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BR

Athrabeth
O Diálogo de Finrod e Andreth

Enquanto este muito notável e até agora desconhecido trabalho 'O


Diálogo de Finrod e Andreth' é fixado em um tempo mais recente na
história dos Dias Mais Antigos, do que é por outro lado alcançado
neste livro, deveria ser dado claramente aqui um informe devido a sua
associação, ambos em data e conteúdo, com os escritos e revisões da
'Segunda Fase' da História póstuma do Senhor dos Anéis e do
Silmarillion.

A situação textual, até o ponto que a narrativa atual do 'Debate' é


relacionada é simples. Há um manuscrito (a) bem similar em estilo e
aparência àquele das Leis e Costumes entre os Eldar, e como este
claro e fluente, embora haja algumas páginas de rascunhos de leitura
difícil, com indicações claras de que outros existiram. Também há
duas cópias datilografadas a partir do manuscrito, consideradas
independentemente do manuscrito depois que toda edição tivesse sido feita a este. Um destes (b)
provavelmente o primeiro a ser feito, é de valor leve: tem muitos erros e foi examinado muito
brevemente por meu pai. O outro (c) existente também em uma cópia carbono, é um texto melhor
embora não sem erros; este ele leu mais cuidadosamente e introduziu várias mudanças
secundárias, mas deixou passar alguns erros por não conferi-lo com o manuscrito. O texto
impresso aqui é então estabelecido do manuscrito, considerando edições feitas às materiais
datilografados. Nenhuma das cópias datilografadas do Athrabeth tem qualquer título; ambas
começam com as palavras ‘Aconteceu que em uma época de primavera...'.

O manuscrito, por outro lado, leva o título ‘Da Morte e dos Filhos de Eru e da Desfiguração dos
Homens’ (com outro título ou sub-título adicionado depois, O Diálogo de Finrod e Andreth) e duas
páginas de texto introdutório que precedem a sentença com a qual as cópias datilografadas
iniciam. Esta introdução à 'Conversa' era de fato a continuação de uma composição que meu pai
removeu e deixou colocada separadamente. Esta seção introdutória foi datilografada
subseqüentemente com uma cópia em papel-carbono, na máquina de escrever nova, e anexada
ao início das cópias do material datilografado do manuscrito (c), esta não tem nenhum título ou
cabeçalho.

Os Eldar aprenderam que, de acordo com o conhecimento dos Edain, os homens acreditavam que
os seus hröar (corpos físicos) não eram pela própria natureza de vida-curta, mas tinham se tornado
assim pela malícia de Melkor. Não estava claro para os Eldar se os Homens queriam dizer: pela
desfiguração geral de Arda (a qual eles mesmos consideraram ser a causa da decadência dos
seus próprios hröar); ou por alguma malícia especial contra os Homens enquanto foram
alcançados nas idades escuras antes dos Edain e dos Eldar se encontrassem em Beleriand; ou por
ambos. Mas para os Eldar pareceu que, se a mortalidade dos Homens tivesse vindo por uma
malícia especial, a natureza dos Homens tinha sido modificada de forma atroz do primeiro desígnio
de Eru; e esta era uma questão de admiração e medo para eles, pois, se realmente fosse assim,
então o poder de Melkor deve ser (ou foi no princípio) muito maior do que até mesmo os Eldar
haviam compreendido; considerando que a natureza original dos Homens deve ter sido estranha
de fato e distinta daquela de quaisquer outros dos que habitam em Arda.

Relacionado a estas coisas, está registrado no antigo conhecimento dos Eldar que uma vez Finrod
Felagund e Andreth a Mulher-Sábia conversaram há muito tempo em Beleriand. Este conto, que os

O DIÁLOGO DE FINROD E ANDRETH 1


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Eldar chamam Athrabeth Finrod ah Andreth, é concedido aqui em uma das formas que foram
preservadas.

O Diálogo de Finrod e Andreth


Sobre a Morte dos Filhos de Eru e a Desfiguração dos Homens

Finrod (filho de Finarfin, filho de Finwë) era o mais sábio dos Noldor exilados, sendo mais
preocupado do que todos os outros com questões de pensamento (em lugar de fabricação ou com
habilidade das mãos); e ele estava, além disso, ansioso para descobrir tudo aquilo que ele
pudesse relacionado ao Gênero Humano. Foi ele quem primeiro encontrou os Homens em
Beleriand e os ajudou; e por esta razão freqüentemente era chamado pelos Eldar de Edennil,
'Amigo dos Homens'. Seu amor principal era dado ao povo de Bëor, o Velho, porque foram estes
que havia encontrado primeiro nas florestas de Beleriand Oriental. Andreth era uma mulher da
Casa de Bëor, a irmã de Bregor pai de Barahir (cujo filho era Beren Erchamion, o renomado). Ela
era sábia em raciocínio e instruída no conhecimento dos Homens e as suas histórias; por qual
razão os Eldar a chamaram Saelind; sábio-coração.

Entre os Sábios alguns eram mulheres, e elas eram grandemente estimadas entre os Homens,
especialmente por seu conhecimento das lendas dos dias antigos. Outra mulher-sábia era Adanel,
irmã de Hador Lórindol (em certa época, Senhor do Povo de Marach) cujos conhecimentos e
tradições, e também cuja língua, eram diferentes dos do Povo de Bëor. Mas Adanel era casada
com um parente de Andreth, Belemir da Casa de Bëor: ele era avô de Emeldir, mãe de Beren. Em
sua juventude Andreth habitara por longo tempo na casa de Belemir, e assim aprendera de Adanel
muito da tradição do Povo de Marach, além da tradição de seu próprio povo.

Nos dias da paz antes que Melkor quebrasse o Cerco de Angband, Finrod visitava freqüentemente
Andreth, a quem ele amava com grande amizade porque a considerou mais preparada para
comunicar seu conhecimento para ele do que era a maioria dos Sábios entre os Homens. Uma
sombra parecia estar sobre eles, e havia uma escuridão por trás dos homens da qual eram
contrários a falar até mesmo entre si. E estavam em temor dos Eldar e não iriam facilmente
revelar-lhes o seu pensamento ou as suas lendas. De fato os Sábios entre os Homens (que eram
poucos) em sua maior parte mantiveram o seu segredo de sabedoria e só passaram este para
aqueles a quem eles escolheram.

Aconteceu que em um momento de primavera Finrod foi por um tempo hóspede na casa de
Belemir; e ele se pôs a conversar com Andreth, a Mulher-Sábia, a respeito dos Homens e dos seus
destinos. Pois naquele tempo Boron, Senhor do povo de Bëor, havia morrido recentemente, logo
depois do Natal, e Finrod estava pesaroso.

- Triste para mim, Andreth - ele disse - é a passagem rápida de seu povo. Pois agora Boron, o pai
de seu pai se foi; e embora ele fosse velho, digamos, como a idade avança entre os Homens,
ainda eu o tinha conhecido muito brevemente. De fato para mim parece que faz pouco tempo da
primeira vez que eu vi Bëor no leste desta terra, contudo agora ele se foi, e seus filhos, e o filho do
seu filho também.

- Faz mais de cem anos agora - disse Andreth - desde que nós atravessamos as Montanhas; e
Bëor, Baran e Boron, cada um viveu além do seu nonagésimo ano. Nossa passagem era mais
rápida antes que nós encontrássemos esta terra.

- Então você está feliz aqui?

