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CURSO DE LÓGICA

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1 Argumento
De…nição 1 Argumento é um conjunto de proposições (fórmulas) chamadas
premissas ou hipóteses, seguidas de uma proposição (fórmula) chamada de con-
clusão ou tese.
Em símbolos temos ` C. (lemos: dado deduzimos C).

Então, argumentar logicamente signi…ca fazer a…rmações e concluir. Porém,


nem todo argumento é logicamente válido.
Dados um conjunto …nito de premissas = fP1 , P2 , P3 , , Pn g e uma
conclusão C, dizemos que um argumento é válido se
) C (o conjunto implica C). Na linguagem proposicional, um argu-
mento é válido se
P1 ^ P2 ^ P3 ^ ^ Pn ! C for uma tautologia (1)
Então, um argumento é válido se:

1. Todas as premissas forem verdadeiras.


2. A conclusão é verdadeira.

Temos várias maneiras de provar que um argumento é válido:

1. Provar que a condicional (1) acima é tautologia.


Para isso, podemos utilizar tabela verdade ou Álgebra de Boole.
2. Provar que a condicional (1) jamais pode ser falsa. Sabemos que a condi-
cional só será falsa, se todas as premissas forem verdadeiras e a conclusão
falsa. Neste caso, utilizamos uma estratégia denominada refutação: prova-
mos que esta hipótese não acontece, ou seja, consideramos a conclusão
falsa (por hipótese) e mostramos que, com esta hipótese não teremos to-
das as premissas verdadeiras. (em outras palavras, com a conclusão falsa
derivamos uma contradição nas premissas).

3. Podemos provar que um argumento é válido partindo das premissas, chegar


a conclusão, aplicando regras de inferência e/ou regras de equivalências,
(por meio de uma sequência de deduções e substituições convenientes).

Daremos a seguir as principais regras que nos permitem validar argumentos.

1.1 Regras de Inferência


As regras de inferência são argumentos baseados em implicações simples. Já
mostramos algumas utilizando tabela-verdade ou Álgebra de Boole.

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Estas implicações são utilizadas como axiomas de um sistema de prova. Po-
dem ser utilizadas recorrentemente para provar argumentos mais complexos. A
seguir listamos as principais regras de inferência:
De Podemos deduzir Nome/abreviação da regra
P; P ! Q Q modus ponens/mp
P _ Q; :Q P silogismo disjuntivo/sd
P ! Q; :Q :P modus tollens/mt
P; Q P ^Q conjunção/conj
P ^Q P simpli…cação/simp
P P _Q adição/ad
P ! Q; Q ! R P !R silogismo hipotético/sh
P _ Q; P ! R; Q ! R R eliminação de disjunção/ed

1.2 Equivalências notáveis


1. ::P , P
A dupla negação de uma proposição equivale à própria proposição.
Ex: “É falso que Pedro não foi à padaria” é equivalente a “Pedro foi à
padaria”.
2. Idempotência
1)P , (P ^ P )
2)P , (P _ P )
3. Comutação
1) (P ^ Q) , (Q ^ P )
2) (P _ Q) , (Q _ P )
3)(P ! Q) , (Q ! P)
Os componentes de uma conjunção, disjunção ou bicondicional podem ser
comutados para simpli…cação.
4. Associação
1) P ^ (Q ^ R) , (P ^ Q) ^ R , (P ^ R) ^ Q
2) P _ (Q _ R) , (P _ Q) _ R , (P _ R) _ Q
Em geral, o que esta equivalência nos diz é que em conjunções e disjunções
a ordem das proposições componentes não altera o valor lógico do con-
junto, assim, os parenteses poderiam ser removidos, como em P ^ Q ^ R,
sem gerar ambiguidade.
5. Distribuição
1) P ^ (Q _ R) , (P ^ Q) _ (P ^ R)
2) P _ (Q ^ R) , (P _ Q) ^ (P _ R)

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Esta equivalência indica que uma conjunção pode distribuir-se em uma
disjunção e uma disjunção pode se distribuir em uma conjunção. Isto
pode ser ilustrado no seguinte exemplo, onde P : “Pedro acordou”, Q:
“Pedro foi à escola” e R: “Pedro foi à praia”:
1) “Pedro acordou e; foi à escola ou foi à praia” , “Pedro acordou e foi
à escola; ou Pedro acordou e foi à praia”
Agora, atribuindo às variáveis P; Q e R, respectivamente, as proposições
“Pedro é inteligente”, “Pedro é mau aluno” e “Pedro repetiu de ano”.
2) “Pedro é inteligente ou; Pedro é mau aluno e repetiu de ano”, “Pedro
é inteligente ou é mau aluno; e Pedro é inteligente ou repetiu de ano”.

