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BIBLIOTECA PEOAC(lc;ICA BRASILEIRA
Série s•.. * B R A S I L I A N A * Vol. 256
OLIVEIRA VIANA
DA ACADEMIA BRASILEIRA
PROBLEMAS
DI
POLITICA OBJETIVA
I. O problema da revisão
II. O problema da liberdade
III. O problema dos partidos
IV. O problema do govêrno
V. O problema da nacionalidade
/ '
1 9 47
Impresso nos Eatedos Un:dos do Bresll
Printed ln the Unlted Stetes of Brezll
Je suis le premier à rechercher
les constructions juridiques,· mai,
encore faut~il qu'elles soient une syn-
th~e de la réalité; sinon elles sont
une pure opération de l'esprit, elle1
ne répondent à rien, elles sont sam
valeur, comme sans utilité,
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DuoUIT.
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PREFACIO A 2.ª EDIÇÃO
duia:
- "Algum escrito·res e jornalistas dos gover--
nismo~ reaciondrios '<1.plaudiram e ainda acentua-
ram mais as idéias anti-democrdficas do sr. Olivei-
ra Viana, no seu recente livro Problemas de Polf ·
fica Objetiva. 'J:ste,s publicistas são aproveitadores
de ocasião. Mas, o ·sr. Oliveira Viana tem valor
próprio, tein admiradores em todo o pai~ e a8sim
a sua influência poderá ser perigosa, si a op,'nião
liberal do país não mostrar desde logo o êrro, a
falta de fundamento das suas asserções",
Medeiros de Albuquerque, que fazia então u
crlfica do Jornal do Comércio, foi men,os t1evero na
apreciação do livro. Concordou com muita coü:a
Problemas de Política Objetiva 19
IV
Entretanto, o Jornal do Comércio não tinha
razão. tle, que, com a sua habitual segurança de
informações e de critica, sempre teve razão em
tudo, no meu caso e no caso do meu livro não ,r
· tinha, de modo algum.
Concordo que me qualifique de anti-federalis-
la e de anti-parlamentarista - e aceito com honra
e mesmo orgulho o qualificativo. Não, porém, .J~
Pnti-liberal, nem de anti-democrático. Não so11
uma coisa, nem outra. Sou justamente o oposto
disto. ·
Não pode realmente ser anti-democrátiro
quem, em O idealismo da Constituição, dado à pu-
blicidade em 1924, já dizia, no prefácio à edição
de 1927, depois de dividir as democracias moder-
nas em democracias de opinião organizada e de-
mocracias sem opinião organizada:
- "Não há maior ilusão do que supôr que no
Brasil exista uma opinião organizada. tste volu-
me, nos vários capltulos de que ,e compõe, visfl
. iustamente demonstrar esta tese. Ora, um rlN
20 Oliveira Viana
,V
OLIVEIRA VIANNA
·r 'Dezembro de 1945.
Alameda São Boaventura, 41.
'f11it~;•
•
·,
I PARTE
O PROBLEMA DA REVISÃO
Cap. I : O aentido nacional da revi.aio
Cap. II: O problema da revisão ·e a luta contra o
espírito de facção
Cap. III: .Alberto Torres e o problema. da l'ffiaão
•
,
CAP1TULO I
n
O primeiro dêsses preconceitos a rever é aqnê ·
. le que poderemos chamar - o preconceito da su-
perioridade civica dos oposicionistas sôLre l '$ que
eventualmente estão no poder. tsse preconceito
é que leva os que combatem uma dada situação e
estão fóra do poder a se julgarem sempre os úni-
cos cidadãos capazes de "salvar a pátria"; não pas-
30 Oliveira Viana
'I'
Pr~blemas de Polftica Objetiva 33
IIl
·~
Problemas de Polltica Objetiva 35
pede, sem dúvida, para governadores ou presiden
tes, verdadeiras capacidades de estadistas.
Para uma execução fiel e integral do regimen
,·igente, seria, pois, absolutamente necessário qu(',
ao aparecer no govêrno da Nação o "grande ho-
mem•• providencial, provessem logo os fados a
coincidência feliz de aparecerem nos govêrnos dos
Estados outros homens também da mesma molda-
gem e tipo. Do contrário - dada a difícil transpo
nibilidade das barreiras com que a Constiluitíío de-
fende as autonomias estaduais contra as incursõe1
do Poder Federal - o homem notável, que o a.caso
fizesse subir à presidência da República, pouca coi.
sa poderia fazer para evitar os abusos daquêle~
governadores que tivessem o mau gôsto de não
quererem ser, como êle, também grandes homens.