O DIÁLOGO DE FINROD E ANDRETH 2


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- Feliz? - perguntou Andreth - nenhum coração mortal está feliz. Toda passagem e morte são um
pesar para este; mas se o definhar for menos breve então isso é alguma melhora, uma pequena
imitação da Sombra.

- O que você quer dizer com isso?

- Seguramente você sabe bem! - disse Andreth - a escuridão está agora limitada ao Norte, mas
uma vez ela aqui viveu. – dizendo isso os olhos de Andreth escureceram, como se a sua mente
tivesse regressado para os anos negros que estavam melhor esquecidos - Uma vez a sombra
existiu em toda a Terra-média, enquanto vós moráveis em vossa glória.

- Não foi relacionado à Sombra que eu perguntei. - disse Finrod - O que você quer dizer, eu diria,
pela imitação disto? Ou como o destino rápido dos Homens se relaciona com isto? Vós também,
nós consideramos (sendo instruídos pelos Grandes que sabem), sois Filhos de Eru, e vosso
destino e natureza são provenientes dEle.

- Eu vejo - disse Andreth - que neste assunto vós dos Altos-elfos não diferem dos seus parentes
inferiores a quem nós encontramos no mundo, embora eles nunca tenham morado na Luz. Todos
vós julgais que nós morremos rapidamente pela nossa verdadeira espécie. Que nós somos frágeis
e breves, e vós sois fortes e duradouros. Nós podemos ser "os Filhos de Eru" como dizeis em
vossa tradição; mas nós também somos filhos para vocês: para sermos amados um pouco talvez,
e ainda criaturas de menor valor, sobre quem vós podeis olhar para baixo da altura do seu poder e
seu conhecimento, com um sorriso ou com piedade, ou com um menear de cabeças.

- Ah, você fala próximo da verdade - disse Finrod - pelo menos de muitos do meu povo; mas não
de todos, e certamente não de mim. Mas considere isto bem, Andreth, quando nós os chamamos
"Filhos de Eru" não falamos indolentemente; pois o nome dEle não articulamos nunca em gracejo
ou sem um forte intento. Quando falamos assim falamos a partir de conhecimento, não de mera
tradição Élfica; e proclamamos que vós sois nossa família em um parentesco muito mais íntimo
(ambos hröa e fëa) do que aquele que une todas as outras criaturas de Arda, e nós mesmos a
elas. Outras criaturas também na Terra-média nós amamos em sua medida e espécie: as bestas e
pássaros que são nossos amigos, as árvores, e até mesmo as flores belas que passam mais
rapidamente que os Homens. A passagem delas nós lamentamos; mas acreditamos que seja uma
parte da sua natureza, tanto quanto o são suas formas ou os seus matizes.

- Mas para vocês - suspiro Finrod - que são nossos parentes mais próximos, nosso pesar é muito
maior. E contudo, se considerarmos a brevidade da vida em toda a Terra-média, não devemos
acreditar que a sua brevidade também seja parte de sua natureza? O seu próprio povo não
acredita nisso também? E ainda de suas palavras e da amargura delas eu acho que você pensa
que nós estamos errados.

- Eu penso que você erra e todos que pensam igualmente - disse Andreth - e que esse próprio erro
vem da Sombra. Mas para falar dos Homens, alguns dirão isto e alguns aquilo; mas a maioria,
pensando um pouco, sempre considerará que o que está no seu período curto de tempo no mundo
sempre foi assim e permanecerá assim para sempre, quer gostem disto ou não. Mas há alguns que
pensam o contrário; os homens os chamam de "sábios", mas lhes dão pouca atenção. Porque eles
não falam com segurança ou com uma única voz, não tendo nenhum conhecimento seguro tal
como vós ostentais, mas forçosamente dependendo de conhecimento, do qual a verdade (se esta
puder ser encontrada) deve ser separada. E em toda a separação há joio com o trigo que é
escolhido, e indubitavelmente um pouco de trigo com o joio que é rejeitado.

- Contudo, entre meu povo - continuou Andreth - de Sábios para Sábios originários da escuridão
vem a voz dizendo que os Homens não são agora como eram, nem como a verdadeira natureza
deles era em seu começo. E mais claro ainda é isto dito pelos Sábios do Povo de Marach, que
preservaram em memória um nome para Ele que vós chamais de Eru, embora em meu povo Ele
fosse quase esquecido. Assim eu sou informada de Adanel. Eles dizem claramente que os

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Homens não são por natureza de vida-curta, mas se tornaram assim pela malícia do Senhor do
Escuro quem não nomeiam.

- Isso eu bem posso acreditar - disse Finrod - que os seus corpos sofrem em alguma proporção a
malícia de Melkor. Porque vocês vivem em Arda Desfigurada como nós vivemos, e toda a matéria
de Arda foi corrompida por ele, antes que vós ou nós viéssemos e tirássemos os nossos hröar e o
alimento deles de lá: toda Arda exceto talvez Aman antes que ele lá vivesse por algum tempo. Pois
saiba, não é diferente mesmo com os Quendi: sua saúde e estatura estão diminuídas. Aqueles de
nós que moram na Terra-média e até mesmo nós que retornamos a esta, achamos que a mudança
dos corpos deles é mais rápida do que no princípio. E isso, eu julgo, deve predizer que eles
provarão serem menos fortes para durar do que eles foram criados para ser, embora esse destino
possa não ser revelado claramente durante muitos longos anos. E igualmente os hröar dos
Homens - continuou Finrod - são mais fracos do que deveriam ser. Assim vem a suceder que aqui
no Oeste, para o qual em tempos antigos o poder dele raramente se estendia, eles têm mais
saúde, como você diz.

- Não, não! - exclamou Andreth - você não compreende minhas palavras porque você está sempre
em uma mesma opinião, meu senhor: Elfos são Elfos e Homens são Homens, e embora tenham
um Inimigo comum, por quem ambos são prejudicados, ainda a distância ordenada permanece
entre os senhores e os humildes, os que vieram primeiro altos e duradouros, os seguidores
humildes e de serviço breve. Essa não é a voz que os Sábios ouvem falar vindo da escuridão e de
além desta. Não, senhor, os Sábios entre os Homens dizem: "Nós não fomos feitos para a morte,
nem nascidos para morrer. A morte foi imposta sobre nós". E observe! o medo desta sempre está
conosco, e nós fugimos para sempre dela como o cervo do caçador. Mas por mim mesmo eu julgo
que nós não podemos escapar dentro deste mundo, não, não até mesmo se nós pudéssemos
chegar à Luz além do Mar, ou àquela Aman da qual vós falais. Naquela esperança nós partimos e
temos viajado por muitas vidas de Homens. A esperança era vã; assim disseram os Sábios. Mas
isso não sustentou a marcha, pois como disse, eles recebem pouca atenção. E veja! nós fugimos
da Sombra para as últimas costas da Terra-média, para descobrir somente que ela está aqui diante
de nós!

- Então Finrod ficou calado; mas depois de um tempo disse: 'Estas palavras são estranhas e
terríveis. E você fala com a amargura de alguém cujo orgulho foi humilhado e busca então ferir
aqueles a quem fala. Se todos os Sábios entre os Homens falam assim, então eu bem posso
acreditar que vós tendes sofrido alguma grande ferida. Mas não pelo meu povo, Andreth, nem por
qualquer um dos Quendi. Se nós formos como nós somos, e vós sois como nós os encontramos,
isso não é por qualquer ação nossa nem de nosso desejo; e o seu sofrimento não nos regozija
nem alimenta o nosso orgulho. Somente uma pessoa diria o contrário: aquele Inimigo a quem você
não nomeia. Tome cuidado com o joio de seu trigo, Andreth, porque pode ser mortal: mentiras do
Inimigo que a partir da inveja criarão ódio. Nem todas as vozes que vêm da escuridão falam a
verdade para aquelas mentes que escutam notícias estranhas.

