTRUMENTO DE MEDIÇÃO


(SCALE OF A MEASURING INSTRUMENT)
Conjunto ordenado de marcas, associado a qualquer numeracao, que faz parte de um dispositivo
mostrador de um instrumento de medicao.
Observação
Cada marca e denominada de marca de escala.

32
OMPRIMENTO DE ESCALA (SCALE LENGTH)
E o comprimento da linha compreendida entre a primeira e a ultima marca, passando pelo centro de
todas as marcas menores.
Observação
A linha pode ser real ou imaginaria, curva ou reta.
O comprimento da escala e expresso em unidades de comprimento, qualquer que seja a unidade do
mensurando ou a unidade marcada sobre a escala.

DIVISÃO DE ESCALA (SCALE DIVISION)


Parte de uma escala compreendida entre duas marcas sucessivas quaisquer. Caracteristica de um
sistema de medicao analogico atraves de um índice.

Exemplos
Manometro: DE (Divisao de Escala) = 0,1 kgf/cm2
Termometro: DE (Divisao de Escala) = 5°C
Regua Escolar: DE (Divisao de Escala) = 1 mm

Figura: (a) Caudalímetro ou medidor de vazão; (b) zoom no medidor, divisão de escala em 10 m³/hora ou
1% e (c) escala mecânica, divisão em mm

ÍNDICE (INDEX)
A parte fixa ou movel de um dispositivo mostrador cuja posicao em relação as marcas de escala
permite determinar um valor indicado.
Exemplos
Ponteiro, ponto luminoso, superficie de um liquido, pena de registrador.

RESOLUÇÃO DE UM DISPOSITIVO MOSTRADOR


(RESOLUTION OF A DISPLAYING DEVICE)
E a menor diferenca entre indicacoes de um dispositivo mostrador que pode ser significativamente
percebida.

33
Exemplos
Para dispositivo mostrador digital e a variacao na indicacao quando o digito menos significativo
varia de uma unidade. Este conceito tambem se aplica a um dispositivo registrador.

ATIVIDADES DE APRENDIZAGEM
1. Qual e a diferenca entre padrao e calibracao de um instrumento?
2. Como sao conhecidos os limites (de escala) inferior ou superior de um instrumento?
3. Um termometro possui no indicador os valores de - 60°C e + 100°C. Qual a amplitude da faixa nominal
desse instrumento?
4. “A Faixa de Medicao de um instrumento e o conjunto de valores de um mensurando para o qual se admite
que o erro de um instrumento de medicao mantem-se dentro dos limites especificados. Tambem e conhecido
como faixa de operacao.” Considerando o texto acima, responda: A Faixa de Medicao pode ser maior que
a Faixa Nominal?
5. Podemos ter instrumentos com a mesma faixa de medicao e diferentes divisoes de escala? Justifique.
6. Escreva tres exemplos de indices de instrumentos.
7. O que e resolucao de um instrumento?
8. Pesquise na rede um tipo de instrumento (exemplo: termometro). Observe as aplicacoes (clinicas,
industriais), seus materiais de construcao (vidro, acos comuns, acos inoxidaveis). Faca um breve relato do
que voce pesquisou.

34
CAPÍTULO 7
Processos de medição

ERRO DE MEDIÇÃO (ERROR OF MEASUREMENT)


E o resultado de uma medicao menos o valor verdadeiro do mensurando.

Observação
Uma vez que o valor verdadeiro nao pode ser determinado, utiliza-se, na pratica, um valor verdadeiro
convencional.
Quando for necessario distinguir “erro” de “erro relativo”, o primeiro e, algumas vezes,
denominado “erro absoluto da medicao”. Este termo nao deve ser confundido com “valor absoluto do
erro”, que e o modulo do erro.

VALOR DE UMA GRANDEZA (VALUE OF A QUALITY)


E a expressao quantitativa de uma grandeza especifica, representada geralmente sob a forma de uma
unidade de medida multiplicada por um numero.
Exemplos
 Massa de um corpo: 0,152 kg ou 152 g.
 Comprimento de uma barra: 5,34 m ou 534 cm.
 Quantidade de materia de uma amostra de agua: 0,012 mol ou 12 mmol.
Observação
 O valor de uma grandeza pode ser positivo, negativo ou nulo.
 O valor de uma grandeza pode ser expresso de uma maneira ou mais.
 Os valores de grandezas adimensionais sao geralmente expressos apenas por numeros.
 Uma grandeza que nao puder ser expressa por uma unidade de medida multiplicada por um
numero, pode ser expressa por meio de uma escala de referencia convencional, por um
procedimento de medicao ou por ambos.

VALOR VERDADEIRO DE UMA GRANDEZA (TRUE VALUE OF A QUALITY)


E o valor equivalente a definicao de uma dada grandeza especifica.
Observação
E um valor que seria obtido por uma medicao perfeita. Valores verdadeiros sao, por natureza,
indeterminados.

VALOR VERDADEIRO CONVENCIONAL DE UMA GRANDEZA (CONVENTIONAL TRUE VALUE


OF A QUALITY)
E o valor atribuido a uma grandeza especifica e aceito, as vezes, por convencao, tendo uma incerteza
apropriada para uma dada finalidade.
Exemplos
Em um determinado local, o valor atribuido a uma grandeza, por meio de um padrao de referencia, pode ser
tomado como um valor verdadeiro convencional.
O CODATA (1986) recomendou o valor para a constante de Avogrado como sendo A = 6,0221368 x
1023mol-1.
Observação
“Valor verdadeiro convencional” e, as vezes, denominado “valor designado, melhor estimativa de valor,
valor convencional ou valor de referencia”.
Frequentemente, um grande numero de resultados de medicoes de uma grandeza e utilizado para
estabelecer um valor verdadeiro convencional.

