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Celso
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e-mail: celsoff@outlook.com
antecipo os agradecimentos
Celso
Introdução
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Celso Fernandes Fulieri
V
...
ou levar a mensagem pessoalmente, mas com um deta-
lhe, um toque diferente, a lá Celso.
Coisa simples, assim pensei e eis o que seria:
Eu de qualquer jeito estaria lá na casa de Sol; em um horário
pré-determinado e ao mesmo tempo, alguém que se faria pas-
sar por mim na net; pois até então, era assim que nós nos co-
municávamos, e a chamaria para dar os parabéns etc e tal. Cri-
ar um clima de suspense, algo que levasse Sol a pensar com
quem realmente ela estaria conversando, e lógico, que depois
iria me revelar.
Na minha cabeça tudo funcionava como um relógio suíço.
Alguns detalhes se faziam necessário. O horário: 15 horas.
Quem iria ser eu: claro, um amigo (pua!).
Segue o diálogo entre eu e ele que aconteceu na terça feira da
semana do aniversário de Sol:
- Você pode fazer isso para mim? É uma brincadeira com uma
pessoa muito especial...
- Cê é louco sô! Mas, pode contar comigo.
- Então, aqui está o texto, a maneira como costumo escrever
para ela, e cuidado aqui, ok? Eu não escrevo “naum”, evito
abreviaturas, termos chulos... a trato de gata, garota...
- Entendi, entendi...
Agora, ele olhava para a folha que eu havia lhe passado:
- E isso aqui é o que vou escrever para ela, certo, vou ler todi-
nho, e o vídeo é esse aqui, ta, ta, entendi, entendi tudo. Agora
me diz uma coisa; como você “bola” essas coisas?
- Depois lhe explico. Mais uma vez: isto tem que acontecer no
sábado exatamente às 3 da tarde, que é a hora...
- Tudo bem! Tudo bem! ‘Xá comigo
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Domingo com Sol
- Você realmente não tem nada para fazer no sábado? Sua es-
posa? Sem problemas?
- Tudo bem, cara. Tudo bem. Depois explico para ela e sendo
você; oh! Já pode considerar feito.
...Huuum! Não senti muita firmeza nessa última frase, não sei
ou sei o porquê.
Mesmo assim, tratamos de mais alguns detalhes. Quando dei
por encerrado a minha permanência ali sob o olhar congelante
da esposa, enquanto ele dava tapinhas em minhas costas, elo-
giando a minha criatividade.
Independente da minha cisma, eu repassei todo o plano, as fa-
las, que na minha opinião estava tudo perfeito.
Escrevi estava, porque na sexta por volta das 12:30 quando o
telefone tocou; era o “amigo”.
Aquele papo fiado de tempo, calor, chuva, frio, para iniciar
uma conversa.
Eu percebi o nervosismo dele e perguntei:
- O que aconteceu? Pare de enrolar...
- Você sabe como é a minha mulher. Meio assim... ela... essa
coisa de eu passar por você, com outra, ela... e... é o seguinte,
eu também não sabia, mas domingo é a missa de um ano de
falecimento do peixinho dourado da avó dela... os familiares
foram convidados, todos estarão lá, e eu vou sair na sexta a
noite para não pegar transito, daí, aquele teu lance... Oh! Dessa
vez não deu, mas quando precisar pode contar comigo.
- Ta! Obrigado.
Desliguei o telefone amaldiçoando todos os peixinhos doura-
dos que morreram há um ano atrás.
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Domingo com Sol
É hoje o dia
Por pouco
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Ônibus e metro
Entrei...
Era isso...
Alegria acaba.
Qdescobri
uinze minutos depois que o ônibus se pôs em movimento,
o porquê daquele desfile de inverno rigoroso, si-
beriano em pleno verão.
Aquilo não era um ônibus, era um frízer sobre rodas.
O ar condicionado deveria estar regulado para era glacial.
...Bruuu!! Cacete, que frio.
Achei que já tinha vivido essa provação, me estrepei todinho.
Num certo ponto da viagem, percebi a formação de estalagmi-
tes ao longo do bagageiro. Ainda olhava aquilo com desprezo
quando senti uma coceira no nariz.
Ato contínuo. Vou coça-lo e comprovo a presença de uma es-
talagmite em estado avançado de formação e eu nem havia
percebido. Discretamente procurei retira-la.
Tentativas em vão, gelo seco na pele é uma cola daquelas...e
na ponta do nariz então, quase que o arranco.
...Mas está tudo bem! Sosol eee eeeeu eee sososol! Merda!
Quanto mais eu penso em Sol ou sol, mais frio eu sinto.
Dormir nem pensar.
Assustava-me o pensamento de acordar congelado e morto.
Olhar a paisagem? Boa ideia, todavia o ar condensado nas ja-
nelas as deixava com zero de visibilidade.
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Ponto final!
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Por favor,...
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casa de Sol
E aquele tumulto
O
...
que poderia ser?
...Será que tinha gente escondida no banheiro ou no
quintal, prontos para me dar um sustão daqueles?