- Mas quem lhes causou essa ferida? - continuou Finrod - Quem impôs a morte sobre vocês?
Melkor, é claro que você diria, ou qualquer nome você tenha para ele em segredo. Porque você
fala de morte e a sua sombra como se estes fossem um e o mesmo; e como se escapar da
Sombra fosse também escapar da morte. Mas estes dois não são o mesmo, Andreth. Assim eu
julgo, ou a morte não seria encontrada em absoluto neste mundo que ele não criou. Não, a morte é
no entanto o nome que nós damos a algo que ele corrompeu e soa mal desde então; mas
imaculado seu nome seria bom.

- O que vós sabeis da morte? Vós não a temeis, porque vós não a conheceis. - Disse Andreth.

- Nós a vimos e a tememos - respondeu Finrod - Nós também podemos morrer, Andreth; e nós
temos morrido. O pai de meu pai foi cruelmente morto e muitos o seguiram, exilados à noite, no
gelo cruel, no mar insaciável. E na Terra-média nós temos morrido, através de fogo, por veneno e
pelas lâminas cruéis da batalha. Fëanor está morto e Fingolfin foi pisado sob os pés de Morgoth. E

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para que fim? Para subverter a Sombra, ou se isso não pode ser, para impedi-la de se espalhar
mais uma vez por toda a Terra-média. Para defender os Filhos de Eru, Andreth, todos os Filhos e
não apenas os orgulhosos Eldar!

- Eu ouvira - disse Andreth - que foi para recuperar seu tesouro que o Inimigo roubara; mas talvez
a Casa de Finarfin não esteja unida com os Filhos de Fëanor. Todavia por todo seu valor, eu digo
novamente: o que vós sabeis da morte? Para vocês esta pode estar na dor, pode ser amarga e
uma perda, mas só durante um tempo, um pouco levado da abundância, a menos que eu tenha
ouvido mentiras. Pois vós sabeis que em morrer vocês não deixam o mundo e podem retornar a
vida. O contrário acontece conosco: morrendo nós morremos e partimos para não voltarmos. A
morte é um fim absoluto, uma perda irremediável. E é abominável; porque também é uma injúria
feita a nosso povo.

- Essa diferença eu percebo - disse Finrod - você diria que existem duas mortes: uma é um dano e
uma perda mas não um fim, a outra é um fim sem reparação; e os Quendi sofrem só a primeira?

- Sim, mas também há outra diferença - disse Andreth - uma é apenas um ferimento nas
casualidades do mundo, que o valente, o forte ou o afortunado podem esperar evitar. A outra é a
morte inelutável; a morte caçadora da qual não se pode no fim escapar. Seja um Homem forte,
rápido ou corajoso; seja ele sábio ou um tolo; seja ele mal ou seja ele em todas as ações dos seus
dias justo e misericordioso, deixe-o amar o mundo ou abominá-lo, ele deve morrer e se tornar
carne putrefata que os homens têm tendência a esconder ou queimar.

- E sendo perseguidos assim, os Homens não têm nenhuma esperança? - Perguntou Finrod.

- Eles não têm nenhuma certeza e nenhum conhecimento, somente medos ou sonhos na
escuridão - respondeu Andreth - Mas esperança? Esperança, que é outra questão da qual até
mesmo os Sábios raramente falam. - então sua voz ficou mais gentil - contudo, Senhor Finrod da
Casa de Finarfin, dos Altos-elfos, talvez nós possamos falar disso agora, você e eu.

- Isso nós podemos - disse Finrod - mas enquanto ainda caminhamos nas sombras do medo.
Assim sem dúvida, então, eu percebo que a grande diferença entre os Elfos e os Homens está na
velocidade do fim. Nisto apenas. Pois se você julga que para os Quendi não há nenhuma morte
inelutável, você se engana. Nenhum de nós sabe, embora os Valar possam saber, o futuro de
Arda, ou por quanto tempo esta é ordenada para durar. Mas Arda não vai durar para sempre, foi
feita por Eru mas Ele não está nela. Apenas o Único não tem nenhum limite. Arda e o próprio Ëa,
devem então ser limitados. Você nos vê, os Quendi, ainda nas primeiras eras de nosso ser e o fim
está distante. Enquanto talvez entre vocês a morte possa dar a impressão de um homem jovem em
sua força; salvo que nós temos longos anos de vida e pensamento já atrás de nós. Mas o fim
chegará, isso todos nós sabemos. E então nós devemos morrer; nós devemos perecer totalmente,
parece, porque pertencemos a Arda (em hröa e fëa). E além disso o que existe? A partida para
nenhum retorno, ou como você diz; o maior fim, a perda irremediável?

- Nosso caçador caminha mais lento - continuou Finrod - mas ele nunca perde o rastro. Além do
dia quando ele soprará a trombeta que anuncia a morte, nós não temos nenhuma certeza, nenhum
conhecimento. E ninguém nos fala de esperança.

- Eu não sabia disso - disse Andreth - e ainda assim...

- E ainda assim, pelo menos - continuou Finrod - nosso caminho é mais lento, você diria? É
verdade. Mas não está claro que uma destruição prevista há muito tempo, ainda que possa ser
adiada, seja de todas as formas um fardo mais leve do que uma que chega logo. Mas se eu
compreendi as suas palavras até então, você não acredita que esta diferença foi planejada assim
no princípio. Que vocês não eram no princípio sentenciados a morte rápida. Muito poderia ser dito
relativo a esta crença, seja esta uma suposição verdadeira ou não. Mas primeiro eu perguntaria:
como vós dizeis que isto aconteceu? Pela malícia de Melkor eu pensei, e você não negou. Mas eu

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vejo agora que você não fala da diminuição que tudo em Arda Desfigurada sofre; mas de algum
golpe especial de inimizade contra o seu povo, contra os Homens enquanto Homens. É assim?

- De fato assim é. - Disse Andreth.

- Então esta é uma questão de espanto - disse Finrod - para nós que conhecemos Melkor,
Morgoth, e o conhecemos por ser poderoso. Sim, eu o vi e ouvi a voz dele; e fiquei cego na noite
que está no coração da sua sombra, de quem você, Andreth, não sabe nada exceto por ouvir dizer
e pela memória de seu povo. Mas nunca até mesmo na noite nós acreditamos que ele poderia
prevalecer contra os Filhos de Eru. Este ele engana ou aquele ele poderia corromper; mas mudar o
destino de um povo inteiro dos Filhos e despojá-los da sua herança; se ele pudesse fazer isso
contra a vontade de Eru, então sem dúvida ele é maior e mais terrível do que nós pensávamos;
então todo o valor dos Noldor é meramente presunção e tolice.

- Entenda minhas palavras - disse Andreth - eu não disse que vós não conheceis a morte?
Observe! Quando você é forçado a enfrentá-la apenas em pensamento, enquanto nós a
conhecemos em ação e em pensamento todas as nossas vidas, imediatamente você cai em
desespero. Nós sabemos, se vós não sabeis, que o Inominável é o Senhor deste Mundo, e o seu
valor, e o nosso também, é uma tolice; ou pelo menos é infrutífero.