ERRO SISTEMÁTICO (SYSTEMATIC ERROR)


E a media que resultaria de um infinito numero de medicoes do mesmo mensurando, efetuadas sob
condicoes de repetitividade, menos o valor verdadeiro do mensurando.
Observação
Erro sistematico e igual ao erro menos o erro aleatorio. Analogamente ao valor verdadeiro, o erro sistematico
e suas causas nao podem ser completamente conhecidos. Para um instrumento de medicao, ver tendência.
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CORREÇÃO (CORRECTION)
E o valor adicionado algebricamente ao resultado nao corrigido de uma medicao para compensar um erro
sistematico.
Observação
A correcao e igual ao erro sistematico estimando com sinal trocado. Uma vez que o erro sistematico nao pode
ser perfeitamente conhecido, a compensação nao pode ser completa.

FATOR DE CORREÇÃO (CORRECTION FACTOR)


E o fator numerico pelo qual o resultado nao corrigido de uma medicao e multiplicado para compensar
um erro sistematico.

REPETITIVIDADE DE RESULTADOS DE MEDIÇÕES


(REPEATIBILITY OF RESULTS OF MEASUREMENT)
E o grau de concordancia entre os resultados de medicoes sucessivas de um mesmo mensurando
efetuadas sob as mesmas condicoes de medicao.
Observação
Estas condicoes sao denominadas condicoes de repetitividade.
Condicoes de repetitividade incluem:
 Mesmo procedimento de medicao
 Mesmo observador
 Mesmo instrumento de medicao utilizado nas mesmas condicoes
 Mesmo local
 Repeticao em curto periodo de tempo.
Repetitividade pode ser expressa quantitativamente em funcao das características da dispercao dos resultados.

CALIBRAÇÃO OU AFERIÇÃO (CALIBRATION)


Sao o conjunto de operacoes que estabelece, sob condicoes especificadas, a relacao entre os valores
indicados por um instrumento de medicao ou sistema de medicao, ou ainda valores representados por uma
medida materializada ou um material de referencia, e os valores correspondentes das grandezas estabelecidos
por padroes.

Observação
O resultado de uma calibracao permite tanto o estabelecimento dos valores do mensurando para as
indicacoes como a determinacao das correcoes a serem aplicadas.
Uma calibracao pode tambem determinar outras propriedades metrológicas com o efeito das
grandezas de influencia.
O resultado de uma calibracao pode ser registrado em um documento denominado certificado de
calibracao.

SENSIBILIDADE (SENSITIVITY)
E a variacao da resposta de um instrumento de medicao dividida pela correspondente variacao do
estimulo.
Observação
A sensibilidade pode depender do valor do estimulo.
Exemplos
Um termometro de vidro com faixa de medida de 0°C a 100°C possui uma escala de leitura de 20 cm, portanto
a sua sensibilidade e de 0,2 cm/°C.

HISTERESE OU HISTERESIS (H)


E a diferenca entre leitura/medida (L/M) para um dado valor da grandeza medida, quando ela foi
atingida por valores crescentes e decrescentes da grandeza medida.

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A histerese e um fenomeno bastante tipico em sistemas de medicao mecânicos devido a folgas e
deformacoes associadas ao atrito.

EXATIDÃO DE MEDIÇÃO (ACCURACY OF MEASUREMENT)


E o grau de concordancia entre o resultado de uma medicao e um valor verdadeiro do mensurando.
Observação
Exatidao e um conceito qualitativo. O termo precisao nao deve ser utilizado como exatidao.

EXATIDÃO DE UM INSTRUMENTO DE MEDIÇÃO (ACCURACY OF A MEASURING


INSTRUMENT)
E a aptidao de um instrumento de medicao para dar respostas proximas a um valor verdadeiro.
Observação
Exatidao e um conceito qualitativo.

CLASSE DE EXATIDÃO (ACCURACY CLASS)


E a classe de instrumentos de medicao que satisfazem a certas exigências metrologicas destinadas a
conservar os erros dentro de limites especificados.
Observação
Uma classe de exatidao e usualmente indicada por um numero ou símbolo adotado por convencao e
denominado indice de classe.

AJUSTE DE UM INSTRUMENTO DE MEDIÇÃO


(ADJUSTMENT OF A MEASURING INSTRUMENT)
E a operacao destinada a fazer com que um instrumento de medicao tenha desempenho compativel
com o seu uso.
Observação
O ajuste pode ser automatico, semiautomatico ou manual. E o ponto no qual o controlador e ajustado
para controlar o processo.

REPETIVIDADE (REPEATABILITY)
E a capacidade de reproducao da indicacao ou transmissao ao se medir, repetidamente, valores
identicos da variavel medida, nas mesmas condições de operacao e no mesmo sentido de variacao. A
repetitividade geralmente e expressa em porcentagem do alcance (span).

