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IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015

FEUP, 6-7 de julho de 2015

Editores:

Sandra Nunes
Joana Sousa Coutinho
Rui Faria

Departamento de Engenharia Civil


Faculdade de Engenharia, Universidade do Porto

Editores. Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto


Impressão e acabamentos: Cultureprint, Crl
Pólo das Industrias Criativas da Univ. Porto | Pr. Coronel Pacheco nº 2
Depósito legal nº 394402/15
ISBN: 978-972-752-179-1

Capa:

© Os Autores 2015
© Editores 2015
© Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto
R. Dr. Roberto Frias, 4200-465 Porto

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IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

Livro de comunicações do
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

Libro con las comunicaciones del


IV Congreso Iberoamericano de Hormigón Autocompactante – BAC2015
FEUP, 6-7 julio de 2015

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consentimiento previo por escrito de los titulares de la emisión de derechos.

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IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

PATROCINADORES

PATROCÍNIOS INSTITUCIONAIS

APOIOS

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IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

COMISSÃO ORGANIZADORA / COMITÉ ORGANIZADOR


Sandra Nunes (Presidente) (FEUP, Portugal)
Antonia Pacios (UPM, Espanha)
Joana Sousa Coutinho (FEUP, Portugal)
Joaquim Barros (UM, Portugal)
Pedro Serna (UPV, Espanha)
Romildo D. Toledo Filho (UFRJ, Brasil)
Rui Faria (FEUP, Portugal)

COMISSÃO CIENTÍFICA / COMITÉ CIENTÍFICO


Joaquim Figueiras (Presidente) (FEUP, Portugal) Holmer Savastano Junior (USP, Brasil)
Aires Camões (UM, Portugal) Jaime Galvez (UPM,Espanha)
Alejandro Manzano-Ramírez (CINVESTAV-IPN, Mexico) Jorge Brito (IST, Portugal)
Ana Maria Proença (FEUP, Portugal) Liberato Ferrara (PDM, Itália)
Ângela Nunes (SECIL, Portugal) Lino Maia, (UMA, Portugal)
Aníbal Leite (Mota-Engil,Portugal) Luiz Oliveira (UBI, Portugal)
Antonio Aguado de Cea (UPC, Espanha) Manuel Vieira (LNEC, Portugal)
António Bettencourt Ribeiro (LNEC, Portugal) Marco Alcantara (UNESP, Brasil)
Arlindo Gonçalves (LNEC, Portugal) Mari Cruz Alonso (IETcc, Espanha)
Arnaldo Pereira Carneiro (UFPE, Brasil) Miguel Ferreira (VTT, Filândia)
Berenice Martins Toralles (UEL, Brasil) Miguel Nepomuceno (UBI, Portugal)
Bernardo Tutikian (UNISINOS, Brasil) Mônica Barbosa (UNESP,Brasil)
Bryan Barragán (Owens Corning, França) Nídia Dias (Sika, Portugal)
David Revuelta Crespo (CSIC, ESpanha) Paulo Cachim (UA, Portugal)
Eduardo Júlio (IST, Portugal) Paulo Gomes (UFAL, Brasil)
Ernesto Villar Cociña (UCLV, Cuba) Ravindra Gettu ( IITM, Índia)
Francisca Puertas Maroto (IETcc, Espanha) Raúl Zerbino (LEMIT, Argentina)
Gemma Sensale (UDELAR, Uruguai) Saíd Jalali (UM, Portugal)
Helena Figueiras (FEUP, Portugal) Silvio Delvasto (Univalle, Colombia)
Wellington Repette (UFSC, Brasil)

SECRETARIADO / SECRETARÍA ORGANIZAÇÃO / ORGANIZACIÓN


Manuel Carvalho
Maria Amélia
Maria de Lurdes

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IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

PREFÁCIO

O IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-Compactável (BAC2015), organizado na


Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) com o apoio do LABEST – Laboratório
da Tecnologia do Betão e do Comportamento Estrutural, da unidade de investigação CONSTRUCT –
Instituto de I&D em Estruturas e Construção, constitui um fórum que permite a engenheiros e
investigadores que utilizam os idiomas Português e Espanhol a discussão e intercâmbio de
experiências sobre as possibilidades e os desafios do betão auto-compactável (BAC), nas suas
vertentes tecnológica, científica e de aplicação.

À semelhança da edição anterior deste congresso foram recebidos cerca de 70 resumos, tendo sido
submetidos e aceites cerca de 60 artigos. O presente livro de Atas reúne as versões impressas dos
artigos aceites para serem apresentados durante o BAC2015. As versões integrais dos artigos serão
também disponibilizadas aos participantes em suporte digital, através da página web do BAC2015. Os
artigos reproduzidos em ambos os formatos abordam um amplo conjunto de temas, que incluem os
materiais constituintes e composições, a caracterização nos estados fresco e endurecido, o desempenho
estrutural e a durabilidade e os casos de obra com recurso ao BAC. Destaca-se o facto de os
participantes no BAC2015 serem oriundos de Portugal, Espanha, Brasil, México, Colômbia e Uruguai.

Esta edição do congresso conta também com a participação de três conferencistas convidados – o Dr.
Nicolas Roussel, do Institut Français des Sciences et Technologies des Transports, de l’Aménagement
et des Réseaux (IFSTTAR, França), o Dr. Steffen Grünewald, da Delft University of Technology
(TUDelft, Países Baixos) e o Engº Aníbal Leite, do Grupo Mota-Engil África, (Portugal), que nos
apresentarão perspetivas do estado do conhecimento atual sobre o BAC, bem como oportunidades para
aplicações futuras em mercados emergentes.

A Comissão Organizadora expressa o seu sincero apreço pelo esforço dedicado pelos conferencistas e
pelos autores na cuidadosa preparação de todos os artigos submetidos, que muito contribuiu para a
qualidade técnica e científica do BAC2015. É de reconhecer também o trabalho da Comissão
Científica do BAC2015, cuja diligente revisão dos trabalhos submetidos contribuiu inegavelmente
para a melhoria das versões finais dos artigos publicados. Finalmente, agradece-se a todas as empresas
e entidades que, apesar das dificuldades económicas do momento presente, se revelaram sensíveis
relativamente à importância do BAC2015, e se disponibilizaram para apoiar esta iniciativa com ajuda
financeira e/ou de promoção e divulgação.

Sandra Nunes
Presidente da Comissão Organizadora, FEUP

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IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

PREFACIO

El IV Congreso Iberoamericano de Hormigón Autocompactante (BAC2015), organizado en la


Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) con el apoyo de LABEST – Laboratory
for the Concrete Technology and Structural Behaviour, de la unidad de investigación CONSTRUCT –
Institute of R&D in Structures and Construction, es un foro que permite a los ingenieros e
investigadores que utilizan los idiomas Portugués y Español la discusión y el intercambio de
experiencias sobre las posibilidades y desafíos del hormigón autocompactante, en sus componentes
tecnológica, científica y de aplicación.

Al igual que la anterior edición de este congreso, se recibieron cerca de 70 resúmenes, de los cuales
han sido sometidos y aceptados cerca de 60 artículos. Este libro contiene las versiones impresas de los
artículos aceptados para presentación durante el BAC2015. Las versiones completas de los artículos
también estarán disponibles para los participantes en formato digital, a través la página web del
BAC2015. Los artículos reproducidos en ambos formatos abordan una amplia gama de temas,
incluyendo los materiales constituyentes y composiciones, la caracterización de los estados fresco y
endurecido, el comportamiento estructural y la durabilidad y los casos de obra utilizando el hormigón
autocompactante. Los participantes en el BAC2015 representan países como Portugal, España, Brasil,
México, Colombia y Uruguay.

Esta edición de la conferencia también incluye la participación de tres oradores invitados – Dr. Nicolas
Roussel, del Institut Français des Sciences et Technologies des Transports, de l’Aménagement et des
Réseaux (IFSTTAR, Francia), el Dr. Steffen Grünewald, de la Delft University of Technology
(TUDelft, Países Bajos) y el Ing. Aníbal Leite, del Grupo Mota-Engil África (Portugal), que nos
presentarán perspectivas sobre el estado de conocimiento actual sobre el hormigón autocompactante,
así como oportunidades para futuras aplicaciones en los mercados emergentes.

El Comité Organizador expresa su sincero agradecimiento por el esfuerzo dedicado por los oradores
invitados y por los autores en la preparación cuidadosa de todos los artículos sometidos, que mucho
contribuyó para la calidad científica y técnica del BAC2015. También se debe reconocer el trabajo del
Comité Científico del BAC2015, que a través de la diligente revisión de los trabajos sometidos
innegablemente contribuyó para mejorar las versiones finales de los artículos publicados. Por último,
agradecemos a todas las empresas y entidades que, a pesar de las dificultades económicas del
momento presente, han demostrado ser sensibles con respecto a la importancia del BAC2015,
apoyando esta iniciativa con ayuda financiera y/o de promoción y difusión.

Sandra Nunes
Presidente del Comité Organizador, FEUP

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IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

ÍNDICE

CONFERÊNCIAS CONVIDADAS / CONFERENCIAS INVITADAS


Rheology of Self Compacting Concrete: from measurements to casting processes ................................3
Nicolas Roussel

Structural design with flowable concrete ...............................................................................................19


Steffen Grünewald, Liberato Ferrara, Frank Dehn

Materiais constituintes. Composições


Materiales constituyentes. Composiciones.
Reologia de concretos autoadensáveis com substituição parcial de agregado graúdo por RCD
classe cinza ............................................................................................................................................35
Ritianne da Silva, Helen Vieira, Ederli Marangon

Resíduos minerais cominuídos aplicados ao CAA: desempenho no estado fresco ...............................45


Edgar Bacarji, R.D. Toledo Filho

Betão Autocompactável na Região Autónoma da Madeira: da composição de laboratório à


comercialização......................................................................................................................................51
Lino Maia, Diana Neves, Miguel Guimarães

Influência da adição de nano-partículas na reologia e no desempenho de Betão


Auto-Compactável .................................................................................................................................61
Cátia Lourenço, Eliana Soldado, Hugo Costa, Ricardo Carmo, Eduardo Júlio

Dosagem de concreto autoadensável com substituição parcial do agregado miúdo por cinza
do bagaço da cana-de-açúcar .................................................................................................................71
Marisa Fujiko Nagano, Hugo Sefrian Peinado, Romel Dias Vanderlei

A short view on the synthesis of metakaolin-based geopolyme for the degradation of VOC´s
and microorganism purposes .................................................................................................................81
J. Ramón Gasca-Tirado, J.L.Reyes-Araiza, A. Manzano-Ramírez

Influência do empacotamento do agregado miúdo nas características do betão


autocompactável com baixo consumo de cimento .................................................................................89
Lúcio Matos, Augusto Pinotti

Influência do uso de cinza volante na trabalhabilidade e resistência à compressão e tração do


betão autocompactável ...........................................................................................................................99
Lúcio Matos, Fagner Carvalho

Utilização de pozolana obtida a partir de resíduo de cerâmica vermelha na composição do


concreto autoadensável ........................................................................................................................109
Rafael Santos, Alessandra Castro, Mônica Barbosa

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FEUP, 6-7 de julho de 2015

Comportamiento reológico, mecánico y microestructual de pastas y morteros de cementos


alcalinos y eco-eficientes. Reutilización de residuos vítreos ...............................................................119
M.M.Alonso, C. Rodríguez-Puertas, C. Varga, M. Torres-Carrasco, P. Rivilla, F.Puertas

Interacción de aditivos superplastificantes con arenas de diferente naturaleza ...................................129


M.M. Alonso, R. Martínez-Gaitero, F. Puertas

Propriedades físico-mecánicas de hormigones autocompactantes ligeros con EPS reciclado


sometidos a altas temperaturas .............................................................................................................139
Rocío Sancho, Mª Eugenia Maciá, Ángel Castillo

Propriedades mecânicas de betões auto-compactáveis compostos por agregados reciclados..............149


Kelvya Maria de Vasconcelos Moreira, Antônio Eduardo Bezerra Cabral

Concreto autoadensável com agregados graúdos e miúdos reciclados ................................................159


Lais S. Machado, Anderson H. Barbosa

Concreto autoadensável com adição da cinza do bagaço de cana-de-açúcar .......................................169


Daiane dos S. Silva, Anderson H. Barbosa

Concreto auto adensável leve - aspectos reológicos comparativos ao concreto de massa


convencional ........................................................................................................................................179
D. Altheman, E. Verzegnassi, R.C.C. Lintz, L.A. Gachet

Concretos auto-adensáveis: tendências de composição e resultados de ensaios ..................................185


Alysson Moura, Luiz Carneiro, Eduardo Thomaz

Dosagem e aplicação de concretos autoadensáveis com misturas binárias e ternárias de


materiais cimentícios ...........................................................................................................................195
Sidiclei Formagini, Eduardo Oliveira Menezes, Camila Teixeira Silva,
Lucas Ricardo Zanoni, Kaleb Batista Basílio

Composições de agregados para obtenção de concreto auto adensável ...............................................205


Roberto Monteiro, Paulo Gomes, Karoline Moraes

Concretos autoadensáveis com substituição parcial de cimento Portland por sílica de casca
de arroz obtida através da queima controlada em leito fluidizado: Desempenho nos estados
fresco e endurecido ..............................................................................................................................215
Jarbas Bressa Dalcin, Ederli Marangon, Luis Eduardo Kosteski

Betão auto-compactável produzido com incorporação de calcário moído e de resíduo da


refinação de petróleo ............................................................................................................................225
Inês Laginha, Sandra Nunes, Carla Costa

Avaliação das propriedades reológicas e mecânicas de CAA produzidos com RCD e dosados
a partir dos conceitos de empacotamento de partículas .......................................................................235
M.P. Barbosa, L.L. Pimentel, A.L. Castro, R.S. Campos

Resíduos Industriais em BAC ..............................................................................................................245


Ana M. Matos, Sandra Nunes, J. Sousa-Coutinho

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FEUP, 6-7 de julho de 2015

Propriedades. Caracterização nos estados fresco e endurecido


Propiedades. Caracterización en estado fresco y endurecido
Propriedades mecânicas e retração de BAC produzido em misturas binárias e ternárias de
cinzas volantes e fíler calcário .............................................................................................................259
Pedro Silva, Jorge de Brito

Hormigones autocompactantes pretensados químicamente .................................................................267


David Revuelta Crespo, Pedro Carballosa de Miguel, José Luis García Calvo

Avaliação da capacidade do parâmetro wft (water film thickness) contribuir para a obtenção
do concreto autoadensável ...................................................................................................................277
Marcus Mendes, Elton Bauer

Ensaios não destrutivos no betão autocompactável .............................................................................289


Miguel Nepomuceno, Luiz Pereira-de-Oliveira, João Costa

Efeito do tempo e temperatura de cura em concretos autoadensáveis com reduzido teor de


cimento.................................................................................................................................................299
Marcos Anjos, Aires Camões

Indicadores de durabilidade de concreto auto-adensável em ambiente quente e agressivo.


Comparativo com concreto convencional ............................................................................................309
Carlos Calado, Aires Camões, Eliana Monteiro, Paulo Helene, Béda Barkokébas

Avaliação da fissuração devido a retração plástica nas primeiras idades de argamassas de


Concreto de Alto Desempenho e Concreto Auto Adensável ...............................................................319
M.P. Barbosa, G.F. Maciel

Comportamento reológico da fase argamassa de betão autocompactável com agregados finos


reciclados .............................................................................................................................................331
Luiz Pereira-de-Oliveira, Miguel Nepomuceno, Carlos Silveira

Desarrollo de productos de Hormigón de Muy Alto Rendimiento por conformado durante el


proceso fraguado ..................................................................................................................................341
Mabel Fernández, Pedro Serna, J. Ángel López

Avaliação do calor de hidratação de betão auto compactavel..............................................................351


Sandra M.F. Teixeira, Roberto B. Figueiredo, Augusto C.S. Bezerra, Maria T.P. Aguilar

Avaliação reológica de argamassa com agregado reciclado para obtenção de concreto


autoadensável leve ...............................................................................................................................357
Everton L. S. Mendes, Rafael G. Pileggi, Paulo C.C. Gomes,
Roberto C. de O. Romano, Sérgio C. Angulo

Uso de la reología para el análisis de la robustez y trabajabilidad del hormigón


autocompactante reciclado ...................................................................................................................367
I. González-Taboada, B. González-Fonteboa, F. Martínez-Abella, J.L. Pérez-Ordóñez

Caracterização da fluência em tração em betões autocompactáveis, com restrição da retração


de secagem ...........................................................................................................................................377
Luís Leitão, Rui Faria, Luís Teixeira, Miguel Azenha, Sandra Nunes

Evaluación de la retracción y fluencia en el hormigón autocompactable de resistencia media ...........387


C.J. de la Cruz, G. Ramos, W.A. Hurtado

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Comportamiento a edades muy tempranas del hormigón autocompactante para


prefabricación ......................................................................................................................................397
Elvis Flores Galán, Luis García-Ballester, Pedro Serna-Ros, Manuel Valcuende-Payá,
Luisa A. Gachet Barbosa, Rosa C. Cecche Lintz

Rheology of selfcompacting mortars with sustainable binders ............................................................407


Antonia Pacios, M. Cruz Alonso, Frank Dehn, Andreas König

Desempenho estrutural. Durabilidade


Comportamiento estructural. Durabilidad
Experiencias sobre durabilidad de hormigones autocompactantes frente a diferentes
ambientes agresivos .............................................................................................................................419
J.L. Piqueras Sala, R. Mingorance Mingorance, J.A. Ramos Martin,
J. Rodríguez Montero, F. Lamas Fernández

Estudo do carregamento cíclico de baixa frequência à flexão em concretos autoadensáveis


contendo fibras de aço .........................................................................................................................429
Ederli Marangon, Romildo Dias Toledo Filho

Ensaio à rotura de protótipo de edifício em lajes de betão auto-compactável reforçado com


fibras ....................................................................................................................................................439
Joaquim Barros, Hamidreza Salehian, Miguel Pires, Delfina Gonçalves

Durabilidade do betão auto-compactável reforçado com fibras de aço ...............................................451


Cristina Frazão, Aires Camões, Joaquim Barros, Delfina Gonçalves

Microhormigón Autocompactante con fibras de polipropileno ...........................................................461


Gemma Rodríguez de Sensale, Rosana Rolfi Netto, Iliana Rodríguez Viacava

Variación de las propiedades mecánicas inducida por el flujo de hormigón autocompactante


en un hormigón reforzado con fibras de poliolefina ............................................................................471
M.G. Alberti, A. Enfedaque, J.C. Gálvez

Correlation between the Barcelona test and the three-point bending test for the
characterization of SCFRC ..................................................................................................................481
Eduardo Galeote, Sergio H. P. Cavalaro, Albert de la Fuente, Ana Blanco

La influencia de la escoria granulada de alto horno como reemplazo parcial del árido fino en
la durabilidad de los hormigones autocompactantes ............................................................................489
I. Miñano, M. Valcuende, C. Parra, C. Rodríguez, F.J. Benito

Influência do efeito de exposições ambientais no comportamento pós-fissurado de um BAC


reforçado com fibras de aço .................................................................................................................499
Gonçalo Escusa, Vítor M.C.F. Cunha, José Sena-Cruz, David Nascimento,
Eduardo N.B. Pereira

Criterios para el diseño y ejecución de elementos de geometría compleja de hormigón


autocompactante con fibra metálica .....................................................................................................509
Rosa Corral, Angel Castillo

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Avaliação não-destrutiva da dosagem e orientação das fibras em camadas de UHPFRC ...................517


Sandra Nunes, Filipe Ribeiro, Adriano Carvalho, Mário Pimentel,
Eugen Brühwiler, Maléna Bastien Masse

Análise experimental de elementos estruturais reforçados com uma camada de UHPFRC ................527
Mário Pimentel, Sandra Nunes, André Lopes

Durability performance-based design of SCC structures in marine environment ...............................539


Helena Figueiras, Sandra Nunes, Joana Coutinho, Joaquim Figueiras

Construção com BAC. Casos de obra


Construcción con BAC. Casos de obra
Avaliação do nível de ruído no processo executivo de concretagem com concreto
convencional e concreto autoadensável ...............................................................................................551
Hugo Sefrian Peinado, Marisa Fujiko Nagano, Alexis Kiouranis,
Rafael Germano Dal Molin Filho, Romel Dias Vanderlei, Paulo Fernando Soares

LEGOUSE – Habitação modular pré-fabricada: conceito, construção e ensaios ................................561


Joaquim Barros, Lúcio Lourenço, Luís Oliveira, Sandra Silva, Paulo Lopes

Estudo de viabilidade e durabilidade de concreto auto-adensável em canteiro de obra. Caso


da Arena Pernambuco ..........................................................................................................................571
Carlos Calado, Aires Camões, Tibério Andrade, Béda Barkokébas, Bianca Vasconcelos

Análisis de la viabilidad económica y estructural de tablestacas de UHPFRC ...................................581


Hugo Coll, J. Angel López, Sandra Galán, Pedro Serna

BPCA – Uma alternativa para a construção de estruturas de betão em massa ....................................591


Manuel Vieira, Bettencourt Ribeiro, Armando Camelo, Emanuel Costa

Acabado superficial de hormigones autocompactantes. Método ICS ..................................................601


F.J. Benito, M. Valcuende, C. Parra, C. Rodríguez, I. Miñano

Recurso a BAC na execução dos deflectores do “roller bucket” da Barragem de Ribeiradio .............611
Armando Camelo, Pedro F. Silva, Vanessa Gaspar

Índice de autores / Índice de autor .......................................................................................625

xv
CONFERÊNCIAS
CONVIDADAS

CONFERENCIAS
INVITADAS
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Rheology of Self Compacting Concrete: from measurements to


casting processes

Nicolas Roussel1

ABSTRACT

This paper focuses on the link between measurements of the rheological properties of fresh self-
compacting concrete (SCC) such as yield stress, viscosity and thixotropy and casting processes from
both a practical and simulation point of view. In the first part, methods allowing for the measurement
of the yield stress of a given SCC without the use of a rheometer are described. In a second part, a
thixotropy model allowing for the prediction of the apparent yield stress of the material as a function
of its flow history is presented. Finally, in the last part, prediction methods of casting process are
described. These methods can be considered as practical tools allowing for the prediction of formwork
filling, pressure formwork or multilayer casting occurrence. Moreover, they contribute to bringing
rheology from research and development into the field of practical applications.

Keywords: yield stress, thixotropy, casting, slump and formwork

1. INTRODUCTION

What are the final objectives of the extensive research, which has been carried out in the last fifty
years on rheology of fresh concretes?

A researcher answer could be: “the understanding of the correlation between mix design and
rheological properties” or “the ability to correctly measure and quantify the rheological properties of
concrete”. These are of course points of great interest but a practitioner would however probably
answer: the ability to predict whether or not a given concrete will correctly fill a given formwork.

An analogy with the state of knowledge in the hardened concrete research field can be made:
A lot of work has been indeed carried out in order to understand the correlation between mechanical
properties and mix design [1] and many tests have been developed in order to measure these
mechanical properties (mechanical strength and delayed deformations for instance) but, on the other
hand, many developments were also carried out in the field of structural engineering in order to
correlate the needed properties of the concrete to be cast with the structure to be built. This last step

1
IFSTTAR, Laboratoire Navier - UMR 8205, France, nicolas.roussel@ifsttar.fr

3
Rheology of Self Compacting Concrete: from measurements to casting processes

has been missing for years in the rheology field. Only recently, researchers from various part of the
world have started to work on casting prediction tools.

It can be noted that this new research area has appeared at the same time as a new type of concrete
known as Self Compacting Concretes (SCC). This extremely fluid concrete was expected to be the
answer to casting problems. However, it has to be kept in mind that, no matter how fluid a concrete is,
there will always exist a formwork and steel bars configuration in which casting problems may occur.

2. SCIENTIFIC BACKGROUND

Fresh cementitious materials, as many materials in industry or nature, behave as fluids with a yield
stress, which is the minimum stress for irreversible deformation and flow to occur. The behaviour of
fresh concrete in steady state is thus often approximated by a yield stress model of the following
general form [2, 3].

  0     00 (1a)
  0     00  f   (1b)

where  00 is the yield stress,  the shear rate and f is a positive continuously increasing function of
the shear rate with f 0  0 . In the particular case of a Bingham fluid with a plastic viscosity  p ,
f     p .

On a practical point of view, yield stress may be associated to filling capacity and more generally to
whether or not concrete will flow or stop flowing under an applied stress whereas plastic viscosity
may be associated to the velocity at which a given concrete will flow once flow is initiated. It can be
noted that, in the field of concrete casting unlike polymer or metal casting, the applied stress is mainly
due to gravity as injection under pressure is very rare. We are not of course speaking here of
cementitious grouts which can indeed be injected under pressure.

Although measurements of plastic viscosity have several practical applications (pumping, casting
rates…), yield stress is the most important parameter for formwork filling in practice. If we consider
for instance the casting of a wall such as the one in Fig. 1 (a), a purely viscous fluid (i.e. no yield
stress) would self-level under the effect of gravity (Cf. Fig 1(b)). Gravity would indeed induce a
pressure gradient in the fluid if the upper surface of the material is not horizontal. This pressure
gradient would generate a shear stress in the material that creates a shear rate and forces the material
to flow until the upper surface becomes horizontal and that the pressure gradient at the origin of the
flow has disappeared. The viscosity of the material will only play a role on the time needed to obtain a
horizontal surface.

In the case of a yield stress fluid such as concrete, gravity and pressure gradient also generate a shear
stress. However, if this shear stress, which is a complex function of the formwork thickness and the
local density of steel reinforcements, becomes lower than the yield stress of the concrete, flow stops
before the concrete self levels (see Fig. 1(c)) or before the formwork is entirely filled.

This example teaches us two things. The first one is that the best way to fill a formwork is to fill it
with a purely viscous fluid (which is useless in practice as we will never be able to produce stable
concretes (i.e. showing no segregation of their components under gravity) with no yield stress at all).
The second one is that, in order to predict whether or not a given concrete will fill a given formwork,
one has to get the ability to measure the yield stress of the material to be cast.

4
Roussel

(a) (b) (c)


Figure 1. Formwork filling process. (a) casting process; (b) final shape of the material in the case of a purely
viscous fluid; (c) final shape of the material in the case of yield stress fluid.

It has however to be noted that, in the case of many modern cementitious materials, the knowledge of
the yield stress at the end of the mixing phase is not sufficient to describe the observed behavior from
the concrete factory to the casting phase. An evolution of the material rheological behavior is often
noted during this time period. This evolution is mainly due to the thixotropic behavior of cementitious
materials. It has been shown recently in [4] that this evolution in the case of cement pastes can be
correlated to the applied shear rate and to the recent flow history of the material. At rest, the material
flocculates and its apparent yield stress increases. This variation display a characteristic time called
flocculation characteristic time, which can be defined as the resting time needed to double the value of
the apparent yield stress. When flowing, the material state of flocculation decreases with a de-
flocculation characteristic time, which depends on the applied shear rate. The material reaches its most
deflocculated state during the mixing phase and, according to its flow history between the mixing
plant and the formwork (mixing truck, rest period, casting phase…), its apparent yield stress (or static
yield stress) continuously evolves whereas its intrinsic yield stress (or dynamic yield stress), which is
only linked to the mix design of the material, does not change [4-6].

In practice, a concrete is called thixotropic if it seems to flocculate rather quickly at rest and it
becomes reversibly apparently more and more fluid while flowing. It has to be noted that, to be
rigorously correct, all concretes as a majority of suspensions containing colloidal particles are
thixotropic. However, in the opinion of the present author, it can be admitted that, in practice, a
“thixotropic concrete” is a concrete displaying a rather short flocculation characteristic time (typically
several minutes) and a de-flocculation characteristic time of several tens of seconds in the 1 to 10 s-1
shear rate range [6].

Unfortunately, in the case of cementitious materials, things are not so simple as the hydration process
starts as soon as cement and water are mixed together. The intrinsic or dynamic yield stress of the
material is permanently evolving as described by Otsubo and co-workers [7] and Banfill [8]. Recently,
Jarny and co-workers [9] have however shown using MRI velocimetry that, over short timescales
flocculation and de-flocculation processes dominate, which lead to rapid thixotropic (reversible)
effects, while over larger timescales hydration processes dominate, which lead to irreversible
evolutions of the behavior of the fluid. These two effects might in fact act at any time but, according to
the above scheme, they appear to have very different characteristic times. As a consequence it is
reasonable to consider that there exists an intermediate period, say around a couple thousands seconds,
for which irreversible effects have not yet become significant. This means that it seems possible to
consider the effect of thixotropy and only thixotropy on short periods of time (not more than 30
minutes as an order of magnitude) during which the irreversible evolutions of the concrete can be
neglected.

The consequences of thixotropy on casting processes are numerous but, in the last few years, research
has mostly focused on two phenomena: formwork pressure and multi-layer casting of SCC. During
casting, given the high fluidity of modern fluid concretes such as Self Consolidating Concrete (SCC),

5
Rheology of Self Compacting Concrete: from measurements to casting processes

it was expected that hydrostatic pressure would be reached in the formwork. However, in many cases
around the world, high and low formwork pressures were, when monitored, both reported. It was
concluded that the thixotropic behaviour of SCC had to play a role [10-12]. During placing, the
material indeed behaves as a fluid but, if cast slowly enough or if at rest, it builds up an internal
structure and has the ability to withstand the load from concrete cast above it without increasing the
lateral stress against the formwork. Moreover, during placing, a layer of thixotropic SCC has a short
time to rest and builds up a structure before a second layer of concrete is cast above it. If it builds up a
structure too much and its apparent yield stress increases above a critical value, then the two layers do
not mix at all and, as vibrating is prohibited in the case of SCC, a weak interface between the concrete
layers may appear in the final structure. The first consequence is often only visual but losses of
mechanical strength of more than 40% have also been reported [13]. Moreover, it can be expected that
this weak interface may locally increase the porosity and thus the permeability to aggressive
substances. It seems thus necessary to be able to predict the conditions under which such a
phenomenon may occur.

This paper tries to make a link between the measurements of the rheological properties of fresh
concrete (yield stress and thixotropy) and casting processes. In the first part, methods allowing for the
measurement of the yield stress of a given concrete without the use of a rheometer will be described.
In a second part, a thixotropy model allowing for the prediction of the apparent yield stress of the
material as a function of its flow history will be presented. Finally, in the last part, prediction methods
of casting process will be presented. These methods can be considered as practical tools allowing for
the prediction of formwork filling, pressure formwork or multilayer casting occurrence. Moreover,
they contribute to bringing rheology from research and development into the field of practical
applications.

3. YIELD STRESS MEASUREMENTS

Yield stress is a unique material property and may, in the case of cement pastes (i.e. fine particles), be
measured using conventional rheological tools. For example, Couette Viscometer [14] or parallel
plates rheometer [15] are used in the laboratory to measure yield stress values of cement pastes.
However, in the case of concretes containing coarse aggregates, large scales rheometers had to be
developed (BTRheom [16], BML [17] or two-point test [18]). Even if, in situ, simpler and cheaper
tests such as the slump test [19] are still often preferred, these apparatus represent a big step forward in
the field of concrete science. However, there still exists a discrepancy between the various concrete
rheometers, [20, 21]. These apparatus give the same rheological classification of materials but they do
not give the same absolute values of the rheological parameters (i.e.  00 and  p ). On the other hand,
the slump test, the most common empirical test for fresh concrete, does not give any value of a
physical parameter at all. Its result can not be expressed in physical rheological units but it has also
proved through the years to be able to classify different materials in terms of their ability to fill a
formwork.

Typically, in a slump test, a mould of a given conical shape is filled with the tested material. The
mould is lifted and flow occurs. If inertia effects can be neglected [22], it is generally admitted that the
flow stops when the shear stress in the tested sample becomes equal to or smaller than the yield stress
[23]. Consequently the shape at stoppage in the yielding region is directly linked to the material yield
stress. From a practical point of view, in civil engineering, two geometrical quantities may be
measured, the “slump” or the “spread”. The slump is the difference between the height of the mould at
the beginning of the test and after flow stoppage. The spread is the final diameter of the collapsed
sample. In most of the applications of the ASTM Abrams cone [19], the initial height of which is 30
cm, the slump is measured if it is smaller than 25 cm, otherwise, spread diameter is measured (slump
flow test for SCC). In the case of cement pastes, the yield stress of which is low compared to that of
concrete, a smaller cone may be used, namely the ASTM C230-90 mini-cone [24] or the Kantro Mini
cone [25]. In that case, the slump is typically of the same order as the initial height and only the spread
is measured.

6
Roussel

Several attempts to relate slump to yield stress can be found in literature. They generally assume that
the cone can be divided into two parts: above a critical height, the shear stress remains smaller than
the yield stress and no flow occurs; below this critical height, the shear stress induced by the pressure
due to the weight of material situated above is larger than the yield stress. In the latter region, each
layer of material widens until the pressure reaches a critical value for which the shear stress is equal to
the yield stress. Following this approach, Murata [26] wrote a relation between the final total height of
the cone and the yield stress that does not depend on the mould geometry. Subsequent works
established analogous relationships either for conical [23] or cylindrical moulds [27] according to the
same assumptions. These results were successfully validated by Clayton et al. [28] and Saak et al. [29]
in the case of cylindrical moulds. However, in the case of some conical moulds or in the case of high
yield stress values (i.e. low slumps) with cylindrical moulds, a discrepancy between predicted and
measured slumps was systematically obtained.

For large slumps, the spread is a more relevant parameter to estimate the material yield stress [30, 31]
but the above approach likely does not apply since there is in general no un-deformed region. Coussot
et al. [30], extending a two-dimensional solution of Liu and Mei [32], wrote a solution for this
spreading problem for a yield stress fluid. This approach is based on the assumption that the depth of
the fluid layer is much smaller than the characteristic length of the solid-liquid interface.

Roussel and Coussot [22] showed recently that two very different regimes may be identified and that,
in order to obtain a correct quantitative correlation between the test result and yield stress, the
incipient or stoppage flow conditions should be described with a proper three dimensional yielding
criterion. They obtained two analytical solutions suitable for asymptotic regimes, namely large height
to diameter ratio or large diameter to height ratio [22]. Numerical simulations of the slump test were
also carried out for two classical conical geometries, the ASTM Abrams cone and the ASTM mini
cone for cement pastes [33]. An excellent agreement between the predicted and measured slumps over
a wide range of dimensionless yield stress was obtained. It may be useful to remind here the two
following correlations:

ASTM Abrams Cone (for slumps between 5 and 25 cm) [33]


 00
S  25.5  17.6 (2)

with S the measured slump and  the density of the tested concrete.

ASTM mini cone or Kantro mini cone for cement paste [33, 34]
225g2
 00  (3)
128 2 R5

with  the density of the tested cement paste,  the tested volume and R the spread radius.

Moreover, it was demonstrated that the slump flow test could not be universally correlated to the
rheological parameters of the SCC tested [35]. Indeed, although most of the conditions for the
correlation to be valid (negligible surface tension effects and inertia effects) are fulfilled, the thickness
of the sample at flow stoppage is of the same order as the largest particles. This prevent from
considering the concrete as an homogeneous fluid and from deriving any continuous fluid mechanics
equations. This does not mean however that the slump flow can not be used as an acceptance test. For
a given SCC with a given granular skeleton, the spread value measurement is indeed a handy tool to
spot, for example, a water amount variation during production. But the measured spread (or slump
flow value) cannot be directly and universally correlated to the yield stress of the tested SCC.

An alternative test method was recently proposed: the “LCPC BOX”. It requires the same amount of
SCC as the slump flow test but fulfills the minimum thickness condition allowing for an analytical
relation between the test result and the yield stress of the tested material.

7
Rheology of Self Compacting Concrete: from measurements to casting processes

This test is inspired by the fact that, in an axi-symmetrical test, the information on the shape of the
sample at stoppage is redundant. Indeed, on each diameter, if the testing surface is horizontal, the
same spread is measured. It is thus in theory, sufficient to measure only one of these diameters by
studying a 2D channel flow (Cf. Fig. 2). The width of the channel is l0 = 20cm. The length is 120cm.
The studied volume of SCC is the same as the one used in the slump flow (6L) as it is sufficient to be
representative of the tested concrete. As the flow is nearly unidirectional, the thickness of the sample
at stoppage for the same sample volume is greater than in the slump flow test. Moreover, it was
checked that emptying a 6L bucket was generating a flow slow enough for any inertia effects to be
negligible. As a consequence, the final shape does not depend on the pouring speed of the concrete to
be tested.

The analysis of this flow and its stoppage can be found in [36]. The analysis takes into account the
shear stress at the lateral walls and at the bottom wall to predict the shape at stoppage of a given
volume of a yield stress fluid flowing slowly enough for any inertia effects to be negligible. The
excellent agreement of this method with other experimental measurements was demonstrated in the
case of limestone powder suspensions [36].

120 L (cm)
110

100

90

80

70

60

50

40
0 20 40 60
Yield stress/Specific gravity (Pa)

Figure 2. LCPC BOX test on a SCC. (left) The SCC is slowly poured at one end of the box; (right) Correlation
between measured spread length and yield stress of the tested material.

This new test is a cheap and easy way to measure the yield stress of fluid concretes when trying to
reach the optimum mix design or to compare the rheology of various SCC. Unlike the slump flow test,
the measured spread length is correlated to the yield stress of the material via a unique law (Cf. Fig. 2
(right)).

As an intermediary conclusion, it can kept in mind that the above three test and the associated
correlation between the geometrical measurement (i.e. slump or spread) allow for the measurement of
the yield stress of any cementitious materials without the use of any rheometer. They give easily
access to this fundamental and intrinsic rheological parameter and therefore open the door to the use of
this measurement in casting predictions tools.

4. YIELD STRESS MEASUREMENTS

It has to be noted that, between the two aspects of thixotropy described in section 2 (flocculation at
rest and de-flocculation under flow), the understanding and measuring of the first one is far more
important on a practical point of view. In the potential points of practical interest described in section
2 (pressure formwork and multi-layer casting), concrete is indeed not flowing. It is at rest and what
really matters is the increase of its apparent yield stress. That is why recent approaches to quantify
thixotropic behavior of fresh concrete have focused on the flocculation phenomenon only.

8
Roussel

Billberg, in his recent work on thixotropy of SCC [5], has developed a very interesting method to
measure the increase of the apparent yield stress at rest. The measurements are performed using a
concrete rheometer slowly rotating. Both static and dynamic yield stresses are measured in order to
distinguish the reversible flocculation due to thixotropy from the irreversible evolution due to normal
slump loss. Using this methodology, Billberg showed that the static yield stress increases linearly with
the resting time. This was also reported in a paper by Ovarlez and Roussel [12]. In both papers, the
order of magnitude of the flocculation rate, which we will call here Athix , was between 0.1 and 1.7
Pa/s. Doing the same calculations on the experimental results obtained after a 2 minutes rest by Assaad
and co-workers [11] on various SCC, values between 0.3 and 1.6 Pa/s are also obtained.

The thixotropic behavior of a fluid is necessarily at least represented by an apparent viscosity, i.e.
    , depending on the current state of flocculation () of the material, or more generally its
"degree of jamming" [37, 38]. In literature, more sophisticated models are generally used, which
consider that the different terms of the constitutive equation in simple shear (  ( ) ) depend on . In
parallel, a “kinetic equation” describing the variations of  in time (t) is needed. Cheng and Evans [39]
suggested a general mathematical form of the equation of state of a thixotropic material. The following
relation links the shear stress to the shear rate:

    ,   (7)
d
and  f  ,   is an evolution equation where  is the flocculation state of the material.
dt

Recently, a thixotropy model for fresh concrete that follows the principles described above was
proposed [6]. This model assumes that a Bingham model is sufficient for the description of the steady
state flow of fresh concrete. Moreover, it is considered that the rate of change of the flocculation state
 is equal to the difference between a rate of "natural" flocculation of the material and a rate of de-
flocculation due to flow, which is proportional to the rate of shear. Finally, it is assumed that the yield
stress at rest increases as a linear function of time. This is true for many materials [40] and seems true
for concretes [5, 12].

This model writes:

τ  1  λ τ00  μ p γ (8)
λ A thix
  αλγ (9)
t  00

where  is the flocculation state of the material. This state depends on the flow history. Just after
mixing, if the mixing phase is considered as the phase when the applied shear rate is maximal,  is
equal to zero. This means that the thixotropic apparent yield stress due to flocculation  00 is also
equal to zero. Through the successive steps in the casting process (rest phase, re-mixing phase,
pumping phase…),  will evolve from its initial zero value to a positive value according to the
evolution equation (9) and an apparent yield stress (static yield stress) greater than the intrinsic and
initial yield stress (dynamic yield stress) will appear.

At rest, the shear rate equals zero and the evolution of the apparent yield stress is:
 0 (t )   00  Athixt (10)
This model prediction was compared to experimental results obtained using a BTRheom concrete
rheometer and it proved able to predict the behavior of the tested concrete as a function of its flow
history [6]. Moreover, the linear increase with time of the apparent yield stress during the first hour
(i.e. before the hydration processes start to play a major role and deeply affect the rheological
behavior) has never proved wrong up to the knowledge of the present author (Cf. Fig. 3).

9
Rheology of Self Compacting Concrete: from measurements to casting processes

Figure 3. Apparent yield stress of a SCC as a function of resting time. A batch was prepared for each
measurement.

It can be kept in mind that, just as it is possible to define the filling ability of fresh concrete using a
unique physical parameter (yield stress), it seems also possible to define its thixotropy via a unique
parameter Athix , at least its ability to build a structure at rest, which is, as we will see further, the most
important aspect on a practical point of view.

5. CASTING PROCESSES

Once the rheological behavior has been measured in terms of intrinsic parameters such as yield stress
or structuration rate, it becomes possible to use these values in other flow typologies and start to
predict casting processes.

5.1 Formwork filling

The ideal mix design of a fluid concrete is located somewhere between two opposite objectives. On
one hand, the concrete has to be as fluid as possible to ensure that it would fill the formwork under its
own weight. On the other hand, it has to be a stable mixture as the high strain rates generated by a flow
in such a confined zone as a reinforced formwork are able to separate the components of the concrete
during casting. Therefore, a compromise between stability and fluidity has to be reached. The most
straightforward approach is to find the minimum fluidity (or workability) that will guarantee the
adequate filling of the formwork and assume that this minimum fluidity will ensure the maximum
acceptable stability. The only available method in the traditional toolbox of the civil engineer is to try
various mix proportioning and, for each of them, cast the real size element and choose the most
suitable mixture (if there is one). This is expensive, time consuming and does not guarantee that an
answer will be obtained. However, in the case of stable fluid concretes, the numerical tools of non-
Newtonian fluid mechanics become available. They allow the numerical simulation of the casting
phase and, for a very low cost, the determination of the minimum needed fluidity.

Mori and Tanigawa [41] demonstrated the applicability of Viscoplastic Divided Element Method
(VDEM) to simulate the flow of concrete in a reinforced beam section and the filling of a reinforced
wall (2 m high, 3 m long); and Kitaoji et al. [42] confirmed the applicability of 2D VDEM to simulate
the flow of fresh concrete cast into an unreinforced wall (1 m high, 2 m long).

The results of a form filling experiment in a vertical wall (3 m long, 1.2 m high and 0.30 m wide) have
also been compared with the corresponding 3D simulation [43]. The results show good correlation
with respect to detection of the free surface location, dead zones and particle paths.

10
Roussel

Numerical simulations were also applied to an industrial casting of a very high strength concrete pre-
cambered composite beam by Roussel et al. [44]. The results of the simulations carried out for various
values of the rheological parameters (Bingham model) helped to determine the value of the minimum
fluidity needed to cast the element. The LCPC Box described above was used to measure the yield
stress of the prepared SCCs. The numerical predictions were compared with the experimental
observations carried out during two trail castings (Cf. Fig. 4). In case of a SCC with 120 Pa yield
stress, after the removal of the mould one day later, some voids were found below the steel girders (cf.
Fig. 4 (left)). On the other hand, during the casting of a SCC with 60 Pa yield stress, no voids were
visible (Cf. Fig. 4 (right)).

Although the assumptions needed to carry out the simulations were over-simplistic (only 2D
simulations were carried out), a satisfactory agreement was found between the predicted and actual
global flow. However, two neglected phenomena locally perturbed the casting: the thixotropic
behaviour of the SCC that induced an increase of the apparent yield stress at low casting speed or
when the concrete was at rest and the interaction between the largest aggregates and the steel bars that
induced some blocking, which could not of course be predicted by the simulation of the flow of an
homogeneous yield stress fluid.

Figure 4. Comparison between numerical predictions and real casting of a pre-cambered beam. The concrete was
poured from one side of the steel girder until the concrete begins to overflow the formwork left side (clear grey).
The concrete was then poured from the other side of the steel girder in order to complete the filling (dark grey).
Upper figures: real casting; lower figures: numerical simulations; left figures: SCC with 120Pa yield stress; right
figures: SCC with 60Pa yield stress.

It is the opinion of the present author that, in the future, computational modeling of flow could become
practical tools allowing for the simulation of either total form filling as described above or detailed
flow behavior such as particle migration and formation of granular arches between reinforcement
(“blocking”) [45].

5.2 Formwork pressure

At stresses below the yield stress, SCC, as any other fresh cementitious material, behaves as an elastic
material [46]. It was demonstrated in [12] that, for an elastic medium confined in a formwork and only
submitted to gravity forces, the lateral stress  lat at the walls may be less than the hydrostatic pressure
for two reasons: if the stress redirection parameter K due to the Poisson ratio effect is less than 1, or if
some shear stress  wall is supported by the walls. The lateral stress  lat z  at the walls at a depth z
below the top of the material, in a rectangular formwork of length L and width e can indeed be
computed as:

 lat ( z )  K   g  2 wall 1/ L  1/ e   z (11)

11
Rheology of Self Compacting Concrete: from measurements to casting processes

However, it was also shown that, in the case of SCC with standard air contents, K value is near 1, so
that the Poisson ratio effect may be neglected. It has to be noted that, in such an approach, the shear
stress  wall t  at the walls at a time t is between 0 and the yield stress  0 t  , depending on local
deformation. For a non compressible fluid in transition towards a solid behavior, this means that, even
if the yield stress of the material evolves with time, there should not be any change at the walls.
Indeed, the pressure should be hydrostatic when the material is cast as a fluid and should then remain
hydrostatic during and after the liquid-solid transition as the material is non compressible and there is
thus neither strain nor deviatoric stress in the bulk.

However, in the case of concrete, deformation can occur as the material, even when stable, slightly
consolidates under its own weight [47] and settlement of the surface can be measured. This is
sufficient to enable full shear stress mobilization [48]. This means that the shear stress reaches the
value of the yield stress at the wall. It is worth noting that this slight deformation could be sufficient to
create a shear stress at the wall higher than the yield stress. This cannot however occur as it would
mean that the material would be flowing which can not be the case here according to the boundary
conditions of the problem. The shear strain at the wall (and the global deformation of the material) is
thus limited by the value of the shear stress that cannot exceed the value of the yield stress, which
itself increases with time because of thixotropy. Finally, if there is no sliding at the interface between
the material and the formwork, the yield stress (not less or not more) is fully mobilized at the wall and
a fraction of the pressure is transferred vertically to the formwork. The remaining lateral stress is then
lower than the value of the hydrostatic pressure: as  wall t    0 t  , Eq. (11) then becomes:

 lat ( z )  K   g  2 0 1/ L  1/ e   z (12)

The predictions of this model were compared in [12] to post-casting pressure drop measurements
carried out on real formwork simultaneously with measurements of the evolution at rest of the
apparent yield stress of the cast concrete. They were also compared to results from the literature,
showing that the proposed model was able to explain and predict most of the experimental
observations and measured pressures during casting. This model predicts an evolution of the pressure
drop  with the time t after casting equal to:

2 Athix H
   t (13)
e

and a relative lateral pressure   at the bottom of the formwork (i.e. ratio between pressure and
hydrostatic pressure) during casting equal to:

HAthix
 1 (14)
geR

where H is the height of concrete in the formwork in m, Athix the structuration rate in Pa/s, R the
casting rate in m/s, e the width of the formwork in m and  the density of the concrete.

12
Roussel

relative pressure at the formwork bottom


0.9

0.8

0.7

0.6

0.5

0.4

0.3
model prediction for a rectangular formwork; width 30 cm; Athix = 0.6 Pa/s; H = 3.00 m

0.2 experimental results on arectangular formwork; width 30 cm; Athix = 0.6 Pa/s; H = 3.00 m
experimental results on a cylindrical formwork; diameter 20cm; Athix = 0.2 Pa/s; H = 2.10 m
0.1 model prediction for a cylindrical formwork; diameter 20cm; Athix = 0.2 Pa/s; H = 2.10 m

0
0 5 10 15 20 25 30 35
casting rate (m/hour)

Figure 5. Comparison between literature experimental results and predictions of the proposed model in the case
of a rectangular formwork [10] and a column [47].

5.3 Multi-layer casting

During placing, a layer of SCC has a short time to rest and flocculate before a second layer of concrete
is cast above it. If it flocculates too much and its apparent yield stress increases above a critical value,
then the two layers do not mix at all and, as vibrating is prohibited in the case of SCC, this creates a
weak interface in the final structure.

As a first approach of the problem, it can be assumed that the stress generated by the casting of the
second layer is due to the contribution of two terms: the viscous shearing due to the flow of the second
layer and the weight of the second layer. It was recently demonstrated in [49] that for layers thicker
than 10 cm, the first term could be neglected in front of the second one for traditional casting speeds
and standard SCC viscosity. It was moreover shown that the stress generated by the weight of the
second layer was of the order of gh / 2 3 . In order to mix the two layers, this stress has to be higher
than the apparent yield stress of the first layer. This first layer has been resting for a time T and its
apparent yield stress is thus given by Eq. (15):
 0 (T )   00  AthixT (15)

Tc is the critical delay after which the two layers will not mix. It is equal to:
gh
Tc  (16)
2 3 Athix

13
Rheology of Self Compacting Concrete: from measurements to casting processes

100%

90%

relative mechanical strength


80%

70%

60%

50%

40%

30%

20%

10%

0%
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5
relative delay T/Tc

Figure 6. Relative mechanical strength (ratio between the measured mechanical strength and the mechanical
strength of a sample cast in one layer) in term of the relative delay between the two layers (ratio between the
delay and the critical delay).

Relative mechanical strength (ratio between the measured mechanical strength and the mechanical
strength of a sample cast in one layer) is plotted in Fig. 6 as a function of the relative delay between
the two layers (ratio between the delay and the critical delay). It can be seen that when the delay is
higher than the critical delay, decrease in mechanical strengths can be spotted. This situation should of
course be avoided at all cost on the building site and concrete mix designer should try to decrease in
this case the structuration rate of the material to be cast.

CONCLUSIONS

This paper aimed at establishing a link between the measurements of the rheological properties of
fresh concrete (yield stress and thixotropy) and casting processes. In the first part, methods allowing
for the measurement of the yield stress of a given concrete without the use of a rheometer were
described. In a second part, a thixotropy model focusing on the structural build up of the material and
allowing for the prediction of the apparent yield stress of the material as a function of its flow history
was presented. Finally, in the last part, prediction methods of casting processes were presented. A
short overview of the numerical tools available for prediction of the filling of a formwork when
concrete is considered as a homogeneous single yield stress fluid was presented and two prediction
methods (formwork pressure and multi-layer casting) taking into account the thixotropy of the
concrete to be cast were described. These methods can be considered as practical tools that could be
gathered in order to create a casting process engineering toolbox.

It has to be noted that, although it is possible to measure the yield stress of a given material without
the need for a rheometer, it is not the case of thixotropy. Measurement of structuration rate still
imposes the use of a concrete rheometer. There is an obvious need for a simple test that could be used
on the building site in order to quantify or at least qualify the degree of thixotropy of the SCC to be
cast. It can be indeed seen from the above results that, in order to cast slabs in which multi layer
casting may occur, it is needed to have SCC with low thixotropy whereas when casting walls, highly
thixotropic SCC are more suitable as they will reduce the formwork pressure during casting. This
degree of thixotropy should therefore be controlled in the building site and there is thus a need for a
simple acceptance test.

14
Roussel

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17
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

Structural design with flowable concrete

Steffen Grünewald1,2 Liberato Ferrara3 Frank Dehn4


Photo of the author,
size 4×3cm2
ABSTRACT

Flowability is a characteristic of concrete with a high workability in the fresh state. In order to achieve
flowability the mix design can be considerably different compared to vibrated concrete. Not only the
production technique has to be adapted to the higher flowability, but the flow can also cause local
differences in material behaviour. With deviating mix design, constitutive laws and provisions related
to the structural behaviour established for VC might no longer be applicable. This paper discusses the
progress of fib TG 4.3, a Task Group that aims at facilitating the use of innovative flowable materials
for the design of concrete structures by providing a state-of-the-art report and recommendations for the
structural design with flowable concrete.

Keywords: Flowable concrete, self-compacting concrete, fibres, testing, structural behaviour

1. INTRODUCTION

Concrete technology has been rapidly evolving during the past decades involving sciences as
rheology, nanotechnology, waste management, composite materials and others more. Sustainability
and durability of concrete structures linked with life cycle analysis are research areas very relevant for
society. Effective manufacturing at a high level of quality is an industrial need to remain competitive
and to realize the potential concrete has for construction industry. The use of flowable concrete (FC)
has many benefits, as it eliminates compaction, eases the realization of aesthetic concrete surfaces,
facilitates production and allows developing unique areas for concrete application. In order to
successfully produce concrete structures with highly flowable concrete, differences in mix design,
production technique and structural design (engineering properties and durability aspects) are possible
and have to be considered. These aspects can differ more or less from vibrated concrete (VC),

1
Faculty of Civil Engineering and Geosciences, Delft University of Technology, Delft, Netherlands.
s.grunewald@tudelft.nl
2
Magnel Laboratory For Concrete Research, Ghent University, Ghent, Belgium. steffen.grunewald@ugent.be
3
Department of Civil and Environmental Engineering, Politecnico di Milano, Milano, Italy.
liberato.ferrara@polimi.it
4
Faculty of Chemistry and Mineralogy, Leipzig University, Leipzig, Germany. dehn@mfpa-leipzig.de

19
Structural design with flowable concrete

depending on the type of concrete. Extending the range of workability of VC, some FC types reported
in literature and applied in practice are:

- SCC: Self-compacting concrete (with or without fibres);


- UHPC: Ultra-high performance concrete;
- UHPFRC: Ultra-high performance fibre-reinforced concrete;
- HPFRCC: High performance fibre-reinforced cementitious composites;
- SHCC: Strain-hardening cementitious composites;
- ECC: Engineered cementitious composites;
- FRC: Fibre-reinforced concrete (with a higher flowability).

2. TASK GROUP fib TG 4.3

Task Group fib TG 4.3 focusses on structural design and it considers (Fig. 1a): the influence of
mixture composition and characteristics (material), production and related flow phenomena
(production) and size, shape and design of structures (structure). The two main aims of fib TG 4.3 are:

- To compile knowledge of different types of FC in a state-of-the art report;


- To provide recommendations on the structural design with FC; the recommendations include
different types of FC with a performance-based approach.

fib TG 4.3 defines ‘Flowable concrete’ as concrete having a slump of at least 200 mm. With a slump
of 200 mm compaction still is required; FC not necessarily is self-compacting or self-levelling. For
example, by addition of fibres an otherwise self-levelling matrix can have a slump less than 200 mm.
FC deviates from VC to the extent that the concrete technologist adjusts the mix design (not only by
increasing the dosage of water or superplasticizer): these changes can have implementations related to
production and structural design. Model Code 2010 (MC2010) [1,2] includes concrete with a
compressive strength up to C120/140; the French UHPFRC-guideline [3] requires a cylinder strength
of at least 150 MPa and a minimum ductility to be provided by fibres; the Japanese HPFRCC-
guideline [4] focuses on the post-cracking behaviour which is characterised by multiple cracking. In
concrete (vibrated and self-compacting concrete) fibre volumes usually do not exceed 1 Vol.-% in
applications like floors, slabs and tunnel segments. The areas of expertise are limited so are the
guidelines covering those applications. Fig. 1b identifies areas of lack of knowledge and experience.

Figure 1a. Flowable concrete, interaction Figure 1b. Areas of experience and knowledge
between material, production and structure. with flowable concrete containing fibres.

fib TG 4.3 aims at developing recommendations for a wider range of mixtures compiling the available
knowledge and it collects and analyses research findings from the entire design and production process
with FC in order to provide guidance for designers and users of concrete structures built with FC.
Besides material-related aspects the focus is also on design-related topics and the structural behaviour

20
Grünewald, Ferrara and Dehn

of concrete that was cast with a flowable consistency. Table 1 provides an overview of the topics that
are covered in the state-of-the-art report of fib TG 4.3.

Table 1. Summary of topics covered by fib TG 4.3.


Chapter in STAR report Description
Flowable concrete General overview about flowable concrete types
Components and mixture composition Introduction of mixture constituents and their peculiarities
Fresh state Influences of mixture constituents and methods to control the rheology
Local effects Effects of segregation, blocking and fibre orientation on structure
Mechanical characteristics Hardened state behaviour of flowable concrete types
Creep and shrinkage Time- and load-dependent behaviour in hardened state
Bond and anchorage Interactions with other structural components
Durability Peculiarities of flowable mix design concepts with regard to durability
Production influences/methods Considerations about casting processes and supply chains
Applications Examples of structures built with flowable concrete types

fib TG 4.3 interacts with ongoing Task Groups on fibre-reinforced concrete (ACI 544, fib TG 4.1),
ultra-high performance fibre-reinforced concrete (fib TG 4.2), performance-based specifications for
concrete (fib TG 4.5) and constitutive laws for concrete with supplementary cementitious materials
(fib TG 4.6). Several members of fib TG 4.3 joined Technical Committees on mechanical properties of
self-compacting concrete (RILEM TCMPS), simulation of concrete flow (RILEM TCSCF) and high
performance fibre-reinforced cementitious composites (RILEM TCHFC).

3. CHARACTERISTICS OF FLOWABLE CONCRETE

3.1 Fresh state

Rheological characterisation (i.e. yield stress, viscosity and thixotropy) has been applied to
characterize FC. A slump of 200 mm is defined as a minimum for ‘flowable concrete’. A large volume
of applied concrete has this workability or is more flowable. However, compaction energy still is
required for concrete with a slump of 200 mm. A slump of 200 mm for a concrete density of 2400
kg/m3 translates in a yield stress of 750 and 904 Pa determined according to references [5] and [6],
respectively. Rheological characteristics have implementations on the ease and method of production,
formwork pressure, segregation resistance and robustness.

The amount of fibres in concrete is limited since fibres affect the workability. The maximum fibre
content depends among others on the paste volume and the maximum size, content, distribution and
shape of the aggregates. In addition, the maximum amount of fibres depends on the fibre type; the
highest possible (ultimate) fibre dosage is independent from the mixture composition, since the fibres
already form a strong network that prevents proper compaction or flow. Stiff fibres (i.e. steel fibres)
can form a stable network, whereas thinner and flexible fibres (i.e. polypropylene fibres) form a
weaker network that can be more easily agitated with compaction energy. The addition of a higher
fibre dosage can cause entanglement and friction between fibres and mainly larger concrete
components (coarse aggregates relative to fibre length), which significantly increases the yield stress
and the viscosity. Figure 2 shows the effect of steel fibres on the rheological characteristics yield stress
and plastic viscosity (reference mixture yield stress of 31 Pa and a plastic viscosity of 81 Pas) of a
self-compacting concrete (reference slump flow (without fibres): 728 mm). In spite of the pronounced
rheological differences compared to the reference SCC, mixtures at the lower fibre dosage per fibre
type remained self-compacting [7]. The steel fibres are characterised in Fig. 2 by the aspect ratio (ratio
Lf/df), the fibre length (Lf) and the fibre dosage.

21
Structural design with flowable concrete

Figure 2. Increase of yield value and plastic viscosity of SCC


due to the addition of steel fibres [7].

The consideration of local effects is relatively more important for FC as compared to VC. In some
cases the effect is positive, in other cases local effects can have negative consequences, which have to
be understood and taken into account, and if possible, counteracted. Examples of local effects are
discussed in the following:

- The thixotropic influence of cement paste increases at increasing paste volume in concrete and with
the reduction of the water-binder ratio. After the first initial hydration upon contact of cement with
water, thixotropic build-up is a major effect observed in FC types; Roussel [8] proposed three
thixotrophy classes (Table 2) to distinguish different mix designs for SCC. Athix is a term that adds up
to the yield stress equation over the course of time. It is defined as the yield stress 0 divided by the
flocculation characteristic time T. Thixotropic build-up can cause problems related to the formation of
distinct casting layers, incomplete filling, and concrete aesthetics. However, the structural build-up
also can have beneficial effects, for example it improves the production efficiency in the case of slip-
cast paving [9] or for the production of panels with a flexible mould [10]. When casting self–levelling
concrete that rapidly builds up strength, the formwork pressure drops quickly.

Table 2. SCC thixotropy classification [8].


SCC type Flocculation rate Athix (Pa/s)
Non-thixotropic SCC Less than 0.1
Thixotropic SCC Between 0.1 and 0.5
Highly thixotropic SCC Higher than 0.5

- Robustness of self-compacting concrete is important since compaction energy is not available for the
production. The robustness against temperature-induced performance variations of concrete types
incorporating high amounts of polycarboxylate ether based superplasticisers (PCE) can be strongly
influenced by the modification of the PCE and the mixture composition [11]. The reason is that PCE
interacts with the hydration phases of the reactive components in the binder paste, which induces a
time-dependent effect. It was found that low powder SCCs are more prone to deviation in rheological
properties than powder rich SCCs at low temperatures. At low temperatures (<< 20°C) the binder
cannot produce sufficient new hydration phases, which would attract PCE to stabilise the flow.
However, the use of high charge density PCE as usually used in pre-cast concrete could compensate
for these negative effects. At high temperatures, the situation was found to be exactly inverted. SCC
with low powder content may be more robust against influences induced by PCE than powder rich
SCC, since a powder rich SCC tends to rapid stiffening due to the dense particle packing, which is
aggravated by the temperature-accelerated hydration. This high temperature effect can be compensated
by using low charge density PCE, which is adsorbed over a longer period of time than high charge

22
Grünewald, Ferrara and Dehn

density PCE. Table 3 provides an overview of which types of SCC are more prone to failure in a
particular climate.

Table 3. Examples of influencing factors on the robustness of SCC against temperature influences [12].

Charge density of PCE


Problem field Solution
low high

PCE High charge


5 °C poor flow, low strength good flow retention
Stabilising dependency density PCE
agent type 20 °C Good flow retention Good flow retention - -
30 °C Good flow retention Medium flow retention - -
5 °C Good flow retention Good flow retention - -
Powder 20 °C Good flow retention Medium flow retention - -
type Poor flow retention, PCE Low charge
30 °C Good flow retention
low strength dependency density PCE

Like thixotropy, robustness is a specific material characteristic of FC and SCC. Compaction energy
can compensate to some degree for a deviation in mixture characteristics in the fresh state for VC,
which is a step towards production robustness. Robustness at the material level is most relevant for
SCC. Three robustness classes (Table 4) according to its performance in slump flow, sieve segregation
resistance test, and L-box ratio were proposed in [13]. The robustness class is determined by testing
the fresh concrete properties with water content variations ( 10 kg/m3) from the reference water
content and observing the performance change (unit: performance change divided by water dosage
change). The larger the change at a given water dosage, the higher is the robustness class of the SCC
(C1-C3). This method can help specifying and assessing mixture compositions in terms of their
robustness with regard to variations in the total water content; in some cases viscosity-modifying
admixtures are recommended to enhance the robustness.

Table 4. Robustness classes: response change per water variation [13].


Robustness class
Test method Unit
C1 C2 C3
Slump flow [mm/l] < 6.2 6.2 to 10.0 > 10.0
Sieve stability [%/l] < 0.62 0.62 to 1.0 > 1.0
L-box ratio [-/l] < 0.012 0.012 to 0.02 > 0.02

- The rheological behaviour is shear stress-dependent; the particle shape can cause preferred
orientation during the flow.

An example of the former aspect is reported by Spangenberg et al. [14]. Rheological characteristics
like yield stress and viscosity are shear rate-dependent. Shear- and gravity-induced migration of
particles can lead to local differences in concentrations. The distribution of coarse aggregates was
studied (depending on the distance from the casting point and the vertical position) in beams cast with
SCC (dimensions of beams: L=4.0 m/H=0.3 m/W=0.2 m). Different coarse aggregate concentrations
were observed over the height of the beam. At the highest point no segregation was observed.
However, at a height of about 120 mm above the bottom, the concentration was lower compared to
other areas of the beam. According to the authors, differences in shear rate and stress cause rheological
differences of the concrete, which promotes the migration of particles in a specific zone. The
migration of particles increases the yield stress and viscosity in the lower layer until a state of balance
is obtained. Simulations indicated that the highest shear rate was obtained at a height of 50-100 mm
above the bottom of the mould.

Fibre orientation is an example of both aspects: shear stress- and shape-dependency. Fibres are long
elongated particle that will rotate until the lowest energy level position is reached. Driving forces for
orientation are (due to higher shear stresses): 1) walls, 2) reinforcement bars, 3) casting areas and 4)

23
Structural design with flowable concrete

free-flow (not parallel) concrete casting front. Flow conditions can be distinguished in free-flow
condition (extensional stress-induced orientation) [15] and flow along walls (shear-induced
orientation) [16]. Due to the flow of concrete (either flow caused by its own weight or i.e. flow that is
caused by adding vibration energy with i.e. an external vibrator) fibres are free to rotate if this is not
counteracted by 1) a network of fibres, 2) a high yield stress and/or plastic viscosity, 3) the presence of
other particles in concrete and 4) walls. The orientation of fibres is further discussed in Section 4.

3.2 Hardened state

The mixture composition of some types of FC does not differ much compared to VC. However, the
higher the flowability, the higher the compressive strength and the more fibres a mixture contains the
larger are the expected differences in mix design and related characteristics in the hardened state. With

- a higher content of fine particles,


- a lower water-binder ratio,
- a larger fibre contribution to the tensile strength and ductility,

even more pronounced differences can be observed in the hardened state properties. In the following
two characteristics are discussed in more detail: modulus of elasticity and time-dependent behaviour.

Modulus of Elasticity
Because of the wide range of mixture compositions and aggregate characteristics, the modulus of
elasticity is expected to vary in a wider range than for VC at a given compressive strength. Figure 3
compares provisions given in MC2010 [1], the German DAfStb-document on UHPFRC [17] and the
Japanese HPFRCC-guideline [4]; Table 5 shows the provisions. The applicable range of compressive
strength is limited in MC2010 to a maximum of C120/140 (cylinder compressive strength of 120
MPa). Considering Quartzite as a common aggregate type in concrete, the modulus of elasticity of
UHPFRC (coarse grain [17]) is following this trend quite well. The provision for concrete with basalt
aggregates, especially for very high strength classes, significantly overestimates the actual modulus of
elasticity; such high values were never found in UHPC. The formula for Eci in MC2010 presumes a
certain volume percentage of coarse aggregates. One reason for an overestimation of the modulus of
elasticity with basalt is, that such high volumes (60-70%) will not be applied in UHPC. On the other
hand, HPFRCC can have a modulus of elasticity comparable with lightweight concrete or normal
weight concrete containing sandstone aggregates (Fig. 3).

Table 5. Equations to calculate the modulus of elasticity with reference.


Equation To be used for Reference
Basalt, dense limestone aggregates, E=1.2 [1]
 f  f 
1/ 3

E ci  E c 0   E   ck  Quartzite aggregates, E=1.0


 10  Limestone aggregates, E=0.9
Sandstone aggregates, E=0.7
1/ 3 [4]
  f 'ck 
EHPFRCC  1.77 104   
18.5  60 
EC  9500  fc1/ 3 Coarse grain UHPFRC [17]
EC  8800  fc 1/ 3
Fine grain UHPFRC [17]

24
Grünewald, Ferrara and Dehn

Figure 3. Comparison of the theoretical modulus of elasticity according to three recommendations


Model Code 2010 [1], DAfStb UHFB [17] and Japanese HPFRCC–guideline [4].

Time- and load-dependent behaviour


At specific locations in a structure, strain caused by shrinkage and creep may add up or creep may lead
to relaxation and it reduces the stress caused by shrinkage strain. Because of different mixture
compositions the ‘laws’ which are valid for shrinkage and creep of VC have to be carefully checked if
they can be applied to these new types of concrete. A detailed discussion of the time- and load-
dependent behaviour for FC can be found in [18].

Creep: Even when results of different studies are not consistent, there seems to be a general
agreement that the creep coefficient and the specific creep are normally slightly higher for SCC
compared to VC [19]. Specific creep of Ultra High Performance Concrete (UHPC) is in the range of
0.01-0.035 ‰/MPa, while the creep coefficient is in the range of 0.5-1.2 [20]. Because of a high paste
volume ECC (HPFRCC) shows large creep deformations, but due to a low E-modulus creep
coefficients can be even smaller than the ones of VC [4].

Autogenous shrinkage: Influence of paste volume: At a constant w/p, the autogenous shrinkage of
SCC increases with increasing paste volume [21]. As a result, VC shrinks less than SCC when the
binder composition and strength class are the same. Autogenous shrinkage of UHPC is considerably
larger than the one of VC [22]. In ECC a decrease in paste volume by the addition of fine-grained
aggregates (grain size of 0.15-0.30 mm) can significantly reduce autogenous shrinkage [23].

Drying shrinkage: The total shrinkage increases with increasing paste volume [19]. When w/p is kept
constant, the relation between shrinkage and paste volume is approximately linear and can be regarded
as the dominating parameter in drying shrinkage. Drying shrinkage in UHPC is very low (in the range
of 0.1‰) compared to autogenous shrinkage [24]. Although the shrinkage of ECC is high (range of
1‰ at a RH of 60%), its tensile strain capacity seems to be higher than the drying shrinkage
deformation [25].

25
Structural design with flowable concrete

Cracking sensitivity: The proneness to cracking of a particular concrete is not only determined by the
shrinkage strain but also by the interaction of the time-dependent viscoelastic properties, the tensile
strength and the E-modulus. When the w/p is constant and the tensile strength is similar, the tensile
stress of SCC developing in the ring test and in a shrinkage frame with passive restraint increases with
paste volume [19,21]. The time of cracking follows the same pattern. The relaxation of VC and SCC
having a considerable higher paste volume differs; VC shows a lower degree of relaxation, which is
the result of the generally lower creep of VC. UHPC reaches higher stress levels than VC and SCC
before it cracks in the ring test and in case of additional fibre reinforcement no cracking occurred.
Shrinkage-induced cracking of UHPC is a special case as the high fibre content leads to a ductile
behaviour.

4. FROM MATERIAL CHARACTERISATION TO STRUCTURAL BEHAVIOUR

4.1 Material qualification

The bending test (3- or 4-point) has been widely applied and accepted as a method for the
characterization of the fibre contribution in tension, although it is not a direct tensile test. An example
is the three-point bending test according to EN 14561 [26]. Accepted test methods also have to be
available to quantify the behaviour of FRC as a function of fibre orientation. For quality control during
production such test methods are in development; examples for non-destructive test methods are
magnetic inductance [27] and X-ray tomography [28]. Recently, tests on cube/tile specimens were
proposed (destructive and non-destructive) that allow for the qualification in three different directions
(i.e. Multidirectional Double-Punch Test [29] and the Double Edge Wedge-Spitting Test [30] taking
into account the effect of both the distribution and the orientation of fibres. Herein, mainly steel fibres
were considered and tested. The transfer of experimental results of small test specimens to larger
structures (Fig. 4) has to be performed with care. The focus should be on the prescription concerning
manufacturing and representativeness of the obtained orientation with respect to the intended
application.

Figure 4. Translation of results of test specimens to the performance of full-scale structures.

K-concept Model Code 2010


The K-concept has been introduced in MC2010 [1] for fibre-reinforced concrete (Eqs (1) and (2)), and
also has been successfully applied for UHPFRC since the publication of the first French
recommendation of this concrete type in 2002. The K-factor takes into account production-,
workability- and structure-related influences on the performance of concrete structures reinforced with
fibres. The implementation of the K-factor concept in MC2010 opens doors for future design
recommendations.

f Ftsd ,mod  f Ftsd / K (1)

f Ftud ,mod  f Fud / K (2)

Design values in the tensile zone determined from the bending tests have to be adjusted with: K 1
fibre orientation being unfavourable or K 1 fibre orientation being favourable (relative to the small
test specimen performance). How to determine K is not specified and also depends on the type of

26
Grünewald, Ferrara and Dehn

structure. For structural design the application of the K-factor concept means that a reduction or an
increase of the post-cracking strength of fibre concrete is possible which has to be determined
experimentally. Ferrara et al. [31] studied the relation between the residual strength and fibre
orientation for bending, wedge splitting and direct tensile tests. In each case they obtained a linear
relation for post-cracking strength and number of fibres in a cross-section. Such relation depends on
the combination of fibre type, applied concrete mixture and its characteristics in the hardened state. In
their study, the range of K-factors was between 0.4 (favourable) and 2.0 (unfavourable). Establishing
such relationships allow predicting the structural behaviour based on the actual fibre orientation in a
structure.

Design considerations
MC2010 allows carrying out flexural design by assuming a residual stress block in tension. The input
for the calculation is obtained from testing of prisms. The residual stress values are specified
concerning crack width, variation of test results, safety factors and maximum strain to be taken into
account. Besides for flexural design, MC2010 also includes provisions related to shear and shear
punching; the resistance of the concrete structure is the sum of contributions of the concrete and
reinforcement. Dependent on the size of the structure and possible redistribution effects other factors
might be applicable, which are not specific for fibre concrete. The K-factor concept is discussed in
Section 4.2 with regard to the French UHPFRC-recommendation, Danish and German guidelines for
fibre-reinforced concrete structures.

4.2 Design guidelines for fibre-reinforced concrete

This section discusses three guidelines for fibre-reinforced concrete, which are: French UHPFRC-
guideline [3], Danish design guideline [32] and German DAfStb guideline [33].

All guidelines have in common that they are more or less able to take into account the anisotropy of
fibre concrete, which means in practice that a structure can have a higher or a lower performance
compared to what is expected from the results of material tests like the bending test. For details
concerning the described provisions and structural design the reference guidelines should be consulted.
Table 6 compares different design aspects of the four guidelines for fibre-reinforced concrete.

Table 6. Comparison of design aspects of the four discussed design guidelines.


Aspect French Model Code German Danish
AFGC 2010 DAfStb guideline
Applicable for concrete  150 MPa  120MPa  C50/60  C50/60
strength (cylinder) (cylinder)
Self-compacting concrete Yes Yes No Yes
Fibre concrete 3-/4-point 3-point bending 4-point bending 3-point bending
characterization bending (EN 14651) (DS EN 14651)
Tensile behaviour Residual strength Residual strength Residual strength Residual strength
block block block block
Relevant CMOD-values Depend on fibre/ 0.5 mm (SLS), 0.5 mm (SLS), 0.5 mm (SLS),
characteristic wu ≤ 2.5 mm 3.5 mm (ULS) 3.5 mm (ULS)
lengths (ULS)
Shear provision X X X X
Shear punching provision X X X X
Concept for local fibre Yes Yes No Yes
orientation
Specific fibre orientation - - X (0,5/1,0 for X (not all cases
values per structure defined are included)
applications)
Full/larger scale verification X X Orientation Experimental
required for orientation factors are verification or
numbers proposed simulation

27
Structural design with flowable concrete

French UHPFRC-guideline
In France, already the second edition of the guideline for UHPFRC has been published [3]. As it was
the first guideline on UHPFRC worldwide, it also introduced a helpful design concept that includes
fibre orientation. The K-factor validates design assumptions as a result of tests on parts of full-scale
test elements. By measuring the maximum bending moment of cast and cut specimens, their ratios can
be determined for local (most unfavourable and relevant for a specific position) and global design
(Table 7). K-factors higher than 1 (1/K is applied as a correction) indicate structural performance
lower than the reference (cast) specimens and are therefore unfavourable. The K-factor concept only
considers the post-cracking part of the bending response.

Table 7. Definition of local and global parameters of the French K-factor design concept.
Global value Local value
Kglobal concerns the overall structural Klocal corresponds to local stresses, which
behaviour corresponding to stresses, which require good fibre resistance in very local
require fibre resistance in larger areas and areas (i.e. prestressing distribution).
which are not affected by a local defect (for
example shear or the bending strength of a
slab).
M cast,average M cast,average
K global  K local 
M cut,average M cut,min/ max

Simon et al. [34] discussed the robustness and reliability of the K-factor concept with reference to
case-studies. The French UHPFRC-recommendation proposes as a first design approximation 1.75 for
local effects and 1.25 for global effects. In several cases, K-factors lower than 1 were found, which is
considered the minimum design value. In such cases, the performance of a part of a full-scale element
was better than the experimental results of laboratory specimens. In case of the Pont Du Diable-
footbridge the highest obtained local K-factor was 2.12.

Besides provisions for bending and shear, shear punching is also included in the French guideline. The
tensile behaviour is taken into account and the K-factor relates the performance of small specimens
with the performance of a structure.

Danish design guideline


The Danish guideline [31] contains parts specifically addressing self-compacting concrete reinforced
with fibres. In order to support the guideline, a project was executed on fibre-reinforced SCC;
important conclusions of this project were summarised by Thrane et al. [35]. Concerning the
understanding of fibre orientation and its relation with structural performance, the Danish guideline is
the most advanced among the four discussed recommendations in this chapter. Orientation numbers
are proposed for fibre-reinforced SCC, which depend on:

- Geometry of the structural member;


- Type of reinforcement (steel fibres only or combined reinforcement);
- Concrete type and rheological characteristics;
- Casting conditions.

As was observed among others by Ferrara et al. [31] and Thrane et al. [35], the residual tensile
strength (tensile strength after cracking) depends on the orientation number, which can be determined
with Eq (3). 0 usually is determined by counting fibres in a cross-section, which also includes
differences in distribution as well as orientation of the fibres.

28
Grünewald, Ferrara and Dehn

Vf
Nf   0 (3)
  rf 2

with: Nf Number of fibres


Vf Volume of fibres
rf Fibre radius
0 Fibre orientation (1: 1D; 0.5: 3D; 0.64: 2D; 0: 1D/2D parallel to fibre plane)

The local fibre orientation can be determined by:

- Casting (numerical) simulations;


- Trial casting with sampling and fibre counting;
- Experience (data is already available from earlier project(s)).

With one of the following methods the amount of fibres in a cross-section can be determined: visual
inspection of cutting planes, computer tomography (CT) scanning and/or casting simulations. A
structural verification can be performed with fibre counting from core samples taken from the
structural member. With the fibre orientation approach, the residual tensile strength can be determined
with regard to the expected condition with test specimens and transferred to a structural performance.
Such translation from test specimen orientation number (o,ref) to orientation number in a structure (o)
is implemented in the Danish guideline. This approach yields Eq (4) for the residual tensile strength
fct0f (: fibre orientation; : fibre orientation factor), which includes experimental values from bending
tests.

0
f ctf0  f f   Ff  f ctof ,ref (4)
 0,ref cto,ref

Thrane et al. [35] found that the average fibre orientation in small beams (prisms for flexural testing)
was 0.60 for VC and 0.78 for SCC containing fibres; in the Danish guideline 0.84 is recommended for
SCC [32]. These are the reference (test specimen) orientation numbers 0,ref with which orientation
numbers determined in a structure need to be converted (Eq 4). Similar orientation numbers (0.78;
Orientation number (Lf in mm) = 0.698+0.00177·Lf) were obtained with image analysis for SCC
containing steel fibres [36]. Assuming the effect of walls on fibre orientation within an area having the
width of a fibre length (test specimen: 150·150·600 mm3), fibre orientation numbers of 0.69 and 0.865
are obtained for the bulk and the affected area within a fibre length, respectively. Correction factors
applied in the Danish guideline are summarised in Table 8.

Table 8. Correction factors for the residual stress (applicable for VC and SCC).
Adjustment for Correction factor
Influence of the member size
on the coefficient of
 Gf  1.0  Actf  0.5  1.70
variation
Influence of fibre orientation Slump concrete:
General:
 Ff  0.5
Plane structures cast in horizontal position (width > 5
times height) for flexural and tensile loading
 Ff  1.0
Self-compacting concrete:
Danish guideline proposes value in an appendix, not
every direction and/or loading situation is included

29
Structural design with flowable concrete

The Danish guideline allows designing structural elements in bending, for shear and shear punching;
fibres can be taken into account for crack width considerations. Design limitations can be found with
regard to minimum reinforcement, design approach and assumptions. Additional investigations are
required to verify design assumptions for prestressed members and structures. Fibre orientation factors
for SCC are proposed in the Danish guideline for beams, solid slabs, walls, columns and foundations;
for other cases/directions they have to be determined.

German DAfStb guideline


The German DAfStb guideline [33] was used as the basic document for the preparation of the Danish
guideline. It consists of three parts, which are 1) design and construction, 2) specification,
performance, production and conformity and 3) execution. Design in bending, shear, torsion, shear
punching are considered and, crack width and deformation provisions are included. The German
guideline does not cover: prestressed concrete, lightweight concrete, concrete with strengths higher
than or equal to C55/67, self-compacting concrete, sprayed concrete, steel fibre concrete in exposition
classes XS2, XD2, XS3 and XD3, when combined with rebars. In the German guideline,  Ff is not
directly related to the orientation number, but has to be chosen according to Table 9.

Table 9. Correction factors of residual tensile stresses for VC in the German DAfStb-guideline.
Adjustment of Correction factor
Influence of the member size This parameter takes into account the effect of the size of the
on the coefficient of variation structure on the variation of tensile performance
 Gf  1.0  Actf  0.5  1.70
Influence of fibre orientation This factor takes into account the fibre orientation
 Ff  0.5
For thin, horizontally produced elements (b>5h)
 Ff  1.0
For beams in direction of the longest side for flexural and tensile
loading

CONCLUSIONS

The use of flowable concrete is a step towards production efficiency and enhancement of the quality of
concrete structures as well as towards a more efficient structural use of the material performances. The
understanding of the behaviour of flowable concrete has been significantly improved during the past
years. Simulations on the development of microstructure, degradation mechanisms, fracture mechanics
and flow behaviour are possible and test methods have been developed to assess the behaviour on the
material level, during production and in the structure. Due to the variety of components applied and
the wide range of design criteria, performance-based specifications are required. With sometimes large
deviations in mix design a good understanding of the overall behaviour of flowable concrete is a
necessity covering material, production and structural behaviour.

ACKNOWLEDGEMENTS

Contributions to the work of the fib Task Group 4.3 were made by J. Barros, M. Behloul, H. Beitzel,
G. Bertram, P. Billberg, F. Dehn, P. Domone, L. Ferrara, B. Freytag, R. Gettu, T.A. Hammer, T.
Kanstad, F. Laranjeira, L. Martinie, S. Nunes, M. di Prisco, Y. Sato, W. Schmidt, M. Sonebi, P. Stähli,
H. Stang, J. den Uijl, L. Vandewalle, J.C. Walraven, K. Zilch, J. Spangenberg, A. Leemann, B.
Obladen, S. Taylor, N. Roussel, M. Geiker, B. Barragan, J. Cairns, G. Fischer, S. Grünewald.

30
Grünewald, Ferrara and Dehn

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31
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32
Materiais constituintes.
Composições.

Materiales constituyentes.
Composiciones.
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

Reologia de concretos autoadensáveis com substituição parcial de


agregado graúdo por RCD classe cinza

Ritianne da Silva1 Helen Vieira2 Ederli Marangon3

RESUMO Foto do autor, com Foto do autor, com Foto do autor, com
tamanho 4×3cm tamanho 4×3cm tamanho 4×3cm
Neste trabalho são produzidos e caracterizados concretos autoadensáveis (CAA) com substituição
parcial de agregados graúdos naturais (AGN) por agregados graúdos de resíduos de construção e
demolição classe cinza (AGR). O método de dosagem utilizado foi o método Gomes, Gettú e Agulló.
Os traços dos concretos produzidos foram determinados partir da composição de dois esqueletos
granulares, um para determinar a proporção de AGN que seria substituída por AGR e outro para
determinar a proporção desta composição com o agregado miúdo natural (AMN). Assim quatro
misturas foram produzidas, concreto autoadensável de referência (CAAREF), concreto autoadensável
com 40% de agregado graúdo de resíduo de construção e demolição (CAA40%), concreto
autoadensável com 50% de agregado graúdo de resíduo de construção e demolição (CAA 50%) e
concreto autoadensável com 60% de agregado graúdo de resíduo de construção e demolição
(CAA60%). As misturas tiveram suas propriedades no estado fresco analisadas. Foram realizados
ensaios para avaliar a habilidade passante na Caixa-L e no Anel-J, a viscosidade plástica aparente no
ensaio de tempo de escoamento (t500) e no ensaio do Funil-V, e trabalhabilidade nos ensaios de
espalhamento e espalhamento usando o cone invertido. Os resultados obtidos demonstram que com a
substituição parcial de AGN por AGR as misturas apresentaram maior viscosidade, diminuição da
habilidade passante e fluidez moderada.

Palavras-chave: Concreto Autoadensável com RCD. Resíduo de Construção e Demolição.


Propriedades Reológicas.

1
Universidade Federal do Pampa, UNIPAMPA, Centro Tecnológico de Alegrete – CTA, Departamento de Engenharia Civil,
Alegrete, Brasil. ritykunzler@gmail.com
2
Universidade Federal do Pampa, UNIPAMPA, Centro Tecnológico de Alegrete – CTA, Departamento de Engenharia Civil,
Alegrete, Brasil. hvieira91@bol.com.br
3
Universidade Federal do Pampa, UNIPAMPA, Centro Tecnológico de Alegrete – CTA, Departamento de Engenharia Civil,
Alegrete, Brasil.ederlimarangon@unipampa.edu.br

35
Reologia de concretos autoadensáveis com substituição parcial de agregado graúdo por RCD classe cinza

1. INTRODUÇÃO

Nos últimos anos tem-se discutido a respeito do tema sustentabilidade, principalmente na área da
construção civil, que é um dos setores que mais geram resíduos e agridem o meio ambiente. Se aliar
isso ao grande crescimento urbano pelo qual a sociedade passa, faz-se necessário a utilização de novas
tecnologias, como o concreto autoadensável (CAA), por exemplo, para acelerar a execução das obras,
manter e melhorar critérios como a segurança.

O CAA é um concreto de alto desempenho (CAD) que surgiu no final da década de 1980 para sanar
dificuldades de adensamento em áreas densamente armadas, além de durabilidade e qualidade das
construções. Deste modo, um concreto pode ser denominado como CAA somente se algumas
propriedades forem alcançadas simultaneamente, tais como fluidez, coesão necessária para que a
mistura escoe livre entre as barras de aço [1] e resistência à segregação [2].

Apesar de ser considerado um avanço para a área, destaca-se que este tipo de concreto é pouco
utilizado, devido ao pouco conhecimento a respeito do assunto. E isto acontece por acreditar-se que os
materiais constituintes do CAA são de difícil aquisição e manuseio, sem mencionar a diferença no
custo deste concreto, se comparado ao convencional [3]. No entanto, estes fatores estão sendo
derrubados por meio de pesquisas que o meio cientifico vêm realizando sobre o assunto. Alguns
estudos demonstram que, além de inúmeras vantagens, o CAA pode proporcionar uma redução no
custo final da obra [2], [4], [5]. E uma das maneiras de tornar os concretos e argamassas menos
onerosos é substituir partes dos seus agregados graúdos, ou miúdos, por resíduos de construção e
demolição (RCD), que são gerados pela indústria da construção civil.

Conforme a Resolução nº 307, de 5 de julho de 2002, do Conselho Nacional do Meio Ambiente do


Brasil – CONAMA, que trata sobre a gestão destes resíduos, os RCD’s são materiais provenientes de
reformas, demolições, construções e reparos de obras de construção civil, além dos materiais
resultantes da preparação e escavação dos terrenos como, por exemplo, tijolos, blocos cerâmicos,
concretos em geral, solos, rochas, metais, resinas, colas, tintas, madeiras e compensados, forros, gesso,
telhas, pavimento asfáltico, vidros, plásticos, tubulações, fiação elétrica, entre outros.

Por isso, que para aliar estes dois temas, RCD e CAA, é preciso identificar se é possível substituir o
AGN por AGR e qual a melhor porcentagem desta substituição para que o CAA não perca ou diminua
suas propriedades como trabalhabilidade e resistência. Tal avalição ocorreu a partir da análise do CAA
em seu estado fresco, porque a produção de um CAA com estes agregados será menos onerosa, um
dos fatores que impedem a produção em massa desse tipo de concreto. E assim será possível ter obras
mais rápidas e limpas, além de colaborar para a diminuição destes resíduos.

2. METODOLOGIA

O método de dosagem empregado para a produção do CAA foi o Método de Gomes, Gettú e Agulló.
Os autores admitem que é viável produzir um CAA por meio da otimização da pasta e do esqueleto
granular simultaneamente. A composição final do método visa obter o volume final de pasta para que
o concreto produzido seja considerado autoadensável. Para isto o processo de dosagem possui três
etapas: determinação da proporção de mistura dos agregados, obtenção da composição da pasta e
seleção do conteúdo de pasta [6]. Além disso, são necessárias as determinações físicas dos agregados,
para obtenção do traço final.

2.1 Esqueleto granular

Para a correta determinação do esqueleto granular do CAA, forma realizados ensaios para a
caracterização física dos materiais que compuseram o mesmo, todos realizados em conformidade com
as normas técnicas brasileiras que estabelecem cada procedimento.

36
Da Silva, Vieira e Marangon

O Quadro 1 apresenta os resultados obtidos para o diâmetro máximo característico de cada agregado e
o módulo de finura dos mesmos.

Quadro 1. Classificação dos agregados.


Agregado Dmáx [mm] Módulo de finura Classificação
AMN 1,2 2,54 Médio
AGN 19 7,97 Muito grosso
AGR 19 7,65 Muito grosso

A Figura 1 mostra o gráfico com as curvas granulométricas dos agregados. Nesta figura é possível
observar que os agregados apresentam curvas referentes a uma distribuição granulométrica uniforme
em sua maior quantidade.

Figura 1. Curvas granulométricas dos materiais.

A massa específica foi determinada para os agregados graúdos, natural e reciclado, e os resultados são
mostrados no Quadro 2, onde também são apresentados os dados para absorção de água dos mesmos.
Também encontram-se no Quadro 2, os resultados obtidos de massa unitária e volume de vazios para
os agregados graúdos e miúdos.

Quadro 2. Massa específica (), massa unitária (MU), absorção de água (A) e
volume de vazios (V) dos AGN, AGR, AG e AMN.
Agregado  [kg/m³] MU [Kg/m³] A [%] V [%]
AGN 2570 1425,93 1,51 44,52
AGR 1970 1105,85 9,33 43,87
AG 2420 2270,00 9,38 37,52
AMN 2580 1526,46 -------- 40,84

Após a determinação das características desses materiais, foram feitas a determinação de dois
esqueletos granulares, um para a determinação da melhor porcentagem de substituição de AGN por
AGR que foi denominada AG, e outro para definir a quantidade ideal de AMN e da mistura AG.
Para compor cada esqueleto granular, foi necessário determinar o índice de vazios e peso unitário de
diferentes misturas de acordo com a norma técnica [7]. A Figura 2 mostra o esqueleto granular da
mistura entre o AGN e o AGR.

37
Reologia de concretos autoadensáveis com substituição parcial de agregado graúdo por RCD classe cinza

Figura 2. Gráfico peso unitário x volume de vazios – AGN e AGR.

A partir da análise do gráfico da Figura 2, pode-se observar que a melhor composição foi a mistura
com 50% AGN e 50% AGR (mistura denominada de AG), por apresentar o menor volume de vazios.
Esse mesmo procedimento foi feito para a determinação da porcentagem de AMN e a mistura AG que
foi obtido e é mostrado na Figura 3.

Figura 3. Gráfico peso unitário x volume de vazios – AMN e AG.

A partir da análise do gráfico da Figura 3, pode-se observar que a melhor composição foi a mistura de
50% AMN e 50% da mistura AG.

Também se fez necessária a caracterização do Cimento Portland (C) e da Cinza Volante (CV)
utilizados. O ensaio realizado nestes materiais foi o de massa específica, especificado por norma [8]. O
C resultou em uma massa específica média (,med) de 2810 kg/m³ e a CV resultou em uma massa
específica média (,med) de 2000 kg/m³.

2.2 Determinação do volume de pasta (Vp)

O Vp foi determinado a partir de um consumo inicial pré-estabelecido de cimento, que foi de 300
kg/m³. Essa massa de cimento foi determinada com o intuito de obter um CAA com resistência de 25
MPa aos 28 dias de idade. O Vp resultante foi de 0,31 m³ e foi calculado a partir da Equação 1.

(1)

38
Da Silva, Vieira e Marangon

Onde:
Vp: volume de pasta (m³);
C: consumo inicial de cimento (kg/m³);
CP: massa específica do Cimento Portland (kg/m³);
H2O: massa específica da água (kg/m³);
CV: massa específica da cinza volante (kg/m³);
SP: massa específica do superplastificante (kg/m³);
f: massa específica do fíler (kg/m³);
PH2O: massa de água (kg);
Pf: massa de fíler (kg);
PCV: massa de cinza volante (kg);
Pspl: massa de superplastificante líquido (kg);
PH2Osp: massa de água no superplastificante (kg).

2.2.1 Composição dos traços e determinação do consumo real de cimento


Após a determinação do Vp, pode-se calcular o volume real de cimento (CR), que foi obtido por meio
da Equração 2.

(2)

Para a determinação dos traços, foi fixado CV/C (relação entre cinza volante e cimento) em 20%, com
isso, apenas a relação a/c (relação entre água e cimento) e sp/c (relação entre superplastificante e
cimento) foram determinadas em laboratório, para essa determinação foi realizado apenas o ensaio de
espalhamento, afim de verificar se podem ser classificados como CAA. Após diversas tentativas,
obteve-se o traço do CAAREF com uma relação a/c de 0,585 (constante para todos os traços) e uma
relação sp/c de 0,52%.

O traço do CAAREF é apresentado no Quadro 3.

Quadro 3. Traço CAAREF.


Quantidade de materiais
Material
em volume [Kg/m³]
CR 291,08
CV 60,00
AGN 886,65
AMN 890,10
SP 6,00
Água 171,07

Na sequência determinou-se o traço CAA50%. O traço teve o agregado graúdo natural substituído pela
mistura entre o agregado natural e o reciclado (50% agregado natural + 50% agregado reciclado), esta
substituição causou alteração nos parâmetros que dependem da massa específica dos materiais e
também houve variação na quantidade de aditivo SP. O traço do CAA50% é apresentado no Quadro 4.

39
Reologia de concretos autoadensáveis com substituição parcial de agregado graúdo por RCD classe cinza

Quadro 4. Traço CAA50%.

Material Quantidade de materiais


em volume [Kg/m³]
CR 288,10
CV 60,00
AGR 417,45
AGN 443,33
AMN 915,90
SP 10,32
Água 167,88

A obtenção do traço apresentado no Quadro 4 foi trabalhosa, uma vez que houve uma alta absorção de
água do agregado graúdo reciclado. Assim a obtenção do CAA50%, só foi possível com a adição da
porcentagem de água absorvida pela mistura de agregado natural e reciclado que foi de 9,38% para
essa mistura.

Além dos dois traços CAAREF e CAA50% foram produzidos outros dois traços, tomando como base a
mistura CAA50%. Nesses dois traços foi variada somente a quantidade de AGR em composições de
60% AGN/ 40% AGR e 40% AGN/ 60% AGR, os quais resultaram nas misturas CAA40% e CAA60%,
respectivamente. Nessas misturas a correção da água de 9,38% foi mantida, pois estas foram
produzidas com o intuito de verificar as alterações provocadas no CAA pela substituição parcial de
AGN por AGR. Os CAA40% e CAA60% tiveram seus traços desenvolvidos para servirem de
comparação aos demais, desta forma a única variação nestes traços foi a quantidade de AGN e AGR.
Os traços destas misturas são apresentados no Quadro 5.

Quadro 5. Traços comparativos.


Traço CAA40% Traço CAA60%
Quantidade de materiais Quantidade de materiais
Material
em volume [Kg/m³] em volume [Kg/m³]
CR 288,10 288,10
CV 60,00 60,00
AGR 333,96 500,94
AGN 531,99 354,66
AMN 890,1 890,1
SP 9,15 10,32
Água 168,74 167,88

3. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

3.1 Ensaio de abatimento e espalhamento

Os resultados obtidos para os quatro traços determinados são apresentados no Quadro 6. No quadro é
possível observar o abatimento (A), o espalhamento a partir do tronco de cone de Abrams (E), a
classificação para o espalhamento, o tempo de escoamento t500 e a classe, todos segundo norma técnica
[9] e o espalhamento do tronco de cone invertido (ECI).

40
Da Silva, Vieira e Marangon

Quadro 6. Valores médios de abatimento e espalhamento dos CAA.


Mistura A [mm] E [mm] Classe t500 [s] Classe ECI [mm]
CAAREF 270 600 SF-1 4,87 VS-2 585
CAA40% 270 650 SF-1 8,00 VS-2 655
CAA50% 270 655 SF-1 11,00 VS-2 630
CAA60% 250 600 SF-1 11,00 VS-2 555

A partir dos resultados apresentados na Quadro 6 verifica-se que: todas as misturas apresentam
características de CAA, com A  300 mm e E ≥ 600 mm; todas as misturas enquadraram-se na classe
de espalhamento SF-1, que corresponde a concretos para utilização em estruturas com baixa taxa de
armadura, concreto autoadensável bombeado e estruturas que exigem uma curta distância de
espalhamento horizontal do concreto; e na classe de viscosidade plástica aparente sob fluxo livre VS-
2, que caracteriza o concreto como adequado para a maioria das aplicações correntes. A mistura
CAA40% comparado à mistura CAA50% apresentou pequena diminuição de espalhamento.

Todas as misturas com agregado graúdo reciclado possuem 0,9 % de SP, enquanto que a mistura
CAAREF possui 0,52% de SP, ou seja, o acréscimo de SP, quando utilizado agregado graúdo reciclado,
foi de 0,38 %, para manter as características de um CAA. Esse acréscimo de SP desfavorece as
misturas com agregado reciclado considerando que os aditivos apresentam custo elevado, e os
agregados reciclados apresentam baixo custo.

A Figura 4 mostra imagens do espalhamento de cada uma das misturas.

(a) CAAREF (b) CAA40%

(c) CAA50% (d) CAA60%


Figura 4. Espalhamento das misturas.

É possível verificar na Figura 4, que o CAA40%, como esperado, apresentou exsudação e segregação,
conforme (ver Fig. 4 (b)), uma vez que foi mantida a quantidade de água de absorção utilizada na
mistura CAA50%.

A Figura 4 (d) mostra que a mistura CAA60% também apresentou um resultado de espalhamento
esperado, ou seja, menor que a mistura CAA50%, pois a quantidade de água de absorção foi a mesma
adicionada à mistura CAA50% e a substituição de AGN por AGR foi maior. Além disso, a análise
visual reafirma o resultado do esqueleto granular da Figura 2, pois a mistura CAA50%, com AGR, não

41
Reologia de concretos autoadensáveis com substituição parcial de agregado graúdo por RCD classe cinza

apresentou segregação nem exsudação dos materiais. Na mistura CAA60% o espalhamento poderia ter
sido melhor, caso fosse corrigida a quantidade de água da absorção da mistura do AGR e AGN.

Nos ensaios com o cone invertido, as misturas apresentam boa fluidez. No entanto as misturas CAA REF
e CAA60% não apresentaram espalhamento maior ou igual a 600 mm, sendo este o valor ideal. Ainda,
tratando-se da mistura CAA60%, o valor de espalhamento de 600 mm seria facilmente alcançado caso
fosse corrigida a água de absorção dos agregados.

3.2 Fluidez no Funil-V

O Quadro 7 apresenta os resultados de TV (tempo de fluxo), e a classificação quanto a viscosidade de


escoamento do ensaio do Funil-V, e a classe de viscosidade plástica aparente, VF, obtidas por meio de
norma técnica [9].

Quadro 7. Tempo de fluxo e classificação dos CAA no ensaio do Funil-V.


Mistura Tv [s] VF
CAAREF 12 VF-2
CAA40% 36 Não-adensável
CAA50% 25 VF-2
CAA60% Bloqueado Não-adensável

Conforme pode ser observado no Quadro 7, o CAAREF e o CAA50% foram classificados quanto a classe
de viscosidade plástica aparente como VF-2, o que significa segunda a norma [9] que é um CAA
adequado para o uso na maioria das construções , com tempos de fluxo (Tv) entre 8 e 25 segundos. As
duas misturas apresentaram boa capacidade de fluidez, no entanto a presença do AGR diminui a
fluidez do CAA, uma vez que, o tempo de fluxo mais que dobrou em relação à mistura CAA50%. Isso
significa que a mistura CAA50% possui uma maior viscosidade que a mistura de referência, indicando
que o uso de AGR aumenta a viscosidade da mistura. Além disso, cabe ressaltar que para obter um
CAA, foi necessário o aumento da porcentagem de SP para a mistura contendo AGR.

O CAA40% e o CAA60% não foram classificados como CAA quanto à viscosidade plástica aparente por
meio do ensaio do Funil-V, pois, a mistura CAA40% apresentou tempo de escoamento 44% maior que o
Tv limite estabelecido pela norma [9] para ser classificado como CAA. Conforme observado na Figura
4 (b) a mistura CAA40% apresentou segregação, o que pode ter provocado o aumento do tempo de
fluidez no ensaio do Funil-V, bloqueando a saída do funil durante o ensaio. Quanto ao CAA60% a
mistura não fluiu. o material foi retirado do funil com auxílio de um soquete e água, porque a mistura
CAA60% apresentava alta viscosidade. Para essa mistura, deve ser dada atenção para a correção da água
de absorção dos agregados, uma vez que essa correção poderia ter proporcionado a fluidez do concreto
no ensaio.

3.3 Escoamento na Caixa-L

O Quadro 8 apresenta os resultados obtidos, no ensaio utilizando a Caixa-L, onde se obteve a relação
H2/H1. Estes resultados foram classificados quanto à habilidade passante conforme norma técnica [9].

Quadro 8. Habilidade passante e classificação dos CAA no ensaio da Caixa-L


Mistura H2/H1 Classe
CAAREF 0,87 PL-2
CAA40% Bloqueada Não-adensável
CAA50% 0,26 Não-adensável
CAA60% Bloqueada Não-adensável

O resultado da relação H2/H1 foi maior ou igual a 0,80 para a mistura CAAREF, desta forma foi possível
classificá-la como CAA quanto à habilidade passante pelo ensaio da Caixa-L com a configuração de
três barras de anteparo. Quanto à classe PL-2, o concreto autoadensável pode ser classificado como

42
Da Silva, Vieira e Marangon

adequado para a maioria das aplicações correntes. Quanto as misturas CAA40%, CAA50% e a CAA60% os
resultados não as classificam como CAA para os critérios estabelecidos pela norma [9]. As misturas
CAA40% e CAA60% foram bloqueadas pelas barras de aço, e a mistura CAA50% fluiu, mas apresentou
resultado inferior a 0,8 para a relação H2/H1 e o uso de três barras como anteparo, assim não
caracterizou-se como CAA. Sugere-se que o bloqueio ocasionado na mistura CAA40% foi devido a
segregação. Já para a mistura CAA60% a mistura não fluiu, uma vez que a correção de água de
absorção do AGR parece ser necessária.

3.4 Escoamento pelo Anel-J

O Quadro 9 apresenta os resultados de dF (diâmetro final obtido pela massa de concreto no ensaio com
o Anel-J), e a diferença (Δ) entre os dF e os espalhamentos E (espalhamento obtido no ensaio sem o
Anel-J) e a classe de habilidade passante PJ, segundo norma técnica [9].

Quadro 9. Resultados de dF e classificação quanto a habilidade passante pelo Anel-J


Mistura dF [mm] E [mm] Δ [mm] Classe
CAAREF 580 600 20 PJ-1
CAA40% 620 650 30 PJ-2
CAA50% 615 655 35 PJ-2
CAA60% 360 600 240 Não-adensável

Neste ensaio as misturas CAAREF, CAA40% e CAA50% apresentaram resultados que as classificam como
CAA segundo os critérios da norma [9]. Somente a mistura CAA60% apresentou um resultado para Δ
superior à 50 mm, máximo valor estabelecido pela referida norma. A diferença entre o espalhamento
com e sem o Anel-J foi crescente em todos os CAA. A Figura 5 mostra imagens do espalhamento com
o uso do Anel-J para cada mistura.

(a) CAAREF (b) CAA40%

(c) CAA50% (d) CAA60%


Figura 5. Espalhamento com Anel-J.

É possível verificar, nas imagens (a) e (c) da Figura 5, que o CAAREF e o CAA50% apresentaram bom
comportamento, fluindo através das barras colocadas como anteparo no anel. Na imagem (b) observa-
se segregação e uma alta exsudação e em (d) mostra que o concreto bloqueou; conforme no ensaio da
Caixa-L. Ainda verifica-se, nas imagens (b) e (d), respectivamente, que as misturas apresentaram
excesso de água e alta viscosidade, fatores que, talvez, seriam evitados se a quantidade de água fosse
correspondente a proporção de absorção de AGR adicionados.

43
Reologia de concretos autoadensáveis com substituição parcial de agregado graúdo por RCD classe cinza

CONCLUSÕES

De acordo com os dados obtidos no trabalho é possível chegar às seguintes conclusões:


 Conforme o esqueleto granular a composição de AGN e AGR foi de (50%/50%), onde obteve-
se o menor volume de vazios. Além disso, quando determinado o esqueleto granular dessa
composição (50%/50%) com o AMN pode-se observar que a composição com menor volume
de vazios também foi de (50%/50%).
 Nos ensaios de espalhamento e abatimento com o cone de Abrams, todas as misturas
apresentam características de CAA. Segundo os critérios estabelecidos pela norma [9], a
classe das misturas foi SF-1 para o espalhamento. Para a viscosidade plástica aparente foram
classificadas de acordo com a norma [9] como VS-2. Ainda foi possível observar nas imagens
do espalhamento que a mistura CAA40% apresentou pequena segregação e exsudação.
 Nos ensaios do Funil-V verificou-se que as misturas CAAREF e CAA50% foram as que se
enquadraram entre os limites estabelecidos pela norma [9], com classificação VF-2. As outras
misturas não apresentaram características de CAA neste ensaio, o que pode ter ocorrido
devido a ”quebra” do AGR, que pode ter ocorrido uma vez que entre cada um dos ensaios as
misturas eram recolocadas na betoneira e misturadas por mais um minuto e assim as misturas
ficaram mais viscosas pelo aumento da quantidade de finos.
 No ensaio da Caixa-L somente a mistura CAAREF apresentou características de um CAA. As
demais apresentaram valores abaixo do valor mínimo de 0,8 para a relação H 2/H1 e não foram
classificadas como CAA.
 Os resultados obtidos pelo ensaio do Anel-J apresentaram Δ condizentes de CAA para as
misturas CAAREF, CAA40% e CAA50%.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a UTE Presidente Médici pela doação da cinza volante.

REFERÊNCIAS

[1] Experts for Specialised Construction and Concret Systems. (2002). Specification and Guidelines
for Self-Compacting Concrete.
[2] Tutikian, B.F.; Dal Molin D. C. (2008). Concreto autoadensável. São Paulo: Ed. PINI.
[3] Santos. P. A. dos.; Silva. A. R da. (2009). Propriedades reológicas do concreto autoadensável no
estado fresco. Universidade Católica de Salvador. Salvador.
[4] Perius. G. R. (2009). Influência das propriedades físicas de agregados reciclados sobre a
retração por secagem em concreto autoadensável. Florianópolis. Dissertação de Mestrado.
Universidade Federal de Santa Catarina.
[5] Barros, A. R., Gomes, P. C. C.; Barboza, A. S. R. (2010). Flexão de vigas de concreto
autoadensável reforçado com fibras de aço. In: XXXIV Jornadas Sul-Americanas de Engenharia
Estrutural (XXXIV Jornadas Sud-Americanas de Ingenieria Estructural). San Juan.
[6] Gomes, P.C.C.; Barros, A.R. (2009). Métodos de dosagem de concreto autoadensável. 1ª ed. São
Paulo: PINI, pg. 165.
[7] Associação Brasileira de Normas Técnicas. (2006). NBR NM 45: Determinação da massa
unitária e volume de vazios. Rio de Janeiro.
[8] Associação Brasileira de Normas Técnicas. (2001). NBR NM 23: Determinação da massa
específica. Rio de Janeiro.
[9] Associação Brasileira de Normas Técnicas. (2010). NBR 15823-1: Concreto autoadensável. Parte
1: Classificação, controle e aceitação no estado fresco. Rio de Janeiro.

44
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

Resíduos minerais cominuídos aplicados ao CAA: desempenho no


estado fresco

Edgar Bacarji1 R.D. Toledo Filho2

RESUMO Foto do autor, com


tamanho 4×3cm
Materiais finos como areias e fíleres provenientes de britagem de rochas têm sido pesquisados para a produção
de Concretos Auto Adensáveis (CAA). Estes materiais ocupam os pátios das empresas a ainda necessitam de
uma destinação técnica e ecologicamente corretas. O presente estudo avalia o desempenho destes materiais em
Concretos Auto Adensáveis (CAA) no estado fresco. Foram estudadas sete misturas com dois tipos litológicos
de agregados e fíleres: Granito e Micaxisto; como referências, foram produzidas duas misturas com areia natural
de rio. Três misturas tiveram substituição parcial de 5% do cimento (em massa) pela sílica ativa. O método de
dosagem utilizado foi o de Tutikian (2004). Por consequência, cada mistura de concreto apresentou uma
estrutura granular distinta e teve por base condições de trabalhabilidade aceitáveis. Utilizando-se um moinho de
bolas, os fíleres foram cominuídos por um período de duas horas. Caracterizados os materiais, procedeu-se a
dosagem dos concretos, estabelecendo-se uma relação aglomerante:agregados totais secos de 1:3. As
propriedades físicas analisadas foram o teor de ar incorporado e a densidade dos concretos. Os ensaios realizados
para a verificação do desempenho no estado fresco foram os estabelecidos pela norma brasileira ABNT NBR
15823. Os ensaios foram: Espalhamento e Tempo de Escoamento pelo Cone de Abrams, Anel J, Teste da Coluna
de segregação, Funil V e Caixa L. Determinou-se também a resistência à compressão aos 28 dias. Como
referências para a qualificação do desempenho destes concretos, foram produzidas outras sete misturas
utilizando-se como fíler um produto comercial existente no mercado brasileiro denominado sílica 325.
Verificou-se que estes materiais provenientes da britagem têm potencial para utilização em concretos auto
adensáveis; quanto ao tipo litológico, o Granito apresentou melhor desempenho mecânico e o micaxisto
melhores condições de trabalhabilidade. A substituição parcial do cimento pela sílica ativa mostrou-se benéfica,
promovendo uma melhor coesão, reduzindo a segregação. Em relação aos concretos com sílica 325, os concretos
com os fíleres de micaxisto e granito cominuídos tiveram uma redução média de 10% na resistência à
compressão. Assim, a utilização dos materiais aqui estudados além de tecnicamente viável, auxilia na
preservação ambiental, promovendo uma destinação adequada para os resíduos que ainda permanecem estocados
nos pátios das empresas de britagem.

Palavras-chave: Concretos autoadensáveis. Resíduos de britagem. Sustentabilidade.

1
Escola de engenharia civil da UFG, Goiânia, Goiás, Brasil. edgar@ufg.br
2
Departamento de Engenharia Civil, COPPE, UFRJ, Rio de Janeiro – RJ, Brasil. toledo@coc.ufrj.br

45
Resíduos minerais cominuídos aplicados ao CAA: desempenho no estado fresco

1. INTRODUÇÃO

Este trabalho é fruto de uma pesquisa de pós doutorado desenvolvida na Universidade Federal do Rio
de Janeiro, cujos primeiros resultados foram apresentados por Bacarji, E.; Toledo Filho, R.D. [1]. Ali
os autores avaliaram o desempenho das areias e fíleres in natura, subprodutos da extração de brita
para a construção civil. Segundo os autores, se não se encontrar uma aplicação tecnicamente viável
para estes materiais residuais, o Brasil terá sérios problemas ambientais com o setor num futuro
próximo. Assim, o objetivo do presente estudo é avaliar o desempenho daqueles mesmos fíleres, agora
cominuídos, em concretos auto adensáveis no estado fresco.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

A caracterização de todos os materiais, a exceção da caracterização granulométrica dos fíleres e da


sílica 325, bem como a descrição da metodologia de dosagem das misturas foram apresentadas em
Bacarji, E.; Toledo Filho, R.D. [1] e não são repetidas aqui.

2.1 Caracterização granulométrica

A Figura 1 apresenta a caracterização granulométrica dos fíleres e do cimento utilizados no presente


trabalho. 2h representa o tempo de moagem dos fíleres de micaxixto e granito cominuídos.

Figura 1. Caracterização granulométrica dos fíleres e cimento

A sílica 325 é um fíler presente no mercado brasileiro proveniente da moagem da rocha de quartzo.
Sua densidade é de 2.680kg/m3. A especificação 325 refere-se à malha na qual passa todo o material,
ou seja, 0,042mm.

2.2 Metodologia

Inicialmente, foram produzidas sete misturas com dois tipos litológicos de agregados: Granito e
Micaxisto; como referências, foram produzidas duas misturas com areia natural de rio. Em três
misturas foi prevista substituição parcial de 5% do cimento (em massa) pela sílica ativa. O método de
dosagem utilizado foi o de Tutikian [2]. Por consequência, cada mistura de concreto apresentou uma
estrutura granular distinta e todas elas tiveram em comum reologias semelhantes e mesma relação
aglomerante:agregados totais secos (aglom:agreg), em massa. Como parâmetros iniciais foram
adotados a relação a/aglom de 0,45 e o teor de superplastificante (SPP) de 0,6% em relação à massa

46
Bacarji e Toledo Filho

do aglomerante. Os fíleres in natura foram cominuídos utilizando-se um moinho de bolas com tambor
de 710 mm de diâmetro contendo 10 esferas de 420g cada uma. A velocidade de rotação foi de 33 rpm
por um período de duas horas. Caracterizados os materiais, procedeu-se a dosagem dos concretos,
estabelecendo-se uma relação aglom:agreg de 1:3 (em massa). As propriedades físicas analisadas
foram o teor de ar incorporado e a densidade dos concretos. Os ensaios realizados para a verificação
do desempenho no estado fresco foram os estabelecidos pela norma brasileira ABNT NBR 15823 [3].
Os ensaios foram: Espalhamento e Tempo de Escoamento pelo Cone de Abrams, Anel J, Teste da
Coluna de segregação, Funil V e Caixa L. Determinou-se também a resistência à compressão aos 28
dias. Como referências para a qualificação destes concretos, foram produzidas outras sete misturas
utilizando-se como fíler a sílica 325.

As 14 (quatorze) misturas obtidas estão identificadas no Quadro 1.

Quadro 1. Identificação dos CAA


Identificação Agreg. Graúdo Agreg. Miúdo Fíler Sílica ativa(%)
(b) (am) (f)
REF1 Micaxisto Areia de rio Micaxisto 2h -
MX Micaxisto Micaxisto Micaxisto 2h -
MX_5 Micaxisto Micaxisto Micaxisto 2h 5
REF2 Granito Areia de rio Granito 2h -
REF2_5 Granito Areia de rio Granito 2h 5
GRN Granito Granito Granito 2h
GRN_10 Granito Granito Granito 2h 10
REF1_325 Micaxisto Areia de rio Sílica 325 -
MX_325 Micaxisto Micaxisto Sílica 325 -
MX_5_325 Micaxisto Micaxisto Sílica 325 5
REF2_325 Granito Areia de rio Sílica 325 -
REF2_5_325 Granito Areia de rio Sílica 325 5
GRN_325 Granito Granito Sílica 325
GRN_5_325 Granito Granito Sílica 325 5

Para a família GRN_10 foi estabelecida inicialmente a substituição de 5% da massa de cimento pela
sílica ativa, mas suas propriedades reológicas não foram satisfatórias, estabelecendo-se, portanto, 10%
de substituição.

Os traços unitários (aglom:f:am:b), em massa, dos CAA são apresentados no Quadro 2.

Quadro 2. Traços unitários


Misturas Traços a/aglom SPP (%)
REF1 e REF1_325 1:0,58:0,58:1,84 0,48 e 0,42 0,60
MX e MX325 1:0,69:0,55:1,76 0,56 e 0,47 0,60
MX5 e MX5_325 1:0,60:0,64:1,76 0,57 e 0,49 0,65 e 0,60
REF2 e RE2_325 1:0,58:0,42:2,00 0,46 e 0,43 0,60
REF2_5 e REF2_5_325 1:0,52:0,48:2,00 0,50 e 0,47 0,60 e 0,65
GRN* e GRN325 1:0,67:0,41:1,92 0,47 e 0,46 0,65
GRN10** e GRN_5_325 1:0,60:0,48:1,92 0,52 e 0,46 0,75 e 0,68
* 50% de areia granito 50% areia natural **30% areia natural 70% areia granito

Para as relações a/aglom e SPP, quando for o caso, os primeiros valores referem-se às misturas com os
fíleres cominuídos e os segundos valores às misturas com a sílica 325.

Para a produção dos concretos utilizou-se uma betoneira com capacidade de 80 litros colocando-se os
materiais na seguinte ordem: Agregado graúdo e agregado miúdo e mistura por 3 min.; adição de 50%
da água de amassamento e mistura por 3min.; acréscimo dos fíleres e aglomerantes com mistura de

47
Resíduos minerais cominuídos aplicados ao CAA: desempenho no estado fresco

3min.; acréscimo da água restante; mistura por 3min. e acréscimo do aditivo superplastificante com
mistura de 12min.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 Quanto à caracterização granulométrica

Da Figura 1 pode-se observar que a sílica 325 apresentou uma distribuição granulométrica muito
próxima à do cimento; já os fíleres cominuídos, apesar de uma diminuição de relação aos fíleres in
natura, como era de se esperar, apresentaram-se com uma granulometria mais elevada; em ordem
crescente ficaram o micaxisto 2h e o granito 2h.

3.2 Quanto às propriedades físicas

O Quadro 3 apresenta o teor de ar incorporado e a densidade das misturas analisadas.

Quadro 3. Propriedades físicas


Misturas Teor de ar incorporado Densidade (kg/m3)
(%)
REF1 e REF1_325 2,0 e 2,5 2.368 e 2.395
MX e MX325 1,8 e 2,5 2.334 e 2.355
MX5 e MX5_325 1,8 e 2,3 2.326 e 2.361
REF2 e RE2_325 1,7 e 2,9 2.353 e 2.318
REF2_5 e REF2_5_325 3 e 1,9 2.292 e 2.308
GRN e GRN325 1,8 e 2,8 2.353 e 2.316
GRN10 e GRN_5_325 2,8 e 3,0 2.287 e 2.303

Pode-se observar que houve poucas variações nestas propriedades; digno de nota é o fato de que todas
as misturas com a sílica 325, com exceção da REF2_5_325 apresentaram um teor de ar incorporado
mais elevado. Tal fato pode estar associado à uma relação a/aglom mais baixa destas misturas, como
se observa no Quadro 2. Do mesmo quadro observa-se também que esta foi a única mistura que
apresentou um teor de SPP um pouco mais elevado.

3.3. Quanto aos ensaios no estado fresco

O Quadro 3 apresenta os resultados de Espalhamento, Segregação e Caixa L para as misturas


estudadas.

Quadro 3. Ensaios no estado fresco: Espalhamento, Segregação e Caixa L.


Misturas Espalhamento. Segregação. Caixa L
(mm) (%) (h2/h1)
REF1 e REF1_325 620 e 600 0 0,80 e 0,84
MX e MX325 600 e 650 4,17 e 7,27 0,80 e 0,82
MX5 e MX5_325 630 e 610 0 0,82 e 0,81
REF2 e RE2_325 570 e 710 5,5 e 5,52 0,80 e 0,80
REF2_5 e REF2_5_325 620 e 630 4,5 e 3,6 0,77 e 0,80
GRN e GRN325 610 e 710 5,8 e 3,8 0,84 e 0,82
GRN10 e GRN_5_325 665 e 820 0 e 6,81 0,83 e 0,80

A Norma NBR 15823 [3] estabelece os seguintes limites: Espalhamento a um mínimo de 550 mm e a
um máximo de 850 mm; Segregação a um máximo de 20% e a relação entre as Alturas h2/h1 da caixa
L a um mínimo de 0,80. Observa-se que todas as misturas atenderam a estes critérios, com exceção da

48
Bacarji e Toledo Filho

mistura REF2_5, onde a relação h2/h1 foi de 0,77. Este valor indica baixa capacidade passante entre as
armaduras, que por sua vez está relacionada a uma quantidade mais elevada de agregados graúdos
presentes na mistura, como se vê no traço unitário (Quadro 2) e à maior coesão proporcionada pela
sílica ativa.

O Quadro 4 apresenta os resultados de Funil V, Anel J e t500, para todas as misturas.

Quadro 4. Ensaios no estado fresco: Funil V, Anel J e t500.


Misturas Funil V Anel J t500
(s) (mm) (s)
REF1 e REF1_325 12,00 e 17,79 20 e 25 4,15 e 4,56
MX e MX325 20,40 e 16,10 25 e 30 5,10 e 4,40
MX5 e MX5_325 10,17 e 4,70 35 e 30 5,60 e 1,43
REF2 e RE2_325 23,9 e 15,91 70 e 20 9,73 e 3,50
REF2_5 e REF2_5_325 10,40 e 14,49 90 e 45 10,0 e 2,36
GRN e GRN325 13,00 e 22,57 30 e 25 8,0 e 3,80
GRN10 e GRN_5_325 10.05 e 10,58 90 e 40 2,7 e 4,71

A Norma NBR 15823 [3] estabelece os seguintes limites: tempo de fluxo do funil V a um máximo de
25 s e a diferença entre o espalhamento sem o anel J e o espalhamento com o anel a um máximo de
50mm; Segundo a mesma norma, os concretos com t500 acima de 2s podem ser aplicados nos casos
gerais, onde não há concentrações de armaduras. Gomes e Barros [4] apresentam o limite superior de
7s.

Quanto aos resultados do Funil V, todas as misturas atenderam à normalização; quanto ao anel J e ao
limite superior de t500, sugeridos por Gomes e Barros [4], não atenderam aos critérios as misturas:
REF2, REF2_5 e GRN10, o que também indica baixa capacidade de atravessar obstáculos.

Como também observado por Bacarji, E.; Toledo Filho, R.D. [1], poderiam ser feitos ajustes na
dosagem; todavia, como há determinadas aplicações em que estes critérios não são muito relevantes,
como em vários tipos de artefatos de cimento, preferiu-se não realizar tais ajustes. Pode-se inferir de
Alencar [5] que valores altos do Funil V e Anel J podem ocorrer como particularidade do Método de
Tutikian [2], que não faz a correção do teor de argamassa e consequente redução dos agregados
graúdos.

3.3. Quanto à resistência à compressão e consumo de cimento

O Quadro 5 apresenta as médias das resistências à compressão de três corpos de prova aos 28 dias para
todas as misturas.
Com os traços unitários e com as densidades () das misturas pode-se obter o consumo de aglomerante
(C) por m3 de concreto, utilizando-se a Eq. (1). Estes valores também foram colocados no Quadro 5.

C (1)
(1  f  am  b  a )
aglom )

Quanto às resistências à compressão observa-se que as misturas com o fíler de micaxisto (REF1, MX e
MX_5) tiveram uma redução média de aproximadamente 13% em relação às mesmas misturas com a
sílica 325; já as misturas com o fíler de granito (REF2, REF2_5, GRN e GRN_10) tiveram uma
redução média de 7% em relação às mesmas misturas com a sílica 325. Quanto ao consumo de
aglomerante por m3 de concreto, as misturas com o fíler de micaxisto tiveram uma redução média de
3% em relação às mesmas misturas com a sílica 325; Já as misturas com o fíler de granito tiveram o
mesmo consumo médio. Estas pequenas reduções nas resistências foram devidas aos pequenos
acréscimos nas relações a/aglom nas misturas com os fíleres de micaxisto e granito (Quadro 2)

49
Resíduos minerais cominuídos aplicados ao CAA: desempenho no estado fresco

necessárias para a manutenção das propriedades reológicas no estado fresco. Ressalta-se também que a
sílica 325 apresentou uma distribuição granulométrica mais fina, o que provocou um melhor
empacotamento das partículas.

Quadro 5. Resistências médias e consumo de aglomerante


Misturas fc,28 e fc,28,325 C e C325 (fc,28/ fc,28,325) C/ C325
(MPa) (kg/m3
REF1 e REF1_325 42,99 e 47,51 529 e 542 0,905 0,98
MX e MX325 34,74 e 43,00 512 e 527 0,808 0,97
MX5 e MX5_325 37,21 e 42,13 509 e 526 0,883 0,97
REF2 e RE2_325 52,07 e 53,78 528 e 523 0,968 1,01
REF2_5 e REF2_5_325 50,70 e 52,42 509 e 516 0,967 0,99
GRN e GRN325 49,80 e 54,87 526 e 519 0,908 1,01
GRN10 e GRN_5_325 50,20 e 56,85 506 e 516 0,883 0,98

CONCLUSÕES

O presente trabalho avaliou o desempenho de fíleres residuais cominuídos em Concretos Auto Adensáveis
(CAA) no estado fresco. Avaliou também a resistência à compressão destes concretos. Foram estudadas sete
misturas sendo três com o fíler de micaxisto e quatro com o fíler de granito. Os resultados foram comparados
com as mesmas famílias apenas substituindo-se estes fíleres pela sílica 325, um produto comercial brasileiro.

Quanto à reologia, avaliada por meio de ensaios normativos, as famílias com os fíleres de micaxisto cominuídos
apresentaram melhores resultados do que as famílias com os fíleres cominuídos de granito e similares às famílias
onde se utilizou a sílica 325; quanto à resistência à compressão, as famílias com os fíleres cominuídos de granito
obtiveram melhores resultados do que as famílias com os fíleres de micaxisto cominuídos, mas ainda um pouco
abaixo dos valores obtidos com a sílica 325. Não obstante, foram obtidas resistências que variaram entre 34 MPa
e 50 MPa, indicando um bom potencial de utilização destes resíduos. Ao se considerar a realidade de que tais
resíduos permanecem estocados em grande quantidade nos pátios das empresas, sua cominuição e emprego na
confecção de concretos auto adensáveis constituem-se também numa solução ecologicamente correta, onde os
benefícios ao meio ambiente são incalculáveis.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico(CNPq)


pelo suporte financeiro, à Holcim Brasil pela doação do cimento e às pedreiras Anhanguera e Araguaia
pela doação dos agregados e fíleres.

REFERÊNCIAS
[1] Bacarji, E; Toledo Filho, R.D. (2012). Concretos autoadensáveis com incorporação de resíduos de
britagem de rochas: desempenho no estado fresco. 3º Congresso Ibéroamericano sobre betão
auto-compactável: Avanços e opórtunidades. Madrid, 3 e 4 de Dezembro de 2012.
[2] Tutikian, B.F.(2004). Método para dosagem de concretos auto adensáveis. 149 p. Universidade
Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre. Dissertação de mestrado.
[3] ABNT NBR 15823-1. (2010). Concreto Auto Adensável. Parte 1: Classificação, controle e
aceitação no Estado Fresco. Norma Brasileira.
[4] GOMES, P.C.C; BARROS, A.R. (2009). Métodos de dosagem de concreto autoadensável. São
Paulo. Pini.
[5] ALENCAR, R.S.A. (2008). Dosagem do concreto alto adensável: produção de pré-fabriacados.
179p. Dissertação de mestrado. – Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.

50
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

Betão Autocompactável na Região Autónoma da Madeira:


da composição de laboratório à comercialização

Lino Maia1,2 Diana Neves3 Miguel Guimarães 4

RESUMO

O presente trabalho consiste no estudo e desenvolvimento experimental de betão autocompactável,


utilizando os materiais correntemente utilizados na Região Autónoma da Madeira. Este trabalho
pretende, em parte, ser um contributo para o estabelecimento de uma metodologia que conduza a
composições otimizadas de forma a satisfazer todos os requisitos de desempenho.

Foram realizados alguns dimensionamentos de composições autocompactáveis. Para isso, inicialmente


realizaram-se vários estudos em pastas, argamassas e consequentemente em betões. De forma, avaliar
a autocompactabilidade e caracterizar este tipo de betão no estado fresco, foram realizados um
conjunto de ensaios em laboratório e ensaios de caracterização mecânica no betão endurecido.

Com o objetivo de validar o estudo das composições analisadas em laboratório, foram realizadas
algumas aplicações em condições reais, isto é, produção em central de betão pronto. Conseguiram-se
alcançar as propriedades adequadas de um betão autocompactável, sem alterar significativamente os
procedimentos de amassadura, transporte e colocação estabelecidos para o betão convencional. Os
resultados obtidos foram satisfatórios e culminaram com a apresentação de uma proposta de betão
autocompactável otimizada para o lançamento do produto no mercado da Região Autónoma da
Madeira.

Palavras-chave: Betão autocompactável, agregados britados vulcânicos, Região Autónoma da


Madeira.

1
CONSTRUCT – Institute of R&D in Structures and Construction, LABEST, Faculdade de Engenharia da Universidade
do Porto, Departamento de Engenharia Civil, Porto, Portugal. linomaia@fe.up.pt
2
Centro de Ciências Exatas e da Engenharia, Universidade da Madeira, Campus Universitário da Penteada, 9020-105
Funchal, Portugal. linomaia@uma.pt
3
Centro de Ciências Exatas e da Engenharia, Universidade da Madeira, Campus Universitário da Penteada, 9020-105
Funchal, Portugal. diananicole88@hotmail.com
4
Cimentos Madeira, Lda. Estrada Monumental, 433 9000-236 Funchal, Portugal. guimaraes.miguel@icloud.com

51
Betão Autocompactável na Região Autónoma da Madeira: da composição de laboratório à comercialização

1. INTRODUÇÃO

A durabilidade das estruturas de betão armado é atualmente encarada como uma grande preocupação,
é uma das principais incertezas e com graves consequências económicas, ambientais e sociais. Com a
crescente falta de durabilidade e com a necessidade de construir estruturas sustentáveis, surge a
preocupação do desenvolvimento do betão autocompactável (BAC). Trata-se de uma tecnologia mais
sustentável cuja principal vantagem é a qualidade dos trabalhos de compactação em obra, pois este
betão coloca inteiramente de parte o processo de compactação, obtendo-se assim um material mais
homogéneo e consequentemente mais durável. Apesar do BAC possuir excelentes propriedades, a sua
implementação na indústria da construção na Região Autónoma da Madeira (RAM) encontra-se ainda
a dar os primeiros passos.

Assim, no âmbito de uma pareceria entre a Universidade da Madeira e o Grupo Cimentos Madeira
iniciada em 2011 foi desenvolvido um trabalho alargado com o objetivo de desenvolver composições
de BAC para produção e comercialização na RAM usando os materiais correntemente disponíveis na
RAM. Do trabalho de investigação desenvolvido resultaram três dissertações de mestrado [1-3]. As
contribuições científicas das dissertações de mestrado [1-2], essencialmente sobre o dimensionamento
de composições BAC em laboratório, foram ainda divulgadas no Encontro Nacional Betão Estrutural -
BE2012, em 2012 [4,5].

Assim, o presente artigo é sobre as contribuições científicas presentes na dissertação de mestrado [3],
ou seja, o presente artigo aborda o procedimento seguido desde a composição BAC desenvolvida em
laboratório à composição produzida na central de betão para comercialização utilizando somente os
materiais correntemente disponíveis na RAM.

Em primeiro lugar fez-se a avaliação e produção em laboratório de várias composições de BAC, de


modo, a alcançar composições económicas e robustas, seguindo-se a validação de uma composição de
BAC para o lançamento do produto no mercado. Nesse sentido, de forma a criar confiança na
utilização do “novo” betão, demostrando as suas vantagens e identificando o processo de fabrico,
transporte e colocação, para validação do estudo foram realizadas algumas aplicações em condições
reais, isto é, em produção industrial.

2. PROGRAMA EXPERIMENTAL

2.1 Materiais e composições

Neste trabalho utilizaram-se os dois cimentos correntemente disponíveis na RAM: CEM II/A-L 42,5R
e CEM II/B-L 32,5N (massas volúmicas de 3100 e 3000 kg/m3, respetivamente), ambos provenientes
da fábrica da Secil-Outão. Para além do cimento, devido à (esperada) necessidade de materiais finos
[6, 7] para a obtenção da autocompactabilidade também se utilizaram cinzas volantes (cuja massa
volúmica de 2360 kg/m3) como material ligante. Refira-se que, embora muito utilizado na produção de
BAC, o filer calcário é um material que não está correntemente disponível na RAM.

Em todas a composições (pastas argamassas e betões) foi utilizada água da rede de abastecimento. Foi
utilizado o superplastificante Glenium Sky 548 e o plastificante Pozzolith 390N.

Foram utilizados dois tipos de agregados finos nas composições de argamassas e betões. Ambos os
tipos de agregados finos correspondiam a areias de origem vulcânica, sendo que a areia mais fina –
denominada por ‘Areia 0/2’ – era do mar e a areia de granulometria mais grossa – denominada ‘Areia
0/4’ – era britada. Estavam disponíveis três tipos de britas designadas de ‘Brita 4/10’, ‘Brita 8/16’ e
‘Brita 11/22’. Os Quadros 1 e 2 resumem os ensaios normalizados efetuados para a caracterização dos
agregados finos e grossos. Na Figura 1 apresentam-se as respetivas curvas granulométricas de todos os
agregados.

52
Maia, Neves e Guimarães

Quadro 1. Principais características dos agregados finos.


Designação Areia 0/2 Areia Britada 0/4 Métodos de ensaio
Dimensão nominal d/D (mm) 0/2 0/4 NP EN 933-1
Massa volúmica (kg/m3) 2820 2940
NP EN 1097-6
Absorção de água (%) 2,6±1 2,4±1
Baridade não compactada (kg/m3) 1520 1590 NP EN 1097-3
Teor em cloretos (%) ≤ 0,01 ≤ 0,01 NP EN 1744-1
% de partículas com de < 0,125 mm 15,4 11,2 NP EN 933-1
Módulo de finura 1,30 3,53 -

Quadro 2. Principais características dos agregados grossos.


Designação Brita 4/10 Brita 8/16 Brita 11/22 Métodos de ensaio
Dimensão nominal d/D (mm) 4/10 8/16 11/22 NP EN 933-1
Massa volúmica (kg/m3) 2840 2940 2941
NP EN 1097-6
Absorção de água (%) 2,1±1 1,1±1 1,1±1
Índice de achatamento FI35 FI35 FI35 NP EN 933-3
Baridade não compactada (kg/m3) 1520 1420 1430 NP EN 1097-3
Teor em cloretos (%) ≤ 0,01 ≤ 0,01 ≤ 0,01 NP EN 1744-1
Classe 1- Classe 1- Classe 1-
Reatividade álcalis-sílica ASTM C1260-05ª
Não reativa Não reativa Não reativa
Resistência ao desgaste: (Micro Deval) MDE25 MDE25 LA25 NP EN 1097-1
Resistência à fragmentação: Los
LA25 LA25 LA25 NP EN 1097-2
Angeles

Figura 1. Curva granulométrica de todos os agregados utilizados

2.2 Equipamentos para avaliar o estado fresco

Para avaliar o espalhamento em pastas utilizou-se o mini-cone de pastas (19 mm no diâmetro superior;
38 mm de diâmetro inferior; 57 mm de altura) e o cone de Marsh para avaliar a viscosidade das pastas.
Para aferir a reologia das argamassas estudou-se a capacidade de espalhamento (Gp=(desp/d0)2-1) e a
viscosidade de diversas argamassas. Estes ensaios foram realizados através da utilização do cone e do
funil V para argamassas descritos na Ref. [8]. Para avaliar as propriedades autocompactáveis dos
betões realizaram-se os ensaios do espalhamento, do funil V, da caixa L e da segregação de acordo
com as normas para o BAC EN 12350 – {8, 9, 10 e 11} de 2010. Importa referir que os equipamentos
usados e procedimentos de amassaduras em pastas e argamassas, embora ligeiramente adaptados para
os materiais utilizados, foram semelhantes aos procedimentos descritos na Norma NP EN 196-1: 2000.

53
Betão Autocompactável na Região Autónoma da Madeira: da composição de laboratório à comercialização

Para as amassaduras de betão em laboratório foi usada uma betoneira de trolha com capacidade para
150 litros capacidade, já para a produção de betão para comercialização foi utilizada a central de betão
pronto da empresa Betomadeira na Fundoa (concelho do Funchal).

2.3 Formulação das composições e ensaios realizados

O dimensionamento do BAC baseou-se no procedimento de tentativa-erro, mas de uma forma guiada,


permitindo na generalidade dos casos chegar rapidamente a uma composição de BAC que cumpra os
requisitos do estado fresco e endurecido. É sabido que os métodos de dimensionamento de betões
convencionais, não são aplicáveis para o dimensionamento do BAC, assim foi necessário adaptar outra
metodologia. Entre as diferentes metodologias divulgadas, procurou-se um método que permitisse
realizar o estudo da composição de uma forma mais facilitada, recorrendo a ensaios com equipamentos
já existentes ou de execução simples. Para a formulação das composições estudadas nesta dissertação
foi realizada uma adaptação do método de Bolomay utilizado na formulação de betões convencionais,
através de razões volumétricas entre os materiais constituintes que mais influência têm na composição
BAC. As dosagens dos materiais constituintes foram baseados no método de Okamura [9], como
também os ensaios propostos para pastas, argamassas e betões.

A formulação habitualmente é feita para um volume genérico de 1 m3, sendo posteriormente alterado
para o volume necessário para a amassadura. Para a realização de qualquer amassadura, foi necessário
através dos volumes obtidos para a composição determinar a massa de cada constituinte, pois é mais
simples e prático pesar os materiais em balanças do que utilizar equipamentos que medem volumes.
Para isso, basta apenas multiplicar o volume obtido de cada constituinte pela sua respetiva massa
específica/volúmica.

2.3.1 Pastas
Na formulação das pastas foram utilizados inicialmente os constituintes essenciais, água (w) e os finos
(p). Foram realizados ensaios de escoamento no cone Marsh (tesc) e de espalhamento de pastas, para
determinar os valores de βp (razão da água retida pelos finos) e Ep (fator de deformação), que ajudam a
selecionar o tipo de adição ou percentagem de substituição parcial do cimento pela adição.

Para a realização dos ensaios foi utilizado um volume de amassadura de 1,5 litros (efetuadas segundo a
norma NP EN 196-3), de modo a realizar os dois ensaios com a mesma amassadura. As principais
variações realizadas nas pastas foram a relação volumétrica entre água e finos (Vw/Vp) e a relação
volumétrica entre cinzas volantes e o volume total de finos (Vfa/Vp), com relações de Vw/Vp entre 1
a 1,7 e de Vfa/Vp entre 0% a 60%.

Nos estudos também foram introduzidos adjuvantes, como plastificantes (Pl) e superplastificante (Sp).
Para a introdução dos adjuvantes foi necessário remover água da amassadura de modo a manter o
volume inicial previsto. Como os adjuvantes são produtos maioritariamente líquidos, ou com baixo
teor de sólidos, foi feita a substituição da água por adjuvante, mantendo assim o mesmo volume de
líquidos na composição. A sua introdução foi realizada em relação volumétrica entre adjuvante e os
finos.

2.3.2 Argamassas
Na formulação de argamassas foi utilizado o volume de pasta (Vpasta) e o volume de areias (Vs) e
foram realizados os ensaios de escoamento no funil V (tesc) e de espalhamento. Para a realização dos
ensaios foram utilizados um volume de amassadura de 1,2 litros, de modo a realizar os dois ensaios
com a mesma amassadura. As principais variações realizadas nas argamassas foram a relação
volumétrica entre o volume de agregado fino e o volume total de argamassa (Vs/Vm) e a relação
volumétrica entre os dois tipos de areia e o volume de total de agregado fino (Vs 1/Vs e Vs2/Vs), com
relações de Vs/Vm entre 40 a 50% e de Vs1/Vs ou Vs2/Vs entre 40 a 60%. As percentagens dos
agregados finos utilizados em cada composição estudada foram obtidas através da adaptação do
método de Bolomay. As amassaduras foram efetuadas segundo a norma NP EN 196-1.

54
Maia, Neves e Guimarães

2.3.3 Betões
Na formulação do betão foram introduzidos dois novos parâmetros, relacionados com os agregados
grossos na composição (Vg). As percentagens utilizadas para os agregados grossos em cada
composição estudada foram obtidas através da adaptação do método de Bolomay, com relações
volumétricas entre o volume de cada brita e o volume total de agregados grossos (Vb 0/Vg e Vb1/Vg).
O volume de vazios (Vv) estimado foi de 1,5%.

A amassadura foi efetuada do seguinte modo: começou-se por introduzir as areias, depois o cimento e
as cinzas volantes na betoneira. Ligou-se a misturadora e adicionou-se metade da água de amassadura.
Posteriormente introduziu-se os agregados grossos e uma grande parte da água, deixando apenas um
pouco de água. De seguida, adicionou-se os adjuvantes, e com ajuda do pouco de água deixado
removeu-se dos provetes o restante dos adjuvantes, de maneira a não haver perda de material.
Considerou-se que o tempo de amassadura (t=0), se inicia após todos os materiais constituintes
estejam introduzidos na misturadora. A duração da amassadura foi cerca de 5 minutos sem
interrupções, após os constituintes serem colocados. Após terminar a amassadura do BAC, a betoneira
foi desligada e retiraram-se as amostras para a realização dos vários ensaios no estado fresco do betão.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Pastas

O estudo em pastas consistiu essencialmente na caraterização do estado fresco através da determinação


do βp e do tesc. Iniciou-se o estudo analisando pastas com diferentes tipos de cimentos, com o CEM
II/B-L 32,5N e CEM II/A-L 42,5R no instante de t=0, apresentados na Figura 2. Em ambos os casos
variou-se Vw/Vp e utilizou-se 0% de cinzas volantes, o que corresponde que os finos da pasta eram
totalmente constituídos pelo respetivo cimento. Como era de esperar, o cimento CEM II/B-L 32,5N
apresenta maior capacidade de deformação e de escoamento do que o cimento CEM II/A-L 42,5R.

Assim sendo, optou-se por escolher o cimento CEM II/B-L 32,5N e avaliou-se o efeito da substituição
parcial do cimento por cinzas volantes no estado fresco. Atendendo que para uma produção industrial
é importante que uma composição de betão mantenha as suas propriedades do estado fresco durante
algum tempo, optou-se por avaliar o estado fresco imediatamente após concluir a amassadura da pasta
e após 30 minutos. Na Figura 3 apresentam-se os resultados do ensaio do espalhamento (os resultados
do ensaio do cone de Marsh podem ser consultado na Ref. [3]). Os resultados obtidos estão de acordo
com o que é frequentemente referido na literatura: (i) verificou-se um aumento da capacidade de
deformação com o aumento da substituição do cimento por cinzas volantes; (ii) após 30 minutos a
capacidade de deformação era ligeiramente inferior. Selecionou-se a composição que tinha 30% de
cinzas volantes e pprosseguiu-se caraterização do estado fresco através da avaliação do efeito do
superplastificante. Na Figura 4 apresentam-se os resultados do ensaio do espalhamento (os resultados
do ensaio do cone de Marsh podem ser consultado na Ref. [3]) onde, como esperado, verifica-se o
aumento da capacidade de deformação à medida que se aumenta a dosagem de superplastidicante.

Figura 2. Resultados do ensaio do espalhamento (esquerda) e do cone de Mash (direita) em pastas


com diferentes cimentos.

55
Betão Autocompactável na Região Autónoma da Madeira: da composição de laboratório à comercialização

Figura 3. Resultados do ensaio do espalhamento em pastas com CEM II/B-L 32,5N e contendo diferentes
quantidades de cinzas volantes (esquerda: imediatamente após a amassadura; direita: após 30 minutos).

Figura 4. Resultados do ensaio do espalhamento em pastas com CEM II/B-L 32,5N, 30% de cinzas volantes e
diferentes dosagens de superplastificante (esquerda: imediatamente após a amassadura; direita: após 30 minutos).

3.2 Argamassas

Foram ensaiadas 13 composições, com diferentes razões de Vw/Vp, Vfa/Vp, Vs/Vm, VSp/Vp e
VPl/Vp. Inicialmente começou-se por ensaiar uma composição com um Vw/Vp, adquirido nos ensaios
das pastas, onde apresenta um melhor comportamento reológico. As restantes composições foram
surgindo consoante os resultado obtidos pelo procedimento tentativa-erro. Durante o estudo das
argamassas foi necessário introduzir o plastificante juntamente com o superplastificante, pois somente
com o superplastificante (com dosagens comercialmente aceitáveis) normalmente não era possível
chegar aos resultados pretendidos no estado fresco. Para as amassaduras em que no estado fresco
foram obtidos espalhamentos e viscosidades adequadas, moldaram-se prismas para avaliar a
resistência à compressão e à flexão no estado endurecido. No Quadro 3 são apresentadas as várias
composições de argamassas ensaiadas em laboratório e nas Figuras 5 e 6 apresentam-se os respetivos
resultados obtidos.

Quadro 3. Composições de argamassas ensaiadas.

Vfa/Vp Vs/Vm Vs1/Vm Vs2/Vm VSp/Vp + VPl/Vp


Composição Vw/Vp
[%] [%] [%] [%] [%]
1 1,04 40 45,71 47 53 1,55
2 1,07 40 44,93 45 55 1,6
3 1,02 40 45,56 46 54 1,1
4 0,97 35 47,98 48 52 1,2
5 1,04 35 45,20 48 52 1,2
6 1,07 35 44,64 50 50 1,3
7 1,00 40 45,31 47 53 1,3
8 1,03 40 44,84 47 53 1,4
9 1,04 40 44,22 43 57 1,3+0,7
10 1,04 40 44,35 43 57 0,85+1,05
11 1,04 40 44,29 43 57 1,2+0,7
12 1,04 40 44,35 43 57 1,0+0,7
13 1,04 40 44,35 43 57 1,1+0,7

56
Maia, Neves e Guimarães

Figura 5. Resultados do ensaio do espalhamento (esquerda) e de escoamento (direita) em argamassas.

Figura 6. Resultados do ensaio à flexão (esquerda) e à compressão (direita) para as composições n.º 9 e n.º 13.

3.3 Betões

Através dos resultados obtidos no estudo das pastas e argamassas, iniciou-se o estudo dos betões
mantendo os mesmos parâmetros na composição ótima encontrada no estudo das argamassas
(Composição 13). Adicionou-se 30% dos agregados grossos (Vg/Vg,lim = 48.77%) à composição,
nomeadamente 50% de brita 0, 35% de brita 1 e 15% de brita 2 (Vb 0/Vg, Vb1/Vg e Vb2/Vg). Após a
realização desta, verificou-se que esta composição não era a mais adequada, pois apresentava
demasiada fluidez no seu estado fresco e com forte indício a ocorrência de segregação. Assim,
recorrendo ao método tentativa-erro foram realizadas mais 14 composições de BAC até se alcançar a
composições pretendida. Das composições realizadas, de seguida serão expostas as composições mais
relevantes para este estudo do BAC, os problemas associados a cada composição e as expectativas
geradas pelos resultados obtidos.

Refira-se que neste estudo, considerou-se vantajoso não utilizar a Brita 11/22, pois estas possuem uma
forma angulosa e porque devem ser preferencialmente utilizados agregados com granulometrias mais
finas, de modo a que a redução da fluidez seja mínima e obter um aspeto mais homogéneo da mistura.
Deste modo, com uma dimensão máxima do agregado mais baixa, isto é, 16 mm proporciona
composições mais económicas e ainda podem apresentar um melhor comportamento em termos de
trabalhabilidade [10].

Ao longo do estudo dos BACs foram realizadas várias alterações consoante os resultados obtidos nos
ensaios no estado fresco e endurecido. Como referido, inicialmente como a Composição 1 estava
demasiado fluida, havendo a necessidade de baixar o Vw/Vp, os restantes parâmetros foram sujeitos a
pequenos ajustamentos consoante a necessidade de cada composição, tendo-se variado o Vw/Vp entre
0,92 e 1,26, Vfa/Vp entre 20% e 45%, VSp/Vp 0,8% a 1,4% e VPl/Vp entre 0,6% e 0,9%.

Nas Figuras 7, 8 e 9 apresentam-se os resultados obtidos para o estado fresco e para a evolução da
resistencia à compressão (nota: na Ref. [3] é efetuada uma descrição das composições estudadas e das
decisões tomadas durante o processo tentativa-erro). Analisando os resultados, observa-se que após 30
minutos há, em regra, uma ligeira perda de de trabalhabildade (Figura 7). Observa-se ainda que todas
as composições apresentaram baixa viscosidade (tempos de escoamento no funil V consideravelmente
inferiores a 7 segundos), dificuladade na capacidade de passagem na caixa L (menor capacidade de

57
Betão Autocompactável na Região Autónoma da Madeira: da composição de laboratório à comercialização

completo envolvimento das armaduras em estruturas densamente armadas) e baixa segregação (o que
pode conduzir a dificulades de preenchimento dos moldes). No que respeita à resistência à
compressão, apenas a composição n.º15 apresentou uma resistência da classe C30/37.

Figura 7. Resultados do ensaio do espalhamento (esquerda: imediatamente após a amassadura;


direita: após 30 minutos).

Figura 8. Resultados do ensaio do funil V (esquerda) e da caixa L (direita).

Figura 9. Resultados do ensaio de segregação (esquerda) e da resistência à compressão em cubos (direita).

3.4 Produção em central de betão pronto - comercialização

A aplicação prática foi efetuada em duas fases. A primeira fase consistiu na betonagem de 8 vigas,
com dimensões de 4,30×0,20×0,40 metros. Na segunda fase da aplicação, foram betonadas mais 8
vigas semelhantes às anteriormente betonadas na primeira fase e 23 provetes cúbicos, 21 cilíndricos e
3 prismas. As cofragens utilizadas em ambas aplicações, foram cofragens habitualmente utilizadas no
betão convencional, ou seja, cofragens recuperáveis racionalizadas. Foram utilizados painéis de
contraplacado marítimo com dimensões de 1,25×2,5 metros

A amassadura do BAC foi realizada na central de betão pronto do Centro de Produção da Fundoa, da
empresa Beto Madeira, S.A. Efetuou-se na primeira fase uma primeira amassadura de 2 m3, em dois
ciclos de amassaduras de 1 m3 e numa segunda amassadura foram realizados mais 2 m3, novamente
em dois ciclos de amassadura, perfazendo os 4 m3. Na segunda fase da aplicação efetuou-se apenas
uma amassadura de 4 m3, em quatro ciclos de amassadura de 1 m3. Para a produção do BAC na central
relativamente ao betão convencional, apenas foram realizadas alterações, nas quantidades da
composição, pois o BAC apresenta uma elevada quantidade de finos, entre outros aspetos, já referidos

58
Maia, Neves e Guimarães

anteriormente. Para além disso, também se alterou o tempo de mistura, aumentando de 60 segundos
para 180 segundos, pelo facto do BAC ser constituído por maior dosagem de adjuvante, sendo
necessário maior tempo de mistura. Nota: por questões comerciais, não se divulga as dosagens dos
materiais consituintes.

Após a aplicação da primeira fase, verificou-se que o betão produzido na central possuía pequenas
alterações relativamente ao betão produzido no laboratório. Essas alterações verificaram-se
essencialmente ao nível da fluidez da composição, uma vez que os espalhamentos do BAC obtidos em
laboratório foram inferiores aos espalhamentos obtidos na central de produção, porém este apresentava
uma pequena ocorrência de segregação. Esta alteração deve-se ao facto da produção do betão na
central ser mais eficiente que no laboratório, na medida que se consegue obter uma amassadura mais
homogénea. Perante a grande fluidez do betão produzido na primeira fase, decidiu-se, introduzir na
segunda fase da aplicação um modelador de viscosidade (RheoMATRIX 175), de modo obter maiores
espalhamentos, com maior viscosidade e sem que ocorresse segregação. No Quadro 4 apresentam-se
os resultados dos ensaios efetuados no estado fresco às amassaduras fornecidas. No que se refere ao
estado endurecido, aos 28 dias as amassaduras apresentaram uma resistência à compressão em cubos
perto de 45 MPa.

Quadro 4. Caracterização do betão no estado fresco.

Caracterização do betão no estado fresco 1.ª fase 2.ª fase

Ensaio de espalhamento – Diâmetro de espalhamento [mm] 730 (SF2) 660 (SF2)

Ensaio do funil V - Tempo de escoamento [s] 2,3 (VF1) 3,5 (VF1)

Ensaio da caixa L – Índice de capacidade de passagem [-] 0,65 (-) 0,7 (-)

Quanto ao produto final, depois de descofrar as vigas betonadas foi possível verificar que estas
ficaram totalmente preenchidas, embora na parte superior da face das vigas se tenha observado alguns
poros superficiais de pequena dimensão. Tudo indica que as vigas ficaram sem vazios interiores e as
armaduras terão ficado completamente envolvidas. Quanto ao cliente, este ficou satisfeito e concordou
que foi uma boa opção ter optado por BAC e mostrou-se interessado em aplicar BAC em futuras
aplicações atualmente previstas com betão convencional.

4. NOTAS FINAIS

Há semelhança do que frequentemente está descrito na literatura, nos testes realizados em pastas e
argamassas observou-se que:
 Na produção de BAC, o cimento CEM II/B-L 32,5N possuía melhores características reológicas
relativamente ao CEM II/A-L 42,5R, embora próximas;
 A introdução de cinzas volantes nas pastas conduziu a um aumento substancial da trabalhabilidade
no estado fresco, obtendo-se maiores áreas de espalhamento;
 A adição de superplastificante em dosagens controladas numa composição, conduziu a ganhos
significativos nas propriedades reológicas, observando-se um aumento da capacidade de
espalhamento com a incorporação do superplastificante e um ligeiro aumento das propriedades
mecânicas. Uma dosagem excessiva de superplastificante conduz a efeitos quase nulos na
deformabilidade e afeta negativamente a segregação da composição.

Nos estudos das argamassas, verificou-se ainda que a utilização somente do superplastificante Sky 548
não garantiu todas as características reológicas necessitárias para posterior produção de um BAC. Foi
necessário adicionar o plastificante Pozzolith 390N, tendo-se verificado grandes melhorias no
comportamento reológico.

59
Betão Autocompactável na Região Autónoma da Madeira: da composição de laboratório à comercialização

Nos testes realizados em betões concluiu-se que:


 É possível a implementação do novo produto (BAC) na indústria da construção da RAM,
utilizando os materiais correntemente disponíveis na RAM (areia do mar, areia britada e britas);
 Apesar dos ensaios que atestam a autocompactabilidade serem de simples execução, visto tratar-se
de mais do que um ensaio a sua execução em obra revelou-se pouco prática;
 Perante um controlo sobre as características dos materiais constituintes, verificou-se que é
possível produzir BAC sem alterar significativamente os procedimentos habituais numa central de
produção de betão convencional;

A principal dificuldade encontrada na central foi a variação do teor de humidade presente nos
agregados o que altera a quantidade de água livre. Houve a necessidade de introduzir um modelador de
viscosidade (ReoMATRIX 175), de modo a obter uma mistura mais homogénea, com viscosidade e
sem indícios de segregação.

As aplicações práticas foram executadas com sucesso. O cliente ficou satisfeito e mostrou-se aberto
para no futuro pagar mais pelas vantagens que o BAC apresenta.

AGRADECIMENTOS

Especial agradecimento à Fundação Para a Ciência e a Tecnologia pelo financiamento da inscrição do


primeiro autor através do financiamento atribuído à unidade de investigação CONSTRUCT – Institute
of R&D in Structures and Construction. Agradece-se também ao Grupo Cimentos Madeira pela
colaboração e disponibilidade de utilização dos recursos necessários.

REFERÊNCIAS

[1] Gomes, José Celestino Vieira (2012). Dimensionamento de Betões Autocompactáveis Coloridos
com Agregados Britados Vulcânicos. Universidade da Madeira, Tese de Mestrado.
[2] Silva, Joana Micaela Andrade da (2012). B Betão Autocompactável de Elevado Efeito Estético.
Universidade da Madeira, Tese de Mestrado.
[3] Neves, Diana Nicole Aguiar (2013). Betão Autocompactável na Região Autónoma da Madeira:
da Composição de Laboratório à Comercialização. Universidade da Madeira, Tese de Mestrado.
[4] Gomes, J. C.; Silva, J.; Guimarães, M.; Maia, L. (2012). Dimensionamento de betões
autocompactáveis coloridos com agregados britados vulcânicos. Atas do Encontro Nacional
Betão Estrutural - BE2012, FEUP, 24-26 de Outubro de 2012.
[5] Silva, J.; Gomes, J. C.; Guimarães, M.; Maia, L. (2012). Betão Autocompactável de elevado
efeito estético. Atas do Encontro Nacional Betão Estrutural - BE2012, FEUP, 24-26 de Outubro
de 2012.
[6] RILEM TC 174-SCC, Self-compacting concrete State-of-the-Art report, RILEM Publications,
Cachan, 2001.
[7] J.E. Wallevik (2003). Rheology of Particle Suspensions: Fresh Concrete, Mortar and Cement
Paste with Various Types of Lignosulfonates. Norwegian University of Science and Technology,
Faculty of Engineering Science and Technology, pp. 397.
[8] The european guidelines for self compacting concrete, in, EFNARC, 2005
[9] H. Okamura, K.O., and M. Ouchi (2000). Self-compacting concrete. Structural Concrete: Journal
of FIB.
[10] Silva, P., e Brito J. (2009). Betão auto-compacavel (BAC) - estado actual do conhecimento, UM.

60
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

Influência da adição de nano-partículas na reologia e no


desempenho de Betão Auto-Compactável

Cátia Lourenço1 Eliana Soldado2 Hugo Costa3

Ricardo Carmo4 Eduardo Júlio5

RESUMO

A produção de nano-partículas e a sua aplicação na produção de betão permitem uma abordagem


relevante na otimização da compacidade deste no estado fresco, com influência na reologia da matriz
ligante, bem como nas propriedades mecânicas no estado endurecido e na durabilidade. No presente
artigo apresenta-se um estudo experimental realizado em diferentes matrizes ligantes de betão à base
de cimento Portland, com o objectivo de avaliar a influência da adição de vários tipos e dosagens de
nano-partículas nas propriedades da matriz de betão auto-compactável.

Palavras-chave: nano-partículas; matriz de betão; compacidade; resistência mecânica; durabilidade.

1. INTRODUÇÃO

Os betões auto-compactáveis (BAC) de elevado e ultraelevado desempenho tornaram-se, nas últimas


décadas, uma solução importante a nível estrutural. O aumento de desempenho pode ser conseguido
através de constituintes mais eficientes, como cimentos de alta resistência, adições pozolânicas,
superplastificantes de alta gama e fibras. Contudo, interessa produzir betões com desempenhos
semelhantes ou superiores mas com otimização do custo económico e reduzido impacte ambiental [1].
Com a incorporação de nano-partículas pretende-se densificar a matriz ligante reduzindo a porosidade
e, consequentemente, aumentando a compacidade, o que previsivelmente conduz a elevada resistência
e a um desempenho melhorado em termos de durabilidade [2, 3]. Devido à sua elevada reatividade, as
nano-partículas agem como centros de nucleação, contribuindo para uma melhor hidratação do
cimento Portland [1, 2, 4].

Os trabalhos publicados relativos à incorporação de nano-partículas nos diferentes tipos de betão


incidem no aumento da resistência mecânica e da durabilidade, através da densificação da
microestrutura e da estrutura porosa [2, 5]. A maioria incide sobre a adição de TiO2 e SiO2 ao betão,
embora existam igualmente alguns estudos sobre a incorporação de nano-partículas de ZnO2, Fe2O e

1
IPC/ISEC, Departamento de Engenharia Civil, Coimbra, Portugal. lourenco.catiafilipa10@gmail.com
2
IPC/ISEC, Departamento de Engenharia Civil, Coimbra, Portugal. eacsoldado@gmail.com
3
ICIST, IPC/ISEC, Departamento de Engenharia Civil, Coimbra, Portugal. hcosta@isec.pt
4
ICIST, IPC/ISEC, Departamento de Engenharia Civil, Coimbra, Portugal. carmo@isec.pt
5
ICIST, Dep. Eng. Civil e Arquitetura, IST, Universidade Técnica de Lisboa. eduardo.julio@tecnico.ulisboa.pt

61
Influência da adição de nano-partículas na reologia e no desempenho do Betão Auto-Compactável

Al2O3 [2, 6, 7]. Tratando-se de um tema atual, e em constante atualização, estima-se que os produtos
derivados da nano-tecnologia ascendam a cerca de 1 bilião (1012) de dólares/ano a partir de 2015 [1,
8]. A incorporação de nano-partículas nos BAC poderá contribuir, ainda mais, para o aumento de
desempenho destes betões, combinando, por um lado, o aumento da durabilidade e do desempenho
mecânico e, por outro, o aumento da estabilidade das misturas, permitindo reduzir as habituais
dosagens elevadas de ligante, principalmente de cimento. Deste modo, a incorporação das nano-
partículas contribuirá indiscutivelmente para o aumento da sustentabilidade do BAC, atualmente uma
das grandes preocupações do sector da construção. A composição dos BAC baseia-se geralmente no
estudo de proporções volumétricas adequadas à auto-compactação do betão e à elevada
deformabilidade da matriz de argamassa [9]. Neste sentido, no presente trabalho, integrado no projecto
de investigação designado NanoBetão, foram estudadas inicialmente misturas de referência para
argamassas e betões, considerando apenas cimento e as adições habituais, por substituição do
primeiro. Posteriormente, estudaram-se e caraterizaram-se misturas com adição de nano-partículas.
Considerou-se igualmente a adição de macro e micro fibras de aço.

2. PROGRAMA EXPERIMENTAL

2.1. Materiais

Para o estudo das misturas considerou-se a matriz de argamassa, constituída por pasta ligante e areia, e
de betão, constituída pela respectiva matriz de argamassa e por areão e brita. Utilizou-se cimento CEM
I 52,5R (C), da Secil, e adições (apenas na matriz de argamassa) de cinzas volantes do tipo F (CV),
fíler calcário (FC) e sílica de fumo (SF), com os seguintes valores de massa volúmica, em kg/dm3:
3,12; 2,3; 2,7; 2,2, respectivamente. Selecionaram-se e produziram-se três tipos de nano-partículas em
pó, à base de óxidos e com pureza mínima de 99,5%: nano-zinco (ZnO), nano-alumina (Al2O3) e nano-
sílica (SiO2), (Fig. 1). As adições de nano-zinco e nano-alumina utilizadas apresentam uma dimensão
superior à nano-escala, resultado da otimização e limitação do custo de produção desses óxidos tendo-
se, contudo, mantido as designações. As massas volúmicas (kg/dm3) obtidas na caraterização
experimental foram, respetivamente: 5,41; 3,95; 2,22.

Figura 1. Imagens SEM das nano-partículas de ZnO, Al2O3 e SiO2 (imagens de Smart Inovation).

Apesar da influência da granulometria da areia nas propriedades das argamassas e betões,


particularmente na compacidade e trabalhabilidade [10], optou-se por utilizar uma areia fina 0/1mm
para todas as matrizes de argamassa, utilizando-se ainda, na matriz do betão, areia média 0/4mm, areão
4/8mm e brita calcária 6/14mm. O adjuvante utilizado, Glenium SKY 526, é um superplastificante à
base de éter-policarboxilatos e apresenta a massa volúmica de 1,06 kg/dm3; a dosagem definida para
cada mistura foi ajustada de modo a balizar a trabalhabilidade e o teor de ar nos valores definidos para
cada série. A adição de fibras metálicas confere maior resistência à tração, maior ductilidade e energia
de fractura aos elementos, a curto e longo prazo, desde que estejam envolvidas por uma matriz de
betão de boa qualidade [11-14]. As fibras foram introduzidas apenas nas misturas de argamassa e
usadas em ensaios para analisar a aderência entre as fibras e a pasta. Para a argamassa, selecionaram-
se as microfibras de aço Dramix® 0,15/10 mm e, para os ensaios de aderência, as fibras 5D de aço
Dramix® 0,90/60 mm, representando as dimensões nominais, respectivamente, o diâmetro e o
comprimento da fibra.

62
Lourenço, Soldado, Costa, Carmo e Júlio

2.2. Misturas

Foram produzidas em laboratório, e estudadas, duas séries de misturas de argamassa, auto-


compactáveis, com 750 e 950 kg/m3 de ligante, o que corresponde, em betão, a dosagens de cerca de
500 e 600 kg/m3. Foram adoptadas, respectivamente, relações A/L (água/ligante) de 0,3 e 0,25; e
teores de ar alvo de 2,5% e 2% na matriz de argamassa. Em cada série foram produzidas quatro
misturas de referência, uma com cimento (C) e as restantes com cimento e adições por substituição em
massa do cimento [15]: RA, apenas com C; RB, com C e adição de 20% de CV; RC, com C e adição
de 20% de FC; e RD, com C e adições de 15% de FC e 5% de SF. Conforme mencionado, a dosagem
de superplastificante ajustou-se de forma a manter constante, em cada série, a trabalhabilidade, medida
pela fluidez obtida no ensaio de espalhamento, e o teor de ar, sendo o ajuste final da mistura efetuado
na dosagem de areia.

Nas misturas RA foram adicionadas as microfibras de aço, em percentagem volumétrica de 1% (F1) e


2% (F2). Em seguida, as misturas RA foram novamente produzidas com adição das nano-partículas
mencionadas (Zn-zinco; Al-alumina; Si-sílica), em dosagens de 1% e 2%, por substituição em massa
do ligante, igualmente sem e com as microfibras de aço. As designações simplificadas de cada mistura
refletem a variação dos parâmetros atrás referidos.

Nos betões, apenas foram produzidas misturas com 500 kg/m3 de ligante (equivalente às misturas de
argamassa RA750) – CA750. As misturas resultantes são igualmente auto-compactáveis, tendo sido
adoptada a mesma relação A/L de 0,3 e definido um teor de ar entre 1,5% a 2%. A estas misturas
foram adicionadas nano-partículas, em várias percentagens, previamente escolhidas através dos
resultados obtidos para as argamassas da série RA750: CA750_Si1; CA750_Si2; CA750_Al2 e
CA750_Zn1. A composição dos betões foi efetuada pelo método apresentado por Costa et al. [16],
mantendo os parâmetros definidos na matriz ligante correspondente.

2.3. Ensaios no estado fresco e endurecido

O espalhamento das misturas auto-compactáveis ocorre pela ação da gravidade [17], medindo-se o
diâmetro final (Fig. 2.a) para obter o parâmetro de fluidez. A massa volúmica das argamassas e dos
betões pode ser determinada recorrendo à pesagem do volume de mistura que enche o recipiente
inferior do aerómetro, com 1l de capacidade, após libertação do ar, sem compactação (Fig. 2.b). O
resultado da pesagem corresponde à massa volúmica aparente no estado fresco, em kg/dm3. A
determinação do teor de ar é fundamental para o acerto da composição das misturas e pode sofrer uma
variação significativa, em função dos constituintes e dos parâmetros da pasta ligante. A variação do
teor de ar da pasta ligante provoca alterações significativas nas propriedades mecânicas e na
durabilidade [18]. Além da relação A/L e da consistência, o valor alvo do teor de ar foi mantido
constante em cada série, com ligeiros desvios. Para cada mistura, o teor de ar foi caracterizado
experimentalmente, utilizando o aerómetro, o qual indica o teor de ar em percentagem (Fig. 2.c).

(a) (b) (c)


Figura 2. Caraterização das argamassas auto-compactáveis no estado fresco: (a) espalhamento; (b) massa
volúmica; (c) teor de ar.

2.3.1. Resistência mecânica à tração


O ensaio de flexão nos provetes prismáticos de argamassas (40x40x160 mm3) foi efectuado em prensa
universal, utilizando um dispositivo de ensaio em 3 pontos [19], até se atingir a rotura (Fig. 3.a). Os

63
Influência da adição de nano-partículas na reologia e no desempenho do Betão Auto-Compactável

resultados da resistência à flexão, ft, foram obtidos através da média de três provetes ensaiados em
cada idade. Nos provetes de BAC, o ensaio de tração por compressão diametral foi efectuado na
mesma prensa, embora com um setup diferente (Fig. 4.a). Utilizou-se um dispositivo de ensaio com
aplicação da carga de faca no provete até se atingir a rotura. Calculou-se a tensão de tração através da
média de quatro provetes (100x100x200 mm3).

(a) (b)
Figura 3. Ensaio mecânico nos provetes de argamassa: (a) tração por flexão; (b) compressão.

(a) (b)
Figura 4. (a) Ensaio de compressão diametral; (b) Ensaio de compressão em cubos de betão.

2.3.2. Resistência mecânica à compressão


Nas argamassas, os provetes utilizados para este ensaio foram as metades resultantes do ensaio de
flexão, tendo sido ensaiados 6 provetes por idade e por mistura. O ensaio realiza-se igualmente na
prensa, com recurso ao dispositivo com pratos de compressão de 40x40 mm2, o qual permite aplicar a
compressão em cada provete até à rotura [19] (Fig. 3.b). A partir da média da força de rotura dos 6
provetes, calcula-se a correspondente resistência à compressão, fc.

Nos BAC, o ensaio de compressão realizou-se numa prensa hidráulica de 3000 kN (Fig. 4.b), com uma
velocidade de aplicação de carga constante e igual a 6 kN/s para cubos de 100 mm de aresta e
13,5 kN/s para os de 150 mm de aresta, até à rotura, conforme a norma NP EN 12390 [20].

2.3.3. Módulo de Elasticidade


Os ensaios realizaram-se na prensa vertical utilizada para determinar as resistências das argamassas,
aplicando ciclos de carga e descarga entre dois valores máximo e mínimo de força, nos provetes
prismáticos de BAC, 100x100x400 mm3, de acordo com o procedimento da especificação E 397 [21].
Para a medição das deformações foram colados demecs (discos metálicos com 5mm de diâmetro) na
superfície do betão e utilizou-se um alongâmetro para efectuar as leituras.

2.3.4. Aderência
Foram produzidos provetes de argamassa RA750 com dimensões de 100x100x100 mm3, conforme o
esquema ilustrado na Figura 5.a: provetes de referência, provetes com 1% de SiO2 e de ZnO, e
provetes com 2% de Al2O3. Entre os dois provetes colocou-se uma placa de k-line de 5 mm com uma
malha de 16 fibras metálicas (apenas com ancoragem numa das extremidades), igualmente espaçadas
entre si. Com o setup adoptado (Fig. 5.b), pretende-se analisar a aderência das fibras à pasta,
prevendo-se que o escorregamento ocorra do lado sem ancoragem. Foram utilizados 4 LVDT’s, para
aferir a média dos deslocamentos nos quatro cantos, e a célula de carga da prensa hidráulica registou a
força aplicada.

64
Lourenço, Soldado, Costa, Carmo e Júlio

(a) (b)
Figura 5. Ensaio de aderência fibras-matriz: (a) preparação dos provetes; (b) ensaio.

3. ANÁLISE DE RESULTADOS

Os resultados apresentados nesta secção referem-se aos ensaios realizados aos 28 dias. Contudo, as
argamassas foram ensaiadas aos 7, 28, 56 e 120 dias, para determinação das resistências à tração e
compressão. Com base na evolução destes resultados, foi selecionado o betão a produzir, bem como a
percentagem a usar de cada tipo de nano-partículas.

3.1. Fluidez

O diâmetro de espalhamento indica a fluidez das misturas, sendo a deformabilidade da matriz ligante
bastante elevada nas séries RA750 e RA950. A Figura 6 mostra os resultados obtidos nas misturas de
referência RA das duas séries, com adição de 1% de ZnO, 2% de Al2O3 e 1% de SiO2. Verifica-se que,
à medida que a dosagem de ligante aumenta, e apesar da redução considerada na relação A/L, aumenta
o diâmetro de espalhamento, uma vez que se aumentou a dosagem inicial de superplastificante da
mistura de referência (fixadas em 1,25% e 1,5%, em relação à massa de ligante, respetivamente para
RA750 e RA950). A tendência não é linear, em nenhuma das séries de adição, tendo sido notória a
necessidade de introduzir uma maior quantidade de adjuvante, comparativamente à mistura de
referência (RA), de modo a manter o teor de ar pretendido bem como a trabalhabilidade. Nas misturas
com adição de ZnO registaram-se as maiores perdas de trabalhabilidade, devido à forma espalmada
das partículas e consequente maior superfície específica destas. Nestas misturas houve necessidade de
aumentar o superplastificante 0,55% e 1,3% em relação à massa de ligante e relativamente às
referências RA750 e RA950, respetivamente. Nas misturas com adição de SiO2, esse aumento foi de
0,3% para as duas séries e, nas misturas com adição de Al2O3, o aumento foi muito reduzido, de
apenas 0,1%.

Na Figura 7 pode ser visualizado a perda de trabalhabilidade e de fluidez com a introdução de fibras
metálicas nas misturas da série RA950 com adição de ZnO, conforme esperado, sendo essa perda tanto
maior quanto maior a percentagem de fibras. Neste caso, a redução do diâmetro de espalhamento com
a introdução de 1% e 2% de fibras foi, respectivamente, de 7,5% e de 11,7%, em relação à mistura
RA950_Zn1, e de 5,9% e 16%, relativamente à mistura RA950_Zn2.

Figura 6. Espalhamento das misturas com adição de Figura 7. Espalhamento das misturas com adição de
1% de ZnO, Al2O3 e SiO2. 1% e 2% de ZnO e fibras.

65
Influência da adição de nano-partículas na reologia e no desempenho do Betão Auto-Compactável

3.2. Resistências mecânicas em argamassa

3.2.1. Misturas de referência com adições comuns


Os resultados das resistências médias à tração e à compressão, aos 7 e 28 dias, das misturas de
referência (RA, RB, RC e RD) são apresentadas no Quadro 1. As correspondentes relações entre os
valores dessas misturas, Rad, em relação aos das misturas RA, são indicadas na Figura 8.
Quadro 1. Valores médios das resistências (MPa) das misturas de referência.
7 dias 28 dias
Misturas
Tração Compressão Tração Compressão
RA 8,37 73,06 11,83 80,64
RB 10,24 72,18 10,65 75,38
750
RC 12,22 70,60 10,80 76,96
RD 10,23 67,18 6,69 81,34
RA 11,48 85,87 16,84 92,37
RB 9,98 78,35 8,28 90,10
950
RC 10,43 64,77 9,99 92,33
RD 7,01 65,32 6,77 95,19

Figura 8. Relação das resistências à tracção (esq.) e à compressão (dir.) entre Rad. e RA, aos 28 dias.

As misturas com adições habituais revelaram-se menos resistentes à tração do que as que contêm
apenas cimento, principalmente nas argamassas RA950, em que a perda da resistência à tração variou
entre 45% e 60%, em relação à referência. Salienta-se que a resistência à compressão teve uma
evolução muito diferente, não se registando perdas de resistência tão significativas.

3.2.2. Misturas com adição de ZnO, Al2O3 e SiO2


Com a introdução de nano-partículas, verificou-se um ligeiro aumento das resistências à compressão,
em particular nas RA750 (Fig. 9). Nestas misturas, foram igualmente registadas perdas na resistência à
tração, da ordem dos 50% nas RA950 com ZnO e dos 40% nas RA950 com SiO2.

Figura 9. Relação das resistências à tração (esq.) e à compressão (dir.) entre RAnano. e RA, aos 28 dias.

66
Lourenço, Soldado, Costa, Carmo e Júlio

3.2.3. Misturas com adição de ZnO, Al2O3 e SiO2 e adição de fibras de aço.
A introdução de microfibras teve um efeito mais eficiente na mistura RA750 (Fig. 10), em que a
resistência à compressão registou aumentos de 45% e de 63% com a adição de 1% e 2% de fibras,
sendo os respetivos aumentos de 24% e de 46% na mistura RA950. Embora os ganhos de resistência,
tanto à tração como à compressão, sejam tendencialmente proporcionais à adição de fibras, registaram-
se ganhos de resistência à tração na mistura RA750 superiores aos da mistura RA950.

Figura 10. Resistências das misturas RA com adição de fibras, à tração e compressão aos 28 dias

A introdução de nano-partículas combinada com a adição de 1% de fibras revelou-se mais proveitosa


nas adições de 2% de SiO2 e de 1% de ZnO, tendo-se obtido 16% de aumento na resistência à tração
com a primeira adição e 13% de aumento na resistência à compressão com a segunda adição (Fig. 11).
Nas restantes situações, a adição de nano-partículas, em relação às misturas só com cimento e adição
de fibras, teve um efeito desfavorável ou não teve um efeito notório (Fig. 11).

Figura 11. Relação das resistências à tração (esq.) e à compressão (dir.) entre RAnano. e RA, com 1% de fibras de
aço, aos 28 dias.

Figura 12. Relação das resistências à tração (esq.) e à compressão (dir.) entre RAnano. e RA, com 2% de fibras de
aço, aos 28 dias.

67
Influência da adição de nano-partículas na reologia e no desempenho do Betão Auto-Compactável

Com a adição de 2% de fibras de aço (Fig. 12), registaram-se aumentos na resistência à tração de 17%
e 23%, nas misturas RA950, com 1% e 2% de SiO2, respetivamente. À compressão, destacam-se as
misturas RA950, com adições de Al2O3 e SiO2, atingindo 14% de melhoria em relação à referência.

3.3. Aderência matriz-fibras

Na Figura 13 (esq.) apresentam-se os resultados médios da curva força-deslocamento, para as misturas


da série RA750, verificando-se em todos os ensaios o escorregamento das fibras em relação à matriz.
Numa das séries, identificada com a sigla Np’s na legenda, as fibras foram previamente banhadas com
nano-sílica, introduzindo-se assim uma nano-rugosidade. Ao contrário do esperado, a aderência
diminuiu nas fibras com o banho de nano-sílicas, comparativamente às fibras sem o referido
revestimento. As misturas com adição de nano-partículas na matriz (Fig. 13 (dir.)) e com adição de
2% de Al2O3 revelaram um aumento da aderência de cerca de 25%. As adições de 1% de ZnO e de 1%
de SiO2, tiveram o resultado oposto, a aderência diminuiu. Perante estes resultados, pode-se afirmar
que a melhor solução para aumentar a aderência das fibras métálicas é a adição de Al2O3 na matriz
ligante.