Foi o que aconteceu no quatriênio W enceslau Braz,
em que vimos o presidente da República, para pôr
termo digno à luta inominável do Contestado, tep
que se submeter à humilhação' de parlamentar
com dois oligarcas estaduais, como se fôssem dois
soberanos ...
E' verdade que hoje as coisas já se passa111
diferentemente. Em vez do presidente da Repú·
blica parlamentar com os oligarcas, são êstes que ,
parlamentam com o Presidente. Mas, isto é umn
evolução, que se está operando contra a Constitui
ção e o seu espírito - e não segundo ela . .. (5)
Não é só. Como são vinte os Estados, teria·
mos que um quatriênio presidencial, realmente "r«>•
36 Oliveira Viana
1 '
Problemas de Polltica Objetiva 37
III
•
Oliveira Viana
•
CAP~TULO II
J
Há ainda muita gente em nossa terra. que nãrJ
pode compreender uma reforma da Constituição
sem que seja no sentido parlamentarista. O regí -
men democrático representativo só lhe aparece
,ob essas duas modalidades, únicas e alternativas:
-- ou o presidencialismo da Constituição vigente,
o·
ou parlamentarismo da Constituição do Império.
Não há meio termo, não há variante, não há tem-
peramento possível. Ou ficamos no presidencialis-
44 Oliveira Viana
II
.
~
J
Problemas de Polftica Objetiva 47
'
50 Oliveira Viana
III
III
O problema central da obra revisionista há -ic
ser, pois:
a) ou investir o Poder Judiciário, tornado ex-
clusivamente federal, de uma fôrça e de uma 911
tonomia, estendidas até ao máximo das suas pos·
sibilidades; ou
.b) criar um quarto poder/tal como o antigo
Poder Moderador, que, sendo vitalício também,
tenha, entretanto, o direito de iniciativa, que o Po-
der Judiciário não tem.
Em suma: ou isto ou qualquer outra coisa qce
represente um centro de fôrça, de natureza essen-
cialmente político; mas, completamente fóra ele
qualquer atinência ou dependência como os gm-
pos partidários. tste centro de fôrça. cu.f II ne-
cessidade todos sentimos, seria organizado de ma·
nPira tal que pudesse agir direta e espontâneamen-
te, e com eficiência imediata quando se fizes41,~ pre-
c~Ro, sôbre os grupos, as facções, os clãs, neutrali .
za·n do-lhes a influência e a nocividade na vida nrl
ministrativa do.pais (11)
Singular contradição I Há mais de um século.
dPsde a Independência, estamos a proclamar, er.!
tCldos os ton, e em todos os ritmos, que o que nos
anarquiza, a causa de todos os nossos males, de to•
do nosso atraso e dissolução é a "política", são os
corrilhos, as facções, os grupos, os campanários ,1<'
Problemas de Polliica Objetiva 55
,·
•,
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58 Oliveira Viana
lítica nacional. 1
Estávamos então sob o consulado do generaJ
1
Pinheiro Machado. Nos conselhos superiores 11:l
direção política do país, dominavam -- não pel-• 1
número, mas pelo prestígio - remanescentes dos 1
II
II
Nestas pequen':ls alterações, como naque1R'-'
grandes alterações, o que líá de notável é que AI-
64 Oliveira Viana
m
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IV
,- V
VI
.:.
Realmente, Tôrres viu com clarividência o pro-
blema. :tle sentiu, há vinte anos, o que hoje todo
o mundo está sentindo: que tudo, na nossa atua-
lidade, está impondo a criação de um centro po-
deroso qualquer de fixação, de estabilização, de
~oordenação da nossa vida política. Qual seja êle;
como se deve organizar; que estrutura e forma
76 Oliveira Viana
VII
VIII
.1
I
!
Problemas de Polltica Objetiva 81
I
/
II PARTE
O PROBLEMA DA LIBERDADE
Cap. IV: O problema da liberdade civil e a organl.
zação da justiça.
Cãp. V : O conceito pragmático da liberdade política.
Cap. VI: Liberdade ou nacionalidade?
•
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I
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CAPITULO IV
..