ATIVIDADES DE APRENDIZAGEM
1. Qual o conceito de erro de medicao?
2. Ao medir uma barra de aco com uma trena comum, foi encontrada a dimensão de dois metros. Podemos
afirmar que este e um valor verdadeiro do comprimento? Justifique.
3. Durante um processo de medicao, encontramos diferentes valores para o comprimento de uma peca.
Afirmamos que isso e um erro. As causas dos erros podem ser completamente determinadas? Explique por
que.
4. Qual e o conceito de correcao (de um erro)?
5. Como podemos compensar um erro sistematico?
6. A repetitividade (de resultados de medicao) representa o grau de concordância entre os resultados de
medicoes sucessivas de um mesmo mensurando efetuadas sobre as mesmas condicoes. Quais sao essas
condições de repetitividade?
7. O conjunto de operacoes que estabelece, sob condicoes especiais, a relação entre os valores indicados por
um instrumento de medicao, ou valores representados por uma medida materializada, ou um material
referencia e os valores correspondentes das grandezas estabelecidas por padroes, e
denominado_____________________________.
8. Qual e a diferenca entre sensibilidade e histerese de um instrumento de medida?
9. Observando o conceito de classe de exatidao de um instrumento, e possível concluir que deveriamos ter
nas empresas somente instrumentos de alto indice de classe? Analise diversos fatores de resposta.

37
CAPÍTULO 8
Elementos de estatística

A ESTATÍSTICA COMO UMA FERRAMENTA DA QUÍMICA


Imagine voce e seu chefe em uma reuniao em que ambos tem que decidir qual o melhor metodo de
validacao, e para valida-lo qual a melhor maneira ou equipamento a utilizar. Obviamente nao e possivel
imaginar a validacao de um metodo ou a escolha da melhor metodologia, sem se pensar nos melhores e/ou
mais adequados equipamentos a serem utilizados.
A estatistica e uma ferramenta de fundamental importancia para escolher o melhor metodo de
validacao e os melhores equipamentos a serem utilizados.
A escolha do melhor metodo deve seguir tres requisitos basicos: (1) o custo, (2) o prazo e (3) a
eficiencia. Precisao e exatidao sao indispensaveis para o processo decisorio. Os itens subsequentes tratarao
dos aspectos da estatística que serao uteis no trabalho com a quimica de controle de qualidade, química
analitica e validacao em analise quimica.

ERROS EXPERIMENTAIS
Numa analise quimica e comum a ocorrencia de algum tipo de erro. Obviamente e impossivel eliminar
todos os tipos de erros. Sempre existe um erro associado a todas as medidas. Alguns sao mais obvios que
outros, mais facilmente detectaveis, como num exame de sangue, por exemplo, comprovar-se que um homem
nao esta gravido. Esse tipo de erro tambem acontece na Quimica, mas existem outros mais complicados e
muitas vezes impossíveis de se determinar.

ALGARISMOS SIGNIFICATIVOS
Para fazer uma analise de teor de acido acetilsalicilico em um analgesico, pesa-se 2,0000 g de
comprimido pulverizado, faz-se a analise quimica e obtem-se como resultado da titulacao acido/base 20,31
mL de solucao padrao.
Ao calcular o numero de casas decimais, qual sera o resultado final? Qual a incerteza relativa deste
calculo? Quantos algarismos significativos devem ser usados no resultado final?

Algarismo significativo e o numero minimo de algarismos necessarios para escrever um determinado


valor em notacao cientifica sem a perda de exatidao.
Por exemplo, o numero 256,58 tem cinco algarismos significativos, pois pode ser escrito assim: 2,565
8 x 102. Pode-se escrever esse mesmo numero como 0,000 000 256 58 x 109 e ainda assim ele continuara
tendo 5 algarismos significativos.
O numero de zeros a esquerda somente indica quantas casas decimais deve ter determinada medida.
O ultimo numero de uma medida feita experimentalmente tem sempre uma incerteza associada a ele.
Por exemplo, numa leitura feita em um pHmetro, o resultado foi 3,65. O ultimo numero (5) e o algarismo
duvidoso e, mesmo que o aparelho nao flutue em sua medida, ainda assim ele continua sendo duvidoso. Sobre
o ultimo numero recai a incerteza relativa. Considerando a mesma medida e supondo que o fabricante forneca
junto com o aparelho uma ficha de calibracao, neste fichario encontramos a informacao de que a faixa de
variacao na medida feita pelo aparelho e de ±0,02.

38
Figura: Leitura feita em um pHmetro de bancada

Isso significa que a leitura de 3,65 pode ter sido 3,67 ou 3,63. Se fizéssemos uma nova leitura, e o
valor lido fosse 3,67, teriamos acertado. O valor 0,04, em modulo, e o valor da incerteza relativa da medida
feita, dado muito importante para conclusoes experimentais.
Essa incerteza na medida da ultima casa decimal, e a existencia de uma faixa em que os valores lidos
podem se encontrar e comum a todos os aparelhos de medida, independentemente da sofisticacao do metodo
utilizado.
Como se determina essa faixa de leitura do aparelho? O fabricante utiliza pesos padroes, volumes
padroes, solucoes padroes, etc., para fazer varias leituras e para determinar a faixa de leitura do equipamento.
O fabricante utiliza padrões aceitos internacionalmente para calibrar a leitura no seu equipamento.
Ao se fabricar uma balanca, as industrias usam pesos padroes, normalmente construidos em aco-liga
especial ou platina. Os resultados das medidas são tratados estatisticamente e, desses resultados extraem-se
os valores da incerteza relativa, desvio padrao, faixa de leitura do equipamento, etc.