- Tenha cuidado - exclamou Finrod - cuide para que você não fale do indizível, mordazmente ou
em ignorância, confundindo Eru com o Inimigo que teria inclinado você a ter agido assim. O Senhor
deste Mundo não é ele mas o Único que o fez, e o seu Governante é Manwë, o Rei Mais Velho de
Arda que é abençoado. Não, Andreth, a mente escurecida e distraída; para curvar e ainda para
abominar; para fugir e contudo não para rejeitar; para amar o corpo e ainda desprezá-lo, o
desgosto da carne putrefata: estas coisas podem vir de Morgoth, realmente. Mas sentenciar o
imortal a morte, de pai até filho, e ainda deixar para eles a memória de uma herança arrebatada e
o desejo pelo que está perdido: poderia Morgoth fazer isto? Não, eu digo. E por essa razão eu
disse que se o que você conta é verdade, então tudo em Arda é vão, do pináculo de Oiolossë até o
maior abismo. Porque eu não acredito na sua história. Ninguém poderia ter feito isto exceto o
Único.

- Então eu digo a você Andreth - continuou Finrod - o que vós fizestes, vós Homens, há muito
tempo na escuridão? Como vós enfurecestes Eru? Pois caso contrário todas as suas histórias são
apenas sonhos escuros inventados em uma Mente Escura. Você dirá o que você sabe ou o que
você ouviu?

- Eu não direi - disse Andreth - nós também não falamos disto àqueles de outra raça. Mas
realmente os Sábios são incertos e falam com vozes contrárias; pois o que quer que tenha
acontecido há muito tempo atrás, nós temos fugido disto; nós temos tentado esquecer, e temos
tentado por tanto tempo que agora não podemos nos lembrar de qualquer época quando não
éramos como somos - salvo apenas lendas de dias quando a morte chegava menos rapidamente e
nosso período de tempo ainda eram muito mais longo, mas já havia morte.

- Não podeis lembrar-vos? - disse Finrod - Não existem histórias de seus dias antes da morte,
embora vós não as conteis a estranhos?

- Talvez existam - disse Andreth - se não entre meu povo então talvez entre o povo de Adanel,
talvez entre eles. - Então ela ficou calada, e olhou fixamente para o fogo.

- Você pensa que ninguém sabe exceto vós mesmos? - disse Finrod afinal - Os Valar não sabem?

Andreth olhou para cima e os olhos dela escureceram.

- Os Valar? - ela disse - como eu deveria saber ou qualquer Homem? Seus Valar não nos
aborrecem nem com cuidado ou com instrução. Eles não enviaram nenhuma convocação para nós.

O DIÁLOGO DE FINROD E ANDRETH 6


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- O que você sabe deles? - perguntou Finrod - Eu os vi e morei entre eles, e na presença de
Manwë e Varda estive na Luz. Não fale deles assim nem de qualquer coisa que esteja elevada
acima de você. Tais palavras saíram primeiro da Boca Mentirosa. Nunca entrou em seu
pensamento, Andreth, que lá fora em eras há muito tempo passadas vós podeis ter se colocado
fora do cuidado deles e além do alcance da ajuda deles? Ou até mesmo que vós, os Filhos dos
Homens, não fôsseis uma matéria que eles pudessem governar? Pois vós éreis grandes demais.
Sim, eu quero dizer isto e não somente lisonjear seu orgulho: grandes demais. Mestres exclusivos
de si mesmos dentro de Arda, debaixo apenas da autoridade do Único. Tenha cuidado então como
você fala! Se vós não falareis a outros de seu ferimento ou como vós chegastes a isto, preste
atenção para que vós (como sanguessugas inábeis) não julgueis mal a ferida ou em orgulho
distribuam a culpa erradamente.

- Mas deixe-nos mudar agora para outros assuntos - continuou Finrod - uma vez que você não dirá
nada mais sobre isto. Eu consideraria seu primeiro estado antes do ferimento. Pois o que você diz
disso também é para mim uma surpresa e difícil de entender. Você diz: "nós não fomos feitos para
a morte, nem nascemos para morrer". O que você quer dizer que vós éreis como nós somos, ou o
contrário?

- Esta sabedoria não leva nenhum relato seu - disse Andreth - porque nós não sabíamos nada dos
Eldar. Nós consideramos somente morrer e não-morrer. Da vida tão longa quanto o mundo mas
não mais longa que este nós não ouvíramos; de fato, até agora tal coisa não havia entrado em
minha mente.

- Para falar sinceramente - disse Finrod - eu pensava que esta crença sua, que vós também não
foram feitos para a morte, era apenas um sonho de seu orgulho criado em inveja dos Quendi, para
igualá-los ou ultrapassá-los. Não é assim, você dirá. Contudo muito tempo antes que chegásseis a
esta terra vós encontrastes outro povo dos Quendi, e por alguns foram ajudados. Vós não éreis
então já mortais? E vós nunca falastes com eles a respeito da vida e da morte? Embora sem
quaisquer palavras eles logo descobririam sua mortalidade, e muito tempo antes vocês
perceberiam que eles não morriam.

- Não é assim, eu digo realmente - respondeu Andreth - nós podemos ter sido mortais quando
encontramos os Elfos pela primeira vez distante daqui, ou talvez não fôssemos: nossa tradição não
diz, ou pelo menos nenhuma que eu tenha aprendido. Mas já tivemos nossa tradição e não
precisamos de nenhuma dos Elfos: nós sabíamos que em nosso começo tínhamos nascido para
nunca morrer. E por isso, meu senhor, nós queríamos dizer: nascidos para a vida perpétua, sem
qualquer sombra de fim.

- Então os Sábios entre vocês consideraram o quão estranha é a verdadeira natureza que eles
reivindicam para os Atani? - Disse Finrod.

- É assim tão estranho? - perguntou Andreth - Muitos dentre os Sábios consideram que em sua
verdadeira natureza nenhuma coisa vivente morreria.

- No que os Eldar diriam que eles erram. - respondeu Finrod - Para nós sua reivindicação a
respeito do destino dos Homens é estranha e dura de aceitar. Vocês reivindicam, se vós
compreendeis completamente suas próprias palavras, terem tido corpos imperecíveis não limitados
pelas fronteiras de Arda, e ainda derivados de sua matéria e sustentados por esta. E você também
reivindica (entretanto isto você possa não ter percebido) terem tido hröar e fëar que eram desde o
princípio sem harmonia. Contudo a harmonia de hröa e fëa é, nós acreditamos, essencial para a
verdadeira natureza não desfigurada de todos os Mirroanwi: os Encarnados como, os Quendi
chamam os Filhos de Eru.

- A primeira dificuldade eu percebo - disse Andreth - e para esta nossos Sábios tem sua própria
resposta. A segunda, como você adivinha, eu não percebo.

O DIÁLOGO DE FINROD E ANDRETH 7


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- Você não percebe? - perguntou Finrod - Então vocês não se vêem claramente. Mas pode
acontecer freqüentemente que os amigos e os parentes vejam coisas claramente que são
escondidas do seu próprio amigo. Agora nós Eldar somos seus parentes e seus amigos também
(se você acreditar nisto) e nós já os observamos por três vidas de Homens com amor,
preocupação e atenção. Disto então nós estamos certos sem debate, ou então toda nossa
sabedoria é vã: o fëa dos Homens embora parente próximo do fëa dos Quendi, contudo não é o
mesmo. Pois estranho como nós os julgamos, nós vemos claramente que os fëar dos Homens não
são, como são os nossos, confinados a Arda, nem Arda é o lar deles.