Problemas de Polltica Objetiva 89
II
90 Oliveira Viana
III
,
CAP1TULO V
n
No Haiti do tempo da liberdade, não havia
propriamente govêrno - porque, como observa o
f
100 Oliveira Viana
~
comunicações - porque não existi11n1 estradas;
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1.
Problemas de Política Objetiva 101
III
1
IV
LIBERDADE OU NACIONALIDADE?
n
O i)reconceito da liberdade local, ou melhor,
e,p1'4" :on1~eito de que o poder central, a subordi-
nação ao centro nacional do govêrno era um mal·
110 Oliveira Vz'ana
DI
Realmente, só delirantes paranoicos ou cegos
às realidades ambientes poderiam supor possível o
$e[f-government no Acre ou no Triângulo.
O Acre era por aquêle tempo uma sociedade
instável, incoerente, desorganizada, de estrutura
rudimentar. Faltava-lhe então - como lhe falta
ainda - êsse enquadramento de classes, que ca-
racteriza as sociedades estabilizadas e definitiva-
mente constituídas. Tinha então uma fisionomia
112 Oliveira Viana
I '
114 Oliveira Viana
IV
VI
•
III PARTE
...
•
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CAP1TULO VII
I
Em relação ao problema das plataformas, os
0
~ liticos argentinos, que formam o partido dos an•
t~-personalistas, adotaram um processo que mere-
cia ser adotado entre nós. Para êsse grupo de po-
1·1 r
lcos, as p]ataformas passaram a ser do partido
- e não do candidato. E' o partido que traça ao
candidato o seu programa de ação, as diretrizes
do seu govêrno, o que êle deve fazer e o que não
deve fazer, se fôr eleito; em suma - a sua plata-
forllla.
128 Oliveira Viana
II
Os artigos relativos à organização econômica
da Argentina, principalmente os relativos à sua
economia rural, são numerosos. Os anti-persona-
listas argentinos querem instituir um regime pro-
tecionista para as indústrias argentinas; para isto
propõem uma reforma radical na organização ta-
rifaria atual. Pretendem também fomentar o de-
senvolvimento da pequena propriedade e promo-
ver a revisão da lei do "homestead", o auxílio às
cooperativas de produção e de crédito e a funda-
ção de um Banco Agrícola. Querem ainda "uma
lei geral de expropriação das terras, adjacentes às
estações ferroviárias, rios e canais navegáveis, pa-
ra serem parceladas e entregues à colonização" -
medida a que também nãm deve ser indiferente
a atenção -dos nossos homens de govêrno.
Não são êstes os únicos artigos de caráter eco-
nômico contidos ,na plataforma anti~ersonalista.
Há nela também sugestões relativas à defesa co-
mercial do pais e, entre estas, uma aparece, rela-
tiva à fundação de mercados no estrangeiro para
a venda dos produtos argentinos, digna de figurar
numa plataforma de candidato em nosso pais. Ou-
tra sugestão também aparece no sentido de ser
constituído um fundo especial destinado à execu-
ção de um plano orgânico de aproveitamento das
águas do interior do pais. E outras tendentes à
130 Oliveira Viana
III
IV
O sistema argentino tem mais esta vantagem
inestimável que o nosso de modo algwn pode pos-
suir: aumenta a fôrça de resistência do candidato
eleito. ll!ste, colocado na posição de simples exe-
cutor individual do pensamento do grupQ, fica com
· maior poder para exigir dos seus correligionários
que o .não embaracem na execução do seu progra-
ma. que outra coisa não é senão o programa do
partido, elaborado coletivamente pel•is próprios
correligionários.
Num ensaio sôbre "O papel dos governos for.
tes no regime presidencial .., já havíamos acentua-
do êste pen-sarnento e demonstrado que o grande
problema moral que os homens de govêrno em
nosso pais têm que resolver quotidianamente -
para a .execução de um programa honesto de ad•
ministração política - é justamente a resisténcia
aos amigos, aos companheiro,s, aos correligionários.
ll!stes é que perturbam tudo; que corrompem tudo;
Pt"o blemas de Politica Objetiva 133
IV
.Nos Estados Unidos, o que ,se passa não é coisq
·-
154 Oliveira Viana •
diferente. O grosso da massa eleitoral não está
organizado dentro de quadros partidários -rijos, à
• maneira nossa. Tem, ao contrário, uma liberda-
de de movimentos, que para nós é pouco com.