39
OPERAÇÕES COM ALGARISMOS SIGNIFICATIVOS
As quatro operacoes matematicas basicas sao: soma, subtracao, divisao e multiplicacao. Quando se
leva em consideracao os algarismos significativos e necessario o uso de determinadas regras para essas
operacoes, para que no final se obtenha uma resposta precisa e condizente com os dados experimentais.
E importante anotar a precisao de cada equipamento que se trabalha. Por exemplo, se voce executou
uma titulacao com uma bureta cujo volume escoado foi de 18 mL com precisao de ±0,1 mL, entao o valor
preciso escoado da bureta deve ser de 18,1 ou 17,9 mL. Esse numero de casas decimais e algarismos
significativos devem ser levados em conta quando se executarem operações de multiplicacao, divisao, soma
ou subtracao com esses dados experimentais.
Outra situacao e quando se trabalha num mesmo metodo analitico com dois equipamentos de precisao
diferentes. Por exemplo, depois de se preparar uma amostra, pipeta-se 20,02 mL da solucao do analito. Em
seguida submete-se amostra a uma analise espectrofotometrica. O espectrofotometro lhe da uma resposta de
absorbancia de 0,126. Ao se executarem os calculos, a regra diz que devem ser levados em consideracao o
numero de algarismos significativos e casas decimais do equipamento que tiver a menor precisao, nesse caso,
a pipeta.
a) Operação de adição e subtração
Ao somar ou subtrair numeros de mesma quantidade de algarismos significativos, a resposta deve ter
o mesmo numero de casas decimais que os números envolvidos na operacao, por exemplo:

Se os numeros a serem somados ou subtraidos nao tiverem o mesmo numero de algarismos


significativos, a resposta estara limitada ao numero que tem o menor número de algarismos significativos.
Por exemplo, quando se calcula a massa molecular do KrF2 o criptonio tem 5 algarismos significativos,
enquanto o fluor tem 9. Isso significa que a resposta final resultante da somatoria das massas individuais deve
ter 5 algarismos significativos, veja calculo a seguir:

Note que os quatro ultimos numeros da resposta nao sao significativos e, portanto, nao sao levados
em consideracao. Logo, a resposta certa e 121,795 u.a.
O numero 4 correspondente ao ultimo algarismo significativo e arredondadopara 5. Para regras de
arredondamento ver Tabela 1.2.

40
b) Operação de multiplicação e divisão
Nesse caso, levamos em consideracao no resultado final da operacao, o numero de algarismos significativos
contidos no numero com menos algarismos significativos.
Vejamos os exemplos a seguir:

A potencia de 10 nao influencia nada no numero de algarismos significativos que deve ser mantido.

TIPOS DE ERROS
Toda medida em quimica possui alguma incerteza que vem do metodo, do analista ou do equipamento. A
essa incerteza existente nas medidas damos o nome de Erro Experimental. As conclusoes das medidas podem
ter alto ou baixo grau de confianca, mas nunca com completa certeza. Os erros experimentais sao
classificados como:
 Erros sistematicos.
 Erros aleatorios.
Veremos a seguir o que sao e o que significam cada um destes tipos de erros.

ERRO SISTEMÁTICO
Quando ha uma falha em um equipamento ou uma falha no metodo analítico temos o chamado erro
determinado, mais conhecido como erro sistematico.
Ao se realizar um experimento com suspeita de erro sistemático, novamente o erro e reprodutivel.
Embora o erro sistematico possa ser descoberto e corrigido, nem sempre essa e uma tarefa facil.
Como exemplo de erro sistematico, pode-se citar o uso de um turbidimetro. Ao se ler a turbidez de
um padrao de turbidez anota-se um valor de 25,00 NTU, mas que na realidade, e 25,04 NTU. Ao erro
produzido na medida da turbidez de um aparelho que foi padronizado incorretamente, da-se o nome de erro
sistematico, pois para toda a medida que se fizer, o valor estara 0,04 unidades menores do que na realidade.
Para corrigir esse erro deve-se usar um segundo padrao para se verificar o valor do erro sistematico
obtido e testar o aparelho. Na realidade, o método nefelometrico de turbidez normalmente utiliza 3 ou mais
padroes de concentração conhecida (normalmente mais que 4 padroes), justamente para se evitar esse erro
41
determinado, para que dessa forma, se possa montar uma curva de calibracao, mais confiavel e segura do
ponto de vista da precisao.

ERRO ALEATÓRIO
Esse tipo de erro tambem e chamado de erro indeterminado e resulta dos efeitos de variaveis que nao
estao controladas nas medidas. O erro aleatório esta sempre presente e não pode ser corrigido. Um bom
exemplo desse tipo de erro e quando uma pessoa le a escala de uma bureta apos uma titu- lacao. O valor lido
por essa pessoa provavelmente nao sera o mesmo lido por outra pessoa. O mesmo acontece quando se faz a
visualizacao da cor na viragem de uma titulacao. A viragem da cor e vista em tempos diferentes por diferentes
pessoas, alem disso, ha a interpretacao diferenciada da cor da viragem por cada analista.
Em aulas de laboratorios e comum uma interpretacao diferente das cores da viragem de metodos com
ponto triplo de viragem ou mesmo numa viragem simples acido x base. Uma pessoa pode interpretar que a
titulacao chegou ao fim por julgar que nao ha mais mudanca de coloracao da solucao com o indicador,
enquanto outra pode julgar que a solucao ainda muda de cor quando se adiciona o titulante. Esse erro aleatorio
nao pode ser controlado e nao ha como evita-lo em funcao das particularidades da situacao.
A seguir estudaremos precisao, exatidao, incertezas absoluta e relativa.