Figura 13. Relação Força – Deslocamento nos provetes das misturas RA750: sem nano-partículas na matriz
(esq.) e com nano-partículas na matriz (dir.).

3.4. Resistências mecânicas e módulo de elasticidade dos BAC

Nos Quadros 2 e 3 apresentam-se os valores da resistência média à compressão e à tração e os valores


do módulo de elasticidade dos BAC. Em geral, as misturas com nano-partículas e para idades
superiores apresentaram maiores resistências e módulo de elasticidade: a mistura CA 750_Si2% teve
aumentos de 24% na resistência à compressão, 13% na resistência à tração e 12% no módulo de
elasticidade; na mistura CA 750_Al2% os correspondentes aumentos foram de 18%, 26% e 15%.
Quadro 2. Resistências médias e do módulo de elasticidade da mistura CA750.
Mistura de Resistência à compressão Resistência Módulo de
referência fcm (MPa) à tração, 28d elasticidade
3d 7d 28d fctm (MPa) Ecm (GPa)
CA 750 71,9 84,3 78,2 6,5 50,3

Quadro 3. Relação das resistências médias e do módulo de elasticidade das misturas CA 750nanos em relação à
mistura CA 750.
Resistência Resistência Módulo de
Misturas
à compressão à tração elasticidade
3 dias 7 dias 28 dias 28 dias > 28 dias
CA 750 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00
CA 750_Si1% 0,92 1,00 1,17 1,06 1,12
CA 750_Si2% 1,00 0,95 1,24 1,13 1,02
CA 750_Al2% 0,96 0,99 1,18 1,26 1,15
CA 750_Zn1% - 0,82 1,15 1,13 1,05

68
Lourenço, Soldado, Costa, Carmo e Júlio

CONCLUSÕES

Da análise dos resultados obtidos no estudo experimental realizado, é possível tirar as seguintes
conclusões:

1. A trabalhabilidade das misturas diminui com o aumento da dosagem de adição de ZnO, Al2O3 e
SiO2, bem como com o aumento da dosagem de fibras, embora esta perda possa ser compensada,
em geral, com o aumento da dosagem de superplastificante. Nas misturas com adições combinadas
de ZnO e fibras, a perda de trabalhabilidade é mais significativa, sendo necessário aumentar a
dosagem inicial de superplastificante até, aproximadamente, 2 vezes.

2. As misturas com adições comuns (cinzas volantes, fíler calcário e sílica de fumo) apresentaram, aos
28 dias, resistências mais baixas do que a mistura apenas com cimento, destacando-se as misturas
R950 pela significativa redução de desempenho à tração, atingindo cerca de 60% (RD950). Na
resistência à compressão, estas adições revelaram boa eficiência na substituição do cimento,
apresentando valores semelhantes à referência, aos 28 dias.

3. Com a introdução de nano-partículas de SiO2 na argamassa, obtiveram-se os melhores resultados de


resistência à compressão, superando em 15% os valores de referência. A adição de Al2O3
apresentou, em geral, um desempenho semelhante ao da adição anterior, embora ligeiramente
inferior. A adição de ZnO é, em geral, a menos vantajosa, embora os resultados ainda não sejam
totalmente conclusivos porque a resistência à compressão foi muito similar à obtida nas restantes
misturas.

4. O aumento da dosagem de microfibras resultou, conforme esperado, num aumento significativo da


resistência mecânica das misturas de referência, tendo-se revelado mais eficiente na série com
dosagem de ligante de 750 kg/m3. O ganho chegou a atingir os 63% na adição de 2% de
microfibras. Os ganhos de resistência nas misturas com adição de SiO2 e de Al2O3, combinados
com 1% e 2% de fibras, foram pouco significativos comparativamente com os de referência sem
nano-partículas. As misturas com adição de ZnO originaram as resistências mais baixas.

5. A nano-rugosidade aplicada às macro-fibras metálicas não se revelou eficiente na aderência matriz-


fibras, apresentando resultados inferiores aos verificados com a adição de nano-partículas na
matriz. A adição de Al2O3 foi a mais eficiente para esta análise/objectivo.

6. O comportamento mecânico à compressão e à tração do betão foi semelhante ao verificado nas


argamassas. A adição de Al2O3 foi a que conduziu aos melhores resultados. A título de exemplo,
refira-se que a resistência à tração dos BAC aumentou cerca de 25% relativamente à referência, e
as adições de 1% de ZnO e 2% de SiO2 originaram aumentos na ordem dos 13%.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem o apoio da ANI, através do financiamento pelo Projeto QREN - Sistema de
incentivo à investigação e desenvolvimento tecnológico, “Nano-Betão nº 38702 – Desenvolvimento de
um betão de desempenho melhorado” e à empresa Smart Inovation, co-promotor do projeto, pelo
desenvolvimento e produção das nano-partículas. Os autores agradecem ainda às seguintes empresas
pelo fornecimento de materiais: Secil, BASF, Sika, Omya e Argilis.

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Engineering – Proof of Concepts. Recent Researches in Geography, Geology, Energy,
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69
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70
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

Dosagem de concreto autoadensável com substituição parcial do


agregado miúdo por cinza do bagaço da cana-de-açúcar

Marisa Fujiko Hugo Sefrian Romel Dias


Nagano1 Peinado2 Vanderlei3

RESUMO

O concreto autoadensável (CAA) apresenta alta fluidez, ausência de segregação e excelente


trabalhabilidade. Visando contribuir com a expansão da tecnologia do CAA, o presente trabalho tem
como objetivo o desenvolvimento de um método de dosagem para o CAA sem incorporação de
resíduos e para o CAA com a incorporação de um subproduto agroindustrial, a cinza do bagaço de
cana-de-açúcar (CBC), em substituição ao agregado miúdo. Os ensaios foram desenvolvidos
buscando-se estabelecer relações entre os fatores: resistência à compressão, relação água/cimento
(a/c), relação agregado graúdo/cimento (Br/c) e consumo de cimento (C). Estas relações puderam ser
expressas por equações que representam curvas de dosagens do CAA. Como a CBC utilizada neste
estudo apresenta características próximas de material inerte de granulometria fina, esta foi incorporada
ao CAA em substituição parcial a areia natural a uma taxa de 10% da sua massa. Os resultados obtidos
neste estudo mostram que é possível estabelecer curvas de dosagens que possam auxiliar na produção
de traços de CAA, com boa precisão quanto à previsão da resistência à compressão do CAA desejado.
Além disso, pode-se concluir que é possível produzir CAA com CBC em substituição parcial ao
agregado miúdo natural até uma taxa de 10%, sem que haja alterações significativas na resistência à
compressão do CAA e no comportamento das curvas de dosagens estabelecidas experimentalmente.

Palavras-chave: Concretos especiais; concreto autoadensável; cinza do bagaço da cana-de-açúcar.

1. INTRODUÇÃO

O grande aquecimento no setor da construção civil no Brasil tornou-se um incentivo para que
pesquisas sejam desenvolvidas a fim de reduzir o tempo de trabalho e conseguir melhor produtividade,
rentabilidade e estudos em busca de tecnologias e materiais alternativos. Na mesma proporção do

1
Profa. M.Sc., Faculdade Ingá (Uningá), Pesquisadora do Grupo de Desenvolvimento e Análise do Concreto Estrutural
(GDACE/UEM), Maringá, Paraná, Brasil. nfmarisa@hotmail.com
2
Engenheiro Civil, M.Sc, Pesquisador do GDACE/UEM, Maringá, Paraná, Brasil. hspeinado@gmail.com
3
Prof. Dr., Departamento de Engenharia Civil, Universidade Estadual de Maringá, Maringá, Paraná, Brasil. Coordenador do
GDACE/UEM, rdvanderlei@uem.br

71
Dosagem de concreto autoadensável com substituição parcial do agregado miúdo por cinza do bagaço da
cana-de-açúcar

crescimento da economia no setor da construção civil, verifica-se também o aumento do consumo de


concreto, por ser o material de construção mais utilizado no setor.

Nesse contexto se insere o concreto autoadensável (CAA), apresentando alta fluidez, o que permite o
preenchimento de fôrmas apenas pela ação do peso próprio, e a passagem por entre as armaduras sem
ocorrência de segregação. Considerado o desenvolvimento tecnológico mais inovador e revolucionário
na área da construção em estruturas de concreto nos últimos anos, o CAA apresenta excelente
trabalhabilidade e baixa permeabilidade, propriedades garantidas pela introdução de aditivos especiais
e materiais finos (EFNARC, 2002; BAMONTE; GAMBAROVA, 2011).

Pesquisas em todo o mundo se concentram na busca por formas de utilização de resíduos industriais
ou agrícolas como fontes alternativas de matérias-primas para a indústria da construção, visando a
redução do consumo de recursos naturais. Dentre estas, tem-se a cinza do bagaço da cana-de-açúcar
(CBC), que vem sendo estudada para utilização como agregados em concretos e argamassas.

2. JUSTIFICATIVA DO TRABALHO

O concreto autoadensável exije na sua composição grande quantidade de materiais finos, propiciando,
dessa forma, a utilização de resíduos gerados em vários setores industriais, construção civil,
metalúrgica, agroindústria dentre outros. Gomes (2002), em seus estudos, afirma que o concreto
autoadensável contribui para um desenvolvimento sustentável no setor do concreto, ao utilizar
resíduos em sua composição, dentre estes a cinza volante, metacaulim, sílica ativa e a cinza de casca
de arroz.

O uso de resíduos como materiais finos no CAA, além de proporcionar coesão e ganho ambiental,
contribui também para que a função do cimento, material mais caro utilizado na composição do
concreto, seja apenas para dar resistência ao concreto (TUTIKIAN; DAL MOLIN, 2008).

Dentre os resíduos, destaca-se a cinza do bagaço da cana-de-açúcar (CBC), subproduto utilizado nesta
pesquisa em substituição parcial da areia em concretos. Esse resíduo é gerado na queima do bagaço da
cana-de-açúcar, no processo de cogeracão de energia em usinas sucroalcooleiras. Pesquisas vêm sendo
desenvolvidas para o seu uso na indústria da construção civil como agregado para argamassas e
concretos.

3. OBJETIVO

Este trabalho tem como objetivo contribuir com o desenvolvimento do concreto autoadensável
utilizando cinza do bagaço da cana de açúcar como agregado miúdo em substituição parcial da areia
natural e difundir a viabilidade do uso da CBC na construção civil.

4. METODOLOGIA PARA O DESENVOLVIMENTO DO CAA

Para o desenvolvimento deste trabalho, estabeleceram-se os seguintes métodos de pesquisa: seleção e


caracterização dos materiais, obtenção de pasta com características para CAA, obtenção de argamassa
com características para CAA, e obtenção de CAA com e sem CBC. Os procedimentos metodológicos
estão apresentados na Figura 1.

72
Nagano, Peinado e Vanderlei

Figura 1. Fases da Metodologia da Pesquisa utilizada.

5. CARACTERÍSTICAS DOS MATERIAIS

Os materiais foram caracterizados conforme procedimentos recomendados por normas nacionais e


internacionais conforme segue.

5.1 Agregados

As características dos agregados miúdo e graúdos são apresentadas na Tabela 1.

Tabela 1. Caracterização da areia e Brita.


Características Unidade Agregado Miúdo Agregado Graúdo
Massa Específica ( s) kg/m³ 2,63 2650,00
Absorção do Agregado (ABS) % 0,11 4,56
Massa Unitária Compactada (M.U) kg/m³ 1,64 1589,00
Dimensão Máxima Característica (máx) mm 1,20 19,00
Módulo de Finura % 2,01 6,96

Foi utilizado como fino inerte o filer calcário de origem calcítica. As características fornecidas
pelo fabricante são apresentadas na Tabela 2.

Tabela 2. Informações sobre o filer calcário calcítico.


Nome CALCÁRIO CALCÍTICO
CaO: mínimo de 51,8%
MgO: máximo de 1%
Base química
Ca: mínimo de 37%
Mg: máximo de 0,63%
Base granulométrica 94% passante em peneira 325 mesh e 94% menores que 45µm (0,045mm)
Cor Branca
Fonte: CAZANGA (2010). (http://www.cazanga.com.br)

73
Dosagem de concreto autoadensável com substituição parcial do agregado miúdo por cinza do bagaço da
cana-de-açúcar

5.2 Cinza do Bagaço da Cana de Açúcar

A CBC utilizada nesta pesquisa é oriunda de uma Usina situada no distrito de Iguatemi, município de
Maringá – PR. Essa CBC foi caracterizada por Nunes (2009) e Souto (2010) e as principais
características estão apresentadas na Tabela 3.

Tabela 3. Principais características químicas e físicas da CBC.


Características Norma empregada Unidade Valores
Massa Específica ABNT NBR 6508:1984 g/cm³ 2,64
Dimensão máxima ABNT NBR 7181:1984 mm 0,60
Teor de Umidade ABNT NBR 6508:1984 % 0,27
* Área Específica - m2/kg 5356
* Composição mineralógica Quartzo Altamente cristalino
JCPDS-ICCD:1996 ausência de fase
– Difração de Raio X (SiO2)
amorfa
* Matéria Orgânica Total - % 3,55
* Carbono Orgânico - % 1,97
Chapelle por Raverdy et al.
* Atividade Pozolânica mg CaO/g 23
(1980)
** C mg/kg 486
** MO mg/kg 8,85
** CaO mg/kg 1,02
** MgO ** Análise semi-quantitativa por mg/kg 0,15
** K2O espectrometria de fluorescência mg/kg 0,37
** P2O5 de raios X com tubo de 3 kW e mg/kg 0,01
** Fe alvo de ródio (Rh). mg/kg 1375,65
** Cu mg/kg 29,73
** Mn mg/kg 70,96
** Zn mg/kg 16,82
Fontes: * Nunes (2009); ** Souto (2010).

A CBC utilizada na pesquisa foi classificada como um material com alto teor de sílica (SiO2) no
estado cristalino, com baixíssima reatividade pozolânica e com granulometria e forma dos grãos
próxima da areia natural fina. Por apresentar essas características, essa CBC vem sendo estudada para
ser utilizada como agregado miúdo de pequena granulometria na produção de concretos.

5.3 Cimento

O cimento utilizado foi o do tipo CPV-ARI-RS, da marca Votoram, e suas características estão
apresentadas na Tabela 4.

Tabela 4. Caracterização do Cimento CPV-ARI RS.


Item de controle Norma Unidade Média
Início de Pega ABNT NBR NM horas 3,45
Fim de Pega 65:2002 horas 9,30
Resistência aos 1 dias MPa 12,6
Resistência aos 3 dias ABNT NBR MPa 14,86
Resistência aos 7 dias 7215:1997 MPa 22.30
Resistência aos 28 dias MPa 35,70

5.4 Aditivo Superplastificante

Foi utilizado nessa pesquisa o aditivo superplastificante GLENIUM 51, as informações sobre o
produto são fornecidas pelo fabricante conforme Tabela 5.

74
Nagano, Peinado e Vanderlei

Tabela 5. Aditivo Superplastificante GLENIUM.


Base química: Éter policarboxílico
Teor de sólido (%) 28,5 – 31,5
PH: 5–7
Viscosidade (cps) < 150
Densidade (g/cm3) 1,067 – 1,107
Aspecto Líquido
Cor Branco turvo
Fonte: BASF S/A (2010) (http://www.basf-cc.com.br)

6. DESENVOLVIMENTO DE PASTA E ARGAMASSA PARA CAA

A metodologia adotada para o desenvolvimento de pasta e argamassa com características que possam
ser utilizadas para obtenção do CAA foram baseada em Gomes (2002), Aitcin (2000) e Okamura e
Ouchi (2003).

A pasta é constituída por cimento, filer, água e aditivo superplastificante. O estudo para obtenção da
melhor pasta visa a fixação de três relações fundamentais para a reologia da pasta, são elas:
superplastificante/cimento (sp/c), filer/cimento (f/c) e água/cimento (a/c). Para fixar essas relações
foram realizados ensaios utilizando o Método do funil de Marsh e o Ensaio do Mini-cone. Esses
ensaios e seus resultados estão detalhados em Nagano (2014).

Neste estudo foram definidas três pastas com relações ótimas, em massa, apresentadas na Tabela 6.

A argamassa é formada pela pasta definida anteriormente, o agregado miúdo e a CBC. O estudo da
argamassa consiste em fixar a relação areia/cimento (ar/c) e encontrar a relação
superplastificante/cimento (sp/c) que promova uma argamassa com características autoadensáveis.
Essas características são avaliadas com base no ensaio proposto por Okamura e Ouchi (2003), onde se
analisa o espalhamento relativo da argamassa com um dispositivo tronco cônico, conhecido como
parâmetro Gm. Este ensaio e seus resultados estão detalhados em Nagano (2014).

Nesta fase do estudo foi feito a inclusão da CBC na composição do agregado miúdo, na qual foi
substituído 10 % da areia pela CBC, o critério para escolha do teor de CBC foi baseado nos estudos
realizados por Molin Filho (2012).

As relações, em massa, definidas para a argamassa com melhores características autoadensáveis estão
apresentadas na Tabela 6.

Tabela 6. Relação entre materiais para Pastas e Argamassas, em massa.


PASTAS ARGAMASSA sem CBC ARGAMASSA com CBC
a/c f/c sp/c ar/c sp/c cbc ar/c sp/c cbc
0,5 0,4 0,6 2 0,42 0 1,8 0,44 0,2
0,55 0,4 0,6 2 0,3 0 1,8 0,32 0,2
0,6 0,4 0,6 2 0,23 0 1,8 0,26 0,2

7. DOSAGEM DO CAA

A dosagem do concreto autoadensável proposta neste estudo consiste em elaborar curvas de dosagem
a partir dos parâmetros: resistência à compressão de dosagem (fc); relação água/cimento (a/c); relação
agregado graúdo/cimento (Br/c); e consumo de cimento (C). Para isso, propõe-se a elaboração de três
traços de CAA com diferentes relações a/c, porem, com o mesmo espalhamento.

O método de dosagem proposto necessita que se defina o volume de argamassa (V arg.) necessário para
que o CAA atenda aos critérios de autoadensibilidade prescritos na norma ABNT NBR 15823-1:2010.

75
Dosagem de concreto autoadensável com substituição parcial do agregado miúdo por cinza do bagaço da
cana-de-açúcar

É considerado como CAA o que atenda aos requisitos mínimos descrito na ABNT NBR 15823-
1:2010, que são: fluidez (avaliada pelo ensaio de espalhamento - SF) e habilidade passante (avaliada
pelo ensaio de espalhamento com anel J - PJ).

Para fixar o volume de argamassa (Varg.) foram realizados algumas misturas variando o Varg., e, após os
ensaios, foi considerado como ideal o volume de argamassa igual a 60%, por apresentar resultados de
fluidez e habilidade passante classificados como classes SF1 e PJ1 da ABNT NBR 15823-1:2010,
além de apresentar baixo consumo de cimento.

Os traços dos CAA foram definidos fixando-se o Varg. em 60% , o espalhamento em 640mm ± 10mm e
utilizando a composição de argamassas definida na Tabela 6. Para o estudo do CAA com CBC, foi
estabelecida a substituição da areia natural por CBC na taxa de 10%, em massa. Na Tabela 7 são
apresentadas as composições dos seis traços de CAA, em massa, sendo três sem CBC e três com CBC.

Para definir o traço de cada concreto, ajustou-se a quantidade de superplastificante de maneira que o
concreto atingisse o espalhamento requerido e os critérios de viscosidade, habilidade passante e
segregação exigidos pela ABNT NBR 15823-1:2010. Os ensaios de Caixa L, Funil V e Tubo U foram
realizados, porem, não adotados como requisitos para aceitação do concreto como CAA, conforme
recomenda a ABNT NBR 15823-1:2010.

Tabela 7. Composições dos Traços de CAA, em massa.


Sem CBC Com CBC
Volume argamassa 60% 60% 60% 60% 60% 60%
Cimento 1 1 1 1 1 1
Filer 0,40 0,40 0,40 0,40 0,40 0,40
Areia 2 2 2 1,8 1,8 1,8
CBC 0,0 0,0 0,0 0,2 0,2 0,2
Brita 2,96 2,88 2,82 2,92 2,83 2,80
Água 0,6 0,55 0,50 0,6 0,55 0,50
Superplastificante 0,50% 0,45% 0,62% 0,45% 0,50% 0,92%

São apresentados na Figura 2 registros fotográficos dos ensaios e equipamentos utilizados.

(a) (b) (c)

(d) (e) (f)


a) Espalhamento no Cone de Abrams. b) Habilidade passante no Anel J. c) Habilidade passante na Caixa L.
d) Coluna de Segregação. e) Caixa U Capacidade de preenchimento. f) Viscosidade Plastica no Funil V.
Figura 2. Equipamentos utilizados nos ensaios.

76
Nagano, Peinado e Vanderlei

Os resultados obtidos nos ensaios para avaliar as propriedades autoadensáveis dos concretos com CBC
são apresentados na Tabela 8.

Tabela 8. Resultados dos Ensaios com utilização de CBC.


Traço Traço Traço
Critérios a/c=0,6 a/c=0,55 a/c=0,5
Métodos de Ensaios Unidades
Verificados Resultado
Resultados Resultados
s

ESPALHAMENTO E Espalhamento mm 625 635 635


HABILIDADE
PASSANTE Viscosidade plástica
s 1,10 2,02 1,68
(ABNT 15823-2:2010 E aparente t500
ABNT 15823-3:2010) Habilidade passante
mm 5 10 20
– Anel J
CAIXA-L Habilidade passante
(H2/H1) 0,76 0,13 -
(ABNT 15823-4:2010) pela Caixa-L
Viscosidade plástica
FUNIL-V
aparente pelo Funil- s 4,38 7,81 6,08
(ABNT 15823-5:2010)
V
COLUNA SEGREGAÇÃO Resistência à
% 3,11 29,61 7,40
(ABNT 15823-6:2010) segregação
TUBO U Capacidade de
cm 32 38 32
Citado por Gomes (2002) preenchimento
MASSA ESPECÍFICA kg/m³ 2418,66 2462,33 2465,66
CONSUMO CIMENTO kg/m³ 362,39 373,55 378,43
SUPERPLASTIFICANTE % 0,45 0,5 0,92

8. RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO DO CONCRETO

Para os CAA estudados, foram avaliadas as resistências à compressão média de corpos-de-prova


cilíndricos (10cm x 20cm), e os resultados estão apresentados na Tabela 9.

Tabela 9. Resultados dos Ensaios de resistência à compressão.


Resistência à compressão (fcj) (MPa)
TRAÇOS
Idades (3dias) Idades (7 dias) Idades (28 dias)
a/c=0,6 com 10% CBC 14,90 15,10 22,83
a/c=0,55 com 10% CBC 17,80 19,00 28,16
a/c=0,5 com 10% CBC 18,90 21,65 31,33

9. CURVAS DE DOSAGENS

Com os resultados já apresentados, foi possível estabelecer relações entre os parâmetros: resistência à
compressão de dosagem (fc); relação água/cimento (a/c); relação agregado graúdo/cimento (Br/c); e
consumo de cimento (C). Essas relações podem ser representadas por meios de curvas de tendências
que melhor representem os resultados experimentais obtidos, sendo estas representações denominadas
de Curvas de Dosagens.

As curvas de dosagem encontradas para o CAA com CBC são expostas na Figura 3.

77
Dosagem de concreto autoadensável com substituição parcial do agregado miúdo por cinza do bagaço da
cana-de-açúcar

a)

b) c)
Figura 3. Curva de Dosagem de CAA com 10 % CBC e espalhamento de 640mm ± 10mm.

A partir das curvas de dosagens é possível estabelecer novos traços de CAA tendo como ponto de
partida a resistência à compressão de dosagem pretendida para o concreto. Para isso, adota-se um valor
de resistência à compressão fc (em MPa) e determina-se na curva o fator água/cimento (a/c). Com o
fator a/c determinado, encontra-se o fator brita/cimento (Br/c) e também o consumo de cimento (C).
Determinando-se, dessa forma, o traço unitário para a resistência requerida.

10. APLICAÇÃO DA CURVA DE DOSAGEM

Buscando-se testar as curvas de dosagens desenvolvidas, foi elaborado traço com valores obtidos a
partir das curvas de dosagens, sendo este de CAA com CBC. Para desenvolver o traço, considerou-se
o valor de resistência à compressão de dosagem de 30 MPa aos 28 dias de idade.

O traço unitário, em massa, para o CAA com CBC desenvolvido a partir das curvas de dosagens é
apresentado na Tabela 10.

Observa-se que a relação areia/cimento (ar/c) foi fixada em 2 e a relação filer/cimento (f/c) em 0,4.
Foram considerados para dosagem inicial de superplastificantes os fatores obtidos na fase dos estudos
das argamassas, sendo ajustados até que os CAAs atingissem o espalhamento de 640mm ± 10mm.

78
Nagano, Peinado e Vanderlei

Tabela 10. Traços obtidos pelas curvas de dosagens.


Traços unitários em massa de
Materiais
CAA com CBC
Volume argamassa 60%
Cimento 1,00
Filer 0,40
Areia 1,80
CBC 0,20
Brita 2,80
Água 0,52
Superplastificante (%) 0,90
Consumo de Cimento (kg/m³) 378,47

Para o CAA desenvolvido com CBC, apresentado na Tabela 10, foram realizados ensaios para
determinar a resistência à compressão média em corpos-de-prova cilíndricos (10cm x 20cm), nas idade
de 3, 7 e 28 dias. Os resultados dos ensaios foram comparados com os valores estimados pelas curvas
de dosagens estabelecidas na Figura 3. Estes resultados estão apresentados na Tabela 11, em que se
pode observar que os valores obtidos pelas curvas de dosagem são próximos aos valores obtidos
experimentalmente, correspondendo a uma diferença de 2,83 % para os Traços com CBC, na idade de
28 dias.

Tabela 11. Resistências à compressão nos CAA obtidas experimentalmente e pelas curvas de dosagens.
Resistência à compressão (fc)
Resistência à compressão (fc)
(MPa) obtidas
(MPa) pelas Curvas de Dosagens
Idade (dias) experimentalmente do CAA
do CAA com CBC
com CBC

03 24,10 18,50
07 24,80 20,67
28 30,85 30

CONCLUSÃO

Pode-se concluir com os resultados obtidos neste estudo que é possível estabelecer relações entre os
parâmetros: resistência à compressão de dosagem (fc); relação água/cimento (a/c); relação agregado
graúdo/cimento (Br/c); e consumo de cimento (C), de maneira a produzir curvas de dosagens que
possam auxiliar na produção de traços de CAA com CBC em substituição parcial ao agregado miúdo
natural até uma taxa de 10%, com boa precisão quanto à previsão da resistência à compressão do CAA
desejada.

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79
Dosagem de concreto autoadensável com substituição parcial do agregado miúdo por cinza do bagaço da
cana-de-açúcar

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adensável. Parte 1: Classificação, controle e aceitação no estado fresco. Parte 2: Determinação do
espalhamento e do tempo de escoamento - Método do cone de Abrams. Parte 3: Determinação da
habilidade passante - Método do Anel-J. Parte 4: Determinação da habilidade passante - Método
da Caixa-L. Parte 5: Determinação da viscosidade - Método do Funil-V. Parte 6: Determinação da
resistência à segregação - Método da coluna de segregação. Rio de Janeiro, 2010.

80
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

A short view on the synthesis of metakaolin-based geopolyme for


the degradation of VOC´s and microorganism purposes

2
J. Ramón Gasca- J.L. Reyes-Araiza A. Manzano-
1 3
Tirado Ramírez

ABSTRACT

This paper describes the work that has been carried out in the last five years in the geopolymer group
at CINVESTAV-IPN, Querétaro, México. Hence the study, synthesis and the effect of different
parameters such as curing temperatures on the geopolymerization process and physical, mechanical
and optical properties of a metakaolin-based geopolymer activated by alkali, are described. The
influence of different reaction temperatures (within the range 40 to 90°C) was studied systematically
by means of differential scanning calorimetry (DSC), Scanning Electron Microscopy (SEM), UV/Vis
Spectrophotometry, Leaching analysis and Brunauer–Emmet–Teller method (BET). In addition,
optical characterization of a metakaolinite Geopolymer will be described. Results showed the
existence of an optimum temperature at which the geopolymer presents high porosity (90ºC) and is
translucent to the Visible light, allowing to have an inorganic polymer suitable for photocatalytic
degradation of Volatile Organic Compounds (VOC´s) and microorganism.

Keywords: Geopolymerization, curing temperature, optical properties, photoluminescent.

1. INTRODUCTION

Geopolymer is a broadly termed “inorganic polymer” [1-2]. In the synthesis of alkali-metakaolin


system the geopolimerization stages may comprise: (1) deconstruction (dissolution of metakaolin in
alkaline solution), (2) polymerization of alumina/silica–hydroxy species and oligomers, (3)
stabilization at which the small gels formed are probably transformed into large networks through
reorganization [3]. In addition Aiello et al. [4] and Ivanova et al. [5] indicate that a supersaturated

1
Universidad de Guanajuato. Campus Celaya-Salvatierra, Celaya, Guanajuato, C.P. 38110, Mexico,
ragatsi99@yahoo.com
2
DIPFI, Facultad de Ingeniería, Universidad Autónoma de Querétaro, C.U. Cerro de las Campanas S/N, Querétaro, Qro.,
C.P. 76010, México. reyesaraiza@yahoo.com
3
Centro de Investigaciones y de Estudios Avanzados del I.P.N. Unidad Querétaro, Querétaro, Querétaro, C.P. 76230,
México. amanzano@qro.cinvestav.mx

81
Gasca-Tirado, Reyes-Araiza e Manzano-Ramírez

aluminosilicate solution (SAS) is created by dissolution and at the time for SAS to form a continuous
gel varies considerably with raw materials, silica/alumina ratio and synthesis conditions.[6, 7]. On
other hand, Geopolymers have received considerable attention from scientists worldwide [8-14], due
to their low cost, excellent mechanical and physical properties, low energy consumption and reduced
“greenhouse emissions” at the elaboration process. Therefore, the understanding of geopolymerization
process can provide the key to control several factors such as the degree of polymerization, porosity
along mechanical properties of geopolymers so that they may be tailored for specific applications.

Because of their chemical composition, they can be considered as analogues of zeolites with an
amorphous structure [15,16] and with the same possible potential applications; suggesting, they can be
functionalized as zeolites for the reduction of NO [17], CO2 [18], and methyl blue degradation [19] for
instance.

In the present work it is described how to incorporate a photoactive TiO2 into a geopolymer
metakaoline based by ion exchange to degrade a VOC (2-Butanone). Geopolymers were synthesized
at 40, 60 and 90º C in order to be ion-exchanged with a solutions of (NH4)2 TiO (C2O4)2-H2O. Samples
were characterized by SEM, FT-IR, DSC, UV/Vis spectroscopy and fluorescence to determine the
effects of the chemical modification on the geopolymer. Finally the photoactivity of the TiO 2 particles
was confirmed by means of the bleaching of MB.

2. MATERIALS AND METHODS

Geopolymer samples were prepared by mixing stoichiometric amounts of metakaolin (made by BASF
Corporation “Metamax”) sodium silicate, sodium hydroxide and distilled water to obtain to the
following molar oxide ratios: SiO2/Al2O3 = 3.3, Na2O/SiO2 = 0.25, Na2O/Al2O3 = 0.4883, H2O/Na2O =
13.73. The constituentes were formulated and mixed to form a homogenous slurry. Afterwards it was
vibrated for 15 min to remove entrained air before being transferred to sealed cylindrical moulds (50
mm height x 25 mm diameter to maintain a 2:1 aspect ratio) covered with a film to prevent moisture
loss. The geopolymer was cured in a laboratory oven in two steps i.e. step 1 samples were dried at
40°C for 2 hrs, so that a slow loss of water at this dry temperatures is achieved to obtain geopolymers
free of cracks, in the second step, the samples were cured at 40, 60 and 90°C for 24 hours, to develop
mechanical properties.

2.1 Heat evolution

The heat evolution of each geopolymer was determined in isothermal experiments. The samples were
scanned at each isothermal temperature. The measurements were performed on a Mettler Toledo
DSC822E. Hence, 2g of metakaolin were mixed with 3.2 ml of sodium silicate solution. For the
calculation of the total heat evolution a straight baseline is used [20].

2.2 Porosity

Porosity and pore size distribution was determined by using a NOVA 2000e, Quantachrome
instruments employing the BET. SEM was performed to observe the morphology characteristics of
geopolymers for the samples cured at 40, 60 and 90°C using an FEI XL-30 (FEI Company).

Scatter transmittance of geopolymer cured at 40, 60 and 90° C was measured by using a Perkin Elmer
UV/Vis/NIR spectrophotometer in combination with an integrating sphere. Samples were prepared to
fit into the sample holder and wavelength was set to sweep the sample from 400 to 800 nm [20].

2.3 Ion-exchanged geopolymer (IEG) preparation

IEG were prepared as follows: the treatment with ammonium chloride was omitted, and the samples
were directly ion-exchanged with the same solution of (NH4)2 TiO (C2O4)2- H2O. Samples were

82
A short view on the synthesis of metakaolin-based geopolyme for the degradation of VOC´s and.
microorganism purposes

removed from the solution, washed several times with de-ionized water and finally dried for one week
at ambient temperature [21].

2.4 Photoactivity of the IEG

The scatter reflectances of the geopolymers were measured with a Perkin Elmer Lambda 900
UV/Vis/NIR spectrophotometer in combination with a 60 mm integrating sphere. And their
photoluminescent spectrum was followed with a SpectraPro-2300i spectrograph in combination with a
PD471 photomultiplier (both from Action Research Corporation) [21].

2.5 Photocatalytic reactor and procedure

The photocatalytic degradation of 2-butanone was done in a 12 L batch reactor. One UVB lamp (Exo
Terra 15W, peak = 365 nm) was installed inside the reactor at 10 cm away from the geopolymer
surface and isolated from the inside atmosphere by a quartz tube (Fig. 1).

Figure 1. Schematic diagram of the batch reactor.

Before any 2-butanone initial concentration was established in the reactor, the reactor was flushed out
and filled with dry air (80% N2 -20% O2 gas mixture) at normal temperature and pressure conditions
(NTP). For the studies done in air at 30 % relative humidity, the reactor was flushed out with dry air,
and the humidified air was prepared by bubbling air through a glass saturator containing deionized
water. The moisture was controlled by measuring the wet bulb and dry temperature, and once the
humidity was fixed, the reactor inlet and outlet valves were closed to hold the humidity and NTP
conditions inside the reactor.

According to the study, different 2-butanone concentrations were injected in the reactor through a
pierceable septum on the head of the reactor. Temperature was fixed at 25°C and system was allowed
for equilibration of the gas-solid adsorption for 24 h (dark conditions) before the lamp was turned on
[22].

3. RESULTS AND DISCUSSION

3.1 Heat evolution

After the DSC measurements carried out at temperatures of 40, 60 and 90°C the total heat evolved
(after curing at 40 º C temperatures at which the geopolymerization process can take place) decreases
as the curing temperature increases, Table 1, implying that the geopolymerization extent is shorter.
However, at 60ºC the total heat evolved was the highest, 1796 J/g, which means that the stages or
events in the geopolymerization process had occurred in a favorable manner. As a result of this, a
more sound material with the highest compressive strength value is obtained [20], Table 1.

83
Gasca-Tirado, Reyes-Araiza e Manzano-Ramírez

Table 1. The effect of curing temperature on heat evolution and compressive strength
Curing temperature Property

Porosity Total heat Compressive


evolution strength

Step1 Step 2 (ccg-1) (Jg-1) (MPa)

2h,40°C 40°C 0.2244±0.005 1267.79 8.553±1.326

2h,40°C 60°C 0.1651±0.020 1796.50 17.867±1.009

2h,40°C 90°C 0.1821±0.002 1149.59 13.130±0.496

3.2 Porosity

Figure 2 shows the pore distribution with regard to three classes of pore size according to IUPAC (The
International Union of Pure and Applied Chemistry, i.e. : macropores (above 50 nm), mesopores
(between 50 and 2 nm) and micropores (below 2 nm). On this it may be observed that the samples
obtained at 60ºC have the minimum amount of macropores with the largest amount of mesopores. As a
result of this, the compressive strength, Table 1, of the metakaolin-based geopolymer is strongly
dependent on the size of porosity which in turn is the result of the geopolymerization process
conditions, being the highest at 60 ºC, Table 1.

1.0

0.8
Pore fraction

0.6

0.4

0.2

0.0
40˚ C 60˚ C 90˚ C
Microporous 0.00 0.00 0.06
Mesoporous 0.68 0.74 0.59
Macroporous 0.32 0.26 0.35

Figure 2. Pore distribution of metakaolin-based geopolymer based cured at 40, 60 and 90 ºC

3.3 Photoluminescent spectrum of the Ion-exchanged geopolymer (IEG)

The UV-Vis reflectance spectra demonstrate additional differences in the ion-exchanged geopolymers.
The presence of a significant blue shift on the spectrum of the 90º C IEG, Figure 3, may be ascribed to
quantum size effects over TiO2 particles. The presence of micropores (above 50 nm according to
IUPAC definition) in 90ºC geopolymers, forces to TiO2 particles to grow inside them reaching nano
scale dimensions. This phenomenon was not observed in the 40º C geopolymer due to the absence of
micropores in the material.

84
A short view on the synthesis of metakaolin-based geopolyme for the degradation of VOC´s and.
microorganism purposes

Fluorescen Blue shift Fluorescence observed on TiO2


ce at 419 with a tetrahedral coordination
nm highly disperse on a silica
matrix [23]

Figure 3. Photoluminescent spectrum with the fluorescence observed at around 419 nm by an excitation
wavelength of ≈300 nm.

3.4 Photocatalytic activity of the IEG

The Ion-exchanged geopolymer (IEG) was verified to degrade 2-butanone at different initial
concentrations (0.5 to 5 gm-3). The fraction conversion of 2-butanone and reaction products was
followed by measuring their concentrations through time as it is exemplified in Figure 4.

Figure 4. Fraction conversion of 2-butanone, acetaldehyde, acetone and 2-ethyl-1-hexene through time.
[2-butanone]t=0 = 4.97 gm-3 .

The main reaction products observed in all runs were acetaldehyde and acetone at retention times of
1.6 and 2.08 min respectively. Their concentration, defined as the area under the curve, increased just
after UV light exposure as a consequence of the photolysis carried out by the IEG over 2-butanone
(retention time at 2.8 min.). These reaction products were the same reported by Vincent et al. for the
degradation of 2-butanone by TiO2 (P25 Degussa) over a fiberglass support [24].

CONCLUSIONS

The information gained contributes to a better understanding of the geopolymerization process as well
as to demonstrate a reliable pathway to incorporate photoactive TiO 2 in the geopolymer along to show
how ion exchange geopolimer (IEG) is able to degrade 2-butanone at TiO2 active sites for the
adsorption/desorption of reactants and products. Facts that open the possibility to taylor geopolymers
for specific applications.

85
Gasca-Tirado, Reyes-Araiza e Manzano-Ramírez

ACKNOWLEDGEMENTS

Authors want to thank Maria-Carmen Delgado, Eleazar Urbina , Martín-Adelaido Landaverde and
Lourdes Palma Tirado from UNAM, Miriam Rodriguez Olvera from CICATA for their technical
assistance and J. Alonso Cazares Uribe from University of Guanajuato for the batch reactor drawing.

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86
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87
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

Influência do empacotamento do agregado miúdo nas


características do betão autocompactável com baixo consumo de
cimento

Lúcio Matos1 Augusto Pinotti2

RESUMO

O betão autocompactável (BAC) vem sendo muito utilizado no setor da construção civil em função
principalmente dos benefícios advindos das suas propriedades no estado fresco. Um fator determinante
do custo do BAC é o consumo de cimento, portanto, as pesquisas buscam definir uma maneira de
reduzir os excessos deste ligante. No presente trabalho, foi estudada a granulometria da areia utilizada
no BAC pela aplicação do método experimental de empacotamento de agregados de Helene & Terzian
e do método analítico de empacotamento de partículas de Alfred. Assim, a pesquisa visou
essencialmente obter melhorias nas propriedades do BAC, tais como reologia e resistência, com um
baixo consumo de cimento. Foram produzidos dois traços modificados a partir de um traço
desenvolvido como referência. No traço de referência foi aplicada a granulometria da areia normal do
IPT/SP, no traço 1 foi aplicada a granulometria obtida pelo método experimental de empacotamento
de Helene & Terzian (1992) e, no traço 2, a granulometria foi elaborada pelo método analítico de
empacotamento de Alfred. Foi fixado um consumo de cimento de 290 kg/m3. Na avaliação do
consumo de água das misturas, o traço 2 foi o que obteve o melhor desempenho, com um consumo de
água igual a 2/3 do utilizado pelo traço referência, para o mesmo espalhamento (slump flow) do betão.
Os resultados obtidos nas análises das misturas no estado fresco demonstraram que os três traços
proporcionaram betões com propriedades de autoadensabilidade e sem sinais de segregação, dentro
dos parâmetros das especificações técnicas normalmente aplicáveis. Nos testes de resistência à
compressão uniaxial no estado endurecido ficou nítido o beneficiamento da resistência pelos métodos
de empacotamento, ficando o método analítico com o melhor desempenho. O ganho na resistência
característica fck do traço 2, do método analítico, comparativamente ao traço de referência, foi de
33,5%, enquanto que no traço 1, do método experimental de empacotamento, foi de 15,1%. Tais
resultados demonstraram que a continuidade granulométrica da areia possibilita uma redução desejável
no consumo de cimento e ganhos apreciáveis de resistência à compressão.

Palavras-chave: Betão autocompactável, empacotamento de agregados, método analítico, método


experimental.

1
Universidade Regional de Blumenau – FURB, Departamento de Engenharia Civil, Blumenau – SC, Brasil.
luciusmats@gmail.com
2
Universidade Regional de Blumenau – FURB, Departamento de Engenharia Civil, Blumenau – SC, Brasil.
eng.augustopinotti@hotmail.com

89
Influência do empacotamento do agregado miúdo nas características do betão autocompactável com baixo
consumo de cimento

1. INTRODUÇÃO

A dosagem do BAC já foi tema de várias pesquisas experimentais no Brasil; de acordo Fochs [1], já
existem duas correntes relacionadas aos métodos de dosagem: o primeiro grupo baseia-se na adição de
agregados, pela avaliação da mistura desde a etapa de formulação até o ajuste final, e o segundo grupo
avalia o concreto como um todo utilizando conceitos baseados no método IPT/EPUSP, desenvolvido
para betão convencional, conforme Helene e Terzian [2].

Avaliando-se os resultados e observações apresentadas em diversos trabalhos, percebe-se uma


necessidade de mais pesquisas para uma ampliação do conhecimento, principalmente, quanto à
influência do empacotamento dos agregados.

É comum entre as empresas do setor da construção civil o alto consumo de cimento para a produção
do BAC, com o intuito de que as propriedades de autoadensabilidade sejam obedecidas e que a
resistência fique acima do desejado como forma de garantia. Para Castro e Pandolfelli [3], as
propriedades do BAC tanto no estado fresco como no estado endurecido podem ser melhoradas de
outra forma, desenvolvendo-se um projeto de empacotamento das partículas. Tutikian e Dal Molin [4]
apontam que a seleção do agregado miúdo é muito importante para a qualidade do BAC, pois o
consumo de água também está relacionado com a continuidade da areia e se esta não for ideal
acarretará em um maior consumo para o alcance da fluidez desejada.

Em pesquisa experimental sobre empacotamento dos agregados Catoia et al. [5] apresentaram
resultados satisfatórios e ganhos na resistência do concreto autoadensável, utilizando um baixo
consumo de cimento de 288,50 kg/m3. Atendendo a esta pesquisa e avaliando-se as condições da
região de Blumenau, a presente pesquisa tem como objetivo avaliar a influência e possíveis ganhos
com o empacotamento dos agregados miúdos aplicando-se o método experimental de empacotamento
de agregados apresentado por Helene e Terzian [2] e o método analítico de Alfred.

Em suma, o objetivo principal da pesquisa deste trabalho foi definir a granulometria mais adequada do
agregado miúdo para a redução do teor de cimento do concreto autoadensável, através dos métodos
analítico e experimental de empacotamento.

2. MATERIAIS

Para a realização desta pesquisa foram utilizados os seguintes materiais: cimento Portland do tipo CP
V ARI; sílica ativa; areia natural proveniente do Rio Itajaí-Açu; brita 0 proveniente do Alto Vale do
Itajaí, SC; aditivo superplastificante (SP); aditivo polifuncional (PF 175) e água.

2.1 Cimento Portland

O cimento utilizado é do tipo CPV-ARI, cimento brasileiro de alta resistência inicial, que segue as
diretrizes da norma NBR 5733/1991 [6]. Segundo a referida norma, este cimento é composto de 100 a
95% de clínquer com gipsite e os outros 5% restantes de material carbonático. A resistência que o
betão deve apresentar no primeiro dia é igual ou maior que 14% do traço projetado, nos três primeiros
dias 24 % e nos sete primeiros dias 34%.

2.2 Agregado miúdo

Nos três traços de betão autocompactável testados, adotou-se como agregado miúdo uma areia natural
do Rio Itajaí-Açu. Esta depois de extraída foi lavada e colocada na estufa a uma temperatura de 105oC
para secagem completa. Com o intuito de facilitar a repetibilidade da pesquisa, a areia foi separada por
peneiramento mecânico nas quatro frações granulométricas recomendadas pelo IPT/SP, ou seja:
passante na peneira 4,80 mm e retido na peneira 1,20 mm; passante na peneira 1,20 mm e retido na
peneira 0,60 mm; passante na peneira 0,60 mm e retido na peneira 0,30 mm; e, passante na peneira

90
Matos e Pinotti

0,30 mm e retido na 0,15 mm. O traço referência utilizou as percentagens apontadas pelo IPT/SP que
estão resumidas no Quadro 1.

Quadro 1. Composição da areia usada no traço de referencia.


Peneiras (mm) Retida (%) Acumulada (%)
4,80 0,00 0,00
1,20 20,00 20,00
0,60 40,00 60,00
0,30 20,00 80,00
0,15 20,00 100,00
Total: 260,00
Módulo de finura: 2,6
Classificação NBR 7211/2005 (2,2<MF<2,9): zona ótima

Ainda foram estudadas outras duas misturas de areia, uma pelo método experimental do fator de
empacotamento e outra pelo método analítico do fator de empacotamento, conforme descrito nos itens
respectivos adiante.

2.3 Agregado graúdo

Uma avaliação visual e manual de cinco agregados graúdos coletados em diferentes britadores da
região de Blumenau, o que se apresentou mais indicado foi uma brita de basalto maciço da região de
Pouso Redondo, Alto Vale do Itajaí, SC. Assim, foi utilizado apenas o material de grãos passantes na
peneira 9,5 mm e retidos na peneira 4,80 mm, classificado como brita 0. A quantidade de agregado
graúdo utilizado nos três traços foi a mesma aplicada por Catoia et al. [5].

2.4 Aditivos superplastificante e polifuncional

Foi decidido usar um aditivo polifuncional (PF 175) juntamente com o superplastificante (SP), visando
compensar a perda rápida da eficiência deste último, que ocorre em cerca de 50 minutos. Feita a
dosagem adequada, ela foi mantida fixa para os três traços do BAC. No Quadro 2 apresenta-se a
caracterização de cada produto.

Quadro 2. Características dos aditivos SP e PF.


Percentagem em
Massa específica
Sigla Tipo relação ao peso de pH
(g/cm³)
cimento (%)
ViscoCrete 20HE SP 1,20 5,5 ± 1,0 1,07 ± 0,02
SikaMent PF 175 PF 0,80 6,0 ± 1,0 1,21 ± 0,02
Fonte: Sika Brasil (2012).

2.5 Sílica ativa

Foi utilizado o mesmo percentual de sílica ativa aplicada por Catoia et al. [5], ou seja, 10% do peso do
cimento; este percentual elevado minimizará o aparecimento dos vazios, o que favorece o
empacotamento de partículas. Ainda, conforme Gomes e Barros [7], a sílica ativa evita a segregação e
exsudação, que são os principais problemas encontrados nos betões compostos por areia grossa e
pouco teor de cimento.

91
Influência do empacotamento do agregado miúdo nas características do betão autocompactável com baixo
consumo de cimento

3. MÉTODOS

3.1 Método experimental do fator de empacotamento

O método experimental do fator de empacotamento das partículas se baseou nos procedimentos


expostos por Helene e Terzian [2].

Com a areia limpa, seca e separada, foram iniciados os procedimentos experimentais. O agregado
miúdo retido na peneira 0,15 mm foi dosado com o retido na peneira 0,30 mm nas percentagens
iniciais de 80% da primeira porção com 20% da segunda, tomando como amostra um total de 8,00 kg
de agregado. A caixa metálica era preenchida de forma suave, com a concha de lançamento da areia a
uma altura de 1,00 cm da borda superior, as direções de movimentação também se alternavam, para
que não se produzisse uma compactação acidental.

Os procedimentos se repetiram com amostras novas com proporções dos retidos nas duas peneiras de
40% com 60%, 60% com 40% e 80% com 20%, sendo todos os excessos retirados suavemente com a
régua metálica garantindo uma ocupação exata dos 5 litros da caixa. Com a balança de precisão de
0,001g, foram obtidos os resultados do peso total e assim traçados os gráficos de massa unitária das
combinações de percentagens das faixas granulométricas do agregado miúdo, podendo assim ser
encontrada a proporção de agregado ótima de máxima massa unitária, resultando a mistura M1.

O mesmo procedimento se deu, mas agora misturando a faixa granulométrica passante na peneira 1,20
mm e retida na 0,60 mm combinando-a com a mistura proporcionada na combinação anterior,
obtendo-se assim a mistura M2. Por sua vez, o proporcionamento ideal da mistura M2 com a fração
retida na peneira de malha 1,2mm redundou na areia de mistura de maior fator de empacotamento ou
máxima massa unitária. Na Figura 1, está ilustrada a sequência que resultou na areia de mistura
desejada. Ao fim destes procedimentos chegou-se a uma mistura ideal com as frações e módulo de
finura expostos no Quadro 3.

Figura 1. Percentagens obtidas no método experimental do empacotamento.

Quadro 3. Composição da areia de mistura obtida pelo método experimental do empacotamento.


Peneiras (mm) Retida (%) Acumulada (%)
4,80 0,00 0,00
1,20 55,00 55,00
0,60 25,00 80,00
0,30 7,00 87,00
0,15 13,00 100,00
Total: 322,00
Módulo de Finura (MF): 3,22
Classificação NBR 7211/2005 (2,9<MF<3,5): zona utilizável superior

92
Matos e Pinotti

3.2 Método analítico do fator de empacotamento

O método analítico escolhido foi o de Alfred, apontado por Castro e Pandolfelli [3] como um dos mais
utilizados. Os cálculos se iniciam pela peneira de maior abertura, seguindo sequencialmente as Eqs. 5
e 6, abaixo. Chegou-se às percentagens apresentadas no Quadro 4, às quais corresponde uma areia de
Módulo de Finura 3,07 (zona utilizável superior).

Pd = [(dq – dmq)/(Dq – dmq)]x100 (1)

Rd = 100 - Pd (2)

Onde:
Pd: percentagem volumétrica de partículas passantes;
Rd: percentagem volumétrica de partículas retidas;
D: diâmetro da maior partícula = 9,50 mm (por se combinar o agregado graúdo com a areia de
mistura deve se considerar o diâmetro passante);
dm: diâmetro da menor partícula = 0,15 mm (na areia apresentada);
d: diâmetro da partícula em questão passante;

q: coeficiente de distribuição = 0,25, para que a mistura seja autocompactável.

Quadro 4. Percentagens das faixas granulométricas obtidas no método analítico.


Faixas Intervalo das d Massa específica Pd em Porcentagem
granulométricas peneiras (mm) real (kg/m³) volume em peso (%)
(mm) (%)
F1 0,15-0,30 0,15 2620,00 13,70 13,60
F2 0,30-0,60 0,30 2590,00 16,30 16,00
F3 0,60-1,20 0,60 2590,00 20,50 20,20
F4 1,20-4,80 1,20 2620,00 50,50 50,20
Módulo de Finura (MF): 3,07
Classificação NBR 7211/2005 (2,9<MF<3,5): zona utilizável superior

3.3 Ensaio de espalhamento para determinação do consumo de água

O ensaio de espalhamento, ou slump-flow foi utilizado para a determinação do fator água/


aglomerante, onde a água foi dosada até que o betão se tornasse autocompactável, ou seja, conforme
Gomes e Barros [7], diâmetro de espalhamento entre 60 e 80 cm e tempo de espalhamento total de 2 a
7 s. Assim, as dosagens para a produção do betão autocompactável foram as resumidas no Quadro 5.

Quadro 5. Traços de dosagem em peso por m3 do betão autocompactável (1:0,1;3,4:3).


Método de obtenção do Cimento Sílica ativa Areia Brita 0 Água/ SP PF
agregado miúdo (Traço) (kg/m³) (kg/m³) (kg/m³) (kg/m³) Agl. (kg/m³) (kg/m³)
IPT/SP (Traço
290 29 986,00 870,00 0,92 3,48 2,32
Referência)
Método experimental
290 29 986,00 870,00 0,68 3,48 2,32
(Traço 1)
Método analítico
290 29 986,00 870,00 0,56 3,48 2,32
(Traço 2)

3.4 Método de mistura do betão autocompactável

O procedimento adotado para a mistura seguiu os seguintes passos: 1) colocação do agregado graúdo,
agregado miúdo e metade da água de amassamento na betoneira e mistura durante 1 minuto; 2)
colocação na betoneira do cimento, sílica ativa e restante da água e mistura por 3 minutos; 3) repouso

93
Influência do empacotamento do agregado miúdo nas características do betão autocompactável com baixo
consumo de cimento

da massa com água, agregados e aglomerantes por 3 minutos; 4) colocação dos aditivos SP e PF e
mistura final por mais 3 minutos, totalizando assim uma operação de amassamento por 10 minutos.

3.5 Ensaios de verificação da condição autocompactável

Para verificar as condições de autoadensibilidade do betão, decidiu-se pela execução dos ensaios já
consagrados da Caixa L e Funil V, sendo que o ensaio de espalhamento foi utilizado para a
determinação quantitativa do teor água/aglomerantes.

O ensaio da Caixa L seguiu os padrões da NBR 15823/2010 [8], permitiu medir a capacidade de
passagem do concreto e sua fluidez. A amostra deve alcançar, conforme Gomes e Barros [7] (2008),
um tempo de chegada na marca horizontal 200 mm de, no mínimo, 2,00 s, na marca de 400 mm aos
4,00 s. Ao fim deve-se medir H1 e H2, no início e fim do percurso horizontal e analisar a relação
H2/H1. O ensaio do Funil V usado, também seguiu os padrões da NBR 15823/2010 [8], para medir a
capacidade de passagem do concreto e sua fluidez. A amostra deve alcançar, conforme Gomes e
Barros [7], um tempo de escoamento completo entre 6 e 15 s.

3.6 Ensaio de resistência à compressão

Foram moldados vinte corpos de prova cilíndricos com diâmetro de 100 mm e altura 200 mm para
cada traço. Na moldagem dos corpos de prova não foram utilizados equipamentos de vibração, pois
tratava-se de betão autocompactável. A cura dos corpos de prova foi de forma submersa, estendendo-
se por 28 dias, idade em que se consideravam prontos para a ruptura por compressão axial. Com os
resultados e as fórmulas estatísticas convencionais foram determinadas a resistência média à
compressão, fcm, e a partir da média e do desvio padrão, Sd, a resistência característica, fck, ou seja, esta
com probabilidade de ser igualada ou ultrapassada em 95% dos casos.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 Determinação do fator água/aglomerantes

A quantidade de água foi dosada de modo crescente, com um fator inicial de 0,20; o intuito era avaliar
como a mistura se comportaria até atingir o espalhamento de 600 mm, valor em que o betão é
classificado como autocompactável.

O primeiro traço a ser produzido foi o de referência, obtendo-se um resultado de 603 mm de


espalhamento com um fator água/aglomerantes de 0,92.

O segundo traço a ser produzido foi denominado traço 1, que fez uso da granulometria da areia obtida
pelo método experimental de empacotamento, com a qual foram alcançados os valores ideais de 0,68
para o fator água/aglomerantes e de 598 mm para o espalhamento.

O terceiro traço produzido ou traço 2 que fez uso da granulometria obtida no método analítico de
empacotamento de Alfred apresentou valores ideais de 0,56 para o fator água/aglomerantes e de 600
mm para o espalhamento.

Pelos resultados atingidos verifica-se que a maior compacidade do arranjo de agregados tende a
produzir betões mais trabalháveis e autocompactáveis com menor gasto de água. Ainda, pode ser
concluído que a granulometria da areia obtida no método de Alfred apresentou-se com uma melhor
continuidade proporcionando uma mesma fluidez com um consumo de água 2/3 do consumido pelo
traço referência. Relacionando o MF com o desempenho destes três traços, conclui-se que não é
necessariamente a granulometria de maior ou o de menor módulo que proporcionará a melhor fluidez e
sim a que se apresenta mais contínua.

94
Matos e Pinotti

Na Figura 2 estão apresentados os resultados alcançados com o ensaio de espalhamento aplicado aos
três traços de dosagem testados, sendo de destacar o melhor desempenho do traço 2 que corresponde
ao proporcionamento da areia pelo método analítico do fator de empacotamento.

Figura 2. Representação da evolução do espalhamento com a relação água/aglomerante.

4.2 Avaliação da condição autocompactável

Encontram-se resumidos no Quadro 6 os resultados relativos à avaliação da condição autocompactável


das três dosagens do concreto produzido no laboratório.

Quadro 6. Resumo dos resultados da avaliação da condição autocompactável dos três traços testados.
Condição Resultados obtidos Obediência às
Parâmetros autocompactável Ensaio Traço Traço Traço prescricões dos autores
avaliada Ref. 1 2 ou normalizados (X)
Tempo L20 (s) 0,20 1,11 1,72 X
Habilidade de Caixa
Tempo L40 (s) 0,55 3,91 3,85 X
passagem L
H2/H1 1,00 0,31 0,44 X
Habilidade de
Tempo de Funil X
preenchimento e 5,30 4,06 5,18
escoamento (s) V (observações)
coesão

No traço referência, avaliando os resultados do ensaio da Caixa L, em comparação com os valores


aceitos pelos autores como Tutikian e Dal Molin [4], a relação H2/H1 foi aceitável. Os tempos de
escoamento nas marcas de 20 e 40 cm foram baixos, porém várias literaturas apontam só os máximos,
aceitando resultados menores que 1,00 s. O resultado obtido no ensaio Funil V ficou abaixo dos
limites indicados por vários autores – 6 a 12 segundos, contudo isso foi fruto da eficiência dos

95
Influência do empacotamento do agregado miúdo nas características do betão autocompactável com baixo
consumo de cimento

aditivos, o que não se pode considerar um ponto negativo já que a mistura escoou mais rapidamente e
sem nenhum ponto de segregação. Conclui-se que a habilidade de preenchimento e a coesão foram
beneficiadas com o uso do superplastificante em conjunto com o polifuncional.

Para o traço 1, analisando-se os resultados alcançados no ensaio da Caixa L, os tempos obtidos nas
marcas 20 e 40 cm obedeceram aos limites expostos pelas normas e literatura, porém a relação H2/H1
não foi obedecida; um dos fatores foi a demora na realização dos ensaios de espalhamento causando a
perda de desempenho dos aditivos na habilidade passante. Já o tempo obtido no ensaio do Funil V foi
bastante baixo pelo mesmo motivo apontado no traço referência, destacando-se também que
independente da demora na busca da melhor relação água/aglomerante, a habilidade de preenchimento
e coesão da mistura não foram afetadas.

No traço 2, corresponde ao fator de empacotamento estudado pelo método analítico, os resultados


alcançados, tanto no ensaio da Caixa L, como no ensaio do Funil V, foram verificadas as mesmas
modificações positivas diagnosticadas para o traço referência e traço 1.

4.3 Determinação da resistência à compressão

Os resultados dos testes de resistência à compressão podem ser ilustrados pelos gráficos apresentados
nas Figuras 3 e 4.

Figura 3. Gráfico comparativo das resistências características de cada traço.

Destaque-se um desempenho melhor do traço 2, correspondente ao método analítico de


empacotamento, no qual a resistência foi maior, tendo-se obtido um ganho de 8,40 MPa sobre o traço
referência e de 4,40 MPa sobre o traço 1 do método de empacotamento experimental. Realce-se que a
técnica de empacotamento do método experimental também se apresentou eficiente no quesito
resistência à compressão, obtendo um ganho de resistência característica de 4,04 MPa em relação ao
traço referência.

96
Matos e Pinotti

Finalmente, saliente-se que o traço de referência apresentou a menor dispersão de resultados ou desvio
padrão, conforme pode ser verificado pela representação na Figura 4 e, como seria de esperar, um
decréscimo significante da relação água/aglomerante (traço referência, a/agl = 0,92; traço 1, a/agl =
0,68; traço 2, a/agl = 0,56) correspondeu a um acréscimo apreciável da resistência à compressão.

Figura 4. Gráfico comparativo das resistências médias de cada traço.

CONCLUSÕES

Avaliando-se todos os resultados alcançados na pesquisa, ficaram perceptíveis as influências positivas


produzidas pelo empacotamento do agregado miúdo, ou seja, ficou evidente a eficiência dos métodos
de empacotamento no aumento de desempenho do betão autocompactável.

Na determinação do consumo de água com o uso do ensaio de espalhamento, a granulometria da areia


obtida no método de Alfred, traço 2, apresentou uma melhor continuidade proporcionando uma mesma
fluidez com um consumo de água 2/3 do utilizado no traço referência. Relacionando o módulo de
finura do agregado miúdo (MF) com o desempenho destes três traços, fica evidente que não é
necessariamente a granulometria de maior ou o de menor módulo que proporcionará a melhor fluidez e
sim a que se apresenta mais contínua, como foi o caso do traço 2, que utilizava uma areia de MF
intermediário em relação aos três.

Na avaliação do betão no estado fresco, o traço referência foi o que obteve melhor desempenho pelo
fato de ter obedecido à maior quantidade de parâmetros previstos pela norma e autores, porém este
resultado foi fruto da demora na realização dos ensaios com betão dos outros traços. Na aplicação do
ensaio caixa L com as amostras dos traços 1 e 2, as misturas já tinham sido preparadas na betoneira há
um tempo muito próximo de 50 minutos, o que prejudicou a propriedade de habilidade passante,
consequência das perdas do efeito dos aditivos.

97
Influência do empacotamento do agregado miúdo nas características do betão autocompactável com baixo
consumo de cimento

Comparando os resultados obtidos pelos três traços de BAC no teste do Funil V com os resultados
aceitáveis indicados na literatura, fica perceptível um escoamento mais rápido que o limite inferior de
6,00 s. Visto que nenhuma destas misturas apresentava segregação, esta redução no tempo de
escoamento foi um ponto positivo, sendo consequência da utilização do aditivo plastificante
polifuncional juntamente com o superplastificante. Esta combinação beneficiou as características do
BAC no que tange a habilidade de preenchimento e coesão das misturas, não tendo prejuízos em
função da demora dos ensaios.

Na avaliação dos traços no estado endurecido, o traço 2 alcançou a melhor resistência com um ganho
de 8,40 MPa em comparação com o traço referência e ao traço 1 um ganho de 4,40 MPa. Este
desempenho acima dos demais foi certamente função da maior continuidade granulométrica que
proporcionou um menor consumo de água e que consequentemente elevou a resistência do betão.
Assim, o traço 2 foi o que apresentou a melhor eficiência, em geral, e isto apontou o método de Alfred
como o melhor para o aperfeiçoamento do fator de empacotamento do agregado.

REFERÊNCIAS

[1] Fochs, R. G. Estudo comparativo entre métodos de dosagem de concreto autoadensável. Porto
Alegre, PUCRS. Dissertação (Mestrado), Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
<http://tede.pucrs.br/tde_arquivos/12/TDE-2011-11-01T172930Z3501/Publico/434471.pdf>. A-
cesso dia 04/08/2012.
[2] Helene, P.; Terzian, P. Manual de dosagem e controle dos concretos de cimento Portland. São
Paulo: PINI, 1993. 350 p. ISBN 85-7266-007-0.
[3] Castro, A. L. de; Pandolfelli, V. C. Revisão: conceitos de dispersão e empacotamento de
partículas para a produção de concretos especiais aplicados na construção civil. Cerâmica, Mar
2009, vol.55, no.333, p.18-32. ISSN 0366-6913.
[4] Tutikian, B. F.; Dal Molin, D. C. Concreto Autoadensável. São Paulo: PINI, 2008. 140p.
[5] Catoia, T.; Pereira, T.A.C; Catoia, B.; Sanches Jr, J.E.R; Catai, E.; Liborio, J.B.L. Concreto auto
adensável de alta resistência mecânica e baixo consumo de cimento. Concreto e Construções. São
Paulo, ano XXXVII, n.55, jul-ago-set, 2009.
[6] NBR 5733. 1991, Cimento Portland de alta resistência inicial. Rio de Janeiro: ABNT. 5p.
[7] Gomes, P. C. C.; Barros, A. R. Métodos de dosagem de concreto autoadensável. São Paulo: PINI,
2009.
[8] NBR 15823-1. 2010, Concreto autoadensável, Parte 1 - Classificação, controle e aceitação no
estado fresco. Rio de Janeiro: ABNT. 11p.

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IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

Influência do uso de cinza volante na trabalhabilidade e


resistência à compressão e tração do
betão autocompactável

Lúcio Matos1 Fagner Carvalho2

RESUMO

O estudo experimental que se apresenta teve por objetivo primordial avaliar as propriedades do betão
autocompactável nos estados fresco e endurecido, utilizando três proporções de cimento e cinza
volante, com teores de cinza de 0%, 20% e 35% da soma dos aglomerantes – cimento e cinza volante.
Foi fixada a quantidade de areia, brita de basalto e aditivo superplastificante. A quantidade do aditivo
superplastificante foi inicialmente determinada com o auxílio do cone de Marsh e fixada para todas as
dosagens, o que resultou em cerca de 1% da quantidade total de aglomerante. A quantidade de água
em cada traço foi adotada de acordo com os resultados do ensaio do “slump flow”, para a obtenção
dum espalhamento de 600 mm, tendo havido diminuição da relação água/aglomerante, de 0,35 a 0,31,
com o acréscimo de cinza volante em substituição do cimento, de 0% a 35%, em peso. Para os ensaios
no estado fresco foram utilizados equipamentos como a caixa L e o Funil V. Para os ensaios no estado
endurecido, para cada traço, foram moldados 20 corpos de prova cilíndricos de dimensões
100mmx200mm e 1 esfera com o diâmetro de 220mm, assim, totalizando 60 corpos de prova
cilíndricos (resistência à compressão) e 3 esferas (resistência à tração por compressão punctual), que
foram levados à ruptura, aos 28 dias de idade, após passar por uma cura úmida. A adição de cinza
volante aumentou a resistência à tração até 7,8 % e diminuiu a resistência à compressão até 29,6 %.
Também, aumentou os tempos de início e fim de presa, em cerca de 1 hora para o início e 1⁄2 hora
para o fim, em relação ao traço de referência sem cinza volante.

Palavras-chave: Betão autocompactável; cinza volante; trabalhabilidade; resistência.

1. INTRODUÇÃO

A tecnologia do concreto autocompactável (BAC) não está devidamente difundida. Atualmente nas
disciplinas dos cursos de graduação brasileiros, este assunto não é tratado detalhadamente. Ainda, no
Brasil, o IBRACON (Instituto Brasileiro do Concreto) realizou pela primeira vez no ano de 2012 o

1
Universidade Regional de Blumenau-FURB, Curso de Engenharia Civil, Blumenau-SC, Brasil. luciusmats@gmail.com
2
Universidade Reg. de Blumenau-FURB, Curso de Engenharia Civil, Blumenau-SC, Brasil. faguicarvalho@hotmail.com

99
Influência do uso de cinza volante na trabalhabilidade e resistência à compressão e tração do betão
autocompactável

simpósio sobre BAC, no âmbito da 54.o Congresso Brasileiro de Concreto, em Maceió-AL, tendo sido
repetido nas edições anuais ulteriores.

Com a adição de cinza volante pode ser diminuída a quantidade de cimento. Além de melhorar a
coesão e a trabalhabilidade e diminuir a segregação, diminui o custo de produção, fator importante
para o seu uso no BAC, segundo Tutikian [1]. Sabendo que a cinza volante é um resíduo proveniente
da queima de carvão, nas usinas termoelétricas, a pesquisa procura também contribuir para a
sustentabilidade ambiental.

Assim, o objetivo geral da pesquisa que redundou no presente trabalho foi definir a dosagem do BAC
com o uso cinzas volantes, em substituição do cimento Portland, em peso, e superplastificante, visando
simultaneamente a otimização da trabalhabilidade e resistência mecânica, à compressão e tração.
Assim, este objetivo primordial foi alcançado pelo cumprimento dos objetivos específicos ou metas
subsequentes: 1) estudar diversas metodologias de dosagem do BAC com cinzas volantes e
superplastificante; 2) preparar dosagens experimentais alternativas no laboratório com a moldagem de
corpos de prova cilíndricos e esféricos; 3) testar a resistência dos corpos de prova, aos 28 dias de
idade; 4) analisar os resultados dos testes realizados.

Finalmente, ressalte-se também que o trabalho de pesquisa científica visou internamente fornecer
subsídios ao programa de extensão permanente que tem levado à participação de uma equipe do curso
de engenharia civil da FURB, desde 2007, com excelentes resultados, no concurso estudantil
CONCREBOL no âmbito do Congresso Brasileiro do Concreto.

2. MATERIAIS

Os materiais utilizados para a produção do betão autocompactável da pesquisa foram, resumidamente:


cimento Portland do tipo CP V ARI de fabricação brasileira; cinza volante resultante da queima de
carvão em usina termoelétrica; areia natural, proveniente do Rio Itajaí Açú, normalmente usada na
produção de betões convencionais na Região de Blumenau-SC; brita no. zero da fragmentação de
basalto maciço da Região do Alto Vale do Itajaí; aditivo superplastificante e água. Os subitens abaixo
fornecem a caracterização sucinta dos materiais componentes do BAC produzido.

2.1 Cimento Portland

O cimento Portland de alta resistência inicial que é conhecido pela sigla CP V ARI permite alcançar
uma resistência à compressão aos 7 dias de 34 MPa. Este cimento é muito utilizado em empresas de
pré-moldados por possibilitar uma desforma rápida. Foi escolhido por seus valores elevados de
resistência à compressão nas primeiras idades e ser encontrado facilmente no mercado local.

A norma brasileira NBR 5733/1991 [2] relativa ao cimento CPV ARI define a sua composição
conforme se mostra no Quadro 1.

Quanto às exigências físicas, ainda, segundo o que prescreve a supracitada norma o cimento CP V
ARI deve satisfazer ainda as exigências físico-mecânicas apontadas no Quadro 2. Os tempos de pega
da pasta do cimento utilizado, com uma relação água/cimento igual a 0,35, determinados pelo aparelho
de Vicat, após a verificação da consistência normal com a sonda de Tetmajer, forneceu 3h24min e
5h35min para o início e o fim de pega, respectivamente.

Quadro 1. Teores dos componentes do cimento CP V ARI.


Componentes (% em massa)
Sigla
Clínquer + gipsite Material carbonático
CP V-ARI 100 - 95 0-5

100
Matos e Carvalho

Quadro 2. Exigências físicas e mecânicas prescritas para o cimento CP V ARI.


Características e Propriedades Limites
Resíduo na peneira 75μm (%): 6
Finura
Área específica (m²/kg): 300
Tempo de início de pega (h): 1
Expansibilidade a quente (mm): 5
1 dia de idade (MPa): 14
Resistência à
3 dias de idade (MPa): 24
compressão
7 dias de idade (MPa): 34

2.2 Cinza Volante

A cinza volante CZ M 100, fornecida por uma indústria cimenteira após a devida peletização, foi a
adição mineral pozolânica para substituir parcialmente o cimento Portland, sendo essa substituição
determinada em peso. Este material possui poder aglomerante latente, quando finamente moído e na
presença de hidróxido de cálcio resultante da reação de hidratação do cimento Portland.

Para o controle da moagem da cinza volante bruta a empresa cimenteira no seu processo tradicional de
peletização adota o limite máximo de 10% retido na peneira de abertura 0,044 mm (n.o 325), sendo
mais normal a obtenção de um retido máximo de 3,6% na peneira referida, em ensaio realizado
conforme a norma brasileira NBR 9202/1985 [3].

2.3 Agregado miúdo

O agregado miúdo utilizado foi uma areia natural de mistura do Rio Itajaí-Açu, seca em estufa após a
extração; posteriormente, foi peneirada em peneirador mecânico, com separação em várias frações
granulométricas, lavada para retirada dos materiais pulverulentos e seca em estufa, novamente.
Apresentou grãos predominantemente quartzosos e esféricos.

As percentagens da areia utilizada para a produção do BAC estão representadas na Figura 1. Optou-se
por uma composição contínua da areia visando a otimização da resistência causada por um maior
imbricamento de grãos de dimensão variada, além de favorecer a repetibilidade da pesquisa em outros
centros de investigação científica, como é efetivamente desejável nestes casos. Por sua vez, na Figura
2 são apresentadas amostras das cinco faixas arenosas utilizadas para compor a areia de mistura da
produção em laboratório do betão autocompactável testado.
35 33

30
27
Percentagem Utilizada (%)

25

20
20

15
12

10 8

0
1,68 1,18 0,6 0,15 0,075

Peneiras (mm)
Figura 1. Frações granulométricas da areia preparada na pesquisa.

101
Influência do uso de cinza volante na trabalhabilidade e resistência à compressão e tração do betão
autocompactável

Figura 2. Aspecto das cinco frações da areia do betão autocompactável.

2.4 Agregado graúdo

O agregado graúdo foi obtido por fragmentação mecânica do basalto em britador de mandíbulas da
empresa mineradora fornecedora; devido ao agregado já estar seco, foi simplesmente realizado o
peneiramento com lavagem e secagem em estufa das partículas retidas na peneira 4,75 mm e passantes
(100%) na peneira 9,5 mm (Dmáx), correspondente a uma graduação de brita zero.

A escolha deste material ocorreu pela forma predominantemente esférica dos grãos, que favorece a
trabalhabilidade do betão no estado fresco, além da elevada resistência à compressão da rocha-mãe,
acima de 350 MPa, que favorece grandemente a resistência à compressão do betão produzido. Na
Figura 3 é apresentado o agregado graúdo após ter sido peneirado, lavado e seco.

Figura 3. Brita zero utilizada.

2.5 Superplastificante

O superplastificante adotado foi uma solução de policarboxilato modificado que, segundo o fabricante,
possui as características apresentadas na Quadro 3.

Quadro 3. Características do superplastificante.


Dosagem Massa
Aspecto /
Sigla Recomendações recomendada para pH específica
cor
100 kg de cimento (g/cm³)
Concreto de alto desempenho
Tec. 300 - 2000 ml líquido
e concreto autocompactável
Flow 5,5 ± 1,0 1,1 ± 0,02
Pré-moldados de concreto e 800 ml (média) castanho
8000
artefatos de cimento claro
Fonte: Rheoset, (2012)

102
Matos e Carvalho

2.6 Água

A água de amassamento foi a da rede pública, submetida a um processo de destilação no próprio


laboratório.

3. MÉTODOS

3.1 Dosagem do BAC

A metodologia de dosagem do BAC teve como base o método proposto por Tutikian [4]. Os três
traços analisados observaram uma relação constante aglomerante/agregado, em peso, de 1/4,5. A
quantidade de superplastificante manteve-se constante e igual a 1% do peso de aglomerantes –
cimento e cinza volante. A relação a/c (água/cimento) aumentou de 0,35 para 0,41 e 0,48, com a
sucessiva substituição de cimento por cinza volante, embora a relação total a/agl (água/aglomerante)
apresentou tendência a decrescer. Os valores das dosagens estão resumidos no Quadro 4, a seguir.

Quadro 4. Traços estudados.


Cimento Cinza Volante Areia Brita SP
Traço nº a/agl a/c
(kg/m³) (kg/m³) (kg/m³) (kg/m³) (kg/m³)
1 421,03 0 806,39 1088,39 0,35 0,35 4,20
2 336,96 84,24 806,39 1088,39 0,33 0,41 4,20
3 273,6 147,36 806,39 1088,39 0,31 0,48 4,20

3.2 Avaliações no estado fresco

Para acertar o conteúdo de superplastificante foi usado o cone de Marsh e a verificação da


trabalhabilidade do betão no estado fresco foi feita com os ensaios da caixa L , funil V e “slump
flow”, sendo este último determinante para a definição da relação água/aglomerantes, tendo por
referência o alcance dum espalhamento de 600 mm.

O cone de Marsh serviu para avaliar a fluidez da pasta de aglomerante através do orifício inferior de
8,3 mm de diâmetro, medindo-se o tempo em segundos do escoamento de 500 ml, sendo utilizado uma
amostra total de 1000 ml. Assim, por meio deste ensaio ajustou-se a percentagem de
superplastificante, em relação aos aglomerantes. Na Figura 4 é apresentado o cone de Marsh utilizado.

Figura 4. Cone de Marsh (dimensões em mm).

103
Influência do uso de cinza volante na trabalhabilidade e resistência à compressão e tração do betão
autocompactável

A caixa L serve para avaliar a passagem do betão em fluxo confinado e por obstáculos, sem haver
segregação e mantendo as propriedades exigidas para um betão autocompactável. É preenchida a parte
vertical da caixa, depois é aberta a comporta inferior e medido o tempo que o betão demora para
atingir as marcas de 200 mm e 400 mm. No fim do escoamento são medidas as alturas H1 (junto à
comporta), H2 (na extremidade do canal horizontal) e calculada a relação H2/H1, que deve ser entre
0,8 e 1,0. Na Figura 5 é apresentada a caixa L usada na presente pesquisa.

Figura 5. Caixa L (dimensões em mm).

O teste do funil V avalia essencialmente a viscosidade do betão autocompactável, através do tempo de


escoamento do concreto pelo funil. O funil V deve estar fixo, antes de ser lançado o betão na abertura
superior sem vibração. O tempo é medido em segundos a partir da abertura da porta inferior até o
escoamento total. Na Figura 6 se ilustra o funil usado.

Figura 6. Funil V (dimensões em mm).

O ensaio do slump flow modificado avalia a segregação e o espalhamento do betão; para a sua
realização é necessário uma base fixa e nivelada, um tronco de cone de Abrams e uma trena para
medir os diâmetros perpendiculares formados pelo betão. Com o tronco de cone posicionado no centro
da base, é lançado o material sem nenhum tipo de vibração, após o lançamento o tronco de cone é
levantado e feitas as medidas do diâmetro formado pelo betão espalhado, a média dos diâmetros será o
slump flow. Na presente pesquisa foi utilizado o espalhamento aproximado de 600 mm como
referência para a definição quantitativa da água de amassamento.

3.3 Avaliações no estado endurecido

Para cada um dos três traços foram moldado 20 corpos de prova cilíndricos com dimensões de 100
mm de diâmetro e 200 mm de altura e 1 esférico com diâmetro de 220 mm, portanto, totalizando 60
corpos de prova cilíndricos e 3 esféricos, para avaliação da resistência. Obviamente, os corpos de
prova foram moldados sem o uso de qualquer vibração por se tratar de betão autocompactável.

104
Matos e Carvalho

Depois de moldados, os corpos de prova cilíndricos foram submetidos a cura úmida por submersão,
até atingirem a idade de ruptura aos 28 dias para determinação da resistência à compressão. Os corpos
de prova esféricos romperam por tração diametral e tiveram cura úmida em câmara de vapor.

Na Figura 7 está ilustrado o ensaio de compressão nos dois tipos de corpos de prova.

Figura 7. Corpos de prova cilíndrico e esférico na prensa para teste de compressão.

Para o cálculo do desvio padrão (Sd), resistência característica à compressão (fck) e resistência à tração
(ft) foram utilizadas as Eqs. 1, 2 e 3, a seguir:
Sd = [(∑120 fci2 – 20fcm2)/19]½ (1)
fck = fcm – 1,65Sd (2)
ft = 2F/4πr2 (3)
, onde:
fci = resistência à compressão de cada corpo de prova cilíndrico, aos 28 dias (MPa);
fcm = resistência média à compressão dos vinte corpos de prova cilíndricos (MPa);
F = carga pontual de ruptura da esfera (N);
R = diâmetro da esfera (mm).

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 Teste do cone de Marsh

Na Figura 8 são apresentados os resultados médios dos testes do cone de Marsh, havendo a destacar
que para cada dosagem de superplastificante foram realizados dois testes. Nota-se que o melhor
escoamento da pasta de cimento foi alcançado com uma percentagem de superplastificante igual a 1%
do aglomerante, o que resultou em 175 g do aditivo superplastificante em todos os traços estudados.

Figura 8. Representação da determinação da percentagem ideal de superplastificante.

105
Influência do uso de cinza volante na trabalhabilidade e resistência à compressão e tração do betão
autocompactável

4.2 Determinação dos tempos de pega

Os testes para determinação dos tempos de pega das pastas de aglomerante com o aparelho de Vicat
conduziram aos resultados resumidos no Quadro 5.

Quadro 5. Tempos de pega.


Quantidade de Quant. Início de Fim de
Quantidade de
Traço cimento Água pega pega
cinza volante (g)
(g) (ml) (h:min) (h:min)
1 500 0 175 03:24 05:35
2 400 100 175 04:12 06:00
3 325 175 170 04:58 06:24

Pelo exame do Quadro 5, conclui-se facilmente que o uso de cinza volante tende a retardar os tempos
de pega e a um menor uso de água para se obter uma pasta de consistência normal.

4.3 Avaliação das propriedades no estado fresco

No Quadro 6 estão resumidos os resultados obtidos com o traço 1, que foi considerado o traço
referência, ou seja, sem a utilização de cinza volante.

Quadro 6. Resultados no estado fresco para o traço 1.


Propriedade Avaliada Ensaio Realizado Parâmetros Resultados
Diâmetro 1 590 mm
Slump flow 602 mm
Fluidez Diâmetro 2 615 mm
Funil V Tempo 8,93 s
Tempo (L20) 1,58 s
Habilidade passante e
Caixa L Tempo (L40) 3,51 s
coesão
H2/H1 0,49

Os resultados do Quadro 6 permitem concluir que o espalhamento fixado de 600 mm para todos os
traços foi atingido com uma relação água/aglomerante de 0,35, o que ficou dentro da proposta inicial
de 0,20 a 0,47. O slump flow segundo a NBR 15823-1/2010 [5], se enquadrou na classe SF 1 (550 a
650 mm), adequado a betão autocompactável bombeado. O tempo do Funil V foi adequado segundo a
mesma norma, classificando a fluidez do betão como VF 1 (< 9 segundos), própria para estruturas com
alta densidade de armadura. Para o ensaio da caixa L os tempos para atingir as marcas de 20 e 40 cm
estão adequados segundo vários pesquisadores, porém a relação H2/H1 não teve um desempenho
apropriado segundo a NBR 15823-1/2010 [5] que estabelece uma relação de 0,8 a 1,0. Certamente,
isto foi provocado pelo tempo de funcionamento do aditivo superplastificante que tem como limite 50
minutos e o ensaio provavelmente se aproximou muito deste tempo limite. Para melhorar este
resultado é conveniente estudar o uso de um retardador de pega, para que o betão seja ensaiado e
aplicado sem a ocorrência de defeitos na obra.

Os resultados obtidos para o traço 2 no estado fresco estão expostos no Quadro 7.

Quadro 7. Resultados no estado fresco para o traço 2.


Propriedade Avaliada Ensaio Realizado Parâmetros Resultados
Diâmetro 1 600 mm
Slump flow 597 mm
Fluidez Diâmetro 2 595 mm
Funil V Tempo 12,35 s
Tempo (L20) 1,65 s
Habilidade passante e Tempo (L40) 4,36 s
Caixa L
Coesão
H2/H1 0,35

106
Matos e Carvalho

O slump flow para o traço 2 corresponde ainda à classe SF 1 (550 a 650 mm), mas com menor relação
água/aglomerante (0,33), portanto, com um ganho de trabalhabilidade e sem segregação. O tempo do
funil V foi classificado VF 2 (9 a 25 segundos), adequada para a maioria das aplicações. Este betão em
relação ao traço de referência teve uma melhor classificação no ensaio do Funil V, a utilização de água
foi menor para um mesmo espalhamento e os parâmetros da caixa L foram similares.

Os resultados obtidos com o traço 3, com 0.65 de cimento e 0.35 de cinza volante, estão mostrados no
Quadro 8, que foram os mais satisfatórios em termos de trabalhabilidade do betão. A leitura atenta dos
resultados permite concluir que este traço, em relação aos anteriores, teve o melhor desempenho por
atender as instruções normativas do ensaio da caixa L, o ensaio do funil V está na mesma classificação
do traço 2. Também, foi adotado o menor consumo de água, devido ao maior conteúdo de cinza
volante.

Quadro 8. Resultados no estado fresco para o traço 3.


Propriedade Avaliada Ensaio Realizado Parâmetros Resultados
Diâmetro 1 600 mm
Slump flow 600 mm
Fluidez Diâmetro 2 600 mm
Funil V Tempo 15,71
Tempo (L20) 1,80 s
Habilidade passante e
Caixa L Tempo (L40) 4,56 s
Coesão
H2/H1 0,86

4.4 Avaliação da resistência

Na Figura 9 estão representadas a resistência média (fcm), resistência característica (fck) e desvio
padrão (Sd) para cada teor de cinza. Na Figura 10 é ilustrada a variação da resistência à tração.

Figura 9. Variação da resistências média fcm, com o desvio padrão Sd, e característica fck.

Figura 10. Representação da variação da resistência à tração ft.

107
Influência do uso de cinza volante na trabalhabilidade e resistência à compressão e tração do betão
autocompactável

Os resultados das resistências à compressão obtidos com os traços 1, 2 e 3 foram satisfatórios, pois
superaram as resistências alcançadas por Tutikian [4], que eram de 35,5 MPa, 26,2 MPa e 26,2 MPa,
respectivamente, nos mesmos teores de aglomerante. O ganho de resistência à tração se apresentou
maior para um teor médio de cinza volante até 20%, em peso, e variou entre 4,47 e 9,75 % entre os
três traços ensaiados. Os valores da resistência à tração ficaram próximos dos obtidos por Lisboa [6],
que variaram de 2,73 a 3,04 MPa com a inclusão de resíduos de mármore e granito.

CONCLUSÕES

A adição pozolânica de cinza volante proveniente da queima do carvão mineral em usina termoelétrica
induz a um ganho considerável na trabalhabilidade do betão atingindo os parâmetros normativos. A
cinza volante também influenciou positivamente no ganho de resistência a tração em 7,8% , mas levou
a uma perda de resistência à compressão em 29,6%, relativamente ao traço de referência só com
cimento Portland.

Como era esperado, os tempos de início e fim de pega foram retardados com a adição crescente de
cinza volante em cerca de 1 hora para o início e 1⁄2 hora para o fim, em relação ao traço de referência
sem cinza volante.

Uma das medidas a ser melhorada seria a inserção de um aditivo retardador de pega, para que os
ensaios no estado fresco sejam realizados sem comprometer seus resultados por perda de eficácia do
superplastificante. Também, seria útil fixar um valor do slump flow superior a 700 mm com o intuito
de desenvolver um betão autocompactável que possa ser totalmente autonivelante, propiciando uma
condição de laje ou piso zero.

AGRADECIMENTOS

Manifesta-se aqui o agradecimento à empresa Pozolana Indústria e Comércio Ltda., mais conhecida
como Cimento Pozosul, pelo apoio na obtenção e peletização da cinza volante utilizada na pesquisa.

REFERÊNCIAS

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concretos auto-adensáveis. 2007. 162 p. Tese (Doutorado) – PPGEC/UFRGS, Porto Alegre.
Disponível em < http://www.cimentoitambe.com.br/massa-cinzenta15072010/wp-
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2013.
[2] NBR 5733. (1991). Cimento Portland de alta resistência inicial. Rio de Janeiro: ABNT. 5p.
[3] NBR 9202. (1985). Cimento Portland e outros materiais em pó - Determinação da finura por meio
da peneira 0,044 mm (n° 325) - Método de ensaio. Rio de Janeiro: ABNT. 4p.
[4] Tutikian, Bernardo Fonseca (2013). Método para dosagem de concretos auto-adensáveis. 2004.
149 p. Dissertação (Mestrado) – PPGEC/UFRGS, Porto Alegre. Disponível em
<http://www.lume. ufrgs.br/bitstream/handle/10183/3918/000450678.pdf?sequence=1>. Acesso
em 5 de mar. 2013.
[5] NBR 15823-1. (2010). Concreto auto-adensável, Parte 1 - Classificação, controle e aceitação no
estado fresco. Rio de Janeiro: ABNT. 11p.
[6] Lisboa, Edvaldo Monteiro (1013). Obtenção do concreto auto-adensável utilizando resíduo do
beneficiamento do mármore e granito e estudo de propriedades mecânicas. 2004. 121p.
Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Alagoas, Maceió. Disponível
em:<http://bdtd.ufal.br/tde_arquivos/2/TDE-2006-08-03T155054Z- 13/Publico/ EdvaldoMonteiro
Lisboa_Capa_Cap2.pdf>. Acesso em 8 Mar. de 2013.

108
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

Utilização de pozolana obtida a partir de resíduo de cerâmica


vermelha na composição do concreto autoadensável

Rafael Santos1 Alessandra Castro2 Mônica Barbosa3

RESUMO

Verifica-se, nos últimos anos, um crescimento da utilização de adições minerais na produção de


cimento Portland e de concretos com o intuito de melhorar as propriedades físicas, mecânicas e de
durabilidade desses materiais. Esse crescimento se deve também a fatores econômicos e ambientais,
visto que essas adições são geralmente resíduos ou subprodutos industriais que precisam ser
descartados, e que a produção de cimento Portland consome uma grande quantidade de recursos
naturais e gera gases poluentes. Do ponto de vista tecnológico, as adições minerais têm demonstrado
um bom desempenho quando adicionadas aos concretos, melhorando sua durabilidade, uma vez que as
adições interagem química e fisicamente com os produtos de hidratação do cimento, modificando a
microestrutura do material. Considerando que a indústria de cerâmica vermelha do Brasil gera uma
elevada quantidade de resíduos oriundos do processo de produção que não podem ser reprocessados,
existe um passivo ambiental e um custo elevado relacionado a esses resíduos. Como forma de diminuir
estes impactos, o aproveitamento desses resíduos na forma de adição mineral para a produção de
cimento e concreto tem sido considerado em diversas pesquisas. Desta forma, este trabalho apresenta
um estudo de utilização de resíduos de cerâmica vermelha na forma de adição mineral para a produção
de concretos autoadensáveis (CAA), sendo considerada tanto na produção de cimentos compostos
quanto como adição ao concreto para a obtenção das propriedades específicas do CAA. Os concretos
foram dosados a partir do método proposto por Gomes e submetidos aos ensaios no estado fresco para
medir os parâmetros de autoadensabilidade, de acordo com a NBR 15823:2010. Também foram
realizados ensaios físicos e mecânicos para a determinação do índice de vazios, absorção de água,
massa específica e resistência à compressão. Os resultados demonstram que o material possui um
elevado potencial para utilização na produção de CAA, tanto em relação ao desempenho técnico,
quanto aos fatores econômicos e ambientais.

Palavras-chave: resíduo; adição mineral; concreto autoadensável; resistência à compressão.

1
Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo, São Paulo, Brasil. rafaelfc@ipt.br
2
Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo, São Paulo, Brasil. alcastro@ipt.br
3
Pontífica Universidade Católica de Campinas, São Paulo, Brasil. monica.barbosa@puc-campinas.edu.br

109
Utilização de pozolana obtida a partir de resíduo de cerâmica vermelha na composição do concreto
autoadensável

1. INTRODUÇÃO

No atual cenário global de sustentabilidade, a construção civil tem uma elevada importância quanto ao
seu potencial em reduzir a quantidade de extração de recursos naturais, assim como a quantidade de
resíduos e gases poluentes gerados. Dentre os segmentos da construção civil, a indústria do concreto
apresenta impactos ambientais negativos e positivos. Por um lado, é uma indústria que produz cerca
de 33 bilhões de toneladas de concreto / ano (dados de 2010), o que consome 3,7 bilhões de toneladas
de clínquer de cimento Portland e 27 bilhões de toneladas de agregados, sendo que apenas para a
produção de 1 tonelada de cimento Portland, além de consumir grande quantidade de energia
(4 GJ/tonelada), libera cerca de 1 tonelada de CO2, aproximadamente 7% do total de emissões de CO2
no mundo. Por outro lado, a indústria de concreto utiliza resíduos e subprodutos industriais como
material cimentício suplementar que, ao invés de serem dispostos em aterros ou lagoas, permanecem
combinados aos produtos de hidratação do cimento Portland. Essa prática é chamada de ecologia
industrial, que recicla os resíduos de uma indústria como matérias-primas virgens de outra indústria,
reduzindo, assim, o impacto ambiental de ambas as indústrias [1].

A incorporação de adições minerais ao cimento e ao concreto é feita em quantidades que variam entre
20% e 70% por massa de material cimentício, reagindo química e fisicamente com os produtos de
hidratação do cimento, modificando a microestrutura do material. O efeito químico está associado à
reação pozolânica, ou seja, a reação da adição mineral com o hidróxido de cálcio formado durante a
hidratação do cimento, formando silicato de cálcio hidratado adicional. Fisicamente os efeitos gerados
consistem no efeito microfiler, resultante do aumento da densidade da mistura pelo preenchimento de
espaços vazios pelas partículas das adições; refinamento de poros, causados pelas pequenas partículas
das adições que podem agir como pontos de nucleação para os produtos de hidratação; e alteração da
microestrutura da zona de transição entre a pasta e o agregado, reduzindo ou eliminando o acúmulo de
água livre que fica retido sob os agregados, bem como preenchendo os espaços vazios deixados pelas
partículas de cimento próximas à superfície do agregado e reduzindo a concentração de hidróxido de
cálcio na região devido à reacção pozolânica [2].

Neste contexto situa-se a incorporação da pozolana obtida a partir de resíduos de cerâmica vermelha
que, combinada em proporções adequadas com o cimento de alta resistência inicial disponível no
mercado, resulta na produção de cimento composto com pozolana (CPII Z) e cimento pozolânico
(CPIV). Além disso, a pozolana obtida pode ser utilizada como adição mineral, incorporada em
substituição do cimento, na produção de concretos aplicados na construção civil, a fim de conferir
propriedades específicas para esses materiais, especialmente em termos de resistência mecânica e
durabilidade.

A aplicação de resíduos de cerâmica vermelha como adição mineral para a produção de cimento e
concreto foi considerada em função da composição química do material ser compatível com a
composição química de outros materiais utilizados para essa finalidade. A cerâmica vermelha é
composta basicamente por argilas e quartzo, que após a queima, passa a ser composta basicamente por
argilominerais, com presença de pouca fase vítrea decorrente da baixa temperatura de queima (800ºC
a 950ºC).

Como as propriedades fundamentais do concreto autoadensável (CAA) dependem de elevada fluidez


combinada com elevada coesão da mistura, na sua composição é importante considerar a utilização de
materiais finos, assim como agregados com dimensões inferiores a 12,5mm e com distribuição
granulométrica contínua, obtendo-se uma mistura fluida, coesa e com microestrutura mais compacta,
que resulta em elevado desempenho na aplicação, principalmente em termos de resistência mecânica e
durabilidade. Assim, neste trabalho, a pozolana obtida a partir do resíduo de cerâmica vermelha foi
utilizada para a produção de concreto autoadensável (CAA), sendo considerada tanto na produção do
cimento composto quanto como adição ao concreto.

110
Santos, Castro e Barbosa

2. MATERIAIS E METODOLOGIA
2.1 Obtenção da pozolana a partir de resíduo de cerâmica vermelha
O resíduo de cerâmica vermelha, coletado em cacos, foi moído em laboratório considerando duas fases
de moagem para a produção da pozolana: inicialmente até totalmente passante na peneira de abertura
de 0,85 mm (20 Mesh); e depois até totalmente passante na peneira de abertura de 0,075 mm (200
Mesh).
Na primeira fase da moagem todo o material coletado foi britado por meio de um britador de
mandíbula com capacidade para quebra dos cacos em frações com até 2 cm de diâmetro. Em seguida,
o material foi seco em estufa até obtenção de massa constante. Na sequência, o material pré-moído e
seco foi britado por meio de outro britador de mandíbula com abertura menor. O material obtido, até
totalmente passante na peneira de abertura de 0,85 mm (20 Mesh), foi quarteado e colocado em
tambor para homogeneização por rolagem.
A segunda fase da britagem dos cacos cerâmicos consistiu na obtenção de material até totalmente
passante na peneira de abertura de 0,075 mm (200 Mesh). Esta fase da britagem, destinada à produção
da pozolana, foi realizada utilizando-se um moinho de bolas. Para evitar a aglomeração das partículas
do material, em função do seu pequeno diâmetro, foi utilizado um aditivo de moagem de cimento que
atua nas cargas de superfície das partículas.
O processo de moagem foi realizado ininterruptamente durante 2 horas e, ao término desse período,
foram retiradas alíquotas da amostra para peneiramento em peneira com abertura de 0,075 mm (200
Mesh), realizado a seco com o auxílio de uma trincha. O término do processo se deu quando a
porcentagem de material retido na peneira com abertura de 0,075 mm foi inferior a 3% da massa
inicial. O material obtido ao final deste processo de peneiramento foi avaliado e utilizado como adição
mineral para a produção dos cimentos compostos.
O processo adotado na produção da pozolana obtida a partir de resíduos de cerâmica vermelha é
resumido e ilustrado na Figura 1.

Figura 1. Primeira fase da moagem dos cacos cerâmicos – Material até totalmente passante na peneira de
abertura de 0,85 mm (20 Mesh): (a) alimentação do britador de mandíbula utilizado na primeira moagem; (b)
material coletado após a primeira moagem; (c) britador de mandíbula com abertura menor; (d) material
resultante das sucessivas moagens; (e) homogeneização do material britado; e (f) quarteamento do material
produzido. Segunda parte da moagem – Material até totalmente passante na peneira de abertura de 0,075 mm
(200 Mesh): (g) moagem do material cerâmico em moinho de bolas durante 2 horas; e (h) peneiramento do
material moído para atendimento à especificação.

A pozolana obtida foi caracterizada por meio de ensaios químicos, físicos e mecânicos, sendo suas
características apresentadas nos Quadros 1 e 2. Verifica-se que o processo de moagem adotado para a
obtenção de pozolana, com vista à sua utilização como adição mineral para produção de cimento e/ou

111
Utilização de pozolana obtida a partir de resíduo de cerâmica vermelha na composição do concreto
autoadensável

concreto, permitiu a obtenção de um material com propriedades químicas, físicas e mecânicas que o
caracterizou como um material pozolânico e, assim, podendo ser utilizado para esta finalidade.

Quadro 1. Resultados da análise química do material pozolânico obtido a partir do resíduo de cerâmica
vermelha.
Limites especificados na
Determinações Resultados, em %
NBR 12653:2012 [X]
Anidrido silícico (SiO2) ----- 60,4
Óxido de alumínio (Al2O3) ----- 21,8
Óxido férrico (Fe2O3) ----- 8,17
Óxido de cálcio (CaO) ----- 0,29
Óxido de magnésio (MgO) ----- 0,29
Óxido de sódio (Na2O) ----- 0,14
Óxido de potássio (K2O) ----- 1,60
Óxido de manganês (Mn2O3) ----- 0,08
Óxido de titânio (TiO2) ----- 1,88
SiO2 + Al2O3 + Fe2O3  70% 90,4
Anidrido sulfúrico (SO3) ≤ 4% < 0,10
Perda ao fogo ≤ 10% 2,37
Equivalente alcalino em Na2O ----- 1,19
Álcalis disponíveis em Na2O ≤ 1,5% -----

Quadro 2. Resultados dos ensaios físicos e mecânicos do material pozolânico obtido a partir do resíduo de
cerâmica vermelha.
Massa específica (g/cm³) Área superficial específica (cm²/g)
2,70 12.750
Índice de atividade pozolânica com cal
Resistência à compressão (MPa) Desvio relativo Limites especificados na
CP 01 CP02 CP 03 Média máximo (%) NBR 12653:2012

6,8 7,4 7,4 7,2 5,6 6 MPa

2.2 Produção do cimento composto com pozolana

Para a produção do cimento composto com pozolana (CPII Z) no laboratório, a pozolana obtida a
partir do resíduo de cerâmica vermelha foi combinada com o cimento Portland de alta resistência
inicial (CPV ARI), disponível no mercado, utilizando a proporção de 12% de pozolana e 88% de CPV
ARI, em massa. A fim de obter uma mistura homogênea entre os materiais, a pozolana e o CPV ARI
foram misturados a seco em um homogeneizador em Y durante 20 min, conforme apresentado na
Figura 2.

Figura 2. Produção do cimento composto em laboratório: (a) homogeneizador em Y utilizado na


mistura dos materiais; (b) materiais antes da homogeneização.

112
Santos, Castro e Barbosa

2.3 Produção do concreto autoadensável

Para a produção do concreto autoadensável (CAA), além da pozolana obtida a partir do resíduo de
cerâmica vermelha, foram selecionados um cimento Portland composto com pozolana (CP II Z 32)
disponível no mercado brasileiro, areia fina e areia média provenientes de cava de rio, brita 0, aditivo
superplastificante (AdvaCast® 585) e água fornecida pela rede de distribuição local. As propriedades
físicas e mecânicas dos cimentos utilizados são apresentadas no Quadro 3.

Quadro 3. Resultados dos ensaios físico-mecânicos - cimento Portland.

Resultados
Determinação
CP II Z 32 CP II Z
comercial Laboratório
Água para pasta normal (NBR-NM-43/03) (%) 25,5 32,7
Início de pega (NBR-NM-65/03) (h:min) 05:15 03:05
Fim de pega (NBR-NM-65/03) (h:min) 06:15 04:30
Expansibilidade (NBR-11582/91) - Frio (mm) 0,5 1,0
Expansibilidade (NBR-11582/91) - Quente (5h) (mm) 0,5 0,0

Massa específica (NBR-NM-23/01) (g/cm3) 3,02 3,02


Finura - Método de Blaine (NBR-NM-76/98) (cm2/g) 4130 6080

Resistência à compressão (NBR 7215:1996)


Média de 4 corpos de prova
3 dias (MPa) 22,4 29,4
7 dias (MPa) 26,5 38,3
28 dias (MPa) 35,1 47,6

Foram produzidas duas misturas de CAA de mesmo traço, alterando apenas o cimento utilizado, sendo
uma mistura de referência (CAA REF) produzida com o CP II Z 32 disponível comercialmente e outra
com o cimento composto produzido no laboratório (CAA Z). O método de dosagem adotado para o
desenvolvimento dos concretos é o proposto por Gomes (2002) [3] que apresenta um procedimento
experimental para a obtenção de traços de CAA de alta resistência, considerando a otimização da
composição da pasta e do esqueleto granular separadamente. A composição final do CAA é obtida
buscando-se o teor de pasta necessário para que o concreto apresente os parâmetros de fluidez e
viscosidade pré-estabelecidos. Assim, o método é executado em três fases: obtenção da composição da
pasta, determinação da proporção da mistura dos agregados e determinação do teor mínimo de pasta.

A primeira fase, que consiste na otimização da composição da pasta, abrange a determinação dos
teores ótimos de aditivo superplastificante e materiais finos. Esta fase é determinada em duas etapas: a
primeira consiste na dosagem de superplastificante (Sp/c) para vários teores de materiais finos/cimento
(f/c) por meio do ensaio do funil de Marsh, em que é medido o tempo de escoamento de um
determinado volume de pasta pela abertura do funil; e a segunda na determinação da relação de
materiais finos/cimento (f/c) ótima, considerando o teor de superplastificante definido previamente,
por meio do ensaio de miniabatimento (ensaio de Kantro), em que é medido o tempo e o diâmetro de
espalhamento final da pasta. A pasta com relação f/c adequada é a que apresenta um diâmetro com
extensão final de (180 ± 10) mm, obtido no intervalo de tempo para alcançar a marca de 115 mm entre
2 e 3,5 segundos. Os ensaios nas pastas permitem obter as respectivas relações de Sp/c e f/c que geram
pastas para atendimento ao concreto autoadensável com elevada fluidez, sem segregação e moderada
coesão.

113
Utilização de pozolana obtida a partir de resíduo de cerâmica vermelha na composição do concreto
autoadensável

O esqueleto granular, definido como a composição de agregados miúdos e graúdos que constituem o
concreto, é obtido considerando-se a densidade da mistura de agregados com menor teor de vazios,
apresentando, consequentemente, uma composição que necessita de um mínimo volume de pasta para
assegurar a viscosidade e fluidez necessárias. Este fator é fundamental para a escolha do método a ser
aplicado nesta pesquisa, na qual se faz necessário um concreto compacto, porém com viscosidade e
fluidez adequadas para CAA. Esta etapa é realizada a partir da determinação da massa unitária de
agregados na forma compactada (ABNT, 2006) ABNT NBR NM 45:2006, variando as proporções de
mistura de agregado miúdo/graúdo.

Uma vez determinadas a composição da pasta e a relação entre os agregados (esqueleto granular), o
último parâmetro necessário para definir a composição do CAA é o volume de pasta, que é
determinado teoricamente como o teor de vazios encontrado entre os agregados, mais um incremento
que causa a dispersão destes [4]. Os ensaios realizados para a determinação do volume de pasta a fim
de atender e garantir o preenchimento, a fluidez e a estabilidade da mistura são os de espalhamento
pelo cone de Abrams e anel J, Caixa-L, Funil V e a coluna de segregação.

Levando-se em consideração a aplicação do concreto em elementos estruturais densamente armados, o


CAA produzido deve apresentar os seguintes requisitos no estado fresco, definidos de acordo as
recomendações da NBR 15823-1:2010 (ABNT, 2010):
 classe de espalhamento SF2, com valor de espalhamento variando entre 660 mm e 750 mm;
 classe de viscosidade plástica aparente VS2, com tempo de escoamento t500 superior a
2 segundos, e classe VF1, com tempo de escoamento medido no funil-V menor que 9
segundos;
 classe de habilidade passante PL1, com a diferença entre os diâmetros de espalhamento
obtidos sem e com o anel-J variando entre 25 mm e 50 mm, e classe PJ1, com razão de
bloqueio medida com o auxílio da caixa-L igual ou maior que 0,80;
 classe de resistência à segregação SR2, com resistência à segregação menor ou igual a 15%
medida na coluna de segregação.

3. RESULTADOS

3.1 Definição dos traços de concreto autoadensável

3.1.1 Composição da pasta


Foi fixada a relação água/cimento de 0,45 para as duas misturas de concreto. A partir dessa
informação, determinou-se o ponto de saturação do aditivo superplastificante (teor ótimo) para cada
tipo de cimento, variando o teor de adição de pozolana de 0 a 50% em relação à massa de cimento.
Para cada composição da pasta determinou-se um teor ótimo de aditivo, medindo o tempo do
escoamento de um determinado volume de pasta através do funil de Marsh, realizado de acordo com o
método proposto pela (ABNT, 2013) ABNT NBR 7682:2013, conforme ilustrado na Figura 3.

Figura 3. Ensaio de índice de fluidez em pastas de cimento, para


determinação do teor ótimo de aditivo superplastificante.

114
Santos, Castro e Barbosa

O ponto de saturação do aditivo superplastificante foi determinado para cada combinação de cimento-
pozolana adotando-se o método AFREM desenvolvido por De Larrard et al. (1997) [5]. Neste método,
o ponto de saturação do aditivo é considerado como o teor de aditivo em que uma reta com inclinação
de 2:5 tangencia a curva “logaritmo do tempo de escoamento versus teor de aditivo” (Fig. 4). De
acordo com os autores, a escolha da inclinação 2:5 é arbitrária, tendo sido adotada em função das
proporções adequadas obtidas a partir da mesma.
log T

Curva log T versus teor de SP

Reta com inclinação 2:5

Ponto de saturação Teor de SP (%)

Figura 4. Determinação do ponto de saturação do aditivo superplastificante pelo método AFREM desenvolvido
por De Larrard et al. (1997)[5].

Após a determinação do teor ótimo de aditivo superplastificante para cada composição de pasta de
cimento/pozolana, foi realizado o ensaio de miniabatimento de tronco de cone em cada pasta
adotando-se o método desenvolvido por KANTRO (1980) [6]. (Fig. 5). Este ensaio consistiu na
determinação da combinação ideal de cimento/pozolana da pasta, considerando como parâmetros o
espalhamento da pasta (diâmetro da pasta espalhada) e o tempo de espalhamento para a pasta atingir o
diâmetro de 115 mm, fixados em (180 ± 10) mm e (3 ± 1) s, respectivamente. De acordo com Gomes
(2002), pastas com estas características, obtidas a partir do ensaio de miniabatimento, resultam em
misturas de concreto auto-adensável com alta capacidade de escoamento e boa coesão.

Figura 5. Ensaio de mini-abatimento de tronco cone em pastas de cimento.

Após a realização desta etapa, determinou-se que, para a pasta de cimento utilizando o CP II 32
comercial, o teor ótimo de aditivo superplastificante foi de 0,28% em relação à massa de cimento e,
para esta pasta a porcentagem ideal de adição de pozolana foi de 20%. Para a pasta produzida
utilizando o cimento produzido no laboratório foi considerado o mesmo teor de adição da mistura de
referência, produzida com o cimento comercial (20% de pozolana), resultando em um teor ótimo de
aditivo superplastificante de 0,62% em relação à massa de cimento.

3.1.2 Composição do esqueleto granular


A composição ideal entre os agregados foi determinada por meio do método de ensaio de massa
unitária no estado compactado considerando diferentes combinações de agregados (diferentes
proporções entre os agregados miúdo e graúdo), sendo considerada como ideal a composição que
apresentar maior massa unitária e, consequentemente, menor índice de vazios.

115
Utilização de pozolana obtida a partir de resíduo de cerâmica vermelha na composição do concreto
autoadensável

A composição ideal para o agregado miúdo foi realizada considerando a combinação de areia fina
(areia rosa) e areia média, enquanto que apenas a brita 0 compunha o agregado graúdo. Para as
determinações realizadas para os agregados miúdos, verificou-se que a composição ideal é aquela
composta de 40% de areia fina e 60% de areia média. Por fim, a composição ideal do esqueleto
granular, adotada para a produção das misturas de concreto autoadensável, foi de 40% de agregado
miúdo e 60% de agregado graúdo.

3.1.3 Determinação do volume de pasta para os concretos autoadensáveis


Concluídas as etapas da composição da pasta (cimento + pozolana + aditivo superplastificante) e da
composição do esqueleto granular (agregados miúdo e graúdo), iniciou-se a última etapa para a
obtenção do CAA, na qual se determina o volume mínimo de pasta capaz de envolver e dar à mistura
as características reológicas necessárias à mistura.

Para a produção das misturas de CAA, considerou-se a utilização dos agregados na condição saturada
superfície seca e, dessa maneira, a quantidade de água necessária para sua saturação foi adicionada
com base nos respectivos coeficientes de absorção. Assim, a composição das misturas por m³ de
concreto foi obtida considerando-se a hipótese de que o teor de ar da pasta fosse mantido no concreto
e, então, que o volume de concreto seria dado pela somatória dos volumes de pasta, agregado miúdo e
agregado graúdo (GOMES, 2002).

O desenvolvimento do CAA iniciou variando o volume de pasta da mistura entre 38% e 42%, sendo
determinadas as propriedades de autoadensabilidade para cada mistura, a fim de obter o concreto com
as propriedades pré-estabelecidas com a menor quantidade de pasta possível.

Para os teores de pasta avaliados, o teor que se mostrou mais adequado para a produção do concreto
foi de 40%, uma vez que o concreto produzido com essa composição apresentou as propriedades de
autoadensabilidade pré-estabelecidas para as duas misturas (CAA REF e CAA Z), conforme mostrado
na Figura 6 e Quadro 4.

Para o CAA REF, o ponto de saturação do aditivo de 0,28%, obtido na etapa de determinação da
composição da pasta, foi o teor ideal para que o CAA obtivesse fluidez adequada, sem apresentar
exsudação e segregação do material. Já para o CAA Z, o ponto de saturação do aditivo de 0,62%,
determinado pelo funil de Marsh, resultou em um espalhamento superior à faixa pré-estabelecida,
sendo verificada exsudação na superfície do concreto. Sendo assim, o teor ideal de aditivo para a
produção do concreto com cimento produzido no laboratório (CAA Z) foi ajustado no momento da
produção do concreto, resultando em um teor de 0,42% em relação à massa de cimento e, assim,
obtendo-se um CAA com as propriedades de autoadensabilidade pré-estabelecidas. Desta forma, os
CAA REF e CAA Z apresentam o mesmo consumo de materiais constituintes, com a exceção do teor
de superplastificante e do tipo de cimento utilizado.

Figura 6. (a) Aspecto do CAA REF durante o ensaio de espalhamento; (b) Aspecto do CAA Z ensaio anel J.

116
Santos, Castro e Barbosa

Quadro 4. Resultados dos ensaios do CAA no estado fresco


Limites NBR 15823:2010
Determinação CAA REF CAA Z Classe SF2, VS2, PJ1,
VF1, SR2, PL2
Espalhamento (mm) 665 700 660 a 750 mm
T500 (s) 2” 80 3”10 >2”
TJ500 (s) 2” 92 2”55 -
Espalhamento J (mm) 652 670 -
Tv 3” 80 5” 27 < 9”
Tv5 3” 55 6” 02 <9”
Segregação (%) 13 15 < 15%
Caixa L (H2/H1) 0,89 0,96 >0,80

3.2 Avaliação das propriedades do concreto autoadensável no estado endurecido

Os concreto autoadensáveis produzidos, CAA REF e CAA Z, foram submetidos aos ensaios físicos e
mecânicos para determinação da massa específica, absorção de água, índice de vazios e resistência à
compressão, determinados nas idades de 7 e 28 dias. Para isso, foram moldados corpos de prova
cilíndricos, com dimensões de 100 mm de diâmetro e 200 mm de altura, armazenados em câmara
úmida até as respectivas idades de ensaio. Os resultados obtidos nos ensaios físicos e mecânicos são
apresentados nos Quadros 5 e 6.

Quadro 5. Resultados de resistência à compressão axial (NBR 5739:2007)


Resistência à compressão
Amostra Idade (dias) (MPa)
média de 3 corpos de prova
7 37,8
CAA REF 28 50,1
7 51,6
CAA Z 28 66,0

Quadro 6. Resultados de absorção de água, índice de vazios e massa específica (NBR 9778:2005)

Absorção Índice de vazios


Amostra
(%) (%)
CAA REF 5,1 11,4
CAA Z 4,1 9,2
Massa específica da Massa específica da
Massa específica Real
amostra seca amostra saturada
Amostra (g/cm3)
(g/cm3) (g/cm3)
CAA REF 2,26 2,38 2,56
CAA Z 2,28 2,38 2,51

A partir dos resultados obtidos (Quadro 5), verifica-se que ambos os concretos produzidos podem ser
considerados como de alta resistência, por apresentar valores de resistência à compressão superior a
50 MPA aos 28 dias de idade. Além disso, verifica-se que o CAA Z apresentou resistência à
compressão cerca de 25% maior que o CAA REF, para ambas as idades de ensaio. No caso das
propriedades físicas, os resultados mostram que o CAA Z apresenta menor absorção de água e índice
de vazios e, consequentemente, maior massa específica em relação ao CAA REF. Os valores de
absorção de água e índice de vazios do CAA Z (4,1% e 9,2%) indica um concreto durável, enquanto
que para o CAA REF (5,1% e 11,4) é considerado normal em termos de durabilidade, de acordo com

117
Utilização de pozolana obtida a partir de resíduo de cerâmica vermelha na composição do concreto
autoadensável

HELENE (1983) [7] que estabelece um limite máximo de 4,2% de absorção de água e 10% de índice
de vazios para um concreto durável.

CONCLUSÕES

Analisando o comportamento das duas misturas de CAA produzidas, primeiramente pode-se verificar
que o cimento composto produzido no laboratório, a partir da combinação de pozolana de resíduo de
cerâmica vermelha com o CPV ARI, demandou um teor ótimo de aditivo superplastificante
consideravelmente superior ao cimento CPII Z 32 comercial. Este fato deve-se à maior finura do
cimento composto com pozolana produzido no laboratório em relação ao cimento comercial.

Em relação às propriedades de autoadensabilidade das duas misturas de CAA, as duas apresentaram


resultados satisfatórios, atendendo aos requisitos estabelecidos previamente quanto às classes de
espalhamento, viscosidade plástica aparente, habilidade passante e resistência à segregação.

Os resultados dos ensaios físicos e mecânicos nos CAA, realizados no estado endurecido, demonstram
a influência da pozolana de resíduo de cerâmica vermelha na microestrutura do concreto. Este fato é
evidenciado pelos resultados dos ensaios de índices físicos, que apontam o CAA Z como um material
mais denso, com menos poros permeáveis em relação ao CAA REF. Da mesma forma, os resultados
dos ensaios mecânicos de resistência à compressão demostram que a resistência do CAA Z é cerca de
25% maior que o CAA REF, confirmando a influência da pozolana de resíduo de cerâmica vermelha
na microestrutura do concreto.

Assim, a partir do exposto neste trabalho, pode-se constatar que o resíduo de cerâmica vermelha
gerado pelas indústrias cerâmicas do Estado de São Paulo, apresentam condições de utilização na
forma de pozolana, tanto na incorporação para a produção do cimento composto, quanto na utilização
como adição de materiais finos ao CAA, melhorando a estabilidade da mistura e suas propriedades
físicas, mecânicas e, possivelmente, de durabilidade.

REFERÊNCIAS

[1] Mehta, P. K.; Monteiro, P. J. M. (2014). ‘Concreto: microestrutura, propriedades e materiais’


(IBRACON, São Paulo), 2ª Ed. , pp. 520-734.
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118
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

Comportamiento reológico, mecánico y microestructual de pastas


y morteros de cementos alcalinos y eco-eficientes.
Reutilización de residuos vítreos.

M.M.Alonso1 C. Rodríguez-Puertas1 C. Varga1

M. Torres-Carrasco1 P. Rivilla1 F.Puertas1

RESUMEN

El concepto de desarrollo sostenible hace referencia a aquellas pautas de desarrollo, tanto en el aspecto
social como económico de la humanidad, que respeten el medio ambiente. La industria cementera,
realiza desde hace años esfuerzos en este sentido, a través de las mejoras tecnológicas en las fábricas
de cemento, de la utilización de materiales alternativos (residuos y subproductos industriales) y a
través de desarrollo de nuevos cementos eco-eficientes, tales como los cementos con adiciones o los
cementos alcalinos, geopolímeros o materiales activados alcalinamente (Alkali-ActivatedMaterials,
AAMs). Estos AAMs son conglomerantes resultantes de mezcla de disoluciones fuertemente alcalinas
y aluminosilicatos (generalmente residuos y subproductos industriales), tales como las escorias vítreas
de horno alto (Alkali-Activated Slag, AAS) o cenizas volantes (Alkali-Activated Fly Ash, AAFA). Uno
de los activadores más utilizados, debido a las características resistentes y durables que proporciona a
los AAMs, es el silicato sódico hidratado o Waterglass (Wg), cuya fabricación es en sí misma un
proceso costoso y contaminante. Se ha demostrado que el ataque de residuos vítreos urbanos, con una
composición similar a la del Wg, con disoluciones alcalinas da lugar a unas soluciones que actúan
como potenciales activadores alcalinos para los AAMs.

En el presente trabajo se planteó como objetivo estudiar la reología de pastas y morteros de cementos
eco-eficientes (CEM III/B y basados en AAS) y su efecto en el comportamiento mecánico y
microestructural, valorizando además la reutilización de residuos vítreos como potenciales activadores
alcalinos. Para conseguirlo, se estudió la reología y fluidez de pastas y morteros eco-eficientes, y sus
valores resistentes y de porosidad de dichos morteros. Se valoró además la posibilidad de utilizar
activadores alternativos basados en residuos urbanos y la posible sustitución de árido en los morteros
por estos residuos vítreos atacados.

Los resultados han demostrado que en las pastas de AAS se produce la formación de un gel C-S-H
primario, que dificulta inicialmente su trabajabilidad, aunque este gel se destruye en condiciones de
cizalla constante en el tiempo. Sin embargo la aparición de este gel primario aparece a diferentes
tiempos, dependiendo del activador utilizado (Wg o procedente de la disolución de residuos vítreos).
Los valores resistentes de los morteros de AAS a 28 días son semejantes o superiores a los observados
para los morteros de CEM I y CEM III. Los valores de porosidad confirman los resultados resistentes.
Los morteros de AAS con una sustitución del 5,5% del árido por vidrio atacado con la disolución

1
Instituto de Ciencias de la Construcción Eduardo Torroja (IETcc-CSIC) Madrid, Spain.
Corresponding author. mmalonso@ietcc.csic.es

119
Comportamiento reológico, mecánico y microestructual de pastas y morteros de cementos alcalinos y
eco-eficientes. Reutilización de residuos vítreos

alcalina presentaban una fluidez adecuada para su puesta en obra. Se demuestra, por lo tanto, la
viabilidad de la utilización de residuos vítreos tanto como activadores alternativos o como sustitutos
del árido en la preparación de morteros de AAS con adecuadas propiedades reológicas y resistentes.

Palabras-clave: Cementos eco-eficientes, Geopolímeros, reología, resíduos vítreos.

1. INTRODUCCIÓN

El hormigón de cemento Portland es el material artificial más utilizado en el mundo y es considerado el


material de construcción por excelencia debido fundamentalmente a sus buenas prestaciones, su buena
relación calidad/precio y a la disponibilidad de materias primas en todo el mundo. Sin embargo, un aspecto
claramente negativo, es que el proceso de producción del cemento Portland, no cumple a día de hoy, los
objetivos del desarrollo sostenible, pues el gasto energético asociado es elevado, se explotan recursos
naturales y se emiten grandes cantidades de CO2 a la atmósfera [1,2]. En este sentido, la industria
cementera es considerada una de las industrias que emite gran cantidad de CO2 a la atmósfera a nivel
mundial, y es una necesidad global, el reducir la emisión de los gases que contribuyen al efecto
invernadero. El protocolo de Kyoto y la conferencia de Copenhague han sido los últimos esfuerzos
globales de la Convención Marco de las Naciones Unidas sobre el Cambio Climático, con el objetivo de
reducir la emisión de gases de efecto invernadero [3]. Con este objetivo, la industria cementera, ha
introducido por una parte, mejoras tecnológicas en el proceso de producción y además, con ayuda del
conocimiento científico se está promoviendo la utilización de materiales alternativos (residuos y
subproductos industriales) para desarrollar cementos eco-eficientes, tales como los cementos con adiciones
o los denominados cementos alcalinos, geopolímeros o materiales activados alcalinamente (Alkali-
Activated Materials, AAMs). Estos AAMs resultan de la interacción química entre disoluciones
fuertemente alcalinas y aluminosilicatos amorfos o vítreos, que pueden ser naturales o residuos industriales
como es el caso de las cenizas volantes o escorias de alto horno [4-7]. Desde el punto de vista de las
resistencias y durabilidad de los productos finales formados, las disoluciones alcalinas más efectivas son
NaOH, Na2CO3 y los silicatos sódicos hidratados, denominados genéricamente waterglass [8-11]. Estos
silicatos de sodio son compuestos químicos inorgánicos producidos de la combinación, en variadas
proporciones, de arenas de sílice de alta pureza (SiO2) y carbonato de sodio (Na2CO3). Sin embargo, el
proceso industrial de fabricación de este activador, es también altamente contaminante desde el punto
medioambiental (emisiones de CO2) y desde el punto energético, ya que se necesitan temperaturas muy
elevadas para llevar a cabo la fusión [12,13]. Investigaciones muy recientes [9, 10, 14, 15] han demostrado
que los residuos vítreos urbanos e industriales basados en silicatos sódicos pueden ser utilizados como
potenciales activadores alcalinos, como sustitutos del waterglass, en la preparación de cementos de escorias
y/o cenizas activadas alcalinamente, estableciéndose las condiciones óptimas de solubilidad y
concentración de los iones (principalmente SiO2 y Al2O3) que nos permitieron emplear dichas soluciones
como activadoras en la preparación de pastas de cemento de escorias y cenizas volantes activadas
alcalinamente. Los cementos y hormigones de escorias (Alkali-Activated Slag, AAS) y cenizas volantes
(Alkali-Activated Fly Ash, AAFA) activados alcalinamente, ofrecen una serie de propiedades superiores a
las de un cemento Portland ordinario (OPC), como altos valores de resistencias a tiempos cortos y largos y
una excelente durabilidad frente a agentes químicos y físicos, etc.[6, 16, 17]. Sin embargo, son escasos los
estudios realizados sobre el comportamiento reológico de estos sistemas alcalinos, aunque se ha podido
demostrar que las pastas de AAS activadas con NaOH se ajustan al modelo de Bingham; mientras que las
preparadas con disoluciones de waterglass se ajustan mejor al modelo de Herschel-Bulkley [18-19]. Sin
embargo, aún quedan muchas incógnitas por resolver, en especial concerniente al comportamiento
reológico de pastas y morteros de AAS. El objetivo del presente estudio fue, por lo tanto, estudiar la
reología de pastas y morteros de cementos eco-eficientes (CEM III/B y basados en AAS) y su efecto en el
comportamiento mecánico y microestructural, valorizando además la reutilización de residuos vítreos como
potenciales activadores alcalinos. Para conseguirlo, se estudió la reología y fluidez de pastas y morteros
eco-eficientes, y sus valores resistentes y de porosidad de dichos morteros. Se valoró además la posibilidad
de utilizar activadores alternativos basados en residuos urbanos, y la posible sustitución de árido en los
morteros por estos residuos vítreos atacados.

120
Alonso, Rodríguez-Puertas, Varga, Torres-Carrasco, Rivilla e Puertas

2. EXPERIMENTAL

2.1 Materiales

Los materiales utilizados para este estudio han sido dos cementos normalizados, CEM I 52.5R y un
CEM III/B 32,5R con un 75% de adición de escoria, una escoria vítrea de horno alto española y un
residuo vítreo. La composición química determinada por FRX y la superficie específica Blaine de los
materiales se presenta en la Tabla 1.

Table 1. Composición química de los materiales utilizados (%peso).


2
CaO SiO2 Al2O3 MgO Fe2O3 S2- SO3 Na2O K2O 1
P.F SEB
CEM I 52.5R 57.05 20.51 5.37 3.86 2.10 - 6.37 0.64 1.44 2.35 481
CEM III/B 393
49.25 29.91 7.80 6.33 0.95 1.2 1.01 0.33 0.38 2.44
32.5R
Escoria vítrea 41.00 35.54 13.65 4.11 0.39 1.91 0.06 0.01 - 2.72 325
Residuo vítreo 11.75 70.71 2.05 1.17 0.52 - - 11.71 1.08 0.83 -
2
1. P.F. Pérdida por calcinación / 2. Superficie específica Blaine (m /kg)

La escoria vítrea de horno alto posee una fase vítrea del 99%. La composición química del residuo
vítreo muestra que sus óxidos mayoritarios (SiO2, Na2O and CaO) son coincidentes con los presentes
en el silicato sodico o waterglass.

2.2 Ensayos sobre pastas

Los ensayos en pastas se realizaron utilizando agua para los cementos normalizados y los siguientes
activadores alcalinos: waterglass comercial (W) y una disolución proveniente del ataque de residuos
vítreos en una disolución de NaOH/ Na2CO3 (N/C-V). La metodología empleada en el tratamiento del
vidrio se describió en [10]. Adicionalmente se prepararon pastas en las que se sustituyó un 10% de la
escoria por el residuo sólido obtenido tras el ataque del vidrio por la disolución de NaOH/Na2CO3 (N/C-
V + R). Las relaciones líquido/sólido fueron determinadas conforme a la norma UNE 196-3-2005 para
obtener igual consistencia de las pastas. Las pastas y sus activadores se presentan en la Tabla 2.

Tabla 2. Pastas preparadas y características de los activadores utilizados.


Muestra Activador SiO2/Na2O % Na2O (por Rel. l/s
peso de escoria)
CEM I 52.5R Agua - - 0.35
CEM III/B 32.5R Agua - - 0.45
AAS W0.8 W 0.8 5 0.55
AAS W1.2 W 1.2 5 0.55
AAS N/C-V N/C + vidrio 0.86 5 0.55
AAS N/C-V + R N/C + vidrio + 10% residuo sólido 0.86 5 0.55

La elección de las pastas activadas con waterglass en valores de SiO2/Na2O de 0.8 y 1.2 se
fundamentó en el hecho de que dicha relación para las disoluciones provenientes del ataque de
residuos vítreos posee un valor intermedio de SiO2/Na2O de 0.86 [10].

2.2.1. Determinación del esfuerzo de cizalla en pastas sometidas a una velocidad de cizalla constante
Se determinaron las curvas de esfuerzo de cizalla a velocidad de giro constante de 100 s-1 durante 30
min en un viscosímetro Haake Rheowin, Pro RV1con un rotor cilíndrico con acanaladuras. Previo al
ensayo, las pastas se amasaron a partir de 80 g de cada sólido (cemento o escoria vítrea de alto horno)
con la cantidad de líquido fijada (Tabla 2) durante 3 minutos, con un agitador de aspas Ika Junker. En
el caso de las pastas con sustitución de escoria por un 10% de residuo sólido vítreo tras ataque con
NaOH/Na2CO3, se amasaron por lo tanto 8 g de residuo sólido vítreo y 72 g de escoria.

121
Comportamiento reológico, mecánico y microestructual de pastas y morteros de cementos alcalinos y
eco-eficientes. Reutilización de residuos vítreos

2.2.2 Determinación de parámetros reológicos. Esfuerzo umbral de cizalla


Se sometió a las pastas a un procedimiento consistente en un pre-shear, con una agitación durante 2
min a 100s-1 para homogeneizar la mezcla. A continuación se procede a un aumento gradual de
velocidad de 0-10 s-1 en 1 min y de 10-100 s-1 en 1 min y seguir con un descenso gradual de 100-50 s-1
en 1 min y de 50 a 0 s-1 en 1 min. Este ciclo se repitió seis veces. El esfuerzo umbral de cada ciclo se
determinó a partir de los datos de la curva de descenso de velocidad de 100s-1 a 50s-1. Durante todo el
ensayo las pastas se mantuvieron a 25ºC, mediante un baño termostatizado.

2.2.3 Fluidez de las pastas (Minislump test)


Para conocer la fluidez de las pastas se utilizó el ensayo de minicono o Minislump [20]. Para este
ensayo las pastas se mezclaron durante tres minutos en una amasadora Ibertest Autotest 200/10 a una
velocidad de 140 r.p.m, tras el amasado, la pasta se introdujo en un molde para posteriormente
retirarlo y tras 10 golpes en la mesa de sacudidas medir el diámetro de la torta. El ensayo se repitió dos
veces para cada pasta, tomándose los valores medios para cada tiempo de medida.

2.3 Ensayos sobre morteros

Se prepararon morteros de cementos CEM I 52.5R y CEM III/B 32.5R, de AAS activados con
waterglass comercial (AAS W0.8 y AAS W1.2) y con el activador procedente del ataque de residuos
vítreos (AAS N/C-V). Además se prepararon morteros en los que se sustituyó un 5,5% del árido por el
residuo vitreo tras el ataque con la disolución de NaOH/ Na2CO3 (AAS N/C-V + 5.5%). Todos los
morteros fueron preparados utilizando árido silíceo y con una relación árido/cemento de 2/1. Se
determinó la relación líquido/sólido a partir del ensayo de escurrimiento (UNE-80–116–86). Los valores
obtenidos se muestran en la Tabla 3. Hay que destacar que los morteros de cementos normalizados y los
resultantes de la activación de escorias por residuos vítreos fueron amasados según norma (3 minutos)
mientras que los de AAS activados con waterglass comercial fueron amasados durante mas tiempo (20
minutos). Esto se hizo según criterios de optimización realizados en trabajos previos [21].

Tabla 3 Relaciones líquido/sólido utilizadas para la preparación de morteros.


Muestra Rel. l/s
CEM I 52.5R 0.45
CEM III/B 32.5R 0.40
AAS W0.8 0.53
AAS W1.2 0.53
AAS N/C-V 0.53
AAS N/C-V + 5.5% 0.57

2.3.1 Determinación del esfuerzo en morteros sometidas a una velocidad de cizalla constante
Con las relaciones líquido/sólido determinadas se llevaron a cabo ensayos de reología de morteros en
un Viskomat NT, con un rotor de aspas, determinándose el esfuerzo o torque a lo largo del tiempo de
ensayo. Se ensayaron los morteros de cementos normalizados, y los de AAS W0.8, AAS W1.2 y AAS
N/C-V, a una velocidad constante de 100 rpm durante 30 min
2.3.2 Determinación de las resistencias mecánicas y porosidad de probetas de morteros
Las resistencias mecánicas de las probetas de mortero se determinaron a 2, 7 y 28 días en una prensa
Ibertest Autotest 200/10 (UNE-EN 196-1). Se ensayaron los morteros de cementos normalizados, y los
de AAS W0.8, AAS N/C-V y un mortero adicional en el que se sustituyó un 5,5% del árido por el
residuo sólido resultante del ataque del vidrio (AAS N/C-V + 5,5%). Se determinó el valor de porosidad
total y distribución de tamaño de poro, de los morteros ensayados mecánicamente, en un equipo
micromeritics Autopore IV 9500. Las muestras utilizadas en el ensayo de porosimetría se determinaron a
la edad de 28 días tras congelación por inmersión en acetona para detener los procesos de hidratación de
la muestra. Posteriormente se secaron en estufa (≈ 40°C), durante al menos 24 horas.

122
Alonso, Rodríguez-Puertas, Varga, Torres-Carrasco, Rivilla e Puertas

3. RESULTADOS Y DISCUSIÓN

3.1 Determinación del esfuerzo en pastas sometidas a una velocidad de cizalla constante

Las Figuras 1 y 2 muestran los resultados del ensayo de determinación del esfuerzo de las pastas a
velocidad de giro constante. En la pasta de CEM I 52.5R (Fig. 1), se observa que el valor de esfuerzo
de cizalla alcanza inicialmente los 300 Pa, como consecuencia de la formación de flóculos iniciales. A
continuación se producer una bajada muy pronunciada hasta un esfuerzo de 100 Pa a los 420 segundos
de inicio del ensayo para mantenerse constante, como consecuencia de la rotura de dichos flóculos
formados debido a la agitación constante, dando lugar a una pasta más fluida con el correspondiente
descenso en los valores de esfuerzo de cizalla. Sin embargo, en las pastas de CEM III/B 32.5R
(Fig. 1a), aunque los valores de esfuerzo son semejantes a los de CEM I 52,5R, se observa claramente
que la bajada de los valores de esfuerzo es más pronunciada, alcanzándose la estabilidad en apenas 90
segundos con un valor de unos 175 Pa, siendo estos valores de esfuerzo de cizalla un 75% más
elevados que los del CEM I. Los altos valores de esfuerzo se deben a la morfología de los granos de
escoria, los cuales presentan una estructura con un mayor número de aristas, confiriendo a la pasta
esos elevados valores de esfuerzo de cizalla. Por otro lado, la rotura de los flóculos resulta más rápida
en este caso, debido a que la hidratación de esta pasta es mucho más lenta que en en el caso del CEM
I, dando lugar a una menor cantidad de productos de hidratación.
400 400
CEM I 52,5R AAS WG 0,8 b)
350
CEM III/B 32,5R 350 AAS WG 1,2
a) AAS N/C - V
300 300 AAS N/C - V + R
Esfuerzo de Cizalla (Pa)
Esfuerzo de Cizalla (Pa)

250 250

200 200

150 150

100 100

50 50

0 0
0 360 720 1080 1440 1800 0 360 720 1080 1440 1800

Tiempo (s) Tiempo (s)


250

c)
200
AAS N/C-V
Esfuerzo de cizalla (Pa)

150

100

50

0
0 360 720 1080 1440 1800 2160 2520 2880
Tiempo (s)

Figura 1. Valores de esfuerzo en pastas de CEM I 52.5R, CEM III/B 32.5R, AAS W0.8, AAS W1.2,
AAS N/C-V y AAS N/C-V + R.

En la Figura 1b se observa que el comportamiento reológico de las pastas de AAS es muy diferente, y
que depende del activador utilizado. Cuando se utiliza waterglass comercial, en ratios de 0.8 y 1.2 se
observa una bajada inicial de los valores de esfuerzo, para dar paso a un aumento rápido de los
mismos, alcanzando su máximo valor a los 420 segundos del inicio del ensayo, con un valor de 60 Pa,
para AAS W0.8; mientras que en las pastas de AAS W1.2 se produce un incremento muy elevado del
esfuerzo. Este fenómeno se debe a la formación de una capa de gel C-S-H primario procedente de la
interacción entre iones silicato de la disolución de waterglass con los iones Ca2+ de la disolucion
inicial de la escoria [21,22]. En esta situación los granos de escoria quedan unidos mediante fuerzas de
van der Waals formando flóculos. Durante los primeros momentos del ensayo reológico estos flóculos
son parcialmente separados pero la rápida y masiva precipitación de gel C-S-H primario continúa y se

123
Comportamiento reológico, mecánico y microestructual de pastas y morteros de cementos alcalinos y
eco-eficientes. Reutilización de residuos vítreos

forman flóculos más grandes, siendo mayor la formación de gel, cuanto mayor es el módulo
SiO2/Na2O. En las condiciones experimentales utilizadas, la agitación constante de la muestra produce
la rotura de dichos flóculos para las pastas de AAS W0.8 (por que su cantidad es pequeña), lo que
explica el descenso del esfuerzo, pero en el caso de las pastas de AAS W1.2, la precipitación de este
gel es mucho más intensa y la agitación del rotor no puede romper estos flóculos [19, 23].

En las pastas de AAS N/C-V (con residuo vítreo), los valores de esfuerzo inicial alcanzan un máximo
alrededor de 112 Pa, para a continuación bajar y mantenerse en valores constantes alrededor de los 85 Pa
durante todo el ensayo. Con objeto de comprobar si este gel primario C-S-H se formaba a tiempos más
largos, el ensayo se alargó durante 40 minutos a la misma velocidad de giro, observándose a los 1800
segundos, una señal indicativa de la formación de un gel C-S-H primario, que en las condiciones de
agitación del ensayo, se rompe la estructura de los flóculos y descienden los valores de esfuerzo hasta
mantenerse estos constantes (Fig. 1c). Teniendo en cuenta que el módulo de las pastas de AAS W0.8 y
las de AAS N/C-V (0.86) es muy semejante, la explicación a este comportamiento, pasa por destacar las
diferentes fuentes de sílice utilizada en ambas disoluciones. Estudios previos [9, 10] confirmaron la
presencia de monómeros de Si en el activador procedente de la solubilización de residuos vítreos que
favorecen la activación de las escorias. Además, la presencia de posibles impurezas en los residuos
vítreos puede afectar al tiempo de aparición de la señal. Finalmente, en pastas de AAS N/C-V + R (con
el 10% de sustitución de la escoria por el residuo vítreo sólido procedente del proceso de disolución) se
produce un descenso en los valores de esfuerzo de manera ininterrumpida durante todo el ensayo. Este
comportamiento es debido probablemente a la sustitución de escoria por el producto de reacción sólido
(vidrio atacado), que parece inhibir o retrasar la reacción entre la escoria y el activador, sin la formación
aparente del mencionado gel primario C-S-H [24].

3.2 Determinación de parámetros reológicos

En la Figura 2 se muestran los resultados de los valores de esfuerzo umbral de cizalla de las pastas
ensayadas. Los cementos normalizados (CEM I y CEM III) presentan valores prácticamente
constantes en todos los ciclos. Hay que destacar, sin embargo, que el CEM III presenta valores más
elevados de esfuerzo umbral de cizalla debido principalmente a la morfología de la escoria. La
defloculación durante el ensayo explica que el esfuerzo se mantenga constante. Estos resultados son
concordantes con los resultados obtenidos por otros autores [25] y con los resultados obtenidos del
ensayo a velocidad de giro constante (Fig. 1).
CEM I 52.5R
100 CEM III/B 32.5R
AAS W0.8
90 AAS W1.2
AAS N/C-V
80
Esfuerzo umbral de cizalla (Pa)

AAS N/C-V +R
70

60

50

40

30

20

10

0
5 10 15 20 25 30
Tiempo (min)

Figura 2. Valores de esfuerzo umbral en pastas de CEM I 52.5R, CEM III/B 32.5R, AAS W0.8,
AAS W1.2, AAS N/C-V y AAS N/C-V +R.

Las pastas de AAS W0.8 presentan un aumento en el valor del esfuerzo en el segundo ciclo (25 Pa)
para posteriormente disminuir los valores en el tercer ciclo (15 Pa), lo que supone un descenso del
40% y mantenerse constante el resto del ensayo. Las pastas de AAS W1.2 presentan también un
aumento del valor de esfuerzo umbral a partir del cuarto ciclo, y se incrementa progresivamente hasta
valores que el equipo no puede medir en el sexto ciclo. Los cambios sufridos por ambas pastas son
coherentes con el comportamiento de estas pastas a velocidad de giro constante (ver Fig. 1), y se deben
al endurecimiento sufrido por las mismas asociado a la formación de un gel C-S-H primario.

124
Alonso, Rodríguez-Puertas, Varga, Torres-Carrasco, Rivilla e Puertas

El comportamiento que describe la pasta de AAS N/C-V muestra un claro aumento de los valores de
esfuerzo a partir del cuarto ciclo, lo que hace suponer que a partir de ese momento la pasta endurece
alcanzando un valor de 52.8 Pa. Este comportamiento es más acusado que el observado para las pastas
de AAS W0.8 y menos acusado que para el de pastas de AAS W1.2. En esta ocasión la aparición del
gel no se ve retrasada con respecto a las pastas activadas con waterglass 1.2., Estas diferencias se
deben nuevamente a la diferencia en el módulo SiO2/Na2O presente en las disoluciones y a la distinta
naturaleza del silicio presente en las mismas. Por último, en pastas de AAS N/C-V + R, de nuevo la
variabilidad fue elevada en todos los ensayos realizados en estas pastas, no produciéndose reacción
entre la escoria y la disolución alcalina por la sustitución parcial de ésta por el vidrio atacado, lo que
provoca un descenso constante en los valores de esfuerzo umbral de cizalla, sin producirse los cambios
que se observaban en los otros dos cementos alcalinos por la formación del gel primario C-S-H.

3.3 Fluidez de las pastas (Minislump test)

En la Figura 3 se observa la evolución de la fluidez de las pastas con el tiempo. Los resultados
obtenidos para pastas de CEM I y CEM III muestran que la fluidez de dichas pastas es constante en el
tiempo, siendo estos resultados coherentes con los descritos previamente. La presencia de un alto
porcentaje de adición de escoria en el CEM III/B 32.5R no supone un cambio excesivo en la fluidez
respecto al CEM I, si bien ésta es ligeramente mayor en todo momento.
150
145 CEM I 52.5R
140 CEM III/B 32.5R
AAS W0.8
135 AAS W1.2
130 AAS N/C-V
125 AAS N/C-V + R
Diametro (mm)

120
115
110
105
100
95
90
85
5 7.5 10 30 60
Tiempo (min)

Figura 3. Resultados del ensayo de Minislump

El comportamiento de las pastas de AAS depende nuevamente del activador utilizado. Para los ensayos
realizados a 5 y 7 minutos hay una diferencia media de diámetro de torta entre las pastas de cemento y
las pastas de AAS de alrededor de un 28%. Las pastas de AAS W0.8 y W1.2 presentaron unos valores de
fluidez muy elevados: Sin embargo, ambas pastas, presentaron descensos acusados de la fluidez como
consecuencia de la formación del gel C-S-H primario. Sin embargo, al contrario de lo que se observaba
en los ensayos dinámicos (Ver 3.1 y 3.2), en este ensayo de minislump, al ser un ensayo estático, no se
produce la destrucción de los flóculos del gel primario, con el consiguiente endurecimiento y fraguado
de las pastas. En pastas de AAS N/C-V el comportamiento inicial de la pasta de escoria activada fue muy
similar al de la pasta de AAS W0.8, con la diferencia, de que en este caso, el cambio en la fluidez de la
pasta es más tardío. En estas pastas, la estabilidad se alcanza alrededor de los 30 minutos. Este
comportamiento tardío respecto de la pasta de AAS W ya se vio reflejado y discutido en el ensayo a
velocidad constante [10, 15]. Por último, la fluidez de las pastas de AAS N/C-V + R baja
paulatinamente, sin llegar a una estabilidad, debido a la falta de homogeneidad de la mezcla
escoria/residuo. Esta constante bajada supone un claro problema de cara a la puesta en obra del material,
al no aparecer estabilidad en la fluidez del mismo en los 60 minutos de duración del ensayo.

3.4 Determinación del esfuerzo en morteros sometidas a una velocidad de cizalla constante

En la Figura 4 se presentan los valores de torque obtenidos en el ensayo reológico a velocidad


constante de morteros. Los resultados obtenidos muestran que el comportamiento reológico de morteros
es comparable al obtenido para las correspondientes pastas. Los cementos normalizados presentan una
evolución de descenso del valor del torque, correspondiente a la rotura de flóculos y mantenimiento en
valores más o menos estables durante el resto del ensayo, indicando la defloculación en los morteros. Con

125
Comportamiento reológico, mecánico y microestructual de pastas y morteros de cementos alcalinos y
eco-eficientes. Reutilización de residuos vítreos

respecto al comportamiento de los morteros de AAS W0.8, no se observa la aparición de la señal


correspondiente a la formación del gel C-S-H primario, debido probablemente a que la presencia de árido
en la mezcla favorece un incremento de la fricción entre partículas, o bien no se ha llegado a formar el gel
en los tiempos de ensayo. Sin embargo en los morteros de AAS W1.2 sí se produce la señal de formación
de gel y su posterior destrucción. Por último, el mortero de AAS N/C-V presenta de la señal pero a mayor
edad que la pasta AAS W1.2.
200

180 CEM I 52.5R


CEM III/B 32.5R
160 AAS W0.8
AAS W1.2
140
AAS N/C-V
Torque (Nmm)

120

100

80

60

40

20

0
0 5 10 15 20 25 30
Tiempo (min)
Figura 4. Resultados de valores de esfuerzo o torque en los morteros ensayados.

3.5 Determinación de las resistencias mecánicas y porosidad de probetas de morteros

En la Figura 5a se muestran los valores de resistencia a compresión a 2, 7 y 28 días de los morteros


ensayados. Con respecto a los cementos normalizados, como era de esperar los morteros de CEM III
desarrollan bajas resistencias a primeras edades. Ello es debido a que sus reacciones de hidratación son
mas lentas y los valores de resistencia necesitan más tiempo para alcanzar los valores del CEM I. Con
respecto a los morteros de AAS, se observa que a 28 días, presentan todos ellos, valores similares e
incluso superiores a los de los cementos normalizados analizados. Los morteros de AAS W0.8
amasados a 20 min (ver epígrafe 2.3) presentan los mayores valores de resistencia a todos los tiempos
de rotura analizados. La elevada alcalinidad del activador empleado favorece la reactividad de la
escoria produciendo rápidamente productos de hidratación y confiriendo altas resistencias a estos
morteros, incluso a 2 días; triplicando los valores de resistencia obtenidos en los morteros de CEM III
a la misma edad. Estos resultados concuerdan con estudios previos [9]. Los morteros de AAS N/C-V y
AAS N/C-V + 5.5% (Fig. 5a) presentan un comportamiento mecánico muy similar al de los
correspondientes de AAS W0.8. Se observa sin embargo, que los valores de resistencias son
ligeramente inferiores en morteros de AAS N/C-V, y esta tendencia se agudiza en los morteros de
AAS N/C-V + 5.5% . Este fenómeno es debido probablemente a una ralentización en la formación de
productos por la diferente naturaleza de la disolución activadora.

Este comportamiento mecánico puede explicarse a partir de los resultados de porosidad de los
morteros (ver Fig. 5b). Los morteros de AAS presentan menores valores de porosidad total que los de
los cementos normalizados, lo que favorece el desarrollo de altas resistencias mecánicas, a pesar de las
mayores relaciones líquido /sólido empleadas. Esta disminución en la porosidad total se debe a que
estos morteros alcalinos siguen desarrollando productos de reacción a muy largas edades, dando lugar
a estructuras menos porosas [16, 26].
90 2dias 28 días Dp > 10 µm
12
7dias 10,61% 10 µm>Dp> 0,05 µm
80 28dias 0,05 µm>Dp> 0,01 µm
Resistencias a compresión (MPa)

10 < 0,05 µm
% con respecto de porosidad total

70 9,02%

60 8 7,65%

50 6,23%
5,76%
6
40

30 4

20
2
10

0 0
I III
CEM
I III/B W g0
.8 N/C-V + 5.5
% CEM CEM W 0.8 N/C-V +5.5
%
CEM AAS AAS AAS AAS N/C-V
N/C-V AAS
Figura 5. Resultados de a) Resistencias mecánicas y b) porosidad de los morteros ensayados.
AAS

126
Alonso, Rodríguez-Puertas, Varga, Torres-Carrasco, Rivilla e Puertas

A pesar de los menores valores de porosidad total, se observa sin embargo, un mayor contenido de
poros de aire en los morteros de AAS. En el caso del mortero de AAS W0.8 , este aumento se debe al
empleo de un amasado de mayor duración, lo que implica una mayor entrada de aire en el mortero
durante el mezclado. Con respecto a los morteros de AAS N/C-V y AAS N/C-V +R este incremento
se debe a la naturaleza de la propia disolución activadora, y a la presencia del residuo vítreo como
sustituto del árido. Los resultados mecánicos y de microestructura son coherentes y confirman
comportamientos tecnológicamente viables, y demuestran la validez del empleo de residuos vítreos
como activadores alternativos en la fabricación de morteros alcalinos.

CONCLUSIONES

 Las diferencias en el comportamiento reológico observadas entre los cementos y morteros


normalizados (CEM I y CEM III) y los basados en AAS se deben a la formación de un gel primario
C-S-H en estos últimos. La formación de este gel supone un cambio en las propiedades reológicas de
las pastas y morteros alcalinos.
 Las pastas de AAS activadas con la disolución resultante del ataque de residuos vítreos muestran una
estabilidad durante los primeros 20 minutos del ensayo. Sin embargo, cuando no se somete a esta
pasta a un esfuerzo continuado (ensayo de Minislump) se produce una bajada drástica de la fluidez en
7 minutos de ensayo. Los valores finales proporcionan, sin embargo, una fluidez suficiente para una
buena trabajabilidad.
 En las pastas con sustitución de escoria por vidrio atacado (AAS N/C-V +R) los ensayos reológicos
muestran una falta clara de homogeneidad, motivada posiblemente por el dificil mezclado entre el
vidrio atacado y la escoria, impidiendo la adecuada activación de la misma. Esta forma de utilización de
los residuos vítreos no es adecuada desde un punto de viste reológico para obtener unas pastas viables.
 Los morteros de AAS presentaron mejor comportamiento mecánico y una menor porosidad total que
los correspondientes morteros de cementos normalizados. Los morteros de AAS N/C-V (residuo
vítreo) presentan una buena trabajabilidad a tiempos de amasado cortos, suponiendo esto una ventaja
respecto de los morteros de AAS activados con waterglass comercial. Los morteros que incorporaron
el residuo vítreo como sustituto del árido AAS N/C + V + 5,5% tienen unas características mecánicas
similares a las de los morteros de cemento normalizados, demostrándose la viabilidad de los residuso
vítreos en la preparación de morteros ecoéficientes, tanto como activadores y componentes de los
mismos.

AGRADECIMENTOS

El presente trabajo ha sido financiado por los proyectos BIA2010-15516 y BIA2013-47876-C2-1-P del
Ministerio de Economia y Competitividad y el proyecto del CSIC 201460E065. Los autores agradecen a
A. Gil por su ayuda en los ensayos de laboratorio.

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127
Comportamiento reológico, mecánico y microestructual de pastas y morteros de cementos alcalinos y
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128
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

Interacción de aditivos superplastificantes con


arenas de diferente naturaleza

M.M. Alonso1 R. Martínez-Gaitero 2 F. Puertas3

RESUMEN

El desarrollo de hormigones autocompactantes está ligado indiscutiblemente a la utilización de


aditivos superplastificantes que dotan a estos hormigones de sus especiales propiedades reológicas. La
elección de un aditivo no es una cuestión arbitraria, pues las propiedades finales del hormigón van
muy ligadas a la estructura de los aditivos y a la compatibilidad de los mismos con los componentes
del hormigón.

Numerosos estudios se han centrado en determinar qué factores ligados tanto a la estructura de los
aditivos, como a la composición y características del cemento son determinantes en esta
compatibilidad. Sin embargo, las arenas que forman parte de morteros y hormigones son también
piezas fundamentales en esta compatibilidad. Se ha demostrado que ciertas arenas pueden adsorber
aditivos, reduciendo por lo tanto la cantidad de aditivo disponible en solución para ser adsorbido por el
cemento. Esta adsorción condicionaría por lo tanto las propiedades reológicas del hormigón.

En este trabajo se han utilizado cuatro arenas de diferente naturaleza, utilizadas en la preparación de
morteros y hormigones, sobre las que se ha determinado la adsorción de aditivos superplastificantes,
tanto de aquellos basados en éteres policarboxilatos (PCE) como basados en derivados de naftaleno
(PNS). A través de un analizador de carbono orgánico total (TOC) se han obtenido las curvas de
adsorción de estos aditivos sobre diferentes fracciones granulométricas de los áridos, observándose
una clara influencia de las mismas en los valores de adsorción. Se ha podido concluir que la naturaleza
de los aditivos y de las arenas son factores determinantes en la adsorción de los aditivos sobre dichas
arenas.

Palabras-clave: Adsorción, aditivos superplastificantes, arenas, compatibilidade.

1. INTRODUCCIÓN

En la preparación de un hormigón autocompactante son muchas las variables a considerar: elección de


cada uno de los componentes, adecuada dosificación de la mezcla, condiciones de la puesta en obra o
requerimientos finales exigidos. Entre los componentes, los áridos y los cementos y sus características

1
Instituto de Ciencias de la Construcción Eduardo Torroja (IETcc-CSIC) Madrid, Spain mmalonso@ietcc.csic.es
2
Instituto de Ciencias de la Construcción Eduardo Torroja (IETcc-CSIC) Madrid, Spain
3
Instituto de Ciencias de la Construcción Eduardo Torroja (IETcc-CSIC) Madrid, Spain puertasf@ietcc.csic.es

129
Interacción de aditivos superplastificantes con arenas de diferente naturaleza

de finura y naturaleza son factores determinantes en las prestaciones finales del hormigón [1-2]. Otro
de los componentes que tiene especial relevancia es la adecuada selección del aditivo
superplastificante, en base a criterios basados en requerimientos tales como resistencias inicial y final,
consistencia, viscosidad de la mezcla, robustez del aditivo o compatibilidad con los otros componentes
del hormigón, como son el cemento o los áridos [3]. Son bien conocidos los factores ligados tanto a la
estructura de los aditivos, como a la composición y características del cemento que determinan dicha
compatibilidad. Entre los factores asociados al cemento destacan la finura del mismo, contenido en
C3A, sulfatos y álcalis, presencia de adiciones, o la diferente composición mineralógica [4-10].

Sin embargo, son más escasos los estudios concernientes a la compatibilidad de aditivos
superplastificantes y las arenas o los áridos de diferente naturaleza que forman parte del hormigón.
Algunos estudios han demostrado un incremento en la demanda de aditivos con el aumento de la
cantidad de finos en las arenas utilizadas [11] y se ha comprobado que la presencia de arcillas en las
arenas reduce la efectividad de los aditivos superplastificantes por el “secuestro” de aditivos por parte
de las mismas [3]. Estudios recientes han determinado que determinadas arcillas pueden adsorber o
intercalar aditivos superplastificantes, dependiendo este fenómeno de la naturaleza de la arcilla y su
capacidad de intercambio catiónico [12, 13, 14]. Lei y Plank [12] han demostrado que la capacidad
dispersante de ciertos aditivos superplastificantes basados en PCE pueden verse afectada por la
presencia de ciertas arcillas como consecuencia de la adsorción y/o intercalación de los mismos. La
arcilla que más afectaba negativamente a estos aditivos era la montmorillonita, seguida de la caolinita
y por último la moscovita. Otros estudios han indicado que se produce intercalación de aditivos en
dichas arcillas [13].

En este trabajo se ha estudiado el comportamiento de diferentes arenas (con distinta superficie específica,
granulometría y composición mineralógica), utilizadas habitualmente en la preparación de hormigones
autocompactantes, frente a dos tipos de aditivos superplastificantes (PCE y PNS).

2. EXPERIMENTAL

2.1 Materiales

Se han utilizado cuatro arenas de diferente naturaleza, denominadas A, B, C y D. Se empleó un CEM I


52,5R (CEM I) como cemento de referencia. La composición química determinada por fluorescencia
de rayos X (FRX) de las arenas y cemento se muestra en la Tabla 1. En esta tabla también se presenta
la superficie específica BET de las arenas y la superficie Blaine del CEM I.

Tabla 1. Composición química y superficie específica de las arenas utilizadas.


% peso óxido Arena A Arena B Arena C Arena D CEM I
SiO2 96.80 89.27 76.20 65.73 18.90
Al2O3 1.51 5.41 12.90 15.20 4.41
K2 O 0.55 3.21 5.09 3.68 0.82
Na2O - 0.88 3.87 3.37 0.10
Fe2O3 0.43 0.20 0.72 3.58 3.91
CaO 0.10 0.13 0.41 3.55 63.22
MgO - - - 1.23 1.68
TiO2 - - - 0.56 0.25
P2O5 - - - 0.18 -
SO3 - - - - 3.30
Rb2O - - 0.06 - 3.15
P.F 0.45 0.70 0.70 2.80
BET (m2/g) 0.44 1.10 1.38 4.46
Blaine (m2/kg) - - - 425
P.F. Pérdida por calcinación;

130
Alonso, Martínez-Gaitero e Puertas

Los resultados del análisis mineralógico de las arenas obtenidos por DRX (Bruker AXS D8 Advance
diffractometer) se muestran en la Figura 1. A través de los difractogramas se puede observar que la
principal fase cristalina de la arena denominada A es el cuarzo, aunque presenta trazas de microclina
(KAlSi3O8). La arena B presenta además de cuarzo y microclina, pequeñas trazas de albita
(NaAlSi3O8). La arena denominada C presenta además anortita (CaAl2Si2O8), un silicoaluminato de
rubidio (RbAlSiO4) y la moscovita (KAl2(AlSi3O10)(OH)2) y la caolinita (Al2Si2O5•(OH)4)
características de la presencia de arcillas. La arena D es la única que cuenta además con la presencia
de montmorillonita (MgAl2Si5O14•xH2O) [15, 16]

40000 30000
Q Arena A
35000 Q Arena B
25000
30000
20000
25000

u.a.
u.a

20000 15000

15000
10000
10000
Q Q Q Q
Q Q 5000 A+M
5000 Q Q Q Q
M Q Q Q Q
A Q
0
10 20 30 40 50 60 10 20 30 40 50 60
2 12000 2
14000 Q
Arena C Arena D
10000 Q
12000

10000 8000
A+M
8000
u.a.
u.a.

6000 A+N
6000 A+M +R
4000
4000 A+N +R Q
Q N
2000 N 2000 Q
Q Q Q Q T A A AM A+M Q
A AA A+M Q K T+A Q Q Q
K Q Q T
0
10 20 30 40 50 60 10 20 30 40 50 60

2 2

Figura 1. Difractogramas de los arenas utilizadas. Leyenda: Q cuarzo; M microclina ;  moscovita ; K caolinita;
A: Albita N: Anortita.R. Silicoaluminato de rubidio. T: Montmorillonita

A través del análisis por Rietveld se determinó el contenido en cuarzo de cada arena, obteniéndose los
siguientes resultados: Arena A (98.3%); Arena B (66,1%); Arena C (30.8%) y Arena D (22.7%).

Se determinaron además los valores de humedad, adsorción de agua y densidad de cada arena acuerdo
a la norma europea [17]. Los resultados se presentan en la Tabla 2.
Tabla 2. Características fisicas de las arenas
Arena A Arena B Arena C Arena D
Humedad (%) 0.07 0.04 1.89 4.56
Absorción de agua (%) 0.08 0.24 0.22 0.34
Densidad (g/L) 2.64 2.61 2.50 2.60

Se determinó además la granulometría de las arenas por tamizado diferencial. Los resultados
obtenidos se presentan en la Figura 3 y Tabla 3.

131
Interacción de aditivos superplastificantes con arenas de diferente naturaleza

Figura 3. Distribución granulométrica de las arenas A, B, C y D.

Tabla 3. Granulometría de las arenas empleadas


% que retiene
Tamiz (mm) Arena A Arena B Arena C Arena D
4 1.20 7.17 3.96
3.15 1.93 6.74 6.29
2 6.06 13.52 14.15
1 33.47 18.26 21.77 21.80
0.5 32.64 30.66 17.94 17.84
0.212 13.17 35.73 18.06 18.31
0.125 15.48 5.00 8.18 9.16
0.063 4.27 0.73 5.31 6.02
0.045 0.97 0.43 0.74 1.06
< 0.045 - - 0.58 1.42

Además de las arenas y el OPC se utilizaron dos aditivos superplastificantes: uno basado en éteres
policarboxilatos (PCE) y un derivado de naftaleno (PNS) (Tabla 4).

Tabla 4. Características fisico-química de los aditivos superplastificantes


PCE PNS
Contenido en sólidos (%) [17] 53.80 42.60
Peso molecular Mw (D) 38500 137000

2.2 Ensayos realizados

Determinación de las curvas de adsorción de aditivos sobre OPC y suspensiones de las arenas: Se
mezclaron 20 g de cemento y 40 g de una disolución que contenía cada aditivo PCE o PNS,
manteniendo la mezcla en agitación durante 30 min. a 25ºC. A continuación, las suspensiones se
ultracentrifugaron y la fase liquida se decantó y se analizó el contenido en carbono orgánico total con
un analizador TOC (Shimadzu CSH/CSN con un detector infrarrojo, catalizador de platino y aire
sintético como gas de arrastre). La cantidad de aditivo adsorbida se determinó por diferencia entre la
cantidad de aditivo inicialmente incorporada en la mezcla y la cantidad de aditivo en la fase liquida
medida [10]. Para la determinación de las curvas de adsorción en arenas se utilizaron dos ensayos:

 Ensayos de adsorción sobre 10 gramos de arena en una muestra obtenida por cuarteo, de
manera que la muestra era representativa de la granulometría global de la arena.
 Ensayos de adsorción en diferentes fracciones granulométricas de las arenas. Se determinaron
cuatro fracciones: mayor de 2000 μm; 2000-500 μm; 500-125 μm y por debajo de 125 μm .

Los valores del “plateau value” de cada curva se calcularon a través del ajuste exponencial de los datos
obtenidos de acuerdo a trabajos previos [18, 19].

132
Alonso, Martínez-Gaitero e Puertas

3. RESULTADOS Y DISCUSIÓN

La adsorción de aditivos superplastificantes sobre partículas de cementos y/o adiciones depende


fundamentalmente de tres factores [4, 5, 6,10, 20]:
a) Naturaleza y estructura del aditivo
b) Finura y distribución de tamaño de las partículas
c) Composición química y mineralógica del sustrato utilizado

De igual manera en este estudio se ha constatado la influencia de estos tres factores en la adsorción de
aditivos sobre arenas de diferente superficie específica, granulometría y naturaleza mineralógica. Las
Figuras 3a y 3b muestran las isotermas de adsorción de los aditivos PCE y PNS sobre OPC y las arenas A,
B, C y D, así como los valores del “plateau value” de adsorción para cada una de las curvas obtenidas.

12
12
b) PNS
aditivo consumido (mg polímero/g arena)

a) PCE 19.4

aditivo consumido (mg polímero/g sólido)


10
10

8
8

6
6
8.77
4
4
2.64
2
2.10
2
1.34
1.10
0
0.30 0.20 0.10 0.19
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22
aditivo añadido (mg polímero/g arena) aditivo añadido (mg polímero/g sólido)

Figura 3. Curvas de adsorción sobre CEM I y arenas A, B, C y D del a) aditivo PCE y b) aditivo PNS

El análisis de estas figuras muestra en primer lugar las diferencias de comportamiento en función de la
naturaleza del aditivo utilizado. Sobre las pastas del CEM I 52.5R, el aditivo basado en PCE alcanzará el
valor del “plateau value” en valores de 9 mg polímero/ gramo de cemento, mientras que el aditivo
basado en PNS alcanza su valor máximo en 19.4 mg polímero/g cemento, lo que representa un
incremento de más de un 110%. Estos resultados son coherentes con trabajos previos, en los que se
refiere un incremento de los valores de adsorción para aditivos basados en PNS o derivados de melanina
frente a aditivos basados en éteres policarboxilatos [20, 21]. Sin embargo, el comportamiento frente a las
arenas es el opuesto. El aditivo basado en PNS no se adsorbe o se adsorbe en cantidades muy pequeñas
en las arenas, y no existen diferencias significativas con respecto a la naturaleza y granulometría de las
mismas. Sin embargo, los valores de adsorción del aditivo PCE son claramente superiores y se observan
diferencias destacables dependiendo de las arenas. Por lo tanto, queda determinado que la naturaleza del
aditivo es un factor determinante en la adsorción de los mismos no solo sobre cementos y/o adiciones,
sino también sobre arenas de diferente naturaleza.

La Figura 3a permite, además, el análisis de la influencia de la superficie específica de cada arena en sus
valores de consumo/adsorción del aditivo PCE. En cementos y/o adiciones se ha demostrado que cuanto
mayor es la superficie específica de estos, y por lo tanto mayor es su finura, mayor es la cantidad de
aditivo adsorbido [20]. En el caso concreto de las arenas (ver Figura 3a y 4) se puede observar que hay
un orden creciente de los valores de adsorción del aditivo PCE con los valores de área BET de las
mismas: A (1.10 mg polímero/g arena y BET 0.44 m2/g ) < B (1.34 mg polímero/g arena y BET 1.10
m2/g ) < C (2.10 mg polímero/g arena y BET 1.38 m2/g ) < D (2.64 mg polímero/g arena y BET 4.46
m2/g . Sin embargo, tal y como se muestra en la Figura 4, esa relación entre el área superficial BET
(Tabla 1) de las arenas y sus valores de adsorción (Figura 3a) no es lineal. Estos resultados indican que
hay otros factores adicionales que están también influyendo en los valores finales del “Plateau value”.
Esto se puede ver claramente en el caso de las arenas B y C, con valores de área BET muy similares,
pero con muy diferentes grados de adsorción/consumo de aditivo.

133
Interacción de aditivos superplastificantes con arenas de diferente naturaleza

Con objeto de valorar la influencia de la distribución granulométrica de las arenas en la adsorción del
aditivo PCE se determinaron sus correspondientes curvas de adsorción del aditivo PCE. En la Figura
5 se presentan las isotermas de adsorción y los valores de “plateau value” del aditivo PCE sobre las
diferentes fracciones granulométricas de las arenas A, B, C y D. Para valorar el peso de cada fracción
granulométrica en la adsorción global y poder comparar entre las diferentes fracciones de cada arena,
se representaron los porcentajes en peso de cada fracción y el porcentaje de adsorción que cada
fracción aporta a la adsorción global, así como el correspondiente valor del ”plateau value” o consumo
de aditivo para cada fracción de arena (línea roja). Los resultados se muestran en la Figura 6.
2.8
a) Arena D
2.6

2.4
Arena C
Plateu value (PCE)
2.2

2.0

1.8

1.6

1.4
Arena B
1.2

1.0 Arena A
0 1 2 3 4 5
2
Area BET (m /g)
Figura 4. Valores del plateau value determinados frente al BET de las arenas.

El análisis de estas gráficas (Figuras 5 y 6) muestra que la granulometría de las arenas es un factor
determinante en la adsorción de aditivos de tipo PCE, comprobándose que, en términos generales,
cuanto menor es el tamaño de partícula de la arena mayor es la afinidad por adsorber o consumir
aditivo. Además se deducen las siguientes observaciones:
- En las arenas A y B, con valores BET muy diferentes (ver Tabla 1) y con contenidos de cuarzo
elevados y bajo contenido en material arcilloso, se deduce que la adsorción del aditivo está
relacionada fundamentalmente con la distribución granulométrica de las arenas.
6.0

5.5 Arena Global


a) Arena A 6.0
b)
Arena B
aditivo consumido (mg polímero/g arena)

> 2000 micras 5.5


aditivo consumido (mg polímero/g arena)

5.0
2000-500 5.0
4.5 500-125
4.5
4.0 < 125 micras
4.0
3.5
3.5
3.0 3,15
3.0
2.5 2.5
2.0 1,80 2.0
1,61
1.5 1.5
1,24 1,38
1.0 1,10 1.0
0,98
0.5
0,90 0.5
0,18
0.0 0.0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22

aditivo añadido (mg polímero/g arena) aditivo añadido (mg polímero/g arena)

6.0
c) Arena C 6.0
5.5
Arena OD d)
aditivo consumido (mg polímero/g arena)

5.5 Arena
5.0
aditivo consumido (mg polímero/g arena)

5.38
5.0
4.5
4.5
4.0 3.91
4.0
3.5
3.5 3.53
3.0
3.0
2.69
2.5 2.65
2.5
2.10
2.0
1.60 2.0 2.09
1.5
1.35 1.5
1.45
1.0 1.0
0.5 0.5
0.0 0.0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22
aditivo añadido (mg polímero/g arena) aditivo añadido (mg polímero/g arena)

Figura 5. Curvas de adsorción del aditivo PCE sobre las diferentes fracciones granulométricas de las arenas A,
B, C y D.

134
Alonso, Martínez-Gaitero e Puertas

- En las arenas Cl y O, con valores BET diferentes (ver Tabla 1) y con menores contenidos en cuarzo
y mayor contenido arcilloso, se observa que los perfiles de porcentajes de las diferentes fracciones
granulométricas/proporción de adsorción (Figura 6) son muy semejantes. Esto indica que cuando
hay diferencias mineralógicas sustanciales y altos contenidos en material arcillosos, las diferencias
de adsorción en las arenas están fundamentalmente, relacionadas con este aspecto composicional
de las mismas, y menos con su distribución granulométrica.

6
Arena A a) 70 Arena B b) 6
70 Fracción en peso
Adsorción 5
60 60 5

Valor "plateau value"

Valor "plateau value"


50 4 50
4

40 40
3 3

%
%

30 30
2 2
20 20

1 1
10 10

0 0 0 0
> 2000 2000-500 500-125 < 125 > 2000 2000-500 500-125 < 125

Tamaño de partícula (m) Tamaño de partícula (m)


6 6
70 Arena C c) 70 Arena D d)

60 5 60 5

Valor "plateau value"


Valor "plateau value"

50 4 50 4

40 40
3 3
%
%

30 30
2 2
20 20
1 1
10 10

0 0 0 0
> 2000 2000-500 500-125 < 125 > 2000 2000-500 500-125 < 125
Tamaño de partícula (m) Tamaño de partícula (m)

Figura 6. Comparación entre el porcentaje de cada fracción granulométrica y los correspondientes valores de
adsorción del aditivo PCE.

2.8 b)
2.6 Arena D
2.4
2
R = 0.98
Plateau value (PCE)

2.2
2.0
Arena C
1.8
1.6
1.4 Arena B
1.2
Arena A
1.0

20 30 40 50 60 70 80 90 100
% peso de cuarzo

Figura 7. Valores del plateau value determinados frente al contenido en cuarzo de las arenas

En la Figura 7 queda patente que cuanto menor es el contenido de cuarzo o mayor es el contenido de
material arcilloso en estas arenas, más aditivo consumirá, como consecuencia de la adsorción o la
intercalación de los mismos entre las láminas de las arcillas [3, 12]. En el caso de la arena D se
observa que la adsorción global y por fracciones granulométricas es mayor con respecto a las otras
arenas. El mayor contenido en material arcilloso así como la presencia de montmorillonita en esta
arena explica este comportamiento, ya que esta arcilla es la que tiene una mayor capacidad de
intercalación de aditivos [12]. Sin embargo, aunque hay una buena correlación entre el contenido en

135
Interacción de aditivos superplastificantes con arenas de diferente naturaleza

cuarzo/arcillas y adsorción (Figura 7), ésta no es lineal, poniendo de manifiesto de nuevo que el
consumo de aditivos por estas arenas es consecuencia de diversos factores.
A la vista de los resultados obtenidos se deduce que los factores que influyen en la adsorción del
aditivo PCE sobre arenas de diferente naturaleza son: el área superficial, la distribución
granulométrica y el contenido de material arcilloso de las mismas, no siendo ninguno de estos factores
determinante por si solo de los valores de adsorción encontrados.

CONCLUSIONES

Las principales conclusiones que se pueden extraer de este estudio son:

1- Se ha demostrado que los aditivos superplastificantes basados en PNS no se adsorben sobre las
arenas a diferencia de lo que ocurre con los aditivos basados en PCE, que experimentan una adsorción
variable dependiendo de la naturaleza de las arenas.
2- Se ha mostrado la influencia del area superficial, de la distribución de tamaño de partículas y de la
composición mineralogica de las arenas sobre la adsorción/consumo de aditivos basados en PCE. No
siendo ninguno de estos factores determinante por si solo de los valores de adsorción encontrados.
2.1. En términos generales a mayor superficie específica y mayor finura, mayor
adsorción/consumo de aditivo en las arenas.
2.2. A mayor contenido de material arcilloso mayor adsorción/consumo de aditivo PCE en las
arenas

AGRADECIMENTOS

El presente trabajo ha sido financiado por los proyectos BIA2010-15516 y BIA2013-47876-C2-1-P


del Ministerio de Economia y Competitividad. Asimismo agradecen a A. Gil y S. Gismera por su
ayuda en los diferentes ensayos.

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Alonso, Martínez-Gaitero e Puertas

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137
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

Propriedades físico-mecánicas de hormigones autocompactantes


ligeros con EPS reciclado sometidos a altas temperaturas

Rocío Sancho1 Mª Eugenia Maciá2 Ángel Castillo3

RESUMEN

En el presente estudio se analizan las características físicas y mecánicas de un hormigón


autocompactante ligero con EPS reciclado antes y después de que las muestras hayan sido sometidas a
altas temperaturas.

En la experimentación se han realizado probetas cúbicas con diferentes dosificaciones de EPS


reciclado como sustitución de árido en porcentajes que van del 0% al 30%. La resistencia a
compresión de las muestras ha sido determinada después de la exposición a altas temperaturas (150°C,
350°C, 500°C y curva ISO 834), analizando de manera singular la conductividad y resistencia térmicas
a temperatura ambiente y a diferentes edades de curado.

Los resultados obtenidos en el estudio concluyen que, el EPS reciclado, utilizado como sustitución de
árido, confiere al HAC un descenso en la conductividad térmica (entre un 5-18%). Se pudo comprobar
que la pérdida de resistencia a compresión de un HAC convencional y un HAC ligero sometido a altas
temperaturas, es similar en todos los escalones de temperaturas.

Palabras clave: HAC ligero, EPS, altas temperaturas, propiedades mecánicas, conductividad térmica.

1. INTRODUCCIÓN

El hormigón autocompactante (HAC) tiene unas ventajas ya sabidas y descritas por EFNARC [1].
Construcción más rápida, al no ser necesaria la vibración del hormigón, con una consecuente
reducción de la mano de obra teniendo en cuenta que existe una mayor facilidad de colocación, y
diferentes posibilidades de diseño ya que, gracias a la fluidez del HAC, hará que espacios poco
accesibles en un encofrado, sean rellenados con mayor facilidad sin dejar espacios libres.

1
Escuela Politécnica Superior Universidad CEU San Pablo, Madrid, España. rocio.sanchoalambillaga@beca.ceu.es
2
Escuela Politécnica Superior Universidad CEU San Pablo, Madrid, España. memacia@ceu.es
3
IETcc-CSIC, Instituto de Ciencias de la Construcción Eduardo Torroja, Madrid, España. acastillo@ietcc.csic.es

139
Propriedades físico-mecánicas de hormigones autocompactantes ligeros con EPS reciclado
sometidos a altas temperaturas

Por otro lado, la utilización de HAC en la construcción reduce niveles de ruido gracias a la
eliminación de maquinaria necesaria para el vibrado y así crear un entorno de trabajo más seguro.

El HAC con áridos ligeros hace que el hormigón se convierta en un material con menor peso si se
compara con un hormigón convencional. Será más económico y con propiedades térmicas mejoradas
como se demostrará en el estudio siguiente.

A las ventajas descritas, se añaden las propias del árido ligero. En este caso, EPS molido-reciclado,
proveniente del reciclaje y recojida de deshechos de una fábrica, e incluso, el reciclado o reutilización
de residuos urbanos que aportarán características y propiedades diferentes al HAC, como es una
conductividad térmica menor debido a la baja densidad del EPS y su estructura celular cerrada que
contiene un 98% de aire.

Por otro lado, el EPS no tiene el inconveniente que un producto reciclado y orgánico pueda tener, ya
que es invulnerable a un ataque biológico por no crear un ambiente adecuado ni nutrientes necesarios
para microorganismos e insectos.

Respecto su comportamiento a altas temperaturas, el EPS se ablanda y se contrae progresivamente a


partir de los 100-120 °C y finalmente se funde. A temperaturas más altas, entre 230 ºC y 260 ºC, se
desprenden gases combustibles por descomposición de la masa fundida, siendo el umbral de ignición
del EPS estándar los 360 ºC [2]. Si bien hay que resaltar que la toxicidad liberada es
considerablemente inferior a otros materiales de uso común y al tener sólo un 1,5–2% de material
combustible, el EPS no confiere un peligro para la salud cuando se expone a altas temperaturas.

Con el empleo de EPS reciclado se tienen en cuenta las ventajas de su aprovechamiento, tratado como
árido en la fabricación de HAC ligero y verificar que, utilizando EPS reciclado en materiales de
construcción, también se pueden solventar en menor o mayor medida los problemas medioambientales
debidos a los residuos generados por este tipo de material y la eficiencia de los edificios al
incrementar la resistencia térmica en los materiales que los componen.