preensivel.. E' a ela que os "politioos" ("poli ti,
cians") dirigem-se, pondo-se à sua descrição para
-servi-la nas suas aspirações, nos seus interêsses.
nos seus ideais: quando a procuram em pro pa·
ganda, êles não lhes levam idéia,s, a que ela deva
dar a sua adesão; ela é que ,impõe a êles as suas
· idéias. Porque, ali as "máquinas" ("partidos",
como chamamos aqui) exercem um papel pura-
mente passivo: são simples "aparelhos registrado-
res" - como observa André Siegfried, num dos
seus notáveis livros:
- "Os partidos, as "máquinas" - diz êle -
não são senão mecanismos sem inieiativa e sem
vida, com o objetivo da conquista do poder: o
seu funcionamento permanece incompreensível se
não levarmos em conta o fato de que êles são es-
tritamente passivos, destituídos de tôda aptidão,
mesmo de tôda vontade criadora e comparáveis a
u·m aparêlho registrador,. (4).
Os grupos sociais, que visam objetivos idea-
listas ou de classe - os "comités", as "ligas", as
"associações", etc. -quando se utilisam dêstes par-
tidos ("maquinas") e dos políticos profissionais
(4) Slegrled (A.) - Les Stats-Unis d'au/ourd'hul, Paria,
1928, pág. 2H,
Problemas de Polfiica Objetiva 155
VI
Estas campanhas, estas caravanas, se nada va.
lem para o objetivo imediato da conquista de vo-
tos, não devem, entretanto, ser consideradas como
movimentos de puro idealismo, vistosos, teatrais,
mas inúteis, sem nenhuma utilidade prática.
Em primeiro lugar, conduzidas com per8_istên.
cià, continuidade, tato, elas acabarão por ter sôhre
as nossas massas do interior uma influência bene-
fíca: acabarão por desintegrar e dissociar - len•
tissimarnente, já se vê - os elementos desta tra-
dicional mentalidade'de clã acima descritos. ~stes
homens acabarão compreendendo, afinal, por uma
dilatação insensível do seu horizonte intelectual,
que, acima ou ao lado do seu tradicional apôio
pessoal a um chefe, a um caudilho, a um homem,
há outras coisas também dignas de apôio e que
podem também dividir os homens: idéias, progra-
mas, compromissos, planos Qe govêrno e de admi-
nistração. E sentir-se-ão naturalmente maiores,
mais confiantes,· mais seguros de si mesmos e dll
Problemas de Politica Objetiva 159
VII
.
.
Problemas de Politica Objetiva 163
•
Foi o que compreenderam inteligentemente os
dicigentes atuais da Rússia Soviética. Êles dão às
associações locais de: classe grande importância. O
espírito solidarista está sendo ali vigorosamente
estimulado pelos emissários vindos de Moscou. O
movimento cooperativista é intensíssimo nas ai.
deias. Cêrca de 25% da população rural da Rús-
sia, segundo Karl Borders, está presentemente sob
o regime cooperativista:
- "As sociedades cooperativas de produtores
e consumidores - diz êle - já fortes antes da Re-
volução, têm sido estimuladas e crescem vigorosa-
mente, abrangendo nos seus quadros mais de 25%
da população rural" (10).
Há atualmente cêrca de 20.000 dêsses grupos,
dessas "cooperativas", dessas "uniões", em suma,
dessas associações de classe. Elas, porém -- e é
isto que é preciso acentuar - não restringem · a
sua ação ao puro campo dos interêsses econômi-
cos; estendem-na também ao campo dos interêsses
públicos. São entidades vivazes, que intervêm na
administração local e influem nos comícios elei-
toraás. Princip~mente, sãío os órgãos mais ati-
vos de sugestões, reclamações, protestos, críticas
contra a ação administrativa do govêrno central.
Entretanto, tais incursões ao campo político da
parte destas comunidades e associações locais -
"cooperativas" de produtores e consumidores;
164 Oliveira Viana
VIII
'
Entre nós, êstes "conselhos de homens bons",
de que fala Wilson, pelas condições particulares
da nossa própria formação social não se puderam
constituir (13) - e estarão fora, ainda J>"l' muito
tempo, das possibilidades da nossa evolução poli,
tica: não vale a pena pensar nêles. Há, entretan-
to, probabilidades de que possam encontrar - à
maneira da Rússia - sucedâ,neos, de natureza qua-
se análoga nas associações locais de classe urbanas
e rurais: - Centros Industriais; Associações Co.
merciais; Sociedades Agrícolas; Sindicatos Agríco.
las ou Comerciais; Cooperativas Rurais de qual-
quer tipo.