PRECISÃO E EXATIDÃO
No tiro ao alvo e comum se dizer que o tiro foi exato. O que e ser exato e preciso nesse caso? E no
caso da Quimica? A seguir veremos as diferencas, particularidades e conceitos de precisao e exatidao.
A precisão e uma medida da reprodutibilidade de um resultado e a exatidão se refere a quao proximo
um valor de uma medida esta do valor “real”. Para ficar mais claro, suponhamos que se tenha que fazer a
medida da concentração do teor de acido latico no sangue de um paciente. Faz-se uma amostragem em 10
porcoes iguais do mesmo paciente e da mesma parte do corpo. Para isso utilizam-se quatro metodos diferentes
para medir o mesmo teor de analito e, como resultado, obtem-se os valores contidos na Tabela 1.3.

Interpretação dos resultados


• Método A – e um metodo preciso e exato, pois todos os 10 resultados obtidos foram reprodutiveis (preciso)
e muito proximos do valor real (exato).

42
• Método B – e um metodo preciso, mas nao exato. E preciso porque os valores foram reprodutiveis, e nao e
exato porque os valores obtidos nas 10 analises nao foram proximos do valor real (valor real = 1,250 mg/L).
• Método C – e um metodo nao preciso nem exato. Isso porque os resultados nao foram reprodutiveis e porque
nao foram proximos do valor real.
• Método D – e um metodo razoavelmente exato, mas nao preciso. Exato porque os valores foram bem
proximos do valor real, porem nao foram reprodutiveis, o que nao nos da precisao no metodo.

INCERTEZAS ABSOLUTA E RELATIVA


Incerteza absoluta
Quando se faz uma medida, ha sempre uma margem de incerteza a ela associada.
A essa incerteza da-se o nome de incerteza absoluta. Logo, ao se fazer uma transferencia de volume
usando uma pipeta graduada e calibrada, de 20,0 mL na verdade podemos estar transferindo 20,1 ou 19,9
mL. A incerteza absoluta associada a esta transferencia e de ±0,1 mL. A mesma comparação e valida para
uma bureta, um erlenmeyer, um bequer, uma proveta e outros varios equipamentos e vidrarias de laboratorio.

A incerteza absoluta nos dira, portanto, o grau de precisao de equipamentos ou vidrarias de laboratorio
ao qual uma medida e associada em uma leitura.

Incerteza relativa
Ao fazermos uma medida com uma bureta teremos um resultado. Supondo que essa medida seja de
14,23 ±0,02 mL, a incerteza relativa e a comparação entre a medida feita e a sua incerteza absoluta; em outras
palavras, e a razao entre a incerteza absoluta e a medida feita. Veja Equacao 1.1 para ficar mais claro:

Usando o exemplo anterior com base na Equacao 1.1 o resultado da incerteza relativa e:

Propagação da incerteza – erro sistemático


Se cada equipamento e vidraria possui um erro a ele associado como sera o resultado final? Considere
que, em medidas, da massa molecular dos elementos quimicos, ha um erro associado as variacoes isotopicas
de cada elemento.
Ao se analisar uma amostra, e usando na ordem que segue os equipamentos para execucao do metodo:
 Balanca analitica.
 Balao volumetrico.
 Pipeta volumetrica.
 Bureta.

Em cada equipamento e vidraria utilizados existe um erro sistematico associado a incerteza de cada
instrumento. Atraves de calibracoes podemos eliminar os erros sistematicos, porem ainda restariam os erros
aleatorios que nao são identificaveis e nem corrigiveis.
Deve-se usar a calibracao para mitigacao ou eliminacao do erro sistemático e melhoria da exatidao
do metodo. A incerteza, quando possivel, deve ser descrita como o desvio padrao ou o intervalo de confianca.
43
E possivel mensurar um erro aleatorio a partir da estimativa de confiabilidade que um instrumento
apresenta ou da experiencia pessoal do operador com um determinado metodo. Principais operacoes
matematicas para mensurar o erro aleatorio.

a) Propagação da incerteza na adição e subtração


Supondo que um analista faca varios experimentos e que, ao final, ele deva fazer operacoes de soma
e subtracao entre os metodos utilizados, a equação a ser utilizada para calculo das incertezas totais e obtida a
partir das incertezas individuais de cada operacao feita. A formula, no caso de operacoes de adicao e
subtracao, fica como na Equacao 1.2 a seguir:

Usando um caso pratico de soma e subtracao de valores temos:

Nesse caso, o valor de e4 e calculado com base na Equacao 1.2, que fica:

Esse valor ±0,04 pode ser expresso como incerteza relativa percentual que calculado fica:

Logo, a correta resposta para a operacao aritmetica e:

b) Propagação da incerteza na multiplicação e divisão


Para a multiplicacao e divisao o primeiro passo e transformar todas as incertezas absolutas em
incertezas relativas percentuais entao, calcula-se o erro no produto ou no quociente da seguinte maneira
(Equacao 1.3):

44
Cada um dos tres erros sao as incertezas relativas percentuais de cada parte da operacao aritmetica e,
no final, temos a incerteza relativa percentual global.
Muitas vezes o bom senso deve prevalecer, e cabe ao analista decidir quão preciso deve ser o metodo.
Para isso ele deve levar em consideracao vários fatores, como:
 Objetivo da analise quimica.
 Tempo disponivel para a escolha, implementacao e execucao do metodo.
 Recursos financeiros disponiveis.
 Recursos materiais e humanos disponiveis.

DISTRIBUIÇÃO GAUSSIANA
Os dados obtidos de uma analise quimica se agrupam muito proximos de uma curva suave. A curva
suave damos o nome de distribuição Gaussiana.
Nela, os valores das medidas tendem a se agrupar em torno do valor medio.
O grafico da Figura 1.4 mostra uma curva Gaussiana hipotetica de um experimento qualquer. Na
curva, a maior parte dos valores tende a se agrupar no centro da curva, dentro dos limites da linha pontilhada
azul. O valor zero no eixo das abscissas da curva, representa o centro da curva e onde se encontra o valor
medio dos dados obtidos. A distancia do valor zero (media dos valores obtidos) ate o ponto em que a curva
toca no eixo das abscissas e o desvio padrao.