2. MATERIALES Y MÉTODOS

En el presente documento se muestran los ensayos realizados para un hormigón autocompactante


ligero con EPS molido-reciclado con diferentes dosificaciones de árido sometido a altas temperaturas
y el estudio de la conductividad térmica a temperatura ambiente. Las características en estado fresco
de un hormigón autocompactante ligero con EPS fueron estudiadas anteriormente [3, 4] con diferente
dosificación de los materiales base y de EPS no reciclado. Ampliando y modificando el fin del estudio,
se ve necesaria la realización de un escenario nuevo, donde el reciclaje y reutilización de EPS se hace
presente y donde se estudian características de un HAC ligero sometido a altas temperaturas, en lo que
la bibliografía es escasa o nula para hormigones autocompactantes ligeros.

2.1 Materiales

Con el fin de establecer las propiedades mecánicas de hormigones autocompactantes ligeros con árido
reciclado, EPS molido-reciclado, se han llevado a cabo tres tipos diferentes de hormigones
autocompactantes. El primer HAC ensayado corresponde a un hormigón autocompactante sin EPS
(HAC), el siguiente HAC ensayado corresponde a un hormigón autocompactante con un remplazo de
árido por EPS molido-reciclado en un porcentaje del 15% (HAP15) y el último corresponde a un
hormigón autocompactante con EPS molido-reciclado en un porcentaje del 30% (HAP30) en remplazo
de árido. Las dosificaciones se muestran en la Tabla 1.

140
Sancho, Maciá e Castillo

Tabla 1. Dosificación HAC convencional.


HAC HAP15 HAP30
3
Kg/m hormigón
Agua 175,00 175,00 175,00
Aditivo (Viscorete 30 TSG) 3,49 3,49 3,49
Cemento 42,5 N 350,00 350,00 350,00
Ceniza 150,00 150,00 150,00
EPS-M 0,00 3,12 3,12
Grava 8-12,5 324,22 324,12 324,12
Grava 4-8 324,23 307,92 307,92
Arena 0-4 949,89 708,17 708,17
Arena 0-0,3 15,69 31,36 31,36

Para la fabricación de los HAC estudiados se ha empleado: Cemento Portland CEM II 42,5 N, árido
tipo grava de 4 a 12,5 mm., arena de 0,3 a 4 mm., EPS molido-reciclado, con tamaño máximo de
partículas de 15 mm., adición de ceniza volante y aditivo superplastificante Viscorete 30 TSG.

El EPS molido-reciclado proviene del reciclado de desperdicios de una fábrica de poliestireno


expandido. En todo caso el material es de color blanco y no presenta uniformidad en el tamaño de
partícula, existiendo partículas de 3 mm. hasta 15 mm. (Fig.1). Es un material con un 98% de aire y
sólo un 2% de poliestireno, siendo además no higroscópico, lo que le convierte en un material no
absorbente.

Figura 1. EPS molido-reciclado.

Todas las probetas realizadas tuvieron la misma proporción de agua, aditivo, cemento y adición,
modificando sólo la dosificación de árido para adecuarlo a la cantidad necesaria de EPS molido-
reciclado en cada caso ya que, el porcentaje de EPS utilizado será como remplazo de árido. La
composición granulométrica del árido de las mezclas se llevó a cabo mediante la parábola de Fuller.

2.2 Métodos

2.2.1 Ensayos a altas temperaturas


Se han fabricado probetas cúbicas de 150x150 mm. de acuerdo a la Norma UNE-EN 12390-1, UNE-
EN 12390-1:2001/AC:2005 [5], y Norma UNE-EN 12390-2 [6], las cuales se desmoldaron después
de 24 horas y se mantuvieron en cámara de curado con una temperatura de 20 ± 2°C y humedad
relativa de 95%, durante siete días, posteriormente, se sacaron de la cámara manteniéndolas en
condiciones de laboratorio a una temperatura media de 24 °C y 65% de humedad hasta llegar a los 28
días de curado, momento en el cuál fueron ensayadas.

141
Propriedades físico-mecánicas de hormigones autocompactantes ligeros con EPS reciclado
sometidos a altas temperaturas

Para cada una de las mezclas se realizan cinco series de probetas para su ensayo a diferentes
temperaturas de exposición; temperatura ambiente de 20°C, 150°C, 350°C, 500°C, y la curva ISO 834.

En un estudio anterior [7] se planteaban temperaturas de exposición de 400ºC, 600 ºC, 800 ºC e ISO
834. Siguiendo ese planteamiento, en otro estudio [8] se ensayaron hormigones a 200ºC, 400 ºC,
600ºC, 800ºC y 1000ºC, mostrando una caída de resistencia a compresión más significativa entre
400°C y 600ºC. Debido al escalón de temperaturas propuesto anteriormente (400°C - 600°C), se hace
necesario el ensayo a 350°C y 500 °C para poder observar la resistencia residual y el efecto que una
temperatura intermedia respecto a lo ya estudiado, confiere a un hormigón autocompactante con unas
características especiales, como es la inclusión de EPS en remplazo de árido.

En el ensayo a temperaturas de 150 °C, 350 °C y 500 °C, se calentó el horno desde 20 ± 2°C hasta la
temperatura de ensayo, la cual se logró en 10 minutos hasta alcanzar 150 °C y 300 °C. El tiempo
necesario hasta llegar a los 550 °C necesarios fueron 25 minutos. Una vez alcanzada la temperatura de
ensayo, se mantuvo dicha temperatura durante una hora, transcurrido dicho tiempo, el horno se apagó
manteniéndolo cerrado durante una hora y posteriormente se abrió paulatinamente hasta poder retirar
las muestras y enfriarlas a temperatura ambiente durante 24 horas para su posterior caracterización.

Las muestras se evaluaron visualmente, fotografiándolas y analizando los posibles desprendimientos


en cada caso para posteriormente medir la resistecia a compresión, ensayandose tres muestras para
cada mezcla.

La curva ISO 834 [9] se ha realizado a 120 minutos basado en el estudio comparativo de Harmathy y
Sultan [10] sobre la ASTM E119 y la curva ISO 834 donde se expone que a partir de 1,5 horas de
exposición los resultados no varían considerablemente ensayando las mismas piezas, por lo que 120
minutos es el tiempo que se estima conveniente y el utilizado en los ensayos. Los datos según el
tiempo establecido se han calculado según la siguiente fórmula de curva ISO 834 estándar (Eq. 1):

Temperatura = 20 + 345 log(8t + 1) (1)

donde t= tiempo en minutos.

La Figura 2 muestra los valores medios registrados en la relación temperatura-tiempo para la


realización de los ensayos de la curva en laboratorio y la curva estándar ISO 834 según la fórmula
normalizada.

1200

1000
Temperatura ( C)

800

600

400
Laboratorio
200
ISO 834
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120

Tiempo (min.)

Figura 2. Temperaturas medias registradas durante el ensayo en laboratorio y Curva estándar ISO 834.

142
Sancho, Maciá e Castillo

2.2.2 Conductividad térmica


La conductividad térmica de las probetas se ha medido con instrumental disponible en el mercado y
calibrado, Analizador de Propiedades Térmicas KD2 Pro provisto de un sensor TR-1 según Normas de
conformidad EN 61326-1:2013 and EN 50581:2012 (Fig. 3).

Para este ensayo se realizaron probetas cilíndricas de 150x300 mm. (Fig. 4) para cada caso, HAC,
HAP15 y HAP30 y fueron analizadas en tres puntos.

Figura 3. Calibración de medidor de conductividad y resistencia térmica.

Figura 4. Probeta para medición de conductividad y resistencia térmica.

Las mediciones fueron tomadas a temperatura ambiente a las 24 horas y posteriormente cada cinco
días hasta los 28 días de curado, los primeros siete días de curado, las probetas se mantuvieron en
cámara de curado con una temperatura de 20 ± 2°C y humedad relativa de 95%, posteriormente, se
tomaron mediciones con las probetas mantenidas en condiciones de laboratorio de media de 24 °C y
65% de humedad.

3. RESULTADOS

Teniendo en cuenta las propiedades reológicas de las muestras ensayadas en estado fresco, cuando se
introduce EPS en remplazo de árido, la densidad de la mezcla disminuye reafirmando otros estudios

143
Propriedades físico-mecánicas de hormigones autocompactantes ligeros con EPS reciclado
sometidos a altas temperaturas

sobre hormigones ligeros realizados por varios autores [11, 12], por lo que en este caso se obtiene un
hormigón autocompactante más ligero.

En los ensayos realizados, el HAC tiene una densidad de 2,29 g/cm3 mientras que el HAP15 es de 2,04
g/cm3 y en el HAP30 se reduce hasta 1,85 g/cm3.

La densidad es uno de los parámetros que marcarán características importantes del material, en este
caso, controlado por la cantidad y la densidad del árido ligero, pudiendo haber un ahorro de carga del
10-30% y con densidades que varían de 2,1 g/cm3 y 1,7 g/cm3 [13].

El HAP15 del presente estudio se muestra un 10,8% más ligero que un HAC convencional, mientras
que un HAP30, es un 19,4% más ligero que un HAC convencional y un 9,5% más ligero que un
HAP15, es decir, un HAC con mayor cantidad de EPS, como cabe esperar, se convierte en un material
de menor peso y por lo tanto, de menor densidad.

Respecto al porcentaje de aire ocluido, en mezclas con EPS, se incrementa el porcentaje de aire en su
interior, siendo de un 6,6% en las mezclas de HAP15 y de 7,4% en las mezclas de HAP30, mientras
que en las muestras ensayadas de HAC es de 3,6%.

Como se observa en los resultados, un HAC ligero con EPS, incrementa el aire ocluido en su interior y
su densidad decrece, lo que hace que el HAC sea menos pesado, por lo que se puede concluir que las
características térmicas del material mejorarán.

3.1 Altas temperaturas

Después de someter las probetas a diferentes temperaturas en el horno se pudo comprobar que las
probetas HAP15 y HAP30 sometidas a 150°C pierden en gran medida el contenido de EPS como
ocurría en ensayos anteriormente realizados de morteros ligeros.

En la Tabla 2 y Fig. 5, se muestran las propiedades mecánicas residuales de las probetas sometidas a
diferentes temperaturas de exposición y la correspondiente resistencia a compresión de las mismas a
una temperatura ambiente de referencia de 20±2 °C.

Tabla 2. Resistencia a compresión (MPa) a diferentes temperaturas.

PROBETA Tª amb. 150 °C 350 °C 500 °C ISO 834


HAC 62,597 58,717 62,346 47,340 11,961
HAP15 32,908 26,793 39,720 27,615 5,415
HAP30 18,742 17,339 19,249 14,704 3,199

70,000
Resistencia a compresión (MPa)

60,000

50,000

40,000
HAC
30,000
HAP15
20,000
HAP30
10,000

0,000
Tª amb 150 C 350 C 500 C ISO 834

Temperatura de ensayo

Figura 5. Resistencia a compresión (MPa) de las muestras.

144
Sancho, Maciá e Castillo

La resistencia a compresión disminuye teniendo en cuenta la cantidad de EPS que contenga la


muestra. Cuanto mayor es la dosificación de EPS, mayor es la pérdida de resistencia a compresión con
respecto a un HAC convencional como se expone en otros estudios realizados sobre hormigones
ligeros con EPS ensayados a temperatura ambiente [14,15].

Esta resistencia a compresión equivale a un disminución de un 49% en el caso del HAP15 con
respecto a un HAC convencional sin EPS y un 70% en el caso de HAP30.

Las probetas sometidas a 150 °C tienen una perdida de resistencia a compresión respecto a las
muestras a temperatura ambiente de 6% en un HAC convencional, 18% en HAP15 y 7% en HAP30.

Cuando las muestras son sometidas a 350 °C, la resistencia a compresión no se ve afectada en ninguna
de las muestras, mientras que las probetas expuestas a 500 °C tienen una pérdida de resistencia de
24%, 16% y 21% para HAC, HAP15 y HAP30 respectivamente en comparación con los resultados
obtenidos a temperatura ambiente.

En los resultados a una temperatura de exposición de curva ISO 834, la pérdida de resistencia a
compresión, siempre referida a los resultados a temperatura ambiente, es muy homogénea en todos los
casos, siendo entre un 80% y un 83% dicha pérdida de resistencia (Fig. 6).

140,000
Resistencia a compresión (%)

120,000
100,000
80,000
HAC
60,000
HAP15
40,000
HAP30
20,000
0,000
Tª amb 150 C 350 C 500 C ISO 834

Temperatura de ensayo

Figura 6. Resistencia a compresión (porcentaje de pérdida) de las muestras.

La pérdida porcentual de resistencia a compresión residual de las probetas es lineal. En todas ellas,
independientemente de su dosificación, la pérdida de resistencia por exposición a altas temperaturas se
manifiesta en un porcentaje similar, exceptuando la probeta de HAP15 expuesta a 350 °C, dando un
resultado superior a lo esperado.

3.2 Conductividad térmica

El uso de EPS como árido ligero remplazando un porcentaje concreto del árido necesario reduce
considerablemente la conductividad térmica del hormigón [16]. A medida que se incrementa la
inclusión de árido ligero, la conductividad térmica se reduce [17] y aumenta el aire ocluido en las
mezclas.

Las probetas con mayor porcentaje de EPS en su composición (HAP15 y HAP30), las cuales
equivalen a una menor densidad, muestran una menor conductividad térmica y un consecuente
aumento en la resistencia térmica como muestra la Tabla 3, de manera similar a lo presentado en un
estudio anterior [18].

145
Propriedades físico-mecánicas de hormigones autocompactantes ligeros con EPS reciclado
sometidos a altas temperaturas

Tabla 3. Conductividad y Resistencia Térmica a los 28 días de curado.


Conductividad térmica Resistencia térmica
PROBETA
(w/m∙K) (°C∙cm/w)
HAC 3,67 27,27
HAP15 2,78 35,90
HAP30 1,70 61,73

Las muestras presentan una pérdida de conductividad térmica a medida que pasan los días, hasta los
28 días donde se hizo la última medición estudiada. Como se puede comprobar en el gráfico
presentado (Fig. 7) el HAP30 tiene un valor de conductividad térmica un 54% menor que un HAC
convencional y un 24% en el caso de HAP15.

5,00
Conductividad Térmica K en w/m*K

4,50
4,00
3,50
3,00
2,50 HAC
2,00
HAP15
1,50
HAP30
1,00
0,50
0,00
1 5 10 20 25
Días de curado

Figura 7. Conductividad térmica de las probetas.

CONCLUSIONES

Un hormigón autocompactante ligero con EPS presenta una disminución de la resistencia a


compresión tanto a temperatura ambiente como en los diferentes intervalos de temperaturas
estudiados, pero la perdida en porcentaje, es sensiblemente lineal en los tres casos de estudio, HAC,
HAP15 y HAP30, sólo dando resultados ligeramente desfasados en el HAP15 a 150 °C y 350 °C.

Teniendo en cuenta que existe una pérdida de resistencia en HAP15 y HAP30 a temperatura ambiente
y en todos los casos, a altas temperaturas, se puede considerar como un material útil para la
construcción gracias a su resistencia residual obtenida, siempre teniendo en cuenta su aplicación, ya
que los valores de resistencia son adecuados para diferentes usos y que las altas temperaturas no
afectan en mayor grado por contener partículas de EPS molido-reciclado en todos los casos.

Incorporando EPS como remplazo de árido se obtiene un HAC más ligero ya que se consiguen
hormigones autocompactantes con menor densidad, logrando hormigones de un 10% a un 20% menos
pesados que un HAC convencional, sin observar un cambio significativo de resistencia a compresión a
altas temperaturas, en cuanto a porcentaje de pérdida se refiere, donde el EPS desaparece fundido
cuando se alcanzan los 120 °C, creando una estructura interna de celdas en las probetas que no dan
resultados negativos en la resistencia residual del material, encontrando una pérdida del 6-7% cuando
es sometido a 150 °C excepto en el caso de HAP15 que es de un 18%.

146
Sancho, Maciá e Castillo

Estudiando la conductividad térmica, podemos afirmar que se mejoran las condiciones térmicas y que
la incorporación de EPS a la mezcla le confiere una mayor resistencia térmica, y que, por lo tanto, será
mejor aislante térmico que un HAC convencional, dando como resultado una menor conductividad
térmica según avanzan los días de curado hasta los 28 días, donde se hizo la última medición y donde
un hormigón autocompactante con un porcentaje de EPS como remplazo de árido, tiene una
conductividad térmica un 24% (HAP15) y 54% (HAP30) menor que un HAC convencional.

REFERENCIAS

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147
Propriedades físico-mecánicas de hormigones autocompactantes ligeros con EPS reciclado
sometidos a altas temperaturas

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148
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

Propriedades mecânicas de betões auto-compactáveis compostos


por agregados reciclados

Kelvya Maria de Antônio Eduardo


Vasconcelos Bezerra Cabral2
Moreira1

RESUMO

O Betão Auto-Compactável (BAC) surgiu como uma evolução na tecnologia de betões,


caracterizando-se por ser um material bastante fluido que não precisa de vibração para seu
adensamento e, ao mesmo tempo, possui viscosidade suficiente para impedir a segregação dos
agregados. Os requisitos de qualidade e durabilidade favoráveis aliados à rapidez na execução
tornaram o BAC concorrente do betão convencional no Brasil. Pesquisas estão sendo desenvolvidas
para descobrir todo o potencial que este tipo de betão reserva. Sabendo que a incorporação de material
reciclado na construção civil já é uma realidade necessária em face da escassez de matéria-prima
natural e do elevado volume de resíduo gerado por esta indústria, neste trabalho foi avaliado o
comportamento de BAC produzidos com agregados graúdos reciclados de betão. O programa
experimental envolveu a produção de BAC com relações a/c iguais a 0,35, 0,45 e 0,55, e porcentagens
de substituição de 0%, 10%, 20% e 30% de agregados graúdos naturais por agregados graúdos
reciclados de betão. As análises dos BAC no estado fresco seguiram a norma brasileira ABNT NBR
15823:2010. Para o estado endurecido foram analisadas as propriedades mecânicas de resistência à
compressão axial aos 28 e 56 dias. Procedeu-se ao tratamento estatístico dos resultados pela análise de
variância (ANOVA) com posterior modelagem matemática e ANOVA do modelo proposto.
Evidenciou-se que há potencial para a substituição de maiores teores de agregado natural por reciclado
no BAC porque as propriedades foram afetadas mais significativamente devido a relação a/c.

Palavras-chave: betão auto-compactável; agregados reciclados; propriedades mecânicas; ANOVA;


modelagem matemática.

1
Curso de Engenharia Civil da Universidade Estadual Vale do Acaraú, Sobral, Ceará, Brasil. kelvyamoreira@gmail.com
2
Departamento de Engenharia Estrutural e Construção Civil da Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Ceará, Brasil.
eduardo.cabral@ufc.br

149
Propriedades mecânicas de betões auto-compactáveis compostos por agregados reciclados

1. INTRODUÇÃO

O Betão Auto-Compactável (BAC) representa uma evolução na tecnologia dos betões, podendo ser
utilizado em qualquer tipo de estrutura, e capaz de apresentar benefícios econômicos, como o aumento
da produtividade e redução de custos; benefícios tecnológicos, como a possibilidade de
desenvolvimento de estruturas com formas mais complexas e altas taxas de armaduras; e benefícios
ambientais, como a melhora do ambiente de trabalho e a contribuição para a diminuição do impacto
ambiental [1].

Para sua produção são necessários, fundamentalmente, os mesmos materiais empregados nos betões
convencionais. Para se apontarem as possíveis maiores diferenças, na composição do BAC empregam-
se mais materiais finos do que no betão convencional e aditivos dispersantes de grande eficiência,
conhecidos como superplastificantes de terceira geração. Pode, ainda, haver a necessidade de aumentar
a viscosidade da pasta do betão empregando-se, por vezes, aditivo modificador de viscosidade [2].

Ainda que o número de componentes do BAC seja maior do que o betão convencional, pode-se utilizar
a matéria-prima disponível na região, desde que sejam efetuados os estudos dos seus constituintes,
proporções e efeitos. Considerando que, no Brasil, esta matéria-prima vem sendo gradativamente mais
escassa ao longo dos anos, também pode ser viável a utilização de materiais alternativos que
apresentem desempenho similar aos comumente utilizados.

Por outro lado, reconhecendo que a construção de edifícios envolve o consumo de grandes quantidades
de recursos físicos do planeta, dada a estimativa de que um metro quadrado de construção utiliza cerca
de uma tonelada de materiais, tem-se como resultado um volume de resíduos também elevado e que
necessitará de locais adequados para sua disposição final [3].

Sob esta ótica, pode-se inferir que a possibilidade de produzir um betão em que a matéria-prima
natural seja substituída por agregado reciclado da própria construção civil, sem afetar drasticamente as
características mecânicas e de durabilidade necessárias ao seu bom desempenho, pode favorecer para a
disseminação desta tecnologia no mercado brasileiro aliada a correta reutilização do resíduo de
construção, garantindo, ao final, baixo custo do produto, bom desempenho e viabilidade social.

No entanto, as estruturas de betões brasileiras demolidas sem controle da separação do entulho


produzem fragmentos em que o agregado é contaminado com pasta de cimento hidratada, gipsita e
menores quantidades de outras substâncias [4].

Como resultado, a fração que corresponde ao agregado miúdo pode conter grandes quantidades de
cimento hidratado e gipsita, tornando-se inadequado para a produção de misturas de betão. No entanto,
a fração que corresponde ao agregado graúdo, apesar de coberto de pasta de cimento, tem sido usada
com sucesso em vários estudos de laboratório e de campo. Mehta e Monteiro [4] fizeram uma revisão
de vários estudos que indicou que, comparadas às dosagens de betão que contêm agregados naturais,
as dosagens que contêm agregados de betão reciclado geralmente apresentam pelo menos dois terços
da resistência à compressão e do módulo de elasticidade dos betões sem agregados reciclados e
apresentam trabalhabilidade e durabilidade satisfatórias. Além disso, eles chegaram à conclusão que,
com métodos adequados de processamento do agregado de betão reciclado, não há perda na qualidade
do betão com esse tipo de agregado.

Desta forma, a pesquisa em questão objetivou produzir betões auto-compactáveis com substituição de
parcela dos agregados graúdos naturais por agregados graúdos reciclados de betão e estudar suas
características no estado fresco, seguindo a norma brasileira ABNT NBR 15823:2010 [5], e suas
propriedades mecânicas de resistência à compressão axial aos 28 e 56 dias, seguindo a norma
brasileira ABNT NBR 5739:2007 [6].

150
Moreira e Cabral

2. MATERIAIS E MÉTODO DE PESQUISA

2.1 Materiais

O cimento Portland utilizado foi o CP II-Z-32-RS com massa específica de 3,0g/cm³. A ABNT NBR
11578:1991 [7] classifica-o como cimento Portland composto com pozolana, possuindo adição de 6%
a 14% de material pozolânico e 0% a 10% de material carbonático. As características químicas, físicas
e mecânicas estão apresentadas no Quadro 1, sendo todas fornecidas pelo fabricante.

Quadro 1. Características químicas, físicas e mecânicas do cimento utilizado.


Ensaio Resultado Limites [7]
Óxido de Magnésio - MgO (%) 2,85 ≤ 6,5
Anidrido Sulfúrico - SO3 (%) 3,07 ≤ 4,0
Resíduo Insolúvel - RI (%) 11,40 ≤ 16,0
Equivalente Alcalino (%) 1,02 não aplicável
CaO Livre (%) 1,37 não aplicável
Perda ao Fogo - PF (%) 5,67 ≤ 6,5
Área Específica - Blaine (cm²/g) 4599 ≥1260 m²/kg
Massa Específica (g/cm³) 3,00 não aplicável
Finura - # 200 (%) 1,7 ≤ 12,0
Finura - # 325 (%) 8,1 não aplicável
Consistência Normal (%) 28,4 não aplicável
Início de Pega (min) 193 ≥ 60
Fim de Pega (min) 251 ≤ 600
Expansibilidade a Quente (mm) 0,0 ≤5
Resistência à Compressão (MPa)
3 dias 26,7 ≥ 10
7 dias 31,3 ≥ 20
28 dias 38,1 ≥ 32

A adição mineral foi um fíler calcário com massa específica de 2,68g/cm³. A distribuição dos grãos
por meio da granulometria a laser mostrou um diâmetro médio de 23,08m. A composição química
determinada no ensaio de espectroscopia por fluorescência de raios X está apresentada no Quadro 2.

Quadro 2. Fluorescência de raios X do fíler calcário.


Perda
Elemento MgO Al2O3 SiO2 CaO Fe2O3 Na2O SO3 Ag2O In2O3
ao fogo
Concentração
0,52 0,17 0,42 55,30 0,11 0,083 0,04 0,12 0,31 42,87
(%)

O agregado miúdo natural (AM) utilizado foi uma areia quartzosa lavada proveniente de leito de rio.

Os agregados graúdos naturais eram de origem granítica e apresentavam dois diâmetros máximos.
Para uma melhor distinção entre eles foi denominado de pedrisco o de menor diâmetro máximo e de
agregado graúdo natural (AGN) o de maior diâmetro máximo.

O agregado graúdo reciclado (AGR) foi proveniente da britagem, em um britador de mandíbulas, de


resíduos de demolição de uma série de edificações e de pavimentos da cidade de Fortaleza, Ceará,
Brasil. Estes resíduos eram constituídos somente de betões e o agregado reciclado resultante da
britagem está ilustrado na Figura 1.

Os dados da caracterização física realizada para todos os agregados estão apresentados no Quadro 3.

151
Propriedades mecânicas de betões auto-compactáveis compostos por agregados reciclados

Quadro 3. Caracterização física dos agregados.


Índice Físico AM Pedrisco AGN AGR
Diâmetro máximo (mm) [8] 2,40 9,50 19,00 19,00
Módulo de finura [8] 2,52 5,78 6,74 6,86
Massa específica (g/cm³) [9][10] 2,54 2,46 2,74 2,35
Massa unitária solta (g/cm³) [11] 1,25 1,35 1,48 1,30
Massa unitária compactada (g/cm³) [11] 1,37 1,46 1,59 1,40
Absorção (%) [10] [12] 1,05 0,48 0,17 3,92
Teor de material fino (%) [13] 1,16 0,31 0,19 0,64

Figura 1. Agregado graúdo reciclado de betão com diâmetro máximo de 19,00 mm.

O aditivo utilizado foi um superplastificante de terceira geração à base de éter policarboxílico com
30% de sólidos.

2.2 Método de pesquisa

Adotou-se o método de dosagem proposto por Gomes [14] para obtenção de betão auto-compactável
de alta resistência. Este método é baseado na otimização da composição da pasta ou argamassa e do
esqueleto granular separadamente.

Desta forma, o método foi executado em três fases para cada uma das relações a/c (0,35, 0,45 e 0,55):
obtenção da composição da argamassa, determinação do esqueleto granular dos materiais secos e
seleção do volume de pasta da mistura. A seguir foi detalhada cada fase do método.

2.2.1 Composição da argamassa


O estudo da argamassa consistiu em determinar a relação superplastificante sólido/cimento (sp/c)
utilizando o cone de Marsh [15]; e em determinar a relação fíler/cimento (f/c) pelo tronco de cone da
mesa de consistência [16].

O método de ensaio com o cone de Marsh para determinação da relação sp/c se baseou em fixar a
quantidade de cimento, agregado miúdo, fíler e água, variando apenas os teores de aditivo
superplastificante de 0,05% em 0,05%. Após, traçou-se um gráfico log (T) versus sp/c para definição
do ponto de saturação do superplastificante, caracterizado como a porcentagem ótima de aditivo, que
corresponde a um ângulo interno de 140º ± 10º na curva. Obteve-se, então, relação sp/c de 0,50% para
a relação a/c de 0,35; 0,25% para a relação a/c de 0,45; e 0,20% para a relação a/c de 0,55.

Após, avaliou-se o comportamento de cada argamassa quanto à coesão, fluidez e segregação pelo
tronco de cone da mesa de consistência para determinar a relação f/c. O método preconiza que, ao final
do ensaio, a média dos diâmetros deva estar entre 200mm e 300mm. Obteve-se, então, os diâmetros

152
Moreira e Cabral

médios de 289mm, 205mm e 297mm para as relações a/c de 0,35, 0,45 e 0,55, respectivamente,
constatando-se que a relação f/c = 0,40 era aceitável.

2.2.2 Esqueleto granular dos materiais secos


A proporção ideal dos agregados consiste em definir o conjunto que possua o menor índice de vazios
pela realização do ensaio de massa unitária no estado compactado [11], com posterior cálculo da
massa específica e índice de vazios para cada conjunto.

Desta maneira, obteve-se a proporção ideal dos materiais secos utilizados na pesquisa: 30% de AGN,
20% de pedrisco e 50% de AM.

2.2.3 Volume de pasta da mistura


Conhecidas as relações sp/c e f/c e as proporções de agregados, procedeu-se à execução de um BAC
para cada relação a/c, com um volume de pasta da mistura igual a 40% a fim de verificar as
propriedades de coesão, viscosidade e segregação.

Durante o estudo com a relação a/c igual a 0,35, verificou-se que era necessário alterar o teor de
superplastificante, anteriormente definido em sp/c = 0,50%, para sp/c = 0,55%. De maneira análoga, o
concreto com relação a/c igual a 0,45 sofreu ajuste no teor de superplastificante de sp/c = 0,25% para
sp/c = 0,275%.

Atestou-se que o volume de 40% de pasta era viável e, então, definiram-se os traços e as quantidades
de materiais necessárias para a produção de 1m³ de BAC para cada relação a/c (Quadro 4).

Quadro 4. Quantidade de material para 1m³ de BAC para cada relação a/c.
sp/c % Cimento M.F. AM Ped. AGN AGR
Tr. a/c
(%) AGR (kg) (kg) (kg) (kg) (kg) (kg)
1 0,35 0,55 0% 478,11 191,25 762,00 295,20 493,20 0,00

2 0,35 0,55 10% 478,11 191,25 762,00 295,20 443,88 42,30

3 0,35 0,55 20% 478,11 191,25 762,00 295,20 394,56 84,60

4 0,35 0,55 30% 478,11 191,25 762,00 295,20 345,24 126,90

5 0,45 0,275 0% 427,99 171,20 762,00 295,20 493,20 0,00

6 0,45 0,275 10% 427,99 171,20 762,00 295,20 443,88 42,30

7 0,45 0,275 20% 427,99 171,20 762,00 295,20 394,56 84,60

8 0,45 0,275 30% 427,99 171,20 762,00 295,20 345,24 126,90

9 0,55 0,20 0% 386,67 154,81 762,00 295,20 493,20 0,00

10 0,55 0,20 10% 386,67 154,81 762,00 295,20 443,88 42,30

11 0,55 0,20 20% 386,67 154,81 762,00 295,20 394,56 84,60

12 0,55 0,20 30% 386,67 154,81 762,00 295,20 345,24 126,90


Onde: Tr.- traço; a/c- relação água/cimento; sp/c- relação superplastificante sólido/cimento; AGR-agregado graúdo reciclado;
M.F.- material fino; A.M.- agregado miúdo; Ped.- pedrisco; AGN- agregado graúdo natural.

Partiu-se para a produção dos BAC fazendo a substituição do AGN por AGR em volume, com
compensação das massas devido a menor massa específica do agregado reciclado, e efetuando uma

153
Propriedades mecânicas de betões auto-compactáveis compostos por agregados reciclados

pré-molhagem deste com o teor de água igual a 80% da capacidade de absorção da massa do AGR, 10
minutos antes da mistura [17].

Para cada BAC foram realizados os ensaios que avaliam as propriedades no estado fresco [5]:
espalhamento e tempo de escoamento pelo método do cone de Abrams, habilidade passante pelo anel J
e pela caixa L, e viscosidade pelo funil V.

Para o estado endurecido moldaram-se corpos-de-prova cilíndricos de 10cm de diâmetro por 20cm de
altura [18] para análise da propriedade mecânica de resistência à compressão axial [6] aos 28 e 56 dias
de idade.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 BAC no estado fresco

Os resultados obtidos dos ensaios realizados para os BAC no estado fresco estão apresentados no
Quadro 5. O percentual apresentado ao lado do resultado de cada ensaio refere-se a diferença entre o
resultado do BAC com agregado reciclado e o seu respectivo BAC de referência.

Em termos gerais, os BAC com agregados reciclados para as três relações a/c apresentaram resultados
menores do que os seus concretos de referência. Acredita-se que a escolha da pré-molhagem
correspondente a 80% da absorção do AGR pode não ter sido suficiente para limitar que este agregado
poroso absorvesse a água destinada à manutenção das condições de fluidez, coesão e viscosidade
impostas aos concretos referenciais.

Quadro 5. Resultados dos ensaios com os BAC no estado fresco.

Espalhamento Caixa L
T500 (s) Anel J (mm) Funil V (s)
Tr. a/c % AGR (mm) (adimens.)
Res. % Res. % Res. % Res. % Res. %
1 0,35 0% 750,0 5,27 46,0 0,93 17,25
2 0,35 10% 757,0 +0,9 4,94 -6,3 27,5 -40,2 0,93 - 15,28 -11,4
3 0,35 20% 750,0 - 7,59 +44 25,5 -44,6 0,87 -6,4 25,63 +48,6
4 0,35 30% 731,5 -2,5 5,75 +9,1 25,0 -45,6 0,88 -5,4 16,46 -4,6
5 0,45 0% 745,0 2,87 37,5 0,85 9,60
6 0,45 10% 552,5 -25,8 3,72 +29,6 6,50 -82,7 0,42 -50,6 7,06 -26,5
7 0,45 20% 645,0 -13,4 2,75 -4,2 35,0 -6,7 0,56 -34,1 6,84 -28,7
8 0,45 30% 615,0 -17,4 2,84 -1,0 55,0 +46,7 0,50 -41,2 5,37 -44,1
9 0,55 0% 692,5 2,00 42,5 0,84 12,62
10 0,55 10% 635,0 -8,3 1,50 -25 85,0 +100 0,40 -52,4 3,97 -68,5
11 0,55 20% 640,0 -7,6 1,50 -25 95,0 +123 0,56 -33,3 3,10 -75,4
12 0,55 30% 627,5 -9,4 1,50 -25 37,5 -11,8 0,64 -23,8 4,02 -68,1
Onde: Tr.- traço; a/c- relação água/cimento; % AGR- porcentagem de agregado graúdo reciclado; Res. –
resultado do ensaio.

Analisando todo o grupo de BAC da relação a/c=0,35 verifica-se a substituição do AGN pelo AGR
não influenciou negativamente nas propriedades ligadas à trabalhabilidade, ainda que o resultado do
funil V para o BAC com 20% de AGR tenha sido mais extenso do que para os demais. As pequenas
alterações entre os resultados para os betões deste grupo podem ser advindas das peculiaridades dos

154
Moreira e Cabral

ensaios como, por exemplo, na marcação do tempo do escoamento do concreto pelo funil V com o
cronômetro, que é altamente influenciada pelo poder de reação do profissional ao iniciar e finalizar a
cronometragem.

Os resultados alcançados para a propriedade habilidade de passagem pelas barras de aço dos betões
com agregados reciclados das relações a/c=0,45 e a/c=0,55 (tanto no anel J como na caixa L),
independente da porcentagem de substituição, indicam uma necessidade de ajuste de dosagem para o
uso destes betões em estruturas densamente armadas, em caso de aplicação real.

Provavelmente o elevado teor de aditivo do grupo de BAC da relação a/c=0,35, comparado aos outros
dois grupos, influenciou para que este grupo tenha se apresentado mais trabalhável, pois enquanto a
relação a/c=0,35 possuía uma relação sp/c=0,55%, as relações a/c=0,45 e a/c=0,55 tinham a metade
(sp/c=0,275%) e quase um terço a menos (sp/c=0,20%), respectivamente.

3.2 BAC no estado endurecido

Os resultados médios dos ensaios no estado endurecido estão sintetizados no Quadro 6, podendo-se
observar que os agregados reciclados exerceram influência sobre as propriedades avaliadas. Assim,
para um melhor entendimento da influência conjunta das duas variáveis testadas (relação a/c e AGR)
sobre as propriedades em questão, optou-se por realizar uma análise estatística dos resultados e
produzir modelos matemáticos que explicassem tais propriedades.

Quadro 6. Resultados dos ensaios com os BAC no estado endurecido.


Tr. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
a/c 0,35 0,35 0,35 0,35 0,45 0,45 0,45 0,45 0,55 0,55 0,55 0,55

% AGR 0% 10% 20% 30% 0% 10% 20% 30% 0% 10% 20% 30%
fc28
48,48 50,10 63,80 60,47 32,14 41,98 41,91 36,45 30,46 27,19 33,10 32,67
(MPa)
fc56
50,71 53,95 59,90 57,21 38,02 43,85 37,53 34,05 32,32 32,01 33,49 31,72
(MPa)
Onde: Tr.- traço; a/c- relação água/cimento; % AGR- porcentagem de agregado graúdo reciclado; fc- resistência
à compressão axial.

Os subitens a seguir detalham a análise estatística de cada propriedade estudada.

3.2.1. Resistência à compressão axial (fc) aos 28 dias


A análise de variância dos resultados obtidos no ensaio de resistência à compressão axial (fc) aos 28
dias de idade está apresentada no Quadro 7.

Quadro 7. Análise de variância dos resultados de resistência à compressão axial aos 28 dias.
Fator controlável SQ GDL MQ Teste F Valor p Significância
a/c 1976,71 2 988,36 85,590 0,000000 S
AGR 317,37 3 105,79 9,161 0,001987 S
a/c x AGR 188,77 6 31,46 2,724 0,065859 NS
Erro 138,57 12 11,55
Total 2621,421 23
Onde: SQ – soma quadrada; GDL – grau de liberdade; MQ – média quadrada; S – significativo; NS – não
significativo.

Verifica-se que tanto a relação a/c quanto a porcentagem de AGR são significativos sobre a resistência
à compressão axial nesta idade, porém a interação destes fatores não tem influência sobre esta

155
Propriedades mecânicas de betões auto-compactáveis compostos por agregados reciclados

propriedade. Propôs-se um modelo matemático, apresentado na Eq. (1), para descrever o


comportamento dos concretos. Este modelo apresentou um coeficiente de determinação (R²) igual a
0,83.
(1)

A relação a/c é o principal interveniente da resistência axial, sendo que, para relações a/c maiores
serão obtidas resistências menores. Ainda que a porcentagem de agregado reciclado interfira nesta
propriedade, pelo modelo apresentado pode-se observar que esta influência é baixa. O baixo
coeficiente do AGR no modelo é coerente com o resultado do teste F apresentado no Quadro 6, em
que a relação a/c apresenta um teste F nove vezes maior do que o do AGR.

O incremento suave na resistência com o aumento da porcentagem de substituição do agregado natural


pelo reciclado, segundo Leite [19], pode ser devida a capacidade que o agregado reciclado tem de
absorver a pasta de cimento, fazendo com que cristais de hidratação precipitem nos poros entre o
agregado e a pasta, propiciando um maior fechamento da zona de transição e melhorando a resistência
do concreto na zona.

3.2.2. Resistência à compressão axial (fc) aos 56 dias


A análise de variância dos resultados do ensaio de resistência à compressão axial aos 56 dias está
apresentada no Quadro 8, podendo-se notar que, embora aos 28 dias a resistência axial tenha sofrido
influência tanto da relação a/c como do AGR, aos 56 dias esta influência passou a ser apenas da
relação a/c. A principal característica do AGR sobre a resistência é a sua porosidade [20], de tal forma
que aos 28 dias ainda é possível existirem partículas que absorvam a água livre remanescente do
concreto, mas aos 56 dias esta água já foi consumida.

Quadro 8. Análise de variância dos resultados de resistência à compressão axial aos 56 dias.
Fator controlável SQ GDL MQ Teste F Valor p Significância
a/c 2306,95 2 1153,48 56,905 0,000001 S
AGR 35,10 3 11,70 0,577 0,640934 NS
a/c x AGR 269,16 6 44,86 2,213 0,113826 NS
Erro 243,24 12 20,27
Total 2854,461 23
Onde: SQ – soma quadrada; GDL – grau de liberdade; MQ – média quadrada; S – significativo; NS – não
significativo.

Na Eq. 2 do modelo matemático proposto aparece apenas o termo que exerce influência significativa
sobre a propriedade avaliada. Seu coeficiente de determinação (R²) foi igual a 0,79.

(2)

Este modelo matemático expressa claramente o quanto a relação a/c afeta a resistência axial aos 56
dias. A compreensão deste modelo segue a mesma adotada para o modelo exposto na Eq.1: quanto
maior a relação a/c, menor será a resistência. Para uma dada relação a/c, quanto mais longo o período
de cura, maior será a resistência, pois ainda estará ocorrendo a hidratação de partículas de cimento [4].

CONCLUSÕES

Dos resultados obtidos, pode-se concluir que a substituição do agregado graúdo natural pelo agregado
graúdo reciclado de betão, até a porcentagem de 30%, para a produção de BAC pode ser uma
alternativa proveitosa para a indústria da construção civil, desde que a capacidade de absorção de água
deste reciclado não seja um fator limitante.

156
Moreira e Cabral

A resistência axial apresentou melhorias à medida que foi incorporado mais agregado reciclado, o que
pode ter sido provocado pela absorção da pasta de cimento pelo agregado reciclado fazendo com que
cristais de hidratação fossem formados entre o reciclado e a pasta, garantindo uma melhor resistência
na zona de transição. Como as partículas do agregado reciclado possuem diferentes quantidades de
argamassa de origem aderida e consequentemente diferentes índices de vazios, esta capacidade de
absorção da pasta de cimento dos BAC não é linear mesmo entre os betões da mesma relação a/c. No
entanto, ainda que não haja esta linearidade, a melhoria suave na resistência foi garantida.

Assim é possível concluir que os agregados reciclados influenciam os BAC no estado fresco, mas não
significativamente até a incorporação de 30%. Já no estado endurecido, estes agregados não exerceram
influência sobre a resistência à compressão axial aos 56 dias, mas sobre a resistência à compressão
axial aos 28 dias notou-se que, embora o agregado reciclado tenha exercido certa influência, a relação
a/c afetou mais fortemente, indicando que é viável utilizar agregados reciclados de betão convencional
na produção de BAC e obter desempenho mecânico satisfatório, dentro das condições estudadas.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) do


Brasil pelo financiamento da bolsa de estudos.

REFERÊNCIAS

[1] Cavalcanti, D. J. de H. (2006). Contribuição ao estudo de propriedades do concreto auto-


adensável visando sua aplicação em elementos estruturais. Programa de Pós-graduação em
Engenharia Civil: estruturas da Universidade Federal de Alagoas, Dissertação de mestrado.
[2] Repette, W. L. (2011). Concreto autoadensável. In: Isaia, G.C. (Ed.) Concreto: ciência e
tecnologia. Vol. 2. bracon.
[3] Oliveira, M. J. E. (2002). Materiais descartados pelas obras de construção civil: estudo dos
resíduos de concreto para reciclagem. Instituto de Geociências e Ciências Exatas da Universidade
Estadual Paulista, Tese de doutoramento.
[4] Mehta, P. K.; Monteiro, P. J. M. (2008). Concreto: microestrutura, propriedades e materiais. 3nd
ed. Ibracon.
[5] ABNT. (2010). NBR 15823: Concreto autoadensável: partes 1 a 6. Rio de Janeiro.
[6] ABNT. (2007). NBR 5739: Concreto: ensaio de compressão de corpos-de-prova cilíndricos. Rio
de Janeiro.
[7] ABNT. (1991). NBR 11578: Cimento Portland composto. Rio de Janeiro.
[8] ABNT. (2003). NBR NM 248: Agregados - Determinação da composição granulométrica. Rio de
Janeiro.
[9] ABNT. (2009). NBR NM 52: Agregado miúdo - Determinação da massa específica e massa
específica aparente. Rio de Janeiro.
[10] ABNT. (2009). NBR NM 53: Agregado graúdo - Determinação da massa específica, massa
específica aparente e absorção de água. Rio de Janeiro.
[11] ABNT. (2006). NBR NM 45: Agregados - Determinação da massa unitária e do volume de
vazios. Rio de Janeiro.
[12] ABNT. (2001). NBR NM 30: Agregado miúdo - Determinação da absorção de água. Rio de
Janeiro.

157
Propriedades mecânicas de betões auto-compactáveis compostos por agregados reciclados

[13] ABNT. (2003). NBR NM 46: Agregados - Determinação do material fino que passa através da
peneira 75 um, por lavagem. Rio de Janeiro.
[14] Gomes, P. C. C. (2002). Optimization and characterization of high-strength self-compacting
concrete. Universitat Politècnica de Catalunya de la Escola Tècnica Superior D’Enginyers de
Camins, Canals i Ports de Barcelona. Barcelona, Tese de doutoramento.
[15] Norma Européia. (1996). EN 445: Lechadas para Tendones de Pretensado - Métodos de Ensayo.
CEN.
[16] ABNT. (1997). NBR 7215: Cimento Portland - Determinação da resistência à compressão. Rio de
Janeiro.
[17] ABNT. (2004). NBR 15116: Agregados reciclados de resíduos sólidos da construção civil -
Utilização em pavimentação e preparo de concreto sem função estrutural - Requisitos. Rio de
Janeiro.
[18] ABNT. (2015). NBR 5738: Concreto - Procedimento para moldagem e cura de corpos de prova.
Rio de Janeiro.
[19] Leite, M. B. (2001). Avaliação de propriedades mecânicas de concretos produzidos com
agregados reciclados de resíduos de construção e demolição. Programa de Pós-graduação em
Engenharia Civil. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, Tese de
doutoramento.
[20] Salem, R. M.; Burdette, E. G. (1998). Role of chemical and mineral admixtures on physical
properties and frost-resistance of recycled aggregate concrete. ACI Materials Journal, v. 95, n. 5,
p. 558-563.

158
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

Concreto autoadensável com agregados graúdos e miúdos


reciclados

Lais S. Machado 1 Anderson H.


Barbosa 2

RESUMO

Este trabalho apresenta como objetivo avaliar a produção de concretos auto-adensáveis com a
substituição dos agregados graúdos e miúdos convencionais por agregados reciclados de resíduos de
construção e demolição. O procedimento de dosagem foi realizado de acordo com o proposto por
Tutikian (2004), com substituição de 50% e 100% de resíduos qualificados como mistos, após
passarem por uma etapa de beneficiamento e determinação de suas propriedades físicas. Para avaliar
tal substituição, foram realizados os ensaios de caracterização dos concretos no estado fresco para a
averiguação dos critérios necessários e qualificação da habilidade de passagem, fluidez e coesão
segundo a NBR 15823:2010. Após esta qualificação, foram moldados corpos de prova e avaliados à
resistência a compressão, teor de absorção e massa específica no estado endurecido comparando com
os resultados dos concretos de referência, também produzidos nesta pesquisa. Com esta aplicação,
mostrou-se a viabilidade de substituição, produzindo misturas adequadas a esta produção e que
apresentaram reduções de resistência mecânica compatíveis com a literatura.

Palavras-chave: Reciclagem, Resíduo de construção e demolição, Concreto auto-adensável.

1. INTRODUÇÃO

A técnica de adensamento do concreto em elementos estruturais é considerada uma etapa fundamental


na construção civil. Tal prática garante ao concreto uma estrutura mais homogênea, com menos
vazios, proporcionando uma melhor resistência e durabilidade.

Com a necessidade de aprimoramento nas estruturas, visando um melhor desempenho mecânico e


durabilidade, buscou-se o conhecimento de novas práticas e estudos relacionados ao concreto pelo
mundo. Dentre essas novas práticas, ressalta-se a relação direta entre o adensamento e a vida útil das
estruturas.

1
Universidade Federal do Vale do São Francisco, Bahia, Brasil. laisampaio14@hotmail.com
2
Universidade Federal do Vale do São Francisco, Bahia, Brasil. anderson.barbosa@univasf.edu.br

159
Concreto autoadensável com agregados graúdos e miúdos reciclados

Dessa forma, surge o concreto auto-adensável, que tem a capacidade de se moldar nas formas, sem
compactação e passar sem segregar pelas armaduras, requer menos mão-de-obra, evita ninhos de
concretagem e elimina ruídos dos vibradores nas obras.

O concreto auto-adensável pode ser produzido nas mesmas centrais e utilizando os mesmos materiais
empregados na produção de concreto convencional com a inserção de aditivos superplastificantes e/ou
modificadores de viscosidade, combinados com adições minerais para a obtenção da fluidez sem
exsudar ou segregar durante o adensamento.

A indústria da construção civil hoje se comporta como grande geradora de impactos ambientais seja
pelo consumo de recursos naturais, seja pela modificação da paisagem e grande geração de resíduos.
Dessa forma, surge a possibilidade de absorver resíduos de construção e demolição (RCD) na
composição de materiais que fundamentam a construção, principalmente o concreto.

Segundo [1], os RCDs apresentam propriedades físicas e químicas apropriadas para o emprego como
material de construção.

Neste trabalho o resíduo de construção reciclado, em suas frações graúda e miuda, são utilizados para
a produção de concretos autoadensáveis.

2. CONCRETO AUTOADENSÁVEL

O comportamento em estado fresco é o aspecto mais importante que diferencia um concreto auto-
adensável de um concreto convencional.

Segundo [2,3], só será considerado um CAA um concreto que possuir três propriedades distintas:
fluidez, viscosidade e coesão.

A fluidez indica a facilidade com que o material flui através da estrutura, em especial através das
armaduras, a viscosidade e a coesão trabalham no intuito de evitar a segregação da mistura [3,4].

A viscosidade é inversamente proporcional à capacidade de fluir, ou seja, quanto maior a viscosidade,


menor será a velocidade em que o fluido se movimenta. Viscosidades muito baixas podem propiciar
instabilidade da mistura, ao mesmo tempo em que valores muito altos podem prejudicar a capacidade
de preenchimento do CAA, dificultando a passagem dos agregados pela armadura, além de prejudicar
o acabamento superficial. Concretos com viscosidades menores escoam mais facilmente e se moldam
melhor nas fôrmas, desde que não apresentem segregação [5].

A coesão do concreto define a sua resistência à exsudação e à segregação, ou seja, é um índice


simultâneo de capacidade de retenção de água e da capacidade de retenção do agregado graúdo na
massa do concreto fresco. É geralmente avaliada pela facilidade de alisamento da superfície da peça
concretada e pelo julgamento visual da resistência do concreto à segregação [6].
Segundo [3] são definidas ainda como características imprescindíveis ao CAA:
 Habilidade passante é a propriedade que caracteriza a capacidade da mistura de escoar pela
fôrma, passando por entre as armaduras de aço sem obstrução do fluxo ou segregação.
 Resistência à segregação é a propriedade que define a capacidade do CAA de se manter coeso
ao fluir dentro das fôrmas, passando ou não por obstáculos.

Em [3] afirma-se ainda que a habilidade do concreto fresco seja um CAA ou não, de preencher as
fôrmas sem a presença de bolhas de ar ou falhas de concretagem (ninhos), é um dos principais fatores
que influem na qualidade final do concreto endurecido. O CAA não pode depender de nenhum tipo de
ajuda externa para cumprir seu papel. O uso de vibradores de imersão, réguas vibratórias ou qualquer
outra forma de compactação é estritamente proibida em um CAA. A única ferramenta disponível para
esse concreto é seu próprio peso, ou seja, a ação da força da gravidade em sua massa.

160
Machado e Barbosa

Para alguns autores [7, 8] o alto desempenho do CAA está intrisecamente relacionado à facilidade de
trabalhar com o concreto, ou seja, em se empregar o mínimo esforço para lançar, espalhar e adensar o
material.

A trabalhabilidade do concreto auto-adensável (CAA) no estado fresco é essencial para sua correta
aplicação, pois como o adensamento desse concreto independe da ação humana, correções no local
não serão possíveis.

Em [8] define-se a trabalhabilidade do concreto fresco como a propriedade que determina o esforço
necessário para manipular uma quantidade de concreto fresco, com perda mínima de homogeneidade.
A manipulação está relacionada à mistura, ao transporte, ao lançamento, ao adensamento e ao
espalhamento em fôrmas, todas essas operações não deverão causar perda de homogeneidade ou
segregação no concreto. Os autores ainda enfatizam que a trabalhabilidade é relativa, pois depende das
condições de operação e manipulação tais como as dimensões das formas, a densidade de armaduras
entre outras.

Segundo [9], a alta trabalhabilidade do CAA associada à estabilidade da mistura é alcançada através
de uma perfeita dosagem do concreto, o que inclui também o uso associado de aditivos
superplastificantes e aditivos modificadores de viscosidade ou adições minerais.

Em [3] afirma-se que é imprescindível que em um CAA não ocorra segregação ao transpor obstáculos,
o que deve ser realizado por meio de testes que simulem condições reais, que possam assegurar que as
proporções de dosagem são necessárias.

3. GERAÇÃO DE RESÍDUOS E APLICAÇÃO EM CONCRETO

Dentro da cadeia da construção civil ainda é grande a quantidade de resíduos gerados. Os RCDs são
um dos responsáveis pelo esgotamento de áreas de aterros em cidades de médio e grande porte, uma
vez que eles correspondem a mais de 50% dos resíduos sólidos urbanos [10].

Os RCDs produzidos nas atividades de construção, manutenção e demolição variam muito com
valores encontrados na literatura entre 300 a 500 kg/hab.ano podendo chegar até a 1300 kg/hab.ano
[11].

Os agregados convencionais que compõem o concreto podem ser substituídos por agregados oriundos
dos entulhos reciclados como possibilidade de melhorias no desempenho do concreto pelo baixo
consumo de cimento [12].

Segundo [13], todas as etapas executivas da construção podem fazer uso de materiais reciclados no
próprio canteiro de obra, na forma de argamassas, concreto, assentamentos de pedaços de blocos
cerâmicos e outros.
O uso do agregado reciclado na produção de concretos é perfeitamente viável, desde que o mesmo
passe por um processo de beneficiamento e seleção, para que seja retirada a parte não desejada do
mesmo, melhorando a qualidade do material [14].

Em [15] estudou-se a durabilidade de concretos produzidos com resíduos de alvenaria e de concreto


endurecido com três diferentes teores de substituição aos agregados naturais: 20%, 50% e 100%.
Concluiu que o incremento de resíduos minerais até o teor de 20%, não altera o comportamento do
concreto em relação ao sem substituição e poderão ser utilizados sem qualquer restrição quanto à
resistência e à durabilidade. Também para os concretos produzidos com reciclados de alvenaria e/ou
com teor de substituição maior que 20%, sempre haverá a possibilidade de se produzir concretos com
menores exigências de resistência.

161
Concreto autoadensável com agregados graúdos e miúdos reciclados

Em [12] produziu-se concreto com fim não estrutural destinado à infra estrutura utilizando RCD em
diferentes traços e relações água/cimento. O entulho possibilitou uma trabalhabilidade superior à
oferecida pelos agregados tradicionais (areia e brita) para uma mesma relação água/cimento e a
resistência à compressão simples, aos 28 dias, obtida pelos concretos produzidos a partir da fração
mineral do entulho reciclado, representou em média, 49%, 62% e 93% da resistência do concreto de
referência, utilizando os traços 1:3, 1:5 e 1:7.

Resultados de [14] também confirmaram que o concreto produzido agregado reciclado em


substituição ao natural, pode ser utilizado com fins não estruturais, em obras de infra estrutura urbana.
E em algumas situações, os resultados alcançados pelos concretos reciclados chegaram até mesmo a
superar os resultados obtidos pelo concreto convencional.

3.1 Aplicação para concreto auto-adensável

Como para a produção do CAA os agregados são convencionais, uma possibilidade seria a utilização
de agregados graúdos e miúdos reciclados de construção e demolição, apresentando estes últimos
geralmente uma quantidade de finos que pode contribuir para o CAA.

Alguns autores testaram essa nova tecnologia com adição de RCD. Estudos como os de [16,17]
apontam para a aplicabilidade, em nível de resistência à compressão, dos agregados graúdos
reciclados de RCD, apontando para baixos percentuais de substituição. Nestes estudos, a substituição
de 100% dos agregados por resíduo de construção e demolição resultam numa redução superior a 30%
da resistência à compressão do concreto aos 28 dias de idade.

Especificamente para concretos auto-adensáveis em nível de propriedades mecânicas, trabalhos como


os de [18, 19] mostram a aplicabilidade dos resíduos de concreto, para percentuais de 50% de
substituição em relação ao agregado graúdo convencional.

Um parâmetro que deve ser observado em relação à produção de CAA é a alteração na relação
água/cimento promovida pelos agregados reciclados, principalmente em relação à quantidade de finos
presentes no mesmo, o que pode ser benéfico no caso de concretos auto-adensáveis.

Aponta-se em [20] para um decréscimo da resistência à compressão do concreto convencional e auto-


adensável em função do aumento do percentual de substituição do agregado graúdo misto.

[21] desenvolveram um estudo específico sobre a substituição de cimento por resíduos de blocos
cerâmicos em concretos auto-adensáveis, chegando a teores da ordem de 10% como os que
apresentaram resultados mais próximos do concreto de referência.

4. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

Os resíduos foram coletados junto a usina de reciclagem, passando por uma triagem prévia no ponto
de coleta para a eliminação de materiais não recicláveis (matéria orgânica). Os resíduos obtidos foram
triturados com o objetivo de atingir a granulometria desejada. Os diâmetros máximos utilizados foram
de 4,8 mm e 9,5 mm, respectivamente para o agregado míudo e graúdo.

As demais propriedades físicas dos agreagdos reciclados foram determinadas com base nas normas
brasileiras vigentes.

Caracterizados os materiais, procedeu-se ao estudo sobre a dosagem dos concretos auto-adensáveis.


Nesta fase da pesquisa, foram dosados concretos pelos métodos do IPT/EPUSP. Foram aplicados a
cada mistura um percentual de substituição de 50% e 100% de agregados graúdos convencionais por
agregados de RCDs comparando com o concreto de referência.

162
Machado e Barbosa

Tendo em vista a diminuição da trabalhabilidade da mistura promovida pelos agregados reciclados,


devido ao alto teor de absorção ocasionada pela maior porosidade desse agregado e a necessidade de
obter um concreto coeso sem segregar ou exsudar é necessária à inserção de finos. O fino utilizado foi
o mesmo resíduo com uma granulometria inferior (material passante na peneira 300 µm) e entrou em
substituição ao agregado miúdo num teor de 15%, não variando nos diferentes traços confeccionados.

O procedimento de dosagem foi realizado com ajustes, o CAA é obtido a partir de um concreto
convencional e alguns de seus componentes são alterados para que torne auto-adensável. O ajuste do
aditivo superplastificante e do teor de argamassa eram feitos à medida que se realizava os ensaios de
caracterização das pastas especificados na fundamentação teórica deste trabalho.

Vale ressaltar que para os CAAs confeccionados foram utilizados o aditivo superplastificante
Glenium 51 produzido pela BASF, de 1,5% a 2,5% da massa do cimento, aumentando na proporção
que aumentava o teor de substituição. Isso se fez necessário devido a observação do aumento da
relação de a/c proveniente da maior absorção desse agregado e, portanto requer um teor maior do
superplastificante para amenizar o consumo de água, ou seja atingir a fluidez com menor quantidade
de água.

Os traços iniciais não foram os traços finais e esses ajustes se deram com alterações do fator água
cimento, teor de argamassa e de superplastificante. A medida que se verificava a coesão, fluidez,
habilidade de passagem, homogeneidade e ausência de exsudação ou segregação na mistura, de acordo
com os ensaios de caracterização, eram ajustados esses fatores. Os traços com 100% e 50% de
substituição não apresentaram trabalhabilidade suficiente nos traços iniciais e então aumentou o teor
de argamassa em 0,02 até se encontrar o ponto ótimo, mantendo-se sempre constante o valor
encontrado para a massa de brita.

Os traços finais podem ser visualizados no Quadro 1.

Quadro 1. Traços finais dos concretos auto adensáveis.


Substituição
RCD Teor de
Traço de Teor de RCD RCD
graúdo/miúdo argamassa Cimento Areia Brita Água
referência superplast. (graúdo) (fino)
(%) (%)
(%)
T1 (1:5,0) 100/15 61% 2,5 1,00 2,261 - 2,34 0,399 0,61
T2 (1:5,0) 50/15 59% 2,0 1,00 2,159 1,23 1,23 0,381 0,59
Ref (1:5,0) 0/15 57% 1,5 1,00 2,057 2,58 - 0,363 0,57

A produção do concreto foi feita em uma betoneira de eixo inclinado, adicionando primeiramente
parte da água com o agregado graúdo, em seguida o cimento a areia e o fino, sendo o processo
finalizado com o aditivo diluído no restante da água na mistura.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os resultados dos ensaios de caracterização estão apresentados no Quadro 2.

Quadro 2. Resultados de caracterização do CAA.


L-box Test V-funnel Test Slump flow test
Traço de
referência Espalhamento
H2/H1 Limite Tempo (s) Limite Limite
(mm)
T1 (1:5) 0,81 0,8 9s12s 6 670/630/610 600
T2 (1:5) 0,95 a 13s a 675 / 680/ 650 a
Ref (1:5) 0,93 1 10s22 12 635/ 627/ 653 800

163
Concreto autoadensável com agregados graúdos e miúdos reciclados

Pode-se observar no Quadro 2 que o T2 apresentou no V-funnel test um valor superior ao limite
estabelecido, mas com uma diferença pouco significativa. Com exceção deste, todos os outros traços
obtiveram resultados que caracterizam o concreto como auto-adensável, ou seja, alcançaram os índices
mínimos de fluidez especificados pela literatura para concretos auto-adensáveis e com aspecto visual
satisfatório, ou seja, que não apresentou segregação e/ ou exsudação.

Este comportamento, entretanto, demandou maior quantidade de água na mistura a medida que se
aumentava o teor de substituição, resultando em relações água/cimento mais altas que no concreto de
referência.

Observa-se que o T2 apresentou resultados muitos próximos ao do concreto de referência, inclusive


com melhor fluidez.

Percebe-se ainda que o concreto com teor de substituição de 50 % e teor de argamassa maior do que o
de referência apresenta mais fluidez e maior habilidade de passagem (verificado nos ensaios do V-
funnel e L box, respectivamente). Esse fato ocorre porque a pasta de cimento torna a estrutura mais
coesa e preenche os vazios ocasionados pelo acréscimo no consumo de água.

O quadro 3 mostra os resultados obtidos no ensaio de resistência à compressão para concretos dosados
com as substituições de 50% e 100% e o concreto de referência.

Quadro 3. Resultados da resistência média à compressão.


Resistência à compressão (MPa)
Traço de referência Substituição RCD(%) 28 dias
Média σ¹
T1 (1:5) 100 24,15 0,94
T2 (1:5) 50 33,688 1,63
Ref (1:5) 0 37,526 2,5
¹ Desvio padrão das amostras.

Nota-se por meio do Quadro 3 que o maior valor encontrado para os concretos com resíduos aos 28
dias de idade em relação à resistência à compressão foi o concreto com substituição de 50% diferindo
apenas 10% do valor encontrado no concreto de referência. O concreto com 100% de substituição
apresenta uma diminuição da resistência de 35,6% em relação ao concreto de referência.
Este valor está de acordo com os valores encontrados por [16, 17], os quais obtiveram uma redução
superior a 30% da resistência a compressão do concreto aos 28 dias para a substituição de 100% dos
agregados por RCD.

Aliada ao maior teor de argamassa e a maior relação água/cimento está a baixa resistência dos
agregados graúdos e miúdos reciclados, principalmente pela heterogeneidade de seus componentes,
porosidade e elevada absorção de água. Dessa forma temos uma redução do fck quando há o aumento
do teor de substituição dos agregados reciclados, afinal estes são considerados o elo frágil da mistura,
e a ruína do concreto provavelmente se dá pela sua ruptura.

O Quadro 4 mostra os resultados obtidos no ensaio de absorção e massa específica no estado


endurecido dos concretos dosados.

Quadro 4. Resultados da absorção média e massa específica média.


Traço Substituição (%) Absorção média (%) Massa específica média (g/cm³)
T1 (1:5) 100 10,07 2,47
T2 (1:5) 50 9,33 2,55
Ref (1:5) 0 6,61 2,62

164
Machado e Barbosa

Analisando os valores do Quadro 4, percebe-se que os valores de absorção do concreto são maiores
com o maior teor de substituição. Isso ocorre devido ao significativo aumento no teor de absorção do
agregado graúdo reciclado quando comparado com o agregado graúdo natural.

Em relação à massa específica, verifica-se que os concretos com substituições menores obtiveram os
maiores valores, pois quanto maior o teor de substituição do agregado graúdo, mais leve fica o
concreto. Isso ocorre devido a massa específica dos agregados graúdos reciclados serem
consideravelmente menores que a massa específica dos agregados naturais

É relevante que o componente fino (adição) adicionado à mistura foi também agregado reciclado,
portanto o componente que tem por finalidade reduzir o índice de vazios também apresenta um
elevado teor de absorção, deste modo obtivemos uma microestrutura mais fechada, porém com uma
adição que aumentou o teor de absorção e diminuiu a massa específica.

O teor de absorção dos agregados pode ser explicado pela sua composição. A elevada quantidade de
pasta de cimento (argamassa e concreto) obtida na composição realizada acarreta uma maior
porosidade na mistura resultando numa maior absorção de água e uma menor massa específica quando
comparados aos agregados naturais.

CONCLUSÕES

De posse dos resultados, pode-se concluir:

 O uso do resíduo de construção e demolição no concreto auto-adensável não trouxe nenhum


prejuízo para as propriedades no estado fresco. Pelo contrário, o concreto com 50% de
substituição obteve resultados melhores na habilidade de fluxo quando comparado com o
concreto de referência.

 A relação a/c aumentou ao se utilizar os agregados graúdos reciclados. Esse fato está
relacionado à grande absorção de água do resíduo que foi controlado com o teor de aditivo
superplastificante incorporado, além de uma prévia saturação dos agregados antes da
produção dos concretos.

 A adição de finos de resíduo reciclado não foi tão satisfatória, o teor de absorção e a
heterogeneidade deste não contribuíram para preencher os vazios e atuar segurando a água no
concreto como o esperado.

 A aplicação prática mostrou que o concreto apresentou uma alta capacidade de fluidez e
preenchimento das formas sem necessidade de meios de compactação e sem apresentar
segregação ou exsudação. O concreto alcançado atendeu no geral os requisitos exigidos para
concretos auto-adensáveis, lembrando que para isto foram necessários ajustes nos traços a
medida que se faziam os ensaios de caracterização, podendo destacar como uma das
dificuldades para atingir tais resultados.

 Os concretos com substituição de 50% se mostraram mais viáveis para serem aplicados, pois
apresentaram resultados de resistência à compressão possíveis para aplicações em concretos
estruturais, o mesmo não ocorrendo com o concreto com substituição de 100% de agregados
graúdos. Além de apresentarem resultados satisfatórios no estado fresco com poucos ajustes
na dosagem.

 No estado endurecido a grande absorção de água pelos concretos com RCDs está relacionada à
elevada taxa de absorção dos agregados, obtida no ensaio de absorção igual a 10,25%.

 De maneira geral, os resultados encontrados apontam que o resíduo de construção e demolição


pode ser utilizado em substituição ao agregado graúdo nos concretos auto-adensáveis, o que
apresenta uma alternativa para melhorar a sustentabilidade na construção civil.

165
Concreto autoadensável com agregados graúdos e miúdos reciclados

REFERÊNCIAS

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166
Machado e Barbosa

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Florianópolis-SC, IBRACON.

167
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

Concreto autoadensável com adição da cinza do bagaço de cana-


de-açúcar

Daiane dos S. Anderson H.


Silva 1 Barbosa 2

RESUMO

Esta pesquisa apresenta como objetivo a avaliação da substituição da cinza do bagaço de cana-de-
açúcar, resultante da queima do bagaço para a produção de energia na indústria sucroalcooleira,
aplicada após peneiramento em substituição parcial do cimento Portland e da areia fina para a
produção de concreto autoadensável (CAA). Foram utilizadas como composição do agregado miúdo
duas areias com granulometrias diferentes para ajuste da quantidade de finos do CAA. O trabalho foi
dividido em duas partes: primeiramente, a cinza foi substituída no cimento em teores de 0%, 5% e de
10% e na areia fina em teores de 5% e 10%, para cada traço. Os requisitos de autoadensabilidade do
concreto foram avaliados pelos ensaios de slump flow test, funil V e caixa L no estado fresco. As
propriedades físicas e mecânicas do concreto foram analisadas por meio dos ensaios de resistência à
compressão, índice de atividade pozolânica, absorção de água por imersão e massa específica real. A
resistência à compressão do CAA diminuiu com o aumento no teor de cinza no cimento, cerca de
13,42% para o teor de 5% e de 50,23% para o teor de 10% aos 7 dias, mas quando houve a
substituição dos dois tipos de cinza somente na areia fina o ganho de resistência foi em média de 9%.
A massa específica real obteve uma redução pouco significativa com o aumento no teor de cinza de
0,89% para o teor de 10% de substituição da cinza pelo cimento e areia fina.

Palavras-chave: Concreto autoadensável. Cinza. Bagaço da cana-de-açúcar.

1. INTRODUÇÃO

A busca por novas técnicas que proporcionem a otimização dos processos produtivos de construção,
aumento na qualidade de execução e redução dos desperdícios tem levado a indústria da construção
civil a introduzir produtos e tecnologias que garantam a presença de tais fatores. Nesse sentido, uma
alternativa que se mostra eficiente é a aplicação e o uso de forma racional do concreto.

1
Universidade Federal do Vale do São Francisco, Bahia, Brasil. daiane.dai15@gmail.com
2
Universidade Federal do Vale do São Francisco, Bahia, Brasil. anderson.barbosa@univasf.edu.br

169
Concreto autoadensável com adição da cinza do bagaço de cana-de-açúcar

O concreto autoadensável preenche os vazios das formas somente por meio de seu peso próprio sem
necessidade de adensamento, passa por entre as armaduras sem sofrer bloqueio e possui elevada
fluidez sem perda de estabilidade. Sua capacidade de autoadensamento se deve ao equilíbrio entre a
alta fluidez com grande mobilidade e moderada viscosidade entre as partículas do concreto fresco que
é alcançada pelo uso de aditivos superplastificantes, aditivos modificadores de viscosidade e adições
minerais de granulometria fina [1].

Cerca de uma tonelada de dióxido de carbono (CO2) é lançada na atmosfera por cada tonelada de
clínquer que é produzida na indústria cimentícea, entre outros gases em proporções menores, como o
CH4, NO2 e SO2 [2].

A utilização de adições minerais contribui para a redução do consumo de cimento e de agregados


naturais, na redução da emissão de dióxido de carbono e no aproveitamento de resíduos de diversos
setores industriais [3]. As agroindústrias geram anualmente uma quantidade considerável de resíduos
que quando utilizado pela construção civil resolve problemas de estocagem e despesas de transporte
para o descarte, além de colaborar para um fim racional desses produtos [4].

Portanto, a adição da cinza de bagaço da cana-de-açúcar, resíduo do setor sucroalcooleiro, no CAA


pode possibilitar a redução de custos, ganhos na resistência e durabilidade do concreto e ainda é uma
alternativa sustentável para a disposição final desse resíduo.

O objetivo geral desta pesquisa é promover a substituição parcial do cimento e da areia fina utilizados
para a produção do concreto autoadensável (CAA) pela cinza residual do bagaço da cana-de-açúcar
(CBC), avaliando o efeito dessa substituição nas propriedades físicas e mecânicas do CAA.

2. CINZA DO BAGAÇO DE CANA-DE-AÇUCAR

Os principais subprodutos da indústria sucroalcooleira, são: folhas e pontas, água de lavagem, bagaço,
torta de filtro, leveduras e vinhaça. No entanto, de todos os resíduos, o bagaço de cana-de-açúcar
merece destaque, em razão de sua capacidade de reutilização como fonte energética no processo
produtivo do açúcar e do álcool, através da queima do bagaço [2].

De acordo com uma pesquisa realizada pelo FIESP/CIESP [5], são gerados 6,2 kg de cinza por cada
260 kg de bagaço queimado, ou seja, para cada tonelada de bagaço que alimenta a cadeia,
aproximadamente 25 kg de cinzas residuais são gerados.

O bagaço gerado durante a etapa de moagem e é depositado a céu aberto, sendo levado para as
caldeiras onde será queimada produzindo as cinzas.

Atualmente, a destinação das cinzas do bagaço da cana-de-açúcar é um dos problemas enfrentados


pelos administradores das usinas. A fuligem gerada no processo é recolhida com técnicas de lavagem
e decantação e, juntamente com a cinza de caldeira, constituem-se em resíduos finais do processo
industrial, no qual não há possibilidade de redução deles [6].

A cinza do bagaço da cana-de-açúcar é um resíduo agroindustrial com propriedades pozolânicas,


portanto, é rica em sílica e pode proporcionar benefícios ao concreto no estado fresco e endurecido,
garantido melhora na trabalhabilidade, durabilidade, resistência mecânica e a ataques químicos [7].
As mudanças nas propriedades de concretos, argamassas e pastas pela adição da CBC, podem ser de
origem física, quando proporcionam a redução do índice de vazios, em virtude do maior
empacotamento da mistura, por se tratar de um material muito fino, aumentando a resistência do
concreto ou pozolânicos quando os compostos silicosos e/ou aluminosos amorfos presente na CBC
reagirem com o hidróxido de cálcio do cimento na presença de água [7].

170
Silva e Barbosa

As cinzas são constituídas predominantemente de dióxido de silício (SiO 2), normalmente acima de
60% (em massa). Essa sílica é obtida do solo através das raízes da cana em forma ácido monossílico
(H4SiO4) ou pela areia (quartzo) que não totalmente removida durante a lavagem da cana-de-açúcar
[2]. Além da sílica, a cinza contém álcalis e traços de óxido de ferro, alumínio, cálcio e magnésio [8].

Segundo [9], o teor de sílica da cinza pode ser influenciado por vários fatores como solo, clima e
fertilizantes empregados na cultura da cana. A sílica com estrutura amorfa possui maior reatividade,
portanto, maior atividade pozolânica que materiais cristalinos por possuir maior área específica.

De acordo com [10], A cinza na sua forma residual não é atrativa, sendo necessária a moagem
mecânica das partículas, processo que aumenta a reatividade do aditivo que é proporcional à sua
superfície específica.

A moagem adequada da CBC garante ao concreto com adição da cinza a manutenção das propriedades
mecânicas do concreto, mesmo com menor quantidade de cimento Portland e com reduzido
desprendimento de calor [2].

3. CONCRETO AUTOADENSÁVEL

O concreto autoadensável pode ser definido como o concreto que possui como principal característica
a capacidade de se espalhar por todos os espaços vazios dentro das formas e por entre as armaduras
sem a necessidade de vibração ou adensamento.

As principais propriedades do CAA são a fluidez, coesão, habilidade passante e resistência à


segregação [11, 12]:
 Fluidez: é a capacidade de concreto em percorrer a forma sem qualquer tipo de interferência
interna ou externa através de seu peso próprio.
 Habilidade passante: é a capacidade de movimentação pela forma, passando por entre as
armaduras sem obstrução do fluxo.
 Coesão: é uma propriedade que garante ao concreto maior resistência à exsudação e à
segregação, tornando-o mais homogêneo.

A segregação é fenômeno responsável pela separação do agregado graúdo e a pasta de cimento em


concreto com elevada fluidez, sendo assim, a resistência à segregação é a capacidade do concreto em
manter as partículas do agregado graúdo suspenso uniformemente na pasta do concreto.

Para que todas essas propriedades estejam presentes no CAA é necessário que sejam aplicados na
pasta de concreto aditivos superplastificantes juntamente com aditivos promovedores (modificadores)
de viscosidade. Os aditivos superplastificantes garantem a fluidez e a habilidade passante ao concreto,
enquanto os aditivos promovedores de viscosidade proporcionam coesão e resistência à segregação
[13].

O uso de aditivos que alteram a fluidez também permite a redução na introdução de água no concreto,
quando a quantidade de água é reduzida haverá uma diminuição na relação água/cimento e
consequentemente um aumento na resistência à compressão do concreto a classes acima de 40 MPa, o
que resulta em maiores custos de aplicação do CAA em relação ao concreto tradicional, pois na
maioria das obras não existe a necessidade de resistência acima de 25 MPa, tornando o uso do CAA
inviável economicamente em obras de execução convencional [14].

A necessidade de alta quantidade de finos na composição do CAA para aumentar a sua fluidez e a
resistência a segregação tem aumentado o uso de resíduos industriais como adições minerais,
contribuindo assim para a diminuição do impacto ambiental. Neste sentido, o concreto autoadensável
vem se mostrando um material com ótimas características para o desenvolvimento tecnológico
ambientalmente amigável do concreto [1].

171
Concreto autoadensável com adição da cinza do bagaço de cana-de-açúcar

4. USO DA CINZA NA COMPOSIÇÃO DO CAA

Estudos mostram que as cinzas do bagaço da cana-de-açúcar podem ser usadas na composição de
concretos e argamassas em virtude de possuírem granulometria fina e predomina na em sua
composição dióxido de silício (SiO2) em estado cristalino [15]. Existem duas formas de
reaproveitamento da cinza do bagaço da cana-de-açúcar na composição dos concretos. Primeiramente,
a cinza poderá ser utilizada como agregado miúdo em substituição a areia ou como adição mineral
reduzindo a quantidade de cimento que é inserido na composição do concreto.

Na substituição de agregado miúdo, a cinza resolve um grande problema que é a retirada de uma
grande quantidade de areia dos rios para utilização na construção civil, reduzir o assoreamento das
margens e preservando o ecossistema local [4].

Uma das principais vantagens do uso da CBC é o efeito fíler que altera a microestrutura do concreto,
tornando-o menos poroso, favorecendo a diminuição da permeabilidade e a velocidade de penetração
de agentes agressivos nas estruturas, aumentando assim a resistência do concreto.

Quando a cinza é submetida ao processo de queima e moagem, a CBC adquiri a capacidade de se


enrijecer em água quando na presença de cal ou materiais que liberam Ca(OH) 2, que é atividade
pozolânica [8]. Logo, como as reações pozolânicas são mais lentas, concretos com CBC passam a ter
menores resistências iniciais [16].

Para que seja possível descrever melhor a influência da cinza nas propriedades do concreto é
imprescindível relatar estudos que alguns autores realizaram sobre essa temática.

A influência da substituição de cimento Portland por cinza do bagaço na resistência à compressão de


argamassas foi verificada por [4]. Para tal, utilizou-se uma cinza residual classificada na peneira de 75
μm em argamassas (traço 1:3) com relação água/material cimentício de 0,48. Misturas com teores de
substituição de 5%, 10%, 15% e 20% foram confeccionadas, além da argamassa de controle,
composta exclusivamente por cimento Portland como material cimentício. A mistura com 15% de
cinza do bagaço apresentou os melhores resultados de resistência à compressão até os 63 dias de cura.
Os valores de resistência obtidos para as misturas com os demais teores de substituição não
apresentaram diferenças significativas entre si e com relação à argamassa de controle.

Já em [2] avaliou-se a atividade pozolânica da cinza do bagaço em pastas com cimento Portland
comum e relação água/sólidos de 0,50. A resistência à compressão da pasta composta por 10% de
cinza, com relação à massa de cimento, foi 30% maior que a resistência alcançada pela pasta de
referência (100% de cimento).

Estudos realizados por [2] sobre a utilização de diferentes CBC sem a moagem em substituição ao
cimento Portland e constatou que sua adição pode comprometer as propriedades dos concretos de
resistência convencional, principalmente para os teores de substituição de cimento Portland de 15% e
20%. A baixa atividade pozolânica, a granulometria grosseira e as modificações impostas pela cinza
residual à estrutura porosa dos concretos podem ser apontadas como as principais responsáveis pelo
efeito deletério nas propriedades do concreto.

[2] verificou também que a queima do bagaço da cana-de-açúcar entre temperatura entre 300°C e a
600°C produz cinzas com baixo teor de carbono. E na temperatura de 600°C a cinza produzida é mais
reativa.

5. MATERIAIS E MÉTODOS

As cinzas do bagaço da cana-de-açúcar foram coletadas junto a indústria do setor sucroalcooleiro a


Agroindústrias do Vale do São Francisco S/A. – AGROVALE, localizada na Fazenda Massayo na

172
Silva e Barbosa

Zona Rural da cidade de Juazeiro, região Norte do Estado da Bahia que utiliza biomassa como
combustível em processos de produção de vapor associados a sistemas de cogeração de energia
elétrica.

A cinza coletada, em virtude de estar no solo, apresentava um alto teor de matéria orgânica, sendo
separada o máximo possível no ponto de coleta e, posteriormente, no laboratório.

O método utilizado para a dosagem será o proposto por [17], esse procedimento é baseado no método
de dosagem para IPT/EPUSP. As etapas que foram realizadas durante a dosagem foram:
 Materiais que fizeram parte da composição CAA: Cimento Portland Composto com pozolana
e resistência a sulfato; aditivos superplastificante Glenium 160 SCC e Plastol 5100; areia fina,
areia média e brita de malha de 12 mm.
 Teor de argamassa seca inicial de 54% para o traço intermediário 1:5, em massa e em algumas
situações quando necessário aumentar o teor de finos adotou-se o teor de argamassa de 56%.
 Colocação do aditivo superplastificante: a quantidade de aditivo foi usado em função da massa
do aglomerante, com chute inicial de 1% da massa do cimento. Como o aditivo perde a sua
ação em pouco tempo, a medida que se coloca o aditivo, os finos também são adicionados,
logo, este passo e o seguinte foram executados simultaneamente.
 Adição do cinza, nas proporções definidas, tanto em substituição ao cimento com na areia fina.
 Ensaio da trabalhabilidade: foram executados os ensaios de slump flow test, funil V e caixa L,
necessários para verificar se o concreto possui as características principais do CAA (coesão e
fluidez). A moldagem dos corpos de prova foi realizada no LABMATEC de acordo com o
que especifica a norma NBR 5738/2003, ressaltando que não foi utilizado vibradores de
imersão.

Foram moldados corpos de prova cilíndricos de 10 cm de diâmetro e 20 cm de altura para a realização


dos ensaios de resistência à compressão nas idades de 7 e 28 dias e de absorção de água por imersão,
índice de vazios e massa específica real.

Na produção do CAA foi utilizada a proporção de 50% de areia A1 e 50% da areia A2 e dois tipos de
aditivos superplastificante o Glenium 160 SCC (Aditivo 1) e Plastol 5100 (Aditivo 2) que visavam
garantir a fluidez do concreto que não estava sendo alcançado apenas com adição de um aditivo.
As quantidades utilizadas estão apresentadas no Quadro 1:

Quadro 1. Quantidades, em kg, para a produção dos concretos.


CP II - Areia Areia CBC no CBC no Aditivo Aditivo
Traço Brita Água
Z - RS A1 A2 agregado cimento 1 2
CAA1 6,700 7,125 7,505 18,490 4,832 0,375 - 0,077 0,099
CAA2 6,365 7,125 7,505 18,490 4,405 0,375 0,335 0,067 0,076
CAA3 6,030 6,760 7,505 18,490 4,854 0,751 0,670 0,167 -
CAA4* 7,000 1,368 8,265 18,490 4,116 0,451 0,411 0,084 0,084
CAA5 6,700 6,080 7,505 18,490 3,936 0,751 0,670 0,100 0,100
*Nesse traço o teor de argamassa foi de 56%
O
s traços foram confeccionados com diferentes teores de substituição da cinza, tanto no cimento quanto
na areia A1 (areia fina), como mostra o Quadro 2. Não houve substituição da cinza pela areia A2, pois
esta areia possui uma granulometria de maior dimensão.

173
Concreto autoadensável com adição da cinza do bagaço de cana-de-açúcar

Quadro 2. Percentual de substituição da cinza do bagaço da cana-de-açúcar.


Teor de substituição da cinza
Cinza passante na peneira 75 µm Cinza retida na peneira 75 µm
Traço
Cimento Areia A1 Areia A1
CAA1 - - 5%
CAA2 5% - 5%
CAA3 10% - 10%
CAA4 - 5% 5%
CAA5 - 10% 10%

6. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O valor encontrado para a massa específica da cinza do bagaço da cana-de-açúcar passante na peneira
nº 200 de malha 75 µm foi de 2151 Kg/m3. Os cálculos encontram-se detalhados no Apêndice A. Se
comparado o resultado obtido por [2] que apresentou 2530 kg/m3 e [6] que obteve 2230 kg/m3 a cinza
estudada neste trabalho apresentou um valor em intervalo aceitável.

A finura do cimento obtida no ensaio foi de 1,27% está dentro do limite estabelecido pela NBR
11578/1997 determina uma finura máxima de 12%.

A finura da cinza retida na peneira nº 200 foi de 29,75%, isso se deve a grande quantidade de areia
com maior granulometria.

O ensaio de finura não pode ser realizado com a cinza passante na peneira 75 µm, devido a cinza ser
muito fina, o que tornar o resultado do ensaio inconclusivo.

O resultado dos ensaios no estado fresco, estão descritos Quadro 3.

Quadro 3. Resultados dos ensaios do concreto no estado fresco.


Traço Slump Flow (mm) Funil V (s) Caixa L (H2/H1)
CAA1 660 7,74 0,81
CAA2 610 7,56 0,58
CAA3 600 2,65 0,33
CAA4* 667 12,51 0,92
CAA5 682 14,82 0,80
*Nesse traço o teor de argamassa foi de 56%

É importante destacar que a cinza do bagaço da cana-de-açúcar possui massa específica menor que o
cimento que é de 2898 kg/m3, e como a substituição foi realizada em massa, houve uma perda na
quantidade de material adicionado.

Nos ensaios do slump flow test foi observado que para todos os traços o concreto fluiu uniformemente
pela base e não houve segregação e os valores de espalhamento encontraram-se dentro da faixa de
valores requerida para concretos autoadensáveis.

Pelos resultados observados no Quadro 3, é visível que quanto maior a quantidade de cinza em
substituição ao cimento, maior a fluidez e menor o tempo de escoamento no funil V. Os traços que
não possuíram cinza substituindo o cimento apresentaram maior viscosidade e valores de escoamento
superiores aos exigidos para concretos autoadensáveis.

174
Silva e Barbosa

Os concretos que apresentaram maior dificuldade de passar por entre os obstáculos, que é
representado pelo ensaio da caixa L, foram os que tiveram em seus traços substituição da cinza pelo
cimento.

O traço CAA3 obteve um comportamento diferenciado, mesmo possuindo um escoamento rápido,


apresentou uma baixa relação H2/H1 na caixa L. Esse comportamento deve ter ocorrido em razão,
talvez, da formação de um conglomerado de agregado entre as barras da caixa impedindo que o
concreto fluísse normalmente.

A resistência à compressão média dos concretos autoadensáveis, aos 7 e 28 dias, são apresentados na
Quadro 4.

Quadro 4. Valores de resistência à compressão média do CAA.


Resistência à compressão
Ganho de resistência
Traço (MPa)
entre 7 e 28 dias de cura
7 dias 28 dias
CAA1 19,45 31,63 62,62%
CAA2 16,84 28,49 69,18%
CAA3 9,68 18,09 86,88%
CAA4* 20,85 33,91 62,64%
CAA5 21,46 34,48 60,67%

Para todos os traços analisados é possível perceber que houve uma queda na resistência à compressão
nos concretos onde houve substituição da cimento pela cinza, em comparação com o concreto
autoadensável apenas com substituição na areia fina. Essa constatação pode ser observada,
comparando o CAA1 aos 7 dias de cura com os traços CAA2 e CAA3 percebe-se que houve uma
queda de 13,42% e de 50,23% na resistência à compressão, respectivamente (Fig. 1).

Com relação ao concreto com maior teor de cinza substituindo a areia fina e sem substituição no
cimento os ganhos de resistência foram maior do que o concreto no menor teor de substituição na
areia, sendo os ganhos de 7,2% e 10,33%, respectivamente, para os traços CAA4 e CAA5 em relação
ao traço CAA1. Se comparar os ganhos de resistência nos 28 dias em relação aos 7 dias, é visível um
aumento substancial.

Figura 1. Evolução da resistência à compressão ao longo do tempo de cura.

175
Concreto autoadensável com adição da cinza do bagaço de cana-de-açúcar

Nesse estudo houve perda de 36,5% de resistência na substituição da cinza pelo cimento no teor de
10% se comparado com o concreto com teor de substituição de 5% aos 28 dias. Em [18] observa-se
um aumento da resistência de 2,97% em condições semelhantes.

Os valores médio de absorção por imersão, índice de vazios e massa específica real para o concreto
autoadensável com diferentes teores de cinza com 28 dias de cura.

Analisando as Figuras 2 a 4, é possível observar que aumentando o teor de cinza para 5% no cimento
e 5% na areia fina (CAA2) houve um decréscimo na absorção de água e no índice de vazios não muito
significativo. Contudo, para o teor de substituição de 10% de substituição na areia e no cimento
(CAA3) o efeito foi inverso, houve um aumento na absorção de água e no índice de vazios. Nos
estudos de [6] e [8] quanto maior o teor de cinza mais poroso o concreto, o que resulta em maiores
valores de absorção e de índice de vazios.

Com relação a massa específica houve uma variação pouco significativa com o aumento no teor de
cinza, da ordem de 0,1% para o traço CAA2 e da ordem de 0,89% no CAA3. Nos trabalhos de [6] e
[8] o aumento da substituição de cinza também provocaram pouca variação na massa específica real.

Figura 2. Resultado do ensaio de índice de vazios.

Figura 3. Resultado do ensaio de absorção de água por imersão.

176
Silva e Barbosa

Figura 4. Resultado do ensaio de massa específica.

CONCLUSÃO

Sobre a análise dos concretos autoadensáveis confeccionados com cinza do bagaço da cana-de-açúcar,
pode-se concluir que:
 Com relação aos ensaios no estado fresco, em todos os traços não foi observada a ocorrência
de exsudação ou segregação dos materiais.
 Com o aumento da substituição da cinza pelo cimento foi apresentado uma redução na
capacidade do concreto autoadensável fluir e de passar por entre obstáculos. Percebe-se que o
concreto sem substituição da cinza pelo cimento apresenta melhor resultado no ensaio de
trabalhabilidade e as suas características que determinam sua utilização com concreto
autoadensável.
 É possível verificar o comportamento mecânico inferior dos concretos com cinza residual
substituindo o cimento e o agregado, em comparação da substituição somente no agregado.
Segundo [2], a baixa atividade pozolânica da cinza é, provavelmente, a principal responsável
por tal comportamento.
 Ficou evidente a redução da resistência à compressão dos concretos, à medida que o teor de
cinza aumentava no cimento. Contudo, a substituição da cinza apenas com agregado resulta
em ganho na resistência à compressão.
 Com o aumento no teor de cinza houve uma redução na massa específica real, devido a menor
massa específica da cinza.
 Com o aumento no teor de cinza houve um ganho no índice de absorção, que pode ser causada
pela queima não controlada do bagaço que gera cinza com altos teores de carbono e matéria
orgânica, sendo que a quantidade de carbono influencia na absorção de água, por ser um
material muito fino, o que ocasiona uma maior demanda por água [6].
 A necessidade de moagem e queima não controlada da cinza podem ter provocado a baixa
atividade pozolânica e comprometido a resistência à compressão do concreto. A temperatura
de queima de 600 ºC e a moagem mecânica das partículas aumenta a reativa das cinzas e o seu
desempenho [2].

REFERÊNCIAS

[1] Lisbôa, E. M. (2004). Obtenção do concreto autoadensável utilizando resíduo do beneficiamento


do mármore e granito e estudo de propriedades mecânicas. Dissertação (Mestrado), Universidade
Federal de Alagoas, Maceió.

177
Concreto autoadensável com adição da cinza do bagaço de cana-de-açúcar

[2] Cordeiro, G. C. (2006). Utilização de cinzas ultrafinas do bagaço de cana-de-açúcar e da casca de


arroz como aditivos minerais em concreto. Tese (Doutorado), Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro.
[3] Meneguelli, M. et al. (2009). Parâmetros de durabilidade em concretos auto-adensáveis com
adição de escória de aciaria LD. 51º Congresso Brasileiro do Concreto, Florianópolis.
[4] Tommasellii, M. A. G. et al. (2011). Alternativa de Utilização Sustentável do Resíduo Cinza,
Oriunda da Queima do Bagaço da Cana-De-Açúcar, Incorporando ao Concreto como Agregado.
31º Encontro Nacional de Engenharia De Produção, Belo Horizonte.
[5] FIESP/CIESP (São Paulo) (Org.). (2001). Ampliação da oferta de energia através da biomassa.
São Paulo: FIESP/CIESP.
[6] Lima, S. A. et al. (2011). Concretos com cinza do bagaço da cana-de-açúcar: avaliação da
durabilidade por meio de ensaios de carbonatação e abrasão. Ambiente Construído, Porto Alegre.
[7] Souza, L. M. S. (2011). Estudo de hidratação e nanoindentação de pastas de cinza da casca de
arroz e cinza do bagaço de cana-de-açúcar com hidróxido de cálcio. Dissertação (Mestrado),
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
[8] Paula, M. O. (2006). Potencial da cinza do bagaço da cana-de-açúcar como material de
substituição parcial do cimento portland. Dissertação (Mestrado), Universidade Federal de
Viçosa, Viçosa.
[9] Guimarães, L. M. et al. (2012). Estudo do Bagaço de Cana-de-açúcar de Diferentes Estados
Brasileiros. 54º Congresso Brasileiro do Concreto. Maceió.
[10] Castaldelli, V. N. et al. (2010). Avaliação da cinza do bagaço da cana-de-açúcar (in natura)
quando adicionado ao concreto. 52º Congresso Brasileiro do Concreto. Fortaleza.
[11] Meireles, D. et al. (2009). Avaliação das propriedades do concreto auto-adensável contendo
aditivos modificadores de viscosidade no estado fresco. 51º Congresso Brasileiro do Concreto.
Florianópolis.
[12] Coutinho, B. S. (2011). Propriedades e comportamento estrutural do concreto auto-adensável.
Dissertação (Mestrado), Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
[13] Pilz, S. E. et al. (2009). Contribuição ao estudo de concreto auto - adensável utilizando resíduos
de britadores. 51º Congresso brasileiro do concreto, Florianópolis.
[14] Dáros, B. et al. (2011). Efeito do Metacaulim em Concreto Autoadensável. 53º Congresso
Brasileiro do Concreto, Florianópolis.
[15] Secchi, M. et al. (2011). Estudo de dosagens e propriedades mecânicas de concretos utilizando a
cinza do bagaço da cana-de-açúcar como adição mineral. 19º Encontro Anual de Iniciação
Científica, Guarapuava, PR.
[16] Sampaio, Z. L. M. (2013). Análise do comportamento mecânico de concretos produzidos com
incorporação de cinza do bagaço da cana-de-açúcar de variedades SP911049, RB92579 e
SP816949. Dissertação (Mestrado), Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
[17] Tutikian, B. F.; Molin, D. C. D. (2008). Concreto auto-adensável. PINI, São Paulo.
[18] Nunes, I. H. S. (2009). Estudo das características físicas e químicas da cinza do bagaço de cana-
de-açucar para uso na construção. Dissertação (Mestrado) - Curso de Engenharia Civil,
Universidade Estadual de Maringá.

178
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

Concreto auto adensável leve - aspectos reológicos comparativos


ao concreto de massa convencional

1
D. Altheman E. Verzegnassi 2

R.C.C. Lintz 3 L.A. Gachet 4

RESUMO

Este trabalho apresenta avaliação do comportamento reológico do concreto auto adensável leve, de
densidade aproximada de 2.000 kg/m³, em comparação com o desempenho do concreto de massa
normal, de densidade aproximada 2.400 kg/m³. Os concretos leves foram produzidos em duas famílias:
a) com substituição total do agregado graúdo por agregados leves de argila expandida e b) com
substituição total do agregado graúdo e substituição parcial do agregado miúdo, em três diferentes
consumos de cimento: 320, 360 e 440 kg.cimento/m³. Foram analisados os comportamentos reológicos
(fluidez e coesão) pelos ensaios padronizados através das normas brasileiras ABNT quanto ao Slump
Flow, Slump Flow com Anel J, habilidade passante na Caixa L e o tempo de escoamento pelo Funil V.
Pelos resultados obtidos, pode-se concluir a perfeita adequabilidade do agregado leve de argila
expandida, tanto para substituição como agregado miúdo quanto para o agregado graúdo, na produção
de concretos leves com auto adensabilidade. Os concretos com substituição do agregado graúdo leve,
na mesma faixa de slump-flow que o concreto de agregado normal (550 mm), apresentou maior tempo
de escoamento T500 com anel J; mas, quando confinado sob peso próprio, o concreto leve mostra
melhor fluidez, com redução de 40% no tempo de escoamento medido no Funil-V. Considera-se
fortemente contribuinte a esse fenômeno o fator de forma e a menor densidade do agregado leve de
argila expandida; fatores esses que também inferem na tendência à segregação, na verdade, a flotação
do agregado leve.

Palavras-chave: concreto leve; auto adensável; Materiais de Construção.

1. INTRODUÇÃO

O concreto auto adensável leve (CAAL) traz em sua concepção a junção de duas tecnologias: as
técnicas inerentes a auto adensabilidade e as espcificidades da aplicação de agregados leves. Sobre o
concreto auto adensavel há expressiva quantidade de trabalhos sobre concretos de massas normais;
mas, há poucos estudos sobre concretos leves auto adensáveis [1]. A aplicação de concreto leve
avança de forma promissora para o desenvolvimento de elementos estruturais com menor massa e
melhor desempenho acústico. A aplicação, todavia, depende de todas as suas características físicas,
mecânicas e químicas, onde as propriedades dos agregados, e sua origem, são importantes [2].

1
Professor Mestre, Faculdade de Engenharia, Arquittura e Urbanismo da Unimep, Brasil. daltheman@unimep.br
2
Mestrando. Faculdade de Tecnologia da Unicamp. Limeira, Brasil. emerson@ft.unicamp.br
3
Professora Doutora. Faculdade de Tecnologia da Unicamp. Limeira, Brasil. rosacclintz@ft.unicamp.br
4
Professora Doutora. Faculdade de Tecnologia da Unicamp. Limeira, Brasil. gachet@ft.unicamp.br

179
Concreto auto adensável leve - aspectos reológicos comparativos ao concreto de massa convencional

A durabilidade de concretos com agregados leves devem ser avaliadas na aplicação estrutural. Pois, os
vazios característicos desses agregados inferem menor desempenho que agregados normais (rochosos)
quanto à permeabilidade, penetração de íons cloretos e penetração de água mesmo em concretos auto
adensáveis com elevado teor de cimento e baixa relação a/c, sendo menor o grau de impacto com o
menor diâmetro do agregado leve [3]. Estudos [4] mostram que a retração autógena em CAAL é
menor nas primeiras idades e após seis meses a retração é equiparadamente igual a de concretos auto
adensáveis (CAA) de massas normais.

No Brasil, a escala de emprego de agregados leves é modesta frente ao potencial das aplicações desse
material. Um dos fatores, por exemplo, é a pouca oferta de agregados como a argila expandida devida
às poucas fábricas e toda a extensão territorial do país, incindindo alto custo logístico ao material, que
poderia ser melhor explorado com a maior oferta, uma vez que existem solos favoráveis por todo o
território para a fabricação do produto [5]. A maior aplicação em elementos estruturais, atualmente se
dá a elementos como lajes.

Dado esse cenário, é de fácil compreensão o interesse desse estudo em fomentar a pesquisa e
aplicação de CAAL na industrialização da construção civil. E nisto, a auto adensabilidade do concreto
é forte técnica de aplicação. Mas, deve-se considerar que, a menor densidade deixa o concreto com
menor fluidez e consequentemente menor fator de adensabilidade. Devendo então ser aumentada a
fluidez da pasta para compensar esse fator; onde, aumenta-se assim a tendência à segregação.
Propriedade esta que nestes concretos se caracteriza pela flotação do agregado na superfície, inversa
ao concreto normal.

2. METODOLOGIA

A proposta do trabalho foi de avaliar o comportamento de agregados leves de argila calcinada, assim
elaborou-se plano experimental para comparar o concreto auto adensável leve ao comportamento do
concreto de massa normal. Executaram-se três famílias com diferentes consumos de cimentos,
empregando material silicoso – filler, em substituição ao cimento para manter a quantidade de
material fino na composição do traço. O quadro 1 seguinte expõe as dosagens e materiais empregados.

Quadro 1. Composição das dosagens dos concretos executados - em kg/m³


Concreto com Agregado Concreto com Agregado Concreto com Agregado
Material
Normal Graúdo Leve Miudo e Graudo Leves
CGL CGL CGL CML CML CML
Tipo Referência CN320 CN360 CN440
320 360 440 320 360 440

Cimento 320 360 440 320 360 440 320 360 440
CP V ARI
Filler 175 140 69 175 140 69 175 140 69
Filito
Areia
945 945 945 945 945 945 775 775 775
Natural < # 2,4 mm
Areia Argila
0 0 0 0 0 0 98 98 98
Leve < # 4,8 mm
Graúdo Basalto
751 751 751 0 0 0 0 0 0
Normal < # 12,5mm
Graúdo Argila
0 0 0 363 363 363 363 363 363
Leve < #12,5mm
Aditivo 1,4 % 1,4 % 1,4 % 1,4 % 1,4 % 1,4 % 1,4 % 1,4 % 1,4 %
Superplast. Policarboxilato spc spc spc spc spc spc spc spc spc
Teor
de Água
195 195 195 195 195 195 195 195 195
Relação a/c 0,609 0,541 0,443 0,609 0,541 0,443 0,609 0,541 0,443

Foram executadas dosagens prévias para ajuste dos teores de argamassa, água de amassamento, teor
de material fino adequado, etc. A dosagem variável de aditivo superplastificante a base de
policarboxilatos foi adotada em referêcia a produção corrente desse concreto, onde se detêm a relação
a/c fixa e mantêm a mesma trabalhabilidade com o aumento ou redução do aditivo. O teor de
argamassa adotado foi de 67%, em volume.

180
Altheman, Verzegnassi, Lintz e Gachet

A aplicação do material silicoso (fíller) foi proposta para manter a quantidade de finos no traço
quando da alteração do consumo de cimento. Onde, é de amplo conhecimento técnico que a reologia
do concreto se altera significativamente com a alteração no quadro de finos em concretos auto
adensáveis; e ainda, baixos teores de cimentos são mais suctíveis à segregação que concretos com
maior quantidade de aglomerantes, quer seja esta dinâmica ou estática. Para os consumos de cimento,
as duas primeiras faixas, 320 kg/m³ e 360, foram adotadas pelas classes ambientais normativas
indicadas na ABNT NBR 12655. E, a dosagem de 440 kg/m³ de cimento foi adotada pela razão de ser
esse valor trivial na produção de pré-moldados que exigem elevada resistência inicial para desforma e
içamento.

Os agregados leves empregados são de argila expandida, nodulizados, fabricados em Varzes Paulista,
interior do estado de São Paulo. Para o agregado graúdo, a sua granulometria é característica à brita 0
(# de 15 mm a 6 mm) com densidade aparente de 600 kg/m³ e massa específica de 1,10 kg/dm³, com
taxa de absorção de 10% para 24h. A argila empregada como substituição parcial no agregado miúdo,
tem granulometria caracerística a areia média de rio (# de 2,4 mm a 0,3 mm), com densidade aparente
de 860 kg/m³ e massa específica de 1,51 kg/dm³.

Para a produção dos concretos, esse agregado foi dosado na condição de “saturado superfície úmida”,
sendo sua massa específica nessa forma já considerada na dosagem dos traços. Essa medida é adotada
rotineiramente na produção em centrais de concretos, de forma à mitigar a migração (absorção) da
água do traço para dentro do agregado. Esta absorção causa impactos no desempenho reológico e, por
vezes, elevada retração plástica do concreto.

Com base nos ensaios indicados na ABNT NBR 15823, fez-se a análise das propriedades reológicas
medidas nos ensaios de slump flow, slump flow com anel J, caixa L e Funil V. Os resultados foram
analisados então sobre a relação com os tipos de agregados, diretamente sob a ótica da massa
específica do concreto.

3. RESULTADOS E ANÁLISES

Todos os resultados obtidos nesse trabalho estão expostos no quadro 2. Os concretos produzidos
ficaram dentro das faixas de slump flow SF1 e SF2 da ABNT NBR 15823.

Quadro 2. Resultados obtidos das amostras produzidas.


Amostras Produzidas
Ensaio
CN320 CN360 CN440 CGL320 CGL360 CGL440 CML320 CML360 CML440
Massa Específica (kg/m³) 2,27 2,30 2,34 1,77 1,89 1,84 1,76 1,75 1,76
Slump Flow (mm) 560 610 655 630 620 655 680 620 740
T500 (s) 3,9 2,0 2,0 3,0 3,0 3,0 2,2 3,0 3,0
Slump Flow Anel J (mm) 540 540 550 540 540 590 650 610 720
T500 Anel J (s) 3,0 2,5 3,0 6,5 4,5 3,5 2,1 2,0 3,0
Funil V (s) 17,9 14,0 13,0 13,0 8,5 8,5 6,1 7,5 6,1
Caixa L 0,78 0,79 0,80 0,80 0,80 0,84 0,86 0,91 0,97

As massas específicas, medidas nos corpos de prova, conforme a ABNT NBR 9778. A Figura 1
mostra a média das massas e a fração relativa das massas dos concretos leves sob a massa do concreto
normal (CN).

Para as análises de slump flow e slump flow com anel J, os resultados foram próximos para as
amostras de CN – concreto normal, e o CGL, com substituição do agregado graúdo por argila
expandidade. Os valores do anel J ficaram numa variação inferior a 50 mm. Mas, quando foi
adicionado 13%, em volume de areia, pelo agregado miúdo de argila expandida, obteve-se maior

181
Concreto auto adensável leve - aspectos reológicos comparativos ao concreto de massa convencional

abertura com e sem o anel J. Interessante é que os teores de água foram os mesmos, e os teores de
aditivos para as amostras foi de 1,4%. E ainda, nesse ponto, os traços CML, com agregado miúdo de
argila, tiveram a menor relação “slump flow com anel J/slump flow”. Nenhum traço teve aspecto de
segregação ou flotação do agregado leve.

Figura 1. Média das massas específicas dos concretos produzidos.

É clara a melhora do comportamento reológico com o incremento de areia de argila no concreto auto
adensável. Pois, embora os valores do ensaio T500 (tempo para o qual o concreto leva no ensaio de
slump flow para atingir a abertura de 500 mm) estejam próximos nas três famílias, deve-se lembrar
que este ensaio tem grande dificuldade em se conseguir traduzir a fluidez em concretos com baixa
coesão e elevada fluidez, como no caso dos concretos estudados.

Pois, o que se espera para o concreto auto adensável leve é que, com a menor massa os valores de
fluidez nos ensaios tendam à valores maiores que o concreto de massa normal, claramente devido que,
nos ensaios empregados que são ensaios de leitura monoponto, a menor massa não favorece o
escoamento em tempo menor que o concreto mais pesado, pela simples diferente energia acumulada
entre esses concretos. De forma que pode ser melhor observado em ensaios de reometria, onde pode-
se ter em concretos leves com argila com uso de superplastificantes, redução da tensão de escoamento
sem alteração da viscodidade plástica [6][7]. E isso é o que podemos observar nos resultados obtidos
deste estudo. Os valores dos ensaios de L-box (caixa L - ABNT NBR 15823) conforme Figura 2,
foram próximos para as amostras CN e CGL, e melhores para com o agregado leve miúdo – CML.

Figura 2. Valores do ensaio da Caixa L sobre slump flow com anel J.

É clara a influência da granulometria, e consequente da conformidade esférica dos grãos, do agregado


miúdo leve. Pois, mesmo em baixo teor de substituição (13%) à areia fina eólica, que também possui
alta esfericidade no grão devido a sua conformação geológica, melhorou-se o fator de auto
adensabilidade, visto nas amostras CML.

182
Altheman, Verzegnassi, Lintz e Gachet

As afirmações anteriores são visíveis na prática, ao passo que, quando da produção dos concretos é
perceptível a maior coesão do concreto de massa normal (CN) em relação ao concreto leve (CGL e
CML), nos mesmos pontos da tensão de escoamento, analisados aqui pelo ensaio de slump flow.

Uma melhor forma de avaliarmos qualitativamente a viscosidade aparente é relacionarmos o ensaio do


Funil V com o anel J. O Fluxo de um fluído sob confinamento (que é o caso do Funil em V) tem seu
tempo de escoamento tão maior (dada então como resistência ao escoamento) quão maior for sua
viscosidade. Os outros ensaios de fluxo como a medição do T500 não conferem boa acuracidade, ou
confiabilidade diretamente, dado a dificuldade de leitura em concretos com boa ou alta fluidez
(poucos coesos). Para essa análise, mostra-se na Figura 3 os resultados das amostras.

Figura 3. Valores individuais das amostras sob análise do escoamento no funil V pela
espalhamento com anel J.

As amostras estudadas mostraram bons valores quanto ao escoamento. Pela Figura 3 tem-se a fácil
percepção que as amostras de CN e CGL, estavam com espalhamento próximos. Comparando essas
duas famílias, é claro o ponto em que o concreto normal, de maior massa confere maior viscosidade
para o mesmo nível de tensão de escoamento (espalhamento). Pois, o concreto com menor densidade
precisou de menor coesão para conferir o mesmo espalhamento. Mas, esses concretos podem ter
desempenho semelhantes quanto a auto adensabilidade mesmo em espalhamentos diferentes.

CONCLUSÕES

Os ensaios propostos na ABNT NBR 15823 são adequados para avaliar o comportamento de concretos
leves auto adensáveis.

Mas, devem ser atentadas as particulares quanto a menor massa, que induz a diferentes
comportamentos em relação ao concreto de massa normal. Como o avaliado neste trabalho quando se
compara com o concreto de massa normal.

A maior observação quanto a dosagem do concreto com menor massa é, quanto a segregação por
flotação do agregado leve, pois difere da segregação de concretos com massas normais que tendem à
sedimentação das fases. E isso é um fator crítico na busca do maior espalhamento, principalmente na
produção em escala, onde no aspecto operacional torna-se mais dícifil saber o ponto de aplicação do
superplastificante sem induzir à segregação.

O uso da areia artificial leve, de argila expandida em substituição parcial, resultou em amostras com
melhor desempenho, dado este material ser de forma esférica e maior módulo de finura que a areia em
uso.

183
Concreto auto adensável leve - aspectos reológicos comparativos ao concreto de massa convencional

Com o uso da argila expandida substituíndo a amostra com brita 0 foi possível fazer concreto auto
adensável mais leve em valores de 20% menores que a densidade de concreto de massa normal; onde
os valores obtidos se encontram na faixa esperada e observada noutros estudos [8].

REFERÊNCIAS BIBLIOGÁFICAS

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Barbosa, L. A. (2014). Study of Density and Modulus of Elasticity of Lightweight Concrete with
Brazilian Aggregate. Applied Mechanics and Materials, 467, 257-261.

184
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

Concretos auto-adensáveis:
tendências de composição e resultados de ensaios

Alysson Moura1 Luiz Carneiro2 Eduardo Thomaz3

RESUMO

Neste trabalho, selecionou-se um conjunto de cerca de 200 composições de concretos auto-adensáveis


(CAA) com valores de resistência média à compressão aos 28 dias (fc) entre 10 MPa e 90 MPa. Estas
composições foram provenientes de ensaios feitos em laboratórios de institutos de pesquisas no Brasil
e na América do Sul. Após um tratamento estatístico elementar, escolheram-se as correlações entre os
diferentes parâmetros que definem uma composição de CAA, tais como resistência à compressão,
relação entre água e aglomerantes, e consumos de cimento, água, materiais finos, agregados, adições e
aditivos. Com as correlações definidas, mesmo com elevadas dispersões e pequenos coeficientes de
correlação, pôde-se estimar para cada fc a quantidade média de cada material e os resultados médios de
alguns ensaios de viscosidade plástica e habilidade passante dos CAA.

Palavras-chave: Concreto auto-audensável, materiais constituintes, resistência, ensaios.

1. INTRODUÇÃO

O concreto auto-adensável (CAA) é um material muito plástico com elevada fluidez e


trabalhabilidade, cuja composição contém alto teor de materiais finos e aditivos superplastificantes e
modificadores de viscosidade, além dos materiais comuns aos concretos convencionais vibrados.
Possui a capacidade de poder ser moldado em fôrmas por conta do seu peso próprio, sem necessitar de
qualquer tecnologia de adensamento ou vibração externa.

Segundo [1], o CAA é aquele concreto capaz de fluir, auto-adensar pelo seu peso próprio, preencher a
forma (habilidade passante, fluidez) e passar por armaduras, dutos e insertos (habilidade passante),
mantendo sua homogeneidade, sem apresentar qualquer segregação, nas etapas de mistura, transporte,
lançamento e acabamento (resistência à segregação).

1
Instituto Militar de Engenharia, Seção de Engenharia de Construção, Rio de Janeiro, Brasil. am.alysson@gmail.com
2
Instituto Militar de Engenharia, Seção de Engenharia de Construção, Rio de Janeiro, Brasil. carneiro@ime.eb.br
3
Instituto Militar de Engenharia, Seção de Engenharia de Construção, Rio de Janeiro, Brasil. ecsthomaz@terra.com.br

185
Concretos auto-adensáveis: tendências de composição e resultados de ensaios

Apresenta como vantagens a redução do custo de aplicação por volume de concreto, a garantia de
excelente acabamento em concreto aparente, o bombeamento em grandes distâncias horizontais e
verticais, a otimização de mão de obra, a rapidez na execução e melhoria nas condições de segurança
de uma obra, a eliminação da necessidade de espalhamento e de vibração, o aumento nas
possibilidades de trabalho com fôrmas de pequenas dimensões, a antecipação nas operações de cura,
entre outras.

Por isso, o CAA tem sido usado principalmente em elementos de concreto pré-fabricado e também em
fundações executadas por hélice contínua, estações de tratamento de água e esgoto, reservatórios de
águas e piscinas, pisos, muros, painéis, obras com acabamento em concreto aparente, locais de difícil
acesso, peças pequenas com muitos detalhes ou com formato não convencional onde seja difícil a
utilização de vibradores, e fôrmas com elevada taxa de armadura interna.

Para elaboração de um orçamento de obras de estruturas de concreto, faz-se necessário estimar a


quantidade dos materiais que compõem o concreto. É útil, para isto, ter-se uma idéia das composições
atualmente usadas nos concretos.

Neste trabalho, selecionou-se um conjunto de cerca de 200 composições de concretos com valores de
resistência média à compressão aos 28 dias (fc) entre 10 MPa e 90 MPa. Estas composições são
provenientes de ensaios feitos em laboratórios e publicados em estudos de institutos de pesquisas no
Brasil (35 estudos) e na América do Sul (Argentina - 3 estudos, Paraguai - 1 estudo).

Após um tratamento estatístico elementar, escolheram-se as correlações entre os diferentes parâmetros


que definem uma composição de concreto, tais como resistência à compressão, relação entre água e
ligante, e consumos de ligantes, de agregados, de adições, de aditivos e de água.

Com as correlações definidas, mesmo com dispersões, pôde-se estimar para cada fc a quantidade
média de cada material e os resultados médios de alguns ensaios de viscosidade plástica e habilidade
passante dos concretos.

2. ANÁLISE DA COMPOSIÇÃO DE CONCRETOS AUTO-ADENSÁVEIS

As Figuras 1 a 10 apresentam o consumo de materiais de CAA em função de fc (10 MPa a 90 MPa),


cujos dados foram coletados de [2 a 40]. Na maioria dos CAA, o cimento utilizado foi o do tipo alta
resistência inicial, o material fino era formado de pó de granito ou fíler calcário ou areia fina, o
agregado miúdo era areia natural quartzosa com módulo de finura entre 1,55 e 2,96 e dimensão
máxima característica de 1,2 mm a 4,8 mm, o agregado graúdo era granito com módulo de finura entre
5,24 e 6,70 e dimensão máxima característica de 9,5 mm a 19 mm, a adição era a sílica ativa e o
aditivo era o do tipo superplastificante à base de policarboxilato.

Também pode-se visualizar nessas figuras uma curva central (linha cheia) junto com sua respectiva
equação, que foi obtida por regressão de dados com o coeficiente de correlação mais próximo da
unidade, e outras duas curvas (linhas tracejadas), uma inferior e outra superior, que foram construídas
diminuindo ou somando o desvio padrão dos dados à curva central.

A Figura 1 reúne dados sobre o consumo de cimento por volume de CAA em função de fc. Nesta
figura, as curvas foram obtidas sem levar em consideração os CAA com filer de pó de calcário
dolomítico [8] e com fibras de borracha [10], pois os consumos de cimento foram destacadamente
muito superiores aos dos outros CAA. Pode-se observar que este consumo aumenta com o incremento
de fc e que, para os concretos com fc entre 10 MPa e 90 MPa, o consumo médio de cimento situa-se
entre cerca de 300 kg/m3 e 500 kg/m3. Nota-se que, para o CAA com fc = 20 MPa, que é o valor
mínimo de resistência de concreto com fins estruturais [41], o consumo médio mínimo de cimento por
volume de CAA é torno de 320 kg/m3.

186
Moura, Carneiro e Thomaz

900

Consumo de cimento (kg/m3)


800 borracha
700 fíler pó de calcário dolomítico
600
500
400
300
y = 2,9024x + 264,78
200 2
R = 0,3911
100
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

fc (MPa)
Figura 1. Consumo de cimento (C) em função de fc.

Dados sobre o consumo de adição por volume de CAA, excluído qualquer tipo de cimento Portland,
em função de fc encontram-se na Figura 2. Verifica-se nesta figura que o consumo de adição situa-se,
em sua maioria, na faixa entre 10 kg/m3 e 90 kg/m3, sendo em média cerca de 50 kg/m3,
independentemente do valor de fc. Em geral, costuma-se adotar o consumo de adição, em massa, de
8% a 12% do consumo do cimento.

300
Sílica ativa
Consumo de adição (kg/m3)

250 Metacaulim
Pozolana
200

150

100

50

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

fc (MPa)
Figura 2. Consumo de adição em função de fc.

Na Figura 3 podem ser vistos dados sobre o consumo de água por volume de CAA em função de fc.
Estes dados levam em conta a água contida nos agregados e nos aditivos químicos. Como esperado,
percebe-se que o consumo de água diminui com o acréscimo de fc. Para a faixa de fc entre 10 MPa e
90 MPa, o consumo médio de água situa-se em um intervalo de 270 L/m3 a 180 L/m3.
350
Consumo de água (L/m3)

300 y = -44,135Ln(x) + 371,32


R2 = 0,4319
250

200

150

100

50

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

fc (MPa)
Figura 3. Consumo de água (Ag) em função de fc.

187
Concretos auto-adensáveis: tendências de composição e resultados de ensaios

Em se tratando da relação entre água e aglomerantes por volume de CAA em função de fc, tendo sido
considerado cimento e adições (sílica ativa, metacaulim e pozolana) como aglomerantes, a Figura 4
mostra que esta relação decresce com o aumento de fc e que, para a faixa de fc entre 10 MPa e 90 MPa,
a relação média entre água e aglomerantes fica em um intervalo entre 0,90 e 0,30.

Relação entre água e aglomerantes


1,2

0,8 y = -0,2655Ln(x) + 1,5167


2
R = 0,6775
0,6

0,4

0,2

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

fc (MPa)
Figura 4. Relação entre água e aglomerantes (Ag/agl) em função de fc.

A Figura 5 apresenta dados sobre o consumo de materiais finos por volume de CAA em função de fc.
Nota-se que uma grande dispersão entre estes dados e que em média a maioria destes se enquadra em
uma faixa de 300 kg/m3 a 100 kg/m3, para o intervalo de fc entre 10 MPa e 90 MPa.
600
Consumo de material fino (kg/m3)

500
-0,4446
y = 834,26x
2
400 R = 0,0945

300

200

100

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

fc (MPa)
Figura 5. Consumo de material fino (F) em função de fc.

Também pode-se constatar da Figura 6 que há uma grande dispersão dos dados sobre o consumo de
agregados miúdos por volume de CAA em função de fc, que variaram em sua maioria de 400 kg/m3 a
900 kg/m3 para o intervalo de fc entre 10 MPa e 90 MPa.

Dados sobre o consumo de agregados graúdos por volume de CAA em função de fc estão agrupados
na Figura 7. Verifica-se nesta figura que este consumo tende a diminuir com o aumento de fc e situa-
se, em sua maioria, na faixa entre 1100 kg/m3 e 700 kg/m3 para o intervalo de fc entre 10 MPa e 90
MPa.

Da Figura 8, pode-se visualizar uma dispersão nos dados de consumo de aditivos em função de fc e
uma tendência em se aumentar o consumo de aditivos quanto maior for fc. Estes dados em média
variaram de 1 L/m3 a 8 L/m3 para o intervalo de fc entre 10 MPa e 90 MPa. Foram desconsiderados os
dados do estudo [31] por conta do uso de altos teores volumétricos de fibra de aço (1,0%, 1,5% e
2,0%), com comprimento de 35 mm, diâmtro de 0,54 mm e extremidades em gancho, o que levou ao
uso de elevados teores de aditivos, que foram destacadamente superiores aos dos outros concretos.

188
Moura, Carneiro e Thomaz

1200

Consumo de agregado miúdo (kg/m


3
)
1000

800

600

400 y = 419,55x0,1367
2
R = 0,0694
200

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

fc (MPa)
Figura 6. Consumo de agregado miúdo (Ag m) em função de fc.
Consumo de agregado graúdo (kg/m)

1400
3

1200

1000

800

600

400
y = -160,36Ln(x) + 1477,1
200 R2 = 0,2667

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

fc (MPa)
Figura 7. Consumo de agregado graúdo (Ag g) em função de fc.

20
Consumo de aditivos (L/m3)

16
fibras de aço

12

y = 0,1477x0,876
8 2
R = 0,3155

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

fc (MPa)
Figura 8. Consumo de aditivos (Ad) em função de fc.

A Figura 9 apresenta dados de resultados do espalhamento da massa de concreto [42] em função de fc.
Constata-se desta figura que o espalhamento tende a aumentar com o incremento de fc. Em média, o
espalhamento situa-se na faixa entre 550 mm e 750 mm para o intervalo de fc entre 10 MPa e
90 MPa.

Na Figura 10 podem ser vistos os resulados da habilidade passante da massa de concreto pela caixa L
[43] em função de fc, que tenderam a crescer com o incremento de fc e que em média se enquadraram
na faixa de 0,80 a 1,00 para o intervalo de fc entre 10 MPa e 90 MPa.

189
Concretos auto-adensáveis: tendências de composição e resultados de ensaios

900
800

Espalhamento SF (mm)
700
600
y = 2,5864x + 535,59
500
R2 = 0,3199
400
300
200
100
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

fc (MPa)
Figura 9. Espalhamento (SF) em função de fc.

1,2
Habilidade passante HP = H2 / H1

0,8
y = 0,002x + 0,7851
0,6 R2 = 0,2278

0,4

fibra de aço
0,2

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

fc (MPa)
Figura 10. Habilidade passante (HP) pela caixa L em função de fc.

3. PROPOSTA PARA COMPOSIÇÃO DE CONCRETOS AUTO-ADENSÁVEIS

Com base no levantamento feito e nas Figs 1 a 10, propõe-se neste trabalho as Eqs (1) a (9), cuja
variável é a resistência média do concreto à compressão aos 28 dias (fc).

Para as classes de concreto fck (resistência característica do concreto à compressão) entre 10 MPa e
80 MPa, cuja condição de preparo contempla a medição do cimento e dos agregados em massa e da
água de amassamento em massa ou volume com dispositivo dosador e corrigida em função da
umidade dos agregados, admite-se para fc o valor igual a fck somado ao produto entre o valor de 1,65 e
o desvio padrão de dosagem de 4,0 MPa [44].
C  2,9024 fc  264,78 (1)
Ag  44,135Ln fc  371,32 (2)
Ag agl  0,2655Ln fc  1,5167 (3)
0, 446
F  834,26 f c (4)
Ag m  419,55 fc (5)
0,1367

Ag g  160,36Ln fc  1477,1 (6)


Ad  0,1477 f c (7)
0,876

SF  2,5864 fc  535,59 (8)


HP  0,002 fc  0,7851 (9)

190
Moura, Carneiro e Thomaz

CONCLUSÕES

Este trabalho apresentou propostas de formulações para a estimativa da quantidade dos materiais
constituintes e dos resultados dos ensaios de espalhamento e de habilidade passante de CAA apenas
em função da sua resistência média à compressão.

Teve por base um conjunto de cerca de 200 composições de CAA, com valores de resistência média à
compressão aos 28 dias (fc) entre 10 MPa e 90 MPa. Estas composições foram provenientes de ensaios
feitos em laboratórios e publicados em estudos de institutos de pesquisas no Brasil (35 estudos) e na
América do Sul (Argentina - 3 estudos, Paraguai - 1 estudo).

As propostas para estimativa de composição de CAA, reunidas neste trabalho, apresentaram


coeficientes de correlação entre os dados de cada formulação para os materiais consituintes do CAA
fracos, haja vista situarem entre 0,09 e 0,68.

É necessário lembrar que a composição do CAA, obtida segundo as propostas deste trabalho, serve
como uma primeira estimativa para o orçamento de uma obra de concreto e deve ser ajustada
experimentalmente no laboratório e no canteiro da obra obra.

Antes de tudo, é indispensável selecionar criteriosamente e fazer o proporcionamento adequado de


todos os materiais do CAA, em especial os materiais finos, a fim de comprovar a compatibilidade
entre ligantes e aditivos químicos e garantir sua trabalhabilidade e estabilidade.

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Concretos auto-adensáveis: tendências de composição e resultados de ensaios

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193
Concretos auto-adensáveis: tendências de composição e resultados de ensaios

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Portland – Preparo, controle e recebimento – Procedimento.

194
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

Dosagem e aplicação de concretos autoadensáveis com misturas


binárias e ternárias de materiais cimentícios

Sidiclei Eduardo Camila


Formagini1 Oliveira Teixeira Silva3
Menezes2

Lucas Ricardo Kaleb Batista


Zanoni4 Basílio5

RESUMO

O uso de concretos autoadensáveis (CAA) produzido com Cimento Portland e adições minerais têm se
tornando frequente na construção civil brasileira, pois possibilitam propriedades de alta fluidez no
estado fresco, dispensando o uso mecânico de adensamento ao ser aplicado, propriedades no estado
endurecido superiores ao concreto tradicional, tais como resistência à compressão, módulo de
elasticidade, índice de absorção de água. Para que o CAA cumpra com eficiência a todas estas
propriedades é necessário um correto proporcionamento da mistura granular seca, em função do
máximo empacotamento granular, correlacionando-a com o uso eficiente de um aditivo químico de
terceira geração, bem como um processo eficiente de mistura e aplicação. Sendo assim, este trabalho
apresenta um estudo de dosagem de dois CAA e suas caracterizações no estado fresco e no
endurecido. A diferença entre os traços deve-se: o traço CAA_C foi produzido com mistura binária de
materiais cimentícios (cimento Portland CP V e sílica ativa); o traço CAA_CE foi produzido com
mistura ternária de materiais cimentícios (cimento Portland CP V, sílica ativa e escória moída de alto-
forno), sendo mantidos iguais os demais agregados e aditivos químicos. O proporcionamento da
mistura granular foi elaborado utilizando-se a teoria do modelo de empacotamento compressível,
correlacionada com propriedades almejadas no estado fresco e no endurecido. Os resultados
experimentais, de acordo com os parâmetros da norma NBR 15823-1 (ABNT, 2010), no estado fresco
apresentaram: classe de espalhamento SF1 (550 mm a 650 mm), tempo de viscosidade plástica
aparente, t500, classe VS1 (t500 < 2 segundos); não apresentou habilidade passante na caixa L com
três barras de aço; e viscosidade plástica aparente pelo funil V classe VF1 (tempo < 9s). No estado
endurecido, os concretos CAA_C e CAA_CE apresentaram resistência à compressão aos 28 dias
classe C35 (35 MPa < fc < 40 MPa) e C45 (45 MPa < fc < 50 MPa). Em função dos resultados
experimentais obtidos em laboratório, optou-se por validar o CAA_CE no campo, por meio da
produção de um caminhão betoneira com 8,5 m³, e aplicado na construção de uma laje de concreto,
onde, observou-se que o concreto manteve as propriedades obtidas em laboratório, enquadrando-se
dentro dos parâmetros da norma NBR 15823-1 (ABNT, 2010).

Palavras-chave: Concreto autoadensável, escória de alto-forno, cimento Portland CP V.

1
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS, FAENG, Campo Grande, MS, Brasil. sidiclei.formagini@ufms.br
2
UFMS, Curso de Engenharia Civil, Campo Grande, Brasil. eduardooliveiramenezes@hotmail.com
3
UFMS, Curso de Engenharia Civil, Campo Grande, Brasil. camilateixeirasilva@live.com
4
UFMS, Curso de Engenharia Civil, Campo Grande, Brasil. lucasricardozanoni@hotmail.com
5
UFMS, Curso de Engenharia Civil, Campo Grande, Brasil. kaleb.basilio@gmail.com

195
Dosagem e aplicação de concretos autoadensáveis com misturas binárias e ternárias
de materiais cimentícios

1. INTRODUÇÃO

A aplicação de concretos autoadensáveis (CAA), na construção das estruturas de obras de engenharia,


está se tornando cada vez mais frequente nos grandes centros brasileiros. O uso do CAA pode
apresentar como principais vantagens: facilidade e rapidez de aplicação em elementos esbeltos ou com
altas densidades de armadura; melhor preenchimento e adensamento, eliminando riscos de falhas de
concretagem e consequentes reparos; redução do número de pessoas necessárias para sua aplicação;
menor manutenção em idades avançadas; melhor aparência no estado endurecido; resistências à
compressão superior a dos concretos convencionais, possibilitando menor tempo de desforma; entre
outras. Algumas dos obstáculos a serem vencidos para sua aplicação são: disponibilidade dos
materiais adequados; mão de obra especializada para o processo desde a dosagem até o lançamento; as
formas devem ser estanques para que não ocorra vazamento do concreto durante sua aplicação; custo
inicial maior que o dos concretos convencionais; entre outros.

Algumas das dificuldades apontadas para o uso do CAA estão associadas à falta de investimento de
centrais dosadoras para a elaboração de concretos com tais características, na dificuldade para
formulação da dosagem, na obtenção de alguns materiais granulares constituintes, ou ainda, na
escassez de mão de obra especializada para o processo desde sua produção até sua aplicação nas
estruturas. Também, percebe-se certa restrição dos construtores, por alegarem um custo de produção
superior a dos concretos convencionais. Porém, segundo [1], [2] e [3] quando dosado, produzido e
aplicado de forma adequada, o CAA pode apresentar desempenho superior aos concretos
convencionais tanto no estado fresco (facilidade de aplicação e preenchimento), como no endurecido
(maior resistência mecânica e propriedades associadas, menor índice de vazios e por consequência,
maior durabilidade).

Em relação aos materiais constituintes de um CAA, nem todas as regiões apresentam agregados
naturais ou britados, com granulometria adequada para sua formulação, uma gama de cimentos
comercializados com diversos tipos ou teores de adições minerais, ou aditivos químicos, que sejam
compatíveis aos materiais cimentícios, capazes de manter sua fluidez entre o preparo e o término do
lançamento, sob as mais variadas condições de aplicação ou fatores climáticos. Quando incorporado
adições minerais ao cimento, os teores devem ser constantes para não alterarem o comportamento
tanto no estado fresco como no endurecido. Deste modo, o número de variáveis que interferem no
comportamento de um CAA o torna mais difícil de ser dosado, produzido e aplicado em uma
estrutura. Além da escolha dos materiais constituintes e de seu proporcionamento adequado,
principalmente do esqueleto granular, também precisa apresentar e manter a fluidez necessária para
ser aplicado na obra, sob os mais variados tempos de descarga ou condições climáticas, sem segregar
ou exsudar [4]. Mesmo apresentando um custo maior de dosagem e produção, este custo pode ser
compensado pela facilidade de aplicação, envolvendo uma quantidade menor de mão-de-obra, bem
como o retrabalho de eventuais reparos de falhas de concretagem, que podem ocorrer devido a um
abatimento abaixo do especificado, alta densidade de armadura, peças esbeltas, ou ineficiência do
adensamento durante a aplicação.

No Brasil, os cimentos Portland já são produzidos e comercializados com incorporação de certo teor
de adições minerais como filer, pozolânas ou materiais cimentantes. A adição, por exemplo, de escória
moída de alto-forno (EMAF) no cimento Portland, em proporções adequadas, pode gerar benefícios
aos concretos, como [1], [2], [3] e [5]: diminuição do teor de clínquer, contribuindo com a redução nas
emissões de gases de efeito estufa; diminuição da velocidade de hidratação da pasta cimentícia, com
ganhos de resistência em idades avançadas; menor liberação do calor de hidratação por conter menos
clínquer; inibição parcial ou completa do potencial de reações álcalis-agregados; maior teor de finos
cimentantes e, por consequência, maior teor de argamassa, melhorando a coesão no estado fresco.

Em virtude dos cimentos incorporarem adições minerais durante sua produção, em alguns tipos este
teor pode chegar a 70%. Deste modo, percebe-se uma dificuldade a mais para o controle de qualidade
de sua produção, principalmente na interação com os aditivos químicos. Além disso, por causa da
variabilidade da resistência à compressão aos 28 dias de alguns dos cimentos brasileiros, em função

196
Formagini, Menezes, Silva, Zanoni e Basílio

das variações nos percentuais de adições minerais, algumas centrais dosadoras estão buscando
alternativas como a do uso de cimentos tipo CP V. Este cimento apresenta menor teor de adição
mineral em sua composição (95 a 100% de clínquer e gesso, sendo permitido de 0 a 5% de adição de
filer calcário), possibilitando assim a adição, na própria central dosadora, de materiais suplementares
como a escória moída de alto-forno em estado amorfo. Deste modo, tem-se um melhor controle no
teor de adição mineral e nas propriedades dos concretos, principalmente os resultados de resistência à
compressão. Por outro lado, o uso de cimento Portland CP V de alta resistência inicial é mais utilizado
por indústrias de elementos pré-fabricados, pois as peças produzidas, geralmente, não consomem
grandes volumes de concreto. Para uma central dosadora, cuja maior parte do fornecimento do
concreto é destinada a peças com grandes volumes de concretagem como lajes, paredes, fundações,
este cimento CP V não é muito utilizado, devido às altas taxas de liberação de calor de hidratação nas
primeiras idades, favorecendo ao surgimento de fissuras de origem térmica. Deste modo, recomenda-
se baixar o ter de clínquer por meio de adições minerais como filer calcário, pozolânas ou materiais
cimentantes.

Este trabalho tem por objetivo elaborar dois traços de concretos autoadensáveis, um com mistura
binária (cimento Portland CP V e sílica ativa) e outro com mistura ternária (cimento Portland CP V,
EMAF e sílica ativa), bem como sua produção em laboratório e determinação das propriedades nos
estados fresco e endurecido, visando o enquadramento conforme requisitos normativos da Associação
Brasileira de Normas técnicas, ABNT [6]. Os objetivos específicos são de produzir dois concretos e
determinar as propriedades: classe de espalhamento pelo cone de Abrams [7]; habilidade passante pela
caixa L [8]; viscosidade plástica aparente pelo funil V [9]; resistência à compressão em idades até 91
dias [10]; módulo estático de elasticidade à compressão [11]; resistência à tração por compressão
diametral [12]; absorção de água, índice de vazios e massa específica [13]; validação da dosagem do
traço elaborado com escória moída de alto-forno por meio de sua aplicação na concretagem de uma
laje e correlacionar os resultados deste concreto com os resultados obtidos em laboratório.

2. METODOLOGIA

Para determinar o efeito comparativo da substituição parcial do cimento CP-V ARI por EMAF nas
propriedades de concretos autoadensáveis, foram dosadas e produzidas duas misturas: de referência
(CAA_C) e com substituição em massa de 34% do cimento pela EMAF (CAA_CE). Depois de
testado e validado em laboratório, o traço do concreto CAA_CE foi produzido em uma central
dosadora, com volume de 8,5m³ e aplicado em uma laje de cobertura de uma construção residencial,
com o objetivo de validar experimentalmente o traço no campo, bem como verificar possíveis
variações em algumas das propriedades do estado fresco e do endurecido. Para este concreto
denominou-se a mistura como CAA_CEO.

2.1 Materiais

Os materiais cimentícios utilizados para a produção do CAA foram o cimento Portland CP-V de alta
resistência inicial, escória moída de alto-forno (EMAF) em estado amorfo, sílica ativa (SA). Os
agregados utilizados foram a areia fina natural quartzosa de rio (AR), britado de origem basáltica com
diâmetro máximo de 6,3mm (AG6,3), britado de origem basáltica com diâmetro máximo de 9,5mm
(AG9,5). Escolheu-se o aditivo químico à base de policarboxilato (SP), Glenium 51, e água potável.

2.2 Caracterizações dos materiais

Os materiais foram caracterizados experimentalmente em função dos parâmetros de entrada exigidos


pelo Modelo de Empacotamento Compressível [14] utilizado para a formulação do traço. As
propriedades necessárias dos materiais cimentícios, para elaboração das misturas dos concretos
autoadensáveis, são apresentadas no Quadro 1. A compacidade experimental (relação entre o volume
que o material ocupa num volume unitário e o volume que ocuparia se 100% deste volume fosse
preenchido) foi determinada pelo procedimento de demanda de água, conforme [15].

197
Dosagem e aplicação de concretos autoadensáveis com misturas binárias e ternárias
de materiais cimentícios

Quadro 1. Principais propriedades dos materiais cimentícios.


Propriedade Metodologia de Unidade Material
ensaio Cimento SA EMAF
Massa específica [16] g/cm³ 3,07 2,21 2,97
Área Específica [17] cm²/g 4640
Resistência à compressão - 28 dias [10] MPa 56,4
Compacidade experimental (k=6,7) [15], [14] - 0,61 0,43 0,60

As distribuições granulométricas dos materiais cimentícios (cimento e EMAF obtida por meio da
difração de raios laser e da sílica ativa pelo método da sedimentação por um sedígrafo) e dos
agregados (por meio de peneiramento mecânico [18]) são ilustradas na Fig. 1. O cimento Portland tem
distribuição granulométrica contínua, a sílica ativa praticamente uniforme e descontínua para a escória
de alto-forno. Os agregados apresentam granulometria tendendo a uniforme. A dimensão máxima dos
agregados foi limitada a 9,5mm, para que não houvesse uma descontinuidade no esqueleto granular,
uma vez que a areia utilizada era fina, bem como diminuir o risco de segregação durante a aplicação
do concreto fluido.

Figura 1. Distribuição granulométrica dos materiais.

As demais propriedades físicos dos agregados necessárias para elaboração das misturas de concreto
autoadensáveis são apresentadas no Quadro 2.

Quadro 2. Principais propriedades dos agregados.


Propriedade Metodologia Unidade Material
de ensaio AR AG6,3 AG9,5
Massa unitária – método C [19] g/cm³ 1,52 1,54
Massa específica g/cm³ 2,66 3,02
Massa específica do agregado condição S.S.S. [20] g/cm³ 2,62 2,86
Massa específica aparente do agregado seco g/cm³ 2,60 2,78
Torrões de argila e materiais friáveis [21] % 0,74
Impureza orgânica [23] ppm 100
Massa específica g/cm³ 3,05
Massa específica do agregado condição S.S.S. [22] g/cm³ 2,92
Massa específica aparente do agregado seco g/cm³ 2,86
Absorção de água (%) 2,20
Compacidade experimental (k=9,0 ) [15], [14] - 0,64 0,56 0,56
Diâmetro máximo característico [18] mm 0,60 6,30 9,50
Nota: S.S.S. – saturada superfície seca.

198
Formagini, Menezes, Silva, Zanoni e Basílio

2.3 Dosagem dos concretos

A dosagem teórica do concreto foi realizada pelo aplicativo computacional MECFOR, desenvolvido
por [14] com base na fundamentação teórica no Modelo de Empacotamento Compressível [15].
Realizou-se a simulação de diferentes composições granulares para seleção adequada dos materiais, de
forma a produzir o máximo empacotamento da mistura, que atendesse as propriedades desejadas tanto
no estado fresco quanto após o endurecimento. Os dois traços dosados, levando em conta um consumo
fixo da mistura binária de materiais cimentícios (cimento Portland e EMAF) para o CAA_C e da
mistura ternária de materiais cimentícios (cimento Portland, EMAF e SA) para o CAA_CE, estão
apresentados no Quadro 3.

Quadro 3. Traços dos concretos produzidos para 1m³ de concreto.


Material Consumo por m³ de concreto
Unidade CAA_C CAA_CE
Cimento Kg/m³ 384 251
Sílica ativa Kg/m³ 25 25
Escória moída de alto-forno Kg/m³ - 131
Areia natural Kg/m³ 701 704
Agregado AG6,3 Kg/m³ 338 330
Agregado AG9,5 Kg/m³ 873 874
Glenium 51 Litros/m³ 2,4 2,4
Água Litros/m³ 188 185
Teor de Argamassa [%] 73,8 73,7
Resistência estimada à compressão, 28 dias MPa 36,3 43,7
Consumo: (cimento + EMAF + SA) / MPa Kg/MPa 11,3 9,3
Relação água / materiais cimentícios 0,46 0,45

2.4 Produção e enquadramento conforme requisitos da NBR 18823-1

Em laboratório, as misturas de concretos CAA_C e CAA_CE foram produzidas em betoneira de eixo


inclinado, com volume aproximado de 90 litros, quantidade suficiente para os ensaios de
caracterização no estado fresco, bem como a moldagem de corpos de prova para determinar as
propriedades no estado endurecido. As características e propriedades autoadensáveis foram avaliadas e
enquadradas conforme os requisitos da norma técnica da ABNT [6] e apresentados nos quadros 4 a 7.

Quadro 4. Classes de espalhamento pelo cone de Abrams (slump-flow) [6].


Classe Espalhamento [mm] Método de ensaio
SF1 550 a 650
SF2 660 a 750 ABNT NBR 15823-2 [7]
SF3 760 a 850

Quadro 5. Classes de Viscosidade plástica aparente t500 (sob fluxo livre) [6].
Classe t500 [s] Método de ensaio
VS1 ≤2
ABNT NBR 15823-2 [7]
VS2 >2

Quadro 6. Classes de habilidade passante caixa L (sob fluxo confinado) [6].


Classe Caixa L [H2/H1] Método de ensaio
PL1 ≥ 0,80, com duas barras de aço
ABNT NBR 15823-4 [8]
PL2 ≥ 0,80, com três barras de aço

199
Dosagem e aplicação de concretos autoadensáveis com misturas binárias e ternárias
de materiais cimentícios

Quadro 7. Classes de viscosidade plástica aparente pelo funil V (sob fluxo confinado) [6].
Classe Funil V [s] Método de ensaio
VF1 <9
ABNT NBR 15823-5 [9]
VF2 9 a 25

3. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

3.1 Produção e caracterização no estado fresco

Os dois concretos produzidos mostraram-se fluidos, coesos e íntegros, não havendo segregação nem
exsudação. Deste modo, que o diâmetro máximo do agregado graúdo de 9,5mm corroborou para o
bom desempenho dos concretos. A Fig. 2 mostra detalhes do ensaio de espalhamento e o aspecto dos
concretos CAA_C e CAA_CE.

(a) espalhamento do CAA_C (b) espalhamento do CAA_CE.

(c) aspecto da borda do CAA_C depois (d) aspecto da borda do CAA_CE depois
do espalhamento do espalhamento.
Figura 2. Aspecto dos concretos depois do ensaio de espalhamento em laboratório.

Detalhes da fluidez do concreto CAA_CEO, que foi produzido em central dosadora, transportado e
aplicado na construção de uma laje de uma obra residencial são mostrados na Fig. 3. Para este
concreto, o aditivo químico foi adicionado no local da concretagem, com o objetivo de garantir maior
tempo de manutenção da fluidez do concreto. Observa-se que o concreto manteve o espalhamento
pelo cone de Abrams (Fig. 3a) conforme o teste em laboratório, bem como o bom preenchimento dos
espaços dentro da forma. Sua aplicação ocorreu com facilidade, não havendo segregação ou
exsudação da mistura, conforme verificado previamente em laboratório, nem a necessidade de
aplicação mecânica de adensamento (Fig. 3b). No intervalo de 7 dias da aplicação do concreto,
efetuou-se cura com água e a laje foi monitorada quanto ao surgimento de fissuras de retração de
origem térmica ou por dessecação da superfície do concreto. Não foram observadas fissuras
associadas que poderiam estar associadas a estas causas.

200
Formagini, Menezes, Silva, Zanoni e Basílio

(a) espalhamento do CAA_C (b) espalhamento do CAA_CE.


Figura 3. Detalhes do concreto CAA_CEO sendo aplicado em uma laje de uma residência.

Em relação ao espalhamento pelo cone de Abrams, os concretos apresentaram valores superiores a


600 mm sem que ocorresse exsudação ou segregação (Fig. 2), encontrando-se na faixa dos valores
característicos de concretos autoadensáveis classe SF1 [6]. Quanto à viscosidade plástica aparente
t500, os concretos apresentaram tempo de escoamento inferior a 2 segundos, enquadrando-se como
VS1. A habilidade passante determinada pela caixa L com 3 barras, não foi atingida pelos concretos,
portanto não foram enquadrados como autoadensáveis por este critério, apesar dos valores da relação
das alturas estarem próximas ao limite de 0,8. Sobre a viscosidade plástica aparente determinada pelo
funil V, os concretos apresentaram tempos de fluidez inferiores a 9 segundos, enquadrando-se como
VF1. Os resultados dos ensaios de caracterização dos concretos no estado fresco são apresentados no
Quadro 8.

Quadro 8. Propriedades do concreto no estado fresco.


Ensaio CAA_C CAA_CE CAA_CEO
resultado classe resultado classe resultado classe
Espalhamento pelo cone de Abrams 680 SF1 610 SF1 640 SF1
Viscosidade plástica aparente t500 < 2s VS1 < 2s VS1 < 2s VS1
Habilidade passante caixa L (3 barras) 0,74 -- 0,76 -- -- --
Viscosidade plástica aparente, Funil V 6s VF1 7s VF1 -- --

3.2 Produção e caracterização no estado endurecido

Os valores médios dos ensaios de caracterização mecânica dos concretos endurecidos e seus
respectivos coeficientes de variação (CV) são apresentados no Quadro 9. Tomando como base a idade
de 28 dias, o valor médio da resistência à compressão simples (fcm) do concreto CAA_CE foi de 46,8
MPa, com ganho médio de 9,3 MPa em relação ao concreto CAA_C, que foi de 37,5 MPa. Em relação
aos concretos CAA_CE e CAA_CEO, os resultados foram estatisticamente iguais, uma vez que se
trata do mesmo traço, porém um produzido em laboratório e o outro em central dosadora. Em relação
aos módulos estáticos de elasticidade à compressão (Em), os concretos apresentaram valores
estatisticamente iguais, na ordem de 33 GPa. Quanto aos resultados médios de resistência à tração por
compressão diametral (fctm), os valores variaram de 4,22 MPa do CAA_C para 5,20 MPa do CAA_CE,
mantendo praticamente constante a relação entre as resistências fctm/fcm, que foi na casa de 11%.

A evolução das resistências à compressão teórica e experimental dos concretos produzidos é mostrada
na Fig. 4. Percebe-se que nas primeiras idades, o CAA_C apresentou maior valor médio das
resistências, pelo fato de ser um cimento de alta resistência inicial. Já na idade de 91 dias, houve um
leve crescimento no valor médio das resistências, que variou de 10 (CAA_CE) a 23% (CAA_CEO).

201
Dosagem e aplicação de concretos autoadensáveis com misturas binárias e ternárias
de materiais cimentícios

Quadro 9. Propriedades do concreto no estado endurecido.


Propriedade CAA_C CAA_CE CAA_CEO
Resistência média à fcm CV fcm fcm CV fcm fcm CV fcm
compressão simples [MPa] [%] fc28 [MPa] [%] fc28 [MPa] [%] fc28
fcm - 1 dia 14,1 3,3 0,38 11,2 3,3 0,24 9,9 4,5 0,23
fcm - 3 dias 22,6 2,5 0,60 22,0 3,6 0,47 22,4 3,9 0,51
fcm - 7 dias 28,2 7,3 0,75 34,3 2,8 0,73 29,9 0,1 0,68
fcm - 28 dias 37,5 4,0 1,00 46,8 1,3 1,00 44,0 0,7 1,00
fcm - 63 dias 40,3 2,1 1,07 48,7 4,3 1,04 49,6 5,3 1,13
fcm - 91 dias 44,3 1,6 1,18 51,3 0,5 1,10 54,1 4,1 1,23
Módulo estático de Em CV Em CV Em CV
elasticidade à compressão [GPa] [%] [GPa] [%] [GPa] [%]
Em – 28 dias 33,0 2,4 33,4 1,3 34,7 2,6
Resistência à tração por fctm CV fctm fctm CV fctm fctm CV fctm
compressão diametral [MPa] [%] fcm [MPa] [%] fcm [MPa] [%] fcm
fctm – 28 dias 4,22 4,6 0,112 5,20 8,8 0,111 5,25 5,0 0,119

Figura 4.Evolução das resistências à compressão dos concretos com a idade.

Também foi determinado o consumo necessário dos compostos binário e ternário (cimento, EMAF e
SA), necessários para produzir 1 MPa de resistência à compressão, aos 28 dias, conforme apresentados
no Quadro 9, onde observa-se que este consumo é menor para o concreto CAA_CE.

Quadro 9. consumo real de materiais cimentícios (cimento e EMAF) por MPa atingido.
Propriedade Unidade CAA_C CAA_CE CAA_CEO
Consumo: (cimento + EMAF + SA) / MPa Kg/MPa 9,8 8,2 8,7

Os valores médios dos ensaios de índices físicos são apresentados no Quadro 10. Observa-se que não
há variação significativa entre os valores de absorção de água e índice de vazios entre os concretos.
Quanto às massas específicas das amostras na condição seca (relação entre a massa do material seco e
o volume total da amostra, incluindo os poros impermeáveis), na condição saturada superfície seca
(relação entre a massa do material saturado o volume total da amostra, incluindo os poros permeáveis
e impermeáveis) e real (relação entre a massa do material seco e o seu volume, excluindo os poros
permeáveis) demonstraram-se estaticamente iguais.

202
Formagini, Menezes, Silva, Zanoni e Basílio

Quadro 10. Propriedades físicas do concreto no estado endurecido.


Índices Físicos CAA_C CAA_CE CAA_CEO
Valor CV Valor CV Valor CV
[%] [%] [%] [%] [%] [%]
Índice de Vazios (%) 12,9 2,2 10,9 0,6 11,7 1,4
Absorção por imersão (%) 5,7 1,6 4,9 0,6 5,24 1,4
Massa específica da amostra seca (g/cm²) 2,25 0,6 2,23 0,1 2,23 0,1
Massa específica da amostra saturada (g/cm²) 2,38 0,7 2,34 0,1 2,35 0,1
Massa específica real (g/cm²) 2,58 0,9 2,50 0,1 2,53 0,2

CONCLUSÕES

Os concretos CAA_C e CAA_CE, em seu estado fresco e conforme especificado em [6],


enquadraram-se como:
 De acordo com teste de espalhamento pelo cone de Abrams, os concretos CAA_C e CAA_CE
foram enquadrados como autoadensáveis classe SF1, com espalhamento entre 550 e 650 mm;
 Em relação ao tempo de viscosidade plástica aparente, t500, os concretos CAA_C e CAA_CE
foram enquadrados como autoadensáveis classe VS1, com tempo de fluidez inferior a 2
segundos.
 Quanto à habilidade passante pela caixa L com utilização de três barras, os concretos CAA_C
e CAA_CE não foram enquadrados como autoadensáveis, pois apresentaram os respectivos
índices de 0,74 e 0,76, inferiores ao valor mínimo de 0,80.
 Para a viscosidade plástica aparente pelo funil V, os concretos CAA_C e CAA_CE foram
enquadrados como autoadensáveis classe VF1, com tempo de escoamento inferior a 9
segundos.

Em termos de resistência à compressão simples, aos 28 dias, o concreto CAA_CE obteve 46,8 MPa,
com ganho médio de 9,3 MPa em relação ao concreto CAA_C, que foi de 37,5 MPa. Já o módulo
estático de elasticidade à compressão, permaneceu estatisticamente inalterado para os dois concretos,
na ordem de 33 GPa. A relação entre as resistências à tração por compressão diametral (fctm) e
compressão simples (fcm), encontra-se na ordem de 11%.

A produção do concreto CAA_CEO em central dosadora e sua aplicação em uma laje de uma obra
residencial foi realizada com eficiência, sem alterações significativas nas propriedades do concreto
CAA_CE, conforme determinadas em laboratório.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a central dosadora Santa Onofre, pelo fornecimento dos materiais e a MECFOR
Engenharia Ltda., pela produção e caracterização dos concretos.

REFERÊNCIAS

[1] Aitcin, P. C. (2008). Binders for durable and Sustainable Concrete. Modern Concrete
Technology, 16. E & FN Spon, 528 p. ISBN 978-0-415-38588-6.
[2] Boukendakdji, [et al.] (2009). Effect of slag on the rheology of fresh self-compacted concrete.
Construction and Building Materials, Volume 23, Issue 7, Pages 2593–2598.
[3] Beycioğlu, A., Aruntaş, H. Y. (2014). Workability and mechanical properties of self-compacting
concretes containing LLFA, GBFS and MC. Construction and Building Materials. Volume 73,
Pages 626–635.

203
Dosagem e aplicação de concretos autoadensáveis com misturas binárias e ternárias
de materiais cimentícios

[4] Santos, A. C. P. [et al.] (2015). Experimental study about the effects of granular skeleton
distribution on the mechanical properties of self-compacting concrete (SCC). Construction and
Building Materials, Volume 78, 1, Pages 40–49, In Press.
[5] Güneyisi, E., Gesoğlu, M. and Algin, Z. (2013). Performance of self-compacting concrete (SCC)
with high-volume supplementary cementitious materials (SCMs). Eco-Efficient Concrete. A
volume in Woodhead Publishing Series in Civil and Structural Engineering, Pages 198–217.
ISBN 978-0-85709-899-3.
[6] Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 15823-1:2010 - Concreto auto-adensável - Parte
1: Classificação, controle e aceitação no estado fresco.
[7] Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 15823-2:2010 - Concreto auto-adensável - Parte
2: Determinação do espalhamento e do tempo de escoamento - Método do cone de Abrams.
[8] Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 15823-4:2010 - Concreto auto-adensável - Parte
4: Determinação da habilidade passante - Método da caixa L.
[9] Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 15823-5:2010 - Concreto auto-adensável - Parte
5: Determinação da viscosidade - Método do funil V.
[10] Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 5739:2007 - Concreto - Ensaios de compressão
de corpos-de-prova cilíndricos.
[11] Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 8522:2008 - Concreto - Determinação do
módulo estático de elasticidade à compressão.
[12] Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 7222:2010. Concreto e argamassa —
Determinação da resistência à tração por compressão diametral de corpos de prova cilíndricos.
[13] Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 9778:2005. Argamassa e concreto endurecidos -
Determinação da absorção de água, índice de vazios e massa específica.
[14] Formagini, S. 2005 Dosagem científica e caracterização mecânica de concretos de altíssimo
desempenho. Rio de Janeiro: COPPE/UFRJ, 284 p. Tese doutorado.
[15] de Larrard, F.1999. Concrete Mixture Proportioning: A Scientific Approach. Modern Concrete
Technology Series, vol. 9, E&FN SPON, London, 421 pp.
[16] Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR NM 23:2001. Cimento portland e outros
materiais em pó - Determinação da massa específica.
[17] Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR NM 76:1998 . Cimento Portland -
Determinação da finura pelo método de permeabilidade ao ar (Método de Blaine).
[18] Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR NM 248:2003 - Agregados - Determinação da
composição granulométrica. Rio de Janeiro.
[19] Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR NM 45:2006 - Agregados - Determinação da
massa unitária e do volume de vazios.
[20] Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR NM 52:2009 - Agregado miúdo - Determinação
da massa específica e massa específica aparente.
[21] Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 7218:2010. Agregados — Determinação do teor
de argila em torrões e materiais friáveis.
[22] Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR NM 53:2009 - Agregado graúdo - Determinação
da massa específica, massa específica aparente e absorção de água.
[23] Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR NM 49:2001. Agregado miúdo - Determinação
de impurezas orgânicas.

204
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

Composições de agregados para obtenção de concreto auto


adensável

Roberto Paulo Gomes2 Karoline Moraes3


Monteiro1

RESUMO

O Concreto Auto Adensável (CAA) representa um grande avanço na tecnologia do concreto. Alguns
autores entendem o concreto como sendo constituído de duas fases – fase pasta e a fase agregados.
Visando alcançar as propriedades de autoadensabilidade do concreto foram desenvolvidos vários
métodos de dosagens e ensaios específicos para este material. Além disso, visando obter um melhor
empacotamento dos agregados, alguns métodos de dosagem de CAA fazem uso de procedimentos
experimentais na determinação da combinação de agregado que apresente o menor índice de vazios.
Este trabalho tem como objetivo apresentar a influência da utilização de distintas composições de
agregados nas propriedades de autoadensabilidade do concreto. Foram determinadas 9 composições
distintas de agregados (4 binárias, 4 ternárias e 1 quaternária) que tomando como base estudos prévios
mantendo constante os materiais, a dosagem e o volume da pasta de cimento. As propriedades do
concreto no estado fresco foram avaliadas a partir dos ensaios do cone de Abrams, Funil V e Caixa L.
Os resultados mostraram que em relação aos índices de vazios, apenas duas misturas apresentaram
variações significativas para os valores correspondetes às misturas ótimas. Nos concretos, dentre as
composições binárias observou-se que apenas as misturas contendo areia 1,2 mm apresentou bloqueio
e uma mistura resultou segregação no ensaio do espalhamento. Entre os concretos obtidos a partir de
composições ternárias, as compostas por duas classes de agregados graúdos apresentaram segregação e
bloqueio. O concreto obtido com a única composição quaternária resultante apresentou resultado
satisfatório em todos os ensaios realizados. Os melhores resultados foram obtidos nas misturas
constituídas por 70% de argamassa em volume em relação ao concreto.

Palavras-chave: Composição de Agregrados; Concreto Auto Adensável

1,2,3
Universidade Federal de Alagoas, Centro de Tecnologia, Brasil. Monteiroengenharia; pgomes@ctec.ufal.br;
melokarol@gmail.com

205
Composições de agregados para obtenção de concreto auto adensável

1. INTRODUÇÃO

O CAA surgiu como uma solução alternativa tendo em vista que sua mistura deve apresentar fluidez
necessária de modo que possa viabilizar o seu lançamento e espalhamento sem o efeito de vibração
(1). Para Tutikian e Dal Molin (2) o (CAA) é um avanço tecnológico com grande potencial de
desenvolvimento, uma vez que as características desse tipo de concreto promovem diferentes
propriedades e com isso novas oportunidades.

Para ser classificado como auto adensável o concreto deve possuir fluidez e capacidade de escoar por
entre as armaduras, preencher os vazios das fôrmas sem o surgimento de bolhas de ar ou falhas de
concretagem, sem que para isso seja necessária a aplicação de energia mecânica (2).

Quanto aos materiais utilizados na confecção de CAA de um modo geral podem ser utilzados os
mesmos materiais utilizados na obtenção de Concreto Convencional (CCV). No entanto, algumas
limitações devem ser observadas dentre estas a maior quantidade de fino, menor quantidade de
agregado graúdo e sua dimensão máxima característica, tendo em vista que tal característica influencia
diretamente nas propriedades de autoadensabiliade do concreto como na fluidez e na habilidade
passante. Comumente limita-se a dimensão máxima característica deste agregado entre 12 mm e 20
mm de modo a evitar os “bloqueios” (3).

Gomes e Barros (3) cita que o volume de agregado graúdo comumente empregado em misturas de
CAA encontra-se compreendido entre 28% e 35% do volume de concreto, sendo o consumo de
agregado graúdo entre 750 kg/m³ e 950 kg/m³, enquanto o volume de agregado miúdo encontra-se
compreendido entre 40% e 50% do volume de argamassa com proporções aproximadas de 710 kg/m³ a
900 kg/m³.

É comum a utilização de composições binárias de agregados na obtenção de CAA (4); (5); (6); (7);
(8); (9); (10).

Entretanto, encontra-se disponível na literatura contemporânea trabalhos que fazem menção a


utilização de composições ternárias como nos trabalhos de Tutikian (11), Moraes (12), Coelho e
Carbonari (13) e com menor frequência a aplicação de composições quaternárias como no trabalho de
Leite(14).

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Foram utilizados quatro tipos distintos de agregados naturais sendo 2 graúdos e 2 miúdos. Para estes
agregados foi considerada a sua dimensão máxima comumente apresentada na literatura.

Agregados: como agregado miúdo foram utilizadas duas classes de areias naturais quartzosas com
granulometrias distintas e duas classes de pedras natural britada de origem granítica também com
granulometrias distintas observando o limite da dimensão máxima características recomendado pela
literatura no que diz respeito a obtenção de CAA.

Baseado em estudos prévios foi aplicado o método experimental do menor índice de vazios para
determinar as composições de agregados. Salienta-se que os materiais foram dosados dois a dois de
modo que cada mistura foi realizada como sendo uma mistura binária.

a) Misturas binárias

O Quadro 1 apresenta as misturas binárias que foram elaboradas.

206
Monteiro, Gomes e Moraes

Quadro 1. Composições binárias.


NOMENCLATURA MISTURA
AFB12 Areia 1,2 mm + Pedra britada 12,5 mm
AFB19 Areia 1,2 mm + Pedra britada 19 mm
AGB12 Areia 4,75 mm + Pedra britada 12,5 mm
AGB19 Areia 4,75 mm + Pedra britada 19 mm
AF = Areia fina; AG = Areia grossa; B19 = Pedra britada
LEGENDA
19 mm; B12 = Pedra britada 12,5 mm

b) Misturas ternárias

Primeiramente definiu-se as misturas binárias ótimas apresentadas no Quadro 2 onde através do


incremento de um terceiro agregado nestas misturas, foram determinadas as composições ternárias
ótimas conforme mostra o Quadro 3.

Quadro 2. Misturas binárias.


NOMENCLATURA MISTURA
AFAG Areia 1,2 mm + Areia 4,75 mm
B12B19 Pedra britada 12,5 mm + Pedra britada 19 mm

Quadro 3. Misturas ternárias.


COMPOSIÇÔES
AFAG + Pedra britada 12,5 mm AFAGB12
AFAG + Pedra britada 19 mm AFAGB19
Areia 1,2 mm + B12B19 AFB12B19
Areia 4,75 mm + B12B19 AGB12B19

c) Mistura quaternária

De maneira análoga definiu-se a única composição quaternária resultante da mistura de todos os


agregados (Quadro 1), portanto esta foi determinada a partir das composições apresentadas no quadro.

Definidas as composições de agregados, foram construídas as curva da distribuição granulométrica das


composições dos agregados através do método experimental baseado nas NBR 248 (15) e NBR 7211
(16).

Foram elaborados, 9 traços de concreto para uma mesma dosagem de pasta, cujo volume foi fixado em
40% do volume de concreto, variando apenas o esqueleto granular.

As propriedades do concreto no estado fresco foram analisadas através da realização de ensaios


normalizados de acordo com a NBR 15823 partes 1 (17), 2 (18), e 4 (19) conforme o Quadro 4.

207
Composições de agregados para obtenção de concreto auto adensável

Quadro 4. Classificação do CAA através das propriedades no estado fresco.


REFERÊNCIA CLASSIFICAÇÃO
ENSAIO
NORMATIVA NBR 15823 – parte 1 (17)
Determinação do SF1 550 mm – 650 mm
NBR 15823 – parte 2
espalhamento (método do SF2 660 mm – 750 mm
(ABNT, 2010)
cone de Abrams) SF3 760 mm – 850 mm
Determinação da viscosidade NBR 15823 – parte 5 VF1 < 9 seg
(método do Funil V) (ABNT, 2010) VF2 9 seg a 25 seg
Determinação da habilidade PL1 H2/H1 ≥ 0,8 (2 barras)
NBR 15823 – parte 4
passante (método da Caixa
(ABNT, 2010) PL2 H2/H1 < 0,8 (3 barras)
L)
Fonte: baseado na NBR 15823 partes 1 (15), 2 (16), e 4 (17)

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 Caracterização dos agregados

O Quadro 5 apresenta as características e propriedades dos agregados graúdos e miúdos utilizados no


desenvolvimento deste trabalho enquanto as figuras 1 e 2 representam as curvas granulométricas dos
agregados.

Quadro 5: Características e propriedades granulométricas dos agregados.


Agregado Agregado Agregado Agregado
Ensaios graúdo graúdo 19,0 miúdo miúdo
12,5 mm mm 4,75 mm 1,2 mm
Massa específica (g/cm³) 2,7 2,7 2,6 2,6
Massa unitária-estado solto (g/cm³) 1,4 1,4 1,4 1,5
Absorção (%) 1 0,7 1 1,2
Índice de forma 2,3 2,4 - -
Índices granulométricos
Dimensão máxima característica (mm) 12,5 19 4,6 1,2
Módulo de finura 6,1 6,8 2,7 1,7

Figura 1. Curva granulométrica dos agregados miúdos.

208
Monteiro, Gomes e Moraes

A Figura 1 mostra que a distribuição granulométrica do agregado miúdo encontra-se dentro da zona
utilizável no entanto muito próxima do limite superior desta zona definida pela NBR 7211 (16).
Percebe-se que a distribuição dos grãos de agregado miúdo com diâmetro máximo de 4,75 mm
apresenta uma quantidade de grãos distribuídos nas proximidades da faixa inferior da zona utilizável,
no entanto, entre a peneira de abertura 0,60 mm e 1,2 mm os grãos encontram-se inseridos na zona
ótima, sendo os demais grãos distribuídos dentro da zona utilizável, porém, nas proximidades do
limite superior do referido intervalo, caracterizando portanto a aplicabilidade deste material para
confecção de concretos e argamassas.

Figura 2. Curva granulométrica dos agregados graúdos.

A Figura 2 mostra que o agregado graúdo, com dimensão máxima característica de 12,5 mm,
apresenta parte de suas partículas dentro da faixa 4,75 mm/12,5 mm definido por norma. Mostra
também que o agregado com dimensão máxima característica de 19 mm distribui-se gradualmente na
faixa 9,5mm/25mm. Conclui-se, portanto, que as características dos agregados atendem aos
parâmetros comumente aplicados aos mesmos para obtenção de CAA.

3.1 Formulação das composições de agregados

A partir de ensaios experimentais baseados no menor índice de vazios (IV) foram obtidas as
composições ótimas mostradas no Quadro 6.

209
Composições de agregados para obtenção de concreto auto adensável

Quadro6. Resultados das composições de agregados.

IV MU
COMPOSIÇÃO AF (%) AG (%) B12 (%) B19 (%)
(%) kg/m³

AFB12 45 0 55 0 30,1 1866,2


AFB19 45 0 0 55 27,6 1917
AGB12 0 50 50 0 34,7 1743,5
AGB19 0 45 0 55 31,3 1822,4
AFAGB12 23 27 50 0 33,6 1767,7
AFAGB19 23 27 0 50 30,9 1822,9
AFB12B19 45 0 25 30 31,9 1804,5
AGB12B19 0 40 27 33 32,6 1796,3
AFAGB12B19 22 28 22, 28 32,1 1803,4
IV – Índice de vazios; MU – Massa unitária
AF – Areia com dimensão máxima de 1,18 mm
LEGENDA AG – Areia com dimensão máxima de 4,75 mm
B12 – Agregado graúdo com dimensão máxima característica de 12,5 mm
B19 – Agregado graúdo com dimensão máxima característica de 19 mm

Observa-se que em relação aos índices de vazios, exceto pelas composições AFB19 e AGB12 não se
obteve variações significativas para os valores correspondete as misturas ótimas.

No entanto, destaca-se a composição AGB12B19 em termos de volume de agregado, esta composição


ótima exigiu maior quantidade em massa de agregado graúdo. Além disso observou-se que 3 das
composições estudadas resultaram em 45% em massa de agregado miúdo e, do total de misturas
analisadas 4 apresentaram relação em massa entre agregado graúdo e miúdo de 50% com índices de
vazios variando entre 31,5% e 34,7%.

Entre as composições binárias observa-se que para uma mesma relação entre agregado miúdo e
agregado graúdo (45% / 55%) as misturas AFB19 (IV=) e AFB12 (IV=apresentaram variação
significativa nos correspondentes índices de vazios 27,6% e 30,1% respectivamente. O ocorrido pode
ser justificado no fato de que o agregado B19 apresenta maior dimensão máxima característica em
relação ao agregado B12 além também de apresentarem distintos índices de forma.

3.2 Formulação dos concretos

Tomando como referência o traço de concreto utilizado por Cavalcanti (6), conforme o Quadro 7
fixou-se a dosagem da pasta de cimento correspondente a um volume de 40% em relação ao concreto,
variando o esqueleto granular de acordo com as composições de agregados obtidas.

Quadro 7. Dosagem do concreto utilizada por Cavalcanti (6).


CAA com RSMG # 300 μm
Cimento (kg) 392
Areia (kg) 783
Brita (kg) 795
Filer (RSMG) (kg) 196
Água (l) 196
SP (l) (sp/c=0,525) 6,3
Volume de pasta (%) 40

210
Monteiro, Gomes e Moraes

Diante do exposto o Quadro 8 apresenta o consumo de agregado de acordo com as composições pré
definidas enquanto o Quadro 9 mostra uma análise comparativa com as relações paramétricas do
CAA.
Quadro 8. consumo dos agregados
MATERIAL (kg/m³ de concreto)
COMPOSIÇÃO
AF AG B12 B19
AFB12 723 --------- 881 ---------
AFB19 716 --------- --------- 873
AGB12 --------- 801 801 ---------
AGB19 --------- 717 --------- 874
AFAGB12 368 432 800 ---------
AFAGB19 365 429 --------- 794
AFB12B19 717 --------- 399 478
AGB12B19 --------- 639 432 527
AFAGB12B19 351 446 351 446

Quadro 9. Análise das composições com as relações paramétricas de dosagem de CAA.


RELAÇÃO PARAMÉTRICA
COMPOSIÇÃO Vag/m Vam/Varg
Vag/Vat Mag/m³ Mam/m³
³ (%) (%)
AFB12 0,54 32 44 881 723
AFB19 0,55 33 44 873 873
AGB12 0,49 30 47 801 801
AGB19 0,55 33 44 874 717
AFAGB12 0,54 33 44 800 800
AFAGB19 0,50 30 43 794 794
AFB12B19 0,54 33 41 877 717
AGB12B19 0,59 36 38 959 639
AFAGB12B19 0,49 30 46 797 797
REFERÊNCIA 0,44 – 0,64 28 - 38 40 - 50 700 - 900 750 - 950
Vag: volume de agregado graúdo
Vat: volume totais de agregados
LEGENDA Vam: volume de agregado miúdo
Mag: massa de agregado graúdo
Mam: massa de agregado miúdo

Os resultados obtidos mostraram que, de acordo com as relações paramétricas avaliadas misturas
tendem a ser adequadas para otenção de CAA.

3.3 Análise das propriedades do concreto no estado fresco

Os ensaios do espalhamento, funil V e Caixa L, mostraram que para as composições cuja proporção
em massa de agregado graúdo corresponde a 50% de agregado miúdo não apresentaram problemas
enquanto que nas demais composições apresentaram algum tipo exsudação no espalhamento e ou
bloqueio na caixa L. Dentre as misturas que apresentaram resultados satisfatórios, três eram
constituídas de uma composição binária de agregados e duas de composição ternárias. Observa-se
ainda que, as misturas ternárias contendo dois tipos de agregado graúdo foram as que apresentaram
problemas.

211
Composições de agregados para obtenção de concreto auto adensável

Quadro 10. Análise do concreto no estado fresco


FUNIL
COMPOSIÇÃO ESPALHAMENTO CAIXA L
V
MEDIDA MEDIDA
MÉD TEMPO H h
1 2 h/H
(mm) (seg) (mm) (mm)
(mm) (mm)
AFB12 720 650 685 22 200 100 0,5
AFB19 800 750 775 16 120 100 0,8
AGB12 790 690 740 12 90 90 1
AGB19 840 740 790 6 ------ ------- Bloqueio
AFAGB12 750 750 750 6 90 90 1
AFAGB19 870 760 815 4 90 90 1
AFB12B19 840 740 790 4 100 100 1
AGB12B19 850 720 785 6 ------ ------- Bloqueio
AFAGB12B19 710 820 765 6 90 90 1

A Figura 3 apresenta o ensaio do espalhamento nos concretos obtidos a partir das composições
AGB12 e AFB19 enquanto que a Figura 4 mostra a execução do ensaio da caixa L nas misturas
AFB12B19

Figura 3. Ensaio do espalhamento misturas binárias AGB12 e AFB19.

Figura 4

212
Monteiro, Gomes e Moraes

CONCLUSÕES

Dentre as composições binárias observou-se que apenas as misturas AFB12 e AFB19 apresentaram
bons resultados no ensaio do espalhamento no entanto, houve bloqueio na caixa L; a mistura AGB19
já no espalhamento apresentou segregação do material.

Dentre as composições ternárias as misturas com duas classes de agregados graúdos (AFB12B19 e
AGB12B19) apresentaram segregação do material, enquanto que as misturas AFAGB12 e AFAGB19
apresentaram melhores resultados.

A composição quaternária (AFAGB12B19) apresentou resultado satisfatório em todos os ensaios


realizados.

Por fim observa-se que as misturas contendo um volume de 70% de argamassa em relação ao volume
de concreto apresentaram os melhores resultados, em se tratando de CAA, abaixo desse percentual
constatou-se algum problema nas propriedades da mistura, seja por exsudação ou segregação.

REFERÊNCIAS

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desempenho. Rio de Janeiro, RJ. Tese de doutorado Universidade do Rio de Janeiro – UFRJ.
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São Paulo.
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do mármore e do granito e estudo de propriedades mecânicas. Dissertação de mestrado.
Universidade Federal de Alagoas. Programa de Pós Graduação em Engenharia Civil. Maceió-AL.
120p.
[5] Manuel, M. J. P. (2005). Estudo da Influência do Teor de Argamassa no Desempenho de
Concretos Auto-adensáveis. Dissertação (mestrado). Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Programa de pós graduação em Engenharia Civil. Porto Alegre-RS.
[6] Cavalcanti, H. de J. D. (2006). Contribuição ao estudo de propriedades do concreto auto-
adensável visando sua aplicação em elementos estruturais. Dissertação (Mestrado) –
Universidade Federal de Alagoas. Programa de Pós- Graduação em Engenharia Civil. Maceió.
141p.
[7] Andrade et al. (2013). Arena Penambuco: comparativo entre CAA e CC em regiões de clima
quente. Anais do 55º Congresso Brasileiro do Concreto. Gramado-RS.
[8] Silva, O. C. F. da. et. al. (2013). Análise da resistência mecânica do concreto autoadensável:
especificação dos materiais e método de produção. Anais do 55º Congresso Brasileiro do
Concreto. Gramado-RS.
[9] Sangalli, T. et. al. (2013). Confecção de Concreto Autoadensável com a Utilização do Resíduo
Proveniente do Beneficiamento de Granito e Mármore. Anais do 55º Congresso do Concreto.
Gramado-RS.
[10] Silva, A. S. R. da, Alves, L. G. A., Azevedo, R. V. de. (2013). Estudo para Obtenção e Produção
de Concretos Autoadensáveis em Salvador-BA. Anais do 55º Congresso Brasileiro do Concreto.
Gramado-RS.
[11] Tutikian, B. F. (2007). Proposição de um Método de Dosagem Experimental para Concretos
Auto-Adensáveis. Tese (Doutorado em Engenharia Civil) – Curso de Pós-Graduação em
Engenharia Civil, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre/RS.

213
Composições de agregados para obtenção de concreto auto adensável

[12] Moraes, K. A. M. (2010). Otimização do uso de adições minerais para a produção de concreto
auto-adensável. Tese (doutorado). Universidade Federal de Pernambuco. CTG. Programa de pós
graduação em Engenharia Civil. Recife-PE.
[13] Coelho, L. L. e Carbonari, B. T. (2013). Concreto autoadensável com agregados britados de
basalto. Anais do 55º congresso brasileiro do concreto. Gramado-RS.
[14] Leite, F. C. M. (2007). Influência do tipo de mineral e da dimensão máxima característica do
agregado graúdo no comportamento do concreto auto-adensável. Dissertação (mestrado) –
Universidade Estado de Londrina. Londrina-SC. 188p.
[15] Associação Brasileira de Normas Técnicas (2003). ABNT/NBR NM 248 – Determinação da
composição granulométrica. Rio de Janeiro.
[16] NBR 7211 (2005). Agregados para concreto. Especificação. Rio de Janeiro: ABNT.
[17] NBR 15823(2010). Concreto auto-adensável. Parte 1: Classificação, controle e aceitação no
estado fresco. Rio de Janeiro: ABNT.
[18] NBR 15823 (2010). Concreto auto-adensável. Parte 2: Determinação do espalhamento e do
tempo de escoamento – Método do cone de Abrams. Rio de Janeiro: ABNT.
[19] NBR 15823 (2010). Concreto auto-adensável. Parte 4: Determinação da habilidade passante –
Método da caixa-L. Rio de Janeiro: ABNT.

214
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

Concretos autoadensáveis com substituição parcial de cimento


Portland por sílica de casca de arroz obtida através da queima
controlada em leito fluidizado: Desempenho nos estados fresco e
endurecido

Jarbas Bressa Ederli Marangon2 Luis Eduardo


Dalcin1 Kosteski3

Foto do autor, com Foto do autor, com


RESUMO Foto do autor, com tamanho 4×3cm tamanho 4×3cm
tamanho 4×3cm
O crescimento do setor da construção civil no Brasil tem se destacado pelo aumento no consumo de
cimento, sendo progressivo o uso das matérias primas utilizadas para a produção de concreto. Isto leva
o setor a procurar novos materiais e novas tecnologias para suprir as demandas do mercado, tendo nas
indústrias de beneficiamento do arroz e nas usinas termoelétricas geradoras de energia uma possível
solução para este problema. O presente estudo tem como objetivo o emprego de Sílica de Casca de
Arroz (SCA) obtida através da queima controlada em leito fluidizado na substituição parcial do
cimento Portland (CP) na produção de concretos autoadensáveis (CAA). Foram estudados os
comportamentos nos estados fresco e endurecido de quatro concretos produzidos a partir da
substituição parcial gradativa de 5%, 10%, 15% e 20% de SCA em relação à quantidade de cimento.
Adicionalmente, foi produzido um traço autoadensável em que utilizou-se somente cimento Portland
para servir como referência. Foram analisados os efeitos da SCA na pasta, onde se determinou a
dosagem ótima do superplastíficante através do ensaio de Cone Marsh e posteriormente as
propriedades reológicas no estado fresco do CAA prescritos pela norma brasileira ABNT NBR 15823.
Utilizou-se o ensaio de cone de Abrams para medir a capacidade do CAA de fluir livremente sem
segregar. Também se realizou o ensaio do Anel J que permite a verificação da fluidez e da habilidade
do concreto passar por obstáculos. Os ensaios da Caixa L e Caixa U, foram utilizados para medir a
fluidez do concreto simultaneamente a sua capacidade de passar por obstáculos e permanecer coeso. A
determinação da viscosidade plastica foi realizada através doFunil V. No estado endurecido foi
verificada as propriedades mecânicas dos CAA’s, sendo realizados ensaios de resistência à
compressão e a tração por compressão diametral nas idades iniciais de 7 e 14 dias. Os resultados
indicaram que a sílica de casca de arroz produzem melhorias significativas nas propriedades do
concreto autoadensável para ambas as classes de resistência.

