Você está na página 1de 73

Estrutura em Concreto Armado

alfamacursos.com.br

alfamacursos.com.br 1
Alfama Cursos

Antônio Garcez
Fábio Garcez
Diretores Gerais

Antônio Álvaro de Carvalho


Diretor Acadêmico

MATERIAL DIDÁTICO

Produção Técnica e Acadêmica

Patrícia Queiroz de Meneses


Coordenadora Geral

Patrícia Queiroz de Meneses


Coordenadora Pedagógica

Max Almeida Leahy


Autorias

Gabriella Caroline Teles Silva


Sabina Regina Conceição Santos
Revisão Textual

Rafael Rezende de Farias


Editoração

Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/98.


É proibida a reprodução total ou parcial, por quaisquer meios, sem
autorização prévia, por escrito, da
ALFAMA CURSOS.

alfamacursos.com.br
Estrutura em Concreto Armado

Estrutura
em Concreto
Armado

alfamacursos.com.br 3
Estrutura em Concreto Armado

Apresentação do Curso

Estrutura em Concreto Armado tem como foco a assimilação das principais características
do Concreto, seus constituintes e sua produção.

A importância que este tipo de estrutura tem na indústria da construção civil, é tamanha,
que se impõe seu conhecimento teórico/prático para todos aqueles que fazem o
acompanhamento de obras, sejam engenheiros ou técnicos em edificações.

A sua trabalhabilidade, sua resistência e durabilidade, faz com que estas estruturas em
concreto assumam cada vez mais, a responsabilidade de ser a mais comum e importante
tecnologia de construção, seja para pequenas, grandes ou megaobras.

O técnico em edificações tem que dominar sua tecnologia, suas propriedades, sua produção
e aceites, para que possa se inserir de forma responsável e com sucesso profissional.

alfamacursos.com.br 4
Estrutura em Concreto Armado

Apresentação do Professor

Max Almeida Leahy é engenheiro civil formado na Universidade Federal da Bahia (UFBA)
em 1992, técnico em Saúde e Segurança do Trabalho formado pelo Instituto Federal de
Educação de Sergipe (IFS) em 2009 e graduando em Tecnologia em Saneamento Ambiental
(nível superior) também pelo Instituto Federal de Educação de Sergipe (IFS). Atuou na
área de saneamento e construção civil em atividades de execução e distribuição de água
para a Embasa (Empresa Baiana de Águas de Saneamento), na RTC Construções Ltda., na
Companhia Vale do Rio Doce e como docente/consultor na Universidade Gama Filho/Cepec.

alfamacursos.com.br 5
Estrutura em Concreto Armado

Componente Curricular

EMENTA:

Passar aos discentes: A história do concreto. As normas que regem este elemento estrutural.
Os tipos de concreto. Os constituintes do concreto. A viabilidade do concreto. Os tipos de
elementos estruturais em concreto. As ações sobre o concreto. Os tipos de resistências
do concreto. As deformações do concreto. Os aços para armadura do concreto armado.
Os estádios de cálculo. Os estados limites de serviço. A teoria das grelhas. A produção do
concreto. Alvenaria estrutural.

OBJETIVO

Visa dar aos discentes a competência básica para o acompanhamento das obras que
tenham este elemento estrutural.

PÚBLICO-ALVO

Estudantes dos cursos de nível técnico em Edificações que procurem conhecimentos e


responsabilidade com postura ética e profissional e, portanto, que tenham com objetivo de
vida profissional, o bom desempenho, a realização e o sucesso profissional.

alfamacursos.com.br 6
Estrutura em Concreto Armado

Breve histórico

NO MUNDO

A utilização do concreto, diferente do atual, mas com características semelhantes, perde-


se na antiguidade: já era conhecido e aplicado nos tempos do Império Romano. Os
assírios e babilônios, pioneiros da construção, usaram argila como aglomerante, mas a
sua fraca resistência não permitiu um maior desenvolvimento das construções. Os egípcios
conseguiram uma ligação mais rígida com argamassa de cal e gesso, como atestam suas
pirâmides e seus templos. Os romanos criaram um aglomerante de grande durabilidade
adicionando ao calcário determinada cinza vulcânica do Vesúvio, chamada “pozzolana”.

Em 1824, o escocês Josef Aspdin, desenvolveu um cimento bem semelhante ao atual,


dando-lhe o nome de “Portland”, nome de uma cidade do litoral sul da Inglaterra, onde
existem rochedos com a mesma cor cinza esverdeado do cimento descoberto.

Em 1845, Johnson produziu um cimento do mesmo tipo que o moderno Portland. Apesar
de descoberto o aglomerante ideal, nenhum desenvolvimento notável se verificou em
estruturas de concreto, devido principalmente à fraca resistência do material aos esforços
de tração.

Somente em meados do século XIX, quando surgiu a ideia de se adicionar ao concreto um


material de elevada resistência à tração, é que progressos relevantes se fizeram sentir.
Nascia assim um material composto: “cimento armado”, e posteriormente, “concreto
armado”.

Em 1849, o francês LAMBOT construiu o primeiro objeto de concreto armado: um barco


(!!!), exibido na exposição de Paris em 1855. Na verdade, o barco de Lambot era feito de
“argamassa armada”, material de muita utilização nos dias atuais.

Figura 1 - Remanescente de um dos barcos de Lambot.

Fonte: Google imagens.

Porém, a invenção do concreto armado é muitas vezes atribuído ao francês MONIER


(horticultor e paisagista) que se baseando na ideia de Lambot, em 1861 construiu vasos de
flores com argamassa de cimento e areia e armadura de arame, de maneira bem empírica.
Em 1867 obteve a sua primeira patente para a construção de vasos; em 1868 a patente
se estendeu a tubos e reservatórios; em 1869 a placas; em 1873 a pontes e em 1875 a
escadas.

Visando resgatar o mérito de Lambot, em 1949, um século após a criação do barco, a


França comemorou o centenário do concreto armado.

Em 1902, o alemão Mörsch, a pedido da firma Wayss e Freitag que comprou os direitos
das patentes de Monier, publica com bases científicas uma primeira teoria sobre concreto

alfamacursos.com.br 7
Estrutura em Concreto Armado

armado. Apesar de tantos anos se terem passado desde a sua apresentação as ideias
fundamentais de Mörsch ainda continuam válidas.

NO BRASIL

Em 1904 foram construídas casas e sobrados, em Copacabana, no Rio de Janeiro. Em


1901, ocorreram construções de galerias de água em cimento armado, com 47 m e 74 m
de comprimento.

Em 1909 foi construída a ponte na Rua Senador Feijó, com vão de 5,4 m. Em 1908,
construção de uma ponte com 9 m de vão, executada no Rio de Janeiro pelo construtor
Echeverria, com projeto e cálculo do francês François Hennebique.
Em São Paulo, no ano de 1910, foi construída uma ponte de concreto armado com 28
m de comprimento, na Av. Pereira Rebouças sobre o Ribeirão dos Machados. Essa ponte
ainda existe em ótimo estado de conservação, segundo VASCONCELOS (1985), o qual
afirma que em 1913, a “vinda da firma alemã Wayss & Freytag constituiu talvez o ponto
mais importante para o desenvolvimento do concreto armado no Brasil”. Sua empresa no
Brasil foi registrada somente em 1924, sob o nome de Companhia Construtora Nacional,
funcionando até 1974. Imagina-se que, de 1913 a 1924, Wayss utilizou-se da firma de um
alemão, L. Riedlinger, para construir várias obras no Brasil, como 40 pontes de concreto
armado. Riedlinger importou mestres de obras da Alemanha, e a firma serviu de escola
para a formação de especialistas nacionais, evitando a importação de mais estrangeiros.

O primeiro edifício em São Paulo data de 1907/1908, sendo um dos mais antigos do Brasil
em “cimento armado”, com três pavimentos.

A partir de 1924 quase todos os cálculos estruturais passaram a ser feitos no Brasil, com
destaque para o engenheiro estrutural Emílio Baumgart.

No século passado o Brasil colecionou diversos recordes, vários mundiais, como os


seguintes:

• Marquise da tribuna do Jockey Clube do Rio de Janeiro, com balanço de 22,4 m


(recorde mundial em 1926).
• Ponte Presidente Sodré em Cabo Frio, em 1926, com arco de 67 m de vão
(recorde na América do Sul).
• Edifício Martinelli em São Paulo em 1925, com 106,5 m de altura (30 pavimentos
– recorde mundial).
• Elevador Lacerda em Salvador em 1930, com altura total de 73 m.
• Ponte Emílio Baumgart em Santa Catarina em 1930, com o maior vão do mundo
em viga reta (68 m), onde foi utilizado pela primeira vez o processo de balanço
sucessivo.
• Ponte da Amizade em Foz do Iguaçu em 1962, com o maior arco de concreto
armado do mundo, com 290 m de vão.
• Museu de Arte de São Paulo em 1969, com laje de 30 x 70 m livres, recorde
mundial de vão, com projeto estrutural de Figueiredo Ferraz.
• Edifício Itália em São Paulo em 1962, o mais alto edifício em concreto armado do
mundo durante alguns meses.
• Ponte Colombo Salles em Florianópolis em 1975, a maior viga contínua protendida
do mundo, com 1.227 m de comprimento, projeto estrutural de Figueiredo Ferraz;
• Usina Hidroelétrica de Itaipu em 1982, a maior do mundo com 190 m de altura,
projetada e construída por brasileiros e paraguaios, com coordenação americano-
italiana. No Brasil, EMÍLIO HENRIQUE BAUMGART pode ser considerado o “pai”
da Engenharia Estrutural Brasileira, tendo projetado várias obras com diversos
recordes mundiais de tamanho ou originalidade, como:
• Ponte Herval (Santa Catarina) sobre o Rio do Peixe, em 1928, recorde mundial
de vão em viga reta de concreto armado (68 m.), e que pela primeira vez usou a
construção em “balanços sucessivos”.

alfamacursos.com.br 8
Estrutura em Concreto Armado

• Edifício “A Noite” no Rio de Janeiro, em 1928, com 22 pavimentos, na época, o


maior edifício em concreto armado do mundo.

NB 1 NBR 6118 Projeto e Execução de Obras de Concreto Armado


NB 2 NBR 7187 Cálculo e Execução de Pontes de Concreto Armado
NB 4 NBR 6119 Cálculo e Execução de Lajes Mistas
NB 5 NBR 6120 Cargas Para o Cálculo de Estruturas de Edificações
NB 6 NBR 7188 Cargas Móveis em Pontes Rodoviárias
NB 7 NBR 7189 Cargas Móveis em Pontes Ferroviárias
NB 8 NBR 5984 Norma Geral do Desenho Técnico
NB 16 NBR 7191 Execução de Desenhos para Obras de Concreto Simples ou
Armado
NB 49 Projeto e Execução de Obras de Concreto Simples
NB 51 Projeto e Execução de Fundações
NB 116 NBR 7197 Cálculo e Execução de Obras de Concreto Protendido
NB 599 NBR 6123 Forças Devidas ao Vento em Edificações
EB 1 NBR 5732 Cimento Portland Comum

Outras especificações para cimentos ver Capítulo 2 (item 2.1.1)

EB 3 NBR 7480 Barras e Fios de Aço Destinados a Armaduras para


Concreto
Armado
EB 4 NBR 7211 Agregados para Concreto
NBR 722 Execução de Concreto Dosado em Central
EB 565 Telas de Aço Soldadas para Armaduras de Concreto
EB 780 Fios de Aço para Concreto Protendido
EB 781 Cordoalhas de Aço para Concreto Protendido
MB 1 NBR 7215 Ensaio de Cimento Portland
MB 2 NBR 5738 Confecção e Cura de Corpos de Prova de Concreto
Cilíndricos ou Prismáticos
MB 3 NBR 5739 Ensaio de Compressão de Corpos de Prova Cilíndricos
de Concreto
MB 4 NBR 6152 Determinação das Propriedades Mecânicas à Tração de
Materiais Metálicos
MB 215 Determinação do Inchamento de Agregados Miúdos
para Concreto
MB 256 Consistência do Concreto pelo Abatimento do Tronco de
Cone
NBR 7187 Cálculo e Execução de Ponte em Concreto Armado
NBR 7212 Execução de Concreto Dosado em Central
NBR 7807 Símbolo Gráfico para Projeto de Estruturas - Simbologia
NBR 8681 Ações e Segurança nas Estruturas
NBR 8953 Concreto para Fins Estruturais – Classificação por
Grupos de Resistência
NBR 9062 Projeto e Execução de Estruturas de Concreto Pré-
Moldado
NBR 11173 Projeto e Execução de Argamassas Armadas

alfamacursos.com.br 9
Estrutura em Concreto Armado

NBR 12317 Controle Tecnológico de Materiais Componentes do


Concreto
NBR 12654 Controle tecnológico dos Materiais Componentes do
Concreto
NBR 12655 Concreto – Preparo, Controle e Recebimento do
Concreto

* NBR 02:107.01-001 – Lajes Pré-Fabricadas


* NBR 02:107.01-004 – Treliças de Aço Eletrossoldadas para Armaduras de Concreto
* Normas ainda não homologadas pela ABNT.

NORMAS TÉCNICAS

No Brasil, o órgão responsável pelas atividades normativas é a ABNT (Associação Brasileira


de Normas Técnicas).

Há diversos tipos de normas técnicas:

• Procedimento (NB) - Especificação (EB) - Método de Ensaio (MB).


• Padronização (PB) - Terminologia (TB) - Simbologia (SB) - Classificação (CB).

Quando uma norma qualquer dos tipos acima é registrada no INMETRO (Instituto Nacional
de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial) - recebe um número colocado após a
sigla NBR, que significa norma brasileira registrada.