Estas or~anizações de classe 'já existem em vá.
rias regiões cio pais; mas, evoluindo e progredindo
com uma lentidão incompatível com as tendência&
do mundo moderno, ou mais propriamente: com
as .nossas necessidades de adaptação às tendências
cio mundo moderno (14).
Ora, alta e fecunda missão seria para os pro,
pagandistas de "campanhas~ eleitorais e para os
(13) v. Populações Meridionais do Bruil cap. IX e XV.
(14) Cfr. Graham Wallas - Human nature in politics, Lon-
dres, 1924; Rol,ert Michels - Les partis politiques, Paris, 1910;
Walter L!ppmaan - Public , Opinion, N. Y., 1922; - Th e phan.•
tom Public, N. Y. 1930; Charles Merrlan - New sspects of
JJOlitics, Chicago. 1925; - Systematic politl~. Chicago, 19-4,;
Klmball Young - Source-book for social psycologlgy. N. Y., 1927.
cap. X-XXVII.
166 Oliveira Viana
oradores de "caravanas". políticas estimularem,
com a sua palavra e com seu esfôrço, a aparição
e o desenvolvimento destas instituições de solida-
riedade econômica e social em todos os lugares
do interior por onde deixassem os sinais das suas
sandálias. :t;!Ies teriam feito com isto, n, , sentido
da organização e da realização da democracia em
nosso país, principalmente de um "govêrno do povo
para o povo", obra infinitamente mais eficiente e
fecunda do que a que possa resultar da fôrça re-
generadora de mil discursos eloquentes.
E' o que que se verá nos quatro capítulos se-
guintes, consagrados ao estudo do papel que cabe
aos Conselhos técnicos nos governos modernos.
IV PARTE
O PROBLEMA DO GOVtRNO
Cap. X Os comelhoa técnicos nos governoa mo-
derno• (Evolução européia).
Cap. XI Os conselhos técnicos noa govemoa mo-
derno• (Inglaterra, França, Itália, etc.).
Cap. XII Oa cmi.elhoa técnic:oa noa govemoa mo-
derno. (Brasil).
Cap. Xlll: O. conaelho1 técidcot noe ,overnoa mo-
demos (Brasil).
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CAP1TULO X
III
Dai a rápida proliferação dessas corporações
de técnicos, de peritos, de profissionais que, com
IV
\
Problemas de Política Objetiva 179
tema que se engenhe para a formação dêle. Sou um cético nêste
particular e, não agora, mas há muito tempo e em vários livros,
já manifestei êste meu ceticismo.
Dai a dlsplic~ncia com que estou observando o largo lnte-
rêsse dos eminentes membros da sub-comissão ao procurarem re-
solver o problema do melhor processo para a organização da fu,
tura Assembléia Nacional. E stou pronto, por isto mesmo, a dar
o meu voto a qualquer solução que obtenha o sufrágio da 'maioria
da sub-comissão. Já em sessão. anterior, eu me havia declarado
a favor de um número mínimo de deputados para os Estados,
número que seria de 4 com um máximo que não poderia ultra-
passar 25 - e pensava assim conciliar os interêsses dos grande<!
e pequenos Estados com os interêsses, não menos importantes, do
T esouro Nacional. que não devem ser sacrificados com o custeio
desnecessário de uma assembléia multo numerosa.
Considero o Parlamento, modernamente, um dêsses luxos ca-
ros, que as democracias bem organlzad1\s ntlo riorlrm deix:1r de
cultivar, e que, por Isto, devem cultivá-lo moderadamente. Com
o advento da colaboração dos conselhos técnicos e das classes or
ganlzadas na obra administrativa do Estado e com a ampliação cada
vez mais crescente da Iniciativa legislativa do Poder Executivo.
os Parlamentos - ou como órqãos representativos da opinião das
massas, ou como órgão de elaboração das leis - perderam muito
da sua primitiva Importância nos sistemas politicos contemporâ-
neos. Os grandes problemas que temos de resolver não são estes
- da eleição e da composiçlío do Legis/at;vo; são os de organi-
zação do Tudiciário; silo os da organizaçlío do órglío supremo mo-
derador de todos êstes poderes.