Palavras-chave: Sílica de casca de arroz, Cinza volante, Concreto autoadensável.

1
Universidade Federal do Pampa - UNIPAMPA, Alegrete-RS, Brasil. jarbasdalcin@unipampa.edu.br
2
Universidade Federal do Pampa - UNIPAMPA, Alegrete-RS, Brasil. ederlimarangon@gmail.com
3
Universidade Federal do Pampa - UNIPAMPA, Alegrete-RS, Brasil. luiskosteski@gmail.com

215
Concretos autoadensáveis com substituição parcial de cimento Portland por sílica de casca de arroz obtida
através da queima controlada em leito fluidizado: Desempenho nos estados fresco e endurecido

1. INTRODUÇÃO

Com o avanço do setor da construção civil no Brasil, o frequente acréscimo no consumo de cimento e
o progressivo uso das matérias primas leva o setor a procurar novos materiais e novas tecnologias para
suprir a demanda do mercado. Assim, do ponto de vista sustentável, a utilização de adições minerais
em substituição ao cimento ou ao clínquer é um passo importante para redução da emissão de gás CO2
na atmosfera, permitindo que muitas adições minerais consideradas como resíduo poluente sejam
absorvidas na indústria da construção civil [1]. Estes residuos podem ser oriundos de setores da
produção primária como as indústrias de beneficiamento do arroz.

A produção agrícola de arroz no Brasil em 2014 foi de aproximadamente 12 milhões de toneladas,


sendo 78% deste total produzido na região sul do país [2]. Tendo em vista que, na produção de arroz
20% de seu peso é de casca de arroz, e sendo esta queimada totalmente, 20% da casca de arroz é
convertida em cinza [3].

O processo de queima da casca de arroz, utilizado na indústria de beneficiamento de arroz, gera uma
quantidade expressiva de cinza de casca de arroz (CCA) que normalmente é descartado de forma
inadequada ou não é aproveitada na sua integralidade, causando sérios problemas ambientais. Assim a
CCA pode ser empregada como adição mineral ao concreto, sendo esta utilização uma eficiente forma
para redução do impacto ambiental [1].

Motivado pela quantidade abundante de CCA gerada, aumentaram as pesquisas com a CCA,
principalmente a que é produzida através da combustão controlada em caldeira com leito fluidizado,
que com esse processo pode gerar a da sílica da casca de arroz (SCA), que embora tenha valor
comercial, ainda assim é considerada um resíduo de geração de energia elétrica [4].

Muitos autores consideram a SCA como uma pozolana reativa, especialmente a produzida pelo
sistema de combustão com leito fluidizado resultando em uma SCA altamente amorfa e de boa
qualidade, possibilitando sua utilização como adição ou substituição parcial do cimento em dosagens
de concretos e argamassas [5].

Depois de certo tempo a sílica deixa de reagir quimicamente, de maneira significativa como
aglomerante e passa a atuar fisicamente, como filler inerte, através do efeito filler. As pozolanas
finamente pulverizadas possuem ação física, uma vez que atuam nos concretos e argamassas como
material de preenchimento melhorando o empacotamento do sistema (Menezes et al., 2009).
Atualmente tem-se obtido resultados promissores em trabalhos com produtos que tenham mostrado
alto índice de pozolanicidade e melhora na durabilidade de concretos estão sendo alcançados, como
em pesquisas realizadas por (Marangon 2013) [5].

A Sílica de casca de Arroz (SCA) já é utilizada com sucesso na produção de concretos convencionais,
mas na produção de CAA ainda encontra-se em fase de pesquisa, esta não utilização se dá pela falta de
estudos mais aprofundados sobre a influência da adição da SCA nas características reológicas do CAA
no estado fresco e no real ganho de resistência quando o cimento é parcialmente substituído por
adições [6].

O presente trabalho tem por objetivo avaliar o desempenho da SCA nas propriedades do concreto auto
adensável (CAA) nos estados fresco e endurecido. Para tanto, foi utilizada a SCA na substituição
parcial do cimento Portland como adição de finos na produção de CAA. Foram estudados os
comportamentos nos estados fresco e endurecido dos concretos produzidos a partir da substituição
parcial gradativa de 5% de SCA, em relação a quantidade de cimento, onde, realizaram-se quatro
misturas com diferentes teores de substituição de cimento por SCA, que foram de 5%, 10%, 15%,
20%.

216
Dalcin, Marangon e Kosteski

2. MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Materiais

Utilizou-se para desenvolvimento dos trabalhos o cimento brasileiro CPV-ARI-RS da marca Votoran,
cimento este usado frequentemente nas indústrias de pré-moldados no Brasil por possuir uma alta
resistência inicial e ser resistente a sulfatos em ambientes agressivos. Seguem-se suas principais
características: finura Blaine de 498,5 m²/kg, densidade de 2.980 kg/m3, resistência média à
compressão de 24,20; 34,60; 39,70 e 48,30 MPa aos 1, 3, 7 e 28 dias, respectivamente, para uma
relação água/aglomerante (w/aglom) 0,45.

Para desenvolvimento desta pesquisa foi utilizada a SCA proveniente da empresa Sílica Verde do
Arroz Ltda., no Município de Alegrete-RS. A SCA apresentou densidade de 2.160 kg/m3. De acordo
com a Figura 1 é possível observar que a SCA apresenta uma estrutura tipicamente amorfa, uma vez
que o difratograma mostra um alargamento dos seus picos e o aparecimento de bandas [7].

Figura 1. Análise de difração de raios-X da SCA.

A NBR 12653/13 [12], que classifica os materiais pozolânicos, lista algumas exigências químicas e
físicas com as quais estes materiais devem estar em conformidade. Segundo esta norma o limite
máximo de perda ao fogo para as pozolanas é de 6%. O quadro 1 apresenta as características químicas
da sílica de casca de arroz. Conforme observado na quadro 1 a SCA apresenta perda ao fogo menor
que a máxima permitida por norma (3,5%). Outro fator químico exigido pela norma é que o somatório
dos compostos SiO2+Al2O3+Fe2O3 deve ser no mínimo de 50%. Conforme observado na quadro 1 a
SCA apresenta um somatório dos compostos de 91,53% atendendo a esta exigência. Em relação às
impurezas encontras na SCA, como óxido de ferro (Fe2O3), magnésio (MgO) e cálcio (CaO), a soma
destas é muito baixa, 0,73%. Além disso, a SCA apresenta uma área superficial de 28000 m²/kg [7].

Quadro 1. Características químicas da sílica da casca de arroz.


Perda ao SiO2 Al2O3 Fe2O3 MgO SO3 Na2O CaO K2O MnO P2O5
Fogo (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%)
3,50 91,48 0,00 0,05 0,32 0,15 0,04 0,36 1,40 0,32 0,45

Além da SCA, para melhorar as propriedades reológicas, foi utilizado a CV (cinza volante) que
consiste em um resíduo finamente dividido proveniente da combustão do carvão mineral utilizado nas
termoelétricas da região, com densidade de 1.980 kg/m3.

Foi utilizado um único tipo de areia com as seguintes caracteristicas: areia quartzosa de rio
proveniente da região central do estado do Rio Grande do Sul, com densidade de 2.560 kg/m3, Módulo
de Finura (MF) de 2,13 e Diâmetro Máximo (Dmáx) de 2,40mm. Como agregado graúdo utilizou-se

217
Concretos autoadensáveis com substituição parcial de cimento Portland por sílica de casca de arroz obtida
através da queima controlada em leito fluidizado: Desempenho nos estados fresco e endurecido

apenas um único tipo de agregado com as seguintes propriedades: Agregado de origem basáltica:
densidade de 2.703 kg/m3, Dmáx = 9,50 mm, e MF de 5,67.

Foi utilizado um dispersante a base de policarboxilato (ADVA™ CAST 525), com teor de sólidos de
30,0 %, massa específica de 1.073 kg/m³ e pH 6,2. O método de dosagem empregado para avaliar a
compatibilidade e o ponto de saturação do dispersante sobre as partículas finas foi o ensaio de fluidez
de pastas através do uso do funil de Marsh, utilizado por Aïtcin [8].

Foi adicionado à mistura úmida durante a produção dos concretos um agente modificador de
viscosidade (VMA) em pó de nome comercial Rheomac UW 410, fabricado pela empresa BASF. O
Rheomac UW 410 é um produto com base química de polímeros de celulose de alto peso molecular e
a dosagem utilizada foi de 0,06 % em relação à massa do material cimentante (MC).

2.2 Métodos

Para a obtenção das dosagens dos CAA’s seguiu-se o Método de Gomes, Gettu e Agulló. Para
dosagem do CAA o método propõe que o concreto pode ser obtido a partir da otimização da
composição da pasta e do esqueleto granular separadamente. Para isso o método é executado em três
fases: obter a composição da pasta, determinar a proporção de mistura dos agregados e selecionar o
conteúdo de pasta.

Os requisitos estabelecidos ao concreto, para ser considerando autoadensável, são aqueles que
atendem às seguintes propriedades: capacidade de preenchimento, capacidade de passagem entre
armaduras e estabilidade ou ausência de segregação. Os ensaios utilizados foram: de espalhamento
(cone de Abrams) e Funil-V seguindo as NBR 15523-2 (2010) e NBR 15523-5 (2010)
respectivamente, ambos para capacidade de preenchimento; Caixa-L NBR 15523-4 (2010), para
capacidade de passagem por armaduras; e Caixa-U serve para medir a fluidez e a habilidade de o CAA
passar por obstáculos sem segregar, [10].

Efetuados os testes no estado fresco o CAA, foram moldado corpos-de-prova cilíndricos de 10 cm x


20 cm para serem submetidos a ensaios no estado endurecido, no sentido de estudar suas propriedades
mecânicas de Resistência à compressão e Resistência à tração na compressão diametral, seguindo as
orientações estabelecidas nas Normas Brasileiras, NBR- 5739/1994, NBR - 8522/2003 e NBR -
7222/1994, respectivamente. Esses ensaios aos 7 dias tinham como objetivo de se ter uma idéia de
resistência à compressão das dosagens estabelecidas, que até então havia sido pré-definida como
resistência a compressão equivalente a 40 Mpa como projeção para os 28 dias de idade.

Foram moldados 03 (três) corpos-de-prova de cada mistura para realização dos ensaios de resistência à
compressão axial nas idades iniciais de 7 e 14 dias, e ainda a quantidade de 03 (três) corpos-de-prova
para cada idade para a realização de ensaios de resistência à tração por compressão diametral nas
mesmas idades, totalizando 30 (trinta) corpos-de-prova cilindrico.

É de extrema relevância o conhecimento da resistência do CAA nas idades inicias, pois o cimento
CPV-ARI-RS é de rápido endurecimento e muito utilizado na fabricação de peças pré-moldadas,
motivando a realização dos ensaios mecânico aos 7 e 14 dias.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 Quanto à dosagem dos concretos

Para todas as misturas definidas, determinou-se o teor de saturação do superplastificante por meio de
ensaios realizados no Cone de Marsh. A relação água/material cimentante para produção das pastas foi
de 0,35 tanto para as pastas de CP, de CV e de SCA. As Figs 2 e 3 mostram os gráficos tempos de
escoamento versus o teor de dispersante relativo aos ensaios de compatibilidade executados em pastas

218
Dalcin, Marangon e Kosteski

de cimento, cinza volante e sílica de casca de arroz. Como se observa nas referidas figuras foi obtido o
ponto de saturação a um teor de 0,6 % de superplastificante, para uma mesma relação água/material
cimentante (0,35). Porém, o tempo de escoamento da mistura com 80% cimento, 15% de CV e 20%
de SCA foi 32 % maior do que o do cimento CP V ARI-RS. Motivado pela maior área superficial da
SCA, no qual proporcionou uma maior viscosidade fazendo com que aumentasse o tempo de
escoamento. CIMENTO CP V - RS
120

110

T= 23°C ± 1°C T: 5min


100
Tempo de Escoamento(s)

a/c = 0,35 T: 30min


90 T: 60min

80

70

60

50

40
0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 1,0
% sol. SP/massa de cimento
Figura 2. Curva de saturação do cimento.
80% Cimento CP V - RS+15% Cinza Volante+05% Sílica da Casca de Arroz
120

110

T= 23°C ± 1°C
100
a/mc = 0,35
Tempo de Escoamento(s)

T: 5min

90 T: 30min
T: 60min
80

70

60

50

40
0,2 0,6 0,8 0,9 1,0
% sol. SP/massa de pó
Figura 3. Curva de saturação da mistura (80% CP + 15% CV + 15% SCA).

Foi realizado o estudo para a composição do esqueleto granular proposto por Gomes [10], onde foi
obtida a maior massa específica da mistura no instante em que se utilizou a proporção de 50% de cada
agregado no volume do recipiente, sendo determinado o índice de vazios de 34,75%, tendo esta
mistura como a que atingiu o melhor grau de empacotamento entre as partículas. Porém este
procedimento se mostrou insuficiente em razão da granulometria dos materiais utilizados, sendo
necessária a adição de finos, no qual se optou em utilizar cinza volante para promover o
preenchimento dos vazios.

Embora tenha sido utilizada uma relação água/aglomerante (w/aglom) de 0,35 para determinar o teor
de saturação do superplastificante, no presente estudo foi adotada uma relação (w/aglom) inicial de
0,45 para todos os concretos analisados, motivado pelas dificuldades em atingir uma trabalhabilidade
adequada para o CAA.

219
Concretos autoadensáveis com substituição parcial de cimento Portland por sílica de casca de arroz obtida
através da queima controlada em leito fluidizado: Desempenho nos estados fresco e endurecido

Determinados os traços unitários, o consumo de cimento, C, por m³ de concreto pode ser obtido pela
Eq. (1).

(1)

Onde γconcreto é a densidade do concreto no estado fresco, f é a quantidade de finos, a é a quantidade de


agregado fino (areia) e b é a quantidade de agregado grosso (brita 0).

Quadro 2. Composição de materiais por m³ de concreto (kg/m³).


Materiais (kg) Ref. A B C D
Cimento 359,71 341,72 323,74 305,75 287,77
SCA 0,00 17,99 35,97 53,96 71,94
CV 63,48 63,48 63,48 63,48 63,48
Areia 877,69 877,69 877,69 877,69 877,69
Brita 0 877,69 877,69 877,69 877,69 877,69
Água 184,51 184,51 184,51 184,51 184,51
Superplastificante 8,46 8,46 8,46 8,46 8,46
VMA 0,026 0,026 0,026 0,026 0,026

Quanto aos dados relativos aos traços dos CAA produzidos estão informados no Quadro 2, onde se
pode observar que não houve variações no consumo de aglomerante (material cimentante) entre os
diversos concretos. Apenas ocorreu a variação do teor de substituição de SCA sobre o cimento, que
variou de 0,0% a 20,0%. Da eq.(3) pode-se inferir que, posto que a soma (aglom + f + a + b) é a
mesma para todos os concretos. Sob a ótica da preservação ambiental, os concretos onde se utilizaram
SCA juntamente com a CV são preferíveis em relação aos concretos Ref., uma vez que os primeiros
preenchem gradativamente os vazios deixados pelos agregados.

3.2 Quanto às propriedades no estado fresco

A Norma NBR 15823-1 [11] estabelece os seguintes limites: Espalhamento a um mínimo de 550 mm e
a um máximo de 850 mm; Segregação a um máximo de 20%, tempo de fluxo do funil V a um máximo
de 25 s; a relação entre as alturas h2/h1 da caixa L a um mínimo de 0,80; a diferença de alturas R1-R2 da
caixa U tendo um valor máximo de 30 mm e a diferença entre o espalhamento sem o anel J e o
espalhamento com o anel a um máximo de 50 mm; Pela análise dos resultados demonstrados no
quadro 3 verifica-se que todos os concretos satisfizeram a normalização quanto aos ensaios de
espalhamento, segregação, Caixa U (R1-R2) e Coluna (h2/h1), demonstrando um concreto coeso,
homogêneo e com trabalhabilidade compatível com concreto do tipo autoadensável. Onde é possível
observar que todas as misturas apresentaram boa retenção de água e nenhuma segregação conforme
fig. 4.

Quadro 3. Resultados no estado fresco.


Concreto Espalhamento T50cm Anel J Funil V Caixa L Caixa U
(mm) (s) (mm) (s) (H2/H1) (R1-R2)(mm)
Ref. 690 6,0 650 12 0,80 3,0
A 690 6,0 650 10 0,89 2,0
B 690 6,0 640 10 0,89 4,0
C 690 5,0 650 10 0,89 2,0
D 680 7,0 670 13 0,84 1,3

220
Dalcin, Marangon e Kosteski

A B

C D
Figura 4. Aspectos dos espalhamentos e do anel J dos CAA.

3.3 Quanto às propriedades no estado endurecido

Os corpos-de-prova antes dos ensaios tiveram seus topos preparados e retificados com o uso de uma
retificadora, como estabelece a NBR 5739/2007, para assim receber a carga da prensa distribuida
igualmente por toda a área.

O Quadro 4 e o Quadro 5 apresentam os resultados dos ensaios realizados no estado endurecido.

Quadro 4. Resultados de resistência à compressão axial.


Concreto Valor médio de Compressão CV Valor médio de Compressão CV
FC7 (MPa) (%) FC14 (MPa) (%)
Ref. 28,36 1,40% 33,15 0,87%
A 32,52 0,33% 37,13 1,04%
B 30,46 0,93% 38,57 0,68%
C 32,48 0,68% 41,06 0,07%
D 28,56 0,61% 37,68 2,56%
*CV = Coeficiente de Variação

221
Concretos autoadensáveis com substituição parcial de cimento Portland por sílica de casca de arroz obtida
através da queima controlada em leito fluidizado: Desempenho nos estados fresco e endurecido

Quadro 5. Resultados de resistência à tração por compressão diametral.


Concreto Compressão Diametral CV Compressão Diametral CV
Fct, 7dias (MPa) (%) Fct, 14dias (MPa) (%)
Ref. 2,70 2,92% 2,39 2,44%
A 2,35 0,11% 3,04 4,07%
B 3,02 4,63% 4,13 0,05%
C 3,22 3,69% 3,64 4,73%
D 2,93 3,53% 3,46 2,94%
*CV = Coeficiente de Variação

De acordo com os quadros 4 e 5 é possível observar que a substituição CP por SCA aumentou as
resistências, tanto a compressão como a tração. A mistura que apresentou os melhores resultados nos
ensaios a compressão é a mistura contendo 15% de susbtituição, tendo um aumento da resistência à
compressão de 25,8% em relação à mistura de Referencia. Em relação à resistência à tração por
compressão diametral a mistura B apresentou melhor desempenho em relação à mistura de Referencia
com um acréscimo de 54,4%. Nota-se que a misturas B e C apresentaram as melhores porcentagens de
substituição, uma vez que quando adicionados 20% (mistura D) houve um decréscimo em ambas as
resistência (compressão e tração por compressão diametral) de 8% e 5%, respectivamente.

CONCLUSÕES

O presente trabalho avaliou o desempenho nos estados fresco e endurecido de CAA com substituição
parcial ao cimento por SCA obtida através da queima controlada em leito fluidizado e com adição de
CV como material fino.

As principais conclusões são:

Todas as misturas estudadas apresentam características de CAA, atendendo todos os ensaios realizados
nesse trabalho. A SCA e a CV proporcionaram coesão e homegeneidade suficiente para evitar a
exsudação. Quanto ao tempo de fluxo, medido pelo ensaio do funil V, o concreto D apresentou bons
resultados, embora se tenha verificado a redução na capacidade de atravessar obstáculos, mas ainda
assim, satisfazendo à normalização brasileira.

Não houve nenhuma variação significativa nas propriedades reológicas do estado fresco dos concretos
com adição de SCA.

Todas as misturas contendo SCA apresentaram resistência à compressão e à tração por compressão
diametral maiores que a mistura de referência.

A mistura que apresentou melhor resistência à compressão foi a mistura contendo 15% de substituição
de SCA, com um acréscimo de resistência de 25,8% em relação à mistura de referência.

No que se refere a resistência à tração por compressão diametral, a mistura que apresentou o melhor
desempenho foi a B com um aumento de resistência de 54,4% em relação a mistura de referência.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a empresa Pilecco pela doação da sílica da casca de arroz, a Usina Termo
Elétrica - UTE Presidente Médici pela doação da Cinza Volante e à Grace Brasil Ltda. pela doação do
superplastificante.

222
Dalcin, Marangon e Kosteski

REFERÊNCIAS

[1] Dal Molin, D.C. 2011, Adições Minerais. In: ISAIA, G. C. (Ed). Concreto: Ciência e Tecnologia.
São Paulo: IBRACON. p. 290.
[2] Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Indicadores – Produção Agrícola. Disponível em:
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/agropecuaria/lspa/default.shtm. Acesso em:
12 de fev. 2015.
[3] Pouey, M. T. (2006). Beneficiamento da cinza de casca de arroz residual com vistas à produção
de cimento composto e/ou pozolânico. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Tese de
doutorado.
[4] Martínez, J.D.; Pineda, T.; López, J.P.; Betancur, M.. (2011) Assessment of the rice husk lean-
combustion in a bubbling fluidized bed for the production of amorphous silica-rich ash: Energy,
.Elsevier, vol. 36, 3846-3854 p.
[5] Marangon, E. 2013, Atividade Pozolânica da Sílica de Casca de Arroz Produzida em Leito
Fluidizado. 55º Congresso Brasileiro do Concreto, Anais. Gramado-RS
[6] Rahman, M.E.; Muntohar, A.S.; Pakrashi, V.; Nagaratnam, B.H.; Sujan, D.. (2014) Self
compacting concrete from uncontrolled burning of rice husk and blended fine aggregate:
Materials and Design, .Elsevier, vol. 55, 410-415 p.
[7] Marangon, E.; Oliveira L. L.; Oliveira M.; Baroni M.; Budny J. (2014). Índice de atividade
pozolânica da sílica de casca de arroz silcca nobre SCI proveniente da combustão em leito
fluidizado. Congresso Luso-Brasileiro de Materiais de Construção Sustentáveis, Guimarães,
Portugal, Vol. 1, 523 p.
[8] Aïtcin, P. C.. 2000, Concreto de Alto Desempenho. Editora Pini, São Paulo, 256 p.
[10] Gomes, P.C.C; Barros, A.R.. 2009, Métodos de dosagem de concreto autoadensável. Editora Pini,
São Paulo.
[11] ABNT NBR 15823-1. 2010, Concreto auto-adensável: Classificação, controle e aceitação no
estado fresco. Rio de Janeiro.
[12] ABNT NBR 12653/13. 2014, Materiais pozolânicos - Requisitos. Rio de Janeiro.

223
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

Betão auto-compactável produzido com incorporação de calcário


moído e de resíduo da refinação de petróleo

Inês Laginha 1 Sandra Nunes2 Carla Costa1

RESUMO

O presente artigo apresenta resultados preliminares de um estudo de análise de viabilidade de


produção de betões auto-compactáveis (BAC) com duas adições: calcário moído (CM) e um resíduo
gerado durante o processo de refinação de petróleo (rRP). Na determinação dos níveis admissíveis de
incorporação das adições na composição do ligante dos BAC recorreu-se a uma metodologia
experimental iterativa realizada em duas fases experimentais, primeiro em argamassas e depois em
betões. Os betões preparados foram avaliados tanto no estado fresco – recorrendo aos ensaios de
espalhamento, de escoamento no funil-V e de escoamento na caixa-L – como no estado endurecido
nomeadamente, com a determinação da resistência mecânica à compressão aos 3, 7, 14 e 28 dias de
idade.

Os resultados obtidos revelaram ser possível produzir BAC com ligantes ternários, nos quais o
cimento é substituído em 60 % (v/v) pelas adições: CM (30%) e rRP (até 30%). Estes BAC
correspondem aos requisitos de auto-compactabilidade estabelecidos na norma NP EN 206-9.
Adicionalmente, verificou-se que a incorporação de rRP no ligante conduz ao aumento da resistência
mecânica dos betões. Este comportamento é atribuído à elevada atividade pozolânica apresentada pelo
resíduo.

A principal conclusão é a evidência do potencial tecnológico em relação à utilização do resíduo da


refinação de petróleo na produção em larga escala destes betões com vantagens tecnológicas,
ambientais e económicas.

Palavras-chave: Betão auto-compactável, Ligantes ternários, Resíduo da refinação de petróleo,


Adição de calcário, Atividade pozolânica.

1
Departamento de Engenharia Civil, Instituto Superior de Engenharia de Lisboa, Lisboa, Portugal. {ineslaginha,
carlacosta}@dec.isel.pt
2
LABEST/FEUP, Departamento de Engenharia Civil, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Portugal.
snunes@fe.up.pt

225
Betão auto-compactável produzido com adição de calcário moído e resíduo da refinação de petróleo

1. INTRODUÇÃO

O desenvolvimento do betão auto-compactável (BAC) é considerado um dos maiores avanços


tecnológicos no domínio dos materiais de construção que ocorreu nas últimas décadas [1,2]. De entre
os vários benefícios que o BAC apresenta [1-5], um dos mais significativos é a sua capacidade para
responder, de forma integrada, a questões ambientais, tecnológicas e económicas. De facto, a
capacidade destes materiais se auto-compactarem exige, tipicamente, a incorporação de quantidades
significativas de adições na sua composição [1-3,5-8] que, no caso de serem resíduos industriais,
concorrem para a redução do impacto ambiental, tanto da indústria de materiais de construção como
das indústrias que geram os resíduos. Neste caso, o BAC apresenta, também, a vantagem económica
de conferir valor acrescentado a resíduos poluentes [2,3].

Um estudo prévio [9] no qual se avaliou a viabilidade de utilizar o resíduo originado na unidade de
cracking catalítico em leito fluidizado (FCC3) da Refinaria de Sines como uma adição pozolânica para
produzir BAC, revelou ser possível incorporar até 25% (v/v) deste resíduo na composição do ligante,
respeitando os requisitos auto-compactabilidade estabelecidos na norma dos BAC (NP EN 206-9).
Neste estudo foram testados níveis de substituição do cimento pelo resíduo mais elevados mas sem
sucesso devido ocorrência de segregação e exsudação nos BAC no estado fresco.

Dado que o resíduo de FCC é gerado em grande escala – cerca de 500 mil toneladas (dos quais, 20%
têm origem em refinarias europeias) – em refinarias de petróleo em todo o mundo [10] e que apresenta
elevada atividade pozolânica [11,12], a sua utilização generalizada em BAC também será um
contributo para a sustentabilidade na construção. Neste contexto, considerou-se relevante prosseguir a
otimização das misturas de BAC com incorporação de resíduo de FCC nomeadamente, com o aumento
do teor de substituição de cimento em relação ao que se tinha conseguido atingir no estudo prévio [9].

Na prossecução deste objetivo investigaram-se as sinergias que podem advir da utilização simultânea
de duas adições – calcário moído e resíduo de FCC – uma vez que estas adições têm tipicamente
efeitos antagónicos nas propriedades dos betões, tanto no estado fresco como endurecido. De facto,
enquanto a incorporação de calcário na composição de betões conduz, normalmente, ao aumento da
trabalhabilidade no estado fresco e à diminuição da resistência à compressão no estado endurecido [4-
6], a incorporação de resíduo de FCC tende a diminuir a sua trabalhabilidade [3,7] e a aumentar a
resistência à compressão [2,3]. Adicionalmente, a incorporação de calcário pode contribuir para
completar a curva granulométrica dos constituintes de menores dimensões do BAC conduzindo ao
aumento da resistência à segregação das fases, a maior compacidade e a maior fluidez destes betões [3,
13].

Neste sentido, prepararam-se misturas de BAC com ligantes ternários nos quais o cimento (C) foi
parcialmente substituído por 30% (v/v) de calcário moído (CM) e por 0, 10, 20 e 30% (v/v) de resíduo
da refinação de petróleo (rRP). A avaliação dos BAC preparados, à luz da norma NP EN 206-9 - que
especifica as propriedades tanto no estado fresco e como endurecido a que os BAC têm que
corresponder - mostraram ser possível produzir BAC com elevados teores - até 60% - de incorporação
simultânea das adições CM e rRP.

2. PROGRAMA EXPERIMENTAL

2.1 Materiais

O ligante ternário usado inclui cimento (C) Portland tipo CEM I 42.5R (de acordo com a norma
NP EN 197-1); resíduo gerado na unidade de cracking catalítico em leito fluidizado (rRP) da refinaria
de Sines da empresa PETROGAL; e, calcário moído (CM), extraído na zona de Rio Maior. O
Quadro 1 apresenta a composição química e propriedades físicas destes materiais. A composição

3
Sigla que, tipicamente, é usada para referir esta unidade com base na sua designação em inglês “Fluid
Catalytic Cracking”

226
Laginha, Nunes e Costa

química foi determinada por espectroscopia de fluorescência de raios-X (FRX) usando um


equipamento da PANalytical, modelo Axios e recorrendo à determinação da perda ao fogo (PF) de
acordo com o procedimento descrito na norma NP EN 196-2. Os valores das massas volúmicas foram
determinados por picnometria de gás hélio, utilizando o instrumento da Micromeritics, modelo
AccuPyc 1330. Os valores da área superficial específica foram estimados pelo método de B.E.T a
partir da determinação de isotérmicas de adsorção/dessorção de azoto à temperatura de 77K, usando
um equipamento da Micromeritics, modelo ASAP 2000.

Quadro 1. Composição química (% mássica) e propriedades físicas do cimento (C), do resíduo da


refinação do petróleo (rRP) e do calcário moído (CM)
C rRP CM
Composição Química (% mássica)
SiO2 19.41 39.59 0.20
Al2O3 5.45 52.81 0.20
Fe2O3 3.23 0.55 0.06
CaO 62.57 0.09 55.10
MgO 1.91 0.19 0.32
SO3 2.89 0.23 0.00
K2O 1.10 0.04 0.01
Na2O 0.00 0.68 0.02
TiO2 0.27 0.82 0.02
P2O5 0.10 0.06 0.01
MnO 0.05 0.00 0.00
SrO 0.07 0.00 0.00
Cl- 0.02 0.01 0.00
PF(1) 2.68 1.48 43.52
TOTAL 99.75 95.07 99.46
Propriedades Físicas
Massa volúmica (kg/m3) 3180 2710 2600
Área superficial específica (m2/kg) 1050 150000 710
1
Perda ao fogo, determinado de acordo com a norma NP EN 196-2.

Na Figura 1 estão representadas as distribuições de tamanho de partícula dos materiais que constituem
o ligante obtidas por difração de raio laser usando o equipamento CILAS PSA 1064.
100
Cimento
90
Dm=26.6 µm
d50=21.5 µm
80 Calcário
moído
70 Dm=71.2 µm
Volume acumulado (%)

60

50

40

30
Resíduo da
refinação do
20
petróleo
10 Dm=86.1 µm

0
0 1 10 100 1000
Diâmetro de Partícula (µm)
Figura 1. Distribuição (volumétrica) de tamanho das partículas do cimento (C), do resíduo da
refinação do petróleo (rRP) e do calcário moído (CM) (Nota: Dm - Diâmetro médio das partículas;
d50 e d90 – 50% e 90% (v/v) das partículas, respetivamente, têm diâmetro inferior ao valor
apresentado).

227
Betão auto-compactável produzido com adição de calcário moído e resíduo da refinação de petróleo

Os agregados utilizados (de acordo com a norma NP EN 12620) incluíram: uma areia natural siliciosa
mais grossa, A0/4 (densidade 2.62; teor de finos de 87 %; absorção de água de 0.07%); uma areia
natural siliciosa mais fina, A0/2 (densidade 2.62; absorção de água de 0.43%); um agregado calcário
britado, B1, com dimensão máxima de 12 mm (densidade 2.62; absorção de água de 1.1%) e um
agregado calcário britado, B2, com dimensão máxima de 20 mm (densidade 2.68; absorção de água de
0.8%). As proporções usadas na mistura das areias – que constituiu o agregado fino – e na mistura das
britas – que constituiu o agregado grosso – foram determinadas experimentalmente de modo a obter a
mistura de agregados conducente a maior compacidade. A Figura 2 apresenta as curvas
granulométricas da mistura de agregados finos e grossos utilizados na campanha experimental.

100

90
Material passado acumulado (% mássica)

80

70
40%A0/2 + 60%A0/4 70%B1 + 30%B2
60

50

40

30

20

10

0
0 1 10 100 1000
Abertura da malha dos peneiros (mm)

Figura 2. Curvas granulométricas do agregado fino (linha contínua) e do agregado grosso (linha
tracejada).

O superplastificante (Sp) utilizado foi um redutor de água de alta gama de terceira geração de acordo
com a norma NP EN 934-2. Este Sp consiste numa combinação de policarboxilatos modificados, em
solução aquosa, e apresenta densidade 1.07. Na campanha experimental foi utilizada água da rede
pública, de acordo com a norma NP EN 1008.

2.2 Determinação das composições das misturas dos BAC

Na composição dos BAC foram utilizados ligantes com quatro composições diferentes: um no qual o
cimento foi 30% (v/v) substituído por CM, e os outros três, nos quais o cimento foi substituído,
simultaneamente, por 30% (v/v) de CM e por 10, 20 e 30% (v/v) de rRP. As designações adotadas
para as misturas com estes ligantes foram, respetivamente: 30CM, 30CM10rRP, 30CM20rRP e
30CM30rRP. A mistura 30CM foi usada como referência para avaliar o efeito do resíduo da refinação
do petróleo nas propriedades dos BAC já com incorporação de CM.

Na determinação das composições dos BAC recorreu-se a uma metodologia experimental conduzida
em duas fases (cujo procedimento se encontra descrito detalhadamente em [8]). Resumidamente, a
primeira fase consistiu na preparação de argamassas – para as diferentes composições dos ligantes em
estudo – que foram testadas recorrendo ao ensaio do mini-cone e do mini-funil, de modo a
iterativamente se determinarem os parâmetros Vw/Vp (razão volumétrica entre a água e o ligante4) e
Sp/p% (razão mássica entre o superplastificante e o ligante) que asseguram propriedades reológicas
conducentes à auto-compactibilidade isto é, até ser atingido o valor de diâmetro de espalhamento da
argamassa de 257±6 mm e o tempo de escoamento no mini-funil de 8.23±0.54 s. Na preparação das

4
Nestas abreviaturas, o ligante surge associado à letra “p”, uma vez que em inglês, no domínio dos BAC, os
materiais que constituem os ligantes são tipicamente referidos como “powder materials”

228
Laginha, Nunes e Costa

argamassas o Vp/Vs (razão volumétrica entre o ligante e agregados finos) foi mantido contante e igual
a 0.75 e, para efeitos de cálculo, considerou-se o volume de vazios (Vv) igual a 0.03 m3/m3. A segunda
fase do programa experimental consistiu na preparação dos BAC com as mesmas composições de
ligantes, usando os valores dos parâmetros determinados na fase experimental anterior e, ainda,
considerando as seguintes condições: Vm/Vg (razão volumétrica entre a argamassa e agregados
grossos) igual a 2.427; Vg (volume de agregado grosso) igual a 0.268 m3/m3; e, Vm (volume de
argamassa) igual a 0.702 m3/m3.

O Quadro 2 apresenta os parâmetros de composição (Vw/Vp e Sp/p%) determinados na fase de


argamassas do programa experimental, bem como as quantidades dos constituintes utilizados para
produzir os BAC na segunda fase do programa experimental. Neste quadro constata-se que a
quantidade de água adicionada à mistura é muito expressiva. A principal razão para estes valores
serem tão elevados é atribuído à estrutura microporosa do rRP e à sua enorme área superficial
específica (Quadro 1) com muita afinidade para a água [11]. De facto, o valor da absorção de água do
rRP é 29% (em massa). Assim, no Quadro 2 apresenta-se também a quantidade de água disponível
para a hidratação do ligante - sob a designação de “água livre” – que foi determinada descontando a
absorção dos agregados e do rRP.

Quadro 2. Parâmetros de composição - Vw/Vp e Sp/p% - e quantidades de materiais utilizados na


produção de BAC
Mistura 30CM 30CM10rRP 30CM20rRP 30CM30rRP
Parâmetros de composição (determinados na fase das argamassas):
Vw/Vp 0.85 0.87 0.95 1.10
Sp/p% 1.37 1.00 0.90 1.54
3
Proporções de mistura (kg/m ) dos BAC
Ligante:
Cimento 475 406 330 251
Calcário moído 147 150 160 177
Resíduo da refinação de petróleo 0 55 108 154
Água (w) 190 194 206 226
Água livre (wfree) 181 169 165 169
Agregado fino (0.6A0/2+0.4A0/4) 744 742 724 690
Agregado grosso (0.7B1 +0.3B2) 746 746 746 746
Superplastificante – SikaPlast 898 9 6 5 9
wfree/p (razão mássica) 0.29 0.28 0.28 0.29

2.3 Métodos de ensaios

Os betões preparados foram avaliados: (i) no estado fresco, recorrendo aos ensaios de espalhamento
bem como, aos ensaios de escoamento no funil V e na caixa L, de acordo com os procedimentos
experimentais descritos na norma NP EN 12350, nas partes 8, 9 e 10, respetivamente; e, (ii) no estado
endurecido, com a determinação da resistência mecânica à compressão aos 3, 7, 14 e 28 dias, de
acordo com a norma NP EN 12390, parte 3 e 4.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Propriedades dos BAC no estado fresco

Esta secção apresenta e discute os resultados experimentais obtidos com os BAC em estudo.
Adicionalmente, confronta os resultados com os requisitos estabelecidos na norma NP EN 206-9 para
as propriedades dos BAC no estado fresco que se encontram reproduzidos no Quadro 3.

229
Betão auto-compactável produzido com adição de calcário moído e resíduo da refinação de petróleo

Quadro 3. Requisitos das propriedades dos BAC no estado fresco, estabelecidos na norma
NP EN 206-9
Classes de consistência Valores limite
Fluidez:
SF1 550-650 mm
Espalhamento (mm) SF2 660-750 mm
SF3 760-850 mm
Viscosidade:
VS1 < 2.0 s
Tempo de espalhamento, t500 (s)
VS2 ≥ 2.0 s
VF1 <9s
Tempo de escoamento, tv (s)
VF2 9-25 s
Capacidade de passagem:
PL1 ≥ 0.80 com 2 varões
Caixa L
PL2 ≥ 0.80 com 3 varões

As Figuras 4, 5 e 6 apresentam, respetivamente, os resultados obtidos nos ensaios dos BAC no estado
fresco referentes à fluidez (avaliada pelo diâmetro de espalhamento), à viscosidade (avaliada pelo
tempo de espalhamento, t500 e pelo tempo de escoamento, tv) e à capacidade de passagem na caixa L.

900

850
Diâmetro de espalhamento, SF

SF3
Classes de espalhamento
800

750
(mm)

SF2
700

650
765 745
SF1
600

550 615
530
500
30CM 30CM10rRP 30CM20rRP 30CM30rRP

Figura 4. Diâmetro de espalhamento dos BAC e correspondente classificação, conforme a norma


NP EN 206-9.

Conforme se observa na Figura 4, o diâmetro de espalhamento dos BAC em estudo está compreendido
entre 530-765 mm. Deste modo, as misturas estão em conformidade com os critérios de
auto-compactabilidade, definidas pela norma NP EN 206-9, sendo que os BACs 30CM e 30CM10rRP
se incluem na classe SF1 e os BAC 30CM20rRP e 30CM30rRP na classe SF2 e SF3, respetivamente.

Observa-se, no entanto, que o BAC 30CM10rRP apresenta um diâmetro de espalhamento no limite


mínimo necessário para se considerar um BAC e, em termos normativos para não ser rejeitado teve
que se considerar a tolerância de ± 50 mm prevista para este requisito. No entanto, este valor indica
que, em termos práticos, a aplicação deste betão é limitada. Por outro lado, os BAC 30CM30rRP e
30CM20rRP incluem-se, respetivamente, nas classes de espalhamento correspondentes a betões cujas
misturas geralmente fluem com moderada ou elevada facilidade. O aumento da fluidez dos BAC é
particularmente vantajoso na betonagem de elementos estruturais que apresentem formas complexas
ou com grande percentagem de armadura.

230
Laginha, Nunes e Costa

Classes de viscosidade (expressas pelo t500)


VS1 VS2
25

Classes de viscosidade (expressas pelo tv)


20

VF2
Tempo de escoamento. tv(s)

15

30CM10rRP
10 30CM30rRP
30CM20rRP
30CM

VF1
5

0
0 1 2 3 4 5 6 7 8

Tempo de espalhamento, t500 (s)

Figura 5. Tempos de espalhamento (t500) e de escoamento (tv) dos BAC e classificações


correspondentes, conforme a norma NP EN 206-9.

A viscosidade dos BAC avaliada valores dos tempos t500 e tv representam uma medida da velocidade
de deformação das misturas. Na Figura 5 observa-se que os tempos de espalhamento (t500) dos BAC
em estudo estiveram compreendidos entre os valores 2.84-7.54 s e que os tempos de escoamentos (tv)
entre os valores 4.76-11.85 s. Consequentemente, é cumprido o requisito estabelecido na norma
NP EN 206-9 que impõe que os valores de tv têm que ser inferiores a 25s.

Os valores de tempos elevados apresentados pelo BAC 30CM10rRP são representativos de misturas
com velocidade de deformação baixa. Os outros BAC - 30CM, 30CM20rRP e 30CM30rRP -
apresentam valores de t500 e tv que indicam velocidades de deformação elevada ou moderada.

1,00
Classe de capacidade de passagem
PL1
0,90
Índice de capacidade de

0,80
0,70
passagem

0,60
0,50
0,40
0,30
0,20
0,10
0,00
30CM 30CM10rRP 30CM20rRP 30CM30rRP

Figura 6. Índice de capacidade de passagem na caixa L das misturas de BAC e correspondente


classificação, conforme a norma NP EN 206-9.

Conforme se observa na Figura 6, os índices de capacidade de passagem na caixa L estiveram


compreendidos entre 0.54-0.84. Uma vez que o valor mínimo normativo para este requisito é de 0.80,
a mistura 30CM10rRP não pode ser considerada BAC. Na prática, este valor indicia que há o risco de
bloqueio durante a aplicação do betão. Contudo, tal como foi referido anteriormente, este trabalho
apresenta os resultados preliminares de uma investigação em curso, pelo que, é convicção dos autores
que é possível otimizar a composição deste BAC de forma a atingir um valor de capacidade de
passagem adequada (PL≥0.80). De facto, também os resultados de fluidez e de viscosidade (Figs.4 e 5)
apresentados pelo BAC 30CM10rRP em relação aos outros BAC, em estudo, em relação aos quais não
é fácil apresentar uma interpretação da tendência do comportamento também já indiciavam que a
composição daquele BAC poderá ser melhorada.

231
Betão auto-compactável produzido com adição de calcário moído e resíduo da refinação de petróleo

3.2 Resistência mecânica dos BAC

Na Figura7 apresentam-se os resultados de resistência mecânica à compressão dos BAC em estudo aos
3, 7, 14 e 28 dias de idade.

82,2 83,0
70,4
90,0 79,4
66,7 71,6
80,0
75,8
Resistência à compressão (MPa)

70,0 63,0 63,7


60,0
59,7 65,0 58,4
50,0
40,0 37,2
30,0 45,7
20,0 30,2
10,0
28
0,0
21,2
14
30CM
30CM10rRP 7
Idade (dias)
30CM20rRP 3
30CM30rRP
Figura 7. Resistência mecânica à compressão das misturas de BAC aos 3, 7, 14 e 28 dias.

Na análise da Figura 7 verifica-se que, conforme o esperado, há um aumento da resistência à


compressão com a idade sendo que o desenvolvimento da resistência é mais significativo entre os 2 e
os 7 dias de idade em todos os BAC à exceção do 30CM30rRP para o qual o aumento de resistência
mais relevante se verificou entre os 14 e os 28 dias.

O BAC 30CM10rRP apresenta resistências à compressão superior à mistura de referência, 30CM,


desde as primeiras idades avaliadas, enquanto os outros BAC preparados com ligantes ternários -
30CM10rRP e 30CM10rRP – só superam a resistência da mistura de referência aos 28 dias.
Adicionalmente, verifica-se que nos BAC preparados com ligantes ternários, até aos 14 dias, à medida
que aumenta o nível de substituição de cimento ocorre a diminuição da resistência à compressão.

O comportamento dos BAC no que respeita à resistência mecânica à compressão (Fig. 7) –


nomeadamente, o facto do BAC 30CM10rRP apresentar elevada resistência desde as primeiras idades
e dos BAC com teores de incorporação de resíduo mais elevados, 30CM20rRP e 30CM30rRP,
atingirem os valores de resistência mecânica do BAC de referência, 30CM, mesmo que com algum
atraso no tempo – é atribuído à elevada atividade pozolânica que o resíduo de FCC gerado na
Refinaria de Sines. Estudos anteriores tinham demonstrado a elevada reatividade pozolânicas deste
resíduo tanto quando é usado como constituinte principal na produção de cimentos correntes [10,12]
como quando é usado adição noutros materiais à base de cimento, nomeadamente na produção de
betão vibrado tradicional [14] ou na produção de argamassas de reabilitação de betão [15].

CONCLUSÕES

Com o presente trabalho demonstrou-se que é possível preparar BACs com teores significativos – até
60% – de incorporação, simultânea, de calcário moído e de resíduo da refinação de petróleo no ligante,
cumprindo os requisitos estabelecidos na norma NP EN 206-9.

Adicionalmente, verifica-se que a incorporação de resíduo da refinação de petróleo até 30% no ligante
ternário, apesar de conduzir a um atraso no desenvolvimento da resistência mecânica à compressão –
como se verificou nas misturas com 20 e 30% de incorporação de rRP – conduz, aos 28 dias, a
resistências à compressão semelhantes às do BAC sem adição do resíduo.

232
Laginha, Nunes e Costa

Neste sentido, confirma-se que o resíduo da refinação de petróleo apresenta características promissoras
para ser aplicado na produção industrial de BAC. Esta evidência motivou a prossecução deste estudo,
que está atualmente em curso, com vista à otimização das formulações e à avaliação de outras
características de desempenho incluindo a durabilidade.

AGRADECIMENTOS

As autoras I. Laginha e C. Costa agradecem à Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) e à


empresa Petróleos de Portugal - PETROGAL, S.A. o apoio financeiro disponibilizado no âmbito do
projeto de investigação Ref.ª PTDC/ECM/113115/2009.

REFERÊNCIAS

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Concrete Research, Vol. 33, N. 6, pp. 921–926.
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[4] Domone, P. L. (2006). Self-compacting concrete: An analysis of 11 years of case studies.
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Catalyst (including FCC catalyst fines) finds safe reuse/rework outlets in Europe, pp. 3–5.
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233
Betão auto-compactável produzido com adição de calcário moído e resíduo da refinação de petróleo

[14] Antunes, M. (2013). ECO-Betão com Adiçao de Resíduo da Indústria Petrolífera. Instituto
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[15] Costa, C.; Ribeiro, M. S.; Brito, N. (2013). Repair Mortar Made of a Waste from Oil Refining
Industry. Proc. of “International Sustainable Building Conference, pp. 1455–1462.

234
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

Avaliação das propriedades reológicas e mecânicas de CAA


produzidos com RCD e dosados a partir dos conceitos de
empacotamento de partículas

M.P. Barbosa 1 L.L. Pimentel 1

A.L. Castro 2 R.S. Campos 3

RESUMO

Estima-se que os resíduos de construção e demolição (RCD) representam 50% dos resíduos sólidos
urbanos gerados no Brasil. Deste modo, a reciclagem dos RCD é uma medida urgente e que
compreende as etapas de triagem, britagem e peneiramento, para posterior uso como agregados.
Estudos demonstram que o emprego destes agregados reciclados na produção de concreto
convencional é viável, assim, o presente trabalho propõe-se a analisar a influência do uso dos
agregados de RCD, provenientes da região metropolitana de Campinas-SP, na produção de concreto
autoadensável (CAA), empregando conceitos de reologia e de empacotamento de partículas para sua
dosagem. O empacotamento de partículas refere-se à correta seleção e proporção dos materiais
particulados, de maneira que as partículas menores preencham os vazios entre as partículas maiores,
de forma sucessiva. Foram analisadas duas composições de CAA dosadas através do método proposto
por Repette–Melo, que se baseia no estudo reológico da pasta de cimento, da argamassa e do concreto,
sendo uma delas composta apenas por agregados naturais e a outra com o uso de agregados graúdos
reciclados. Outras quatro misturas foram elaboradas, empregando agregados reciclados de RCD em
diferentes proporções, com o uso de técnicas de empacotamento de partículas. Assim, os parâmetros
reológicos do concreto autoadensável, bem como suas propriedades mecânicas foram obtidas e os
resultados comparados para as diversas composições. As propriedades de auto adensabilidade do
concreto no estado fresco foram avaliadas a partir dos ensaios de espalhamento, caixa L e funil V,
obedecendo aos critérios estabelecidos pela NBR 15823:2010. No estado endurecido foram
determinadas a resistência à compressão, a resistência à tração por compressão diametral e o módulo
de elasticidade aos 28 dias de idade. Os resultados obtidos sugerem que há grande potencialidade de
emprego de agregados reciclados para a produção de CAA.

Palavras-chave: Sustentabilidade, Resíduos de construção e demolição, Empacotamento de


partículas, Reologia.

1. INTRODUÇÃO

É sabido que a construção civil demanda grande quantidade de recursos naturais em toda a sua cadeia
produtiva. Além disso, é uma das principais fontes geradoras de resíduos sólidos. No Brasil, estima-se
que os resíduos de construção e demolição (RCD) correspondam a 50% dos resíduos sólidos urbanos,

1
Pontificia Universidade Católica de Campinas, CEATEC, Campinas, Brasil, monica.barbosa@ puc-campinas.edu.br,
lialpl@puc-campinas.edu.br
2
IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo, São Paulo, Brasil, alcastro@ipt.br
3
Aluno do Curso de Engenharia Civil da PUC-Campinas, CEATEC, Campinas, Brasil, renan_serralvo@hotmail.com

235
Avaliação das propriedades reológicas e mecânicas de CAA produzidos com RCD e dosados a partir dos
conceitos de empacotamento de partículas

sendo geradas em torno de 68 milhões de toneladas de RCD anualmente [1]. Deste modo, a
reciclagem destes resíduos constitui uma medida urgente para a preservação ambiental e o
desenvolvimento sustentável.

O aproveitamento dos RCD pode ser feito mediante o uso destes como fração graúda ou miúda na
composição do concreto. A reciclagem dos RCD é feita através de um processo de beneficiamento que
envolve as etapas de triagem, britagem e peneiramento, para posterior uso como agregados [1, 2]. O
emprego dos agregados reciclados na produção de concretos não é uma ideia nova, haja vista que em
1928 já eram utilizados agregados oriundos de resíduos da construção civil para a produção de novos
concretos [3]. Assim, o que se propõe no presente estudo é avaliar a influência exercida pelo do uso de
agregados graúdos reciclados de RCD nas propriedades no estado fresco e no endurecido de concretos
autoadensáveis (CAA).

Define-se o CAA como o concreto fluído e homogêneo, capaz de mover-se no interior das fôrmas por
ação exclusiva do próprio peso, sem a necessidade de qualquer adensamento externo. Além disso, é
caracterizado pela alta resistência à segregação e à exsudação, devendo, ainda, possuir a habilidade de
passar pelos obstáculos sem apresentar bloqueio das partículas de agregado.

A viabilidade do uso de agregados reciclados na produção do CAA já foi verificada em estudos


anteriores [4]. Para Pereira-de-Oliveira et al [5] as propriedades mecânicas não sofreram grandes
reduções, e o desempenho do CAA no estado fresco foi atingido através do aumento da quantidade de
água e/ou aditivo superplastificante nas misturas estudadas.

Sendo assim, para alcançar o objetivo proposto foram estudadas seis composições de CAA. A
primeira delas foi dosada de acordo com o método proposto por Repette-Mello [6], e empregou
somente agregados naturais. A segunda mistura também foi obtida através do método de Repette-
Melo [6], onde houve substituição parcial do agregado graúdo natural por agregado reciclado. As
demais misturas foram definidas através do uso de técnicas de empacotamento de partículas, baseadas
no modelo de Alfred, e contaram com o uso de agregados graúdos reciclados em diferentes
proporções. De modo sucinto, podemos definir o estudo de empacotamento de partículas como o
problema da correta seleção da proporção e do tamanho adequado dos materiais particulados, de
forma que os vazios maiores sejam preenchidos com partículas menores, cujos vazios serão
novamente preenchidos com partículas ainda menores e assim sucessivamente [7].

Todas as composições foram caracterizadas de acordo com o preconizado na NBR 15823-1 [8], que
define os parâmetros para a classificação, controle e aceitação do CAA no estado fresco. As misturas
também foram avaliadas no estado endurecido, através da realização de ensaios de resistência à
compressão, à tração por compressão diametral e módulo de elasticidade.

2. PROGRAMA EXPERIMENTAL

2.1 Seleção e caracterização dos materiais

No desenvolvimento do presente estudo foram empregados materiais disponíveis na região de


Campinas, São Paulo. Foram utilizados nas composições os seguintes materiais: cimento CP V ARI
RS, sílica ativa, pó de quartzo, areia média, areia fina, brita e pedrisco de origem basáltica, agregados
graúdos reciclados de RCD, aditivo superplastificante à base de éter de policarboxilatos e água.

As características físicas dos agregados estão expressadas no Quadro 1. Os ensaios foram realizados
conforme as prescrições das normas brasileiras NBR 30 [9], NBR 45 [10], NBR 46 [11], NBR 52
[12], NBR 53 [13] e NBR 248 [14].

A distribuição granulométrica do cimento, da sílica ativa e do pó de quartzo foi determinada através


de microscopia eletrônica de varredura e encontra-se ilustrada na Figura 1. Já a curva granulométrica
dos agregados foi determinada em conformidade com a norma NBR 248 [14]. Os resultados estão
expressados na Figura 2.

236
Barbosa, Pimentel, Castro e Campos

Quadro 1. Caracterização física dos agregados.


Ensaios realizados Areia fina Areia média Brita Pedrisco Agregado
reciclado
Diâmetro máximo (mm) 1,18 2,36 19,0 9,50 19,0
Módulo de finura 1,19 2,37 6,99 4,30 6,34
Massa específica (g/cm³) 2,673 2,632 2,714 2,690 2,335
Massa unitária solta (g/cm³) 1,324 1,441 1,453 1,612 1,323
Índice de vazios (%) 50,49 45,44 46,63 40,14 43,56
Absorção de água (%) 0,67 0,15 0,22 1,40 4,54
Teor de pulverulentos (%) 1,87 0,92 0,16 4,72 1,06

Figura 1. Distribuição granulométrica dos materiais finos.

Figura 2. Distribuição granulométrica dos agregados.

O agregado graúdo reciclado utilizado nesse estudo é composto majoritariamente por resíduos de
argamassa, concreto e rochas naturais, sendo classificado como ARC – agregado reciclado de

237
Avaliação das propriedades reológicas e mecânicas de CAA produzidos com RCD e dosados a partir dos
conceitos de empacotamento de partículas

concreto, segundo a norma brasileira NBR 15116 [15]. Para a utilização dos agregados reciclados para
produção de concreto, os mesmos deverão atender aos limites expostos na NBR 15116 [15], no que
tange a absorção de água, máximo de 7,0%, e ao teor de pulverulentos, que deve ser menor ou igual a
10%. Nota-se que os agregados utilizados apresentam valores de absorção de água e teor de
pulverulentos inferiores aos os limites prescritos, estando, portanto, aptos para uso.

2.2 Dosagem

A dosagem do CAA de origem (CAA-OR) foi uma reprodução do traço estabelecido por Vita [16],
baseado nos conceitos de reologia. Tal composição foi determinada através do método de Repette-
Melo [6], que envolve as seguintes etapas: determinação da relação água/cimento em função da
resistência à compressão; estudo reológico da pasta de cimento utilizando o ensaio de fluidez e o
ensaio reométrico, com o objetivo de determinar o teor ótimo de adição; estudo reológico da
argamassa utilizando o ensaio de fluidez, ensaio de espalhamento e o ensaio reométrico, com o
objetivo de determinar os teores ótimos de aditivo superplastificante e de agregado miúdo e
determinação da composição definitiva do CAA, através da incorporação do agregado graúdo e novo
ajuste do teor de aditivo.

A partir da dosagem de origem foi determinada uma nova composição, com substituição parcial do
agregado graúdo natural por agregado reciclado. O percentual de substituição adotado foi de 40,0%, o
que corresponde a 15,0% da massa de materiais secos. O teor de água e de aditivo superplastificante
foram ajustados de modo que a mistura apresentasse propriedades no estado fresco semelhantes às da
composição de origem. A fim de evitar a absorção execessiva de água pelos agregados reciclados, foi
efetuada a pré-molhagem dos mesmos, conforme recomenda a NBR 15116 [15]. Esta mistura servirá
como referência para o presente estudo, motivo pelo qual será nomeada de CAA de referência (CAA-
REF) e encontra-se representada no Quadro 2, juntamente com a composição de origem (CAA-OR).

Quadro 2. Composições dos CAA de origem (CAA-OR) e de referência (CAA-REF).


Materiais utilizados Consumo (kg/m³)
CAA-OR CAA-REF
Cimento 486,60 486,60
Sílica ativa 29,20 29,20
Areia média 844,18 844,18
Brita 814,72 489,05
Agregados reciclados - 326,21
Aditivo superplastificante 2,26 1,85
Água (amassamento) 220,60 262,76
Água (pré-molhagem) - 11,84

O processo de dosagem baseado em conceitos de empacotamento de partículas leva em conta a


distribuição granulométrica dos materiais particulados que compõe a mistura. O modelo de
empacotamento utilizado neste estudo foi o de Alfred, conforme Eq. (1).
(1)
Em que CPFT é a porcentagem volumétrica de partículas menores que o diâmetro D, DL é o diâmetro
da maior partícula, DS é o diâmetro da menor partícula, e q é o módulo ou coeficiente de distribuição.
Valores de “q” menores ou iguais a 0,37 favorecem o empacotamento máximo para distribuições
infinitas, ao passo que para valores superiores é verificada porosidade residual. Para apresentar boa
capacidade de escoamento, recomenda-se que o valor do coeficiente de distribuição seja inferior a
0,30. Valores de “q” próximos a 0,30 devem ser considerados para misturas adensadas sobre vibração.
Valores de “q” inferiores a 0,25 conduzem a misturas autoadensáveis. Com a diminuição do
coeficiente de distribuição processa-se o aumento no teor de finos, o que favorece a interação entre as
partículas [17].

238
Barbosa, Pimentel, Castro e Campos

A partir dos dados de distribuição granulométrica de todos os materiais particulados e com auxílio de
um programa computacional fundamentado no modelo Alfred, foram definidos dois esqueletos
granulares, sendo adotados os coeficientes de distribuição “q” iguais a 0,20 e a 0,25. A Figura 3 ilustra
tal distribuição para os materiais utilizados na composição de referência. A partir desta distribuição
foram determinadas duas composições, que serão identificadas como CAA20-I e CAA25-I, em
virtude dos seus coeficientes de distribuição, e que estão expressadas no Quadro 3.

Figura 3. Distribuição granulométrica dos materiais particulados.

Através da análise da Figura 3, observa-se que há uma descontinuidade granulométrica entre a fração
graúda e miúda dos agregados, como também entre a areia média e os materiais finos (cimento e
sílica). Para sanar esta falha, foram introduzidos a mistura o pedrisco, a areia fina e o pó de quartzo.
Assim, a nova distribuição granulométrica dos materiais particulados encontra-se ilustrada na Figura
4. Foram mantidos os coeficientes de distribuição utilizados anteriormente e, desta forma, definidas
duas novas composições, que serão nomeadas como CAA20-II e CAA25-II e que são representadas
no Quadro 3.

Figura 4. Nova distribuição granulométrica dos materiais particulados.

239
Avaliação das propriedades reológicas e mecânicas de CAA produzidos com RCD e dosados a partir dos
conceitos de empacotamento de partículas

Quadro 3. Composição percentual dos materiais particulados dos CAA20-I, CAA25-I, CAA20-II e
CAA25-II.
Materiais utilizados Composição (%)
CAA20-I CAA25-I CAA20-II CAA25-II
Cimento 17,50 15,00 15,00 10,00
Sílica ativa 7,50 5,00 5,00 5,00
Pó de quartzo - - 2,50 2,50
Areia fina - - 15,00 12,50
Areia média 35,00 35,00 15,00 12,50
Pedrisco - - 15,00 17,50
Brita 15,00 15,00 15,00 15,00
Agregados reciclados 25,00 30,00 17,50 25,00

Para todas as misturas baseadas nos conceitos de empacotamento de partículas o teor de água utilizado
foi o mesmo que o da composição de origem (CAA-OR), acrescido da água de pré-molhagem dos
agregados reciclados. O teor de aditivo superplastificante foi ajustado no momento da betonagem, até
que a mistura apresentasse espalhamento maior ou igual a 550 mm, conforme prevê NBR 15823-1 [8],
devendo também ser constatada a ausência de segregação e exsudação. A composição final dos
concretos dosados através dos conceitos de empacotamento de partículas e com o uso de agregados
reciclados encontra-se disposta no Quadro 4.

Quadro 4. Composição dos CAA20-I, CAA25-I, CAA20-II e CAA25-II.


Materiais utilizados Consumos (kg/m³)
CAA20-I CAA25-I CAA20-II CAA25-II
Cimento 380,57 326,21 326,21 217,47
Sílica ativa 163,10 108,74 108,74 108,74
Pó de quartzo - - 54,37 54,74
Areia fina - - 326,21 271,84
Areia média 761,15 761,15 326,21 271,84
Pedrisco - - 326,21 380,57
Brita 326,21 326,21 326,21 326,21
Agregados reciclados 543,68 652,41 380,57 543,68
Aditivo superplastificante 5,19 3,71 3,96 2,87
Água (amassamento) 220,60 220,60 220,60 220,60
Água (pré-molhagem) 19,75 23,70 13,82 19,75

2.3 Ensaios de caracterização do CAA

A caracterização das diversas composições de CAA se deu através da realização de ensaios no estado
fresco e no endurecido. As propriedades reológicas foram avaliadas por meio de ensaios de
espalhamento (slump flow) e tempo de escoamento t500, conforme NBR 15823-2 [18]; de viscosidade
aparente, através do funil V, de acordo com o prescrito pela NBR 15823-5 [19]; e de habilidade
passante, por meio da caixa L, de acordo com a NBR 15823-4 [20]. As Figuras 5, 6 e 7 ilustram os
aspectos de alguns dos ensaios realizados.

240
Barbosa, Pimentel, Castro e Campos

(a) C
AA-REF (b) CAA25-II
Figura 5. Ensaio de espalhamento realizado para as composições CAA-REF e CAA25-II.

Figura 6. Aspecto do CAA20-I após passagem pelo funil V.

Figura 7. Ensaio de habilidade passante, através da caixa L, realizado para a mistura CAA-REF.

No estado endurecido, foram medidas, aos 28 dias de idade, a resistência à compressão, conforme o
procedimento da NBR 5739 [21], a resistência à tração por compressão diametral, de acordo com o
prescrito pela norma NBR 7222 [22] e o módulo de elasticidade, executado em conformidade com a
NBR 8522 [23].

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 Quanto às propriedades no estado fresco

O desempenho obtido pelas diversas composições no estado fresco encontra-se representado no


Quadro 5.

241
Avaliação das propriedades reológicas e mecânicas de CAA produzidos com RCD e dosados a partir dos
conceitos de empacotamento de partículas

Quadro 5. Desempenho no estado fresco.


Ensaios
Composições Espalhamento t500 Funil V Caixa L
(mm) (s) (s) (h2/h1)
CAA-OR 660 0,50 2,31 0,84
CAA-REF 665 0,48 1,32 0,98
CAA20-I 610 0,34 1,44 0,90
CAA25-I 730 0,32 1,30 0,92
CAA20-II 580 0,37 2,44 0,83
CAA25-II 650 0,28 1,87 0,84

A norma NBR 15823-1 [8] estabelece os seguintes limites para aceitação do CAA: espalhamento de
550 mm, no mínimo e de 850 mm, no máximo; tempo de fluxo do funil V de no máximo de 25 s;
relação entre as alturas final e inicial (h2/h1) da caixa L de 0,80, no mínimo. Observa-se que todos os
limites normativos prescritos foram atendidos por todas as composições. Salienta-se que todas as
misturas, com exceção da CAA25-I, apresentaram redução do espalhamento em relação ao CAA-REF.
Observa-se também que as composições CAA20-I e CAA20-II apresentaram menor espalhamento que
as misturas CAA25-I e CAA25-II. Acredita-se que tal fato esteja relacionado ao maior teor de finos
presente nas misturas com coeficiente de distribuição “q” igual a 0,20 (CAA20-I e CAA20-II). O
tempo de escoamento pelo funil V foi superior para os concretos dosados com base nos conceitos de
empacotamento de partículas, salvo a mistura CAA25-I, que apresentou tempo ligeiramente inferior
ao do CAA-REF. A habilidade passante do CAA-REF foi superior a demonstrada pelas demais
composições. Deste modo, considera-se que todas as composições apresentaram desempenho
satisfatório, quando comparadas ao CAA-REF.

3.2 Quanto às propriedades no estado endurecido

O desempenho das diversas composições no estado endurecido encontra-se representado no Quadro 6.

Quadro 6. Desempenho no estado endurecido aos 28 dias de idade


Ensaios
Composições Resistência à Resistência à Módulo de
compressão (MPa) tração (MPa) elasticidade (GPa)
CAA-OR 41,70 4,14 43,86
CAA-REF 32,74 2,62 38,20
CAA20-I 49,91 4,02 40,63
CAA25-I 36,05 3,33 38,09
CAA20-II 47,01 3,80 38,39
CAA25-II 35,60 2,77 34,28

Pela análise dos dados expostos no Quadro 6, verifica-se que o desempenho mecânico do CAA-REF
foi inferior ao do CAA-OR. Esta diminuição está relacionada a maior quantidade de água empregada
na mistura, como também pela substituição do agregado graúdo natural por agregado reciclado. Por
outro lado, todas as composições dosadas a partir dos conceitos de empacotamento de partículas
apresentaram melhor desempenho mecânico do que o CAA-REF, salvo o módulo de elasticidade da
mistura CAA25-II, que se apresentou inferior. É importante salientar que os concretos CAA20-I e
CAA20-II demonstraram maior resistência à compressão do que o próprio CAA-OR, que somente
levou agregados naturais em sua composição. Observa-se também que a incorporação dos novos
materiais (pó de quartzo, areia fina e pedrisco) não se traduziu em aumento das propriedades
mecânicas, uma vez que as composições CAA20-I e CAA25-I apresentaram desempenho superior ao
das misturas CAA20-II e CAA25-II. Outro fator que merece destaque é a redução do módulo de
elasticidade constatada para todas as composições que levaram agregados reciclados em relação ao
CAA-OR, fato que evidencia que o uso destes agregados torna o concreto mais deformável, mesmo

242
Barbosa, Pimentel, Castro e Campos

que este concreto apresente resistência à compressão superior ao CAA-OR (como ocorreu com as
misturas CAA20-I e CAA20-II).

CONCLUSÕES

Deste estudo pode-se concluir que:

Os ensaios reologicos dos CAAs elaborados com agregados reciclados apresentraram resultados que
se enquadram dentro da NBR15823-1;

Verificou-se que a melhoria nos parâmetros reológicos exibida pelas composições CAA25-I e
CAA25-II, não se traduziu em melhor desempenho no estado endurecido, quando comparado aos
resultados obtidos pelas misturas CAA20-I e CAA20-II, que, por sua vez, apresentaram resultados
inferiores no estado fresco. Estes fatos nos permitem inferir que há uma correlação entre o
desempenho no estado fresco e as propriedades mecânicas, contudo, são necessários estudos
reológicos mais precisos para a validação desta hipótese;

Comprovou-se o que o uso de técnicas de empacotamento de partículas promeve a melhoria das


propriedades mecânicas do concreto, o que consequentemente, torna viável a incorporação de resíduos
de construção e demolição na confecção de CAA, considerando o bom desempenho obtido,
principalmente no estado endurecido, pelas composições que empregaram estes conceitos;

A simples substituição do agregado graúdo natural por agregados reciclados ocasionou uma queda
expressiva nas propriedades mecânicas, quando se comparam as composições de origem (CAA-OR)
com a de referência (CAA-REF);

Por fim, os resultados sugerem que há grande potencialidade no emprego de agregados reciclados de
RCD para a produção de concretos com fins estruturais, desde que estes agregados atendam aos
parâmetros normativos que permitam seu emprego para a produção de concreto, como também sejam
empregadas técnicas que possibilitem a otimização no processo de dosagem da mistura.

AGRADECIMENTOS

A Associação Brasileira de Cimento Portland – ABCP, pela realização dos ensaios de microscopia
eletrônica de varredura.

REFERÊNCIAS

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reciclados e a influência de suas características no comportamento de concretos. 2005. 236 f. Tese
(Doutorado em Engenharia Civil) – Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo.
[2] Grubba, D. C. R. P. (2009). Estudo do comportamento mecânico de um agregado reciclado de
concreto para utilização na construção rodoviária. 2009. 163 f. Dissertação (Mestrado em
Engenharia Civil) –Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos.
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resíduos de concreto e alvenaria. 2001. 184f. Tese (Doutorado em Engenharia Civil) – Escola
Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo.
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compacting concrete prepared with coarse recycled concrete aggregate, Construction and
Building Materials, V.24,n.7, p. 1129–1133.

243
Avaliação das propriedades reológicas e mecânicas de CAA produzidos com RCD e dosados a partir dos
conceitos de empacotamento de partículas

[5] Pereira-de-Oliveira, L.A., Nepomuceno, M.C.S., Castro-Gomes, J.P., Vila, M.F.C. (2014).
Permeability properties of self-compacting concrete with coarse recycled aggregates,
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[6] Melo, K. A. (2005). Contribuição à dosagem de concreto auto adensável com adição de fíler
calcário. 2005. 183 f.Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) – Departamento de Engenharia
Civil, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.
[7] Oliveira, I. R., Studart, A. R., Pileggi, R. G., Pandolfelli, V. C. (2000). Dispersão e
empacotamento de partículas – princípios e aplicações em processamento cerâmico, Fazendo Arte
Editorial, São Paulo.
[8] NBR 15823-1: Concreto auto-adensável - Parte 1: Classificação, controle e aceitação no
estadofresco. Rio de Janeiro, 2010. 11 p.
[9] NBR NM 30: Agregado miúdo - Determinação da absorção de água. Rio de Janeiro, 2001. 3p.
[10] NBR NM 45: Agregados - Determinação da massa unitária e do volume de vazios. Rio de
Janeiro, 2002. 8p.
[11] NBR NM 46: Agregados - Determinação do material fino que passa através da peneira 75 um, por
lavagem. Rio de Janeiro, 2003. 6p.
[10] NBR NM 52: Agregado miúdo - Determinação da massa específica e massa específica aparente.
Rio de Janeiro, 2009. 6p.
[12] NBR NM 53: Agregado graúdo - Determinação da massa específica, massa específica aparente e
absorção de água. Rio de Janeiro, 2009. 8p.
[13] NBR NM 248: Agregados - Determinação da composição granulométrica. Rio de Janeiro, 2003.
6p.
[14] NBR 15116: Agregados reciclados de resíduos sólidos da construção civil - Utilização em
pavimentação e preparo de concreto sem função estrutural – Requisitos. Rio de Janeiro, 2004.
12p.
[15] Vita, M. O. (2011). Estudo da retração plástica e da fissuração do concreto auto adensável nas
primeiras idades: avaliação da influência dos tipos de adições minerais. 2011. 174 f. Dissertação
(Mestrado em Engenharia Mecânica) – Faculdadede Engenharia, Universidade Estadual Paulista,
Ilha Solteira.
[16] Vanderlei, R. D. (2004). Análise experimental do concreto de pós reativos: dosagem e
propriedades mecânicas. 2004. 196 f. Tese (Doutorado em Engenharia de Estruturas), Escola de
Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos.
[17] NBR 15823-2: Concreto auto-adensável - Parte 2: Determinação do espalhamento e do tempo
deescoamento - método do cone de Abrams. Rio de Janeiro, 2010. 4 p.
[18] NBR 15823-5: Concreto auto-adensável - Parte 5: Determinação da viscosidade - método do funil
V.Rio de Janeiro, 2010. 3 p.
[19] NBR 15823-4: Concreto auto-adensável - Parte 4: Determinação da habilidade passante - método
dacaixa L. Rio de Janeiro, 2010. 4 p.
[20] NBR 5739: Concreto - Ensaios de compressão de corpos de prova cilíndricos. Rio de Janeiro,
2007. 9 p.
[21] NBR 7222: Argamassa e concreto – Determinação da resistência à tração por compressão
diametral de corpos de prova cilíndricos. Rio de Janeiro, 2011. 5 p.
[22] NBR 8522: Concreto – Determinação do módulo estático de elasticidade à compressão. Rio de
Janeiro, 2008. 16 p.

244
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável - BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

Resíduos Industriais em BAC

1
do autor,
Ana M. comMatos
tamanho Sandra Nunes2 J. Sousa-Coutinho3
4×3cm
Foto do autor, com
tamanho 4×3cm
RESUMO

O consumo de betão é, presentemente, cerca de 1m3 por pessoa por ano. Como se tem vindo a
compreender nestes últimos anos as alterações climáticas são uma realidade e a maioria das provas
científicas relacionam o aumento da emissão dos gases com efeito de estufa (GEE) com o aquecimento
do planeta. O principal GEE é, de facto o CO2. A produção de cimento é responsável por 5 a 8% das
emissões de CO2 produzidas pelo Homem, no entanto é imprescindível para o desenvolvimento da
Humanidade que o consumo dos ligantes continue a crescer sendo que até lá e para que o
desenvolvimento seja sustentável, é imprescindível praticar a Ecologia Industrial que consiste em
reciclar os resíduos produzidos por uma indústria, para que substituam matérias-primas necessárias a
outras indústrias reduzindo, assim, o impacto ambiental. Assim para tornar a indústria de construção
mais “verde” tem sido estudados resíduos e subprodutos com potencial aplicação sobretudo em betão,
o material de construção mais usado no mundo. Em termos de betão auto-compactável (BAC) a
utilização destes resíduos como material fino torna-se de particular importancia uma vez que o BAC
utiliza mais material fino que betão convencional. Em particular tem-se vindo a estudar, na FEUP,
resíduos que possam substituir parcialmente o clínquer Portland e/ou como finos em BAC, tais como
resíduos de vidro ou casco, moído (GP) e cinzas de fundo das centrais de biomassa (WA). Depois dos
estudos de durabilidade em pastas e argamassas foram produzidos BACs incluindo GP e WA com
vista a conhecer o comportamento global de cada um destes resíduos nos BACs e as suas
potencialidades de forma a constituirem casos práticos de Ecologia Industrial.

Palavras-chave: Betão auto-compactável; resíduo, adição, durablidade, sustentabilidade

1. INTRODUÇÃO

Existem diversos factos que sugerem que uma grande parte do aquecimento do planeta, observado no
último século, é atribuída a actividades humanas tais como [1] (Figura 1) as concentrações de GEE,
fusão de glaciares, neve e gelo e o aumento do nível da água do mar.

1
LABEST, LEMC, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, DEC, Porto, Portugal. anamatos@fe.up.pt
2
CONSTRUCT-LABEST, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, DEC, Porto, Portugal. snunes@fe.up.pt
3
CONSTRUCT-LABEST, LEMC, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, DEC, Porto, Portugal jcouti@fe.up.pt

245
Resíduos Industriais em BAC

Figura 1. Tendências históricas em termos de concentrações de dióxido de carbono e temperatura numa escala
geológica e tempos recentes [2].

O betão é o material mais consumido no mundo a seguir à água sendo produzido anualmente cerca de
1 m3 de betão por pessoa [3,4]. Em relação aos outros materiais de construção o cimento Portland é
reconhecido como sendo um material verde (compatível com o meio ambiente). No entanto, muito
precisa de ser feito para reduzir o impacto ambiental da indústria do cimento. O cimento Portland, o
principal ligante hidráulico é produto de uma indústria não apenas correspondente a um elevado
consumo de energia (4 GJ/t de cimento), mas também responsável por 5 a 8% das emissões de CO2
produzidas pelo Homem [3].

Para reduzir o impacto ambiental da indústria do betão, similar ao que se fez com a energia, a melhor
abordagem de longo prazo é procurar a redução do seu consumo. No caso do cimento prevê-se que
esta redução não possa ser uma realidade no futuro muito próximo mas poderá ser possível no futuro,
dentro de 50 anos. Entretanto, para ser adoptada uma abordagem holística para o desenvolvimento
industrial sustentável, deve-se começar por praticar ecologia industrial. Simplificando, a prática de
ecologia industrial implica reciclar os resíduos produzidos por uma indústria, para que substituam
matérias-primas necessárias a outras indústrias reduzindo, assim, o impacto ambiental de ambas [4].
Correntemente, existem vários processos pelos quais resíduos de uma actividade são utilizados noutro
processo de produção. Além disso, uma boa parte dos resíduos gerados possui valor comercial se
forem adequadamente tratados e, portanto, eventualmente poder-se-á considerar o resíduo como uma
matéria-prima potencial noutro processo de produção. Além disso uma grande parte dos resíduos
gerados passam a ter valor comercial se forem tratados de forma adequada e portanto poderão ser
considerados matéria-prima potencial noutros processos de produção [5], isto é, subprodutos.

O uso vantajoso de resíduos industriais valorizados, isto é, subprodutos, na indústria do betão depende
dos requisitos em termos de propriedades do betão mas na realidade o que determina a sua utilização
como potencial constituinte são os factores económicos. Estes factores técnicos e económicos são em
geral influenciados pelo custo de aterro, custo de transporte e pelos requisitos ambientais existentes
[6]. A indústria do cimento, como se tem verificado, é um sector apto a consumir grandes quantidades
de resíduos, desempenhando um papel central em termos de preocupações ambientais [7]. Na
realidade já há anos se utilizam adições ou substitutos parciais do clínquer Portland que são resíduos
de outra indústria e que são valorizados e utilizados no cimento.

A utilização de adições com cimento Portland gera produtos de hidratação de elevada superfície
específica que conduzem ao refinamento dos poros, reduzem a permeabilidade e portanto aumentam a
durabilidade. No entanto, como se sabe, as reacções de hidratação destes materiais em geral são mais
demoradas que no cimento Portland e portanto o refinamento dos poros verifica-se apenas se a cura do
betão for suficientemente longa [8]. Uma vantagem importante do uso de adições é a relacionada com
a durabilidade do betão armado ou pré-esforçado na medida em que algumas adições conferem maior
resistência a certas agressões de natureza química pois ao hidratarem consomem hidróxido de cálcio
diminuindo o risco de formação de etringite (resultante da combinação de sulfatos com a alumina do
cimento ou do agregado na presença de hidróxido de cálcio e água) e diminuindo também o risco de

246
Matos, Nunes e Sousa-Coutinho

ataque dos álcalis à sílica reactiva do agregado (que também se verifica na presença de hidróxido de
cálcio). Também em termos de durabilidade e, concretamente relacionado com a corrosão das
armaduras, é sabido que a presença destas adições minerais no betão conduz, em geral, a melhorias
significativas da trabalhabilidade e durabilidade do betão armado ou pré-esforçado [9].

Assim a curto prazo, as duas melhores estratégias para se obter uma maior redução nas emissões de
dióxido de carbono associada à produção de cimento são de reduzir a quantidade de clínquer no
produto final, tanto quanto possível, por meio da maximização da proporção de adições minerais e
aumentar o uso de cimentos compostos na construção, em geral. Entre as adições minerais disponíveis,
técnica e economicamente aceitáveis, a cinza volante é a que oferece o melhor potencial para uma
redução considerável na quantidade de emissões [4] no entanto há que explorar novas vias e investigar
em termos de aplicabilidade de outro tipo de resíduos como o vidro moído para substituir parcialmente
o clínquer Portland.

2. USO DE RESÍDUOS EM BAC - PROGRAMA EXPERIMENTAL


2.1 Considerações gerais

Para tornar a indústria de construção mais “verde” é necessário praticar a ecologia industrial e
investigar a aplicação de resíduos e subprodutos com potencial aplicação sobretudo em betão, o
material de construção mais usado no mundo. Em particular é importante estudar resíduos que possam
substituir parcialmente o clínquer Portland, à semelhança do que já foi feito para outros resíduos como
as cinza volante, escórias e sílica de fumo.

Em termos de BAC a utilização destes resíduos como material fino torna-se de particular importância
uma vez que o BAC utiliza mais material fino que betão convencional.

Como exemplos destes resíduos com potencial em termos de ecologia industrial e que tem vindo a ser
estudados nos últimos anos na FEUP tem-se os seguintes materiais:
 Resíduo de vidro ou casco, moído, (GP);
 Resíduos de pedreiras graníticas (PG) e de mármore (MP);
 As cinzas de fundo das centrais de biomassa (GWA);
 As cinzas volantes de biomassa (BFA);
 As cinzas de casca de arroz (RHA);
 As cinzas de cama de frango de casca de arroz (BBA);
 Grits da indústria de pasta de papel (GRT).
 Resíduos de incineração de biomassa de origem diferentes de GWA e BFA já estudados;
 Resíduos industriais provenientes da indústria de destilação vínica;
 Resíduos agrícolas alguns dos quais de difícil escoamento, tais como os canganhos (Rachis
pedicules), folha de oliveira, bagaço de azeitona, cascas de amêndoa e de castanha (Figura 2).

Canganhos Folha de Oliveira Bagaço de azeitona Casca de amêndoa Casca de castanha


Figura 2. Resíduos agrícolas.

Cada programa experimental incluiu de um modo geral, para além da preparação por tratamento
térmico e/ou mecânico e sua optimização, a caracterização fisico-quimica do material a considerar
como potencial adição (análise química, granulometria laser, SEM, pozolanicidade, eventualmente
DRX), seguido do estudo de pastas com substituição parcial de cimento Portland pela adição

247
Resíduos Industriais em BAC

determinando-se os tempos de presa e expansibilidade, sucedendo-se um estudo preliminar em


argamassas com substituição parcial de cimento Portland pela adição em que são analisadas a
trabalhabilidade, as resistências e vários aspectos relacionados com a durabilidade tais como:
 Resistência à penetração de cloretos (E-463 [10])
 Resistência à carbonatação (E-391 [11])
 Absorção de água por capilaridade (RILEM TC 116-PCD [12], E-393 [13])
 Reacção álcalis-sílica (ASTM C 1567 [14])
 Resistência do ligante aos sulfatos (E-462 [15])

Quando a adição apresentou potencial de aplicação estendeu-se o programa de ensaios para o nível do
betão, como aconteceu com o resíduo de pedreiras de granito ou resíduo de vidro moído. Para o GP
(glass powder) foram realizados vários estudos entre os quais a betonagem em laboratório, de paredes
em BAC substituindo por GP por parte dos finos necessários, tendo sido levados a cabo vários ensaios
a nível industrial tais como numa empresa de pré-fabricação em que foram betonadas diversas peças
[16, 17, 18, 19].

No trabalho presente, uma pequena parte do projecto global realizado, foca-se o importante aspecto da
durabilidade referente a ASR e resistência aos sulfatos de ligantes incluindo alguns dos resíduos
referidos e ainda os resultados de BACs contendo resíduos de vidro.

2.2 Materiais

No trabalhos exposto foram utilizados os materiais cuja breve descrição se apresenta de seguida. Na
Figura 3 apresentam-se fotos e nas Tabelas 1 e 2 as suas caracteristicas físicas e químicas,
respectivamente.

2.2.1 Resíduos da indústria vidreira


A indústria vidreira produz resíduos que podem ser reaproveitados como matéria-prima para a
produção de materiais de construção, uma vez que se trata de um dos materiais com maior tempo de
decomposição na natureza. O vidro, cuja composição é formada principalmente por SiO 2, foi incluído
no âmbito do presente estudo, sob a forma de pó de vidro, obtido a partir de tratamento mecânico de
vários tipos de resíduos de vidro. A sílica é o principal composto do pó de vidro, com
aproximadamente 70%, e ainda óxido de sódio e o óxido de cálcio são também dois dos principais
compostos do pó de vidro moído.

2.2.2 Cinzas volantes de biomassa (BFA e GBFA)


A incorporação das cinzas volantes de biomassa (BFA) em materiais cimentícios de construção civil
pode ser uma contribuição para a resolução de um dos problemas dos resíduos produzidos pela
indústria da pasta do papel. Para tal, é fundamental conhecer melhor o resíduo, não só as suas
propriedades intrínsecas, mas sobretudo as propriedades mecânicas e de durabilidade das argamassas e
betões que o vão incorporar. O resíduo é um material sólido com algumas fibras de madeira por
queimar, com uma cor acastanhada, com cerca de 1% de humidade, provenientes dos multiciclones,
filtros ou precipitadores electrostáticos da caldeira de recuperação [20]. As cinzas volantes de
biomassa moídas (GBFA) são obtidas por tratamento mecânico das cinzas volantes de biomassa
(BFA).

2.2.3 Resíduos de uma Central de Biomassa (GWA)


A biomassa florestal é constituída por resíduos florestais que são recolhidos das florestas e
incenerados em centrais termoeléctricas para produção de energia eléctrica. A limpeza das florestas
contribui também decisivamente para a redução dos incendios. As cinzas de fundo de biomassa
florestal e por vezes designadas por escórias utilizadas no presente trabalho foram obtidas na Central
Termoeléctrica de Mortágua cujo o forno é tipo grelha. As cinzas de fundo de biomassa florestal
recolhidas foram crivadas num peneiro de 4 mm e os passados moídos num moinho de bolas
cerâmicas durante 3horas (GWA 3h) e 24 horas (GWA 24h) [21].

248
Matos, Nunes e Sousa-Coutinho

2.2.4 Grits (GRT)


O material grits é um resíduo da indústria da pasta de papel de cor acinzentada, proveniente do forno
de cal onde se processa a calcinação do calcário e das lamas de cal a uma temperatura da ordem dos
1200 ºC, sendo no presente posteriormente removido para aterro. As amostras de grits foram sujeitas a
um tratamento mecânico prévio, que consistiu numa secagem em estufa e posterior moagem num
moinho de bolas cerâmicas durante 24 horas [19].

Residuo de vidro (GP) Cinzas volantes de Residuos Central de GRT


biomassa (BFA) biomassa (GWA)
Figura 3. Materiais utilizados em estudos apresentados

Tabela 1. Características físicas de materiais utilizados.


Granulometria Superficie
d(10%) d(20%) d(50%) < 75 µm (%) especifica (m2/g)
Cimento 1,50 a 3,95 11,63 a 26,83 33,93 a 52,62 100%
BFA 7.16 28.97 210.77 44% 0.55
GBFA 1.8 16.17 93.13 88% 1.27
GWA3h 2.90 32.92 95.15 84% 0.80
GWA24h 1.12 6.72 27.55 100% 2.00
GRT 3.08 18.01 95.92 68% 1.00
GP 1.78 10.19 34.11 100% 1.33
MGP 1.12 4.55 15.36 100%
SGP 1.88 8.85 27.32 100% 1.35
GPF 1.50 8.72 30.66 100%
BGP 1.84 9.48 43.58 100%

3 ESTUDO DE REAÇÕES EXPANSIVAS

Para avaliar a resistência à reacção álcalis-sílica, ASR, foi realizado o ensaio acelerado da barra de
argamassa segundo a norma ASTM C 1567 [14], em 2 provetes de 2.5×2.5×250 mm para cada tipo de
argamassa. Este método pode de facto ser utilizado para avaliar o efeito de adições na redução da
expansão causada por ASR [20]. Porém foram realizadas algumas alterações que deverão ter tido uma
influência desprezável nos resultados, nomeadamente na proporção de materiais secos a usar na
amassadura, onde o traço em massa deveria ser 1:2,25: 0,47 mas foi preferido o traço referido na NP
EN 196-1 [20]. As areias utilizada (areia CEN e uma areia fina) nos presentes estudos, apresentam
granulometrias diferentes da preconizada na ASTM 1567 [14]. Apresentam-se resultados obtidos em
quatro estudos diferentes:

249
Resíduos Industriais em BAC

Tabela 2. Características químicas dos materiais utilizados.

BFA e GWA3h e GP
GRT BGP Cimento
GBFA GWA24h
SiO2 18 69,5 0,4 70 72,7 20,4
K2O 6,8 3,6 0,1 0,4 0,2 -
Na2O 2,5 1,4 3 17 12,2 -
Al2O3 2,1 4,2 <1 - 0,7 4,8
Óxidos Fe2O3 1,8 2 0,1 0,7 0,5 3,2
(%) 8,7
CaO 32 8,1 56 8,7 62,2
(NP EN
196-2) MgO 5,5 0,2 0,5 3,7 3,7 1,9
SO3 2,6 0,31 < 0,05 1,3 3,4
Cl 3 0,15 < 0,005 0,01
MnO 0,8 0 <0,02 -
Cal 0,98
(NaO2 eq 7 3,8 3,1 17,3 -
livre
matéria amorfa Não Não - Sim -
Pozolanicidade
- - - + +
(NP EN 169-5)
Indice de GP 88%
BFA 93% GWA24
actividade 87% M/SGP 100%
GFA 91% 97% BGP 88%
28d GPF 90%
Indice de BFA 98% GP 97%
GWA24
actividade GBFA 86% M/SGP 77%
107%
90d 100%

1. Estudo de várias residuos, BFA, GBFA, GWA3h, GWA24h, GRT, GP (10% de percentagem de
substituição, areia CEN);
2. Estudo com GP (10 e 20% de percentagem de substituição, areia CEN);
3. Estudo com SGP (10 e 20% de percentagem de substituição, areia CEN);
4A. Estudo com GPF (10% de percentagem de substituição, areia CEN).
4B. Estudo com GPF (10% de percentagem de substituição, areia fina).

A formação de gel silico-alcalino no decorrer do ensaio é um indicativo da existência de agregado


reactivo aos álcalis pelo que se procedeu à observação de alguns provetes por microscopia electrónica
de varrimento. As observações realizadas confirmaram a existencia de gel através do espectro EDS
demonstrando um aumento acentuado do teor em alcalis (ver Figura 4).

Para o estudo da resistência do ligante aos sulfatos, procedeu-se de acordo com a E-462 [15], para
cada tipo de argamassa, à produção de acordo com a NP EN 196-1 [21]. Os resultados finais
apresentam-se na Tabela 3, bem como, na Figura 5, imagens obtidas em E-SEM (Microscopia
ambiental) de amostras retiradas dos provetes após as 26 semanas em solução de sulfatos.

250
Matos, Nunes e Sousa-Coutinho

a)

b)

c.1) Zona Z1 (gel) c.2) Zona Z6 (gel) c.3) Zona Z7 (areia CEN)
Figura 4. Fotografias em MEV dos provetes após ensaio ASR que mostram – a) Gel silico-alcalino formado na
ASR; b) Partícula de Areia CEN atacada por alcalis, onde se verifica a presença do gel; c) Espectros EDS

Figura 5. Fotografia em MEV após ensaio de resistência aos sulfatos onde se observa a formação de etringite
(provocando a fissuração da argamassa).

Relativamente ao ensaio de resistencia aos sulfatos, a observação por MEV permitiu visualizar o efeito
da formação de etringite provocando a fissuração de provetes. Apenas os ligantes com SF e com GP
podem ser classificadas como resistentes ao ataque por sulfatos, segundo a E-462 [15].

No que se refere aos estudos sobre ASR, a inclusão de materiais substitutos parciais do cimento
diminui significativamente a expansão ASR. Relativamente ao vidro, a principal preocupação a nível
químico reside no facto do teor de álcalis ser demasiado elevado. No entanto, como verificado,
qualquer um dos residuos de vidro moidos estudados) mitigaram a reacção ASR como alias já
referenciado por diversos autores. A expansão obtida para a areia fina é bastante inferior quando

251
Resíduos Industriais em BAC

comparada com a areia CEN, e neste cenário, o uso de GPF teve uma acção também mitigadora,
porém menos notória. O recurso ao MEV permitiu observar a presença do gel rico em alcalis, bem
como as particulas de areia CEN atacadas pelo mesmo.

Tabela 3. Expansão, em percentagem, causada por sulfatos ao fim de 26 semanas no estudo 1 e expansão ASR
ao fim de 14 dias nos 4 estudos.
Estudo CTL SF GP10 SGP10 GPF10 GP20 SGP20 BFA GBFA GWA3 GWA24 GRT
1-Sulf. 0,222 0,088 0,002 - 2,148 1,021 0,225 0,183 0,219
1-ASR 0,191 0,018 0,141 0,041 0,003 0,055 0,079 0,150 0,079
2-ASR 0,177 0,034 0,130 0,041
3-ASR 0,139 0,036 0,126 0,054
4A-ASR 0,210 0,100
4B-ASR 0,120 0,090
Todos os estudos realizados com a/c=0,5 e areia CEN reactiva de granulometria diferente da preconizada na norma
Estudo 4A e 4B realizados em laboratório diferente, com a/c = 0,47 e estudo 4B com areia fina reactiva

4. BACs COM GP
Tendo em consideração o conhecimento adquirido ao longo dos vários estudos decidiu-se produzir
BACs com alguns dos resíduos estudados. Apresentam-se em seguida composições e resultados do
estudo da resistência e durabilidade (Figura 6) de dois desses estudos apenas com um dos resíduos
selecionado, pó de vidro, de origens diferentes.

Figura 6. Produção de BAC, provetes para ensaio e ensaio de penetração de cloretos.

Tabela 4. Quantidades utilizadas nos BAC sem e com MGP e BGP e respetivas propriedades no estado
fresco.

Constituinte CTL (MGP) MGP CTL (BGP) BGP

Cimento 400 400 400 400


Filler 180 90 180 90
Pó de Vidro - 90 - 90
Superplastificante 5,00 4,50 7.5 7.5
Areia fina 395 395 395 395
Areia média 395 395 395 395
Brita 840 840 840 840
Água total 160,0 160,0 163.6 163.6
W/P 0,28 0,28 0,28 0,28
Sp/P 0,88 1,03 1.32 1.32
D esp (mm) 650 720 598 668
T500(s) 2,89 2,60 2,38 2,34
T funil (s) 19,00 16,80 13,19 10,12

252
Matos, Nunes e Sousa-Coutinho

Tabela 5. Propriedades dos BAC sem e com MGP.


Resistência Profundidade de C de absorção
Dns Carbonatação
carotes 90d penetração de capilar S
(x 10(-12) m2/s) (mm)
(moldados) água (mm) mg/(mm2.min0,5)
0 mm ao fim de 2
MGP 82,20 5.00 11.83 0.0470
meses
0 mm ao fim de 2
Control 81,40 8.80 13.33 0.0467
meses

Tabela 6. Propriedades do BAC sem e com pó de vidro BGP.


Idade à data de Ensaio (dias) BAC-CTL BAC-BGP Melhoria BGP
7 50,0 50,1 0%
Resistência à compressão (MPa) 28 61,1 62,3 3%
83 68,9 74,6 8%
7 39,1 39,40 1%
Módulo de Elasticidade (GPa) 28 41,6 41,7 0%
83 42,4 44,9 6%
7 5,36 5,31 -1%
Resistividade (kΩ.cm) 28 7,51 11,85 58%
83 10,00 26,90 169%
S (mg/(mm2.min0,5)) 0,0300 0,0255 16%
Profundidade de carbonatação (mm) 0,93 1,82 -96%
Dns (cm2/s) 9,58 3,72 61%
Cloretos Resistividade (kΩ.cm) 9,01 21,76 142%
Carga passada (Coulombs) 4521 2520 44%
K Oxigénio (m2) 0 0 0%

CONCLUSÕES

Analisando os resultados relativos aos ensaios de ASR poder-se-á concluir todos os eco-materiais
estudados se mostraram atenuadores deste tipo de ataque. No que concerne ao ataque por sufatos
alguns dos residuos não se mostraram adequados para utilização em betão (tais como, GRT e BFA
devido à sua composição quimica). Por outro lado, embora GWA seja não pozolânico poderá ser
utilizado em percentagens reduzidas para substituir parcialmente o cimento Portland como filer no
caso de não existir risco de ataque por sulfatos e assim constituir mais um caso de ecologia industrial.
O residuo de vidro apresentou um bom desempenho tanto na mitigação da ASR como nos sulfatos.
Os BACs produzidos com GP apresentaram de um modo geral um bom desempenho pelo que,
ultrapassada a questão legal do limite de álcalis, a sua utilização tornará a indústria de construção mais
“verde” consistindo numa boa prática de Ecologia Industrial e uma contribuição para a
Sustentabilidade na construção.

AGRADECIMENTOS

Agradece-se à Secil, Sika, Fosroc, Maxit, ao Sr. A. J. Oliveira e eng. F. Sales pelo fornecimentos de
materiais, aos Engenheiros e técnicos do LEMC pelo apoio incondicional, ao CONSTRUCT-LABEST
e à FCT pelo financiamento do trabalho presente através do projecto PTDC/ECM/098117/2008,
Adições provenientes de resíduos para betão estrutural sustentável e ainda o apoio do Eng. José
Miguel Neves, Eng. Tiago Duarte e Eng. Francisco Araújo.

253
Resíduos Industriais em BAC

REFERÊNCIAS

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254
Matos, Nunes e Sousa-Coutinho

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255
Propriedades.
Caracterização nos estados
fresco e endurecido.

Propiedades.
Caracterización en estado
fresco y endurecido.
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável - BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

Propriedades mecânicas e retração de BAC produzido em


misturas binárias e ternárias de cinzas volantes e fíler calcário

Pedro Silva 1 Jorge de Brito 2


Foto do autor, com
tamanho 4×3cm
Foto do autor, com
RESUMO tamanho 4×3cm

A necessidade de redução do consumo de cimento, motivada pela crescente preocupação com as


emissões de CO2 associadas ao seu processo de fabrico, tem provocado um aumento significativo da
utilização de adições na obtenção de cimentos compostos e na produção do próprio betão. O BAC,
devido essencialmente à sua necessidade de incorporar quantidades significativas de material ultrafino
(cimento e adições), apresenta um grande potencial para a utilização destes subprodutos, como, por
exemplo, cinzas volantes (CV) e fíler calcário (FC), em substituição parcial do cimento. No entanto, o
recurso a quantidades significativas de adições, com o consequente aumento do volume de pasta e
diminuição do agregado grosso, vai alterar a estrutura dos poros capilares do BAC o que provocará
uma mudança na retracção. Sendo a retracção, por secagem, um dos principais factores de deterioração
das estruturas de betão, inclusive de BAC, há todo o interesse em discutir o tema.

Desse modo, foi realizada uma campanha experimental para avaliar o efeito na resistência mecânica e
na retracção da utilização de quantidades elevadas de CV e FC em misturas binárias e ternárias de
BAC. O presente estudo centrou-se essencialmente na avaliação da resistência à compressão uniaxial,
do módulo de elasticidade secante e da extensão total de retracção.

Para esse efeito, produziu-se um total de 11 misturas auto-compactáveis: uma só com cimento (C); três
com C+CV em 30, 60 e 70% de substituição; três com C+FC em 30, 60 e 70% de substituição; quatro
com C+CV+FC em combinações de 10-20, 20-10, 20-40 e 40-20% de substituição, respectivamente.

Palavras-chave: betão auto-compactável; retracção; resistência mecânica; cinzas volantes; fíler


calcário.

1
Instituto Superior de Engenharia de Lisboa, Instituto Politécnico de Lisboa, Área Departamental de Engenharia Civil,
Lisboa, Portugal. silvapm@dec.isel.ipl.pt
2
Instituto superior Técnico, Universidade de Lisboa, Departamento de Engenharia Civil, Arquitectura e Georrecursos
Lisboa, Portugal. jb@civil.ist.utl.pt

259
Propriedades mecânicas e retração de BAC produzido em misturas binárias e ternária de cinzas volantes
e fíler calcário

1. INTRODUÇÃO

A utilização de BAC pode constituir um contributo importante no sentido de atingir um maior


desenvolvimento sustentável, nomeadamente pela incorporação de quantidades significativas de
subprodutos de outras indústrias (como adições) e pelo potencial aumento da durabilidade das
estruturas que conduzirá a maiores ciclos de vida com uma diminuição tanto dos custos globais das
estruturas como dos materiais associados às demolições.

A necessidade específica de auto-compactação do BAC, isto é, de atingir uma elevada capacidade de


escoamento, de preenchimento, de deformabilidade, de passagem, bem como uma elevada resistência
à segregação, obriga necessariamente à diminuição do volume de agregado grosso e ao aumento do
volume de finos e de adjuvantes (essencialmente superplastificantes).

O referido aumento do volume de material fino, conseguido exclusivamente à custa de cimento, teria
como principais consequências o aumento significativo do custo global do BAC, do seu calor de
hidratação e possíveis consequências em propriedades como a fissuração e a retracção. Em
consequência, são habitualmente incorporadas quantidades significativas de adições, em substituição
de parte do cimento, para melhorar as propriedades de trabalhabilidade, reduzir a produção de calor de
hidratação e diminuir o seu custo global.

Nesse sentido, considera-se existir ainda a possibilidade de aumentar as quantidades de adições


utilizadas, quer em misturas binárias de cimento e adição, quer em composições ternárias com a
mistura de cimento e duas adições. É, deste modo, possível combinar a necessidade de maior volume
de material fino dos BAC com a urgência em diminuir o consumo global de cimento devido às
elevadas emissões de CO2 associadas à sua produção que, no curto prazo, poderá ser efectivada pela
substituição do clínquer (cimentos compostos) e/ou do próprio cimento por outros materiais como por
exemplo o fíler calcário (FC) e as cinzas volantes (CV). É, no entanto, essencial demonstrar a sua
aplicabilidade em quantidades mais elevadas (tanto em misturas binárias como ternárias),
principalmente devido às limitações regulamentares existentes relativas à sua aplicação, quer em
cimentos compostos quer em substituição directa de cimento no fabrico do betão (misturas).

Actualmente, os cimentos mais correntemente utilizados na Europa são os do tipo: CEM I, contendo
até 5% de constituintes adicionais minoritários, dos quais poderá fazer parte o calcário; CEM II/A-L e
CEM II/B-L, ambos designados de cimento Portland calcário, contendo respectivamente de 6 a 20% e
de 21 a 35% de calcário (os mais utilizados); CEM IV/A (V) e CEM IV/B (V), ambos designados de
cimento pozolânico, contendo respectivamente de 11 a 35% e de 36 a 55% de cinza volante siliciosa.
Estes últimos são de uso menos corrente [1].

Relativamente às misturas, é apenas possível combinar cimento CEM I ou CEM II/A, da classe de
resistência 42.5 ou superior, com adições aptas ao uso como constituintes de betão, de acordo com os
documentos de referência, NP EN 206-1, isto é, adições quase inertes de origem calcária, ou adições
pozolânicas ou hidráulicas latentes. No entanto, a composição de qualquer mistura realizada com os
referidos materiais terá sempre de se enquadrar nos limites de composição de um dos 27 tipos de
cimento apresentados no Quadro 1 da NP EN 197-1.

De acordo com o referido, é portanto essencial investigar e demonstrar a aplicabilidade destas adições,
mais comuns e enquadradas na normalização europeia em vigor, em quantidades superiores às
mencionadas no fabrico de betão. Para esse efeito, produziu-se um total de 11 misturas auto-
compactáveis: uma só com cimento (C); três com C+CV em 30, 60 e 70% de substituição; três com
C+FC em 30, 60 e 70% de substituição; quatro com C+CV+FC em combinações de 10-20, 20-10, 20-
40 e 40-20% de substituição, respectivamente. As referidas misturas foram avaliadas essencialmente
em termos da resistência à compressão uniaxial, do módulo de elasticidade secante e da extensão total
de retracção.

260
Silva e Brito

2. MATERIAIS E PROCEDIMENTOS DE ENSAIO

2.1 Materiais utilizados

Os materiais utilizados neste trabalho foram seleccionados tendo em consideração o betão em análise
(BAC). Desse modo, foram utilizados os seguintes materiais: um tipo de cimento de acordo com a NP
EN 197-1 (CEM tipo I-42,5 R, com massa volúmica de 3140 kg/m3); duas adições: CV de acordo com
as normas NP EN 450-1 e NP EN 450-2, com massa volúmica de 2300 kg/m3 e FC de acordo com a
especificação LNEC E 466, com massa volúmica de 2720 kg/m3; duas britas calcárias de acordo com
a NP EN 12620, uma brita 1, com massa volúmica de 2590 kg/m3, Dmax de 11 mm e absorção de água
de 1,46%, e uma brita 2 com massa volúmica de 2640 kg/m3, Dmax de 20 mm e absorção de água de
0,78%; duas areias siliciosas de acordo com a NP EN 12620, uma areia grossa (0/4) com massa
volúmica de 2550 kg/m3, módulo de finura de 3,70 e absorção de água de 1,10% e uma areia fina (0/1)
com massa volúmica de 2580 kg/m3, módulo de finura de 2,03 e absorção de água de 0,70%; um
superplastificante de elevado desempenho, forte redutor de água, de acordo com as NP EN 934-1 e NP
EN 934-2 (uma combinação de policarboxilatos modificados, em solução aquosa com massa volúmica
de 1070 kg/m3); água da rede pública de acordo com a NP EN 1008.

2.2 Quantidades de amassadura

Com o objectivo de abranger as diferentes variações de quantidades de amassadura e respectiva


avaliação das misturas binárias e ternárias de CV e FC, foram produzidas 11 amassaduras de BAC de
acordo com a NP EN 206-9, que são apresentadas no Quadro 1. As quantidades de amassadura
utilizadas foram obtidas de acordo com o método apresentado por Nepomuceno e Oliveira [2], já
utilizado em diversas aplicações [3].

Quadro 1. Quantidades de amassadura e propriedades no estado fresco


BAC 4 10CV20FC

BAC 4 20CV10FC

BAC 5 20CV40FC

BAC 5 40CV20FC
Quantidades de amassadura
BAC 3 30CV

BAC 3 60CV

BAC 3 70CV
BAC 2 30FC

BAC 2 60FC

BAC 2 70FC
BAC1 100C

[kg/m3]

CEM I 42,5 R 707 512 297 222 503 290 218 506 506 297 293
Cinzas volantes (CV) --- --- --- --- 158 318 373 53 106 109 215
Fíler calcário (FC) --- 190 386 449 --- --- --- 125 63 257 127
Superplastificante (Sp) 7,4 4,6 2,9 2,7 4,6 3,5 3,4 4,6 4,6 3,2 3,0
Água 189 175 168 170 183 180 178 180 180 168 175
Areia (0,6AF0/1 + 0,4AG0/4) 723 747 758 756 735 741 743 740 740 759 748
Brita (0,6B1 + 0,4B2) 700 700 700 700 700 700 700 700 700 700 700
W/C 0,27 0,34 0,57 0,76 0,36 0,62 0,82 0,36 0,36 0,57 0,60
W/MC 0,27 0,34 0,57 0,76 0,28 0,30 0,30 0,32 0,29 0,41 0,35
W/MF 0,27 0,25 0,25 0,25 0,28 0,30 0,30 0,26 0,27 0,25 0,28
Síntese das propriedades básicas
Espalhamento [mm] 770 675 678 620 648 613 595 775 738 685 645
Funil V [s] 9,3 10,3 9,1 9,9 7,3 8,4 8,6 9,3 10,8 9,1 10,0
Caixa L 0,9 0,9 0,9 0,8 0,8 0,8 0,8 0,9 0,9 0,9 0,8

2.3 Descrição dos ensaios e preparação dos provetes

2.3.1 Compressão uniaxial


O ensaio de compressão uniaxial foi realizado de acordo com a norma NP EN 12390-3 em provetes
cúbicos com 150 x 150 x 150 mm de aresta, sujeitos ao processo de cura húmida por imersão em água
a 20 ± 2 ºC até à idade de ensaio. Por cada referência de BAC, foram moldados provetes em número
suficiente para ensaiar três provetes em cada uma das quatro idades (7, 28, 91 e 182 dias).

261
Propriedades mecânicas e retração de BAC produzido em misturas binárias e ternária de cinzas volantes
e fíler calcário

2.3.2 Módulo de elasticidade


A determinação do módulo de elasticidade secante foi realizada de acordo com a especificação LNEC
E 397 em provetes cilíndricos com 150 mm de diâmetro e 300 mm de altura, sujeitos ao processo de
cura húmida por imersão em água a 20 ± 2 ºC até à idade de ensaio. Por cada referência de BAC,
foram moldados provetes em número suficiente para ensaiar três provetes em cada uma de duas idades
(28 e 91 dias). O procedimento de ensaio implicou, numa primeira fase, que os provetes fossem
centrados nas placas da prensa, de modo a que, após um ciclo de carga - descarga, a variação da
extensão, medida nos dois extensómetros, não diferisse mais de 10%. Após a referida verificação,
procedeu-se à determinação do módulo de elasticidade secante, através da aplicação de ciclos de carga
- descarga onde a tensão variou entre 0,5 a 1 MPa e 1/3 da tensão de rotura, tendo-se registado as
extensões iniciais e finais obtidas.

2.3.3 Retracção
A determinação da extensão total de retracção foi realizada de acordo com a especificação LNEC E
398. Os resultados apresentados referem-se à média das medições relativas a dois provetes prismáticos
com 150 x 150 x 550 mm, ensaiados durante 182 dias. O ensaio iniciou-se imediatamente após
desmoldagem, às 24 horas, tendo-se mantido os provetes a uma temperatura ambiente de 20 ± 2 ºC e a
uma humidade relativa de 50 ± 5 % durante todo o tempo em que decorreu o ensaio. A medição da
extensão total de retracção foi realizada com recurso a um deflectómetro comparador de 20 cm, com
uma precisão de 1 m e um curso total de 12,5 mm. O referido equipamento permitiu registar a
variação de comprimento entre os dois pinos metálicos colados na superfície do provete, por
comparação com a barra padrão fornecida com o deflectómetro comparador. Os pinos metálicos foram
colados na superfície do provete imediatamente a seguir à sua desmoldagem

3. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE RESULTADOS

3.1 Compressão uniaxial

Na Fig. 1, são apresentadas as curvas de evolução da resistência à compressão com a idade e com a
percentagem de substituição pelas adições (fad), para todos os BAC produzidos. Da análise da referida
figura, é possível verificar um crescimento mais acentuado da resistência à compressão nas primeiras
idades (7 dias) para as misturas binárias com FC. Já as misturas binárias com CV apresentam uma
evolução da resistência à compressão mais gradual e continuamente crescente para além das primeiras
idades. As variações referidas são de igual modo verificadas nas misturas ternárias, onde as de fad
igual a 60% apresentam um crescimento mais gradual e contínuo com a idade face ao crescimento
mais acentuado das de fad igual a 30%. As misturas com 100% de cimento, como seria expectável,
apresentam um comportamento distinto das restantes, crescendo acentuadamente até aos 28 dias de
idade e estabilizando a partir dessa data até à última idade de ensaio (182 dias).

A família BAC1.100C, correspondente aos BAC sem adições, é a que apresenta valores superiores de
resistência à compressão, atingindo 90 MPa aos 182 dias. A família BAC2 (com FC) apresenta, logo
aos 7 dias, valores superiores aos verificados para a família BAC3 (com CV). No entanto, as
resistências à compressão das misturas da família BAC2 (com FC) tendem a estabilizar aos 28 dias,
enquanto as da família BAC3 (com CV) ainda apresentam alguma evolução até aos 91 dias, vindo
inclusivamente a estabilizar, aos 182 dias, em valores superiores aos da família BAC2 (com FC).

Nas misturas, tanto binárias como ternárias, constata-se uma diminuição da resistência à compressão
com o aumento da percentagem de substituição de cimento por adições devido principalmente ao
efeito de diluição relacionado com a redução do teor de cimento. No caso particular das CV, é ainda
possível observar uma evolução mais lenta da resistência à compressão, principalmente nas primeiras
idades, para níveis de fad superiores, estabilizando aos 91 dias. Os valores de resistência à compressão
apresentados pelas misturas com CV (BAC3) face aos valores do BAC sem adições (BAC1.100C)
estão de acordo com o expectável. Considerando uma evolução inicial mais lenta destes BAC com
CV, será expectável que, nas idades mais avançadas e para níveis de fad inferiores a aproximadamente

262
Silva e Brito

30%, a resistência evolua de modo mais significativo, podendo, em alguns casos, atingir valores iguais
ou até superiores aos correspondentes em BAC com 100% de cimento. Essa evolução deve-se
essencialmente ao efeito retardador do comportamento pozolânico das CV, ficando, nas idades
iniciais, o seu contributo para a resistência mecânica relegado ao seu efeito de fíler. Esse
comportamento é referido por diversos autores também para BC, nomeadamente que as dosagens
óptimas de substituição de CV por cimento são inferiores a 20-30% [4, 5]. Nesse sentido, Cyr et al. [6]
referem que, a partir de uma dada dosagem (crescente com o teor de cimento), as CV deixam de
funcionar como adição, mas apenas como agregado fino, o que pode, de algum modo, justificar a
diminuição da resistência de forma gradual com o aumento do fad, face à do BAC1.100C.

BAC1.100C BAC2.30FC BAC3.30CV


fcm,c BAC2.60FC BAC3.60CV BAC1.100C BAC4.10CV20FC BAC5.40CV20FC
fcm,c
BAC2.70FC BAC3.70CV BAC4.20CV10FC BAC5.20CV40FC
(MPa)
(MPa)
90 90
80
80
70
70
60
60
50
50
40

30 40

20 30
0 14 28 42 56 70 84 98 112 126 140 154 168 182 196 0 14 28 42 56 70 84 98 112 126 140 154 168 182 196
Idade (dias) Idade (dias)
Figura 1. Resistência à compressão das misturas binárias e ternárias aos 7, 28, 91 e 182 dias.

3.2 Módulo de elasticidade

Analisando a Fig. 2, verifica-se que os valores médios do módulo de elasticidade secante (Ecm) variam
entre 23,38 e 42,10 GPa para os 28 dias e entre 28,34 e 44,38 GPa para os 91 dias. Com excepção das
misturas BAC2.30FC e BAC2.60FC, o Ecm das misturas produzidas aumenta com a idade e diminui
com o aumento do valor de fad. Ao contrário do que sucede com a resistência à compressão, na qual as
diferenças entre as misturas binárias com FC e CV são mais significativas, no caso do Ecm, essa
diferença é menos acentuada.

45
BAC1.100C

BAC2.30FC
40
BAC2.60FC
Ecm (GPa)

BAC2.70FC

35 BAC3.30CV
BAC3.60CV
BAC3.70CV

30
BAC4.10CV20FC
SCC4.20FA10LF
BAC5.20CV40FC
25 BAC5.40CV20FC
28 Idade (dias) 91
Figura 2. Módulo de elasticidade das misturas binárias e ternárias aos 28 e 91 dias.

As variações do Ecm apresentadas na Fig. 2 podem ser confirmadas em diversos trabalhos.


Holschemacher and Klug [7] referem que o BAC poderá apresentar um Ecm até 20% inferior ao de um
BC com a mesma resistência mecânica. Trabalhos mais recentes salientam a importância das adições
na referida diferença entre os Ecm. Turk et al. [8] apresenta valores de Ecm, para misturas com 40% de
CV aos 28 dias, com aproximadamente 95% do valor correspondente da mistura sem adições. Do

263
Propriedades mecânicas e retração de BAC produzido em misturas binárias e ternária de cinzas volantes
e fíler calcário

mesmo modo, Kuder et al. [9] afirmam que, para idades mais avançadas e valores de fad mais elevados,
o módulo de elasticidade é menos sensível à substituição de cimento por adições do que a resistência à
compressão. Os autores referem ainda que tal facto pode ser devido à baixa porosidade resultante da
formação de C-S-H por reacção pozolânica, principalmente para idades mais avançadas, dado que o
módulo de elasticidade pode ser afectado de forma significativa pela porosidade do betão,
principalmente na zona de transição agregado-pasta (menos porosidade implica um módulo de
elasticidade maior).

3.3 Retracção

São apresentadas, nas Fig. 4 e 5, as curvas da extensão total de retracção dos BAC produzidos, bem
como dos valores referentes à expressão do Eurocódigo 2 para BC. De modo a facilitar a leitura,
apresentam-se nas figuras apenas os valores correspondentes aos valores mínimos e máximos de
resistência à compressão, relativa aos BAC produzidos, correspondente aos provetes cilíndricos com
28 dias e calculado com um fcm,cil / fcm,c = 0,82. Da análise das figuras, é possível verificar que a
extensão total de retracção se caracteriza por uma evolução inicial mais acentuada, atingindo
aproximadamente 50% do valor final medido (aos 182 dias) entre os 14 e os 28 dias, para a maioria
das misturas. A partir dos 28 dias, a extensão total de retracção apresenta uma evolução mais gradual,
atingindo, aos 91dias, entre 80 e 90% do valor final medido aos 182 dias.

Da análise das Fig. 4 e 5, é possível observar que a influência tanto do FC como das CV na extensão
total de retracção revela algumas diferenças. No caso das misturas binárias com FC, a retracção
aumenta ligeiramente até fad de 30%, diminuindo significativamente para fad de 70%. Nas misturas
binárias com CV, a retracção diminui ligeiramente até fad de 60% (valor mínimo), atingindo os valores
máximos para fad de 70%. Por seu lado, os valores mínimos de retracção para as misturas binárias com
FC referem-se às fad de 70% e os máximos às fad de 30%. A diminuição da retracção das misturas com
CV até fad de 60% pode ser explicada pelo facto de, com o aumento do volume de CV, ser provável
obter um grau de hidratação inferior, o que provocará um maior volume de material não hidratado,
levando as CV a funcionarem mais como um micro agregado favorável para a diminuição da
retracção. Já o acréscimo da retracção observado para as misturas com CV e fad de 70% pode ser
provocado pelas reacções de hidratação de tal forma lentas que conduzem a uma estrutura porosa mais
aberta nos primeiros dias, aumentando a secagem e provocando uma maior retracção.

As misturas ternárias seguem uma tendência semelhante às binárias com CV, ou seja, uma diminuição
da retracção com o aumento da fad. Portanto, apresentam valores de retracção para as misturas com fad
de 30% superiores aos referentes às misturas com fad de 60%. Estas misturas (ternárias) com uma fad
global de 60% apresentam valores de retracção aos 182 dias muito satisfatórios, quando comparados
com os valores das misturas binárias, com diferenças de apenas cerca de 50 m/m para as misturas
BAC2.70FC e BAC3.60CV.

Da análise das Fig. 4 e 5, verifica-se que, em geral, o modelo de previsão proposto pelo Eurocódigo 2
para BC tende a subestimar a extensão por retracção dos BAC estudados. A excepção são as misturas
binárias com FC (fad de 30%), que apresentam valores, aos 182 dias, na ordem de 115%, relativamente
ao previsto pelo modelo do Eurocódigo 2 para níveis de resistência mecânica equivalentes. As
misturas BAC1.100C apresentam valores, aos 182 dias, ligeiramente inferiores mas muito próximos
dos determinados pelo método do Eurocódigo 2, correspondendo a aproximadamente 96% desse valor.
Já as misturas BAC2.60FC, BAC3.30CV e BAC3.70CV apresentam valores, aos 182 dias, próximos
de 90% relativamente ao proposto pelo Eurocódigo 2. Os restantes resultados situam-se entre 66 e
88% dos valores correspondentes determinados pelo Eurocódigo 2. São de salientar os valores da
extensão total por retracção obtidos pelas misturas com FC e fad de 70%, que apresentam valores de
cerca de 58% relativamente ao proposto pelo Eurocódigo 2 para níveis de resistência mecânica
equivalentes.

264
Silva e Brito

BAC1.100C BAC2.30FC EC 2 (20MPa) BAC1.100C BAC3.30CV EC 2 (20MPa)


cs (m/m) cs (m/m)
BAC2.60FC EC 2 (70MPa) SCC3.60CV EC 2 (70MPa)
800 800
BAC2.70FC BAC3.70CV
700 700
600 600
500 500
400 400
300 300
200 200
100 100
0 0
0 14 28 42 56 70 84 98 112 126 140 154 168 182 196 0 14 28 42 56 70 84 98 112 126 140 154 168 182 196
Idade (dias) Idade (dias)
Figura 3. Extensão total de retracção das misturas binárias.

BAC1.100C BAC5.40CV20FC
cs (m/m) BAC4.10CV20FC EC 2 (20MPa)
800 BAC4.20CV10FC EC 2 (70MPa)
700 BAC5.20CV40FC
600
500
400
300
200
100
0
0 14 28 42 56 70 84 98 112 126 140 154 168 182 196
Idade (dias)
Figura 4. Extensão total de retracção das misturas ternárias.

CONCLUSÕES

A utilização de FC na produção de BAC, em misturas binárias e para os valores de fad utilizados no


presente trabalho, revelou menos vantagens, em termos de comportamento mecânico, relativamente às
restantes misturas. No entanto, são de salientar: o aumento da resistência mecânica nas idades iniciais;
valores de Edm superiores, em idades iniciais e para fad de 60 e 70%; valores de retracção total
inferiores, nas misturas com fad de 70%.

Já a utilização de CV na produção dos BAC estudados revelou-se bastante favorável. Para valores de
fad de 30%, verificou-se inclusivamente que algumas propriedades apresentam, para idades mais
avançadas, valores semelhantes aos obtidos pelos BAC de controlo só com cimento (BAC1.100C).
São ainda de salientar os valores obtidos para fad de 70%, com uma resistência mecânica média, aos 28
dias de idade entre 33 e 35 MPa, mas que, aos 182 dias, evoluiu para valores entre 48 e 50 MPa.
Foram igualmente observadas evoluções semelhantes para os respectivos módulos de elasticidade,
com valores, aos 28 dias, entre 25 e 26 GPa, mas que, aos 182 dias, variaram entre 30 e 31 GPa. Em
termos de retracção, destacam-se os valores obtidos pelas misturas com 30 e 60% de fad. Já as misturas
com fad de 70% apresentaram uma extensão total de retracção menos favorável mas ainda assim com
valores inferiores a 650 m/m, aos 182 dias.

Tendo em consideração a pretensão inicialmente formulada de verificar a aplicabilidade de FC e CV


em misturas binárias e ternárias em volumes superiores aos previstos pela normalização em vigor,
conclui-se que a possibilidade de utilizar FC em valores de fad superiores a cerca de 35% relativos aos
cimentos compostos tipo CEM II/A-L e CEM II/B-L se revelou de algum modo menos eficiente do
que o observado para as restantes misturas estudadas (binárias com CV e ternárias com FC e CV).

265
Propriedades mecânicas e retração de BAC produzido em misturas binárias e ternária de cinzas volantes
e fíler calcário

Relativamente à utilização de CV, em termos de comportamento mecânico, conclui-se que valores de


fad até 60% são perfeitamente viáveis e que, para valores superiores (fad = 70%), será necessário uma
especial atenção à retracção. É, no entanto, de salientar, o efeito de retardamento na evolução do
processo de hidratação associado à utilização de CV, com desvantagens no desenvolvimento inicial da
maioria das propriedades requeridas. Com os resultados obtidos relativamente ao comportamento
mecânico dos BAC produzidos em misturas ternárias (FC e CV), concluiu-se que a adição combinada
de ambas pode representar um efeito benéfico quando comparada com as misturas binárias com FC ou
CV.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem o apoio do Instituto Politécnico de Lisboa e do Instituto Superior de Engenharia


de Lisboa através do Programa de apoio à formação avançada de docentes do Ensino Superior
Politécnico (PROTEC) concretizado pela atribuição da bolsa de Doutoramento com a referência
SFRH/PROTEC/67426/2010. Agradece-se de igual modo o apoio da Fundação para a Ciência e
Tecnologia (FCT) e do centro de investigação - Instituto de Engenharia de Estruturas, Território e
Construção (ICIST).

REFERÊNCIAS

[1] K. De Weerdt (2011). Blended Cement with Reduced CO2 Emission - Utilizing the Fly Ash-
Limestone Synergy between fly ash and limestone powder in ternary cements, PhD thesis,
Norwegian University of Science and Technology Faculty of Engineering Science and
Technology Department of Structural Engineering, Norway, ISBN 978-82-471-2585-4, 171p.
[2] Nepomuceno M.; Oliveira L. (2008). Parameters for self-compacting concrete mortar phase, ACI
Materials Journal, SP-253, July, pp. 323-340.
[3] Silva P.M.; Brito J. de; Costa J. M. (2011). Viability of two new mix design methodologies for
SCC, ACI Materials Journal, Vol. 108, Number 6, pp. 579-588.
[4] Neville A. M. (1995). Properties of concrete, fourth edition, Pearson, England, ISBN: 978-0-582-
23070-5, 844 p.
[5] Mehta P. K., Monteiro P. J. M. (2005). Concrete microstructure, properties and materials,
McGraw-Hill, USA, ISBN: 0071462899, 2005, 684 p.
[6] Cyr M., Lawrence P., Ringot E. (2006). Efficiency of mineral admixtures in mortars:
quantification of the physical and chemical effects of fine admixtures in relation with
compressive strength, Cement and Concrete Research, Vol. 36, Issue 2, pp. 264–277.
[7] Holschemacher K., Klug Y. (2002). A database for the evaluation of hardened properties of SCC,
Leipzig University. LACER (Leipzig Annual Civil Engineering Report) No. 7, pp. 124-134.
[8] Turk K., Turgut P., Karatas M. and Benli A. (2010). Mechanical properties of self-compacting
concrete with silica fume/fly ash, 9th International Congress on Advances in Civil Engineering,
27-30 September 2010 (ACE2010), Karadeniz Technical University, Trabzon, Turkey, 7 p.
[9] Kuder K., Lehman D., Berman J., Hannesson G. and Shogren R. (2012). Mechanical properties of
self-consolidating concrete blended with high volumes of fly ash and slag, Construction and
Building Materials, Vol. 34, pp. 285-295.

266
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

Hormigones autocompactantes pretensados químicamente

David Revuelta Pedro Carballosa José Luis García


Crespo1 de Miguel1 Calvo1

RESUMEN

Este trabajo investiga las propiedades de hormigones autocompactantes (HAC) pretensados


químicamente, en comparación con hormigones también pretensados químicamente pero con un
comportamiento convencional en estado fresco. Para ello, se diseñaron mezclas de hormigón
convencional y hormigón autocompactante con dos tipos de aditivos expansivos y con adición de
ceniza volante en el caso del HAC, y se evaluó la influencia del aditivo en las características de
autocompactabilidad y otros parámetros del estado fresco, en sus propiedades mecánicas, en algunos
índices de durabilidad y en el desarrollo y magnitud de las deformaciones obtenidas. También se
investigó la influencia que tiene el confinamiento en el desarrollo de resistencias mecánicas.

Palabras clave: hormigones pretensados químicamente, aditivos expansivos, hormigón


autocompactante

1. INTRODUCCIÓN

El hormigón experimenta cambios de volumen desde el mismo momento de su puesta en obra que son
independientes de las cargas externas a las que está sometido. La retracción por secado y la retracción
autógena son dos de los cambios más significativos. La retracción por secado es debida a la pérdida de
agua en el tiempo una vez endurecido el hormigón, mientras que la retracción autógena está causada
por la reducción en volumen de los productos de hidratación del cemento respecto a los compuestos
iniciales [1-3]. Si el hormigón se encuentra restringido, los cambios de volumen pueden generar
tensiones de tracción de magnitud suficiente como para fisurar el hormigón.

Una alternativa para evitar este fenómeno consiste en el empleo de hormigones expansivos. Estos
hormigones contienen aditivos o cementos que promueven la formación de ciertas fases hidratadas
(etringita o portlandita) que generan, a partir de un aumento en su contenido y a través de mecanismos
aún no bien conocidos, un gran aumento de volumen de la masa de hormigón. Además, estas
expansiones se producen durante las primeras fases de la hidratación. Una clasificación básica de los

1
Instituto de Ciencias de la Construcción Eduardo Torroja - CSIC, Madrid, España, d.revuelta@ietcc.csic.es

267
Hormigones autocompactantes pretensados químicamente

hormigones expansivos los divide en hormigones de retracción compensada y hormigones pretensados


químicamente en función del grado de expansión final alcanzado en la condición de restringido, mayor
en los últimos. Los hormigones de retracción compensada fueron los primeros en emplearse en
pavimentos y grandes superficies, para lograr reducir el número de juntas de retracción. No obstante
en los últimos años se ha extendido la práctica de emplear hormigones con un alto grado de expansión,
capaces de aplicar una fuerza de pretensado en el refuerzo de elementos con un alto grado de
confinamiento del hormigón, como piezas fuertemente armadas o tubos rellenos de hormigón. Este
pretensado químico aumenta la capacidad portante de los elementos y reduce la fisuración por
retracción [4-6].

El grado de expansión final alcanzado en un hormigón expansivo depende de muchos factores: tipo de
aditivo expansivo, condiciones de curado, tipo de árido, relación agua/cemento, entre otros [1, 7-9].
Este trabajo se centra en el diseño de hormigones autocompactantes pretensados químicamente para su
empleo en elementos estructurales mixtos, formados por tubos de acero rellenos de hormigón, y su
comparación con hormigones expansivos convencionales. Los tubos actúan simultáneamente como
vigas o columnas estructurales, como refuerzo del hormigón y como encofrado perdido. Esta es una
tipología en la que se han empleado profusamente hormigones autocompactantes, ya que la
imposibilidad de vibrado en el interior de los tubos hace que sean especialmente adecuados para este
tipo de aplicación [10-13]. Sin embargo, un serio problema de este tipo de soluciones es el asegurar el
confinamiento del hormigón y la transmisión de esfuerzos en la interfase tubo-hormigón [14, 15]. Este
problema puede ser solventado con el empleo de hormigones autocompactantes pretensados
químicamente.

2. PARTE EXPERIMENTAL

2.1 Materiales y diseño de mezclas

Para evaluar la influencia que tiene el dotar a un hormigón pretensado químicamente de características
de autocompactabilidad, se diseñaron dos tipos de hormigones: un hormigón convencional (HC) y un
hormigón autocompactante (HAC) desarrollado a partir de la fórmula de hormigón convencional
mediante el empleo de aditivo superplastificante, la eliminación de la fracción más gruesa de áridos y
la adición de cenizas volantes para dotar a la fórmula de los suficientes finos para asegurar la cohesión
de la mezcla. La Tabla 1 recoge las mezclas de hormigón estudiadas.

Tabla 1. Diseño de mezclas estudiadas.


Hormigón Convencional Hormigón Autocompactante
Aditivo tipo K Aditivo tipo G Aditivo tipo K Aditivo tipo G
HC-K HC-G HC-K HC-G
Agua (l/m3) 195 195 195 195
CEM I 42,5R (kg/m3) 385 385 385 385
Ceniza volante (kg/m3) -- -- 116 116
Grava 12/20 (kg/m3) 587 599 -- --
Grava 4/12 (kg/m3) 376 383 654 669
Arena 0/4 (kg/m3) 775 791 924 945
Superplastificante (kg/m3) -- -- 5 5
Aditivo tipo K (kg/m3) 58 -- 58 --
Aditivo tipo G (kg/m3) -- 19 -- 19

En la fabricación de los hormigones se empleó el mismo cemento, un tipo CEM I 42,5R conforme a la
norma EN 197-1 [16]. Para que no fuera un factor de influencia, se fijó el contenido de cemento en
ambos hormigones en 385 kg/m3. La relación agua/cemento efectiva también se mantuvo constante,
a/c = 0.51. Con el fin de conseguir el contenido de finos suficientes como para dotar al hormigón de
características de autocompactabilidad, se empleó una adición de ceniza volante conforme a la norma
EN 450-1 [17]. Se trataba de una ceniza volante clase F, baja en CaO y rica en sílice.

268
Revuelta, Carballosa, García Calvo

Los áridos empleados fueron arena 0/4 lavada y dos gravas 4/12 y 12/20 provenientes de machaqueo,
todas ellas de naturaleza silícea. En las mezclas de hormigón autocompactante se empleó un aditivo
superplastificante de tipo policarboxilato.

Con el fin de dotar a ambos hormigones de un grado de expansión suficiente, se emplearon dos tipos
de aditivos expansivos: un aditivo tipo K (basado en sulfoaluminato cálcico) y otro aditivo tipo G
(basado en óxido de calcio) [18]. El primero promueve la formación de etringita, mientras que el
segundo causa la generación de portlandita. El aditivo tipo K se añadió en una proporción del 15% del
peso del cemento, mientras que del aditivo tipo G se adicionó un 5% en peso del cemento. La
diferencia en los contenidos se debe a que, en pruebas preliminares no mostradas en este estudio,
contenidos elevados del aditivo tipo G generaban una fisuración total de la masa de hormigón cuando
este era curado sumergido en agua (proceso de curado seguido en este estudio, como se expone a
continuación).

2.2 Procedimiento experimental

El estado fresco del hormigón convencional se caracterizó mediante la determinación de su


asentamiento conforme a la norma EN 12350-2 [19]. El hormigón autocompactante se caracterizó
mediante la determinación del escurrimiento SF y del tiempo t500 conforme a la norma EN 12350-8
[20], y mediante la determinación del escurrimiento SFJ con el anillo japonés conforme a la norma EN
12350-12 [21]. Además, en todas las mezclas se midieron su densidad en estado fresco conforme a la
norma EN 12350-6 [22] y el contenido en aire conforme a la norma EN 12350-7 [23].

Para la caracterización de las propiedades mecánicas, se fabricaron y conservaron en balsa de agua


conforme a la norma EN 12390-2 [24] probetas cilíndricas de Ø100x200 mm, y se determinó la
resistencia a la compresión a las edades de 7, 28 y 90 días sobre dos probetas respectivamente,
conforme a la norma EN 12390-3 [25]. Con objeto de evaluar la influencia del confinamiento del
hormigón en el desarrollo de resistencias, para cada mezcla de hormigón se fabricaron dos probetas
adicionales, que se conservaron en sus moldes de acero protegidas de la pérdida de agua por su parte
superior mediante un film impermeable, y a una temperatura estable de 20±2ºC. Transcurridos 28 días,
las probetas se ensayaron a compresión conforme a la norma EN 12390-3 [25].

Con objeto de evaluar la posible influencia del uso de aditivos expansivos en la durabilidad, se
fabricaron probetas cilíndricas de Ø150x300 mm, conservadas en balsa de agua. Transcurridos 28
días, a partir de dichas probetas se obtuvieron porciones de 50 mm de altura para la determinación de
la absorción de agua por capilaridad según el método de Fagerlund conforme a la norma UNE 83982
[26].

Por último, y con el fin de determinar el grado de expansión en condiciones de confinamiento, se


empleó un método de ensayo basado en la norma ASTM C878 [27], que mide los cambios de longitud
axial sobre prismas de hormigón con restricción, pero con ciertas variaciones. En este ensayo se
colocan dos placas cuadradas provistas de índices en los extremos de un molde prismático, conectadas
mediante una barra de acero, y posteriormente se fabrican las probetas de hormigón de 253x76x76
mm. La norma ASTC C878 indica que los modes se deben conservar en ambiente controlado (20±2ºC,
>90% humedad) durante las primeras 24 horas. Transcurrido ese tiempo se desmolden los prismas y se
mide la distancia entre los índices con un comparador con una precisión de 0.002 mm, tomando ese
punto como referencia para el cálculo de las expansiones a partir de las lecturas posteriores de la
distancia entre índices a distintas edades. En este caso, la referencia inicial empleada para el cálculo de
las expansiones fue la medida de la distancia entre las placas de la celda de restricción, pero
determinada antes de realizar el moldeo de los prismas. Además, los prismas se desmoldaron
transcurridas 6 horas desde la fabricación, una vez fraguado el hormigón, obteniendo así una medida
de la expansión a edad temprana durante las primeras 24 horas de vida del hormigón. Tras el
desmoldeo, las probetas se curaron en balsa de agua a 20±2ºC.

269
Hormigones autocompactantes pretensados químicamente

3. RESULTADOS Y DISCUSIÓN

3.1 Estado fresco

Tanto para hormigones convencionales como para hormigones autocompactantes, el empleo de


aditivos expansivos tipo K empeora la trabajabilidad respecto a los hormigones con aditivo tipo G
(Fig. 1). Esta diferencia puede ser debida al empleo de una mayor dosis de aditivo.

A pesar de la pérdida de trabajabilidad, fue posible obtener hormigones autocompactantes tanto con el
aditivo expansivo tipo K como con el aditivo tipo G. Es cierto que el hormigón autocompactante con
aditivo tipo K poseía una peor capacidad de paso que el autocompactante con aditivo tipo G según el
resultado obtenido con el ensayo de anillo japonés, pero aun así la diferencia entre escurrimientos con
y sin anillo estaba dentro del margen de 50 mm que recomiendan la mayoría de guías de aplicación
[28]. En cuanto al contenido en aire (Fig. 1), los hormigones autocompactantes estudiados poseían un
contenido de aire tres veces superior al del hormigón convencional, hecho que se reflejaba también en
la densidad obtenida. Este efecto puede ser debido fundamentalmente al empleo del aditivo
superplastificante, ya que no se observó una influencia directa del empleo de un tipo de aditivo
expansivo u otro en el contenido de aire o en la densidad.

La Tabla 2 muestra las características en el estado fresco, medidas sobre todos los hormigones
fabricados.

Figura 1. Resultados de asentamiento/escurrimiento (izda.) y contenido de aire en estado fresco (dcha.).

Tabla 2. Características en el estado fresco.


Norma de
Parámetro medido HC-K HC-G HAC-K HAC-G
ensayo
EN 12350-2 Asentamiento – h (mm) 60 80 -- --
Escurrimiento - SF (mm) -- -- 570 650
EN 12350-8 Tiempo de escurrimiento -
-- -- 1.5 1.5
T50 (s)
EN 12350-12 Escurrimiento - SFJ (mm) 520 620
EN 12350-6 Densidad del hormigón
2.33 2.36 2.19 2.20
fresco - D (kg/m3)
EN 12350-7 Contenido de aire (%) 2.5 2.1 7.5 7.5

270
Revuelta, Carballosa, García Calvo

3.2 Propiedades mecánicas

Los resultados de resistencia a la compresión obtenidos en los hormigones ensayados se muestran en


la Tabla 3 y en la Fig. 2. Tanto el hormigón convencional como el hormigón autocompactante
experimentaron una evolución normal de las resistencias a la compresión en el tiempo, medidas sobre
probetas conservadas de forma estándar, independientemente del tipo de aditivo empleado. El
crecimiento de resistencia en el hormigón convencional desde los 7 días hasta los 28 días de edad es
del 17% en ambos casos, mientras que de los 28 días a los 90 días es del 11-16%. En los hormigones
autocompactantes, este crecimiento es superior e igualmente similar con ambos aditivos expansivos,
del 35% entre los 7 y los 28 días, y del 23-30% entre los 28 y los 90 días. El incremento superior de
resistencia es debido a la presencia en el hormigón autocompactante de una adición activa como la
ceniza volante, cuyo mecanismo lento de desarrollo de resistencias es bien conocido. Este suplemento
de material puzolánico también explica que las resistencias a los 90 días de los hormigones
autocompactantes sean de media un 25% superior que las de los correspondientes hormigones
convencionales.

No obstante el resultado más llamativo se obtiene al comparar las resistencias obtenidas sobre probetas
confinadas frente a las curadas normalmente. El primer dato interesante es que, a pesar de disponer
únicamente del propio agua inicial para producir las reacciones de hidratación, el hormigón confinado
no experimenta un descenso de resistencia respecto al hormigón sin restricción, lo que significa que
incluso sin aporte exterior el hormigón dispone de agua para asegurar un grado de hidratación
suficiente de los compuestos del cemento portland convencional y de la adición de ceniza volante, que
junto con los compuestos generados por el aditivo expansivo, resultan en una microestructura capaz de
dotar al sólido de unas propiedades mecánicas adecuadas. Además, en este caso sí que se observa un
diferente comportamiento dependiendo del tipo de aditivo expansivo usado. Mientras que el
crecimiento de resistencia entre 7 y 28 días para los hormigones confinados con presencia de aditivo
tipo G, tanto en el caso convencional como en el autocompactante, es similar al crecimiento en el
hormigón sin confinar (16% en el primer caso, 44% para el hormigón autocompactante), en cambio
con el aditivo tipo K el crecimiento 7/28 días es del 65% para el hormigón convencional confinado, y
del 71% para el hormigón autocompactante. Este fenómeno se explica seguramente por la mayor
presencia en los hormigones con aditivo tipo K de los compuestos hidratados generadores de la
expansión, como se verá corroborado más adelante cuando se analicen en el apartado 3.4 las
expansiones obtenidas en probetas prismáticas con restricción. Al estar confinado y tener por tanto
limitada la expansión, el resultado probable es que dichos compuestos rellenan la red de poros del
hormigón, refinando la estructura y por tanto resultando en un material más resistente. Este hecho sólo
es detectable a partir de cierto grado de expansión.

Tabla 3. Resistencia a la compresión.


Edad HC-K HC-G HAC-K HAC-G
7 días 26.8 28.6 27.8 26.2
28 días 31.4 33.4 37.5 35.0
28 días con restricción 44.3 33.1 47.5 37.6
90 días 35.0 38.6 48.8 43.2

271
Hormigones autocompactantes pretensados químicamente

Figura 2. Resultados de resistencia a la compresión a las edades de 7, 28 y 90 días, y a 28 días sobre


probetas confinadas.

3.3 Resultados de absorción capilar

Tal como se ha mencionado previamente, como medida indirecta de la durabilidad se determinó la


absorción capilar mediante el método Fagerlund de los hormigones estudiados tras 28 días de curado
normalizado. Los resultados se muestran en la Fig. 3. Todos los hormigones presentaron resultados
similares, con coeficientes de absorción capilar del orden de 0.100 kg/m2·min0.5, sin que se observara
ningún tipo de influencia ni del tipo de aditivo ni de la diferencia de comportamiento en estado fresco
entre los distintos hormigones, si bien es cierto que la absorción capilar total fue ligeramente inferior
en los HAC, lo que permitiría deducir una mayor resistencia a la entrada de agentes agresivos externos
al seno del material. Por otro lado, también se detecta cierta menor absorción total de agua en los
hormigones con aditivo tipo G para cada tipo de hormigón, dentro del periodo de tiempo analizado, lo
que podría asociarse a que la expansión generada con el aditivo tipo K, al ser más elevada (ver
siguiente sección), generara cierta fisuración interna, aumentando la cantidad de agua que ingresa al
hormigón. Este aspecto se está actualmente analizando en profundidad.

Figura 3. Resultados de absorción de agua por capilaridad.

272
Revuelta, Carballosa, García Calvo

3.4 Expansión lineal en régimen restringido

La Fig. 4 muestra los resultados de expansión medidos con el método adaptado de la norma ASTC
C878 descrito en el apartado 2.2 sobre prismas confinados y conservados en balsa, hasta la edad de 28
días.

Los resultados de expansión permiten comprobar cómo los hormigones con inclusión de aditivo
expansivo tipo K alcanzaron expansiones del orden de las 1450  de promedio, un 100% superior al
de los hormigones con aditivo expansivo tipo G, que alcanzaron las 700  a los 28 díasEste
fenómeno se debió seguramente al mayor contenido de aditivo expansivo tipo K empleado en las
mezclas tanto de hormigón autocompactante como de hormigón convencional. Es de suponer que con
un aumento en la dosis del aditivo tipo G se podrían seguramente alcanzar deformaciones similares a
las obtenidas con el aditivo tipo K. De hecho, es posible que la cantidad de aditivo tipo G requerida
para igualar las expansiones medidas con el tipo K sea menor al 15%, puesto que empleando un tercio
de aditivo (5%) se han conseguido expansiones con la mitad de magnitud. Sin embargo, esta diferencia
sirve para corroborar la observación del apartado anterior, en el que se concluyó que con probetas
confinadas con adición de aditivo expansivo tipo K se obtenían mayores resistencias a la compresión
que sobre probetas curadas de forma convencional, probablemente por la formación de una mayor
cantidad de compuestos hidratados generadores de la expansión en la red de poros de los hormigones.

Figura 4. Expansión lineal medida sobre prismas en régimen restringido.

En cuanto a la influencia del comportamiento en estado fresco, un primer análisis permitiría deducir
que el hecho de emplear hormigones autocompactantes no afecta al desarrollo de expansiones en
hormigones pretensados químicamente, ya que las curvas de expansión son similares. Sin embargo, sí
que se observa que, para los hormigones con mayor grado de expansión (con 15% de aditivo tipo K),
sí que hay una diferencia final apreciable, alcanzando el hormigón convencional una expansión casi un
20% superior a la del hormigón autocompactante. Esta diferencia puede deberse a que, en el hormigón
autocompactante, el empleo de aditivos superplastificantes provoca un retraso en el fraguado, que a su
vez retrasa el comienzo de las reacciones de hidratación de los compuestos generadores de la
expansión, lo que impide que se alcance un grado de expansión tan elevado como en el hormigón
convencional, en el que los aditivos comienzan a actuar antes.

273
Hormigones autocompactantes pretensados químicamente

CONCLUSIONES

A la vista de los resultados obtenidos, pueden establecerse las siguientes conclusiones:

1) Mediante el uso combinado de un aditivo superplastificante, una adición de ceniza volante y


aditivos expansivos tipo K y tipo G, fue posible obtener hormigones autocompactantes expansivos.

2) El empleo de aditivos expansivos tipo K o tipo G no afectó en demasía a las propiedades del
hormigón en estado fresco, tanto en hormigones convencionales como en hormigones
autocompactantes, aunque sí se observa que dosis crecientes de aditivo pueden provocar pérdidas de
trabajabilidad. Al igual que en muchos casos de hormigones autocompactantes no expansivos, el
empleo de aditivos superplastificantes supuso un incremento en el contenido de aire respecto a un
hormigón convencional.

3) El desarrollo de la resistencia a la compresión en los hormigones autocompactantes expansivos


obtenidos, medida sobre probetas normalizadas, siguió una evolución normal y coherente con el
empleo de una adición del tipo ceniza volante para conseguir el suplemento de finos necesario para
dotar al hormigón de la viscosidad suficiente como para lograr características de autocompactabilidad.
No se observó ninguna influencia del tipo de aditivo en este desarrollo. Tampoco se observó ninguna
influencia significativa en la absorción capilar de los hormigones curados en condiciones
normalizadas.

4) El confinamiento del hormigón durante el periodo de curado no supuso una disminución en las
prestaciones mecánicas alcanzadas a los 28 días de edad. Al contrario, el desarrollo de resistencias en
probetas confinadas sí que se vio afectado por la dosis de aditivo expansivo empleado, alcanzándose
mayores resistencias en hormigones con mayor grado de expansión. Este hecho se debe seguramente a
un mayor refinamiento en la red de poros por efecto de una mayor formación de compuestos
hidratados (etringita o portlandita, en función del tipo de aditivo expansivo empleado).

5) El hecho de dotar a un hormigón expansivo de características de autocompactabilidad no afectó a


los hormigones que experimentaron una menor expansión. En cambio, en los hormigones con mayor
grado de expansión, sí que pudo haberse producido una influencia debida al retraso en el fraguado por
el uso de aditivos superplastificantes, ya que las expansiones obtenidas en el hormigón
autocompactante fueron inferiores a las del hormigón convencional.

AGRADECIMENTOS

El trabajo presentado se ha llevado a cabo dentro del proyecto de referencia BIA2013-49103-C2-1-R,


gracias a la financiación concedida por el Ministerio de Economía y Competitividad del Gobierno de
España dentro del Programa Estatal de Investigación, Desarrollo e Innovación Orientada a los Retos
de la Sociedad, en el marco del Plan Estatal de Investigación Científica y Técnica y de Innovación
2013-2016, convocatoria 2013.

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Hormigones autocompactantes pretensados químicamente

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276
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

Avaliação da capacidade do parâmetro wft (water film thickness)


contribuir para a obtenção do concreto autoadensável

Marcus Mendes1 Elton Bauer2

Foto do autor, com


RESUMO tamanho 4×3cm

Decidiu-se estudar os aspectos reológicos e de trabalhabilidade das prováveis argamassas que podem
compor os concretos autoadensáveis, Sabe-se que os efeitos dos finos sobre as propriedades no estado
fresco do CAA são mais relevantes do que os efeitos dos agregados graúdos. A par disso, foram
avaliadas as argamassas a partir de uma proporção de argamassa referente de um concreto coeso,
sendo que esta sofreu variação quanto à relação água/sólidos e o teor de superplastificante gerando
nove pontos experimentais ou nove traços de argamassas. Nessas argamassas foram obtidos alguns dos
parâmetros de trabalhabilidade por meio de ensaios de mini-funil e mini-slump, um parâmetro
reológico que foi a tensão de escoamento (Vane test) e o parâmetro WFT (water film thickness)
conhecido como controlador dos parâmetros de trabalhabilidade e de reologia. O parâmetro WFT
significa a espessura da película de água envolta dos grãos de um sistema granular, quando o seu valor
é positivo indica que há água suficiente para governar as propriedades de trabalhabilidade e de
reologia, por outro lado, o valor é negativo indica que falta água para propiciar bons resultados sobre
as propriedades de trabalhabilidade e de reologia do material cimentício em questão. Com isso,
obteve-se resultados importantes no momento parcial de um estudo de doutorado. Os resultados
mostram relações importantes do parâmetro WFT com os resultados de espalhamento (mini-slump) e
de tensão de escoamento, sendo assim pode-se dizer que estudos em argamassas podem referenciar os
prováveis concretos autoadensáveis.

Palavras-chave: argamassa, concreto autoadensável, trabalhabilidade, reologia.

1. INTRODUÇÃO

A produção de concreto autoadensável (CAA) é considerada complexa pelo fato deste tipo de concreto
possuir uma gama maior de materiais envolvidos, como vários tipos de adições minerais e aditivos
químicos. Dessa forma, torna-se mais difícil o alcance dos requisitos que conferem autoadensabilidade

1
Professor efetivo do Instituto Federal de Goiás/Câmpus Formosa-Go e doutorando em Estruturas e
Construção Civil da Universidade de Brasília, Brasília, Brasil. mvasmendes.ifg@gmail.com
2
Professor do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade de Brasília, Brasília, Brasil.
elbauerlem@gmail.com

277
Avaliação da capacidade do parâmetro wft (water film thickness) contribuir para a obtenção
do concreto autoadensável

ao CAA, tais como, habilidade passante, habilidade de preenchimento e resistência à segregação. Para
isso, é necessária a variação dos parâmetros de mistura, como o teor de água, teor de finos, proporção
de agregados, adição de superplasticante e outros. As diferentes combinações desses parâmetros
podem resultar em diferentes níveis de trabalhabilidade do concreto, por meio de tentativas e erros, a
ponto de chegar a um nível de autoadensabilidade desejado [1].

Entretanto, essa forma empírica de alcançar autoadensabilidade não é a mais adequada. Para
interpretar de maneira consistente o comportamento do CAA no estado fresco, implica em analisar as
combinações entre os materiais e os parâmetros que o influenciam, que ainda não são claramente
conhecidos. Portanto, recomenda-se que invés de realizar um estudo sistemático de cada parâmetro
envolvido, seria pertinente investigar as principais características físicas que regem a
autoadensabilidade do concreto, a fim de desvendar o significado físico subjacente de cada
parâmetro [1].

Dentre as características físicas, pode-se citar a densidade de empacotamento e a área superficial dos
sólidos do sistema de partículas, as quais têm maior relevância no que tange o controle da
trabalhabilidade ou adensabilidade de qualquer material cimentício [1]. Essas características físicas
podem ser representadas por um único parâmetro conhecido como WFT (water film thickness), o qual
é uma extensão da teoria da espessura da pasta definida por Powers, o seu valor positivo significa a
espessura média de água em volta dos grãos sólidos de um sistema granular de pastas ou argamassas.
Quando o valor é negativo, deixa de ser um parâmetro físico e passa a ser um indicador que a
quantidade de água não foi suficiente para preencher os vazios entre as partículas sólidas e muito
menos para conferir boas propriedades no estado fresco. Recentemente, o WFT tem sido estudado e
defendido como um parâmetro capaz de governar as propriedades reológicas e de trabalhabilidade [1-
3].

Nesse contexto, estudos em argamassas podem referenciar concretos por meio de resultados das
propriedades reológicas e de trabalhabilidade, bem como podem propiciar várias análises com maior
número de variáveis, assim contribuindo para o entendimento mais consistente das propriedades
estudadas com gasto menor de materiais e recurso-humano [4].

Por fim, pretende-se com estudos em argamassas, buscar referências de argamassas que podem
alcançar concretos autoadensáveis. Para isso, o estudo focou-se no entendimento do parâmetro
WFT (water film thickness) juntamente com as propriedades do estado fresco de materiais cimentícios
como a trabalhabilidade e reologia.

2. PROGRAMA EXPERIMENTAL

A seguir, são apresentados os materiais e os métodos empregados para avaliação das argamassas e
concretos.

2.1 Materiais

Foram utilizados os seguintes materiais:

2.1.1 Cimento
O cimento CPV-ARI: cimento de alta resistência inicial. Com massa específica de 3,04 g/cm³, obtida
pelo frasco de Le Chatelier.

2.1.2 Agregados
Adotou-se a norma NBR NM 248 [5] para determinar a distribuição granulométrica dos agregados.
Para determinação da distribuição granulométrica do agregado miúdo foi incluída a peneira de
abertura 0,075 mm, com intuito de verificar o teor de finos que é um parâmetro importante no alcance
da estabilidade do concreto autoadensável no estado fresco. Os finos, também, foram caracterizados

278
Mendes e Bauer

pelo granulômetro a laser. Em seguida, os agregados miúdos foram submetidos ao MEV


(microscópico eletrônico de varredura), a fim de verificar a morfologia dos seus grãos.

a) Areia rosa: areia quartzosa, comum na região de Brasília. Possui uma massa específica de
2,66g/cm³, obtida pelo frasco de Chapman. A sua distribuição granulométrica não se enquadra na
zona utilizável, sendo, portanto, uma areia com maior predominância de grãos de diâmetro inferior a
0,3 mm, conforme consta na Figura 1(b). Os finos equivalem a 8% da fração total. O módulo de finura
é igual a igual a 0,76 e diâmetro máximo de 2,36 mm. Por meio da granulometria laser, na Figura 1(a),
observa-se que esta areia possui grãos de diâmetro a partir de 10 µm.

(a) (b)
Figura 1. Distribuição granulométrica da areia rosa (a)Distribuição granulométrica a laser (b) Distribuição
granulométrica conforme a NBR NM 248 [5].

b) Areia artificial calcária: areia calcítica com massa específica igual a 2,70g/cm³. Quanto a sua
distribuição granulométrica, observa-se na Figura 2 (b), que não se enquadra na zona utilizável, mas
encontra-se próxima ao limite superior da zona utilizável. O módulo de finura é igual a 1,27 e
diâmetro máximo de 1,18 mm. Os finos correspondem a 15% da fração total. Por meio da
granulometria laser, na Figura 2(a), observa-se que esta areia possui predominância de grãos com
diâmetros em torno de 1,5 µm, diferentemente da areia rosa que possui grãos a partir do diâmetro de
10 µm.

(A) (B)
Figura 2. Distribuição granulométrica da areia artificial calcária (a)Distribuição granulométrica a laser (b)
Distribuição granulométrica conforme a NBR NM 248 [5]..

A morfologia e a textura das areias rosa e calcária foram verificadas por meio do microscópico
eletrônico de varredura (MEV) com imagens obtidas por meio de elétrons secundários (SEM). Na
Figura 3, são apresentadas as imagens (SEM) das areias rosa e calcária.

Na Figura 3(a), apresenta a imagem referente aos grãos de areia calcária, na qual retrata o formato
angular cúbico e textura rugosa dos grãos. Enquanto que, na Figura 3 (b), retrata o formato
arredondado e textura levemente áspera dos grãos de areia rosa.

Partículas angulosas têm maior área superficial e exigem uma maior quantidade de água para a mesma
trabalhabilidade em concretos hidráulicos. Com relação à textura superficial do agregado, esta
característica é relevante no que tange a aderência do agregado com a pasta [6].

279
Avaliação da capacidade do parâmetro wft (water film thickness) contribuir para a obtenção
do concreto autoadensável

Figura 3. Imagens que retratam a morfologia das areias obtidas por meio de elétrons secundários (SEM):
(a) areia calcária (ampliada x 1479); (b) areia rosa (ampliada x143).

c) Agregado graúdo: litologia calcária com massa específica igual a 2,72g/cm³. A sua distribuição
granulométrica se enquadra na zona 4,8/12,5, conforme apresenta a Figura 4. O módulo de finura é
igual a 5,88 e o diâmetro máximo igual a 9,5 mm.

Figura 4. Distribuição granulométrica do agregado graúdo conforme a NBR NM 248:2003 [5].

d) Aditivo superplastificante: Utilizou-se um superplastificante a base de policarboxilato de sódio.

2.2 Métodos

Neste item, são descritos os estudos em concretos e argamassas efetuados neste trabalho. Inicialmente,
foi realizado um estudo preliminar em concretos a fim de buscar um concreto coeso. Em seguida,
adotou-se a proporção de argamassa que conferiu um concreto coeso, como ponto de partida para os
estudos em argamassas. Dentre as argamassas geradas, buscou-se identificar quais delas poderiam
alcançar os concretos autoadensáveis, tomando como orientação os resultados de trabalhabilidade,
reologia e espessura de filme de água dos grãos (WFT). Para isso, foram confeccionados mais dois
traços de concreto para averbar se as argamassas identificadas realmente podem referenciar um
concreto autoadensável.

2.2.1 Estudo preliminar em concretos


Os traços dos concretos foram definidos tomando como base os limites de proporção dos materiais
para CAA, recomendado pelo American Concrete Institute (ACI). No Quadro 1, apresenta os limites
das proporções dos materiais propostos pelo ACI.

Quadro 1. Proporções recomendadas para dosagem de CAA ACI 237R-07 [7].


Volume absoluto de agregado graúdo 28% a 32%
Fração de pasta (calculado sobre o volume) 34% a 40%
Fração de argamassa(calculado sobre o volume) 68% a 72%
Consumo de cimento por m³ 386kg/m³ a 475kg/m³

280
Mendes e Bauer

Para avaliação do estado fresco do concreto, tomou-se o ensaio de espalhamento e a inspeção visual
para avaliar estabilidade. Quanto ao ensaio de espalhamento, adotou-se uma faixa de tolerância de
600 mm a 800 mm. Para avaliação da estabilidade, considerou-se a resistência à segregação e a
exsudação do concreto. Nesse sentido, para avaliar a resistência à segregação, observou-se a existência
de uma acentuada concentração de agregado graúdo na região central do concreto espalhado e, para
avaliar a exsudação, verificou-se a existência de filme d’água ou anel de exsudação em sua periferia,
tais características confirmadas definem um concreto não coeso. No Quadro 2 estão apresentadas as
principais características dos concretos produzidos neste primeiro momento, como as proporções dos
materiais e o resultado de resistência à compressão aos 28 dias. De acordo com o Quadro 2, cabe
enfatizar algumas características dos concretos:
 observa-se que o teor de substituição de areia artificial em substituição de areia rosa variou de
0% a 25%;
 nota-se que o consumo de cimento foi em torno de 425 kg/m³, a relação cimento/agregado foi
de 1:4, assim configura-se um concreto de consumo intermediário;
 observa-se que os parâmetros, tais como, teor de argamassa, fração percentual de pasta, fração
percentual de argamassa e volume percentual de agregado graúdo se mantiveram fixos;
 nota-se que o teor de argamassa manteve-se fixo em 61%, o qual configura um concreto bem
argamassado, típico de um CAA. Enquanto que o concreto convencional o teor de argamassa
gira em torno de 54%.

Quadro 2. Principais características dos concretos estudados.


Tipo de Concreto
a/s 0,45 a/s 0,45 a/s 0,45 a/s 0,45
Especificações
CAAREF CAA15 CAA20 CAA25
a/c 0,50 a/c 0,50 a/c 0,50 a/c 0,50
Teor de subst. de areia artificial
0 15 20 25
(%)
Relação água/cimento 0,5 0,5 0,5 0,5
Relação cimento/agregado 1:4 1:4 1:4 1:4
Traço em massa de cimento 1:0,30:1,8:1,8:0,
1:0:2,1:1,8:0,5 1:0,42:1,8:0,5 1:0,58:1,58:1,8:0,5
(cimento : areia a : brita : água) 5
Consumo de cimento (kg/m³) 422 425,5 425,4 427,3
Teor de argamassa (%) 61 61 61 61
Fração percentual de pasta
38 38 38 38
(volume)
Fração percentual de argamassa
72 72 72 72
(volume)
Volume percentual de agregado
29 29 29 29
graúdo
Teor de aditivo em relação à
2 2 2 2
massa de cimento (%)
Slump flow (mm) 740 620 690 690
Resistência à Compressão (28di
as-MPa) 33,33 42,99 44,37 40,79

Na Figura 5 são apresentados os espalhamentos dos concretos estudados e, também, alguns aspectos
relacionados à sua aparência. Nota-se que os concretos CAAREF e CAA15 sofreram exsudação e
segregação, pois se observa uma concentração acentuada de agregado graúdo na região central do
espalhamento e, além disso, verifica-se a existência de anel de exsudação na periferia do
espalhamento. Esta instabilidade no estado fresco do concreto deve-se, principalmente, à insuficiência
de finos. Por outro lado, os concretos CAA20 e CAA25 mostraram-se coesos, sendo o CAA20 mais
coeso que o CAA25. Esta coesão se deve, principalmente, pelo fato desses concretos possuírem uma
maior fração de finos.

281
Avaliação da capacidade do parâmetro wft (water film thickness) contribuir para a obtenção
do concreto autoadensável

Figura 5. Aspecto visual do concreto após o espalhamento.

Depois da constatação que o CAA20 mostrou-se mais coeso. Decidiu-se submetê-lo aos ensaios que
avaliam a capacidade de preenchimento, tais como, o slump flow e funil V, como, também, a
capacidade de passagem por meio dos ensaios de Caixa L, Anel J e Caixa U.

Os ensaios seguiram as recomendações de EFNARC [8] e o conjunto de normas da NBR 15823 [9]. A
seguir, os resultados do CAA20 frente aos ensaios que avaliam as habilidades de preenchimento e
passagem.

Constata-se, no Quadro 3, que os resultados, no geral, não estão de acordo com as tolerâncias. Cabe
destacar com relação à capacidade de preenchimento, o tempo de escoamento no Funil V foi de 51
segundos, muito além da tolerância que é de 15 segundos. Isso significa que o concreto é mais
viscoso, o que pode ser explicado pelo alto teor de sólidos finos na mistura do concreto que, por sua
vez, promove um maior atrito entre as partículas.

Com relação habilidade passante do concreto, observa-se que os resultados, também, não se
enquadraram na tolerância apresentada no Quadro 3, tanto para o ensaio da Caixa L como para o
ensaio da Caixa U. Esses resultados definem um concreto com baixa autoadensabilidade. Mais uma
vez, pode-se dizer que o teor de sólidos finos fez dificultar o fluxo.

Quadro 3. Resultados dos ensaios que avaliam as habilidades de preenchimento e passagem.


Propriedades Ensaios Parâmetros Faixa Resultados
Capacidade de Slump Flow (mm) Dfinal 600 a 800mm 710
preenchimento Funil V(s) Tv 6 a 15 s 51
Capacidade de Caixa L RB=H2/H1(rel. de ≥ 0,80 0,31
passagem bloqueio)
Anel J (mm) BSj(blocking step) 0 a 10 mm 0
Caixa U (mm) R1-R2 0 a 30 mm 145

2.2.2 Argamassas estudadas


Com relação aos estudos em argamassas, tomou-se o teor de substituição de 20% de areia rosa pela
areia artificial calcária como uma condição fixa, tal condição foi observada a mais propícia para se
alcançar os concretos coesos. Dessa forma, as argamassas foram avaliadas frente aos ensaios de mini-
slump, mini-funil V e vane test e, também, submetidas à coleta de alguns parâmetros necessários para
o cálculo da espessura de água média entre os grãos, representada pelo parâmetro WFT (water film
thickness). A seguir, na Figura 6, apresenta um memorial para calcular o parâmetro WFT, bem como
os parâmetros necessários para o seu cálculo, tais como: densidade de empacotamento, índice de

282
Mendes e Bauer

vazios mínimo, água excedente e área superficial total dos sólidos. Mais detalhes sobre esse cálculo
encontram-se nos trabalhos seguintes: Wong [3], Kwan et al. [10], kwan et al. [2] e Fung [1].

Figura 6. Memorial de cálculo do parâmetro WFT.

A par disso, na Figura 7 estão apresentadas as variáveis adotadas para alcançar o objetivo proposto
desse trabalho, como se pode notar foram consideradas as variáveis: relação água/sólidos (em volume)
e o teor de superplastificante. Nesse sentido, ensaiou-se nove pontos experimentais, os quais estão
destacados de cor verde na Figura 7. Os demais pontos experimentais constatou-se que não
alcançariam uma trabalhabilidade e reologia desejada, pois se notou com argamassas de relação a/s
igual a 0,45 resultados não satisfatórios no que se refere à trabalhabilidade, principalmente.

Figura 7. Planejamento experimental do estudo em argamassas de CAA.

Na Figura 8, estão apresentadas algumas etapas que foram efetuadas durante avaliação das argamassas
do CAA.

Figura 8. Ilustração dos ensaios dos processos seguidos para avaliação das argamassas.

3. RESULTADOS

No Quadro 4, estão apresentados os principais resultados das argamassas frente os ensaios de


trabalhabilidade, como mini-funil V e mini-slump e, também, quanto ao ensaio de vane test do qual se
obtém a tensão de escoamento que é um parâmetro reológico.

283
Avaliação da capacidade do parâmetro wft (water film thickness) contribuir para a obtenção
do concreto autoadensável

Quadro 4. Resultados das argamassas frente aos ensaios que avaliam trabalhabilidade e tensão de escoamento
(Vane Test).
Situações* mini-Funil V mini-slump Vane test
(segundos) (mm) mola palheta ângulo tensão
(espa.-100) (graus) (kPa)
0,45a/s_1,5sp não escoa 0 4 50mmx100mm 218 0,58
0,45a/s_2,0sp não escoa 15,3 4 50mmx100mm 209 0,56
0,45a/s_2,5sp não escoa 159,7 4 50mmx100mm 128 0,34
0,50a/s_1,5sp incompleto 51,7 3 50mmx100mm 143 0,52
0,50a/s_2,0sp incompleto 186,0 3 45mmx89mm 124 0,62
0,50a/s_2,5sp 9,12 202,3 4 50mmx100mm 226 0,61
0,55a/s_1,5sp 22,41 191,2 4 50mmx100mm 148 0,40
0,55a/s_2,0sp 4,21 210,0 4 50mmx100mm 64 0,17
0,55a/s_2,5sp 4,57 162,8 4 50mmx100mm 65 0,17
* xa/s_ysp x: valor da relação água/sólidos (volume) e y: teor de aditivo superplastificante (%) em função da massa de aglomerante

No Quadro 5, são apresentados os resultados de WFT e, também, os principais parâmetros necessários


para o seu cálculo. É importante frisar, que as superfícies específicas dos agregados graúdos foram
estimadas através da distribuição granulométrica a laser, sendo que a areia artificial obteve-se um
valor igual 19,13 cm²/g e a areia rosa obteve-se um valor igual 11,54 cm²/g. Com relação ao cimento
CPV-ARI foi obtido um valor igual 5333,00 cm²/g.

Quadro 5. Resultados das argamassas frente ao parâmetro WFT.


Situações* Densidade de Índice de vazios Água excedente WFT
empacotamento mínimo (umin) (u’w) u’’w (µm)
(Φ)
0,45a/s_1,5sp 0,659 0,518 0,448 -0,431
0,45a/s_2,0sp 0,669 0,494 0,448 -0,291
0,45a/s_2,5sp 0,668 0,498 0,502 0,026
0,50a/s_1,5sp 0,653 0,531 0,502 -0,019
0,50a/s_2,0sp 0,666 0,501 0,502 0,006
0,50a/s_2,5sp 0,651 0,536 0,555 0,122
0,55a/s_1,5sp 0,654 0,529 0,555 0,165
0,55a/s_2,0sp 0,641 0,561 0,555 -0,035
0,55a/s_2,5sp 0,650 0,538 0,555 0,112
* xa/s_ysp x: valor da relação água/sólidos (volume) e y: teor de aditivo superplastificante (%) em função da massa de aglomerante

Em seguida, serão apresentados os gráficos e as análises dos resultados apresentados nos Quadros 4 e
5.
Com relação o estudo do parâmetro WFT frente os parâmetros relacionados com a trabalhabilidade e
reologia das argamassas. Inicialmente, pode-se destacar a regressão linear dos valores de
espalhamento das argamassas em função do WFT, a qual obteve um coeficiente de determinação igual
a 0,83, conforme consta na Figura 9.

Figura 9. Correlação entre os resultados de espalhamento da argamassa versus os valores de WFT.

284
Mendes e Bauer

Observa-se, na Figura 9, que as argamassas com valores maiores de WFT possuem maiores
espalhamentos. Isso se deve ao aumento da espessura de água envolta dos sólidos que levou a uma
redução de atrito entre as partículas sólidas conferindo um maior espalhamento na mistura. Com
relação aos resultados do ensaio de mini-funil V, pode-se afirmar que os seus resultados não
propiciaram um comportamento consistente. Diante disso, acredita-se na necessidade de mais pontos
experimentais e maior repetibilidade desse ensaio para que se possa alcançar um comportamento
palpável e conclusivo.

No que tange à relação dos valores de WFT com a tensão de escoamento. Verifica-se de forma
evidente, na Figura 10, uma tendência de redução da tensão de escoamento com o aumento do valor
WFT. Entretanto, observa-se que os valores circunscritos de vermelho distanciaram dessa tendência,
os quais representam às argamassas de relação água/sólidos igual a 0,50. Uma explicação para esse
fato pode ser a segregação e a exsudação dessas argamassas que contribuíram para o aumento de
concentração de sólidos na parte inferior do recipiente do ensaio de Vane Test refletindo no aumento
dos resultados de tensão de escoamento.

Quanto às argamassas que estão representadas pelos pontos circunscritos de cor verde, pode-se notar
que seus valores de tensão de escoamento são baixos. Isso se deve a característica fluída das
argamassas que pode ter contribuído para reduzir a tensão de escoamento de forma acentuada
tornando os pontos circunscritos de cor verde distantes da reta referência constante na Figura 10. Esta
reta representa a tendência de reduzir a tensão de escoamento quando se aumenta o valor de WFT.

Diante das comparações com o parâmetro WFT, pode-se afirmar que o WFT é um parâmetro
importante e exclusivo capaz de governar a trabalhabilidade e as propriedades reológicas da
argamassa, conforme Kwan et al. [2] já afirmaram.

Com base nos resultados de mini-slump, mini-funil V, parâmetro WFT e tensão de escoamento das
argamassas, decidiu-se alcançar os concretos que cumprissem com os requisitos de
autoadensabilidade, visto que o concreto com relação água/sólidos igual a 0,45 e teor de aditivo
superplastificante igual a 2% não atendeu os requisitos. Para isso, buscou-se referencias de argamassas
que, de maneira geral, apresentaram bons resultados de trabalhabilidade e de reologia. Além disso,
buscou-se argamassas que tiveram valores de WFT mais próximos de zero com diferentes relações
água/sólidos.

0,45_1,5 0,45_2,0 0,45_2,5

0,50_1,5 0,50_2,0 0,50_2,5

0,55_1,5 0,55_2,0 0,55_2,5

(a) (b)
Figura 10. Relação da tensão de escoamento com parâmetro WFT, seguido com a ilustração do aspecto visual
das argamassas estudadas.

Portanto, adotou-se as proporções das argamassas 0,50_2,0 e 0,55_2,0 para comporem os concretos,
levando em consideração as tolerâncias prescritas pelo ACI 237R-07 [7], na Tabela 1. A seguir, no
Quadro 6 e Figura 14 são apresentadas as principais características dos concretos confeccionados por
meio de referencias de proporções dessas argamassas.

285
Avaliação da capacidade do parâmetro wft (water film thickness) contribuir para a obtenção
do concreto autoadensável

Quadro 6. Resultados dos concretos por meio de referencias de argamassas.


Propriedades Ensaios Parâmetros Faixa Resultados
C50_20 C55_20
Teor de areia artificial (%) 20 20
em substituição da areia
rosa
Traço em massa de 1:1,58:0,52:1,80:0,56 1:1,58:0,52:
cimento (cimento : areia a 1,80:0,56
:areia b: brita : água)
Consumo de cimento 416 406
(kg/m³)
Teor de argamassa 67 67
(%)(massa)
Teor de aditivo em 2,0 1,5
relação à massa de
cimento (%)
Resistência à Compressão 60,4 29,8
aos 28 dias (MPa)
Capacidade de preenchim Slump Dfinal 600 a 800 800
ento Flow 800mm
(mm)
Funil Tv 6 a 15 s 12,35 4,53
V(s)
Capacidade de passagem Caixa L RB=H2/H1(rel. ≥ 0,80 0,99 0,98
de bloqueio)
Anel BSj (blocking 0 a 7 0
J(mm) step) 10 mm
Caixa R1-R2 0 a 5 5
U(mm) 30 mm

Nota-se, no Quadro 6, que os concretos C50_20 e C55_20 cumpriram com os requisitos de capacidade
de preenchimento e de capacidade de passagem. No entanto, quando se verifica a estabilidade do
concreto no estado fresco, constata-se por meio de inspeção visual, que o C50_20 manteve-se coeso
(conforme visto na Figura 11(a)), ao contrário, do C55_20 que sofreu exsudação, conforme ilustra a
Figura 11(b). Portanto, pode-se afirmar que os estudos em argamassas foram capazes de referenciar os
prováveis concretos autoadensáveis. Dessa forma, cabe enfatizar que a relação água/sólidos igual e
próxima de 0,50, pode ser uma referencia mais favorável para o alcance dos concretos autoadensáveis,
desde que as características dos materiais e proporções sejam similares como adotadas neste estudo.

(a) (b)
Figura 11. Aspectos visuais dos concretos. (a) C50_20 (b) C55_20.

4. CONCLUSÕES

Com base no programa experimental dessa pesquisa, são apresentadas, neste item, as principais
conclusões obtidas.
 Constatou-se que o teor de substituição de 20% da areia rosa pela areia artificial foi relevante
para tornar o concreto coeso;
 Foi possível obter uma regressão tipo linear entre os resultados de espalhamento de mini-
slump e os resultados de WFT. Com isso, concluiu-se que quanto maior o valor de WFT,

286
Mendes e Bauer

maior será a espessura de água envolta dos sólidos que, por sua vez, propicia uma redução de
atrito entre as partículas sólidas conferindo um maior espalhamento na mistura;
 Foi possível, também, obter uma tendência entre os resultados de tensão de escoamento e os
resultados de WFT. Frente a isso, notou-se que o aumento da espessura de água entre os grãos
favorece o escoamento, podendo esse efeito ser explicado, também, pela redução de atrito
entre as partículas sólidas;
 Pode-se afirmar que os estudos em argamassas foram capazes de referenciar os prováveis
concretos autoadensáveis;
 Constatou-se que a relação água/sólidos igual e próxima de 0,50, pode ser uma referencia mais
favorável para o alcance de concretos autoadensáveis, desde que as características dos
materiais e proporções sejam similares como adotadas nesse estudo.

REFERÊNCIAS

[1] Fung, W. W. (2010). Role of water film thickness in rheology of mortar and concrete. Hong
Kong. 201p. Tese (Doutorado) – Universidade de Hong Kong.
[2] Kwan, A. K. H.; Fung, W. W. S.; Wong, H. H. C. (2010). Water film thickness, flowability and
rheology of cement – sand mortar. Advances in Cement Research. v. 22, 3-14.
[3] Wong, H. H. (2007). Effects of water content, packing density and solid surface area on cement
paste rheology. Hong Kong. 201p. Tese (Doutorado) – Universidade de Hong Kong.
[4] Jin, J. (2002). Properties of mortar for self-compacting concrete. 2008. 398p. Tese (Doutorado em
Engenharia) – Department of Civil and Environmental Engineering, Universidade of London,
London.
[5] Associação Brasileira de Normas Técnicas. (2003). NBR NM 248: Agregados Determinação da
Composição Granulométrica. Rio de Janeiro.
[6] Farias, M. M.; Palmeira, E. M. (2007). Agregados para a Construção Civil. In: ISAIA, G.C. (Ed.)
MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO CIVIL: Princípios de Ciência e Engenharia de Materiais. São
Paulo : Ibracon, cap.16, vol 1, p. 481 – 523.
[7] American Concrete Institute. (2007). ACI 237R-07: Self-Consolidating Concrete.
[8] EFNARC. (2005). Specification and Guidelines for Self-Compacting Concrete. Ucrânia, 32p.
[9] Associação Brasileira de Normas Tecnicas. (2010). NBR 15823: Concreto Auto-Adensável. Rio
de Janeiro.
[10] Kwan, A. K. H; Wong, H. H. C. (2008). Effects of packing density, excess water and solid
surface area on flowability of cement paste. Advances in Cement Research. v.20, p. 1-11.