As principais normas relacionadas com estruturas de concreto armado, além de diversas


outras, são:

• Diversas outras normas poderiam ser listadas (ver relação em folhetos da ABNT).

Algumas entidades com trabalhos na área de concreto:

• ABCP - Associação Brasileira de Cimento Portland.


• IBRACON – Instituto Brasileiro do Concreto.
• IBTS – Instituto Brasileiro de Telas Soldadas.
• Normas estrangeiras: ACI - American Concrete Institute.
• CEB - Comité Européen du Beton.

alfamacursos.com.br 10
Estrutura em Concreto Armado

Índice

Capítulo 1 - Tipos de Concretos e seus Componentes .............................................. 12


1.1 - Concreto Simples .................................................................................... 12
1.2 - Composição do Concreto Simples .............................................................. 12
1.2.1 - Cimento .......................................................................................... 12
1.2.2 - Agregados ....................................................................................... 13
1.2.3 - Água ............................................................................................... 15
1.3 - Concreto Armado .................................................................................... 16
1.4 - Concreto Protendido ................................................................................ 17
1.5 - Exercício Proposto ................................................................................... 21
Capítulo 2 - A Viabilidade do Concreto Armado ....................................................... 22
2.1 - Vantagens do Concreto Armado ................................................................ 22
2.2 - Desvantagens do Concreto Armado ........................................................... 22
2.3 - Exercício Proposto ................................................................................... 24
Capítulo 3 - Elementos Estruturais em Concreto Armado .......................................... 25
3.1 - Classificação Geométrica .......................................................................... 25
3.2 - Principais Elementos Estruturais ............................................................... 25
3.3 - Exercício Proposto .................................................................................. 37
Capítulo 4 - Ações no Concreto ............................................................................. 38
4.1 - Classificação das Ações ............................................................................ 38
4.2 - Exercício Proposto ................................................................................... 41
Capítulo 5 - Resistências do Concreto Armado ........................................................ 42
5.1 - Principais Características dos Concretos ...................................................... 42
5.2 - Exercício Proposto ................................................................................... 44
Capítulo 6 - Deformações do Concreto Armado ....................................................... 45
6.1 - Deformação por Variação de Temperatura .................................................. 45
6.2 - Deformação por Retração ......................................................................... 45
6.3 - Deformação Lenta (Fluência) .................................................................... 46
6.4 - Exercício Proposto ................................................................................... 48
Capítulo 7 - Aços para Armadura de Concreto Armado ............................................. 49
7.1 - Vergalhões ............................................................................................. 49
7.2 - Tipos de Superfície .................................................................................. 49
7.2.1 - Características Geométricas ............................................................... 50
7.3 - Exercício Proposto ................................................................................... 53
Capítulo 8 - Estádios de Cálculo ............................................................................ 54
8.1 - Exercício Proposto ................................................................................... 55
Capítulo 9 - Estados Limites de Serviço .................................................................. 56
9.1 - Estado Limite Último ................................................................................ 56
9.2 - Estados Limites de Utilização .................................................................... 56
9.3 - Critérios de Aceitação (ELU) ...................................................................... 57
9.4 - Exercício Proposto ................................................................................... 58
Capítulo 10 - A Teoria das Grelhas para Lajes sobre Apoios Rígidos ........................... 59
10.1 - Exercício Proposto ................................................................................. 61
Capítulo 11 - Produção de Concretos ..................................................................... 62
11.1 - Mistura ................................................................................................ 62
11.2 – Transporte ........................................................................................... 63
11.3 - Lançamento .......................................................................................... 63
11.4 - Adensamento (Vibração) ........................................................................ 64
11.5 - Cura .................................................................................................... 65
11.6 - Retirada das Formas e do Escoramento .................................................... 65
11.7 - Precauções ........................................................................................... 65
11.8 - Exercício Proposto ................................................................................. 66
Capítulo 12 - Alvenaria Estrutural ......................................................................... 67
12.1 - Exercício Proposto ................................................................................. 69
Respostas dos Exercícios Propostos ....................................................................... 70
Referências ....................................................................................................... 71

alfamacursos.com.br 11
Estrutura em Concreto Armado

Capítulo 1 - Tipos de Concretos e seus Componentes

1 - TIPOS DE CONCRETOS E SEUS COMPONENTES

1.1 - CONCRETO SIMPLES

Concreto é um material de construção resultante da mistura de um aglomerante (cimento),


com agregado miúdo (areia), agregado graúdo (brita) e água, em proporções exatas e
bem definidas.

A NBR 6118/03 (item 3.1.2) define elementos de concreto simples estrutural


como: “elementos estruturais elaborados com concreto que não possui qualquer
tipo de armadura ou que a possui em quantidade inferior ao mínimo exigido para
o concreto armado.”

Obs.: Elemento estrutural é um pilar, uma viga, um bloco de fundação, um tubulão, um


consolo e etc.

Atualmente, é comum a utilização de um novo componente - os “aditivos”, destinados a


melhorar ou conferir propriedades especiais ao concreto. A pasta formada pelo cimento
e água atua envolvendo os grãos dos agregados, enchendo os vazios entre eles e unindo
esses grãos, formando uma massa compacta e trabalhável.

A função dos agregados é dar ao conjunto condições de resistência aos esforços e ao


desgaste, além de redução no custo e redução na contração. Após a mistura, obtém-se
o concreto fresco, material de consistência mais ou menos plástica que permite a sua
moldagem em fôrmas.

Ao longo do tempo, o concreto endurece em virtude de reações químicas entre o cimento


e a água (hidratação do cimento). A resistência do concreto aumenta com o tempo,
propriedade esta que o distingue dos demais materiais de construção.

A propriedade marcante do concreto é sua elevada resistência aos esforços de compressão


aliada a uma baixa resistência à tração. A resistência à tração é da ordem de 1/10 da
resistência à compressão.

1.2 - COMPOSIÇÃO DO CONCRETO SIMPLES

1.2.1 - CIMENTO

O cimento Portland, tal como hoje mundialmente conhecido, foi descoberto na Inglaterra
no ano de 1824, sendo sua produção industrial iniciada após 1850. Ele é um pó fino com
propriedades aglomerantes, aglutinantes ou ligantes, que endurece sob ação da água.
Depois de endurecido, mesmo que seja novamente submetido à ação da água, o cimento
Portland não se decompõe mais (ABCP, 2002).

O cimento é o principal material componente do concreto, é composto de clínquer e de


adições, sendo o clínquer seu principal componente, presente em todos os tipos de cimento.
O clínquer tem como matérias-primas básicas o calcário e a argila. Para a fabricação, a
rocha calcária inicialmente britada e moída é misturada com argila moída. A mistura é
submetida a um calor intenso de até 1.450°C e então bruscamente resfriada, formando
pelotas - o clínquer. Após a moagem o clínquer se transforma em pó. A propriedade básica
do clínquer é ser um ligante hidráulico, que endurece em contato com a água.

Figura 2 - Clínquer para fabricação de cimento.

alfamacursos.com.br 12
Estrutura em Concreto Armado

Fonte: Google imagens.

Para formar o cimento, o clínquer recebe adições, que são matérias-primas misturadas
ao clínquer no processo de moagem, e são as adições que definem as propriedades dos
diferentes tipos de cimento. As principais adições são o gesso, as escórias de alto-forno, e
os materiais pozzolânicos e carbonáticos.

Os tipos de cimento que existem no Brasil diferem em função da sua composição, como o
cimento Portland comum, o composto, o de alto-forno, o pozzolânico, o de alta resistência
inicial, o resistente a sulfatos, o branco e o de baixo calor de hidratação. Os diferentes tipos
de cimento tem uma nomenclatura própria, conforme indicados na tabela abaixo. Os de
uso mais comum nas construções são o CP II-E-32, o CP II-F-32 e o CP III-40. O cimento
CPV-ARI é também muito utilizado em fábricas de peças pré-moldadas.

T
Os cimentos são fabricados com resistências à compressão de 25, 32 ou 40 MPa. No
comércio o cimento é fornecido em sacos de 25 kg e/ou 50 kg, com exceção do cimento
ARI que pode ser encontrado também em sacos de 40 kg. Centrais dosadoras de concreto
adquirem o cimento a granel, em grandes quantidades.

1.2.2 - AGREGADOS

Os agregados podem ser definidos como os “materiais granulosos e inertes que entram
na composição das argamassas e concretos” (BAUER, 1979). São muito importantes no
concreto porque cerca de 70 % da sua composição é constituída pelos agregados, além de
ser o material de menor custo do concreto.

Os agregados são classificados quanto à origem em naturais e artificiais. Os agregados


naturais são aqueles encontrados na natureza, como areias de rios e pedregulhos - também
chamados cascalho ou seixo rolado. Os agregados artificiais são aqueles que passaram por
algum processo para obter as características finais, como as britas originárias da trituração
de rochas, como basalto, gnaisse e granito.

alfamacursos.com.br 13
Estrutura em Concreto Armado

Figura 3 - Agregados naturais: miúdo (areia) e figura 4 - Agregados naturais: graúdo


(seixo rolado).

Fonte: Google imagens.

Na classificação quanto às dimensões os agregados são chamados de miúdo, como as


areias, e graúdo, como as pedras ou britas. O agregado miúdo tem diâmetro máximo igual
ou inferior a 4,8 mm, e o agregado graúdo tem diâmetro máximo superior a 4,8 mm. Os
agregados graúdos têm a seguinte numeração e dimensões máximas:

• brita 0 – 4,8 a 9,5 mm;


• brita 1 – 9,5 a 19 mm;

alfamacursos.com.br 14
Estrutura em Concreto Armado

• brita 2 – 19 a 38 mm;
• brita 3 – 38 a 76 mm;
• pedra de mão - > 76 mm.

Agregados graúdos artificiais

Fonte: www.mbv-mineracao.com.br/ Brita%203.htm.

As britas são os agregados graúdos mais usados no Brasil, com uso superior a 50 % do
consumo total de agregado graúdo nos concretos (MEHTA e MONTEIRO, 1994). No passado
era comum a mistura de britas 1 e 2 para a confecção de concretos, porém, hoje no Brasil,
a grande maioria dos concretos feitos para as obras correntes utiliza apenas a brita 1 na sua
confecção. Os agregados podem também ser classificados em leves, normais e pesados.

1.2.3 - ÁGUA

A água é necessária no concreto para possibilitar as reações químicas de hidratação do


cimento, que garantem as propriedades de resistência e durabilidade do concreto. Tem
também a função de lubrificar as partículas para proporcionar o manuseio do concreto.
Normalmente a água potável é a indicada para a confecção dos concretos.

As figuras, a seguir mostram fotografias de cimento, agregados miúdo e graúdo, pasta de


cimento, argamassa e concreto.

alfamacursos.com.br 15
Estrutura em Concreto Armado

Figura 10 - Cimento e figura 11 - Agregado miúdo (areia)

Fonte: www.mbv-mineracao.com.br/ Brita%203.htm.

1.3 - CONCRETO ARMADO

Concreto armado é um material de construção resultante da união do concreto simples e


de barras de aço, envolvidas pelo concreto, com perfeita aderência entre os dois materiais,
de tal maneira que resistam ambos solidariamente aos esforços a que forem submetidos.

Para a composição do concreto armado, pode-se indicar esquematicamente:

1) cimento + água = pasta


2) pasta + agregado miúdo = argamassa
3) argamassa + agregado graúdo = concreto
4) concreto + armadura de aço = concreto armado. Nesse item pode-se fazer uma
nova subdivisão em função da forma de trabalho da armadura:

• concreto + armadura passiva = concreto armado


• concreto + armadura ativa = concreto protendido; neste caso a armadura (ou a
cordoalha) é preliminarmente submetida a esforços de tração visando melhorar o

alfamacursos.com.br 16
Estrutura em Concreto Armado

desempenho estrutural da peça a ser concretada.

Figura 16 -

Fonte: www.mbv-mineracao.com.br/ Brita%203.htm.

Preenchimento de uma fôrma metálica com concreto aderente à armadura.

A NBR 6118/03 (item 3.1.3.) define:

- Elementos de concreto armado “aqueles cujo comportamento estrutural depende


da aderência entre concreto e armadura e nos quais não se aplicam alongamentos
iniciais das armaduras antes da materialização dessa aderência”.
- Armadura Passiva é “qualquer armadura que não seja usada para produzir
forças de protensão, isto é, que não seja previamente alongada”.

Deve-se destacar a possibilidade de utilização da “argamassa armada” (algumas vezes


também chamada de “microconcreto”) que tem a mesma origem do concreto armado
só com a ausência do agregado graúdo. Normalmente, como armação são utilizadas as
tradicionais telas soldadas. Os elementos de argamassa armada são caracterizados pela
pequena espessura da ordem de 20 mm em média.

Atualmente, está sendo cada vez mais empregado nas estruturas o “Concreto de Alto
Desempenho” (CAD). É um concreto obtido com um aditivo superfluidificante e com a
adição de sílica ativa. O CAD é um concreto com propriedades superiores às do concreto
tradicional, sobretudo quanto à durabilidade e à resistência. Ele é mais resistente, menos
poroso, mais impermeável, mais resistente a ambientes agressivos, apresentando maior
proteção para as armaduras e possui maior durabilidade. Enquanto as resistências
características (fck) dos concretos tradicionais normalmente não ultrapassam 21 MPa, com
o CAD é possível se atingir resistências superiores a 100 MPa.

Outra alternativa existente é a possibilidade de se adicionar às misturas de argamassas


e de concretos determinadas fibras sintéticas, de materiais poliméricos (propileno), vidro
(com restrições), poliéster ou náilon, fibras de aço e carbono. Estas fibras melhoram o
comportamento dos elementos com elas fabricados, trazendo vários benefícios técnicos
como: redução da retração plástica, aumento das resistências ao impacto, à abrasão, ao
fogo e à penetração de substâncias químicas e da água. Entretanto, não possuem função
estrutural e não devem substituir as armaduras convencionais.