Figura 1.4: Exemplo do formato de uma curva de distribuição Gaussiana


Fonte: autores
Para se obter uma curva Gaussiana sao necessarias muitas repeticoes de experimentos. Porem, nao podemos
fazer tantas medidas assim em experimentos simples de laboratorio no nosso cotidiano. O que e mais comum
e provável e que o experimento seja repetido 3 a 5 vezes. Gracas a estatistica podem-se estimar os parametros
estatisticos que descrevem um conjunto grande de resultados, a partir de um conjunto menor de resultados.
A partir da curva Gaussiana e possivel, portanto, obter-se a media aritmética de um conjunto de dados, que
e a soma de todos os valores medidos divididos por n, em que n e numero de medidas feitas. Veja a Equacao
1.4:

45
Onde: x e a media dos valores lidos

Substituindo a e media dos valores lidos na Equacao 1.4 temos:

A Tabela 1.4 apresenta como se calcula e qual a funcao de cada calculo estatistico feito em um conjunto de
dados, nesse caso, em uma populacao.

Ainda na Tabela 1.4, pode-se verifi car como se calculam e interpretam dois dados importantes na
analise quimica: a media aritmetica e o desvio padrao.
A partir desses dois dados e da curva Gaussiana, pode-se concluir que, uma boa analise quimica e um
bom metodo devem resultar nos mesmos valores de desvio e media, mesmo que se facam 3 ou 2.000 analises
quimicas. A curva Gaussiana e calculada de acordo com a Equacao 1.5 a seguir:

46
A Equacao 1.5 mostra que a construcao de uma curva Gaussiana nao e tao simples e exige muito
tempo. Neste caso, uma ferramenta bastante util e a utilizacao do software Excel da Microsoft®, uma planilha
eletronica de dados.
No caso da Equacao 1.5, os valores σ e μ podem ser substituidos por s e x, quando o numero de
dados for pequeno para serem usados os valores de σ e μ. No nosso caso, ao inves de se trabalhar com uma
populacao de dados, trabalha-se com uma amostra da populacao, entao usa-se s e x.

INTERVALOS DE CONFIANÇA E O TESTE T DE STUDENT


O teste t de Student e uma ferramenta estatistica utilizada com muita frequência para expressar
intervalos de confi anca e para comparar resultados de experimentos diferentes.
Quando fazemos uma medida, estamos condicionados a um numero limitado de dados e, na verdade,
nao podemos encontrar a media real de uma populacao μ nem o desvio padrao verdadeiro σ. O que ocorre
na pratica e a determinacao dos valores de x e s, ou seja, a media e o desvio padrao das amostras.

O intervalo de confi anca, neste caso, e uma expressao condicionante de que a media real μ,
provavelmente ocupa uma posicao dentro de certa distancia da media medida x. O intervalo de confi anca de
μ e dado pela Equacao 1.6.

Onde: μ e o intervalo de confi anca


x e a media aritmetica
t e o valor do teste t de Student
s e o desvio padrao das amostras medidas
n e o numero de observações

Os valores do teste t de Student sao tabelados e podem ser encontrados com facilidade em qualquer
livro de Estatistica. Na realidade, usando a ferramenta Excel da Microsoft® o que precisamos saber e o
percentual de confi anca que desejamos. Quem estabelece o grau de confi anca para seus dados e o próprio
analista. O grau de confi anca mais utilizado e o valor de 95% de confianca no teste t de Student.
Para que fi que mais claro como e inserido no Excel o calculo da funcao do intervalo de confi anca, a
Figura 1.5 traz um diagrama muito simples para guiar seus estudos neste programa.

47
Diagrama esquemático para cálculo do intervalo de confi ança no Excel da Microsoft® Student foi o
pseudonimo de W. S. Gosset. Gosset era pesquisador da Cervejaria Guinness da Irlanda. A fabrica
restringiu as publicacoes de Gosset por causa de direitos de propriedade. Porem, pela importancia de
seu trabalho, Gosset teve permissao para publica-lo, mas com um nome fi cticio. O teste t de Student e
utilizado para comparacao de resultados de experimentos diferentes e para calcular intervalos de confi
anca (vide Equacao 1.6).
Coletar amostras em pontos diversos de um lago qualquer, retornando mensalmente nos referidos pontos
durante 12 meses.
A pesquisa consiste em comparar os valores de oxigenio dissolvido no lago no periodo de amostragem, isto
e, inferir a probabilidade de que os valores de oxigenio das amostragens serao encontrados num certo
intervalo, no periodo amostral.Esse tipo de calculo tambem e feito pelo Excel, como a Figura mostra.

Figura: Diagrama esquemático para cálculo do teste t de Student no Excel da Microsoft®

48
No diagrama, o valor das matrizes e o resultado das medidas dos teores de oxigenio dissolvido em
cada um dos pontos analisados em cada mes de estudo.
Como o programa so trabalha com duas matrizes de dados, e conveniente transforma-los em duas
matrizes, uma e primeiro semestre; a outra segundo.
A Tabela 1.5 mostra os calculos estatisticos dos valores referentes ao oxigênio dissolvido do primeiro
e segundo semestre de um ano qualquer, de um lago tropical nao poluido.