287
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

Ensaios não destrutivos no betão autocompactável

Miguel Luiz Pereira-de- João Costa3


Nepomuceno1 Oliveira2

RESUMO

Os betões autocompactáveis (BAC) apresentam algumas especificidades face aos betões correntes
vibrados, nomeadamente uma maior dosagem de pasta e um menor volume de agregados grossos. A
máxima dimensão dos agregados grossos é também reduzida nos BAC para prevenir o efeito de
bloqueio. Tais especificidades são suscetíveis de afetar os resultados dos ensaios não destrutivos,
comparativamente àqueles obtidos em betões correntes vibrados com o mesmo nível de resistência e
materiais de natureza idêntica. No presente estudo avalia-se a aplicabilidade de alguns ensaios não
destrutivos no BAC para estimar a resistência à compressão. Os ensaios selecionados incluíram: o
ensaio da velocidade de ultrassons (PUNDIT), o ensaio da dureza superficial (esclerómetro de
Schmidt tipo N), o ensaio da força de arranque (Lok-test) e o ensaio da maturidade do betão (COMA-
meter). Foram produzidos 7 conjuntos de provetes de BAC a partir de uma única mistura. Todos os
provetes foram sujeitos a cura normalizada. Os ensaios foram aplicados nas idades de 1, 2, 3, 7, 14, 28
e 94 dias, correspondendo cada idade a um dos conjuntos de provetes. A resistência à compressão do
betão variou entre os 45 MPa (às 24 horas) e os 97 MPa (aos 94 dias). Foram estabelecidas correlações
entre as leituras dos ensaios não destrutivos e a resistência à compressão, efetuada a análise da
variabilidade dos ensaios e definidos os limites de confiança de 95% para essas correlações. Os
resultados obtidos evidenciaram boas correlações entre a resistência à compressão e as leituras dos
ensaios não destrutivos, mas com diferenças face às correlações obtidas em betões correntes vibrados.

Palavras-chave: Betão autocompactável; ensaio da velocidade de ultrassons; ensaio da dureza


superficial; ensaio da força de arranque; ensaio da maturidade do betão.

1. INTRODUÇÃO

A aplicação de ensaios não destrutivos para avaliar a qualidade do betão e estimar a sua resistência à
compressão in situ é já bem conhecida há algumas décadas [1, 2, 3, 4]. Muitos dos ensaios foram
inicialmente desenvolvidos para aplicação em betões vibrados da gama de resistência normal, mas na

1
Universidade da Beira Interior, Centre of Materials and Building Technologies, Covilhã, Portugal. mcsn@ubi.pt
2
Universidade da Beira Interior, Centre of Materials and Building Technologies, Covilhã, Portugal. luiz.oliveira@ubi.pt
3
Universidade da Beira Interior, Covilhã, Portugal. joaocosta.engenharias@gmail.com

289
Ensaios não destrutivos no betão autocompactável

década de 90 alguns deles foram adaptados para aplicação em betões vibrados de alta resistência [5, 6,
7, 8]. Os procedimentos de aplicação da grande maioria dos ensaios não destrutivos estão bem
definidos em documentos normativos de diferentes países, ainda que possam ser encontradas pequenas
diferenças entre eles. O leque de ensaios disponíveis pode variar desde os mais económicos, simples e
fáceis de usar até aos mais complicados e dispendiosos. A seleção criteriosa dos tipos de ensaios a
combinar em cada situação é fundamental, tanto para a precisão dos resultados como para a redução de
custos [3]. Nesse processo é necessário observar as variáveis que afetam os ensaios e as correlações,
sendo que neste aspeto alguns ensaios são mais sensíveis do que outros.

O número e tipo de fatores que afetam as correlações com a resistência poderão ser diferentes para
cada método de ensaio não destrutivo. Algumas correlações incluem mesmo parâmetros de correção
para alguns desses fatores, na tentativa de alargar o leque de aplicações, enquanto outras são omissas
nesse aspeto. Refira-se, a título de exemplo, sem referência a nenhum método em particular, alguns
desses fatores [3]: as diferenças na composição do betão (quantidade, natureza, forma e textura dos
agregados; tipo e quantidade de ligante; proporção ligante/agregados; razão água/cimento; etc.); as
diferenças nas condições de humidade (saturado ou seco); o tipo e dimensão dos provetes utilizados
para estabelecer a correlação; a carbonatação da superfície (altera a relação entre as zonas superficial e
interior do betão); a influência da idade do betão e tipo de cura (em alguns métodos as correlações são
diferentes para betões em idades curtas em relação a betões acima dos 28 dias); as diferenças no tipo
de acabamento da superfície (cofragens metálicas poderão conduzir a diferenças na camada superficial
face às cofragens de madeira e isto afeta as medições em alguns dos ensaios); o equipamento utilizado
(equipamento similar, com a mesma referência técnica, não significa que tenha a mesma relação de
correlação); o procedimento utilizado (procedimentos diferentes podem conduzir a resultados
diferentes); diferenças no estado de tensão do elemento ensaiado poderão afetar as leituras em alguns
ensaios; a massa do provete ou do elemento in situ, etc.

Pelas razões descritas, facilmente se depreende que as especificidades dos BAC face aos betões
correntes vibrados, nomeadamente uma maior dosagem de pasta, um menor volume de agregados
grossos, agregados grossos com menor máxima dimensão, a ausência de vibração, entre outros
aspetos, são suscetíveis de afetar as correlações com a resistência. Nesse sentido, o presente estudo
avalia a aplicabilidade de alguns ensaios não destrutivos no BAC para estimar a resistência à
compressão. Os ensaios selecionados incluíram: o ensaio da velocidade de ultrassons (PUNDIT), o
ensaio da dureza superficial (esclerómetro de Schmidt tipo N), o ensaio da força de arranque (Lok-
test) e o ensaio da maturidade do betão (COMA-meter).

2. PROGRAMA EXPERIMENTAL

O programa experimental desenvolveu-se em três fases. Na primeira fase foi estudada e caracterizada
a composição de um betão autocompactável com resistência média à compressão aos 28 dias da ordem
de 90 MPa. Na segunda fase foram produzidas sete séries de provetes para ensaio, identificadas pelas
siglas P1, P2, P3, P7, P14, P28 e P94, correspondendo cada série a uma idade do betão. Na terceira
fase foram aplicados os ensaios não destrutivos selecionados, nomeadamente o ensaio da velocidade
de ultrassons (PUNDIT), o ensaio da dureza superficial (esclerómetro de Schmidt tipo N), o ensaio da
força de arranque (Lok-test) e o ensaio da maturidade do betão (COMA-meter).

2.1 Estudo e caracterização do BAC

O estudo da composição do BAC foi realizado de acordo com a metodologia proposta por
Nepomuceno et al. [9, 10, 11, 12] e os ensaios de caracterização no estado fresco e endurecido foram
realizados de acordo com os ensaios previstos na NP EN 206-9:2010 [13].

2.1.1 Materiais
Para a produção do BAC foram selecionados os seguintes materiais: cimento Portland (CEM I 42,5R)
com massa volúmica de 3140 kg/m3; cinzas volantes (CV) com massa volúmica de 2380 kg/m3;

290
Nepomuceno, Pereira-de-Oliveira e Costa

superplastificante (SP) à base de carboxilatos modificados com massa volúmica de 1050 kg/m3; areia
natural rolada fina (Areia 0/2), com massa volúmica de 2600 kg/m3 e módulo de finura de 2,104; areia
natural rolada do rio de grão médio (Areia 0/4), com massa volúmica de 2640 kg/m3 e módulo de
finura de 3,035; agregado grosso britado de granito (Brita 3/6) com massa volúmica de 2710 kg/m 3 e
módulo de finura de 5,311 e ainda um agregado grosso britado de granito (Brita 6/15) com massa
volúmica de 2700 kg/m3, módulo de finura de 6,692 e máxima dimensão de 19,1 mm.

Os agregados finos foram combinados na proporção em volume absoluto de 50% de Areia 0/2 e 50%
de Areia 0/4, resultando numa mistura com um módulo de finura de 2,569. Os agregados grossos
foram combinados na proporção em volume absoluto de 65% de Brita 3/6 e 35% de Brita 6/15,
resultando numa mistura com um módulo de finura de 5,794.

2.1.2 Composição do BAC


O estudo da fase argamassa do BAC foi definido a partir da metodologia proposta por Nepomuceno et
al. [9, 10], que considera a definição da mistura de materiais finos (proporção entre cimento e adição),
o parâmetro Vp/Vs (relação em volume absoluto entre os materiais finos e os agregados finos), a razão
Vw/Vp (relação em volume absoluto entre a água e os materiais finos) e a razão Sp/p% (relação em
percentagem entre as dosagens em massa de superplastificante e de materiais finos). Assim,
considerando o tipo de cimento selecionado e a resistência média pretendida foi estimada a razão W/C
(em massa) de 0,35. De seguida fixou-se o parâmetro Vp/Vs em 0,80 e, tendo por base a razão W/C e
o tipo de cimento e de adição selecionados, estimou-se a percentagem de substituição do cimento pela
adição em 30%. Os parâmetros Vw/Vp e Sp/p% foram obtidos experimentalmente através do processo
descrito por Nepomuceno et al. [9, 10], atingindo-se os valores de Vw/Vp= 0,77 e Sp/p%= 0,70.

De acordo com a metodologia descrita por Nepomuceno et al. [11, 12] para o estudo da composição
do betão, este fica concluído com a definição do volume de vazios (Vv= 0,03 m3) e com a definição do
parâmetro Vm/Vg (razão entre os volumes absolutos de argamassa e de agregados grossos). O
parâmetro Vm/Vg adotado foi de 2,279 tendo em conta as propriedades requeridas para o estado
fresco. A composição final obtida é apresentada no Quadro 1.

Quadro 1. Composição do BAC para um metro cúbico.


Material Dosagem
CEM I 42,5R 487,5 [kg]
Cinzas volantes 158,4 [kg]
Água 170,8 [litros]
Superplastificante 4,3 [litros]
Areia 0/2 360,4 [kg]
Areia 0/4 366,0 [kg]
Brita 3/6 521,1 [kg]
Brita 6/15 279,6 [kg]

2.1.3 Propriedades no estado fresco


A avaliação das propriedades do betão no estado fresco foi realizada pelo ensaio de espalhamento,
ensaio de fluidez no Funil V e ensaio de autocompactabilidade na Caixa L. Os resultados obtidos são
apresentados no Quadro 2 e enquadram-se nos objetivos definidos. Estes ensaios foram ainda
complementados pela observação visual do desempenho do betão. Conforme se ilustra na Figura 1, o
betão apresentou uma distribuição muito homogénea, sem qualquer segregação ou exsudação visíveis.

Quadro 2. Propriedades do BAC no estado fresco.


Espalhamento Funil V Caixa L
Dm [mm] t [s] H2/H1
780 15,6 0,92

291
Ensaios não destrutivos no betão autocompactável

a b c d
Figura 1. Imagens dos ensaios do betão no estado fresco.

2.1.4 Propriedades no estado endurecido


As únicas propriedades avaliadas no estado endurecido foram a resistência à compressão e a massa
volúmica. Os resultados da resistência média à compressão são apresentados no Quadro 3 para as
diferentes séries produzidas, correspondentes a diferentes idades do mesmo betão. A massa volúmica
aos 28 dias foi da ordem de 2300 kg/m3.

Quadro 3. Propriedades do BAC no estado endurecido.


Série Idade [dias] fcm [MPa] Sd [MPa] Cv [%]
P1 1 45,31 1,48 3,26
P2 2 58,16 2,21 3,81
P3 3 64,06 2,09 3,26
P7 7 71,92 3,00 4,16
P14 14 81,47 6,16 7,56
P28 28 90,70 1,33 1,46
P94 94 97,00 1,79 1,84

2.2 Produção de provetes para ensaio

No total foram produzidas sete séries de provetes, todas moldadas no mesmo dia e a partir de uma
única mistura de betão, com descarga direta e sem qualquer forma de compactação (Fig. 2). Cada série
foi constituída por um provete cúbico de 200 mm de aresta, para alojar as cinco sondas do ensaio de
arranque (Fig. 2) e o medidor de maturidade (Fig. 3), e quatro provetes cúbicos de 150 mm de aresta
para os restantes ensaios (velocidade de ultrassons, dureza superficial e resistência à compressão).

a b c
Figura 2. Moldagem dos provetes para ensaio.

a b c
Figura 3. Aplicação do medidor de maturidade COMA-Meter.

292
Nepomuceno, Pereira-de-Oliveira e Costa

Após a moldagem todos os provetes foram protegidos com tela plástica para evitar a perda prematura
de humidade e foram conservados no interior do laboratório durante 24 horas (Fig. 4a). Decorridas as
24 horas, os provetes foram desmoldados (Figs. 4b e 4c) e foram posteriormente colocados numa
câmara de cura à temperatura de 19 ± 1 0C e HR de 90 ± 5%.

a b c
Figura 4. Proteção dos provetes após moldagem e descofragem às 24 horas.

2.3 Ensaios não destrutivos

Todos os procedimentos de aplicação e obtenção das correlações para os ensaios não destrutivos
selecionados seguiram as recomendações da BS 1881: Part 201: 1986 [14].

2.3.1 Ensaio da velocidade de ultrassons


O ensaio de medição da velocidade de ultrassons foi efetuado de acordo com a BS 1881 :Part 203:
1986 [15] com recurso a um aparelho do tipo (PUNDIT) ligado por cabos a transdutores
eletroacústicos com frequências de 54 kHz. Previamente à execução dos ensaios de cada série foi
verificada a calibração do aparelho (Fig. 5). De seguida foram efetuadas quatro medições entre duas
faces paralelas e perpendiculares à direção de betonagem, uma em cada provete cúbico de 150 mm de
aresta. As leituras registadas são apresentadas no Quadro 4.

Figura 5. Imagem da calibração do PUNDIT.

Quadro 4. Ensaio da velocidade de propagação de ultrassons.


Série Idade [dias] V [km/s] Sd [km/s] Cv [%]
P1 1 4,31 0,035 0,82
P2 2 4,44 0,011 0,24
P3 3 4,57 0,025 0,56
P7 7 4,64 0,030 0,64
P14 14 4,80 0,063 1,31
P28 28 4,84 0,022 0,45
P94 94 4,83 0,015 0,31

2.3.2 Ensaio da dureza superficial


Os ensaios de dureza superficial foram efetuados de acordo com a BS 1881: Part 202: 1986 [16] por
aplicação de um esclerómetro de Schmidt do Tipo N, com uma energia de impacto de 2,207 N.m.
Previamente à execução deste ensaio e após medição dos ultrassons, procedeu-se à medição da
resistência à compressão em três provetes cúbicos de 150 mm de aresta. Avaliada a resistência média à
compressão do betão, submeteu-se o quarto provete de 150 mm de aresta que restou de cada série a

293
Ensaios não destrutivos no betão autocompactável

uma tensão equivalente a 1/10 da tensão média de rotura, de modo a confinar o provete entre os pratos
da prensa de compressão e prevenir o seu ressalto durante o ensaio (Fig. 6b). O esclerómetro foi
aplicado na posição horizontal e efetuaram-se nove leituras em duas faces opostas do provete, ambas
moldadas e perpendiculares à direção de moldagem (Fig. 6c). Previamente à execução dos ensaios foi
verificada a calibração do aparelho (Fig. 6a). O valor médio do número de ressalto (R) traduz o
resultado do ensaio em cada série. As leituras registadas são apresentadas no Quadro 5.

a b c
Figura 6. Aplicação do ensaio de dureza superficial.

Quadro 5. Ensaio de dureza superficial (Número de ressalto R).


Série Idade [dias] R Sd Cv [%]
P1 1 37,44 0,63 1,69
P2 2 41,00 1,20 2,92
P3 3 43,06 1,07 2,49
P7 7 45,39 1,39 3,06
P14 14 45,44 2,24 4,93
P28 28 47,56 1,26 2,65
P94 94 49,61 0,65 1,31

2.3.3 Ensaio da força de arranque


Os ensaios de arranque foram efetuados de acordo com a BS 1881: Part 207:1992 [17] e utilizando um
aparelho com capacidade de carga de 0 a 150 kN da Germann Instruments A/S, baseado no sistema
Lok-test. Previamente à campanha de ensaios foi aferida a calibração fornecida pelo fabricante para a
conversão do valor da carga de arranque última lido diretamente no equipamento em carga última real,
em kN. Essa verificação foi efetuada com aplicação de uma célula de carga (Fig. 7b) ligada a um data
logger (Fig. 7a), tendo-se confirmado a validade da curva de calibração fornecida pelo fabricante
através de vários ciclos de carga e de descarga consecutivos.

a b
Figura 7. Verificação da calibração do equipamento do ensaio de arranque.

Os ensaios de arranque foram aplicados em cinco faces do provete cúbico de 200 mm de aresta, de
acordo com a disposição das sondas já ilustradas na Figura 2. A geometria da sonda do sistema Lok-
test é definida por um disco com 25 mm de diâmetro colocado a 25 mm de profundidade (Fig. 2a) e
um anel de apoio (máquina) com um diâmetro interior de 55 mm (Fig. 8a). Atingida a carga de
arranque última registou-se a leitura e retirou-se o fragmento troncocónico para observar a geometria
da rotura e inferir quanto à validade do resultado (Figs. 8b). A carga de arranque última lida no
aparelho foi convertida em carga de arranque última real (em kN) e foi calculado o valor médio final
das cinco leituras obtidas em cada série. As leituras registadas são apresentadas no Quadro 6.

294
Nepomuceno, Pereira-de-Oliveira e Costa

a b c
Figura 8. Execução do ensaio de arranque.

Quadro 6. Ensaio da força de arranque Lok-test.


Série Idade [dias] P [kN] Sd [kN] Cv [%]
P1 1 26,81 1,50 5,58
P2 2 34,51 1,50 4,34
P3 3 35,69 1,13 3,15
P7 7 43,20 1,29 2,98
P14 14 47,74 3,23 6,76
P28 28 53,07 4,27 8,04
P94 94 60,96 2,25 3,69

2.3.4 Ensaio da maturidade do betão


Para o ensaio da maturidade do betão selecionaram-se medidores da gama de 0 a 14 M20 dias do tipo
COMA-Meter (COncrete MAturity-Meter), constituídos por um tubo capilar fechado contendo um
líquido especial (Fig. 3). Imediatamente antes de se iniciar o ensaio, o tubo capilar foi quebrado no seu
extremo superior, inserido imediatamente no invólucro protetor roscado e, de seguida, colocado no
betão a partir da superfície (Fig. 3). A partir desse momento o líquido que está no interior do tubo
capilar começa a evaporar-se devido à temperatura do betão. Fixa ao tubo existe uma lâmina que
mostra uma escala em dias de maturidade equivalente M20. Logo após a betonagem foram instalados
medidores de maturidade nos provetes cúbicos de 200 mm de aresta das séries P1, P2, P3, P7 e P14.
As leituras da maturidade M20, decorridos 1, 2, 3, 7 e 14 dias, são apresentadas no Quadro 7.

Quadro 7. Ensaio da maturidade do betão.


Série Idade [dias] M20 [dias] Sd [dias] Cv [%]
P1 1 1,26 0,089 7,10
P2 2 2,29 0,114 4,98
P3 3 3,26 0,119 3,66
P7 7 6,64 0,263 3,96
P14 14 11,92 0,698 5,85

3. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

3.1 Ensaio da velocidade de ultrassons

A Figura 9 ilustra a correlação obtida entre a velocidade de ultrassons (V) e a resistência à compressão
(fcm) para o BAC estudado (representada a traço contínuo), juntamente com a respetiva equação do
tipo exponencial e o coeficiente de correlação da ordem de 0,97. Adicionalmente, apresenta-se a traço
interrompido a correlação obtida por Nepomuceno [3] para betões vibrados usando materiais idênticos
mas com máxima dimensão do agregado grosso de 25 mm. No caso em apreço a diferença entre as
correlações é pouco acentuada e os pequenos desvios devem-se provavelmente a diferenças no meio
elástico decorrentes das diferentes razões argamassa/agregado grosso. Parece no entanto evidenciar-se
que no caso dos betões vibrados o ensaio de ultrassons perde sensibilidade na estimativa da resistência
a partir da velocidade de 4,6 km/s, enquanto nos BAC isso ocorre para velocidades superiores da
ordem de 4,8 km/s.

295
Ensaios não destrutivos no betão autocompactável

Figura 9. Velocidade dos ultrassons versus resistência à compressão

3.2 Ensaio de dureza superficial

A Figura 10 ilustra a correlação obtida entre o número de ressalto (R) e a resistência à compressão
(fcm) para o BAC estudado (representada a traço contínuo), juntamente com a respetiva equação da
reta e o coeficiente de correlação da ordem de 0,96. Adicionalmente, apresenta-se a traço interrompido
a correlação obtida por Nepomuceno [3] para betões vibrados usando materiais idênticos mas com
máxima dimensão do agregado grosso de 25 mm. As diferenças identificadas decorrem provavelmente
das diferentes razões argamassa/agregado grosso nos dois casos, da diferença na máxima dimensão do
agregado grosso, mas também do facto dos betões vibrados terem sido compactados com vibração
externa, densificando a zona próxima da superfície. Numa primeira análise, parece evidenciar-se que
em igualdade de resistência à compressão, os betões vibrados apresentam maior dureza superficial
comparativamente aos BAC.

Figura 10. Número de ressalto versus resistência à compressão

3.3 Ensaio da força de arranque

A Figura 11 ilustra a correlação obtida entre a força de arranque (P) e a resistência à compressão (fcm)
para o BAC estudado (representada a traço contínuo), juntamente com a respetiva equação da reta e o
coeficiente de correlação da ordem de 0,98. Na mesma figura apresenta-se a traço interrompido a
correlação obtida por Nepomuceno [3] para betões vibrados usando materiais idênticos mas com
máxima dimensão do agregado grosso de 25 mm e ainda as correlações propostas por Krenchel e
Peterson [2], também para betões vibrados. Em ambos os tipos de betão (vibrado e autocompactável)
as correlações mostram a mesma tendência e elevados coeficientes de correlação. Não obstante, em
igualdade de resistência à compressão, a força de arranque é maior nos betões vibrados do que nos

296
Nepomuceno, Pereira-de-Oliveira e Costa

BAC. Este facto pode ser explicado pela existência de maior quantidade de argamassa nos BAC e pela
presença de agregados de menor dimensão na zona envolvente da sonda. No caso dos betões vibrados
a presença de partículas de maiores dimensões na zona envolvente da sonda proporciona maior
resistência à rotura na zona do braço de compressão que liga a sonda ao anel de contrapressão.

Figura 11. Força de arranque versus resistência à compressão

3.4 Ensaio da maturidade do betão

A Figura 12 ilustra a correlação entre a maturidade (M20) e a resistência à compressão (fcm) para o
BAC estudado, juntamente com a respetiva equação logarítmica e o coeficiente de correlação da
ordem de 0,98. Tendo por base os valores apresentados nas colunas 2 e 3 do Quadro 6 é possível
verificar um pequeno desfasamento entre os dias de maturidade M20 e os dias de cura efetiva do betão,
a partir dos 7 dias. Essas pequenas diferenças podem dever-se ao facto da temperatura da camara de
cura ter-se situado, em média, ligeiramente abaixo dos 20 oC. Em todo o caso, os resultados obtidos
permitem indicar o ensaio da maturidade como um meio eficaz de estimar a resistência à compressão.
Não obstante, salienta-se que estes medidores têm custos elevados e não podem ser reutilizados.

Figura 12. Maturidade M20 versus resistência à compressão

CONCLUSÕES

Os resultados obtidos evidenciaram boas correlações entre a resistência à compressão do BAC e as


leituras dos ensaios não destrutivos, mas com diferenças face às correlações obtidas em betões
correntes vibrados. Os resultados indicam que as proporções argamassa/agregado grosso, a máxima
dimensão dos agregados e a forma como o betão é adensado são suscetíveis de afetar os resultados,
pelo que a validade das correlações existentes deve ser analisada com precaução em cada situação.

297
Ensaios não destrutivos no betão autocompactável

REFERÊNCIAS

[1] Bungey, J.H; Millard, S.G. (1996). Testing of Concrete in Structures, 3th edition, London,
Chapman & Hall.
[2] Krenchel, H; Petersen, C.G. (1984). In-situ Pullout Testing with Lok-test. Ten Years’ Experience.
International Conference on In situ/ Non-destructive Testing of Concrete, Ottawa, 2-5 Oct.1984.
[3] Nepomuceno, M.C.S. (1999). Ensaios Não Destrutivos em Betão. Provas de Aptidão Pedagógica
e Capacidade Científica, Covilhã, UBI, p. 469.
[4] Nepomuceno, M.C.S.; Lopes, S.M.R. (2002). Non-destructive Tests on Concrete. Journal of
Concrete Technology Today Incorporating Structural Steel, Trade Link Media, Singapore, Jul.-
Sept., pp. 14-20.
[5] Lopes, S.M.R.; Nepomuceno, M.C.S. (1997). A Comparative Study of Penetration Resistance
Apparatus on Concrete. Proc. of ICCE/4, Hawaii, David Hui Edition, pp. 615-616.
[6] Lopes, S.M.R.; Nepomuceno, M.C.S. (1998). Evaluation of In-place Concrete Strength by Near-
to-surface Tests. Proc. of 12th European Ready Mixed Concrete Congress, Lisbon, Portugal, pp.
338-347.
[7] Lopes, S.M.R.; Nepomuceno, M.C.S. (1999). High Strength Concrete: Penetration Resistance
Tests on High Strength Concrete. Proc. of 1st International Conference on High Strength
Concrete, ASCE, USA, pp. 425-433. ISBN 0-7844-0419-4.
[8] Lopes, S.M.R.; Nepomuceno, M.C.S. (2001). Non-Destructive Tests on Normal and High
Strength Concrete. Proc. of 26th Conference on Our World in Concrete & Structures, vol. XX,
Singapore, pp. 53-67. ISBN 981-04-2513-9.
[9] Nepomuceno, M.C.S.; Pereira-de-Oliveira, L.A. (2008). Parameters for Self-compacting Concrete
Mortar Phase. Proc. of Fifth ACI/CANMET International Conference on High-Performance
Concrete Structures and Materials, Brazil, Jun 2008, ACI – SP-253-21, USA, pp. 323-340,
ISBN: 978-0-87031-277-9.
[10] Nepomuceno, M.C.S.; Pereira-de-Oliveira, L.A.; Lopes, S.M.R. (2012). Methodology for mix
design of the mortar phase of self-compacting concrete using different mineral additions in binary
blends of powders. Construction and Building Materials, 26(1), pp. 317-326
[11] Nepomuceno, M.C.S.; Pereira-de-Oliveira, L.A.; Lopes, S.M.R. (2014). Methodology for the mix
design of self-compacting concrete using different mineral additions in binary blends of powders.
Construction and Building Materials, 64, 2014, pp. 82–94.
[12] Nepomuceno, M.C.S.; Pereira-de-Oliveira, L.A.; Franco, R.M.C. (2012). Otimização de betões
auto-compactáveis para diferentes restrições ao escoamento. Atas do 3º Congresso
Iberoamericano sobre betão auto-compactável, Madrid, Espanha, pp. 45-54.
[13] NP EN 206-9:2010. Regras adicionais para o betão autocompactável (BAC). Instituto Português
da Qualidade, Portugal
[14] British Standard BS 1881: Part 201: 1986. Testing Concrete: Guide to the Use of Non-destructive
Methods of Test for Hardened Concrete, London, British Standards Institution.
[15] British Standard BS 1881 :Part 203: 1986. Testing Concrete: Recommendations for Measurement
of Velocity of Ultrasonic Pulses in Concrete, London, British Standard Institution.
[16] British Standard BS 1881: Part 202: 1986. Testing Concrete: Recommendations for Surface
Hardness Testing by Rebound Hammer, London, British Standards Institution.
[17] British Standard BS 1881: Part 207: 1992. Testing Concrete. Recommendations for the
Assessment of Concrete Strength by Near-to-surface Tests, London, British Standards Institution.

298
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

Efeito do tempo e temperatura de cura em concretos


autoadensáveis com reduzido teor de cimento

Marcos Anjos1 Aires Camões2

RESUMO Foto do autor, com


tamanho 4×3cm

Os concretos com reduzidos teores de cimento têm sido foco de crescentes estudos em virtude do seu
potencial quanto a sustentabilidade das construções. Mais recentemente o estudo ascendeu aos
concretos autoadensáveis com reduzidos teores de cimento. Entretanto, há uma preocupação quanto ao
ganho de resistência nas primeiras idades desses concretos devido ao baixo teor de cimento e o
elevado teor de adições minerais que conhecidamente proporcionam melhorias nas resistências a
longas idades, notadamente acima de 90 dias. O presente trabalho tem o objetivo de avaliar o ganho de
resistência e a hidratação de concretos autoadensáveis com reduzidos teores de cimento e elevados
teores de cinza volante e metacaulim, com e sem adição de hidróxido de cálcio. Para tanto, os
concretos foram submetidos a cura por imersão em água a temperatura de 20±2ºC durante 3, 7, 14, 21,
28, 91 e 360 dias e também cura em água aquecida a 40ºC por 3 dias acrescidos de mais 3 dias a 60ºC
e um dia de resfriamento dentro do banho térmico até a temperatura ambiente. Foram realizados
ensaios de slump flow, L-box, V-test e J-ring para caracterização do CAA no estado fresco. No estado
endurecido foram realizados ensaios de resistência à compressão a idades de 3, 7, 14, 28, 90 e 360
dias, absorção por capilaridade, difração de raios X e MEV. Os resultados demonstram a aptidão em
desenvolver CAA com reduzidos teores de cimento devido a excelente capacidade das cinzas volantes
e metacaulim em trabalharem como agentes viscosificadores dos concretos autoadensáveis. Verifica-se
que é possível produzir CAA com consumos de cimento entre 150 e 200 kg/m3 que atinjam
resistências aos 28 dias entre 25 e 40 MPa e entre 45 e 70 MPa, para cura úmida e térmica
respectivamente. A partir do ensaios de MEV e DRX é possível inferir que o ganho de resistência
obtido pelos CAA com cura térmica é devido a aceleração das reações pozolânicas e da estrutura
interna mais densa dos concretos submetidos a cura térmica.

Palavras-chave: Concreto autoadensável, cura térmica, resistência à compressão, hidratação,


microestrutura.

1
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte, Diretoria acadêmica de Construção Civil,
Natal-RN, Brasil. marcos.anjos@ifrn.edu.br
2
CTAC – Universidade do Minho, Guimarães; Portugal. aires@civil.uminho.pt

299
Efeito do tempo e temperatura de cura em concretos autoadensáveis com reduzido teor de cimento

1. INTRODUÇÃO

Os concretos com reduzido teor de cimento também denominados de concretos ecológicos,


sustentáveis ou ainda de concretos com elevados teores de adições, trazem como proposta principal a
redução do consumo de cimento através do uso de elevados teores de adições minerais para produzir
concretos estruturais e duráveis [1-3]. A maioria dos trabalhos com essa temática utiliza concretos
com consumo de cimento da ordem de 80 a 200 kg por m3 de concreto [3-6], como os analisados
pioneiramente por Ravina e Mehta [7, 8] que utlizaram consumos da ordem de 135 kg de cimento por
m3 de concreto, embora com resistências muito abaixo das atualmente requeridas para as construções
modernas de multiplos pavimentos.

A sustentabilidade de um concreto está relacionada com o consumo de clínquer necessário para


produzir uma unidade de medida de uma determinada propriedade como sugere Damineli et al [9],
que propõe o cálculo de uma relação de eficiência de desenvolvimento de resistência do concreto aos
28 dias (Re), calculada como sendo a relação entre o consumo de ligantes por m3 de concreto e a
resistência em MPa aos 28 dias, sendo Re dado em kg m-3 MPa-1. Su e Miao [2] consideram uma
relação onde cada kg de cimento produz uma resistência à compressão entre 0.11 a 0.14 MPa, no
desenvolvimento de um novo método de dosagem de concreto com baixo teor de cimento, essa
relação gera Re entre 7.1 e 9.1 kg m-3 MPa-1.

O fator de eficiência para resistência à compressão aos 28 dias (Re) é dependente da resistência à
compressão aos 28 dias, gerando menores valores para resistências acima de 60 MPa e valores mais
elevados, aproximadamente 20 kg m-3 MPa-1, quando se utiliza resíduos como matéria-prima para
agregados [9]. No entanto, esse fator de eficiência (Re) não deve ser tomado como absoluto na análise
da sustentabilidade de uma composição de concreto, uma vez que o empacotamento da mistura, a
relação água-cimento e o tipo de cura influenciam fortemente, por exemplo os traços de concretos
sustentáveis de ultra-alto desempenho analisados por Yu et al [10] que apresentam valores de Re entre
7.5 a 9 kg m-3 MPa-1, valores semelhantes ao proposto por Su e Miao [2].

Celik et al [11] verificaram que CAA com altos volumes de pozolana vulcânica e pó calcário
produzem concretos sustentáveis com resistências à compressão da ordem de 20 a 40 MPa aos 28 dias
e excelente durabilidade. Dinakar et al [12] estudaram CAA com consumo de cimento de 180 kg/m3 +
270 kg/m3 de escória e CAA com 180 kg de cimento por m3 de concreto + 202.5 kg/m3 de cinza
volante + 67.5 kg/m3 de sílica de fumo. Esses CAA apresentaram resistência à compressão aos 90 dias
de 65 e 45 MPa, respectivamente e permeabilidade a cloretos muito baixa. Enquanto o concreto de
controle apresentou resistência de 73 MPa e permeabilidade a cloretos moderada.

Os concretos autoadensáveis com reduzidos teores de cimento vêem sendo cada vez mais estudados
em virtude de aliarem a eficiência das adições minerais em agirem como modificadores de viscosidade
e sustentabilidade dos baixos consumos de cimento agrupados ao CAA que eliminam a necessidade de
energia para compactação dos concretos.

2. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

2.1 Materiais, composições e moldagem

Os concretos foram produzidos com cimento Portland CEM I 42.5 (C), cinza volante (CV) classe B de
acordo com a NP EN 450-1 [13], metacaulim (Mtk), cal hidratada (CalH), agregado miúdo e graúdo
com dimensões máximas de 4 mm e 16 mm respectivamente, água e um superplastificante a base de
policarboxilato. O quadro 1 apresenta a composição química dos materiais constituintes dos concretos.

300
Anjos e Camões

Quadro 1. Composição química do cimento (C), da cinza volante CV e do metacaulino (Mk).


Material SiO2 Al2O3 Fe2O3 CaO MgO SO3 Na2O K2O PF
C (%) 19.92 4.36 3.51 62.92 1.83 2.86 - - 3.12
CV (%) 48.61 23.79 7.91 3.06 2.07 0.40 0.78 3.78 2.64
Mk (%) 47.00 37.10 1.30 0.10 0.15 - 0.20 2.00 12.75

Foram produzidos cinco misturas de concretos autoadensáveis com teor de finos de 500 kg/m³, sendo
uma mistura com apenas o cimento como fino (composição de referência 1: L500) e quatro com
consumo de cimento de 196 e 147 kg/m3 e com adição de cinza volante, metacaulim e cal hidratada,
como mostra o quadro 2, proporcionando uma redução do cimento equivalente a 60% e 70%. A
definição destes traços partiu de concretos com elevados volumes de cinza volante anteriormente
estudados por Camões [4].

Foi confeccionado ainda um concreto com 300 kg de cimento/m³ para ser utilizado como referência 2
(L300) com os CAA com baixo consumo de cimento (196 e 147 kg/m3), pois esses concretos
apresentaram mesmo nível de resistência aos 28 dias.

Quadro 2. Composições dos concretos.


CAA com reduzidos teores de cimento (CAA-RTC)
L500 L300 CV CVCh CVMK CVMKCh
Cimento (kg/m³) 500 300 196 196 147 147
Metacaulim (kg/m³) - - - - 98 98
Cinza Volante (kg/m³) - - 294 294 244 244
Cal hidratada (kg/m³) - - - 24 - 24
Agregado Miúdo (kg/m³) 870 1053 851 851 850 850
Agregado Graúdo
880 867 861 861 860 850
(kg/m³)
água (kg/m³) 200 180 171 171 171 171
Glenium Sky 27 (kg/m³) 13.0 7.8 8.8 9.0 9.4 12.0
Ligante (CIM+CV+Mtk+CH) 500 300 490 514 489 513

Os concretos foram produzidos em misturadores de eixo vertical, sendo realizado logo após a mistura
os ensaios no estado fresco e em seguida a moldagem de CP´s cúbicos 100x 100x100 mm3.

2.2 Cura

Os concretos foram colocados em cura úmida por imersão a uma temperatura de 20±2ºC até a idade
pretendida para os testes. Foram retirados 3 provetes de cada composição após 3, 7, 14, 28, 90 e 360
dias de cura para determinação da resistência à compressão.

Para avaliar a temperatura de cura na hidratação e resistência dos concretos autoadensáveis com
reduzidos teores de cimento (CAA-RTC) uma cura térmica foi realizada em 3 provetes de cada
composição. A cura térmica consistiu em retirar os provetes após 21 dias de cura inicial por imersão e
colocá-los em banho térmico a temperatura de 40ºC por 3 dias acrescidos de mais 3 dias a 60ºC e um
dia de resfriamento dentro do banho térmico até a temperatura ambiente.

2.3 Ensaios no estado fresco

Os concretos foram avaliados através dos testes de slump flow (T500 e espalhamento), J-ring, V-
funnel e L-box com 3 barras, Figura 3, seguindo as recomendações da EN 206-9 [14], através desses
ensaios determina-se parâmetros de fluidez, viscosidade, habilidade passante e resistência à
segregação.

301
Efeito do tempo e temperatura de cura em concretos autoadensáveis com reduzido teor de cimento

2.4 Resistência à compressão

As composições foram ensaiados após cura úmida por imersão aos 3, 7, 14, 21, 28, 90 e 360 dias de
idade. Os CAA após cura térmica foram ensaiados aos 28 dias. Os resultados apresentados neste
trabalho resultam da média aritmética de ensaios em três CP´s 100x100x100 mm3. Todos os ensaios
tiveram coeficiente de variação inferior a 10%.

2.5 Absorção de água por capilaridade

O ensaio de absorção de água por capilaridade foi realizado aos 28 dias de idade em três CP´s
(100x100x100 mm3) por cada composição estudada, seguindo a recomendação do LNEC [15].

2.6 Análise microestrutural

A avaliação da hidratação foi realizada através de ensaios de difração de raios X (DRX) e microscopia
eletrônica de varredura (MEV). Os ensaios de difração de raios X foram realizados em um
equipamento Bruker D8 Discover, com interpretação qualitativa do espectro efetuada por comparação
com padrões contidos na base de dados ICDD/JCPDS. O ensaio de MEV foi realizado em um
equipamento Nova NanoSEM 200.

3. RESULTADO E DISCUSSÕES

3.1 Propriedades no estado fresco

Os resultados das propriedades de fluidez, capacidade de enchimento, viscosidade e habilidade


passante dos concretos autoadensáveis com reduzidos teores de cimento (CAA-RTC) são mostradas
no quadro 3, que apresenta ainda a classificação desses concretos segundo as especificações EN 206-9.

Verifica-se a adequação de todos os CAA-RTC aos critérios de autoadensabilidade. O concreto L500


sem as adições minerais não demonstra habilidade passante e o L300 não se pretendia
autoadensabilidade, mas sim elevado abatimento e espalhamento inicial de 500 mm, tornando este
traço referência em termos de resistência à compressão em relação aos CAA-RTC.

Quadro 3. Propriedades dos concretos no estado fresco


Classificação segundo EN 206-9
Slump-flow J-ring V-test L-box
Slump- Slump- Classe Classe de Habilidade
T500 Tempo
Mix Id T500 (s) flow flow H2/H1 de viscosidade passante
(s) (s)
(mm) (mm) fluidez
L500 1.67 625 obstruiu 4.6 0.75 SF1 VS1/VF1 *
L300 4.2 500 obstruiu * * * * *
CV 1.85 700 2.23 700 4.8 0.86 SF2 VS1/VF1 PA2
CVCh 2.11 700 2.77 700 12,0 1,00 SF2 VS2/VF2 PA2
CVMK 3.15 670 3.43 615 13.9 0.92 SF2 VS2/VF2 PA2
CVMKCh 2.63 700 3.89 695 12.8 0.89 SF2 VS2/VF2 PA2
* Não Realizado

3.2 Resistência à compressão

As resistências à compressão dos CAA-RTC com idades de cura de 3, 7, 14, 21, 28 e 90 dias de cura
úmida a 20±2ºC são mostradas na Figura 1, caracterizando a evolução das resistências com tempo.
Verifica-se que os traços CV, CVMK, CVCh e CVMKCh apresentaram resistências à compressão aos

302
Anjos e Camões

28 dias de 27.8, 32.6, 40.9 e 40.0 MPa, respectivamente, o que confirma a aplicabilidade destes
concretos em construções cujas resistências exigidas para os concretos sejam as classes C20/25 a
C30/37, mesmo com consumo de cimento da ordem de 200 a 150 kg/m3.

A resistências obtidas pelos traços de CAA-RTC revelam a sustentabilidade em relação ao


desenvolvimento de resistência do concreto aos 28 dias em relação ao consumo de cimento, pois
verifica-se que os traços CV, CVMK, CVCh e CVMKCh produziram 0.14 MPa/kg, 0.22 MPa/kg, 0.20
MPa/kg e 0.27 MPa/kg de cimento utilizado em cada traço, respectivamente. Essas relações são muito
maiores que as verificadas em concretos com baixo consumo de cimento e resistência moderadas,
onde a relação foi entre 0.15 e 0.18 MPa/kg [2], ou em concreto convencionais como o traço L300 que
apresentou 32.1 MPa com um consumo de 300 kg/m3, relação de 0.11 MPa/kg.

70
L500
L300
CV
CVCH L500
CVMK

60
CVMKCH

CVCH
Resistencia à compressao (MPa)

50
CVMKCH

40 CVMK
CV
L300
30

20

10

0 7 14 21 28 35 42 49 56 63 70 77 84 91 98
Dias
Figura 1. Evolução das resistências à compressão com a idade.

3.3 Absorção por capilaridade

A absorção de água por capilaridade é dependente da porosidade da matriz e interconectividade dos


poros [16] e a absorção de água nas primeiras horas de ensaio está relacionada com o preenchimento
dos capilares de maior diâmetro [4]. As curvas representativas da cinética de absorção de água por
capilaridade dos concretos e CAA-RTC são apresentados na Figura 2, onde se verifica que os CAA-
RTC apresentam coeficientes de absorção muito inferiores aos concretos analisados nos traços L500 e
L300. Essa constatação era esperada para os CAA-RTC com adições minerais devido a efeitos
químicos da reação pozolânica das adições como demonstrado por Anjos et al [17] e pelos efeitos
fisicos de empacotamento e preenchimento de poros que estão evidenciados na microscopia eletrônica
de varredura apresentada na Figura 3.

303
Efeito do tempo e temperatura de cura em concretos autoadensáveis com reduzido teor de cimento

Figura 2. Curvas de absorção capilar dos concretos ensaiados após 28 dias de cura a 20±2ºC.

= CV que não reagiu

(a) CV com 28 dias hidratação submetido a (b) CVMK com 28 dias hidratação submetido a
cura a temperatura ambiente cura a temperatura ambiente
Figura 3. Micrograficas eletrônicas de varredura (MEV).

3.3 Cura térmica e análise microestrutural

Concretos com elevados teores de adições minerais apresentam lento ganho de resistência,
apresentando melhores resultados aos 360 dias de hidratação [18]. No entanto, é conhecido que a
utilização de cura térmica acelera as reações de hidratação fazendo com que estes concretos atinjam
resistências elevadas a idades inferiores, como mostra a Figura 4.

A adição de cal hidratada nas composições CVCH e CVMKCh promove ganhos de resistência aos 28
dias sob cura normal, provavelmente devida a falta de hidróxido de cálcio para a reação com a cinza
volante e metacaulim como pode ser visto na Figura 3 (a) e (b) que apresentam CV disponível para as
reações, mas não há mais CH na mistura, pois aos 28 dias todo CH gerado foi consumido pela CV e
MK como pôde ser confirmado na difratogrametria de raios X realizadas nessas amostras aos 28 dias e
apresentadas na Figura 6.

304
Anjos e Camões

80
28 dias cura ْ mida a 20±2‫؛‬
360 dias cura ْ mida a 20±2‫؛‬
28 dias cura banho térmico
70

Resistencia à compressao (MPa) 60

50

40

30

20

10

0
CV CVCH CVMK CVMKCH L500
composiçoes
Figura 4. Resistência dos CAA-RTC após a cura ambiente por 28 e 360 dias e cura térmica (40/60ºC).

Os concretos CVCh e CVMKCh submetidos a cura térmica apresentaram resistências superiores aos
concretos curados por imersão em água durante um ano. Esta maior resistencia dos concretos curados
a 40/60ºC se deve a maior disponibilidade de hidróxido de cálcio livre (CHL) para reagir com as
adições minerais CV e MK em comparação aos concretos sem adição de cal hidratada, CV e CVMK
que contém menores teores CHL, pois a partir de 7 dias as quantidade de CHL é muito baixa nas
misturas com elevados teores de adições minerias sob cura úmida [17].

A cura térmica promove a maturidade do concreto devido ao aumento da cinética de reação [19] e o
aumento da densidade dos produtos de hidratação como pode ser visto nas micrograficas eletrônicas
de varredura apresentadas na Figura 5, onde se verifica que as formulações CV e CVM após cura a
40/60ºC apresenta uma maior densidade quando comparado ao concreto CV curado a 20ºC.
Adicionalmente, verifica-se particulas de cinza volante que não reagiu quando a mistura CV foi curada
a 20ºC, comprovando a menor cinética da reação, desse concreto quando comparado ao concreto CV
curado a 40/60ºC onde se verifica uma estrutura mais densa. A densificação da matriz cimentícia é
observada quando as misturas têm silica adicional disponível mesmo em temperaturas muito elevadas
como as analisadas [5, 20].

305
Efeito do tempo e temperatura de cura em concretos autoadensáveis com reduzido teor de cimento

CV

(a) CV com 28 dias hidratação submetido a cura a (b) CV com 28 dias hidratação submetido a cura
temperatura ambiente com temperatura 40/60ºC

(a) CVMK com 28 dias hidratação submetido a (b) CVMK com 28 dias hidratação submetido a
cura a temperatura ambiente cura com temperatura 40/60ºC
Figura 5. Micrograficas eletrônicas de varredura (MEV).

A Figura 6 mostra os difratogramas de raios X dos CAA-RTC após cura ambiente por 28 dias e cura
térmica e permite verificar a inexistência de hidróxido de cálcio nas amostras de CV e CVMK após
cura aos 28 dias, corroborando com as micrograficas eletrônicas de varredura apresentadas nas Figuras
3 e 5, e com análises feitas nas pastas desses concretos apresentadas por Anjos [17]. No entanto, há
hidróxido de cálcio livre para a reação aos 28 dias nas pastas com adição de 5% de cal [17].

306
Anjos e Camões

600
1 = 3CaO · Al2O3 · CaSO4 ·16H2O 4 = Ca2SiO4 · H2O
2 = SiO2
2 5 = Ca5 ( SiO4 )2 ( OH )2 2
3 = CaAl2Si7O18 ·2H2O 2
500 1 5
1
CVMK
(cura
400 térmica) 2 1
1 2
4 2
1 3
intensity (cps) 300 2
CVMK
1
200 CV 1 5
(cura
térmica) 1
100 2
4
CV 2 2
0

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55
2 theta (°)
Figura 6. Difratogramas de raios X das composições de CAA-RTC após cura ambiente e cura térmica.

CONCLUSÕES

A cinza volante e o metacaulim são excelente modificadores de viscosidade para concretos


autoadensáveis com baixo consumo de cimento. Os CAA com consumos de cimento de 147 e 196 kg
por m3 de concreto produzem resistência moderada, entre 25 e 40 MPa quando hidratados a
temperatura ambiente aos 28 dias e resistências entre 37 e 58 MPa aos 90 dias e 52 a 65 MPa aos 360
dias. As resistências são sempre maiores nos CAA-RTC que utilizaram 5% de cal hidratada sobre a
massa do ligante.

Os CAA com reduzidos teores de cimento promovem uma significativa redução nos coeficientes de
absorção de água por capilaridade, devido ao efeito físico de preenchimento de poros verificados por
MEV e químico de reacção pozolânica verificado por DRX.

A cura térmica utilizada promove a maturidade das resistência à compressão, propiciando resistências
de 46 a 70 MPa aos 28 dias, superando as resistências atingidas aos 360 dias nos traços com cal
hidratada. Os CAA com reduzidos teores de cimento apresentam-se mais compactos após cura térmica
e com mais compostos hidratados do tipo silicato de cálcio.

AGRADECIMENTOS

À CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível pela concessão de bolsa de pós-


doutorado ao primeiro autor, processo 6517-10-2.

REFERÊNCIAS

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Trans Tech Publ; 2015. p. 172-81.
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cement content. Cement and Concrete Composites. 2003;25(2):215-22.
[3] Isaia GC, Gastaldini ALG. Concrete sustainability with very high amount of fly ash and slag.
RIEM-Revista IBRACON de Estruturas e Materiais. 2009;2(3).

307
Efeito do tempo e temperatura de cura em concretos autoadensáveis com reduzido teor de cimento

[4] Camões A. Durability of high volume fly ash concrete. International RILEM Workshop on
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and Concrete Research. 1986;16(2):227-38.
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Concrete Research. 1988;18(4):571-83.
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Cement and Concrete Composites. 2010;32(8):555-62.
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compacting and sustainable concrete. Cement and Concrete Composites. 2014;45:136-47.
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concretes. Cement and Concrete Composites. 2008;30(10):880-6.
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conformidade Instituto Português da Qualidade. 2006.
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[15] LNEC E. E 393-1993. Determinação da absorção de água por capilaridade.
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compacting concrete with coarse recycled aggregates. Construction and Building Materials.
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compacting and sustainable concrete. Cement and concrete composites. 2013.
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submitted to high temperature and pressure. Materials Science and Engineering: A. 2011;529:49-
54.

308
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

Indicadores de durabilidade de concreto auto-adensável em


ambiente quente e agressivo. Comparativo com concreto
convencional

Carlos Calado1 Aires Camões2 Eliana


Monteiro3

Paulo Helene4 Béda


Barkokébas5

RESUMO

O concreto auto-adensável (CAA) necessita de ser mais estudado no que concerne à durabilidade em
ambientes mais agressivos e de maior temperatura, comparativamente ao concreto convencional
vibrado (CC). O presente trabalho objetiva apresentar os resultados de indicadores de durabilidade de
CAA e CC de igual relação água/ligante e mesmos constituintes. A metodologia aplicou ensaios de
resistência mecânica, resistividade elétrica, difusão de íons cloreto e carbonatação acelerada, dentre
outros, bem como estudo de micro estrutura com ensaios de microscopia eletrônica de varredura e
micro tomografia. Os ensaios se desenvolveram em laboratório de pesquisa e na obra da Arena
Pernambuco. O CAA apresentou resistência à compressão 7,4% maior que o CC aos 28 dias;
resistividade elétrica média 11,4% superior; difusão de íons cloreto com média de 63,3% do CC;
frente de carbonatação com média de 45,8% do CC; porosidade com média de 55,6% do CC. Pelos
resultados, ficou demonstrado que o CAA pode ser mais durável que o CC, contribuindo para elucidar
os aspectos relacionados à sua durabilidade e consequente vida útil.

Palavras-chave: concreto auto-adensável (CAA), concreto convencional vibrado (CC) e durabilidade

1. INTRODUÇÃO
Nas estruturas, o concreto normalmente estará associado a armaduras formando o concreto armado ou
o concreto protendido. A estrutura interagirá com o meio ambiente onde ela se insere e,
consequentemente, seus materiais constituintes estarão sujeitos a desenvolver reações que possam
alterar suas condições iniciais, deixando eles de cumprir o papel para o qual foram projetados,
comprometendo-se assim sua durabilidade. Segundo Neville [1] o concreto deve ser capaz de suportar
o processo de deterioração que se espera quando ele está exposto ao meio ambiente. Quando isso
ocorre, pode-se dizer então que o concreto deverá ser durável. Porém, vida útil indefinida não significa
durabilidade, muito menos suportar qualquer ação sobre o concreto. Neville [1] reconhece que sempre
se deu maior importância à propriedade de resistência do concreto, no entanto, nos dias atuais se
assume que concreto forte é concreto durável, e que tanto resistência quanto durabilidade, ambas as
propriedades, devem ser consideradas e explicitadas ainda na fase de projeto.

1
C-TAC, Departamento de Engenharia Civil, Universidade do Minho, PORTUGAL. carlos.calado@upe.br
2
C-TAC, Departamento de Engenharia Civil, Universidade do Minho, PORTUGAL. aires@civil.uminho.pt
3
Programa de Engenharia Civil, Universidade Federal de Pernambuco, Brasil. eliana@poli.br
4
Departamento de Engenharia Civil, Universidade de São Paulo, Brasil. paulo.helene@concretophd.com.br
5
Departamento de Engenharia Civil, Universidade de Pernambuco, Brasil. beda.jr@upe.br

309
Indicadores de durabilidade de concreto auto-adensável em ambiente quente e agressivo.
Comparativo com concreto convencional

Entende-se que à exceção dos danos mecânicos, as influências adversas sobre a durabilidade envolvem
o transporte de fluidos tais como água pura ou carreando íons cloreto, gás carbônico e oxigênio. Esses
fluidos, líquidos e gases, podem penetrar e se mover dentro do concreto em diferentes caminhos
através de meio poroso, não apenas pela fluidez, mas também pela difusão e absorção. Os poros
interconectados contribuem para elevar a permeabilidade. Já a absorção é o resultado do movimento
capilar nos poros do concreto que estão abertos ao meio ambiente, onde a sucção capilar pode ocorrer
apenas nos concretos parcialmente secos, inexistindo absorção de água em concretos totalmente secos
ou saturados. Por outro lado, a difusão ocorre quando o transporte de um gás ou vapor através do
concreto é o resultado de gradiente de concentração e não de um diferencial de pressão, onde gás
carbônico leva à carbonatação da pasta hidratada e o oxigênio permite o progresso da corrosão das
armaduras envolvidas pelo concreto. Assim, concreto denso e pouco permeável reduz muito o ingresso
de agentes agressivos no seu interior, limitando os ataques corrosivos apenas à sua superfície. Relação
água/cimento, temperatura, grau de hidratação, adições minerais, porosidade capilar, permeabilidade,
dentre outros fatores, influenciam nas propriedades de durabilidade do concreto auto-adensável (CAA)
e concreto convencional vibrado (CC) [2,3,4].

No Brasil, a partir de 2003 com a entrada em vigor da nova norma NBR 6118 Projeto de estruturas de
concreto – Procedimento [5], o conceito e as medidas para obtenção de maior durabilidade das obras
em concreto passaram a fazer parte mais efetiva da atuação dos projetistas de estruturas de concreto no
desenvolvimento dos seus trabalhos. O Recife, cidade litorânea, capital do estado de Pernambuco,
considerada a quinta maior população metropolitana do Brasil com 3,9 milhões de habitantes
(julho/2014), combina condições especialmente nocivas para estruturas de concreto armado, tais como
valores médios anuais para temperatura máxima igual a 29,1oC, umidade relativa do ar igual a 79,8%,
precipitação pluviométrica de 2.417,6mm, horas de sol igual a 2.550,7h, além da atmosfera marinha
em face à proximidade do mar (Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Recife#Clima) [6]. Trata-se,
portanto, de um ambiente propício para aumento da taxa de difusão dos cloretos e contaminação por
carbonatação no concreto, dentre outros fatores que contribuem para a deterioração do concreto e suas
armaduras. A quantidade das obras de concreto convencional que não atingem a idade prevista no
projeto tende a ser mais elevada, caso medidas mitigadoras não sejam adotadas nas etapas de projeto,
execução e manutenção [7,8,9]. Outro aspecto relevante na região do Recife foi a ocorrência de
patologias tipificadas como reação álcali-agregado [10].

Para os estudos em laboratório de pesquisa buscou-se estabelecer duas composições similares de


concreto, uma para CAA (CAA_Lab) e outra para CC (CC_Lab), com constituintes usualmente
encontrados e aplicados na região em estudo, assegurando-se maior identidade e representatividade
possíveis com os concretos ali aplicados. Considerou-se a similaridade entre as composições de
CAA_Lab e CC_Lab devido à adoção da mesma relação água/ligante e cimento/finos, bem como
aplicação dos mesmos constituintes em ambas as composições. Os estudos desenvolvidos foram feitos
através de ensaios no concreto endurecido de resistência à compressão, resistividade elétrica, difusão
de íons cloreto, carbonatação acelerada, cálculo do índice de vazios, e absorção de água por
capilaridade, aplicados a amostras de CAA_Lab e CC_Lab. É possível encontrar bibliografia
específica recente abrangendo aspectos relacionados com durabilidade e resistência aplicados para
CAA e CC, a partir de variação na relação água/cimento, cimento, composição do ligante, adições
minerais como metacaulim. Esses estudos tiveram por objetivo avaliar o comportamento do CAA e do
CC, comparando o desempenho entre eles, para resistência a sulfatos, carbonatação, porosidade,
resistividade elétrica, permeabilidade, penetração de cloretos. Os resultados demonstraram que em
geral o CAA apresenta melhor desempenho que o CC e que é possível estabelecer uma composição
mais adequada para cada concreto de determinada característica de resistência e durabilidade
requeridas em face das solicitações mecânicas e condições ambientais onde o concreto se insere
[11,12,13].

310
Calado, Camões, Monteiro, Helene e Barkokébas

2. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

2.1 Método de dosagem, constituintes e composições dos concretos utilizados na pesquisa

O método de dosagem de concreto INT/Lobo Carneiro [14] foi aplicado nesse estudo. Trata-se de um
método que tem por referência, principalmente, a busca constante de uma proporção ótima a partir das
composições granulométricas dos agregados em questão, procurando obter uma mistura de concreto
com a máxima compacidade possível. As atividades, variáveis e informações de entrada do método
podem ser assim resumidas: a resistência de dosagem exigida a uma determinada idade e exigências de
durabilidade conduz ao tipo de cimento; curvas de Abrams e fator água/cimento em função das
exigências de trabalhabilidade conduzem à relação água/cimento; processo de adensamento e
dimensão máxima característica do agregado conduz à relação água/materiais secos, que associado à
relação água/cimento, conduz à relação agregado/cimento; em seguida determina-se a percentagem de
cimento na composição do concreto e, na sequência, a determinação das proporções dos agregados
constituintes da mistura, através das curvas granulométricas ótimas propostas por Lobo Carneiro.

As composições adotadas para o CAA e o CC procuraram assegurar maior similaridade entre elas.
Assim, buscou-se encontrar a quantidade de cimento em cada composição que permitisse obter a
mesma relação água/cimento e relação cimento/finos. Dessa forma, para as composições aplicadas nos
ensaios nos laboratórios de pesquisa, obteve-se 419 kg/m3 de cimento para o CAA e 416 kg/m3 de
cimento para o CC. Também, os demais constituintes utilizados tais como agregados e aditivos, foram
os mais usualmente aplicados na região de Recife, destacando-se ainda o emprego de adição
metacaulim nas composições para aplicação nos laboratórios de pesquisa, CAA_Lab e CC_Lab,
devido ao fato de que o metacaulim vem sendo utilizado como alternativa para combater
preventivamente reações deletérias do tipo álcali-agregado conforme verificado na região [15].

Para os estudos em laboratório de pesquisa utilizou-se cimento Portland CP-V ARI, alta resistência
inicial, que é equivalente na Europa ao cimento CEM-I 42,5. Os aditivos aplicados foram: plastificante
com alto poder de redução de água, composto por sais sulfonados e carbohidratos em meio aquoso,
densidade igual a 1,19 kg/litro e pH de 5,5; aditivo líquido superplastificante de pega normal de
terceira geração, composto por solução de policarboxilatos em meio aquoso, densidade igual a 1,06
kg/litro e pH de 5,0. Os agregados finos e grossos utilizados foram os disponíveis no mercado, e os
mesmos aplicados para as duas composições CAA_Lab e CC_Lab. O agregado grosso foi britado, a
partir de rocha granítica, e o agregado fino utilizado foi de origem quartzosa, extraída de jazida de
leito de rio. A água utilizada para as composições para ensaios em laboratório foi fornecida pela
Compesa, a concessionária local de água tratada para consumo da população.

O Quadro 1 apresenta as composições para CAA e CC adotadas nos ensaios da presente pesquisa,
CAA_Lab e CC_Lab. As quantidades de cada um dos constituintes estão indicadas para cada metro
cúbico de concreto. No Quadro 1 apresenta-se, também, o resultado do ensaio de abaixamento
realizado para o CC e do ensaio de espalhamento do CAA.
Quadro 1. Composições de CAA e CC para realização dos ensaios.
Componentes Unidade CAA_Lab CC_Lab
Cimento CP-V ARI kg/m3 419 416
Metacaulim kg/m3 36 36
Areia kg/m3 947 661
Brita 1 12.5 mm kg/m3 227 -
Brita 2 19.1 mm kg/m3 529 1028
Água kg/m3 205 203
Superplastificante kg/m3 5 0
Plastificante kg/m3 4,2 2,6
Água/ligante - 0,45 0,45
Cimento/fino - 0,92 0,92
Espalhamento ou abaixamento mm 700 120±20

311
Indicadores de durabilidade de concreto auto-adensável em ambiente quente e agressivo.
Comparativo com concreto convencional

2.2 Procedimento para obtenção dos corpos-de-prova utilizados nos ensaios da pesquisa

Os corpos-de-prova (CPs) aplicados nos ensaios da pesquisa foram obtidos em atendimento à NBR
5738 (2003) [16] no que concerne ao procedimento para moldagem e cura de corpos-de-prova.

Após atendimento às recomendações de moldagem e cura inicial, os CPs CAA_Lab e CC_Lab foram
armazenados em câmara úmida até o momento em que foram retirados para a realização dos ensaios.
A câmara úmida foi mantida à temperatura de (27 ± 2)oC, com umidade relativa do ar superior a 95%.

2.3 Resistência mecânica à compressão do concreto.

Foi realizado o ensaio de resistência mecânica à compressão axial em corpos-de-prova de concreto


endurecido nas idades de 3, 7, 14, 28, 56 e 90 dias de acordo com a ABNT NBR 5739 (2007). Para
esse ensaio foram preparados seis corpos de prova de geometria cilíndrica com 100 mm de diâmetro e
200 mm de altura, sendo: três de concreto auto-adensável (CAA) e três de concreto convencional
(CC), totalizando seis exemplares por cada uma das idades adotadas. Antes da execução dos ensaios,
as bases dos corpos-de-prova foram retificadas de acordo com a NBR 5738 (2003).

2.4 Resistividade elétrica do concreto.

A resistividade elétrica significa a capacidade relativa de um meio conduzir corrente elétrica. Dessa
forma, após a dissolução ou quebra da camada passivante, a resistividade do concreto passa a ser um
dos fatores que influenciam na velocidade de corrosão. O método de medida é não destrutivo e indica
a resistividade superficial do concreto, que depende preponderantemente da quantidade de eletrólito,
água e sais, contidos nos interstícios do concreto [17]. O ensaio de resistividade elétrica foi realizado
de acordo com a RILEM TC154-EMC [18]. Para esse ensaio foram preparados seis corpos-de-prova,
sendo: três de concreto auto-adensável (CAA_Lab) e três de concreto convencional vibrado
(CC_Lab), totalizando seis exemplares. Os corpos-de-prova utilizados tinham dimensões de 100 mm
de diâmetro e 200 mm de altura. As leituras de resistividade elétrica foram realizadas para as idades
de 3, 7, 28, 56 e 90 dias. A ‘Fig 1’ e a ‘Fig 2’, mostram o equipamento sendo aplicado para a medição
da resistividade elétrica nos corpos-de-prova.

Figura 1. Visualização do equipamento. Figura 2. Medição da resistividade elétrica.

O critério empregado para análise e classificação da taxa de corrosão provável, em função da


resistividade elétrica do concreto, está apresentado no Quadro 2, de acordo com o CEB 192 [19].

Quadro 2. Probabilidade de corrosão em função da resistividade elétrica CEB 192 [19].


Resistividade do concreto ρ(kΩ.cm) Taxa de corrosão provável
> 20 Desprezível
Entre 10 e 20 Baixa
Entre 5 e 10 Alta
<5 Muito alta

2.5 Ensaio de difusão de íons cloreto

A difusão de cloretos pela pasta de cimento é importante de ser avaliada uma vez que esses íons
podem levar ao desencadeamento do processo de corrosão das armaduras, uma das manifestações
patológicas mais comumente identificadas no concreto. Estima-se que a taxa de difusão varie
linearmente com a temperatura e seja inversamente proporcional à idade do concreto (ABCP, 2012).
Foram realizados no laboratório da ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland) os ensaios de
determinação da difusão de íons cloreto em corpos-de-prova nas idades de 28 e 90 dias, de acordo

312
Calado, Camões, Monteiro, Helene e Barkokébas

com a ASTM C1202 [20]. Para esse tipo de ensaio em laboratório foram preparados seis corpos-de-
prova, sendo: três de concreto auto-adensável (CAA) e três de concreto convencional vibrado (CC),
totalizando seis exemplares por cada uma das idades adotadas. A carga total passante em Coulombs
(C) é relacionada com a resistência do concreto à penetração de íons cloretos. Os resultados obtidos
são semiquantitativos, tendo em vista a amplitude das faixas classificatórias apresentadas na ASTM
C1202 [20], conforme apresentado no Quadro 3 a seguir.

Quadro 3. Critério de classificação para difusibilidade de cloretos. ASTM C1202 [20].


Carga passante Penetração de Típico
(Coulombs) íons cloretos
> 4000 Elevada Elevada relação a/c (> 0,60)
2000 - 4000 Moderada Moderada relação a/c (0,40-0,50)
1000 - 2000 Baixa Baixa relação a/c (< 0,40)
100 - 1000 Muito baixa Concreto látex modificado
< 100 Desprezível Concreto com polímero impregnado

2.6 Ensaio de carbonatação acelerada

O ensaio de carbonatação acelerada foi realizado em amostras de concreto endurecido com idades de
28 e 90 dias que seguiu recomendações da RILEM TC056-CPC-18 [21]. Para esse ensaio foram
preparados oito corpos-de-prova para cada uma das idades, sendo: quatro de concreto auto adensável
(CAA_Lab) e quatro de concreto convencional (CC_Lab), totalizando dezesseis amostras de
geometria cilíndrica de 100 mm de diâmetro e 200 mm de altura. Os corpos-de-prova ficaram
armazenados em condições de laboratório até o momento da realização do ensaio, até constância de
massa mantendo-se as condições de umidade e temperatura similares às da câmara de carbonatação.
Os corpos-de-prova submetidos ao ensaio de carbonatação acelerada foram acondicionados em uma
câmara de carbonatação com um teor de 7,5±2,5% de CO2, umidade relativa interna de 70±10% e
temperatura média de 29oC. O tempo de exposição na câmara de carbonatação foi de 22 dias corridos.
Considerou-se suficiente esse período para atendimento ao objetivo de obtenção de comparativo entre
os resultados para as amostras de CAA e CC. Transcorridos os 22 dias de ensaio, os corpos-de-prova
foram retirados da câmara e rompidos no sentido longitudinal. Posteriormente foi aspergida solução de
fenolftaleína a 0,1% nas superfícies recém-expostas, quando então foram medidos os oito maiores
pontos de avanço da frente de carbonatação conforme mostrado na ‘Fig 3’ e na ‘Fig 4’.

Figura 3. Visualização da carbonatação. Figura 4. Medição da carbonatação.

2.7 Ensaio de absorção de água por capilaridade

Foi realizado o ensaio de determinação da absorção de água por capilaridade em concreto endurecido
de acordo com a ABNT NBR 9779 (2012), que prescreve o método para determinação da absorção de
água, através de ascensão capilar, de argamassa e concreto endurecidos. Para esse ensaio foram
preparados seis corpos-de-prova, sendo: três de concreto auto-adensável (CAA) e três de concreto
convencional (CC), totalizando seis exemplares por cada uma das idades adotadas. As idades adotadas
nos ensaios em laboratório de pesquisa foram 28 e 90 dias. A absorção de água por capilaridade deve
ser expressa em g/cm2 e calculada dividindo o aumento de massa pela área da seção transversal da
superfície do corpo de prova em contato com a água, de acordo com a ‘Eq. (1)’.

(1)

313
Indicadores de durabilidade de concreto auto-adensável em ambiente quente e agressivo.
Comparativo com concreto convencional

Onde: C = absorção de água por capilaridade, em g/cm2; A = massa do corpo de prova que permanece
com uma das faces em contato com a água durante um período de tempo especificado, em g; B =
massa do corpo de prova seco, assim que este atingir a temperatura de (23+/-2)oC, em g; S = área da
seção transversal, em cm2.

2.8 Ensaio de cálculo do índice de vazios.

Foi realizado o ensaio de determinação do índice de vazios em concreto endurecido de acordo com a
ABNT NBR 9778 (2009). As idades adotadas nos ensaios em laboratório de pesquisa foram 28 e 90
dias. Para os efeitos da Norma, aplicam-se as seguintes definições: Absorção de água por imersão (A)
= processo pelo qual a água é conduzida e tende a ocupar os poros permeáveis de um corpo sólido
poroso, portanto, o incremento de massa devido a essa penetração de água, em relação à sua massa em
estado seco; Índice de vazios (Iv) = relação entre o volume de poros permeáveis e o volume total da
amostra; Massa específica da amostra seca (ρs) = relação entre a massa do material seco e o volume
total da amostra, incluindo os poros permeáveis e impermeáveis; Massa específica da amostra
saturada (ρsat) = relação entre a massa do material saturado e o volume total da amostra, incluindo os
poros permeáveis e impermeáveis; Massa específica real (ρr) = relação entre a massa do material seco
e o seu volume, excluindo os poros permeáveis. Para esse ensaio foram preparados seis corpos-de-
prova, sendo: três de concreto auto-adensável (CAA) e três de concreto convencional (CC),
totalizando seis exemplares. Os resultados foram obtidos aplicando-se as ‘Eqs (2), (3) e (4)’.
A (absorção) = [(msat - ms) / ms] x 100 (2)
Iv (índice de vazios) = [(msat - ms) / (msat – mi)] x 100 (3)
ρs (massa específica da amostra seca) = ms / (msat – mi) (4)
Onde: msat = massa saturada; mi = massa da amostra saturada imersa em água após fervura; ms =
massa seca determinada nos corpos-de-prova após secagem em estufa por período de 72 h.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Resistência mecânica à compressão

O Quadro 4 apresenta os resultados de resistência mecânica à compressão em laboratório de pesquisa.


Quadro 4. Resultados dos ensaios de resistência à compressão em MPa.
Idade (dias) CAA_Lab CC_Lab
3 33,98  1,71 32,32  1,33
7 36,19  4,87 33,03  2,70
14 44,69  1,31 40,39  0,90
28 45,86  2,33 42,69  0,25
56 45,36  2,38 43,80  0,52
90 54,44  2,57 43,28  1,55

Analisando-se o Quadro 1, verifica-se que as composições adotadas para CAA e CC são bastante
similares: praticamente mesmo consumo de cimento, 419 kg/m3 para CAA e 416 kg/m3 para CC; igual
consumo de adição de metacaulim, 36 kg; igual relação água/ligante de 0,45; igual relação
cimento/finos de 0,92. Esperavam-se então resistências muito próximas para o CAA e o CC. A
principal diferença entre os concretos aplicados foi a utilização dos aditivos: 0,58% de
plastificante/ligante para o CC e 0,92% de plastificante/ligante mais 1,10% de
superplastificante/ligante para o CAA. Assim, pode ser estabelecida a hipótese de que os aditivos
melhorem a hidratação do cimento, além do fato do CAA conter maior quantidade de agregados finos,
provocando dessa forma aumento no resultado final da resistência do CAA em relação ao CC.
Desnerck [22] em seu trabalho de pesquisa, baseado em banco de dados com mais de 250 resultados
de artigos publicados, encontrou na comparação entre resistências à compressão aos 28 dias de idade
para CAA e CC, valores 10% mais elevados para o CAA, atribuída à maior densidade da sua
microestrutura.

314
Calado, Camões, Monteiro, Helene e Barkokébas

3.2 Resistividade elétrica do concreto

Apresenta-se na Figura 5, a média dos resultados dos ensaios de resistividade elétrica, três medições
para cada idade e concreto, expresso em kΩ.cm, para as amostras de CAA_Lab e CC_Lab, nas idades
de 3, 7, 28, 56 e 90 dias. Aos 28 dias, o CAA apresentou resistividade 9,1% superior em relação ao
CC, enquanto que aos 90 dias esse percentual foi de 7,3%. Esse melhor desempenho do CAA pode ser
explicado como o CAA apresentando-se com melhor hidratação em relação ao CC. Por outro lado,
considerando o Quadro 2 que apresenta a probabilidade de corrosão em função da resistividade
elétrica do concreto com base no CEB 192 (1989), verifica-se que CAA e CC, tanto aos 28 dias
quanto aos 90 dias, apresentaram probabilidade desprezível de corrosão, apesar da maior resistividade
do CAA em relação ao CC. Esse resultado do CAA_Lab em relação ao CC_Lab, pode levar à
conclusão de tratar-se de melhor desempenho de durabilidade uma vez que maior resistividade do
concreto diminui a probalidade de ocorrer corrosão nas armaduras. No entanto, também é possível
estabelecer que a maior resistividade apresentada pelo CAA pode dever-se a uma maior perda de
umidade ao longo do tempo decorrente de uma maior porosidade interconectável (menor
durabilidade).

Figura 5. Resultados de resistividade elétrica. Figura 6. Resultados de carbonatação acelerada.

3.3 Ensaio de carbonatação acelerada

Na Figura 6, têm-se os resultados para determinação dos valores de profundidade de carbonatação no


concreto com base nos ensaios de carbonatação acelerada realizados em amostras de CAA_Lab e
CC_Lab, nas idades de 28 e 90 dias. Os resultados obtidos e apresentados são valores médios de cada
grupo de quatro amostras. Verificou-se coerência nos resultados obtidos. Seja para o CAA, seja para o
CC, a frente de carbonatação foi maior aos 90 dias que aos 28 dias. Como foi comentado
anteriormente ao analisarem-se os resultados de resistividade elétrica, verificou-se maior umidade nas
amostras de CAA e CC aos 28 dias. O que nos leva a crer que a carbonatação tem menor possibilidade
de ocorrer nos concretos com maior umidade, já que os poros se encontram cheios de água
dificultando, dessa forma, a entrada do CO2. Assim, a constatação de que a frente de carbonatação
para CAA e CC foi superior aos 90 dias pode ser explicado pelo fator umidade do concreto. Sabe-se
que, com a umidade em torno de 50 e 75%, obtém-se maior penetração de CO2 segundo o BRE
DIGEST 263 [23]. Por outro lado, tanto na idade aos 28 dias, quanto na idade aos 90 dias, os valores
para frente de carbonatação obtidos foram maiores, em média, para o CC em relação ao CAA, da
ordem de 245% aos 28 dias e 60% aos 90 dias. Esses resultados também são melhores que os
resultados encontrados por Hartmann; Helene [24] em concreto convencional (33 MPa) onde
apresentou profundidade de carbonatação de 2,8 cm quando submetido a carbonatação acelerada à
temperatura de 25oC, umidade relativa do ar de 65 % e CO2 de 5 %. Assim, constatou-se que, pelo
aspecto carbonatação acelerada, o CAA_Lab apresentou melhor desempenho que o CC_Lab, uma vez
que quanto maior a frente de carbonatação do concreto espera-se menor durabilidade para esse
concreto.

3.4 Ensaio de difusão de íons cloreto

Apresenta-se a seguir, através da Figura 7, os resultados dos ensaios de difusão de íons cloreto
realizados em laboratório de pesquisa, que se referem ao coeficiente de difusão de cloretos obtidos em
ensaio de difusão por imersão no estado não estacionário, para as amostras de CAA_Lab e CC_Lab

315
Indicadores de durabilidade de concreto auto-adensável em ambiente quente e agressivo.
Comparativo com concreto convencional

nas idades de 28 e 90 dias. Foi considerada a média das medições em cada uma das amostras
ensaiadas, e o resultado (C) que representa a carga média passante em Coulombs. Em relação aos
resultados desses ensaios, aos 28 dias o CC apresentou carga média passante em Coulombs 83,2%
superior em relação ao CC, enquanto que aos 90 dias esse percentual foi de 38,9%. Quanto maior a
carga passante em Coulombs, maior será a penetração de íons cloreto o que acarretará redução da
durabilidade do concreto e suas armaduras. Esse melhor desempenho do CAA_Lab em relação ao
CC_Lab, apesar da mesma relação água/ligante igual a 0,45, pode ser explicado como o CAA
apresentando-se melhor selado internamente em relação ao CC. Tomando-se por base a ASTM C 1202
[20], os resultados apontaram difusão de íons cloreto classificados como muito baixa para o CAA e
baixa para o CC, tanto para os 28 dias, quanto para os 90 dias. Hartmann; Helene [24] analisando
resultados de um concreto de 125 MPa de resistência à compressão comparado com um concreto com
33 MPa, obteve resultados de penetração de íons cloreto através do ensaio de difusão de 43C e 8000C,
respectivamente. O que nos leva a crer que os resultados obtidos para o CAA neste ensaio da pesquisa
mostraram excelente desempenho.

Figura 7. Resultados de difusão de íons cloreto Figura 8. Resultados de índice de vazios

3.5 Cálculo do índice de vazios do concreto


Na Figura 8, têm-se os resultados dos ensaios de cálculo do índice de vazios realizados em laboratório
de pesquisa, para as amostras de CAA e CC, nas idades de 28 e 90 dias. Foi considerada a média das
medições em cada uma das amostras ensaiadas, e os resultados estão expressos em percentual (%).
Tanto na idade aos 28 dias, quanto na idade aos 90 dias, os índices de vazios obtidos foram maiores
para o CC em relação ao CAA, da ordem de 22% aos 28 dias e 15% aos 90 dias. Os resultados
encontrados foram melhores que os resultados obtidos por Helene [24] nos ensaios realizados com um
concreto convencional com 33 MPa, onde foram obtidos resultados de 5,8% de absorção após imersão
e fervura e índice de vazios, após saturação e fervura, de 15,1%.
3.6 Ensaio de absorção de água por capilaridade
Apresenta-se a seguir, através da Figura 9, os resultados dos ensaios de absorção de água por
capilaridade realizada em laboratório de pesquisa, para as amostras de CAA e CC, para as amostras de
CAA e CC nas idades de 28 e 90 dias. Foi considerada a média das medições em cada uma das
amostras ensaiadas, e os resultados da absorção de água estão expressos em g/cm2. Tem-se que: LP 28
significa ensaios realizados no laboratório da pesquisa sendo 28 dias a idade da amostra, e LP 90 com
a idade de 90 dias. Nos ensaios em laboratório de pesquisa, verificou-se que os resultados aos 28 dias
mostraram-se aproximados para CAA e CC, enquanto que os resultados aos 90 dias não apresentaram
diferenças significativas entre o CAA e o CC. Monteiro [25] também observou nos seus ensaios de
absorção capilar, nos três tipos de cimentos estudados, nenhuma diferença significativa para corpos-
de-prova com diferentes idades de cura.

Figura 9. Resultados dos ensaios de absorção de água por capilaridade nos ensaios realizados

316
Calado, Camões, Monteiro, Helene e Barkokébas

CONCLUSÕES

Através da metodologia utilizada, com ensaios específicos aplicados em laboratório de pesquisa,


podem-se comparar os dois tipos de concretos, auto adensável e convencional vibrado, em relação a
durabilidade frente aos agentes agressivos. Com base nos resultados obtidos, para além do melhor
desempenho de resistência mecânica à compressão do CAA em relação ao CC, é possível observar
que:

 O Concreto auto adensável apresentou melhor eficiência através dos resultados dos ensaios aqui
estudados comparados com o concreto convencional vibrado contribuindo para elucidar os aspectos
relacionados à sua durabilidade, e, por consequência, a confiabilidade da aplicação de CAA em
ambientes mais agressivos. Assim, fica demonstrado que o uso de CAA em lugar de CC de
composição similar, pode contribuir para maior durabilidade das estruturas.
 O ensaio de resistividade elétrica mostrou que os resultados do CAA apresentaram taxa de corrosão
provável desprezível para as idades de 28 e 90 dias, com valores absolutos de resistividade
superiores ao CC. Assim, tem-se o possível indicativo de que o CAA demonstrou ser mais durável
que o CC.
 O ensaio de difusão de cloretos classificou a penetração de cloretos provável como muito baixa
para o CAA e baixa para o CC, tanto para os 28 dias, quanto para os 90 dias. Assim, o ensaio de
difusão de cloretos confirma o ensaio de resistividade e tem-se também o indicativo de que o CAA
demonstrou ser mais durável que o CC.
 No ensaio de absorção de água por capilaridade ficou demonstrado que os desempenhos do CAA e
CC foram similares.
 No ensaio de índice de vazios, o CAA apresentou valores menores que o CC, o que representa
indicativo de maior durabilidade.
 No ensaio de carbonatação acelerada tanto na idade aos 28 dias, quanto na idade aos 90 dias, os
valores para frente de carbonatação obtidos foram maiores, em média, para o CC em relação ao
CAA. Porém, constatou-se que a frente de carbonatação para CAA e CC foi superior aos 90 dias,
possivelmente devido a maior umidade no concreto aos 28 dias dificultando a entrado do CO 2.
Dessa forma, o CAA apresentou-se com indicativo de maior durabilidade em relação ao CC.

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Mestrado, UNB, Brasília, Brasil, pp. 132.

318
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

Avaliação da fissuração devido a retração plástica nas primeiras


idades de argamassas de Concreto de Alto Desempenho e
Concreto Auto Adensável

M.P. Barbosa 1 G.F. Maciel 2

RESUMO

O controle da fissuração nas primeiras idades dos concretos com baixa relação água/cimento e elevado
consumo de adições minerais é importante, pois estas condições provocam a diminuição dos poros
formados e reduz o aparecimento de capilares, tornando assim mais propensa a fissuração por retração
plástica.

Segundo Newman e Choo (2003), a retração plástica é uma ação física causada principalmente por
forças de tensão superfícial que provocam deformações antes do início de pega do concreto, isto é;
quando o concreto está no estado plástico. De acordo com Acker, Torrenti e Guérinet (2008), a
retração plástica também depende das condições climáticas as quais o concreto é submetido (umidade,
temperatura e velocidade do vento) e será limitada, principalmente, pelas condições de cura.

O presente trabalho teve como objetivo avaliar a fissuração por retração plástica de argamassas
extraidas de concretos com baixa relação a/c e alto consumo de adição mineral (Concreto de Alto
Desempenho – CAD e Concreto Auto Adensavel – CAA). Os ensaios de fissuração foram conduzidos
utilizando ferramentas de tratamento de imagens e análise quantitativa. A composição dos concretos
foi desenvolvida a partir de conceitos reológicos e de empacotamento de particulas. As condições
climáticas dos ensaios de fissuração foram controladas, sendo estudadas amostras sob a condição com
e sem vento.

Os resultados obtidos, para as primeiras idades, das argamassas do concreto de alto desempenho e
concreto auto adensavel ensaiadas, demonstraram a influência do empacotamento das particulas, da
quantidade de adição mineral, da relação a/c e das condições climáticas que foram submetidas as
amostras sobre a fissuração.

Palavras-chave: concreto auto-adensavel, concreto de alta resistência, fissuração, retração plastica,


reologia

1
Pontificia Universidade Católica de Campinas- PUC-Campinas, CEATEC, Campinas-SP, Brasil,
monica.barbosa@puc-campinas.edu.br
2
Universidade Estadual Paulista – UNESP, Depart. Eng. Civil, Ilha Solteira-SP, Brasil. maciel@dec.feis.unesp.br

319
Avaliação da fissuração devido à retração plástica nas primeiras idades de argamassas de Concreto de Alto
Desempenho e Concreto Auto Adensável

1. INTRODUÇÃO

Segundo Souza e Ripper (2009), "as fissuras podem ser consideradas como a manifestação patológica
característica das estruturas de concreto, sendo o dano de ocorrência mais comum e aquele que, a
par das deformações muito acentuadas, mais chama à atenção dos leigos, proprietários e usuários aí
incluídos, para o fato de que algo de anormal está a acontecer". Assim, se não houver um cuidado no
concreto para remoção e prevenção das fissuras, elas poderão posteriormente se agravar originando
problemas estruturais. Neville (1997) diz que elas podem se tornar um meio de entrada de agentes
agressivos, e podem influenciar de modo adverso a estanqueidade e a transmissão acústica de
estruturas.

Este tema tem chamado à atenção de diversos pesquisadores, entre estes pode-se destacar os trabalhos
desenvolvidos pelo grupo de pesquisa RMVP (Reologia de Materiais Viscosos e Viscoplásticos), que
tem se empenhado em pesquisar o comportamento reológico dos concretos especiais (concreto de alto
desempenho e concreto auto adensável).

Desde o processo de sua elaboração, sabe-se que o concreto de alto desempenho (CAD) apresenta um
baixo fator água/cimento e adição de aditivos superplastificantes e aditivos minerais, em geral a sílica
ativa, o que proporciona ganhos de resistência à compressão e fluidez, e longa durabilidade. Em
contrapartida, o baixo fator água/cimento acarreta ausência de exsudação, tornando necessária uma
maior cautela no processo de cura do material, o que faz com que esse tipo de concreto fique mais
exposto às fissuras de origem plástica, ou seja, aquelas causadas por retração plástica.

Define-se o CAA como o concreto fluído e homogêneo, capaz de mover-se no interior das fôrmas por
ação exclusiva do próprio peso, sem a necessidade de qualquer adensamento externo. Além disso, é
caracterizado pela alta resistência à segregação e à exsudação, devendo, ainda, possuir a habilidade de
passar pelos obstáculos sem apresentar bloqueio das partículas de agregado. O concreto auto-
adensável (CAA) também apresenta uma alta adição de aditivos superplastificantes e aditivos
minerais, “finos”, que podem intervir diretamente sobre a fissuração e retração plástica.

2. RETRAÇÃO PLÁSTICA

Retração é a redução de volume, no caso do concreto, causada por perda de água. Não existe, na
verdade, um único tipo de retração e este é o maior complicador. A retração pode acontecer desde os
primeiros minutos de mistura do material ou ao longo da vida da estrutura [1].

A retração pode se dar de quatro diferentes maneiras: retração plástica, retração autógena, retração por
secagem ou hidráulica e retração térmica.

A retração plástica, segundo Hasparyk et al., (2005) apud Tavares (2008),ocorre no concreto no estado
fresco, antes do fim da pega, por meio da evaporação da água da superfície exposta do concreto, ou
seja, é a retração que ocorre quando o concreto perde água ainda no estado plástico, resultando em
fissuração superficial facilmente observável.

O mecanismo de origem para ocorrer a retração plástica abrange aspectos que envolvem a evaporação
e a consequente perda de massa, capilaridade, temperatura interna e consolidação do material, sendo
assim observadas deformações verticais e longitudinais sobre as amostras.

A consolidação e a evaporação influenciam no ângulo de atrito entre as partículas sólidas do material


cimentício, assim como, outros parâmetros como o tamanho dos grãos e a hidratação do cimento,
alterando a cinética de retração do material.

A temperatura interna do material e a perda de massa durante a retração também influenciam na


cinética deste fenômeno. No primeiro caso a descontinuidade de temperatura em relação à temperatura

320
Barbosa e Maciel

externa e temperatura dos agregados pode ocasionar um diferencial de temperatura que interfere na
cinética da retração.

Outro fator importante na análise da deformação longitudinal da retração é o efeito dos aditivos
químicos e minerais. Segundo Neville [2], os aditivos retardadores de pega podem resultar em maiores
retrações do concreto no estado plástico.

Assim como a retração pode ser devido à remoção da água livre de hidratação ou pode ser causada por
uma secagem rápida da superfície devido à proteção inadequada, o que pode gerar pressões
significativas sobre os poros capilares, essas tensões entre as moléculas do material podem ser
acentuadas pela inclusão de materiais com diâmetros muito pequenos como a sílica ativa [3].

Segundo Holt e Leivo [4] a utilização de sílica é um dos principais motivos da fissuração por retração.
Sua utilização é muitas vezes atrelada ao ganho de resistência pela diminuição da relação
água/cimento, provocando uma escassez de água nas reações químicas do cimento, que, por
conseguinte, gera altas pressões capilares.

O fenômeno da retração plástica é exemplificado por Turcry [5] na Figura 1. Segundo o pesquisador
na Figura 1 (a) os grãos de cimento e as bolhas de ar estão suspensos na água, após isso as partículas
sólidas sedimentam devido à diferença de densidade enquanto as bolhas de ar sobem, Figura 1 (b).
Durante este fenômeno ocorre a exsudação da pasta de cimento, e a água é forçada a subir para a
superfície, Figura 1 (c), com a evaporação desta água formam-se meniscos na superfície e no interior
da pasta, Figura 1 (d).

Figura 1. Esquema do mecanismo da retração plástica de uma pasta de cimento (TURCRY, 2004).

A intensidade da retração plástica é influenciada pelas condições climáticas, pois a temperatura, a


direção do vento e a umidade do ar são fatores determinantes na perda de água. Se a quantidade de
água perdida for grande, a taxa de evaporação da água do concreto fresco será maior do que a
exsudação, podendo ocorrer fissurações.

2.1 Fissuração por retração

A norma DNIT 083/2006 – ES [6] define que “as fissuras são fenômenos próprios e inevitáveis do
concreto e que podem se manifestar em cada uma das três fases de sua vida: fase plástica, fase de
endurecimento e fase de concreto endurecido.” Durante a fase plástica do concreto, ou seja, antes de
ocorrer a pega do cimento, as fissuras podem surgir em virtude da retração plástica. Neste tipo de
retração o concreto ainda não apresenta significativa resistência mecânica, podendo então ocorrer
fissurações por retração plástica (Figura 2), onde a taxa de perda de água da superfície, por
evaporação, excede à taxa disponível de água de exsudação.

321
Avaliação da fissuração devido à retração plástica nas primeiras idades de argamassas de Concreto de Alto
Desempenho e Concreto Auto Adensável

Figura 2. Fissuras causadas por retração plásticas (ABQ, 2005).

A Norma DNIT 061/2004 -TER [7] diz que “fissuras de retração plástica são fissuras pouco
profundas ( superficiais) de pequena abertura (inferior a 0,5 mm) e de comprimento limitado. Sua
incidência costuma ser aleatória e elas se desenvolvem formando ângulo de 45º a 60° com o eixo
longitudinal da placa.” Oliveira et al (2014) afirma os tipos de fissuras causadas por retração plástica
são normalmente pequenas, paralelas e distantes uma das outras por volta de 30 a 90 mm. Elas são
caracterizadas por serem descontínuas e apresentarem um padrão aleatório, com comprimento
variando de 30 mm a 1 m e largura de 2 a 3 mm.

Segundo Mehta e Monteiro [8], as fissuras por retração plástica podem ser evitadas seguindo algumas
recomendações, como o umedecimento dos grãos quando secos, evitar o contato do vento com a
superfície do concreto, manter baixa a temperatura do concreto fresco e minimizar a evaporação
realizando a cura ideal do concreto.

A fissuração por retração plástica é uma patologia estudada e analisada com maior atenção quando se
trata de argamassas do CAA e de CAD. Tanto um como o outro concreto vinculam em suas
composições aditivos superplastificantes, retardadores de pega, entre outros, e possuem os teores de
finos incorporados maiores do que em concretos convencionais, exatamente para atender as
características de auto-adensabilidade no caso do CAA e de alta resistência no caso do CAD, ambos
apresentam fatores que remete a uma maior retração plástica e fissuração.

2.2 Determinação da fissuração

As técnicas de estudo das fissuras e microfissuras utilizam métodos diretos e indiretos, SILVA [9]. Os
métodos diretos são aqueles baseados em observação a olho nu, com utilização de uma lupa ou
microscópio. Para esses métodos a amostra deve estar seca. Já os métodos indiretos utilizam
informações qualitativas vinculadas indiretamente a fissuras e microfissuras. Dentre os métodos
indiretos, podem-se citar técnicas que utilizam ultrassom, penetração de mercúrio e simulações
numéricas.

Vários métodos diretos foram propostos a fim de avaliar a fissuração causada pela retração plástica de
materiais à base de cimento. Grande parte deles utilizam a avaliação visual e descrevem a largura,
comprimento e área das fissuras que ocorrem em dispositivos onde foi aplicada a amostra. Não existe,
no entanto, um método direto que seja capaz de medir a incidência de fissuras no estado fresco, em um
revestimento de argamassa e em concreto, por exemplo, sendo, portanto, utilizado apenas métodos
experimentais com base na visualização.

Segundo Gomes et al. [10] e Turcry [5] existem vários dispositivos desenvolvidos por diversos
pesquisadores a fim de avaliar o desenvolvimento da fissuração por retração plástica. A diferença
básica entre os métodos propostos são a geometria do molde, a quantidade e o tipo de restrições
colocadas no fundo do molde para induzir a fissuração. Os tipos descritos por Turcry [5] são:

322
Barbosa e Maciel

 Molde em forma de placa: são utilizadas para avaliar a incidência de fissuras em revestimentos
de argamassas ou concretos sob efeito da evaporação da água. O material cimentício é
depositado com uma pequena espessura sobre a superfície. A fissuração ocorre devido às
tensões no fundo da placa durante o efeito de secagem.
 Molde com restrições: o molde possui um fundo serrilhado ou com diferentes tamanhos de
‘dentes’ e estes são responsáveis pelo início de fissuração. A Figura 3 ilustra o molde usado por
Turcry [5] para avaliação da fissuração nas argamassas.

Figura 3. Molde com restrições para avaliação da fissuração em argamassas. TURCRY[5].

 Molde em forma de anel: o concreto é colocado em torno de um anel de aço, devido a cortes na
periferia da amostra são iniciadas as fissuras. Este método foi desenvolvido para restringir a
retração do concreto e induzir a ocorrência de fissuras de modo que as tendências pudessem ser
comparadas sob circunstâncias similares na prática.
 Molde em forma de bocal: a argamassa ou concreto é colocado no molde, onde uma das
dimensões é privilegiada. A fissuração é iniciada pela incorporação em ambas as extremidades
do feixe.

Os quatro tipos de ensaios medem o início de fissuração, comprimento ou área total de fissuração.
Outras medidas também podem ser avaliadas durante o ensaio como a taxa de evaporação ou a
exsudação.

3. PROGRAMA EXPERIMENTAL

3.1 Materiais

Para as composições do CAA e do CAD, o agregado miúdo utilizado foi uma areia média proveniente
de leito de rio e o agregado graúdo é uma brita basáltica de 16 mm, ambos provenientes da região
noroeste paulista. A areia teve sua massa específica mensurada em 2,61 g/cm³, com dimensão máxima
característica igual a 4,75 mm e módulo de finura 2,15 mm, conforme a ABNT NM 49/2001 [11] e
NBR 7211/2009 [12], respectivamente. A brita basáltica apresentou a massa específica de 2,86 g/cm³,
determinada segundo a ABNT NM 53/2009 [13], com dimensão máxima característica igual a 19 mm
e módulo de finura 6,74 mm, conforme a NBR 7211/2009 [12]. O cimento utilizado foi o CP II E-32,
c om massa específica de 3,05 g/cm3. A adição mineral utilizada na fabricação do CAA e do CAD foi
a adição de sílica ativa decorrente do processo de fabricação do sílico metálico ou do ferro sílico, com
microestrutura esférica e lisa e com propriedades pozolânicas. O Quadro 1 apresenta a composição das
argamassas do CAA e do CAD estudadas.

Quadro 1. composições das argamassas do CAA e do CAD.


Designação das Relação Cimento Sílica Areia Teor de fc28dias
argamassas a/c (kg/m³) (kg/m³) (kg/m³) aditivo (l) (MPa)
CAA 0,44 718,02 43,08 1109,16 2,15 48,2
CAD 0,34 362,3 120,8 603,8 5,80 73,0

3.2 Composições das argamassas de CAD

As composições de argamassas de CAD utilizadas para a avaliação da fissuração por retração plástica
foram provenientes de concretos de alto desempenho (CAD) com diferentes densidades de
empacotamento dosados por Oliveira [14]

323
Avaliação da fissuração devido à retração plástica nas primeiras idades de argamassas de Concreto de Alto
Desempenho e Concreto Auto Adensável

Oliveira [14] realizou um estudo de dosagens dos concretos de alto desempenho utilizando os
conceitos de reologia visando melhorias em suas propriedades reológicas e mecânicas. Com base nos
conceitos de reologia, foram determinados os teores ótimos de sílica ativa e de aditivo
superplastificante por meio do estudo reológico da pasta de cimento e da argamassa, onde foram
empregados os ensaios de fluidez com o cone de Marsh e o reométrico clássico, sendo este último
realizado com o reômetro R/S do tipo cilindro coaxial.

3.3 Composições das argamassas de CAA

As composições de argamassas do CAA foram provenientes dos ensaios realizados por Vita[15]. No
estudo de dosagens dos concretos auto-adensáveis foram também utilizados os conceitos de reologia,
por meio do estudo reológico da pasta de cimento e posteriormente da argamassa. No estudo da pasta a
determinação do teor ótimo das adições minerais foram feitas, separadamente e gradualmente,
realizando ensaios de fluidez com o Funil Marsh e análise reométrica utilizando reômetro de cilindro
coaxial com controle de tensão de cisalhamento. A temperatura e a umidade relativa do ar foram
mantidas rigorosamente constante à 24 ± 1 oC e 40 ± 10 %.

Para as determinações do ajuste de aditivo superplastificante e da quantidade de agregado miúdo na


composição das argamassas foram analisadas diferentes composições para obter misturas com fluidez,
deformabilidade e estabilidade requerida pelas argamassas de concretos auto-adensáveis. O ajuste do
volume de agregado miúdo nas argamassas foi executada obedecendo uma faixa de variação entre
40%, 42,5% e 45% em função do volume da argamassa.

Para a avaliação do teor de agregado miúdo foram executados ensaios de espalhamento, fluidez e
analise reométrica. O espalhamento foi medido por meio de um tronco cone, sendo avaliado o
diâmetro de abertura da argamassa da mesa de consistência, sem a aplicação de golpes. A fluidez foi
determinada pelo ensaio do Funil-V, medindo-se o tempo de escoamento total da argamassa. Na
analise reométrica foi utilizado reômetro com emprego do sistema vane. As Figuras 4(a), 4(b) e 4(c)
ilustram os equipamentos utilizados. Para a realização dos ensaios de fissuração das argamassas dos
concretos auto-adensáveis foi seguido o seguinte roteiro: produção do CAA; peneiramento do concreto
para extração da argamassa com peneira de abertura 5 mm; lançamento da argamassa na placa de
fissuração; ajuste da superfície da argamassa na placa.

(a) (b) (c)


Figura 4. (a) tronco de cone; (b) funil em V; (c) reometro R/S Rheometer.

3.4 Avaliação da fissuração por retração plástica

As pesquisas foram realizadas no laboratório de Reologia da UNESP/ISA, e fizeram parte do trabalho


desenvolvido por Oliveira [14] e Vita [15]. Ambas foram realizadas quando submetidas a condições
climáticas de ensaio distintas: ensaio sem vento e ensaio com a presença de vento, imposta de 5 m/s. A
temperatura e a umidade relativa do ar foram mantidas rigorosamente constantes a 24 ± 1°C e 40 ±
10 %, respectivamente, por um período de igual duração do tempo de pega do cimento, 11h35min para
o CAD e 7h50min para o CAA.

O equipamento utilizado para avaliação da fissuração das argamassas de CAA e de CAD consiste
numa placa metálica quadrada de 20 cm de lado com 1 cm de espessura (Figuras 5a, 5b e 5c). O fundo

324
Barbosa e Maciel

da placa é dentado simetricamente tendo cada dente 0,5 cm de altura. Os dentes propiciaram o
estímulo para a fissuração da argamassa ensaiada.

A preparação do ensaio seguiu as seguintes etapas: 1) Obtensão da argamassa do CAA; 2) Lançamento


da argamassa na placa de fissuração; 3) Nivelamento da superfície; 4) Enquadramento da superfície
exposta e conseguinte arquivamento fotográfico de cada zona e áreas mais afetadas, após o tempo de
pega do material.

A aferição da área total das fissuras foi realizada através do programa computacional Image Tool.
Além da aferição das características das fissuras foi realizada a filmagem do tempo total de ensaio de
fissuração compreendido entre o tempo do lançamento da argamassa na fôrma de fissuração até o
tempo final de pega da mesma.

A filmagem foi editada através do processo denominado “time-lapse”. Trata-se de um processo


cinematográfico em que cada frame de filme é tomado a uma velocidade muito mais lenta do que
aquela em que o filme será reproduzido. A preparação da filmagem do ensaio de fissuração em
argamassas inicia-se com a fixação da máquina fotográfica (Nikon D90) através de tripé com
nivelamento bolha em duas direções (Figuras 6a, 6b). Em seguida, é feito o ajuste do dispositivo
(Wireless Shutter Boss Timer Remote - Nikon DC-2 Connection) conectado à máquina fotográfica, o
qual dispara o frame em cada tempo adotado. Faz-se o enquadramento da fôrma de fissuração e ajuste
de foco manualmente e, a seguir, a edição do filme da fissuração das argamassas através do programa
Windows Move Maker. A Figura 7 ilustra o tratamento de imagens utilizando o programa imagem
Tool.

(a) (b) (c)


Figura 5. Placa de fissuração de argamassa: (a) vista superior, (b) vista lateral, (c) com argamassa.

(a) (b)
Figura 6. Equipamento fotográfico utilizado nas pesquisas.

325
Avaliação da fissuração devido à retração plástica nas primeiras idades de argamassas de Concreto de Alto
Desempenho e Concreto Auto Adensável

(a) (b) (c) (d)


Figura 7. Sequencia de tratamento das imagens zoneadas de fissuração da argamassa.

Para ensaios com vento foi utilizado um ventilador para simular seu efeito sobre a placa, com
velocidade de 5,0 m/s de modo a acelerar o fenômeno de secagem e induzir a fissuração.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

A análise dos resultados foi dividida em: análise visual por meio de fotos e análise da área fissurada.

4.1 Análise visual por meio de fotos

4.1.1 Ensaios sem vento


As Figuras 8 e 9 mostram a fissuração total ocorrida para as argamassas CAD e CAA,
respectivamente, ao final do tempo de pega.

Figura 8. Fissuração da argamassa CAD ao final do tempo de pega: ensaio sem vento.
(a) foto da argamassa e (b) foto da argamassa tratada no software Photoshop 7.0

(a) (b)
Figura 9. Fissuração da argamassa CAA ao final do tempo de pega: ensaio sem vento: (a) foto da argamassa
durante o tempo de pega e (b) foto da argamassa no final do tempo de pega.

326
Barbosa e Maciel

Nas argamassas do CAD as fissuras, em ambos os casos, ocorreram de forma diversa, sem uma
direção específica. Nas argamassas do CAA, em relação ao ensaio sem vento, ficou clara a sua
influência sobre a fissuração. Além do aumento da área fissurada houve também o aumento da
espessura das mesmas.

4.1.2 Ensaios com vento


Os ensaios com vento foram realizados nas mesmas condições dos ensaios sem vento, porém foi
utilizado um ventilador para induzir o vento, conforme descrito anteriormente. As Figuras 10 e 11
mostram a fissuração total ocorrida para as argamassas CAD e CAA, respectivamente, ao final do
tempo de pega.

Figura 10. Fissuração da argamassa CAD ao final do tempo de pega: ensaio com vento
(a) foto da argamassa e (b) foto da argamassa tratada no software Photoshop 7.0

(a) (b)
Figura 11. Fissuração da argamassa CAA ao final do tempo de pega: ensaio com vento: (a) foto da argamassa
durante o tempo de pega e (b) foto da argamassa no final do tempo de pega.

Nas argamassas do concreto de alto desempenho - CAD, as fissuras começam a aparecer na segunda
hora a partir do início do tempo de pega no ensaio com vento. Observou-se que as mesmas eram
microscópicas, com micro aberturas. Nas argamassas do CAA o aumento da fissuração acompanha o
aumento de retração plástica. As fissuras predominantes foram de faixa de abertura de até 0,12 mm.

4.2 Análise da área fissurada

4.2.1 Argamassa de CAA


O Quadro 2 apresenta os resultados de área total de fissuração e a razão área de fissuração total/área da
argamassada da composição de CAA em ensaios sem vento e com vento.

327
Avaliação da fissuração devido à retração plástica nas primeiras idades de argamassas de Concreto de Alto
Desempenho e Concreto Auto Adensável

Quadro 2. Área total de fissuração em argamassa de CAA.


Áreas de fissuração Ensaio sem vento Ensaio com vento
Área Total (mm²) 127,5 178,50
Área de fissuração total/Área da
0,32 0,45
argamassa (%)

Para a análise das fissuras, as mesmas foram divididas em três tipos de fissuras por enquadramento. Os
tipos de fissuras foram divididos por nível de abertura encontrada independentemente do comprimento
da fissura. O tipo 1 de fissura por retração plástica teve sua faixa de abertura adotada de até 0,12 mm.
O tipo 2 de fissura teve sua faixa de abertura adotada de 0,12 a 0,25 mm, e o tipo 3 de fissura teve sua
faixa de 0,25 a 0,70 mm. O Quadro 3 apresenta as áreas totais de fissuração para argamassas para cada
tipo de fissura analisado, bem como a porcentagem da área total de fissura/área da argamassa.

Quadro 3. Área total (mm²) e Área total de fissura/Área da argamassa (%) por tipo de fissuração
na argamassa CAA.
Ensaio sem vento Ensaio com vento

Área fissurada Tipos de fissuração Tipos de fissuração


1 2 3 1 2 3
Área Total (mm²) 79,05 44,63 3,83 94,61 67,83 16,07
Área total de
fissura/Área da 0,20 0,11 0,01 0,24 0,17 0,04
argamassa (%)

4.2.2 Argamassa de CAD

A Figura 12 apresenta a área total fissurada (mm2) para a argamassa do CAD nas duas condições de
ensaio: com e sem ação do vento. Nota-se que o ensaio com vento apresenta uma maior área fissurada.
Oliveira [14] ressalta que foi possível observar que para os ensaios com vento as fissuras foram em sua
maioria do tipo 1 e para os ensaio sem vento as fissuras foram predominantemente do tipo 2.

Figura 12. Área fissurada da argamassa de CAD ao final do tempo de pega: ensaio com e sem ação do vento.

CONCLUSÕES

A partir do estudo realizado observou-se que:


 No ensaio sem vento, as fissuras ocorreram de forma diversa, sem uma direção específica e com
aberturas visíveis. Já no ensaio com vento as fissuras apresentaram aberturas microscópicas;
 Os ensaios com vento apresentaram área de fissuração superior aos ensaios sem vento, isto se
deve às condições climáticas, que de acordo com a teoria da retração plástica, mostra que a
presença de vento acelera a evaporação da água, o que acarreta em maior quantidade de fissuras;

328
Barbosa e Maciel

 As argamassas de CAD conferiram áreas totais de fissuração por retração plástica maiores que
as argamassas de CAA, independentemente da influência da ação do vento ou teor de
superplastificante;
 O tipo de fissura predominante em ambas as argamassas foi o Tipo 1 com abertura de 0,12mm;
 A influência da ação do vento sobre a fissuração por retração plástica é um fator prepoderante

AGRADECIMENTOS

A Fapesp (Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo) pelo financiamento da pesquisa.
A Holcim pelo fornecimento do cimento.

REFERÊNCIAS

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condition de durabilité des ouvrages en béton, Ch6, La Durabilité des bétons.
[2] Aïtcin, P. C. (2000). Concreto de alto desempenho. São Paulo: Pini, 667p.
[3] Neville, A. M. (1997). Propriedades do concreto. São Paulo: Pini, 828p.
[4] Jensen, O. M; Hansen P.F. (1996). Autogenous deformation and change of the relative humidity
in silica fume modified cement paste. ACI Materials Journal, v. 93. p. 539-543.
[5] Holt, E.; Leivo, M. E. (2004). Cracking risks associated with early age shrinkage. Cement &
Concrete Composites, Kidlington, v. 26, p. 521-530.
[5] Turcry, P. (2004). Retrait et fissuration des bétons autoplaçants: influence de la formation. 2004.
223f. Tese (doutorado em engenharia civil) - Ecole Centrale de Nantes, Nantes, França.
[6] DNIT 083/2006 – ES. (2014). Tratamento de trincas e fissuras – Especificação de Serviço.
Disponível em: http://www1.dnit.gov.br/normas/download/DNIT083_2006_ES.pdf. Acesso em:
26/04/2014.
[7] Departamento Nacional de Infra Estrutura de Transportes – DNIT 061/2004 (2004). TER –
Pavimento rígido – Defeitos - Terminologia. Rio de Janeiro: DNIT.
[8] Mehta, P. K.; Monteiro, P. J. M. (1994).Concreto: Estrutura, propriedades e materiais. São Paulo:
Pini, 573p.
[9] Silva, N. G.(2011). Avaliação da retração e da fissuração em revestimento de argamassa na fase
plástica. 2011. 329p. Tese (Doutorado em Engenharia Civil), Universidade Federal de Santa
Catarina, Centro Tecnológico, Florianópolis/SC.
[10] Souza, V.; Ripper, T. (2009). Patologia, recuperação e reforço de estruturas de concreto. São
Paulo: Pini, 1998. 1° edição, 5° triagem, abril. 23p.
[11] Gomes, P.C.C.; Barros, A.R. (2009). Métodos de dosagem de concreto auto-adensável. Editora
Pini. Edição 1, 160p.
[12] Asociación Mercosur de Normalización (2001). AMN. NM 49: agregado miúdo - determinação
de impurezas orgânicas. Rio de Janeiro: ABNT, 3 p.
[13] Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT.(2009). NBR 7211: Agregados para concreto
- Especificação. Rio de Janeiro: ABNT. 9p.
[14] Asociación Mercosur de Normalización - AMN. (2009). NM 53: agregado graúdo - determinação
de massa específica e massa aparente. Rio de Janeiro: ABNT. 8 p.

329
Avaliação da fissuração devido à retração plástica nas primeiras idades de argamassas de Concreto de Alto
Desempenho e Concreto Auto Adensável

[15] Oliveira, C.O. (2013). Análise das propriedades reológicas de materiais cimentícios associando o
conceito de empacotamento de partículas. 2013. 141p. Dissertação de Mestrado, Universidade
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Ilha Solteira/SP.
[16] Vita, M.O. (2011). Estudo da retração plástica e da fissuração do concreto auto-adensável nas
primeiras idades: avaliação da influência dos tipos de adições minerais. Dissertação de Mestrado
- Faculdade de Engenharia, Universidade Estadual Paulista, Ilha Solteira.

330
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

Comportamento reológico da fase argamassa de betão


autocompactável com agregados finos reciclados

Luiz Pereira-de- Miguel Carlos Silveira 3


Oliveira 1 Nepomuceno 2

RESUMO

Este artigo apresenta um estudo reológico da fase argamassa do BAC com a incorporação de
agregados finos reciclados (AFR). No programa experimental foram produzidas e ensaiadas duas
séries distintas de argamassas. Sendo, uma série de misturas binárias de pós (cimento e pó calcário) e
outra de misturas ternárias (cimento, pó calcário e cinza volante). Em cada uma das séries foram
adicionadas percentagens crescentes de cerca de 10% até ao limite de 50% de AFR. Misturas de
referência com agregados finos naturais (AFN) para cada série complementaram o plano experimental.
As propriedades da fase argamassa no estado fresco foram avaliadas através dos ensaios de
espalhamento e do funil V. Os parâmetros reológicos, tensão de cedência e consistência plástica
relativa, expressos pelo modelo de Herschell-Bulkley, foram determinados com o auxílio do reómetro
Viskomat NT. Em termos gerais, a incorporação crescente de AFR nas argamassas incrementa o valor
da tensão de cedência das argamassas e aumenta a consistência plástica. Essas alterações são no
entanto diferentes conforme a mistura seja binária ou ternária. Conclui-se que os AFR são viáveis
como componente do BAC, embora influenciando o seu comportamento reológico.

Palavras-chave: betão autocompactável, agregados reciclados, reologia, tensão de cedência,


consistência plástica

1. INTRODUÇÃO

A utilização dos agregados reciclados provenientes da demolição de estruturas de betão na produção


de betões autocompactáveis (BAC) provoca alterações em algumas propriedades deste, quer no estado
fresco quer no estado endurecido. Estudos têm atestado a viabilidade da incorporação de agregados
grossos reciclados no BAC [1,2]. Apesar de menos estudada, a inclusão de agregados finos reciclados

1
Centre of Materials and Building Technologies – C_MADE, Universidade da Beira Interior, Covilhã, Portugal.
luiz.oliveira@ubi.pt
2
Centre of Materials and Building Technologies – C_MADE, Universidade da Beira Interior, Covilhã, Portugal.
mcsn@ubi.pt
3
Faculdade de Engenharia da Universidade da Beira Interior, Covilhã, Portugal. carlosm_silveira@iol.pt

331
Comportamento reológico do betão autocompactável com agregados finos reciclados

no betão não afeta significativamente a resistência à compressão, pelo menos quando a taxa
substituição de agregados finos não ultrapassa os 30% [3]. No entanto se faz necessário um controlo
da granulometria e britagem de maneira a reduzir a presença de impurezas que afetam o desempenho
do betão. Aliás, é precisamente esta incerteza uma das principais razões pela qual a utilização de
agregados finos reciclados é geralmente vetada nos documentos normativos existentes.

Os estudos de Cabral [4] revelam que o uso dos agregados reciclados na produção de BAC parece
promitente, pois a elevada quantidade de finos presentes nos agregados reciclados embora venha
alterar a área de superfície das misturas, esta pode ajudar a melhorar a resistência à segregação. Por
outro lado, a elevada absorção dos agregados reciclados pode ser um inconveniente para a manutenção
da trabalhabilidade [4]. Neste aspeto, a absorção dos agregados finos reciclados de betão é maior do
que a dos agregados grossos reciclados, e ambas são maiores que a dos naturais [5].

Estudos na fase argamassa do BAC tanto com associações binárias (cimento e pó calcário) ou
ternárias (cimento, pó calcário e cinza volante) revelaram um decréscimo da resistência à compressão
aos 28 dias de idade com o aumento da percentagem de incorporação de agregados finos reciclados
[6]. Também se constatou que a massa volúmica das argamassas no estado endurecido diminui
ligeiramente com o aumento da percentagem de incorporação de agregados finos reciclados,
independentemente de se tratar de argamassas com associações binárias ou ternárias. Este facto era
previsível, visto que os agregados finos reciclados apresentam um valor da massa volúmica inferior
comparativamente com os agregados finos naturais, devido à maior porosidade e menor densidade da
pasta cimentícia. Do ponto de vista da manutenção da trabalhabilidade adequada da fase argamassa do
BAC a dosagem de água de amassadura aumenta com a percentagem de incorporação de agregados
reciclados nas misturas binárias; enquanto o inverso ocorreu com as misturas ternárias, pelo menos até
à percentagem de 40% de incorporação de agregados reciclados. Os mesmos autores também
verificaram um maior consumo de superplastificante nas misturas ternárias em relação as binárias para
obtenção da trabalhabilidade adequada. Comportamento que indicia que uma parte desse
superplastificante foi adsorvida na superfície das partículas de cinzas volantes. No sentido de
aprofundar os conhecimentos sobre a influência de agregados finos reciclados na fase argamassa do
BAC, o presente estudo foi desenvolvido com o intuito de observar o comportamento reológico de
argamassas com incorporação crescente de agregado fino reciclado em substituição ao agregado fino
natural até um percentual máximo de 50%.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Materiais

No presente estudo utilizou-se cimento Portland CEM I 42.5R com massa volúmica de 3140 kg/m3.
Como adições utilizou-se um fíler calcário com massa volúmica de 2720 kg/m3 e uma cinza volante
com massa volúmica de 2380 kg/m3. Para se poder atingir as características de autocompactabilidade
foi ainda utilizado um superplastificante (SP) à base de policarboxilatos modificados (Sika Visco
Crete-3005) com massa volúmica de 1050 kg/m3. Quanto aos agregados naturais, decidiu-se optar por
uma combinação de uma areia quartzosa natural amarela de grão fino (Areia 0/2) com uma areia
natural rolada calibrada de grão grosso (Areia 0/4), de origem fluvial. A combinação destes dois
materiais foi efetuada na proporção de 50% de areia grossa (Areia 0/4) e 50% de areia fina (Areia
0/2). Relativamente ao agregado fino reciclado, designada por areia reciclada teve origem na britagem
em laboratório de antigos corpos de prova de betão e constitui-se de grãos inferiores à 5 mm com
forma irregular e textura rugosa. O Quadro 1 apresenta as características dos agregados finos
utilizados e a Figura 1 ilustra as características irregular e arredondada dos grãos de areia reciclada e
das areias naturais.

332
Pereira de Oliveira, Nepomuceno e Silveira

Quadro 1. Características dos agregados finos.


Agregados finos Massa volúmica Módulo de finura Absorção de água
(kg/m3) (%)
Areia 0/2 2661 2,38 0,43
Areia 0/4 2647 3,17 0,93
Areia reciclada 2310 3,16 9,19

a b c
Figura 1. Características dos grãos de areia reciclada (a), areia 0/4 (b) e areia 0/2 (c).

Neste estudo foram produzidos dois tipos de argamassas, uma argamassa binária (contendo 40%
cimento + 60% fíler calcário) e uma argamassa ternária (contendo 40% cimento + 50% fíler calcário +
10% cinza volante). As argamassas ditas de referência binária ou ternária são constituídas por uma
combinação de agregados finos naturais ou seja 50% de cada tipo de areia natural. A areia reciclada
foi sendo introduzida nas argamassas em percentagens crescentes de 10% ou seja de 0 até 50% do
total de agregados finos. Essa incorporação foi realizada em substituição da areia 0/4 ou seja os 50%
corresponde a substituição total desta areia pela areia reciclada.

2.2 Métodos

O ensaio de fluidez efetuou-se recorrendo a um funil V de faces planas adaptado à fase argamassa e a
sua execução foi realizada com base na norma NP EN 12350-9/2010 [7]. O ensaio de espalhamento
foi efetuado utilizando um cone de espalhamento adaptado à fase argamassa do BAC e realizado tendo
por base a norma NP EN 12350-8/2010 [8]. A Figura 2 apresenta as dimensões internas do cone de
espalhamento e do funil V utilizado neste estudo.

270 mm

Ø 70 mm 29
240 mm
59 mm

60

Ø 100 mm
30

Cone de espalhamento Funil V


Figura 2. Dimensões internas do cone de espalhamento e do funil V.

A determinação dos parâmetros reológicos das argamassas frescas foi efetuada com o auxílio de um
reómetro (Viskomat NT), utilizando uma pá especial para argamassas “mortar probe V0011”[9], com
o qual se aplica às argamassas ensaiadas uma determinada taxa de deformação e se mede a tensão de

333
Comportamento reológico do betão autocompactável com agregados finos reciclados

corte resultante. O perfil do ensaio, que se apresenta na Figura 3, consistiu em 6 níveis de patamares,
crescentes e depois decrescentes, de velocidade de rotação das pás (20, 40, 60, 80, 100 e 120 rpm),
durante cerca de 11 minutos. O perfil escolhido permite chegar a valores de equilíbrio de torque para
cada velocidade e assim construir curvas de fluxo de equilíbrio para uma melhor determinação dos
parâmetros reológicos: tensão de cedência e viscosidade plástica relativas. Esses parâmetros são
determinados utilizando os pares de dados da curva descendente.

A fase argamassa dos betões autocompactáveis foi dosada tendo por base o método desenvolvido por
Nepomuceno et al [10]. Os parâmetros de dosagem adotados para as argamassas binárias
autocompactáveis foram: (relação em volume absoluto entre os materiais finos e os agregados finos)
Vp/Vs =0,80; (relação em volume absoluto entre a água e os materiais finos) Vw/Vp =0,70 e (relação
em percentagem entre as dosagens em massa de superplastificante e de materiais finos) Sp/p%=0,34.
Para as argamassas ternárias uma correção fez-se necessária nos valores dos seguintes parâmetros:
Vw/Vp = 0,74 e Sp/p% = 0,38.

Figura 3. Perfil de ensaio utilizado (Step).

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados dos ensaios de espalhamento e de escoamento no funil V são apresentados no Quadro 2.

Quadro 2. Diâmetro de espalhamento e tempo de escoamento das argamassas.


Espalhamento [mm] Tempo de escoamento [s]
Argamassa
Mistura binária Mistura ternária Mistura binária Mistura ternária
Ref 297,5 333,0 4,57 2,44
10% 263,0 325,5 4,69 2,05
20% 242,0 325,5 5,73 2,11
30% 212,5 303,0 6,71 2,74
40% 214,5 287,0 7,08 3,31
50% 225,0 288,0 6,06 3,62

As correlações dos resultados de tensão de cedência relativa em função da velocidade de corte obtidos
no reómetro não são exatamente lineares, assim como já observado por outros autores [11]. Neste
estudo, verificou-se que o comportamento da fase argamassa do betão autocompactável se associa ao
modelo de Herschell-Bulkley com uma probabilidade (p-value) da ordem de 0,00. Entre outras
vantagens, o modelo de Herschell-Bulkley evita o problema de tensões de cedência negativas
determinadas com o modelo de Bingham. A Figura 4, referente à argamassa de referência, exemplifica

334
Pereira de Oliveira, Nepomuceno e Silveira

aqui a característica obtida para as demais argamassas ensaiadas. O modelo de Herschell-Bulkley é


descrito pela Eq.(1).

T=g + kVb (1)

Onde, T é o torque em N.mm, g é a tensão de cedência relativa em N.mm, k a consistência plástica


relativa em N.mm.min, V a velocidade em rpm e b é um parâmetro do material que indica a grau de
dilatância (b>1, o fluido é dilatante e b<1 é atribuído à um comportamento pseudoplástico).

y=(1,45119)+(,085144)*(x^(1,16342))
35

30

25
Tensão de corte [Nmm]

20

15

10

0
0 20 40 60 80 100 120 140 160

Velocidade de corte [rpm]

Figura 4. Tensão de cedência versus velocidade de corte da argamassa de referência.

O Quadro 3 apresenta as equações, segundo o modelo de Herschell-Bulkley, que descrevem o


comportamento reológico das argamassas com os seus respetivos coeficientes de correlação R2, cujos
valores não deixam dúvidas sobre a adequação do comportamento reológico das argamassas ao
modelo adotado.

Quadro 3. Equações de Herschell-Bulkley para argamassas binárias e ternárias.


Argamassas Binárias Ternárias
2
Equação Coeficiente R Equação Coeficiente R2
1,16 1,38
Referência T=1,45+0,09*V 0,998 T=1,37+0,01*V 0,998
10% T=3,38+0,12*V1,19 0,999 T=1,56+0,03*V1,25 0,999
1,14 1,80
20% T=5,80+0,22*V 0,999 T=1,83+0,02*V 0,967
30% T=9,92+0,30*V1,12 0,999 T=2,21+0,03*V1,30 0,999
1,18 1,15
40% T=10,49+0,25*V 0,998 T=2,80+0,08*V 0,998
50% T=6,67+0,20*V1,16 0,998 T=2,50+0,05*V1,25 0,999

A Figura 5 representa a evolução das tensões de cedência com as diferentes taxas de substituição de
AFN por AFR das argamassas binárias. Apesar de ocorrer o aumento da tensão de cedência das
argamassas com AFR comparativamente à argamassa de referência, este aumento não acontece de
forma linear. As argamassas com 30% e 40% de taxa de substituição apresentam valores mais
elevados relativamente ao valor médio, com cerca de 9,92 N.mm e 10,49 N.mm, respetivamente,
sendo estes valores mais elevados do que o registado na argamassa com a maior percentagem, 50%,
de agregado fino reciclado (cerca de 6,67 N.mm). A explicação para os valores obtidos nas taxas de
30% e 40% aparenta estar nas caraterísticas do agregado fino reciclado, com formas mais irregulares,
de maior rugosidade, e com áreas de superfície superiores comparativamente aos agregados finos
naturais. Algumas das caraterísticas físicas dos AFR, como a rugosidade e o formato irregular com
tendência lamelar das partículas, tal como se ilustra na Figura 1, propiciam efeitos de interferência
entre os diferentes agregados componentes das argamassas. Este efeito de interferência foi relatado

335
Comportamento reológico do betão autocompactável com agregados finos reciclados

por Alexander e Mindess [12]. Com a substituição total da areia natural 0/4 o efeito de interferência é
atenuado. Identifica-se, portanto, como um limite de interferência o percentual de 40%, a partir do
qual o valor diminui consideravelmente.

Figura 5. Tensão de cedência versus taxa de substituição de AFN por AFR das argamassas binárias.

A Figura 6 apresenta os valores das tensões de cedência com a taxa de substituição de AFN por AFR
das argamassas ternárias. Observa-se que os valores da tensão de cedência crescem com o aumento da
percentagem da taxa de substituição. De notar também que para estas argamassas ternárias os
resultados da tensão de cedência são relativamente baixos, entre os 1,37 N.mm da argamassa de
referência e os 2,8 N.mm da argamassa com 40% de substituição de areia 0/4. Estes valores reduzidos
devem-se à presença da cinza volante, com suas caraterísticas fluidificantes e também ao maior
volume de água (Vw/Vp = 0,74) nas argamassas.

Figura 6. Tensão de cedência versus taxa de substituição de AFN por AFR das argamassas ternárias.

Verificou-se uma elevada correlação entre os valores de tensão de cedência e o diâmetro de


espalhamento obtidos nas argamassas binárias e ternárias. As Figuras 7 e 8 mostram, tal como Banfill
e Tattersall [13] já documentaram, que a tensão de cedência é inversamente proporcional ao diâmetro
de espalhamento da argamassa autocompactável. Isto significa por exemplo que quanto menor forem
os valores da tensão cedência, maior é o diâmetro de espalhamento, registado através do ensaio do
cone. É também evidente que partindo dos valores de referência que são diferentes e crescentes da
argamassa binária à argamassa ternária verifica-se uma atenuação nessa correlação expressa pelo valor
da inclinação da reta da Figura 7, que é sensivelmente menor que a da Figura 6. Neste ponto pode-se
argumentar que o efeito da inclusão da cinza volante, pela esfericidade das suas partículas, tem uma
contribuição importante na redução do efeito da rugosidade da areia reciclada.

336
Pereira de Oliveira, Nepomuceno e Silveira

Figura 7. Correlação entre a tensão de cedência e o diâmetro de espalhamento das argamassas binárias.

Figura 8. Correlação entre a tensão de cedência e o diâmetro de espalhamento das argamassas ternárias.

Nas Figuras 9 e 10 apresentam-se as correlações entre a consistência plástica e os tempos de


escoamento obtidos no estudo reológico das argamassas binárias e ternárias. Nestas correlações pode
ser observada claramente uma forte relação linear entre os dois parâmetros abordados medidos nas
argamassas binárias. No entanto, o coeficiente de correlação para as argamassas ternárias é
relativamente mais baixo. Tendo em vista que os valores obtidos no funil V para as argamassas
ternárias são mais baixos do que aqueles para argamassas binárias, especula-se neste caso uma
influência do operador no ensaio do funil V, o qual pode ser crítico para medições de escoamento
rápido. Outra informação que se pode obter a partir da análise dessas figuras é que quanto maior for o
valor da consistência plástica, maior é também o valor do tempo de escoamento.

Figura 9. Correlação entre a consistência plástica e o tempo de escoamento das argamassas binárias.

337
Comportamento reológico do betão autocompactável com agregados finos reciclados

Figura 10. Correlação entre a consistência plástica e o tempo de escoamento das argamassas ternárias.

CONCLUSÕES

Ao se estudar o efeito da incorporação de agregados finos reciclados na fase argamassa de betão


autocompactável pode-se concluir que:

- o diâmetro de espalhamento das argamassas diminui com o aumento do percentual de substituição da


areia natural pela areia reciclada, sendo 40% o teor no qual se encontra a maior redução que é da
ordem 28% para as misturas binárias e de 14% para as ternárias.

- o tempo de escoamento aumenta consideravelmente tanto para as argamassas binárias como para as
ternárias com o aumento da substituição da areia natural.

- o modelo de Herschell-Bulkley, que descreve o comportamento reológico das argamassas, mostra


que tanto a tensão de cedência como a consistência plástica relativa crescem com o aumento do teor
de substituição da areia natural nas argamassas binárias e ternárias sendo os seus máximos atingidos
com o teor de substituição de 40%.

- o diâmetro de espalhamento apresenta uma elevada correlação com a tensão de cedência tanto para
argamassas binárias como ternárias. A correlação entre o tempo de escoamento e a consistência
plástica das argamassas binárias é relativamente forte, porém no caso das argamassas ternárias essa
correlação é menos importante.

- em termos gerais, a incorporação crescente de AFR nas argamassas incrementa o valor da tensão de
cedência das argamassas e aumenta a consistência plástica. Essas alterações são no entanto diferentes
conforme a mistura seja binária ou ternária. Conclui-se que os AFR são viáveis como componente do
BAC, embora influenciando o seu comportamento reológico.

REFERÊNCIAS

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recycled concrete aggregates. Cement & Concrete Composites 31 622–627
[2] Grdic Z. J, Toplicic-Curcic G. A, Despotovic I. M, Ristic N. S. (2010). Properties of self-
compacting concrete prepared with coarse recycled concrete aggregate. Construction and
Building Materials, 24, p 1129–1133.

338
Pereira de Oliveira, Nepomuceno e Silveira

[3] Evangelista, L.; Brito, J. (2007). Mechanical behaviour of concrete made with fine recycled
concrete aggregates. Cement and Concrete Research, 29, p. 397-401.
[4] Cabral, António. (2007). Modelagem de propriedades mecânicas e de durabilidade de concretos
produzidos com agregados reciclados, considerando-se a variabilidade da composição do RCD.
Tese de Doutoramento apresentada na Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São
Paulo, São Paulo, 280p.
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[6] Pinto H.A.S, Pereira de Oliveira L. A, Nepomuceno M.C.S. (2011). Propriedades do betão auto-
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on Engineering UBI2011. 28-30 Nov 2011, University of Beira Interior, Covilhã, Portugal.
[7] NP EN 12350-9. 2010, Norma Portuguesa para Betão Auto-Compactável: Ensaio de Escoamento
no Funil-V. Lisboa: IPQ. 7 p.
[8] NP EN 12350-8. 2010, Norma Portuguesa para Betão Auto-Compactável: Ensaio de
Espalhamento. Lisboa: IPQ. 8 p.
[9] Schleibinger Geräte. Schleibinger Testing Systems. Rheometers accessories.
http://www.schleibinger.com/cmsimple/en/?Rheometers%26nbsp%3B:Viskomat_NT_-
_Rheometer_f._Mortar_and_Paste:Accessories accessed in 23-04-2015
[10] Nepomuceno M., Pereira de Oliveira L., Lopes S. M. R., (2012). Methodology for mix design of
the mortar phase of self-compacting concrete using different mineral additions in binary blends of
powders, Construction and Building Materials 26 317–326
[11] Larrard F., Ferraris C. F., Sedran T. Fresh concrete: A Herschel-Bulkley material. Materials and
Structures/Matériaux et Constructions, Vol. 31, August-September 1998, pp 494-498
[12] Alexander, M., Mindess, S. (2005). Aggregates in Concrete. Taylor & Francis, New York, 435
pp.
[13] Banfill, P.F.G, Tattersall, G.H. (1983). The rheology of fresh concrete. Pitman Books Ltd,
London.

339
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável– BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

Desarrollo de productos de Hormigón de Muy Alto Rendimiento


por conformado durante el proceso fraguado

Mabel Fernández1 Pedro Serna2 J. Ángel López3

RESUMEN

Los diseños arquitectónicos modernos, con formas constructivas libres, diseñadas por programas
informáticos avanzados, plantea la necesidad de nuevos sistemas constructivos adaptados a las nuevas
formas para que los costes de ejecución se minimicen y se haga posible la realización de estos
proyectos.

En el presente trabajo se describe un nuevo sistema constructivo basado en el conformado del


hormigón de muy altas prestaciones reforzado con fibras (UHPFRC) utilizando moldes flexibles, que
ofrecen la posibilidad de reutilización en piezas con formas diferentes, con disminución de costes de
ejecución, así como reducción de tiempos y mejora en las características de durabilidad y acabados
superficiales. Se analiza la influencia del uso de aditivos aceleradores del fraguado en los tiempos que
permiten el conformado y en la resistencia de los UHPFRC. Para ello es necesario poner a prueba los
mecanismos que influyen en este sistema de fabricación, así como diseñar nuevos métodos
experimentales para caracterizar la efectividad del proceso. Los resultados muestran que es viable el
método constructivo.

Palabras clave: UHPFRC, moldes flexibles, conformado del hormigón.

1. INTRODUCCIÓN

La arquitectura aplicada en las últimas décadas ha llevado a conceptos de estética basados en la


construcción con nuevos materiales, nuevas formas y diseños estructurales únicos en muchos casos. El
desarrollo de aplicaciones informáticas de cálculo de estructuras que consiguen dibujar espacios en 2D
y 3D con líneas curvas y volúmenes esféricos permite el diseño de estructuras complejas.

El problema se plantea cuando se quieren transformar los diseños informáticos en obras reales, con
curvaturas especiales, diferentes en una u otra parte de la misma pieza y geometrías únicas, que

1
UniversitatPolitècnica de València, ICITECH, Valencia, España. mabelfb74@gmail.com
2
UniversitatPolitècnica de València, ICITECH, Valencia, España. pserna@cst.upv.es
3
UniversitatPolitècnica de València, ICITECH, Valencia, España. jualoma7@gmail.com

341
Desarrollo de productos de Hormigón de Muy Alto Rendimiento por conformado
durante el proceso de fraguado

obligan a fabricar un encofrado específico para su hormigonado y que en la mayoría de los casos no va
a poder ser reutilizado. Por este motivo no pueden emplearse más que en proyectos de alto perfil.

Un ejemplo de construcción actual en el que se usa este tipo de formas es la cubierta del Restaurante
del Parque Oceanográfico de Valencia, de Félix Candela, construida con una lámina de hormigón
proyectado con fibras de acero, de 6 centímetros de espesor y con una luz de 40 metros, para cuya
construcción fue necesario un encofrado de láminas de madera sobre las que se proyecta el hormigón
[1]. Este sistema constructivo supone una fabricación compleja, con costes elevados en encofrados y
no reutilizables en diferentes proyectos, lo que aumenta los costes totales de la construcción.

Con la intención de que la ejecución real se ponga a la altura de los nuevos diseños es necesario
plantear nuevos sistemas constructivos que minimicen los costes de los encofrados de formas
especiales.

Una de las propuestas planteadas ya en los años 60 por Renzo Piano (citado por Roel Schipper [2]),
fue la fabricación de piezas utilizando un sistema de encofrado flexible. Aunque su sistema no fue
nunca utilizado realmente, la mayoría de los encofrados flexibles diseñados posteriormente para
elementos de doble curvatura están basados en el principio de Renzo Piano. Otros autores siguieron
trabajando en el mismo concepto, como Lars Spuybroek [3]. En 2010 fueron patentados por Daan
Rietbergen y Karel Vollers [4] dos prototipos de moldes para la fabricación de piezas de hormigón de
una y dos curvaturas, respectivamente con el método de conformado. A partir de estas patentes se han
realizado varios estudios en la Universidad Tecnológica de Delft por Roel Schipper, S. Grünewald, K
J Vollers[2], [5], entre otros, en los que se analizan diversos factores que pueden afectar al proceso de
conformado, como pueden ser las propiedades de los hormigones utilizados, el momento de doblado,
el material utilizado en la fabricación de moldes, etc.

El principal objetivo de este trabajo es conocer cómo afecta el proceso de conformado, con curvatura
simple, en placas de poco espesor de hormigón de muy altas prestaciones reforzado con fibras
(UHPFRC).Para ello se analiza el intervalo de tiempo adecuado para la realización del conformado y
si éste afecta a las características finales de resistencia y acabados de las piezas así fabricadas.

2. MÉTODO EXPERIMENTAL

Se plantea un trabajo en dos fases. En la primera, a partir de dos dosificaciones base de UHPC
desarrolladas en estudios previos [1] diferenciadas entre sí únicamente por el aditivo
superplastificante, se analiza la posibilidad de controlar los tiempos durante los cuales la masa de
hormigón es susceptible de ser moldeada, manteniendo la forma que se le confiere, sin necesidad de
un encofrado cerrado y sin que ello perjudique a sus características mecánicas en estado endurecido.
Dado que los UHPC base son altamente autocompactantes y su fluidez se mantiene durante un largo
periodo de tiempo, se plantea el empleo de aditivos aceleradores de fraguado para reducir el periodo
de espera. Se compara el efecto de 5 aditivos aceleradores de fraguado. El efecto en la resistencia a
compresión y flexo-tracción se valora ensayando probetas prismáticas (40 mm x 40 mm x 160 mm).

Tras la primera fase se seleccionarán dos fórmulas de trabajo que sólo se diferenciarán entre sí por la
incorporación o no de uno de los aceleradores de fraguado estudiados, y que habrán sido
caracterizadas por medio de sus tiempos de conformado. A cada una de ellas se le incluirán fibras
metálicas de alto límite elástico.

Con estas mezclas se fabricarán placas de 2 cm de espesor que se someterán a un proceso de


conformado durante el intervalo de tiempo delimitado en los ensayos previos. Tras el conformado las
probetas se ensayarán a flexión, con el fin de averiguar su respuesta mecánica y compararla con otros
elementos de las mismas dimensiones y tipo de hormigón pero que han sido fabricadas con molde
curvo, es decir, que no hayan sufrido el proceso de doblado. De esta forma podremos estudiar cómo
afecta el proceso de conformado en las características finales de las placas.

342
Fernández, Serna e López

2.1 Determinación de dosificación de trabajo

El diseño se ha realizado con hormigón de muy altas resistencias reforzado con fibras con dos
dosificaciones de partida comúnmente utilizadas, en las que el único ingrediente que las diferencia es
el tipo de superplastificante utilizado. El resto de materiales será común en las dos (tabla 1). En todas
las amasadas realizadas se ha ajustado la dosificación de suplerplastificante para mantener el
escurrimiento según UNE-EN 1015-3 [6] de 21-22 cm. Se utiliza una dosificación D1 fabricada con
aditivo superplastificante líquido y otra D2 con aditivo superplastificante en polvo.

Tabla 1. Materiales de dosificaciones base.


Material Kg/m3
CEM 42,5 R/ SR 750
Arena gruesa 0,8mm. silícea 595
Arena fina 0,4 mm. silícea 320
Humo de sílice 175
Harina de cuarzo 225
Aditivo superplastificante 23
Fibras metálicas 160

A cada una de estas dosificaciones se incorpora 1 de los 5 tipos de aceleradores de fraguado para
averiguar la influencia de ellos en los tiempos de inicio y fin de fraguado y resistencias en probetas.
Estos ensayos previos se realizaron sin la inclusión de las fibras metálicas.

2.1.1 Definición de tiempos de conformado.


Salvo en algunos productos específicos como las placas alveolares, el hormigón no es un material
pensado tradicionalmente para ser moldeado sin encofrado y suele utilizarse el concepto de inicio y fin
de fraguado para evaluar el tiempo en que la pasta adquiere una cierta consistencia y es capaz de
mantener la forma por sí mismo. Esta propiedad no ha sido estandarizada para el caso de los
UHPFRC. Parece lógico que el concepto sea utilizado como referente para la valoración del periodo
de conformado del hormigón.

Para la determinación de los tiempos de fraguado en hormigones (UNE-EN 480-2) [7] y en cementos
(UNE-EN 196-3:2005+A1) [8], se suele utilizar el Aparato de Vicat midiendo la penetración de la
aguja en las mezclas. La diferencia entre ambos métodos está en el valor de referencia de penetración
de la aguja, tanto para la determinación del tiempo de inicio de fraguado como la del fin de fraguado,
como se puede apreciar en la tabla 2:

Tabla 2. Comparativa de ensayos de tiempos de fraguado.


Inicio de fraguado Fin de fraguado
(distancia entre aguja y placa base) (penetración máxima de aguja)

UNE-EN 196-3: 2005+A1.


6 ± 3 mm. 0,5 mm.
Ensayo para cementos
UNE-EN 480-2. Ensayo para 4 mm.
2,5 mm.
hormigones, morteros y pastas. (no figura tolerancia en la norma)

Parece razonable pensar que para el UHPFRC, que presenta una alta viscosidad, estos criterios deben
ser reconsiderados teniendo en cuenta que cuanto mayor es la cohesión de la mezcla es previsible que
sea menor la profundidad de penetración que determina el inicio y fin de fraguado.

La norma ASTM C403 [9], determina los tiempos de fraguado inicial y final para hormigones
convencionales a partir de los tiempos a los cuales se alcanzan determinadas resistencias. Estos
valores no son comparables a los obtenidos con UHPRFC, por lo que el método tampoco es aplicable.

343
Desarrollo de productos de Hormigón de Muy Alto Rendimiento por conformado
durante el proceso de fraguado

Para este trabajo se ha fijado un criterio basado en la penetración de la aguja de Vicat, con idéntico
proceso de preparación, pero modificando los criterios de definición de tiempos. En esta fase de
estudio no se utilizan fibras metálicas, que sólo se incorporan en la fabricación de placas.

El momento a partir del cual la placa puede ser doblada (Inicio de Conformado) se determina a partir
del aspecto del hormigón cuando la aguja sale de la probeta. El hueco que deja en ella no debe cerrarse
por sí solo, porque esto significaría que el hormigón aún no ha conseguido suficiente cohesión, y la
aguja no debe arrastrar material en la extracción. En caso contrario deberá esperarse y realizar medidas
en intervalos de tiempo determinados hasta que la aguja aparezca prácticamente limpia (ver imágenes
comparativas, Fig. 1 y 2).

Figura 1. La aguja arrastra demasiado material, el Figura 2. Aguja prácticamente limpia, el hueco no se
hueco se cierra. cierra.

El momento en el que el doblado ya no es posible (Fin de Conformado) sin dañar las propiedades
finales se ha definido como el tiempo a partir del cual se produce el agrietamiento alrededor del hueco
dejado por la aguja, lo que indica que el endurecimiento se está iniciando y un conformado en este
momento perjudicaría su respuesta posterior.

Para comprobar si los criterios utilizados son efectivos, se realiza una prueba, en la que el hormigón es
vertido en un molde rígido de dimensiones 30 x 15 x 2 cm y se mide el ángulo de elevación que es
capaz de soportar sin escurrimiento, en función del tiempo transcurrido desde el momento de
hormigonado. La prueba se realizó utilizando la dosificación D2 control, sin incorporación de ningún
tipo de acelerador de fraguado (Fig. 3). Con los resultados representados en la Figura 4 se observa que
a las 2 horas y media de la fabricación se puede elevar la placa 20 grados sin escurrimiento del
material. Los resultados siguen tendencias similares a los obtenidos en ensayos de penetración con
muestras del mismo espesor.

Figura 3. Prueba de pendiente. Figura 4. Resultados prueba de pendiente.

344
Fernández, Serna e López

2.1.2 Resistencia en probetas prismáticas


Se fabrican 24 series de 3 probetas prismáticas de 40x40x160 mm para su rotura a flexo-tracción y
compresión simple a la edad de 3,7 y 28 días, según normas UNE-EN 14651:2007+A1 [10] y UNE-
EN 12390-3 [11] respectivamente; 12 serán fabricadas con la dosificación de base D1 y las otras 12
con la dosificación de base D2. De cada grupo de 12, dos series serán control (sin acelerador) y las
otras 10 llevarán alguno de los 5 aceleradores en estudio, de tal forma que existan 2 series de cada tipo
diferente, obteniéndose para cada edad y hormigón 2 resultados a flexo-tracción y 4 resultados a
compresión.

2.1.3 Fabricación de placas


En el trabajo se pretende saber si el hecho de realizar el conformado de piezas de UHPRFC durante el
periodo de tiempo definido por los ensayos descritos en el apartado anterior afecta a las propiedades
finales de las placas. Para ello se fabrican placas con dos sistemas diferentes (Fig. 5 y 6); por un lado
moldeadas, en las que se utilizan moldes curvos que le aportarán la forma a la pieza y por otro
mediante conformado, utilizando moldes flexibles y que se doblarán una vez vertido el hormigón en
ellos y en el momento adecuado.

Figura 5. Moldes rígidos para moldeado. Figura 6. Moldes flexibles para conformado.

El sistema de conformado consiste en la colocación del molde flexible, en el intervalo de tiempo


calculado para su conformado, sobre una mesa con la curvatura deseada, a la que se fijarán las piezas
mediante gatos para que puedan mantenerse en su posición hasta el momento del desmoldeo. Todas
las placas se taparán con telas húmedas y se colocará una lámina plástica sobre ellas para evitar que la
colocación de los gatos produzca deformaciones en el ajuste (Fig. 7 y 8).

Figura 7. Sistema de conformado, curvatura C1. Figura 8. Sistema de conformado, curvatura C2.

345
Desarrollo de productos de Hormigón de Muy Alto Rendimiento por conformado
durante el proceso de fraguado

Todas las piezas fabricadas tienen las mismas dimensiones de 30 x 15 x 2 cm. Se fabricaron 24 piezas
con un radio de curvatura de 38 cm (C1) y 24 piezas con radio de curvatura 15 cm (C2). De las 24
piezas de cada curvatura, 12 fueron fabricadas por moldeado y las otras 12 mediante conformado. De
cada grupo de 12 piezas iguales, 6 se fabricaron con la dosificación control (sin acelerador de
fraguado) y las otras 6 con el acelerador elegido. Las placas se conservaron en cámara húmeda a 20ºC
y 100% de humedad hasta la fecha de ensayo a la edad de 28 días.Las placas se ensayaron a flexión
apoyándolas en sus extremos con una luz de 17 cm y aplicando la carga en el centro de la luz. De cada
grupo de 6 piezas, 3 se rompieron en posición cóncava y las otras 3 en posición convexa. (Fig. 9 y 10).

Figura 9. Placa serie C1, Rotura en posición cóncava. Figura 10. Placa serie C2, Rotura en posición
convexa.

3. RESULTADOS.

3.1 Tiempos de conformado

Con los criterios definidos en el apartado anterior, se realizaron los ensayos de determinación de
tiempos de conformado en hormigones sin fibras. Los resultados obtenidos se representan en las
figuras 11 y 12. Los datos corresponden al valor medio de al menos dos determinaciones por caso.

Figura 11. Tiempos de conformado. Dosificación 1. Figura 12. Tiempos de conformado. Dosificación 2.

Se observa que los tiempos de inicio de conformado son menores cuando la dosificación de partida es
la 2, manteniéndose un periodo aproximado de entre 30 y 40 minutos entre el inicio de este y el
considerado como fin.

346
Fernández, Serna e López

3.2 Resistencias en probetas

Los resultados medios de las roturas a 28 días se adjuntan en la tabla 3. Con estos resultados no se
aprecian diferencias significativas entre las resistencias alcanzadas con la dosificación D1 y la D2, ni
entre las mezclas con aceleradores de fraguado y sin ellos.

Teniendo en cuenta estos datos y los ensayos de conformado se decide tomar como dosificación para
la fabricación de placas la D2, y como acelerador de fraguado el nº 5, ya que es el que proporciona
menores tiempos para el inicio de conformado y puede favorecer para reducir periodos de espera en la
fabricación.

Tabla 3. Resistencias a flexo-tracción y compresión simple en probetas.


RESITENCIA MEDIA
RESISTENCIA MEDIA
DOSIFICACIÓN ADITIVO SERIE FLEXO-TRACCIÓN
COMPRESIÓN (MPa)
(MPa)
Control 1-2 19,60 140,9
Acelerante 1 3-4 21,47 128,6
Acelerante 2 5-6 21,09 138,0
D1
Acelerante 3 7-8 23,35 153,5
Acelerante 4 9-10 22,07 138,1
Acelerador 5 11-12 20,90 136,9
Control 13-14 20,48 134,5
Acelerador 1 15-16 21,84 129,5
Acelerador 2 17-18 22,59 134,6
D2
Acelerador 3 19-20 21,25 141,9
Acelerador 4 21-22 22,67 141,1
Acelerador 5 23-24 21,56 134,2

3.3 Resistencias en placas

Con el criterio descrito en 2.1.3 se fabrican y rompen las placas a flexotracción. El acabado superficial
de las placas se asemeja a los encofrados utilizados, así las placas moldeadas presentan un brillo
similar al del material utilizado en los moldes, mientras que las placas conformadas por una cara
tienen una textura similar a la del molde y por la otra cara tienen un aspecto más rugoso debido a la
tela que cubre la placa durante el proceso de conformado. Los resultados obtenidos se adjuntan en la
tabla 4. Los resultados obtenidos, comparando entre placas conformadas y moldeadas se representan
en las figuras 13 a 16.

Tabla 4. Resistencias a flexo-tracción en placas.


Nº RESISTENCIA
CURVATURA DOSIFICACIÓN ROTURA FABRICACIÓN
PLACAS MEDIA (MPa)
Conformadas 1-3 22,0
Cóncava
Moldeadas 4-6 23,5
Control
Conformadas 7-9 26,8
Convexa
Moldeadas 10-12 21,0
C1
Conformadas 13-15 19,0
Cóncava
Moldeadas 16-18 22,6
Con acelerador 5
Conformadas 19-21 23,4
Convexa
Moldeadas 22-24 18,9
Conformadas 25-27 18,4
Cóncava
Moldeadas 28-30 18,7
Control
Conformadas 31-33 13,9
Convexa
Moldeadas 34-36 10,7
C2
Conformadas 37-39 17,1
Cóncava
Moldeadas 40-42 23,9
Con acelerador 5
Conformadas 43-45 15,8
Convexa
Moldeadas 46-48 9,3

347
Desarrollo de productos de Hormigón de Muy Alto Rendimiento por conformado
durante el proceso de fraguado

Figura 13. Resistencia a 28 días. Curvatura 1 – Dosificación Control.

Figura 14. Resistencia a 28 días. Curvatura 1 – Dosificación con Acelerador.

Figura 15. Resistencias a 28 días. Curvatura 2 – Dosificación control.

Figura 16. Resistencia a 28 días. Curvatura 2 – Dosificación con Acelerador.

348
Fernández, Serna e López

4. DISCUSIÓN

Se ha planteado un procedimiento para caracterizar el tiempo de conformado de UHPFRC, como el


intervalo de tiempo apropiado para realizar el proceso de conformado. Este periodo puede ser
controlado con la inclusión de acelerador de fraguado. En el caso estudiado para la dosificación
control el intervalo para su doblado se fijó entre las 2 horas y media y las 3 horas desde el momento de
la fabricación. En el caso de la dosificación con acelerador de fraguado el tiempo se redujo al periodo
entre los 40 y los 70 minutos.

El uso de aceleradores de fraguado no ha afectado a las propiedades resistentes, ni en probetas


moldeadas ni en las placas fabricadas.

Con los datos obtenidos se observa que la rotura en posición cóncava es más favorable que la posición
convexa en las placas moldeadas, es decir, cuando no existe influencia del método de fabricación. Esto
es debido a que la rigidez del sistema de apoyos produce un efecto de confinamiento favorable en esa
posición.

Este fenómeno no se reproduce cuando se trata de las placas conformadas, por lo que el hecho del
modo de fabricación influye en las resistencias obtenidas. Se observa que en rotura convexa, se
alcanzan valores de mayor resistencia cuando la placa ha sido conformada que cuando ha sido
moldeada.

Esto se podría explicar por una posible segregación en la mezcla, que provoca que las fibras al verter
el hormigón en el molde flexible se hayan repartido de forma que en la parte inferior de la placa haya
más cantidad, debido a que el hormigón sea más fluido de lo deseable. De esta forma, cuando se
procede a la rotura en posición convexa, posición de fabricación de todas las placas, la parte por la que
va a comenzar a fisurar es la que tiene mayor cantidad de fibras y puede soportar mayor resistencia,
sin embargo, cuando la rotura es en posición cóncava, la mayor parte de las fibras estarían en la parte
superior de la placa y la zona por la que va a comenzar a fisurar tiene menos fibras y por lo tanto
menor resistencia (Fig. 17).

Figura 17. Posición de fabricación y rotura de placas.

Con estos resultados, y la dispersión observada entre los distintos resultados se puede considerar que
el efecto del conformado sobre la resistencia no ha sido importante, y que por tanto el proceso de
fabricación puede ser válido. Evidentemente será preciso incrementar el número de ensayos y superar
las dificultades de procedimiento de este trabajo para poder generalizar las conclusiones.

CONCLUSIONES

El proceso de conformado de piezas fabricadas en hormigón de muy altas prestaciones reforzado con
fibras durante el periodo de tiempo adecuado es posible sin afectar a las propiedades finales, si bien, se
deben extremar las condiciones en las que este proceso de realiza, la consistencia de la mezcla, las
características mecánicas de los moldes en los que se realiza y el mecanismo utilizado para el proceso.

349
Desarrollo de productos de Hormigón de Muy Alto Rendimiento por conformado
durante el proceso de fraguado

Los aditivos aceleradores de fraguado permiten adelantar el inicio del proceso de conformado sin
penalizar la resistencia del material. El proceso de conformado ofrece resultados similares a la
fabricación por moldeo. El conformado en los tiempos de doblado propuestos no afecta a la
resistencia.

AGRADECIMIENTOS

Los autores de este trabajo manifiestan su agradecimiento a la Subdirección General de Proyectos de


Investigación del Ministerio de Economía y Competitividad y a los Fondos FEDER por la financiación
del proyecto BIA 2012-35776, dentro del Programa Nacional de Proyectos de Investigación
Fundamental, en el marco del VI Plan Nacional de Investigación Científica, Desarrollo e Innovación
tecnológica 2008-2011.

REFERENCIAS

[1] Serna, P.; Arango, S.; Ribeiro, T.; Núñez, A.M.; García-Taengua, E. (2009). Structural cast-in-
place SFRC: Technology, control criteria and recent applications in Spain. Materials and
Structures/Materiauxet Constructions, 42 (9), pp. 1233-1246.
[2] Schipper, R. (2010).A flexible mold for double curved precast concrete elements.Delft University
Technology. http://homepage.tudelft.nl/6w3a0/documents/schipper2010b.pdf. [Último acceso: 17
Febrero 2015].
[3] Spuybroek, L. (2004). Nox: machining architecture. Thames and Hudson, London.
[4] Schipper, R.; Janssen, B. (2011). Curving Concrete - A Method for Manufacturing Double Curved
Precast Concrete Panels using a Flexible Mould. IABSE-IASS Symposium, London.
[5] Schipper, R.; Janssen, B. (2011). Manufacturing double-curved elements in precast concrete using
a flexible mould-first experimental results. Fib Symposium, Prague.
[6] AENOR, UNE-EN 1015-3. (2000). Métodos de ensayo de los morteros para albañilería. Parte 3:
Determinación de la consistencia del mortero fresco.
[7] AENOR, UNE-EN 480-2. (2007). Aditivos para hormigones, morteros y pastas. Métodos de
ensayo. Parte 2: determinación del teimpo de fraguado.
[8] AENOR, UNE-EN 196-3:2005+A1. (2009). Métodos de ensayo de cementos. Parte 3:
determinación del tiempo de fraguado y de la estabilidad de volumen.
[9] ASTM, C403/C403 M-08. (2008). Standard Test Method for Time of Setting of Concrete Mixtures
by Penetration Resistance.
[10] AENOR, UNE-EN 14651:2007+A1. (2007). Método de ensayo para hormigón con fibras
metálicas. Determinación de la resistencia a la tracción por flexión.
[11] AENOR, UNE-EN 12390:3. (2009). Ensayos de hormgión endurecido. Parte 3: Determinación de
la resistencia a compresión de probetas.

350
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

Avaliação do calor de hidratação de betão auto compactavel

Sandra M. F. Roberto B.
Teixeira 1 Figueiredo 1

Augusto C S Maria T P
Bezerra 2 Aguilar 1

RESUMO

O betão auto compactavel é um compósito cimentício cujas características reológicas o tornam capaz
de fluir e autoadensar mantendo sua homogeneidade. Os estudos sobre seu desempenho, comumente,
tem como referência betãos convencionais fabricados com os mesmos materiais, diferindo apenas
quanto ao fator água/cimento, teor de finos e aditivos (superplastificante e/ou modificador de
viscosidade) utilizados. Neste trabalho foram avaliadas as características de hidratação de um betão
auto compactavel tendo-se como referência um betão convencional de 40 MPa, ambos confeccionados
com fator água cimento de 0,55. Os resultados indicam que o uso de aditivo superplasticante não
influencia a evolução da resistência à compressão e do módulo de elasticidade. No entanto, no ensaio
de calorimetria exploratória diferencial (DSC) observou-se que o superplastificante influenciaria o
calor de hidratação e o tempo de início e final das reações de hidratação.

Palavras-chave: concreto autoadensável, propriedades mecanicas, calorimetria

1. INTRODUÇÃO

O betão auto compactavel (CAA), desenvolvido no Japão em 1988, é um compósito que, no seu estado
fresco, possui um nível de fluidez que permite preencher a fôrma sem segregação, devido ao seu peso
próprio. Além da fluidez deve possuir resistência à segregação e coesão necessárias para que esta
mistura escoe intacta entre as barras de aço. Essas características especiais são obtidas com o uso de
aditivos superplastificantes e/ou modificadores de viscosidade, um alto teor de finos e de cimento [1].
Suas propriedades no estado não endurecido devem ser avaliadas em ensaios especiais: resistência à
compressão e módulo de elasticidade [2].

Trabalhos recentes internacionais têm analisado a influência da dosagem do superplastificante na


trabalhabilidade do CAA [3-4], a influência do superplastificante na resistência do CAA [5], a
aderência do CAA em barras de aço [6], e a permeabilidade do CAA [7]. Quanto ao módulo de
elasticidade, os estudos são precários [8, 9]. Geralmente nas pesquisas, o CAA é avaliado comparando
seu desempenho em relaçaõ a um betão convencional de mesma resistência mecânica à compressão ou

1
Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Engenharia de Materiais e Construção
2
Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Departamento de Engenharia de Materiais,
augustobezerra@des.cefetmg.br

351
Avaliação do calor de hidratação de betão auto compactavel

consumo de cimento, mas fabricado com teor de argamassa e/ou fator água cimento diferentes. Sendo
assim não se pode avaliar isoladamente a influência do superplasticante nas propriedades dos betãos.
Neste trabalho avalia-se comparativamente o desempenho de um CAA e de CCV ambos de 40 MPa de
resitenvia mecânica, confeccionados com materiais típicos de Minas Gerais, relação água/cimento de
0,55 e teor de argamassa de 69%.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Foram analisados betãos e pastas confeccionadas com e sem uso de superplastificantes. Foram
confeccionados um CCA e um CCV de mesma composição, diferindo apenas quanto ao aditivo
superplastificante ViscoCrete 3535® CB, que foi adicionado ao autoadensável na proporção de
0,768% em volume. A composição básica dos dois compositos foi (traço em massa de 1:2,283:1,448),
com consumo de 442 Kg de cimento e 0,617% de aditivo polifuncional . O fator água cimento foi de
0,55 e o teor de argamassa de 69%. O aglomerante foi o cimento Portland de alta resistência inicial
com Blaine de 4784 cm²/g. Como agregado miúdo utilizou-se duas areias silicosas artificiais (massas
específicas de 2,67 e 2,62 kg/dm³, e módulos de finura de 2,402 e 2,087). Como agregados graúdos
empregou-se brita calcarea (dimensões máximas características variando de 4,4 a 12,5mm).

Os dois betãos foram avaliados no estado fresco quanto à trabalhabilidade: o CCV em ensaios
abatimento do tronco de cone - slump test [10] e o CAA em ensaios de espalhamento [11-12], teste da
caixa-L [13] e funil-V [14]. No estado endurecido os betãos foram submetidos a ensaios de resistência
à compressão axial e de módulo de elasticidade. Para a determinação das propriedades mecânicas,
foram moldados 36 corpos de provas cilíndricos de 100 mm por 200 mm de cada tipo de betão [15].
Os corpos de prova ficaram em câmara úmida para cura, imerso em água, à temperatura de 23°C +
2°C até o dia anterior ao ensaio. Os ensaios foram realizados em uma prensa de marca Mohr Federhaff
Losenhausen, modelo DPT 200 tipo eletro hidráulico, conforme as normas vigentes para as idades de
3, 7, 28 e 100 dias [16-17]. Também foram produzidas pastas com aditivos (polifuncional e
superplastificante com as mesmas proporções dos betãos CAA e CCV, que foram submetidas à
calorimetria exploratória diferencial (DSC). A primeira pasta foi confeccionada com cimento e água
utilizando uma relação água/cimento de 0,55, a segunda introduzindo 0,617% de aditivo
polifuncional, a terceira além do aditivo polifuncional mais 0,768% de superplastificante e a quarta
pasta somente com 0,768% de superplastificante.

3. RESULTADOS

Os resultados de caracterização no estado fresco do betão auto compactavel e convencional são


apresentados no Quadro 1. Observa-se que o CAA produzido pode ser caracterizado como betão auto
compactavel, podendo ser utilizado na maioria das aplicações correntes (paredes, vigas, pilares, etc).
Como T500 é menor que 2 e o tempo de escoamento no funil V é menor que 8, este traço é adequado
para utilizar nos locais com alta densidade de armadura, controlando-se a exsudação e a segregação.

As Figuras mostram os resultados médios de resistência à compressão axial e de módulo de


elasticidade (secante) em função do tempo de cura, para os dois betões (Fig 1 e Fig 2) [18]. Verifica-
se que a evolução do crescimento da resistência à compressão e do o módulo de elasticidade dos dois
betões são similares, o que permite inferir que o uso de superplasticante não ocorreu influência essas
propriedades.

352
Teixeira, Figueiredo, Bezerra e Aguilar

Quadro 1. Resultados de ensaios de caracterização do betão CCV e CAA.


Ensaio Unidade CCV CAA Valores de Norma
Consistência slump mm 200,0 - -
slump flow test (d) mm - 700,0
660 a 750
Teste de
espalhamento slump flow T500 s - 1”13”’
<2

Anel-J (J-Ring test) H cm - 28,0 Entre 25,0 e 50


T30s s - 3"13"' <9
Funil "V"
T35s s - 2"97"'
TL s - 1" 28"' -
H1 (cm) cm - 7,2 -
Caixa “L”
H2 (cm) cm - 6,7 -
H2/H1 - - 0,93 > 0,80

Figura 1. Resistência àcompressão dos betãos.

Figura 2. Módulo de elasticidade dos betãos.

A resistência à compressão axial obtida para os betãos CCV e CAA aos 28 dias superou o valor de 40
MPa preestabelecido no procedimento da dosagem em aproximadamente 33%. Diferentes trabalhos na
literatura mostram que o uso de superplastificantes está associado a um aumento da resistência aos 28

353
Avaliação do calor de hidratação de betão auto compactavel

dias (19; 20). Nestes trabalhos da literatura, o CAA foi fabricado com menor relação água/cimento em
comparação ao CCV. A diferença de comportamento entre os dados da literatura e os obtidos neste
trabalho provavelmente está relacionada ao fato de que nos trabalhos da literatura não se fixa o fator
água/cimento e teor de argamassas para os estudos comparativos de betãos convencionais e CAA. No
entanto, Mehta e Monteiro [2] relatam que a resistência à compressão dos betãos que utilizam aditivos
superplastificantes em sua composição é maior que os betãos convencionais com mesma relação
água/cimento nas primeiras idades e aos 28 dias a resistência é praticamente a mesma conforme
encontrado neste trabalho.

O módulo de elasticidade, segundo Mehta e Monteiro [2] relatam para os betãos que utilizam aditivos
superplastificantes em sua composição é maior que os betãos convencionais com mesma relação
água/cimento nas primeiras idades. Jawahar [21] em seu estudo, com relação água/cimento inferior,
obteve um módulo de elasticidade de 24,78 GPa aos 28 dias para o CAA e 28,91 GPa para o CCV,
ambos com o mesmo fator água/cimento. A diferença entre os dois betãos poderia estar relacionada às
incertezas inerentes às medidas do módulo (deformações muito pequenas), podendo os resultados
confirmar as tendências encontradas neste trabalho [22]. O mesmo é relatado por Cavalcanti [23] que
obteve um módulo de elasticidade igual a 30,2 GPa aos 7 dias e 35 GPa aos 28 dias para o betão CAA
(confeccionado com 392 kg de cimento CP II – Z 32; a/c igual a 0,5 e adição de resíduo de mármore e
granito). No mesmo estudo para o CCV com mesma dosagem de cimento e relação a/c do CAA
obteve um módulo de elasticidade de 28,3 GPa aos 7 dias e 30,7 GPa aos 28 dias.

Os resultados do ensaio de calorimetria exploratória diferencial (DSC) são apresentados no gráfico da


Figura 3, onde se pode analisar a variação da temperatura da mistura em função do tempo de reação,
para as três pastas estudadas e também para uma pasta feita apenas com superplastificante. Esses
dados permitem avaliar de forma indireta e qualitativa o calor de hidratação da pasta com e sem o uso
de aditivos e os tempos de final de reação. Observa-se que a temperatura máxima atigida e o tempo
para a mistura atingira a temperatura ambiente diferem para todas as amostras.

Figura 3. Resultado do ensaio de Calorimetria exploratória diferencial.

Os dados indicam que para todas as misturas o tempo de início de reação é similar: em torno de 0,5h.
No entanto, os dados mostram que o uso de aditivos influencia o calor de hidratação e o tempo
necessário para a hidratação completa do cimento (considerada quando a mistura atinge a tempaertura
ambiente). A pasta de cimento, água, aditivo Sikament SA® e superplastificante ViscoCrete3535®
CB, que compõe o betão autoadensável, apresentou maior temperatura durante a reação, do que o que
indicaria um maior calor de hidratação do que as outras misturas no início de pega. Também é
possível verificar que a mistura com o aditivo Sikament SA®, que compõe o betão convencional,
obteve fim de pega após 15 horas da mistura. No entanto a mistura com superplastificante
ViscoCrete3535® CB e aditivo Sikament SA®, que compõe o betão auto compactavel retardou o fim

354
Teixeira, Figueiredo, Bezerra e Aguilar

de pega, atingindo após 30 horas, e obteve menor calor de hidratação. Estes resultados são similares.
No entanto um maior tempo de fim de reação não é satisfatório para a desforma e para o
endurecimento do betão aplicado.

CONCLUSÕES

Os resultados indicam que o uso de aditivo superplastificante ViscoCrete 3535® CB para obtenção de
um betão autoadensável não influencia a resistencia a compressão e o modulo de elasticidade do
mesmo. No entanto o uso desse aditivo influenciaria o calor de hidratação e o tempo necessário para a
hidratação completada do cimento. A mistura com superplastificante ViscoCrete 3535® CB e aditivo
Sikament SA®, que compõe o betão autoadensável retardou o fim de pega, atingido após 30 horas, e
gerou menor calor de hidratação.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à FAPEMIG, CAPES e ao CNPq pelo apoio financeiro, e à HOLCIM (Brasil)
S.A., Supermix pelo suporte técnico.

REFERÊNCIAS

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Progress in Structural Engineering and Materials. Vol (4): 378-383.
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ed. São Paulo: Editora Pini.
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Sandra Moreira Fernandes; Costa, Rodrigo Moyses; Ribeiro, Alexandre Batista (2011). Estudo do
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Anais do 53º Congresso Brasileiro do Concreto CBC2011. IBRACON. Florianópolis/ SC.
Novembro.

355
Avaliação do calor de hidratação de betão auto compactavel

[10] Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). NBR NM 67 (1998). Concreto -


Determinação da consistência pelo abatimento do tronco de cone.
[11] NBR 15823-1 (2010a). Concreto Autoadensável. Parte 1: Classificação, Controle e Aceitação no
Estado Fresco.
[12] NBR 15823-2 (2010b). Concreto Autoadensável. Parte 2: Determinação do espalhamento e do
escoamento – Método do cone de Abrams.
[13] NBR 15823-4 (2010d). Concreto Autoadensável. Parte 4: Determinação da Habilidade
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[14] NBR 15823-5. Concreto Autoadensável. Parte 5: Determinação da Viscosidade. Método do
Funil V. 2010e.
[15] NBR 5738 (2003). Concreto - Procedimento para Moldagem e cura de corpos-de-prova.
[16] NBR 5739 (2007). Concreto - Ensaios de compressão de corpos-de-prova cilíndricos.
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mestrado, Universidade Federal Alagoas. Alagoas.

356
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

Avaliação reológica de argamassa com agregado reciclado para


obtenção de concreto autoadensável leve

Everton L. S. Rafael G. Paulo C.C.


Mendes1 Pileggi 2 Gomes 3

Roberto C. Sérgio C.
de O. Angulo5
Romano4

RESUMO

A reologia nas últimas décadas vem sendo amplamente apliacada na avaliação das propriedades de
fluxo dos materiais cimentícios. A incorporação de aditivos, adições e de materiais não convencionais
nas composições de pastas, argamassas e concretos é um dos principais motivos dessa aplicação.
Atualmente a utilização de agregados reciclados em composições de concretos e argamassas tem sido
cada vez mais frequente e, devido às diferentes características, há alterações nas propriedades nos
estados fresco e endurecido. Neste sentido, o artigo apresenta um estudo inicial das características do
agregado reciclado e uma análise do impacto nas propriedades reológicas de argamassas, a fim de
verificar sua influência na obtenção de concreto autoadensável leve (CALAR). A utilização de
agregados reciclados de blocos porosos com o objetivo de diminuir a densidade do sistema tem sido
um desafio para o estudo, pois apresentam alta absorção, elevada área superficial específica e
morfologia mais irregular do que os agregados naturais, o que aumenta a demanda de água para o
amassamento, prejudica o empacotamento e a mobilidade das partículas, etc. A caracterização dos
agregados foi obtida através de granulometria por análise digital de imagens, densidade real por
picnometria de hélio, densidade específica aparente por picnometria de pó. O estado fresco foi
avaliado por reometria rotacional e espalhamento e as caracteristicas após o endurecimento, por
resistência mecânica e módulo de elasticidade dinâmico. A avaliação das argamassas para o CALAR
mostrou claramente que a distribuição granulométrica do agregado reciclado de blocos influencia nas
propriedades.

Palavras-chave: Agregado Reciclado, Argamassa, Reologia, Concreto auto adensável

1. INTRODUÇÃO

A escassez de alguns recursos naturais para aplicação na construção civil, a crescente geração de
resíduos de construção, que necessitam de grandes áreas de aterro para sua disposição final [1], e a
falta de reciclagem, normatizações e tecnologia que regulem o uso de agregados reciclados [2],
mostram que a inovação tecnológica do concreto pode ser um principal meio de transformação dessa
realidade.
____________________
1, 3
Universidade Federal de Alagoas, Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil - Estruturas, Alagoas, Brasil.
everton-mendes@hotmail.com; paulocorreiagomes@gmail.com
2, 4, 5
Universidade de São Paulo, Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil - Construção Civil, São Paulo, Brasil.
rafael.pileggi@lme.pcc.usp.br; rcorjau@gmail.com; sergio.angulo@lme.pcc.usp.br

357
Avaliação reológica de argamassa com agregado reciclado para obtenção de concreto autoadensável leve

Os grandes problemas apresentados por Hansen [3] na utilização dos agregados reciclados são: teor de
absorção de água elevado (entre 5-10%), superior ao agregado natural; massa específica variável,
dependente dos materiais utilizados; redução de resistência dos concretos devida a fraca ligação de
aderência entre o agregado graúdo reciclado com a argamassa; problemas de durabilidade devido ao
elevado consumo de água e porosidade dos agregados.

No entanto, acredita-se que a porosidade interna dos grãos que reduz a massa especifíca dos agregados
possibilitem a redução da massa específica dos concretos, aliviando o peso nas estruturas.

Castro e Oliveira [4,5] afirmam que o concreto pode ser definido como um material bifásico,
composto por uma matriz cimentícia, formada por partículas finas, onde são imersos os agregados.
Segundo a ABNT [6], para ter característica de autoadensabilidade o concreto deve ser capaz de fluir e
adensar pelo peso próprio, preencher a forma e passar por embutidos, enquanto mantém sua
homogeneidade nas etapas de mistura, transporte, lançamento e acabamento.

Por isso, as características reológicas de maior interesse do CAA são a tensão de escoamento e a
viscosidade. Enquanto, a primeira consiste na tensão mínima necessária para o início do fluxo, a
segunda é um parâmetro de dissipassação de energia relacionada com resistência do fluido ao fluxo
[7].

O estudo da utilização de agregado reciclado para produção de CAA é relativamente recente, como
também a avaliação da estabilidade desses agregados a partir de conceitos reológicos, para melhor
entender o efeito da alta absorção deste agregados envoltos por pasta de cimento.

A fim de entender a complexidade do agregado reciclado na produção de concretos autoadensáveis


leves, será realizado incialmente um estudo de caracterização dos agregados reciclados e do
comportamento reológico de argamassas utilizando os agregados reciclados de blocos porosos com
diferentes características.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Os materiais utilizados no estudo foram: cimento portlant CPV ARI (Nacional), aditivo
superplastificante base policarboxilatos (PF 3100, MC Bauchemie) e agregado reciclado (AGR) de
resíduo proveniente de blocos de alvenaria estrutural.

2.1 Beneficiamento

O resíduo de blocos de concreto foi coletado em uma fábrica instalada em um canteiro de obras de
edifícios em alvenaria estrutural, britado em um moinho de mandíbulas, peneirado e homogeneizado
em pilhas, através do processo desenvolvido por Angulo [8], seco em estufa por 24h à temperatura de
50ºC e peneirado em 4 frações granulométricas:
1) agregado reciclado graúdo (AGRG-12,5) entre 12,5 mm - 4,75 mm,
2) agregado reciclado miúdo (AGRM-4,75), 4,75 mm - 1,18 mm;
3) agregado reciclado miúdo (AGRM-1,18)1,18 mm - 0,15 mm; e
4) finos de britagem (F<0,15) e abaixo de 0,15 mm.

2.2 Ensaios de caracterização

2.2.1 Massa específica real


A massa específica dos materiais secos foi determinada pelo método de picnometria de adsorção de
gás hélio. O equipamento utilizado foi o Multipycnometer, da Quantachrome. Antes do ensaio as
amostras foram secas em estufa por 24 horas a temperatura de 50°C.

358
Mendes, Pillegi, Gomes, Romano e Angulo

2.2.2 Massa específica aparente


A massa específica aparente foi estimada incluindo-se os vazios contidos nos grãos, a partir da técnica
de picnometria de adsorção de pó em um equipamento GeoPyc 1360, Micromeritics. Esta metologia
foi aplicada apenas para as faixas de agregados reciclados com diâmetros maiores do que 1,18
mm, devido ao diâmetro do DryFlo, pó de alumínio utilizado.

2.2.3 Distribuição granulométria por Análise Dinâmica de Imagens


A distribuição granulométrica dos materiais utilizados foi determinada por meio de Análise
Dinâmica de Imagens (ADI) em um equipamento o QICPIC, Sympatec.

2.2.4 Distribuição granulométrica a laser


A distribuição granulométrica dos materiais finos (cimento e F<0,15) foi obtida em um equipamento
Mastersizer S long bed, da Malvern, com faixa de detecção de 0,05 µm a 555 µm.

2.2.5 Determinação do teor de absorção de água dos agregados


O teor de absorção de água dos agregados foi obtido de acordo com a ABNT [9], em função das
diferentes frações granulométricas.

2.3 Avaliação do impacto da alteração da quantidade de água ou aditivo na estabilidade das


argamassas em função do tempo

A avaliação de estabilidade da mistura foi realizada para verificar a influência da água e do aditivo no
processo de mistura de argamassas com agregados reciclados, analisando se o parâmetro reológico
(torque) se mantém constante ou não durante os longos períodos de tempo de mistura, variando a
dosagem do aditivo ou da água. Foram produzidas quatro argamassas:
1) AGRM-4,75 + Pasta de cimento com a/c 0,30 e 0,2% aditivo (sobre a massa de cimento –
spc);
2) AGRM-4,75 + Pasta de cimento com a/c 0,47 e 0,2% aditivo spc;
3) AGRM-1,18 + Pasta de cimento com a/c 0,30 e 0,2% aditivo spc; e
4) AGRM-1,18 + Pasta de cimento com a/c 0,47 e 0,2% aditivo spc.
A pasta de cimento era misturada previamente em um dispersor de elevada velocidade, a fim de
eliminar possíveis aglomerações de partículas na pasta. Para compensar a massa de aditivo inicial que
entrou no sistema, retirou-se a massa em água. O procedimento de mistura no reômetro foi misturada
da seguinte forma: (1) Colocação do AGRM; (2) Colocação da pasta de cimento pré-mistura no
dispersor; (3) Mistura por 5 min em velocidade de 350 rpm; (4) e imediatamente durante 55 min a
argamassa segue em fluxo constante na mesma velocidade, sendo inseridos 0,2% de água ou aditivo
sobre a argamassa a cada 300 s.

2.4 Processo de formulação e avaliação de argamassas

Diferentemente das argamassas estudadas no item anterior, as argamassas foram formuladas através
da composição dos AGRM-4,75, AGRM-1,18, F<0,15 e Cimento.

2.4.1 Propriedades reológicas


Foram definidas duas argamassas, com distribuição contínua (MCONT) e descontínua (MDESC).
Inicialmente todo material seco foi pré-misturado em um saco plástico, e colocado na cuba de mistura
do reômetro. O procedimento de mistura foi realizado da seguinte forma: a água e o aditivo foram
adicionados juntos, 30 segundos após o início da mistura do pó seco, sendo mantida a velocidade de
rotação constante, em 500 rpm, por 5 minutos. Em seguida a mistura foi submetida a um ciclo de
cisalhamento, que consistiu em uma aumento da velocidade de rotação, de 50 a 1000 rpm, seguida de
uma desaceleração até 50 rpm. como mostrado na Figura 1. A velocidade foi mantida por 8 segundos
em cada patamar.. Após a mistura o espalhamento foi medido em um tronco de cone.

359
Avaliação reológica de argamassa com agregado reciclado para obtenção de concreto autoadensável leve

Figura 1. Procedimento de ciclo de cisalhamento.

2.4.2 Moldagem e cura


A moldagem dos corpos de prova foi realizada em uma única camada sem adensamento, sendo 6
espécimes por mistura. Em seguida, a superfície foi nivelada com auxílio de uma espátula, e os corpos
de prova (altura x diâmetro = 100 mm x 50 mm) foram depositados em recipientes fechados, de forma
a garantir cura úmida por 28 dias.

2.4.3 Estado endurecido


Massa específica aparente
A massa específica aparente foi obtida através da relação de massa/volume dos corpos de prova aos 28
dias. A medição das dimensões foi realizada com o auxílio de um paquímetro e pesagem com o auxílio
de uma balança de resolução de 0,1g.

Resistência à compressão
Os corpos de prova foram submetidos a ensaio de compressão axial, para determinação da resistência,
segundo a NBR 5739 [10], no equipamento INSTRON (modelo 5569 e célula de carga de 50kN).