- Você pode negar isto? - continuou Finrod - Nós Eldar não negamos que vós amais Arda e tudo
aquilo que está nela (na medida em que vós sois livres da Sombra) talvez até mesmo tão
grandemente quanto nós somos. Porém cada uma de nossas famílias percebe Arda
diferentemente e avaliam suas belezas de modo e grau diferentes. Como eu direi isto? Para mim a
diferença parece como aquela entre alguém que visita um país estranho e permanece um tempo lá
(mas não necessita viver lá) e alguém que sempre viveu naquela terra (e tem que viver lá). Para o
anterior todas as coisas que vê são novas e estranhas, e nessa qualidade amáveis. Para o outro
todas as coisas são familiares, as únicas coisas que são suas próprias, e nessa qualidade
preciosas.

- Se você quer dizer - falou Andreth - que os Homens são os visitantes...

- Você disse a palavra - disse Finrod - esse é o nome que demos a vocês.

- Soberanamente como sempre - suspirou Andreth - mas até mesmo se nós formos meramente
convidados em uma terra onde tudo é propriedade de vocês, meus senhores, como você diz, me
diga que outra terra ou coisas nós conhecemos?

- Não, que você me diga! - disse Finrod - Pois se vocês não sabem como nós podemos saber?
Mas você sabe que os Eldar dizem dos Homens que eles não olham para coisa alguma pelo que
ela é; que se eles a estudam é para descobrir algo mais; que se eles a amam é somente porque
ela lhes lembra de outra coisa mais cara? Mas com o que fazem tal comparação? Onde estão
essas outras coisas?

- Nós estamos ambos - continuou Finrod - Elfos e Homens, em Arda, e somos parte de Arda; e tal
conhecimento como os Homens têm é derivado de Arda (ou assim pareceria). De onde vem então
esta memória vós tendes com vocês, até mesmo antes que vós começásseis a aprender? Não é
de outras regiões em Arda das quais vós viajastes. Nós também viajamos de longe. Mas eu e você
deveríamos ir juntos para seus lares antigos no leste distante e eu deveria reconhecer as coisas lá
como parte da minha casa, mas deveria ver em seus olhos a mesma admiração e comparação
como eu vejo nos olhos dos Homens em Beleriand que nasceram aqui.

- Você fala palavras estranhas, Finrod - disse Andreth - as quais eu não ouvi antes. Todavia meu
coração é agitado como se por alguma verdade que reconhece até mesmo se este não a entende.
Mas passageira é aquela memória e se vai antes que possa ser compreendida; e então nós
ficamos cegos. E aqueles entre nós que conheceram os Eldar, e talvez os amaram, dizem no o
nosso lado: “Não há nenhum cansaço nos olhos dos Elfos". E nós achamos que eles não
entendem a declaração que avança entre os Homens: “O que é visto demais e com muita
freqüência não é mais visto”. E eles admiram-se muito que nas línguas dos Homens a mesma
palavra possa significar ambas as coisas "há-muito-conhecido" e "passado".

- Nós pensávamos que isto era assim - continuou Andreth - somente porque os Elfos têm vida
duradoura e vigor não diminuído. "crianças adultas" nós às vezes os chamamos, meu senhor. E
contudo - e contudo - se nada em Arda retém seu sabor por muito tempo e todas as coisas belas
escurecem, isto não vem da Sombra sobre nossos corações? Ou você diz que isso não é assim,
mas esta foi sempre nossa natureza, até mesmo antes do ferimento?

O DIÁLOGO DE FINROD E ANDRETH 8


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- Assim eu digo, de fato. - respondeu Finrod - A Sombra pode ter escurecido seu desassossego,
trazendo cansaço mais rápido e logo alterando este para desdém, mas o desassossego sempre
esteve lá, acredito. E se isto é assim, então você não pode agora perceber a desarmonia da qual
eu falei? Se realmente sua Sabedoria tivesse conhecimento como o nosso, ensinando que os
Encarnados são feitos de uma união de corpo e mente, de hröa e fëa, ou como nós dizemos de
modo figurado: a Casa e o Habitante. Pois o que é a "morte" que você lamenta senão a divisão
destes dois? O que é a "imortalidade" que vocês perderam senão que os dois deveriam
permanecer unidos para sempre?
Mas o que então deveríamos pensar - disse Finrod - da união no Homem: de um Habitante que é
apenas um estrangeiro aqui em Arda e não está em seu lar, com uma Casa que é feita da matéria
de Arda e deve portanto aqui permanecer? Ao menos não esperar-se-ia para essa Casa uma vida
maior que a de Arda, da qual ela é parte. Contudo, afirmais que a Casa também era imortal, não?
Eu preferiria acreditar que tal fëa, por sua própria natureza, iria em algum momento de livre
vontade abandonar a casa de sua habitação aqui, ainda que a habitação pudesse ter sido mais
longa do que é agora permitido. Então a "morte" soaria de maneira diversa para vós: como uma
libertação, ou um retorno - não, como ir para casa! Mas nisso não acreditais, parece?

Não! não acredito nisso - exclamou Andreth - pois isso seria desprezo pelo corpo, e é um
pensamento da Escuridão não-natural em qualquer dos Encarnados, cuja vida incorrupta é uma
união de amor mútuo. Mas o corpo não é uma estalagem que mantém um viajante aquecido por
uma noite, antes que ele siga seu caminho, e depois recebe outro. É uma casa feita para um
habitante apenas, e de fato não apenas casa mas também vestimenta; e não está claro para mim
se deveríamos neste caso dizer que a vestimenta é adequada ao usuário e não que o usuário é
adequado à vestimenta. Sustento então que não se deve pensar que a separação destes dois
poderia ser de acordo com a verdadeira natureza dos Homens. Pois se fosse "natural" para o
corpo ser abandonado e morrer, mas "natural" para o fëa continuar a viver, então de fato haveria
uma desarmonia no Homem, e suas partes não estariam unidas por amor. Seu corpo seria na
melhor das hipóteses um impedimento, ou uma cadeia. De fato uma imposição, e não uma dádiva.
Mas há alguém que impõe, e que concebe cadeias, e se tal fosse a nossa natureza no princípio,
então deveríamos derivá-la dele - mas isto, dizeis, não se deve ser falado.
- Ah! Pela escuridão os homens dizem isto todavia - continuou Andreth - mas não os Atani como tu
conheceste, não agora. Eu considero que nisto nós somos como vós sois, verdadeiramente
Encarnados, e que nós não vivemos em nossa essência correta e sua plenitude salvo em uma
união de amor e paz entre a Casa e o Morador. Portanto a morte, que os divide, é um desastre
para ambos.

- Sempre mais você confunde meu pensamento, Andreth. - disse Finrod - Pois se sua reivindicação
for verdadeira, então observe: um fëa que é aqui meramente um viajante está casado
indissoluvelmente com um hröa de Arda; dividi-los é uma ferida dolorosa, e contudo cada um deve
preencher sua legítima natureza sem a tirania do outro. Então isso seguramente deve seguir: o fëa
quando este parte deve levar consigo o hröa. E o que isso pode significar a menos que o fëa tiver o
poder para enaltecer o hröa, como seu cônjuge eterno e companheiro, em uma duração perpétua
além de Ëa, e além do Tempo? Assim Arda, ou parte dessa, seria curada não apenas da corrupção
de Melkor, mas libertada até mesmo dos limites que lhe eram estabelecidos na "Visão de Eru" da
qual os Valar falam.