Preparei-me para isso; tencionei todos os músculos do corpo;
agora que venham. Frustração geral, não saiu ninguém de lu-
gar nenhum em nenhum momento.
...Bom, pode ser um sistema de som, ai explica aquela zorra de
muita gente falando que eu ouvi.
Com os olhos discretamente procurei caixas de som e nada.
...Aha! E se a geladeira não fosse uma geladeira e sim uma
daquelas enormes caixas de som? Aí sim fica explicado aquela
arruaça de torcida.
Mas minha teoria foi por água abaixo. Sol abriu a geladeira
que é uma geladeira mesmo e de lá retirou uma cerveja que me
ofereceu – sorrisos femininos e cerveja, não necessariamente
nessa ordem, eu nunca recuso – e eu aceitei.
Atenção aqui, por favor, preste atenção neste detalhe:
Eu aceitei a cerveja e a coloquei na mesa, repetindo; eu a co-
loquei na mesa – este ato vai salvar a minha vida logo adiante.
Retornando ao assunto.
...É mesmo! Por que não tinha pensado nisto antes?
Uma tv, um aparelho de Dvd, um sistem tipo home theater, e
um Dvd de lutas medievais. Daqueles, sabe, onde exércitos
numerosos a cavalos, armados de espadas e escudos; aos ber-
ros se empenham numa batalha sangrenta.
Mais uma vez procurei com os olhos o que imaginei.
A única coisa que encontrei com carinha de televisão foi um
micro ondas, só isso.
Nem um radinho de pilhas CCE via-se por ali.
...Sei lá!
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Caos
- E as compe...
Adivinharam? É, também não consegui completar a frase.
Vocês podem não acreditar, elas sem perder o embalo do que
falavam, dispararam na minha direção uma tonelada de infor-
mações sobre competições de judô.
Além de não entender nada, ainda me deixou meio tonto.
Algo parecido como uma luta de boxe quando o sujeito leva
uma no queixo e o juiz intercede. Bom, zonzo eu já estava, e
cadê o juiz?
...Raios! Cadê o juiz?
Fez-se presente na maravilhosa Sol que me perguntou se eu
queria ver os troféus dos filhos, que se encontram em um outro
ambiente.
...Claaaaaaro que eu quero ver os troféus, onde estão?
...Depois de uma calçada de brasas ou forrada de cacos de vi-
dros? É para atravessa-la descalço ou engatinhando? Encaro
qualquer coisa para sair dali.
Quando fui responder, percebi que não tinha controle no maxi-
lar inferior e que não iria conseguir falar, então me limitei com
uma certa dificuldade a fazer um sinal com cabeça, o que Sol
interpretou como uma brincadeira de minha parte:
- É brincalhão mesmo. Seus textos, as crônicas; bate papo on
line, eu já o imaginava assim...
Cedi a frente para Sol e a caçula para que me indicassem o
caminho. Ao atravessar a porta da cozinha para o quintal veri-
fiquei se era a prova de som. Não era, mas a fechei, não para
impedir que os animais domésticos entrassem na casa, e sim
que uma ou todas elas saíssem por ali.
Quando perceberam que saímos a arruaça aumentou em do-
bro.Olhei para porta que agora parecia vibrar e prestes a cair.
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Troféus
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A minha consciência
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Eu e o espírito
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De novo
O olho do furacão
A trégua merecida
O retorno
- Claro que sim gata, por mim cedo-lhe todo o tempo do mun-
do, você é a razão desta festa.
Para não incomodar ninguém achei por bem ficar na cozinha
apreciando a minha cerveja.
Feliz por estar com o controle total do meu cérebro e dos meus
membros procurei dar um pouco mais de conforto para minhas
pernas quando as esbarrei em alguma coisa.
...O que é isso?
Abaixei para olhar e vi uma planta herbácea, prostrada, da fa-
mília das cucurbitáceas (citrullus vulgaris) de origem africana,
de folhas bastante subdivididas, e cultivada por causa dos fru-
tos, enormes bagas uniloculares e polispermas, muito sucosas,
de casca verde e polpa vermelha com sementes negras.
...Ah!Uma melancia.
E com pensamentos nada recomendáveis.
...Será que algumas das moças tem o dom de se transformar
em melancia? E quem seria?
...Ou será que fui eu quem lhes rogou uma praga?
...Não. Não sou tão mau assim, posso até pensar em maldades,
mas colocar em prática, não. E também acho que não tenho
esse poder, ou tenho? Huum! Não custa nada tentar. Isto é, se
eu conseguisse me fazer ouvir, até que poderia intimida-las.
...Parem de falar ou as transformo em uma melancia.
...rsrsrs!Bolo de aniversário de Sol? Não me assustaria se essa
melancia fosse um bolo de aniversário. Aliás, já vi e passei por
tantas coisas hoje que nada mais irá me surpreender; rsrs!
...e não posso deixar imaginar a cena: no centro da mesa, a
melancia cheia de velinhas acessas e todos cantando os para-
béns para você, com direito a bis, lógico!
