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Nome: Andrey A.R.

Carvalho

Turma: 3° B

Disciplina: Introdução á Prática de Intervenção Psicológica

 Resumo Artigo
O artigo vem com o objetivo de discutir as razões e o fenômeno de abandono da psicoterapia por
pacientes em um munícipio no norte do Espirito Santo, utilizando de entrevistas semiestruturadas e
sendo analisadas por unidades de contéudo com categorização de diálogos.

O tema de abandono da psicoterapia vem ganhando mais espaço e discussão na esfera de pesquisa
científica, com pesquisadores tentando entender a causa desse fenomêno, que é global, e que deve
ser entendido e debatido e receber novos olhares e concepções para esse tema. Segundo Lhuiller e
Nunes (2004), a definição conceitual de “ abandono da psicoterapia “ deve se referir ás situações de
desistência e interrupção do tratamento sem que haja indicação para tal ato pelo terapeuta e que
esta interrupção seria algo decisivo pela parte do cliente. Este abandono é algo que ocorre em
diferentes abordagens de tratamento ( desde psicanálise até humanista ), idades, grupos
diagnósticos distintos e que no Brasil, segundo pesquisas em clínicas-escolas ( Lhuiller, Nunes &
Horta, 2004; Campezzato & Nunes, 2007; Maravieski & Serralta, 2011 ) esse índice, de abandono, da
psicoterapia variam entre 38% e 49%.

O artigo, ao abordar a ótica profissional, está sujeito aos fatores envolvidos sobre seus processos
profissionais e terapêuticos, pois cada jum possui um estilo de abordagem, linha teórica e estilo
peculiar de atendimento, além disso, é possível ver a inevitabilidade da discussão de caracterização
de clientela, pois mesmo o abandono sendo algo universal, aspectos regionais devem ser levados
em conta.

Realizou-se uma pesquisa descritiva exploratória de caráter qualitativo, onde Vergara (2006) afirma
que o metódo de pesquisa descritiva seria o mais adequado para a intenção de estudos que
prentendem expor as características de determinado fenomêno. Para Gil (1991), a pesquisa
exploratória viria a trazer a maior familiariadade com o problema e para Menezes (2001), a pesquisa
aplicada tem como finalidade gerar conhecimento para aplicação prática dirigida á solução dos
problemas específicos.

A pesquisa ocorreu em um munícipo de 109 mil habitantes, que conta com uma unidade CAPIS II e
uma unidade CAPSad, onde um levantamento prévio identificou a presença de pouco mais de 20
psicoterapeutas. Sobre os participantes, dois são psicanalistas; um esquizoanalista e um humanista.
As idades dos participantes variam entre 26 e 36 anos, com média de 32 anos. Todos eles possuem
algum tipo de especialização, a saber: Psicologia Clínica; Psicologia da Educação; Acupuntura e
Ludoterapia; somente dois possuem pós graduação stricto sensu (mestrado e doutorado). Todos são
naturais do município estudado, atuando clinicamente na região há três anos (humanista, masculino,
26 anos); quatro (esquizoanalista, masculino, 32 anos); seis (psicanalista, masculino, 34 anos) e
nove anos (psicanalista, feminino, 36 anos).

O instrumento usado, como dito antes, foi a entrevista semiestruturada. Baseado nos resultados de
Benetti e Cunha(2008), onde advertem que o abandono da psicoterapia pode estar associado á uma
multitude de razões, ocorreu a divisão do roteiro em quatro eixos (1) Caracterização do profissional;
(2) Caracterização da clientela; (3) Práticas e processo do profissional; (4) Relação entre psicólogo,
psicoterapia e abandono.