Então eu digo - continuou Finrod - que se isto pode ser acreditado, então poderosos de fato,
abaixo de Eru apenas foram Homens feitos no seu começo; e terrível além de todas as outras
calamidades foi a mudança feita na condição deles. Esta é, então, uma visão do que foi projetado
para ser quando Arda estava completa - de coisas viventes e até mesmo das mesmas terras e
mares de Arda feitas eternas e indestrutíveis, para sempre bonitas e novas - com que os fëar dos
Homens comparam o que eles vêem aqui? Ou existe em outro lugar um mundo do qual todas as
coisas que vemos, todas as coisas que os Elfos ou Homens sabem, são apenas recordações ou
lembranças?

O DIÁLOGO DE FINROD E ANDRETH 9


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- Nesse caso residem na mente de Eru, eu julgo - disse Andreth - para tais questões como nós
podemos achar as respostas aqui, nas névoas de Arda Desfigurada? Poderia ter sido diferente, se
não tivéssemos sido mudados; mas sendo como nós somos, até mesmo os Sábios entre nós têm
dado muito pouca atenção à própria Arda, ou para outras coisas que vivem aqui. Nós pensamos
geralmente sobre nós mesmos: sobre como nossos hröar e fëar deveriam ter morado juntos para
sempre em alegria, e sobre a escuridão impenetrável que agora nos espera.

- Então não apenas os Altos Eldar estão esquecidos da sua família! - disse Finrod - Mas isto é
estranho para mim, e até mesmo como fez o seu coração quando eu falei de seu desassossego,
assim agora o meu salta ao ouvir falar de boas novas. Esta então, eu proponho, era a incumbência
dos Homens, não os seguidores mas os herdeiros e os realizadores de tudo: curar a Ruína de
Arda, já pressagiada antes da criação deles; e fazer mais, como agentes da magnificência de Eru:
aumentar a Música e ultrapassar a Visão do Mundo! Por isso Arda Curada não será Arda Não
Desfigurada, mas uma terceira coisa maior e ainda a mesma. Eu conversei com os Valar que
estavam presentes na criação da Música antes que a existência do Mundo começasse. E agora
imagino: eles ouviram o fim da Música? Não havia algo dentro dela ou além dos acordes finais de
Eru que, estando oprimido na música não perceberam?

- Ou novamente - continuou Finrod - uma vez que Eru é para sempre livre, talvez ele não fizesse
nenhuma Música e não mostrasse nenhuma Visão além de um certo ponto. Além desse ponto nós
não podemos ver ou saber, até que por nossas próprias estradas nós cheguemos lá, Valar, Eldar
ou Homens. A medida em que um mestre pode, em sua narração dos contos, manter escondido o
maior momento até que este chegue no tempo devido. Pode ser adivinhado realmente, em alguma
medida, por aqueles de nós que escutaram com pleno coração e mente; mas assim o narrador
desejaria. Em nenhum modo a surpresa e maravilha da sua arte são assim diminuídas, pois desta
maneira nós compartilhamos, como esta era, na sua autoria. Mas não seria assim, se tudo nos
fosse contado em um prefácio antes que nós entrássemos!

- O que então você diria que seja o momento supremo que Eru reservou? - Andreth perguntou.

- Ah, senhora sábia! - disse Finrod - Eu sou um Elda, e novamente estava pensando em meu
próprio povo. Eu estava pensando que pelos Segundos a Nascer poderíamos ter sido libertados da
morte. Para sempre como nós falamos da morte sendo uma divisão do que está unido, eu pensei
em meu coração sobre uma morte que não é dessa forma: mas o fim simultâneo de ambos. Pois
isso é o que permanece antes de nós, tão distante quanto a nossa razão poderia ver: a conclusão
de Arda e seu fim, e então também de nós, os filhos de Arda; o fim quando todas as vidas longas
dos Elfos estarão completamente no passado.

- E então, de repente, eu observei como uma visão Arda Recriada; lá os Eldar completos mas não
terminados poderiam permanecer no presente para sempre e lá caminhar, talvez, com os Filhos
dos Homens, seus libertadores, e cantar para eles tais canções enquanto, até mesmo na Glória
além da felicidade, deveria fazer os vales verdes soarem e os topos eternos das montanhas
vibrarem como harpas.

Então Andreth olhou por baixo das suas sobrancelhas para Finrod: - E o que, vós nos diríeis
quando não estivésseis cantando? ' ela perguntou.

Eu só posso adivinhar. - Finrod disse rindo - Por que, senhora sábia, eu, penso que nós
deveríamos lhes contar contos do Passado e da Arda que existia Antes, dos perigos e grandes
ações, e a criação das Silmarils! Nós éramos então os únicos soberanos! Mas vós, vós estaríeis
então em casa, olhando todas as coisas atentamente como suas próprias. Vós seríeis os
soberanos. "Os olhos dos Elfos sempre estão pensando em alguma coisa mais", vós diríeis. Mas
vós saberíeis então sobre o que nos estávamos lembrados: dos dias quando nós nos encontramos
pela primeira vez, e nossas mãos se tocaram na escuridão. Além do Fim do Mundo nós não
mudaremos; porque na memória está o nosso grande talento, como será sempre visto mais

O DIÁLOGO DE FINROD E ANDRETH 10


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claramente enquanto as eras de Arda transcorrem: um fardo pesado para acontecer, eu temo; mas
nos Dias dos quais nós falamos agora uma grande riqueza. E então ele parou, porque ele viu que
Andreth estava lamentando em silêncio.

- Ai de nós, senhor! – disse Andreth - O que então será feito agora? Porque nós falamos como se
estas coisas acontecessem, ou como se elas seguramente realizar-se-ão. Mas os Homens foram
diminuídos e o poder deles está tomado. Nós não contemplamos nenhuma Arda Recriada: a
escuridão permanece diante de nós, a qual nós fitamos em vão. Se por nossa ajuda suas mansões
perpétuas devessem ser preparadas, elas não serão agora construídas.

- Vós não tendes então nenhuma esperança? - Perguntou Finrod.

- O que é esperança? - disse Andreth - Uma expectativa do bem, que embora incerta tem alguma
fundação no que é conhecido? Então nós não temos nenhuma.

- Então isso é a coisa que os Homens chamam esperança - disse Finrod - Amdir nós a chamamos,
"olhar para cima". Mas há outra que é fundada mais profundamente. Estel nós a chamamos, que é
"confiança". Esta não é derrotada pelos caminhos do mundo, porque não vem da experiência, mas
de nossa natureza e primeira essência. Se nós realmente formos os Eruhini, os Filhos do Único,
então Ele não admitirá ser privado do que for seu, não por nenhum Inimigo, nem mesmo por nós.
Esta é a última fundação de Estel, que nós mantemos até mesmo quando contemplamos o Fim: de
todos os Seus desígnios a questão deve ser para alegria dos Seus Filhos. Amdir vocês não
possuem, você diz. Nem Estel permanece de qualquer modo?

- Talvez sim - ela disse - mas não! Você não percebe que faz parte de nosso ferimento que Estel
deveria titubear e suas fundações serem abaladas? Nós somos os Filhos do Único? Nós não
estamos derrotados finalmente? Ou nós sempre fomos assim? O Inominável não é o Senhor do
Mundo?

- Não diga isso nem mesmo em indagação! - Disse Finrod.