Como o sr. Presidente Antonio Carlos propõe uma fórm ula,
em que se estabelece um mlnlmo fixo de 200 deputados, eu vota-
ria Por esta fórmula, tal como está, Isto é, com um número fixo
e Igual de deputados para cada Estado e um número variável,
eleito segundo a proporção das massas eleitorais de cada um.
Que a eleição desta parcela variável se faça pelo voto individual
ou pelo voto proporcional confesso que é, para mim, indiferente;
porque, como Já disse, seja qual fõr o critério eleitor21l adoptado
o resultado futuro não será diferente dos resultados anteriores
e os futuros deputados, sejam eleitos pela N ação, ou sejam ..lei-
'• tos pelos Estados, continuarão a ser, como sempre, representantes,
antes de tudo, dos seus distritos.
· Votei pelo sistema proporcional. corno votaria por qualquet
outro sistema eleitoral. O Brasil é uma cobaia admirável pela dod•
lidade e pela receptividade - e não será mal que façamos mais
uma experiência, a ajuntar a tantas outras que já temos feito.ft
.,,
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.
~ '
.,
CAPITULO XI
i
j
Problemas de Polltica Objetiva 187
CAPITULO XII
II
No velho mundo, e
no momento presente, o
processo de elaboração legislativa - já o demons,
tramos largamente em páginas anteriores - é di-
ferente do nosso. Há os ministérios, há os parla-
mentos, sem dúvida; mas êstes ministérios e êstes
parlamentos não agem sós, não se isofam, não tra-
balham em reserva, como conclaves de cardeais;
não fazem obra sua, exclusiva; buscam o contato
com as classes, aceitam ou pedem a colaboração
delas. O que resulta dai - a lei, o rf'gúlamento, o
serviço, - é sempre uma expressão d11 realidade,
uma .conciliação dos dois pontos de vista - o do
govêrno e o do povo: uma obra de adequação e
adaptação, em suma, uma entidade viva, atuante,
orgânica, circulada da seiva das neces~idades cole,
tivas.
. Entre nós, não. Os homens que estão no po·
der trabalham sem o menor contato eom o povo,
com as classes, ou diretamente, ou por meio dos
1
198 Oliveira Viana
I
Realmente, não ficamos insensíveis a essa bela
~volução operada nos centros de maior cultura
206 Oliveira Viana
-~
.J
Problema.8 de P.olltica Objetiva 2011
II
III
IV
V
tstes, os grandes Conselhos, órgãos consulti-
vos da União e dos poderes federais. Mas, não
VI
Há, portanto, dois movimentos a operar no
sentido de dar às nossas instituições legislativas e
administrativas uma feição pragmática, que torne
possível o estabelecimento de um verdadeiro regi·
Problemas de Polltica Objetiva 223
O PROBLEMA DA NACIONALIDADE
Cap. XIV : O problema do Nordeste e a mentalidade
daa elitea políticas.
Cap. XV : O sentido nacionalista ela obra de Alberto
Torrea..
CAP1TULO XIV
(1) Cfr. Roquete Pinto - Seixos rolados, Rio, 1927, pág. 8S,
Julio Paternostro - Viagem ao Tocantins, São Paulo, 1945; Ly-
slas Rodrigues - Roteiro do Tocantins, Rio, 1943; Saboia Ribei-
ro - Caçadores de diamantes, Rio, 1945. O livro de Paternos-
tro principalmente é muito informativo sôbre estas obscuras no-
dulações urbanas, improvisadas. anônimas, de vida precária na
sua maioria, e totalmente constiutidas de ptilhoças, ou com uma
alta porcentagem delas (60 a 90%) . Nos sertões do Brasil Cen-
tral, a palhoça de burití, babassú, carnaúba ou carandal é a for-
ma comum das habitações urbanas e onde se Instalam até grupos
escolares ~ outras repartições públicas.
Problemas de Política Objetiva 231
II
III
\
Problemas de Polltfra Objetiva 239
1
-~ .