De acordo com a Tabela 1.5, o teste t de Student sugere que ha uma variação pequena no periodo
amostral, ou seja, a probabilidade e muito pequena de que os valores de oxigenio dissolvido estejam fora da
faixa de valores determinados na media e intervalo de confianca. Se outra analise for feita em outro periodo
amostral, os valores tendem a ser proximos.

MÉDIA ARITMÉTICA E MÉDIA PONDERADA


Quando se executa uma serie de analises de uma mesma amostra, obviamente nao se obtem
exatamente o mesmo valor, mesmo que execute o metodo da mesma maneira. Dessa forma, e necessario que
no final da serie de analises, obtenha-se um valor que expresse o valor final de uma determinada amostra.

Nesse sentido, entra o calculo da media aritmetica, que e o somatorio detodos os valores encontrados
dividido pela quantidade de analises feitas. A Equacao 1.7 expressa matematicamente o valor da media
aritmetica simples.

49
Onde: Σ simbolo que significa somatorio
xi sao os valores obtidos em cada analise individual e n o total de analises feitas Levando-se em conta os
dados da Tabela 1.5, de posse da Equacao 1.7, calcula-se a media aritmetica da seguinte forma:

A media aritmetica ponderada e muito parecida com a media aritmética simples, porem, ha a
atribuicao de pesos para cada medida. Na pratica, algumas vezes certas medidas tem uma importancia muito
maior do que outras, portanto, pesos diferentes.
A Tabela 1.6 mostra como calcular a media ponderada das notas de Quimica dos alunos. Para cada
bimestre e atribuido um peso. O 4. bimestre tem peso maior.

Em sintese, a Equacao 1.8 mostra a formula generica de como calcular a media ponderada.

DESVIO PADRÃO
Desvio padrao expressa o quanto um determinado valor se afasta da media de uma populacao ou
amostra. Com base no desvio padrao e possivel tirar conclusoes muito importantes em analise quimica. Por
exemplo, se um técnico faz uma serie de analises quimicas para calibracao de um equipamento e obtem uma
tabela de valores cujo desvio padrao e muito alto indica que suas analises nao foram satisfatorias, em outras
palavras, os valores encontrados por ele estao muito longe do valor da media aritmetica, e os seus dados
devem ser descartados.
A correta manipulacao do desvio padrao promove resultados benefi cos. Numa operacao de calibracao
e validacao de metodo nao se permitem valores de desvio padrao altos. Numa analise de amostras
desconhecidas no meio ambiente em periodos amostrais diferentes, o desvio padrao pode apenas signifi car
que ha grande variacao nos valores ao longo das estacoes. Ja grandes valores de desvio padrao numa industria
farmaceutica podem indicar problemas na linha de producao e a analise deve ser refeita para confi rmacao
desses valores, que se confi rmados indicam que os remedios devem ser descartados.
Matematicamente a Equacao 1.9 mostra como calcular o desvio padrao. Devemos lembrar que o
desvio padrao pode ser calculado usando-se a ferramenta Excel da Microsoft®.

50
Onde: Σ e o somatorio das medidas feitas
x e o valor encontrado
n e o numero de medidas feitas

O desvio padrao tambem pode ser determinado em termos de percentuais


(%) de acordo com a Equacao 1.10.

TESTE Q
O teste Q e, uma ferramenta decisiva para ajudar a descartar ou nao um dado quando este parece
inconsistente relativamente aos dados restantes.
Exemplo
Suponhamos que um analista faca varias replicas de uma analise de fosforo em uma amostra e tenha
como resultado os seguintes valores: 12,53; 12,66; 12,54; 12,53; 12,55; 12,52; 12,52; 12,53. A duvida e: o
ponto 12,66 deve ser descartado?
Os passos para realizar esse calculo sao:
a) Organizar os dados em ordem crescente de valores.
b) Calcular a variacao do valor questionado e do valor mais proximo.
c) Calcular o intervalo entre o primeiro e o ultimo valores da escala.
A Equacao 1.11 apresenta a formula para calculo do Qcalculado para compara-lo com o Qtabelado.

Levando-se em consideracao os valores 12,53; 12,66; 12,54; 12,53; 12,55; 12,52; 12,52; 12,53; o esquema
esboca como e feito o calculo do teste Q.

51
Figura: Esquema do cálculo do teste Q
Usando-se a Equacao 1.11 podemos calcular o valor do Qcalculado:

Comparamos o valor de Qcalculado com o do Qtabelado. Consultando, a Tabela 1.7 verificamos que
para 8 observacoes o Qcalculado > Qtabelado. Nesse caso, o analista deve descartar o valor 12,66. A regra
e:

 Descarta-se o valor em questao quando: Qcalculado > Qtabelado


 Mantem-se o valor em questao quando: Qcalculado < Qtabelado

52
ATIVIDADES DE APRENDIZAGEM
1. Quais sao os padroes fundamentais que originam as unidades mais comuns do Sistema Internacional?
2. O que e algarismo significativo?
3. Suponha que voce mediu a massa de um determinado reagente em uma balanca de 4 casas decimais, e que
o valor lido foi de 10,2356 gramas. Quantos algarismos significativos tem esse numero?
4. Quais sao os tipos de erros experimentais que existem?
5. O que e erro aleatorio?
6. Diferencie precisao de exatidao.
7. Defina:
a) Incerteza absoluta.
b) Incerteza relativa.
c) Intervalo de confianca.
d) Teste t de Student.
8. Defina matematicamente:
a) Media aritmetica.
b) Media ponderada.
c) Desvio padrao.
9. Faca o calculo do Teste Q do seguinte conjunto de numeros, e diga se o numero 12,32 deve ser descartado.
12,33; 12,32; 12,36; 12,34; 12,38; 12,37; 12,39; 12,33 e-