1.4 - CONCRETO PROTENDIDO

O concreto protendido é um refinamento do concreto armado, onde a ideia básica é aplicar


tensões prévias de compressão nas regiões da peça que serão tracionadas pela ação do
carregamento externo aplicado. Desse modo, as tensões de tração são diminuídas ou até
mesmo anuladas pelas tensões de compressão pré-existentes ou pré-aplicadas na peça.
Com a protensão procura-se eliminar a característica negativa da baixa resistência do

alfamacursos.com.br 17
Estrutura em Concreto Armado

concreto à tração.

A figura abaixo ilustra os diagramas de tensão normal num caso simples de aplicação de
tensões prévias de compressão numa viga.

Figura 17

Figura 18 - Aplicação de protensão completa (σb = 0) numa viga bi-apoiada.

Fonte: LEONHARDT e MÖNNIG, 1982.

A NBR 6118/03 (item 3.1.4.) define:

Elementos de concreto protendido: “aqueles nos quais parte das armaduras é


previamente alongada por equipamentos especiais de protensão com a finalidade
de, em condições de serviço, impedir ou limitar a fissuração e os deslocamentos
da estrutura e propiciar o melhor aproveitamento de aços de alta resistência no
estado limite último (ELU)”.

Armadura ativa (de protensão): “constituída por barra, fios isolados ou cordoalhas,
destinada à produção de forças de protensão, isto é, na qual se aplica um pré-
alongamento inicial”.

São dois os sistemas principais de protensão aplicados na fabricação das peças de concreto
protendido. No sistema de pré-tensão mais comum, a armadura de protensão é ancorada
(fixada) numa extremidade da pista de protensão, e na outra extremidade um cilindro
hidráulico estira (traciona) essa armadura, nela aplicando uma tensão de tração dentro
do limite elástico do aço. Em seguida, o concreto é lançado na fôrma, envolve e adere
a armadura de protensão. Após decorrido o tempo necessário para o concreto adquirir
resistência, a armadura de protensão é solta das ancoragens e, como a armadura tende a
voltar à deformação inicial nula, aplica uma força de protensão na peça, dando origem a
tensões de compressão no concreto.

Esse sistema de protensão é geralmente utilizado na produção intensiva de grandes


quantidades de peças, geralmente em pistas de protensão.

a) Molde metálico com armadura de protensão.

b) Estrutura formada por perfis metálicos para estiramento da armadura de protensão e


formada por fios entalhados; duas peças em linha já concretadas.

alfamacursos.com.br 18
Estrutura em Concreto Armado

c) Lançamento e adensamento do concreto. d) Adensamento com vibrador de agulha com


vibrador de agulha.

• Sistema de protensão com pré-tensão.

Um outro sistema de protensão muito importante é o de pós-tensão, onde primeiro é


fabricada a peça de concreto, contendo dutos (bainhas) ao longo do comprimento da peça,
onde posteriormente é colocada a armadura de protensão. Quando o concreto apresenta a
resistência necessária, a armadura de protensão, ancorada (fixada) numa das extremidades
da peça, é estirada (tracionada) pelo cilindro hidráulico na outra extremidade, com o
cilindro apoiando-se na própria peça. Nesta operação uma força de compressão é aplicada
na peça, dando origem a tensões de compressão no concreto. Terminada a operação de
estiramento, o próprio cilindro fixa a armadura de protensão na peça.

O sistema de pós-tensão tem produção limitada de peças nas fábricas, sendo muito
aplicadas em estruturas de pontes, em lajes de pavimento com cordoalha engraxada e
diversas outras estruturas protendidas. As figuras abaixo ilustram a fabricação de duas
peças (dormente ferroviário) neste sistema.

alfamacursos.com.br 19
Estrutura em Concreto Armado

a) Fabricação - moldagem - dos dormentes.b) Retirada dos tubos plásticos para dar
origem aos dutos internos à peça.

alfamacursos.com.br 20
Estrutura em Concreto Armado

1.5 - EXERCÍCIO PROPOSTO

1 - Qual a diferença entre pasta, argamassa, concreto armado e concreto simples?


_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________

alfamacursos.com.br 21
Estrutura em Concreto Armado

Capítulo 2 - A Viabilidade do Concreto Armado

2 - A VIABILIDADE DO CONCRETO ARMADO

Devido à baixa resistência à tração, procurou-se adicionar ao concreto outros materiais


mais resistentes à tração, melhorando suas qualidades de resistência. A utilização de
barras de aço juntamente com o concreto, só é possível devido às seguintes razões:

1. Trabalho conjunto do concreto e do aço, assegurado pela aderência entre os dois


materiais:

• Na região tracionada, onde o concreto possui resistência praticamente nula,


ele sofre fissuração, tendendo a se deformar, o que graças à aderência, arrasta
consigo as barras de aço forçando-as a trabalhar e consequentemente, a absorver
os esforços de tração.
• Nas regiões comprimidas, uma parcela de compressão poderá ser absorvida
pela armadura, no caso do concreto, isoladamente, não ser capaz de absorver a
totalidade dos esforços de compressão.

2. Os coeficientes de dilatação térmica do aço e do concreto são praticamente iguais: -


concreto: (0,9 a 1,4) x 10-5 / 0C (mais frequente 1,0 x 10-5 / 0C) - aço: 1,2 x 10-5 / 0C

• Esta diferença de valores é insignificante.


• Adota-se para o concreto armado = 1,0 x 10-5 / 0C

3. O concreto protege de oxidação o aço da armadura garantindo a durabilidade da


estrutura:

O concreto exerce dupla proteção ao aço:

• proteção física: através do cobrimento das barras protegendo-as do meio


exterior;
• proteção química: em ambiente alcalino que se forma durante a pega do
concreto, surge uma camada quimicamente inibidora em torno da armadura.

2.1 - VANTAGENS DO CONCRETO ARMADO

• Econômica: matéria-prima barata, principalmente a areia e a brita.


• Não exige mão de obra com qualificação.
• Equipamentos simples para preparo, transporte, adensamento e vibração.
• Moldagem fácil.
• Resistência:

- ao fogo;
- as influências atmosféricas;
- ao desgaste mecânico;
- ao choque e vibrações.

• Monolitismo da estrutura.
• Manutenção e conservação – durabilidade.
• Relativa rapidez de construção.
• Aumento de resistência à compressão com o tempo.

2.2 - DESVANTAGENS DO CONCRETO ARMADO

• Peso próprio elevado – (massa específica) γc = 25 kN/m³ ( 2500 kgf/m³).

alfamacursos.com.br 22
Estrutura em Concreto Armado

• Menor proteção térmica.


• Reformas e demolições - trabalhosas e caras.
• Exigência construtiva - precisão no posicionamento das armaduras.
• Fissuras inevitáveis na região tracionada.
• Construção definitiva.

alfamacursos.com.br 23
Estrutura em Concreto Armado

2.3 - EXERCÍCIO PROPOSTO

1 - Cite 03 vantagens e 03 desvantagens do concreto.


_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________

alfamacursos.com.br 24
Estrutura em Concreto Armado

Capítulo 3 - Elementos Estruturais em Concreto Armado

3 - ELEMENTOS ESTRUTURAIS EM CONCRETO ARMADO


Neste item apresenta-se uma classificação dos elementos estruturais com base na geometria
e nas dimensões, e também as principais características dos elementos estruturais mais
importantes e comuns nas construções em concreto armado.

3.1 - CLASSIFICAÇÃO GEOMÉTRICA

A classificação dos elementos estruturais segundo a sua geometria se faz comparando a


ordem de grandeza das três dimensões principais do elemento (comprimento, altura e
espessura), com a seguinte nomenclatura:

a) Elementos lineares - são aqueles que têm a espessura da mesma ordem de grandeza
da altura, mas ambas muito menores que o comprimento. São os elementos chamados
“barras”. Como exemplos mais comuns encontram-se as vigas e os pilares.

Como um caso particular existem também os elementos lineares de seção delgada, definidos
como aqueles cuja espessura é muito menor que a altura. No concreto armado inexistem
tais elementos. Por outro lado, podem ser confeccionados com a chamada “Argamassa
Armada”, onde os elementos devem ter espessuras menores que 40 mm, conforme a NBR
1259/89. Perfis de aço aplicados nas construções com estruturas metálicas são exemplos
típicos de elementos lineares de seção delgada.

b) Elementos bidimensionais - são aquelas onde duas dimensões, o comprimento e


a largura, são da mesma ordem de grandeza e muito maiores que a terceira dimensão
(espessura). São os chamados elementos de superfície. Como exemplos mais comuns
encontram-se as lajes, as paredes de reservatórios e etc.

As estruturas de superfície podem ser classificadas como cascas, quando a superfície é


curva , e placas ou chapas quando a superfície é plana. As placas são as superfícies que
recebem o carregamento perpendicular ao seu plano e as chapas têm o carregamento
contido neste plano. O exemplo mais comum de placa é a laje e de chapa é a viga-parede.

c) Elementos tridimensionais - são aqueles onde os três dimensões têm a mesma


ordem de grandeza. São os chamados elementos de volume. Como exemplos mais comuns
encontram-se os blocos e sapatas de fundação, consolos e etc.

Figura 19 - Classificação geométrica dos elementos estruturais.

Fonte: FUSCO, 1976.

3.2 - PRINCIPAIS ELEMENTOS ESTRUTURAIS

alfamacursos.com.br 25
Estrutura em Concreto Armado

Nas construções de concreto armado, sejam elas de pequeno ou de grande porte, três
elementos estruturais são os mais comuns: as lajes, as vigas e os pilares. Há diversos
outros elementos, que podem não ocorrer em todas as construções, são: blocos e sapatas
de fundação, estacas, tubulões, consolos, vigas-parede, tirantes, etc. Uma breve noção
das características de alguns dos elementos de Concreto Armado é apresentada a seguir.

a) Laje - é um elemento plano, bidimensional, cuja função principal é servir de piso ou


cobertura nas construções, e que se destina a receber as ações verticais aplicadas, como
de pessoas, móveis, pisos, paredes, e os mais variados tipos de carga que podem existir
em função da finalidade arquitetônica do espaço físico que a laje faz parte.

As ações são comumente perpendiculares ao plano da laje, podendo ser divididas em:

• distribuída na área: peso próprio, contrapiso, revestimento na borda inferior,


etc.;
• distribuída linearmente: carga de parede apoiada na laje;
• concentrada: pilar apoiado na laje.

As ações são geralmente transmitidas para as vigas de apoio nas bordas da laje, como
mostrado na, mas eventualmente também podem ser transmitidas diretamente aos pilares.
As lajes existem em variados tipos, como maciças, nervuradas, lisas, etc., como descritas
a seguir.

Figura 20 - Lajes maciças de concreto armado.

Figura 21

Fonte: FUSCO, 1976.

b) Laje maciça - lajes maciças são aquelas com a espessura totalmente preenchida com
concreto – sem vazios, contendo armaduras embutidas no concreto, e apoiadas ao longo
do comprimento de toda ou parte das bordas.

As lajes 1 e 2 indicadas na são exemplos de lajes maciças. Se a viga V104 for retirada, a
laje 2 ainda será laje maciça, chamada laje com uma borda livre.

alfamacursos.com.br 26
Estrutura em Concreto Armado

Uma laje em balanço, comum em varandas de edifícios de apartamentos, também será


chamada maciça, embora engastada em apenas uma borda, como mostrado na figura
abaixo.

Figura 22 - Laje maciça em balanço (L2).

Fonte: FUSCO, 1976.

As lajes maciças de concreto são comuns em edifícios de pavimentos e em construções de


grande porte, como escolas, indústrias, hospitais, pontes e etc. De modo geral, não são
aplicadas em construções residenciais e outras de pequeno porte, pois nesses tipos de
construção as lajes nervuradas pré-fabricadas apresentam vantagens nos aspectos custo
e facilidade de construção. A NBR 6118 especifica a espessura mínima de 7 cm para as
lajes maciças de piso.

Figura 23 - Lajes maciças sendo concretadas e em construção.

Fonte: Google imagens.

alfamacursos.com.br 27
Estrutura em Concreto Armado

b) Laje lisa e cogumelo - Laje lisa é uma laje também maciça, mas que se apoia
diretamente nos pilares.

Segundo a definição da NBR 6118/03 (14.7.8): “Lajes cogumelo são lajes apoiadas
diretamente em pilares com capitéis, enquanto lajes lisas são as apoiadas nos pilares
sem capitéis.” Capitel é a região nas adjacências dos pilares onde a espessura da laje é
aumentada com o objetivo de aumentar a sua capacidade resistente nessa região de alta
concentração de esforços cortantes e de flexão.

As lajes lisas e cogumelo são também chamadas pela norma como lajes sem vigas.
Apresentam a eliminação de grande parte das vigas como a principal vantagem em relação
às lajes maciças, embora por outro lado tenham maior espessura. São usuais em todo tipo
de construção de médio e grande porte, inclusive edifícios relativamente altos. Apresentam
como vantagens custos menores e maior rapidez de construção. No entanto, são suscetíveis
a maiores deformações verticais – flechas.

Figura 24 - Exemplo de lajes lisa e cogumelo.

Figura 25 - Capitel de laje cogumelo.

Fonte: Google imagens.

c) Laje nervurada - “lajes nervuradas são as lajes moldadas no local ou com nervuras
pré-moldadas, cuja zona de tração para momentos positivos está localizada nas nervuras
entre as quais pode ser colocado material inerte” (NBR 6118/03, item 14.7.7). As lajes

alfamacursos.com.br 28
Estrutura em Concreto Armado

com nervuras pré-moldadas são comumente chamadas pré-fabricadas.