Agora, Sol fecha os olhos, faz um pedido, e em um só fôlego
apaga as velinhas. Entre palmas, vivas e fotos, cerimoniosa-
mente corta a melancia, sendo que o primeiro pedaço vai para
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A presença
Chegaram
Tanto para a perna esquerda como para a direita: vai um, e vai
dois e vai três.
Então, se eu tenho que dar um prêmio, este seria para as moças
da cozinha, que com o poder de extermínio que possuem,
quem sou eu para contraria-las.
Aaaah! O zeee e o ziiim; claro, em ambos os casos me deixa-
ram alienado totalmente. E isso foi durante a festa toda.
Só via gente gesticulando e rindo.
…Eu quero participar, quero cantar, bater palmas, marcar pre-
sença, sair nas fotos junto com os aniversariantes.
Devo ter atrapalhado a todos na hora das piadas.
Sem ouvir (olha o zeee e ziiim; aí gente!), ria sem parar, por-
que de boca aberta não conseguia contar até três para fecha-la.
Deu-me uma câimbra que até hoje me incomoda.
Daquela turma simpática, carinhosa não ouvi um comentário
sequer a respeito do meu jeitão de marionete desengonçado.
Divinos e maravilhosos.
E como toda festa, esta também começa a chegar ao fim.
À medida que os convidados vão se retirando um sossego,
uma paz celestial vai ocupando aquele espaço.
Uma arrumação básica é necessária para tirar aquele ar de
campo de batalha e depois cada um vai para o seu quarto para
descansar, dormir.
Eu, apesar de toda agitação, estava sem sono.
Ouço a tartaruga e as cachorrinhas que começaram a cantar:
“Lua vai, iluminar os pensamentos dela;
fala pra ela que sem ela eu não vivo;
viver sem ela é o meu pior castigo...vá dizer...”
Não ouvia o hamster, acho que dormia.
…Humpf!Também pudera, depois de todas aquelas “sessões”.
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Na base de um vulcão
Almoço; volver
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...Morram de inveja.
Almoço musical na casa de Sol, embora só eu ouvia.
Discretamente faço um positivo para a tartaruga, e ela levan-
tou a pata direita de volta para mim.
Senti todo o ar sumir dos meus pulmões.
...Ela... ela me entende? Então, as cachorrinhas e o despudo-
rado do hamster também.Foo! Foo!
Sol como estava sentada do meu lado notou e perguntou:
- Celso, o que foi?
- Acho que foi um pedaço da... maionese que estava um pouco
mais quente... a mai...
- Maionese quente?
- Não.... a lasanha quente, daí a fazer isso! Foo! Foo! Esfria.
Ela olhou para o meu prato e ainda me censurou:
- Mas você não está comendo. Conversando muito, heim?
...Droga! Agora eu sou a atenção de todos.
Sorrindo frouxo, meio ofegante e evitando olhar para os ani-
mais, volto a refeição.
...Putz! Caramba, como tem lasanha aqui, e eles já estão ter-
minando. Pedir para embalar para viagem? Digo que adoro
comer lasanha dentro de ônibus.Tisc! Não. Ah! Isso mesmo.
Já que as crianças saíram para saborear a sobremesa, vou pro-
por uma brincadeira para distrai-los .
Funiculi Funicula
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Quase lá
A
...
ssim que o ônibus começar a andar, corro para o ba-
nheiro. Por enquanto dá pra segurar. Arhg!
Era o que eu pensava enquanto trocava tchaus e jogava beijos
somente para Sol que ainda estava ali, pois a vó e a caçula a-
cenando-me esmaeceram em uma névoa translúcida.
Outro goru-goru, e este alertando que o tempo esgotou.
Para tentar distrair passei a prestar a atenção em um rádio sin-
tonizado numa estação local, e o locutor com a voz empostada:
“Chuchu AM. Uma potência de rááádio.
Cochichando pra a cidade, sussurrando pro interior.
Na sequência da minha, da sua programação dominical...
Gaalll Cosssta...”
“Contigo aprendi
Que existem novas dimensões da alegria
Contigo aprendi
A conhecer todas as minhas fantasias; aprendi...”
Interromperam a música porque o motorista que era a cara do
espírito esportivo de luta, garra e força; que era a cara do taxis-
ta, que era a cara do motoboy; só que muito mais simpático do
que eles; acabara de entrar. Sem olhar especificamente para
nenhum de nós, e aparentando estar constrangido, pois nervo-
samente coçava a nuca quando nos deu o aviso:
- Boa tarde gente. Viu! Favor não usar o banheiro porque está
quebrado. Se alguém precisar, mas puder segurar eu agradeço,
agora se não der mesmo, eu paro em qualquer moita por ai.
Muito obrigado e vamos fazer uma boa e rápida viagem.
Zeee Ziiim
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Álbum de fotografias
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Do mesmo autor
2.012 – Uma Odisséia
que se encontra no site:
www.recantodasletras.com.br
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