53
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1-METROLOGIA QUÍMICA E A UTILIZAÇÃO DE MATERIAIS DE REFERÊNCIA EM MEDIÇÕES


QUÍMICAS. Nilton Pereira Alves, Denilson Nogueira de Moraes. QUIMLAB – Universidade do Vale do
Paraíba.
2 – METROLOGIA QUÍMICA: NOVA FRONTEIRA NA ÁREA DE ALIMENTOS E BEBIDAS.
Carolina Cantarino. Labjor/UNIEMP.
3 – RQI – REVISTA DE QUÍMICA INDUSTRIAL, numero 737/2012
4 – A IMPORTÂNCIA DA METROLOGIA QUÍMICA NOS RESULTADOS DAS ANÁLISES DE
RESÍDUOS. Oscar Bahia Filho. TQW Consultoria em Química Analítica e Qualidade, Piracicaba (SP),
2009.
5 – A RASTREABILIDADE METROLÓGICA DAS MEDIÇÕES QUÍMICAS. Cristiane Rodrigues
Augusto, Tânia Maria Monteiro, Janaína Marques Rodrigues e Valnei Smarçaro da Cunha. Metrologia
Química. Banas Metrologia, 2011
6 – Wikipedia – Metrologia
7 – GAS STANDARDS AND MEASUREMENTS. NPL-National Physical Laboratory, UK
8 – DOQ-CGCRE-008 (INMETRO:2003): ORIENTAÇÃO SOBRE VALIDAÇÃO DE MÉTODOS
ANALÍTICOS
9 – Guia EURACHEM: Determinando a Incerteza na Medição analítica
10 – ISO/IEC 17025 (NBR:2001): Estabelece requisitos gerenciais e técnicos para a competência de
laboratórios em fornecer resultados de ensaio e calibração tecnicamente válidos. Esta norma é para o uso de
laboratórios de calibração e ensaio no desenvolvimento de seu sistema de gestão da qualidade
11 – Vocabulário Internacional de Termos Fundamentais e Gerais de Metrologia (VIM, 2009).

54
Hino Nacional Hino do Estado do Ceará

Ouviram do Ipiranga as margens plácidas Poesia de Thomaz Lopes


De um povo heróico o brado retumbante, Música de Alberto Nepomuceno
E o sol da liberdade, em raios fúlgidos, Terra do sol, do amor, terra da luz!
Brilhou no céu da pátria nesse instante. Soa o clarim que tua glória conta!
Terra, o teu nome a fama aos céus remonta
Se o penhor dessa igualdade Em clarão que seduz!
Conseguimos conquistar com braço forte, Nome que brilha esplêndido luzeiro
Em teu seio, ó liberdade, Nos fulvos braços de ouro do cruzeiro!
Desafia o nosso peito a própria morte!
Mudem-se em flor as pedras dos caminhos!
Ó Pátria amada, Chuvas de prata rolem das estrelas...
Idolatrada, E despertando, deslumbrada, ao vê-las
Salve! Salve! Ressoa a voz dos ninhos...
Há de florar nas rosas e nos cravos
Brasil, um sonho intenso, um raio vívido Rubros o sangue ardente dos escravos.
De amor e de esperança à terra desce, Seja teu verbo a voz do coração,
Se em teu formoso céu, risonho e límpido, Verbo de paz e amor do Sul ao Norte!
A imagem do Cruzeiro resplandece. Ruja teu peito em luta contra a morte,
Acordando a amplidão.
Gigante pela própria natureza, Peito que deu alívio a quem sofria
És belo, és forte, impávido colosso, E foi o sol iluminando o dia!
E o teu futuro espelha essa grandeza.
Tua jangada afoita enfune o pano!
Terra adorada, Vento feliz conduza a vela ousada!
Entre outras mil, Que importa que no seu barco seja um nada
És tu, Brasil, Na vastidão do oceano,
Ó Pátria amada! Se à proa vão heróis e marinheiros
Dos filhos deste solo és mãe gentil, E vão no peito corações guerreiros?
Pátria amada,Brasil!
Se, nós te amamos, em aventuras e mágoas!
Porque esse chão que embebe a água dos rios
Deitado eternamente em berço esplêndido, Há de florar em meses, nos estios
Ao som do mar e à luz do céu profundo, E bosques, pelas águas!
Fulguras, ó Brasil, florão da América, Selvas e rios, serras e florestas
Iluminado ao sol do Novo Mundo! Brotem no solo em rumorosas festas!
Abra-se ao vento o teu pendão natal
Do que a terra, mais garrida, Sobre as revoltas águas dos teus mares!
Teus risonhos, lindos campos têm mais flores; E desfraldado diga aos céus e aos mares
"Nossos bosques têm mais vida", A vitória imortal!
"Nossa vida" no teu seio "mais amores." Que foi de sangue, em guerras leais e francas,
E foi na paz da cor das hóstias brancas!
Ó Pátria amada,
Idolatrada,
Salve! Salve!

Brasil, de amor eterno seja símbolo


O lábaro que ostentas estrelado,
E diga o verde-louro dessa flâmula
- "Paz no futuro e glória no passado."

Mas, se ergues da justiça a clava forte,


Verás que um filho teu não foge à luta,
Nem teme, quem te adora, a própria morte.

Terra adorada,
Entre outras mil,
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada, Brasil!

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