A figura mostra uma laje nervurada moldada no local (moldada in loco).

Figura 26 - Laje nervurada moldada no local com bloco de concreto celular autoclavado.

Fonte: SICA, s/d.

Existem também lajes nervuradas moldadas no local sem material de enchimento, feitas
com moldes plásticos removíveis.

Figura 27

Fonte: FUSCO, 1976.

As lajes pré-fabricadas do tipo treliçada, onde a armadura tem o desenho de uma treliça
espacial, vêm ganhando maior espaço na aplicação em construções residenciais de
pequeno porte e até mesmo em edifícios de baixa altura, principalmente devido ao bom
comportamento estrutural e facilidade de execução.

Em algumas cidades do Estado de São Paulo começam a surgir também lajes com nervuras
pré-fabricadas protendidas, com preenchimento de blocos cerâmicos entre as nervuras. Há
longos anos existem também as lajes alveolares protendidas, largamente utilizadas nas
construções de concreto pré-moldado.

Figura 28 - Exemplo de laje nervurada pré-fabricada do tipo treliçada.

alfamacursos.com.br 29
Estrutura em Concreto Armado

Fonte: FAULIM, 2004.

Figura 29 - Laje pré-fabricada do tipo treliçada com enchimento em blocos cerâmicos e


de isopor.

Fonte: Google imagens.

Fonte: Tatu pré-moldados, 2004.

d) Viga - pela definição da NBR 6118/03 (item 14.4.1.1), vigas “são elementos lineares em
que a flexão é preponderante”. As vigas são classificadas como barras e são normalmente
retas e horizontais, destinadas a receber ações das lajes, de outras vigas, de paredes de
alvenaria, e eventualmente de pilares, etc. A função das vigas é basicamente vencer vãos
e transmitir as ações nelas atuantes para os apoios, geralmente os pilares.

As ações são geralmente perpendicularmente ao seu eixo longitudinal, podendo ser


concentradas ou distribuídas. Podem ainda receber forças normais de compressão ou de
tração, na direção do eixo longitudinal. As vigas, assim como as lajes e os pilares, também
fazem parte da estrutura de contraventamento responsável por proporcionar a estabilidade
global dos edifícios às ações verticais e horizontais.

alfamacursos.com.br 30
Estrutura em Concreto Armado

As armaduras das vigas são geralmente compostas por estribos, chamados “armadura
transversal”, e por barras longitudinais, chamadas “armadura longitudinal”, como indicadas
nas figuras abaixo.

Figura 32 - Viga reta de concreto e figura 33

Fonte: FUSCO, 1976.

VS1 = VS3 (19 x 60)


2 N7
2 N8

Figura 34 - Exemplo de armação de uma viga contínua. Vigas baldrames para servirem
de apoio das paredes de uma residência.

Fonte: Google Imagens.



e) Pilar - pilares são “elementos lineares de eixo reto, usualmente dispostos na vertical,
em que as forças normais de compressão são preponderantes” (NBR 6118/2003, item

alfamacursos.com.br 31
Estrutura em Concreto Armado

14.4.1.2). São destinados a transmitir as ações às fundações, embora possam também


transmitir para outros elementos de apoio. As ações são provenientes geralmente das
vigas, bem como de lajes também.

Figura 35 - Pilar

Fonte: Google imagens.

Os pilares são os elementos estruturais de maior importância nas estruturas, tanto do


ponto de vista da capacidade resistente dos edifícios quanto no aspecto de segurança.
Além da transmissão das cargas verticais para os elementos de fundação, os pilares podem
fazer parte do sistema de contraventamento responsável por garantir a estabilidade global
dos edifícios às ações verticais e horizontais.

As figuras abaixo mostram pilares em construções.

Figura 36 - Pilar sendo concretado e detalhe da forma.

Fonte: Google imagens.

Figura 37 - Pilares num edifício de múltiplos pavimentos.

Fonte: Google imagens.

alfamacursos.com.br 32
Estrutura em Concreto Armado

f) Tubulão e bloco de fundação - os blocos de fundação são utilizados para receber as


ações dos pilares e transmiti-las ao solo, diretamente ou através de estacas ou tubulões.

Estacas são elementos destinados a transmitir as ações ao solo, por meio do atrito ao longo
da superfície de contato e pelo apoio da ponta inferior no solo.

Os blocos sobre estacas podem ser para 1, 2,3, e teoricamente para n estacas. Há uma
infinidade de tipos diferentes de estacas, cada qual com finalidades específicas.

Tubulões são também elementos destinados a transmitir as ações diretamente ao solo,


por meio do atrito do fuste com o solo e da superfície da base. O projeto dos tubulões é
estudado nas disciplinas 1313 - Fundações e 1333 - Estruturas de Concreto III.

Os blocos sobre tubulões podem ser suprimidos, mas neste caso faz-se um reforço
com armadura na parte superior do fuste (cabeça do tubulão), que passa a receber o
carregamento diretamente do pilar.

Figura 38 - a) estacas e b) tubulão.

Fonte: Google imagens.

Figura 42 - Lançamento do concreto no tubulão e adensamento do concreto do topo do


fuste.

alfamacursos.com.br 33
Estrutura em Concreto Armado

Fonte: Google imagens.

Figura 43- Pilar sobre bloco de fundação e estacas pré-moldadas de concreto para apoio
de bloco.

Fonte: Google imagens.

Figura 44 - Desenho esquemático de bloco sobre três estacas e bloco concretado.

Fonte: Google imagens.

Figura 45 - Bloco sobre uma estaca em construção.

Fonte: Google imagens.

g) Sapatas - as sapatas recebem as ações dos pilares e as transmitem diretamente ao


solo. Podem ser localizadas ou isoladas, conjuntas ou corridas.

As sapatas isoladas servem de apoio para apenas um pilar. As sapatas conjuntas servem
para a transmissão simultânea do carregamento de dois ou mais pilares e as sapatas
corridas têm este nome porque são dispostas ao longo de todo o comprimento do elemento
que lhe aplica o carregamento, geralmente paredes de alvenaria ou de concreto. São
comuns em construções de pequeno porte onde o solo tem boa capacidade de suporte de
carga a baixas profundidades.

alfamacursos.com.br 34
Estrutura em Concreto Armado

As figuras abaixo ilustram sapatas de concreto.

Figura 46

Sapata isolada. Sapata corrida.

Figura 47

Detalhe da armação de uma sapata isolada.

Figura 48 - Sapata isolada numa construção de pequeno porte.

Fonte: Google imagens.

Figura 49

alfamacursos.com.br 35
Estrutura em Concreto Armado

Fonte: Google imagens.

alfamacursos.com.br 36
Estrutura em Concreto Armado

3.3 - EXERCÍCIO PROPOSTO

1 - Defina uma laje.


_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________

alfamacursos.com.br 37
Estrutura em Concreto Armado

Capítulo 4 - Ações no Concreto

4 - AÇÕES NO CONCRETO

Denomina-se ação a todo agente capaz de produzir estados de tensão ou deformação


em uma estrutura qualquer. De um modo geral, as ações que devem ser consideradas no
dimensionamento das estruturas de concreto armado são:

Carga permanente. Deformação lenta.


Carga acidental. Choques.
Ação de vento. Vibrações e esforços repetidos.
Variação de temperatura. Influência do processo de construção.
Retração. Recalques de apoios.

O projeto de norma NB1 99 destaca que:

Na análise estrutural deve ser considerada a influência de todas as


ações que possam produzir efeitos significativos para a segurança
da estrutura em exame, levando-se em conta os possíveis estados
limites últimos e os de serviço.

4.1 - CLASSIFICAÇÃO DAS AÇÕES

De acordo com a NBR 8681 as forças são designadas por ações diretas e as deformações
impostas por ações indiretas. Em função de sua variabilidade no tempo, as ações podem
ser classificadas como:

• Ações permanentes

São aquelas que ocorrem com valores praticamente constantes, ou com pequena
variabilidade em torno de sua média, ao longo de toda a vida útil da construção. As ações
permanentes são divididas em:

a) Ações permanentes diretas: são constituídas pelo peso próprio da estrutura, dos
elementos construtivos fixos, das instalações e outras como equipamentos e empuxos.

b) Ações permanentes indiretas: são constituídas por deformações impostas por


retração do concreto, fluência, recalques de apoios, imperfeições geométricas e protensão.

• Ações variáveis

São aquelas que variam de intensidade de forma significativa em torno de sua média, ao
longo da vida útil da construção. São classificadas em diretas, indiretas e dinâmicas.

a) Ações variáveis diretas: são constituídas pelas cargas acidentais previstas para o
uso da construção, pela ação do vento e da chuva, devendo respeitar as prescrições feitas
por normas específicas. Como cargas verticais previstas para o uso da construção tem-se:
cargas verticais de uso da construção, cargas móveis (considerando o impacto vertical),
impacto lateral, força longitudinal de frenação ou aceleração, força centrífuga.

b) Ações variáveis indiretas: são causadas pelas variações da temperatura, podendo


ser com variação uniforme e não uniforme de temperatura.

c) Ações dinâmicas: quando a estrutura estiver sujeita a choques ou vibrações, os


respectivos efeitos devem ser considerados na determinação das solicitações. No caso de

alfamacursos.com.br 38
Estrutura em Concreto Armado

vibrações, deve ser verificada a possibilidade de ressonância em relação à estrutura ou parte


dela. Se houver a possibilidade de fadiga, esta deve ser considerada no dimensionamento
das peças.

• Ações excepcionais

São ações de duração extremamente curta e com muito baixa probabilidade de ocorrência
durante a vida útil da construção. Devem ser consideradas no projeto se seus efeitos não
puderem ser controlados por outros meios. São exemplos os abalos sísmicos, as explosões,
os incêndios, choques de veículos, enchentes e etc.

• Cargas acidentais

Para a NBR 8681, item 3.8, as cargas acidentais são as ações variáveis que atuam nas
construções em função de seu uso (pessoas, mobiliário, veículos, materiais diversos e
etc.).

• Valores representativos das ações

Para a NBR 8681 (item 4.2.2), as ações são quantificadas por seus valores representativos,
que podem ser valores característicos, valores característicos nominais, valores reduzidos
de combinação, valores convencionais excepcionais, valores reduzidos de utilização e
valores raros de utilização.

• Valores representativos para estados limites últimos

a) Valores característicos - as ações são quantificadas por seus valores característicos (Fk),
que são definidos em função de suas variabilidades. Esses valores estão definidos na NBR
6118/2003 ou em normas específicas, tais como:

¾ NBR 6120: ações em edificações;


¾ NBR 7188: ações em pontes;
¾ NBR 6123: ação de vento;
¾ NBR 8681: a e segurança nas estruturas.

- Para as ações variáveis, os valores característicos são indicados em normas


específicas e correspondem a valores que têm de 25% a 35% de probabilidade
de serem ultrapassados no sentido desfavorável, durante um período de 50 anos.
- Para as ações permanentes, o valor característico corresponde ao quantil de
95% da respectiva distribuição de probabilidade (valor característico superior, Fgk,
sup), quando essas ações produzirem efeitos desfavoráveis na estrutura (caso dos
edifícios).
- Quando a ação permanente for favorável, o valor característico corresponde ao
quantil de 5% de sua distribuição de probabilidade (valor característico inferior,
Fgk, inf). Essa situação ocorre, por exemplo, em relação ao peso próprio de uma
barragem de gravidade, onde o peso menor é desfavorável para o equilíbrio.
- No caso de edifícios, as ações permanentes características podem ser obtidas a
partir dos pesos específicos dos materiais de construção fornecidos na NBR 6120.

b) Valores característicos nominais - para as ações que não tenham sua variabilidade
adequadamente expressa por distribuições de probabilidade, os valores característicos Fk
são substituídos por valores nominais convenientemente escolhidos.

c) Valores reduzidos de combinação - os valores reduzidos de combinação são usados


nas verificações relativas a estados limites últimos, quando a ação considerada se combina
com outra ação considerada principal e são determinados a partir dos valores característicos
pela expressão ψ0.Fk. Leva-se em conta a baixa probabilidade de ocorrência simultânea
dos valores característicos de duas ou mais ações variáveis de naturezas diferentes.

alfamacursos.com.br 39
Estrutura em Concreto Armado

• Valores representativos para os estados limites de utilização

a) Valores reduzidos de utilização - os valores reduzidos de utilização são determinados


a partir dos valores característicos pelas expressões ψ1.Fk e ψ2.Fk, e são empregados na
verificação da segurança em relação a estados limites de utilização, decorrentes de ações
que se repetem muitas vezes e ações de longa duração, respectivamente.

Os valores reduzidos ψ1.Fk são designados por valores frequentes e os valores reduzidos
ψ2.Fk por valores quase permanentes das ações variáveis.

b) Valores raros de utilização - os valores raros de utilização quantificam as ações que


podem acarretar estados limites de utilização, mesmo que atuem com duração muito curta
sobre a estrutura.

alfamacursos.com.br 40
Estrutura em Concreto Armado

4.2 - EXERCÍCIO PROPOSTO

1 - O que é uma ação variável?


_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________

alfamacursos.com.br 41
Estrutura em Concreto Armado

Capítulo 5 - Resistências do Concreto Armado

5 - RESISTÊNCIAS DO CONCRETO ARMADO

5.1 - PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DOS CONCRETOS

Para a compreensão do comportamento das estruturas de concreto armado é necessário


conhecer algumas características e propriedades dos materiais que o compõe: o concreto
e o aço.

a) Massa específica

A massa específica dos concretos simples gira em torno de 2.400 kg/m³. Considerando
para as estruturas comuns uma taxa média de armadura de 100 kg de aço para cada metro
cúbico de concreto, a massa específica do concreto armado resulta 2.500 kg/m³.

b) Resistência à compressão

No Brasil, a resistência à compressão dos concretos é avaliada por meio de corpos de prova
cilíndricos com dimensões de 15 cm de diâmetro por 30 cm de altura moldados conforme
a NBR 5738/03. Para concretos de resistências à compressão elevadas (> 50 MPa) podem
ser moldados corpos de prova menores, com dimensões 10 cm por 20 cm.