A entrevista fora do tipo direta, que segundo Kauark, Manhães e Medeiros(2010) “ "a entrevista direta
é aquela em que o entrevistador se posiciona frente ao entrevistado; ela é presencial: o entrevistador
indaga e o entrevistado responde" (p. 64).” O processo de formação das categorias foi concretizado
através da codificação, esta que se deu em função do mesmo conteúdo semântico de falas. As
categorias: I) Caracterização da Clientela; II) Relação entre psicologia e psiquiatria; III) Aspectos
financeiros e processos de trabalho; IV) Quem mais abandona e, V) Principais causas de abandono.
Identificou-se, na clínica de adultos, que as mulheres são a maior demanda da regiãoe há pesquisas
que corroboram a predominância de mulheres nos serviços de atenção, em que é possível ver nos
estudos epidemiológicos e de caracterização de clientela (Enéas, Faleiros & Sá, 2000; Romaro &
Capitão, 2003; Campezatto & Nunes, 2007; Maravieski & Serralta, 2011) as mulheres sendo
apontadas como as maiores demandas tanto nas clínicasescolas, quanto nos serviços públicos de
atenção em saúde mental. Numa tentativa de explicar esse fenômeno, vemos no estudo
Rabasquinho e Pererira (2007) alguns indicadores psicossociais que corroboram com a ideia de que
o gênero influencia inevitavelmente as prevalências. Os autores apontam alguns fatores que ajudam
a explicar esse fenômeno, entre eles a maior facilidade que a mulher apresenta em assumir o papel
de doente, papel muitas vezes legitimado socialmente, visto que a mulher foi historicamente olhada
como o gênero mais fraco, portanto a expressão dessa fragilidade pela doença é culturalmente
reforçada para o gênero feminino (Rabasquinho & Pererira, 2007). Concorda-se que as questões de
gêner e seus estereótipos comportamentais - noção de papel do homem e da mulher na sociedade -
exercem grande influência no que diz respeito às prevalências.

Enquanto na clínica dos adultos a prevalência é feminina, na das crianças ocorre o contrário, com
meninos que são levados para a terapia com queixas de “ conduta ou déficit de atenção “.

Identificou-se que, para os entrevistados, a clientela possui uma visão estereotipada do trabalho do
psicólogo. De acordo com um dos profissionais, se faz a concepção de que "psicólogo é médico, e
pior, médico de doido. Somente o pensamento de ter que fazer psicoterapia parece ser um atestado
de doido". Os estudos que abordam as representações sociais da figura do psicólogo de Leme,
Bussab e Otta (1989) e os de Praça e Novaes (2004), denunciam o conjunto de crenças e ideias -
moldados culturalmente - similares, revelando uma caricatura deste profissional circundada de
concepções como: "resolvedor de problemas de louco"; "uma pessoa que só de olhar ou conversar já
sabe de seus problemas, pontos fracos e fortes e como ajudar"; "médico de louco" (Leme, Bussab &
Otta, 1989, p. 32).

No que diz respeito à classe econômica da clientela, para eles, ela é bem variada e muitas vezes
difícil de ser identificada. No entanto, segundo alguns entrevistados psicanalistas, a clientela da
região considera a psicoterapia como um luxo ou até mesmo um hobby. Já quanto ao volume da
demanda, identificou-se que esta é extremamente variável.

Por fim, quanto às demandas psicopatológicas, identificou-se que as maiores ocorrências são dos
quadros depressivos (presente mais em mulheres); dos quadros de ansiedade (presentes mais em
homens) e dos quadros relacionados à agitação e (des)conduta (presente em crianças,
principalmente nos meninos). No entanto, a prevalência de quadros de ansiedade nos homens
adultos, de acordo com os dados das entrevistas, vale apontar que o paciente pode vir á chegar no
atendimento com uma queixa física, a fim de, por exemplo, não descartar ou não causas
psicológicas.

Perguntados se atendem pacientes encaminhados ou que fazem acompanhamento


médico/psiquiátrico e com uso de psicofármacos, todos eles disseram que sim, e com frequência.
Não foi identificado nenhum preconceito ou aversão ao uso de psicofármacos. Para eles, o uso do
psicofármaco quando necessário, "é necessário e ponto".

No que diz respeito à concepção de abandono e suas principais causas, identificou-se que para os
profissionais entrevistados, os aspectos monetários são um dos mais influentes na questão do
abandono da psicoterapia. Um deles afirma: "Pessoas que não possuem muitas condições
financeiras, não dão continuidade mesmo, ainda que a gente trabalhe na possibilidade delas
pagarem menos ou melhorar as formas de pagamento" (Entrevistado, humanista, masculino, 26
anos). De acordo com os entrevistados, a psicoterapia quando colocada em uma pirâmide de gastos
acaba ocupando o último lugar. Eles percebem em suas clínicas que quando a situação aperta
financeiramente, a psicoterapia é um dos primeiros cortes. Outra questão importante abordada e
presente nos discursos é o momento da discussão dos valores e afins. Todos os profissionais
relataram que este tema é discutido sempre na primeira consulta, e, caso surgir - geralmente por
iniciativa do cliente - este tema no telefone, estas questões serão informadas brevemente.