- Não pode deixar de ser mencionado - respondeu Andreth - se você entendesse o desespero no
qual nós caminhamos. Ou no qual a maioria dos Homens caminha. Entre os Atani, como você nos
chama, ou Seguidores como nós dizemos: aqueles que deixaram as terras do desespero e os
Homens da escuridão e viajaram para o oeste em esperança vã: acredita-se que a cura ainda
possa ser encontrada, ou que haja algum modo de escapar. Mas isto é realmente Estel? Não é
mais propriamente Amdir; mas sem razão: mero vôo em um sonho do qual despertando eles
sabem: que não há nenhuma escapatória da escuridão e morte?

- Mero vôo em um sonho você diz. - respondeu Finrod - Em sonho muitos desejos são revelados; e
o desejo pode ser a última luz bruxuleante de Estel. Mas você não quer dizer sonho, Andreth. Você
confunde sonho e despertar com esperança e convicção, para tornar o primeiro mais duvidoso e o
outro mais seguro. Eles estão adormecidos quando falam de escapatória e cura?

- Adormecidos ou despertos, eles não dizem nada claramente. - respondeu Andreth - Como ou
quando a cura virá? E quanto a nós que antes disto partiremos para dentro da escuridão sem
sermos curados? Para tais questões somente aqueles da Velha Esperança (como chamam a si
mesmos) têm qualquer suposição de uma resposta.

- Aqueles da Velha Esperança? - perguntou Finrod - Quem são eles?

- Poucos - ela disse - mas seu número cresceu desde que nós viemos para esta terra, e eles
compreendem que o Inominável pode (como pensam) ser desafiado. Contudo essa não é uma boa
razão. Desafiá-lo não desfaz o trabalho dele do passado. E se o valor dos Eldar falhar aqui, então
o desespero deles seria mais profundo. Porque não era no poder dos Homens, ou de qualquer um
dos povos de Arda, que a velha esperança estava fundamentada.

O DIÁLOGO DE FINROD E ANDRETH 11


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- O que era então esta esperança, se você sabe? - Finrod perguntou.

- Eles dizem - respondeu Andreth - que o Único entrará ele próprio em Arda, e curará os Homens e
toda a Ruína desde o começo até o fim. Isto que eles dizem também, ou fingem, é um rumor que
veio por anos incontáveis, até mesmo dos dias de nossa ruína.

- Eles dizem, eles fingem? - disse Finrod - Você então não é um deles?

- Como eu posso ser, senhor? Toda a sabedoria está contra eles. Que é o Único, quem vós
chamais de Eru? Se nós colocarmos de lado os Homens que servem o Inominável, como muitos
fazem na Terra-média, ainda muitos Homens percebem o mundo somente como uma guerra entre
a Luz e o Escuro eqüipotente. Mas você dirá: não, isso é Manwë e Melkor; Eru está acima deles.
Então apenas Eru é o maior dos Valar, um grande deus entre deuses, como a maioria dos Homens
dirá, até mesmo entre os Atani: um rei que mora longe do seu reino e deixa príncipes inferiores
fazerem aqui em grande parte o que for de suas vontades? Novamente você diz: não, Eru é o
Único, sozinho, inigualável, Ele fez Ëa, e está além disto; e os Valar são maiores do que nós, mas
todavia não se aproximam da majestade dele. Não é assim?

- Assim é - disse Finrod - nós dizemos isto, e os Valar nós conhecemos, eles dizem o mesmo,
todos exceto um. Mas qual, você pensa, é o mais provável para mentir: aqueles que se fazem de
humildes ou ele que exalta a si mesmo?

- Eu não duvido - disse Andreth - por essa razão a declaração de Esperança ultrapassa minha
compreensão. Como poderia Eru entrar em sua criação e da qual Ele é incomensuravelmente
maior? Pode o cantor entrar em sua canção ou o desenhista em seu quadro?

- Ele já está nisto como também do lado de fora - disse Finrod - mas de fato o "habitar dentro" e o
"viver fora" não estão no mesmo modo.

- Verdadeiramente - disse Andreth - assim pode Eru naquele modo estar presente em Ëa que
procedeu dEle. Mas eles falam do próprio Eru entrando em Arda, e isso é uma coisa
completamente diferente. Como poderia Ele fazer isto? Isso não despedaçaria Arda, ou realmente
todo o Ëa?

- Não me pergunte - disse Finrod - estas coisas estão além do limite da sabedoria dos Eldar, ou
dos Valar talvez. Mas eu duvido que nossas palavras possam nos enganar, e que quando você diz
"maior” você pensa nas dimensões de Arda, na qual o maior recipiente não pode ser contido no
menor. Mas tais palavras não podem ser usadas sobre o Imensurável. Se Eru desejasse fazer isto,
eu não duvido que Ele encontrasse um modo, embora eu não possa prevê-lo. Pois, como me
parece, até mesmo se Ele em Si mesmo entrasse, Ele ainda deve permanecer também como Ele
é: o Autor exteriormente. E contudo, Andreth, para falar com humildade, eu não posso conceber de
que outro modo esta cura poderia ser alcançada. Uma vez que Eru certamente não consentirá que
Melkor desvie o mundo para sua própria vontade e triunfe no fim. Todavia não há nenhum poder
concebível maior do que Melkor exceto apenas Eru. Por conseguinte Eru, se Ele não quiser
abandonar o Seu trabalho a Melkor, que deve de outro modo conseguir o domínio, então Eru deve
entrar para subjugá-lo.

- Ainda mais – continuou Finrod - até mesmo se Melkor pudesse ser derrubado de qualquer forma
ou pudesse ser expulso de Arda, ainda sua Sombra permaneceria e o mal que ele tenha forjado e
disseminado como uma semente cresceria e se multiplicaria. E se qualquer remédio para isto for
encontrado antes que tudo esteja terminado, qualquer luz nova para se opor a sombra, ou qualquer
remédio para as feridas: então deve, eu julgo, vir de fora.

- Então, senhor - disse Andreth olhando para cima maravilhada - você acredita nesta Esperança?

O DIÁLOGO DE FINROD E ANDRETH 12


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- Não me pergunteis ainda. - ele respondeu - Pois ela ainda é para mim como uma estranha nova
que vem de longe. Nenhuma esperança como essa foi jamais dita aos Quendi. Para vós apenas
ela foi mandada. E contudo através de vós nos podemos ouvi-la e levantar nossos corações". Ele
parou por um momento e então, olhando gravemente para Andreth, disse: "Sim, mulher-sábia,
talvez tenha sido ordenado que nós, os Quendi, e vós, os Atani, antes que o mundo envelheça, nós
encontrássemos e trouxéssemos novas uns para os outros, e assim soubéssemos da Esperança
através de vós: ordenado, de fato, que tu e eu, Andreth, sentássemos aqui e conversássemos,
através do golfo que divide nossas gentes, para que enquanto a Sombra ainda paira no Norte nós
não estivéssemos de todo amedrontados".

- Através do golfo que divide nossas famílias - disse Andreth - Não há ponte alguma além de
palavras? E então ela lamentou outra vez.

- Talvez haja para alguns. Eu não sei. - ele disse - O golfo, talvez, está mais entre nossos destinos,
pois de resto somos parentes próximos, mais próximos do que quaisquer outras criaturas no
mundo. Contudo, perigoso é cruzar um golfo imposto pelo destino; e os que se arriscassem a fazê-
lo não encontrariam alegria do outro lado, mas a tristeza para ambos. Assim julgo eu.

- Mas por que dizes "meras palavras"? Palavras não ultrapassam o golfo entre uma vida e outra?
Entre ti e mim certamente passou mais do que som vazio? Não nos aproximamos de forma
alguma? Mas isso é, creio, pouco conforto para ti.