O ensaio para determinar a resistência é feito numa prensa na idade de 28 dias a partir da
moldagem, conforme a NBR 5739/94.

Em função da resistência característica do concreto à compressão (fck), a NBR 8953/92


divide os concretos nas classes I e II. Os concretos são designados pela letra C seguida do
valor da resistência característica, expressa em MPa, como:

▪ Classe I: C10, C15, C20, C25, C30, C35, C40, C45, C50;
▪ Classe II: C55, C60, C70, C80.

Durante as últimas décadas foi muito comum a aplicação de concretos com resistências
à compressão (fck) de 13,5 MPa, 15 MPa e 18 MPa. No entanto, a NBR 6118/03 (item
8.2.1) introduziu uma mudança muito importante nesta questão, que é a das estruturas
de concreto armado terem que ser projetadas e construídas com concreto C20 (fck = 20
MPa) ou superior, ficando o concreto C15 só para as estruturas de fundações e de obras
provisórias.

A elevação da resistência para o valor mínimo de 20 MPa objetiva aumentar a durabilidade


das estruturas. Conforme a NBR 6118/03, em função da agressividade do ambiente na
qual a estrutura está inserida, concretos de resistências superiores ao C20 podem ser
requeridos, como será apresentado no item 2.6.6.

Os procedimentos contidos na NBR 6118/03 se aplicam apenas aos concretos da classe


I, com resistência até 50 MPa (C50). Para concretos da classe II ou superiores devem ser
consultadas normas estrangeiras, pois não existe normalização no Brasil para o projeto de
estruturas com os concretos da classe II.

c) Resistência à tração

A resistência do concreto à tração varia entre 8 e 15 % da sua resistência à compressão.


Em função da forma como o ensaio para a determinação da resistência à tração do concreto
é realizado, são três os termos usados: tração direta, tração indireta e tração na flexão.

A resistência à tração indireta (fct,sp) é determinada no ensaio de compressão diametral,

alfamacursos.com.br 42
Estrutura em Concreto Armado

prescrito na NBR 7222/94. Este ensaio foi desenvolvido pelo professor Lobo Carneiro na
década de 50, sendo conhecido mundialmente por Brazilian test ou splitting test. O ensaio
consiste em se comprimir longitudinalmente o corpo de prova cilíndrico 15 x 30 cm segundo
a direção do seu diâmetro.

Quando se aplicam tensões de compressão numa direção surgem também tensões de


tração perpendiculares à direção das tensões de compressão. No ensaio de compressão
diametral surgem tensões de tração horizontais na direção diametral, que causam o
rompimento do corpo de prova. Diz-se neste caso que o corpo de prova rompeu devido a
esforços ou tensões de fendilhamento.

A resistência à tração na flexão (fct,f), determinada conforme a NBR 12.142/91, consiste


em se submeter uma viga de concreto simples a um ensaio de flexão simples.
A resistência à tração na flexão corresponde à tensão na fibra mais tracionada no instante
da ruptura da viga.

A resistência à tração direta corresponde à resistência por tração axial, valor difícil de
ser medido em ensaio de corpo de prova. Por isso, a NBR 6118/03 (item 8.2.5) fornece
equações que permitem que a resistência à tração direta seja calculada em função da
resistência do concreto à compressão.

d) Módulo de elasticidade

O módulo de elasticidade é um parâmetro numérico relativo à medida da deformação


que o concreto sofre sob a ação de tensões, geralmente tensões de compressão. Os
concretos com maiores resistências à compressão normalmente deformam-se menos que
os concretos de baixa resistência, e por isso têm módulos de elasticidade maiores. O
módulo de elasticidade depende muito das características e dos materiais componentes
dos concretos, como o tipo de agregado, da pasta de cimento e a zona de transição entre
a argamassa e os agregados.

A importância da determinação dos módulos de elasticidade está na determinação das


deformações nas estruturas de concreto, como nos cálculos de flechas em lajes e vigas.
Nos elementos fletidos, como as vigas e as lajes, por exemplo, o conhecimento das flechas
máximas é muito importante e é um dos parâmetros básicos utilizados pelo projetista
estrutural.

alfamacursos.com.br 43
Estrutura em Concreto Armado

5.2 - EXERCÍCIO PROPOSTO

1 - Como varia a resistência do concreto à tração em relação à compressão?


_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________

alfamacursos.com.br 44
Estrutura em Concreto Armado

Capítulo 6 - Deformações do Concreto Armado

6 - DEFORMAÇÕES DO CONCRETO ARMADO

O concreto, sob ação dos carregamentos e das forças da natureza, apresenta deformações
que aumentam ou diminuem o seu volume, podendo dar origem a fissuras, que dependendo
da sua abertura e do ambiente a que a peça está exposta, podem ser prejudiciais para a
estética e para a durabilidade da estrutura.

As principais deformações que ocorrem no concreto são as devidas à retração, à deformação


lenta e à variação de temperatura, como serão descritas a seguir.

6.1 - DEFORMAÇÃO POR VARIAÇÃO DE TEMPERATURA

Todo material tem um coeficiente chamado “coeficiente de dilatação térmica” (αte), com
o qual se podem calcular variações de volume e de comprimento de peças fabricadas com
aquele material. O coeficiente define a deformação correspondente a uma variação de
temperatura de 1Cº. No caso do concreto armado, para variações normais de temperatura,
o valor para αte recomendado é de 10-5/ºC (NBR 6118/03, item 8.2.3).

Na versão anterior da NBR 6118, de 1980, era permitido dispensar-se a variação de


temperatura em estruturas de concreto interrompidas por juntas de dilatação a cada 30
m, no máximo. A norma atual (NBR 6118/03), porém, não traz recomendações de como
o problema da dilatação térmica nas estruturas pode ser tratado de modo simplificado.
Neste caso, pelo menos nas estruturas correntes ou de pequeno porte, sugerimos que esta
simplificação seja mantida, isto é, prever juntas de dilatação a cada 30 m de comprimento
da estrutura em planta.

Em construções onde não se deseja projetar juntas de dilatação os efeitos da variação


de temperatura sobre a estrutura devem ser cuidadosamente avaliados pelo projetista
estrutural, durante a concepção estrutural e nos cálculos de dimensionamento da estrutura.

A junta de dilatação é uma separação real da construção e da estrutura em blocos


independentes, e quando convenientemente espaçadas permitem que a estrutura possa ter
variações de volume livremente, sem que esforços adicionais importantes sejam impostos
à estrutura e que, por isso, podem ser desprezados.
No desenvolvimento de projetos arquitetônicos de construções com grandes dimensões
em planta, um engenheiro estrutural deve ser previamente consultado para a definição
conjunta do número e da posição das juntas de dilatação.

6.2 - DEFORMAÇÃO POR RETRAÇÃO

Define-se retração como a diminuição de volume do concreto ao longo do tempo, cada


principalmente pela evaporação da água não utilizada nas reações químicas de hidratação
do cimento. A retração do concreto ocorre mesmo na ausência de ações ou carregamentos
externos e é uma característica comum e natural dos concretos.

Para a hidratação de 100 g de cimento são necessárias aproximadamente 26 g de água,


isto é, uma relação água/cimento de 0,26. Ocorre que, nos concretos correntes, para
proporcionar a trabalhabilidade requerida, a quantidade de água adicionada ao concreto
é bem maior que a necessária, levando a relações a/c superiores a 0,50. A posterior
evaporação da água não utilizada nas reações químicas de hidratação do cimento é a
principal responsável pela diminuição de volume do concreto, o que se denomina “retração
capilar”.

Porém, existem também outras causas para a retração, denominadas “retração química”,

alfamacursos.com.br 45
Estrutura em Concreto Armado

que decorre do fato das reações de hidratação do cimento ocorrerem com diminuição
de volume, e a “retração por carbonatação”, onde componentes secundários do cimento
reagem com o gás carbônico presente na atmosfera, levando também a uma diminuição
de volume do concreto (PINHEIRO & FERNANDES, 1993). Essas causas de retração são
menos intensas que a retração capilar e se restringem basicamente ao período de cura do
concreto. Em peças submersas ocorre a “expansão” da peça, fenômeno contrário ao da
retração, decorrente do fluxo de água de fora para dentro da peça, em direção aos poros
formados pela retração química.

Nas estruturas mais comuns e de pequenas espessuras, o fenômeno da retração é


considerado praticamente concluído no período de dois a quatro anos. Para peças de
espessuras maiores que 1,0 m, este período pode atingir até quinze anos. Os fatores que
mais influem na retração são os seguintes:

a) Composição química do cimento: os cimentos mais resistentes e os de endurecimento


mais rápido causam maior retração.
b) Quantidade de cimento: quanto maior a quantidade de cimento, maior a retração.
c) Água de amassamento: quanto maior a relação água/cimento, maior a retração.
d) Umidade ambiente: o aumento da umidade ambiente dificulta a evaporação, diminuindo
a retração.
e) Temperatura ambiente: o aumento da temperatura, aumenta a retração.
f) Espessura dos elementos: a retração aumenta com a diminuição da espessura do
elemento, por ser maior a superfície de contato com o ambiente em relação ao volume da
peça, possibilitando maior evaporação.

Os efeitos da retração podem ser diminuídos tomando-se cuidados especiais em relação


aos fatores indicados acima, além disso, o que é muito importante, executando uma
cuidadosa cura, durante pelo menos os primeiros dez dias após a concretagem da peça.
Cura do concreto são os cuidados que devem ser tomados no período de endurecimento
do concreto, visando impedir que a água evapore e o cimento não seja corretamente
hidratado.

Uma solução muito empregada e eficiente em vigas e outros elementos é a utilização


de uma armadura, chamada “armadura de pele”, composta por barras finas colocadas
próximas às superfícies das peças.

6.3 - DEFORMAÇÃO LENTA (FLUÊNCIA)

A retração e a expansão são deformações que ocorrem no concreto mesmo na ausência de


carregamentos externos. A “deformação lenta” ou “fluência” (εcc), por outro lado, são as
deformações no concreto provocadas pelos carregamentos externos, que originam tensões
de compressão.

Define-se como deformação lenta como o aumento das deformações no concreto sob
tensões permanentes de compressão ao longo do tempo, mesmo que não ocorram
acréscimos nessas tensões.

A deformação que antecede a deformação lenta é chamada “deformação imediata”


(εci), que é aquela que ocorre imediatamente após a aplicação das primeiras tensões de
compressão no concreto, devida basicamente à acomodação dos cristais que constituem a
parte sólida do concreto.

Num tempo inicial do concreto ou do elemento estrutural surge a deformação imediata


ao se aplicar o primeiro carregamento que origina as tensões de compressão, o que
normalmente ocorre quando se retiram os escoramentos das peças. A partir deste instante,
o carregamento inicial, além de se manter, geralmente sofre acréscimos sucessivos
(cargas de construção, revestimentos, pisos, ações variáveis e etc.), que fazem com que
novas deformações surjam, somando-se à deformação imediata inicial, ou seja, ocorre a

alfamacursos.com.br 46
Estrutura em Concreto Armado

deformação lenta do concreto ao longo do tempo da peça. A deformação total da peça num
certo tempo é a soma da deformação imediata com a deformação lenta até aquele tempo.

Após alguns anos considera-se cessada a deformação lenta, o que é expresso pela
deformação lenta no infinito (εcc,∞).

A deformação lenta do concreto é muito importante no projeto das peças protendidas e na


determinação das flechas nas vigas e lajes. Os fatores que mais influem na deformação
lenta são:

a) Idade do concreto quando a carga começa a agir.


b) Umidade do ar - a deformação é maior ao ar seco.
c) Tensão que a produz - a deformação lenta é proporcional à tensão que a produz.
d) Dimensões da peça - a deformação lenta é menor em peças de grandes dimensões.

Da mesma forma que a retração, pode-se reduzir a deformação lenta utilizando armadura.

alfamacursos.com.br 47
Estrutura em Concreto Armado

6.4 - EXERCÍCIO PROPOSTO

1 - Defina retração do concreto.


_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________

alfamacursos.com.br 48
Estrutura em Concreto Armado

Capítulo 7 - Aços para Armadura de Concreto Armado

7 - AÇOS PARA ARMADURA DE CONCRETO ARMADO

7.1 - VERGALHÕES

Os aços (vergalhões) utilizados em estruturas de concreto armado no Brasil são estabelecidos


pela NBR 7480/96. São produzidos em usinas siderúrgicas com teores de carbono entre
0,4 e 0,6 %.

A NBR 7480/96 classifica como barras os vergalhões de diâmetro nominal 5 mm ou superior,


obtidos exclusivamente por laminação a quente, e como fios aqueles de diâmetro nominal
10 mm ou inferior, obtidos por trefilação ou processo equivalente, como estiramento e
laminação a frio.

Conforme o valor característico da resistência de escoamento (fyk), as barras são


classificadas nas categorias CA-25 e CA-50 e os fios na categoria CA-60. As letras CA
indicam concreto armado e o número na sequência indica o valor de fyk, em kgf/mm2 ou
kN/cm2. Os aços CA-25 e CA-50 são, portanto, fabricados por laminação a quente, e o
CA-60 por trefilação.

Os vergalhões obtidos pelo processo de laminação a quente são classificados com a


categoria de CA-25 e CA-50, e os obtidos por trefilação a frio são CA-60.