Quanto a possível existência de um grupo mais propenso a evadir, é importante destacar que, em um
aspecto mais geral, alguns estudos (Laurenti, Jorge & Gotlieb, 2005; Gomes, Nascimento & Araújo,
2007) constatam que os homens padecem de mais de condições severas e crônicas de saúde do
que as mulheres, liderando as taxas de morbimortalidade. Os homens estão não somente em menor
número nos serviços de atenção psicológica, como são os que mais abandonam a psicoterapia,
segundo os entrevistados. Quando questionados se conseguem visualizar algum público mais
propenso a evadir, o consenso foi para os público masculino. De acordo com outro entrevistado, há
um certo imediatismo e uma urgência em aliviar o sintoma naquele momento, o que acarreta em uma
ruptura no processo terapêutico como um todo.

Investigou-se, também, se há uma possível relação entre psicopatologia e abandono. Na literatura


(Hauck et al., 2007; Benetti & Cunha, 2008) alguns transtornos de personalidade têm sido associados
ao abandono da psicoterapia, especialmente o boderline, este com altas chances de interrupção. Em
geral, a presença de traços narcisistas podem implicar dificuldades no estabelecimento da aliança
terapêutica, implicando, consequentemente, numa maior chance de abandono da psicoterapia
(Hauck et al., 2007). Neste sentido, foi questionado aos entrevistados se existe algum quadro
psicopatológico mais propenso ao abandono, mostrando-se uma questão plausível para eles:
Destaca-se uma: 1) "A relação de abandono com algum quadro psicopatológico acredito que possa
existir, no entanto, eu percebo que quem mais abandona são pessoas que chegaram em um
determinado momento terapêutico de muito confronto, o qual a resistência foi muito complexa"
(Entrevistado, esquizoanalista, masculino, 32 anos).

No que diz respeito à resistência, supõe-se que ela pode ser, em certos momentos da psicoterapia,
muito complexa ou, em outras palavras, pesada demais para o paciente seguir a diante, o que pode
acarretar o abandono precoce da psicoterapia. Para Ribeiro (2007) a resistência "é um processo
humano que ocorre quando a pessoa está vivenciando algum tipo de ameaça, ocorrendo na
psicoterapia não como uma oposição a si mesmo ou ao terapeuta, mas como uma forma de se
ajustar a uma nova situação" (p. 73). Ao analisar a questão do abandono através da Psicanálise,
consequentemente esbarramos nos conceitos transferência e de contratransferência. A transferência
negativa, por exemplo, antes da construção de uma significativa aliança terapêutica, torna-se um dos
maiores motivos para os pacientes interromper a psicoterapia (Jung et al., 2014).

O entrevistado da linha do humanismo, aponta duas questões centrais no que diz respeito ao
abandono da psicoterapia de sua clientela. Ele afirma:"Questões financeiras, a questão do alívio e
também a concepção do cliente sobre o que é terapia" (Entrevistado, humanista, masculino, 26
anos). Já o entrevistado da esquizoanálise adverte sobre a resistência e os confrontos dentro da
processo terapêutico, utilizando como exemplo a psicoterapia de casal: "Nos atendimentos com
casais, um não quer [continuar a psicoterapia] mas outro quer, nestes casos requer um manejo bem
mais cuidadoso, pois isso pode culminar, por exemplo, em conflitos entre os dois" (Entrevistado,
esquizoanalista, masculino, 32 anos). Por fim, vale lembrar uma outra possível reflexão perante o
abandono, segundo a entrevistada da psicanálise. Ela adverte que nem sempre "não voltar", por
assim dizer, significa abandonar. Nas palavras dela: "Muitas vezes ele abandona e vai embora sim,
mas há aqueles casos em que ele consegue dizer 'eu não quero mais ir, não preciso mais ir', nestes
casos ele não abandona, só que na maioria desses casos não somos notificados (Entrevistado,
psicanalista, feminino, 36 anos).