IV
, · Enquanto permanecerem neste estado de es· ,;
.
pirito, é impossível que nossas elites políticas dêm . 1
aos grandes problemas nacionais, que interessam 1
à organização da base física do nosso povo, como ·
o das sêcas sertanejas, ou à organização da sua
•·
c'o seu idealismo militante na defesa exclusiva dos "sagrados di-
reitos do Homem". Faltava-lhes a consciência e o sentimento 1
dos "sagrados direitos da Coletividade" . Tinham da liberdade
humana uma compreensão puramente individualista e atomistica. -
Em pleno séc. XX viviam respirando a atmosfera do séc. XVIII, ·,
na doce camaradagem dos Encicolopedistas. . . e também dos ener•
gúmenos do. Par.tido Jacobino,
. ;,.,., .
Problemas de Polltica Objetiva 2*·'
ordem legal, como o do banditismo do interior, a
importância que êles merecem ter. Por outro la-
do, o satrapismo e o coronelismo :-- o potentado
estadual e o potentado local - são para estas eli-
tes, na sua visão daltonizada das nossas coisas e
na sua ignorância das coisas alheias, os símbolos
vivos do espírito do 1elf-government, da autono-
mia -m unicipal, das formosas liberdades l~ais, de
que tanto falam os historiadores politicos da In-
glaterra e os constitucionalistas americanos. eo.
mo se nas comunas inglesas houvesse coronéis e
houvesse sátrapas n·a América do Norte ...
Em boa verdade, todos êsses problemas se en-
cadeiam e será impossível resolvê-los de modo in.
dependente. O federalismo gera o satrapismo. O
satrapismo gera o coronelismo. O coronelismo
gera o banditismo. Enquanto sátrapas, bandidos
e coronéis vão fingindo "regime republicano" e
1elf-government -p or todo êste vasto Brasil, é claro
que não há tempo para cuidar, sêquer pensar, nem
do saneamento da terra, nem do saneamento do
homem, nem do saneamento das inteligências: pe-
la eliminação do deserto;• pela eliminação do pân-
tano; pela eliminação da ignorância.
Nenhum dêsses elementos dirigentes, princi.
paimente os das elites regionais, cheias dos mes..
mos preconceitos doutrinários que dominam a do
\
centro, vacilará em conceder dota~es orçamentá-
, "
•
244 Oliveira Viana
eleitos. I ~
]
Problema, de Politica Objetiva Zfl.l
II
.
Problema& de Polltica Objetiva 251
; .
252 Oliveira Viana
III
IV
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liankins em obra recente (3).
VI
VII
Há ainda uma outra face mais grave do pro-
blema. Em frente a nós, do outro lado do oceano,
e ao lado de nós, ao norte do continente, vivem
e crescem povos fortes, expansivos, intrépidos,
agressivos e cúpidos, crendo profundamente na
própria superioridade e hasteando bandeiras de
hnperialiSlllQ e conquista. Consclent~ da nos~
Problemas de Polltica Objetiva 265
vn
Os céticos impenitentes, os desalentados habi-
tuais, os descrentes da capacidade da nossa raça
duvidarão que essa ·a lta politica de consolidação
e vitalização nacional, que Tôrres prega, possa vir
a ser realizada, utili~ando 0:pem1as os elemenlío~
268 Oliveira Viana
VIII
ADDENDUM
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1 /
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PROGRAMA DE REVISÃO
DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE
I
Começo proclamando a minha crença na len-
tidão com que se processa a evolução das socieda-
des. Reconheço que há uma "ordem natural" para
elas; que o poder de transformação desta "or-
dem , natural", por ação da vontade consciente do,
legisladores, é muito reduzido; que será preciso,
pois, levar em conta, na elaboração da nova Cons-
tituição, a fôrça, quase sempre incoercível e in-
compressivel, dos antecedentes históricos, repre-
sentados em nossa nacionalidade pelo oonjunto de
, ( *) Este programa de revisão da Constituição de 91 ela-
borei-o atendendo a um apelo do então capitão Juarez Tavora,
em 1932, não me lembro bem a data, Os militares, que }.aviam
feito a Revolução de 30 e formavam a maioria dos soc!os
do Club 3 de Outubro, haviam subido ao poder com a ~aida do
ministro Maurício Cardoso, da pasta da Justiça, que for1 acom-
panhado neste gesto pelo seu colega Lindolfo Calor, da pasta do
Trabalho. Estes militares formavam o grupo chamado dos "tenen-
tes" e, com o rompimento de Mauricio e Colar, foram chamados pelo
Chefe do Govêrno Provisório, o Sr. Getulio Vargas, de quem
receberam todo o ,p restigio j,ossivel e postos na administração
do paiz. Tavora, por lntermedlo de um amigo comum (Alc!des
Gentil) , incumbiram-me ( não sei si por sua própria conta, ou por
delegação dos seus companheiros) de elaborar um programa de
ação, que é o que dou agora à publicidade.