A conformação final dos vergalhões CA-25 e CA-50 é feita com a laminação de tarugos
de aço aquecidos, consistindo num processo de deformação mecânica, que reduz a seção
do tarugo na passagem por cilindros paralelos em rotação, em gaiolas de laminação. Os
tarugos são fabricados na usina siderúrgica, a partir de sucatas e ferro-gusa. A obtenção
dos vergalhões CA-60 ocorre a partir do fio-máquina (fio de aço), por trefilação a frio,
processo de conformação mecânica que reduz o fio-máquina na passagem por orifícios
calibrados (Morais e Rego, 2005).

Por indicação da NBR 6118/03 (item 8.3) os seguintes valores podem ser considerados
para os aços:

a) Massa específica: 7.850 kg/m3.


b) Coeficiente de dilatação térmica: 10-5/ºC para intervalos de temperatura entre – 20ºC
e 150ºC.
c) Módulo de elasticidade: 210 GPa ou 210.000 MPa.

Segundo a NBR 6118/03, os aços CA-25 e CA-50 podem ser considerados como de alta
ductilidade e os aços CA-60 podem ser considerados como de ductilidade normal.

7.2 - TIPOS DE SUPERFÍCIE

A superfície dos vergalhões pode conter nervuras (saliência ou mossa), entalhes, ou ser
lisa. A rugosidade da superfície é medida pelo coeficiente de conformação superficial,
determinado em ensaios de acordo com a NBR 7477/82, e deve atender o coeficiente de
conformação superficial mínimo, para cada categoria de aço (CA-25, CA-50 ou CA-60),
conforme indicado na NBR 7480.

Figura 50 - Execução de armadura e viga e pilar.

alfamacursos.com.br 49
Estrutura em Concreto Armado

Fonte: Google imagens.

7.2.1 - CARACTERÍSTICAS GEOMÉTRICAS

As barras são geralmente fornecidas no comércio em segmentos retos com comprimento


de 12 m, com tolerância de até 9 %. Permite-se a existência de até 2 % de barras curtas,
porém de comprimento não inferior a 6 m.

Todas as barras nervuradas devem apresentar marcas de laminação em relevo, identificando


o produtor, a categoria do aço e o diâmetro nominal. A identificação de fios e barras lisas
deve ser feita por etiqueta ou marcas em relevo.

Os diâmetros (f em mm) padronizados pela NBR 7480/96 que mostra a massa, a área e o
perímetro nominal.

Embora todos os vergalhões produzidos no Brasil por diferentes empresas siderúrgicas


atendam às exigências da NBR 7480/96, podem existir algumas particularidades
próprias nos produtos de cada empresa, como forma de fornecimento, tipo de superfície,
soldabilidade, diâmetros existentes e etc., por isso os catálogos dos fabricantes devem e
podem ser facilmente consultados via internet.

Tabela de conversão de medidas e massa dos vergalhões.

Fonte: Elaborada pelo autor.

• Soldabilidade

Os fabricantes brasileiros de aços para Concreto Armado fornecem vergalhões com


características de soldabilidade, como os vergalhões CA-25 e CA-60. Os vergalhões CA-50
são fabricados na forma soldável ou não soldável. Quando soldável a letra S vem gravada
na superfície da barra, sendo chamados CA-50 S.
A soldagem entre barras permite a eliminação de arames para a união de barras, e garante
uma armadura montada de melhor qualidade. Emendas de barras também podem ser
feitas por solda.

A soldagem é um processo comum em armaduras para estruturas pré-fabricadas,


produzidas em indústrias de pré-fabricados de concreto. A soldagem não é comum em
obras de pequeno porte, e não é recomendada em ambiente de obra, pois, os parâmetros
que interferem no processo de soldagem devem ser controlados.

No item 8.3.9 a NBR 6118/03 especifica algumas características relativas à soldagem de


barras.

• Arames

alfamacursos.com.br 50
Estrutura em Concreto Armado

Quando as armaduras são cortadas e montadas na própria obra, é comum de se fazer as


amarrações entre as barras e fios com arames recozidos, geralmente duplos e torcidos, no
diâmetro de 1,25 mm (arame BWG 18), Figura 84. Pode ser usado também o arame BWG
16, com diâmetro de 1,65 mm, em fio único.

Figura 51 - Arame duplo recozido (Catálogos Belgo Arcelor).

Fonte: Belgo Arcelor.

Nas amarrações de tábuas e das fôrmas de madeira em geral é comum a utilização do


arame recozido BWG 12, com diâmetro de 2,76 mm, adquirido geralmente em quilos.

• Telas soldadas

Um produto muito útil nas obras e que leva à economia de tempo e mão de obra são as
telas soldadas, assim chamadas por terem as barras soldadas entre si nos encontros (nós).
Existem várias telas soldadas padronizadas, com variações nas distâncias e nos diâmetros
dos fios, geralmente CA-60. Constituem-se numa solução prática e rápida para armação
de lajes, pisos, pavimentos de pontes, calçamentos, piscinas, elementos pré-fabricados,
tubos, etc., sendo cada vez mais empregadas na construção civil, pelas características de
agilidade, qualidade e desempenho das armaduras.

Figura 52 - Telas soldadas.

Figura 53 - Telas soldadas.

Fonte: Google imagens.

alfamacursos.com.br 51
Estrutura em Concreto Armado

• Armaduras prontas

Atualmente, alguns fabricantes de aços fornecem também armaduras prontas para aplicação,
como armaduras de colunas, que, além de colunas, podem ser aplicadas também em vigas
e cintas, com as barras longitudinais soldadas nos estribos. Existem algumas dimensões e
diâmetros padronizados pelos fabricantes, que devem ser consultados previamente.

O corte e dobramento de barras e fios nas mais variadas formas, conforme o projeto,
também é feito industrialmente pelos fabricantes.

As treliças metálicas para aplicação principalmente em lajes pré-fabricadas serão


apresentadas quando da descrição deste elemento.

alfamacursos.com.br 52
Estrutura em Concreto Armado

7.3 - EXERCÍCIO PROPOSTO

1 - Cite três tipos de aço para o concreto armado.


_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________

alfamacursos.com.br 53
Estrutura em Concreto Armado

Capítulo 8 - Estádios de Cálculo

8 - ESTÁDIOS DE CÁLCULO

Os estádios podem ser definidos como os estágios de tensão pelo qual um elemento fletido
passa, desde o carregamento inicial até a ruptura.

Classificam-se os estádios em quatro, cada um apresentando uma particularidade:

• Estádio Ia - o concreto resiste à tração com diagrama triangular.


• Estádio Ib - corresponde ao início da fissuração no concreto tracionado.
• Estádio II - despreza-se a colaboração do concreto à tração.
• Estádio III - corresponde ao início da plastificação (esmagamento) do concreto
à compressão.

No Estádio Ia o carregamento externo aplicado é ainda pequeno, de modo que as


deformações e as tensões normais são também pequenas. As tensões se distribuem de
maneira linear ao longo da altura da seção transversal. As dimensões das peças no Estádio
Ia resultam exageradas em função de se considerar a resistência do concreto à tração, que
é muito pequena, como definida no item 7.1.4.

Com o aumento do carregamento, as tensões de tração perdem a linearidade, deixando de


serem proporcionais às deformações. Apenas as tensões na zona comprimida são lineares.
A um certo valor do carregamento as tensões de tração superam a resistência do concreto
à tração, é quando surge a primeira fissura, o que corresponde ao Estádio Ib, ou seja, o
término do Estádio I e o início do Estádio II.

No Estádio II as tensões de compressão ainda se distribuem linearmente, de zero na linha


neutra ao valor máximo na fibra mais comprimida.

Aumentando ainda mais o carregamento a linha neutra e as fissuras deslocam-se em


direção à zona comprimida. As tensões de compressão e de tração aumentam; a armadura
tracionada pode alcançar e superar a tensão de início de escoamento (fy), e o concreto
comprimido está na iminência da ruptura (esmagamento).

Cada estádio tem a sua importância, sendo as principais descritas a seguir:

a) Estádio Ia: verificação das deformações em lajes calculadas segundo a teoria da


elasticidade, pois essas lajes geralmente se apresentam pouco fissuradas.

b) Estádio Ib: cálculo do momento fletor de fissuração (solicitação que pode provocar o
início da formação de fissuras).

c) Estádio II: verificação das deformações em vigas (seções predominantemente


fissuradas) e análise das vigas em serviço.

d) Estádio III: dimensionamento dos elementos estruturais no Estado Limite Último


(ELU).

alfamacursos.com.br 54
Estrutura em Concreto Armado

8.1 - EXERCÍCIO PROPOSTO

1 - Defina “Estádios de Cálculo”.


_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________

alfamacursos.com.br 55
Estrutura em Concreto Armado

Capítulo 9 - Estados Limites de Serviço

9 - ESTADOS LIMITES DE SERVIÇO

A NBR 6118 (item 2.1) indica que uma estrutura ou parte dela atinge um estado limite
quando, de modo efetivo ou convencional, se torna inutilizável ou quando deixa de satisfazer
às condições previstas para sua utilização.

Depreende-se naturalmente dos requisitos esperados para uma edificação, que a mesma
deva reunir condições adequadas de segurança, funcionalidade e durabilidade, de modo a
atender todas as necessidades para as quais foi projetada.

Logo, quando uma estrutura deixa de atender a qualquer um desses três itens, diz-se que
ela atingiu um estado limite. Dessa forma, uma estrutura pode atingir um estado limite de
ordem estrutural ou de ordem funcional. Assim, se concebe dois tipos de estados limites,
a saber:

• Estados limites últimos (de ruína).


• Estados limites de utilização (de serviço).

9.1 - ESTADO LIMITE ÚLTIMO

São aqueles relacionados ao colapso, ou a qualquer outra forma de ruína estrutural, que
determine a paralisação do uso da estrutura. A segurança das estruturas de concreto deve
sempre ser verificada em relação aos seguintes estados limites últimos:

• Estado limite último da perda do equilíbrio da estrutura, admitida como corpo


rígido.
• Estado limite último de esgotamento da capacidade resistente da estrutura, no
seu todo ou em parte, devido às solicitações normais e tangenciais.
• Estado limite último de esgotamento da capacidade resistente da estrutura, no
seu todo ou em parte, considerando os efeitos de segunda ordem.
• Estado limite último provocado por solicitações dinâmicas.
• Casos especiais.

9.2 - ESTADOS LIMITES DE UTILIZAÇÃO

São aqueles que correspondem à impossibilidade do uso normal da estrutura, estando


relacionados à durabilidade das estruturas, aparência, conforto do usuário e a boa utilização
funcional da mesma, seja em relação aos usuários, sejam às maquinas e aos equipamentos
utilizados. Podem se originar de uma das seguintes causas:

• Estado limite de formação de fissuras.


• Estado limite de abertura de fissuras.
• Estado limite de deformações excessivas.
• Estado limite de vibrações excessivas.
• Casos especiais.

a) Estado limite de formação de fissuras - é o estado em que há uma grande


probabilidade de iniciar-se a formação de fissuras de flexão. Este estado ocorre quando a
tensão de tração máxima na seção transversa for igual à resistência à tração do concreto
na flexão.

b) Estado limite de abertura de fissuras - também definido como estado limite de


fissuração inaceitável corresponde ao estado em que as fissuras se apresentam com
aberturas iguais aos limites máximos especificados por normas e que podem ser prejudicial
ao uso ou à durabilidade da peça de concreto

alfamacursos.com.br 56
Estrutura em Concreto Armado

c) Estado limite de deformação excessiva - é o estado em que as deformações


ultrapassam os limites máximos definidos por normas e aceitáveis para a utilização normal
da estrutura.

9.3 - CRITÉRIOS DE ACEITAÇÃO (ELU)

A NB1 99, em seu item 13.2, define deslocamentos limites como sendo valores práticos
utilizados para verificação do estado limite de deformações excessivas da estrutura,
afirmando que deslocamentos excessivos dos elementos estruturais podem ser indesejáveis
por diversos motivos. Esses motivos são classificados em quatro grupos básicos:

a) Aceitabilidade sensorial - deslocamentos excessivos podem ser responsáveis por


sensações desagradáveis para os usuários da estrutura.

b) Estrutura em serviço - os deslocamentos podem impedir a utilização adequada da


construção.

c) Efeitos em elementos não estruturais - deslocamentos podem ocasionar o mau


funcionamento de elementos que, apesar de não fazerem parte da estrutura, estão a ela
ligados.

d) Efeitos em elementos estruturais - os deslocamentos podem afetar o comportamento


do elemento estrutural, provocando afastamento em relação às hipóteses de cálculo
adotadas. Se forem relevantes para o elemento considerado, o efeito dos deslocamentos
sobre as tensões ou sobre a estabilidade da estrutura devem ser considerados pela sua
incorporação ao modelo estrutural adotado.

alfamacursos.com.br 57
Estrutura em Concreto Armado

9.4 - EXERCÍCIO PROPOSTO

1 - Defina “Estado Limite de Formação de Fissuras”.


_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________

alfamacursos.com.br 58
Estrutura em Concreto Armado

Capítulo 10 - A Teoria das Grelhas para Lajes sobre


Apoios Rígidos

10 - A TEORIA DAS GRELHAS PARA LAJES SOBRE APOIOS RÍGIDOS

Diversos métodos para a análise e dimensionamento de lajes de concreto armado de


pavimentos de edifícios têm sido propostos e usados ao longo dos anos. Esses métodos
são usados para analisar os deslocamentos, os esforços internos, os elementos de apoio e
a capacidade de carga das lajes; conhecendo-se a distribuição dos esforços atuantes, tais
como momentos fletores, momentos de torção e esforços cortantes, é possível verificar
as tensões e calcular as armaduras necessárias nestas lajes. A substituição de uma laje
por uma série ortogonal de vigas que se cruzam formando uma grelha é uma das mais
antigas propostas de solução. Dividindo as lajes em um número adequado de faixas é
possível reproduzir o comportamento estrutural de pavimentos em concreto armado com
praticamente qualquer geometria e em diferentes situações de esquema estrutural. Esta é
a base do processo de analogia de grelha, o qual possibilita que se faça o cálculo integrado
do pavimento. Neste trabalho comparam-se os esforços e os deslocamentos transversais
de lajes isoladas e de lajes associadas obtidos a partir do emprego do processo de analogia
de grelha com aqueles obtidos através do emprego de tabelas de lajes e, verifica-se a
influência de parâmetros como o espaçamento da malha, a rigidez a torção dos elementos
e o tipo de carga (concentrada nos nós ou distribuída nas barras da grelha) utilizada para
carregar a estrutura equivalente, nos resultados fornecidos por este processo.