- Não pedi conforto - disse Andreth - por que preciso dele?

- Para a destruição dos Homens que te tocou como uma mulher - disse Finrod - tu pensas que eu
não sei? Ele não é meu irmão afetuosamente amado? Aegnor: Aikanár, a Chama Afiada, célere e
sôfrego. E não faz muitos anos desde que vos encontrastes pela primeira vez, e vossas mãos se
tocaram neste escuro. Contudo, eras então apenas uma donzela, valente e sôfrega, na manhã
sobre os altos montes de Dorthonion.

- Continue - disse Andreth - diga: quem és agora a não ser uma mulher-sábia, sozinha, e a idade
que não tocá-lo-á já assentou o cinza do inverno em teus cabelos! Mas não digas tu para mim, pois
assim ele fez uma vez!

- Ai de nós! - disse Finrod - isso é a amargura, amada adaneth, mulher mortal, não é? Isso
traspassou todas as suas palavras. Se eu pudesse falar algum conforto, você julgaria isto
soberanamente de alguém do meu lado da destruição que nos separa. Mas o que eu posso dizer,
salvo para lembrar da Esperança que tu mesma revelaste?

- Eu não disse que alguma vez ela fora a minha esperança - respondeu Andreth - e mesmo que
assim fosse, ainda assim eu gritaria: por que esse ferimento deveria vir aqui e agora? Por que
deveríamos amar-vos, e por que vós deveríeis amar-nos e ainda assim colocar o golfo entre nós?

- Porque assim fomos feitos, parentes próximos - disse Finrod - mas não fizemos a nós mesmos,
Andreth, e portanto nós, os Eldar, não colocamos esse golfo. Não, adaneth, não somos altivos
nisto, mas cheios de compaixão. Tal palavra pode desagradar-te. Contudo, a compaixão é de dois
tipos: uma vem do parentesco reconhecido, e é próxima do amor; a outra vem da diferença de
sorte percebida, e é próxima do orgulho. Falo da primeira.

- Não faleis de nenhuma para mim! - disse Andreth - não desejo nenhuma. Eu era jovem e olhei
para a chama dele, e agora estou velha e perdida. Ele era jovem, e sua chama saltou na minha
direção, mas ele se afastou, e é jovem ainda. Velas se compadecem de mariposas.

- Ou mariposas de velas, quando o vento as apaga? – perguntou Finrod - Adaneth, eu te digo,


Aikanár, a Chama Afiada, te amava. Por tua causa ele jamais tomará a mão de qualquer noiva de
sua própria gente, mas viverá sozinho até o fim, lembrando-se da manhã nos montes de

O DIÁLOGO DE FINROD E ANDRETH 13


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Dorthonion. Mas cedo demais no Vento Norte a chama dele apagar-se-á! Previsão é dada aos
Eldar em muitas coisas que não estão distantes, embora raramente de alegria, e digo a ti que
viverás muito na medida de tua gente, e ele sairá diante de ti e não desejará retornar.

Então Andreth se levantou e esticou suas mãos na direção do fogo: - Por que então ele se
afastou? Por que deixar-me se eu ainda tinha alguns bons anos para gastar?

- Ai de nós! - disse Finrod - temo que a verdade não te irá satisfazer. Os Eldar são de uma
maneira, e vós de outra; e cada um julga os outros por si mesmo, até que aprenda, o que poucos
fazem. Este é um tempo de guerra, Andreth, e em tais dias os Elfos não se casam nem concebem
filhos, mas preparam-se para a morte ou para a fuga. Aegnor não tem confiança alguma, nem eu
tenho, que o cerco de Angband dure muito; e então o que será desta terra? Se seu coração o
governasse, ele teria desejado tomar-te consigo e fugir para longe, para o leste ou o sul,
abandonando sua gente e a tua. Amor e lealdade o prendem à gente dele. E quanto a ti à tua? Tu
mesma disseste que não há escapatória por fuga dentro dos limites do mundo.

- Por um ano, um dia da chama, eu teria dado tudo: parentesco, juventude e a própria esperança;
adaneth eu sou. - Disse Andreth.

- Isso ele sabia - disse Finrod - e se retirou e não tomou aquilo que estava diante de sua mão: elda
ele é. Pois tais barganhas são pagas em angústia que não pode ser imaginada até que venha, e
em ignorância, e não em coragem, os Elfos crêem que elas são feitas. Não, adaneth, se algum
casamento pode acontecer entre nossa gente e a tua, então será por algum alto propósito do
Destino. Breve será e duro no fim. Sim, o fado menos cruel que poderia suceder-lhe seria que a
morte logo o encerrasse.

- Mas o fim é sempre cruel para os Homens - disse Andreth - eu não o teria importunado, quando
minha curta juventude estivesse esgotada. Eu não teria me arrastado como um fardo atrás de seus
pés brilhantes, quando eu não mais pudesse correr ao lado dele!

- Talvez não - disse Finrod - assim o sentes agora. Mas pensas nele? Ele não teria corrido diante
de ti. Ele teria ficado a teu lado para te levantar. Então compaixão terias a toda hora, compaixão
inescapável. Ele não consentiria em ver-te humilhada. Andreth adaneth, a vida e o amor dos Eldar
repousa muito na memória; e nós, se não vós, preferimos antes ter uma memória que é bela mas
inacabada do que uma que continua até um fim triste. Agora ele sempre lembrar-se-á de ti no sol
da manhã, e daquela última noite perto da água do Aeluin, na qual ele viu teu rosto espelhado com
uma estrela presa entre teus cabelos - sempre, até que o Vento Norte traga a noite de sua chama.
Sim, e depois disso, sentar-se na Casa de Mandos nos Salões da Espera até o fim de Arda.

- E do que me lembrarei? - perguntou Andreth - e quando eu partir, para que salões irei? Para uma
escuridão na qual mesmo a memória da chama afiada será apagada? Mesmo a memória da
rejeição. Pelo menos essa.

Finrod suspirou e se levantou: - Os Eldar não têm palavras de cura para tais pensamentos,
adaneth - ele disse - mas desejarias que Elfos e Homens jamais tivessem se encontrado? A luz da
chama, que de outra forma nunca terias visto, não tem valor mesmo agora? Tu te acreditas
desprezada? Afasta de ti ao menos esse pensamento, que vem da Escuridão, e então nossa
conversa juntos não terá sido totalmente em vão. Adeus!

A escuridão caiu sobre o aposento. Ele tomou a mão dela na luz do fogo: Para onde ides? - ela
disse.

- Para o Norte – respondeu Finrod - para as espadas, o cerco e os muros de defesa. Para que por
ainda algum tempo em Beleriand os rios possam correr limpos, as folhas possam brotar e os
pássaros possam construir seus ninhos, antes que a Noite venha.

O DIÁLOGO DE FINROD E ANDRETH 14


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- Ele estará lá – perguntou Andreth - brilhante e alto, e o vento em seu cabelo? Dizei-lhe. Diga-lhe
para não ser descuidado. Para não buscar o perigo sem necessidade!

- Direi isso a ele - disse Finrod - mas poderia também te dizer para não chorar. Ele é um guerreiro,
Andreth, um espírito de ira, e em cada golpe que dá vê o Inimigo que há muito te fez esta ferida.
Mas vós não sois de Arda. Para onde fordes que possais encontrar luz. Espera por nós lá, a meu
irmão, e a mim.

O DIÁLOGO DE FINROD E ANDRETH 15

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