6. Transposição (contrapositiva)
P ! Q , :Q ! :P
Esta importantíssima equivalência tem relação direta com a regra Modus
Tollens; lembre-se que a negação do consequente de uma implicação resulta
na negação do antecedente. Portanto, o antecedente e consequente podem
ser transpostos contanto que um sinal de negação seja introduzido em
ambos.
Ex: “Se Pedro é estrangeiro, então ele não nasceu no Brasil”, “Se Pedro
nasceu no Brasil, então ele não é estrangeiro”
7. Implicação Material
P ! Q , :P _ Q
Serve para mostrar a equivalência entre a condicional e a disjunção.
8. Equivalência Material
P ! Q , (P ! Q) ^ (Q ! P )
Uma bicondicional pode ser transformada em duas condicionais.
9. Exportação/Importação
(P ^ Q) ! R , P ! (Q ! R)
10. De Morgan
:(P ^ Q) , :P _ :Q
:(P _ Q) , :P ^ :Q

2 Provas de validade
Considerando as regras de inferência e as equivalências vistas acima, podemos
provar que um argumento é válido por meio de sucessivas deduções (derivações)
e, se necessário, substituindo fórmulas pela sua equivalente.

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Exemplo 2 Provar que o argumento simbolizado por:
P ! :Q, R ! P , Q ` :R é válido com regras de inferência.

Nese caso, devemos mostrar que, se partirmos das hipóteses (fórmulas do


lado esquerdo de `) e aplicando regras de inferência, chegaremos à conlusão
(fórmula do lado direito de `)

1. P ! :Q - hipótese
2. R ! P - hipótese
3. Q - hipótese
4. ::Q - equivalente a 3.
5. :P - mt 4,1
6. :R - mt 5,2

Exemplo 3 Provar o mesmo argumento anterior utilizando refutação


P ! :Q, R ! P , Q ` :R

1. Suponhamos que a conclusão :R seja falsa. Para isso, R tem que ser
verdadeira.
2. Como temos a premissa R ! P , então para R verdadeira temos que ter
P verdadeira.
3. Com P verdadeira, temos que ter P ! :Q verdadeira e, portanto, :Q
verdadeira.
4. Para termos :Q verdadeira, temos que ter Q falsa.
5. Mas Q é premissa. E portanto não pode ser falsa.
6. Como derivamos uma premissa falsa, supondo a conclusão falsa, o argu-
mento é válido.

Exemplo 4 Mostrar que o seguinte argumento escrito em linguagem natural é


logicamente válido.
(1) Se o time joga bem, ganha o campeonato.
(2) Se o time não joga bem, o técnico é culpado.
(3) Se o time ganha o campeonato, os torcedores …cam contentes.
(4) Os torcedores não estão contentes.
(5) Logo, o técnico é culpado.

Primeiro, associamos a cada proposição um símbolo proposicional distinto:


p : "o time joga bem"
q : "o time ganha o campeonato"
r : "o técnico é culpado"
s : "os torcedores …cam contentes"

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Em seguida, usando esses símbolos proposicionais, escrevemos as fórmulas
correspondentes
as sentenças do argumento:
(1) p ! q - premissa1
(2) :p ! r - premissa2
(3) q ! s - premissa3
(4) :s - premissa4
(?) r - conclusão
Finalmente, podemos representar o argumento como:
p ! q; :p ! r; q ! s; :s ` r
Para mostrar a validade do argumento, podemos utilizar uma das estraté-
gias vistas anteriormente. Notem, porém, que algumas delas são muito mais
trabalhosas que outras. Por exemplo, tabela-verdade é quase que inviável, pois
temos quatro variáveis e a tabela teria dezesseis linhas. Álgebra de Boole tam-
bém seria um pouco trabalhoso. Então as melhores estratégias …cam restritas
a regras de inferências ou refutação. Então por inferências, temos a seguinte
derivação:
(5) :q modus tollens 3,4
(6) :p modus tollens 5,1
(7) r modus ponens 2,6

Referências
[Alencar,1999] Alencar Filho, Edgard de, Iniciação à Lógica Matemática. No-
bel, São Paulo.
[Bedregal, 2002] Bedregal & Acioly. Lógica para a Ciência da Computação,
2002. Univ. Federal do Rio Grande do Norte, Natal
[Gersting, 2001] Gersting, Judith L. Fundamentos Matemáticos para a Ciência
da Computação. Livros Tecnicos e Cientí…cos Editora. Rio de
Janeiro.
[Souza, 2002] Souza, João Nunes. 2002. Lógica para Ciência da Computação.
Elsevier Ed. Ltda. Rio de Janeiro.

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