Devido à falta de recursos computacionais capazes de resolver o grande volume de equações


simultâneas necessárias para analisar um pavimento como um todo, durante muito tempo
o cálculo de pavimentos de edifícios compostos por lajes e vigas de concreto armado foi
feito de maneira simplificada, considerando-se as lajes como elementos isolados apoiados
em elementos rígidos, as vigas. Hoje, com o avanço dos microcomputadores, cada vez mais
potentes e velozes e, com o surgimento de programas de análise estrutural avançada que
possibilitam o cálculo integrado, a situação é outra, podendo-se analisar o comportamento
de um pavimento como um todo, levando-se em consideração a influência da flexibilidade
dos apoios e da rigidez à torção, tanto das lajes como das vigas, sendo ainda possível de
se incluir na análise a não linearidade física do concreto armado.

Entre os diversos processos de cálculo que possibilitam a análise integrada de um pavimento,


levando-se em consideração a influência desses parâmetros, destaca-se o processo de
analogia de grelha, o qual vem sendo muito usado em programas computacionais de
análise de estruturas de concreto armado amplamente difundidos no país e de grande
aceitação no meio profissional.

Além de possibilitar o cálculo integrado de um pavimento, o processo de analogia de grelha


permite ainda que, fazendo-se apenas pequenas modificações em um mesmo conjunto de
dados, se analise um mesmo pavimento em diferentes situações de esquema estrutural,
propiciando desta maneira, ao projetista, rapidez na definição do sistema estrutural mais
adequado a ser utilizado.

O cálculo das lajes armadas em cruz que não possuam rigidez à torção, ou que não são
suficientemente ancoradas nos cantos para evitar o seu levantamento, pode ser feito de
maneira simplificada por meio da denominada “Teoria das Grelhas”. Esse método também
pode ser empregado paras as lajes usuais, concretadas monoliticamente com as vigas,
quando não são usadas armaduras de canto na face superior da laje. Esses casos são
ilustrados nas figuras abaixo.

Figura 54 - Situações onde se aplica a teoria das grelhas

alfamacursos.com.br 59
Estrutura em Concreto Armado

Fonte: Google imagens.

Nas lajes concretadas monoliticamente com as vigas, deve-se verificar se a ocorrência de


eventuais fissuras nos cantos simplesmente apoiados, como consequência da ausência
das armaduras de canto na face superior da laje, pode comprometer a durabilidade da
estrutura. Isto é particularmente importante quando a laje está ao ar livre, sujeita à ação
da chuva. Para as lajes situadas no interior dos edifícios residenciais e de escritório, essas
fissuras, quando existem, ficam protegidas pelo piso.

Nesses casos, podem-se omitir as armaduras de canto, para simplificar a execução. De


todo modo, em lajes com grandes vãos, é recomendável empregar uma armadura mínima
nos cantos simplesmente apoiados para controle da fissuração.

Considere-se, para exemplificar, a laje simplesmente apoiada nos quatro lados, indicada a
seguir. A laje é submetida a uma carga, uniformemente distribuída por unidade de área.
Os vãos são e os apoios são considerados indeformáveis.

Figura 55 - Laje simplesmente apoiada nos quatro lados.

Fonte: Google imagens.

alfamacursos.com.br 60
Estrutura em Concreto Armado

10.1 - EXERCÍCIO PROPOSTO

1 - Qual o objetivo da “Teoria da Grelha”?


_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________

alfamacursos.com.br 61
Estrutura em Concreto Armado

Capítulo 11 - Produção de Concretos

11 - PRODUÇÃO DE CONCRETOS

Uma vez estudados os materiais componentes, suas características e propriedades, uma


série de cuidados deve ser observada nas etapas de produção do concreto. Vejamos, de
forma resumida, cada uma destas etapas:

11.1 - MISTURA

Antes de se iniciar a mistura, logicamente, os utensílios que medirão os materiais devem


estar preparados, com suas capacidades rigorosamente verificadas (item 12.2. da NB ).

1) Os agregados (miúdo e graúdo) normalmente são medidos em padiolas de madeira,


devendo sempre levar em conta a influência da umidade. O cimento sempre deve ser
medido em peso, podendo ser considerado o peso de 50 kg quando a dosagem for para um
saco de cimento. A água normalmente é medida em latas. A mistura poderá ser manual
ou mecânica:

a) Amassamento manual - a norma NB 1, item 12.3, recomenda: “O amassamento


manual do concreto, a empregar-se excepcionalmente em pequenos volumes ou em
obras de pouca importância, deverá ser realizado sobre um estrado ou superfície plana
impermeável e resistente. Misturar-se-ão primeiramente a seco os agregados e o cimento
de maneira a obter-se cor uniforme; em seguida adicionar-se-á aos poucos a água
necessária, prosseguindo-se a mistura até conseguir-se massa de aspecto uniforme. Não
será permitido amassar-se, de cada vez, volume de concreto superior ao correspondente
a 100 kg de cimento”.

Torna-se oportuna algumas considerações:

1ª) O local de amassamento, em nível, pode ser um piso de concreto, de tijolos, ou um


estrado de madeira, com dimensões em torno de 3 m x 3 m.

2ª) A sequência ideal para a mistura, apesar de muitas vezes não obedecido nas obras, é
a seguinte:

- coloque primeiramente, sobre o estrado, a areia em camada de 10 a 15 cm de


espessura;
- sobre essa camada espalhe o cimento e realize a primeira mistura;
- adicione a brita e realize a segunda mistura. Se o volume de material for grande,
dificultando os serviços de mistura, o volume pode ser dividido em dois montes que
serão misturados independentemente e depois junte esses dois montes e misture
novamente. É importante se obter uma massa homogênea de cor uniforme;
- faça um buraco (cratera) no centro da massa e adicione a água aos poucos,
cuidando para que a mesma não escorra da mistura. Continue na mistura até que
toda massa fique molhada de modo uniforme.

3ª) Por razões de ordem prática, no amassamento manual, não aconselhamos misturar
volume de concreto superior ao que se obteria com 1 saco de cimento.

b) Amassamento mecânico - a mistura mecânica é feita em máquinas especiais


denominadas “betoneiras”. Não existem regras gerais para a ordem de carregamento dos
materiais na betoneira, entretanto, aconselhamos essa sequência:

- Coloca-se primeiramente, uma parte da água.


- Os demais materiais serão colocados nessa ordem: brita, cimento, areia e o
restante da água.

alfamacursos.com.br 62
Estrutura em Concreto Armado

- Algumas vezes também pode ser adotada a seguinte sequência: brita, 1/2
quantidade de água, cimento e finalmente o restante da água. Essas sequências
de colocação de materiais são indicadas para as betoneiras de 360 litros (as mais
usadas) e quando a dosagem for feita para um volume de 20 litros de cimento (=
28,3 kg).
- Convém alertar que na primeira mistura, pode acontecer que o cimento e a
areia fiquem aderentes à betoneira. Essa primeira remessa deve ser desprezada.
Como alternativa, uma certa quantidade de argamassa pode ser introduzida na
betoneira antes do início de funcionamento.

O tempo de mistura, contado a partir do instante em que todos os materiais foram


colocados, varia com o tipo de betoneira (item 12.4. da NB 1). A rigor, não é o tempo
de mistura, mas o número de rotações da betoneira que constitui o critério de mistura
adequada. Geralmente, 20 rotações são suficientes (aproximadamente 1 minuto).

11.2 – TRANSPORTE

Logo após a mistura do concreto e durante as etapas seguintes (transporte, lançamento


e adensamento), há uma grande tendência do agregado graúdo se separar da massa.
Esse fenômeno muito importante na tecnologia do concreto e que impede a obtenção de
concretos de boas qualidades é chamado “segregação”. As diferenças de tamanho das
partículas e da massa específica dos componentes da mistura constituem a causa primária
da segregação.

Logicamente, para se evitar a segregação, uma série de cuidados deve ser observada nas
etapas de produção de concretos.

A norma NB 1 (item 13.1) recomenda que o concreto deve ser transportado do local
do amassamento para o de lançamento tão rapidamente quanto possível (prazo máximo
de uma hora) e o meio de transporte deve ser tal que não acarrete separação de seus
elementos (segregação) ou perda sensível de qualquer deles por vazamento ou evaporação.

O sistema de transporte deverá permitir o lançamento direto nas formas, evitando-se


depósito intermediário.

O transporte do concreto na direção horizontal ou inclinada (através de rampas) é feito


através de carrinhos providos de rodas de pneus; na direção vertical por meio de estrados
acionados por guinchos. Existem outros métodos de transporte: correias transportadoras,
concreto bombeado, calhas, etc. O importante é cuidar-se para evitar trepidações que
acarretariam a segregação.

11.3 - LANÇAMENTO

A norma NB 1 (item 13.2) recomenda:

• O concreto deve ser lançado logo após a mistura, não sendo permitido entre o
fim deste e o do lançamento, intervalo superior a uma hora.
• Em nenhuma hipótese se fará lançamento após o início da pega. (A especificação
EB 1 sobre cimento Portland diz que o início da pega deve verificar-se no mínimo,
uma hora após a adição da água de amassamento).
• O concreto deverá ser lançado o mais próximo possível de sua posição final,
evitando-se incrustação de argamassa nas paredes das formas e nas armaduras.
• A altura de queda livre não poderá ultrapassar 2 m. Para peças estreitas e altas,
o concreto deverá ser lançado por janelas abertas na parte lateral, ou por meio de
funis ou trombas.
• Cuidados especiais deverão ser tomados quando o lançamento se der em
ambiente com temperatura inferior a 10oC ou superior a 40oC.
• Como se sabe, é extremamente difícil a reforma ou recuperação de estruturas

alfamacursos.com.br 63
Estrutura em Concreto Armado

de concreto armado. Assim, antes da concretagem, várias averiguações devem


ser feitas:

1º) Quanto às formas e escoramentos: eficácia do escoramento - exatidão das


dimensões e geometria das peças a serem concretadas posicionamento correto - alinhamento
e nivelamento das formas - limpeza das formas (principalmente nos pés de pilares) -
estanqueidade - molhar as formas para evitar a absorção da água de amassamento.

2º) Quanto às armaduras: exatidão das bitolas (diâmetros) - posicionamento e


espaçamento corretos - afastamento da armação em relação às faces das formas para
possibilitar o cobrimento das barras pelo concreto (pastilhas/espaçadores) - concentração
de armação dificultando concretagem – posicionamento dos ferros negativos.

3º) Quanto a instalações ou peças embutidas: exatidão do posicionamento,


caminhamento, diâmetros, dimensões, conexões - vedação perfeita - proteção quanto à
obstruções por concreto ou estrangulamento de tubos flexíveis.

11.4 - ADENSAMENTO (VIBRAÇÃO)

O adensamento tem como objetivo obrigar o concreto a preencher os vazios formados


durante a operação de lançamento, eliminando as locas e retirando o ar aprisionado. Os
processos de adensamento podem ser manuais e mecânicos.

O adensamento manual é o modo mais simples e antigo e consiste em facilitar a colocação


do concreto na forma mediante golpes na massa com uma haste (vergalhão), ou por
apiloamento da superfície com soquetes.

O adensamento mecânico usualmente é feito através de vibradores de imersão e apresenta


várias vantagens sobre o adensamento manual: aumento da compacidade, aumento da
resistência, maior homogeneidade, economia de cimento e mão de obra, diminuição da
retração, redução da permeabilidade, aumento da durabilidade.

Entretanto, apesar de todas estas vantagens, o excesso de vibração (que causa a segregação)
ou a consistência não adequada da mistura, pode levar a concretos de péssima qualidade.
Para a utilização de vibradores, a consistência do concreto deve ser, logicamente, menos
plástica do que a consistência para vibração manual.

Para se evitar o excesso de vibração, ela deve ser paralisada quando o operador observar
na superfície do concreto o surgimento de uma película de água e o término da formação
de bolhas de ar. A formação dessas bolhas era intensa no início da vibração, mas decresce
progressivamente até quase se anular.

A norma NB1 (item 13.2.2.) faz as seguintes recomendações quanto ao adensamento de


concreto:

Durante e imediatamente após o lançamento, o concreto deverá ser vibrado ou secado


contínua e energicamente com equipamento adequado à trabalhabilidade do concreto. O
adensamento deverá ser cuidadoso para que o concreto preencha todos os recantos da
forma.

Durante o adensamento deverão ser tomadas as precauções necessárias para que não
se formem ninhos ou haja segregação dos materiais; dever-se-á evitar a vibração da
armadura para que não se formem vazios a seu redor, com prejuízo da aderência.