Tração por compressão diametral


Os corpos de prova foram submetidos à tração por compressão diametral segundo NBR 7222 [11], no
mesmo equipamento citado anteriormente.

Módulo de elasticidade dinâmico


O módulo de elasticidade dinâmico dos corpos de prova foi obtida com base na NBR 15630 [12]. Foi
utilizado o equipamento de ultrassom PUNDIT, que possui transdutores de 20 mm de diâmetro e
frequência de 200kHz. A medida do tempo (µs) em que a onda percorre a extensão longitudinal do
corpo de prova foi realizada com os transdutores posicionados na região central do corpo de prova.

3. RESULTADOS

3.1 Caracterização dos materiais

No Quadro 1 estão apresentados os resultados de massa especifíca real e absorção de água dos
materiais secos.

Quadro 1. Propriedades dos materiais.


Propriedades Cimento AGRM (<4,75mm)
Densidade (g/cm³) 2,96 2,62
Absorção de água [9] (%) - 7,30

A Figura 2 mostra a massa específica aparente em função dos tamanhos dos grãos do AGR. É possível
verificar que as partículas com diâmetro entre 1,7 mm - 4,75 mm apresentaram maior massa específica
aparente, mostrando que possuem menor teor de vazios que as demais partículas.

360
Mendes, Pillegi, Gomes, Romano e Angulo

Figura 2. Massa Específica Aparente.

Na Figura 3 são apresentadas as distribuições granulométricas de três faixas de AGR. Observa-se que
em geral as faixas granulométricas apresentam uma distribuição continua com predominância das
partículas de diâmetros maiores.

Figura 3.Distribuição granulométrica por ADI.

A Figura 4 apresenta as distribuições granulométricas do cimento e dos finos do AGR. Observa-se que
F<0,15 apresenta partículas com diâmetros superiores as partículas de cimento.

Figura 4. Distribuição granulométrica a laser.

361
Avaliação reológica de argamassa com agregado reciclado para obtenção de concreto autoadensável leve

3.2 Avaliação de estabilidade reológica de argamassas no tempo

As argamassas são identificadas pela seguinte nomenclatura: relação agregado:cimento; fator a/c e
inserção de aditivo ou água no tempo total de mistura de 3300 s. As Figuras 5 e 6 mostram as curvas
de comportamento reológico das argamassas no reômetro, sendo uma com inserção de aditivo e a
outra com inserção de água, respectivamente, para AGRM-4,75.

Nas Figuras 5a e 5c, as argamassas com composição 2:1 e a/c 0,30 apresentaram valores de torque
superiores às demais da mesma faixa de agregado, havendo necessidade de maiores torques, desta
forma, consumindo mais energia. Fato que pode estar relacionado à menor quantidade de pasta, em
relação às misturas 1:1, e consequentemente pouca água presente no sistema. Essa situação é agravada
pela alta absorção do AGR, que pode ter levado a uma perda de fluidez mais rápida partir de 2000 s,
para ARGM-4,75, e aos 3000s, para AGRM-1,18, ocorrendo um aumento do torque em torno de 100
% em ambos os casos, mesmo ocorrendo incremento da dosagem de aditivo.

As Figuras 5b e 5d mostram que as argamassas com composição 2:1 e a/c 0,30, mesma composição
das argamassas anteriores, também apresentaram maior faixa de torque mesmo com a inserção de
água. No entanto, os valores de torque foram diminuido ao longo do tempo. Em uma avaliação geral,
durante todo o ensaio os torques permaneceram inferiores do que nas misturas com a inserção de
aditivo. Para esta composição, a mistura com AGRM-4,75 o maior valor de torque foi superior ao da
mistura com AGRM-1,18, 8 N.m e 6 N.m, respectivamente.

As demais misturas em todos os casos permaneceram estáveis e com valores de torque próximos de 3
N.m, o que caracteriza misturas mais fluidas, porém já saturadas de água. Todas as misturas com fator
a/c de 0,47 apresentaram segregação com pouco tempo de mistura. Para essas composições analisadas
a absorção parece não ter influenciado significativamente no comportamento das argamassas
estudadas, devido a maior quantidade de água presente.

Observa-se que as composições com mesma proporção agregado:cimento e fator a/c, apresentam
torques iniciais, aos 30s do início de mistura, de mesmo valor, mostrando que antes da colocação dos
incrementos de água/aditivo as misturas são iguais.

(a) (b)
AGRM-4,75

(c) (d)
AGRM-1,18

Figura 5. Acompanhamento da evolução no torque em função dos incrementos de aditivo (à esquerda) e água (à
direita). Acima estão os resultados para as suspensões formuladas com AGRM- 4,75 e abaixo AGRM- 1,18.

Desta forma, comprova-se que a granulometria do material influência na energia de mistura, grãos de
diâmetros menores apresentam menor rugosidade da superficie e minimiza o efeito parede, reduzindo

362
Mendes, Pillegi, Gomes, Romano e Angulo

a faixa de torque das misturas. As demais misturas permaneceram relativamente estáveis, mas em
faixas de torques distintas. No entanto, todas as misturas com faixas de torque próximas apresentaram
segregação. Observa-se que as composições com AGRM-1,18 de mesma proporção agregado:
cimento e fator a/c das com AGRM-4,75, apresentam torques aos 30s do início de mistura de mesmo
valor.

As misturas com AGRM-4,75 apresentaram maiores torques, isso mostra que para reduzir o
travamento das partículas existe a necessidade de partículas mais finas no sistema.
As argamassas avaliadas apresentavam alta relação de pasta/argamassa, o que fez com que a maioria
delas segregasse na presença de fator a/c elevados, mostrando que os agregados já estavam saturados,
possibilitando se trabalhar com menos pastas.

3.3 Avaliação das argamasas no estado fresco

Nesta etapa foram determinadas duas composições de materiais secos, como mostrado na Figura 6.
Observa-se que a MDESC apresenta uma descontinuidade entre as partículas de diâmetros entre 0,5
mm – 1,18 mm, já a MCONT apresenta continuidade ao longo de sua composição. O Quadro 2
apresenta a composição das misturas e o espalhamento.

Figura 6. Curva de distribuição das composições.

Quadro 2. Composição das misturas.


Agregado Reciclado Teor de
Espalhamento
Misturas Cimento a/c aditivo
0 – 0,15 0,15 – 1,18 1,18 – 4,75 (% spc)
[mm]
MDESC 1 0,5 0 3,5 0,8 1,2 210
MCONT 1 0,5 1,4 2,1 0,8 1,2 240

A MDESC apresentou consistência fluída, mas mostrou início de segregação. A MCONT apresentou
consistência fluída com boa coesão. A MCONT obteve o maior espalhamento e menor torque para
ínicio de escoamento, como mostrado no Quadro 3. O fator a/c 0,8 mostrou-se suficiente para suprir o
teor de absorção do agregado, a trabalhabilidade e a hidratação do cimento.

A Figura 7 mostra o resultado do ensaio de ciclo com as argamassas, onde as setas indicam os
períodos de aceleração e desaceleração. Fica aparente que a MCONT apresentou faixas de torques
menores que a MDESC ao longo do ensaio. Ambas misturas apresentaram área de histerese positiva,
no entanto a MDESC apresentou maior área, o que significa que a distribuição granulométrica
favoreceu menos a dispersão das partículas.

363
Avaliação reológica de argamassa com agregado reciclado para obtenção de concreto autoadensável leve

Realizando uma regressão linear com os dados obtidos para as curvas de desaceleração das misturas,
pode-se chegar a viscosidade e torque de escoamento, em parâmetros de torque (N.m) e velocidade
(rpm), para os modelos de Bingham e Casson, como mostrado no Quadro 3. Foram escolhidos estes
modelos por possibilitarem a caracterização de um fluido plástico e pseudoplástico. As equações que
regem o comportamento foram linearizadas, para então modelar os dados da regressão linear.

Figura 7. Ciclo de cisalhamento das misturas.

Fluido com característica de plástico Bingham pode ser entendido como fluido newtoniano com
tensão de escoamento. O modelo de Casson caracteriza um fluido pseudoplástico com tensão de
escoamento. Os dados de MCONT e MDESC obteviram melhor relação com o modelo de Bingham,
como mostrado no Quadro 3. MCONT apresentou menor tensão de escoamento, o que é observado
pelo maior diâmetro de espalhamento, apresentado no Quadro 2, e maior viscosidade, o que pode ser
observado na maior coesão da mistura.

Quadro 3. Propriedades reológicas.


Modelo de BINGHAM Modelo de CASSON
Misturas Torque de Torque de
Viscosidade Viscosidade
Escoamento R² Escoamento R²
[mN.m/rpm] [mN.m/rpm]
[N.m] [N.m]
MDESC 2,68 2,10 0,70 2,29 0,36 0,60
MCONT 1,30 3,90 0,93 0,75 1,82 0,90

3.4 Avaliação das argamassas no estado endurecido

A Figura 8 apresenta os resultados dos ensaios realizados nas argamassas MCONT e MDESC. A
MDESC apresentou os melhores resultados nas propriedades mecânicas, com resistência média à
compressão próxima aos 20 Mpa, além da maior massa específica aparente, acima dos 2000 kg/m³, o
que justifica sua resistência.

A MCONT apresentou menor dispersão dos dados. A massa específica aparente encontrada foi
inferior aos 1900 kg/m³. Este resultado possibilita a caracterização da mistura como leve, no entanto,
devido a este fato, ela apresentou resultados de resistência e módulo de elasticidade dinânico menores,
mas não tão inferiores aos encontrados na MDESC.

364
Mendes, Pillegi, Gomes, Romano e Angulo

Figura 8. Propriedade dos concretos em estado endurecido.

CONCLUSÕES

Na caracterização dos agregados, observou-se maior massa específica aparente na faixa


granulométrica de 1,7 mm a 4,75 mm.

A avaliação de estabildade reológica de argamassas no tempo mostrou que todas as misturas que
receberam incremento de água tiveram redução do torque combinado com segregação da mistura,
mostrando a quantidade de água existente excedida a o teor de absorção de água do agregado. Já as
misturas com incremento de aditivo, com relação 2:1 (agregado:cimento), mostraram aumento de
torque com o tempo, significando quantidade de água insuficiente para suprir a absorção dos
agregados, desta forma, o aditivo não conseguiu ser eficiente. Além disso, pode-se identificar que a
faixa granulométrica e o teor de pasta afetam diretamente a energia de mistura.

Entre as argamassas formuladas, MCONT e MDESC, observou-se que a distribuição contínua


resultou em um maior espalhamento, menor torque de mistura e escoamento, e maior coesão. Porém,
no estado endurecido apresentou menores resistências e módulo de elasticidade. Devido a menor
quantidade de AGRM-4,75, a argamassa MCONT apresentou menor massa específica.

Os resultados das argamassas MCONT permitem a continuidade do processo de obtenção do


CAALAR, adicionando o AGRG-12,5.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à FAPEAL, CAPES, ao CNPq e ao Projeto PROCAD Proc. 552300/2011, que
possibilitou esta parceira entre a UFAL e a Laboratório de Microestrutura e Ecoeficiência em
Materiais na USP.

365
Avaliação reológica de argamassa com agregado reciclado para obtenção de concreto autoadensável leve

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[12] Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT. (2001) NBR 15630: Argamassa para
assentamento e revestimento de paredes e tetos: Determinação do módulo de elasticidade
dinâmico através da propagação de onda ultrassônica. Rio de Janeiro.

366
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

Uso de la reología para el análisis de la robustez y trabajabilidad


del hormigón autocompactante reciclado

I. González- B. González-
Taboada 1 Fonteboa 2

F. Martínez- J.L. Pérez-


Abella 3 Ordóñez 4

RESUMEN

Una de las principales diferencias entre un hormigón convencional y un hormigón reciclado es la


elevada absorción del árido reciclado, debida fundamentalmente a la presencia de mortero adherido.
Este hecho unido a la mayor susceptibilidad del hormigón autocompactante a pequeños cambios en su
dosificación (menor robustez), tendrá mayor influencia en la trabajabilidad de los hormigones
autocompactantes reciclados (HACR). Así, en este trabajo se estudia la robustez y el comportamiento
en fresco como fluido de los HACR a través de sus parámetros reológicos, obtenidos mediante
reómetro y ensayos empíricos de flujo. Se han estudiado cuatro tipos de hormigón autocompactante,
un hormigón patrón (HACR0) y sus correspondientes hormigones reciclados, en los que se sustituyó
parcialmente (20%, 50% y 100%) la fracción gruesa del árido convencional por árido reciclado. Para
tener en cuenta la elevada absorción del árido reciclado, durante la fabricación se añadió una cantidad
de agua extra, fabricándose dos series de hormigón, una en la que se partía del árido seco (M1) y otra
en la que se utilizaba el árido con el 3% de humedad (M3). Para el análisis de la robustez se modificó
la cantidad de cemento (±C% = ±3), aditivo (±S% = ±5) y agua (±A% = ±3), fabricándose finalmente
49 mezclas. En el análisis en fresco de todas ellas se realizaron ensayos empíricos (escurrimiento, caja
en L, embudo en V, anillo japonés…) y en reómetro (flow curve test y stress growth test) a tres
tiempos (15, 45 y 90 minutos). En estado endurecido se controló la resistencia a compresión a 3, 7 y
28 días.

Palabras-clave: Hormigón autocompactante reciclado, reología, trabajabilidad, robustez

1. INTRODUCCIÓN

Es bien conocido que los hormigones de tipo autocompactante son más susceptibles a pequeños
cambios en los parámetros de dosificación que los hormigones vibrados, o dicho de otra forma, son
menos “robustos” [1]. También es sabido que una de las principales diferencias entre un hormigón
convencional y un hormigón reciclado es la elevada absorción del árido reciclado (debida
fundamentalmente a la presencia de mortero adherido al mismo) [2-3]. Su importancia radica en que
esta propiedad y la humedad previa condicionan el agua efectiva que influye en las propiedades finales

1
Universidad de A Coruña, Departamento de Ingeniería de la Construcción, A Coruña, España. iris.gonzalezt@udc.es
2
Universidad de A Coruña, Departamento de Ingeniería de la Construcción, A Coruña, España. bfonteboa@udc.es
3
Universidad de A Coruña, Departamento de Ingeniería de la Construcción, A Coruña, España. fmartinez@udc.es
4
Universidad de A Coruña, Departamento de Ingeniería de la Construcción, A Coruña, España. jlperez@udc.es

367
Uso de la reología para el análisis de la robustez y trabajabilidad del hormigón autocompactante reciclado

del hormigón fresco y endurecido. Ello dificulta el control de las dosificaciones de los hormigones
reciclados, obligando al diseño de procedimientos de amasado específicos [4-5]. Por lo tanto, es de
esperar que este hecho tenga mayor influencia en los hormigones autocompactantes reciclados
(HACR).

Por otro lado, la diferencia fundamental entre el hormigón convencional vibrado y el hormigón
autocompactante es su comportamiento en fresco [6]. En los últimos años se han desarrollado un gran
número de ensayos empíricos que pretenden determinar la capacidad de flujo, la capacidad de llenado,
la habilidad de paso y la resistencia a la segregación [7-10]. No obstante, no se ha logrado un método
único que haya conseguido caracterizar todos los aspectos relevantes de la reología de estos
hormigones, siendo necesaria la utilización de combinaciones contrastadas de diferentes ensayos
empíricos para asegurar su adecuada trabajabilidad [11]. Tres de las propiedades clave a medir en un
único ensayo reológico (tensión de flujo estática, dinámica y viscosidad plástica) [12] tienen
significados prácticos de gran utilidad y evitarían la necesidad de realizar numerosas pruebas
empíricas.

2. OBJETIVOS

En este trabajo se plantea el estudio de la trabajabilidad y robustez del hormigón autocompactante


reciclado (HACR). Para ello se han realizado ensayos, a 15, 45 y 90 minutos de su fabricación,
empíricos de flujo (escurrimiento, embudo en V, caja en L, anillo japonés y segregación por tamiz) y
en el reómetro ICAR (stress growth test y flow curve test).

Tradicionalmente, para controlar la elevada absorción del árido reciclado los autores proponían dos
métodos alternativos de fabricación de los hormigones reciclados. En el primero, el árido se añade
seco o con su humedad natural, compensándose la absorción mediante la adición de una cantidad extra
de agua, habitualmente la necesaria para llevar al árido al 80% de saturación. En el segundo, el árido
se añade a la mezcla después de haber sido sumergido en agua (método de presaturación) durante un
periodo de tiempo preestablecido, habitualmente 10 minutos, durante el que, de acuerdo a la
bibliografía, el árido reciclado alcanza ese 80% de saturación. La investigación desarrollada ha
permitido concluir que el método de presaturación no resulta viable desde un punto de vista industrial
ya que genera mezclas con tendencia a la segregación, pudiendo además implicar un tiempo de
presaturación prolongado, especialmente si los porcentajes de árido reciclado son elevados (50 y
100%).

Por ello, el primer objetivo del trabajo ha sido conocer la influencia del porcentaje de sustitución de
árido grueso natural por reciclado (procedente de residuos de hormigón) en el comportamiento en
fresco de los hormigones autocompactantes fabricados mediante la adición de agua extra durante el
amasado. Para determinar el efecto del agua que el árido pueda arrastrar en forma de humedad se han
fabricado los hormigones utilizando el árido seco (método M1) o introduciéndolo en la amasadora con
un 3% de humedad (método M3).

El segundo objetivo ha sido analizar la robustez de los HACR fabricados a través de su capacidad para
mantener sus propiedades cuando se varían las cantidades de alguno de los materiales utilizados en su
fabricación. Las variaciones impuestas se han introducido, de forma independiente, sobre el cemento
(±C = ±3%), el aditivo (±S = ±5%) y el agua (±A = ±3%).

3. CAMPAÑA EXPERIMENTAL

3.1 Materiales

Los materiales utilizados durante los trabajos fueron los siguientes: cemento: CEM-I 52.5 R;
adiciones: filler calizo de machaqueo; aditivo: Sika ViscoCrete – 70, superplastificante de tercera

368
González-Taboada, González-Fonteboa, Martínez-Abella e Pérez-Ordóñez

generación; áridos naturales: una arena silícea 0-4 mm con un módulo granulométrico de 4.19 y una
gravilla granítica 4-11 mm con un módulo granulométrico de 7.14; árido reciclado: gravilla 4-11 mm
con un módulo granulométrico de 6.47, obtenida de residuos de demolición de elementos de hormigón
estructural, que en los primeros 10 minutos absorbe agua hasta el 80% de su capacidad de absorción a
las 24 horas. La tabla 1 resume las propiedades básicas de los áridos.

Tabla 1. Propiedades básicas de los áridos utilizados y límites establecidos por la EHE-08.
Arena Gravilla Gravilla
Propiedad EHE-08 [13]
natural natural reciclada
Módulo granulométrico 4.19 7.14 6.47
Finos (UNE-EN 933-1) (%) 8.40 0.84 3.00 <1.5 (árido grueso)
Humedad (UNE-EN 1097-3) (%) 1.18 0.84 5.95
Densidad SSS (UNE-EN 1097-6) (t/m3) 2.72 2.56 2.34
Absorción (UNE-EN 1097-6) (%) 1.00 1.12 6.96 <7 (árido reciclado)
Índice de lajas (UNE-EN 933-3) - 5.41 5.33 <35

3.2 Diseño de las mezclas

Se estudian cuatro tipos de hormigón autocompactante (tabla 2), un hormigón patrón (HACR0) y sus
correspondientes hormigones reciclados en los que se sustituyó parcialmente (20%, 50% y 100%) la
fracción gruesa del árido convencional por árido reciclado. Todos los hormigones se han fabricado de
acuerdo al procedimiento de añadir una cantidad de agua extra durante el amasado, calculada para
compensar el 80% de absorción del árido reciclado, que se introdujo seco (método M1) o con el 3% de
humedad (método M3). De esta forma, se ha trabajado con seis mezclas de hormigón autocompactante
reciclado (“mezclas base”): HACR20M1, HACR50M1, HACR100M1, HACR20M3, HACR50M3,
HACR100M3.

Tabla 2. Dosificación de las mezclas (1 m³).


Hormigón HACR Porcentaje de árido grueso sustituido
Dosificación 0% 20% 50% 100%
Cemento, c (kg) 400.00 400.00 400.00 400.00
Filler, f (kg) 180.00 180.00 180.00 180.00
Agua, a (kg) 184.00 184.00 184.00 184.00
Arena natural (kg) 865.59 865.59 865.59 865.59
Gravilla natural (kg) 768.00 614.40 384.00 0.00
Gravilla reciclada (kg) 0.00 140.40 351.00 702.00
a/c 0.46 0.46 0.46 0.46
Superplastificante/(c+f) (%) 1.70 1.70 1.70 1.70

3.3 Descripción de los ensayos

En las Figuras 1 a 5 se muestran los ensayos empíricos de flujo que se han realizado a 15, 45 y 90
minutos del contacto cemento-agua durante la fabricación de cada una de las mezclas, así como los
parámetros medidos de acuerdo a las normas donde aparecen descritos y los límites objetivo que
garantizan el comportamiento autocompactante del hormigón [13-14].

Los ensayos reológicos se han realizado con el reómetro ICAR (Fig. 6). El dispositivo consta de un
cubo que contiene la muestra a ensayar y una pala cerrada y simétrica. Se trata de un modelo de
reómetro rotacional en el que la pala gira con simetría axial a velocidad variable. El stress growth test
o ensayo de tensión creciente (SGT) consiste en rotar la pala del reómetro a una velocidad baja y
constante, medir el incremento gradual en el par torsor, identificar el máximo par torsor y convertirlo a
la tensión de flujo umbral estática. La velocidad de la pala seleccionada ha sido de 0.025 rps (Fig. 7).
En el flow curve test o ensayo de curva de flujo (FCT) se miden los pares torsores a velocidades

369
Uso de la reología para el análisis de la robustez y trabajabilidad del hormigón autocompactante reciclado

decrecientes de giro (Fig. 8) tras un periodo de 20 s a velocidad constante de 0.50 rps. Estos datos se
convierten a unidades fundamentales de tensión de corte y velocidad de deformación.

Figura 1. Figura 2. Figura 3. Figura 4. Anillo japonés Figura 5.


Escurrimiento Embudo V Caja en L UNE-EN 12350-12 Segregracion tamiz
UNE-EN 12350-8 UNE-EN 12350-9 UNE-EN 12350-10 t500J(s) <8 UNE-EN 12350-11
t500(s) [2-8] tv(s) [4-20]. PL ≥ 0.80. SF(mm) > 650 mm SR (%) ≤15%
SF(mm) [650-800]. PJ(mm) ≤ 10 mm. ([15-30]% in situ).

0.030 0.60
0.55
0.025 0.50
0.45

Velocidad real (rps)


0.020 0.40
Velocidad (rps)

0.35
0.015 0.30
0.25
0.010 0.20
Vel real medida 0.15
0.005 Vel real media 0.10
Vel objetivo 0.05
0.000 0.00
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60
Tiempo (s) Tiempo (s)

Figura 6. Reómetro
Figura 7. Velocidad vs. Tiempo (SGT). Figura 8. Velocidad vs. Tiempo (FCT).
ICAR.

4. RESULTADOS Y ANÁLISIS

4.1 Comportamiento de las “mezclas base”

4.1.1 Ensayos empíricos de flujo


Un hormigón autocompactante debería cumplir tres características [1]: alta capacidad de flujo,
capacidad de paso adecuada y una resistencia a la segregación suficiente. Mientras que la capacidad de
flujo se relaciona con el ensayo del escurrimiento, la capacidad de paso está más relacionada con los
ensayos de embudo en V, caja en L y anillo japonés. Por último la resistencia a la segregación puede
evaluarse a través del ensayo de segregación por tamiz y, visualmente, en el ensayo del escurrimiento.
En las Figuras 9 a 16 se muestran los resultados de estos ensayos para las siete mezclas base. Las
líneas horizontales representan los límites que garantizan el comportamiento autocompactante objetivo
de acuerdo a la instrucción española EHE-08 [13] y, en algún caso, a las recomendaciones de la
EFNARC [14].

En lo que respecta al escurrimiento, los límites objetivo para t500 se cumplen por todas las mezclas a
todos los tiempos (Fig. 9), excepto para la HACR100M1 y la HACR100M3. Los límites objetivo del
parámetro SF (Fig. 10) a 15 minutos se cumplen por todas las mezclas, excepto por la HACR100M3.
A 45 minutos las mezclas con el 100% de sustitución no alcanzan el límite inferior y a 90 minutos
tampoco lo hacen las del 50%.

El análisis de los resultados del embudo en V (Fig. 11) indica que ninguna de las mezclas de hormigón
reciclado cumple el tiempo máximo especificado para este ensayo que, de todas formas, de acuerdo a
algunos autores [1], no es de los recomendados para el control de la trabajabilidad.

370
González-Taboada, González-Fonteboa, Martínez-Abella e Pérez-Ordóñez

Todas las mezclas cumplen el límite de capacidad de paso (PL) medida en el ensayo de la caja en L
(Fig. 12) a 15 y 45 minutos, mientras que a 90 minutos ninguna, tampoco la patrón, alcanza el límite.
Con el anillo japonés (Figs. 13 a 15) se puede apreciar que la mayor estabilidad a lo largo del tiempo
se produce para porcentajes de árido reciclado bajos (20%) y con el método M1. De nuevo, a los 90
minutos las mezclas con porcentajes de sustitución del 50% y 100%, para ambos métodos de
fabricación, presentan los peores resultados.

Por último, el valor límite del 15% marcado para el cumplimiento del ensayo de resistencia a la
segregación por tamiz (Fig. 16) se cumple por todas las mezclas.

8.5 850
8.0 15 min 800 15 min
7.5 45 min 750 45 min
7.0 700
6.5 90 min 650 90 min
6.0 600
5.5 550
5.0 500

SF (mm)
t500 (s)

4.5 450
4.0 400
3.5 350
3.0 300
2.5 250
2.0 200
1.5 150
1.0 100
0.5 50
0.0 0

Figura 9. Ensayo del escurrimiento (t500). Figura 10. Ensayo del escurrimiento (SF).

75 1.0
15 min 15 min
70
0.9 45 min
65 45 min 90 min
60 90 min 0.8
55
0.7
50
45 0.6
PL

40
tv (s)

0.5
35
30 0.4
25
0.3
20
15 0.2
10
0.1
5
0 0.0

Figura 11. Ensayo del embudo en V (tv). Figura 12. Ensayo de la caja en L (PL).

13 900
15 min 850 15 min
12 45 min
800
11 45 min 750 90 min
10 90 min 700
650
9 600
8 550
SFJ (mm)
t500J (s)

7 500
450
6 400
5 350
4 300
250
3 200
2 150
100
1 50
0 0

Figura 13. Ensayo del anillo japonés (t500J). Figura 14. Ensayo del anillo japonés (SFJ).

371
Uso de la reología para el análisis de la robustez y trabajabilidad del hormigón autocompactante reciclado

55 16
50 15 min 15
45 min 14
45 13
90 min 12
40
11
35 10
9

SR (%)
PJ (mm)

30
8
25 7
20 6
5
15 4
10 3
2
5 1
0 0

Figura 15. Ensayo del anillo japonés (PJ). Figura 16. Ensayo de segregación por tamiz (SR).

4.1.2 Ensayos en reómetro


Se han llevado a cabo dos ensayos en reómetro para cada tiempo (15, 45 y 90 minutos). En primer
lugar se realiza un stress growth test (SGT) e inmediatamente después se desarrolla un flow curve test
(FCT). Con el primero se obtiene la yield stress at rest (la tensión de flujo umbral estática) y en el
segundo ensayo, la viscosidad plástica. La capacidad de flujo de un hormigón autocompactante se
relaciona con la yield stress y la capacidad de paso con la viscosidad plástica. Además, diversos
autores constatan que el diámetro del ensayo de escurrimiento (SF) está relacionado con la tensión de
flujo umbral estática y que el tiempo de ese mismo ensayo (t500), el del embudo en V (tv) y el
parámetro PL de la caja en L se relacionan con la viscosidad plástica [1].

A los 15 minutos todos los hormigones muestran valores de yield stress at rest similares. A los 45
minutos, esta tensión se incrementa con más notoriedad en las mezclas HACR100M1, HACR50M3 y
HACR100M3, tendencia que se mantiene a 90 minutos. Finalmente, las mezclas restantes (HACR0,
HACR20M1, HACR20M3 y HACR50M1) mantienen valores de yield stress at rest muy similares,
que a 90 minutos se sitúan en el rango 300-550 Pa (Fig. 17). En conclusión, parece que el uso de los
áridos secos (M1) hace que el comportamiento en fresco de los hormigones con el 50% de sustitución,
HACR50, sea similar a los HACR20, mientras que el uso de los áridos con humedad previa (M3) los
aproxima a los HACR100.

1200 180
1100 15 min 15 min
160
1000 45 min 45 min
90 min 140 90 min
Viscosidad plástica (Pa∙s)

900
Yield stress at rest (Pa)

800 120
700 100
600
500 80
400 60
300 40
200
100 20
0 0

Figura 17. Yield stress at rest. Figura 18. Viscosidad plástica.

En la Figura 18 se muestra la evolución con el tiempo de la viscosidad plástica (parámetro dinámico).


A los 15 minutos la viscosidad de todas las mezclas es bastante similar excepto en las HACR100M1,
HACR50M3 y HACR100M3 en las que es mayor. A los 45 minutos, el HACR0 y los reciclados
HACR20M1, HACR20M3 y HACR50M1 mantienen un comportamiento similar, mientras que,
nuevamente, en concordancia con los resultados del análisis de la yield stress, las mezclas
HACR100M1, HACR50M3 y HACR100M3 muestran un mayor valor de su viscosidad, tanto mayor
si el porcentaje de árido reciclado es del 100%. Finalmente, a los 90 minutos se puede observar que la
viscosidad plástica presenta un aumento significativo con los porcentajes de sustitución altos, siendo
este incremento mayor con el método de fabricación M3.

372
González-Taboada, González-Fonteboa, Martínez-Abella e Pérez-Ordóñez

4.1.3 Resistencia a compresión


En estado endurecido se controló la resistencia a compresión a 3, 7 y 28 días. La Figura 19 muestra su
evolución con el tiempo, observándose, como era de esperar, que a 28 días la mayor caída de
resistencia se produce para los porcentajes de sustitución altos, 50% y 100%. Por otro lado, el método
M3 (árido reciclado con un 3% de humedad previa) proporciona valores de resistencia ligeramente
superiores para los porcentajes del 20% y 50% de sustitución. En el caso del 100% de árido grueso
reciclado, tanto el método M1 (árido seco) como el método M3 muestran resultados similares.

85
80 3 días 7 días 28 días
75
70
65
60
55
50
fc (MPa)

45
40
35
30
25
20
15
10
5
0

Figura 19. Resistencia a compresión.

4.2 Comportamiento de las “mezclas robustez”

4.2.1 Ensayos empíricos de flujo


Para estudiar el comportamiento de las “mezclas robustez” se ha realizado el mismo análisis que en el
apartado anterior sobre las mezclas base. La experiencia obtenida durante los trabajos ha llevado a
utilizar, para evaluar la capacidad de flujo y la capacidad de paso (tabla 3), la combinación de los
ensayos de escurrimiento (t500 y SF) y anillo japonés (t500J y SFJ) respectivamente (Figs. 20 a 23).
Se descartan, por lo tanto, el embudo en V, la caja en L y el parámetro PJ del anillo japonés por
resultar poco concluyentes, especialmente con el tiempo.

El estudio de la capacidad de flujo revela que las mezclas HACR0, HACR20M1, HACR20M3,
HACR50M1 y HACR50M3 mantienen la autocompactabilidad hasta los 45 minutos. A los 90
minutos, el hormigón patrón y el HACR20 continúan siendo autocompactantes mientras que el
HACR50 ya no lo sería. Sin embargo a los 45 minutos el HACR100M3, cuando se aumenta el
cemento, o se disminuye el aditivo o el agua, ya no es autocompactante mientras que el HACR100M1
sólo deja de serlo si se disminuye el agua. A 90 minutos ninguna de las mezclas con el 50% o 100%
mantienen su condición de autocompactante.

El estudio de la capacidad de paso indica que todas las mezclas patrón y las del 20% y 50% de árido
reciclado son autocompactantes hasta los 45 minutos. A los 90 minutos, la autocompactabilidad del
HACR20M1, HACR50M1 y HACR20M3 se ve afectada únicamente por la disminución del aditivo o
del agua. Sin embargo, la mezcla HACR50M3 se ve afectada, además, por el aumento del cemento.
Para el 100% de sustitución y a los 15 minutos, el método M1 proporciona un HACR100M1
autocompactante, cualidad que a los 45 minutos únicamente se ve afectada por la disminución del
agua y que se pierde a los 90 minutos. El método M3 da lugar a una mezcla sin robustez ya que
incluso a 15 minutos la disminución del aditivo o del agua le hacen perder su autocompactabilidad.

373
Uso de la reología para el análisis de la robustez y trabajabilidad del hormigón autocompactante reciclado

Tabla 3. Capacidad de flujo y capacidad de paso.


Capacidad de flujo Capacidad de paso
(cumplimiento t500 y SF) (cumplimiento t500J y SFJ)
Tiempo
Mezcla Base C+ C- S+ S- A+ A- Base C+ C- S+ S- A+ A-
(min)
15 Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí
HACR0 45 Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí
90 Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí
15 Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí
HACR20M1 45 Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí
90 Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí No Sí No
15 Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí
HACR50M1 45 Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí
90 Sí Sí No Sí No Sí No Sí Sí Sí Sí No Sí No
15 Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí No Sí No
HACR100M1 45 Sí Sí Sí Sí Sí Sí No Sí Sí Sí Sí No Sí No
90 No No Sí No No Sí No No No No No No No No
15 Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí
HACR20M3 45 Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí
90 Sí Sí Sí Sí Sí Sí No Sí Sí Sí Sí No Sí No
15 Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí
HACR50M3 45 Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí Sí
90 Sí No Sí Sí No Sí No No No Sí Sí No Sí No
15 Sí No Sí Sí No Sí No Sí No Sí Sí No Sí No
HACR100M3 45 Sí No Sí Sí No Sí No Sí No No Sí No No No
90 No No No No No No No No No No No No No No

10 900
9 45 min 800 45 min
8 700
7
600
6
SF (mm)
t500 (s)

500
5
400
4
300
3
2 200
1 100
0 0

Base A+ A- Base A+ A-

Figura 20. Capacidad de flujo (t500). Figura 21. Capacidad de flujo (SF).

10 900
9 45 min 800 45 min
8 700
7
600
6
SFJ (mm)
t500J (s)

500
5
400
4
300
3
2 200
1 100
0 0

Base A+ A- Base A+ A-

Figura 22. Capacidad de paso (t500J). Figura 23. Capacidad de paso (SFJ).

374
González-Taboada, González-Fonteboa, Martínez-Abella e Pérez-Ordóñez

4.2.2 Ensayos en reómetro


Siguiendo el mismo criterio que en el análisis de las mezclas base, se han realizado en el reómetro
ICAR un stress growth test y a continuación un flow curve test a los 15, 45 y 90 minutos. Aún en
desarrollo (a modo de ejemplo se aportan las Figuras 24 y 25 correspondientes a 15 minutos), el
análisis de la yield stress at rest (tensión de flujo estática) y de la viscosidad plástica confirma los
resultados obtenidos con los ensayos empíricos de flujo.

Las mezclas con bajos porcentajes de sustitución mantienen los parámetros reológicos hasta 90
minutos con pocas variaciones, a diferencia de lo que ocurre con las mezclas con el 100% de
sustitución. De igual forma, las variaciones en estos parámetros obtenidas con el método M1 son
menores que las detectadas con el M3.

750 220
700 200 15 min
650 15 min
600 180

Viscosidad plástica (Pa∙s)


Yield stress at rest (Pa)

550 160
500 140
450
400 120
350 100
300
250 80
200 60
150 40
100
50 20
0 0

Base A+ A- Base A+ A-

Figura 24. Yield stress at rest (15 minutos). Figura 25. Viscosidad plástica (15 minutos).

CONCLUSIONES

Se han alcanzado las siguientes conclusiones sobre la trabajabilidad de las mezclas estudiadas:

- La fabricación de hormigones reciclados mediante adición de agua extra y el empleo de sustituciones


hasta el 20% de árido grueso reciclado garantiza el comportamiento autocompactante del hormigón
hasta 90 minutos. Se ha constatado que los hormigones con el 20% tienden a presentar un
comportamiento muy similar al de los hormigones de control convencionales. Los hormigones con
porcentajes del 50% se muestran siempre muy variables y, finalmente, cuando la sustitución es
completa la pérdida de trabajabilidad es sustancial, especialmente con el paso del tiempo.

- El análisis del comportamiento con el tiempo permite concluir que hasta 45 minutos la incorporación
de árido reciclado no supone cambios notables, que sí lo son cuando se analizan los resultados
obtenidos a 90 minutos.

- El análisis de los métodos de fabricación M1 y M3 indica que incorporar el árido reciclado con una
humedad previa supone una mayor dificultad de control de la trabajabilidad, especialmente para
porcentajes del 50% y 100% de árido reciclado.

Por otro lado, respecto al análisis de la robustez, las conclusiones alcanzadas han sido las siguientes:

- Los hormigones con el 20% mantienen, en todos los casos y hasta 90 minutos, su carácter
autocompactante. Las sustituciones del 50% garantizan la autocompactabilidad hasta 45 minutos para
M1 y M3. A 90 minutos sólo el método M1 proporciona, en algún caso, hormigones
autocompactantes, lo que no consigue en ninguno el M3. Finalmente, los hormigones con sustitución
total y fabricados con el método M1 dejan de ser autocompactantes a partir de los 45 minutos,
reduciéndose a 15 minutos este plazo con el método M3.

375
Uso de la reología para el análisis de la robustez y trabajabilidad del hormigón autocompactante reciclado

- En consecuencia, las mezclas con bajo porcentaje de sustitución y fabricadas según el método M1
son las más robustas. Por último el uso del reómetro se ha revelado como una herramienta eficaz y
sencilla para el control de la trabajabilidad y la robustez de las mezclas autocompactantes.

AGRADECIMENTOS

Este estudio es parte del proyecto titulado “Investigación industrial sobre Hormigones para un
Mercado Sostenible (InHorMeS)” financiado por la Axencia Galega de Innovación (GAIN) y liderado
por la agrupación de tres empresas: ATI Sistemas, GalaiControl y K2.

REFERENCIAS

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Concrete for Precast, Prestressed Concrete Bridge Elements. Final Report for NCHRP Project 18-
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376
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

Caracterização da fluência em tração em betões


autocompactáveis, com restrição da retração de secagem

Luís Leitão1 Rui Faria2 Luís Teixeira3

Miguel Azenha4 Sandra Nunes5

RESUMO

No presente artigo apresentam-se os resultados de uma campanha experimental com vista à


caracterização do comportamento viscoelástico de três amassaduras de betão auto-compactável com
relações água-cimento distintas. O objetivo do estudo consiste em caracterizar o fenómeno da fluência
do betão em tração através da imposição de restrições à livre retração de secagem, recorrendo a um
dispositivo inovador – ‘Variable Restraint Frame’ (VRF) –, desenvolvido especificamente para a
realização deste tipo de ensaios. O VRF permite realizar ensaios em controlo de força e de
deslocamento. Avaliaram-se as deformações de fluência em tração para betões autocompactáveis de
três classes de resistência distintas, além de se apresentarem as restantes características mecânicas. O
VRF apresenta algumas potencialidades inovadoras, que o distinguem dos seus congéneres, pois
permite avaliar com uma precisão assinalável as deformações de fluência, além de possibilitar a
caraterização da evolução do módulo de elasticidade do betão em tração ao longo da hidratação do
cimento, bem como permitir a avaliação da fluência em tração mesmo que ocorra a fissuração do
provete.

Palavras-chave: Betão sob retração restringida; Sistema de ensaio; Fluência em tração.

1. INTRODUÇÃO

O betão, um dos principais materiais utilizados na construção estrutural, tem como característica
singular o facto de as respetivas deformações evoluírem consideravelmente ao longo do tempo. Esta
evolução pode ser desfavorável, pois as deformações associadas, como por exemplo as induzidas pela
retração e pela fluência do betão, são responsáveis por tensões autoinduzidas ou por perdas de
pré-esforço, que podem pôr em causa a resposta eficaz da estrutura. Por outro lado, esta caraterística
evolutiva pode revestir-se de aspetos benéficos, pois induz redistribuições de esforços na estrutura, ou
simplesmente permite reduzir a intensidade das tensões de tração instaladas no betão (através da
fluência).

1
Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Dep. Eng. Civil, Porto, Portugal. lppleitao@gmail.com
2
Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Dep. Eng. Civil, Porto, Portugal. rfaria@fe.up.pt
3
Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Dep. Eng. Civil, Porto, Portugal. luisppteixeira@gmail.com
4
Escola de Engenharia da Universidade do Minho, Dep. Eng. Civil, Guimarães, Portugal. miguel.azenha@civil.uminho.pt
5
Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Dep. Eng. Civil, Porto, Portugal. snunes@fe.up.pt

377
Caracterização da fluência em tração em betões autocompactáveis, com restrição da retração de secagem

Por outro lado, e tendo em conta a importância que a fissuração do betão assume na análise estrutural
em geral, a crescente utilização de betões de desempenho melhorado tem vindo a incrementar a
atenção dedicada à previsão do fenómeno da fendilhação em idades jovens, uma vez que neste tipo de
betões a retração autógena e as deformações térmicas assumem grande relevância, sendo estes
fenómenos os principais responsáveis pelas denominadas tensões autoinduzidas.

A adequada simulação do comportamento do betão, incluindo as deformações diferidas e a


suscetibilidade à fendilhação deste material, constitui assim um campo de estudo importante na análise
estrutural, pelo que os modelos numéricos associados têm de reproduzir adequadamente a natureza
transiente do betão com base numa caracterização experimental robusta e credível.

Pretende-se assim contribuir para o aumento do conhecimento do comportamento viscoelástico do


betão quando este se encontra submetido a esforços de tração com origem na retração impedida. Nesse
sentido, realizou-se uma campanha de caraterização da fluência do betão em tração através da
utilização de um dispositivo experimental (‘Variable Restraint Frame’ – VRF) desenvolvido em
parceria pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e a Universidade do Minho,
que permite realizar ensaios com restrição axial controlada. Trata-se de um dispositivo inovador que
apresenta diversas vantagens em comparação com outros sistemas descritos na bibliografia [1-3], e
cujo modo de funcionamento tem origem num protótipo desenvolvido por Cusson e Hoogeveen [4].

O presente trabalho descreve de forma sucinta o dispositivo experimental desenvolvido, tendo-se


avaliado as deformações de fluência em tração para betões autocompactáveis de três classes de
resistência distintas – C20/25, C35/45 e C40/50 –, além de se apresentarem as restantes características
mecânicas. Desta forma, é possível demonstrar a variabilidade da fluência em tração consoante a
classe de betão utilizada e a respetiva importância no dimensionamento de estruturas de betão. É
importante salientar que este ensaio permite igualmente caracterizar a evolução do módulo de
elasticidade do betão em tração ao longo da hidratação do cimento. Outra das particularidades de
relevo do sistema desenvolvido é a possibilidade de realizar ensaios em controlo de força ou de
deslocamento. É ainda de realçar que o controlo de deslocamento pode ser implementado aplicando
restrições elevadas, uma vez que o sistema permite a avaliação da fluência em tração mesmo
ocorrendo a fissuração do provete [5]. Esta é uma potencialidade que distingue marcadamente este
dispositivo dos seus congéneres.

2. DESCRIÇÃO DA CAMPANHA EXPERIMENTAL

2.1 Apresentação geral do dispositivo VRF

O ensaio de retração com restrição ativa adotado desenvolve-se através da instrumentação simultânea
de dois provetes: um de betão com varões embebidos (provete restringido), ensaiado num pórtico que
confere restrição variável à deformação, bem como um provete de betão simples que não se encontra
restringido (provete livre ou ‘dummy’) – ver Figuras 1 e 2 onde se representam também as respetivas
seções transversais [5, 6].

378
Leitão, Teixeira, Faria, Azenha e Nunes

Células de carga Cofragem metálica


provete restringido
Secção transversal
Extensómetros do provete
elétricos e restringido
sensores de
temperatura

Sensores cordas
25
vibrantes
0.10m
Atuadores
hidráulicos
Cofragem 0.20m
metálica Varões roscados
provete
‘dummy’ Pórtico metálico

Figura 1. Dispositivo de ensaio VRF, com os provetes restringido e ‘dummy’.

Extensómetros de Varões de aço Bomba


cordas vibrantes manual

Pórtico
Extensómetros metálico
Cofragem elétricos e
metálica sensores de
temperatura
Provete
restringido

Atuadores

Figura 2. Vista geral do VRF antes da betonagem e após a retirada do molde metálico.

Em ambos os provetes são registadas as extensões e as temperaturas, utilizando para o efeito


extensómetros elétricos, sensores de cordas vibrantes de embeber e sensores de temperatura. No
provete restringido é possível, através do VRF, controlar as deformações/tensões aplicadas através da
utilização de cilindros hidráulicos, que permitem o ajuste das forças introduzidas no provete. Este
controlo requer o conhecimento detalhado das deformações térmicas e de retração do betão,
informação que é fornecida pelo provete livre.

No VRF a força aplicada pelos cilindros hidráulicos é registada recorrendo à utilização de células de
carga. Desta forma é possível separar as deformações térmicas e de retração que ocorrem no VRF e no
provete livre (tendencialmente iguais em ambos os provetes), das deformações elásticas e de fluência
que ocorrem exclusivamente no VRF. Numa fase posterior, através da informação das células de carga
e do conhecimento do valor do módulo de elasticidade do betão (que apesar do seu carácter evolutivo
pode ser determinado no próprio VRF, através de ciclos de descarga/recarga realizados em instantes
pré-determinados), é possível avaliar as tensões instaladas no betão e as extensões elástica e de
fluência deste material. Ao longo do ensaio é efetuado o cálculo das diversas extensões, sendo assim
possível desenvolver testes em controlo de força (através da análise da tensão no betão) ou em

379
Caracterização da fluência em tração em betões autocompactáveis, com restrição da retração de secagem

controlo de deslocamento (através da análise da deformação total do provete restringido). O objetivo


do presente ensaio é conseguir caracterizar adequadamente o comportamento do betão sob estados de
tração induzidos pela retração. Nesse sentido, é importante identificar as contribuições dos diferentes
tipos de ações que ocorrem no betão ao longo do ensaio, nomeadamente as decorrentes das
deformações térmicas, das deformações por retração e da força axial imposta ao provete restringido
pelos atuadores hidráulicos.

Em Teixeira et al. [5] encontra-se detalhadamente descrita a formulação matemática que permite isolar
as extensões associadas à fluência em tração, procedendo-se ainda a uma apresentação de todas as
componentes do sistema.

2.2 Protocolo experimental

As três amassaduras de betões autocompactáveis utilizadas foram produzidas nas instalações da


FEUP. A moldagem dos provetes restringidos (com armadura) e dos provetes livres foi realizada
recorrendo a sistemas de cofragens metálicas (ver Figs. 1 e 2). Decorrido um período de 24h os
provetes foram descofrados, permanecendo em repouso nas 24h seguintes. Desta forma o ensaio teve
início ~48h após a betonagem, garantindo que o efeito das deformações térmicas associadas à
hidratação do cimento e ao efeito de arrefecimento por evaporação (‘evaporative cooling’) foi
minimizado. A campanha experimental foi realizada com o VRF instalado numa câmara climática
com condições ambientais constantes (T=20ºC e HR=50%). O período inicial de repouso permitiu o
equilíbrio e uniformidade da temperatura dos provetes com o meio ambiente, tendo-se posteriormente
aplicado, através dos cilindros hidráulicos, uma força axial nos varões do provete restringido. Esta
força foi calculada de forma a garantir a introdução de um estado de tensão de tração no betão
correspondente a ~55% da resistência média à tração deste material à idade de dois dias. Previamente
foi realizada em laboratório uma caracterização detalhada de provetes cilíndricos das classes de betão
envolvidas, recorrendo a ensaios de resistência à compressão, de módulo de elasticidade e de
resistência à tração (ver secção 2.3).

Na campanha experimental optou-se por realizar os ensaios no VRF em controlo de força, garantindo
oscilações inferiores a ±0.10MPa na tensão de tração induzida no betão do provete restringido. Assim,
e de uma forma iterativa, foi possível ajustar a carga no sistema garantindo a tensão objetivo
pré-definida. Após um período de 12 dias procedeu-se a uma descarga controlada do sistema, de forma
a garantir uma tensão nula no provete restringido. O objetivo deste procedimento foi capturar a
recuperação da fluência em tração no betão. Por este motivo, após a descarga manteve-se a tensão nula
durante um período de 9 dias, tendo-se procedido a nova recarga do sistema, com uma tensão alvo
igual à original, de forma a poder avaliar o comportamento diferido do provete restringido num ciclo
completo de carga/descarga.

2.3 Caracterização dos betões ensaiados

No Quadro 1 apresentam-se as composições das diferentes amassaduras de betões autocompactáveis


utilizadas na campanha experimental, que cobrem uma gama de classes de resistência correntemente
utilizadas em Portugal.

380
Leitão, Teixeira, Faria, Azenha e Nunes

Quadro 1. Composição das três amassaduras de betões autocompactáveis.


3 3
Componente C20/25 (kg/m3) C35/45 (kg/m ) C40/50 (kg/m )
Cimento - CEM I 42.5 R (Maceira) 225 275 320
Adição Filler 344 300 260
Superplastificante 3006 4.212 7.1905 7.641
Brita Calcária 840 840 840
Areia 1 395 395 395
Areia 2 (Média) 395 395 395
Água 1 160 154.03 160

Nos Quadros 2-4 apresentam-se os resultados relativos à campanha laboratorial de caracterização


mecânica dos diferentes betões, sendo que representa a resistência média à compressão em
provetes cilíndricos à idade t (em dias), designa o módulo de elasticidade à idade t e
representa a resistência média à tração à idade t obtida através do ensaio de compressão diametral.

Quadro 2. Resultados da campanha de caracterização do betão da classe C20/25.


Tempo do ensaio (dias) (MPa) (GPa) (MPa)
1 11.100 26.400 1.400
2 16.120 30.490 1.730
3 - 31.880 2.280
7 - 32.000 2.833
28 32.920 35.400 2.960

Quadro 3. Resultados da campanha de caraterização do betão da classe C35/45.


Tempo do ensaio (dias) (MPa) (GPa) (MPa)
1 18.500 28.420 1.591
2 25.850 31.280 2.420
3 29.809 33.590 2.605
7 37.827 34.610 3.254
28 44.410 38.810 3.713

Quadro 4. Resultados da campanha de caraterização do betão da classe C40/50.


Tempo do ensaio (dias) (MPa) (GPa) (MPa)
1 22.745 32.798 2.45
2 33.219 36.262 2.94
3 35.95 38.511 3.63
28 50.34 39.476 4.37

3. RESULTADOS EXPERIMENTAIS

3.1 Deformações totais do provete livre e do provete restringido

A precisão da determinação das extensões totais nos provetes em estudo é de extrema importância
para a avaliação das deformações de fluência do betão em tração. Na presente campanha de ensaios
optou-se pela utilização de sensores de cordas vibrantes tanto no provete restringido como no livre.
Estes sensores fornecem diretamente os valores das deformações totais das zonas instrumentadas. Na
Figura 3 é possível observar as extensões medidas nos provetes livres para as três classes de

381
Caracterização da fluência em tração em betões autocompactáveis, com restrição da retração de secagem

resistência em estudo, que dizem respeito às deformações térmicas e de retração do betão registadas no
interior da câmara climática. No entanto, é importante realçar que as variações térmicas no interior da
câmara são muito reduzidas (<0.5ºC), o que torna as deformações térmicas praticamente
negligenciáveis. Por esse motivo, a Figura 3 representa na prática as deformações associadas à
retração do betão.

Figura 3. Deformação do betão nos provetes livres (extensão de retração + térmica).

Na Figura 4 apresentam-se as extensões totais associadas aos provetes restringidos para as diferentes
classes de betão autocompactável. Conforme é possível observar, ao induzir o estado de tensão inicial
no provete (cerca de 55% do valor de aos dois dias de ensaio) surge um aumento da extensão
total. Posteriormente, com o decorrer da ação da retração a extensão total do provete restringido vai
diminuindo gradualmente. Ao fim de 12 dias de ensaio, quando se procede à descarga controlada do
sistema, surge uma quebra acentuada na extensão total. De forma análoga, surge um aumento súbito
na extensão quando se procede à recarga do sistema, aos 21 dias de ensaio. Durante todo o ensaio,
uma vez que se realizaram várias ações de carga/descarga do sistema, surgem singularidades ao longo
das curvas da Figura 4. O objetivo deste procedimento foi determinar o módulo de elasticidade em
tração do betão ao longo do ensaio, de forma a avaliar com a maior exatidão possível a parcela elástica
contida na extensão total, algo que será explicado em detalhe no subcapítulo seguinte.

Na Figura 5 é possível observar a tensão imposta nos provetes restringidos nos três ensaios. Conforme
explicado anteriormente, é possível verificar que se consegue garantir um patamar de tensão de tração
instalada no betão relativamente estável (±0.10MPa), estando o sistema em carga ou com tensão nula.
Note-se que os níveis de tensão aplicados são distintos, uma vez que as resistências à tração dos três
betões autocompactáveis envolvidos são distintos. A tensão de tração no betão é passível de ser
calculada apenas com base na informação da extensão total neste material, em conjunto com os dados
mecânicos e geométricos do sistema [5].

Figura 4. Deformações totais nos betões dos provetes restringidos.

382
Leitão, Teixeira, Faria, Azenha e Nunes

Figura 5. Tensões instaladas nos betões dos provetes restringidos.

3.2 Avaliação do módulo de elasticidade do betão em tração

A determinação da parcela elástica das extensões totais é uma das componentes fundamentais para a
avaliação das deformações de fluência em tração do betão. Por este motivo, é importante salientar o
facto de o VRF permitir avaliar o módulo de elasticidade do betão em tração, possibilidade também
assegurada por sistemas congéneres desenhados para ensaios com provetes de betão simples [1, 2].
Porém, o facto de o VRF permitir o prosseguimento do ensaio mesmo após a eventual fendilhação do
betão aumenta bastante a confiança do utilizador, garantido a possibilidade de determinação do
módulo de elasticidade em diversos instantes ao longo do ensaio.

Para realizar cada ação de descarga/recarga no VRF é necessário proceder à descarga parcial do
sistema hidráulico, seguida de uma recarga, sendo que estas operações têm de ser realizadas num
período temporal suficientemente curto para serem consideradas instantâneas, sem envolvimento de
efeitos diferidos do betão. Ao longo do ensaio foram realizados vários ciclos deste tipo (ver Fig. 4), de
forma a obter o valor de a diferentes idades do betão. Em paralelo com este ensaio usou-se
também a técnica de medição do módulo de elasticidade do betão designada EMM-ARM (‘Elasticity
Modulus Monitoring through Ambient Response Method’), desenvolvida por Azenha [7], e cuja
montagem experimental está ilustrada na Figura 6. Na Figura 7 apresenta-se a comparação dos valores
de obtidos através dos dois métodos descritos para o betão da classe C40/50, comprovando-se a
boa concordância de ambas as metodologias.

Figura 6. Vista geral do ensaio EMM-ARM durante a betonagem dos provetes.

383
Caracterização da fluência em tração em betões autocompactáveis, com restrição da retração de secagem

Figura 7. Comparação dos obtidos no VRF e com a técnica EMM-ARM (betão C40/50).

Na Figura 8 representam-se os gráficos das extensões elásticas estimadas para as diferentes classes de
betão autocompactável. Trata-se naturalmente de gráficos análogos aos da Figura 5, onde se representa
a tensão de tração no betão, uma vez que na Figura 8 se encontra isolada a componente elástica da
deformação deste material.

Figura 8. Deformações elásticas nos betões autocompactáveis dos provetes restringidos.

3.3 Avaliação das deformações por fluência do betão

Estando avaliada a extensão total em cada provete restringido, bem como as extensões térmica, de
retração e elástica, é possível identificar a extensão de fluência em tração do betão através da
formulação matemática apresentada em Teixeira et. al [5]. Na Figura 9 apresentam-se as diversas
curvas associadas às diferentes classes de betão.

384
Leitão, Teixeira, Faria, Azenha e Nunes

Figura 9. Deformações de fluência em tração nos betões autocompactáveis dos provetes restringidos.

Conforme é possível observar, os três betões em estudo apresentam extensões por fluência com
evoluções típicas, caracterizadas por crescimentos mais acentuados nos instantes posteriores à
instalação do carregamento. À semelhança do comportamento da fluência em compressão, é também
possível observar a recuperação das deformações por fluência quando ocorre a descarga do sistema.
De uma forma qualitativa, o comportamento da fluência em tração observado assemelha-se bastante ao
da fluência em compressão do betão.

Na Figura 9 não é possível comparar o comportamento de fluência em tração dos diferentes betões,
uma vez que o nível de carregamento é distinto. Para proceder à comparação dos comportamentos
diferidos dos três betões autocompactáveis estudados, em termos da extensão associada à fluência em
tração, apresentam-se na Figura 10 as curvas de fluência específica correspondentes a cada classe de
resistência. A fluência específica representa o rácio entre a extensão de fluência em tração e a tensão
aplicada, permitindo assim uma comparação direta de resultados provenientes de ensaios distintos.
Conforme é possível observar, o betão da classe C20/25 apresenta a maior fluência específica,
enquanto o da classe C40/50 apresenta a menor fluência específica. É interessante destacar que as
curvas associadas ao betão da classe C40/50 apresentam consistentemente resultados mais suaves e
menores perturbações. A robustez do sinal é consequência de um valor de tensão aplicado superior, o
que origina extensões superiores. Assinala-se finalmente na Figura 10 a elevada qualidade e
estabilidade das curvas de fluência específica obtidas para os betões autocompactáveis das três classes
de resistência ensaiadas, sobretudo quando comparadas com as reportadas na bibliografia associada a
ensaios congéneres [1-4].

Figura 10. Fluências específicas em tração nos betões autocompactáveis dos provetes restringidos.

385
Caracterização da fluência em tração em betões autocompactáveis, com restrição da retração de secagem

CONCLUSÕES

Neste trabalho analisam-se os resultados de uma campanha experimental em que se avaliaram as


deformações de fluência em tração para betões autocompactáveis de três classes distintas de
resistência: C20/25, C35/45 e C40/50. Para tal, recorreu-se à utilização de um dispositivo experimental
concebido expressamente para caracterização do comportamento diferido do betão sob retração de
secagem impedida. O ensaio desenvolve-se através da instrumentação simultânea de dois provetes
com geometrias similares: um de betão com varões embebidos, ensaiado num pórtico que confere
restrição variável à deformação, e o outro de betão simples, que não se encontra restringido, no qual é
possível monitorizar as deformações livres associadas à retração e à temperatura. Considera-se que de
uma forma geral os resultados obtidos foram coerentes e bem condicionados, devendo-se destacar o
facto de a qualidade dos sinais das medições ser bastante superior ao reportado na bibliografia da
especialidade [1-4]. O controlo do ensaio foi desenvolvido com sucesso, tendo-se conseguido garantir
uma amplitude da tensão alvo no betão com erro inferior a 0.10MPa. Relativamente à avaliação das
deformações de fluência em tração é importante realçar que se observou que a fluência específica dos
betões autocompactáveis ensaiados decresceu com o aumento da classe de resistência.

Procedeu-se ainda a uma comparação do módulo de elasticidade do betão em tração obtido no


dispositivo VRF com o determinado a partir da técnica EMM-ARM. Esta é uma componente
importante do ensaio, pois o módulo de elasticidade em tração é uma das propriedades importantes
para uma correta determinação das deformações de fluência em tração. Os resultados obtidos com
ambas as técnicas apresentam uma concordância assinável, tendo-se considerado validada a técnica de
medição através do dispositivo VRF.

AGRADECIMENTOS

O apoio financeiro da FCT concedido ao primeiro autor, através da bolsa de doutoramento


SFRH/BD/76183/2011, é aqui expressamente agradecido. Agradece-se ainda à FCT o financiamento
atribuído ao projeto de investigação PTDC/ECM/122446/2010, bem como o apoio financeiro
concedido às unidades de investigação CONSTRUCT e ISISE. Agradece-se também o apoio de José
Luís Granja na condução dos ensaios EMM-ARM aqui reportados.

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386
IV Congreso Ibero-americano sobre Hormigón Auto-compactable – BAC2015
FEUP, 6-7 de Julio de 2015

Evaluación de la retracción y fluencia en el hormigón


autocompactable de resistencia media

C.J. de la Cruz 1 G. Ramos 2 W.A. Hurtado 3

RESUMEN

La diferencia entre un Hormigón Autocompactable (HAC) y un Hormigón Convencional (HC) en


estado fresco, es la alta fluidez del primero y la necesidad de vibración en el segundo; pero en estado
endurecido, ambos hormigones deben cumplir con la resistencia especificada, garantizando además la
funcionalidad y seguridad para la que fue diseñado. En este artículo se describen los ensayos y
resultados de retracción y fluencia para algunos hormigones autocompactables de resistencia media
con adición de arena (HAC-RMCAs) y dos (2) tipos de cemento. La investigación se realizó en el
Laboratorio de Tecnología de Estructuras (LTE) de la Universitat Politècnica de Catalunya (UPC),
preparando dosificaciones de 200 Litros; con la idea de evaluar la efectividad de aplicación de estos
nuevos hormigones en elementos pensados con hormigones convencionales (HCs).

Palabras Clave: Retracción, Fluencia, Hormigón Autocompactable, deformación.

1. INTRODUCCIÓN

El Hormigón Autocompactable (HAC) es caracterizado por su alta trabajabilidad y resistencia a la


segregación. Posee en su composición básica los mismos materiales que un hormigón convencional
(HC), pero sus características en estado fresco son diferentes. El HAC contiene una mayor cantidad de
finos y el tamaño máximo del agregado es menor que el de un HC; además, para su mezcla se utilizan
reductores de agua de alto rango.

Es importante señalar, que hormigones con altos volúmenes de pasta y bajos volúmenes de agregado
exhiben mayores deformaciones por retracción [1], [2]. Bajo las mismas condiciones ambientales, la
curva Retracción – Tiempo de un HAC es muy similar a la de un HC [3,4]; además cuando la
resistencia se mantiene constante, las propiedades (en estado endurecido) del HAC son similares al de
un HC [4,5,6].

Para conocer el desempeño de los hormigones autocompactables de resistencia media (HAC-RMs) en


estado endurecido, se decidió inicialmente hacer los ensayos de Retracción y Fluencia hasta los 180
días (puntos DEMEC y galgas embebidas) [4]. Finalmente se obtuvieron resultados hasta los 629 días

1
Universidad Nacional de Colombia, Facultad de Minas - Medellín, Colombia
2
Universitat Politècnica de Catalunya, Barcelona, España
3
Universidad Nacional de Colombia, Facultad de Minas - Medellín, Colombia

387
Evaluación de la retracción y fluencia en el hormigón autocompactable de resistencia media

de iniciar el ensayo; con la idea de conocer el comportamiento diferido para este tipo de hormigones.
Con la realización de estos ensayos (retracción y fluencia), se quería conocer el grado de estabilidad
dimensional con el tiempo, de dos (2) tipos de HACRM, específicamente, HAC-RMCA con cementos
CEM II 32.5 R y CEM I 42.5R; para relaciones agua/cemento (A/C) 0,45 y 0,42; ya que, ambos HAC-
RMs presentaron las mejores características de autocompactabilidad y resistencia a la compresión
esperada, al menor coste, según De La Cruz (2006). Todos los ensayos se realizaron en el Laboratorio
de Tecnología de Estructuras (LTE) de la Universidad Politécnica de Cataluña (UPC).

2. DETALLES EXPERIMENTALES

Se realizaron dos (2) amasadas de cada tipo de HAC-RMCA (con CEM II 32.5 R y CEM I 42.5 R de
120 litros cada una), en la amasadora de acción forzada del LTE de capacidad 250 litros.

A cada HAC-RM se le realizaron dos (2) de los ensayos de caracterización en estado fresco, como son
los ensayos de Escurrimiento y Extensión con Anillo de Barras [4,6], para verificar la
autocompactabilidad de los hormigones; debido a que son estos dos (2) procesos los que definen de
una manera rápida y fiable el comportamiento autocompactable en estado fresco . También se
elaboraron tres (3) probetas de control de cada tipo de HAC-RMCA, para evaluar la resistencia a
compresión tras un curado en cámara húmeda según la especificación UNE 83-301 [7], a una
temperatura de 23º C y una humedad relativa de 90%, ensayadas a los 28 días de acuerdo con la norma
UNE 83-304 [7]. Las dosificaciones y los resultados de los ensayos de caracterización se presentan en
la Tabla 1. De las mismas amasadas se elaboraron 14 probetas cilíndricas, de 150 x 300 mm; que
correspondían tres (3) de cada tipo de hormigón para el ensayo de retracción y cuatro (4) de cada tipo
de hormigón para el de fluencia.

Tabla 1. Dosificaciones (Kg/m3) y caracterización en estado fresco y resistencia a la compresión


en probetas de HAC-RMCA [MPa].
Hormigón HAC-RMCA HAC-RMCA
Tipo de Cemento
II 32.5 R I 42.5 R

A/C 0,45 0,42


Cemento 392 340
Agua 196 163
Aditivo sp 4,11 8,84
Arena 0-2 651 680
Arena 0-5 434 453
Grava 5-12 723 756

Ensayos de caracterización
T50 [s] 2 2
Escurrimiento
Df [mm] 680 690
Df 650 640
Anillo J
C.B 0.8 0.8
P.U real [Kg/m3] 2420 2420

Resistencia y C.V [MPa] y [%] 30 2.9 42 2.2

Estos hormigones se compararon con un hormigón convencional (HC) de la misma resistencia


mecánica. Para evaluar las deformaciones, los moldes fueron provistos de galgas extensométricas (120
Ω) de longitud 10 cm, dispuestas en el centro del eje vertical como se presenta en la Figura 1. Esto con
el fin de captar la deformación axial en el tercio central de la probeta.

388
de la Cruz, Ramos e Hurtado

Figura 1. Moldes para probetas debidamente provistos de galgas


extensométricas (De La Cruz, 2006).

Elaboradas las probetas para los ensayos, se desmoldaron a las 24 horas de realizar el vaciado, se
refrentaron y se sumergieron en agua, en un tanque ubicado en la cámara climática con humedad
relativa (H.R) de 50% a una temperatura de 19ºC, durante 28 días.

3. ENSAYO DE RETRACCIÓN

La retracción por secado se ha determinado en tres (3) probetas de cada tipo de HAC-RMCA. Una vez
que las probetas se sumergieron en agua se conectaron al equipo de adquisición de datos. Esto, con la
idea de hacer un seguimiento a los procesos de deformación del HAC-RM durante el curado. En la
Figura 2., se presenta la secuencia de procedimiento una vez fabricadas las probetas para los ensayos.
Transcurridos los 28 días de curado en agua, a cada probeta se le adherían puntos externos de
medición (DEMEC) ubicados cada 120º en su superficie lateral como se presenta en la Figura 3.

Figura 2. Procedimiento, Ensayo de Retracción y Fluencia en probetas de HAC-RMCA. (De


La Cruz, 2006).

Figura 3. Probetas con puntos de medida de deformaciones adheridos en la superficie y comparador de


longitudes DEMEC Nº8865. (De La Cruz, 2006).

Las demás lecturas se hicieron a las 24 horas de terminar el curado y se continuaron a las 48 y 72
horas, hasta los 42 días. Para tener un mayor conocimiento y control de los cambios volumétricos que
podía tener el HAC-RM; en las figuras 4 y 5, se presenta el comportamiento de las probetas (valores
electrónicos) desde el momento de haber finalizado el curado y ser conservadas en cámara climática
durante 42 días más (H.R 50% y temperatura de 19ºC). El seguimiento de deformación con las
lecturas electrónicas durante el tiempo de curado, evidenciaron para ambos hormigones un proceso de
expansión (valores de deformación negativos), que era de esperarse dada las condiciones de curado a
las que estaban siendo sometidos las probetas.

Así pues, dadas las condiciones de ejecución del ensayo (curado en agua), la contribución endógena
es despreciable y, por lo tanto, las deformaciones medidas corresponden principalmente a la

389
Evaluación de la retracción y fluencia en el hormigón autocompactable de resistencia media

retracción por secado. Como se puede observar en las gráficas a continuación, los valores electrónicos
de las galgas en las primeras horas de secado, presentan un crecimiento rápido de la deformación, que
tiende a aumentar de una manera más gradual 24 horas después para los dos HAC-RMCAs. De ahí
que el comportamiento es muy similar durante el proceso de retracción medido para ambos HACs-
RMs.

Figura 4. Evolución de la retracción del HACRM con CEM II 32.5 R


durante el secado (De La Cruz, 2006)

Figura 5. Evolución de la retracción del HACRM con CEM I 42.5 R


durante el secado. (De La Cruz, 2006)

En la Tabla 2, se resumen los resultados de deformación por retracción con ambos métodos (puntos
DEMEC y promedio de los valores electrónicos de las galgas embebidas), donde se observa que los
valores puntuales (por edad) son aproximadamente iguales a partir de los 19 días.

Tabla 2. Valores de retracción por secado medidos en probeta individual. (De La Cruz, 2006) [4]
HAC-RM II 32.5 R (microdeformaciones) HAC-RM I 42.5 R (microdeformaciones)
Tiemp
o de GALGA GALGA
secado DEMEC S DEMEC S
[días] Pro C.V Pro C.V
1 2 3 Prom 1 2 3 Prom
m [%] m [%]
2 14 10 10 12 17 21 10 21 25 19 39 23
3 21 18 26 22 20 31 52 35 49 45 20 34
4 49 42 42 44 9 40 66 53 88 69 26 44
7 59 49 53 54 10 59 77 67 84 76 12 65
8 73 77 89 80 10 65 94 91 91 92 2 71
14 105 101 100 102 3 100 122 123 140 128 8 110
19 133 126 121 127 5 112 147 137 154 146 6 115
21 140 154 131 142 8 117 157 151 165 158 4 117
28 165 189 152 169 11 135 175 172 172 173 1 130
42 199 210 179 196 8 160 203 203 203 203 0 153

La tendencia y el comportamiento de cada probeta individual y su promedio por edad (tres (3)
probetas por hormigón) en comparación con el promedio de las lecturas electrónicas desde los dos (2)

390
de la Cruz, Ramos e Hurtado

días de ser retiradas del curado. Las diferencias de los promedios de las lecturas de deformación de los
dos (2) métodos empleados. Para cada tipo de HAC-RMCA a los 28 y 42 días es, aproximadamente
del 18% con CEM II 32.5 R y del 25% con CEM I 42.5 R [4].

Todo parece indicar que a la edad de 19 días de ensayo, las probetas de hormigón logran un equilibrio
tanto interno como externo. Por lo que los datos que se obtienen con ambos métodos empiezan a ser
muy similares, sino iguales a partir de esta edad. Las diferencias no son comparativamente altas, si se
tiene en cuenta que las lecturas de deformación con los puntos DEMEC, se han realizado de manera
manual con mayor posibilidad de error (implementación pegado de puntos- y medidas de
deformación-toma de datos), y los valores electrónicos se toman directamente del equipo de
adquisición de datos (galgas embebidas). Así, dadas las condiciones de ejecución del ensayo (curado
en agua), la contribución endógena es despreciable y, por lo tanto, las deformaciones medidas
corresponden principalmente a la retracción por secado.

En la Tabla 3, se presentan las deformaciones por retracción de los HACRMs a las edades de 28 y 42
días y los resultados según otras investigaciones para hormigones convencionales (HCs), como es el
de Gettu et al. (2000) [8] y la Instrucción de Hormigón Estructural, EHE (2003) [7].

Tabla 3. Resultados de retracción con puntos DEMEC y GALGAS en probetas de HAC-RMCA


(microdeformaciones) (De La Cruz, 2006) [4].
METODOLOGÍA UTILIZADA
SEGÚN EHE
TIPO DE SEGÚN Gettu et
DEMEC GALGAS ARTICULO 39°
HORMIGÓN al. (2000) (HC)
(HC)
Días 28 42 28 42 28 42 28 42
HAC-RMCA 173 203 130 153
CEM I 42.5 R
HAC-RMCA 160 180 99 112
CEM II 32.5 R 169 196 135 160

Si se comparan los resultados con la retracción establecida por Gettu et al. (2000) [8], el EHE
(Artículo 39º, Apartado 39.7) [7] para un HC a los 42 días, se observa que para el HAC-RMCA con
CEM I 42.5 R es mayor en un 27%, y para el HAC-RMCA con CEM II 32.5 R es mayor en un 30%.
Estas diferencias porcentuales son relativas, pues en estudios realizados para un HC por Gettu et al.
(2000) [8], se obtiene una retracción mayor en un 15% que la de los HAC-RMCAs y un 38% mayor
que la propuesta por el Artículo 39º del EHE [7]. Según lo descrito, los valores obtenidos con los
puntos DEMEC y las galgas, son intermedios a los de la investigación y artículo con los que se está
comparando, partiendo de la premisa que estas propuestas están dadas para un HC.

Además las mediciones realizadas de forma manual, pueden presentar más errores de precisión
(pegado de puntos y lecturas) que con las galgas embebidas, los resultados no presentan diferencias
porcentuales grandes, que sugieran verificar la eficacia de las mediciones con ambos métodos, siendo
cualquiera de ellos adecuado para determinar la retracción en HAC-RMs.

Una de las conclusiones de De La Cruz, (2006), respecto al comportamiento por retracción de los
HAC-RMs con diferentes tipos de cemento; para una misma resistencia mecánica, son similares. Y
señala además que las tendencias de las evoluciones de las deformaciones por retracción después de
los 28 días de curado (considerando cero (0) la lectura justo después del curado) para los dos HAC-
RMs son muy similares durante los 42 días de secado. En la Figura 6, se presenta la evolución de la
retracción hasta los 530 días, de las probetas de HAC-RM con CEM II 32.5 R. Alcanzando una
deformación máxima de 331 microdeformaciones.

391
Evaluación de la retracción y fluencia en el hormigón autocompactable de resistencia media

335
330 RETRACCIÓN CEM II 32.5R
325

microdeformaciones
320
315
310
305
300
295
290
285
100 1000
Tiempo(días)

Figura 6. Evolución de retracción por secado del HAC-RM con CEM II 32.5 R.

Es importante aclarar que lo fundamental de las comparaciones mencionadas entre los hormigones se
basa en que las propiedades mecánicas y ambientales son similares, sin tener en cuenta los materiales
componentes.

4. ENSAYO DE FLUENCIA

Para los ensayos de fluencia (ASTM C 512-87) [9], se prepararon cuatro (4) probetas de cada tipo de
HAC-RMCA. Las probetas tenían galgas extensométricas embebidas como se presenta en la Figura 7,
que una vez desmoldeadas eran refrentadas y sumergidas en agua durante 28 días. Igual que para el
ensayo de retracción, una vez obtenido el HAC-RMCA (120 litros para cada HAC-RMCA) se siguió
el procedimiento que se presenta en las figuras 1 y 2. Finalizado el curado, se les aplicó una tensión de
compresión uniaxial equivalente al 40% de su resistencia a compresión a la edad de 28 días; es decir,
para el HAC-RMCA con CEM I 42.5 R, de 17 MPa y para el HAC-RMCA con CEM II 32.5 R, de 12
MPa; empleando bastidores de carga oleoneumáticos como se presenta en la Figura 7.

Figura 7. Ensayo de Fluencia en el LTE (De La Cruz, 2006) [4]

En la Tabla 4, se resumen los resultados de deformación por fluencia con ambos métodos (puntos
DEMEC y promedio de los valores electrónicos de las galgas embebidas).

Si se comparan las deformaciones con los dos (2) métodos para cada tipo de hormigón, se puede
observar que están arrojando valores iguales a los 28 días con CEM II 32.5 R y con una diferencia del
11% con el CEM I 42.5 R. A los 42 días las diferencias del valor de la deformación de fluencia oscila
entre un 4% y 6%. Observando las lecturas electrónicas a los 28 y 42 días, la diferencia porcentual
entre los dos (2) HAC-RMCAs es de un 12%. Siendo también mayores los del CEM I 42.5 R. Que
está en concordancia según los comentarios de Marí y Cladera (2003) [10].

En este artículo se presentan datos parciales y la evolución de la deformación de fluencia (dependiente


de una tensión constante) de los HAC-RMCAs durante los 629 días de ser sometidas a carga en los
bastidores (reporte dado por el LTE (registros enviados a Colombia por el LTE (UPC)/2008)). Esta
evolución se presenta tanto, con las lecturas electrónicas de las galgas, como con los puntos DEMEC.

392
de la Cruz, Ramos e Hurtado

Tabla 4. Valores de deformación por fluencia medidos en probeta individual. (De La Cruz, 2006) [4]
HAC-RM CEM II 32.5 R (microdeformaciones)
DÍAS
1 2 3 4 PROM C.V [%] GALGAS
2 214 175 186 196 190 2 530
3 249 227 301 284 260 7 590
4 420 325 322 399 370 6 620
7 406 392 403 427 410 3 690
8 476 462 525 539 500 5 670
14 637 633 642 630 640 1 830
19 700 805 766 756 760 5 840
21 721 822 781 798 780 5 840
28 819 910 942 896 890 5 890
42 956 1001 1117 1005 1020 6 1010
HAC-RM CEM I 42.5 R (microdeformaciones)
DÍAS
1 2 3 4 PROM C.V [%] GALGAS
2 305 25 228 186 186 17 650
3 343 409 340 238 330 9 700
4 466 480 357 322 400 9 730
7 504 550 413 381 460 9 800
8 595 578 574 448 550 7 830
14 742 648 644 606 660 6 940
19 886 731 749 690 760 8 950
21 900 742 819 728 790 7 960
28 1001 928 872 826 910 6 1020
42 1120 1047 1001 917 1040 5 1080

Para determinar la deformación de fluencia, se debe restar a la deformación total (εtotal) la deformación
inicial y la deformación por retracción. La deformación dependiente de la tensión, en el instante t, para
una tensión constante aplicada en t0, puede estimarse según el Artículo 39º del EHE (2003) [7], con el
siguiente criterio:

(1)
Dónde:
σ(to) : Es la tensión constante aplicada en to.
E 0,t0 : Módulo de deformación inicial longitudinal del hormigón en el instante to de aplicación
de la carga (definido en el apartado 39.6 del EHE (2003) [8]) .
E0,28 : Módulo de deformación inicial longitudinal del hormigón a los 28 días de edad (definido
en el apartado 39.6 del EHE (2003) [8]).
φ (t-t0): Coeficiente de fluencia, cuya expresión involucra el coeficiente básico de fluencia φo.

A continuación, se presenta la evolución de la deformación por fluencia para los HAC-RMs después
de 530 días de iniciado el ensayo. En la figuras 8 y 9, se presenta la evolución de deformación por
fluencia en HAC-RMs con cementos CEM I 42.5 R y CEM II 32.5 R (Barcelona-España).

393
Evaluación de la retracción y fluencia en el hormigón autocompactable de resistencia media

1950

1900 FLUENCIA CEM I 42.5R

microdeformaciones
1850

1800

1750

1700

1650
1 10 100 1000
Tiempo(dìas)

Figura 8. Evolución de la deformación por fluencia del HAC-RM con CEM I 42.5 R

1750
FLUENCIA CEM II 32.5R
1700
microdeformaciones

1650

1600

1550

1500
1 10 100 1000
Tiempo(días)

Figura 9. Evolución de la deformación por fluencia del HAC-RM con CEM II 32.5 R

Para calcular la evolución del coeficiente de fluencia () de los dos (2) HAC-RMCAs con los valores
de las lecturas electrónicas (GALGAS), se aplica la siguiente ecuación (2) según el Artículo 39º del
EHE (2003) [8]:
(2)

Con los últimos registros de deformación (microdeformaciones) de las probetas preparadas para
determinar la retracción, coeficiente de fluencia () y la fluencia de los HAC-RMs, se presenta en la
siguiente Figura 10., la evolución de los coeficientes de fluencia (), para ambos hormigones.

1,8
Coeficiente de Fluencia por secado

HAC-RMCA con CEM II 32.5R

1,6 HAC-RMCA con CEM I 42.5R

1,4

1,2

0,8
1 10 100 1000
Tiempo(días)

Figura 10. Evolución del coeficiente de fluencia (), para los HAC-RMCAs con CEM II 32.5 R y CEM I 42.5 R

El valor de , para el HAC-RMCA con CEM II 32.5 R a los 629 días de preparar las probetas, es de
1,67, como se presenta en la Figura 11. Igualmente, se presentan los resultados obtenidos del , para
los hormigones HAC-RMCAs con CEM I 42.5 R, hasta los 629 días:

394
de la Cruz, Ramos e Hurtado

Figura 11. Evolución del coeficiente de fluencia (), para los HAC-RMCAs con CEM II 32.5 R y CEM I 42.5 R

Como se puede observar en la figura anterior, los valores de  son menores para el hormigón con
CEM I 42.5 R en un 50% a los 28 días, y en un 61% a los 42 días, en comparación con el otro
hormigón con CEM II 32.5 R.

Según los resultados de De La Cruz (2006) [4], que se presentan en la siguiente Tabla 5, en las
mismas probetas y a los 169 días,  tenía un valor de 1,15 para el HAC-RMCA con CEM I 42.5 R.
Estableciendo la comparación con un HC y un HAC [11],  tiene un valor de 0,80 y 0,81
respectivamente; que según los datos experimentales a los 629 días, es de 1,24 (ver Figura 11).

Tabla 5. Comparación del Coeficientes de Fluencia hasta los 169 días. (De La Cruz, 2006) [4]
TIPO DE HORMIGÓN (φ) (169 DÍAS)
HAC CEM I 42.5 R 0,81
HAC-RMCA CEM I 42.5 R 1,15
HC (Roncero et al. (2001)) 0,80

En la siguiente Tabla 6., se presentan los valores de  para un hormigón con las mismas propiedades
mecánicas, condiciones ambientales similares y al mismo tiempo de ensayo, según la propuesta de
cálculo del Artículo 39º (EHE (2003) [7]), Roncero et al. (2001) [11] y Marí y Cladera, 2003
(“RH=60%”) [10]; y se observa que el valor de  con CEM I 42.5 R es menor que para el hormigón
con CEM II 32.5 R, en un 75% y 62% respectivamente.

Tabla 6. Coeficientes de fluencia () con puntos DEMEC y GALGAS en probetas de HAC-RMCA
(microdeformaciones) (De La Cruz, 2006) [4]
METODOLOGÍA UTILIZADA
Roncero et al Marí y
TIPO DE SEGÚN
DEMEC GALGAS Cladera
HORMIGÓN EHE
(2001) (2003)
Días 28 42 28 42 42 42 42
HAC-RMCA 0,10 0,23 0,21 0,27
CEM I 42.5 R
HAC-RMCA 180 0,60 1,0
CEM II 32.5 R 0,40 0,61 0,40 0,60

Para efectos de análisis, comparando los resultados electrónicos (mayor cantidad de datos) con los
cálculos para un HC a los 42 días de ensayo, según la propuesta del Artículo 39º la diferencia es de un
61% para el HAC-RM - CEM I 42.5 R y para el otro de tan solo un 14%. Pero si hacemos la misma
comparación con el  de la investigación de Roncero et al. (2001) [11], la diferencia porcentual es de
un 55% para el HAC-RM con CEM I 42.5 R y cero (0) para el HAC-RMCA con CEM II 32.5 R. Por
último, si consideramos la propuesta de  según Marí y Cladera (2003) [10], el HAC-RMCA con
CEM I 42.5 R presenta una diferencia porcentual del 73% y del 40% con el HAC-RMCA con CEM II
32.5 R, considerando que esta propuesta, es la más alejada de las investigaciones (Ver Tabla 5.).

395
Evaluación de la retracción y fluencia en el hormigón autocompactable de resistencia media

Otra de las conclusiones de De La Cruz, (2006) [4], respecto al coeficiente de fluencia () de los
HAC-RMs con diferentes tipos de cementos, y según los cálculos que sugiere el Artículo 39º para
HCs, es aplicable a los HAC-RMs.

CONCLUSIONES
- Según las comparaciones porcentuales el HAC-RMCA con CEM II 32.5 R, tiene un deformación por
fluencia similar a la de un HC con las mismas propiedades mecánicas. Situación que difiere en un
porcentaje alto para el otro hormigón con CEM I 42.5 R. Esto no descarta de ninguna manera que este
último tenga una deformación por fluencia similar a la de un HC, pues se ha comparado con hormigón
de resistencia característica de 35 MPa, y su resistencia a la compresión a los 28 días es de 43 MPa.
- Si se comparan las metodologías y propuestas utilizadas sólo con el HACRMCA con CEM II 32.5,
se puede decir que los resultados no presentan diferencias porcentuales grandes, que sugieran verificar
la eficacia de las mediciones con ambos métodos, siendo cualquiera de ellos adecuado para determinar
la deformación de fluencia de los HAC-RMs.
- Todo parece indicar que los cálculos que sugiere el Artículo 39º para determinar la evolución del
coeficiente de fluencia, es aplicable a HAC-RMs.
- Los valores de deformación obtenidos hasta los 629 días, en las probetas para los ensayos de
retracción y fluencia, muestran la misma tendencia que hasta los 169 días (De La Cruz, 2006), pero
van en aumento. Mayores para el HAC-RMCA con CEM II 32.5 R, que para el HAC-RMCA con
CEM I 42.5 R.
- Igual que para el caso de la determinación de la retracción de este tipo de hormigones, no se descarta
de ninguna manera, hacer un estudio más exhaustivo de la deformación de fluencia y la evolución de 
para los HAC-RMs, dando continuidad con las mediciones y cálculos que ayuden a identificar de
manera fiable, el comportamiento diferido de este tipo de HACs.

REFERENCIAS
[1] Neville, A. M. (1996). Properties of Concrete, 4th Edition, Person Education Limited, Harlow,
UK, 434 pp.
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Universitat Politècnica de Catalunya.

396
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

Comportamiento a edades muy tempranas del hormigón


autocompactante para prefabricación

Elvis Flores Luis García- Pedro Serna-Ros1


Galán1 Ballester2

Manuel Luisa A. Rosa C.


Valcuende-Payá2 Gachet-Barbosa3 Cecche-Lintz3

RESUMEN

El trabajo estudia la evolución del comportamiento a edad muy temprana y temprana del hormigón
autocompactante de distintos niveles de resistencia y trabajabilidad.

Se analiza las propiedades en estado fresco a través de su reología, se determinan los tiempos de
fraguado y se estudian las variables que incluyen las resistencias a compresión y tracción indirecta, así
como el módulo de elasticidad. Todas estas propiedades se determinan, además de a 7 y 28 días, como
edades de referencia, a 8,10, 12, 24 y 48 horas. Los resultados del HAC son comparados con otros
obtenidos sobre un hormigón convencional vibrado (HCV) de similar comportamiento mecánico a
largo plazo. En paralelo se determina la retracción de los hormigones objeto del estudio.

Para analizar si los resultados obtenidos podían ser causados por el criterio de selección de aditivos, se
utilizan dos tipos de superfluidificantes de actividad claramente diferenciada, uno de uso general en
planta de hormigón preparado y otro destinado a su empleo en prefabricación, fueron utilizados.

Los resultados muestran la influencia en las propiedades analizadas de las distintas estructuras
granulares y los componentes empleados, especialmente la de los aditivos utilizados.

Palabras-chave: Edad temprana, retracción, módulo de deformación, compresión, tracción

1. INTRODUCCIÓN

La alta fluidez y la capacidad de llenado de los hormigones autocompactantes (HAC) los hacen
idóneos para su utilización en secciones muy armadas y en elementos constructivos donde la vibración
pueda ser compleja, también son útiles en secciones delgadas como en los elementos prefabricados
donde la vibración externa es la única forma de obtener una compacidad adecuada. No obstante

1
Universitat Politècnica de València. Departamento de Ingeniería de la Construcción, Valencia, España.
pserna@cst.upv.es
2
Universitat Politècnica de València. Departamento de Construcciones Arquitectónicas, Valencia, España,
lvgarcia@csa.upv.es
3
Universidade Estadual de Campinas, Tecnologia da Construção de Edificios da Faculdade de Tecnologia,
Limeira, Brasil

397
Comportamiento a edades muy tempranas del hormigón autocompactante para prefabricación

aunque en los últimos años se han estudiado en profundidad las propiedades del HAC a edades
normales y a largo plazo, no ocurre lo mismo con las propiedades a edades tempranas y muy
tempranas.

No existe una definición normalizada de edad temprana, por lo que se ha adoptado la que figura en la
prNE 83160 que la define para cada hormigón como la que corresponde al período de tiempo desde el
final de su fraguado hasta que alcanza el 50% de su resistencia a 28 días

Para conocer el comportamiento de los hormigones autocompactantes (HAC), de resistencia media (35
≤ fck ≤ 45 MPa) a edades muy tempranas y tempranas se decidió hacer los ensayos desde las 8 horas
hasta las 48 horas. Finalmente se obtuvieron resultados a 7 días y 28 días como edades de referencia,
con objeto de comprobar el comportamiento para las edades habituales de especificación en los
códigos para este tipo de hormigones.

2. PROGRAMA EXPERIMENTAL

El programa experimental ha consistido en la realización de dos HAC con un escurrimiento de 700


mm y un nivel de resistencia de 40 MPa y dos hormigones convencionales vibrados (HCV) con el
mismo nivel de exigencia mecánica pero diseñado para una consistencia blanda-fluida.

Las propiedades estudiadas han sido las propiedades reológicas (Fluidez, capacidad de paso, tensión
de corte y viscosidad plástica en los HAC; y la trabajabiliad en los HCV) y físicas de los hormigones
en estado fresco (Tiempo de fraguado y aire ocluido). En cuanto al hormigón endurecido se estudian
las propiedades mecánicas (Compresión y Tracción) y las reológicas (Módulo de deformación y
Retracción)

Las edades de ensayos fueron a edades muy tempranas: 8, 10 y 12 horas; tempranas: 24 y 48 horas; y
convencionales 7 y 28 días; para cada tipo de hormigón.

2.1 Materiales utilizados

Los materiales utilizados se presentan en la tabla 1 y las características del cemento se muestran en la
tabla 2

Tabla 1. Materiales Utilizados.


Áridos
Cemento Filler Aditivo
Árido Fino Árido Grueso
0/2 0/4 4/12,5 ViscoCrete- ViscoCrete-
CEM I 52,5 R Calizo
Calizo, Triturado 3425 20 HE

Tabla 2. Características del cemento


Características químicas Características físicas
Pérdida al fuego % 1,36 Principio de fraguado min. 180
Residuo insoluble % 0,33 Final de fraguado min. 210
Cloruros % 0,03 Expansión mm 0,0
Sulfatos % 3,34 Densidad real g/cm3 3,15
Superficie esp. Blaine (cm2/g) 3880
Composición núcleo del cemento Características mecánicas
Clinker (K) % 98,5 Resistencia a la compresión MPa
Componente minoritario 2 días 7 días 28 días
1,5
(CM) % 5,5 51,7 60,1

De acuerdo a la Norma UNE EN 933-1, se procedió a determinar la granulometría de los áridos, la


Figura 1 representa la granulometría obtenida.

398
Flores-Galán, García-Ballester,, Serna-Ros, Valcuende-Payá, Gachet-Barbosa, Cecche-Lintz

100 100
BOLOMEY a=22
90 Grava 4/12 90
Arido Total HAC
80 Arena 0/4 80 BOLOMEY a=12
Arena 0/2
70 70 Arido Total HCV

60 60

% Pasa
% Pasa

50 50
40 40
30 30
20 20
10 10
0 0
0,01 0,1 1 10 100 0,01 0,1 1 10 100
Abertura de Tamiz (mm) Abertura de Tamiz (mm)

Figura 1.Curva granulométrica de los áridos. Figura 2. Granulometría del Árido Total.

2.2 Dosificaciones estudiadas

Se planteó como punto de partida trabajar con hormigones de resistencia 40 MPa, tamaño máximo del
árido 12,5 mm, cantidad de cemento 325 kg/m3, relación a/c = 0, 65 y consistencia 80-110 mm para
los HCV y escurrimiento de 700 mm para los HAC.

En ambos hormigones se utilizaron dos tipos distintos de aditivos superfluidificantes, uno específico
para planta de hormigón prefabricado y otro de carácter general diseñado para hormigón preparado.

El diseño de los hormigones se realizó tomando como referencia la utilización de la curva de


referencia de Bolomey. Eq. (1).
(1)
donde y= % árido que pasa por el tamiz
a = coeficiente que depende la consistencia y tipo de árido
d = abertura del tamiz en mm
D = Tamaño máximo del árido total

El coeficiente “a” de Bolomey es variable en función de los materiales empleados y las exigencias del
hormigón deseado. Para un HCV varía entre 11 y 13. En el caso de los HAC Rigueira et al (6) y
García-Ballester et al (7) recomiendan que este valor esté en el intervalo 20-24. Esto permite utilizar el
filler como un componente granular más. En la Figura 2 se muestra la granulometría del árido total
resultante para ambos casos, y la tabla 3 la dosificación empleada en los 4 hormigones analizados.

Tabla 3. Dosificaciones utilizadas.


HCV40 HAC40
Tipo de hormigón
HCV 20HE HCV 3425 HAC 20HE HAC 3425
Relación a/c 0,65 0,65 0,65 0,65
Coeficiente de Bolomey (a) 12 12 22 22
Cemento kg 325 325 325 325
Agua efectiva l 211,25 211,25 211,25 211,25
Árido grueso 4/12 kg 748,67 768,09 682,65 681,35
Árido fino 0/4 kg 978,43 883,2 571,93 517,38
Árido fino 0/2 kg 109,51 185,31 478,83 531,38
Filler calizo kg 0 0 100 100
Aditivo superfluidificante (% spc) 0,30 0,30 0,80 1,30
kg 0,975 0,975 2,6 4,23

Los ensayos realizados para el hormigón fresco han sido para el HAC: Escurrimiento (UNE EN
12350-8), Anillo Japonés (UNE EN 12350-12), Embudo V (UNE EN 12350-9), Reómetro, y para el
HCV el Asiento (UNE EN 12350-2). Para los dos hormigones se han determinado en estado fresco las
propiedades físicas: Tiempo de Fraguado (ASTM C403-08) y Contenido Aire (UNE EN 12350-7), y

399
Comportamiento a edades muy tempranas del hormigón autocompactante para prefabricación

en estado endurecido: Compresión (UNE EN 12390-3), Tracción Indirecta (UNE EN 12390-6),


Módulo de deformación (ASTM C469/C469M - 14), Retracción, (UNE-EN 12617-4)

2.3 Amasado

El amasado varió en función del tipo de hormigón y del tipo de aditivo empleado. Se ha estipulado un
tiempo de amasado considerando la capacidad y el tipo de la amasadora utilizada (planetaria de eje
vertical). Teniendo todo en orden, con el diseño previsto y la corrección de agua de lugar, además de
un control en la aplicación del aditivo, se ha de realizar dos tipos de amasadas, una para el hormigón
autocompactante y otra para el hormigón convencional.

2.4 Condiciones ambientales


Los ensayos de propiedades físicas y reológicas se realizaron en condiciones de laboratorio a 20±5 ºC.
Las probetas para los ensayos de fraguado se conservaron en cámara de curado durante todo el ensayo.

Las probetas para los ensayos mecánicos se conservaron moldeadas durante 24 horas en condiciones
de laboratorio y a las 24 horas se desmoldaron y se conservaron en cámara de curado a 20±2 ºC y 95-
100 % de humedad hasta el momento de ensayo.

Las probetas de retracción se conservaron moldeadas en la cámara de curado. Para la realización del
ensayo de retracción autógena se desmoldaron a las 8 horas y se dispusieron en una cámara a 20ºC y
50 % de humedad para la medición de la retracción. En el caso de las probetas para retracción por
secado y por peso se mantuvieron moldeadas durante 48 horas en la cámara de curado.

2.5 Modelos de evolución de resistencias utilizados

Para el análisis de la evolución en el tiempo de las propiedades de los hormigones estudiados, se han
utilizados los modelos que se establecen en las normas EHE-08 (8), Eurocódigo 2 (9), Model Code
2010 (10) y ACI 209.2R (11), como se refleja en la tabla 4

Tabla 4. Modelos utilizados.


Normas Resistencia a compresión Módulo de deformación Tracción indirecta
EHE-08
EC-2
MC-10 -

ACI 209.2R -

donde fcm(t), fcmt = Resistencia a compresión a la edad t, MPa; Ecm (t) = Módulo de deformación a la
edad t, GPa; fct,m (t) = Resistencia tracción a la edad t, MPa; cc, , a y b(t) son coeficientes cuya
aplicación se indica en las normas citadas.

3. RESULTADOS Y DISCUSIÓN

3.1 Ensayos del hormigón fresco

En la Tabla5 y Tabla 6 se muestra la media de los resultados obtenidos de los distintos ensayos para
evaluar las propiedades reológicas del hormigón.

Los resultados obtenidos con el 4CRheometer (Fig. 3), permiten correlacionar los resultados de los
ensayos ingenieriles con los parámetros reológicos (12) (13).De acuerdo con los criterios propuestos
por estos autores los dos hormigones diseñados como HAC están en la zona de buen acabado
superficial, evitando el riesgo de segregación (Fig. 4).

400
Flores-Galán, García-Ballester,, Serna-Ros, Valcuende-Payá, Gachet-Barbosa, Cecche-Lintz

Tabla 5. Resultados ensayos del hormigón en estado fresco.


Ensayos HAC 20HE HCV 20HE HAC 3425 HCV 3425
Escurrimiento SF mm 700 - 700 -
T500 s 3 - 4 -
Reómetro mm 769 - 700 -
Escurrimiento con dJf mm 660 - 690 -
anillo japonés TJ50 s 3,2 - 4 -
Embudo en V TV s 16 - 17 -
Asiento cm - 9 - 10
Aire ocluido % 1,7 2,6 2,8 2,8

Tabla 6. Resultados obtenidos con el reómetro


Tensión de Corte τ Escurrimiento Ø T50
Viscosidad μ (Pa*s)
(Pa) (mm) (seg)
HAC 20HE 9,5 11 769 3
HAC 3425 14,7 17 700 5,4

De acuerdo con los datos anteriores, se detecta que a igualdad de componentes básicos, la cantidad de
superfluidificante utilizado condiciona los valores de viscosidad plástica y tensión de corte, ya que a
mayor contenido de superfluidificante aumentan estos valores

Figura 3. 4C-Rheometer Figura 4. Comportamiento del HAC(12)

3.2 Tiempo de fraguado del hormigón

La determinación de los tiempos de fraguado, en especial el final de fraguado, tiene una importancia
especial en esta investigación, ya que señala el inicio del proceso de endurecimiento y de adquisición
de resistencia apreciable. El método de ensayo utilizado ha sido el de la norma ASTM 403(4) que
determina el inicio y el final de fraguado mediante análisis de regresión lineal del tiempo en el que se
produce una resistencia a la penetración de 3,5 MPa y 27,6 MPa. Los resultados obtenidos para los
dos HAC, para cada tipo de aditivo se muestran en la Tabla 7 y Figura 5.

Tabla 7. Principio y final de fraguado del HAC.

Resistencia a Tiempo Trascurrido t


la Penetración (min.)
P (MPa) HAC 20HE HAC 3425
Inicio 3,5 209 264
Final 27,6 322 353

Ecuaciones del análisis:


HAC 20HE: t = 0,0762 e0,0183p R2 = 0,94 (2)
HAC 3425: t = 0,0076 e0,0232p R2 = 0,98…(3)
Figura 5. Resistencia a la penetración en función
del tiempo.

401
Comportamiento a edades muy tempranas del hormigón autocompactante para prefabricación

El HAC 3425 muestra un proceso de fraguado más lento lo que se traduce en una rigidización más
lenta de la pasta, lo que mejoraría su tiempo abierto, si bien tiene el efecto de que el proceso de
endurecimiento también se inicia más tarde.

3.3 Resistencia a compresión

El desarrollo de resistencias observado en los hormigones ensayados sobre la base de su resistencia a


28 días, muestra en todos una evolución más rápida que la propuesta por los modelos de previsión
propuestos por los códigos considerados, Figuras 6 y 7.

De acuerdo con los resultados experimentales, los modelos de desarrollo de la resistencia, EHE-08 y
ACI 209-2R, son, en general, conservadores, a edades superiores a 24 horas. En el caso de edades
tempranas, en principio, parece que el modelo de la EHE-08 da valores superiores, pero hay que
señalar que en ambos modelos no se tiene en cuenta la influencia del período de fraguado.

0,80
1,00

0,80 0,60
fcm (t) / fcm
0,60
fcm (t) / fcm

0,40
HAC 20HE
0,40 HCV 20HE
HAC 3425 HAC 20HE
HCV 3425
0,20 HCV 20HE
0,20 EHE-08/EC-2/MC-10
HAC 3425
HCV 3425
ACI 209.2R EHE-08/EC-2/MC-10

0,00 0,00
0 168 336 504 672 0 12 24 36 48 60 72
Tiempo (hr) Tiempo (hr)
Figura 6. Evolución de resistencia sobre la Figura 7. Evolución de resistencia a edades
experimental a los 28 días. iniciales.

Los HAC tienen un desarrollo de resistencias más rápido que sus HCV homólogos, pero en todos los
casos se pueden distinguir dos períodos de evolución de la resistencia. En el primer período
correspondiente a la edad temprana, el hormigón evoluciona prácticamente de forma lineal, siendo a
partir de las 24 horas cuando su evolución se suaviza, disminuyendo en gran medida el desarrollo de la
resistencia a partir de los 7 días. Si se analiza la evolución de la resistencia en valores absolutos se
aprecia que los HAC alcanzan además niveles mayores de resistencia (Fig 8).

50 40

40
30
Resistencias (MPa)

Resistencias (MPa)

30
20
HAC 20HE
20 HAC 20HE
HCV 20HE
HCV 20HE
HAC 3425 10
10 HAC 3425
HCV 3425
HCV 3425

0 0
0 168 336 504 672 0 24 48 72
Tiempo (hr) Tiempo (hr)
Figura 8. Resistencia del hormigón en función al tiempo.

402
Flores-Galán, García-Ballester,, Serna-Ros, Valcuende-Payá, Gachet-Barbosa, Cecche-Lintz

3.4 Resistencia a tracción indirecta.


1,20
El desarrollo de la resistencia experimental es
1,00
más rápido que el que establecen los modelos.
A diferencia de lo que ocurre con la resistencia 0,80

fct,m(t) /fct,m
a compresión son los HCV los que evolucionan
0,60
más rápidamente que sus homólogos en HAC
(Fig. 9). 0,40 HAC 20HE
HCV 20HE
HAC 3425
0,20
Los datos experimentales muestran que el HCV 3425
EHE-08/EC-2
modelo de la EHE-08 y el EC-2, tienden a 0,00
infravalorar la resistencia a tracción en función 0 24 Tiempo (hr) 48 72

de la resistencia a compresión en el caso de los


HAC para todas las edades, mientras que para Figura 9. Evolución de resistencias a
los HCV sólo se produce esta circunstancia tracción indirecta.
para las edades tempranas (Fig. 10 y 11).
5
5
HAC 20HE
HCV 20HE
Resistencia a tracción indirecta
4
Resistencia a tracción indirecta

HAC 3425
4 HCV 3425

3 3 8 horas
(MPA)

10 horas
(MPa)

12 horas
2 2
24 horas
48 horas

1 1 7 días
28 días
EHE-08/EC-2
0 0
0 10 20 30 40 50 0 24 48 72
Resistencia compresión (MPa) Resitencia a compresión (MPa)
Figura 10. Resistencia a tracción indirecta en Figura 11. Relación resistencia tracción -
función a la resistencia a compresión. compresión respecto a la edad vs EHE-08.

3.5 Módulo de deformación

Si se evalúa el módulo de deformación en función a la resistencia a compresión obtenida en los datos


experimentales, comparando estas con las previsiones de los códigos, se aprecia que la relación entre
el módulo de deformación y la resistencia a compresión es independiente del tiempo, notándose que
existe una relación bastante coherente entre los datos experimentales y los teóricos. Figura 12.

40 40
Módulo de deformación (GPa)
Módulo de deformación (GPa)

30 30

20 20
HAC 20HE
HCV 20HE
HAC 3425
HCV 3425 8 horas 10 horas
10 EHE-08 10 12 horas
48 horas
24 horas
7 días
ACI 209.2R 28 días EHE-08
MC-10 EC-2 ACI 209.2R
MC 10
EC-2
0 0
0 10 20fc (MPa)30 40 50 0 10 20 30 40 50
fc (MPa)
Figura 12. Módulo de deformación en función a la resistencia a compresión.

El Eurocódigo 2 prevé valores más altos del módulo en todos los tipos de hormigones y a todas las
edades, mientras que la EHE-08 es optimista para las edades objetivo de esta investigación, siendo
más realista para las edades mayores de 24 horas. De todos los modelos estudiados son el CM10 y la
ACI 209.2R los más que se adecuan más a la realidad experimentales en todas las edades y niveles de
resistencia alcanzados.

403
Comportamiento a edades muy tempranas del hormigón autocompactante para prefabricación

3.6 Resultados de ensayos de retracción

La Figura 13 Compara la pérdida de volumen por retracción autógena en los hormigones analizados
durante el primer día. Se aprecia una clara dependencia de la retracción respecto al tipo de aditivo, de
manera que los hormigones fabricados con aquél que producía mayores resistencias iniciales (20HE)
comporta al mismo tiempo una mayor retracción autógena, lo que era de esperar.

60 100
HAC 20HE
HCV 20HE HAC 20HE
50 HAC 3425 100
HCV 3425 HCV 20HE
Retraccion (μm)

40 99

% Acumulado
HAC 3425

HCV 3425
30 99

20 98

10 98

0 97
480 840 1200 0 7 14 21 28
Tiempo (minutos) Tiempo dias
Figura 13. Retracción autógena hasta 48 Figura14. Pérdida de peso a partir de las 48
horas. horas.

En lo que se refiere a la retracción por secado medida en función de la pérdida de peso, Figura 14, los
hormigones realizados con el aditivo 3425 sufren más retracción que los hormigones diseñados con el
aditivo 20HE, dado que al ser más lento el proceso de hidratación hay mayor pérdida de agua por
secado.
400 400
HAC20HE RT HAC3425 RA
350 HAC20HE RA 350 HAC3425 RT
HCV20HE RT HCV3425 RT
300 HCV20HE RA 300 HCV3425RA
Retracción (µm/m)

Retracción (µm/m)

250 250

200 200

150 150

100 100

50 50

0 0
0 7 14 (días)
Tiempo 21 28 0 7 14 (días)
Tiempo 21 28
Figura 15. Retracción total y autógena por tipo de aditivo.

400 400
HAC20HE RT HAC20HE RA
350 HCV20HE RT 350 HCV20HE RA
HAC3425 RT HAC3425 RA
300 HCV3425 RT 300 HCV3425 RA
Retracción (m/m)

Retracción ( µm/m)

250 250

200 200

150 150

100 100

50 50

0 0
0 7 14 (días)
Tiempo 21 28 0 7 14 (días)
Tiempo 21 28
Figura 16. Retracción total por tipo de Figura 17. Retracción autógena por tipo de
hormigón. hormigón.

En la Figura 15 se muestra la retracción medida a partir de las 48 horas diferenciándola por tipo de
hormigón, y aditivo empleado, y mostrando tanto la retracción total, como la autógena total.

404
Flores-Galán, García-Ballester,, Serna-Ros, Valcuende-Payá, Gachet-Barbosa, Cecche-Lintz

Los HAC en las condiciones de la cámara climática presentan una retracción menor que sus
homólogos convencionales, independientemente del aditivo utilizado. Esto parece ir en contradicción
con la bibliografía existente, pero hay que señalar que a estas retracciones habría que sumarle la
retracción autógena inicial con lo que el resultado obtenido sería concordante con la bibliografía.

CONCLUSIONES

1. Los HAC desarrollados muestran valores reológicos que permiten la utilización en prefabricados
de hormigón ya que a pesar de obtener una trabajabilidad alta nos permiten evitar los riesgos de
exudación y segregación.
2. El desarrollo de las resistencias está muy influenciado por la formulación del tipo de aditivo
utilizado, El aditivo empleado normalmente para prefabricados, el Viscocrete 20HE, permite un
inicio y final de fraguado más temprano que en el formulado genéricamente, Viscocrete 3425, para
todo tipo de hormigones autocompactantes desarrollando antes el endurecimiento.
3. Los HAC desarrollan más resistencia que sus homólogos convencionales.
4. La resistencia a compresión se desarrolla más rápidamente que lo previsto en los modelos
estudiados, a partir de las 24 horas. Para edades de 48 horas se alcanza un 70 % de evolución de la
resistencia que es mayor que el propuesto por la EHE-08 a edades de 72 horas.
5. En el periodo de edades muy tempranas, los modelos parece que sobreestiman la resistencia pero
ello se debe a que no tienen en cuenta el periodo de fraguado, en consecuencia, los modelos deben
tener un coeficiente corrector para ese periodo o establecer un modelo especifico para estas edades
ya que pueden ser un condicionante fundamental para el desencofrado de elementos que trabajen a
compresión.
6. En el caso del cemento utilizado, se alcanza la resistencia de referencia para determinar el periodo
de edad temprana a una edad inferior a la propuesta por la prEN 83160 ya que el 50% de la
resistencia del hormigón se alcanza a las 24 horas.
7. En comparación con las instrucciones, a edades superiores a las 24 horas las diferentes normativas
son bastante conservadoras respecto a los resultados obtenidos.
8. La evolución de la resistencia a tracción, el crecimiento detectado es aún más rápido que en el caso
de la resistencia a compresión, siendo en todo caso conservadoras las previsiones de los códigos.
9. La relación observada entre el módulo de deformación y la resistencia a compresión se adapta con
gran precisión a la previsión de la ACI 209.2R y el Código Modelo del 2010. En estos casos esta
relación parece no depender de la edad. Las otras reglamentaciones estudiadas muestras una
tendencia menos ajustada.
10. No se ha detectado influencia diferenciada entre los HAC y los HCV, que responden de forma
similar a las variables estudiadas.
11. La utilización de aditivo 3425 proporciona menor retracción autógena a edades muy tempranas, a
diferencia del 20HE, esto puede ser debido a que el desarrollo de fraguado del 3425 más lento que
su contrario a edades iniciales.
12. Si no se considera la retracción autógena inicial, el HAC presenta resultados más estables que el
HCV, para todos los tipos de retracción posteriores a las 48 horas. Este hecho puede ser debido a
la inclusión de filler y a que las reacciones de hidratación más influyentes se producen durante las
primeras 48 horas
13. La utilización de lámina de polietileno permite que la perdida de humedad sea menor en las
probetas selladas evitando incremento de la retracción, en cambio las no selladas presenta lo
contrario produciéndose el aumento de la retracción.

AGRADECIMIENTOS

Los autores de este trabajo manifiestan su agradecimiento a los técnicos de laboratorio del
Departamento de Construcciones Arquitectónicas por su apoyo en la realización de los ensayos. Así
como a las empresas SIKA España, CEMENTVAL SL Materiales de Construcción, Áridos Carasoles,
Cales La Plana CAPLANSA-Hormigón, por haber suministrado de forma desinteresada los materiales.

405
Comportamiento a edades muy tempranas del hormigón autocompactante para prefabricación

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406
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

Rheology of selfcompacting mortars with sustainable binders

Antonia Pacios1 M. Cruz Alonso2

Frank Dehn3 Andreas König3

ABSTRACT

According to the data related to cement consumption in Europe during the period 2000-2013, the
construction sector is demanding more and more the cement with additions, and currently the norm for
the composition of cement is under revision to incorporate new cement types. The use of ternary
cements, cement with large volume of two supplementary materials, as for example blast-furnace slag
and fly ash, is one of the strategies investigated to improve sustainability in the construction. In this
line, previous work focused on the study of the physico-mechanical properties from the very first age
for reference mortar (R1) and mortar with blended cement (SF2) containing a 26% of slag and 10% of
fly ash. Additions have an effect in the hydration rate of ternary cements; curing temperature has
proved to be a key aspect in the accuracy of the measurement of early ages properties as rheological
evolution and shrinkage, since directly influences the hydration process. Conclusions from the
previous work showed that there is very high instability during the five initial hours, when a
transformation from a viscous suspension into a porous rigid solid is happening; this period has a high
influence on the interpretation of the experimental results. In this line, a better understanding in how
the binder-admixture affects rheology of mortars when there is a difference in temperature is needed.

Keywords: cements, rheological characterization, temperature effect, experimental techniques

1. INTRODUCTION

1.1. State of the art

The use of ternary cements, cement with large volume of two supplementary materials, as for example
blast-furnace slag and fly ash, is one of the strategies investigated to improve sustainability in the
construction. Additions have an effect in the hydration rate of ternary cements; curing and
environmental temperature has proved to be a key aspect in the accuracy of the measurement of early
ages properties as rheological evolution and shrinkage, since directly influences the hydration process.

1
Escuela Técnica Superior de Ingenieros Industriales, Universidad Politécnica de Madrid, antonia.pacios@upm.es
2
Instituto de Ciencias de la construcción "Eduardo Torroja", CSIC, mcalonso@ietcc.csic.es
3
Institut für Mineralogie, Kristallographie und Materialwissenschaft, Universität Leipzig, fdehn@uni-leipzig.de

407
Rheology of self-compacting mortars with soustainable binders

It is already well know that there are many factors affecting rheology: water-solid ratio; chemical
composition of cement; chemical reactivity of supplementary materials; particle size distribution,
specific gravity, surface texture and geometrical shape of powders (cement and filler); properties of
chemical admixtures; temperature and humidity; initial mixing conditions; testing procedure.
According to references, out of them, w/b ratio and specific surface are among the most relevant,
while chemical composition has a lower effect. However the chemical composition of the cement in
combination with the type of admixture have also a relevant influence since the effect of the SP
depends on the cement chemistry [1-5].

In addition to the differences in PCE, it must be studied the rheology of the cement systems containing
mineral additions. With aluminious materials such fly ash, yield stress and plastic viscosity are
generally noted to decrease with increasing fly ash content. Reduction in yield stress can be attributed
to the spherical shape of fly ash particles and their consequent ability to impart fluidity to the paste. If
in addition the particle size is coarser than OPC, then the physical separation can be increased. In
ternary combinations the influence of additions in yield stress and plastic viscosity are complex [5-6].

There is also a high dependency with the equipment used and methodology being followed. Nendi et
al. used four different rheometers setups with cement pastes of 100% OPC, binary blends with slag
and fly ash, and also one with superplasticier stabilizer [7-8]. Six rheological models were used to
calculate the rheological parameters from the experimental data. Generally, yield stress increases with
a reduction of w/b ratio and plastic viscosity also increases with a reduction of w/b ratio. Consistency
values increased with a reduction of the w/b for all cement pastes, irrespective of the test geometry
used and rheological model considered. Rate index decreased with a reduction of w/b. RMA are also
used in 3 dosages and it shows that increases both yield stress and viscosity. In the conclusions of that
work, Modified Bingham models estimates lower yield stress values and gives the higher values of
plastic viscosity. This model reflects better the influence of low shear strain region. Herschel-Bulkley
model shows higher yield stress values [9-13].

For pastes and mortars, a variation of suspension density may occur due to several effects [15-18]:

- Particle sedimentation to the bottom of the container. It is related to liquid viscosity and density,
particle diameter, shape and density and fractional volume concentration of the dispersed
particles. This leads to a decrease torque with time that can give misleading results. (In our studies
when it was a very high particle sedimentation it was marked as wrong results in the program).
- Wall effect, either slippage or particle sedimentation. In some studies the use of rough surface
wall limited this effect.

In our study, in order to reduce those effect the following measurements were considered:

a) to use a combination of the paddle and scrapper for helping to move particles to the center and
better vertical particle size distribution;
b) to keep the w/b ratio below 0,4 as recommended for coaxial cylinder test.

1.2. Objectives of the work

Two different objectives are followed with this work: first, to study the changes with time in
rheological performance for different cement systems; second, to look after the effect of temperature
in the stability a flowability of the mixes. In both cases two different w/b ratios were tested.

408
Pacios, Alonso, Dehn e König

2. MATERIALS AND EXPERIMENTAL PROGRAM

2.1. Materials used

Experiments were carried out using two different types of cement and two water-to-cement ratios
(w/c) of 0.30, 0.40. The two cement types were a Portland cement used as a reference (R1) and one
blended cement, SF2, that was prepared in the laboratory with the following proportion: 64% of R1,
26% of slag and 10% of fly ash. The characteristic of the materials are presented in Table 1, and the
mineralogical characterization of the blended cement are presented in Table 2. Majority phase of all is
the alita or C3S; the determination of content on amorphous phase is in relationship with the content
of supplementary component.

Table 1. Chemical characterization of materials used.


Na2O K2O Al2O3 CaO Fe2O3 SiO2 MgO SO3
F Fly ash 1.53 2.50 27.03 2.75 9.07 53.02 1.76 0.52
S Slag 0.15 0.66 11.87 41.29 0.63 36.42 6.87 0.29
CEM I
R1 0.18 0.34 4.68 60.3 5.08 17.4 1.78 3.17
42,5R/SR3

Table 2. Mineralogical characterization of cements used.


R1 SF2
C3S 69.15 36.87
C2S 6.37 2.62
C3A-c 0.61 0.45
C3A-o 2.13 0.74
C4AF 12.34 7.39
CaO 0.4 0.00
Amorph -- 45.14

The particle size distribution representing the 10%, 50% and 90% of sample smaller than the size
indicated d10, d50 and d90 respectively, and average particle size (dm) are listed in Table 3.

One polycarboxylate ether (PCE) HRWR was used. According to the manufacturer the main
characteristics of superplasticizers are listed in Table 4. Sand used for the preparation of the mortars
was normalized sand according to EN Standard.

Table 3. Information about the particle size.


d10 (µm) d50 (µm) d90 (µm) dm (µm) Specific surface Density
area (m2/g) (g/cm3)
R1 2.499 14.323 40.126 19.33 1.12 3.19
SF2 2.377 13.218 39.280 18.42 1.14 3.02

Table 4. Chemical characteristics and configuration of superplasticizers.


 (g/cm3) RI pH Cl (%) Alkali (%)
SP2 1.04 ± 0.02 20 ± 1.0 5.5 ±1.0 0.1 1.0

Mixing profile for mortars was modified to better guaranty the particles dispersion and the water-
admixture system. All powder were dry blended prior to wet mixing. Superplasticizer and water were
added together. After 30 seconds of mixing the cement with the water the sand was added in the
following 30 seconds. For 2 minutes the mixer was at higher speed. After 1 1/2 minutes of resting,
again a higher speed was runt for other 2 minutes. That means that the initial measurements, what in
this work is call time 0, it is at 7 minutes after contact of the water with the cement.

409
Rheology of self-compacting mortars with soustainable binders

Mortars have a cement to sand ratio of 1:2. The optimum dosage of admixture to ensure proper
dispersion, beyond which no further significant improvement in fluidity can be achieved, was
determined (slump and flow time, using the mini-cone and Marsh cone). Samples were produced to
get a similar slump of 300 mm. In the amount of superplasticizer only the solid content was
considered.

2.2. Equipment and testing program

The measurement of rheological properties were carried out using a rotation viscometer Viskomat NT
(see Fig. 1). This device is a modified coaxial cylinder viscometer whose inner cylinder was replaced
by a concentric measuring paddle. This entails the advantage that sedimentation cannot occur.
Furthermore, mortars with a grain size of 2 mm can be investigated because a wall-slipping effect is
minimized. The Viskomat NT is equipped with a tempering device (a cooling bath enabled constant
temperature conditions during the test), so that steady state conditions are ensured during the
investigation time of e. g. 90 min. For mortars a profile was set that have a step increment o decrement
of rotational speed, and a constant rotational speed at 20 rpm and 120 rpm. This relatively high “shear
stress” was chosen in order to quickly dissolve a possible initial flocculation and to be able to compare
the results with other investigations.

The temperatures studied were 5ºC, 10ºC, 20ºC and 37ºC. The test performed are listed in Table 5.
Table 6 present the basic parameter for selfcompactability characterization.

Table 5. Test performed in mortars with the rheometer.


%SP w/b Temperature SERIES
5 ºC 10 ºC 20 ºC 37 ºC
0.75 0.40 R1 R1 R1 R1/R1* R1_04_07_2
SF2 SF2 SF2 SF2* SF2_04_07_2
3.00 0.32 R1* R1* R1* R1* R1_03_3_2
SF2* SF2* SF2* SF2* SF2_03_3_2
*Ramp profile

Table 6. Results from slum flow and Marsh funnel.


Df (cm) tfunnel (s)
t0 t30 t60 t90 t0 t30 t60 t90
R1_04_07 28 29 27 21 3.16 3.44 5.16 7.1
SF2_04_07 30 31 29 28 3.18 3.18 2.78 4.4
R1_03_3 30 -- -- -- 4.23 -- -- --
SF2_03_3 31 -- -- -- 3.60 -- -- --

With this rheometer steps profile was set in most cases, from 20 to 120 rpm. The sample is exposed to
a higher increment of energy with the step profile than the ramp profile, since it has to reach the
rotational speed of 120 rpm in ½ minute instead 2 minutes. In Figure 1 different phases can be
appreciated: a liquifying effect during the first cycle, steady state periods in the following cycles, and
stiffening period in some cases. However it was not possible to use safely this profile with all the test,
so a ramp profile had to be alternatively programmed. Both profiles are correlated for the same mortar
sample (see Fig. 1).

A constant shear profile (shear rate of 120 rpm) was chosen to visualize the stiffening effect. When
the material is tested at a constant speed of 120 rpm the difference between maximum and minimum
torque values are larger; this difference is defined as stiffness of the cement system and it give us
information about the homogeneity of the system and building up of a changing structure.

410
Pacios, Alonso, Dehn e König

60
R1_37°C_steps

50 R1_37°C_ramp

40

Torque (N mm)
30

20

10

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80
Time (min)

Figure 1. Results for reference mortar using step and ramp profile with Viskomat NT.

3. RESULTS OF TESTING

3.1. Results for different binders

Figure 2 plots the register of torque versus time. First it can be observed is the different response with
energy: at 20 rpm registers are very similar; however, at 120 rpm interaction between particles, free
water, different superplasticizer adsorption, have an important role in the answer. It needs one cycle to
reach equilibrium. After the first cycle, the response is quite stable.

50
R1_04_07_2_20°C Mortar_04_07_2_20ºC
45
SF2_04_07_2_20°C
40

35

30
Torque (N mm)

25

20

15

10

0
0 20 40 60 80 100 120
Time (min)

100
R1_03_3_2_20°C Mortar_03_3_2_20ºC
90
SF2*_03_3_2_20°C
80

70
Torque (N mm)

60

50

40

30

20

10

0
0 20 40 60 80 100 120
Time (min)

Figure 2. Influence of the time on rheological behavior for different binder.

411
Rheology of self-compacting mortars with soustainable binders

Regarding the response for different cement systems, reference mortar has a higher resistance to flow
and it is a more stable cement system as can be observed specially in the first cycle.

3.2. Results for different temperatures

There is a strong temperature dependency in the rheological behavior. There is an inverse relationship
between temperature and resistance to flow; the lower the temperature the higher the torque value
measured. However more reactive cements may observe a negative effect with temperature and a
strong loss of workability with time (see Fig. 3).

50
R1*_04_3_37°C
Mortar_04_07_2
45 R1_04_07_5°C

40

35

30
Torque (N mm)

25

20

15

10

0
0 20 40 60 80 100 120
Time (min)

100
SF2*_03_3_05°C
90 Mortar_03_3_2
SF2*_03_3_37°C
80

70
Torque (N mm)

60

50

40

30

20

10

0
0 20 40 60 80 100 120
Time (min)

Figure 3. Influence of time on rheological behavior for different temperatures.

4. DISCUSSION OF THE RESULTS

Two different results are discussed in this paper: stability of the mortar with time at the higher
rotational speeds, and modification of stiffening with time and temperature.

4.1. Influence of temperature on stability

In the first cycle, during the first minutes an initial liquefying can be appreciated, followed by a more
homogeneous state. Blended systems need more time to reach the steady state region as after 10
minutes of continuous rotational speed, have not reached a clear steady state. After 60 minutes of
continuous stirring, the torque value is reduced, and the state more steady (see Fig. 4a). With
temperature torque values are reduced in all cases, mortars reach the stead state at earlier times, and
some accelerated stiffening may be observed (see Fig. 4b). This phenomena is more accused for
reference mortars due to the earlier hydration processes.

412
Pacios, Alonso, Dehn e König

Tendency is similar for mortars with w/b ratio of 0.3 (see Figs. 4c and 4d). This is in agreement with
some results from mini-slump test. It is needed 90 minutes (or higher temperature) for getting a strong
stiffening in the cement systems.

60 60
120 rpm Mortar 04_07_2_20ºC R1_t_0_120_20°C 120 rpm Mortar 04_07_2 37ºC R1_t_0_120_37°C
50 SF2_t_0_120_20°C 50 SF2_t_0_120_37°C
R1_t_60_120_20°C R1_t_60_120_37°C
SF2_t_60_120_20°C

Torque (Nmm)
Torque (Nmm)

40 40 SF2_t_60_120_37°C

30 30

20 20

10 10

0 0
0 2 4 6 8 10 0 2 4 6 8 10 12
Time (min) Time (min)

a) w/b ratio of 0,4, at t=0 and t=60 min, 20ºC b) w/b ratio of 0,4, at t=0 and t=60 min, 37ºC

60 60
120 rpm Mortar 03_3_2 37 ºC R1_t_0_120_37ºC
SF2_t_0_120_37ºC
50 50
R1_t_60_120_37ºC
SF2_t_60_120_37ºC
Torque (Nmm)
Torque (Nmm)

40 40

30 30

20 R1_t_0_120_20°C 20
SF2_t_0_120_20°C
10 R1_t_60_120_20°C 10
SF2_t_60_120_20°C 120 rpm Mortar 03_3_2 20ºC
0 0
0 2 4 6 8 10 12 0 2 4 6 8 10 12
Time (min) Time (min)

c) w/b ratio of 0,3, at t=0 and t=60 min, 20ºC d) w/b ratio of 0,3, at t=0 and t=60 min, 37ºC

Figure 4. Structural breakdown with time of the cement systems, for different w/b ratios.

4.2. Influence of temperature on stiffness

Figure 5 plot the temperature influence on stiffness. As it was mentioned in paragraph 2.2 stiffness
may give us information about the homogeneity of the system and building up of a changing structure.
First it can be observed, is that the mortars with w/b ratios of 0.4 are more homogeneous than mortars
with w/b ratio of 0.3 (lower stiffness values). They are also quite stable with time (except reference
systems at 37 ºC).

Still, mortars with blended cements are more unstable. Increment in temperature is positive for the
structure building-up for blended cements, while for the reference mortar there is a strong loss of
workability and increment in resistance to flow (see Fig. 5a). Figure 5b present the stiffness variation
for mortars with a higher viscosity (w/b ratio of 0.3). The higher values of stiffness report for mortars
with poor homogeneity. The strong change of stiffness reports for mortars that build up a structure
with time. Again, increment in temperature is positive for the structure building-up for mortars with
standard and blended cement.

413
Rheology of self-compacting mortars with soustainable binders

40 40 40
36
w/b=0,4 36
w/b=0,4 w/b=0,4
R1_05 R1_20 R1_37
32 32 30
28 SF2_05 28 SF2_20 SF2_37

Stiffness (Nmm)
Stiffness (Nmm)
Stiffness (Nmm)

24 24
20
20 20
16 16
10
12 12
8 8
4 4 0
0 0
-4 -4 -10
t_0 t_30 t_60 t_90 t_0 t_30 t_60 t_90 t_0 t_30 t_60 t_90

a) Influence of temperature on mortars with w/b ratio of 0.4.

40 40 40
36
w/b=0,3 36
w/b=0,3 36
w/b=0,3
R1_05 R1_20 R1_37
32 32 32
28 SF2_05 28 SF2_20 28 SF2_37
Stiffness (Nmm)

Stiffness (Nmm)
Stiffness (Nmm)

24 24 24
20 20 20
16 16 16
12 12 12
8 8 8
4 4 4
0 0 0
-4 -4 -4
t_0 t_30 t_60 t_90 t_0 t_30 t_60 t_90 t_0 t_30 t_60 t_90

b) Influence of temperature on mortars with w/b ratio of 0.4.


Figura 5. Stiffness variation with time and temperature.

CONCLUSIONS

The test program was prepare to determine the relationship between binder systems and to find out the
influence of the temperature on the rheological properties of mortars. Blended systems need more time
to reach the steady state region as after 10 minutes of continuous rotational speed, have not reached a
clear steady state. After 60 minutes of continuous stirring, the torque value is reduced, and the state
more steady.

With temperature, torque values are reduced in all cases, mortars reach the stead state at earlier times,
and some accelerated stiffening may be observed. Increment in temperature is positive for the structure
building-up for blended cements, while for the reference mortar there is a strong loss of workability
and increment in resistance to flow.

Continuous work is being done related to find the model, lineal or non lineal flow curves, with better
accuracy of fitting experimental results (is important to check if the model predictions are physically
reasonable and correspond to the type of behavior it is trying to predict). In some cases, supplemented
experimental test should be performed to check for physical consistency of the results.

ACKNOLEDGEMENTS

The authors wish to thank to the Ministry of Science and Innovation for the founds received from the
Subprogram of Fundamental Research to work on the project BIA 2011-22760 “IMPLEMENTACIÓN
DE METODOLOGÍAS DE PROTECCIÓN FRENTE A LA CORROSIÓN PARA EXTENDER LA VIDA
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414
Pacios, Alonso, Dehn e König

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415
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416
Desempenho estrutural.
Durabilidade.

Comportamiento estructural.
Durabilidad.
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

Experiencias sobre durabilidad de hormigones autocompactantes


frente a diferentes ambientes agresivos

J.L. Piqueras R. Mingorance J.A. Ramos


Sala1 Mingorance2 Martin3

J. Rodríguez F. Lamas
Montero4 Fernández5

RESUMEN

Ante la pregunta ¿Se comportan mejor los HAC ante ambientes agresivos que los HV? Esta
investigación cuestiona la generalización sistemática y plantea si será necesaria una cantidad mínima
de cemento para que las ventajas del afinamiento de poro junto con la reducción de áridos gruesos
sean concluyentes en los casos en que el aporte de finos, sin actividad hidráulica, sea el único medio
para conseguir las propiedades autocompactantes.

Para ello, se diseñaron tres HAC, y sus hormigones vibrados de referencia (HV), para emular
estructuras vistas, cimentaciones en suelos yesíferos y elementos en contacto con el agua de mar. La
actual Instrucción Española EHE-08 designa estos ambientes como IIb, Qb y IIIc (XCA, XA2 y XS3
según UNE-EN 1992-1-1) y prescribe los mínimos contenidos de cemento para su dosificación en 300,
350 y 350 kg/m3 y unas relaciones a/c máximas de 0,55, 0,50, 0,45 respectivamente.

Sobre probetas específicas de 100 cm de altura se determinó la porosidad por distintos métodos
incluyendo la porosimetría por inyección de mercurio. El estudio de la durabilidad se completó en
cada ambiente mediante ensayos específicos en función del agente agresor, profundidad de
carbonatación acelerada, DRX y evolución de velocidad de propagación de ondas ultrasónicas y
ascensión capilar, resistencia a la penetración del agua bajo presión y permeabilidad a los iones Cl-
mediante métodos indirectos. La resistencia a compresión se evaluó sobre probetas normalizadas.

Los resultados obtenidos muestran que los HAC fueron más durables que sus vibrados de referencia,
en los ambientes Qb y IIIc diseñados con mayor contenido de cemento y menor relación a/c, en
contraposición a los obtenidos en el ambiente IIb.

Palabras-clave: Autocompactante, Porosidad, Durabilidad, Permeabilidad

1
ETSIE de Universidad de Granada, Departamento de Construcción Arquitectónicas, Granada, España. jlpsala@ugr.es
2
Laboratorio de Ingeniería de la Construcción de ETSICCP de Universidad de Granada, Granada, España. romingos@ugr.es
3
Laboratorio de Ingeniería de la Construcción de ETSICCP de Universidad de Granada, Granada, España. juanramar@ugr.es
4
ETSICCP de Universidad de Granada, Departamento de Ingeniería de la Construcción, Granada. España. rmontero@ugr.es
5
ETSICCP de Universidad de Granada, Departamento de Ingeniería Civil, Granada. España. flamas@ugr.es

419
Experiencias sobre durabilidad de hormigones autocompactantes frente a diferentes ambientes agresivos

1. INTRODUCCIÓN

Los hormigones autocompactantes se presentan como un material versátil con unas mayores
prestaciones técnicas y durables respecto a los hormigones convencionales [1] dando respuesta a los
nuevos retos demandados en los sectores de edificación, prefabricación e incluso ingeniería.

Resistencia mecánica no siempre es garantía de durabilidad, ésta última requiere exigencias


específicas más estrictas en función de los agresores externos y una puesta en obra más cuidada.
Debido a las diferencias en el diseño de las mezclas, en las técnicas de colocación y consolidación, la
durabilidad del HAC puede ser diferente de la del hormigón tradicional. Algunos autores abordan esta
cuestión, bien con el estudio de la dosificación, modificando sus componentes y composición con
objeto de influir así en la estructura porosa [2], o bien, basándose en el estudio de los procesos de
transporte de sustancias agresivas en el seno del hormigón [3-4].

Se observa un consenso general en que la estructura interna de los HAC es más densa, es decir, que
presentan menor porosidad [5-7], debido a la presencia de una importante cantidad de filler en la
matriz de hormigón y al empleo de grandes cantidades de cemento. Sin embargo, los resultados de los
trabajos en los que se evalúa la durabilidad atendiendo a las propiedades físico-químicas y
relacionándolas con la porosidad y los procesos de transporte presentan valores equivalentes tanto para
los HAC como para los HV [8-9].

Con el fin de arrojar luz sobre la durabilidad del HAC, en este trabajo se comparan las prestaciones de
tres parejas de hormigones, uno autocompactante y otro convencional, con los mínimos contenidos de
cemento y máximas relaciones a/c que fija la Instrucción Española [10] para tres clases de exposición
ambiental diferentes. Para ello, se analiza la porosidad por diferentes métodos y se estudia la
durabilidad de forma específica para cada tipo de agente agresor. Así, para el ambiente IIb, se
determinó la profundidad de carbonatación mediante ensayos acelerados. En el caso del tipo Qb se
evaluó la influencia de la penetración de SO42- mediante DRX a diferentes profundidades de la
superficie expuesta y evolución de la velocidad de propagación de ondas ultrasónicas. Para el
ambiente IIIc, se evaluó la absorción, la permeablidad al agua bajo presión y a los iones Cl-.

2. METODOLOGÍA

2.1 Materiales y dosificación

Siguiendo las exigencias de la clase de exposición ambiental los cementos usados han sido: un CEM I
42,5 R con un 15% de cenizas para el IIb y un CEM I 42,5 R/SR para el Qb y IIIc.

Se han empleado áridos de naturaleza rodada para el ambiente IIb y triturada para el resto. La mezcla
se constituia por tres fracciones (arena 0/4 y dos gravas de tamaño 2/8 y 4/16) más un filler calizo
cuyas partículas pasan en un 90% por el tamiz de 0,063 mm. Se usó un aditivo basado en polímeros de
éter policarboxilatos (Glenium C303 SCC).

Las premisas de partida para dosificar estos hormigones fueron 300, 350 y 350 kg/m3 como mínimos
contenidos de cemento y relaciones a/c máximas de 0,55, 0,50, 0,45, respectivamente para los
ambientes IIb, Qb y IIIc [10]. El método del profesor Okamura [11], con modificaciones de otros
investigadores [12] han servido de base para el diseño, optimizándose el esqueleto granular y dosis de
aditivo de forma empírica (Tabla 1).

420
Sala, Mingorance, Martin, Rodríguez Montero e Fernández

Tabla 1. Dosificación final de los hormigones.


Cantidades kg/m3
Designación
Agua Cemento Filler Arena Grava 1 Grava 2 SP (%)
IIb 172 300 262 805 266 673 1,9
HAC Qb 175 350 245 939 223 565 1,3
IIIc 157,5 350 327 961 292 409 2,2
IIb 175 300 115 777 399 697 0,5
HV Qb 175 350 245 939 223 565 1,3
IIIc 157,5 350 --- 828 621 621 0,8

2.2 Caracterización de las propiedades en estado fresco

Sobre amasadas de volumen igual a 150 litros, mezclados en amasadora de eje horizontal, se
determinaron, en el caso de los HAC, las características de autocompactabilidad mediante los ensayos
de extensión de flujo (UNE-EN 12350-8), embudo en V (UNE-EN 12350-9), caja en L (UNE-EN
12350-10) y escurrimiento con anillo Japonés (UNE-EN 12350-12), con los que se obtuvo
información sobre la trabajabilidad, capacidad de relleno y capacidad de paso. En los HV se determinó
la consistencia (UNE 83313:1990), para que fuese plástica.

También se determinaron el contenido de aire (UNE-EN 12350-7) y la densidad (UNE-EN 12350-6).

2.3 Piezas específicas y procedimientos de ensayos

Para reproducir los efectos de la puesta en obra y su incidencia en la durabilidad se rellenaron, para
sendos hormigones, seis moldes prismáticos de sección trapezoidal de 100 cm2 y 100 cm de altura para
los ambientes IIb y Qb y dos muros de 100 x 20 cm de base y 100 cm de altura para el IIIc (Fig. 1). En
los primeros, dada su esbeltez y sección con encuentros de ángulos mayores y menores de 90º, se
condiciona la capacidad de llenado y, en el tercero se reproducen condiciones reales de puesta en obra.
Finalmente se extraen, ensayan y comparan muestras de partes bajas y altas de las probetas.

Figura 1. Esquema de las probetas confeccionadas para los ambientes IIb y Qb (izda) y muro y
probetas extraídas para el ambiente IIIc.

La determinación de la porosidad global se efectuó por el método del picnómetro sobre el polvo del
hormigón molturado y secado a 100ºC (UNE-EN 1097-7:2009). La densidad aparente y porosidad
accesible al agua, desorción a 100ºC, mediante balanza hidrostática (UNE-EN 12390-7). Se utilizó la
técnica de porosimetría por inyección de mercurio (ASTM D4404-84), en los ambientes IIb y Qb.
Además, la resistencia a compresión se determinó según la norma UNE-EN 12390-3.

En el IIb, la durabilidad viene condicionada por la mayor vulnerabilidad de las armaduras por
despasivación debido a la carbonatación del hormigón, por lo cual este proceso se determinó de forma
acelerada en cámara (UNE-EN 13295) con una concentración de CO2 de un 1%, y una humedad

421
Experiencias sobre durabilidad de hormigones autocompactantes frente a diferentes ambientes agresivos

relativa del 60% y cuantificada siguiendo las especificaciones de la norma UNE 112011-94 en las
partes bajas y altas de las probetas en ambos hormigones en los plazos de 1, 2 y 3 meses (Fig. 2 izda).

Para el tipo Qb, la penetración de SO42- y la formación de fases mineralógicas expansivas con la
consiguiente fisuración potencial. Este fenómeno se evaluó mediante DRX a diferentes profundidades
de la superficie expuesta de probetas de 20 cm inmersas parcialmente en agua saturada en yeso
durante un período de 6 meses y, mediante la evolución de la velocidad de propagación de ondas
ultrasónicas (UNE-EN 12504-4), al principio y final del período de ensayo (Fig. 2 dcha).

Para el tipo IIIc, la influencia de la permeabilidad al agua es de vital importancia por su relevancia en
los mecanismos de transporte de agentes agresores disueltos en ella, por lo que se determinó la
absorción capilar (UNE 83982), en probetas testigo extraídas de la parte baja y alta de los muros. La
resistencia a la penetración del agua a presión (UNE EN 12390-8) fue determinada en probetas
cilíndricas de dimensiones 15x20 cm extraídas de los cuartos inferior y superior de los muros (Fig. 3
izda).

Figura 2. Medida de carbonatación (izda) y despiece de muestras para ensayo DRX (dcha).

Finalmente y, dada la gran difusividad que presentan los iones Cl-, este fenómeno se cuantificó
mediante un método indirecto [13], evaluando la cantidad de corriente que pasa en una unidad de
tiempo a través de una sección y espesor de hormigón estandarizado según el procedimiento descrito
en ASTM C 1202–05 (Fig.3 dcha). Las probetas consistieron en discos de 100 mm de diámetro y 50
mm de espesor que se prepararon cortando testigos extraídos de los muros confeccionados.

Figura 3. Perfilado del frente de penetración en un testigo del muro de 15x20 cm (izda) y esquema
instrumentación para el ensayo acelerado de penetración de cloruros (dcha).

3. RESULTADOS Y DISCUSIÓN

3.1 Propiedades en estado fresco

En la Tabla 2, se especifican, como media de 4 determinaciones, los resultados de los ensayos para la
caracterización de la autocompactabilidad en las mezclas realizadas para los diferentes ambientes. A
pesar de la variabilidad en los resultados obtenidos los valores medios cumplen satisfactoriamente los
requerimientos exigidos para estos parámetros.

422
Sala, Mingorance, Martin, Rodríguez Montero e Fernández

Tabla 2. Resultados de ensayos en estado fresco de las mezclas.


HAC HV
Escurrimiento Embudo en V Caja en L Escurrimiento con anillo J Asiento
Cono
Designación
df (cm) T50 (s) Tv (s) H1/H2 Diámetro (cm) H1-H2 (mm) Abrams
(cm)
IIb 71,625 2,625 8,875 0,86 62,5 2,75 6,5
Qb 72,35 2,45 7 0,9 70 10 6
IIIc 74,5 4,88 10,81 0,84 69,75 0,77 7

Además, se llevaron a cabo las determinaciones de densidad en estado fresco y aire ocluido. La
densidad fue idéntica para los ambientes IIb y IIIc con valores de 2,40 y 2,46 Kg/m3para el HAC y HV
respectivamente. Para el ambiente Qb, estos fueron ligeramente mayores con valores de 2,44 y 2,49
Kg/m3. Respecto al aire ocluido los valores en el HAC fueron de 3,6, 3,5 y 2,2 % para los ambientes
IIb, IIIc y Qb respectivamente, mientras que para los HV fueron 1,6, 1,7, 0,9 %. Como puede verse el
contenido de aire para los HAC es dos veces mayor que para los HV, debido a la mayor dosis de
aditivo empleado, siendo esta también crucial en relación con el tamaño y las proporciones de los
poros de aire, obtenidos como resultado de su actividad en las mezclas [14]. En consonancia con este
resultado el valor de densidad para el HV es ligeramente mayor.

3.2 Propiedades en estado endurecido

3.2.1 Resistencia a compresión


En la Figura 5 puede observarse la evolución de la resistencia a compresión a partir de los datos
obtenidos para los HAC comparada con los hormigones de referencia. Los valores representados
corresponden a un valor medio de 2 probetas ensayadas.

Figura 5. Evolución de las resistencias para los HAC y HV en los tres ambientes estudiados.

Para los ambientes IIIc y Qb los valores de resistencia en los HAC han sido mayores que para los HV
de referencia, con unas diferencias en torno a 12 y 15 % superiores. Sin embargo, para el ambiente IIb
se produce una disminución de aproximadamente un 10% con respecto al HV.

3.2.2 Porosidad y desorción


En la Tabla 3, se muestran los valores de porosidad, desorción y porosidad accesible al agua mediante
secado, expresados en porcentaje respecto al peso de la muestra como media de cuatro
determinaciones.

Se observa que las porosidades han sido algo más elevadas en el HAC para los ambientes IIb y Qb y
sensiblemente menores para el ambiente IIIc.

Respecto a la variación de la porosidad con la altura, en las zonas altas de las probetas para los
ambientes IIb y Qb ésta ha sido levemente menor posiblemente por el mejor empaquetamiento de las
partículas. En cambio, para el ambiente IIIc, se produce un aumento de la porosidad en las partes más

423
Experiencias sobre durabilidad de hormigones autocompactantes frente a diferentes ambientes agresivos

altas del HAC al igual que ocurre en los HV, esto puede deberse, en el primer caso a una ligera
segregación y, en el segundo a la doble vibración que se produce por el efecto de la puesta en obra en
dos tongadas.

Los valores de desorción y porosidad accesible mediante secado van en concordancia con la porosidad
siendo, además, muy similares entre cada una de las partes estudiadas.

Tabla 3. Resultados de porosidad, desorción, porosidad accessible y porosimetría de mercurio en


las en las partes bajas y altas de los hormigones estudiados.
POROSIDAD POROSIMETRÍA
POROSIDAD DESORCIÓN
Designación ACCESIBLE Porosidad Radio de poro
% Desv σ % Desv σ % Total % medio µm
Alta 15,0 1,233 4,95 0,309 12,0 12,2 0,0120
HAC

Baja 15,1 1,000 5,12 0,227 12,3 8,3 0,0214


IIb

Alta 13,2 0,419 4,72 0,307 11,4 9,5 0,0301


HV

Baja 12,9 0,252 4,56 0,281 11,1 9,3 0,0240


Alta 14,8 0,819 3,90 0,350 5,60 12,0 0,0399
HAC

Baja 15,9 0,858 4,60 0,622 5,40 11,0 0,0436


Qb

Alta 13,4 0,299 4,00 0,316 3,80 5,8 0,0457


HV

Baja 13,5 0,252 4,10 0,191 3,90 7,9 0,0477


Alta 14,2 0,185 5,24 0,102 12,5
HAC

--- ---
Baja 11,9 0,351 4,06 0,252 10,0
IIIc

Alta 13,3 0,042 4,03 0,156 9,80


HV

--- ---
Baja 13,1 0,262 3,86 0,106 9,40

3.2.3 Porosimetría por inyección de mercurio para los ambientes IIb y Qb.
Los valores de porosidad total y tamaño medio del poro de la Tabla 3 son más altos en los HAC que en
los HV. Las diferencias existentes con la porosidad anteriormente determinada son debidas a la gran
heterogenidad que presenta la muestra ensayada, al ser pequeños trozos seleccionados de las partes
inferiores de los áridos, existiendo una diferencia entre las partes del orden de 0,001 µm en el
ambiente IIb y de 0,004 µm en el Qb.

La Figura 6 representa el espectro de distribución del tamaño de poro en las diferentes alturas de las
probetas para ambos ambientes. Puede observarse que cada mezcla sigue un patrón análogo de
volumen de intrusión. Para el ambiente IIb, aparece un pequeño pico para tamaños en torno a 100 µm,
debido a las macrofisuras [15] y, un pico más acusado entre 0,1 y 0,01 µm correspondiente a la
porosidad de tipo capilar.

La distribución en el HAC parece indicar una cierta exudación, de ahí el pico que se observa de
tamaño relativamente grande, próximo a 1 μm, en la parte alta de la probeta estudiada. De igual modo,
se observa que el pico de mayor magnitud se va desplazando hacia tamaños de poros más pequeños
con la altura. Esto podía interpretarse como que se ha producido una cierta subida de agua que se ha
acumulado ligeramente en la parte baja de los áridos, pero también a que se ha producido una cierta
ascensión de pasta de cemento enriquecida de filler, lo que ha dado lugar a una estructura de poros
más finos.

En cambio, de los resultados obtenidos para el ambiente Qb, no pueden extraerse conclusiones
significativas. Tanto en el HAC como el vibrado no han aparecido picos significativos desplazados a
tamaños superiores que indicaran exudación ni tampoco se han observado cambios en su posición, que
pudieran sugerir acumulaciones de granos de áridos grueso.

424
Sala, Mingorance, Martin, Rodríguez Montero e Fernández

0,006

0,005 IIb Qb
HORMIGÓN
dV/dlogR (mL/g)

AUTOCOMPACTANTE ALTA
0,004
MEDIA
0,003 BAJA

0,002

0,001

0
1000 100 10 1 0,1 0,01 0,001
Radio del poro (micras)

0,006

0,005 IIb
HORMIGÓN
VIBRADO Qb
HORMIGÓN
dV/dlogR (mL/g)

0,004 VIBRADO
ALTA
MEDIA
0,003
BAJA

0,002

0,001

0
1000 100 10 1 0,1 0,01 0,001
Radio (micras)

Figura 6. Distribución de tamaños de poro en el HAC y HV para ambiente IIb (izda) y Qb (dcha).

3.2.4 Absorción capilar y permeabilidad de agua a presión para el ambiente IIIc


En la Figura 7 se muestra la evolución de la absorción capilar que representan la resistividad a la
penetración de la absorción capilar. Se observa un crecimiento de la pendiente (K) con la altura lo que
implica que la velocidad con la cual penetra un caudal de agua hasta alcanzar el equilibrio, va
ascendiendo de forma gradual a medida que se aproxima a las partes superiores del muro, lo que
conlleva una mayor sección de flujo acuoso, poniéndose de manifiesto un cierto indicio de
segregación, más acusado para el HAC que en el HV.

HAC HV

Figura 7. Evolución de la absorción capilar con la altura del muro para el ambiente IIIc.

De la observación de los datos de la Tabla 3 se deduce una correlación aceptable con los valores de
porosidad y desorción obtenidos.

3.2.5 Penetración de agua bajo presión para el ambiente IIIc


Las profundidades medias y máximas para cada una de las probetas, aparecen en la Tabla 4, como
media de dos determinaciones. Los valores obtenidos para el HV son mayores, encontrándose el valor
más elevado en la parte alta para el HV y en la parte baja para el HAC. Esto concuerda con el
coeficiente de penetración de agua por absorción capilar y la desorción en el HV, pero no en el HAC,
quizás por un aumento en el contenido de grava de éste último en las partes bajas del muro, por la
influencia de la zona pasta-árido.

425
Experiencias sobre durabilidad de hormigones autocompactantes frente a diferentes ambientes agresivos

Tabla 4. Profundidad de penetración de agua bajo presión y Coef. de absorción capilar (k),
porosidad efectiva (εe ) y resistencia a la penetración (m) para el HAC y el HV.

PROF. DE PENETRACIÓN DE
AGUA BAJO PRESIÓN.(cm) ABSORCIÓN CAPILAR
Designación Valores medios de las partes
K εe m
Pmáx Pmed
(g/cm2min0.5) (%) (min/cm2)
Alta 3,88 2,74 0,0070 7,05 101,70
HAC

Baja 4,61 2,98 0,0050 4,28 72,50


Alta 5,48 4,24 0,0072 6,73 88,47
HV

Baja 5,59 4,16 0,0075 6,34 70,77

3.2.6 Permeabilidad al CO2 para el ambiente IIb


De la observación de la Figura 8 (izda) se deduce que en el ensayo acelerado, la profundidad de
carbonatación es levemente mayor en el HAC que en el HV.

Los valores de profundidad de carbonatación de las partes altas del HAC indican que son menos
permeables al CO2, mientras que los datos de la porosimetría de inyección de mercurio inducían a
pensar lo contrario. Tal vez, en el balance entre la aparición de una cierta proporción de porosidad de
mayor tamaño y el refinamiento de la restante, predominen los efectos del refinamiento y, por ello, la
penetración sea menor que en las partes donde no tienen lugar estos procesos. En cambio, la mayor
penetración de CO2 en las zonas bajas del HV puede resultar fácil de justificar por el mayor radio
medio de sus poros, aunque en ellas no hayan aparecido picos de porosidad de gran tamaño como en
las partes altas.

3.2.7 Permeabilidad a los cloruros para el ambiente IIIc


Los datos de permeabilidad representados en la Figura 8 (dcha) muestran una permeabilidad media.
Las diferencias existentes vuelven a reproducirse como en los ensayos de porosidad, presentándose un
aumento de la conductividad eléctrica a medida que se asciende en el muro confeccionado con HAC,
evidenciando la mayor porosidad en su parte alta. En el muro de HV, las partes bajas y altas parecen
seguir la misma tendencia que en el caso del HAC.

HAC HV

1 2 3meses

Figura 8. Evolución de la carbonatación en cada una de las partes de las probetas realizadas (izda)
y cantidad de corriente que pasa (dcha).

3.2.8 Permeabilidad a los sulfatos para el ambiente Qb


Se realizan las medidas de la velocidad de propagación ultrasónica y DRX (Fig. 9) antes del comienzo
y final del ensayo de inmersión en la disolución saturada con yesos, observándose un incremento de la
velocidad en ambos hormigones al final del ensayo. Estos datos indican que el desarrollo de la
formación de ettringita y taumasita ha sido irrelevante, ya que su formación podría, en un primer

426
Sala, Mingorance, Martin, Rodríguez Montero e Fernández

estadío colmatar los poros, este incremento sólo podría ser imputable al progreso de la hidratación de
la propia pasta de cemento.

Iniciales a 6 meses
HV
HAC HV
HAC
5,00
4,50
Velocidad (km/s)

4,00
3,50
3,00
2,50
2,00
1,50
1,00
0,50
0,00
Alta Media Baja Alta Media Baja

Figura 9. Evolución de la propagación de ondas ultrasónicas en las partes de las probetas (izda) y
resultados de DRX de una de las muestras ensayadas (dcha).

CONCLUSIONES

Para contenidos de cemento de 350 Kg y relaciones a/c de 0,50 y 0,45 se han obtenido mayores
resistencias en los HAC que en los HV, pero en la dosificación de 300 Kg y relación a/c mayor, 0,55,
la tendencia es contraria.

Al comparar la porosidad total, entre las parejas de hormigones estudiados, los resultados indican que
es siempre ligeramente mayor en los HAC, acentuándose con el aumento de la relación a/c y
disminución de la cantidad de cemento. La mayor presencia de fíller y proporción de aditivo podrían
contribuir a fijar cierta porosidad atrapada.

La influencia de los sistemas de puesta en obra provocaron mayor porosidad en las partes altas de los
HV por la hipervibración en su compactado, aunque las diferencias han sido menores que los HAC.

Se ha podido constatar mediante la técnica de inyección de mercurio el afinamiento de poro en los


HAC y su incremento con la altura, aún sin signos evidentes de segregación, ni exudación.

Los ensayos de desorción de agua por secado y absorción capilar aportan información más precisa que
la porosidad global y muestran una estrecha correlación dentro de una misma tipología de hormigón.
Han mostrado un mejor comportamiento del HAC frente al vibrado

La penetración de agua a presión muestra al HAC un 14,6 % de media menos permeable y en zonas
puntuales un 13,5 % de la máxima penetración y, en consecuencia más resistente a agentes agresores
que el agua pudiese transportar.

El afinamiento de poro, no ha supuesto un freno para que la carbonatación profundice menos en el


HAC. Los resultados concuerdan con la mayor porosidad y menor contenido de grava en el hormigón
para este ambiente.

El HAC ha resultado ser más resistente en el ensayo de permeabilidad a los cloruros acorde con las
porosidades detectadas en las diferentes alturas del muro. Aunque el HV ofrece mayor permeabilidad
ambos hormigones presentan una valoración moderada.

No ha sido posible encontrar diferencias significativas en la penetración de sulfatos, ni por diferencia


de concentración ni por aparición de nuevas fases a distinta profundidad de la superficie atacada.

427
Experiencias sobre durabilidad de hormigones autocompactantes frente a diferentes ambientes agresivos

En resumen, los resultados obtenidos apuntan a un mejor comportamiento del HAC que el hormigón
tradicional vibrado, pero a partir de un mínimo contenido de cemento y una relación a/c máxima.

REFERENCIAS

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428
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

Estudo do carregamento cíclico de baixa frequência à flexão em


concretos autoadensáveis contendo fibras de aço

Ederli Marangon1 Romildo Dias Toledo Filho2

RESUMO

Na literatura técnica, encontram-se diversos trabalhos contendo resultados referentes a carregamentos


cíclicos de flexão em concretos reforçados com fibra. Os ensaios, em sua maioria, são realizados em
corpos-de-prova não fissurados, em que a tensão máxima imposta é igual à resistência à flexão do
concreto sem adição de fibra, e as frequências utilizadas para o carregamento variam, normalmente,
entre 1 e 20 Hz. No presente trabalho, optou-se pela utilização de carregamento cíclico de frequência
bastante baixa, podendo o ensaio ser considerado quase-estático, para três diferentes níveis de
carregamento após o início da primeira fissura, em concretos autoadensáveis contendo fibras de aço
(CAAF). Os ensaios de ciclos de carga/descarga de flexão foram realizados na máquina de ensaios
Shimadzu, com deslocamento controlado, a uma velocidade de 0,5 mm/min, o que corresponde a uma
frequência de aproximadamente 0,00625 Hz (período de 160 segundos). As misturas de CAAF
continham 1 %, 1,25% e 1,5% de fibras de aço com relação de aspecto 65. A principal conclusão
obtida em relação aos ensaios cíclicos de flexão é que, quando os corpos-de-prova são ensaiados
monotonicamente à flexão, após terem sido previamente submetidos aos ciclos de carga/descarga de
flexão, eles, mesmo fissurados, apresentam resistência à flexão semelhante à dos concretos íntegros.
Entretanto, a fissuração leva-os a apresentar módulo de elasticidade substancialmente menor (reduções
de 50 % a 60 %).

Palavras-chave: Concreto Autoadensável fibroso; Carregamento Cíclico; Rigidez à Flexão;


Durabilidade.

1. INTRODUÇÃO

Na literatura técnica, encontram-se diversos trabalhos contendo resultados referentes a carregamentos


cíclicos de flexão em concretos reforçados com fibra ([1], [2], [3], [4], [5], [6], [7]). Os ensaios, em
sua maioria, são realizados em corpos-de-prova não fissurados, em que a tensão máxima imposta é

1
Universidade Federal do Pampa, UNIPAMPA, Centro Tecnológico de Alegrete – CTA, Departamento de Engenharia
Civil, Alegrete, Brasil. ederlimarangon@gmail.com.br
2
Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE/UFRJ, Laboratório de Estruturas e Materiais – LabEST, Rio de Janeiro,
Brasil. toledo@coc.ufrj.br

429
Estudo do carregamento cíclico de baixa frequência à flexão em concretos autoadensáveis
contendo fibras de aço

igual à resistência à flexão do concreto sem adição de fibra, e as frequências utilizadas para o
carregamento variam, normalmente, entre 1 e 20 Hz. O carregamento em fadiga é normalmente
dividido em duas categorias: categoria de ciclos de baixo carregamento e categoria de ciclos de alto
carregamento. Os ciclos de baixo carregamento envolve a aplicação de somente alguns ciclos (1 a 103
ciclos) com altos níveis de tensão, já os ciclos de alto carregamento (acima de 10 3 ciclos) são
caracterizados por um grande número de ciclos de carregamento com menores níveis de tensão. Como
exemplos de cargas cíclicas, podem ser incluídas vibrações de máquinas, ondas do mar, ação do vento
e do tráfego de automóveis [8].

O uso de fibras descontínuas e aleatoriamente distribuídas na massa da mistura de concreto tem como
papel principal atuar no controle da abertura e da propagação de fissuras, alterando seu
comportamento mecânico após a ruptura da matriz, melhorando consideravelmente a sua capacidade
de absorver energia (ou seja, sua tenacidade), sua resistência à fadiga e sua resistência ao impacto. A
capacidade de absorver energia, a ductilidade, o controle de fissuração e a resistência às ações
dinâmicas, de fadiga e de impacto são as propriedades mais beneficiadas pela inclusão de fibras [6],
[7], [9]. Diferentes classificações de ciclos de carregamento produzem diferentes mecanismos de
ruptura no concreto. Para fadiga de baixo ciclo, o mecanismo dominante é a formação de fissuras na
matriz que conduz à formação de contínuas malhas de fissuras. Por outro lado, a fadiga de altos ciclos
produz fissuras na interface fibra/matriz em um processo lento e gradual [8]. Além disso, a adição de
fibras apresenta dois efeitos no comportamento dinâmico do concreto. As fibras são capazes de agir
como pontes de ligação em microfissuras e retardar seu crescimento e, por isso, melhoram o
desempenho de compósitos solicitados aos carregamentos cíclicos [8].

2. MÉTODOS EXPERIMENTAIS

2.1 Misturas estudadas

Os concretos foram produzidos com cimento Portland brasileiro CPIII 40 Votoram (C), sílica ativa
Silmix (SA), cinza volante Pozofly (CV), sílica 325 (SF), agregado graúdo (G1 de diâmetro máximo
9,5 mm) do tipo litológico granito, duas frações de agregado miúdo (S1 de diâmetro máximo 2,4 mm e
S2 de diâmetro máximo 0,85 mm) do tipo litológico quartzo, superplastificante do tipo Glenium 51
(SP), agente modificador de viscosidade do tipo UW410 (VMA) fabricado pela Basf do Brasil, água e
fibras de aço (FA). As fibras de aço utilizadas no estudo foram da Arcelor Mital, Dramix 65/35, com
ancoragem nas extremidades em formato de ganchos. As dosagens para a obtenção das matrizes de
concretos autoadensáveis foram realizadas seguindo o conceito do método do empacotamento
compressível (MEC). Neste trabalho, as dosagens dos concretos foram realizadas através do programa
computacional BetonlabPro2 [10]. Desta forma, foram dosadas e produzidas três misturas (C1.1%65;
C1.1,25%65 e C1.1,5%65). A Tabela 1 apresenta a composição dos materiais de todas as mistura.

Tabela 1. Composição dos Concretos.


Composição (kg/m³) C1.1%65 C1.1,25%65 C1.1,5%65
Agregado Graúdo (G1) 466,5 459,7 454,0
Agregado Miúdo (S1) 830,6 830,0 830,6
Agregado Miúdo (S2) 100 100,0 100
Sílica 325 70,0 70,0 70,0
Cimento 360,0 360,0 360,0
Cinza Volante 168,0 168,0 168,0
Sílica Ativa 45,0 45,0 45,0
Superplastificante 37,5 37,5 46,1
Modificador de Viscosidade 0,36 0,36 0,36
Água 180 180 180
Fibra de aço 78,0 97,5 117,0

430
Marangon e Toledo Filho

2.2 Ensaios cíciclos

No presente trabalho, optou-se pela utilização de carregamento cíclico de frequência bastante baixa,
podendo o ensaio ser considerado quase-estático. Os ensaios de ciclos de carga/descarga de flexão
foram realizados com deslocamento controlado, a uma velocidade de 0,5 mm/min, o que corresponde
a uma freqüência de aproximadamente 0,00625 Hz (período de 160 segundos). As amostras utilizadas
para o ensaio de ciclos de flexão são prismas com dimensões 100x100x400 mm. A relação entre o vão
livre e a altura da viga foi igual a 3, estando de acordo com a norma NBR NM 55 [11]. Foram
ensaiados 4 amostras, para cada nível, a uma idade de 28 dias. A medida do deslocamento do ponto
central da viga foi obtida por meio de um transdutor elétrico de deslocamento acoplado a um
dispositivo tipo “Yoke”, posicionado à altura média da amostra prismática. A instrumentação dos
corpos-de-prova utilizados no ensaio de ciclos e de resistência à flexão é mostrada na Figura 1a.

Os ensaios de ciclos de flexão foram realizados com três diferentes níveis de carregamento.
Considerando-se F a diferença entre a carga máxima (Pu) e a carga de primeira fissura (Pf) obtida no
ensaio estático de flexão (F = Pu - Pf), as cargas máximas dos três níveis de carregamento foram:
carga de primeira fissura somada a 25 % de F; carga de primeira fissura somada a 50 % de F; carga
de primeira fissura somada a 75 % de F (Equação 1).
Pmax = Pf + 0,25. F Nível 01
Pmax = Pf + 0,50. F Nível 02 (1)
Pmax = Pf + 0,75. F Nível 03

A Figura 1b ilustra o incremento F. Em todos os níveis de carregamento, a relação (R) entre a carga
mínima (Pmin) e a carga máxima (Pmax) utilizada durante a aplicação dos ciclos foi de 0,1, conforme a
Equação 2.
Pmin
R (2)
Pmax

Carga Máxima Estática (Pu)

f
Carga

Carga de Primeira Fissura (Pf)

deslocamento
(a) Aparato para ensaio de flexão. (b) Determinação do incremento de carga.
Figura 1. (a) Instrumentação e (b) determinação dos níveis de carregamento.

A Figura 2a mostra os sinais, no tempo, do carregamento teórico. Ao se atingir a carga máxima, em


cada ensaio, este valor de carga era mantido durante 15 segundos. Passado este tempo, iniciava-se o
descarregamento, e, atingida a carga mínima, a mesma também era mantida por 15 segundos. Esse
tempo de permanência de 15 segundos foi necessário para o registro fotográfico da viga, utilizado
posteriormente para a medição das aberturas das fissuras. Ainda, na Figura 2b é possivel ver uma
curva típica dos ciclos de carregamento aplicados. Iniciava-se o processo de carregamento da amostra
de concreto, até ser atingido o carregamento máximo determinado. Em seguida, a carga ia sendo
reduzida até se alcançar a carga mínima. Esta etapa foi considerada de “carregamento estático” (CE).
A partir desse ponto, os ciclos “dinâmicos” de carregamento começavam a ser contados. Foram,
assim, aplicados 4 ciclos para cada amostra, conforme representado na Figura 2b. A partir das curvas
carga x deslocamento, calculou-se o módulo de elasticidade ciclíco residual para cada ciclo, através da

431
Estudo do carregamento cíclico de baixa frequência à flexão em concretos autoadensáveis
contendo fibras de aço

mesma expressão utilizada para o cálculo do módulo de elasticidade aparente (ou seja, relativo ao
carregamento estático). Esta expressão é apresentada na Equação 3. O módulo cíclico foi obtido entre
o valor do carregamento mínimo e o carregamento máximo.
P.a
E (3.L2  4a 2 ) (3)
24.I .u
onde:
P – carga máxima;
a – distância entre o apoio e o ponto de aplicação do carregamento;
I – momento de inércia da seção transversal da viga;
u – deslocamento vertical medido no meio da viga;
L – distância entre os apoios.
60
Quarto Ciclo
Terceiro Ciclo
Segundo Ciclo
15 s 15 s 15 s 15 s 15 s Pmax 50 Carregamento Primeiro
Estático Ciclo
Amplitude_Carga (kN)

40
R=Pmin/Pmax = 0,1

Carga (kN)
30 Primeira
Fissura

20

10
Pmin
15 s 15 s 15 s 15 s 15 s
0
Tempo (seg) 0.0 0.1 0.2 0.3
Deslocamento (mm)

(a) Amplitude utilizada. (b) Ciclos de carga/descarga.

Figura 2. (a) Amplitude e (b) curva típica utilizada para os ensaios.

É apresentada, na Figura 3, a fotografia de uma região de uma amostra, tirada durante o carregamento
do cíclico de flexão. A partir destas fotografias foram feitas, posteriormente, as medições das aberturas
das fissuras que surgiram ao longo do ensaio.

A
Escala
Fissura
B

Figura 3. Medida de abertura de fissuras.

A máquina fotográfica foi então colocada de forma a obter uma imagem de alta qualidade da parte de
baixo da amostra, permanecendo fixa do início ao fim do ensaio. A medição da abertura das fissuras
foi realizada com o auxílio do programa ImageJ 1.42q [12]. Definindo-se uma escala de referência
para o programa, ele é capaz de realizar as medições necessárias. Foram selecionadas, para análise,
apenas as fissuras que atravessavam totalmente, na largura, a parte de baixo das amostras. Para cada
fissura selecionada, sua abertura era medida em três diferentes pontos, denominados A, B e C (Figura
3). Calculavam-se, a seguir, a média e o desvio-padrão das três medidas de abertura da fissura, a cada
ciclo de carregamento.

432
Marangon e Toledo Filho

Após os ensaios cíciclos, as amostras foram submetidas a ensaios estáticos de flexão, para a
determinação de sua resistência residual à flexão e de sua rigidez residual.

3. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

A Tabela 2 apresenta os valores dos carregamentos máximo e mínimo utilizados para os ensaios de
ciclos de carga/descarga dos concretos, para cada um dos três níveis (01, 02 e 03) descritos no item 2.
Em cada nível, o carregamento mínimo foi equivalente a 10 % do carregamento máximo.

Tabela 2. Valores de carregamento máximo e mínimo, para cada nível, utilizados nos ensaios cíclicos
dos concretos.
C1.1%65 Nível 01 Nível 02 Nível 03
PMax (kN) 42,1 43,6 45,2
PMin (kN) 4,21 4,36 4,52
C1.1,25%65
PMax (kN) 42,9 46,9 50,9
PMin (kN) 4,29 4,69 5,09
C1.1,5%65
PMax (kN) 46,1 50,4 54,8
PMin (kN) 4,61 5,04 5,48

A Figura 4 mostra curvas características carga x deslocamento obtidas nos ensaios cíclicos de flexão.
Notam-se os ciclos de histerese referentes ao quarto ciclo de cada nível de carregamento. Uma
comparação de curvas típicas de histerese, para os diferentes níveis de carregamento aplicados,
percebe-se, na figura, uma tendência de aumento da energia de histerese (área limitada pela curva de
histerese) à medida que o nível de carga é elevado. Da mesma forma que ocorrido para os concretos
com 1 % e 1,25 % de fibra, também para o concreto com teor de fibra de 1,5 % maior energia de
histerese foi obtida conforme o carregamento era incrementado.
60 60

Nível 01
50 Nível 02 50
Nível 03
40 40
Carga (kN)
Carga (kN)

30 30

20 20
Nível 01
Nível 02
10 10 Nível 03

0 0
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7
Deslocamento (mm) Deslocamento (mm)

(a) C1.1%65. (b) C1.1,25%65.


60

50

40
Carga (kN)

30

20
Nível 01
10 Nível 02
Nível 03

0
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7
Deslocamento (mm)

(c) C1.1,5%65.
Figura 4. Curvas típicas de histerese do quarto ciclo para os diferentes níveis de carregamento: (a) concreto
C1.1%65; (b) concreto C1.1,25%65; (c) concreto C1.1,5%65.

433
Estudo do carregamento cíclico de baixa frequência à flexão em concretos autoadensáveis
contendo fibras de aço

Os valores médios de abertura de fissura referentes a cada corpo-de-prova dos concretos (total de 4),
no carregamento estático de flexão (CE), e em cada um dos quatro ciclos de carga/descarga, são
apresentados na Tabela 3. Para cada carregamento (estático, ciclo 01, ciclo 02, ciclo 03 e ciclo 04), a
Tabela 3 também apresenta o correspondente coeficiente de variação. Cada fissura, como esperado,
sofreu ligeiro aumento em sua abertura, conforme os ciclos se sucediam. Não se nota tendência de
modificação nas dimensões da fissura, conforme o nível de carga aplicada era aumentado. Isso pode
ser uma característica relacionada com a quantidade de fibras cortando a seção fissurada, e que antes
de se atingir a carga máxima ainda existe uma adesão fibra/matriz, conforme relatado por LEE e
BARR [8].

Tabela 3. Resultados de abertura de fissura referentes aos concretos C1.1%65; C1.1,25%65 e


C1.1,5%65.
CE Ciclo 01 Ciclo 02 Ciclo 03 Ciclo 04
w (μm) w (μm) w (μm) w (μm) w (μm)
C1.1%65 - Abertura de fissura - Nível 01
Média 159 179 203 236 237
CV (%) 12 9 10 20 20
C1.1%65 Abertura de fissura - Nível 02
Média 178 200 259 284 350
CV (%) 22 24 20 12 22
C1.1%65 Abertura de fissura - Nível 03
Média 165 185 223 241 242
CV (%) 7 15 13 13 10
C1.1,25%65 - Abertura de fissura - Nível 01
Média 153 172 179 214 220
CV (%) 22 17 20 16 18
C1.1,25%65 - Abertura de fissura - Nível 02
Média 149 155 172 189 197
CV (%) 26 19 27 23 23
C1.1,25%65 - Abertura de fissura - Nível 03
Média 134 149 186 199 231
CV (%) 15 23 16 18 11
C1.1,5%65 - Abertura de fissura - Nível 01
Média 127 238 261 298 315
CV (%) 43 29 26 21 13
C1.1,5%65 - Abertura de fissura - Nível 02
Média 132 153 167 211 215
CV (%) 33 18 17 4 3
C1.1,5%65 - Abertura de fissura - Nível 03
Média 114 133 156 181 184
CV (%) 44 35 11 22 12

Os resultados de módulo cíclico calculados em cada ciclo de cada nível de carregamento, e o módulo
de elasticidade do ensaio estático, são listados na Tabela 4, para os concretos estudados. Para cada
nível de carga, os módulos calculados nos 4 ciclos são significativamente menores do que o módulo
obtido no ensaio estático. Para o nível 01 de carga, analisando a mistura C1.1%65, os módulos
calculados nos ciclos 01, 02, 03 e 04 foram menores do que o calculado no ensaio estático em,
respectivamente, 43 %, 45 %, 54 % e 60 %. Quanto ao nível 02, estas reduções respectivas foram de
42 %, 71 %, 74 % e 76 %. Finalmente, para o nível 03, estes valores foram de, respectivamente, 54 %,
62 %, 64 % e 66 %. A razão para isso é que os ensaios cíclicos foram realizados com os corpos-de-
prova já fissurados.

434
Marangon e Toledo Filho

A Tabela 4 lista, para o concreto C1.1,25%65, os resultados de módulo cíclico, onde é possível
observar que os módulos são consideravelmente mais baixos do que o obtido no ensaio estático. Com
relação ao nível 01, os módulos calculados nos ciclos 01, 02, 03 e 04 foram respectivamente 50 %, 55
%, 58 % e 61 % menores do que o estimado no ensaio estático. Já para o nível 02, estas reduções
respectivas foram de 48 %, 54 %, 57 % e 59 %. Referente ao nível 03, as reduções foram de,
respectivamente, 51 %, 55 %, 64 % e 59 %. Por estarem fissurados ao se iniciar o ensaio, os concretos
sofreram redução em seu módulo de elasticidade.

Os resultados de módulo cíclico referentes a cada ciclo de cada nível de carregamento, e o módulo de
elasticidade obtido do ensaio estático, apresentados na Tabela 4 para o concreto C1.1,25%65,
demostram que os módulos cíclicos foram muito menores do que o módulo do ensaio estático. Para o
nível 01, os módulos cíclicos foram em média 40 % inferiores ao módulo do ensaio estático. Para os
níveis 02 e 03, essas reduções foram ainda maiores: 50 % e 55 %, respectivamente.

Tabela 4. Resultados (média e CV) de módulo de elasticidade do ensaio estático e de módulos cíclicos.
Nível 01 Nível 02 Nível 03
C1.1%65
E (GPa) CV (%) E (GPa) CV (%) E (GPa) CV (%)
CE 38,75 7,05 41,12 5,56 38,66 10,92
Ciclo 01 22,00 23,49 23,79 65,00 17,78 46,02
Ciclo 02 21,23 32,01 11,75 39,37 14,62 37,69
Ciclo 03 17,88 33,37 10,52 39,88 13,74 37,32
Ciclo 04 15,62 23,16 9,92 41,01 13,11 37,55
C1.1,25%65
CE 40,01 8,05 40,00 4,24 40,04 7,99
Ciclo 01 20,03 21,36 20,64 12,54 19,45 0,04
Ciclo 02 18,02 21,28 18,41 15,26 17,99 1,02
Ciclo 03 16,73 22,49 17,14 18,12 14,55 2,09
Ciclo 04 15,48 18,52 16,21 19,41 16,58 1,92
C1.1,5%65
CE 38,69 6,58 38,13 8,64 36,78 6,00
Ciclo 01 24,75 29,53 18,64 12,67 18,97 9,77
Ciclo 02 22,82 28,66 17,18 10,65 16,91 12,54
Ciclo 03 21,70 29,57 17,97 21,68 15,81 12,52
Ciclo 04 24,14 2,34 20,39 4,40 15,03 11,78

Após terem sido submetidos a ensaios de ciclos de carga/descarga de flexão, os corpos-de-prova dos
concretos passaram por um teste estático de flexão, visando à determinação de suas propriedades
residuais. As curvas carga x deslocamento obtidas dos ensaios estáticos de flexão residual são
mostradas na Figura 5(a), para os três níveis de carregamento. Nessa mesma figura, também é
mostrada uma curva típica carga x deslocamento obtida a partir de ensaio monotônico de flexão dos
concretos estudados (em corpos-de-prova que não passaram por ensaios cíclicos, ou seja, corpos-de-
prova íntegros). Consta também, dentro de cada figura, uma ampliação do gráfico, afim de melhor
vizualizar a variação da rigidez dos concretos.

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Estudo do carregamento cíclico de baixa frequência à flexão em concretos autoadensáveis
contendo fibras de aço

70 22 0.6 45
Monotônico Tensão Máxima Módulo de Elasticidade
70
Nível 01 20 Deslocamento de Pico 40
60

Módulo de Elasticidade Aparente (GPa)


60
Nível 02 18 0.5
50
Nível 03 35

Deslocamento de Pico (mm)


50 40 16

Carga (kN)

Tensão Máxima (MPa)


30 0.4 30
14
20
40
Carga (kN)

10 12 25
0
0.3
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 10 20
30 Deslocamento (mm)

8
0.2 15
20 6
10
4 0.1
10 5
2
0 0.0 0
0
0 1 2 3 4 5 6

3
o

l0

l0

l0
ic
ón

e
Deslocamento (mm)

ív

ív

ív
ot

N
on
M
(a) C1.1%65. (b) C1.1%65.

70 22 0.6 45
Tensão Máxima Módulo de Elasticidade
70
20 Deslocamento de Pico
60 40

Módulo de Elasticidade Aparente (GPa)


60

18 0.5
50
35

Deslocamento de Pico (mm)


50 40 16
Carga (kN)

Tensão Máxima (MPa)


30 0.4 30
14
20
40
Carga (kN)

10 12 25
0.3
0
10 20
30 0.0 0.1 0.2
Deslocamento (mm)
0.3 0.4 0.5

8
0.2 15
20 6
10
Monotônico 4 0.1
10 Nível 01
2 5
Nível 02
Nível 03 0 0.0 0
0
0 1 2 3 4 5 6 1

3
o

l0

l0

l0
ic
ón

e
Deslocamento (mm)
ív

ív

ív
ot

N
on
M

(a) C1.1,25%65. (b) C1.1,25%65.

70 22 0.6 45
70 Tensão Máxima Deslocamento de Pico
20 Módulo de Elasticidade
60
60
40

Módulo de Elasticidade Aparente (GPa)


50
18 0.5
40 35
Carga (kN)

Deslocamento de Pico (mm)


50 30 16
Tensão Máxima (MPa)

20 0.4 30
14
10

40
Carga (kN)

0 12 25
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5
Deslocamento (mm) 0.3
10 20
30
8
0.2 15
20 6
Monotônico 10
Nível 01 4 0.1
10 Nível 02 5
2
Nível 03
0 0.0 0
0
0 1 2 3 4 5 6
1

3
o

l0

l0

l0
ic
ón

e
ív

ív

ív

Deslocamento (mm)
ot

N
on
M

(a) C1.1,5%65. (b) C1.1,5%65.