Neste sentido, se faz necessário lembrar que o papel do psicólogo, como afirma Jurema Alcides
Cunha em Psicodiagnóstico V, que é o de "tatear pelos meandros da angústia, da desconfiança e do
sofrimento da pessoa que vem em busca de ajuda. Tatear é lidar com as inúmeras resistências ao
processo, sentimentos ambivalentes e situações desconhecidas" (2000, p. 38). Ou seja, neste
processo tão delicado, o qual envolve inúmeros aspectos, desde a sintomatologia ao
desconhecimento do que é o trabalho do psicólogo - o qual é cercado de estereótipos culturais e de
preconceitos sobre quem requer esse atendimento -, as mais diversas resistências e conflitos irão
surgir, os quais podem frequentemente culminar no abandono da psicoterapia.
 Opinião do resenhista

Indo á partir do esclarecimento do foco do artigo, é possível ver que os dois maiores pilares do
abandono se encaixam na esfera do financeiro e na da generalização/estereotipização da figura do
psicólogo, com o sub-pilar dos conflitos entre certos transtornos e a figura do psicólogo existindo. A
figura estereotipada do psicólogo como “ médico de loucos “ acaba por ser algo extremamente
daninhador pra profissão, visto que a visão societal sobre loucura quase sempre acaba caindo na
fantasia de alguém delirante, impossibilitado de viver independentemente, que precisa de um
manicômio, com conflitos de vozes, etc, algo que se encontra facilmente na culturra popular, e nunca
em um adulto com depressão funcional, um professor que sofre de transtorno de ansiedade, uma
atriz que possuí ataques de pânico, um pesquisador com Asperger’s, etc. Prejudicando mais ainda, é
possível ver que ocorre um medo da população em que quando acabar em um consultório de
psicologia, pode acabar sendo marcada como “ louca “ pelo sua própria comunidade e passando por
problemas societais devido á essa exclusão e até mesmo o medo de descobrir algo que possui que
não sabia antes, alimentando a noção de que ele ( o paciente ) seria realmente “ louco “. A sociedade
como toda ainda tem um papel influente em desencourajar os pacientes de procurarem ajuda e
esterotipa uma visão de psicólogos que quando não é correspondida ( lê-se, a visão clássica de um
psicólogo/psicóloga de roupa social, cercado de estantes de livros, atendendo seus pacientes que
deitam em um divã ), acaba por causar confusão no cliente e na sua realização como “ Médico de
loucos “. A quase nula distinção entre a figura do Psiquiatra, Psicólogo e Terapeuta também
prejudica a atuação dessa três profissões, onde cada uma tem delimitada sua atuação mas ainda é
confundida entre as três.

Na esfera financeira, esse tema sempre acaba por ser algo delicado, já que há uma dificuldade de
saber sobre a situação financeira de uma paciente e discutir esse tema pode acabar causando
desconforto nele, o que pode levar á um abandono prematuro. Como demonstrado no artigo, vemos
que quando a situação financeira fica dificultada, a terapia é sempre jogada em último, até mesmo de
depois de lazer, pois não é enxergada como tão essencial assim. Claro que isso irá causar uma
frustração em todas as pessoas da área, mas para os leigos, a terapia passa a ser algo enxergado
como hobby e não como tratamento, e deve-se lembrar disso na hora do atendimento para evitar
frustrações com o paciente. Discutir o aspecto financeiro se faz necessário já de ínicio para evitar
problemas posteriores que podem vir a surgir, mesmo que esse tema acabe por incomodar tanto o
paciente quanto o psicólogo. Algo que deve se ressaltar é que se há a presença de medicação no
processo de tratamento, a medicação pode vir a ser prioizada sobre o tratamento devido á noção de
que o remédio é sempre necessário, mais que a terapia, quando os dois devem andar em conjunto.

O abandono de psicoterapia é um campo que deve ser explorado para psicólogos aprenderem a lidar
com sse tipo de acontecimento, suas causas e que ferramentas podem ser utilizadas para
desencorajar essa atitude ( como, por exemplo, a urgência masculina de apenas tratar o sintoma e
nada mais ).

 Perguntas:

- Como esse processo iria se dar em uma cidade como São Paulo, onde há características regionais
totalmente diferentes de um munícipio do interior de Espirito Santo, uma demografia diversa e outros
fatores?

- Poderia vir a surgir outros fatores entre as crianças que abandonam a psicoterapia, como
diagnóstico que não é aceito pelos pais, pressão sofrida da comunidade nos pais/e ou na criança,
etc?
- Abordagens diferentes sofrem diferentes níveis de abandono? Seria possível comparar a média de
abandono de um psicanalista com a de um humanista, por exemplo, devido as diferenças de suas
abordagens?

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