No adensamento manual as camadas de concreto não deverão exceder 20 cm. Quando


se utilizarem vibradores de imersão a espessura da camada deverá ser aproximadamente
igual a 3/4 do comprimento da agulha; se não se puder atender a esta exigência não
deverá ser empregado vibrador de imersão.

alfamacursos.com.br 64
Estrutura em Concreto Armado

11.5 - CURA

Logo após a concretagem procedimentos devem ser adotados com a finalidade de evitar
a evaporação prematura da água necessária à hidratação do cimento. A este conjunto de
procedimentos dá-se o nome de “cura” do concreto. A cura além de promover e proteger
a perfeita hidratação do cimento, evita também o aparecimento de fissuras devidas a
retração. Na obra, a cura do concreto pode ser feita pelos seguintes métodos:

1. manutenção das superfícies do concreto constantemente úmidas, através de irrigação


periódica (ou até mesmo por inundação do concreto), após a pega;
2. recobrimento das superfícies com sacos de aniagem, areia, palha, sacos de cimento
mantidos constantemente úmidos;
3. aplicação de aditivos (agente de cura).

Enquanto não atingir endurecimento satisfatório, o concreto deverá ser protegido contra
agentes prejudiciais, tais como mudanças bruscas de temperatura, secagem, chuva forte,
água torrencial, agente químico, bem como contra choques e vibrações de intensidade
tal que possa produzir fissuração na massa do concreto ou prejudicar a sua aderência à
armadura. A proteção contra a secagem prematura, pelo menos durante os 7 primeiros dias
após o lançamento do concreto, aumentado este mínimo quando a natureza do cimento o
exigir, poderá ser feita mantendo-se umedecida a superfície ou protegendo-se com uma
película impermeável. O endurecimento do concreto poderá ser antecipado por meio de
tratamento térmico adequado e devidamente controlado, não se dispensando as medidas
de proteção contra a secagem.

Todo processo de cura deve ser contínuo, evitando-se processos intermitentes.

Pode-se afirmar que, quanto mais perfeita e demorada for a cura do concreto, tão melhores
serão suas características de resistência, de impermeabilidade de durabilidade e outras
mais.

11.6 - RETIRADA DAS FORMAS E DO ESCORAMENTO

Recomendações da NB1 (item 14.2):

A retirada das formas e do escoramento só poderá ser feita quando o


concreto se achar suficientemente endurecido para resistir às ações
que sobre ele atuarem e não conduzir a deformações inaceitáveis,
tendo em vista o valor baixo de Ec e a maior probabilidade de grande
deformação lenta quando o concreto é solicitado com pouca idade.

Se não for demonstrado o atendimento das condições acima e não se tendo usado cimento
de alta resistência inicial ou processo que acelere o endurecimento, a retirada das formas
e do escoramento não deverá dar-se antes dos seguintes prazos:

- faces laterais: 3 dias;


- faces inferiores, deixando-se pontaletes bem encunhados e convenientemente
espaçados: 14 dias;
- faces inferiores, sem pontaletes: 21 dias.

11.7 - PRECAUÇÕES

A retirada do escoramento e das formas deverá ser efetuada sem choques e obedecer a
um programa elaborado de acordo com o tipo da estrutura.

alfamacursos.com.br 65
Estrutura em Concreto Armado

11.8 - EXERCÍCIO PROPOSTO

1 - Qual o objetivo da vibração no concreto?


_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________

alfamacursos.com.br 66
Estrutura em Concreto Armado

Capítulo 12 - Alvenaria Estrutural

12 - ALVENARIA ESTRUTURAL

Figura 56

Fonte: Google imagens.

Provavelmente já sabe o que é alvenaria estrutural, mas talvez ainda não tivesse percebido
isto. É o mais antigo sistema construtivo usado pela humanidade. Nos tempos bíblicos,
o pessoal da Babilônia já construía com tijolos de barro seco ao sol, os antigos egípcios
usavam alvenaria de pedra, e na Idade Média foram construídas pontes e catedrais que
estão de pé até hoje – e provavelmente ainda estarão por lá durante muitos séculos.

Mais recentemente, na era da industrialização na construção civil, a alvenaria estrutural


está em uso há mais de um século. No Brasil, existem edifícios com mais de 30 anos, cuja
estrutura foi executada usando blocos de concreto. Em termos de edifícios públicos, temos
os prédios antigos da Universidade Mackenzie, feitos com tijolos de barro e construídos há
cerca de 100 anos.

Mas o que diferencia uma alvenaria comum de uma estrutural? A função básica de uma
alvenaria comum é a vedação (ou fechamento), enquanto que a alvenaria estrutural
substitui dois principais sistemas de uma construção: a estrutura de concreto armado e os
fechamentos de alvenaria. Portanto, na alvenaria estrutural as paredes da edificação são
também a estrutura que suporta todas as cargas: além do peso próprio, também das lajes,
coberturas e carga, além de fatores externos como o vento.

Um exemplo bem comum de alvenaria estrutural são os “sobradinhos” de dois pavimentos


construídos aos milhões por aqui, onde as lajes de piso e de forro apoiam-se diretamente
sobre a alvenaria ou sobre uma pequena cinta de concreto armado, enquanto que as
paredes se encarregam de transportar as cargas para o solo, através dos baldrames
apoiados em sapatas corridas ou pequenas estacas (“brocas”).
Este tipo simples de construção evoluiu bastante, atualmente é possível construir edifícios
de vários pavimentos com o mesmo princípio de funcionamento estrutural.

a) Vantagens:

As vantagens mais imediatas da alvenaria estrutural são a redução de custo e o menor


prazo de execução. Estes fatores são muito bem-vindos num mercado imobiliário que
está cada vez mais competitivo. Atualmente o preço de venda de um imóvel não é mais
determinado por seus custos, mas sim pela capacidade financeira dos compradores,
portanto a construção precisa ser o mais econômica possível.

Já vai longe o tempo em que o preço final de venda de um imóvel era calculado colocando-
se uma porcentagem sobre o custo da obra. Agora, é preciso encontrar uma solução
técnico-econômica que nos permita, uma vez definida o preço de venda, ter lucro para
cada empreendimento em particular.

É neste contexto que aparecem as vantagens da alvenaria estrutural, por ser a maneira

alfamacursos.com.br 67
Estrutura em Concreto Armado

mais simples, rápida e barata de se construir. É claro que não pode ser usada para todo
e qualquer tipo de edifício, mas tem se mostrada competitiva até para edifícios de vários
andares, conforme vemos a seguir.

b) Onde deve ser usada?

A evolução experimentada pelo sistema, em especial no cálculo estrutural, na técnica


construtiva e nas transições, a alvenaria estrutural hoje pode ser utilizada numa ampla
gama de obras como, por exemplo:

• Imóveis residenciais – a alvenaria estrutural pode ser usada tanto para fazer
casas isoladas como para conjuntos habitacionais de sobrados e para prédios de 3
a 20 pavimentos, com ou sem subsolos.
• Imóveis comerciais – prédios de escritórios pequenos e médios, consultórios,
escolas, hospitais de até 20 andares, sem falar dos salões comerciais e industriais
de pequeno e médio porte, e de prédios públicos como igrejas e auditórios.

A limitação fica por conta de prédios com poucas paredes (muitas fachadas de vidro ou
com divisórias internas móveis). Também deve ser evitada em edifícios onde as paredes
não são planejadas, para permitir liberdade de modificações nas divisões internas.

alfamacursos.com.br 68
Estrutura em Concreto Armado

12.1 - EXERCÍCIO PROPOSTO

1 - Quais as vantagens mais imediatas da “alvenaria estrutural”?


_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________

alfamacursos.com.br 69
Estrutura em Concreto Armado

Respostas dos exercícios

CAPÍTULO 1

1 - Pasta --> cimento + água.

Argamassa --> pasta + agregado miúdo (areias).


Concreto Simples --> argamassa + agregado graúdo (pedras e ou seixos).
Concreto Armado --> concreto simples + armadura.

CAPÍTULO 2

I - Vantagens do concreto armado:

- Econômico – matéria-prima barata, principalmente a areia e a brita.


- Não exige mão de obra com qualificação.
- Equipamentos simples para preparo, transporte, adensamento e vibração.
- Moldagem fácil.
- Resistência:

• ao fogo;
• as influências atmosféricas;
• ao desgaste mecânico;
• ao choque e vibrações.

- Monolitismo da estrutura.
- Manutenção e conservação – durabilidade.
- Relativa rapidez de construção.
- Aumento de resistência à compressão com o tempo.

II - Desvantagens do concreto armado:

- Peso próprio elevado – (massa específica)γc = 25 kN/m³ ( 2500 kgf/m³).


- Menor proteção térmica.
- Reformas e demolições - trabalhosas e caras.
- Exigência construtiva - precisão no posicionamento das armaduras.
- Fissuras inevitáveis na região tracionada.
- Construção definitiva.

CAPÍTULO 3

1 - Laje é um elemento plano, bidimensional, cuja função principal é servir de piso ou


cobertura nas construções, e que se destina a receber as ações verticais aplicadas, como
de pessoas, móveis, pisos, paredes, e os mais variados tipos de carga que podem existir
em função da finalidade arquitetônica do espaço físico que a laje faz parte.

CAPÍTULO 4

1 - São aquelas que variam de intensidade de forma significativa em torno de sua média,
ao longo da vida útil da construção. São classificadas em diretas, indiretas e dinâmicas.

CAPÍTULO 5

1 - A resistência do concreto à tração varia entre 8 e 15 % da sua resistência à compressão.

CAPÍTULO 6

alfamacursos.com.br 70
Estrutura em Concreto Armado

1 - Define-se retração como a diminuição de volume do concreto ao longo do tempo,


provocada principalmente pela evaporação da água não utilizada nas reações químicas de
hidratação do cimento.

CAPÍTULO 7

1 - Vergalhão/arame.

CAPÍTULO 8

1 - Os estádios podem ser definidos como os estágios de tensão pelo qual um elemento
fletido passa, desde o carregamento inicial até a ruptura.

CAPÍTULO 9

1 - É o estado em que há uma grande probabilidade de iniciar-se a formação de fissuras


de flexão. Este estado ocorre quando a tensão de tração máxima na seção transversa for
igual à resistência à tração do concreto na flexão.

CAPÍTULO 10

1 - Além de possibilitar o cálculo integrado de um pavimento, o processo de analogia


de grelha permite ainda que, fazendo-se apenas pequenas modificações em um mesmo
conjunto de dados, se analise um mesmo pavimento em diferentes situações de esquema
estrutural, propiciando desta maneira, ao projetista, rapidez na definição do sistema
estrutural mais adequado a ser utilizado.

CAPÍTULO 11

1 - O adensamento tem como objetivo obrigar o concreto a preencher os vazios formados


durante a operação de lançamento, eliminando as locas e retirando o ar aprisionado. Os
processos de adensamento podem ser manuais e mecânicos.

CAPÍTULO 12

1 - As vantagens mais imediatas da alvenaria estrutural são a redução de custo e o menor


prazo de execução.

alfamacursos.com.br 71
Estrutura em Concreto Armado

Referências

ABCP, Associação Brasileira de Cimento Portland. Guia básico de utilização do Cimento


Portland. São Paulo: ABCP, Boletim Técnico BT-106, 2002. 27p.

ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas. Concreto: Procedimento para moldagem


e cura de corpos de prova, NBR 5738. Rio de Janeiro: ABNT, 2003.

________, Associação Brasileira de Normas Técnicas. Concreto: Ensaio de compressão de


corpos de prova cilíndricos, NBR 5739; Capítulo 2 – Fundamentos do Concreto Armado 28.
Rio de Janeiro: ABNT, 1994.

________, Associação Brasileira de Normas Técnicas. Projeto de estruturas de concreto:


Procedimento, NBR 6118. Rio de Janeiro, ABNT, 2003, 170p.

________, Associação Brasileira de Normas Técnicas. Argamassa e concreto: Determinação


da resistência à tração por compressão diametral de corpos de prova cilíndricos, NBR 7222.
Rio de Janeiro: ABNT, 1994.

_________, Associação Brasileira de Normas Técnicas. Barras e fios de aço destinados a


armaduras para concreto armado, NBR 7480. Rio de Janeiro: ABNT, 1996. 7p.

_________, Associação Brasileira de Normas Técnicas. Concreto - Determinação dos


módulos estáticos de elasticidade e de deformação e da curva tensão-deformação, NBR
8522. Rio de Janeiro: ABNT, 2003.

_________, Associação Brasileira de Normas Técnicas. Concreto para fins estruturais –


Classificação por grupos de resistência, NBR 8953. Rio de Janeiro: ABNT, 1992. 2p.

_________, Associação Brasileira de Normas Técnicas. Concreto - Determinação da


resistência à tração na flexão em corpos de prova prismáticos, NBR 12.142. Rio de Janeiro:
ABNT, 1991.

_________, Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6120: Cargas Para o Cálculo
de Estruturas de Edificações. Rio de Janeiro: ABNT 1980.

BAUER, L.A.F. Materiais de construção. São Paulo: Livros Técnicos e Científicos S.A., 1979.
529 p.

CAMARGO CORRÊA CIMENTOS. Catálogos. Disponível em: http://www.cimentocaue.com.


br/. Acesso em set. 2006.

GERDAU. Catálogos. Disponível em: www.gerdau.com.br. Acesso em out. 2002.

LEONHARDT, F., MÖNNIG, E. Construções de Concreto. Rio de Janeiro: Interciência,


1977/1978.

MEHTA, P.K.; MONTEIRO, P.J.M. Concreto: estrutura, propriedades e materiais. São Paulo:
Ed. Pini, 1994. 673 p.

PFEIL, W. Concreto armado. 5ª ed. Rio de Janeiro: Editora Livros Técnicos e Científicos,
1989.

SOUZA, V. C. M.; CUNHA, A. J. P. Lajes em Concreto Armado e Protendido. Niterói: EDUFF,


1994.

TIMOSHENKO, S. P.; GOODIER, J. N. Teoria da Elasticidade. Rio de Janeiro: Editora


Guanabara Dois, 1980.

alfamacursos.com.br 72
alfamacursos.com.br

Você também pode gostar