Figura 5. (a) Curvas carga x deslocamento dos ensaios estáticos de flexão em amostras submetidas a
ensaios cíclicos; (b) Comparação dos valores médios dos ensaios de flexão monotônico e após as amostras
submetidas a ensaios de cíclicos.

A Tabela 5 apresenta os resultados (média e CV) de resistência à flexão (u), módulo de elasticidade
aparente (E) e deslocamento de pico (u) obtidos dos ensaios de flexão residual estática referente aos
concretos estudados. Na mesma tabela, os resultados de ensaios monotônicos de flexão (corpos-de-
prova íntegros) também são apresentados. A Figura 5(b) compara graficamente os resultados que
constam na Tabela 5.

436
Marangon e Toledo Filho

Tabela 5. Resultados (média e CV) dos ensaios de flexão residual, e dos ensaios monotônicos de flexão,
para os concretos estudados.
C1.1%65
Ensaios
u (MPa) CV (%) E (GPa) CV (%) u (mm) CV %
Monotônico 13,60 8,68 38,76 6,73 0,340 6,12
Nível 01 14,12 5,47 18,56 24,10 0,276 15,35
Nível 02 13,75 13,60 16,64 20,83 0,282 17,23
Nível 03 14,47 4,51 19,78 23,79 0,314 13,06
C1.1,25%65
Monotônico 16,21 9,35 40,00 10,62 0,450 9,04
Nível 01 14,94 7,46 14,50 19,60 0,362 21,16
Nível 02 15,89 12,45 16,94 7,95 0,405 25,30
Nível 03 16,92 4,68 15,32 19,32 0,453 22,14
C1.1,5%65
Monotônico 19,22 7,28 36,20 2,82 0,550 2,02
Nível 02 17,50 16,43 18,53 6,40 0,374 24,78
Nível 03 18,03 17,69 14,87 3,50 0,428 17,76
Nível 04 18,61 6,19 13,65 1,54 0,437 18,71

Levando em consideração os coeficientes de variação obtidos, a Tabela 5 e a Figura 5 fazem concluir


que os corpos-de-prova do concreto C1.1%65 que já haviam sido submetidos a ensaios cíclicos de
flexão, para os três níveis de carregamento, mostraram-se tão resistentes à flexão do que os corpos-de-
prova íntegros (ou seja, que não haviam passado por testes e nenhuma espécie) do mesmo concreto.
No entanto, os ensaios cíclicos fizeram com que o módulo de elasticidade do concreto se reduzisse em
cerca de 50 %. Não houve diferenças relevantes entre os resultados de deslocamento de pico. Também
é possível observar que os corpos-de-prova do concreto C1.1%65 submetidos anteriormente a ensaios
cíclicos de flexão obtiveram tenacidade similar àquela dos corpos-de-prova íntegros do mesmo
concreto.

Os resultados dos ensaios residuais da mistura C1.1,25%65, em termos de resistência à flexão, são
semelhantes aos obtidos nos ensaios monotônicos (corpos-de-prova íntegros). Grandes reduções de
módulo de elasticidade (em torno de 60 %) foram notadas, dos corpos-de-prova que já haviam passado
por ensaios cíclicos, em relação àqueles que não o haviam. Todos os valores de deslocamento de pico
são semelhantes. Os coeficientes de variação dos resultados de módulo de elasticidade e de
deslocamento foram mais elevados do que os de resistência à flexão monotônico. Além disso, os
corpos-de-prova do concreto C1.1,25%65 que haviam sido submetidos a ensaios cíclicos de flexão
mostraram-se tão tenazes quanto os íntegros.

Não houve variações relevantes dos resultados referentes a mistura C1.1,5%65 de resistência e de
tenacidade à flexão (Tabela 5 e Figura 5) provenientes dos ensaios residuais, com relação àqueles
obtidos nos ensaios monotônicos (corpos-de-prova íntegros). Os corpos-de-prova que já haviam
passado por ensaios cíclicos obtiveram valores de módulo de elasticidade entre 49 % e 62 % inferiores
aos apresentados pelos corpos-de-prova íntegros do concreto C1.1,5%65. Os resultados residuais de
deslocamento de pico indicam redução, em relação aos das amostras íntegras. Alguns coeficientes de
variação exibidos na Tabela 5 excederam 15 %.

CONCLUSÕES

Quanto ao comportamento à flexão dos concretos, observou-se que a adição de fibra não influenciou
de maneira significativa a carga de primeira fissura, determinada predominantemente pela matriz de
concreto. No entanto, a adição de fibra de aço aumentou significativamente a resistência à flexão dos
concretos. Os aumentos em resistência à flexão com a inclusão de fibras variaram de 48% a 110%,
sendo que a resistência à flexão mais alta foi a do concreto C1.1,5%65: 19,22 MPa. O modo de fratura

437
Estudo do carregamento cíclico de baixa frequência à flexão em concretos autoadensáveis
contendo fibras de aço

à flexão dos corpos-de-prova dos concretos fibrosos ocorreu com predominância de uma única fissura
central, cujo aumento de abertura foi contido pelas fibras que a “costuravam”.

Nos ensaios coclicos, cada fissura, como esperado, sofreu ligeiro aumento em sua abertura, conforme
os ciclos se sucediam. Porém, não se nota tendência de modificação nas dimensões da fissura,
conforme o nível de carga aplicada era aumentado.

A principal conclusão a que se chega em relação aos ensaios cíclicos de flexão é que, quando os
corpos-de-prova são ensaiados monotonicamente à flexão, após terem sido previamente submetidos a
quatro ciclos de carga/descarga de flexão, eles, mesmo fissurados, apresentam resistência à flexão
semelhante à dos concretos íntegros. Entretanto, a fissuração leva-os a apresentar módulo de
elasticidade substancialmente menor (reduções de 50 % a 60 %). Além disso, foi possível observar que
não houve variação significativa da tenacidade à flexão após os concretos terem sido previamente
submetidos a ciclos de carga/descarga, comparados com os concretos ensaiados monotonicamente.

REFERÊNCIAS

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reinforced Concrete. Cement and Concrete Composites. v. 20, p. 353-363.
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Cement and Concrete Research. v. 37, p. 264-269.
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Cement Composites. Materials Science and Enginneering. v. 527, p. 5507-5513.
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Flexure. Cement and Concrete Composites. v. 25, p. 779-786.
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Delft University of Technology, Netherlands, 220 p.
[8] Lee, M. K., Barr, B. I. G. (2004) An Overview of the Fatigue Behaviour of Plain and Fibre
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[9] Bentur, A.; Mindess, S. (2007) Fiber Reinforced Cementitious Composites. London and New
York: Taylor & Francis, 601 p.
[10] Sedran, T.; DE Larrard, F. (2000). BétonlabPro2, Logiciel de formulation dês béton, version 2.0
exécutable sous Windows, logiciel et notice, Presses de l´École Nationale dês Ponts et Chaussées.
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prova Prismáticos.
[12] IMAGEJ 1,42q. Image Processing and analysis in Java.

438
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

Ensaio à rotura de protótipo de edifício em lajes de betão auto-


compactável reforçado com fibras

Joaquim Barros1 Hamidreza


Salehian2

Miguel Pires3 Delfina Gonçalves4

RESUMO

O presente artigo descreve a investigação experimental realizada para avaliar as potencialidades da


utilização de betão auto-compactável reforçado com fibras de aço (BACRFA) na construção de lajes
fungiformes de edifícios de habitação e comércio, onde as fibras são o único reforço aplicado nas
lajes. Para tal foi construído um protótipo deste tipo de edifícios, à escala 1:4, e ensaiado para
condições de carga que permitissem avaliar o seu comportamento em serviço e em rotura. Estes
ensaios foram complementados por um extenso programa experimental de caracterização do
comportamento mecânico do BACRFA. Os ensaios de fluência no protótipo demonstraram a não
ocorrência de fendas, bem como uma deformação dentro dos limites aceitáveis para este tipo de
construção até uma sobrecarga de aproximadamente 40 kN/m2. No ensaio à rotura, o protótipo
desenvolveu elevada capacidade de carga e rotura dúctil por flexão com formação de padrão difuso de
fendas. Os resultados obtidos evidenciaram que o BACRFA desenvolvido demonstra potencial para
ser utilizado no tipo de aplicação em causa com benefícios técnico e económicos.

Palavras-chave: BACRFA, lajes fungiformes sem armadura convencional, FEM.

1. INTRODUÇÃO

Os contínuos melhoramentos que têm ocorrido na tecnologia do betão reforçado com fibras de aço
(BRFA), e o melhor conhecimento na caracterização do comportamento mecânico deste compósito,
têm contribuído para alargar o número de aplicações onde o seu uso conduz a vantagens técnicas e
económicas. Quando se utiliza uma percentagem relativamente elevada de fibras (1 a 1.5% em
volume) de esbelteza superior a 65 e recorrendo a matriz de elevada rigidez e compacidade, mas que
favoreça o modo de rotura por deslizamento das fibras, é possível alcançar resistência à tração por
flexão, após fissuração da matriz, muito superior à resistência de fendilhação da matriz. As vantagens
deste comportamento têm sido recentemente exploradas para aplicações estruturais de elevado grau de
hiperstaticidade, como são os casos das lajes apoiadas em estacas ou pilares [1], designadas por lajes
elevadas em BRFA, e que aqui se abreviará por LE-BRFA. Este tipo de lajes incluem uma armadura
convencional constituída por varões dispostos nas duas direções dos alinhamentos formados pelos
pilares, na face inferior da laje, e que tem por objetivo evitar a ocorrência de um colapso progressivo
[2]. A relação tensão de tração versus abertura de fissura  t  w é a mais apropriada para simular o

1
ISISE, Universidade do Minho, Departamento de Engenharia Civil, Guimarães, Portugal. barros@civil.uminho.pt
2
ISISE, Universidade do Minho, Departamento de Engenharia Civil, Guimarães, Portugal. h.r.salehian@gmail.com
3
CASAIS – Engenharia e Construção S.A. – Mire de Tibães, Braga, Portugal. miguel.pires@casais.pt
4
CiviTest, Vila Nova de Famalicão, Portugal. delfinagoncalves@civitest.com

439
Ensaio à rotura de protótipo de edifício em lajes de betão auto-compactável reforçado com fibras

comportamento pós-fissuração de BFRs com amolecimento em tração. Este tipo de BRF, que apesar
de desenvolverem comportamento de amolecimento em tração, apresentam acentuado comportamento
de endurecimento em flexão, é o utilizado em LE-BRFA [3]. A relação  t  w do BRFA é geralmente
determinada por ensaios de tração direta, ou indiretamente a partir dos resultados de ensaios de flexão
sob três pontos de carga obtidos com provetes entalhados de BRFA e executando análise inversa com
base na relação força-flecha ou força-abertura de fissura na boca do entalhe [4]. Contudo, a resposta
pós-fissuração do BRFA é bastante dependente da distribuição e orientação das fibras que atravessam
as fendas [5], as quais são por sua vez influenciadas pela forma e geometria do elemento, processo de
betonagem e propriedades reológicas deste compósito [6]. Para além disto, a natureza do processo de
fendilhação em lajes é diferente do ocorrido nos ensaios de tração direta e de flexão executados em
pequenos provetes prismáticos, dado que a distribuição e orientação das fibras nestes podem não ser
representativos do que ocorre numa laje de BRFA. Por outro lado, dado que as fibras de aço têm uma
massa específica muito superior à dos restantes constituintes do betão, existe a tendência para um
aumento da percentagem de fibras da face superior para a face inferior da laje, principalmente quando
o BRFA é aplicado sob vibração [7]. Na tentativa de diminuir este efeito, bem como o período de
tempo para o processo constitutivo de LE-BRFA, no protótipo construído e ensaiado no presente
trabalho foi utilizado betão auto-compactável reforçado com fibras de aço (BACRFA). Para avaliar a
potencial deste tipo de betões em LE-BACRFA, um protótipo à escala ¼ de edifício de habitação foi
construído e ensaiado. Os ensaios experimentais são descritos, e os resultados obtidos são
apresentados e analisados.

2. PROGRAMA EXPERIMENTAL

2.1 Geometria e processo construtivo do protótipo

O protótipo construído nas instalações da empresa CASAIS, em Tibães, Braga, encontra-se


representado na Figura 1, sendo composto por uma laje de BACRFA apoiada em solo e por uma LE-
BACRFA apoiada em pilares, tendo ambas as lajes dimensões em planta de 37002100 mm sem
qualquer armadura convencional. A LE-BACRFA tem espessura de 75 mm, formada por seis painéis
contínuos de 12001000 mm em planta. Esta laje suporta-se em 12 pilares de BACRFA de secção
quadrada de 100 mm de lado e de 1000 mm de altura, espaçados de 1200 mm e 1000 mm na direção x
e y, respetivamente. Cada pilar dispõe de um varão de aço nervurado de 6 mm de diâmetro em cada
um dos seus cantos, com recobrimento de 10 mm, o qual foi assegurado por aplicação de duas cintas
metálicas em varão nervurado de 6 mm de diâmetro, localizadas nas extremidades de cada pilar. A
geometria da laje de BACRFA apoiada em solo foi otimizada por meio de análise não linear material
de forma a ser evitada a ocorrência prematura de macro-fendas nas vizinhanças dos pilares. Em
consequência, esta laje é formada por uma grelha de 100 mm de espessura com desenvolvimento ao
longo dos alinhamentos dos pilares, por uma zona de transição linear de espessura da laje dos 100 mm
para os 30 mm, numa largura de 200 mm, e por painéis internos de 30 mm de espessura.

Figura 1. Geometria do protótipo e designação dos painéis da LE-BACRFA (dimensões em mm).

440
Barros, Salehian, Pires e Gonçalves

2.2 Composição e propriedades reológicas do BACRFA

O método adotado neste trabalho para preparação do BACRFA encontra-se descrito em [8], e a
composição é a indicada no Quadro 1. Foi utilizado cimento tipo I 42.5R da Secil (C), cinzas volantes
(CV) da central do Pego, filer calcário (FC) da Omya Comital, superplastificante (SP) SikaViscocrete
3005 da Sika, areia fina e grossa de rio (AFR, AGR) de máxima dimensão de 0.6 e 4.8 mm,
respetivamente, agregados graníticos (AG) e fibras de aço de extremidades dobradas de 35 mm de
comprimento  l f  e 0.5 mm de diâmetro  d f  , que segundo o fabricante apresenta resistência à tração
de 1300 MPa. Dos ensaios de abaixamento e da caixa L executados segundo as recomendações da
EFNARC [7] obteve-se um valor médio de 740 mm de diâmetro de espalhamento e 0.8 de coeficiente
de passagem ( H 2 / H1 ), respetivamente. Para construir o protótipo foi necessário executar 3
amassaduras de igual composição, tendo-se para cada amassadura recolhido 3 cilindros de 150 mm de
diâmetro e 300 mm de altura, e duas vigas de 600×150×150 mm3 para avaliar o comportamento em
compressão e flexão, respetivamente, do BACRFA desenvolvido.

Quadro 1. Composição do BACRFA (kg/m3)

C Água SP FC CV AFR AGR AG Fibras


408 150 6.26 395 73 263 658 446 90

2.3 Comportamento em compressão do BACRFA

Da execução dos ensaios de compressão com os provetes cilíndricos segundo as recomendações do


EN 206-1 [9] obteve-se um valor médio de resistência à compressão  f cm  de 63.63 MPa aos 28 dias.
Aplicando as recomendações do Model Code (MC-2010) [9] obteve-se para módulo de elasticidade
 Ec  e de resistência à tração  f ctm  o valor médio de 39.84 GPa e 4.23 MPa, respetivamente.

2.4 Caracterização do comportamento pós-fendilhação do BACRFA

2.4.1 Segundo as recomendações do MC-2010


O comportamento pós-fendilhação do BACRFA foi caracterizado executando seis ensaios sob três
pontos de carga com provetes entalhados de BACRFA de acordo com as recomendações do MC-2010
[7], Figura 2. Devido à relativa elevada percentagem de fibras de aço aplicada no BACRFA
V f  1.1% , e na tentativa de evitar a ocorrência de fendas fora do plano do entalhe, este foi
executado com 60 mm de profundidade. A envolvente dos resultados força versus abertura na boca do
entalhe (na nomenclatura inglesa designa-se por CMOD-crack mouth opening displacement),
 F  CMOD  encontra-se representada na Figura 3.
30

25
Força, F [kN]

20

15

10

5
Envelope
Envolvente

0
0 1 2 3 4
CMOD [mm]

Figura 2. Configuração do ensaio de flexão com Figura 3. Resultados obtidos nos ensaios de flexão com
provete entalhado de BACRFA (dimensões em provetes entalhados de BACRFA.
mm).

441
Ensaio à rotura de protótipo de edifício em lajes de betão auto-compactável reforçado com fibras

Da curva média F-CMOD determinam-se os valores médios de resistência residual à tração em flexão
( f Ri , m ), correspondentes a CMODi  0.5, 1.5, 2.5 e 3.5 mm, através da aplicação da seguinte equação:
3Fi , m l
f Ri , m  (1)
2bhsp2

em que Fi , m é o valor médio da força correspondente a CMODi , l =500 mm é o vão do provete,


b=150 mm e hsp =90 mm são, respetivamente, a largura e a altura não entalhada da secção do provete.
No Quadro 2 são apresentados os valores de f Rim , bem como os correspondentes valores
característicos ( f Ri , k ) determinados por aplicação da seguinte equação [10]:
f Ri , k  f Ri ,m  k sd (2)

em que k é um parâmetro adimensional considerado igual a 2.18 para 6 provetes, e sd é o


correspondente desvio padrão, também indicado no Quadro 2. Dado a relativa elevada dispersão de
resultados obtidos, os valores característicos são consideravelmente inferiores aos correspondentes
valores médios. Para projeto e controlo de qualidade de BACRFA proposto para aplicações estruturais
é recomendada a execução de pelo menos 9 ensaios para uma dada composição [11].

Quadro 2. Resistências residuais de tração em flexão do BACRFA aplicado no protótipo.

CMODi Fim f Ri , m f Ri , k sd
[mm] [kN] [MPa] [MPa] [MPa]
0.5 19.50 11.94 7.17 2.19
1.5 16.78 10.28 4.00 2.88
2.5 11.80 7.23 0.65 3.02
3.5 8.93 5.47 0.33 2.36

Na Figura 4 encontra-se esquematizado o procedimento de determinação da lei constitutiva de tração


segundo as recomendações do MC-2010 [9]. Neste diagrama f Fts , k e f Ftu , k são determinados por
intermédio das seguintes equações:
f Fts, k  0.45 f R1, k (3)

wmax
f Ftu , k  f Fts , k  ( f Fts , k  0.5 f R3, k  0.2 f R1, k )  0 (4)
CMOD3

em que wmax =2.5 mm é considerada a máxima abertura de fissura em projeto de estruturas. No


diagrama da Figura 4,  cr   fct , k / Ec  é a extensão correspondente à fendilhação da matriz f , e
ct , k

ws e wu são a abertura de fenda correspondente a f Fts , k e f Ftu , k , respectivamente:


ws  CMOD1 (5)

wu  min  0.02 lcs , 2.5mm  (6)

em que lcs é o comprimento característico estrutural (em mm), que para o presente caso pode ser
considerado igual à espessura da LE-BACRFA (=75mm), tal como recomendado pelo MC-2010 para
BRF sem armadura convencional [9]. Adotando este procedimento para o BACRFA desenvolvido e
considerando os resultados indicados na Quadro 2, foram obtidos os diagramas representados na
Figura 5.

442
Barros, Salehian, Pires e Gonçalves

Tensão de Tração, σt [MPa]


3

0
0,00 0,04 0,08 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0
Extensão, εt [‰] Abertura de fenda, w [mm]

Figura 4. Comportamento em tração de BRF Figura 5. Comportamento em tração do BACRFA segundo o


segundo o MC-2010 [7]. MC-2010 [7].

2.4.2 Ensaios de tração direta


Das partes externas à zona de dano das vigas entalhadas de BACRFA ensaiadas à flexão (Figura 6a), 4
provetes de 250×150×75 mm3 foram extraídos, por viga, para serem ensaiados a tração direta (ETD)
segundo a configuração de ensaio representada na Figura 6b. O procedimento de extração adotado
assegurou que os provetes ETD não ficassem afetados por nenhum tipo de dano ocorrido durante os
ensaios dos seus correspondentes “provete mãe”. Para promover a localização e propagação de fenda a
meia altura do provete ETD, entalhes de 5 mm de largura e 25 mm de profundidade foram executados
nas duas faces opostas de menor largura, resultando uma área não entalhada nessa superfície de
100×75 mm2 (Figura 6a), considerada a superfície de fratura para efeitos de determinação da tensão de
tração aplicada ao provete.

a) b)
Figura 6. Ensaios de tração direta (ETD); a) procedimento de extração dos provetes e suas dimensões;
b) configuração do ensaio e sistema de monitorização (dimensões em mm).

Os provetes ETD foram colados diretamente nos pratos do equipamento de ensaio utilizando um
dispositivo projetado para esse efeito e recorrendo a resina epóxi de elevada resistência. Estes ensaios
foram executados numa máquina de fadiga servo-controlada de 1000 kN de capacidade máxima de
carga, equipada para este programa experimental com uma célula de carga de 50 kN. Foram
executados 10 ensaios em controlo de deslocamento à velocidade de 5 μm/s utilizando para tal o sinal
médio registado nos transdutores de deslocamento (LVDT) de 30 mm de campo de leitura, colocados
nas esquinas do provete (Figura 6b). A tensão de tração foi obtida dividindo a força aplicada pela área
de fratura (100×75 mm2). A envolvente e a curva média da relação tensão de tração versus abertura de
fissura (média dos valores lidos nos 4 LVDTs),  t  w , obtida nestes ensaios, encontram-se
representadas na Figura 7a. Esta curva média foi aproximada pelo diagrama quadrilinear representado
na figura 7b, ambos com a mesma energia de fratura (área sob a curva  t  w ).

443
Ensaio à rotura de protótipo de edifício em lajes de betão auto-compactável reforçado com fibras

a) b)
Figura 7. Relação tensão vs abertura de fissura nos ETD; a) curva média e envolvente; b) diagrama quadrilinear
equivalente com igual energia de fractura.

2.4.3 Análise inversa


A terceira metodologia para determinação da relação  t  w do BACRFA baseia-se na análise inversa
(AI). A AI consiste na avaliação dos pares de valores  t  wi que definem o diagrama  t  w ,
minimizando o desvio entre a curva numérica e experimental força-flecha  F    correspondente aos
ensaios de flexão sob três pontos de carga com vigas entalhadas de BACRFA descritos na secção
2.4.1. Este desvio é calculado por meio do erro definido pela equação:
err  AFexp  AFnum
 AFexp (7)

em que AFexp e AFnum


 são as áreas sob as curvas F   obtidas experimental e numericamente,
respetivamente, até uma certa flecha  . A análise numérica foi efetuada com o programa de cálculo
automático baseado no método dos elementos finitos (FEM), FEMIX V4.0 [12]. A viga foi simulada
com a malha de elementos finitos representada na Figura 8, composta por elementos de estado plano
de tensão de 8 nós, com integração de Gauss-Legendre de 2×2 pontos de integração (PI), enquanto o
processo de abertura de fissura na secção entalhada foi simulado recorrendo a elementos finitos de interface de 6
nós com integração Gauss-Lobatto com 1×3 PI. Em [13] encontra-se a descrição detalhada da AI.

Figura 8. Malha de elementos finitos, carregamento e condições de apoio do provete adotados na análise inversa
(dimensões em mm).

A AI foi executada utilizando a curva média força-flecha obtida nos 6 provetes ensaiados (três séries de dois
provetes) e descritos na secção 2.4.1. Esta curva foi obtida assumindo uma distribuição t-student:
Fm  Fm, s  t10 sd / n (8)

em que Fm, s é a força média registada no programa experimental para uma dada flecha, sd é o desvio padrão, e
t10 é a distribuição de “student”, igual a 1.48 para 6 provetes  n  6  e 80% de nível de confiança. Na
Figura 9a a relação força-flecha obtida por AI é comparada com a experimental, enquanto o diagrama  t  w em
resultado da AI encontra-se representado na Figura 9b.

444
Barros, Salehian, Pires e Gonçalves

a) b)
Figura 9. a) Comparação entre a curva média experimental força-flecha e a obtida numericamente por AI, b)
Diagram tensão de tração vs abertura de fissura obtida por AI.

2.4.4 Comparação dos diagramas  t  w obtidos pelas três metodologias


Na Figura 10 encontram-se comparados os diagramas  t  w obtidos segundo as metodologias
descritas nas secções 2.4.1 a 2.4.3, de onde se pode concluir que as três abordagens conduzem a
diagramas distintos, apesar de haver um formato similar nas metodologias MC-2010 e AI, formado
por um primeiro ramo de queda abrupta de tensão de tração, seguido de um ramo correspondente a um
comportamento de pseudo-endurecimento até uma abertura de fissura da ordem dos 0.5 mm, ao que se
segue um ramo de amolecimento que para aquelas metodologias termina para uma abertura máxima de
fissura de 1.5 e 2.2 mm. Tal como se previa, os ETD conduziram a um diagrama com menor
resistência de tração e menor energia de fratura, mas com maior abertura última de fissura.

Figura 10. Diagrama  t  w obtido segundo as recomendações do MC-2010, por análise inversa (AI), e ensaios
de tração direta (ETD).

2.5 Ensaios com o protótipo

2.5.1 Ensaios de fluência


No protótipo descrito na secção 2.1 foi executado um programa experimental realizado em duas fases.
Na primeira fase, utilizando paletes de 1.0×1.2 m2 carregadas com 21 sacos de cimento,
correspondente a 6 kN/m2, foram aplicados distintos níveis de carga uniformemente distribuída nos
painéis 1 e 3 (Figura 1) para avaliar a evolução da flecha destes até ao nível de carga correspondente
ao surgimento de uma fissura de abertura máxima de 0.3 mm, pois é reconhecido que para este nível
de abertura de fissura a corrosão das fibras é insignificante [14]), Figura 11a. Na Figura 11b
representa-se a resposta típica força-flecha instantânea obtida no centro destes painéis para um
carregamento de 36 kN/m2, onde se constata uma aumento praticamente linear com o aumento de
carga. Após aplicação deste nível de carga, este foi mantido até se registar a estabilização da flecha, a
qual ocorreu ao final de aproximadamente 500 h. Na Figura 11c representa-se a evolução da flecha
neste painéis sob este nível de carga, não tendo sido visível qualquer sinal de fenda na LE-BACRFA.
Este procedimento foi repetido para um carregamento de 39 kN/m2 no painel 1 e, apesar de se tratar de
um nível de carga superior a 6 vezes a sobrecarga considerada no dimensionamento de elementos
estruturais de um estádio, continuou a não ser visível a ocorrência de qualquer fenda.

445
Ensaio à rotura de protótipo de edifício em lajes de betão auto-compactável reforçado com fibras

b)

a) c)
Figura 11. Ensaio de fluência: a) Materialização de carga uniformemente distribuída nos painéis de ensaio, b)
Relação força vs flecha no centro dos painéis até carga de 36 kN/m2; c) Evolução da flecha a meio vão dos
painéis carregados para carga de 36 kN/m2.

2.5.2 Ensaio à rotura


Dado não haver condições para aplicar colunas de carga mais elevadas segundo a metodologia
acabada de descrever, procedeu-se à 2ª fase do programa experimental constituído por ensaio à rotura
do painel 2 (Figura 1). Para tal foi montada a estrutura de reação mostrada na Figura 12a constituída
por perfis metálicos, fixa aos pilares do protótipo por intermédio de varões roscados de elevada
resistência e 15 mm de diâmetro, introduzidos e fixos com resina epóxi à cabeça dos pilares adjacentes
ao painel solicitado (Figura 12b). Esta estrutura metálica oferecia reação a um atuador servo-
controlado de 200 kN equipado com célula de carga da mesma capacidade, que por sua vez aplicava
carga no centro do painel 2 por intermédio de um perfil de aço e chapa de aço de 200×200 mm2 e 40
mm de espessura, Figura 12b. Para evitar rotura prematura na ligação dos varões à cabeça dos pilares
para fixação da estrutura de reação, na cabeça de cada pilar foi aplicado o sistema de confinamento
constituído por perfis metálicos. O sistema de monitorização para medir a deformada do painel
carregado foi constituído por 7 LVDTs suportados numa estrutura metálica para que os deslocamentos
lidos fossem apenas os relativos à deformada da laje.

a) b) c)
Figura 12. Ensaio sob carga quase pontual no centro do painel 2: a) configuração de ensaio; b) representação
esquemáica do sistema de carregamento e de reação; c) sistema de monitorização.

446
Barros, Salehian, Pires e Gonçalves

O carregamento “quase-pontual” aplicado no centro do painel 2 foi executado sob controlo de


deslocamento utilizando o LVDT interno do atuador, e impondo uma velocidade de 10 μm/s. O
sistema de carregamento foi composto por quatro passos, os 3 primeiros foram constituídos por ciclo
de carga-descarga com amplitude de 10, 40 e 70 kN, respetivamente. No último passo a carga evoluiu
sob controlo de deslocamento até que a resposta força-flecha entrasse numa fase acentuada de
amolecimento estrutural, isto é, em que para aumento de flecha a carga diminuisse. A resposta força-
flecha obtida no ensaio encontra-se representada na Figura 13. A carga máxima suportada no final de
cada carregamento ( Fmax, i ), bem como a sua correspondente flecha ( δcpF ), encontram-se indicados no max,i

Quadro 3, onde se constata que a máxima carga suportada pelo painel foi de 79.92 kN para uma flecha
de 7.40 mm. Neste quadro também se indica a flecha na descarga de cada um dos três carregamentos
( δcpF  0 ), bem como a relação entre a rigidez secante do carregamento i ( ksec, i ) e a rigidez secante inicial
i

( k sec,1 ) obtida por intermédio da seguinte equação:



ksec, i k sec,1  Fmax, i /  cpmax, i
F
 F max,1 /  cpmax,1
F
 (9)

A formação de fendas foi apenas visível no 3º carregamento, na face inferior da laje na zona sob o
carregamento, e na face superior no contorno do painel, para uma carga de 43 kN e 64 kN,
respetivamente. Tal como era expectável, até à máxima carga uma banda de fendas com formato
aproximadamente circular, de raio com dimensão próxima do centro do painel aos pilares adjacentes,
foi-se formando na superfície superior do painel carregado, enquanto na face inferior fendas radiais
irradiaram da zona carregada em direção ao perímetro do painel. O padrão de fendilhação para a flecha
última está ilustrado na Figura 14. Na face inferior formaram-se 4 macro-fendas de flexão parecendo
ter atravessado a espessura da laje, e a abertura destas fendas foi acompanhada pelo fecho das restantes
fendas. O relativo elevado número de fendas que se formou durante o carregamento justifica a resposta
dúctil do protótipo, onde após a carga máxima ocorreu uma fase de amolecimento estrutural com um
suave decréscimo da capacidade de carga com o aumento da flecha. No final do ensaio, quando flecha
(cerca de 27 mm, que corresponde a 3.6 vezes a flecha para a carga máxima) era de L/45, em que L é o
máximo vão do painel (=1200mm), a capacidade de carga do painel era aproximadamente 60% da
carga máxima.

Figura 13. Relação força-flecha a meio vão do painel.

Quadro 3: Resultados relevantes nos ciclos de carga.

Fi  0
Ciclo de carga  cp  cp
Fmax,i
Fmax, i ksec, i k sec,1

i  [kN] [mm] [mm] [%]


1 10.58 0.16 0.00 100
2 41.48 0.87 0.08 73.2
3 70.52 4.07 0.91 27.5
4 79.92 7.40 26.63* 16.6
* Flecha última

447
Ensaio à rotura de protótipo de edifício em lajes de betão auto-compactável reforçado com fibras

Figura 14. Padrão de fendilhação no painel carregado no final do ensaio ( δ pu =26.63 mm)

CONCLUSÕES

Para avaliar as potencialidades do BACRFA como material base de lajes apoiadas em pilares, foi
construído e ensaiado um protótipo à escala ¼ de um edifício residencial. Nos ensaios de fluência o
protótipo foi sumetido a uma carga distribuída máxima de aproximadamente 39 kN/m2 sem ter sido
visível a ocorrência de qualquer fissura. Sob carregamento quase-pontual aplicado no centro de um
dos painéis, o protótipo desenvolveu comportamento dúctil com formação de padrão de fendas difuso,
e para uma flecha de aproximadamente 3.6 vezes a flecha sob carga máxima, a capacidade de carga
residual foi 60% da máxima carga. Estes ensaios foram complementados com um programa
experimental para determinação da relação tensão-abertura de fissura (  t  w ) do BACRFA segundo
três metodologias mais correntes: aplicação das recomendações do MC-2010; análise inversa com
base nos resultados dos ensaios de flexão em provetes entalhados de BACRFA; ensaios de tração
direta.Verificou-se que as três metodologias conduziram a diferentes diagramas, o que exige
investigação suplementar, dado que a relação  t  w serve de base ao dimensionamento deste tipo de
estruturas por recurso a programas de cálculo baseados no método dos elementos finitos ou por
aplicação da teoria das linhas de rotura.

AGRADECIMENTOS

Este trabalho foi desenvolvido no âmbito do projeto de investigação PTDC/ECM/120394/2010,


denominado SlabSys-HFRC financiado pela FCT, tendo as empresas CiviTest e CASAIS colaborado
no fabrico do BACRFA e na construção do protótipo. O segundo autor agradece a bolsa de
investigação concedida pelo referido projeto. À Maccaferri e Radmix pelo fornecimento das fibras de
aço, à Sika pelo superplastificante, à Secil pelo cimento, à Central do Pego pelas cinzas volantes, e à
Omya Comital pelo Fíler calcário.

REFERÊNCIAS

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Structural Implications (ConMat'05) and Mindess Symposium. University of British Columbia,
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448
Barros, Salehian, Pires e Gonçalves

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Annex D.3.2 : Statistical evaluation of resistance/materials tests. European standard.
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Stress-crack opening relationship of enhanced performance concrete, 9th Portuguese Conference
on Fracture, ESTSetúbal, Portugal, p. 395-403, 18-20 February,. http://hdl.handle.net/1822/3194
[14] Frazão, C.; Camões, A.; Barros, J.A.O.; Gonçalves, D. (2015). Durability of steel fiber reinforced
self-compacting concrete, Construction and Building Materials, 80, 155-166.
http://dx.doi.org/10.1016/j.conbuildmat.2015.01.061

449
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

Durabilidade do betão auto-compactável


reforçado com fibras de aço

Cristina Frazão1 Aires Camões2

Joaquim Barros3 Delfina Gonçalves4

RESUMO

A durabilidade é um dos aspetos mais importantes que o betão deve garantir, devido à sua fundamental
incidência na vida útil das estruturas. Devido ao número crescente de estruturas degradadas
prematuramente, a durabilidade das estruturas de betão tem sido uma preocupação constante no meio
técnico da construção.
As estruturas de betão reforçado com fibras de aço (BRFA) estão sujeitas à penetração de cloretos e à
ação da carbonatação que causam a corrosão das fibras de aço, o que pode influenciar negativamente o
desempenho estrutural e a durabilidade do betão.
A investigação da durabilidade do betão auto-compactável reforçado com fibras de aço (BACRFA) é
ainda escassa, nomeadamente, os aspetos relacionados com a resistência à corrosão das fibras,
suscitando a dúvida se a corrosão das fibras pode, ou não, provocar o destacamento do betão
envolvente.
Neste contexto, foi realizado um trabalho experimental com provetes de BACRFA e provetes de betão
auto-compactável (BAC) sem fibras com o objetivo de avaliar os efeitos da corrosão das fibras de aço
na durabilidade do BACRFA. Os resultados obtidos para os diferentes betões em estudo são
apresentados e analisados.

Palavras-chave: Durabilidade, BACRFA, corrosão, cloretos e carbonatação.

1. INTRODUÇÃO

O betão auto-compactável reforçado com fibras de aço (BACRFA) combina os benefícios da


trabalhabilidade do betão auto-compactável com o aumento da ductilidade consequente da adição de
fibras de aço a materiais de matriz cimentícia. Esta combinação origina uma melhoria das
características mecânicas do betão, nomeadamente um aumento da resistência residual e uma maior
capacidade de absorção e dissipação de energia, após o início da fendilhação da matriz.

1
ISISE, Universidade do Minho, Departamento de Engenharia Civil, Guimarães, Portugal. frazao_cristina@hotmail.com
2
CTAC, Universidade do Minho, Departamento de Engenharia Civil, Guimarães, Portugal. aires@civil.uminho.pt
3
ISISE, Universidade do Minho, Departamento de Engenharia Civil, Guimarães, Portugal. barros@civil.uminho.pt
4
CiviTest, Vila Nova de Famalicão, Portugal. delfinagoncalves@civitest.com

451
Durabilidade do betão auto-compactável reforçado com fibras de aço

Quando as fibras de aço são adicionadas ao betão, a possibilidade de corrosão das fibras é um
parâmetro de durabilidade que requer especial atenção. A corrosão é uma das manifestações
patológicas que mais degrada as estruturas de betão armado, pelo que, é de todo o interesse analisar os
efeitos deste fenómeno no BACRFA.
Os processos de corrosão das fibras de aço têm sido objeto de estudo nos últimos anos, sendo opinião
geral que a corrosão no betão reforçado com fibras de aço (BRFA) é menos gravosa quando
comparada com a corrosão das armaduras ordinárias do betão armado [1]. Este facto verifica-se dado
que a diminuição do diâmetro das fibras por corrosão não diminui significativamente a capacidade
resistente da interface fibra-matriz, e consequentemente, o comportamento mecânico e a durabilidade
das estruturas de BRFA.
As principais causas da corrosão das fibras de aço no BRFA são a penetração de cloretos e a redução
do pH da matriz cimentícia causada pela carbonatação [2].

A penetração dos cloretos depende da estrutura porosa do betão e de todos os fatores relacionados com
a composição do betão (a razão A/C, tipo e quantidade de adições minerais e de cimento, a cura, etc.) e
com a presença de fissuras [3]. Em função das condições de agressividade ambiental, a penetração de
cloretos pode ocorrer através de diversos mecanismos de transporte, tais como, permeação, absorção
capilar, migração e difusão [4].

A carbonatação depende da permeabilidade do betão e diminui com o tempo de exposição. A


penetração do CO2 inicia-se na superfície do betão, progride, por difusão, enquanto houver CO2
disponível e reage com a cal proveniente da hidratação do cimento, originando a formação de
carbonato de cálcio. Após esta reação, o pH do betão baixa para valores inferiores a 9, destruindo a
camada passivadora das fibras de aço, levando à sua corrosão. Quando as fibras perdem esta camada
de passivação protetora, o processo de corrosão inicia-se, mantendo-se livres de corrosão as fibras
localizadas em maior profundidade. Corinaldesi e Moriconi [5] mediram a profundidade de penetração
do CO2 pelo teste da fenolftaleína [6] em provetes cúbicos de BRFA (100 mm) expostos ao ar à
temperatura de 20ºC, um dia após terem sido desmoldados. Após 6 meses de exposição, a
carbonatação causou corrosão superficial mas não evidenciou indícios de causar destacamento do
betão envolvente [5].
Deste modo, torna-se necessário avaliar as propriedades de transporte de agentes agressivos para o
interior das estruturas de BACRFA, nomeadamente a permeabilidade, que a longo prazo possam,
eventualmente, afetar a sua durabilidade [1, 5, 7, 8, 9].
Os principais fatores que podem diferenciar a permeabilidade do BRFA da do betão convencional são
a presença e a quantidade de fibras. Teoricamente, quanto maior o teor de fibras num BRFA, maior
será a sua porosidade, devido à perturbação que as fibras causam na compactação da mistura,
induzindo um aumento do índice de vazios. Além disso, durante a fase de utilização das estruturas, o
betão encontra-se fendilhado e o início e a propagação da abertura de fissura promove o aumento da
permeabilidade do betão, favorecendo o ingresso de substâncias nocivas (cloretos, CO2, sulfatos, etc.)
que propiciam a ocorrência da corrosão das fibras. No entanto, a fendilhação no BRFA é mais
reduzida porque as fibras restringem a abertura de fissuras e, consequentemente, a durabilidade do
BRFA pode ser beneficiada.

1.1 Corrosão em fase fendilhada


A durabilidade das fibras de aço está condicionada pelo seu confinamento num meio fortemente
alcalino como o do betão (pH superior a 12.5), onde estas permanecem passivadas [10]. No entanto, a
menor abertura de fissura, associada à descontinuidade das fibras, faz com que estas estejam menos
suscetíveis aos agentes corrosivos do que as armaduras convencionais, sendo que a razão A/C é o
principal fator que pode fazer variar a corrosão superficial [1].
A degradação do betão fendilhado devido à corrosão das fibras, depende de vários parâmetros,
nomeadamente, da abertura de fissura, das condições de exposição ambiental e do tipo de fibras [11].

452
Frazão, Camões, Barros e Gonçalves

No betão fendilhado, a corrosão tende a ocorrer nas fibras de aço que atravessam as fissuras,
provocando a redução da secção das fibras. Esta redução afeta negativamente o comportamento
mecânico do BRFA, podendo conduzir a uma significativa redução da resistência residual em tração e
flexão e da capacidade de absorção de energia. Por outro lado, os produtos da corrosão das fibras
causam um aumento do atrito fibra/matriz, melhorando o comportamento de arrancamento da fibra e,
consequentemente, a resistência à flexão dos elementos de BRFA [8]. Se a abertura de fissura for
muito reduzida (até 0.1 mm), o processo de auto-regeneração (self-healing) recupera a integridade do
BRFA, tendo a corrosão das fibras um efeito desprezável em termos de desempenho estrutural e de
durabilidade [8].

Granju e Balouch [8] investigaram a corrosão do BRFA em amostras de betão fendilhado, com 0.5mm
de abertura de fissura, expostas durante um ano a um ambiente simulado, tipo marinho. As amostras
foram submetidas a ciclos de uma semana de imersão em solução de 3.5% NaCl e uma semana de
secagem. Pelos resultados obtidos verificou-se que a corrosão das fibras não causou o destacamento
(spalling) do betão. Apenas as fibras localizadas nas fissuras, numa distância menor que 3 mm da
superfície, apresentavam intensa corrosão. Nas fibras a maior profundidade apenas uma leve corrosão
foi observada, sem redução da secção da fibra. A corrosão verificada nas fibras concentrou-se no plano
da fissura e ao nível da dobra da fibra (Figura 1).

(a) (b)
Figura 1. (a) - Detalhe da corrosão observada nas fibras na secção da fissura e
(b) - Fotografia da fibra corroída (adaptado de Granju e Balouch [8]).

Yoon [12] realizou um estudo para avaliar o efeito da penetração de cloretos através de fissuração em
provetes de BRFA. Nos provetes, onde a abertura de fissura foi limitada ao máximo de 0.012 mm, não
se verificou penetração de cloretos pela fissuração. O reforço com fibras de aço permite reduzir a
penetração de cloretos através das fissuras, uma vez que as fibras reduzem significativamente o
comprimento destas (Figura 2). Numa determinada fissura, as fibras provocam o aumento do
comprimento crítico da fissura, d2-de, correspondente à abertura de fissura crítica, Wcri de 0.012 mm, e
diminuem o comprimento efetivo da fissura, de (Figura 3).

 Betão convencional
□ Betão de elevado desempenho
Betão de elevado desempenho reforçado com fibras de aço
D
Figura 3. Representação do comprimento efetivo
Figura 2. Profundidade de penetração de cloretos na zona da fissura de acordo com o comprimento crítico
da fissura, dT, em função da abertura de fissura, Wcr [12]. da fissura [12].

453
Durabilidade do betão auto-compactável reforçado com fibras de aço

Solgaard et al. realizaram um programa de investigação através de simulações numéricas e ensaios


experimentais sobre a suscetibilidade de varões de aço à corrosão por cloretos. Com o intuito de
avaliar a influência do reforço com fibras de aço, os varões de aço foram envolvidos, num caso, com
betão simples e noutro caso, com BRFA. Através da medição experimental da resistividade elétrica e
avaliando as propriedades mecânicas do BRFA, Solgaard et al. propuseram um modelo numérico de
simulação da formação e propagação de fissuras no betão, causadas por corrosão de varões de aço
convencionais. O modelo proposto para além de simular a corrosão dos varões de aço, também simula
a corrosão das fibras de aço para uma abertura de fissura máxima de 0.1 mm. Os resultados das
simulações indicaram que as fibras do BRFA limitaram a abertura de fissura, tendo atrasado a
intensidade de corrosão e os consequentes efeitos prejudiciais. Este benefício do reforço com fibras
aumenta com a espessura de recobrimento. Nas Figuras 4 e 5 apresentam-se as relações obtidas de
abertura de fissura em função da espessura dos produtos da corrosão (tcor), ao nível do varão de aço e
ao nível da superfície do betão, quer no betão simples (BS) como no BRFA [13].

Comparando a Figura 4 com a Figura 5, verifica-se que para uma determinada abertura de fissura ao
nível da superfície do betão, uma espessura de recobrimento de 20 mm de BRFA, tem o mesmo efeito
em termos de proteção à corrosão dos varões de aço convencional que uma espessura de recobrimento
de 40 mm de betão simples. Na Figura 5 verifica-se, também, que para uma espessura de recobrimento
de 40 mm, as fibras promovem uma diminuição de 30% da abertura de fissura à superfície do betão,
para uma espessura de produtos de corrosão maior que 0.01 mm [13].

Figura 4. Abertura de fissura vs. espessura dos Figura 5. Abertura de fissura vs. espessura dos
produtos de corrosão (tcor) para uma espessura de produtos de corrosão (tcor) para uma espessura de
recobrimento de 20 mm [13]. recobrimento de 40 mm [13].

1.2 Corrosão superficial

A interação entre a camada superficial do betão com o meio ambiente é essencial para o início de
diversos processos de degradação e, no BRFA, algumas fibras apresentam-se muitas vezes à
superfície, sem camada de recobrimento exterior protetor, podendo sofrer processos de corrosão
(Figura 6).

A corrosão superficial afeta negativamente a aparência das superfícies de betão, com o aparecimento
de manchas de ferrugem, no entanto, não afeta as propriedades mecânicas do betão [14].

Granju e Balouch [8] estudaram a corrosão do BRFA por penetração de cloretos na superfície do
betão. No estudo que realizaram, observaram que, numa matriz cimentícia de elevada porosidade
(razão A/C =0.60), apesar de os cloretos penetrarem alguns milímetros no interior do betão, apenas as
fibras localizadas numa espessura exterior inferior a 1 mm, estavam corroídas. O mesmo estudo
revelou também que, quando a razão A/C é menor ou igual a 0.5, o mínimo recobrimento superficial,
para evitar a corrosão das fibras, é de 0.1 mm [8].

Balouch et al. [1] realizaram duas séries de ensaios para determinar o mínimo recobrimento das fibras
necessário para prevenir a corrosão superficial e relacioná-lo com a razão A/C e a porosidade do betão.

454
Frazão, Camões, Barros e Gonçalves

A primeira série foi realizada com elevada razão A/C (0.78) e dois tipos diferentes de fibras de aço (40
kg/m3), macro-fibras (extremidades dobradas, comprimento = 30 mm, diâmetro = 0.5 mm) e micro-
fibras (lisas, comprimento = =13 mm, diâmetro = 0.17 mm). A segunda série foi realizada com betões
de diferentes razões A/C: 0.78, 0.48 e 0.36. Foram produzidos prismas de BRFA com
100 100  500 mm3, os quais foram submetidos a ciclos de imersão em solução salina (uma semana) e
secagem (uma semana). Após exposição dos prismas às condições de agressividade ambiental,
verificou-se que nos prismas da primeira série, com uma elevada razão A/C, todas as fibras embebidas
menos que 1 mm no betão, apresentavam sinais de intensa corrosão. Na segunda série, verificou-se
que quando a razão A/C foi reduzida para 0.48, o recobrimento mínimo necessário para prevenir a
corrosão superficial diminui para 0.2 mm. No entanto, reduzir a razão A/C abaixo de 0.48, não
produziu nenhum benefício significativo. Os resultados do número de pontos de corrosão, observados
ao longo de 3 meses de exposição das vigas, encontram-se representados na Figura 7 [1].

Deste modo, para prevenir a corrosão superficial do BRFA, o betão deverá possuir, simultaneamente,
uma razão A/C menor ou igual a 0.5 e um recobrimento mínimo das fibras maior que 0.2 mm. Se estas
duas condições não forem cumpridas, o potencial de corrosão das fibras de aço pode ser minimizado,
usando fibras galvanizadas [1].

Figura 6. Corrosão superficial em BRFA [14]. Figura 7. Número de pontos de corrosão vs. período
de exposição para diferentes razões A/C (W/C) [1].

Uma alternativa ao uso de fibras de aço comerciais no BRFA, é a utilização de fibras de aço recicladas
provenientes de pneus usados. A utilização destas fibras poderá ser uma alternativa de reforço bastante
vantajosa, devido ao bom comportamento mecânico, ao seu reduzido custo e aos seus favoráveis
benefícios ambientais. Graeff et al. [14] realizaram um programa experimental com fibras de aço,
comerciais e recicladas, acelerando a corrosão nas fibras através de ciclos de imersão/secagem em
solução salina. Durante a cura das vigas com fibras recicladas verificou-se visualmente que algumas
fibras à superfície, apresentavam sinais de corrosão e à idade dos ensaios (28 dias) possuiam corrosão
superficial mais intensa. Nestas vigas, após a realização dos ensaios de flexão, observou-se na secção
de fratura, que os sinais de corrosão ficaram limitados a uma espessura de recobrimento não superior a
10 mm. No caso de vigas com fibras comerciais, os sinais de corrosão limitaram-se às fibras
localizadas na superfície.

2. PROGRAMA EXPERIMENTAL

Para os betões convencionais, sem adição de fibras de aço, existem indicadores de durabilidade que
são de utilização corrente [7]. No entanto, para betões reforçados com fibras de aço, a bibliografia
ainda é escassa e os assuntos relacionados com a durabilidade, nomeadamente com a resistência à
corrosão das fibras de aço, estão tratados de uma forma ainda incipiente, suscitando a dúvida se a
corrosão das fibras pode, ou não, provocar o destacamento do betão envolvente [7, 13]. Neste
seguimento, desenvolveu-se um trabalho experimental com provetes de BACRFA e provetes de BAC
sem fibras, com o objetivo de avaliar parâmetros indicadores de durabilidade de utilização corrente em
betões convencionais (absorção de água por imersão e por capilaridade, resistividade elétrica, difusão

455
Durabilidade do betão auto-compactável reforçado com fibras de aço

de cloretos por migração em regime não estacionário, resistência à penetração de cloretos por imersão
e resistência à carbonatação).

2.1 Materiais e composições

Os materiais utilizados para o fabrico das composições de BAC e de BACRFA foram o cimento
Portland CEM I 42.5R (C), o Fíler Calcário (FC), três tipos de agregados (areia fina 0.15-1.19 mm
(AF), meia areia 0.30-4.76 mm (MA) e uma brita 5-19 mm (B)), água (A), superplastificante
ViscoCrete 3005 (SP) e fibras de aço com extremidades dobradas, com comprimento (l f) de 35 mm,
diâmetro (df) de 0.50 mm, esbelteza lf/df de 70 e uma resistência à tração de 1300 MPa.

As composições de BAC e de BACRFA adotadas estão apresentadas no Quadro 1, com a dosagem de


cada componente por m3. As composições foram definidas de modo a garantir as características de
auto-compactabilidade requeridas, de acordo com o teor de fibras (Cf) adotado.

Quadro 1. Composições do BAC e do BACRFA (kg/m3)

C (kg) FC (kg) AF (kg) MA (kg) B (kg) A (L) SP (L) Cf (kg) A/C


BAC 413 353 198 722 648 127.8 7.83 0 0.31
BACRFA 413 353 195 713 640 127.8 7.83 60 0.31

2.2 Procedimentos de ensaio

Com o objetivo de caracterizar os betões sob o ponto de vista da durabilidade, foram avaliados alguns
parâmetros indicadores de durabilidade de utilização corrente em betões convencionais, em provetes
de BAC e BACRFA aos 28 dias de idade, nomeadamente, a absorção de água por imersão - 3 provetes
cúbicos de 100 mm (LNEC E394 [15]) e por capilaridade - 3 provetes cúbicos de 100 mm (LNEC
E393 [16]), a resistividade elétrica - 4 provetes cilíndricos de 150 mm de diâmetro e 300 mm de altura
(RILEM TC 154-EMC [17]), a difusão de cloretos por migração em regime não estacionário - 3
provetes cilíndricos de 100 mm de diâmetro e 50 mm de altura (LNEC E463 [18]), a resistência à
penetração de cloretos por imersão - 2 provetes cilíndricos de 100 mm de diâmetro e 100 mm de altura
(LNEC E390 [19])e a carbonatação (FprCEN/TS 12390-12 [20]).

3. DISCUSSÃO DE RESULTADOS

3.1 Absorção de água por imersão

A Figura 8 apresenta os resultados obtidos nos ensaios de absorção de água por imersão, que indicam
que a porosidade aberta do BACRFA (10.7%) foi 5.6% superior à do BAC (11.3%).

13,0
BAC
12,5
BACRFA
12,0

11,5
Absorção de água (%)

11,0

10,5

10,0

9,5

9,0

8,5

8,0
1 2 3 Aim
Provetes

Figura 8. Valores médios da absorção de água por imersão

456
Frazão, Camões, Barros e Gonçalves

3.2 Absorção de água por capilaridade

Relativamente à absorção de água por capilaridade, os resultados obtidos e apresentados na Figura 9


demonstram que a quantidade total de água absorvida é maior no BAC, mas o coeficiente de absorção
de água por ação da capilaridade do BAC é semelhante ao do BACRFA (0.1272 mg/mm2/min0.5 no
BAC e 0.0941 mg/mm2/min0.5 no BACRFA).

10.0

9.0 Envolvente BAC


Média BAC
8.0 Envolvente BACRFA
Média BACRFA
7.0

Ac (mg/mm )
6.0
2

5.0

4.0

3.0

2.0

1.0

0.0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Tempo (min )
0.5

Figura 9. Absorção capilar dos provetes de BAC e de BACRFA.

3.3 Resistividade eléctrica

A resistividade elétrica média, m, dos provetes ensaiados é apresentada no Quadro 2. A diferença
obtida entre o BAC e o BACRFA (redução de 63% no caso do BACRFA) foi devida à elevada
condutividade elétrica das fibras de aço, que diminuiu a resistividade elétrica do betão. O elevado
coeficiente de variação, CoV, obtido no BACRFA aos 7 e 28 dias é justificado pela presença das fibras
de aço que influenciam significativamente o campo elétrico gerado pelo resistivímetro de Wenner.

Quadro 2. Resistividade elétrica média dos provetes de BAC e de BACRFA.


BAC BACRFA
7 dias 28 dias 90 dias 7 dias 28 dias 90 dias
m (k.cm) 7.3 10.1 11.4 2.6 3.7 4.5
CoV (%) 2.71 1.64 3.46 22.75 21.47 4.01

3.4 Difusão dos cloretos por migração em regime não estacionário

A resistência dos betões à penetração dos cloretos, foi avaliada através de ensaios acelerados de
migração de cloretos em regime não estacionário, de acordo com a especificação do LNEC E463 [18].
Os valores médios obtidos do coeficiente de difusão de cloretos, Dm, estão apresentados no Quadro 3.

Quadro 3. Coeficientes de difusão de cloretos no BAC e no BACRFA.


BAC BACRFA
Dm (x10 m /s) -12 2
10.27 11.61
CoV (%) 1.49 30.93

No Quadro 3 verifica-se que a resistência à penetração dos cloretos é, aparentemente, a mesma no


BAC e no BACRFA, visto que apresentam um coeficiente de difusão semelhante. No entanto, a base
de comparação entre BAC e BACRFA poderá não ser tão imediata, uma vez que as fibras de aço
poderão levar a que os iões cloreto se fixem preferencialmente nas fibras, impedindo ou retardando a
penetração dos mesmos na matriz do betão. Com o decurso do ensaio foi possível observar, a
formação crescente de material corroído na solução catódica dos ensaios do BACRFA (Figura 10).

457
Durabilidade do betão auto-compactável reforçado com fibras de aço

Figura 10. Ensaio acelerado de migração de cloretos.

3.5 Resistência à penetração de cloretos por imersão

O ensaio de penetração de cloretos por imersão foi realizado de acordo com a especificação do LNEC
E390 [19].

Determinado o perfil do teor de cloretos no betão e com base na 2ª lei de Fick procedeu-se à
determinação dos coeficientes médios de difusão aparente, Dm, apresentados no Quadro 4.

Quadro 4. Coeficientes de difusão de cloretos no BAC e no BACRFA.


BAC BACRFA
-12
Dm (x10 m /s) 2
11.62 8.21
CoV (%) 3.88 1.66

Analisando os resultados apresentados no Quadro 4 verifica-se que o coeficiente de difusão é mais


elevado no BAC (11.62E-12 m2/s) do que no BACFRA (8.21E-12 m2/s), que poderá ser devido ao
facto dos iões cloreto se fixarem preferencialmente nas fibras de aço e assim, retardar a penetração dos
iões na matriz.

Comparando os valores dos coeficientes de difusão por imersão (Quadro 4) com os de difusão por
migração em regime não estacionário (Quadro 3), a tendência é precisamente contrária, visto que se
verificou que por imersão, o coeficiente de difusão é mais elevado no betão sem fibras. O método de
avaliação por migração, embora seja mais rápido que o baseado na difusão por imersão, apresenta
algumas desvantagens, nomeadamente, o resultado é qualitativo (a diferença de potencial aplicada e a
duração do ensaio foram definidas em função de um ensaio de migração de um provete de betão
convencional com uma dosagem normal de ligante, pelo que, poderá não ser aplicável a BRFA) e
provoca um aumento de temperatura no betão por ser imposta uma diferença de potencial elevada.
Deste modo, é mais prudente utilizar métodos baseados na difusão por imersão para a avaliação de
penetração de cloretos no BACRFA, que embora sejam mais morosos, representam melhor o ambiente
de exposição real. Importa também referir que os valores dos coeficientes de difusão obtidos por
migração ou por imersão foram bastante reduzidos devido à reduzida permeabilidade e porosidade dos
betões auto-compactáveis.

3.6 Carbonatação

Até aos 70 dias de exposição ao CO2, verificou-se uma linearidade da penetração do CO2, pelo que,
determinando o declive por regressão linear obtiveram-se os coeficientes de carbonatação Kc,
9.74mm.ano-0.5 para o BAC e de 9.98 mm.ano-0.5 para o BACRFA. A resistência à carbonatação, Rc65,
foi determinada tal como preconizado na especificação LNEC E465 [21], para o período de exposição
de 70 dias. Obtiveram-se os valores Rc65 de 1774.62 kg.ano/m5 para o BAC, cerca de 4.66% superior
ao obtido para o BACRFA, no valor de 1695.67 kg.ano/m5, o que significa que a adição de fibras de
aço ao betão não provocou uma variação significativa da resistência à carbonatação do betão. Tanto
para o BAC como para o BACRFA, o CO2 penetra pouco ao longo do tempo de exposição, devido à
elevada qualidade do betão, cuja permeabilidade é reduzida.

458
Frazão, Camões, Barros e Gonçalves

CONCLUSÕES

Na opinião geral, a corrosão no BRFA é menos gravosa quando comparada com a corrosão das
armaduras ordinárias do betão armado.

A carbonatação provoca corrosão superficial mas não evidencia indícios de causar destacamento do
betão envolvente [5]. A difusibilidade de cloretos depende da estrutura porosa do betão e de todos os
factores relacionados com a composição do betão e com a presença de fissuras [8, 11, 12].

No betão fendilhado, a corrosão que ocorre nas fibras de aço que atravessam as fissuras, pode conduzir
a uma significativa redução da resistência residual em tração e flexão. Por outro lado, os produtos da
corrosão das fibras podem causar um aumento da rugosidade das fibras, melhorando o seu
comportamento ao arrancamento e, consequentemente, a resistência à flexão do BACRFA [8]. Para
aberturas de fissura até 0.1 mm, a corrosão das fibras tem um efeito desprezável, visto que o processo
de auto-regeneração (self-healing) recupera a integridade do BRFA [8]. A taxa de degradação do betão
fendilhado devido à corrosão das fibras, depende de vários parâmetros, nomeadamente, da abertura de
fissura, das condições de exposição ambiental e do tipo de fibras [11].

A corrosão superficial afeta negativamente a aparência das superfícies de BRFA mas não afeta as suas
propriedades mecânicas [14]. Quando a razão A/C é menor ou igual a 0.5, o mínimo recobrimento
superficial, para evitar a corrosão das fibras, é de 0.1 mm [8].

A adição de fibras de aço originou um ligeiro aumento da porosidade aberta, no entanto, não provocou
uma alteração significativa da absorção de água por capilaridade, o que indica que o tamanho dos
poros capilares não foi significativamente alterado.

A presença de fibras de aço reduz a resistividade elétrica do betão devido à elevada condutividade
elétrica das fibras de aço, aumentando a possibilidade de corrosão das fibras. A determinação do
coeficiente de difusão de cloretos através do ensaio de migração em regime não estacionário pode não
ser completamente fiável para o BACRFA, visto que, os iões cloreto podem tender a fixarem-se nas
fibras, retardando a penetração dos iões na matriz. A avaliação da penetração de cloretos por imersão é
um método mais prudente do que por migração. Devido ao elevado grau de compactação dos betões
em estudo, eles apresentam boa e similar resistência à carbonatação.

AGRADECIMENTOS

Este trabalho foi desenvolvido no âmbito do projeto de investigação QREN, número 23024,
denominado INOTEC, que envolve a empresa CiviTest e o ISISE/Universidade do Minho. O primeiro
autor agradece a bolsa de investigação concedida pelo referido projeto. À Maccaferri e Radmix pelo
fornecimento das fibras de aço, à Sika pelo superplastificante, à Secil pelo cimento e à Omya Comital
pelo Fíler calcário.

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459
Durabilidade do betão auto-compactável reforçado com fibras de aço

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Treatment System for Crack Healing. Hindawi Publishing Corporation, Advances in Materials
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Steel Fibre Reinforced Concrete. Article No.7, Intersections/Intersec_ii, Vol. 6, No. 4.
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pp. 2.
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Materials and Structures, Vol. 37, pp. 623-643.
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não estacionário. LNEC, Lisboa, pp. 8.
[19] LNEC E390 (1993). Betões. Determinação da resistência à penetração de cloretos - Ensaio de
imersão. LNEC, Lisboa, pp. 2.
[20] FprCEN/TS 12390-12 (2010). Testing hardened concrete – Part 12: Determination of the
potential carbonation resistance of concrete: Accelerated carbonation method. Technical
Specification, European Committee for standardization, Brussels.
[21] LNEC E465 (2007). Betões. Metodologia para estimar as propriedades de desempenho do betão
que permitem satisfazer a vida útil de projecto de estruturas de betão armado ou pré-esforçado
sob as exposições ambientais XC e XS. LNEC, Lisboa, pp. 24.

460
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

Microhormigón Autocompactante con fibras de polipropileno

Gemma Rosana Iliana


Rodríguez de Rolfi Rodríguez
Sensale1 Netto2 Viacava3
Foto do autor, com Foto do autor, com
tamanho 4×3cm tamanho 4×3cm
RESUMEN

En los últimos años, la optimización de la calidad de los prefabricados se ha basado en el desarrollo de


nuevos materiales. Este es el caso del microhormigón de alto desempeño (MHAD), que requiere una
elección y control adecuado de materiales constitutivos, métodos de dosificación y elaboración para
alcanzar los requerimientos esperados. En Uruguay, la experiencia local en prefabricación liviana es
reciente y abarca componentes constructivos aislados. El material utilizado en todos los casos es el
hormigón convencional que determina características técnicas de los productos finales y condiciona
aspectos productivos de fabricación y montaje. La versatilidad de las aplicaciones de la prefabricación
liviana, convierten a la tecnología del MHAD en una alternativa de máximo interés para nuestro país.
Por ello, en el proyecto ANII FMV 2717 se trabajó en el desarrollo y aplicación del MHAD con
materiales y técnicas locales. A los efectos de viabilizar su aplicación se ha desarrollando un MHAD
autocompactante (MHAC), añadiéndole las ventajas que los HAC presentan. En este trabajo se
presentan los resultados alcanzados en el desarrollo del MHAC vinculados a los resultados obtenidos
en estado fresco y endurecido (resistencia a compresión y flexión, módulo de elasticidad, penetración
de ión cloruro, permeabilidad al aire y retracción hidráulica). Se estudiaron 10 mezclas en total, cinco
básicas (sin fibras, dos de las cuales son las usualmente empleadas para microhormigon en
prefabricados y tres son de MHAC), y cinco con 0.6 kg/m3 de fibras de polipropileno. Los resultados
muestran las potencialidades del empleo de MHAC en relación a propiedades mecánicas,
deformaciones y durabilidad frente a los microhormigones que se emplean habitualmente en Uruguay
y Brasil. Se presentan aplicaciones del MHAC desarrollado en paneles prefabricados los cuales fueron
comparados con paneles prefabricados elaborados con microhormigón convencional, mostrándose las
ventajas técnicas del empleo del MHAC para esta aplicación.

Palabras-clave: microhormigón, propiedades, resistencia, durabilidade

1
Faculdad de Arquitectura-Facultad de Ingeniería de la Universidad de la República, Instituto de la Construcción-Instituto
de Ensayo de Materiales, Montevideo, Uruguay. gemma@fing.edu.uy
2
Facultad de Arquitectura de la Universidad de la República, Instituto de la Construcción, Montevideo, Uruguay.
rrolfi26@hotmail.com
3
Facultad de Arquitectura de la Universidad de la República, Instituto de la Construcción, Montevideo, Uruguay.
rodriguez.iliana@gmail.com

461
Microhormigón Autocompactante con fibras de polipropileno

1. INTRODUCCION

En los últimos años, la optimización de la calidad de los prefabricados se ha basado en el desarrollo


de nuevos materiales (compuestos de una matriz en base a cemento, geopolímeros, yeso, etc., con o
sin fibras –cerámicas, metálicas, de vidrio, aramida, polietileno, etc.-; nanoestructurados) y su
adaptación a materiales locales (por ejemplo con refuerzo de fibras naturales, utilización de residuos
como adiciones, etc). Este es el caso del microhormigón de alto desempeño (MHAD), que requiere
una elección y control adecuado de materiales constitutivos, métodos de dosificación y elaboración
para alcanzar los requerimientos esperados.El microhormigón del alto desempeño (MHAD) es un
material cementíceo que cumple requisitos especiales de desempeño, uniformidad y reología que no
siempre pueden ser alcanzados rutinariamente usando sólo materiales convencionales y prácticas
normales de mezclado, colocación y curado. Se diferencia de los hormigones convencionales por no
utilizarse en su composición agregados gruesos, de allí el nombre de microhormigón, mientras que su
carácter de alto desempeño refiere a que excede en sus prestaciones al microhormigón convencional.
El microhormigón proviene del denominado ferrocemento. Brasil dispone, desde 1989, de norma
técnica nacional para la ejecución de ferrocemento siendo llamado “argamassa armada” [1], así como
especificaciones técnicas para producción de elementos prefabricados de hormigón [2]. Los últimos
avances se han dirigido a la optimización de la matriz cementícea dando lugar al MHAD, que presenta
mejor resistencia y durabilidad que el ferrocemento [3, 4]. En dicho país las aplicaciones en que ha
sido utilizado el MHAD en prefabricación liviana muestran ventajas desde el punto de visto técnico,
económico, social y ambiental, al permitir soluciones rápidas, que reducen los desperdicios por la
modernización de los procesos, y el aumento de la durabilidad de las construcciones.

En Uruguay, hacia las décadas de 1950 y 1960 surgieron algunos sistemas de prefabricación pesada
aplicados a programas masivos de construcción. Posteriormente, desde la década del 70, surgieron
otras experiencias de prefabricación parcial, que aplicando los criterios generales de la prefabricación
pesada, han dado lugar a la producción de pequeñas piezas, más livianas, asociadas a la construcción
tradicional. Además de edificios de carácter residencial, existen en nuestro medio otros ejemplos de
prefabricación de particulares características. En general se puede afirmar que los resultados obtenidos
son variados, con un grado de éxito dependiente de las dificultades operativas del montaje de las
piezas prefabricadas y de las características de durabilidad frente a la acción de los agentes agresivos
físicos y químicos ambientales.

Tanto los antecedentes internacionales como los aportes regionales y nacionales señalan claramente
que la prefabricación aplicada a la construcción a nivel mundial resulta ser un sistema de producción
altamente competitivo y que sus avances técnicos han estado basados especialmente en el
perfeccionamiento del diseño de los materiales empleados además de la optimización de los sistemas
de montaje correspondientes. En Uruguay si bien existen antecedentes y experiencia acumulada en
prefabricación, no se ha realizado investigación en la temática para el desarrollo de un material
apropiado para la producción de componentes de prefabricación liviana que permita obtener sus
beneficios de forma integral y superar las limitaciones que se tienen actualmente. Esto representa para
el país un desafío tecnológico de gran interés, dado el extenso campo de aplicación que tienen los
componentes prefabricados tanto en obras de infraestructura e ingeniería como de carácter civil. Todo
ello llevó a la formulación de un proyecto de investigación y desarrollo (I+D) sobre MHAD,
denominado ANII FMV 2717, que ha evolucionado hacia el microhormigón de alto desempeño
autocompactante (MHAC) que cumple además requisitos en estado fresco relativos a
autocompactabilidad. En el proyecto se han realizado diferentes actividades: (a) establecer entre los
materiales nacionales aquellos que se pueden emplear; (b) establecer un procedimiento para la
dosificación del material que atienda a las variables tecnológicas existentes en el país; (c) estudiar las
propiedades del material en estado fresco y endurecido (mecánicas, deformaciones y durabilidad); (d)
realización de un prototipo. Los principales resultados alcanzados en el marco del proyecto en las dos
primeras actividades fueron presentados en un trabajo anterior [5] por lo que son indicados aqui a
grandes rasgos, centrándose el presente trabajo en la tercer y cuarta actividad.

462
de Sensale, Netto e Viacava

2. INVESTIGACION EXPERIMENTAL

2.1 Materiales

Los materiales componentes del MHAC son básicamente los mismos que los de un HAC, excepto que
no tiene agregado grueso, o sea contiene: cemento Pórtland, agregados finos, agua, finos y aditivos.
Para disminuir la fisuración temprana se le agregan fibras; el alto desempeño y la autocompactabilidad
se obtienen mediante una cuidadosa elección de sus materiales componentes. Por ello a continuación
se presentan los materiales empleados junto con consideraciones tomadas para su elección

Cemento Pórtland: en relación a este material existen requisitos en conflicto desde el punto de vista
de la resistencia y de la reología. Desde el punto de vista de la resistencia cuanto más fino sea el
cemento más reactivo será, ya que mayor cantidad de la fase silicato y más de la fase intersticial
estarán en contacto con el agua, lo que hará que se forme más etringita y se desarrollen más silicatos
de calcio hidratados [5], mientras que desde el punto de vista reológico cuanto menor sea la cantidad
de aluminato tricálcico, C3A, más fácil será el control de la reología. Por consiguiente, entre los
cementos disponibles en Uruguay se eligió para la fabricación de MHAC el que tenía la menor
cantidad posible de C3A y la mayor finura. Fue un CP tipo I normal con 4.56% de C3A y finura
Blaine de 3580 cm2/g.

Aditivos: La elección de un superplastificante bueno y eficaz es también crucial siendo importante


estudiar la compatibilidad entre él y el cemento a emplear. Para ello se usaron los métodos
simplificados que se utilizan con mayor frecuencia: el de miniasentamiento (minislump) y el del cono
de Marsh; observándose que el segundo es más eficaz que el primero, permitiendo además determinar
el punto de saturación, de gran utilidad para la dosificación. Se empleó un aditivo superfluidificante
basado en policarboxilatos con densidad de 1.10 kg/l. Con el cono de Marsh se estudiaron pastas
variando el contenido de aditivo sólido en el intervalo 0.1 a 2.0 % del peso del cemento, llegándose a
que el aditivo era compatible con el cemento seleccionado y el porcentaje óptimo era de 0,2% .

Agregado: fino, formado por 90% de arena gruesa y 10% de arena fina, resultado de la optimización
del esqueleto granular en estado seco [6] sin compactar; resultando ser una arena con tamaño máximo
4.75 mm, módulo de finura de 2.92, y peso específico 2.55.

Finos: Si bien se han hecho estudios relativos a posibles finos locales para HAC [7] a la fecha
ninguno de ellos se comercializa en Uruguay por lo que se optó por considerar como fino únicamente
al cemento.

Fibras: Si bien para MH se pueden incorporar fibras sintéticas o metálicas, como para MHAD
generalmente se emplean fibras de polipropileno cortas con longitud menor a 25mm, para la
elaboración del MHAC se emplearon fibras de polipropileno multifilamento a los efectos de controlar
la retracción plástica. Las características de las fibras empleadas son las siguientes: sección circular de
18µm de diámetro, largo de 12mm, peso específico de 0,91g/cm3, 80% de alargamiento y resistencia a
la tracción de 300 MPa. Se estudiaron MHAC con un contenido de fibras de 0.6 kg/m3y sin fibras.

2.2 Dosificación

En el proyecto ANII FMV 2717 se desarrolló un método de dosificación para MHAD [5]. El método
consta de 5 etapas: a) optimización de la pasta, mediante el cono de Marsh y el minislump; b)
optimización del esqueleto granular con los agregados secos sin compactar para obtener un MHAC,
mientras que para el MHAD se realiza con los agregados secos compactados [6]; c) construcción de
diagramas de dosificación y estudio de correlación entre las distintas variables involucradas
(agua/cemento, agregado/cemento, consumo de cemento y resistencias); d) cálculo de la cantidad de
materiales a emplear; e) ajuste de mezclas de acuerdo a humedad de los agregados, contenido de
sólidos del aditivo.

463
Microhormigón Autocompactante con fibras de polipropileno

En la Figura 1 se presentan los diagramas de dosificación obtenidos con los materiales empleados en
este trabajo y correlación entre las variables.

Fc(MPa)

Figura 1. Diagramas de dosificación y correlación entre variables para los materiales usados.

En este trabajo se estudiaron diez mezclas en total, cinco básicas (sin fibras) las que figuran en la
Tabla 1, y las mismas con un contenido de fibras de 0,6 kg/m3. Las dos primeras mezclas básicas
corresponden a las usualmente empleadas para realizar microhormigón en nuestro país y en Brasil, se
denominan MH1 y MH2; las restantes corresponden a MHAC obtenidos usando el diagrama de
dosificación y correlaciones indicadas en Figura 1.

Tabla 1. Dosificación básica de los microhormigones estudiados.


Denominación Arena/CP Agua/CP CP Arena Agua Aditivo
(kg/m3) (kg/m3) (kg/m3) (kg/m3)
MH1 3.5 0.60 471 1647 280 2
MH2 3 0.50 536 1608 266 2.25
MHAC1 2.5 0.42 611 1531 253 2.5
MHAC2 2 0.36 707 1413 252 3
MHAC3 1.5 0.30 856 1286 255 3

464
de Sensale, Netto e Viacava

2.3 Hechura de hormigones, probetas, paneles y realización de ensayos

Con las cantidades de materiales indicadas anteriormente se hicieron hormigones en hormigonera de


eje inclinado; el tiempo de mezclado fue de 3 minutos para los hormigones sin fibra y 4 minutos para
los que las contenían.

En estado fresco se realizaron ensayos con el cono de Abram para determinar el asentamiento [8] en
los hormigones usualmente empleados en nuestro país para elementos prefabricados (MH1 y MH2);
mientras que en los MHAC se realizaron ensayos de ensayos de flujo de asentamiento con cono de
Abrams con los que se determinó el escurrimiento (D), el T50 y el índice visual de estabilidad (VIS)
[9], embudo V a 1 minuto determinándose T1, caja L determinándose H2/H1, considerándose los
límites indicados por EFNARC [10] e índices visuales de estabilidad de 0 y 1 a los efectos de
clasificarlos como autocompactantes.

Se realizaron probetas [11] para estudiar en estado endurecido resistencia a compresión [12, 13],
resistencia a tracción por flexión [14] y por compresión diametral [15], módulo de elasticidad [16],
retracción hidraulica [17], resistencia a la penetración de iones cloruro [18] y permeabilidad al agua
por el método Torrent [19]. Los ensayos de resistencia a compresión y retracción hidráulica se
realizaron a los 7 y 28 días de edad, mientras que los restantes fueron realizados a la edad de 28 días.

Los prototipos realizados fueron paneles conformados por un cuerpo interno de poliestireno
expandido de 10cm de espesor y dos capas externas de MHAD de aproximadamente 2cm de espesor
cada una, incluyéndose un bastidor perimetral de varilla de acero de 4mm de diámetro con armadura
de fibras de zirconia, siendo sus medidas finales: 2.40 m de alto, 1.20 m de ancho y 0.14 m de espesor.
Fueron realizados en una planta nacional de prefabricación, con el mismo diseño que los que se
fabrican en dicha planta pero con la dosificación del MHAD2 desarrollada en el proyecto; se pudo así
comparar posteriormente los resultados obtenidos con los de los paneles elaborados en la planta
habitualmente. Una vez realizados los paneles (sin cura), a los 3 días fueron desencofrados, Figura 2
(a) y a los 28 días de edad fueron transportados hasta el lugar donde fueron ensayados para evaluar su
resistencia estructural según ASTM E72-14a [20] , Figura 2 (b), y al impacto de cuerpo duro según
ISO 7892:1988 [21] a los 28 días de edad. La resistencia estructural fue evaluada en pórtico de carga
equipado con gato ENERPAC de 75t, manómetro digital de igual marca Modelo DG P (10000 psi) y
viga de repartición de carga, siendo sometidos los paneles a carga centrada localizada en el eje
longitudinal de la cara superior horizontal.

Figura 2. (a) Desencofrado de paneles. (b) Ensayo en Pórtico de Carga.

3. RESULTADOS Y DISCUSION

En la Tabla 2 se presentan los resultados obtenidos en estado fresco, denominándose SF y F las


mezclas con y sin fibras, respectivamente. Cuando se incorporaron fibras (0.6 kg/m3) las

465
Microhormigón Autocompactante con fibras de polipropileno

dosificaciones correspondientes al microhormigón convencional (MH1 y MH2) necesitaron mayor


cantidad de aditivo que la dosificación básica sin fibras a los efectos de obtener asentamientos
similares. En las otras dosificaciones manteniendo la misma cantidad de aditivo, con o sin fibras, se
obtuvieron MHAC cumpliendose los requisitos indicados por EFNARC [10] y teniendo índices
visuales que corresponden a hormigones autocompactantes estables. Se puede observar que al
incorporar fibras disminuyen los asentamientos y escurrimientos, aumentando tiempos (T50 y T1) en
relación a las mezclas que no las contienen, obteniéndose además MHAC mas estables ya que el
indice visual de estabilidad es 0.

Tabla 2. Resultados obtenidos en estado fresco.


Denominación Aditivo Asentamient D-T50 T1 H2/H1 Ind. Visual
(%) o (cm) (cm)-(s) (s) de Estab.
SF F SF F SF F SF F SF F SF F
MH1 2 2.35 19.5 17 No corresp. No corr. No corr. No corresp.
MH2 2.25 2.40 19 17 No corresp. No corr. No corr. No corresp.
MHAC1 2.50 2.50 No corresp. 58-2.8 52-4.3 7.9 11.2 1 0.83 1 0
MHAC2 3 3 No corresp. 63-2.9 58-4.2 7.2 9.3 1 0.91 1 0
MHAC3 3 3 No corresp. 68-2.7 64-3.5 6.1 6.5 1 0.98 1 0

En la Tabla 3 se presentan los resultados de resistencia a compresión Fc a los 7 y 28 días de edad,


y la eficiencia de los microhormigones estudiados evaluada como la razón entre la resistencia a
compresión y el contenido de cemento de cada mezcla.

Tabla 3. Resistencia a compresión y eficiencia de los microhormigones estudiados.


Fc (MPa) Fc (kg/cm2) / cont. CP (kg/m3)
7 días 28 días 7 días 28 días
SF F SF F SF F SF F
MH1 18.45 19.13 30.06 28.76 0.39 0.41 0.64 0.61
MH2 25.42 31.3 33.74 38.3 0.47 0.58 0.63 0.71
MHAC1 36.32 34.2 52 52.5 0.59 0.56 0.85 0.86
MHAC2 53.7 52 65.8 70.1 0.76 0.74 0.93 0.99
MHAC3 61.9 43.4 77.7 79.1 0.72 0.51 0.91 0.92

En relación a los resultados de resistencia a compresión se observa la evolución de la resistencia a


compresión y el comportamiento diferente que tiene la inclusión de fibras en los microhormigones
estudiados. Si bien a los 28 días de edad la presencia de fibras no produce cambios significativos en la
resistencia a compresión, a los 7 días en el MH con mayor contenido de cemento la mejoran, mientras
que en el MHAC si bien no hay cambios significativos en los denominados 1 y 2, en el mas rico en
cemento (MHAC3) las fibras disminuyen la resistencia a compresión.

En relación a la eficiencia de los microhormigones estudiados en relación a la resistencia a compresión


se observa claramente que los MHAC presentan mejores resultados que los microhormigones
convencionales (MH) resaltándose el comportamiento diferenciado que fuera indicado anteriormente
en relación a la inclusión de fibras en ellos. Es de señalar que si bien a medida que aumenta el
contenido de cemento la eficiencia de los microhormigones mejora, como el cemento disponible en
nuestro país es CP40 su empleo limita las resistencias a compresión a ser obtenidas [22], notándose en
el MHAC3 una pérdida de eficiencia en relación al MHAC2.

En relación a la resistencia a tracción por flexión (ft,F), tracción por compresión diametral (ft,D) y
módulo de elasticidad (Ec), los resultados obtenidos se presentan en la Tabla 4. Se observan aumentos
de resistencia y módulo de elasticidad conforme aumenta el contenido de cemento, también que la
incorporación de fibras aumenta la resistencia a tracción y disminuye el módulo de elasticidad de los
microhormigones estudiados.

466
de Sensale, Netto e Viacava

Tabla 4. Resistencia a tracción y módulo de elasticidad a los 28 días de edad.


ft,F (MPa) ft,D (MPa) Ec (GPa)
SF F SF F SF F
MH1 2.8 3.1 2.0 2.8 25.3 21.8
MHA2 3.4 3.6 2.5 3.0 28.1 25.4
MHAC1 4.0 4.5 3.2 3.7 30.2 29.3
MHAC2 5.4 5.6 3.6 3.8 34.3 32.4
MHAC3 6.6 7.2 5.1 5.4 36.3 34.8

En la Tabla 5 se presenta la eficiencia de los microhormigones estudiados evaluada como la razón


entre la resistencia a tracción y contenido de cemento de cada mezcla; los MHAC presentan mejores
resultados que los microhormigones convencionales, habiendo un comportamiento diferenciado en
relación a la incorporación de fibras en ellos debido a que ellas mejoran la eficiencia. En relación al
módulo de elasticidad se observa lo opuesto, presentando los MHAC disminución del módulo elástico
por kilogramo de cemento empleado y también con la incorporación de fibras.

Tabla 5. Eficiencia en relación a la resistencia a tracción y el módulo de elasticidad.


ft,F /cont.CP ft,D/cont.CP Ec /cont.CP
(kg/cm2)/(kg/m3) (kg/cm2)/(kg/m3) (GPa)/(kg/m3)
SF F SF F SF F
MH1 0.059 0.066 0.042 0.059 0.1 0.046
MHA2 0.063 0.067 0.046 0.056 0.052 0.047
MHAC1 0.065 0.074 0.052 0.061 0.049 0.048
MHAC2 0.076 0.079 0.051 0.054 0.048 0.046
MHAC3 0.077 0.084 0.060 0.063 0.042 0.041

En la Figura 3 se presentan los resultados obtenidos correspondientes a retracción hidráulica,


observándose claramente la disminución de la retracción con la incorporación de fibras en las distintas
edades estudiadas.

Figura 3. Cambio porcentual de longitud (%).

En la Tabla 6 se presentan los resultados y las categorías correspondientes a la resistencia a la


penetración de ión cloruro [18], evidenciándose que los MHAC presentan mejores resultados que los

467
Microhormigón Autocompactante con fibras de polipropileno

microhormigones convencionales (MH), no produciendo variación de resultados la incorporación de


fibras .

Tabla 6. Resistencia a la penetración de ión cloruro y permeabilidad al aire Torrent.


Carga eléct. Penetración Coef. de perm. Resistiv. Calidad del horm.
que atraviesa de ión cloruro Kt Eléctrica  de recubrimiento
la probeta (10-16 m2) [19]
[18] (kcm)
(Coulombs)
SF F SF F SF F SF F SF F
MH1 6430 3700 Alta Alta 0.338 0.382 4 6 Normal Normal
Mode Mode
MH2 2894 2505 rada rada 0.012 0.019 5 6 Buena Buena
MHAC1 1679 1672 Baja Baja 0.007 0.004 4 4 Buena Buena
MHAC2 1332 1099 Baja Baja 0.006 0.004 4 4 Buena Buena
Muy Muy
MHAC3 999 903 Baja Baja 0.005 0.004 12 12 Buena Buena

En relación a la permeabilidad al aire Torrent [19] los resultados del coeficiente permeabilidad al aire
(kT), la resistividad eléctrica  y la calidad del hormigón de recubrimiento se presentan en la Tabla 6.
En lo s microhormigones convencionales se observan mejoras del hormigón de recubrimiento con el
aumento del contenido de cemento¸mientras que con los MHAC se obtuvieron simpre buenos
resultados independientemente del contenido de cemento.

En relación a la ejecución de los paneles, la dosificación empleada corresponde a un MHAC2 con


microfibra de polipropileno. Dicho microhormigón fue el que se mostró más eficiente, considerando la
razón entre la resistencia y el contenido de cemento de las distintas mezclas estudiadas (según puede
observarse en la Tabla 3). En la Tabla 7 se presentan los parámetros estadísticos básicos (media,
desviación estándar y coeficiente de variación) correspondientes a los valores de carga máxima
alcanzada para la serie de prototipos de paneles realizados con el MHAD desarrollado en el marco del
Proyecto (denominada “Paneles MHAC”). A los efectos de comparación se presentan también los
resultados de una serie de prototipos realizados con el MHAD habitual en la empresa de
prefabricación nacional (denominados “Paneles Empresa”).

Tabla 7. Parámetros estadísticos básicos de carga de rotura (daN) de prototipos de paneles [20].
Denominación Media Desviación Coef. de Variación
(daN) (daN) (%)
Paneles MHAC 24954.8 777.39 3.115
Paneles Empresa 12564.2 3332.97 26.53

En relación a los resultados de resistencia al impacto de cuerpo duro [21], con energías de impacto de
20J (de seguridad) y de 3,75J (de uso), los Paneles del Proyecto no sufrieron fallas superficiales como
abolladuras, fisuras, desprendimientos ni degradaciones.

CONCLUSIONES

Los resultados presentados permiten concluir que:

- La incorporación de fibras de polipropileno influye más en las propiedades de los microhormigones


(MH) en estado fresco y endurecido que en las de los MHAC, siendo crucial su empleo a los efectos
de disminuir la retracción hidráulica.

468
de Sensale, Netto e Viacava

- Desde el punto de vista de la resistencia en los MHAC el cemento es usado mas eficientemente que
en los microhormigones convencionales ya que la razón entre la resistencia y el contenido de
cemento es mayor.

- En relación al módulo de elasticidad los MHAC presentan una razón menor por kg de cemento
empleado. La incorporación de fibras disminuye dicha razón en todos los microhormigones, ya sea
convencionales o MHAC.

- Los MHAC presentan mejor comportamiento frente a la penetración de ión cloruro y permeabilidad
al aire que los MH convencionales.

- Los resultados obtenidos en los ensayos relativos a la resistencia estructural de los Paneles de
MHAC muestran casi una duplicación de la carga máxima alcanzada, una gran disminución de la
desviación estándar (76,675 %) y del coeficiente de variación (88,26%) cuando son comparados con
los Paneles de la Empresa. En relación a los resultados de resistencia al impacto de cuerpo duro
cumplen con los requerimientos de la normativa de referencia [20]. Por lo cual, los paneles
realizados con el MHAC desarrollado en el marco del Proyecto pueden ser aptos para su uso como
elementos estructurales con cualquier ubicación (fachadas, interior de edificios, etc.).

Los resultados presentados muestran las potencialidades del empleo del MHAC en relación a
propiedades mecánicas, deformaciones y durabilidad frente a los microhormigones que se emplean
habitualmente en Uruguay y Brasil. La aplicación del MHAC en prototipos de paneles, donde se
estudiaron aspectos técnicos de su empleo también, permite concluir que con ellos se dará un nuevo
impulso a la industria de la prefabricación liviana nacional garantizando una producción de mayor
calidad técnica, mejor durabilidad y mayor facilidad de montaje.

AGRADECIMENTOS

Los autores desean agradecer a la Agencia Nacional de Investigación e Innovación (ANII) y a la


Comisión Sectorial de Investigación Científica (CSIC) de la Universidad de la República (UdelaR)
por el apoyo brindado para la realización y difusión de la presente investigación.

REFERENCIAS

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469
Microhormigón Autocompactante con fibras de polipropileno

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UDELAR. 160p.

470
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

Variación de las propiedades mecánicas inducida por el flujo de


hormigón autocompactante en un hormigón reforzado con fibras
de poliolefina

M.G. Alberti1 A. Enfedaque1 J.C. Gálvez1

RESUMEN

El refuerzo del hormigón mediante macro-fibras sintéticas estructurales es una alternativa a las fibras
de acero. Usando fibras de poliolefina de 60mm de longitud pueden obtenerse resistencias residuales a
flexotracción superiores a los requerimientos de la normativa y tener en cuenta su contribución en el
cálculo estructural mejorando, además, el comportamiento para deformaciones importantes. La
efectividad de las fibras depende de su distribución y ésta del proceso de compactación y llenado de
moldes. En este trabajo, se ha fabricado hormigón autocompactante y otro convencional vibrado con
10kg/m³ de fibras de poliolefina. Se evaluó el comportamiento en estado fresco y se obtuvieron
valores de resistencia a compresión, módulo de elasticidad, resistencia a tracción y resistencia a
flexión por tracción. Estos resultados se compararon, además, con hormigones análogos sin fibras.
También se realizaron conteos de fibras en las superficies de fractura para estimar la influencia del
tipo de hormigón sobre la distribución de las fibras.

Palabras-clave: hormigón con fibras, fibras poliolefina, hormigón autocompactante

1. INTRODUCCION

El desarrollo que ha tenido el ser humano durante toda la historia ha estado ligado en cierta medida a
la evolución y uso de los materiales. Durante el último siglo el gran avance tecnológico y cientifico se
ha reflejado también en el aumento de la utilización de materiales básicos para la construcción como
son el hormigón y el acero. Estos dos materiales forman el material por excelencia dentro de los
ámbitos de la construcción y la edificación como es el hormigón armado.

El hormigón armado es la respuesta que ha dado el hombre a un problema que surge de las
propiedades mecánicas del hormigón. Es ampliamente conocida la gran capacidad que tiene el
hormgón de soportar esfuerzos de compresión pero sin embargo también es amplio el conocimiento
sobre la fragilidad del hormigón y su baja capacidad de soportar escfuerzos de tracción y de flexión.

1
Universidad Politécnica de Madrid, Departamento de Ingeniería Civil: Construcción, Madrid, España.
jaime.galvez@upm.es

471
Variación de las propiedades mecánicas inducida por el flujo de hormigón autocompactante en un hormigón
reforzado con fibras de poliolefina

La colocación de barras de armar como refuerzo en el hormigón crea zonas donde estos esfuerzos de
traccion son soportados por el acero pero este refuerzo se realiza de forma discontinua. Sin embargo se
puede mejorar la respuesta del hormigón frente a esfuerzos de tracción y flexión de forma más
homogénea mediante la adición de fibras.

El concepto de refuerzo mediante la adición de fibras no es reciente pero sin embargo en los últimos
años su desarrollo ha sido especialmente rápido [1, 2]. Una de las razones que justifican su mayor
utilización en la actualidad es la aparición de normas y recomendaciones que regulan su uso. Estas
fijan los requisitos que deben cumplir los hormigones reforzados con fibras para poder tener en cuenta
la contribución de las fibras en el cálculo estrucutral [3, 4] Los requisitos fijados por estás normas
establecen valores de la resistencia residual para aperturas de fisura de 0.5 y 2.5mm del 40% y 20% de
la carga máxima respectivamente, que han sido cumplidos tradicionalmente mediante la adción de
fibras de fibras de acero .

La efectividad del refuerzo que introducen las fibras en el hormigón depende de diferentes factores
como son la cuantía de fibras usadas, el tipo de fibra, la distribución y la orientación entre otros. Es
por ello que la conjunción de dos de las dos técnologías más modernas que se han desarrollado en el
hormigón, los hormigones autocompactantes y la adición de fibras, cobra mayor interés. Los
hormigones autocompactantes (HAC) se caracterizan por su diferente comportamiento en estado
fresco que permite que su compactación se realice por efecto de su propio peso y sin ayuda de medios
exteriores. Esta cualidad ha permitido su gran utilización debido al ahorro que supone en medios
auxiliares y mano de obra en algunas aplicaciones [5]. Además el flujo de hormigón autocompactante
como se ha mostrado en la literatura permite introducir una orientación preferente en las fibras [6]
mejorando el comportamiento del elemento estructural. Sin embargo, hay que destacar que el uso de
hormigón convencional vibrado sigue siendo la mayor parte del que fabrica para construcción debido a
que hay un gran porcentaje de aplicaciones donde sigue siendo la opción más adecuada.

Las fibras macro-sintéticas con propiedades mecánicas mejoradas y tratamientos superficiales para
mejorar la adherencia con la matriz cementicia, han mostrado un magnífico comportamiento para uso
estructural. Además de ser estables químicamente, evitando los problemas de corrosión de las fibras de
acero, suponen menor peso y coste final. Además, afectan en menor medida a la trabajabilidad del
hormigón fresco que las fibras de acero [7, 8]. Las fibras de poliolefina de 60mm de longitud han
mostrado tener un magnífico comportamiento incluso con dosificaciones de 4,5kg/m³ [9] para
deformaciones en Estado Límite Último (ELU), para el que podría asimilarse al valor obtenido en el
ensayo de fractura [10] para la abertura de 2,5mm. Sin embargo, para deformaciones menores de
abertura de 0,5mm, que podrían asimilarse con Estado Limite de Servicio (ELS), es necesario
aumentar la dosificación de fibras, aumentando así el número de fibras en el tercio central de la
sección de fractura, reduciendo de tal forma la caída de carga que se prduce después de alcanzarse la
carga máxima.

Debido a todos estos argumentos se ha decidido realizar un estudio experimental de las propiedades
mecánicas de dos tipos de homigón reforzados con 10kg/m3 de fibras de poliolefina, un hormigón
vibrado convencional (HF10) y un hormigón autocompactante (HAC10). Ambas dosificaciones se
fabricaron con ligeras modificaciones de sus componentes permitiendo así la comparación entre ellas.
Se caracterizaron ambos tipos de hormigones en estado fresco, y se hallaron sus propiedades
mecánicas y su resistencia residual a tracción. Además se realizó un analisis de las superficies de
fractura que permitió observar la influencia de la reologia y del proeso de llenado de los moldes en el
comportamiento del hormigón.

2. MATERIALES, DOSIFICACIÓN Y FABRICACIÓN DE HORMIGONES

Para minimizar las diferencias de comportamiento debidas a los cambios de formulación se usaron los
mismos materiales y únicamente se modificaron las proporciones de los áridos usados así como el
contenido de superplastificante. Se emplearon áridos silíceos machacados, con un tamaño máximo de

472
Alberti, Enfedaque e Gálvez

12,7mm. El módulo granulométrico de la grava fue de 6,94. En el caso de la gravilla y la arena, los
módulos granulométricos fueron 5,83 y 2,66 respectivamente. Se utilizó como adición un filler calizo
de Blaine: 4000-4500cm²/g, con un contenido de CaCO3 superior al 98% en peso y con un peso
retenido en tamiz de 0,045mm inferior al 0,05%. El cemento empleado fue del tipo CEM I 52,5 R/SR
5. Como aditivo superplastificante se introdujo en la mezcla el aditivo SikaViscoCrete-5720
compuesto por policarboxilatos modificados. El hormigón se fabricó con una hormigonera de eje
vertical de 100 litros de capacidad y las probetas fueron hormigonadas a temperatura de laboratorio.

Con el fin de obtener HAC de precio competitivo se adoptaron como criterios de diseño la
dosificación de un hormigón autocompactante que, sin fibras, tuviera un diámetro de escurrimiento
del entorno de 650mm, limitando el contenido máximo de cemento a 375 kg/m3 y la menor cantidad
de aditivo posible. Para optimizar la distribución de los áridos, se utilizó el criterio de máxima
compacidad en seco, que resultó de 60% arena, 24% de grava y 16% de gravilla.

En cuanto al hormigón convencional de consistencia fluida, se diseñó sobre la base del HAC,
compensando la reducción de finos (filler calizo) con árido grueso (grava y gravilla). En la Tabla 1 se
muestran ambas dosificaciones.

Tabla 1. Dosificaciones por m³ de hormigón.


Cemento Filler calizo Agua Arena Gravilla Grava Superplastificante
(kg/m³) (kg/m³) (kg/m³) (kg/m³) (kg/m³) (kg/m³) (% peso de cemento)
HAC 375 200 187,5 918 245 367 1,25
HF 375 100 187,5 916 300 450 0,75

Sobre la base de ambas dosificaciones, se fabricaron cuatro tipos de hormigón, dos sin fibras y dos con
10 kg/m³ de fibras. Las propiedades de las fibras de poliolefina Sikafiber aportadas por el fabricante se
muestran en la Tabla 2. Así pues, se fabricó un HAC, un hormigón fluido (HF) y dos dosificaciones
con 10kg/m³ de fibras de poliolefina de cada tipo de hormigón (HAC10 y HF10).

Tabla 2. Propiedades de las fibras de poliolefina.


3
Densidad (g/cm ) 0,910
Longitud (mm) 60
Diámetro eq. (mm) 0,903
R. a tracción (MPa) > 500
Módulo de elasticidad
>9
(GPa)

De cada tipo de hormigón, se fabricaron 2 probetas prismáticas de dimensiones 600x150x150mm³ y 9


probetas cilíndricas de 300mm de altura y 150 de diámetro. Las probetas se mantuvieron las primeras
24 horas en los moldes a temperatura de laboratorio y se introdujeron posteriormente en una cámara de
curado a 20ºC y humedad relativa del 95% hasta la edad de ensayo.

La compactación de los HAC se realizó por la acción de su propio peso y los moldes prismáticos se
llenaron de un lado al otro gracias al flujo del hormigón. Sin embargo, en las dosificaciones de
hormigón fluido (HF y HF10), para una adecuada compactación se utilizó una mesa vibrante y los
moldes prismáticos se llenaron desde el centro hacia los lados como describe la norma de ensayos
UNE-EN: 14651:2005 +A1:2007 [10]. Ambos procesos pueden afectar a la distribución y orientación
de las fibras y, consecuentemente, a los resultados de los ensayos de fractura. Ambos procesos se
pueden observar en la Figura 1.

473
Variación de las propiedades mecánicas inducida por el flujo de hormigón autocompactante en un hormigón
reforzado con fibras de poliolefina

(a) (b)
Figura 1. (a) Proceso de llenado del molde con HAF10 desde uno de los extremos; (b) Método de llenado con
HF10 según lo establecido en EN-14651 [10].

3. CARACTERIZACIÓN EN ESTADO FRESCO

El comportamiento en estado fresco del HAC se caracterizó con ensayos de escurrimiento (UNE-EN:
12350-8) y del embudo en V (UNE-EN: 12350-9) [11, 12]. El alto contenido de fibras afectó
ligeramente a la distribución de las fibras en la torta disminuyendo el diámetro de escurrimiento e
incrementándose el tiempo de vaciado del embudo en V hasta valores próximos a los límites. Sin
embargo todos los resultado se encontraron dentro de los rangos admisibles de autocompactabilidad y
no presentaron segregación ni bloqueos.

En las dosificaciones de HF, se evaluó la consistencia en estado fresco mediante el ensayo de


asentamiento (EN 12350-2 [13]). Para manterner el asentamiento en HF10 similar al obtenido sin
fibras se incrementó de 0,75% a 0,82% en peso de cemento el contenido de superplastificante. Los
resultados obtenidos en ensayo fresco de todos los hormigones se muestran en la Tabla 3.

Tabla 3. Resultados en estado fresco.


Ensayo Parámetro HAC HAC10 HF HF10
T500 (s) 3,5 6 - -
Extensión de flujo
df (mm) 655 570 - -
Embudo en “V” TV (s) 8 20 - -
Ensayo de Asentamiento h (cm) - - 15 14,5

4. ENSAYOS DE CARACTERIZACIÓN MECÁNICA

Las probetas cilíndricas se emplearon en hallar las propiedades mecánicas más tipicas del hormigón:
resistencia a compresión simple, módulo de elasticidad y tracción indirecta. Estos ensayos se
realizaron siguiendo las normas [13, 14, 15]. Cada ensayo se realizó en tres probetas de cada hormigón
a los 28 días de edad. Los valores medios obtenidos y su coeficiente de variación (c.v.) para los
ensayos de resistencia característica, módulo de elasticidad y resistencia a tracción se muestran en la
Tabla 4.

Tabla 4. Resultados de caracterización mecânica.

HAC (c.v.) HAC10 (c.v.) HF (c.v.) HF10 (c.v.)

E (GPa) 36 (0,03) 36 (0,02) 39 (0,04) 37 (0,04)

fck (MPa) 39 (0,01) 37 (0,02) 34 (0,04) 28 (0,03)

fct (MPa) 3,8 (0,14) 4,3 (0,09) 4,2 (0,10) 4,1 (0,06)

474
Alberti, Enfedaque e Gálvez

5. ENSAYOS DE FRACTURA

Para hallar las propiedades en fractura de los hormigones estudiados se realizaron ensayos de flexión
en tres puntos con entalla según la norma UNE-EN: 14651:2005+A1:2007 [10]. Según detalla esta
norma, el ensayo se llevó a cabo con probetas prismáticas de dimensiones 600x150x150mm³, con una
luz de 500mm y una longitud de ligamento (hsp) de 125±1mm en la sección de fractura. El control del
ensayo se realizó con la apertura de los labios de la fisura (CMOD) hasta el colapso en el caso de las
probetas de hormigón sin fibras y hasta una apertura superior a 4mm en el caso de los hormigones con
fibras. La flecha en las probetas se midió mediante dos dispositivos LVDT situados a cada lado de la
probeta.

Debido a la ductilidad que aportan las fibras en los procesos post-fisuración durante este ensayo se
produjeron deformaciones elevadas sin que las probetas colapsasen. Por lo tanto para lograr la mayor
informacion posible sobre el comportamiento del material una vez superada una apertura de fisura de
4mm se continuaron los ensayos con control de posición. Se llegó a valores de flecha muy superiores a
las habituales sin alcanzarse el fallo, finalizandose el ensayo cuando se alcanzó el valor de flecha de
L/40 (12,5mm).

Los resultados de fractura de las dosificaciones sin fibras fueron muy similares como se puede ver en
la Figura 2 donde se muestran los resultados de las probetas de HAC y de HF.

18

16 HAC
HF

14

12
FUERZA(kN)

10

0
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5
CMOD(mm)

Figura 2. Curvas Fuerza – CMOD de dos probetas de HAC y dos probetas de HF.

Los resultados obtenidos con HAC10 y HF10 se ha representado en las Figuras 3a) y 3b)
respectivamente.

En todos estos los casos se calculó el valor de energía de fractura (Gf) a partir de las curvas fuerza-
desplazamiento a través de la ecuación (1):

(1)

Siendo Wf el trabajo de fractura y b la anchura de la probeta y hsp la longitud del ligamento. La energía
de fractura obtenida se puede ver en la Tabla 5 asicomo el valor del coeficiente de variación.

En el caso de los hormigones con fibras se calcularon los valores medios de Gf para tres estados de
deformación. Uno cuando se detuvo el ensayo (12,5mm), otro hasta una flecha de 5mm (con esa

475
Variación de las propiedades mecánicas inducida por el flujo de hormigón autocompactante en un hormigón
reforzado con fibras de poliolefina

deformación se superó la carga máxima post-fisuración de todos los ensayos) y otro al alcanzar la
flecha de 1mm. Todos estos valores de energía de fractura y se muestran en la Tabla 5.

El valor de la energía de fractura de el HAC y el HF fueron muy similares. En el caso de las


formulaciones con fibras HF10 y HAC10 se puede observar que para 1mm de descenso vertical la
energía de fractura ya es alrededor de 3 veces superior a la de los hormigones sin fibras. Debido a la
gran aprtación de la fibras a la integridad estructural del material se consiguen energías de fractura que
llegan a ser 35 veces superiores a los HAC y HF para valores de flecha de 12,5mm. Sin embargo, la
valor de energía de fractura para la dosificación HAC10 fue un 20% superior a la obtenida para las
probetas de HF10 a pesar de que tenían la misma cantidad de fibras.

18 18

16 HAC10 16 HF10

14 14

12 12

FUERZA(kN)
FUERZA(kN)

10 10

8 8

6 6

4 4

2 2

0 0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
FLECHA (mm) FLECHA (mm)
Figura 3a.- Curvas Fuerza-Flecha de HAC10. 3b) Curvas Fuerza-Flecha de HF10.

Tabla 5. Energía de fractura (Gf) en N/m.


Gf hasta 1 mm (c.v.) Gf hasta 5mm (c.v.) Gf hasta 12,5mm (c.v.)
HAC (N/m) 152 (0,10) - -
HF (N/m) 153 (0,10) - -
HAC10 (N/m) 454 (0,05) 2992 (0,04) 5420 (0,03)
HF10 (N/m) 377 (0,14) 2296 (0,15) 4510 (0,11)

La aportación estructural de las fibras se halla mediante la comparación de los valores de la resistencia
residual del material como queda establecido tanto en la EHE-08 [3] como la norma de ensayo
utilizada EN-14651 [10]. Para ello, es necesario transformar los valores de carga obtenidos en el
ensayo en valores de resistencia mediante la ecuación (2):

(2)

Siendo L la distancia entre los rodillos de apoyo y F la fuerza en cada estado de deformación. Se
obtuvieron los valores de resistencia para el límite de proporcionalidad (fct,l) y los correspondientes
para los valores de abertura de los labios de la entalla de 0,5mm (fR1) y 2,5mm (fR3). Los valores de
fR1 y fR3 sirven para analizar la aptitud del hormigón como material estructural según el Anejo 14 de la
EHE-08 [3]. Para poder contar con la contribución de la fibra en el cálculo estructural el valor de fR1
debe ser superior al 40% del valor de fct,l y el valor de fR3 debe ser superior al 20% del fct,l y se
presentan en la Tabla 6.

476
Alberti, Enfedaque e Gálvez

En todos los casos se puede comprobar que la aportación mecánica de las fibras puede ser tenida en
cuenta en el cálculo estructural. Los valores obtenidos para fR1 fueron superiores al 45% de fct,l y para
fR3 del entorno del 70% de fct,l. Los valores de fR3 tuvieron un 60% y un 45% de incremento respecto a
fR1 para los HAC y los HF respectivamente, mostrando la importante aportación de resistencia residual
de estas fibras para deformaciones importantes. Hay que resaltar que la tendencia lograda con estas
fibras proporciona un margen de seguridad mucho mayor que el mostrado con fibras de acero en el
que la carga suele disminuir entre fR1 y fR3. Las curvas Resistencia-CMOD se pueden ver en la Figura
4.
Tabla 6. Resistencias residuales a tracción por flexión.
fct,l (MPa) fR1(MPa) % fct,l fR3 (MPa) % fct,l
HAC10 5,22 2,41 46% 3,87 74%
HF10 4,21 1,98 47% 2,87 68%

6
HAC10
FL HAC10
5 HF10

FL HF10
4
R(MPa)

2 40%HAC10
40%HF10
1 20%HAC10
20%HF10
0
0 1 2 3 4 5
CMOD(mm)

Figura 4. Curvas Resistencia-CMOD de dos probetas de HAC10 y dos probetas de HF10.

6. ANALISIS DE LAS SUPERFICIES DE FRACTURA

Para poder realizar un estudio comparativo de la distribución de fibras en las superficies de fractura se
compararon los resultados de los conteos con el número teórico de fibras en la superficies de fractura.
Este se obtuvo a partir de las expresiones (3) y (4):

(3)

(4)

Siendo fracción volumétrica, Af es el área de la sección de una fibra, Wf el peso de fibras para un
volumen V de 1m³ y r la densidad de las fibras. Con estas relaciones se obtuvo un número teórico de
fibras de 372 en la sección de una probeta.

Los resultados con del número total de fibras, su coeficiente de variación y el cociente entre el número
total de fibras resultante del conteo y el teórico (θ) se han incluido en la Tabla 7. En un análisis inicial
se podría valorar la distribución de fibras mediante el coeficiente de variación de los conteos,
habiéndose obtenido dispersiones bajas y ligeramente superiores para la dosificación HF10. En cuanto
a la distribución y orientación de fibras al comparar con la distribución óptima, el valor de θ mostrado
en la Tabla 7 muestra que las formulación HAC10 tiene una orientacion y distribución mejor que
HF10.

477
Variación de las propiedades mecánicas inducida por el flujo de hormigón autocompactante en un hormigón
reforzado con fibras de poliolefina

Tabla 7. Número total de fibras en la sección de fractura.


nº teorico fibras nº de fibras c.v. (%) θ
HAC10 372 222 4,0% 0,60
HF10 372 204 5,4% 0,55

El efecto de las paredes del molde sobre la colocación de la fibra se ha evaluado utilizando el método
propuesto por la recomendación RILEM TC162-TDF [16, 17] en la que se cuenta el número de fibras
en cada uno de los 9 sectores iguales en los que se divide la superficie de fractura, además de la
entalla. Si la distribución fuese uniforme, el número de fibras sería proporcional a la superficie del
sector como se muestra en la Figura 6 junto a la superficie de fractura de una probeta de HAC10.
Todos los esquemas se han representado suponiendo la dirección de llenado transversal del molde de
izquierda a derecha, como se ha esquematizado en dicha Figura 5.

9,26% 9,26% 9,26%


Dirección de llenado

9,26% 9,26% 9,26%

9,26% 9,26% 9,26%

Entalla 16,66%

Figura 5. Distribución uniforme de fibras en la sección de fractura y superficie de fractura de una probeta de
HAC10.

El resultado del conteo de fibras en las superficies de fractura en HAC10 y HF10 se muestra en las
Figura 6, en la que además se ha incluido el porcentaje de variación respecto al teórico en cada sector.
En cuanto a la distribución por sectores, la distribución fue más uniforme en el hormigón
autocompactante, con un coeficiente de variación entre sectores del 8%. El coeficiente de variación en
el número de fibras entre sectores del hormigón vibrado, sin embargo ascendió al 25%. Por otro lado,
el efecto de las pared también fue mayor en los HF10 ya que la entalla se contaron un 66% más de
fibras de las teóricas frente a un 42% en los HAC10. Esto mismo ocurre contando el número de fibras
en las otras dos paredes del molde. Las zonas más próximas a las paredes laterales (superior e inferior
en las figuras) tuvieron mayor número de fibras, especialmente para las probetas de HF10, mostrando
el efecto pared que se produjo.

HAC10 HF10
26,6%

23,8%

25,9%

24,0%

24,0%

28,9%

25,6% 8,9% 7,3% 9,3% -3% -21% 0% 31,3% 9,8% 9,3% 12,3% 5% 1% 33%

25,9% 8,8% 8,0% 9,1% -5% -13% -2% 23,7% 8,8% 5,7% 9,3% -5% -39% 0%

24,9% 8,9% 8,5% 7,5% -3% -8% -19% 21,8% 5,5% 9,1% 7,3% -41% -2% -21%

Entalla 23,7% +42% Entalla 27,6% +66%


Medido Medido/ teórico Medido Medido/ teórico
Figura 6. Distribución de fibras y variación respecto a la distribución uniforme teórica en las superficies de
fractura de HAC10 y HF10.

478
Alberti, Enfedaque e Gálvez

CONCLUSIONES

Las fibras de poliolefina de 60mm de longitud han sido aptas para la fabricación de hormigones
autocompactantes. Estos mantuvieron sus cualidades en estado fresco a pesar de las altas cuantias de
fibras usadas.

La adición de 10kg/m3 de fibras de poliolefina al hormigón proporciona una resistencia residual


postfisuración que cumple con las exigencias de la normativas existentes. Por lo tanto se puede tener
en cuenta la contribución de las fibras en el cálculo estructural.

Los hormigones reforzados con 10kg/m3 de fibras de poliolefina son muy adecuados para soportar
grandes deformaciones manteniendo la capacidad portante. Esto se ha comoprobado puesto que con
flechas de hasta 8mm en los ensayos de flexo-tracción se mantuvieron valores de carga semejantes a
los de 1mm de flecha.

Los hormigones con 10kg/m³ de fibras de poliolefina mantuvieron sus valores de módulo de
elasticidad y resistencia a tracción indirecta, si bien descendió ligeramente la resistencia a compresión.
El análisis de las superficies de fractura ha mostrado que el HAC10 mostró una distribución fue más
uniforme de fibras y un efecto pared menos acusado.

AGRADECIMENTOS

Los autores desean agradecer la colaboración de Sika a través de la Cátedra Universidad-Empresa


Sika-UPM. En particular, Marcos García Alberti agradece la beca doctoral otorgada.
Además, agradecen al Ministerio de Economía y competitividad la concesión del proyecto DPI2011-
24876.

REFERENCIAS

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2000.
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SFRC: technology, control criteria and recent applications in spain.,” Materials and Structures,
42(9), p. 1233–1246, 2009.
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[4] MC2010, fib Model Code for Concrete Structures 2010.International Federation for Concrete
(fib), Lausanne, Switzerland; Ernst & Sohn Verlag, Berlin, Germany, 2013.
[5] ACHE, Monografía M-13: Hormigón autocompactante: Diseño y aplicación, 2008.
[6] F. Laranjeira, A. Aguado, C. Molins, S. Grünewald, J. Walraven and S. Cavalaro, “Framework to
predict the orientation of fibers in FRC: a novel philosophy,” Cement and Concrete Research,
vol. 42(6), pp. 752-768, 2012.
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un hormigón autocompactante con fibras de poliolefina,” de Anales de Mecánica de la Fractura
30, 2013.
[8] M. G. Alberti, A. Enfedaque, J. C. Gálvez, M. F. Cánovas y I. R. Osorio, “Polyolefin fiber-
reinforced concrete enhanced with steel-hooked fibers in low proportions,” Materials & Design,
vol. 60, pp. 57-65, 2014.
[9] M. G. Alberti, A. Enfedaque y J. Gálvez, “On the mechanical properties and fracture behavior of
polyolefin fiber-reinforced self-compacting concrete,” Construction and Building Materials, vol.
55, pp. 274-288, 2014.

479
Variación de las propiedades mecánicas inducida por el flujo de hormigón autocompactante en un hormigón
reforzado con fibras de poliolefina

[10] EN 14651:2007+A1, Test method for metallic fibre concrete. Measuring the flexural tensile
strength (limit of proportionality (LOP), residual), 2007.
[11] EN 12350-8:2010, Testing fresh concrete. Part 8: Self-compacting concrete. Slump-flow test,
2010.
[12] EN 12350-9:2010, de Testing fresh concrete. Part 9: Self-compacting concrete. V-funnel test,
2010.
[13] EN 12350-2, Testing fresh concrete-Part 2: Slump test, European Committee for Standardization,
2002.
[14] EN 12390-3, “Testing hardened concrete. Part 3: Compressive strength of test specimens,” 2009.
[15] EN 12390-13, Testing hardened concrete - Part 13: Determination of secant modulus of elasticity
in compression, 2013.
[16] EN 12390-6, “Testing hardened concrete. Part 6. Tensile spliting strength of test specimens,”
2009.
[17] RILEM TC162-TDF, “Test and Design methods for Steel Fibre Reinforced Concrete: Bending
test (final recommendation).,” Materials and Structures, vol. 35, pp. 579-582, 2002.
[18] B. I. G. Barr, M. K. Lee, E. J. de Place Hansen, D. Dupont, E. Erdem, S. Schaerlaekens y L.
Vandewalle, “Round-robin analysis of the RILEM TC 162-TDF beam-bending test: Part 3—
Fibre distribution,” Materials and Structures, vol. 36(9), pp. 631-635, 2003.

480
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

Correlation between the Barcelona test and the three-point


bending test for the characterization of SCFRC

Eduardo Galeote1 Sergio H.P. Cavalaro2

Albert de la Fuente3 Ana Blanco4

ABSTRACT

Self-compacting concrete has proved itself to be a suitable solution in many scopes of construction
industry. Its higher performance and better flowability has allowed considering its use in new
applications. Nevertheless, the brittleness commonly associated to concrete is still present even though
it may be compensated with the use of fibres. Several methods included in different guidelines
propose tests in order to characterize fibre reinforced concrete, although some of them present some
drawbacks concerning the execution or material consumption. The goal of this document is to briefly
show the main characterization tests and provide an initial vision of the potential possibilities the use
of alternative tests may offer. In this study the three-point bending test, the Barcelona test and the
inductive method are described and correlated. In this concern, the results of an experimental
campaign which consisted of nine mixtures that included both steel and plastic fibres were analysed in
terms of correlating the results obtained between tests. Correlation factors above 0.85 were obtained,
proving that an approach to standardised methods by means of non-standardised tests is possible.

Keywords: SCFRC, bending test, Barcelona test, quality control, correlation.

1. INTRODUCTION

The increasing use of self-compacting fibre reinforced concrete (SCFRC) for construction purposes
requires reliable testing methods in order to guarantee the quality of the material. For this reason,
different codes and guidelines specify the requirements the concrete needs to satisfy by means of
specific tests. In fibre reinforced concrete (FRC) one of the most widely spread methods is the three-
point bending test, which is performed according to EN 14651. However, the results of this test
commonly show a high scatter, reaching values even above 20%. Furthermore, the size and the weight
of the specimens make them hard to handle and hinder the test procedure.

In this regard, it is worth noting the Barcelona test [1], [2] as an alternative method for FRC. This test
strongly reduces the scatter and simplifies the execution due to smaller and lighter specimens. Recent
research has allowed to substantially simplify this test by developing a new analytical model [3] based
1
Universitat Politècnica de Catalunya-BarcelonaTech, Departamento de Ingeniería de la Construcción, Barcelona, Spain.
galeoteme@gmail.com
2
Universitat Politècnica de Catalunya-BarcelonaTech, Departamento de Ingeniería de la Construcción, Barcelona, Spain.
sergio.pialarissi@upc.edu
3
Universitat Politècnica de Catalunya-BarcelonaTech, Departamento de Ingeniería de la Construcción, Barcelona, Spain.
albert.de.la.fuente@upc.edu
4
Universitat Politècnica de Catalunya-BarcelonaTech, Departamento de Ingeniería de la Construcción, Barcelona, Spain.
ana.blanco@upc.edu

481
Correlation between the Barcelona test and the three-point bending test for the characterization of SCFRC

on the mechanism of failure of the specimens. Additionally, the results of the Barcelona test can be
used to predict the behaviour of FRC by means of a constitutive model [4] specifically designed for
this test.

Despite the advantages the Barcelona test entails, the parameters of the current constitutive models for
FRC are obtained from bending tests [5]. Nevertheless, even though the test EN 14651 is the
recommended one for the characterization of FRC, alternative tests may be accepted if proven
correlation factors are used. Because of this, the aim of this paper is to determine a correlation
between both tests, contributing to the development of an improved quality control for SCFRC by
means of simple and reliable testing methods.

For that purpose, an experimental campaign involving Barcelona tests on 150 mm cubic specimens
and flexural tests on 150 x 150 x 600 mm beams was conducted. Nine dosages of SCFRC were
designed, including into their mixtures either steel or plastic fibres.

2. EXPERIMENTAL PROGRAM

2.1 Mixtures and specimen preparation

Nine concrete mixtures were designed at w/c ratios varying from 0.40 to 0.46. Seven dosages included
steel fibres in contents of 30, 45, 50 and 60 kg/m3, whereas the content of plastic fibres was stablished
at 3.5 kg/m3 for the two remaining mixtures. Superplasticizer was added in contents between 1.20-
1.69% and accelerator was used in the range of 2.00-3.33% (percentages by weight of cement). The
composition of the mixtures is described in detail as follows in Table 1.

Table 1. Proportioning of the mixtures fabricated [kg/m3].


Material D1 D2 D3 D4 D5 D6 D7 D8 D9
Filler - 40 40 40 40 40 - - -
Sand 1050 1050 1050 1050 1050 1050 1200 1200 1200
Fine Agg. 470 470 470 470 470 470 500 500 500
Coarse Agg. 250 250 250 250 250 250 200 200 200
Water 155 153 160 153 157 160 165 165 165
Cement 390 360 380 360 360 360 380 380 380
Fibres 50 50 50 3.5 3.5 50 30 45 60
Superplasticizer 1.23% 1.19% 1.00% 1.49% 1.20% 1.69% 1.40% 1.20% 1.20%
Accelerator - - - 3.33% - 3.33% 2.00% 2.00% 2.00%

2.2 Test procedure

Three beams for each mixture were produced and tested using the three-point bending test. A notch
was performed at the mid-span of each beam, weakening the central section of the specimen where the
load is applied. A CMOD (Crack Mouth Opening Displacement) transducer was installed at the notch
to measure the crack opening of the specimen while the load was being applied. The speed of loading
during the test was 0.05 mm/min until the crack opening reached 0.1 mm. Afterwards, the speed was
increased to 0.2 mm/min until a crack opening of 4 mm was achieved, point at which the test was
considered to be finished.

Once the beams were tested, the crack produced during the test divided each beam into two pieces. By
cutting each of these two parts, two 150 mm cubic specimens were obtained from each beam. The
beams were cut 10 cm away from the centre of the sample in an attempt to eliminate the possible
influence of the crack produced by the bending test. A new cut was performed 5 cm away from the
edge of the specimen as a way to eliminate the wall-effect. This has led to obtaining 54 extracted

482
Galeote, Cavalaro, de la Fuente e Blanco

specimens. Additionally, 6 cubic specimens per dosage were casted in 150 mm cubic moulds,
increasing to 108 the total amount of cubic specimens.

The inductive method [6], [7] was conducted on both cut and casted specimens with steel fibres. A
coil was used in order to measure the impedance variation produced by the fibres. By spinning the
specimens around the three main axes, the orientation number may be calculated for each direction as
well as the quantity of fibres inside of the specimen [7].

The Barcelona test for cubic specimens [2] was used to determine the post-cracking behaviour in
SCFRC. Two cylindrical punches arranged concentrically above and below the specimen transmit the
load at a speed rate of displacement of the piston jack of 0.5 mm/min. Unlike the standardised
Barcelona test (UNE 83515), the chain gage cannot be used to control the test due to the cubic
geometry of the specimen. Instead, the test must be controlled using the axial displacement [3]. The
setups of the three tests described are shown in Figure 1.

a) b) c)
Figure 1. a) Bending test, b) inductive method and c) Barcelona test.

3. CORRELATION ANALYSIS

3.1 Type of specimen

The cubic specimens used to perform the Barcelona and the inductive tests in this experimental
campaign were cut or casted. Due to the origin of the specimens, fibres were found to be oriented
differently in each kind of specimen. The orientation of the fibres inside the concrete has a great
influence on the behaviour of the material [8] as its efficiency can decrease to a 30% when randomly
distributed [9], [10]. Figure 2 shows the orientation and the schematic position of steel fibres in the
direction of the Cartesian axes. In both types of specimens axes X and Y correspond to the horizontal
plane, whereas the axis Z corresponds to the vertical direction or the direction of pouring. In the case
of cut specimens, axis X matches the longitudinal axis of the beams.

a) b)
Figure 2. Orientation in a) cut specimens and b) casted specimens.

A clear trend of the fibres towards an orientation in the horizontal plane was found in cut and casted
specimens. The total amount of fibres oriented in the horizontal plane raised to a percentage around
80% in both cases. This effect may be attributed to the external vibration during the production of
concrete, which limits to only a 20% the fibres oriented in the vertical direction.

In cut specimens fibres are preferentially aligned to the axis X. Assuming the moulds of the beams as
confined elements, the flow of concrete while pouring them shows a distribution of forces and speed
that may be identified with a parabolic law [9], [11] (Fig. 3). This causes that the torque produced by
the concrete make fibres rotate and align themselves in the direction of the flow.

483
Correlation between the Barcelona test and the three-point bending test for the characterization of SCFRC

Figure 3. Mechanism of fibre orientation in a confined flow [12].

The mechanical performance obtained in the Barcelona tests conducted on both types of specimens is
shown in Figure 4. Due to the setup of the test, the crack is always produced in a plane perpendicular
to the horizontal. Even though fibres are responsible of the post-cracking behaviour of SCFRC in
terms of the amount of fibres sewing the crack produced, no significant differences were found
between both kinds of specimens. This may be attributed to the fact that almost the same percentage of
fibres is found in the horizontal plane for both kinds of specimens. Consequently, both cut and casted
specimens can be used indistinctly at the analysis.

Figure 4. Mechanical performance in Barcelona test in cut and casted specimens.

3.2 Preliminary analysis and results

The analysis of the correlation between both tests involved parameters related with the mechanical
performance and the quantity of fibres. As the post-cracking behaviour in SCFRC is one of the most
relevant aspects, the analysis focused on delving specifically into it. For the beam test, and in order to
consider the same parameters stablished at the standard, the most suitable results taken into account to
correlate were the loads at four different crack openings.

Among all the parameters which are directly obtained or may be calculated after the execution of the
Barcelona test, only one has been found to fit best the correlation. This has been the load at a
displacement of the jack of 1.5 mm after the peak value. Nevertheless, the more parameters involved
in the correlation, the better the equation will fit the results. Hence, taking into account the major
importance of the quantity of fibres, it was considered their influence should not be neglected. For this
reason, either assessed with the inductive method for steel fibres or considering the theoretical content
for plastic fibres, the quantity of fibres into the specimen was also introduced at the study.

Table 2 shows the experimental results used at the correlation analysis. The parameters show the
values of quantity of fibres, load at the Barcelona test and the load at the bending test. Each data set is
identified with the dosage it corresponds to.

An in depth analysis by means of some software has prompted the obtaining of an equation which
allows calculating the load of the bending test out of the Barcelona and the inductive test. Eq. (1)
shows the expression used to calculate the parameter sought. There is a concern on the selected
equation for a balance between its ease of use and simplicity and a good adjustment of the data.
(1)

484
Galeote, Cavalaro, de la Fuente e Blanco

Table 2. Data used at the analysis of correlation [kN].


Dosage Vf LBCN, 1.5 Lb, 0.5 Lb, 1.5 Lb, 2.5 Lb, 3.5
D1 49.82 71.36 16.04 17.52 17.15 16.24
D2 42.73 52.88 14.79 14.42 12.66 11.67
D3 39.60 54.06 14.48 13.42 11.18 9.30
D4 3.50 20.55 1.32 1.46 1.60 1.61
D5 3.50 18.74 1.55 1.71 1.88 1.93
D6 52.02 90.72 17.26 16.52 14.20 11.13
D7 42.94 68.49 8.98 8.78 8.19 7.79
D8 56.73 77.27 12.85 15.40 14.81 13.74
D9 68.63 118.93 22.45 23.57 22.33 20.00

Where Lb, i is the load of the bending test at a crack opening i, LBCN, 1.5 is the load of the Barcelona test
at a displacement of the jack of 1.5 mm, Vf is the quantity of fibres for each dosage and A and B are
adjustment constants. The load corresponding to the Barcelona test is calculated considering the peak
load as the initial displacement, which implies eliminating the elastic stage of the test output. The
quantity of fibres is calculated as described in [7]. The values of A and B can be calculated and
generalised for any crack opening i by the empirical parabolic laws shown in Eqs (2) and (3).
(2)
(3)

3.3 Discussion of correlations

The estimated load corresponding to the bending test calculated by means of the equation proposed
has been linearly correlated with the experimental results. This has led to four different correlations
considering the four crack openings mentioned before. Even though the main amount of dosages
include steel fibres, a joint analysis with plastic fibres has been considered adequate in order to obtain
generalised results for both types of fibre.

Further analysis has been conducted in order to stablish an interval of confidence with the purpose of
providing more sensitivity and avoid outliers due to the scatter of the results. These intervals have
been calculated on the basis of a normal statistical distribution. The values under study to stablish de
upper and the lower limit were the difference between the theoretical values obtained from Eq. (1) and
the real value from the experimental campaign. Figure 5 shows both the correlation coefficients and
the intervals of confidence calculated, representing the theoretical loads in abscissae and the real
values in ordinates.

Results show a high degree of linear association between both the experimental and the calculated
parameters. Correlation coefficients have been found to be higher than 0.85, reaching values up to
0.91 in the case of a crack opening of 1.5 and 2.5 mm. However, no theoretical basis is presented to
justify the accuracy of the method.

An interval of confidence was calculated in each case to represent the results with a 95% of
probability of being adjusted to the theoretical value calculated through Eq. (1). Table 3 shows the
upper and the lower limits of the intervals for each crack opening considered at the analysis.

Table 3. Confidence intervals at different crack openings [kN].


Probability IC, 0.5 IC, 1.5 IC, 2.5 IC, 3.5
95% +1.5 +1.3 +1.2 +1.1
50% 0 0 0 0
5% -1.5 -1. 3 -1.2 -1.1

485
Correlation between the Barcelona test and the three-point bending test for the characterization of SCFRC

a) b)

c) d)

Figure 5. Correlation coefficients and intervals of confidence for bending loads at different crack
openings.

These loads represent the upper and the lower range values that can be added or substracted from the
results calculated with the equation proposed. Note that the highest range of variation is ±1.5 kN,
which entails an acceptable ratio considering that this result is around a 10% of the average of the
loads obtained at the post-cracking behaviour.

CONCLUSIONS

This study analysed the possibility of a new methodology to characterize self-compacting fibre
reinforced concrete. Nine types of concrete blended with steel fibres in contents of 30, 45, 50 and 60
kg/m3 and plastic fibres in a content of 3.5 kg/m3 were prepared. Beams were tested under the three-
point bending test, whereas the Barcelona test and the inductive method to assess the orientation and
quantity of fibres were performed on 150 mm cubic specimens.

In cut specimens, fibres align preferentially in the direction of the flow when pouring the beams cut
specimens are extracted from. Despite of the differences in the orientation of the fibres, both cut and
casted specimens were found to be suitable for their joint analysis. The correlation proposed allows
calculating the results of the bending test out of two tests using data that can be quickly obtained. The
following conclusions can be drawn from the study performed:

 A simple equation was obtained to calculate the post-cracking behaviour determined by a


three-point bending test with correlation coefficents between 0.85 and 0.91. Results at any
crack opening can be calculated by adjusting two constants included in the equation proposed.

 An interval of confidence allows an adjustment of the data with maximum differences in the
load of 1.5 kN (0.5 MPa). These confidence intervals determine the error rate which might be
produced with respect to the average value. Moreover, they can be used as a method to adjust
the results upwards or downwards depending on the degree of adjustment desired by the user.

486
Galeote, Cavalaro, de la Fuente e Blanco

ACKNOWLEDGEMENTS

The authors acknowledge the financial support of the Spanish Ministry of Science and Innovation
(MICINN) in the scope of the project FIBHAC (IPT-2011-1613-420000). The first author
acknowledges the grant FPU provided by the Spanish Ministry of Education, Culture and Sport.

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de Catalunya, Doctoral Thesis.

487
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

La influencia de la escoria granulada de alto horno como


reemplazo parcial del árido fino en la durabilidad de los
hormigones autocompactantes

I. Miñano 1 M. Valcuende 2 C. Parra 3

C. Rodríguez 1 F.J. Benito 1

RESUMEN

El objetivo del trabajo experimental es estudiar la durabilidad de hormigones autocompactantes


(HAC) en los que se ha remplazado parte del árido calizo por escorias siderúrgicas granuladas de alto
horno (EGAH) en diferentes porcentajes, entre el 0% y el 50%. Al utilizar escoria como árido se
recicla un residuo y se reduce el consumo de recursos naturales, permitiendo una construcción más
sostenible. Ahora bien, al utilizar EGAH puede haber una modificación de las prestaciones mecánicas
y de la durabilidad del hormigón debido a la hidratación a largo plazo de estas escorias.

A edades tempranas se ha obtenido que morteros con escorias como materia cementante tienden a dar
resistencias a compresión más bajas debidas a su lenta hidratación, si bien a largo plazo su resistencia
aumenta debido a la reactividad de las escorias. De hecho, a la edad de 365 días, los morteros
fabricados con sustitución del 50% de cemento por EGAH molida alcanzan una resistencia a
compresión similar a la del mortero fabricado con el 100% del cemento. El consumo de hidróxido
cálcico durante la hidratación de la EGAH y la formación de CSH mejoran las propiedades mecánicas
de la interfaz escoria-pasta, con el relleno de la red capilar.

En morteros analizados con microscopia electrónica de barrido se obtiene una concentración de


átomos de Al y Mg en la interfaz escoria-pasta, lo que demuestra que se ha producido una difusión de
los compuestos de la escoria hacia la pasta. Las mayores concentraciones se alcanzan en una franja de
unas 5 µm en torno a la EGAH.

Se realizó el ensayos de penetración de agua bajo presión, de iones cloruros y el de penetración de


carbonatación para analizar el comportamiento de los hormigones autocompactantes en función del
remplazo.

Como conclusión general, la escoria afecta positivamente a la durabilidad cuando se usa como árido
fino en los hormigones autocompactantes. Con la utilización de la escoria se reduce la explotación de
canteras de árido calizo, se da salida a un subproducto industrial y se consigues mejoras en la

1
Centro Tecnológico de la Construcción Región de Murcia, 30820, Alcantarilla, España. isabelminano@ctcon-rm.com
2
Departamento de Construcciones Arquitectónicas. Univ. Politécnica de Valencia. Valencia, España. mvalcuen@csa.upv.es
3
Departamento de Arquitectura y Tecnología de Edificación, Univ. Polit. de Cartagena, 30203, España. carlos.parra@upct.es

489
La influencia de la escoria granulada de alto horno como reemplazo parcial del árido fino en la durabilidad de
los hormigones autocompactantes

durabilidad de las estructuras de hormigón, lo que podría alargar la vida útil de estas. Todo ello se
traduce en un menor impacto medioambiental de las estructuras.

Palabras clave: hormigón autocompactante, escoria, durabilidad, ión cloruro y carbonatación.

1. INTRODUCCIÓN

El alto consumo de recursos naturales, la producción de gran cantidad de residuos industriales y la


contaminación del medio ambiente requieren una especial atención si se quiere conseguir un desarrollo
sostenible.

La industria del cemento genera aproximadamente el 5% de las emisiones de CO2 en el mundo.


Estimaciones sobre el uso del hormigón, llegan a cuantificarlo hasta en 30 millones de toneladas por
año, considerándolo como la mayor producción de productos manufacturados [1].

Sustituciones del árido natural por materiales reciclados o residuos permiten reducir la emisión de
CO2e (huella de carbono) en la fabricación de los hormigones. Además, si se consigue alargar la vida
útil de las estructuras, sobre todo por la mayor durabilidad de éstas, se obtienen mejoras ambientales
significativas. Este uso de materiales reciclados o residuos como árido en los hormigones permite
reducir la acumulación de los mismos en vertederos [2].

Durante los últimos años se ha extendido el empleo de hormigones especiales, debido, sin duda, a sus
ventajas medioambientales y técnicas. Uno de los hormigones más interesantes es el hormigón
autocompactante ecológico (Eco_HAC). Estos hormigones presentan un menor consumo energético
durante su ejecución y plantean la posibilidad de minimizar el consumo de cemento mediante el
empleo de adiciones tales como escorias, finos calizos y cenizas volantes. Además, el uso de las
escorias como árido plantea nuevas alternativas sostenibles en los hormigones.

La escoria granulada de alto horno se produce como consecuencia de la reducción del mineral de
hierro en los altos hornos. Considerada como un desecho industrial que contamina el ambiente.
Resulta interesante lograr una aplicación diferente a la que en la actualidad se está dando. Se usa
fundamentalmente en la industria cementera (72%) y en carreteras (27%). En la actualidad, ha
disminuido la fabricación de cementos y construcción de carreteras, por lo que se origina un exceso de
EGAH.

El carácter reactivo de las EGAH puede dar lugar a una microestructura mucho más densa [3, 4],
debido a que las reacciones similares a las puzolánicas contribuyen a reducir el contenido de
portlandita en la matriz de cemento e incrementar el contenido de silicatos de calcio hidratado (CSH).
Estas reacciones también conducen a cambios en la red capilar, en la porosidad del hormigón y en la
zona de transición interfacial [5]. Estos cambios pueden conducir a modificar el comportamiento
frente a las propiedades mecánicas y de durabilidad en los HAC. Además, los HAC presentan, en
general, una microestructura porosa más fina y más tortuosa que los hormigones tradiciones vibrados
por un mejor empaquetamiento de las partículas. Estos dos aspectos, mayor finura y mayor
tortuosidad, permiten justificar la menor permeabilidad de los HAC [5].

Por todo ello, el objetivo que se plantea en este trabajo experimental es estudiar la microestructura y la
durabilidad de HAC con EGAH como árido fino, con cementos con bajo contenido de clínker para
aumenta la sostenibilidad de los hormigones. Con ello, ecológicamente el beneficio es doble. Se da
salida a un subproducto industrial, cuyo almacenamiento y tratamiento crea serios problemas al medio
ambientales y alto costo económico. Por otro lado, se reduce la cantidad de árido natural utilizado en
la dosificación, con el consiguiente ahorro de recursos naturales, emisiones contaminantes a la
atmósfera y energía necesaria para su extracción. Además, la producción de HAC con cemento CEM
II /B-M (S-L) 42,5R, con una cantidad de clínker de 274 kg/m3 y la aplicación de materiales de relleno
secundarios como escorias molidas y finos calizos (115 Kg/m3), reducen la emisiones de CO2 a la

490
Benito, Valcuende, Parra, Rodríguez e Miñano

atmosfera. Investigaciones anteriores han demostrado que la escoria granulada de alto horno empleada
como árido fino mejora la durabilidad de los hormigones convencionales vibrados [1,3].

2. PROGRAMA EXPERIMENTAL

2.1 Materiales
Se fabricaron seis tipos de hormigones autocompactantes: uno de referencia (H-0) y cinco con
diferentes sustituciones del árido fino por escoria (10%, 20%, 30%, 40% y 50%). Todos ellos fueron
fabricadas con una relación a/c 0.55. En la tabla 1 se muestran las características de cada mezcla.

Todas las mezclas estudiadas se fabricaron con 375 kg/m3 de cemento CEM II/B-M (S-L) 42,5R
(composición del cemento (%) Clinker (K) 73% Caliza (L) 12%, Escoria (S) 15%) y 25 kg/m3 de
cenizas volantes. El esqueleto granular está constituido por tres fracciones de árido calizo de
machaqueo: una grava 4/12 mm, una arena gruesa 0/4 mm y una arena fina 0/2 mm, con un contenido
de finos (partículas< 0,063 mm) del 1,0%, 12,0% y 17,1%, respectivamente (Fig. 1). En los
hormigones con escoria se sustituyó parte de la arena fina por escoria de fracción granulométrica 0/2
mm. La escoria granulada de alto horno utilizada tiene un alto contenido en SiO2 y CaO, siendo de
naturaleza básica, con una relación CaO/SiO2 igual a 1,31. A los hormigones con EGAH se les añadió
filler calizo para compensar la carencia de finos de ésta. Todos los hormigones presentan en estado
fresco una buena trabajabilidad, con resultados en el ensayo de escurrimiento de f igual a
700±30mm y con T500 de 1 a 3,4 segundos, y una buena resistencia a la segregación. El aditivo
utilizado era una base de policarboxilato superplastificante (Viscocrete 3425).

Figura 1.Curvas granulométricas de los diferentes áridos.

La EGAH está formada por pequeñas partículas alveolares con aristas cortantes. Los granos de la
escoria tienen forma angulosa y presentan esfericidad media. En la micrografía de la Figura2 las
partículas pequeñas y/o fragmentos de la EGAH se puede observar su estado traslucido por efectos de
su vitrificación.

00 1mm
1mm 2mm
2mm 0 1mm 2mm

Figura.2.Micrografías de unas muestras de escoria granulada de alto horno.

491
La influencia de la escoria granulada de alto horno como reemplazo parcial del árido fino en la durabilidad de
los hormigones autocompactantes

En la Tabla 1, en la fila “Filler calizo” se indica los finos calizos adicionados para compensar la
pérdida de finos que se produce al sustituir las arenas por escoria. La finalidad es obtener cantidades
de fracciones menores a 0,85 mm muy similares entre los diferentes HAC (Tabla 1 y Fig. 3).

Tabla 1. Dosificación de los hormigones


Mezcla Arena Arena Grava Árido Material Filler Superplast. Agua Cantidad %
caliza caliza (4/12) - cementante calizo kg/m3 l/m3 de finos Total<0,85mm
(0/4) (0/2) kg/m3 EGAH Cemento Ceniza kg/m3 de arena
kg/m3 kg/m3 (0/2) kg/m3 volante + filler:
kg/m3 kg/m3 <0,85mm
(Kg/m3)
H-0 861.3 274.1 656.6 0.0 375 25 0.0 4,4 220 241,70 100,0%
H-10 870.3 159.0 656.8 100.0 375 25 32.5 4,2 220 244,92 101,3%
H-20 873.2 44.7 656.3 199.1 375 25 64.7 4,0 220 246,90 102,1%
H-30 794.6 0.0 656.3 303.1 375 25 91.5 4,6 220 246,21 101,9%
H-40 686.2 0.0 656.3 410.5 375 25 114.6 4,8 220 248,26 102,7%
H-50 560.1 0.0 655.7 515.2 375 25 137.0 7,2 220 246,09 101,8%

Figura 3. Cantidad de finos calizos (de las arenas y adicionados) por m3 de cada HAC.

2.2 Ensayos de resistencia a compresión en morteros con escoria

Con el fin de estudiar la actividad hidráulica de la escoria, se fabricaron 4 morteros con dosificación
de referencia 1:3:0,5 (cemento Portland Tipo I:arena:agua): uno de referencia sin escoria (M-1), otro
en el que se sustituyó la mitad del cemento por filler calizo (M-3), otro en el que se sustituyó la mitad
del cemento por escoria molida de granulometría similar a la del filler (M-4) y finalmente otro sólo
con la mitad de cemento, sin añadir ni filler calizo ni escoria (M-2). Las probetas se ensayaron a las
edades de 2, 7, 28, 90 y 365 días. Se realizaron tres lotes de cada mezcla. Se realizaron dos muestras
de cada lote, el resultado de cada prueba, siendo la media aritmética de los seis valores obtenidos.

2.3 Ensayos de penetración de agua bajo presión, profundidad de carbonatación y


ataque del ión cloruro

-Penetracion de agua bajo presión. Las probetas de HAC se mantuvieron en la cámara de curado con
una humedad del 95±5 %, y a una temperatura de 20±2 ºC hasta la edad de 90 días. Dos probetas
cilindricas por dosificación se sometieron a los ensayos de penetración de agua (UNE-EN 12390-8).
-Profundidad de carbonatación acelerada.El ataque de CO2 a las probetas se realizó en una cámara
climática con un 1% de CO2 a una temperatura de 21 ± 2 ºC y una humedad relativa de 60 ± 10 % (Fig.
4). Para medir la profundidad de carbonatación, las probetas prismáticas de 100x100x400 mm se
cortaron transversamente con un cincel a la edad de 56 días. Sobre la cara interna de una porción de

492
Benito, Valcuende, Parra, Rodríguez e Miñano

aproximadamente 5 cm de espesor se atomizó mediante un rociador el indicador fenolftaleína. Se


midió la profundidad de ataque siguiendo las indicaciones de la UNE EN 13295.

Figura 4. Probetas en el interior de la cámara climática y proceso de obtención de la muestra.

-Penetración de iones cloruro. El ensayo de penetración de iones cloruros se ha realizado según la


norma AASHTO T259. Las probetas de 100x100x400mm se introdujeron en la cámara de curado
durante 14 días y en cámara de secado hasta los 28 días de edad (Fig 5). A la edad de 42 días se añade
la solución de cloruro sódico al 3 %. A la edad de 56 días se corta una rodaja sobre la que se atomiza
una solución de nitrato de plata y se mide la profundidad de penetración de iones cloruros en función
de la tonalidad del hormigón.. Las zonas que contienen cloruros apenas varia su color, el resto de la
superficie, toma un color pardo negruzco a las 24h aproximadamente.

Figura 5. Probetas en el interior de la cámara secado

3. RESULTADO Y DISCUSIÓN
3.1 Reactividad de la escoria finamente molida

Las escorias utilizadas en este trabajo presentan un índice de basicidad CaO/SiO2 igual a 1,31 y, por
lo tanto, son potencialmente hidráulicas [6]. Esta reactividad de la escoria también se aprecia en el
ensayo de difracción de rayos X (Fig. 6) ya que el difractograma obtenido es característico de una
escoria amorfa, donde casi no hay picos de minerales cristalinos, pero si una joroba entorno a los 30
grados (2Theta). Este ángulo corresponde al pico principal de melilite que es el principal mineral de la
escoria cristalizado. Los pequeños picos que se detectan son de calcita (CaCO3) y mullita
(3Al2O32SiO2).

493
La influencia de la escoria granulada de alto horno como reemplazo parcial del árido fino en la durabilidad de
los hormigones autocompactantes

Figura 6.Difractograma de Rayos X de la EGAH.

Para comprobar la actividad hidráulica de la escoria se fabricaron varios tipos de morteros con distinto
contenido de escorias que se rompieron a compresión a distintas edades. Tal y como se observa en la
figura 6, el mortero fabricado con un 50% menos de cemento (M-2) que el del mortero patrón (M-1)
presenta, como era de esperar, una gran pérdida de resistencia, del orden del 77%. No obstante, si la
parte de cemento eliminado se sustituye por finos calizos (M-3), la pérdida de resistencia no es tan
importante, ya que los finos ocupan los espacios disponibles y hacen la distribución de partículas más
ancha, proporcionando una matriz cementante más densa (efecto filler). Algunos autores señalan
también que pequeñas cantidades de adiciones de piedra caliza aumentan el volumen de los sólidos en
cementos hidratados [7]. Por otro lado, se puede ver que a edades tempranas la pérdida de resistencia
es algo menor porque los finos calizos acelera la hidratación del cemento al proporcionar superficie
adicional para la nucleación y crecimiento de productos de hidratación [8, 9]. A edades más avanzadas
este efecto deja de ser relevante. Así, por ejemplo, a la edad de 2 días, la pérdida de resistencia en
relación al mortero patrón es del 52% y sin embargo a las edades de 28, 90 y 365 días, la pérdida de
resistencia se mantiene prácticamente constante, del orden del 62%.

En la figura 7 también se aprecia que la resistencia del mortero con escoria (M-4) es muy superior a la
del mortero con finos calizos, siendo las diferencias entre ellos mayores cuanto mayor es la edad de las
probetas. Es decir, la escoria finamente molida, además de rellenar huecos y de actuar como centros de
nucleación (como los finos calizos), es claramente reactiva. La hidratación de la escoria es bastante
lenta, pues a edades tempranas gran parte de la escoria permanece inerte, siendo la resistencia del
mortero a la edad de 2 días del orden del 50% de la resistencia del mortero patrón (mortero con 100%
de cemento, M-1). No obstante, con el paso del tiempo las reacciones de hidratación progresan y se
forman silicatos cálcicos hidratados, alcanzándose al cabo de un año resistencias iguales a las del
mortero patrón.

Figura 7. Resistencias a compresión de los morteros (2, 7, 28, 90 y 365 días).

Por otro lado, se realizó un estudio de la interfaz árido-pasta con ensayos de microscopia electrónica
de barrido a diferentes edades con el objeto de ver la evolución de la reactividad de la escoria y la

494
Benito, Valcuende, Parra, Rodríguez e Miñano

participación de ésta en la fase resistente de la microestructura y en el posible relleno de la red capilar


con nuevos silicatos hidratados. En la figura 8 se muestra la interfaz EGAH-pasta a 28 y 120 días (a
1.300 aumentos) y sus análisis comparativos de la composición de elementos significativos (Ca, Mg,
Al y Si). Se detecta una franja de mayor concentración de átomos de Al y Mg en torno a las particulas
de EGAH, producida por la migración de compuestos de la escoria a la interfaz. Esta franja de mayor
concentracción es de unas 2,5 µm de anchura a los 28 días y de 5 µm a los 120 (Fig. 8). La presencia
de Al y Mg en la interfaz escoria-pasta es muy significativo para determinar la reactividad de la
EGAH por la casi nula presencia de estos elementos en la composición original de la pasta. En este
análisis y en la representación del mapping de la figura 9 se puede observar, en amarillo, la mayor
presencia de atomos de Magnesio en la zona de la interfaz más proxima a la EGAH. Según Zhang et
al. (1988), la solubilidad de la escoria y, por lo tanto, su reactividad frente al agua u otras sustancias de
activación, depende del grado de polimerización de los tetraedros (SiO2) y de la combinación del Al y
del Mg en la fase vítrea de la escoria.

Figura.8.Izquierda, imágenes SEM de la interfaz a 1.300 aumentos y a su derecha sus análisis de la composición.
Arriba a 28 días y abajo a 120 días.

Figura 9. Imagen SEM de la interfaz a 5.000 aumentos a los 28 días y representación del mapping de átomos de
Mg en la interfaz (franja de 2,5 µm en amarillo).

3.2 Ensayos de penetración de agua bajo presión

En la Figura 10 se muestran los valores obtenidos a 90 dias, tanto las profundidades medias como las
máximas para cada pareja de probetas analizadas. De los resltados se desprende que con el aumentos
de la cantidad de EGAH utilizada como arido fino, menor es la profundidad que alcanza el agua bajo
presión. Esto es debido principalemnte a la hidratación de la escoria a edades posteriores a la del

495
La influencia de la escoria granulada de alto horno como reemplazo parcial del árido fino en la durabilidad de
los hormigones autocompactantes

cementos portland, como ha quedado constatado los ensayos anteriores. Esta hidtatación produce un
relleno de la red capilar incial, pudiendo llegar a su segmentación, lo que dificulta la penetración del
agua. Los hormigones con mayor catidad de arido fino sustituido por EGAH (H-30, H-40 y H-50)
reducen la penetración maxima por encima de un 30% con respectos al hormigon de referencia(H-0).
En el caso concreto, del H-50 se obtiene una profundida media de 11mm, frente a los 20mm del H-0,
lo que supone una reducción de profundidad del 45% (figura 10).

Figura 10. Valores de profundidad máxima y media para las diferentes HAC.

Las penetraciones máximas, ajusta perfectamente con la catidad de EGAH utilizada en los HAC (ver
Figura 10) con R2=0,97. La EGAH, como se ha visto en anteriores apartados forma nuevos
compuestos hidratados con el paso del tiempo y produce un refinamiento y/o seccionamiento de la red
porosa lo que dificulta la penetración del agua, incluso bajo presión.

H-0
H-10
H-20
H-30
H-40
H-50

Figura 11. Relación entre la cantidad de EGAH y profundidad máxima de penetración de agua a 90 días.

La activación de la EGAH por los álcalis del cemento (hidróxido de calcio) produce una disminución
del tamaño de los poros debido a la formación de productos secundarios de hidratación
(principalmente silicato de calcio hidratado) que rellenan parte de los poros de la interfaz escoria-
pasta, lo que hace que penetración al agua bajo presión disminuya con el incremento de EGAH en los
hormigones autocompactantes. Por otro lado, se reducen los focos y el tamaño de los cristales de
hidróxido de calcio, fortaleciendo la pasta de cemento, y sobre todo la interfaz árido-pasta y, por tanto,
mejorando las propiedades de durabilidad del hormigón.
El contenido de finos utilizado en las sustituciones de EGAH pueden formar una matriz cementante
más densa (ocupan los espacios entre las partículas de cemento, disminuyendo los huecos a ocupar por
el agua), actuando los finos como centros de nucleación de los hidratos formados durante las
reacciones de hidratación [2]. Pudiendo ser este motivo, junto al refinamiento de los poros, por la
hidratación de la EGAH, lo que explique los resultados obtenidos.

3.3 Profundidad de carbonatación y ataque del ión cloruro

En la figura 12 se muestran la profundidad de carbonatación de cada hormigón a la edad de 56 días.


De forma similar a lo descrito en el ensayo de penetración de agua bajo presión, con la hidratación de
la escoria se rellena la capilaridad inicial, haciéndose más tortuosa la red capilar, lo que dificulta la

496
Benito, Valcuende, Parra, Rodríguez e Miñano

penetración de líquidos y gases en los hormigones. Con la utilización de EGAH como árido fino se
obtienen menores profundidades de carbonatación (Fig. 12). Estas mejoras llegan al 16% en el H-50
frente al H-0 de referencia.

El consumo de hidróxido de calcio liberado en la reacción de cemento Portland por la hidratación de


la EGAH reduce la posibilidad de su lixiviación en presencia de agua y disminuye la porosidad de la
matriz de la pasta de cemento. Con el uso de la EGAH y su consumo de Ca(OH) 2 disminuye la
reacción álcali-árido al bajar la alcalinidad del hormigón [10]. Con el descenso de la alcalinidad de la
pasta de cemento baja la capacidad de fijar CO2 por el hormigón (menos carbonatación al contar con
menos portlandita para formar carbonato cálcico). Este efecto de menor carbonatación se ve
potenciado en la figura 12, a medida que se va sustituyendo el árido fino por la escoria disminuye la
profundidad de carbonatación.

Figura 12. Profundidad de carbonatación a 56 días.

En la figura 13 se muestran los resultados medios obtenidos a 56 días. En este caso la penetración de
iones cloruros disminuye con el aumento de la EGAH utilizada en los HAC.

Figura 13. Profundidad de penetración de iones cloruros a 56 días

La EGAH es un árido reactivo, esta mejorar la zona transición árido-pasta introduciendo uniones
químicas entre él y la pasta, a este respecto, sirvan como conclusiones específicas lo comentado en el
apartado 3.1. La interacción química entre la disolución del poro de cemento y la escoria granulada de
alto horno, termina por provocarles sobre sus superficies nuevas partículas, de otra fase solida
diferente o producto resultante de su reacción química. En la figura 8 (SEM) la pasta es más rica en Si
cuanto mayor es su proximidad a la superficie de las partículas de árido (EGAH), lo que unido a la
alteración química que se produce en las superficies de estos áridos, de carácter químico, desde un
punto físico-químico y mecánico, hace finalmente, que la interfase se comporte como una unión
fuerte, lo que conlleva a mejorar la durabilidad. En la investigación se constata que con el
incrementando de la hidratación de la EGAH resulta una mayor cantidad de gel de sílice que
polimeriza densificando la matriz, disminuyendo la porosidad, lo que mejora la durabilidad.

497
La influencia de la escoria granulada de alto horno como reemplazo parcial del árido fino en la durabilidad de
los hormigones autocompactantes

CONCLUSIONES

De acuerdo con el trabajo experimental realizado, se pueden establecer las siguientes conclusiones:

1.-Se ha constatado la participación de la EGAH en la formación de productos hidratados (CSH) de la


pasta. A la edad de 365 días, el mortero con sustitución del 50% de cemento por EGAH molida
alcanza una resistencia a compresión similar a la del mortero de referencia, con el 100% del cemento.

2.-Las propiedades mecánicas de la interfaz escoria-pasta han mejorado por la hidratación de la


escoria. Se consume hidróxido cálcico, de menor adherencia y resistencia que el CSH, y se forma más
CSH.

3.-A 120 días se obtiene la mayor concentración de átomos de Al y Mg en la interfaz escoria-pasta, en


una franja de unas 5 µm en torno a la EGAH.

4.- Los HAC con mayor contenido de escorias presentan un mejor comportamiento frente al ataque de
CO2. A los 56 días, la mayor penetración de carbonatación se encontraron en el HAC de referencia, el
cual mostro una penetración superior al 16% respecto al HAC con un 50% de remplazo parcial de
árido fino natural por escoria.

REFERENCIAS

[1] Gettu,R., Jayasree, C., John,E., Bhaskar, S., Eshete, B., Vinayak, S. (2012). Effective use of
superplasticizers for sustainable concrete. Sinco 2012, 5º simposio internacional sobre
hormigones especiales. Fortaleza, Brasil.
[2] Miñano, I., Parra, C., Valcuende, M., Benito, F.J. (2012b). Influencia de los finos en la difusión
del ión cloruro en los hormigones autocompactantes. Sinco 2012, 5º simposio internacional sobre
hormigones especiales. Fortaleza, Brasil.
[3] Yuksel, I.; Bilir, T. Y Ozkan, O. (2007). Durability of concrete incorporating non-ground blast
furnace slag and bottom ash as fine aggregate. Building and Environment, 42, 2651-2659.
[4] BILIR, T. (2012). Effects of non-ground slag and bottom ash as fine aggregate on concrete.
Construction and Building Materials, v.26, 1.
[5] Valcuende, M., Parra, C. Y Gomez, F. (2011). Splitting tensile strength and modulus of elasticity
of self-compacting concrete. Construction and Building Materials. Vol. 25, 1, pp 201–207.
[6] Puertas F. (1993). Escorias de alto horno: composición y comportamiento hidráulico. Mater
Constr 2003, 43:37-48.
[7] Matschei T, Lothenbach B, Glasser FP. (2007). The role of calcium carbonate in cement
hydration. Cem Concr Res 2007; 37(4): 551-558.
[8] Bosiljkov VB. (2003). SCC mixes with poorly graded aggregate and high volume of limestone
filler. Cement and Concrete Research 2003;33(9): 1279-1286.
[9] Ye G, Xiu X, De Schutter G, Poppe AM (2007). Taerwe L. Influence of limestone powder as
filler in SCC on hydration and microstructure of cement pastes. Cement and Concrete Composites
2007;29(2): 94-102.
[10] Mehta P. K. and Monteiro, P.J.M. (2008). Concrete- Estructura. Propiedades y materiales. EE
UU. Ed. Mc Graw Will.

498
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

Influência do efeito de exposições ambientais no comportamento


pós-fissurado de um BAC reforçado com fibras de aço

Gonçalo Vítor M.C.F. José Sena-


Escusa1 Cunha2 Cruz3

David Eduardo N.B.


Nascimento4 Pereira5

RESUMO

Neste trabalho apresentam-se os principais resultados do estudo da influência de certo tipo de


exposições ambientais no comportamento pós-fissurado de betão auto-compactável reforçado com
fibras de aço, BACRFA. Para o devido efeito foram produzidos diversos provetes prismáticos de
BACRFA. Inicialmente os provetes foram sujeitos a ensaios cíclicos de flexão em três pontos, com o
objetivo de se induzir dois níveis de pré-fissuração distintos, respetivamente, com uma abertura de
fenda de 0.3 e 1.0 mm. Posteriormente, os provetes pré-fissurados foram submetidos a três tipos de
exposição ambiental durante um período de dezoito meses. Por fim caracterizou-se o desempenho
mecânico dos provetes após exposição ambiental.

Palavras-chave: Betão auto-compactável, fibras de aço, ações ambientais, durabilidade.

1. INTRODUÇÃO

A introdução de fibras de aço em matrizes de base cimentícia surgiu por volta da década de 60,
trazendo novos benefícios sobretudo no que respeita ao comportamento mecânico pós-fissurado do
betão reforçado com fibras de aço (BRFA) [1]. Este material híbrido, quando reforçado com um baixo
teor de fibras, distribuídas aleatoriamente, conduz a um aumento das resistências residuais no regime
pós-fissurado, da tenacidade, da ductilidade e da resistência ao corte, promovendo um melhor controlo
da abertura de fissura [2, 3], garantido pelos mecanismos de aderência entre fibra / matriz [4].

O betão auto-compactável (BAC) surgiu nos finais da década de 80, no Japão, de modo a garantir os
requisitos de durabilidade exigidos nas construções de betão armado da época, levando ao
desenvolvimento de um novo material que dispensasse a compactação tradicional e evitasse a
segregação [5]. O betão auto-compactável reforçado com fibras de aço (BACRFA) é uma tecnologia

1
Universidade do Minho, Departamento de Engenharia Civil, Guimarães, Portugal. g.escusa@civil.uminho.pt
2
ISISE, Universidade do Minho, Departamento de Engenharia Civil, Guimarães, Portugal. vcunha@civil.uminho.pt
3
ISISE, Universidade do Minho, Departamento de Engenharia Civil, Guimarães, Portugal. jsena@civil.uminho.pt
4
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Departamento de Engenharias, Vila Real, Portugal.
david_rodrigues89@hotmail.com
5
ISISE, Universidade do Minho, Departamento de Engenharia Civil, Guimarães, Portugal.
eduardo.pereira@civil.uminho.pt

499
Influência do efeito de exposições ambientais no comportamento pós-fissurado de um BAC reforçado
com fibras de aço

que combina a elevada fluidez do BAC, facilitando o processo de betonagem, com os benefícios
mecânicos introduzidos pelo reforço com fibras de aço.

Sendo o BACRFA uma tecnologia ainda relativamente recente, o estudo do seu comportamento
enquanto no estado pós-fissurado e sob o efeito de diferentes ações ambientais encontra-se ainda
pouco desenvolvido, tornando premente a necessidade de se aprofundar o conhecimento neste âmbito.
Nas últimas três décadas realizaram-se alguns estudos relacionados com a durabilidade do BACRFA,
salientam-se alguns exemplos como: Corinaldesi e Moriconi [6] sobre a retração, o efeito dos ciclos de
gelo e degelo e penetração de cloretos em BAC; Bassuoni e Nehdi [7] acerca da durabilidade do BAC
sujeito a ataques de degradação química acelerada; Lau e Anson [8] sobre o efeito de altas
temperaturas em BRFA; Frazão et al. [9] sobre a durabilidade do BRFA; entre outros.

Neste trabalho são apresentados e discutidos os resultados de uma campanha experimental com 36
provetes prismáticos BACRFA. Numa primeira fase os provetes foram pré-fissurados até um “Crack
Mouth Opening Displacement” (CMOD) de 0.3 e 1.0 mm, de forma a simularem-se aproximadamente
condições de serviço e de estado limite último, respetivamente. Posteriormente, estes provetes foram
expostos a 3 condições ambientais distintas, durante o período de dezoito meses, nomeadamente: i)
submersos em água potável; ii) submersos numa solução aquosa de Cloreto de Sódio (NaCl) com uma
concentração de 3%; iii) sujeitos a ciclos de molhagem/secagem numa solução de 3% de NaCl (cada
ciclo com duração de 12 horas). Finalmente, após a exposição ambiental, todos os provetes foram
novamente submetidos a ensaios de flexão em três pontos, de forma a avaliar a influência de cada tipo
de exposição no comportamento mecânico pós-fissurado do BACRFA.

2. COMPOSIÇÃO DO BETÃO E PROVETES

O Quadro 1 apresenta os constituintes e respetivas quantidades utilizados na mistura de BACRFA por


metro cúbico. A betonagem foi efetuada numa empresa de pré-fabricação com recurso a central de
betão automatizada. O procedimento de mistura consistiu na seguinte sequência de passos: (i)
introdução dos agregados na misturadora por ordem granulometria decrescente; (ii) adição de cimento
Portland, seguindo-se o filler cálcario; (iii) colocação de 80% do volume de água necessária para a
amassadura, adição do superplastificante e restantes 20% de água; (iv) introdução das fibras
manualmente na mistura. A fluidez do betão foi aferida pelo ensaio de espalhamento com o cone de
Abrams na posição invertida [10]. Obteve-se de forma consistente um espalhamento superior a 650
mm.

Quadro 1. Composição do BACRFA utilizado (por m3).


Cimento Água Superplastificante Filler Areia Areia Areia Fibras
42,5R Sika 3005 Calcário fina média Grossa
[kg] [kg] [kg] [kg] [kg] [kg] [kg] [kg]
413.00 140.00 7.83 353.00 237.00 710.00 590.00 60.00

O tipo de fibras utilizado designa-se por Dramix RC-65/35-CN, consistindo em fibras discretas de aço
galvanizado, com um comprimento (lf) de 35 mm e um diâmetro (df) de 0.55 mm. O fator de forma
(lf/df) é aproximadamente de 64. A resistência à tração uniaxial das fibras é de 1345 MPa. A Figura 1
apresenta um conjunto de fibras coladas em pente, utilizadas na presente composição de BACRFA.

Figura 1. Conjunto de fibras utilizado.

500
Escusa, Cunha, Sena-Cruz, Nascimento e Pereira

No total betonaram-se 36 provetes prismáticos e 4 provetes cilíndricos, estes últimos para efetuar
ensaios de compressão uniaxial. Os provetes prismáticos executados possuem dimensões de
150×150×600 (mm3), tal como recomendado pelas normas EN 14651 [11] e RILEM TC 162-TDF
[12]. A betonagem foi realizada com recurso a um balde de descarga suspenso numa ponte rolante,
não sendo possível seguir a recomendação proposta em [12] que estipula a ordem do processo de
betonagem sobre os moldes, dada a elevada fluidez da mistura. A vibração dos provetes também é
desnecessária, por se tratar de um BAC.

A resistência média à compressão do betão (fcm) obtida aos 28 dias foi de 65.59 MPa com um
coeficiente de variação de 3.2%.

3. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

3.1 Ensaios monotónicos de flexão em 3 pontos

Os ensaios monotónicos de flexão em 3 pontos permitiram caracterizar o comportamento em flexão


dos provetes prismáticos, nomeadamente, determinar as tensões residuais e equivalentes em flexão, de
acordo com as recomendações [11, 12]. Os provetes foram preparados seguindo as recomendações da
mesma norma, à exceção do procedimento de betonagem nos moldes. Após a cura dos provetes em
câmara climática a 20ºC e 60% HR, realizou-se um entalhe numa das faces paralela à direção de
betonagem, com uma profundidade de 25 mm e uma espessura de 5 mm.

Os ensaios foram efetuados num equipamento hidráulico servo-controlado, com capacidade para
200 kN. Utilizou-se uma célula de carga de 100 kN com uma precisão de 0.1 kN. Os ensaios foram
realizados em controlo de deslocamento, impondo-se um incremento de deslocamento constante de 0.2
mm/min a meio vão do provete prismático. Instalaram-se dois transdutores de deslocamento, com uma
gama de medida de 10 mm, para a medição do deslocamento a meio vão e do “Crack Mouth Opening
Displacement” (CMOD), respetivamente. A Figura 2 ilustra a configuração adotada nos ensaios
realizados.

(a) Célula de carga (b)


Provete prismático
Guia de suporte
150

25

75

LVDTs Entalhe
50 500 50 75 75

Figura 2. Esquema do ensaio à flexão em 3 pontos: (a) Vista de perfil; (b) Vista em corte. Nota: cotas em [mm].

3.2 Ensaios cíclicos de flexão em 3 pontos

A pré-fissuração dos provetes foi efetuada por intermédio de ensaios cíclicos. Os provetes foram
submetidos a 8 ciclos de carga e descarga, tendo-se efetuado o ciclo de carga até um CMOD de 0.3 e
1.0 mm em cada caso. Para os ensaios cíclicos com um CMOD de 0.3 mm, durante um ciclo de carga
e descarga, a abertura de fissura variava entre 0.2 e 0.3 mm. Nos ensaios cíclicos com um CMOD de
1.0 mm, durante um ciclo de carga e descarga, a abertura de fissura varia entre 0.8 e 1.0 mm. Foi
utilizada a mesma configuração dos ensaios monotónicos, descritos no ponto 3.1.

No total pré fissuraram-se dois conjuntos de 32 provetes, com aberturas de fenda máximas de 0.3 mm
e 1 mm.

501
Influência do efeito de exposições ambientais no comportamento pós-fissurado de um BAC reforçado
com fibras de aço

3.3 Ensaios de durabilidade

Para os ensaios de durabilidade, dividiram-se os provetes prismáticos em 3 séries correspondentes a


três exposições ambientais distintas, com 8 provetes cada. Em cada uma destas séries constituíram-se
duas subséries, sujeitando-se os provetes a uma abertura de fenda máxima de 0.3 mm na primeira e de
1.0 mm na segunda. A primeira série consistiu em submergir os provetes em água potável. A segunda
série consistiu em submergir os provetes numa solução aquosa de cloreto de sódio (NaCl), com uma
concentração de 3%. Por fim a terceira série consistiu em submeter os provetes a ciclos de molhagem
e secagem, em que na fase molhada, os provetes estavam submersos numa solução de NaCl, com uma
concentração de 3%, e na fase seca os provetes estavam expostos a temperaturas que rondavam os
32ºC. Estes ciclos repetiram-se de 12 em 12 horas.

Todos os provetes estiveram sujeitos às respetivas exposições ambientais durante 18 meses. No final
do referido período foram realizados os ensaios de flexão em 3 pontos descritos no ponto 3.1. No final
de cada ensaio de flexão foi projetada numa das superfícies de fratura do provete uma solução
alcoólica de fenolftaleína, que permitiu observar a penetração de cloretos, e na face oposta uma
solução aquosa de nitrato de prata, que permitiu observar a evolução da carbonatação do betão. Ambas
as soluções foram aplicadas por pulverização sobre a superfície de fratura.

4. RESULTADOS EXPERIMENTAIS

4.1 Relação tensão em flexão vs. CMOD

Na Figura 3 ilustram-se as respostas tensão em flexão versus CMOD obtidas para os provetes de
referência, a curva média e a envolvente de resultados experimentais, sendo esta série designada de
‘Ref’. Esta série foi ensaiada aos 28 dias de idade do BACRFA, seguindo o procedimento descrito no
ponto 3.1. Por questões técnicas, não se puderam ensaiar aos 18 meses (posteriormente à realização
dos ensaios de durabilidade) os restantes 8 provetes de referência (previamente fissurados com uma
abertura de fenda de 0.3 e 1.0 mm). Por este motivo, não serão apresentados neste documento os
resultados comparativos de betões com a mesma maturidade.

(i) (ii)
Figura 3. Provetes de referência ensaiados aos 28 dias: i) respostas tensão em flexão vs. CMOD; ii) curva média
e envolvente de resultados experimentais. .

As curvas tensão em flexão versus CMOD da série de referência apresentam pouca dispersão de
resultados e a tensão máxima em flexão obtida é da ordem dos 10 MPa. Na Figura 3 pode observar-se
que o BACRFA apresenta um comportamento em flexão característico de uma matriz moderadamente
reforçada, identificando-se as seguintes regiões: (i) ramo linear-elástico aproximadamente até aos
6 MPa; (ii) endurecimento em flexão após a localização da macro-fissura até sensivelmente 10 MPa;
(iii) fase de amolecimento gradual correspondente ao processo de arranque das fibras que intersectam
a superfície de fratura. Na Figura 4 apresenta-se a resposta de 32 provetes submetidos a ensaios de
flexão cíclicos, de acordo com o procedimento descrito no ponto 3.2. A nomenclatura adotada para
cada uma das séries foi: TW para os provetes submersos em água, sem qualquer adição de sais; WS

502
Escusa, Cunha, Sena-Cruz, Nascimento e Pereira

para os provetes submersos numa solução de NaCl, com concentração de 3%; WD para os provetes
sujeitos a ciclos de molhagem e secagem com uma solução de 3% NaCl. As Figuras 5 a 7 incluem as
relações tensão em flexão versus CMOD obtidas a partir dos ensaios de flexão, após respetiva
exposição ambiental.

(i) (ii)
Figura 4. Provetes sujeitos a ensaios ciclicos aos 18 meses: i) provetes previamente sujeitos a CMOD máximo de
0.30 mm; provetes previamente sujeitos a CMOD máximo de 1.0 mm.

(i) (ii)
Figura 5. Comparação da resposta tensão em flexão vs. CMOD obtida para os provetes de referência e para os
provetes TW: i) provetes previamente sujeitos a CMOD máximo de 0.30 mm; provetes previamente sujeitos a
CMOD máximo de 1.0 mm.

(i) (ii)
Figura 6. Comparação da resposta tensão em flexão vs. CMOD obtida para os provetes de referência e para os
provetes WS: i) provetes previamente sujeitos a CMOD máximo de 0.30 mm; provetes previamente sujeitos a
CMOD máximo de 1.0 mm.

503
Influência do efeito de exposições ambientais no comportamento pós-fissurado de um BAC reforçado
com fibras de aço

(i) (ii)
Figura 7. Comparação da resposta tensão em flexão vs. CMOD obtida para os provetes de referência e para os
provetes WD: i) provetes previamente sujeitos a CMOD máximo de 0.30 mm; provetes previamente sujeitos a
CMOD máximo de 1.0 mm.

Observando as Figuras 4 a 7 é possível constatar que a resposta tensão em flexão versus CMOD dos
provetes ensaiados, após exposição ambiental, apresenta uma menor rigidez inicial, tal como seria de
esperar pois estes já se encontram fissurados. Também as tensões residuais obtidas são superiores para
as séries TW, WS e WD, com excepção da série WS (w=0.3). Para este resultado terão provavelmente
contribuido a maior idade de maturação do betão, comparativamente com a série de referêncida de 28
dias, e o processo de auto-reparação da fenda que foi detetado visualmente em diversos provetes e terá
contribuido para a proteção das fibras relativamente aos fatores de exposição ambiental, assim como a
proteção por galvanização das fibras.

De uma forma geral, observa-se uma moderada dispersão de resultados, nomeadamente na série WD
(w=0.3), que pode ser justificada pelo fenómeno de selagem da fenda observado em vários provetes,
que terá contribuído para a proteção das fibras e para o incremento da resitência ao deslizamento ao
nível da interface entre as fibras e matriz.

4.2 Secção de fratura e número de fibras

No final de cada ensaio de flexão em 3 pontos separou-se cada provete em duas metades, expondo a
secção de fratura. Imediatamente a seguir, após acondicionamento dos provetes, pulverizou-se uma
das superfícies de fratura com uma solução fenolftaleína e a outra com solução de nitrato de prata,
com o intuito de visualizar o perfil de penetração de cloretos e o perfil de carbonatação,
respetivamente. A Figura 8 apresenta um perfil típico, para uma abertura de fenda de 1.0 mm, obtido
num dos ensaios realizados.

Figura 8. Perfil da penetração de cloretos (face esquerda) e da carbonatação (face direita).

Como se pode observar na Figura 8, a fenda não se desenvolve de igual forma em toda a profundidade
da secção, mas antes adotando a forma aproximadamente parabólica, evidenciando claramente a zona
da secção de fratura do betão que se encontra exposta a uma maior abertura de fissura, na fase pré-

504
Escusa, Cunha, Sena-Cruz, Nascimento e Pereira

fendilhada. Esta geometria aproximadamente parabólica da frente da fenda ao longo da superfície de


fratura está de acordo com outros estudos realizados [13]. Convém salientar que não se realizaram
estudos relativos à velocidade de penetração de cloretos ou a outros indicadores de durabilidade dado
que apenas se pretendeu avaliar qualitativamente as zonas afetadas pela migração de cloretos e a
profundidade da carbonatação, as quais estão intrinsecamente interligadas.

No Quadro 2 apresenta-se o número de fibras identificadas em cada uma das superfícies de fratura dos
provetes ensaiados. Na generalidade as séries revelaram um número semelhante de fibras na superfície
de fratura, com a exceção da série WS (w=0.3).

Quadro 2. Número médio de fibras na superfície de fratura.


Nº médio de fibras na Nº médio de fibras na
face esquerda face direita Nº total de Nº total de
Série
Nº de fibras Nº de fibras fibras fibras ativas
Total Total
ativas ativas
Ref_28dias n.a. n.a. n.a. n.a. 307 n.a.
TW(w=0.3) 146 116 140 113 286 229
TW(w=1.0) 139 120 140 128 279 248
WS(w=0.3) 119 106 115 103 234 209
WS(w=1.0) 175 154 179 163 354 317
WD(w=0.3) 166 151 148 134 314 284
WD(w=1.0) 148 132 150 131 298 263

Em diversos provetes verificou-se que o BACRFA apresentou capacidade de regeneração autogénea,


designado na literatura inglesa de “autogeneous self-healing”. Esta capacidade regenerativa, aliada à
evolução da maturidade do betão, poderá ter contribuído para um aumento do desempenho pós-
fissurado em flexão dos provetes prismáticos expostos às três condições ambientais estudadas. Este
fenómeno, abordado por diversos autores, e.g. [14,-16], está associado à quantidade de cimento não
hidratado existente na matriz, que quando em contacto com água permite, por intermédio da reação
dos iões de cálcio (Ca2+) com as moléculas de carbono (CO2) presentes nos poros, a formação de um
precipitado de CaCO3 capaz de regenerar pequenas fissuras. No caso de betões reforçados com fibras,
este fenómeno é potenciado pela teia de fibras que atravessa as superfícies de fratura, a qual beneficia
a retenção do CaCO3. Na Figura 9 apresenta-se um conjunto de imagens obtidas com microscópio
ótico, fator de ampliação de 400 e 20 vezes, respetivamente, onde é clara a presença de precipitados
CaCO3 colmatando a pré-fissura .

Figura 9. Formação de precipitados de carbonato de cálcio em diversas fissuras, de vários provetes.

505
Influência do efeito de exposições ambientais no comportamento pós-fissurado de um BAC reforçado
com fibras de aço

O grau de corrosão das fibras de aço foi avaliado de forma qualitativa. Apesar das fibras possuírem
uma proteção galvânica, a corrosão galvânica pode ocorrer, fenómeno que se produz devido ao
elevado fluxo de eletrões entre metais durante as reações oxidação-redução. Também não se efetuaram
estudos relativos à resistividade elétrica do betão, não sendo possível avaliar o fluxo eletrolítico entre
metais. No entanto, a caracterização deste processo é de elevada complexidade porque nem sempre é
fácil de avaliar o nível de oxidação das fibras de aço, dado que alguns dos produtos resultantes da
corrosão do zinco, como os complexos de carbonato de zinco (ZnCO3) podem novamente migrar para
zona do metal desprotegido, oferecendo novamente uma barreira de proteção às fibras de aço.
No caso em estudo observou-se que a maioria das fibras de aço não apresentava sinais de deterioração,
apresentando indícios claros de passivação tal como se pode observar na Figura 10, à esquerda, pela
formação de um produto à base de zinco com coloração branca, junto a uma das fibras. Apenas em
situações particulares se observou o aparecimento de pequenas zonas oxidadas, onde a proteção ficou
comprometida. Em geral, o desempenho das fibras de aço galvanizadas sujeitas à ações ambientais foi
adequado, no entanto o estudo realizado carece de confirmação futura por intermédio de outros ensaios
de degradação ambiental acelerada e agressiva.