Minha Impressão é que não agradou .. . Multa cousa, porém, ne-
le sugerida, como se verá, foi realizada, ou na Constituição de 34,
ou na Constituição de 37, ou na Constituição de 46, que nos
rege, - como se verá das notas feitas ao fim deste addendum pelo
meu colega do Tribunal de Contas, mlnlstro Ruben Rosa.
276 Oliveira Viana
II
Definindo assim o meu modo de compreen-
der a capacidade autonô:mica dos E~tados, é, por-
280 Oliveira Viana
'
Outra conclusão só
t
se explicaria em povos, cujo
tipo federativo tivesse o caráter de "pacto entre
Estados" - e não ,de descentralização organizada,
como deve ser o caso do nosso.
IV
Considerando que, no conjunto dos poderes ·po-
liticos criados pela nossa organização constitu-
cional, nos falta um poder político vitalício, eu
ousaria propôr a criação de um novo órgão da
soberania nacional: o Conselho Nacional (2) como
instituição de contrôle e coordenação dos outros
poderes e dos interêsses gerais, dotado de funções
deliberativas, consultivas e judiciárias, que serão
especificadas na Constituição. Entre as suas atri-
buições e f acuidades deverão estar estas:
a) resolver sôbre a intervenção do govêrno
· federal nos Estados, o prar.o e a estensão dos po-
deres desta intervenção;
b) direito de veto a certo emanados dos outros
poderes políticos;
c) oompetência para resolver os conflitos
entre os diversos poderes da União e dos Estados;
d) opinar sôbre projetos de lei, partidos, ou
da Câmara Federal ou do Poder Executivo;
t
VIII
IX
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Problema• de Polltica Objetiva 293
XIIl
XIV
XV ' '
XVI
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Problemtl8 de Polltict:t Objetiva !99
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tNDICE
pag.
Prefácio da 2.a edição ... ; . . . . . . . . . . . . . . 13
la. PARTE- O PROBLEMA DA REVISÃO
Cap. I - O Sentido Nacional da Revisão 27
ClY-). II - O problema da Revisão e a luta
· contra o espírito de facção... 43
Cap. III - Alberto Torres e o problema da
rev~ão . .. . . .. .. .. .. .. .. . .. . 59 ,
2a. PARTE-O PROBLEMA DA LIBERDADE
Cap. IV - O problema da-liberdade civil e
a reorganização da justiça . . . . . 87
Cap. V - O conceito pragmático da liber-'
dá.de política . . . . . . . . . .. . . . 97
Cap. VI - Liberdade ou Nacionalidade? · 107
3a. PARTE - O PROBLEMA DOS PARTIDOS
Cap. VII - Programas de partidos e plata-
formas de candidatos .·... . .. 127
Cap. VIII°- Base social dos partidos .•. . ~ 137
Cap. IX - Orientação pragmática das
campanhas democráticas . . . . 145
4a. PARTE -- O PROBLEMA DO GOV~RNO
Cap. X - Os conselhos técnicos nos go-
vêrnos modernos (Evolução
Européia) ... . . . . . . . . . . . . . . . · 169
Cap. XI - Os conselhos técnicos nos go-
vêrnos modernos (Inglaterra,
França, Itália, etc.) . . . . . . . . . 181
Cap. XII ~ Os conselhos técnicos nos go-
vêrnos modernos (Brasil) . . . 193
Cap. XIII- Os conselhos técnicos nos g0-
vêrnos modernos (Brasil) . . . 205
5a. PARTE-O PROBLEMA DA NACIONALIDADE
Cap. XIV - O Problema do Nordeste e a
mentalidade das elites polít icas 229
Çap. XV - O sentido nacionalista da obra
1 de Alberto Torres ..... ·. . . . . . . 246
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981.05
t732 ,
Llma, , Clau4io d• J.raujo, 1908-
Placido ele C..•tro, 1a1 oauilu oontra • lmpe•
rlallamo ••• 1952.
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1953-sss '>I V
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11
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.. : ·. 1
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Retirantes
Campo de ossadav em Jraúçuh;,
Faminto~ aglomerados na estação de lcuatu