Você está na página 1de 3

FACULDADE DE LETRAS E CIÊNCIAS SOCIAIS

DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA E ANTROPOLOGIA

LICENCIATURA EM ANTROPOLOGIA

ANTROPOLOGIA DA SAÚDE E DOENÇA

4º ANO, 1º SEMESTRE,

DOCENTES: Carla Braga & Esmeralda Mariano

DISCENTE: Etílio Simião Muchanga

Ficha de leitura

1. Introdução
Partindo da apresentação do anúncio da retirada do Dr. David L. Sackett da Medicina Baseada
em Evidências (MBE), onde foi co-fundador, os autores reflectem, neste artigo, sobre a prática
da MBE e efeitos colaterais dela decorrente. Recorrendo a literatura sobre as MBE, o artigo traça
um panorama sobre o que é MBE, discute a sua postura diante da ciência moderna, o seu modus
operandi através dos expert, o lugar dos expert na sua relação com outros domínios da saúde e
propõe algumas mudanças de orientação. As propostas visam a produção de um campo clinico
onde convergem vários saberes a mercê das pessoas e não meras questões capitalistas.

16-05-20 Página 1
2. Medicina Baseada em Evidências
2.1. O advento das MBE e a sua postura inovadora
Segundo Castiel et al (2000), a Medicina Baseada em Evidências (MBE) surge nos anos noventa
ligado ao movimento da epidemiologia clinica anglo-saxónica. Surge como uma proposta
científica que postula-se maior inclinação a obtenção da verdade epidemiológica. Para a sua
prática, apresenta os seguintes pressupostos: 1formulação de uma questão clinica clara com base
nos problemas do paciente; 2busca na literatura por artigos relevantes e por outras fontes de
informações; 3avaliação crítica das evidências; 4selecção da melhor evidência para a decisão
5 6
clinica; vinculação da evidenciada com experiência clinica, conhecimento e prático;
implementação dos achados úteis na prática clinica; 7avaliação da implementação e do
desempenho geral do profissional da MBE; 8ensino a outros médicos como praticar a MBE.
Pela introdução das novas premissas, penso eu, a MBE apresentou-se como sendo um novo
paradigma. Pela aceitação desse postulado de novo paradigma teve enorme percussão, se
expandido por várias instituições ligada a medicina. Embora tenha alcançado um lugar de
prestígio dentro da medicina pelos contributos que apresentou, principalmente em questões de
registo, a MBE sofreu grandes avaliações críticas e negação do seu posicionamento de novo
paradigma. Parte dessa crítica baseava-se no argumento de que a MBE é uma ramificação da
biomedicina, cuja operação recorre a instrumentos científicos existentes como a valorização da
ideia da objectividade (positivismo), valorização de dados quantitativos, advoga cão do rigor
fundamentado na lógica matemática, orientação por preceitos da racionalidade instrumental,
existência de um grupo de especialistas (comunidade científica) e defesa da ideia da neutralidade
científica (Castiel et al, 2000).
Outra parte da crítica a MBE está ligada a eficácia ou legitimidade da prática da MBE, isto é,
embora tenha-se declarado prática que se aproxima da verdade, os críticos a viam como
promotora de evidências incompletas e contraditórias, existência de incertezas crescentes quando
diversas técnicas estão associadas com estratégias clinicas, distanciamento da MBE das
preferências dos seus pacientes, dificuldade em transpor estudos em grupos populações para
casos particulares ou individuais, impraticabilidade da MBE em casos de emergência (Castiel et
al, 2000).

16-05-20 Página 2
2.2. Criticas evidenciadas por Dr. David L. Sackett e suas consequências
O posicionamento da MBE de ser um novo paradigma e estar equipada para o alcance da
verdade clinica, permitiu sua expansão e mercantilização que culminou com a criação dos expert
(sujeito especializado área da medicina), os quais se viam melhor posicionados para decidir em
questões clinicas nas suas áreas de especialização. Essa postura capitalista “segou” os praticantes
da MBE por desconsiderarem a validade de todo contributo que não seja MBE. Além do mais,
essa postura coloca expostos efeitos colaterais desvalorizados pelos experti, pois ser um expert
não constitui garantia da infabilidade. Como afirma o artigo, o campo biomédico é cheio de
incertezas a diferentes níveis (Castiel et al, 2000).
Essa postura de “novo” do saber por parte da MBE, de acordo com Bauman, invalide os saberes
leigos ao serem obrigados a adaptarem-se na racionalidade MBE e invalidarem seus próprios
modos de pensamento e práticas. Essa separação ou eliminação dos saberes leigos depara-se com
grandes problemas na contemporaneidade pois as questões de saúde e doença mais se revelam
não como meras questões fisiológicas. Entram, no campo da saúde e doença, dimensões, morais,
éticos, psicológicos, culturais e sociais.

3. Conclusão: Uma proposta necessária


Diante da “hegemozição” da MBE, torna claro a necessidade da reformulação dos princípios da
BEM, pois o campo da saúde e doença é polissémico e multivariado. Essa diversificação coloca
como obrigação a conjugação de diversos saberes, tanto médicos e leigos, a mercê do bem-estar
dos indivíduos. Essa necessidade aplica-se, segundo o argumento central deste artigo, para MBE
que consiste na sua abertura a novas/outras formas de pensamento. Os expertise, o plural de
expert, são limitados.
4. Referência bibliográfica
Castiel, L. et al. 2000. “Encanto e Desencanto no Reino da Expertise na Medicina Baseada na
Evidências” Cadernos de Saúde Pública, 20 (1): 204-214.

16-05-20 Página 3

Você também pode gostar