Figura 10. Passivação das fibras de aço à esquerda e indícios de corrosão à direita.

4.3 Tensões residuais e equivalentes à tração em flexão

As tensões de tração residuais e equivalentes em flexão foram determinadas a partir das


recomendações dispostas na norma [12]. No Quadro 3 apresentam-se os valores médios das tensões
obtidas para cada série, sendo que ffct,L representa a tensão limite de proporcionalidade, δL representa o
deslocamento a meio vão correspondente ao limite de proporcionalidade; feq,2 e feq,3 traduzem a tensão
de tração equivalente em flexão 2 e 3, respetivamente; fR,j indica a resistência residual em flexão
correspondente ao CMODj.
Quadro 3. Tensões residuais em flexão dos provetes prismáticos.
ffct,L δL feq,2 feq,3 fR,1 fR,2 fR,3 fR,4
Provetes
[MPa] [mm] [MPa] [MPa] [MPa] [MPa] [MPa] [MPa]
Avg. 5.88 0.05 9.77 8.24 9.51 8.72 6.94 5.66
Ref_28dias
CoV (3%) (0%) (8%) (10%) (8%) (12%) (10%) (10%)
Avg. 0.05 13.24 11.09 12.50 11.26 9.53 8.02
TW (w=0.3) (*)
CoV (1%) (4%) (9%) (4%) (9%) (13%) (16%)
Avg. 0.05 11.44 9.59 11.51 9.69 8.12 6.85
TW (w=1.0) (*)
CoV (1%) (10%) (11%) (8%) (13%) (15%) (17%)
Avg. 0.05 8.82 7.21 8.38 7.41 6.11 5.12
WS (w=0.3) (*)
CoV (1%) (22%) (22%) (23%) (22%) (24%) (23%)
Avg. 0.05 10.30 8.75 10.32 9.23 7.61 6.37
WS (w=1.0) (*)
CoV (1%) (13%) (22%) (14%) (25%) (27%) (30%)
Avg. 0.05 15.09 13.10 14.56 13.47 11.59 9.82
WD (w=0.3) (*)
CoV (0%) (21%) (25%) (21%) (25%) (26%) (25%)
Avg. 0.05 11.97 10.11 11.94 10.22 8.66 7.41
WD (w=1.0) (*)
CoV (1%) (21%) (20%) (21%) (19%) (21%) (20%)
(*) – Não foi calculada a tensão limite de proporcionalidade, uma vez que estas séries já se encontram pré-
fissuradas.

506
Escusa, Cunha, Sena-Cruz, Nascimento e Pereira

Através do Quadro 3 é possível observar-se claramente um acréscimo das tensões residuais dos
provetes submetidos às ações de exposição ambiental face aos da série de referência a 28 dias,
nomeadamente as séries TW, WS e WD, excetuando a série WS (w=0.3), tal como referido
anteriormente.

Para as tensões residuais fR1, correspondentes ao estado limite de serviço, registam-se aumentos de 8%
e 53%, para as séries WS (w=1.0) e WD (w=0.3), respetivamente. Para as séries WS (w=0.3) verifica-
se uma redução de 12%. Quanto às tensões residuais fR2, correspondentes ao estado limite último,
observaram-se aumentos de 10% e 67%, correspondentes às séries WS (w=1.0) e WD (w=0.3),
respetivamente. Para a série WS (w=0.3) observa-se uma redução de 12%. Em suma, as séries WD
apresentam um melhor desempenho mecânico em flexão, seguindo-se as séries TW e WS. Também
pode constatar-se que as tensões residuais em flexão obtidas são maiores para as séries de provetes que
foram sujeitos a um CMOD máximo de 0.3 mm, comparativamente com os das séries de 1.0 mm.
Como seria de esperar, apenas não se verificou este padrão na série WS (w=0.3).

CONCLUSÕES

Neste trabalho apresentou-se o estudo da influência de três tipos de exposição ambiental distintas,
durante um período de 18 meses, nas propriedades mecânicas de betão auto-compactável reforçado
com fibras de aço (BACRFA). Os provetes prismáticos foram pré-fissurados por intermédio de ensaios
cíclicos, tendo-se atingido aberturas de fenda de 0.3 mm e 1.0 mm. Posteriormente, os provetes foram
sujeitos a ambientes de distinta agressividade: uma das séries foi submersa em água, sem adição de
sais (TW), outra foi submersa em água com uma concentração de sal (NaCl) de 3% (WS) e outra série
ainda foi submetida a ciclos de molhagem e secagem, em que na fase molhada os provetes ficaram
submersos em água com sal (NaCl) com uma concentração de 3%, e durante a fase seca ficaram
emersos e expostos a uma temperatura de aproximadamente 32ºC, durante ciclos de 12h.
No final da fase de exposição ambiental, a zona da abertura de fenda foi examinada com recurso a um
microscópio ótico. Observou-se em diversos provetes a presença de precipitados de carbonato de
cálcio (CaCO3), identificados como cristais com tonalidade branca nas zonas de abertura de fenda.
Posteriormente, os provetes foram submetidos a ensaios de flexão em 3 pontos, de forma a avaliar a
possível degradação do comportamento mecânico. Também se avaliou de forma qualitativa a
penetração de cloretos e a carbonatação na secção de fratura dos provetes de BACRFA, , de modo a
identificar a evolução da propagação da fenda na secção e correlacionar esta análise com a evolução
da corrosão das fibras.

Quanto ao comportamento em flexão observou-se que as séries WD apresentaram um melhor


desempenho comparativamente com as séries TW, seguindo-se as séries WS. Em geral obtiveram-se
tensões residuais em flexão superiores para as séries sujeitas a CMOD de 0.30 mm quando
comparadas com as séries sujeitas a CMOD de 1.0 mm, sendo este o resultado expectável. Apenas não
se verificou esta tendência na série WS (w=0.3).

Os ensaios de análise da penetração de cloretos e de carbonatação permitiram identificar o


desenvolvimento da frente de fissuração nas secções úteis de cada provete, originadas durante a fase
dos ensaios cíclicos. Permitiram também correlacionar empiricamente a zona da seção mais exposta
aos fatores ambientais, nomeadamente aos que estão relacionados com a corrosão por migração de
cloretos. Desta análise conclui-se que, na generalidade, as fibras de aço apresentaram um desempenho
satisfatório em termos de durabilidade, sobretudo por possuírem proteção galvânica conferida pelo
zinco. Observou-se oxidação apenas pontualmente em alguns dos provetes, sendo que na restante
maioria se observaram precipitados de produtos resultantes da oxidação do zinco, identificados por
manchas brancas.

507
Influência do efeito de exposições ambientais no comportamento pós-fissurado de um BAC reforçado
com fibras de aço

AGRADECIMENTOS

Este trabalho foi financiado por fundos FEDER através do Programa Operacional Factores de
Competitividade - COMPETE e fundos Nacionais FCT – Fundação para a Ciência e Tecnologia
referente ao projeto SlabSys - HFRC PTDC/ECM/120394 /2010. Os autores querem igualmente
expressar o seu agradecimento às empresas Tecnipor Lda. e Bekaert, pelo auxílio na betonagem dos
provetes e fornecimento das fibras, respetivamente.

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508
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

Criterios para el diseño y ejecución de elementos de geometría


compleja de hormigón autocompactante con fibra metálica

1 2
Rosa Corral Angel Castillo

RESUMEN

La incorporación de la fibra en el hormigón produce grandes beneficios en el comportamiento del


hormigón. La mejora de dicho comportamiento depende principalmente de la distribución y
orientación de la fibra.

El objeto de este trabajo es la evaluación de los factores que interviene en el proceso de distribución y
orientación de la fibra metálica en piezas ejecutadas con hormigón autocompactante reforzado con
fibra metálica a escala real. Para ello se han fabricado prototipos de mediana y gran escala de
geometría compleja. Los factores estudiados fueron, la influencia de la geometría del encofrado, el
recorrido de vertido, la velocidad de hormigonado, la posición de la bomba y el efecto pared,
eliminando la variable de la vibración externa gracias al uso del hormigón autocompactante. Este
estudio se llevó a cabo a través de una metodología de conteo y caracterización de las piezas a nivel
cualitativo y cuantitativo. Los resultados obtenidos muestran que cuando se trata de un hormigón
autocompactante reforzado con fibra metálica, dicha fibra tiende a posicionarse en dirección paralela
al vertido y la combinación de flujos de hormigonado, hace posible optimizar la distribución y
orientación de la fibra en función de las solicitaciones requeridas para cada pieza.

Se podría concluir diciendo que el control en la ejecución de este tipo de hormigón es fundamental, se
establecen así criterios de puesta en obra con el fin de conseguir la distribución y orientación óptima
para cada tipo de pieza a hormigonar.

Palabras clave: hormigón, autocompactante, fibra, orientación, distribución

1. INTRODUCCIÓN

La utilización del hormigón reforzado con fibra de acero surge debido a la necesidad de dar respuesta
a situaciones estructurales especiales, ciertas solicitaciones de carga en determinadas zonas y
requisitos complejos de puesta en obra y tiene como primer antecedente de utilización en 1911, año

1
Instituto Ciencias de la Constucción Eduardo Torroja. IETcc – CSIC. r.corral@ietcc.csic.es
2
Instituto Ciencias de la Constucción Eduardo Torroja. IETcc – CSIC. acastillo@ietcc.csic.es

509
Criterios para el diseño y ejecución de elementos de geometría compleja de hormigón autocompactante con
fibra metálica

en el que Graham utilizó por primera vez fibras de acero para incrementar la resistencia del hormigón
armado convencional.

Las fibras utilizadas para el refuerzo son elementos de corta longitud y pequeña sección que se
incorporan a la matriz de hormigón a fin de conferir a la mezcla propiedades tales como el aumento de
resistencia a compresión, tenacidad, control de la fisuración por retracción, abrasión e impacto.
Para poder optimizar el comportamiento del hormigón reforzado con fibra metálica es necesario
conocer que efecto tiene la orientación de la fibra sobre la eficacia de la respuesta estructural con
respecto a la posición de la fisura en las estructuras., De tal manera que, controlando la orientación de
la fibra y su distribución, se puede asegurar la optimización del comportamiento de la estructura
hormigonada con la incorporación de fibra de acero (Grünewald et al. 2011).

Según Sourushi y Lee (1990), la distribución de la fibra en la matriz está influenciada principalmente
por el vertido, tamaño de la fibra, geometría del encofrado, matriz de volumen y tamaño máximo de
los áridos.

El objeto de este trabajo busca evaluar diferentes factores que intervienen en el proceso de la
distribución y la orientación de las fibras en prototipos de gran escala, realizados a escala industrial.
Por ello es importante tener en cuenta la influencia de la geometría, el recorrido de vertido, la
velocidad de hormigonado, la posición de la bomba y el efecto pared, para así poder establecer
criterios prácticos en la ejecución y puesta en obra de estructuras de hormigón reforzado con fibra
metálica.

2. MATERIALES Y METODOLOGIA

2.1. Procedimiento experimental

La evaluación de la orientación y la distribución de la fibra en distintas situaciones de vertido se


llevaron a cabo en prototipos realizados a escala industrial. Por un lado se ejecutaron varios prototipos
a media escala y otros prototipos de mayor dimensión, esbeltos y curvos, todos ellos realizados con
hormigón autocompactante reforzado con fibra metálica, aligerados con negativos

Se optó por el uso del hormigón autocompactante ya que, debido a sus características reológicas
eliminamos la variable de la vibración externa como factor influyente en la orientación y la
distribución final de las fibras. Con el uso de este tipo de hormigón, las variables a tener en cuenta en
el estudio son conocidas: la geometría de la pieza, la velocidad de vertido, la posición de la manguera
y las características en estado fresco del hormigón ejecutado.

El vertido se realizó con un hormigón autocompactante reforzado con 30kg de fibra metálica de 60
mm de longitud, con una relación a/c de 0,47 y una cantidad de cemento de 390 Kg/m3. Se fabricó un
hormigón con una resistencia media en compresión de 75 MPa, en tracción indirecta de 7 MPa y en
flexotracción de 8,94 MPa, con un comportamiento reológico de un AC-E2 (72 cm) + AC-V2 (2,31
sg)

2.2. Descripción de prototipos

Se busca la ejecución de prototipos de distintas escalas para poder analizar las distintas variaciones de
la orientación y la distribución de la fibra para establecer criterios comparativos en función de la
escala, tamaño, forma, distintas situaciones de vertido y recorrido en los que se ha puesto en práctica
la metodología para determinar la distribución y orientación de la fibra.

En la Figura 1 se muestra el esquema de los prototipos que han sido objeto de estudio para la
determinación de la distribución y la orientación de fibras.

510
Corral e Castillo

Los prototipos de media escala, prototipo 2 y 5, fueron hormigonados desde el centro. El prototipo 2,
fue hormigonado manteniendo la manguera fija en el centro, y para el prototipo 5, la manguera fue
subiendo progresivamente a medida que avanzaba el hormigonado, con el fin de analizar la influencia
del vertido y la posición de la manguera en el resultado final en la orientación y distribución de la
fibra.

El prototipo de gran escala es un muro esbelto aligerado curvo de dimensiones 2m x 0,25 m de espesor
de 5 m de longitud que se hormigonó siguiendo un diseño de geometría especial, estudiada de manera
previa para poder evaluar las fibras en distintas situaciones, en zonas cercanas a los aligeramientos, en
vanos sin aligeramientos, en zonas de mayor impedimento y situaciones intermedias.

Figura 1. Prototipos intermedios y de gran escala.

El método experimental para el conteo de fibras está basado en dos metodologías complementarias,
por un lado el análisis cualitativo de distintas piezas y complementariamente, el análisis cuantitativo
tras dividir en fracciones los prototipos intermedios y extraer testigos del prototipo de gran escala.
Para poder realizar el estudio en profundidad de la distribución y orientación del contenido de fibras
en las tres direcciones del espacio se procedió a cortar en 40 piezas el prototipo 5 tal y como muestra
el esquema de la Figura 2 y del prototipo curvo se extrajeron 14 testigos.

2.3. Metodología

El procedimiento para llevar a cabo el estudio de la distribución y la orientación de las fibras se divide
en dos partes: primero, el corte y el orden de las piezas y una vez ordenado y sistematizado se procede,
en segundo lugar, a la contabilización de las fibras.

2.3.1. Corte y orden de las piezas


Para realizar el estudio se procedió al corte de los prototipos intermedios y a la extracción de testigos
del prototipo curvo en la posición que se muestra en el esquema y la Figura 2.

Figura 2. Corte y despiece del prototipo de media escala.

Los testigos extraidos del prototipo curvo fueron cortados en los tres planos del espacio para analizar
detenidamente el porcentaje de fibra en función de la posición donde se encontrara el testigo, ya fuera
un vano o en una posición cercana a un hueco.

511
Criterios para el diseño y ejecución de elementos de geometría compleja de hormigón autocompactante con
fibra metálica

Figura 3. Testigos extraídos del prototipo de gran escala.

2.3.2. Análisis de la distribución de fibras


Las fibras fueron contabilizadas siguiendo el mismo proceso para los dos prototipos, dicho proceso
consistía en fotografiar cada una de las caras y más tarde tratar la saturación y el contraste de la
imagen con el fin de resaltar la fibra metálica sobre el hormigón.

Una vez obtenida la optimización de la imagen se mide la supercie del diámetro de la fibra y la
superficie de la pieza del hormigón mediante el programa vectorial del dibujo Autocad y se contabiliza
cada una de las fibras.

Figura 4. Proceso de optimización y contabilización de fibras en la imagen

Para este caso concreto, la superficie mixta de la pieza,(hormigón y fibra), es 38.430 mm2 y la de fibra
de 0.40 mm2.Se han contabilizado un total de 481 fibras para esta cara, que correspondería con 192.4
mm2 de superficie, por lo que el porcentaje de fibra con respecto al total de esta pieza es de 0.50 %.

Siguiendo el procedimiento descrito se analizó cada una de las piezas procedentes de los dos
prototipos.

3. RESULTADOS

Se divide la explicación de los resultados en dos apartados, por un lado el análisis cualitativo de los
testigos extraídos en los prototipos de media escala y por otro lado, se presentan los resultados de
manera cuantitativa para ese mismo prototipo de media escala, y para el prototipo de gran escala.

3.1. Análisis cualitativo

Una vez cortado los prototipos, se puede observar el comportamiento de la fibra en las caras de los
cortes según se hormigonó, la posición de la bomba y el comportamiento del vertido del hormigón.

Para el prototipo 2, hormigonado manteniendo la manguera en la zona superior en posición central, se


detecta que la fibra se concentra en la zona inferior del prototipo, quedando una amplia zona superior
sin fibra.

Analizando los cuatro cortes en las tres dimensiones, se puede apreciar que la fibra parece fijar su
posición en el sentido paralelo al vertido de hormigonado, pero en algunos de los cortes parece indicar

512
Corral e Castillo

que la fibra podría girar según la posición de la manguera de hormigonado, siendo mayor la
concentración en la zona inferior que en la zona superior del prototipo.

Del estudio cualitativo se puede apreciar la importancia del vertido en la distribución de la fibra, por lo
que se podría decir, que el movimiento de la manguera a lo largo de la geometría del objeto a
hormigonar favorece la correcta distribución de la fibra a lo largo de la geometría.

Según los resultados observados tras el estudio cualitativo en los prototipos de media escala se
consideró necesario un estudio cuantitativo de las piezas al completo, para poder establecer de manera
concisa criterios prácticos, abarcando un abanico lo más amplio posible de situaciones geométricas y
de vertido de hormigonado y así poder extraer conclusiones de cara al vertido y hormigonado de este
tipo de piezas con hormigón autocompactante reforzado con fibra de acero.

3.2. Análisis cuantitativo

Una vez realizado el proceso completo descrito como metodología en el apartado 2 del material y
metodología de este documento, se han expresado los resultados de la contabilización en superficie del
número de fibras existentes por cara para cada una de las piezas en los prototipos, tanto el muro de
media escala como el prototipo curvo de gran escala.

a) Tipología media escala:


Los valores tras el conteo superficial de fibras son mayores en la zona central que en los extremos, y
también la concentración de fibras es mayor en la zona inferior del prototipo, tal y como se había
concluido en el análisis cualitativo al estudiar los testigos.
Del mismo modo, se hace presente el efecto pared y el rebote de las fibras en el encofrado en la zona
inferior, siendo mayor la concentración de fibra perpendicular en la zona inferior de los prototipos con
respectos al número de fibras paralelas al vertido.

b) Prototipo curvo de gran escala:


Como se explica en el procedimiento experimental de este trabajo, se procedió de la misma manera
para contabilizar la fibra en los testigos extraídos del prototipo de gran escala, (Figura 1).

En la tabla 1 se muestra de manera resumida la comparación entre la dirección paralela y


perpendicular al vertido en cada testigo, en la que podemos destacar que la fibra, igual que el prototipo
de media escala analizado con anterioridad, tiende a posicionarse en paralelo a la dirección de
hormigonado excepto si encuentra obstáculos a su paso.

Tabla 1. Comparación de direcciones en testigos del prototipo aligerado doble curvatura.


Fibra Fibra Fibra Fibra Fibra Fibra
S M I
Paralela Perpend. Paralela Perpend. Paralela Perpend.
s4 6 9 m4 42 33 i4 66 97
s14_v 19 37 m3 80 45 V1 27 12
s3 18 19 m2 41 10 i15 22 72
s17 26 20 m18_v 24 76 i16 19 60
s2 93 8 m1 73 16 i3 57 52
s1 40 17 i19 14 72
i2 107 18
i20_v 68 17
i1 73 17

4. DISCUSIÓN

Controlando los factores tenidos en cuenta en el estudio, tales como el tipo de hormigón, la influencia
de la geometría del encofrado, el recorrido de vertido, la velocidad de hormigonado, la posición de la

513
Criterios para el diseño y ejecución de elementos de geometría compleja de hormigón autocompactante con
fibra metálica

bomba y el efecto pared, se realizó el estudio en piezas a escala real con distinta geometría, compleja
y previamente estudiada, de distinto volumen y longitud de vertido.

Si se compara la posición preferencial que toma la fibra con el esquema de flujo de hormigonado que
se muestra en la Figura 5, se explica la orientación que toman dichas fibras frente a obstáculos, por la
combinación de distintos flujos de hormigonado y el efecto pared producido frente al encofrado, así
como la concentración mayoritaria de la fibra en la zona central, próxima a la manguera.

A medida que avanza el flujo, el hormigón va cubriendo los aligeramientos, creando zonas de
enfrentamiento entre dichos flujos. En la Figura 5 quedan representados los flujos por varios colores:
primero, el flujo representado en color azul iría rellenando el prototipo hasta envolver el
aligeramiento, lo que a la vez, se enfrentaría con el hormigón expulsado de la manguera a medida que
esta va siendo elevada, mostrado esquemáticamente de color rosa y que podría generar el giro de las
fibras por enfrentamiento de los distintos flujos. Así, la fibra se posiciona en perpendicular al vertido
en las zonas cercanas a los obstáculos.

Figura 5. Zonas de posición preferencial de la fibra vs combinación de flujos de hormigonado a través de los
aligeramientos.

Se muestra también que la concentración de fibras es mayor en las zonas inferiores cercanas a la pared
inferior del encofrado y en la zona centro, más próximas a la manguera de la bomba de hormigonado.

Figura 6. Esquema de volumen de fibras en prototipos en función de la posición respecto al vertido.

Así, a la hora de puesta en obra convendría tener en cuenta que la velocidad de flujo de hormigonado y
la posición de la manguera son factores que influyen en la orientación de la fibra metálica para
hormigones autocompactantes. Por ello, si se busca homogeneidad en la distribución de la fibra a lo
largo de toda la pieza a hormigonar, es aconsejable una velocidad de vertido lo más lenta posible y
mover la manguera para poder conseguir la mejor y más uniforme distribución de las fibras y evitar así
mayor concentración de fibras en las zonas próximas a la manguera y repartirlas a lo largo de todo la
geometría.

514
Corral e Castillo

Se recomienda el uso de la propia armadura o el estudio de la colocación de ciertos aligeramientos que


sirvan de obstáculo para forzar la posición preferencial requerida por la estructura o pieza a
hormigonar consiguiendo la posición correcta en función de la respuesta óptima a las direcciones de
solicitaciones mecánicas

CONCLUSIONES

Estudiados los factores geométricos, controlando la velocidad de vertido de la bomba y la posición de


la misma a la hora de hormigonar la pieza, se pueden establecer una serie de tendencias en la
orientación y distribución de las fibras metálicas en el hormigón autocompactante.

- La orientación y la distribución de la fibra tiende a seguir la dirección paralela al vertido


independientemente de la geometría cuando se trata de hormigón autocompactante.
- El encuentro entre el flujo de vertido y la autonivelación del hormigón autocompactante
debería ser un factor a tener en cuenta en la puesta en obra, pues se ha comprobado que
también hace girar la fibra y ejerce gran influencia en la distribución de la fibra a lo largo de la
geometría de la pieza a hormigonar.

Por tanto, es posible establecer criterios para el diseño y ejecución de elementos de geometría
compleja de hormigón autocompactante con fibra metálica. Si se conoce las zonas de mayor
solicitación de una estructura determinada, se puede forzar la orientación preferencial de las fibras a
través el uso de impedimentos, ya sean aligeramientos o armaduras. Para ello es necesario diseñar una
puesta en obra donde exista la combinación de flujos de vertido a partir del movimiento de la
manguera, utilizando una velocidad de vertido lo más lenta posible para controlar el efecto pared
contra los encofrados.

AGRADECIMIENTOS

Querría agradecer este trabajo a todos los socios integrantes del proyecto HORMIFORMA y al grupo
de investigación PREHFER del Instituto Eduardo Torroja – CSIC. Agradecer también el duro trabajo
llevado a cabo al equipo CARACOLA “TEAM ONE”, sin el que este trabajo habría sido imposible.

REFERENCIAS

[1] ACHE. (2000). Manual de Tecnología del Hormigón Reforzado con Fibras de Acero, Comisión
2, Grupo de Trabajo 2/2, Hormigones don Fibras.
[2] Dupont, D.; Vandewalle, L. (2005). Distribution of steel fibres in rectangular sections. Cement
and Concrete Composites, Volume 27 Issue
[3] M.C.Torrijos, B.E. Barragán, R.L. Zerbino. (2008). Physical–mechanical properties, and
mesostructure of plain and fibre reinforced self-compacting concrete. Construction and Building
Materials 22,p. 1780–1788.
[4] A. Orbe, J. Cuadrado, R. Losada, E. Rojí. (2012). Framework for the design and analysis of steel
fiber reinforced self-compacting concrete structures. Construction and Building Materials 35.p
676–686.
[5] Soroushian, P., and Lee, C.-D. (1990). Distribution and orientation of fibers in steel fiber
reinforced concrete. ACI Materials Journal, 87(5), 433-439.
[6] Stähli, P., Custer, R., and Van Mier, J. G. M. (2008). On flow properties, fibre distribution, fibre
orientation and flexural behaviour of FRC. Materials and Structures/Materiaux et Constructions,
41(1), 189-196.

515
Criterios para el diseño y ejecución de elementos de geometría compleja de hormigón autocompactante con
fibra metálica

[7] Pujadas, P., Blanco, A., Cavalaro, S.H.P. and Aguado, A. (2011). Método para la caracterización
multidireccional del HRF. In Proceedings of the V Congreso de ACHE, Barcelona, Asociación
Científico‐Técnica del Hormigón Estructural (ACHE).
[8] Pujadas P., Blanco A, de la Fuente A., Aguado A. (2012). Cracking behavior of FRC slabs with
traditional reinforcement. Materials and Structures 45 (5) , pp. 707-725.
[9] Torrents J, Blanco A, Pujadas P, Aguado A, García P, Sánchez M. (2012). Inductive method for
assessing the amount and orientation of steel fiber in concrete. Materials and Structures, 45 (10) ,
pp. 1577-1592.

516
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

Avaliação não-destrutiva da dosagem e orientação das fibras em


camadas de UHPFRC

Sandra Nunes1 Filipe Ribeiro2 Adriano Carvalho3

Mário Pimentel 4 Eugen Brühwiler 5 Maléna Bastien Masse 6

RESUMO

A adição de uma camada exterior de betão de ultra elevado desempenho reforçado com fibras
(UHPFRC) tem-se revelado uma técnica muito eficiente para reforçar e aumentar significativamente a
durabilidade de estruturas existentes de betão armado e pré-esforçado. Na ausência de armadura nestas
novas camadas, o comportamento mecânico do material e o desempenho dos elementos estruturais
reforçados dependem significativamente da dispersão e orientação das fibras em relação à direcção das
tensões de tração. No presente trabalho, é apresentado um método não destrutivo para a detecção da
dosagem e orientação das fibras metálicas em camadas de UHPFRC aplicado “in-situ” tendo por base
as suas propriedades magnéticas. As potencialidades do método foram inicialmente avaliadas em
provetes pequenos de UHPFRC fabricados com diferentes dosagens e orientação preferencial das
fibras e, posteriormente, em camadas UHPFRC com e sem armadura, betonadas sobre lajes de betão
armado convencional. O referido método não destrutivo foi utilizado com o objetivo de controlar a
qualidade do UHPFRC aplicado ao longo de toda a superfície do banzo superior do caixão de um
viaduto com 2.1km de extensão, na Suíça.

Palavras-chave: UHPFRC; ensaio não-destrutivo; dosagem; orientação das fibras

1. INTRODUÇÃO

A reabilitação das estruturas de betão armado (BA) existentes constitui um encargo significativo para
a sociedade na medida em que se traduz em custos muito elevados para os seus utilizadores. No
futuro, as estruturas de betão sustentáveis serão aquelas que requeiram apenas intervenções mínimas
de manutenção preventiva com poucas ou nenhumas interrupções de funcionamento. O reforço de
estruturas por meio de camadas exteriores de betões de ultra elevado desempenho reforçados com
fibras (UHPFRC) tem-se revelado uma técnica extremamente promissora no sentido de atingir este
objectivo [1]. Características como a baixa permeabilidade, elevada resistência à compressão e
comportamento com endurecimento em tração do UHPFRC permitem não só reforçar estruturas
existentes, mas também melhorar significativamente a sua durabilidade. A experiência recente mostra

1
Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, DEC, Porto, Portugal. snunes@fe.up.pt
2
Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, DEC, Porto, Portugal. filipet.ribeiro@gmail.com
3
Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, DEEC Porto, Portugal. asc@fe.up.pt
4
Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, DEC, Porto, Portugal. mjsp@fe.up.pt
5
École Polytechnique Fédérale de Lausanne (EPFL), Lausanne, Switzerland. eugen.bruehwiler@epfl.ch
6
École Polytechnique Fédérale de Lausanne (EPFL), Lausanne, Switzerland. malena.bastien-masse@epfl.ch

517
Avaliação não-destrutiva da dosagem e orientação das fibras em camadas de UHPFRC

que, no caso de lajes, grandes intervenções podem ser realizadas num período de tempo limitado,
assegurando o mínimo de interrupção para o dono-de-obra e de disrupção para os utilizadores da
infraestrutura. Considerando-se que tanto a resistência como a durabilidade da estrutura existente
podem ser melhoradas, e que os trabalhos envolvidos não são de mão-de-obra intensiva, esta técnica
de reforço torna-se competitiva do ponto de vista económico em aplicações de reparação/reforço,
mesmo tendo em atenção o elevado custo unitário do material.

O UHPFRC é um material cimentício avançado que incorpora um número elevado de fibras de aço
curtas, com um teor mínimo de 3% em volume, uniformemente distribuídas numa matriz ultra-
compacta. Esta combinação fornece ao material um comportamento à tracção caracterizado por um
ramo linear elástico até valores da tensão de tracção de 7 a 11MPa seguido por um ramo de
endurecimento até níveis de extensão de 2 ‰ a 5‰ e tensões de pico de 9 a 15MPa [1]. Enquanto o
ramo linear elástico é principalmente influenciado pela resistência à tração da matriz, o endurecimento
e a resistência à tracção são governados por características das próprias fibras, nomeadamente, a sua
esbelteza, o volume e a orientação. A existência do ramo de endurecimento acompanhada pela
formação de microfissuras na camada UHPFRC é fundamental no reforço e em aplicações de
reabilitação, sendo por isso necessário controlar e avaliar o conteúdo em fibras, a sua distribuição e
orientação.

Os ensaios do material através de provetes recolhidos “in-situ” são demorados, dispendiosos e nem
sempre são representativos do material aplicado na estrutura. No entanto, os métodos não-destrutivos
podem permitir um rápido controlo de qualidade do conteúdo em fibras e da sua orientação
preferencial na camada de UHPFRC endurecido. Para tal, neste trabalho é explorado um método não-
destrutivo baseado na permeabilidade magnética, à semelhança do proposto por outros autores [2,3].
Este método foi validado em laboratório com medições em pequenas placas de UHPFRC e em
camadas de UHPFRC aplicadas sobre lajes de BA, à escala real. Foram também feitas medições num
viaduto de uma auto-estrada, na Suíça, reforçado recentemente com UHPFRC.

2. MÉTODO NÃO-DESTRUTIVO BASEADO NA MEDIÇÃO DA INDUTÂNCIA


MAGNÉTICA

As fibras usadas no UHPFRC são geralmente produzidas com aço de baixo teor de carbono que
apresenta um comportamento ferromagnético. O UHPFRC pode ser considerado como um material
compósito constituído por duas fases com propriedades magnéticas muito diferentes. A matriz é
caracterizada por uma permeabilidade magnética μ semelhante à permeabilidade do ar, sendo
praticamente igual à permeabilidade magnética vácuo (μ0). No entanto, as fibras são caracterizadas por
uma permeabilidade magnética μFe maior do que μ0. Logo, a medição de um parâmetro influenciado
pela permeabilidade magnética do material compósito pode fornecer informação tanto sobre a
dosagem como sobre a orientação das fibras. A permeabilidade magnética de um material é, em geral,
expressa como a permeabilidade relativa (μr), que é o factor pelo qual a permeabilidade do material
excede a do vácuo:

r=/0 (1)

No âmbito do presente projeto foi desenvolvido um indutor (aqui referido como "sonda magnética”),
que consiste num núcleo de ferrite em forma de U (Siemens ferrite N47) com uma bobina de fio de
cobre enrolada em torno de cada uma das pernas do núcleo (ver Figura 1). Basicamente, é um
componente eléctrico passivo com dois terminais cuja impedância depende das características
magnéticas do material com que está em contacto e que integra o seu circuito. Um indutor é
caracterizado pela sua indutância, a relação entre a tensão e a taxa de variação da corrente, o qual tem
unidades de Henry (H). A elevada permeabilidade relativa da ferrite, em relação ao ar circundante,
obriga as linhas do campo magnético a concentrarem-se no material do núcleo, aumentando o campo
magnético e, assim, a indutância.

518
Nunes, Ribeiro, Carvalho, Pimentel, Brühwiler e Bastien-Masse

93 mm

28 mm
probe
l1=189 mm

76 mm

48 mm
l2=93 mm
UHPFRC

Figura 1 . Sonda magnética usada na campanha experimental

A indutância de uma bobina longa enrolada numa hélice apertada (solenóide) é dada pela seguinte
equação:

L=0rmN2A/l (2)

onde μ0=410-7 H/m; rm é a permeabilidade relativa do material no interior do solenóide; N é o


número de voltas(espiras?); A é a área da secção transversal; e l é o comprimento. No caso desta sonda
(ver Figura 1) a indutância mútua é dada por:

L=0N2Ar1r2/(l1r2+l2r1) (3)

onde r1 é a permeabilidade magnética relativa da ferrite (≥1000 para ferrite Siemens N47); r2 é a
permeabilidade magnética relativa do ar, quando a sonda é colocada no ar ou do UHPFRC quando a
sonda é colocada sobre uma superfície UHPFRC; l1 e l2 são os comprimentos definidos na Figura 1.
Sendo LUHPFRC a indutância mútua(mútua?) medida pela sonda quando colocada sobre a superfície de
UHPFRC e Lair a indutância mútua medida pela sonda no ar, longe de qualquer objeto magnético,
pode ser demonstrado que a permeabilidade relativa do UHPFRC como um material compósito (r) é
dada aproximadamente por

r LUHPFRC/Lair (4)

Isto é valido para o caso particular da nossa sonda e para a gama de valores de indutância obtidos com
as dosagens de fibras usuais no UHPFRC. Para medir a indutância recorreu-se a um equipamento RLC
de elevada precisão Agilent E4980A (que se pode observar na Figura 4, à esquerda). As medições de
indutância foram realizadas com uma frequência 20 Hz e um nível de tensão de 2 V.

3. ENSAIOS LABORATORIAIS

3.1 Campanha experimental

O desempenho da sonda magnética foi inicialmente investigado na FEUP usando pequenas placas de
UHPFRC, com 30415025 mm3, produzidas com fibras de diferentes comprimentos, dosagens e
orientação preferencial. Neste trabalho foram preparadas misturas ternárias de cimento (CEM I 42,5
R), fíler calcário e metacaulino com uma densidade de 3.10, 2.68 e 2.20, respectivamente. O tamanho
médio das partículas de cimento, fíler calcário e metacaulino é de 14.6, 5.36 e 7.12 μm,
respectivamente. O superplastificante utilizado (Viscocrete 20HE), à base de carboxilatos
modificados, apresenta uma densidade de 1.08 e 40% de teor de sólidos. Usou-se uma areia natural
com 1 mm de dimensão máxima, uma massa volúmica de 2630 kg/m3 (material seco) e uma absorção
de 0,3%. No que diz respeito às fibras foram estudados três tipos de microfibras de aço lisas com uma
resistência à tracção de 2100 MPa, seção circular (df =0.175 mm) e diferentes comprimentos (lf = 6, 9,
10 e 12 mm), fornecidas pela KrampeHarex. As proporções na mistura empregues no presente estudo
são apresentadas no Quadro 1. Note-se que a quantidade de água foi corrigida tendo em conta a água

519
Avaliação não-destrutiva da dosagem e orientação das fibras em camadas de UHPFRC

presente no superplastificante e a água necessária para saturar a areia, uma vez que esta se encontrava
seca. No final da amassadura foi realizado o ensaio de espalhamento para avaliar a deformabilidade
no estado fresco. Este ensaio consiste em encher com argamassa o molde tronco-cónico [4], levantá-lo
e medir o diâmetro médio (Desp) da área de espalhamento resultante, após a cessação do movimento.
Os resultados obtidos para cada mistura são apresentados no Quadro 1. Dado o elevado conteúdo em
materiais finos e a muito baixa relação água/finos destas misturas está sempre assegurada uma
elevada viscosidade, não havendo risco de segregação. Todas as misturas exibiram boa
trabalhabilidade podendo ser classificadas como auto-compactáveis, exceto no caso da mistura M2.3c,
para a qual foi necessária uma ligeira vibração para encher completamente o molde.

Quadro 1. Proporções na mistura (kg/m3) e respetivo diâmetro de espalhamento.


Materiais constituintes M2.1 M2.2M2.3a M2.3b M2.3 M2.3c M2.4
CEM I 42.5 R 548.63
metacaulino 182.88
Filer calcário 313.50
Areia 993.56 967.26 940.96 940.96 940.96 940.96 914.66
Água 205.00
Superplastificante 19.86 19.86 22.50 22.50 22.50 22.50 23.00
Fibras, Vf : 1% 2% 3% 3% 3% 3% 4%
DM6/0.175 235.50
DM9/0.175 235.50
DM10/0.175 78.50 157.00 235.50 314.00
DM12/0.175 235.50
Desp (mm) 286.5 275.5 273.5 281.5 260.5 215.0 268.0

Após o ensaio no estado fresco, betonaram-se provetes em forma de placa (15030425mm3) nos
quais, posteriormente, se avaliou a permeabilidade magnética. Tal como se ilustra na Figura 2, uma
série de provetes foi betonada depositando simplesmente o material no centro do molde e deixando-o
fluir até encher completamente o molde (sem qualquer vibração, excepto para M2.3c). Este
procedimento permitiu a orientação aleatória das fibras, logo esta série de provetes foi referenciada
como "Aleatória". Numa outra série seguiu-se um procedimento idêntico mas durante o enchimento o
material foi submetido a um campo electromagnético utilizando o esquema apresentado na Figura 2, o
que forçou o alinhamento das fibras na direcção da força electromagnética gerada (paralela à maior
dimensão do provete). Esta série de provetes foi referenciada como "Orientado".

No que respeita aos ensaios não destrutivos, as medições da indutância foram realizadas em duas
zonas das placas (A e B) e ao longo de duas direcções (X e Y) para cada zona, tal como indicado na
Figura 3. A partir dos valores de indutância, a permeabilidade magnética relativa foi calculada através
da Equação (4).

Figura 2. Método de enchimento e orientação das fibras: aleatória (à esquerda); orientado (à direita).

520
Nunes, Ribeiro, Carvalho, Pimentel, Brühwiler e Bastien-Masse

Figura 3. Medição da indutância na: Zona A - direção Y (à esquerda); b) Zona B –direção X (à direita).

No laboratório do EPFL os ensaios não destrutivos foram realizados em duas lajes reforçadas com
UHPFRC (PBM1 e PBM2) (ver Figura 4). Estas lajes pertencem a uma campanha experimental
desenvolvida por Bastien-Masse no âmbito da sua tese de doutoramento [5]. A camada de UHPFRC
betonada sobre estas lajes foi fabricada com uma pré-mistura comercial contendo 3% em volume de
fibras de aço lisas (lf = 13mm; df = 0,2 mm). Todas as lajes apresentavam uma espessura total de 260
mm, incluindo a camada de UHPFRC com uma espessura nominal de 50 mm. Na camada de
UHPFRC da laje PBM1 não foi incluída armadura ordinária, ao passo que na camada de UHPFRC da
laje PBM2 foram incluídas duas camadas de varões nervurados de 8 mm (B500 B), espaçados de 150
mm, nas duas direções.

Como se pode observar na Figura 4 (direita), as medições foram realizadas em ambas as direcções (Y
e X) e na face de enchimento da camada UHPFRC, perfazendo um total de 190 pontos por zona.
Foram ensaiadas duas zonas adjacentes (A e B) em cada laje, cada uma medindo 500×500 mm2. A
direção Y encontrava-se alinhada com a camada superior da armadura de reforço incluída na laje
PBM2.

50
Y
X

550 mm
50

550 mm
Figura 4. Laje PBM1 testada no EPFL (à esquerda); Grelha de pontos usados nas medições (à direita).

3.2 Medições nas placas pequenas de UHPFRC

3.2.1 Efeito da dosagem de fibras


Na Figura 5 (à esquerda) apresenta-se a média dos resultados de r obtidos para cada uma das
direções,e em ambas as zonas, em função da dosagem de fibras. O valor médio foi obtido a partir de:

r,m=(r,X + r,Y) / 2 (5)

onde r,X e r,Y são a permeabilidades magnéticas relativas obtidas nas direções X e Y,
respectivamente. Deve referir-se que neste gráfico estão incluídos os resultados obtidos com os
provetes orientados e os não orientados. Verificou-se a existência de uma relação linear entre a

521
Avaliação não-destrutiva da dosagem e orientação das fibras em camadas de UHPFRC

dosagem de fibras do UHPFRC e a permeabilidade magnética relativa, e que esta relação se revelou
independente da orientação das fibras.

Figura 5. Variação de r,m com: dosagem de fibras (à esquerda); comprimento das fibras (à direita).

3.2.2 Efeito do comprimento das fibras


Comparando os resultados obtidos com os provetes das misturas M2.3a, M2.3b, M2.3 e M2.3c (todas
com uma dosagem de fibras de 3%), é possível avaliar a influência do comprimento das fibras nos
resultados de r,m. Da análise da Figura 5 (à direita), observa-se um ligeiro aumento dos valores de
r,m à medida que se utilizaram fibras de maior comprimento.

3.2.3 Efeito da orientação das fibras


A representação gráfica dos resultados de r obtidos na direcção X em função dos obtidos na direcção
de Y permitiu facilmente distinguir os grupos de provetes com uma orientação preferencial das fibras e
os grupos de provetes correspondentes a cada uma das dosagens de fibras testadas, tal como se pode
observar na Figura 6 (esquerda). Da análise desta figura pode concluir-se também que ocorreu alguma
orientação das fibras (na direcção Y) com os provetes não-orientados, provavelmente induzida pelo
fluxo do UHPFRC.

Calculando o aumento r devido à presença de fibras no UHPFRC, para ambas as direções X e Y:

r,X = r,X-1 r,Y = r,Y-1 (6)

e atribuindo 100% à soma destas variações observadas nas direções X e Y, então a percentagem de
aumento r em cada direcção pode ser calculado como se segue:

x = 100∙r,X /(r,X +r,Y) y = 100∙r,Y /(r,X +r,Y) (7)

As diferenças (y-x) foram calculados e estão representados na Figura 6 (direita). Os valores positivos
de (y-x) indicam a orientação preferencial das fibras ao longo da direcção Y, enquanto que os
valores negativos indicam a orientação preferencial das fibras ao longo da direcção X. Valores
próximos de zero indicam a existência de orientação preferencial das fibras.

3.2 Medições nas lajes PBM reforçadas

Na Figura 7 (esquerda) apresentam-se diagramas de extremos e quartis para os resultados de r,m


obtidos nas lajes PBM1 e PBM2. O limite da caixa mais próximo de zero indica o percentil de 25%, a
linha dentro da caixa representa a mediana e o limite da caixa mais distante de zero indica o percentil
de 75%. As barras de erro acima e abaixo da caixa correspondem aos percentis de 90% e 10%. Os
percentis de 5% e 95% são identificados com círculos (o). A partir desta figura conclui-se que não

522
Nunes, Ribeiro, Carvalho, Pimentel, Brühwiler e Bastien-Masse

houve diferenças significativas entre as zonas A e B de cada laje, o que significa que as fibras se
encontravam uniformemente distribuídas.

Figura 6. Distinção entre provetes orientados e não orientados.


PBM2 - zone A
1,90e-2

1,85e-2

1,80e-2

1,75e-2
LY (H)

150mm
1,70e-2
150mm

1,65e-2

1,60e-2

1,55e-2
0 100 200 300 400 500

X (mm)
Figura 7. Diagramas de extremos e quartis para os resultados de rm (direita). Medições de indutância na laje
PBM2 na direcção Y ao longo de vários alinhamentos segundo X que mostram a localização varões alinhados
com Y (esquerda).

Comparando os resultados de PBM1 com PBM2, observa-se que a presença de armadura na camada
de UHPFRC levou ao aumento tanto o valor médio como a variabilidade dos resultados. Na Figura 7
(à direita) representa-se a variação dos resultados da indutância (medida segundo Y) ao longo de
vários alinhamentos segundo X, em que o efeito da presença dos varões da armadura segundo Y é bem
evidenciado. Um varão alinhado segundo a direção da medição aumenta principalmente r nessa
direção e não afeta muito o resultado obtido na outra direção. Assim, a posição da amadura superior da
camada de UHPFRC da laje PBM2, ao longo de X, é claramente identificada coincidindo com os
valores de pico da indutância medida na direcção Y (ver Figura 7, à direita). A distância entre os
valores de pico é de cerca de 150 mm, o que corresponde ao espaçamento nominal dos varões na
camada UHPFRC.

Outra conclusão importante deste conjunto de resultados é que a dosagem e a orientação das fibras do
UHPFRC podem ainda ser avaliadas se apenas se considerarem as medições feitas na zona entre dois
varões adjacentes e quando o espaçametno entre varões ultrapassa a maior dimensão da sonda. Estes
valores correspondem aos valores mínimos no gráfico da Figura 7 ( à direita). Pode confirmar-se que
os valores mínimos de r,m obtidos na camada de UHPFRC da laje PBM2, incluindo armadura, se
encontram dentro do intervalo de valores medidos na camada de UHPFRC da, sem armaduras, da laje
PBM1.

523
Avaliação não-destrutiva da dosagem e orientação das fibras em camadas de UHPFRC

4. MEDIÇÕES EM CAMPO NO VIADUTO DE CHILLON

4.1 Âmbito

Os viadutos de Chillon, abertos ao trânsito em 1969, são dois viadutos paralelos de betão pré-
esforçado com 2150 m de comprimento, cada um suportando uma faixa de rodagem com 12 m de
largura, e com vãos que variam entre 92 e 104 m (Figura 8). Cada viaduto possui 22 pilares e 2
encontros nas extremidades e está dividido em 5 estruturas independentes através de juntas de
dilatação. A secção transversal consiste numa viga caixão constituída por um núcleo rectangular oco
com 5 m de largura e duas consolas laterais ocas com 4 m de vão, perfazendo uma largura total de
13 m.

Figura 8. Viadutos de Chillon, Suíça.

Após 45 anos de serviço, o betão dos viadutos começou a exibir os primeiros sinais da ocorrência de
reacções alcális-silica o que poderia conduzir à deterioração da resistência do betão. Neste contexto,
foi necessário limitar a exposição do betão à água, tendo em vista retardar a reacção bem como
reforçar a laje do tabuleiro em termos da sua resistência à flexão, corte e fadiga na antecipação da
degradação da resistência do betão. Para tal, foi proposta a aplicação de uma camada de UHPFRC
com 40 mm de espessura, reforçada com armadura de modo a proporcionar o reforço e
impermeabilização da laje necessários (Figura 9). A tecnologia utilizada permitiu a realização da
intervenção de reforço num período de tempo curto, o que é particularmente importante no presente
caso. A primeira fase das obras, correspondente à intervenção no viaduto correspondente à faixa da
auto-estrada com circulação no sentido leste, foi concluída em setembro de 2014. A intervenção no
segundo viaduto terá início em Junho de 2015.

Figure 9. Equipamento usado para a descarga e nivelamento do UHPFRC aplicado na laje do tabuleiro (à
esquerda); medições com a sonda magnética na camada de UHPFRC aplicado no viaduto Chillon (à direita).

4.2 Programa experimental

As medições efetuadas com a sonda magnética no viaduto Chillon foram realizadas em 11 zonas
semelhantes à ilustrada na Figura 9, à direita. Para cada zona usou-se uma grelha com uma área de
500×500 mm2 e 190 pontos de medição (semelhante à utilizada para as lajes PBM, ver Figura 4). As
medições foram efectuadas em ambas as direcções, estando a direcção de Y alinhada com a direcção
transversal do viaduto. A identificação adoptada para as zonas foi a seguinte: os números romanos I a
IX indicam os nove alinhamentos de secção transversal em que foram efectuadas medições, ver Figura

524
Nunes, Ribeiro, Carvalho, Pimentel, Brühwiler e Bastien-Masse

10; as letras maiúsculas A a D indicam a localização da zona, em cada secção transversal, em que
foram realizadas as medições, ver Figura 11. A camada de UHPFRC aplicada no viaduto de Chillon
foi fabricada com uma pré-mistura comercial, que contém 3,0% em volume de fibras de aço lisas
(lf=14mm; df = 0,2mm).

Figura 10. Corte longitudinal do viaduto com indicação da posição das várias secções analisadas.

Mountain Lake

Zone A Zone B Zone C Zone D

Figura 11. Secção transversal do viaduto, mostrando a posições das juntas entre as diferentes fases de betonagem
do UHPFRC e as zonas seleccionadas para efetuar as medições.

4.3 Resultados

Na Figura 12 apresenta-se uma selecção dos resultados obtidos no viaduto de Chillon, onde se
acrescentaram os resultados obtidos para a laje PBM1 como referência. A variação dos valores médios
de r,m pode ser explicada, principalmente, pela presença de armadura com diferentes arranjos na
camada de UHPFRC e pelas diferenças no recobrimento das armaduras.
SIIB S3B
1,25 1,25

1,20 1,20

1,15 1,15
r,Y

r,Y

1,10 1,10

1,05 1,05

1,00 1,00
1,00 1,05 1,10 1,15 1,20 1,25 1,00 1,05 1,10 1,15 1,20 1,25

r,X r,X

Figura 12. Comparação dos valores de r,mean obtidos no viaduto de Chillon com os da laje PBM1 (esquerda).
Comparação dos resultados de referência da FEUP com os da seção III-zona B direita).

Com base nas conclusões retiradas das medições nas lajes PBM1 e PBM2, os valores de r,m medidos
entre os varões poderam ser considerados como relativos ao UHPFRC. Assim, na Figura 11 (direita)
apresenta-se um subconjunto de resultados das medições efetuadas entre as armaduras na zona SIIIB.
Com base nos resultados de referência da FEUP concluiu-se que uma dosagem de fibras de 3% conduz
a r,m ≈ 1.12. Pode observar-se que os valores obtidos na secção SIIIB estão acima deste valor de
referência (devido ao comprimento das fibras ser um pouco maior, ver Figura 4 à direita) o que
confirma a dosagem nominal de fibras de 3%. Os resultados da Figura 12 (à direita) indicam

525
Avaliação não-destrutiva da dosagem e orientação das fibras em camadas de UHPFRC

igualmente uma ligeira orientação preferencial das fibras na direcção longitudinal correspondente, em
média, a (y-x) ≈-8%. Estes resultados são da mesma ordem de grandeza dos resultados obtidos nos
provetes “aleatórios” da FEUP, ver Figura 6 (direita).

CONCLUSÕES

A dosagem de fibras e a orientação das fibras relativamente à direção da tensão de tração aplicada são
dois fatores determinantes no comportamento do UHPFRC. No âmbito do presente projeto de
investigação desenvolveu-se uma sonda magnética capaz de medir a indutância, a qual
permiteverificar facilmente a dosagem de fibras e a eventual orientação preferencial das mesmas em
camadas de UHPFRC endurecido, e em condições de aplicação reais.

A média e a diferença da entre o acréscimo de permeabilidade relativa medida em duas direcções


ortogonais fornecem indicadores fiáveis da dosagem de fibras e da sua orientação, respectivamente. O
efeito da armadura pode ser removido quando o espaçamento das armaduras excede a dimensão
máxima da sonda, considerando os valores minimos de r,m que correspondem às medições efectuadas
na zona entre as armaduras. A aplicação do método no viaduto de Chillon comprovou a sua utilidade
para o controlo de qualidade da distribuição das fibras em camadas de reforço com UHPFRC.

AGRADECIMENTOS

Este trabalho foi financiado por Fundos FEDER através do Programa Operacional Factores de
Competitividade – COMPETE e por Fundos Nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a
Tecnologia no âmbito do projeto PTDC/ECM/122446/2010. Os autores agradecem ainda a
colaboração das empresas Concremat, Secil, Omya Comital, Mc-Bauchemie, Sika, KrampeHarex e
Rangel.

REFERÊNCIAS
[1] Brühwiler, E.; Denarié, E. (2013). Rehabilitation and Strengthening of Concrete Structures Using
Ultra High Performance Fibre Reinforced Concrete. Structural Engineering International, Vol.
23, N. 4, pp. 450-457.
[2] Ferrara, L.; Faifer, M.; Toscani, S. (2012). A magnetic method for non-destructive monitoring of
fiber dispersion and orientation in steel fiber reinforced cementitious composites—part 1: method
calibration. Materials and Structures, Vol. 45, N. 4, pp. 575-589.
[3] Cavalaro, S. H. P.; López, R.; Torrents, J. M.; Aguado, A. (2015). Improved assessment of fibre
content and orientation with inductive method in SFRC. Materials and Structures, Vol. 48, N. 6,
pp. 1859-1873.
[4] Okamura, H.; Ozawa, K.; Ouchi, M. (2000). Self-compacting Concrete. Structural Concrete,
Vol.1, pp. 3-17.
[5] Bastien-Masse, M.; Brühwiler, E. (2015). Experimental Investigation on Punching Resistance of
R-UHPFRC – RC Composite Slabs. Materials and Structures. doi: 10.1617/s11527-015-0596-4

526
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

Análise experimental de elementos estruturais reforçados com


uma camada de UHPFRC

Mário Pimentel1 Sandra Nunes2 André Lopes3

RESUMO

Neste trabalho são apresentados os resultados de uma campanha experimental que envolveu o ensaio
de 18 vigas, 10 delas reforçadas com uma camada de UHPFRC com uma composição desenvolvida no
LABEST-FEUP. Os modelos foram definidos para traduzirem a zona de momentos negativos de lajes
e contemplam duas séries distintas: a série L com roturas por flexão e a série V com roturas por corte.
Os resultados obtidos confirmam a potencialidade desta técnica não só para o reforço à flexão de lajes
existentes, mas também para o reforço ao corte, tendo neste último caso sido obtidos acréscimos muito
significativos de resistência (cerca de 80%) e de ductilidade (superior a 100%) em relação aos provetes
de referência.

Palavras-chave: Betão de elevado desempenho reforçado com fibras (UHPFRC), reforço, betão
estrutural, flexão, esfoço transverso

1. INTRODUÇÃO

Os custos envolvidos na manutenção das estruturas de betão armado constituem um encargo cada vez
mais significativo para a sociedade. No futuro, as estruturas de betão sustentáveis serão aquelas que
requeiram apenas intervenções mínimas de manutenção preventiva com poucas ou nenhumas
interrupções de funcionamento. O reforço de estruturas por meio de camadas exteriores de betões de
ultra elevado desempenho reforçados com fibras (Ultra-High Performance Fiber-Reinforced Concrete
- UHPFRC) tem-se revelado uma técnica extremamente promissora no sentido de atingir este objetivo
[1]. Devido às propriedades excecionais deste material, a estrutura pode não só ser reforçada, mas
também a sua durabilidade pode ser significativamente melhorada. Neste trabalho apresenta-se uma
campanha experimental com o objetivo de contribuir para a compreensão do comportamento
estrutural de elementos compósitos reforçados com uma camada de UHPFRC.

1
Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, CONSTRUCT-LABEST, Porto, Portugal. mjsp@fe.up.pt
2
Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, CONSTRUCT-LABEST, Porto, Portugal. snunes@fe.up.pt
3
Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, CONSTRUCT-LABEST, Porto, Portugal. andrelopes@fe.up.pt

527
Análise experimental de elementos estruturais reforçados com uma camada de UHPFRC

2. CAMPANHA EXPERIMENTAL

2.1 Geometria

Na campanha experimental que aqui se descreve foram estudadas vigas de betão armado e vigas de
betão armado reforçadas com uma camada de UHPFRC, sendo que esta pode ser armada (RU) ou não
armada (U). Os elementos foram ensaiados na configuração de viga isostática com um tramo em
consola. Foram definidas duas configurações distintas para a secção transversal e para os vãos com o
objetivo de obter roturas por flexão (série L) e roturas por corte (série V). Todas as peças foram
armadas com estribos no vão interno com vista a assegurar que a rotura ocorre no tramo em consola.
A geometria dos elementos ensaiados está sintetizada na Figura 1, na Figura 2 e no Quadro 1.

Figura 1. Condições de apoio e geometria dos elementos estruturais.

Figura 2. Secções transversais A-A dos elementos ensaiados. A branco o betão convencional, a cinzento a
camada de UHPFRC.

A série L pretende reproduzir o comportamento de uma laje na zona de momentos negativos. Os


provetes LSA têm 21.5cm de espessura e 40cm de largura, uma taxa de armadura =0.47%, e são
considerados como os provetes de referência exibindo o comportamento típico desta tipologia
estrutural antes do reforço. Os provetes LSA-U e LSA-RU têm 25cm de espessura total e reproduzem
o comportamento dos elementos reforçados com uma camada de 5cm de espessura de UHPFRC.
Enquanto nos modelos LSA-RU esta camada é adicionalmente reforçada com 4Ø10, simulando a
colocação de armaduras Ø10//0.10 numa laje real, nos modelos LSA-U a camada de UHPFRC não é
armada. Os modelos LDA são constituídos apenas por betão convencional e foram definidos com vista
a representar o comportamento de uma laje de betão armado com a mesma espessura e armaduras
totais da laje reforçada LSA-RU.

528
Pimentel, Nunes e Lopes

A série V pretende reproduzir o comportamento ao corte da zona de momentos negativos de


elementos sem armadura de esfoço transverso. Os provetes VSA têm 21.5cm de espessura e 15cm de
largura, uma taxa de armadura =1.26%, e são considerados como os provetes de referência exibindo
o comportamento típico desta tipologia estrutural antes do reforço. Tal como no caso da série L, os
provetes VSA-U e VSA-RU correspondem aos elementos reforçados com 5cm de UHPFRC, sendo
que no último caso esta camada é armada com 3Ø10, e os provetes VDA foram definidos com vista a
representar o comportamento de uma viga de betão armado com as mesmas dimensões e armadura da
viga reforçada VSA-RU.

Nesta campanha experimental foram construídos dois exemplares de cada um dos modelos,
perfazendo um total de 18 ensaios, para assegurar a representatividade dos resultados obtidos.

Quadro 1. Geometria das várias configurações estruturais.


Provete
b hc hU a c e As Asu ds dsu d 
(m) (m) (m) (m) (m) (m) (cm2) (cm2) (m) (m) (m) (%)
LSA 0,215 0,000 0,000 0,180 0,47
LDA 0,250 0,000
0,40 1,00 0,70
LSA-U 3,142 0,202 0,81
0,200 0,050
LSA-RU
0,15 3,393 0,180 0,225
VSA 0,215 0,000 0,000 0,180 1,26
VDA 0,250 0,000
0,15 0,60 0,60
VSA-U 2,356 0,198 1,93
0,200 0,050
VSA-RU

2.2 Caracterização dos materiais

No Quadro 2 encontram-se sintetizados os valores que traduzem o comportamento do betão, aço e


UHPFRC utilizados na campanha experimental. O betão convencional foi produzido em central tendo
sido especificada uma classe de resistência alvo C30/37. A dimensão máxima do agregado é de
dg=14mm. Os ensaios realizados em provetes cilíndricos normalizados revelaram uma resistência à
compressão uniaxial fc=35MPa. A betonagem dos provetes VDA ocorreu numa data posterior e,
apesar de a classe de resistência requisitada para o betão ter sido a mesma, durante a betonagem foi
percetível que a amassadura continha água em excesso. Os resultados dos ensaios de compressão
uniaxial vieram a confirmar que a resistência à compressão do betão nos provetes VDA é de 28MPa.
A resistência à tração indicada no quadro foi obtida através do ensaio de compressão diametral.

Quadro 2. Síntese dos valores médios dos materiais utilizados na campanha experimental.
Betão Aço UHPFRC
Provete Ec fc fct,sp Es fy fu Eu fUt,el fUt,U Ut,U wU
(GPa) (MPa) (MPa) (GPa) (MPa) (MPa) (GPa) (MPa) (MPa) (‰) (mm)
VDA 32 28 2.6
193 537 672 45 5.0 6.5 3.0-5.0 4.5
Restantes 31 35 3,1

O aço utilizado é alta ductilidade, da classe de resistência A500. O diagrama tensão-extensão típico
dos varões utilizados está representado na Figura 3 a). Verifica-se que não existe um patamar de
cedência vincado. Apesar da extensão correspondente à tensão de pico ser de 10.6%, verifica-se que a
partir da extensão de 6% o diagrama apresenta um ramo quase horizontal.

O UHPFRC usado neste trabalho foi produzido no LABEST e a sua composição resultou de um
processo de otimização descrito em [2], estando sintetizada no Quadro 3. A matriz consiste numa
mistura ternária de cimento (CEM I 42,5 R), fíler calcário e sílica de fumo, com uma densidade de
3.10, 2.68 e 1.38, respectivamente. O tamanho médio das partículas de cimento, fíler calcário e

529
Análise experimental de elementos estruturais reforçados com uma camada de UHPFRC

metacaulino é de 14.6 e 5.36μm. As partículas de sílica de fumo têm um tamanho médio cerca de 50 a
100 vezes inferior. O superplastificante utilizado (Viscocrete 20HE), à base de carboxilatos
modificados, apresenta uma densidade de 1.08 e 40% de teor de sólidos. Usou-se uma areia natural
com 1 mm de dimensão máxima, uma massa volúmica de 2630 kg/m3 (material seco) e uma absorção
de 0,3%. No que diz respeito às fibras, foram empregues microfibras de aço lisas com uma resistência
à tracção de 2100 MPa, secção circular (df =0.175 mm) e comprimentos lf = 9 e 12 mm, fornecidas
pela KrampeHarex, com uma dosagem total de 3% em volume. Note-se que a quantidade de água foi
corrigida tendo em conta a água presente no superplastificante e a água necessária para saturar a areia,
uma vez que esta se encontrava seca. No final da amassadura foi realizado o ensaio de espalhamento
para avaliar a deformabilidade no estado fresco. Este ensaio consiste em encher com argamassa o
molde tronco-cónico [3], levantá-lo e medir o diâmetro médio (Desp) da área de espalhamento
resultante, após a cessação do movimento. Os resultados obtidos para cada mistura são também
apresentados no Quadro 3. Dado elevado conteúdo em materiais finos e a muito baixa relação
água/finos destas misturas está sempre assegurada uma elevada viscosidade, não havendo risco de
segregação. A mistura exibiu boa trabalhabilidade podendo ser classificada como auto-compactável.

Quadro 3. Proporções na mistura (kg/m3) e respetivo diâmetro de espalhamento.


Materiais constituintes
CEM I 42.5 R 794.90
Sílica de fumo 79.49
Filer calcário 311.43
Areia 940.96
Água 153.76
Superplastificante 22.20
Fibras, Vf : 3%
DM9/0.175 117.75
DM12/0.175 117.75
Desp (mm) 288.5
Tfunil (s) 33.63

No que diz respeito às características mecânicas do UHPFRC, as mais relevantes para este estudo
dizem respeito ao comportamento à tração do material, cujo diagrama de comportamento tipo está
esquematizado na Figura 3 b). Os estudos realizados no âmbito do projeto em curso no LABEST
permitiram avaliar a grande influência da orientação das fibras no comportamento do material, tendo
sido obtidas resistências de pico fUt,U na ordem dos 17MPa no caso de fibras orientadas e de cerca de
6-7MPa para o caso de fibras com orientação aleatória. Os valores apresentados no Quadro 2 são
representativos de um UHPFRC com uma orientação aleatória de fibras no espaço, que se considera
ser representativa para a camada de 5cm colocada nos modelos testados.
800
700
600
Tensão (MPa)

500 fu = 672MPa
u = 10.6%
400 fy = 537MPa
300  = 0.48%

200
100 res = 0.20%
0
0 0.05 0.1 0.15 0.2
Extensão,  (-)
a) b)
Figura 3. Diagramas do aço e do UHPFRC: a) diagrama  do aço utilizado na campanha experimental; c)
diagramas tipo do UHPFRC.

530
Pimentel, Nunes e Lopes

2.3 Preparação da superfície e colocação do UHPFRC

Dado que não existe qualquer conexão mecânica entre a camada de UHPFRC e o betão subjacente
para além daquela proporcionada pela rugosidade da interface, a superfície de contacto entre os dois
materiais foi alvo de um tratamento que consistiu na demolição da camada de recobrimento com
martelo pneumático com vista à obtenção de uma superfície rugosa. Previamente à colocação do
UHPFRC esta superfície foi humedecida, ver Figura 4 a). A betonagem do UHPFRC foi efetuada por
deposição do material sobre esta superfície, sem recurso a vibração (ver Figura 4 b)), utilizando um
ancinho para ajudar no espalhamento. A colocação do UHPFRC foi efetuada cerca dos 47 dias de
idade do betão convencional. Os ensaios decorreram, em média, 21 dias após a colocação da camada
de UHPFRC.

a) b)
Figura 4. Betonagem da camada de UHPFRC: a) vista da superfície tratada; b) UHPFRC autocompactável.

2.4 Procedimento de ensaio e instrumentação

Os ensaios foram conduzidos num sistema servo controlado, com imposição de uma velocidade de
deslocamento do atuador de 0.02mm/s para os provetes da série L e de 0.01mm/s para a série V. O
esquema de ensaio e a instrumentação cujos resultados são discutidos neste artigo está apresentada na
Figura 5. Dado que a superfície superior dos provetes é rugosa, e apesar se se ter efetuado um
tratamento prévio da superfície em contacto com o apoio do lado esquerdo, os assentamentos medidos
neste apoio não são negligenciáveis. Estes assentamentos foram medidos e a rotação de corpo rígido
respetiva foi utilizada para corrigir os deslocamentos medidos na extremidade da consola. Desta
forma, os valores de  apresentados nos gráficos contemplam já esta correção. Sob o apoio central foi
colocada uma placa de neoprene com 8 mm de espessura.

a) b)
Figura 5. Instrumentação: a) localização dos instrumentos de medida: b) detalhe dos LVDT’s na zona do apoio
central para medição da abertura da interface (série L).

Nos provetes da série L foi medida a curvatura média num troço de 350mm centrado sobre o apoio
através dos LVDT’s representados na Figura 5. Foi ainda medida a rotação em duas secções,
permitindo a determinação da sua rotação relativa  = 2-1. No caso dos provetes da série L serão
também discutidos os resultados obtidos pelos LVDT’s verticais dispostos de forma a medir a abertura
da interface entre o UHPFRC e o betão convencional, ver Figura 5 b).

531
Análise experimental de elementos estruturais reforçados com uma camada de UHPFRC

3. RESULTADOS

3.1 Série L – rotura por flexão

Os diagramas carga-deslocamento e carga-curvatura obtidos para os provetes da série L estão


apresentados na Figura 6. Verifica-se que as peças reforçadas com a camada de UHPFRC apresentam
um comportamento significativamente mais rígido no ramo ascendente das curvas devido não só à
maior resistência à tração do UHPFRC, mas essencialmente ao facto deste material exibir
endurecimento e um ramo de amolecimento muito alongado, com uma capacidade de dissipação de
energia cerca de 100 vezes superior à do betão convencional. É interessante realçar que nos provestes
LSA-RU a carga de pico coincide com a cedência das armaduras, enquanto nos LSA-U ocorre
previamente à cedência. Nas peças LSA-RU ocorreu rotura das armaduras da camada de reforço após
a exaustão da resistência do UHPFRC e para uma curvatura de cerca de 0.10m-1, o que corresponde a
uma extensão média de cerca de 20‰ ao longo dos 350mm que constituem a base de medida dos
LVDT’s horizontais. Após a rotura destas armaduras, a curva carga deslocamento segue a das peças
sem armadura na camada de reforço.

120 120
LSA-RU LSA-RU
100 100
Applied force, V (kN)
Applied force, V (kN)

LDA
80 80
4 rebar LDA
60 breaks 1 rebar 60
break LSA-U
LSA-U
40 40

20 20 LSA
LSA

0 0
0 20 40 60 80 100 120 0 0.02 0.04 0.06 0.08 0.1 0.12
Vertical displacements,  (mm) Curvature, 1/r (m-1)
a) b)
Figura 6. Curvas carga-deslocamento (a) e carga-curvatura (b) das peças com rotura por flexão.

Em todos os provetes foram observadas fendas horizontais ao longo da interface entre os dois
materiais. Uma observação mais cuidada da fenda parece indicar que, em grande parte da sua
extensão, esta ocorre imediatamente abaixo da interface, sendo por isso devida à fissuração do betão
convencional. Tal como se evidencia na Figura 7 este descolamento é mais acentuado nos provetes
sem armadura na camada de reforço LSA-U. Nos provetes LSA-RU a abertura desta fenda é
significativamente menor e a sua propagação é contida, tal como se pode concluir a partir da
comparação das leituras correspondentes a w1 e w2 obtidas com LVDT’s verticais afastados de
125mm, e não inibe a mobilização da resistência das armaduras dispostas na camada de reforço.

120
LSA-RU1
100
Applied force, V (kN)

80

60

40
LSA-U2 w1
20
w2
0
0 0.25 0.5 0.75 1 1.25
Interface opening, wi (mm)
Figura 7. Curvas força-abertura da interface. O ponto assinalado nas curvas corresponde à curvatura 1/r ≈ 0.10
para a qual ocorreu rotura das armaduras nos provetes LSA-RU.

532
Pimentel, Nunes e Lopes

O padrão de fendilhação na rotura das peças da série L é apresentado na Figura 8. Verifica-se que nos
provetes LSA-U apenas uma fenda macroscópica pôde ser observada na camada de UHPFRC, embora
se tivessem identificado várias fendas no betão convencional. Previamente à delaminação da camada
de reforço, a compatibilidade de deformações decorrente da hipótese de secções planas entre o
UHPFRC e o betão convencional indica que o UHPFRC estaria micro fissurado (portanto em regime
de endurecimento), não sendo estas micro fissuras detetáveis à vista desarmada. No caso dos provetes
LSA-RU, a camada de UHPFRC exibiu um padrão de fendilhação com um espaçamento de cerca de
4cm entre fendas, sensivelmente metade do espaçamento entre fendas no betão convencional.

LSA: MR=40kN.m

LDA: MR =84kN.m

LSA-U: MR=43kN.m

LSA-RU: MR=99kN.m
Figura 8. Provetes da série L após a rotura por flexão.

3.2 Série V – rotura por corte

Os diagramas carga-deslocamento e carga-rotação relativa obtidos para os provetes da série V estão


apresentados na Figura 9. As curvas carga deslocamento dos modelos VSA-RU diferem entre si, facto
que se terá ficado a dever a uma deficiente medição do assentamento de apoio da extremidade num
dos provetes. Observando as curvas carga-rotação verifica-se uma concordância assinalável entre as
curvas obtidas para os modelos semelhantes entre si. Tal como esperado, todos os modelos romperam
por corte.

Os modelos VSA tiveram uma rotura frágil a cerca 75% da carga última expectável para o modo de
flexão. A rotura foi despoletada de forma repentina pela propagação da fenda inclinada de corte, ver
Figura 10, sendo acompanhada por uma redução muito significativa da capacidade de carga no ramo
pós-pico. Até cargas muito próximas da rotura eram apenas visíveis as fendas de flexão. Nos modelos
VDA o modo de rotura observado foi semelhante ao acima descrito e ocorreu para cerca de 55% da
carga última de flexão. No diagrama carga-rotação relativa ambos os modelos VDA seguem a mesma
curva até que o VDA2 rompe com a propagação da fenda diagonal. No caso da viga VDA1 a carga
pôde ainda ser ligeiramente aumentada após a propagação da fenda diagonal, ocorrendo a rotura para
uma carga ligeiramente superior.

533
Análise experimental de elementos estruturais reforçados com uma camada de UHPFRC

Os modelos reforçados VSA-U e VSA-RU apresentaram um acréscimo de resistência considerável


após a propagação da fenda diagonal. O instante da propagação desta fenda é claramente visível nas
curvas carga-deslocamento (ou rotação relativa) pela queda do valor da carga, após o que se segue um
novo ramo ascendente até à rotura. No caso dos modelos VSA-U, a carga de rotura é idêntica à carga
de rotura por flexão determinada sem a contribuição da camada de reforço. No caso dos modelos
VSA-RU, o comportamento é qualitativamente semelhante, embora a propagação da fenda diagonal e
as cargas de pico atingidas sejam superiores. O comportamento observado no ensaio segue aquele
genericamente descrito por Noshirivani e Brühwiler [4].

120 120
Vflex,VDA
100 100 Diagonal
VSA-RU

Applied force, V (kN)


Applied force, V (kN)

cracking
VSA-RU
80 80
VSA-U Vflex,VSA
60 60
VSA-U
40 40
VSA
20 20 VSA
VDA
0 0
0 5 10 15 20 25 0 0.25 0.5 0.75 1 1.25 1.5
Vertical displacement, 1 (mm) Relative rotation,  (º)
Figura 9. Curvas carga-deslocamento e carga-rotação dos provetes da série V.

O critério de rotura da Teoria da Fissura Crítica (Critical Shear Crack Theory – CSCT) desenvolvida
por Muttoni e Fernandez Ruiz [5] permite determinar a resistência ao corte de elementos sem
armadura de esfoço transverso em função de um parâmetro de deformação diretamente relacionado
com a abertura da fenda diagonal (a designada fissura crítica):

VR 1/ 3
 [MPa, mm]
bd  fc  d (1)
1  120
d g  16

Na sua formulação original foi proposto que a extensão  calculada em secção fendilhada à distância
0.6∙d da fibra mais comprimida seja usada como parâmetro indicador da abertura da fissura crítica. Na
realidade, a cinemática da fissura diagonal pode ser descrita através de um movimento de rotação em
torno da sua extremidade no banzo comprimido [6], pelo que a abertura da fenda crítica pode ser
tomada proporcional à sua rotação. Desta forma, o critério da CSCT pode ser reescrito na forma:

VR 1/ 3
 [MPa, mm]
bd  fc c    d (2)
1  120 3
d g  16

em que c3 é uma constante que permite correlacionar a rotação com a extensão e do critério original e
depende dos sistema estático do elemento.

Na Figura 11 é apresentada a comparação dos resultados experimentais com o critério da CSCT


expresso pela Eq. (2), tendo para o efeito sido usadas as rotações relativas medidas e ajustado um
valor para a constante c3 que permitisse a melhor aproximação aos resultados experimentais. No caso
dos modelos reforçados com a camada de UHPFRC, fica evidente a contribuição para a resistência
devida à nova camada.

534
Pimentel, Nunes e Lopes

VSA1: VR = 41kN

VSA2: VR = 49kN

VDA1: VR = 52kN

VDA2: VR = 48kN

VSA-U1: VR =57kN

VSA-U2: VR =60kN

VSA-RU1: VR =81kN

VSA-RU2: VR =97kN
Figura 10. Provetes da série V após a rotura por corte.

535
Análise experimental de elementos estruturais reforçados com uma camada de UHPFRC

0.6

0.5
VSA-RU
0.4

V / (b∙d∙√fc)
VSA-U
0.3

R-UHPFRC

UHPFRC
0.2

0.1 VDA
VSA
0
0 0.05 0.1 0.15
∙d / (dg + 16)
Figura 11. Curvas carga-rotação normalizada e comparação com o critério de rotura dado pela Eq. (2).

CONCLUSÕES

Neste trabalho foram apresentados os resultados de uma campanha experimental que envolveu o
ensaio de 18 vigas, 10 delas reforçadas com uma camada de UHPFRC com uma composição
desenvolvida no LABEST-FEUP. Os modelos foram definidos para traduzirem da zona de momentos
negativos de lajes. Os resultados obtidos para a série L (com roturas por flexão) permitiram concluir
que não é necessária conexão mecânica entre a nova camada e o betão existente desde que a superfície
de contacto tenha rugosidade suficiente. A resistência das armaduras na camada de reforço pôde ser
totalmente mobilizada, não sendo inibida pela delaminação do reforço. O comportamento para cargas
equivalentes às de serviço é excelente. A ductilidade da rotura é sempre inferior à de uma estrutura
monolítica de betão armado com as mesmas dimensões e armadura da estrutura compósita. Isto é
devido à forte aderência entre o UHPFRC e as armaduras nervuradas. Os resultados obtidos para a
série V (com roturas por corte) demonstram a grande eficiência da camada de UHPFRC no reforço ao
corte de elementos sem armaduras de esforço transverso. A resistência ao corte dos elementos
compósitos não é explicada pelos modelos de dimensionamento correntes de estruturas de betão
armado.

AGRADECIMENTOS

Este trabalho foi financiado por Fundos FEDER através do Programa Operacional Factores de
Competitividade – COMPETE e por Fundos Nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a
Tecnologia no âmbito do projeto PTDC/ECM/122446/2010. Os autores agradecem ainda a
colaboração das empresas STAP, Concremat, Secil, Omya Comital, Mc-Bauchemie, Sika e
KrampeHarex.

REFERÊNCIAS

[1] Brühwiler, E.; Denarié, E. (2013). Rehabilitation and Strengthening of Concrete Structures Using
Ultra High Performance Fibre Reinforced Concrete. Structural Engineering International, Vol.
23, N. 4, pp. 450-457.
[2] Nunes, S. ; Ribeiro, F. (2012). Betões de Elevado Desempenho Reforçado com Fibras. BE2012 -
Encontro Nacional Betão Estrutural 2012, Porto, Portugal. (Ed. CD-ROM).
[3] Okamura, H.; Ozawa, K.; Ouchi, M. (2000). Self-compacting Concrete. Structural Concrete,
Vol.1, pp. 3-17.

536
Pimentel, Nunes e Lopes

[4] Noshiravani, T.; Brühwiler, E. (2013) Experimental Investigation on Reinforced Ultra-High-


Performance Fiber-Reinforced Concrete Composite Beams Subjected to Combined Bending and
Shear. ACI Structural Journal, Vol. 111, No. 2, pp. 251-261.
[5] Muttoni, A.; Fernández Ruiz, M. (2008). Shear Strength of Members without Transverse
Reinforcement as a Function of Critical Shear Crack Width. ACI Structural Journal, Vol. 105,
No. 2, pp. 163-172.
[6] Campana, S.; Fernández Ruiz, M.; Anastasi, A.; Muttoni, A. (2013). Analysis of shear-transfer
actions on one-way RC members based on measured cracking pattern and failure kinematics.
Magazine of Concrete Research, Vol. 56, No. 6, pp. 386-404.

537
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

Durability performance-based design of SCC structures in marine


environment

Helena Figueiras1 Sandra Nunes2

Joana Coutinho3 Joaquim Figueiras4

RESUME

A performance-based design methodology, based on a probabilistic safety format, is presented and


applied to define concrete durability requirements. A central composite design was carried out to
identify the best mixture, given a set of constituent materials and performance requirements. This
methodology was applied to the particular case of a cruise terminal building demanding special
requirements in terms of architecture, fresh state (self-compactability) and hardened state
(compressive strength and high durability). Subsequently, the service life of a yachting harbour
structure, performed with the same SCC of the cruise terminal building, was predicted and validated
using data collected in the continuous monitoring system and during a periodic inspection.

Keywords: durability, performance-based design, monitoring, service life

1. INTRODUCTION

Durability of concrete structures is currently viewed with great concern, representing a true challenge
for the development of sustainable construction. Prevention of concrete degradation and steel
corrosion has to be taken into account since the design stage, being especially important the
development of concrete design approaches that ensure durability performance and contribute to
extend service life of concrete structures. In fact, nowadays the concrete mix-design process has
become very complex due to a considerable increase in the number of constituent materials used in the
composition and performance criteria that the composition must meet (e.g. self-compactability,
compressive strength, chloride resistance and cost). Therefore, the typical mixture optimization based
on trial and error or “one factor at a time” approaches are inefficient, costly and may not provide the
best combination of materials at minimum cost. A statistical experimental design is a more scientific
and efficient approach for establishing an optimized mixture for a given set of constraints, while
minimizing the number of experimental data tests [1]. The derived statistical models, established on
the basis of a factorial design, enable a multi-parametric optimization with the user controlling the

1
NewMensus, Lda e Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Porto, Portugal. helena.figueiras@newmensus.pt
2
Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Porto, Portugal. snunes@fe.up.pt
3
Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Porto, Portugal. jcouti@fe.up.pt
4
Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Porto, Portugal. jafig@fe.up.pt

539
Durability performance-based design of SCC structures in marine environment

goal of the optimization and the significance of each experimental parameter. This mix-design
approach was followed in the present work.

The methodology will be applied to the particular case of a cruise terminal building demanding special
requirements in terms of architecture (white concrete with a good quality surface finishing), fresh state
(self-compactability) and hardened state (compressive strength and high durability). A
performance-based design approach, based on a probabilistic safety format, is presented and applied to
define concrete durability requirements. Limit values of the selected durability indicators (apparent
chloride diffusion coefficient and electrical resistivity) were specified given the target service life,
reliability level and limit state criterion established for the structure. Once the set of concrete
requirements (fresh and hardened properties) was defined, mixture optimization was derived from
numerical models established on the basis of a factorial central composite design. In order to simplify
SCC design, the study was developed in two phases: first at mortar level and then at concrete level.

Durability of concrete structures is essentially controlled by the thickness and quality of concrete
cover and cracking. The quality of concrete cover is determined not only by mix-design and material
properties, but also by construction issues namely, execution and curing conditions. In fact, some of
the input data that are assumed in prediction models could be very different from reality and lead to
inaccurate predictions, as some parameters are uncertain and can also vary widely in space and time
[2]. In this sense, service life predictions, using probabilistic models updated with monitored field data
can provide more reliable assessment of the probability of concrete structures degradation. Therefore,
the durability performance-based design of SCC mixtures was articulated with the implementation, on
site, of a durability monitoring system based on automatic data acquisition and embedded sensors
(galvanic current sensors, reference electrodes and temperature sensors). Data obtained from field
monitoring, data collected in the continuous monitoring system and during periodic inspections, were
used to update and validate the service life prediction of the yachting harbour structure performed
during the design phase.

2. DURABILITY PERFORMANCE-BASED DESIGN

2.1 Concrete requirements

A new cruise terminal building exhibiting a special architecture was designed to serve the north region
of Portugal (see Figure 1). The external part of the building consists of a spiral laminar element of
white concrete (architectural requirement), which envelops the entire building structure. Besides its
complex geometry this laminar element includes a significant density of reinforcement (prestressing
and ordinary reinforcing steel) and requires good quality of surface finishing, therefore SCC was
considered for this specific application. Given these constraints, the SCC for the cruise terminal
building should exhibit a slump flow diameter (Dflow,concrete) between 750.0 and 850.0 mm, a flow
time (Tfunnel,concrete) between 10.0 and 15.0 s, a relative filling height (H2/H1) higher than 0.90
and a segregation (Sr) lower than 15.0%. In addition to the requirements of self-compactability, the
colour (white) and the good quality of surface finishing, performance requirements included
compressive strength exceeding 70 MPa and high durability, due to the building location in a very
aggressive environment.

Figure 1. Three-dimensional representation of the cruise terminal building.

540
Figueiras, Nunes, Coutinho e Figueiras

The concrete mixture of the new cruise terminal was designed for the tidal and splash zone, exposure
class XS3 according to NP EN 206-1 [3], since this is the zone with more severe environmental
conditions for reinforced concrete. In marine environment, when reinforced concrete is exposed to
tidal or splash zones (XS3 exposure class) the main transport mechanisms of chlorides into concrete
are diffusion and capillarity. Therefore, given the main degradation mechanism and the selected limit
state (limit state of depassivation) corresponding to the period of chloride penetration, the design of
the new cruise terminal building was based on the following durability indicators: apparent chloride
diffusion coefficient measured by the migration test (Dclconcrete) and electrical resistivity of water
saturated test specimens (ρconcrete). In fact, for the initiation period the electrical resistivity of concrete
in saturated conditions can be correlated with the apparent chloride diffusion coefficient. Nevertheless,
these two durability indicators were considered as independent variables.
Therefore, for concrete mixture design of new structures, the required chloride diffusion coefficient of
the composition, Dclconcrete can be determined using Eq. (1), considering that x is the concrete cover
thickness c, the initial chloride content (Co) is zero and, for the limit state of depassivation, which is
the limit state considered for this structure, the exposure period of time t is equal to the initiation
period ti and C(x,t) is equal to the chloride threshold level necessary to depassivate reinforcing steel
(Cr). The depth of the capillary suction zone is also taken into account in the model by the parameter
Δx. The model uncertainty is taken into account by the parameter λ.

(1)

Electrical resistivity limit value can be computed using the relationship between diffusivity and
resistivity, based on the Nernst-Einstein equation and assuming the square root relation between
diffusivity and penetration depth of the aggressive agent (Einstein´s theory to the Brownian motion of
a particle [4]. For the limit state of depassivation, where the service lifetime is equal to the initiation
period and based on the model proposed by Andrade et al. [4], the required electrical resistivity of
the concrete could be obtained by Eq. (2):

(2)

where ρconcrete (Ω.m) is the “effective” resistivity measured under saturated conditions at time t0
(years); ti (years) is the exposure period of time equal to the initiation period; kcl is a factor which
depends on the external ionic concentration; c (m) is the concrete cover thickness; Δx (m) is the depth
of the capillary suction zone; rcl is a reaction or binding factor; q is the ageing factor of resistivity
which can be deduced from the ageing factor n of chloride diffusion by means of an experimental
expression [5] (=0.798-0.0072); thydr (years) is the period of time the ageing factor should be applied
in the electrical resistivity model; kρ,c is the curing factor; kρ,RH is the humidity factor; kρ,T and is the
temperature factor. It should be noted that the period of time the ageing factor is applied in the
chloride diffusion coefficient model is different to the electrical resistivity model.
Limit values of the durability indicators selected for the design of the terminal cruise concrete were
specified using the mathematical models (limit state functions) presented in Eqs. (1) and (2), and
adopting a full probabilistic approach for the concrete apparent chloride diffusion coefficient
(Dclconcrete) and a partial safety factor approach for the concrete electrical resistivity ( concrete). Given all
the constraints imposed to the structure and for a nominal concrete cover ( ) of 60 mm concrete
composition of the new cruise terminal building should exhibit a Dclconcrete lower than 3.26x10-12 m2/s
and concrete higher than 210.5 Ω.m.

541
Durability performance-based design of SCC structures in marine environment

2.2 Materials characterization


The mortar and concrete mixes investigated in this study were prepared with white cement (CEM II/A-
L 52.5N according to EN 197-1 and two mineral additions, metakaolin and limestone filler, with a
specific gravity of 3.04, 2.21 and 2.68, respectively. The mean particle size dimension of cement,
metakaolin and limestone filler was 11.03 μm, 7.12 μm and 6.53 μm, respectively. A polycarboxylate
type high range water reducing admixture was used having a specific gravity of 1.07 and 26.5% solid
content. Standard sand used in mortar mixes is a siliceous round natural sand (0.08-2 mm) with a
specific gravity of 2.63 and an absorption value of 0.30%. Crushed calcareous aggregate, a siliceous
natural fine sand (sand 1) with a fineness modulus of 2.01 and natural coarse sand (sand 2) with a
fineness modulus of 3.94 were used in concrete mixes. The specific gravity of the coarse aggregate,
sand 1 and sand 2 were 2.68, 2.59 and 2.66, and the absorption values were 0.60%, 0.80% and 0.20%,
respectively. Bulk density of compacted coarse aggregate was 1.54.

2.3 Statistical experimental design

The SCC mixture design approach followed in this study is developed in two phases: in the first phase,
at mortar level (mortar mix-design), paste mixture proportions are optimized, and in the second phase,
at concrete level, mixture parameters related with the aggregate skeleton are adjusted (concrete mix-
design). Mortar and concrete mixtures were designed based on statistical experimental design
techniques that have been applied to self-compacting mortar and concrete [6] [7]. These techniques
provide a way of planning experiments in order to collect the appropriate data to derive statistical
models, evaluate individual and interaction effects of mixture parameters on fresh and hardened
properties and optimize mix-proportions for a given set of constraints (fresh and hardened properties
and economic constraints). Thereby, for mortar and concrete level the design methodology is
developed in three steps: first step, definition and implementation of the experimental plan; second
step, statistical data analysis and model fitting of data collected during the experimental phase; and,
third step, the numerical optimization of mixture parameters, using the models derived in the previous
phase. SCC mortar mix-proportions were established based on the following five variables x_i:
Vw/Vp (water to powder volume ratio), w/c (water to cement weight ratio), Sp/p (superplasticizer to
powder weight ratio), Vs/Vm (sand to mortar volume ratio) and metakaolin to cement weight ratio,
mtk/c. At concrete level two independent variables were studied, namely, Vs/Vm and Vg/Vg,lim
(coarse aggregate to dry rodded coarse aggregate volume ratio), keeping constant the ratio between the
two sands (s1/s=0.400). Table 1presents the experimental plans adopted to study mortar (MED) and
concrete (CED) mixtures, namely the characterization of the factorial statistical design, independent
variables and respective range of variation and respense variables.
Table 1. Mortar and concrete experimental designs characterization.

Experimental Independent Response


Designation [- ; + ]
design variables variables

25-1 Vw/Vp [0.800; 1.000] Dflow,mortar


=2.000 w/c [0.360; 0.460] Tfunnel,mortar
Mortar Experimental Design
=6 Sp/p [0.680%; 0.720%] fc28d,mortar
(MED)
mtk/c [3.0%; 15.0%] 28d,mortar
=16
Vs/Vm [0.400; 0.500] Dclmortar
=10
Dflow,concrete
22 Vs/Vm [0.400; 0.480] Tfunnel,concrete
=1.414 Vg/Vg,lim [0.480; 0.580] H2/H1
Concrete Experimental Design Sr
(CED) =4
fc28d,concrete
=4
28d,concrete
=4 Dclconcrete

: number of central points; : number of factorial points; : number of axial points

542
Figueiras, Nunes, Coutinho e Figueiras

2.4 Concrete mix composition


In summary, concrete composition for the new cruise terminal building should satisfy the following
requirements: Dflow,concrete between 750.0 and 850.0 mm, Tfunnel,concrete between 10.00 and 15.00 s,
H2/H1 higher than 0.900, Sr lower than 15.00%, fc28d,concrete higher than 70 MPa, ρ28d,concrete
higher than 210.5 Ω.m and Dclconcrete lower than 3.26×10-12 m2/s. The range of SCC mix-proportions
that satisfies concrete optimization requirements is given in Figure 2. Due to the fact the fitted models
of the response variables fc28d,concrete and Dclconcrete were not sufficiently accurate, the experimental
average values will be taken as the predictive responses, which are 82.3 MPa and 3.53×10-12 m2/s,
respectively.
Design-Expert® Software
0.580
0.5800
Overlay Plot
Tfunnel,concrete:
Sr: 15
28d,concrete:
Dflow;concrete:
Tfunnel,concrete:
H2/H1: 213
0.9850
Dflow;concrete: 15
750
10
Dflow;concrete
Tfunnel,concrete Sr=15.00%
H2/H1
0.550
0.5550
Sr
28d,concrete
Tfunnel,concrete=15.0s
X1 = A: Vs/Vm Dflow,concrete=750.0mm
X2 = B: Vg/Vg,lim
Vg/Vg,lim

0.530
0.5300

Tfunnel,concrete=10.0s

0.505
0.5050

ρ28d,concrete=210.5Ω.
m

H1/H2=0.900
Dflow,concrete=850.0mm
0.480
0.4800

0.4000
0.400 0.4200
0.420 0.440
0.4400 0.4600
0.460 0.480
0.4800

Vs/Vm
Figure 2. Range of mix-proportions that satisfy concrete optimization requirements.

The final composition was tested and the measured values of fresh and hardened properties are also
presented in Table 2. Measured values are within the prediction intervals corresponding to a 95%
confidence level.

Table 2. Optimized mix-proportions and concrete properties, predicted and experimental values.
Constituent materials (kg/m3)
cement 416
limestone filler 151
metakaolin 44
water 185
superplasticizer 6.10
sand 1 325
sand 2 487
coarse aggregate 744
Fresh and hardened properties
Predicted [prediction Experimental
Dflow,concrete (mm) 803.4interval]*
[792.2; 814.6] 805.0
Tfunnel,concrete (s) 14.63 [13.01; 16.24] 13.96
H2/H1 0.945 [0.914; 0.975] 0.927
Sr (%) 14.90 [13.54; 16.26] 13.90
fc28d,concrete (MPa) 82.3 80.4
28d,concrete (Ω.m) 223.6 [216.6; 230.6] 220.3
Dclconcrete (×10-12 m2/s) 3.53 3.54
*prediction interval corresponding to a 95% confidence level

543
Durability performance-based design of SCC structures in marine environment

3. DURABILITY MONITORING TO IMPROVE SERVICE LIFE PREDITCTION

3.1 Durability monitoring system

3.1.1 Corrosion kit-sensor (CKS)


The corrosion kit-sensor (CKS) is a commercial device that incorporates a galvanic current sensor
(sensor 1), a reference electrode (sensor 2) and a temperature sensor (sensor 3), see Figure 3a. The
installation of this device in a structure provides measurements of galvanic current, corrosion potential
and temperature, enabling to monitor the advance of aggressive agents into the concrete cover, to
predict the time for corrosion initiation and to evaluate the corrosion state of the outermost reinforcing
bar.

Sensor 2

Sensor 1

Sensor 3

(a) (b)
Figure 3. (a) CKS installed in situ, before concrete casting; (b) An overview of the yachting harbour structure,
including location of the instrumented areas (zone A and B).

3.1.2 Yacting harbour structure


The main structure of the yachting harbour implanted in Leixões Port, consists of a 22 m long and
30 cm thick curved wall (plan view). The wall is reinforced on each face with a Ø10//0.15 (horizontal)
by Ø12//0.15 (vertical) mesh. Considering marine exposure, the lower part of the structure is a
submerged zone, the middle part is in the tidal zone, while the upper part corresponds to a splash and
spray zone. Figure 3 (b) shows an overview of the yachting harbour structure. Concrete composition
used in the yachting harbour structure was the same specifically designed for the new cruise terminal
building, also implanted within Leixões Port (see section 2).

Two areas located on the outer face of the wall about 20 cm above maximum tide were instrumented,
zone A and B (see Figure 3 (b)). Each area was instrumented with a CKS and two vibrating wire strain
gauges, one in the vertical alignment and the other in the horizontal alignment. Concrete deformation
given by the strain records will allow assessing concrete cracking risk. The strain records collected by
the vibrating wire strain gauges should be corrected to eliminate the effect of the free thermal
deformation of the wire and the concrete. For this purpose the strain gauges have an internal
thermistor, which was used to measure concrete temperature. All sensors are interrogated by an
automatic acquisition system installed in a central data acquisition point.

3.2 Monitoring results

Figure 4 and Figure 5 present corrosion potential, galvanic current and temperature records collected
in the CKSs installed in the yachting harbour structure, during the service period of 2.5 years. During
this period, due to problems in the electric power supply to the acquisition system, some signal failures
were observed. After this initial period, corrosion potential and galvanic current values show a good
agreement with the daily and seasonal cycles of temperature. Given the range of values collected in
CKS-A, it seems that all the anodes are still in a passive state (low corrosion probability). However, in

544
Figueiras, Nunes, Coutinho e Figueiras

CKS-B a sudden change of corrosion potential and galvanic current values of the first anode is
observed (CKS-B-P1 and CKS-B-I1), indicating some corrosion activity of this anode (probable anode
depassivation). In the beginning of November 2012 corrosion potential of the first anode sharply
decreases to values close to -500 mV, remaining in this range of values until the end of the observation
period. Concerning galvanic current results, it should be mentioned that, initially, the acquisition
system was designed for a maximum current of ±1.4 μA/cm2 in order to have a good sensitivity in the
range of passive state values.

-100 35

30
Ecorr (mV vs MnO2)

-200

Temperature (ºC)
25

20
-300
15
KSC-A-P1
KSC-A-P2 10
-400
KSC-A-P3
KSC-A-P4 5
KSC-A-T
-500 0
Feb-11 Jul-11 Dec-11 May-12 Oct-12 Mar-13
Time (mm-yy)
0.50 35

0.00 30

Temperature (ºC)
-0.50 25
igal (μA/cm2)

-1.00 20

-1.50 15
KSC-A-I1
-2.00 KSC-A-I2
10
KSC-A-I3
-2.50 KSC-A-I4 5
KSC-B-T
-3.00 0
Feb-11 Jul-11 Dec-11 May-12 Oct-12 Mar-13
Time (mm-yy)
Figure 4. Long-term records of temperature, corrosion potential and galvanic current collected in CKS-A.

-100 35

30
Ecorr (mV vs MnO2)

-200
Temperature (ºC)

25

20
-300
15
KSC-B-P1
KSC-B-P2 10
-400
KSC-B-P3
KSC-B-P4 5
KSC-B-T
-500 0
Feb-11 Jul-11 Dec-11 May-12 Oct-12 Mar-13
Time (mm-yy)
0.50 35

0.00 30

-0.50 25
igal (μA/cm2)

Temperature (ºC)

-1.00 20

-1.50 15
KSC-B-I1
-2.00 KSC-B-I2 10
KSC-B-I3
-2.50 KSC-B-I4 reading equipment with 5
KSC-B-T new measuring range
-3.00 0
Feb-11 Jul-11 Dec-11 May-12 Oct-12 Mar-13
Time (mm-yy)
Figure 5. Long-term records of temperature, corrosion potential and galvanic current collected in CKS-B.

Albeit this limit, galvanic current measurements show a sudden decrease, simultaneously with the
sudden decrease in corrosion potential. In June 2013 (see Figure 5), the acquisition system was
re-designed to read values in the range of ±14 μA/cm2, and during the observation period values read
were close to -2.5 μA/cm2. After depassivation of the first anode, variations observed in corrosion
potential and galvanic current measurements were more significant, highlighting the greater influence
of environmental conditions on the corrosion activity.

545
Durability performance-based design of SCC structures in marine environment

Indeed, results of the vibrating wire strain gauges may partially explain these differences in the
behaviour of the CKSs installed in zone A and B. Besides the typical trend due to shrinkage and creep
of concrete, results presented in Figure 6 show, from the outset, a clearly different behaviour of the
vibrating wire strain gauge installed in zone A, in the horizontal direction. The strain evolution
recorded by W-H-A is typically observed with the occurrence of a vertical crack (or a crack with a
component in the vertical direction) close to the sensor head but outside its measurement field. In fact,
given the adopted construction phasing, some cracks of this type are expected to develop.

0 45

30
-100

Temperature ( ºC )
15
strain (x10-6)

-200 0

-300 -15

W-H-A -30
-400 W-V-A
Temp-H-A -45
Temp-V-A
-500 -60
Feb-11 May-11 Sep-11 Jan-12 Apr-12 Aug-12 Nov-12 Mar-13 Jul-13
Time (mm-yy)
0 45

30
-100

Temperature ( ºC )
15
strain (x10-6)

-200 0

-300 -15

W-H-B -30
-400 W-V-B
Temp-H-B -45
Temp-V-B
-500 -60
Feb-11 May-11 Sep-11 Jan-12 Apr-12 Aug-12 Nov-12 Mar-13 Jul-13
Time (mm-yy)
Figure 6. Strain records collected by the vibrating wire strain gauge installed in zone A and B.

Although, the pattern evolution of the strain measurements observed on the others strain gauges seems
similar, values collected by strain gauges installed in zone B, W-B-H and W-B-V, are lower than those
collected by the vertical strain gauge installed in zone A, W-A-V. The lowest values observed in
W-B-H and W-B-V suggest that in this area of the structure the concrete is subject to a greater
constrain, which in this case could be provided by the higher reinforcement density. In fact, the
instrumented zone B corresponds to a reinforcement overlapping zone and hence with a higher
reinforcement density. This greater constrain might be the cause of some microcraking, not directly
detected by the strain gauges. Microcraking, that usually takes place in a very wide area of the
structure, facilitates the ingress of aggressive agents into concrete, which may justify the early
corrosion detection in the first anode of CKS-B. It is important to consider the role of cracks in
concrete, as they may reduce the effective capacity of the concrete cover layer and thereby reduce the
service life of the structure, allowing a faster penetration of aggressive agents into concrete.

3.3 Service life prediction

In order to initiate the update of the service life prediction model established during the concrete
mix-design phase, some specimens were moulded in-situ to assess the 28 days hardened properties of
the concrete used in the yachting harbour. Furthermore, an inspection was carried out on the structure
after 820 days of exposure (approximately 2.2 years). During this inspection a local survey of concrete
cover thickness was carried out on the structure and some cores were drilled to evaluate the chloride
diffusion coefficient and the surface chloride. The apparent chloride diffusion coefficient obtained
from migration tests performed at 28 days in specimens moulded in-situ was of 2.88×10-12 m2/s with
a standard deviation of 4.80×10-13 m2/s. From the tests performed on the cores drilled after 820 days
of exposure, a value of 8.88×10-13 m2/s and 0.273% was obtained for the apparent chloride diffusion
coefficient and the surface chloride content, respectively. These values do not enable in itself an
accurate assessment of the time dependence of the apparent chloride diffusion coefficient and the
surface chloride content. This assessment will only be possible providing more data from future

546
Figueiras, Nunes, Coutinho e Figueiras

inspections over time. The data of the cover thickness survey, were adjusted to a normal probability
density function with a mean of 48.81 mm and a standard deviation of 6.05 mm. It should be stressed
that although cover thickness data does not strictly meet the normality tests (Kolmogrov-Smirnov and
Shapiro-Wilk tests) a normal distribution was assumed.

Two service life predictions using probabilistic analysis were performed: the first analysis was
performed using the available data in the design phase; and the second analysis using the data of the
design phase but updating the apparent chloride diffusion coefficient at 28 days and the concrete cover
thickness. The predictions of the penetration depth of the critical chloride content performed by both
analyses are presented in Figure 7. The results show less conservative predictions after this initial
model update, although both analyses indicate that the reinforcement depassivation only occurs after
120 years of exposure. Both analyses also show that chloride ions soon reached 20 mm cover depth
and thereafter concrete cover thickness plays a significant influence on the structure service life.

60
penetration depth of critical chloride (mm)

50

40

30

20 concrete cover thickness (mean value)


design phase predictions
10 predictions after first inspection
monitoring data (CKS-B)
0
0 20 40 60 80 100 120
time (years)
Figure 7. Predictions of the critical chloride penetration over time.

The great advantage of long-term monitoring, using sensors like those presented in this work, is to
provide permanent information of the real concrete critical depth (depassivation front). According to
the records collected by CKS-B the depassivation front has reached, in the assessed area, the depth of
1 cm (depth of the first anode) after 1.9 years (see Figure 7). Nevertheless, records collected by CKS-
A indicate that after 2.5 years the penetration depth of the critical chloride content has not yet reached
1 cm. It is therefore concluded, in the light of the monitoring results, that the predictions performed in
the design stage and after first inspection are quite conservative. The results from the durability
monitoring system installed in the structure could also be used to improve service life prediction of the
structure however, further data will be necessary.

It should be noted that the great advantage of long-term monitoring, using sensors like those presented
in this research work, is to provide permanent information of the real concrete critical depth (depth of
the critical chloride content). As the critical chloride contents for reinforcement corrosion depends on
many factors this information is a great advantage that cannot be replaced by data from chloride
profiles obtained from the structures.

CONCLUSIONS

The performance-based design methodology presented in this work enables the systematization of the
mixture design process of SCC considering environmental exposure. Although the methodology has
been developed for structures exposed to severe marine environment, its application to other types of
environmental exposure is only limited by the accuracy of the mathematical models for modelling
degradation mechanisms. For structures in severe marine environment, reinforcement corrosion is the

547
Durability performance-based design of SCC structures in marine environment

main degradation mechanism and a serviceability limit state of depassivation should be considered. In
these cases the most current durability indicator is the apparent chloride diffusion coefficient measured
by the migration test, although the electrical resistivity under saturated conditions turns out to be an
interesting alternative. An experimental plan conducted according to a central composite design
provides a systematic methodology to identify optimal mixes given a set of constituents and
performance constraints. Data collected during the experimental plan, can be used to establish
numerical models relating mixture parameters with fresh and hardened properties of paste, mortar and
concrete.Concrete mixture designed for the new cruise terminal building satisfied all the specified
requirements. The final optimized mixture was tested and, as expected, the measured values of fresh
and hardened properties were within the prediction intervals of the respective models.

The implemented durability monitoring system enables to monitor the advance of aggressive agents
into the concrete cover, predict the time to corrosion initiation by extrapolation and evaluate the
corrosion state of the most external reinforcing bar. Implementation of this type of durability
monitoring systems can be useful to assess concrete durability, predict service life more accurately and
to take in due time, the decision on adequate protection. The installation of concrete deformation
transducers, e.g. vibrating wire strain gauges, with the CKSs proved to be very useful since it enables
assessing cracking risk, which may indicate possible reduction of the effective capacity of the concrete
cover layer and thereby a reduction of the structure service life. Service life predictions performed
during the design phase should be updated and validated by the effective use of data obtained from
field monitoring, during periodic inspections or in long-term continuous monitoring systems. Some of
the input data that are commonly assumed in the design phase, even those selected from the literature,
may be quite different from reality and can also vary widely in space and time. Monitoring results
from yachting harbour structure seems to indicate that the predictions performed in the design stage
and after the first inspection are conservative.

REFERENCES

[1] Nehdi, M.; Summer, J. (2002). Optimization of ternary cementitious mortar blends using factorial
experimental plans. Materials and Structures, 35(8): pp. 495-503.
[2] Cusson, D.; Lounis, Z.; Daigle, L. (2011). Durability monitoring for improved service life
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Infrastructure Engineering, 26(7): pp. 524-541.
[3] IPQ (2006). EN 196-1 - Methods of testing cement. Part 1: Determination of strength. Instituto
Português da Qualidade. Portugal.
[4] Andrade, C.; Alonso, C.; Artega, A.; Tanner, P. (2000). Methodology based on the electrical
resistivity for the calculation of reinforcement service life. In: Proceedings of the 5th
CANMET/ACI - International Conference on Durability of Concrete, pp. 899-915. V. M.
Malhotra (Ed.), American Concrete Institute (ACI). Barcelona, Spain.
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diffusion coefficients in cementitious matrices. Journal of Nuclear Materials, 412(1): pp.209-
216.
[6] Khayat, K.; Ghezal, A. and Hadriche, M. (2000). Utility of statistical models in proportioning
self-consolidating concrete. Materials and Structures, 33(5): pp. 338-344.
[7] Nunes, S. (2008). Performance-based design of self-compacting concrete (SCC): a contribution
to enhance SCC mixtures robustness. Ph.D., Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto,
Portugal.

548
Construção com BAC.
Casos de obra.

Construcción con BAC.


Casos de obra.
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

Avaliação do nível de ruído no processo executivo de concretagem


com concreto convencional e concreto autoadensável

Hugo Sefrian Marisa Fujiko Alexis Kiouranis3


Peinado1 Nagano2

Rafael Germano Romel Dias Paulo Fernando


Dal Molin Filho4 Vanderlei5 Soares6

RESUMO

O setor da construção civil agrega uma série de atividades geradoras de grande quantidade de ruídos,
implicando em poluição sonora no meio urbano, problemas de saúde ocupacional, dentre outros danos.
Neste contexto, apontam-se os ganhos proporcionados pelo uso do concreto autoadensável (CAA), o
qual dispensa a utilização de adensamento no processo executivo de concretagem de estruturas. Assim,
o presente trabalho objetiva identificar os níveis de ruídos em canteiro de obras durante o lançamento
do concreto fazendo-se uso de concreto convencional (CCV) e concreto autoadensável. Para tanto,
procedeu-se à coleta de dados com medidor de nível de pressão sonora modelo SOLO da 01dB
(Metravib) em duas etapas, quais sejam: no lançamento do CCV e no lançamento do CAA. Os
resultados mostraram que o Nível de intensidade sonora (NIS) para o CCV foi de 84,2 dB(A) enquanto
que, para o CAA, foi de 77,5 dB(A), culminando em uma diferença em termos de percepção sonora
pelo indivíduo de 7,96% e 78,62% de redução de intensidade sonora da fonte. Com base nos
resultados relativos aos níveis sonoros obtidos, verificou-se que o CAA constituiu-se uma alternativa
tecnológica interessante no intuito de diminuir os intensos níveis de ruído praticados em canteiro de
obras no processo de concretagem.

Palavras-chave: Concreto autoadensável, concreto convencional, nível de ruído de concretagem, NIS.

1. INTRODUÇÃO

O crescimento urbano, a escassez da mão de obra e o constante aumento dos custos de execução dos
serviços em canteiros de obras têm resultado no estudo de novas tecnologias e sistemas construtivos

1
Engenheiro Civil, M.Sc, Grupo de Desenvolvimento e Análise do Concreto Estrutural (GDACE/UEM), Maringá, Paraná,
Brasil. hspeinado@gmail.com
2
Profa. M.Sc., Faculdade Ingá (Uningá), Grupo de Desenvolvimento e Análise do Concreto Estrutural (GDACE/UEM),
Maringá, Paraná, Brasil. nfmarisa@hotmail.com
3
Prof. M.Sc, Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Campo Mourão, Paraná, Brasil. alexiskd@hotmail.com
4
Prof. M.Sc., Universidade Federal do Paraná (UFPR), Jandaia do Sul, Paraná, Brasil. rafagermano@hotmail.com
5
Prof. Dr., Departamento de Engenharia Civil, Universidade Estadual de Maringá, Maringá, Paraná, Brasil. Grupo de
Desenvolvimento e Análise do Concreto Estrutural (GDACE/UEM), rdvanderlei@uem.br
6
Prof. Dr., Departamento de Engenharia Civil, Universidade Estadual de Maringá, Maringá, Paraná, Brasil. pfsoares@uem.br

551
Avaliação do nível de ruído no processo executivo de concretagem com concreto convencional
e concreto autoadensável

industrializados. No entanto, conforme destacam Wharton e Payne (2003), o processo de implantação


destas inovações na construção civil, além de ser bastante diferente quando comparado às outras
indústrias, apresenta entraves relacionados à natureza física da construção, à organização econômica,
social e ao contexto cultural na qual está inserida, exigindo, portanto, a elaboração de estudos que
venham a apresentar a viabilidade e os impactos do emprego destas tecnologias no que se refere aos
aspectos econômicos, à agilidade na fase de execução, à segurança e saúde do trabalhador e da
sociedade.

Segundo Joshi (2005), a construção civil, mesmo com o desenvolvimento tecnológico observado,
ainda caracteriza-se como uma atividade geradora de grande quantidade de ruídos, um dos principais
causadores da poluição no meio urbano e de problemas de saúde ocupacional.

Conforme destacam Caponi (2004) e Vendrame e Graça (2009), a ocorrência de problemas de saúde
ocupacional afetam a produtividade econômica, são responsáveis por um impacto substancial sobre o
sistema de proteção social e influenciam no nível de satisfação do trabalhador e no bem estar geral da
população. Neste contexto, verifica-se que a saúde do trabalhador é uma temática de interesse dos
trabalhadores, das empresas, do governo e de toda a sociedade, uma vez que, conforme
complementam Zhou e Zhang (2011), problemas ocupacionais resultam em grandes perdas
econômicas e impactos sociais.

Neste contexto, a utilização de Concreto Autoadensável (CAA) tem sido uma alternativa estudada
visando, dentre outras contribuições, a diminuição da geração de ruídos no processo executivo de
obras de construção civil, uma vez que elimina a necessidade de adensamento mecânico na etapa de
lançamento do concreto.

1.1 Concreto AutoAdensável

Historicamente, junto à escassez de trabalhadores qualificados na indústria da construção civil


japonesa, observou-se redução na qualidade do processo executivo de construção, acarretando em
problemas de durabilidade em estruturas de concreto. Em função disto e, também, da busca pela
diminuição de problemas executivos em estruturas de concreto armado densamente armadas,
iniciaram-se os primeiros estudos do concreto autoadensável no Japão (Okamura, Ouchi, 2003).
O conceito inicial do concreto autoadensável foi proposto por Okamura (1986). Objetivou-se
desenvolver um concreto sem que o fator humano fosse uma variável. Neste contexto, surge o
concreto autoadensável, o qual, com a utilização de aditivos superplastificantes e adições minerais,
inertes ou não, apresenta propriedades que garantem alta fluidez, capacidade de preenchimento de
fôrmas sem necessidade de vibração ou compactação, apenas pela ação do peso próprio, além de
coesão suficiente para evitar segregação dos agregados (RILEM, 2003; Victor, 2007; ABNT NBR
15823-1, 2010).

1.2 Vantagens e dificuldades da utilização de CAA

A tecnologia do concreto autoadensável é um direcionamento para a industrialização do processo


produtivo de estruturas, proporcionando diminuição do custo da mão-de-obra, melhoria da qualidade e
durabilidade das estruturas e maior segurança aos trabalhadores (Gomes, 2002; Tutikian, 2004).

O CAA permite o preenchimento de fôrmas mesmo com alta densidade de armaduras e formas
complexas, em locais nos quais não seria possível empregar a vibração mecânica do material. Além
disso, o processo de execução apresenta menor duração, com redução de mão de obra e diminuição do
esforço físico, diminuição de ruídos devido a ausência de vibração e, consequente economia de
energia, resultando em melhoria no ambiente de trabalho (de la Penã, 2001; Nunes, 2001; ABNT NBR
15823-1, 2010).

Em sua composição, verifica-se a necessidade de uso de materiais finos para auxilio do


desenvolvimento de uma estrutura coesa e com controle de viscosidade, o que possibilita o uso de

552
Peinado, Nagano, Kiouranis, Molin Filho, Vanderlei e Soares

resíduos triturados, moídos e que possuam características homogêneas. Desta forma, será possível
proporcionar ganhos ambientais, pois grande parte das adições é proveniente de resíduos industriais e
o uso dos mesmos em concreto, desde que estudados previamente, evitam que sejam lançados na
natureza, sem destinação adequada (EFNARC, 2002; Lisbôa et al., 2005; Molin Filho, 2012).

Apesar das vantagens apresentadas, o CAA apresenta algumas exigências a serem verificadas, tais
como: a necessidade de mão de obra especializada, acompanhamento em todas as etapas do processo
produtivo, controle para evitar a segregação na fase de transporte e descarga, dosagem do aditivo
superplastificante em canteiro de obras, execução de ensaios de recebimento segundo as prescrições da
ABNT NBR 15823-2: 2010 e ABNT NBR 15823-3: 2010 e cuidados para que o lançamento se dê de
forma rápida para evitar a perda da autoadensabilidade e das propriedades caracterizadas pela
aplicação dos aditivos no CAA (Lisbôa, 2004; Peinado et al., 2013).

1.3 Ruído

Conforme destaca Bistafa (2011), entende-se como ruído um som sem harmonia, caracterizado como
indesejável, sendo que, quando de intensidade elevada, pode causar transtornos à saúde, tais como:
perda de audição, aumento da pressão arterial, estresse e nervosismo.

Menezes Júnior (2002) afirma que a perda da audição devido a ruídos intensos é uma das doenças
ocupacionais frequentes no ramo da construção civil, e Bistafa (2011) afirma que os transtornos
causados pelos ruídos intensos afetam o rendimento das atividades do trabalhador, resultando em
perda de produtividade e eficiência.

1.4 Nível de Ruído

Segundo Menezes Junior (2002), a faixa que compreende o limite de audição até o limite de dor varia
de 2 x 10-5 N/m2 a 200 x 10-5 N/m2. Ainda de acordo com o autor, as amplitudes sonoras são
consideradas de forma relativa por meio de uma escala logarítmica denominada escala decibel (dB).
Dessa forma, representa-se a sensação auditiva humana utilizando-se a escala A, por meio do cálculo
do Nível de Intensidade Sonora (NIS) que é dado em dB(A).

O Nível de Intensidade Sonora (NIS), pode ser calculado por meio da equação 1.

 I  (1)
NIS  10 log10  
 Io 

Em que:
I = Intensidade sonora
I0 = é a intensidade de referência no limiar de audição, dada por I0 = 10-12 Wm-2.
Pode-se comparar a diferença entre os NIS produzidos e as intensidades que os produziram por meio
da equação 2.

NIS
I  I 0 10 10
(2)

Conforme destaca Gerges (2000), ficar exposto por um longo período a níveis de ruído elevados pode
causar danos à audição. Nesse sentido, Menezes Júnior (2002) ressalta que o grau de danos à audição
depende, além do nível de ruído, da permanência do ouvinte a esta intensidade de ruído, uma vez que,
em um intervalo de tempo, o nível de ruído pode alterar na intensidade e na frequência. Desse modo,
o nível de ruído é amostrado repetidamente em um período definido, no qual é possível se obter um
número único que representa o Nível de Intensidade Sonora para toda a variação no período avaliado.
A esse número único dá-se o nome de Leq, que é o Nível Equivalente de Pressão Sonora, em dB(A),
dado pela equação 3.

553
Avaliação do nível de ruído no processo executivo de concretagem com concreto convencional
e concreto autoadensável

 1 n 10li 
Leq  10 log 10  (3)
 n i 1 

Em que:
li= Nível de Pressão Sonora, em dB(A);
n= Número total de Leituras.

O Nível de Ruído Ambiente, LRA, é o nível de pressão sonora equivalente, em dB(A), no local e
horário considerados, na ausência do ruído gerado por fonte sonora interferente, que é a de ocorrência
alheia, ou temporária, em relação à finalidade mais característica de utilização do recinto em que se
avalia o ruído ambiente.

Para identificação do ruído ambiente, neste caso, adota-se o L90, nível estatístico que corresponde ao
nível sonoro ultrapassado em 90% do tempo de medição (podendo representar o ruído ambiente).

2. JUSTIFICATIVA

Além das vantagens que torna sua utilização viável, tem-se a diminuição de ruídos e de vibrações sob
o ponto de vista da exposição ocupacional, devido à não nessidade da etapa de vibração do concreto,
atividade diretamente ligada à saúde e segurança do trabalhador no canteiro de obras. Ensaios
realizados demonstraram que o ambiente de trabalho com a utilização do CAA apresentam níveis de
intensidades que são aproximadamente um décimo dos níveis de ruído produzido quando o concreto
convencional é utilizado (Bartos, Soderlind, 2000).

Bartos e Soderlind (2000) citam também as consequências prejudiciais aos trabalhadores em função do
uso de vibradores na etapa de adensamento do concreto, na qual a vibração do equipamento é
transmitida aos operadores, resultando em problemas musculares, articulares e de circulação
sanguínea. Segundo o estudo, os trabalhadores que atuam no setor de concretagem ocupam o segundo
lugar em riscos para o desenvolvimento de doenças ocupacionais.

Outra questão importante apontada por Bartos e Soderlind (2000) se refere ao meio ambiente. No que
se refere à poluição sonora, o ruído no local da construção e na região circundante é perturbador e
prejudicial às pessoas que ocupam esses espaços, sendo a vibração realizada no processo de
concretagem com concreto convencional uma das principais fontes de ruídos dentre as atividades
executadas em obras de construção civil. Estudos desenvolvidos por Belohuby e Alencar (2007)
verificaram a possibilidade de realização de serviços de concretagem com CAA no período noturno
em ambientes urbanos, devido à menor geração de ruídos e, consequentemente, à menor perturbação
das regiões próximas.

Neste sentido, a introdução da tecnologia do CAA representa um avanço na diminuição da geração de


ruído no local de construção. Portanto, justifica-se a elaboração de estudos que viabilizem a utilização
desta tecnologia.

3. OBJETIVO

O presente trabalho objetiva identificar os níveis de ruídos em canteiro de obras durante o lançamento
do concreto fazendo-se uso de concreto convencional (CCV) e concreto autoadensável (CAA).

554
Peinado, Nagano, Kiouranis, Molin Filho, Vanderlei e Soares

4. METODOLOGIA

Para a elaboração do presente estudo, procedeu-se à coleta dados em um canteiro de obras na cidade
de Maringá (PR) durante a concretagem da estrutura referente às lajes e vigas do pavimento térreo de
uma edificação, fazendo-se uso de concreto convencional e concreto autoadensável.

Para a coleta dos dados, utilizou-se um Medidor de Nível de Pressão Sonora modelo SOLO da 01dB –
Metravib com filtro de oitava e um microfone de ½” posicionado à 1,20 metros do solo.

Durante o processo de concretagem da estrutura, foram realizadas duas medições: A primeira se deu
durante o lançamento do concreto convencional bombeado por bomba estacionária; a segunda foi
realizada durante o lançamento do concreto autoadensável bombeado por bomba estacionária (a
mesma bomba empregada para o lançamento do concreto convencional).

As medições foram realizadas seguindo as recomendações da norma NBR 10151:2000, sendo que os
resultados obtidos destas medições para posterior análise foram: Intensidade dos ruídos durante o
lançamento do concreto (convencional ou autoadensável), Leq (Nível equivalente de pressão sonora) e
L90 (correspondente ao ruído ambiente). As medições do ruído no lançamento do concreto duraram
aproximadamente 8 minutos por tipo de concreto. Destaca-se, ainda, que a medição do ruído no
processo de lançamento do concreto convencional foi realizado às 14:30h e no lançamento do concreto
autoadensável, às 18:30h, devido à logística de concretagem no canteiro de obras.

Com os dados coletados de ruído ambiente (L90) e também do nível de intensidade sonoro durante a
concretagem com concreto convencional e com concreto autoadensável, procedeu-se à análise,
fazendo a comparação entre os níveis de intensidade sonora do ruído ambiente e de cada concretagem
e entre os níveis de intensidade sonora observados nas etapas de concretagem.

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES

5.1 Dados do concreto utilizado

Segundo prescrições da ABNT NBR 15823-1:2010, a partir da análise do projeto de armaduras da


estrutura a ser concretada, optou-se pelo concreto autoadensável com as características destacadas na
Tabela 1.

Tabela 1. Características do Concreto Autoadensável utilizado.


Classe de Resistência do Concreto C35
Consumo de cimento/m³ (kg) 400,0
Consumo de pedrisco/m³ (kg) 868,0
Consumo de areia fina/m³ (kg) 480,0
Consumo de areia média/m³ (kg) 478,0
Consumo de água/m³ (l) 200,0
Consumo de aditivo polifuncional Mira RT 100/m³ (kg) 3,6
Consumo de aditivo superplastificante/m³ (kg) 2,0

O concreto convencional utilizado apresenta as características destacadas na Tabela 2.

Tabela 2. Características do Concreto Convencional utilizado.


Classe de Resistência do Concreto C35
Consumo de cimento/m³ (kg) 335,0
Consumo de brita/m³ (kg) 1100,0
Consumo de areia fina/m³ (kg) 322,0
Consumo de areia média/m³ (kg) 523,0
Consumo de água/m³ (l) 179,0
Consumo de aditivo polifuncional Mira RT 100/m³ (kg) 2,85

555
Avaliação do nível de ruído no processo executivo de concretagem com concreto convencional
e concreto autoadensável

5.2 Dados de medição dos níveis sonoros coletados

A Tabela 3 apresenta comparação entre os valores dos níveis sonoros mensurados durante o
lançamento do concreto convencional e do concreto autoadensável, por faixa de frequência, além das
diferenças percentuais entre estes valores. Ainda, verifica-se na Tabela 3, os valores referentes ao Leq
e ao L90.

Tabela 3. Níveis sonoros durante as concretagens com concreto convencional e concreto autoadensável.
Medições L90 Leq Faixas de frequências (Hz)
de ruído dB(A) dB(A) 16 31,5 63 125 250 500 1K 2 4 8 16
Concreto
conven- 79,2 84,2 69,2 75,7 76,8 76,6 86,1 78,5 78,0 77,1 74,5 67,3 61,9
cional
Concreto
auto- 75,3 77,5 68,9 83,4 82,7 77,3 76,6 74,4 72,3 69,7 66,0 60,3 52,7
adensável
Diferença (%) -5,2 -8,6 -0,4 10,2 7,7 0,9 -11,0 -5,2 -7,3 -9,6 -11,4 -10,4 -14,9

Assim, com base nos dados apresentados na Tabela 3, considerando o ruído ambiente expresso por
L90, verifica-se que houve aumento do nível sonoro no lançamento do concreto convencional em
relação ao ruído ambiente em 5,0 dB(A), o que resultou em diferença média de aproximadamente
5,9%, ou seja, houve um aumento significativo do ruído na concretagem com concreto convencional
em relação ao ruído ambiente.

Também, pôde-se notar que o aumento médio do nível sonoro no lançamento do concreto
autoadensável quando comparado com o ruído ambiente ficou em 2,2 dB(A), abaixo de 3%, ou seja,
não houve um aumento significativo do ruído nesta concretagem.

Ainda, analisando a Tabela 3, verifica-se que o Leq para o concreto convencional foi de 84,2dB(A)
enquanto que para o concreto autoadensável foi de 77,5dB(A), sendo uma diferença média de
aproximadamente 8% entre estes valores, ou seja, houve uma atenuação significativa do ruído na
concretagem com concreto autoadensável em relação à concretagem com concreto convencional. Ao
se verificar o nível sonoro por faixas de frequência, com exceção das frequências em 31,5, 63 e 125
Hertz, a intensidade do ruído do concreto convencional foi maior. A diferença nas três frequências
acima pode ter sido ocasionada devido ao ruído ambiente característico do local ou em função da
interferência de outro equipamento, já que as atividades no canteiro de obras estavam em pleno
andamento.

Assim, conforme apresentado na Tabela 3, o Leq do concreto convencional foi equivalente a 84,2
dB(A) enquanto que, para o concreto autoadensável, este valor ficou em 77,5 dB(A), ou seja, a
redução em termos de NIS entre os dois foi de 6,7 dB(A) ou de 7,96%.

Para se comparar os dois tipos de concretagem em termos de intensidade sonora da fonte (I),
considera-se uma intensidade de referência (I0) igual a 10-12 Wm-2, que corresponde ao limiar de
audição do ser humano, conforme mostrado na equação 2. Na Tabela 4 é mostrado o resultado destas
análises.

Conforme disposto na Tabela 4, a redução em termos de intensidade sonora da fonte foi de 78,62 %.

556
Peinado, Nagano, Kiouranis, Molin Filho, Vanderlei e Soares

Tabela 4. Redução em termos de intensidade sonora.


NISCCV 84,2
NISCAA 77,5
ΔNIS 6,7
I0 10-12
ICCV 0,000263027
ICAA 5,62341 x 10-05
Δ(%) 78,6204

CONCLUSÃO

Em função de se considerar períodos de medição referentes aos lançamentos do concreto convencional


e do concreto autoadensável, o parâmetro para análise comparativa das intensidades sonoras foi o
Nível Equivalente de Pressão Sonora (Leq). Assim, considerando o conforto acústico e a exposição
ocupacional, a partir da análise da Tabela 3, verificou-se, pelos níveis sonoros, que o concreto
autoadensável constituiu-se como uma boa alternativa para se diminuir os altos níveis de ruído neste
caso, em virtude de apresentar um valor de Leq menor. O ruído pelo uso do vibrador durante a
concretagem é muito elevado e já que o concreto autoadensável não necessita desse aparelho, a
geração de ruído deveria ser menor, o que foi comprovado pelos valores dos níveis sonoros.

Acredita-se que toda tecnologia ou procedimento técnico que tenha um menor nível de ruído em seu
funcionamento, poderá melhorar o conforto acústico e consequentemente, a produtividade no canteiro,
pois, conforme Iida (2003), ruídos intensos prejudicam não só a concentração e pensamento, mas
também trabalhos que necessitam de atenção, velocidade, que são fatores indispensáveis nos serviços
em canteiro de obra. A Norma Regulamentadora NR-15, do Ministério do Trabalho e Emprego (2011),
complementa destacando que para níveis de ruídos de até 85 dB(A), o tempo máximo de exposição
diária é de 8 horas, enquanto que para o nível de 90 dB(A) esse tempo de exposição cai pela metade.

Os resultados obtidos demonstram que, na etapa de concretagem da execução de estruturas utilizando


CAA, os trabalhadores estão expostos a um ambiente com menores intensidades de ruído quando
comparado à execução da mesma atividade com o uso do concreto convencional.

REFERÊNCIAS

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559
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

LEGOUSE – Habitação modular pré-fabricada: conceito,


construção e ensaios

Joaquim Barros1 Lúcio Lourenço2 Luís Oliveira3

Sandra Silva4 Paulo Lopes5

RESUMO

No âmbito do projeto de investigação “LEGOUSE - Pré-fabricação Modular de Edifícios de Custos


Controlados”, o qual envolveu a Mota-Engil, a CiviTest, os grupos de investigação Structural
Composites e Sustainable Construction da Universidade do Minho e o PIEP, foi desenvolvida
investigação experimental, numérica e analítica que conduziu à produção de um painel sandwich
inovador constituído por camadas externas em betão auto-compactável reforçado com fibras de aço
(BACRFA) ligadas por conetores de polímero reforçado com fibras de vidro (GFRP) e preenchido por
material de isolamento térmico. Este painel constitui o elemento construtivo base de uma tipologia de
habitação de custo controlado baseada na pré-fabricação e assemblagem destes elementos. Um
protótipo deste tipo de habitação com cerca de 100 m2 de implantação foi construído e serve,
atualmente, de laboratório a céu aberto para avaliação do seu desempenho em aspetos de durabilidade,
térmicos e acústicos. Neste trabalho apresenta-se, de forma resumida, o conceito adotado, a construção
do protótipo à escala real e os ensaios realizados.

Palavras-chave: BACRFA; conetores de GFRP; painéis sandwich; pré-fabricação; conforto térmico e


acústico.

1. INTRODUÇÃO

A utilização de Betão Reforçado com Fibras (BRF) apresenta, atualmente, um crescimento


significativo no mercado da construção. As áreas de aplicação passam, principalmente, por
pavimentos industriais, elementos pré-fabricados, reforço estrutural e revestimento de túneis. A
aplicação de fibras em substituição parcial ou total de armaduras convencionais em certos elementos
de betão pode proporcionar vantagens técnicas e económicas, nomeadamente no aumento da
durabilidade, ductilidade, resistência ao impacto e à exposição a temperaturas elevadas e/ou fogo. O
Betão Auto Compactável Reforçado com Fibras de Aço (BACRFA) é um material que alia as
vantagens inerentes à utilização de um BRF com as que resultam do facto de se tratar de um material
que possui elevada capacidade de fluir, contornar obstáculos e preencher zonas de difícil acesso, sem
ocorrência de segregação dos seus constituintes [1,2].
______________________________
1
ISISE, Universidade do Minho, Guimarães, Portugal. barros@civil.uminho.pt
2
CiviTest, Lda., Vila Nova de Famalicão, Portugal. luciolourenco@civitest.com
3
PIEP – Pólo de Inovação em Engenharia de Polímeros, Guimarães, Portugal. luis.oliveira@piep.pt
4
CETAC, Universidade do Minho, Guimarães, Portugal. sms@civil.uminho.pt
5
Grupo Mota-Engil, Portugal. paulo.lopes@mota-engil.pt

561
LEGOUSE – Habitação modular pré-fabricada: conceiro, construção e ensaios

Devido à sua elevada resistência, leveza, boas propriedades de isolamento e durabilidade em


ambientes corrosivos, a utilização de materiais de matriz polimérica reforçados com fibras de vidro
(Glass Fiber Reinforced Polymer, GFRP) apresentam, também, significativas vantagens de utilização
na pré-fabricação de elementos estruturais de elevado desempenho. Complementarmente à aplicação
dos materiais indicados, a utilização de programas de cálculo que disponham de modelos constitutivos
adequados permite a otimização de sistemas estruturais pré-fabricados, dado ser possível simular o
comportamento dos materiais e dos sistemas estruturais intervenientes.

O Projeto “LEGOUSE - Pré-fabricação Modular de Edifícios de Custos Controlados” pretendeu,


assim, tirar partido do adequado uso de novos materiais e de ferramentas de cálculo avançado na
conceção, dimensionamento e construção de habitações modulares de custo controlado. O fabrico das
construções modulares baseia-se no conceito de painel sandwich pré-fabricado constituído por
camadas externas em BACRFA, ligadas por conetores em GFRP (leves e de baixo custo) e núcleo
preenchido por isolamento térmico, conseguindo-se, assim, um painel com propriedades apropriadas
ao uso pretendido, tanto estruturais como de conforto. A rapidez de construção e o custo dos
elementos construtivos torna este tipo de habitação modular competitivo face a soluções tradicionais.

A construção do protótipo do projeto LEGOUSE e a avaliação do seu comportamento foi o culminar


de um projeto de investigação que incluiu o desenvolvimento e caracterização das propriedades dos
materiais intervenientes nos sistemas construtivos, a otimização dos sistemas estruturais, a produção e
o ensaio dos elementos construtivos do sistema modular. A mobilização de competências
complementares das entidades parceiras envolvidas permitiu o desenvolvimento com sucesso deste
projeto, sendo um bom exemplo da colaboração entre empresas e entidades de I&DT no
desenvolvimento de soluções inovadoras e de valor acrescentado ao estado de arte. Atendendo a que o
principal alvo da tecnologia resultante é a execução de um significativo número de habitações de
forma repetitiva e a custos controlados, em que os seus elementos construtivos base são construídos
em ambiente fabril, foi ainda objetivo desenvolver conceptualmente uma unidade industrial adequada
para a produção destes elementos. Tendo em consideração todos os custos inerentes à unidade
industrial, os custos de montagem (com as intervenções das diversas especialidades), os custos dos
materiais, de mão-de-obra, entre outros, efetuou-se um estudo económico da solução. Com a
construção de uma habitação modular à escala real foi também possível a redação de especificações
técnicas e regras de projeto para apoio à construção.

O sistema de construção modular desenvolvido no âmbito deste projeto é aplicável a diversos tipos de
edificações, nomeadamente, moradias unifamiliares (ver Fig. 1), edifícios multifamiliares, comerciais
e/ou industriais. O sistema construtivo é baseado na montagem de painéis estruturais sandwich pré-
fabricados, tanto para a realização das fachadas como das lajes de cobertura e/ou pavimento. Os
painéis são conectados entre si in situ de forma a garantir o comportamento estrutural e de conforto
pretendidos. O sistema construtivo permite a incorporação de todas as infraestruturas comuns ao
edificado (abastecimento de água, drenagem de águas residuais, rede elétrica e comunicações) nos
painéis exteriores do edifício, sem prejuízo da qualidade térmica, condicionamento acústico e
acabamento final. O processo construtivo dos painéis sandwich é conseguido em fábrica, em ambiente
controlado. Depois, após o transporte para o local de construção, o processo construtivo passa pela
ligação dos painéis às fundações (lintel de fundação) e entre si. Este procedimento construtivo permite
uma melhoria do conforto no interior do edificado (pelas propriedades térmicas e acústicas
melhoradas do painel), diminuição das fases de construção em obra (e tempo associado), maior
eficiência e, consequentemente, uma boa relação custo/qualidade do produto acabado.

562
Barros, Lourenço, Oliveira, Silva e Lopes

Figura 1. Conceito LEGOUSE (em habitações unifamiliares).

Este artigo descreve, sucintamente, o conceito inovador desenvolvido durante o projeto, a construção
do protótipo de escala real e os ensaios realizados neste. Parte da investigação desenvolvida pode ser
consultada em [3-9].

2. PAINEL SANDWICH – CONCEITO

A utilização de painéis sandwich na indústria da Construção Civil é relativamente comum. As


principais vantagens enumeradas, associadas a este tipo de elemento construtivo, são a eficiência
térmica e a utilização destes como elementos estruturais. A adoção de finas camadas externas em
BACRFA de elevada resistência mecânica, ductilidade [3,6], durabilidade [5] e de comportamento
melhorado quando exposto ao fogo [10] e núcleo em material termicamente eficiente permite a
produção de elementos construtivos e estruturais leves, eficientes, de fácil e rápido manuseamento e
elevação. A opção por BACRFA permite eliminar a armadura convencional e, assim, diminuir o
tempo e os custos de produção e a espessura e o peso do painel sem comprometer a estabilidade
estrutural necessária, com aumento da durabilidade (não são utilizados materiais suscetíveis a
fenómenos de corrosão [5]). A Figura 2 apresenta o painel desenvolvido no âmbito do Projeto
LEGOUSE, incluindo a identificação dos componentes e uma disposição possível para os conetores
em GRFP.

Figura 2. Conceito LEGOUSE: a) painel sandwich com identificação dos componentes; b) secção transversal.

Este sistema construtivo aplicado em painéis de fachada permite que estes se possam apresentar como
elementos estruturais principais, possibilitando a transferência de cargas entre os painéis de laje e a
fundação sem necessidade de implantação de elementos estruturais intermédios adicionais (pilares e

563
LEGOUSE – Habitação modular pré-fabricada: conceiro, construção e ensaios

vigas). As lajes de cobertura são apoiadas diretamente nas camadas interiores em BACRFA dos
painéis de fachada, eliminando a necessidade de pilares e vigas ao longo das paredes exteriores.

Tradicionalmente, a utilização de painéis sandwich com a utilização de camadas em betão é comum


recorrendo a conetores entre as camadas. Contudo, este tipo de ligação passa pelo recurso a treliças
metálicas, conetores metálicos e/ou maciços de betão. A elevada condutibilidade térmica deste tipo de
soluções origina, a médio prazo, diversas patologias nos painéis adotados (nomeadamente
aparecimento de condensações e desenvolvimento de bolores), provocadas pelo aumento do fluxo de
calor, com consequente redução do conforto térmico interno. Este tipo de défice de eficiência, ao nível
do conforto interior do edificado, aumenta os consumos energéticos associados à climatização interior
dos compartimentos habitados.

Os painéis desenvolvidos no âmbito do projeto LEGOUSE necessitam de conectores capazes de


garantir o funcionamento conjunto de ambas as camadas de BACRFA de forma a assegurar a
transferência de esforços entre elas. Neste conceito de painel sandwich inovador, desenvolveu-se um
novo tipo de conector de GFRP para ligação das camadas de BACRFA. A utilização de conetores em
GRFP em substituição dos conetores “correntes” permitiu um adequado funcionamento do painel,
tanto ao nível estrutural como de conforto, aumentando a competitividade desta solução estrutural. Os
conetores desenvolvidos em GFRP são planos e perfurados, e a sua ligação ao BACRFA é efetuada
por intermédio furos executados no conetor para passagem do BACRFA. Foi efetuada investigação
intensiva sobre o comportamento destes conetores, encontrando-se a informação relevante em [3].
Salienta-se que o protótipo construído incluiu painéis sandwich com distintos tipos de conetor afim de
ser possível realizar estudo comparativo do comportamento a longo prazo destes painéis.

3. PRODUÇÃO DOS PAINÉIS EM AMBIENTE FABRIL

O processo de fabrico é iniciado com a betonagem da camada inferior em BACRFA (Fig. 3), seguida
da colocação da camada de isolamento e posicionamento dos conetores em GFRP contínuos (Fig. 4)
ou discretos (Fig. 5), terminando com a betonagem da camada superior em BACRFA (Fig. 6). Após
24 horas de cura do BACRFA é possível desmoldar os paineis, manuseá-los (Fig. 7) e proceder ao seu
armazenamento, se necessário (Fig. 8).

A Figura 9 é demonstrativa que o conceito LEGOUSE é adaptável, também, a painéis com aberturas
(para concretização de janelas e/ou portas), como é o caso do painel “G” (ver Fig. 10).

Figura 3. Betonagem da camada inferior de BACRFA. Figura 4. Colocação da camada de isolamento e


posicionamento dos conectores contínuos de GFRP.

564
Barros, Lourenço, Oliveira, Silva e Lopes

Figura 5. Posicionamento dos conetores discretos Figura 6. Betonagem da camada superior


de GFRP. de BACRFA.

Figura 7. Transporte. Figura 8. Acondicionamento.

Figura 9. Betonagem do painel “G”.

4. ASSEMBLAGEM DOS PAINÉIS – CONSTRUÇÃO DO PROTÓTIPO

Para a construção do protótipo projetado (ver Fig. 1), definiram-se um conjunto de painéis com
diferentes geometrias (incluindo painéis com aberturas). Na Figura 10 é possível observar a geometria
do protótipo construído e o conjunto de painéis que foram executados em fábrica e montados na
localização final, ou seja, em zona reservada do parque de stockagem da unidade industrial da
Mota-Engil sita em Rio Maior. Na Figura 11 apresentam-se fotografias da fase de execução dos lintéis
de fundação que acompanham todo o desenvolvimento dos painéis de parede. A Figura 12 expõe as
etapas representativas da montagem do protótipo que culminaram com a execução da laje de cobertura
(ver Fig. 13) cuja camada superior em BACRFA foi betonada in situ.

Figura 10. Assemblagem dos painéis sandwich.

565
LEGOUSE – Habitação modular pré-fabricada: conceiro, construção e ensaios

A construção do protótipo foi finalizada após a instalação das infraestruturas correntes neste tipo de
edificação, impermeabilização da cobertura, instalação de peças sanitárias e pintura (facultativa), tal
como é possível constatar na Figura 14.

Figura 11. Betonagem do lintel de fundação.

Figura 12. Faseamento construtivo do protótipo.

Figura 13. Montagem da laje de cobertura.

Figura 14. Protótipo construído.

566
Barros, Lourenço, Oliveira, Silva e Lopes

5. COMPORTAMENTO TÉRMICO

Após a concretização do protótipo à escala real, o seu desempenho efetivo foi avaliado ao nível do
comportamento térmico e acústico. A caracterização do isolamento térmico do painel de fachada foi
efetuada através da medição in situ do coeficiente de transmissão térmica de acordo com o
estabelecido na norma ISO 9869:1994 [11]. Para avaliar o coeficiente de transmissão térmica (U) do
painel de fachada procedeu-se à colocação de termopares no interior e no exterior do compartimento e
de sensores de fluxo de calor na superfície interior do elemento construtivo para o qual se pretendeu
obter o valor do coeficiente de transmissão térmica. Com a recolha da temperatura interior (Ti), da
temperatura exterior (Te) e do fluxo de calor que atravessa o elemento (q) foi estimado o coeficiente de
transmissão térmica do elemento construtivo. Foram avaliadas três situações, representadas na
Figura 15 e Figura 16: zona corrente do painel (1); zona com o conector de GFRP (2); zona com
conetor em treliça metálica (3).

X 3 - Zona com conetor em treliça metálica

X 1 - Zona corrente

X 2 - Zona com conetor em


GFRP

Figura 15. Localização dos equipamentos durante os ensaios.

2 1

Figura 16. Vista dos fluxímetros instalados nos três pontos avaliados (paredes laterais da sala e da cozinha).

O valor do coeficiente de transmissão térmica dos elementos exteriores da envolvente opaca vertical
nos pontos medidos é apresentado no Quadro 1. O coeficiente de transmissão térmica da zona com
conetor GFRP é 5% superior ao coeficiente de transmissão térmica da zona corrente. A zona com
conector constituído por uma treliça metálica (zona 3) apresenta um coeficiente de transmissão térmica
47% superior ao da zona corrente e 44% superior ao da zona com conector em GFRP.

Os valores do coeficiente de transmissão térmica do painel de fachada com conectores GFRP são
significativamente inferiores aos coeficientes de transmissão térmica superficiais máximos admissíveis
de elementos opacos da envolvente exterior definidos na regulamentação térmica e próximos dos

567
LEGOUSE – Habitação modular pré-fabricada: conceiro, construção e ensaios

coeficientes de transmissão térmica superficiais de referência de elementos opacos da envolvente


exterior para a zona climática I1 [12,13].

Quadro 1. Coeficiente de transmissão térmica do painel de fachada.


U
Localização
(W/m².ºC)
1 – zona corrente 0,65
2 – zona com o conector de GFRP 0,68
3 – zona com conetor em treliça metálica 1.22

Os painéis de fachada avaliados apresentam valores de coeficiente de transmissão térmica próximos


aos de soluções construtivas correntes com espessuras superiores. A título de exemplo salienta-se que
o painel de fachada com conectores de GFRP apresenta um coeficiente de transmissão térmica menor
ao de uma parede simples de alvenaria de blocos convencionais vazados de betão de 22 cm de
espessura (ou 20 cm no caso de parede de betão armado), com sistema de isolamento térmico pelo
exterior constituído por 4 cm de poliestireno expandido ou lã de rocha (ETICS), e próximo ao de uma
parede dupla de tijolo cerâmico furado (11 cm + 11 cm) ou (11 cm + 15 cm) com 3 cm de poliestireno
extrudido preenchendo completamente a caixa-de-ar.

6. AVALIAÇÃO ACÚSTICA

A avaliação do desempenho acústico foi efetuada através de ensaios in situ. A localização dos
compartimentos onde se realizaram os ensaios é apresentada na Figura 17 (indicação das paredes
ensaiadas). Os compartimentos monitorizados não se encontravam mobilados. A avaliação do
isolamento sonoro a sons de condução aérea das fachadas realizou-se de acordo com as normas NP
EN ISO 140-5:2009 [14] e ISO 717-1:2009 [15]. Para a avaliação do índice de isolamento sonoro a
sons aéreos de fachada foi utilizado um sonómetro e respetivo microfone, fonte sonora e gerador de
ruído.

Figura 17. Painéis de fachada selecionados para avaliação acústica.

O índice de isolamento sonoro a sons de condução aérea padronizado da fachada lateral da sala e da
fachada lateral do quarto, D2m,nT,w, foi de 39 dB. Este valor cumpre os requisitos estipulados no
Regulamento dos Requisitos Acústicos dos Edifícios (RRAE), para edifícios localizados em zonas
sensíveis ou mistas [16]. Os painéis de fachada avaliados apresentam valores de índice de isolamento
sonoro a sons de condução aérea padronizado da fachada próximos aos de algumas soluções
construtivas correntes com espessuras superiores como, por exemplo, ao de paredes duplas de tijolo
cerâmico furado (11 cm + 11 cm) com 5 cm de lã mineral na caixa-de-ar.

7. CONCLUSÕES

No presente artigo descreveu-se o conceito de construção modular LEGOUSE, com especial realce
para a construção do protótipo e posterior avaliação do seu desempenho térmico e acústico. A
concretização do projeto (no protótipo) permitiu extrair as seguintes principais conclusões:

568
Barros, Lourenço, Oliveira, Silva e Lopes

- O conceito construtivo desenvolvido pode ser materializado por um processo de industrialização


mais eficiente, otimizando meios e recursos, com diminuição do tempo de produção;

- Com este conceito é possível construir habitações de custo controlado (o protótipo construído
apresentou um custo aproximado de 400€/m2, pronto a habitar) com recurso a meios de elevação de
relativa pequena capacidade (por exemplo, camião grua) e com recursos humanos com formação
correntemente encontrada na construção pré-fabricada;

- A investigação realizada ao longo de todo o projeto permitiu garantir ao BACRFA e aos conetores
de GFRP as propriedades (mecânicas e de durabilidade) necessárias para que a unidade construtiva
(painel sandwich) apresentasse o comportamento pretendido para estados limites de utilização e
últimos;

- A construção do protótipo à escala real permitiu concluir que é possível construir uma habitação
baseada no conceito desenvolvido em menos de duas semanas;

- A compatibilidade com as distintas infraestruturas necessárias e correntes em edificações é


facilmente garantida nesse sistema construtivo, e o recurso a BACRFA assegura uma “aparência” do
acabamento das fachadas expostas igual ou superior ao que é conseguido na construção tradicional;

- Os custos de manutenção prevêem-se inferiores ao da construção tradicional, dado o menor recurso a


reforços suscetíveis a fenómenos de corrosão;

- Os ensaios termo-acústicos realizados com o protótipo revelaram tratar-se de uma edificação com
desempenho igual ou superior às construções convencionais, mesmo daquelas que incluem sistemas
de isolamento tipo ETICS.

O desenvolvimento do projeto LEGOUSE permitiu demonstrar que a partilha de competências


complementares entre empresas e entidades de investigação permite o desenvolvimento de soluções
novas e competitivas.

Encontra-se em avaliação, atualmente, a extrapolação do presente projeto para edifícios de vários


pisos com o desenvolvimento da tecnologia desenvolvida e incorporação de outro tipo de elementos
estruturais.

AGRADECIMENTOS

Este projeto de investigação (“LEGOUSE - Pré-fabricação Modular de Edifícios de Custos


Controlados”) foi financiado pelo COMPETE/QREN (5387). Agradece-se, também, o contributo e
apoio fornecido pelas entidades co-promotoras: Mota Engil, Universidade do Minho, Civitest e PIEP.

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[8] Abrishambaf, A.; Barros, J.; Cunha, V. (2015). “Time-dependent flexural behaviour of cracked
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[9] Lameiras, R.; Barros, J.; Azenha, M. (2015). “Effect of flow-induced dispersion and orientation
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[10] Lourenço, L.; Durães, B.; Barros, J.; Gonçalves, D. (2010). “Comportamento mecânico de betão
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[11] ISO 9869 - Thermal Insulation - Building Elements - In-Situ Measurements of Thermal
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[12] Ministério do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia. Portaria n.º 349-B/2013, de 29 de
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[13] Ministério da Economia e do Emprego. Decreto-Lei 118/2013 – Sistema de Certificação
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[14] NP EN ISO 140-5:2009 – Acústica. Medição do isolamento sonoro de edifícios e de elementos de
Construção. Parte 5: Medição in situ do isolamento sonoro a sons aéreos de fachadas e de
elementos de fachada.
[15] NP EN ISO 717-1:2009 – Acústica. Determinação do isolamento sonoro em edifícios e de
elementos de construção. Parte 1: Isolamento sonoro a sons de condução aérea.
[16] Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional. Decreto-
Lei nº 96/2008 de 09 de Junho – Regulamento dos Requisitos Acústicos dos Edifícios. 2008.

570
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

Estudo de viabilidade e durabilidade de concreto auto-adensável


em canteiro de obra. Caso da Arena Pernambuco

Carlos Calado1 Aires Camões2 Tibério


Andrade3

Béda Bianca
Barkokébas4 Vasconcelos5

RESUMO

A pesquisa estudou a aplicação, resistência e durabilidade de concreto auto-adensável (CAA) numa


grande obra, comparando-se seu desempenho com concreto convencional vibrado (CC) de
características similares, aferindo-se sua viabilidade de custo.
Os estudos foram na obra da Arena Pernambuco e incidiram nas betonagens efetuadas durante os
meses de maio, junho e julho de 2012, para coleta de dados, acompanhamento dos ensaios rotineiros
de controle do concreto e realização de ensaios de resistência e durabilidade específicos da pesquisa.
A resistência à compressão do CAA foi em média 4,5% superior, e suas formas reforçadas para
suportar maior pressão lateral do concreto. Os resultados de durabilidade foram favoráveis ao CAA,
tendo custo dos materiais cerca de 13,5% superior ao CC.

Palavras-chave: concreto auto-adensável (CAA), durabilidade e aplicabilidade em canteiro de obra.

1. INTRODUÇÃO

Enquanto o concreto convencional (CC) começou a ser regularmente aplicado a partir do inicio do
século XX, o concreto auto-adensável (CAA) foi desenvolvido e começou a ser aplicado
aproximadamente noventa anos depois. Há então necessidade de se ter melhor conhecimento e
validação do novo material, nos diversos aspectos, a fim de que os projetistas e construtores
especifiquem e apliquem CAA como alternativa de uso ao CC. Rich et al [1] estudou a aceitação do
CAA entre os empresários da construção civil do Reino Unido e concluiu que as pesquisas, à época,
desenvolviam estudos específicos do material em questão, sem no entanto buscar identificar oferta de
outros valores aos construtores, a exemplo de como, quando e onde aplicar CAA, desde a tomada de
decisão dentro do planejamento do processo, bem como tempo de construção. Ou seja, o CAA deveria
ser visto como um método e não apenas um material.

1
C-TAC, Departamento de Engenharia Civil, Universidade do Minho, PORTUGAL. carlos.calado@upe.br
2
C-TAC, Departamento de Engenharia Civil, Universidade do Minho, PORTUGAL. aires@civil.uminho.pt
3
Programa de Engenharia Civil, Universidade Federal de Pernambuco, Brazil. tiberio@tecomat.com.br
4
Programa de Engenharia Civil, Universidade de Pernambuco, Brazil. beda.jr@upe.br
5
Programa de Engenharia Civil, Universidade de Pernambuco, Brazil. bianca.vasconcelos@upe.br

571
Estudo de viabilidade e durabilidade de concreto auto-adensável em canteiro de obra.
Caso da Arena Pernambuco

Dessa forma, a presente pesquisa objetivou desenvolver estudos com CAA e CC dentro de um canteiro
de obras, apropriando-se do comportamento real dos dois tipos de concreto com aplicação em larga
escala, para obtenção de respostas quanto a efetiva possibilidade do uso de CAA no lugar do CC. A
Arena Pernambuco foi a obra escolhida para a aplicação da pesquisa, estando localizada na região
metropolitana do Recife, possui 128.000 m2 de área construída com capacidade para 46.105 pessoas,
tendo sua estrutura sido executada em concreto armado em todos os níveis, inclusive nas áreas de
arquibancada. O volume de concreto definido em projeto foi de aproximadamente 58.000 m³,
distribuído em 06 elevações, sendo 40% (23.200 m3) de CAA e 60% (34.800 m3) de CC. As fundações
foram constituídas de sapatas apoiadas diretamente sobre o solo e estacas tipo raiz, moldadas in loco.
O empreendimento foi construido entre os anos de 2011 e 2013 para sediar jogos da Copa das
Confederações em 2013 e Copa do Mundo em 2014, torneios esses patrocinados pela FIFA. O meio
ambiente local apresenta os seguintes valores médios anuais: temperatura de 26oC, umidade relativa
do ar de 80%, precipitação pluviométrica de 2.418 mm, incidência solar igual a 2.551 horas, e
atmosfera marinha por tratar-se de cidade marítma (Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Recife#Clima)
[2]. Entende-se que a competividade do CAA dependerá do atendimento às viabilidades técnica e
econômica. A viabilidade técnica estará associada aos aspectos amplos de trabalhabilidade na
aplicação do concreto fresco, assim como resistência e durabilidade do concreto endurecido. A
viabilidade econômica deverá ser atendida no conjunto das etapas de materiais, fabricação e aplicação
do CAA [3]. Buscou-se ainda comparativo de desempenho entre CAA e CC a partir de composições
aplicadas na obra.

O comportamento reológico do concreto fresco mostra fluidez, diferentemente do concreto endurecido


que apresenta deformação plástica e fluência. A tensão de escoamento relaciona-se com o
espalhamento, ou seja, ela fisicamente pode ser interpretada como a tensão necessária a ultrapassar
para que se inicie o escoamento da mistura fluida. Dessa forma, quanto maior essa tensão, maior
dificuldade terá o CAA para iniciar o escoamento, o que representa redução de trabalhabilidade. As
progressivas alterações físico-químicas do material compósito dependem do tempo [4].

Para os construtores aplicarem CAA nas suas obras, o tempo disponível entre o inicio da mistura e a
conclusão do adensamento nas formas, quando então se inicia a cura, representa importante desafio a
ser atendido. As etapas consideradas na aplicação do concreto fresco são: mistura, transporte,
lançamento, adensamento e acabamento do concreto nas formas, exigindo-se em cada uma delas,
trabalhabilidade compatível. O CAA, para a manutenção da auto-adensabilidade, necessitará
atendimento à fluidez, capacidade de preenchimento, viscosidade, capacidade de passagem e
resistência à segregação. O tempo inicial de pega, juntamente com a consistência e coesividade do
concreto fresco, determinam o tempo de duração em que a mistura permanece plástica e trabalhável,
podendo ser manuseada e aplicada no canteiro de obra, onde para regiões com temperatura mais
elevada, caso do Recife, o tempo disponível para aplicação do CAA fresco pode ser reduzido em
relação às regiões de clima mais frio. A operação de mistura exige tempo mínimo necessário para que
se produza uma composição de concreto uniforme atendendo a resistência especificada, levando-se em
consideração o tipo de equipamento misturador, o número de rotações e energia aplicada [5,6,7].

Alguns fatores influenciam na redução da trabalhabilidade: riqueza da mistura, propriedades do


cimento, condições do agregado, tempo prolongado de mistura, desempenho dos aditivos plastificantes
e superplastificantes, e a temperatura. O CAA obtido na região provém de composições que associam
conteúdo de pó com os aditivos. Os plastificantes são aditivos redutores de água e modificadores de
viscosidade e, espera-se que estabilizem a pasta pelo aumento da viscosidade da solução aquosa. Os
superplastificantes têm efeitos sobre a dispersão de partículas de cimento por meio de repulsão estérica
e/ou eletrostática, com características de elevada redução de água. A adsorção do aditivo pode
estender a manutenção da fluidez através da dispersão das partículas de cimento, mas, a concentração
de íons sulfato na solução pode ajudar a reduzir a intensidade do efeito estérico do polímero,
provocando aumento exponencial da tensão de escoamento da mistura, o que pode explicar a perda de
eficiência do aditivo observado nas obras, reduzindo a trabalhabilidade e limitando as operações de
concretagem, principalmente em temperaturas elevadas onde as reações internas do concreto ocorrem
em menor tempo. Verifica-se que o tempo de pega sofre retardo excessivo quando se aplicam

572
Calado, Camões, Andrade, Barkokébas e Vasconcelos

dosagens elevadas de aditivos, independentemente do tipo de cimento aplicado. Some-se ainda a


compatibilidade dos aditivos com o cimento, desempenho e custo, o que leva a buscar-se a
determinação da dosagem ideal de superplastificante a ser especificada numa composição com base no
seu teor de saturação. O cimento e o superplastificante se ligam através de interações físicas e
químicas que levam a diferentes características ao concreto, tanto no estado fresco, quanto no
endurecido, incluindo o processo de hidratação. A temperatura mais elevada provoca rápida taxa de
hidratação inicial retardando a hidratação subsequente, produzindo distribuição não uniforme dos
produtos de hidratação dentro da pasta. Isso devido a alta taxa de hidratação inicial reduzir o tempo
necessário disponível para a difusão dos produtos de hidratação distantes das partículas de cimento e
para precipitação uniforme nos espaços intersticiais, como ocorre nas baixas temperaturas. Então, o
concreto aplicado e curado a alta temperatura endurece mais rápido, mas apresenta resistências
menores que os aplicados e curados em temperaturas mais baixas. [5,8,9,10,11,12,13,14].

Outros aspectos executivos a destacar são as formas, projeto e execução; e processo de lançamento, a
exemplo de bombeamento. Para melhorar o bombeamento do concreto, De Schutter [15] estudou a
questão e apresentou as seguintes recomendações: aperfeiçoamento da curva granulométrica; do
conteúdo de pasta e de finos; aumento do conteúdo de cimento; buscar baixa relação água/cimento
associado à consistência fluida; aplicação de agente modificador de viscosidade. Entende-se por
melhorar a bombeabilidade a redução na pressão de bombeamento, redução do atrito e desgaste
mecânico dos componentes, aumento da produtividade, redução do bloqueio de linhas, e economia de
energia. O processo de lançamento afeta a pressão lateral do CAA sobre a forma. Com base nos
estudos desenvolvidos por Torgal e Jalali [16], verifica-se que para redução dos custos de formas
especiais para CAA, deve-se considerar: influência entre empuxo, composição e consistência do CAA;
concretagem pelo topo ou pela base; densidade de armadura; material utilizado na fabricação e
montagem das formas; controle da velocidade de lançamento; monitoramento contínuo dos empuxos
na forma. Khayat e Omran [17] realizaram estudos e concluíram que o nível de tixotropia e a taxa de
lançamento do CAA têm influência significativa sobre a pressão lateral exercida pelo CAA sobre as
formas. Quanto maior o nível de tixotropia do CAA menores pressões laterais, quanto maior a taxa de
lançamento, maiores pressões laterais. Silva e Brito [18] com base nos seus estudos, observaram que
para temperaturas iniciais mais elevadas houve redução da pressão do CAA sobre a forma por conta
do processo de hidratação e endurecimento ser mais rápido, devido ao desenvolvimento de maior
coesão e consequente diminuição da pressão.

Em relação aos métodos de cura, Girish et al. [19] estudaram comparativo de resistência à compressão
do concreto para diferentes métodos de cura, tais como cura úmida, com ar, com membrana e auto
cura. Imersão, névoa de água ou pulverização, juta ou pano molhado, são técnicas de adição de água,
enquanto que folhas de plástico, retirada retardada das formas e membranas de cura, são técnicas de
retenção de água. Os resultados mostraram que o método de cura úmida conduziu às mais elevadas
resistências à compressão tanto aos 7 quanto aos 28 dias de cura.

A resistência e o módulo de elasticidade do CAA foram estudados por Desnerck [20] a partir de banco
de dados obtido em mais de 250 trabalhos publicados, onde na comparação entre CAA e CC,
verificou-se que as resistências do CAA foram aproximadamente 10% mais elevadas, possivelmente
devido à maior densidade da microestrutura do auto-adensável. Verificou-se também que o tipo de
agregado e o volume da pasta têm influência pequena para o módulo de elasticidade. Para o
coeficiente de fluência, há aumento entre 5 a 10% quando se aumenta o conteúdo de pó, o que exigirá
maior atenção no controle das deformações para CAA, destacando-se as pontes construídas em
balanços sucessivos [21].

A durabilidade do concreto sofre influências adversas que envolvem o transporte de fluidos tais como
água pura ou carreando íons cloreto, gás carbônico e oxigênio, além de possíveis danos mecânicos.
Esses fluidos podem penetrar e se mover dentro do concreto através de meio poroso, pela fluidez,
difusão e absorção. Os poros interconectados elevam a permeabilidade. Gás carbônico leva à
carbonatação da pasta hidratada e o oxigênio permite o progresso da corrosão das armaduras
envolvidas pelo concreto. Resultado, concreto denso e pouco permeável reduz muito o ingresso de
agentes agressivos no seu interior, limitando os ataques corrosivos apenas à sua superfície. Relação

573
Estudo de viabilidade e durabilidade de concreto auto-adensável em canteiro de obra.
Caso da Arena Pernambuco

água/cimento, temperatura, grau de hidratação, adições minerais, porosidade capilar, permeabilidade,


dentre outros fatores, influenciam nas propriedades de durabilidade do concreto auto-adensável e
concreto convencional vibrado [6,22,23].

2. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

Os estudos da pesquisa se desenvolveram no canteiro da obra da Arena Pernambuco, durante um


período de sua execução, em três fases: (a) primeira fase de estudos do projeto estrutural, metodologia
executiva adotada, materiais empregados e aplicação de questionário para obtenção de informações
sobre o desenvolvimento parcial dos trabalhos com identificação dos acertos, dos problemas
identificados e das ações corretivas adotadas; (b) segunda fase da pesquisa dentro do canteiro da obra
para acompanhamento das etapas executivas com coleta de dados no local e execução de ensaios
específicos da pesquisa, nos meses de maio, junho e julho de 2012; (c) avaliação das informações
obtidas e dos resultados dos ensaios realizados para obtenção de possíveis respostas aos objetivos da
pesquisa aplicada.

Objetivou-se obter respostas quanto ao CAA poder ser aplicado nas regiões de clima quente em meio
ambiente mais agressivo, em face de possível viabilidade técnica e econômica comparativamente ao
CC. A obra da Arena Pernambuco ao aplicar 58.000 m3 de concreto, sendo 40% de CAA e 60% de
CC, tornou-se um grande laboratório de pesquisa em campo. Assim, do conjunto de composições
aplicadas, foram escolhidas cinco composições com maior volume de uso, três de CAA e duas de CC,
para coleta dos dados de caracterização do concreto fresco, slump flow para CAA e slump para CC, e
resistência à compressão para o concreto endurecido, conforme apresentado no Quadro 1.

Quadro 1. Composições de CAA e CC aplicadas na pesquisa.


Composições
CAA - 009 CAA - 017 CAA - 024 CC - 012 CC - 019
Tipo de cimento CP-II F 32 CP-IV 32 RS CP-II F 32 CP-II F 32 CP-IV 32 RS
Consumo de cimento 499 525 532 451 476
Areia 856 778 732 815 681
Brita 19 mm 830 798 - 917 946
Brita 12,5 mm - - 778 - -
Água 199 236 215 180 214
Relação (A/C) 0,40 0,45 0,40 0,40 0,45
Plastificante 3,44(1) 4,83(2) - 3,12(1) 4,38(2)
Superplastificante 4,94(3) 5,78(4) 4,13 (3)
1,98(3) 2,09(4)
Resistência fck,28 (MPa) 40 40 40 40 40
Slump flow/Slump (mm) > 700 > 700 > 700 140 ± 20 140 ± 20
Aplicações Paredes e Paredes e Pré- Vigas Fundações
pilares pilares moldados
Cimentos: CP-II F 32 equivalente a CEM II/A-L; CP-IV 32 RS equivalente a CEM IV/B 32,5
Unidade: kg/m3
Plastificante: (1)SIKAMENT PF 175; (2)VIAMIX 261R
Superplastificante: (3)VISCOCRET 5800; (4)VIAFLUX 2200

Para responder a possível viabilidade da aplicação de CAA fresco em larga escala, concentrou-se a
pesquisa nos aspectos de: estudos para determinação das composições adotadas; escolha das classes de
espalhamento (CAA) e abatimento (CC); tempo disponível de trabalhabilidade para as operações de
transporte, lançamento, adensamento e acabamento; tipo de lançamento adotado para colocação do
CAA nas formas; comportamento das formas em face da possível maior pressão lateral do CAA
fresco; desempenho dos aditivos para manutenção da trabalhabilidade do CAA durante as operações
de concretagem e acabamento. Os ensaios de espalhamento (slump flow) foram feitos com base na
Norma NBR 15823-2 (2010); os ensaios de abatimento (slump test) foram feitos com base na Norma
NBR NM 67 (1998)

574
Calado, Camões, Andrade, Barkokébas e Vasconcelos

Para aplicação dos ensaios específicos da pesquisa no canteiro da obra, das cinco composições estudas
com o concreto fresco, escolheu-se uma representativa de CAA (CAA -009) e outra de CC (CC-012),
onde elas possuíam: mesma relação água/cimento (0,40); mesmo tipo de cimento (CP-II F 32); mesmo
tipo de agregados e aditivos; e maiores volumes aplicados na obra. Os estudos foram realizados
igualmente para as duas composições escolhidas de CAA e CC, permitindo comparativo de
desempenho entre os dois concretos, a partir de dois tipos de amostras: tipo 1, corpos de prova
moldados conforme recomendações normativas, com armazenamento em condições de laboratório
(CP) (ver Fig. 1); tipo 2, corpos de prova, extraídos de placas de concreto moldadas e curadas
simulando as mesmas condições ambientais do concreto moldado nos elementos estruturais da obra,
chamados testemunhos (TE) (ver Fig. 2). Realizaram-se ensaios de resistência à compressão e módulo
de elasticidade, e buscou-se realizar estudos de durabilidade pouco usuais em canteiro de obra nova,
aplicando-se estudos típicos de laboratórios de pesquisa. Os ensaios de durabilidade aplicados aos
corpos de prova (CP) e testemunhos (TE) foram: Difusão de íons cloreto; Absorção de água por
capilaridade; Cálculo do índice de vazios.

Figura 1. Corpos de prova (CP). Figura 2. Testemunhos (TE).

Os ensaios de resistência à compressão foram feitos com base na Norma NBR-5739 (2007) e os
ensaios de módulo de elasticidade com base na Norma NBR-8522 (2008), tendo todas as amostras, CP
e TE, a idade de 33 dias quando da realização dos ensaios: difusão de íons cloreto com base na ASTM
C 1202 (1997); absorção de água por capilaridade com base nas Normas NBR-9779 (2012) e NBR-
7222 (2011); cálculo do índice de vazios com base na Norma NBR-9778 (2009).

O estudo de viabilidade econômica procurou estabelecer comparativo de custo a partir dos materiais
aplicados em cada uma das composições de CAA e CC, de modo a possibilitar comparativo entre os
concretos e com as referências bibliográficas existentes.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Entre os meses de maio e julho de 2012 a construção da Arena Pernambuco encontrava-se na fase de
execução da superestrutura, com o início de montagem das estruturas pré-moldadas das arquibancadas
inferior e superior (ver Fig. 3). A utilização de concreto auto-adensável neste período foi intensificada;
todas as estruturas pré-moldadas das arquibancadas, vigas de apoio e degraus, foram realizadas com
CAA, além de pilares e paredes das rampas de acesso (ver Fig. 4). No período referido foram
aplicados aproximadamente 15.000 m³ de concreto, cerca de 26% do total previsto para a obra; destes,
cerca de 40% (6.000 m³) foram CAA, o que corresponde a um volume médio mensal de 2.000 m³. A
decisão de estudar e aplicar CAA na obra da Arena Pernambuco foi da área técnica da construtora
levando em consideração, principalmente, a existência de elementos estruturais com grande densidade
de armadura, dificuldade de acesso dos vibradores para adensamento do CC, necessidade de
lançamento do concreto de maiores alturas livres, e menores prazos de execução.

Figura 3. Arquibancadas. Figura 4. Rampas de acesso.

575
Estudo de viabilidade e durabilidade de concreto auto-adensável em canteiro de obra.
Caso da Arena Pernambuco

As centrais de concreto foram instaladas no canteiro de obras. O concreto era transportado em


caminhões betoneira e lançado através de bombeamento. O tempo necessário de trabalhabilidade para
realização das operações desde a fabricação até o final do adensamento e acabamento nas formas foi
no máximo, de 90 minutos. Relativamente aos componentes dos concretos salienta-se: Ligantes: dois
tipos de cimento foram aplicados: CP-IV 32 RS, cimento portland pozolânico aplicado nos elementos
de fundação, sendo a pozolana metacaulim, argila ativada termicamente de 600oC a 700oC; CP-II F 32,
cimento portland composto com filer calcário aplicado nos elementos da superestrutura. Agregados: os
agregados foram selecionados considerando seu potencial de reatividade com álcalis. As jazidas
aprovadas foram monitoradas, sendo realizados ensaios petrográficos e de reatividade álcali-agregado
semestralmente para acompanhamento do fornecimento. Aditivos: a dificuldade inicial encontrada foi
a compatibilidade de aditivos para atender a necessidade das composições, principalmente quanto ao
tempo e manutenção de lançamento, para os dois tipos de cimento aplicados. Procurou-se manter a
trabalhabilidade do concreto dentro do prazo máximo necessário de 90 minutos com temperatura
média aferida de 34oC. Foram testadas 13 composições experimentais com aplicação de 20 aditivos
plastificantes e superplastificantes fornecidos por sete diferentes fabricantes, com dosagem variando
de 0,8% a 1,4%, com espalhamento de 700 mm a 745 mm e espalhamento após uma hora variando de
630 mm a 685 mm. Das 13 composições estudadas, cinco atenderam aos requisitos técnicos exigidos
(ver Quadro 1). A composição CAA – 024 foi aplicada nos elementos pré-moldados das
arquibancadas, que foram deslocados do pátio da linha de produção para berços de apoio em toda a
extensão das peças até a retirada para transporte e lançamento nos apoios definitivos, com 24 horas
após a concretagem.
As formas industrializadas aplicadas precisaram ser adaptadas para suportar as pressões laterais
geradas pelo CAA fresco e também permitir melhor acabamento final do concreto. Elas foram
estruturadas com aço e utilizaram madeira compensada nas faces em contato com o concreto, com
melhor isolamento das juntas dos painéis para evitar fuga de finos da argamassa.
O Quadro 2 apresenta os resultados coletados no canteiro de obra do controle tecnológico do concreto
nos meses de maio a julho de 2012. Foram apresentados os valores médios de cada um dos grupos de
resultados com base no número de amostras consideradas. A temperatura inicial foi medida na central
de concreto, enquanto que a temperatura final foi medida na bomba quando da operação de
lançamento. O espalhamento foi medido para o CAA e o abatimento foi medido para o CC.
Quadro 2. Resultados de temperaturas e espalhamento/abatimento.
Mês (2012) No. Amostras Temperatura Temperatura Espalhamento/abatimento
inicial (oC) final (oC) (mm)
Composição: CAA – 009 (Volume aplicado = 2763 m3)
Maio 27 34,4 33,8 700
Junho 90 32,8 33,1 702
Julho 81 32,1 32,8 705
3
Composição: CAA – 017 (Volume aplicado = 1084 m )
Maio 27 34,4 33,8 700
Junho 90 32,8 33,1 702
Julho 81 32,1 32,8 705
Composição: CAA – 024 (Volume aplicado = 2198 m3)
Maio 27 34,4 33,8 700
Junho 90 32,8 33,1 702
Julho 81 32,1 32,8 705
Composição: CC – 012 (Volume aplicado = 6106 m3)
Maio 27 34,4 33,8 700
Junho 90 32,8 33,1 702
Julho 81 32,1 32,8 705
Composição: CC – 019 (Volume aplicado = 2526 m3)
Maio 27 34,4 33,8 700
Junho 90 32,8 33,1 702
Julho 81 32,1 32,8 705

576
Calado, Camões, Andrade, Barkokébas e Vasconcelos

O Quadro 3 apresenta os resultados coletados no canteiro de obra do controle tecnológico do concreto


nos meses de maio a julho de 2012. Foram apresentados os valores médios de cada um dos grupos de
resultados com base no número de amostras consideradas. Os resultados contemplam as cinco
composições analisadas, com os resultados obtidos nos meses de maio, junho e julho de 2012.
Também está indicado o volume total de CAA e CC aplicado para cada uma das composições nos três
meses referidos.

Quadro 3. Resultados de resistência à compressão aos sete e aos 28 dias.


Mês (2012) No. Resistência Média (±) Resistência Média (±)
Amostras (MPa) 07 dias Desvio padrão (MPa) 28 dias Desvio padrão
Composição: CAA – 009 (Volume aplicado = 2763 m3)
Maio 27 44,14,57 48,53,49
Junho 90 38,15,14 39,995,07 49,54,98 49,964,69
Julho 81 40,74,13 51,04,53
Composição: CAA – 017 (Volume aplicado = 1084 m3)
Maio 27 45,44,17 50,13,05
Junho 90 36,65,22 39,406,12 49,15,89 49,804,60
Julho 81 37,85,28 50,34,15
Composição: CAA – 024 (Volume aplicado = 2198 m3)
Maio 27 37,33,82 42,24,32
Junho 90 40,13,73 41,604,36 49,73,84 50,504,56
Julho 81 41,94,41 50,74,63
Composição: CC – 012 (Volume aplicado = 6106 m3)
Maio 27 43,13,70 49,03,34
Junho 90 36,54,60 38,704,97 47,54,14 48,604,01
Julho 81 38,84,60 49,24,00
Composição: CC – 019 (Volume aplicado = 2526 m3)
Maio 27 40,55,49 52,42,58
Junho 90 32,15,21 34,204,89 46,12,95 47,504,01
Julho 81 35,34,11 48,24,31

O Quadro 4 a seguir apresenta os resultados do conjunto dos ensaios específicos da pesquisa


realizados no canteiro da obra com os corpos de prova (ver Fig. 1) CAA – 009 (CP), CC – 012 (CP); e
testemunhos (ver Fig. 2) CAA – 009 (TE) e CC – 012 (TE). Os resultados apresentados se referem aos
ensaios de: resistência à compressão; módulo de elasticidade; difusão de ions cloreto; absorção de
água por capilaridade; indice de vazios. Os resultados apresentados de resistência à compressão e
módulo de elasticidade são referentes aos valores médios para 5 (cinco) exemplares para cada um dos
ensaios realizados. As amostras (CP) e (TE) tinham a idade de 33 dias quando da realização dos
ensaios de resistência e módulo de elasticidade; 60 dias quando da realização dos ensaios de difusão
de ions cloreto; 35 dias quando da realização dos ensaios de absorção de água por capilaridade e indice
de vazios. Os resultados de absorção de água apresentam leituras feitas após 72 horas de ensaio.

Quadro 4. Resultados do conjunto dos ensaios específicos da pesquisa no canteiro da obra.


Ensaio Composição Tipo da amostra Resultado
CP 62,58 ± 1,72
CAA-009
Resistência TE 63,14 ± 3,22
fckj (MPa) CP 57,42 ± 1,69
CC-012
TE 56,73 ± 3,65
CP 41,10 ± 0,87
CAA -009
Módulo de TE 39,90 ± 1,17
elasticidade CP 38,20 ± 1,31
Eci (Gpa) CC-012
TE 39,40 ± 2,32

577
Estudo de viabilidade e durabilidade de concreto auto-adensável em canteiro de obra.
Caso da Arena Pernambuco

Quadro 4. (Continuação).
CP 1665
Difusão de ions CAA -009
TE 2585
cloretos
CP 2040
Carga média passante CC-012
em Coulombs (C) TE 2940
CP 0,424
Absorção de água por CAA -009
TE 0.446
capilaridade
CP 0.467
(g/cm2) CC-012
TE 0.573
CP 8.99
CAA -009
Índice de vazios TE 11.24
Iv (%) CP 10.59
CC-012
TE 12.22
Os valores dos resultados apresentados referem-se à média dos resultados para cada um dos
exemplares de amostras ensaiadas: 05 exemplares para os ensaios de resistência à compressão e
módulo de elasticidade; 03 exemplares para os ensaios de difusão de ions cloreto, absorção de água
por capilaridade e cálculo do índice de vazios.

As Figuras 5, 6 e 7 apresentam os gráficos de difusão de ions cloretos, absorção de água por


capilaridade e índice de vazios, respectivamente. Todos os gráficos foram feitos a partir dos resultados
apresentados no Quadro 4 para as amostras CP e TE das composições CAA-009 e CC-012.

Figura 5. Difusão de ions cloretos. Figura 6. Absorção de água. Figura 7. Índice de vazios.

O Quadro 5 apresenta o custo comparativo entre as composições CAA-009 e CC-012 a partir do


quantitativo dos materiais aplicados, aplicando-se ponderação que levou em conta a variação de
quantidades e o custo unitário dos materiais aplicados nas duas composições estudadas.

Quadro 5. Custo comparativo das composições CAA-009 e CC-012.


Composições
Materiais
CC-012 CAA-009
(kg/m3)
Quantidade Custo 1 Quantidade Custo 2
Cimento 451 100 499 110,64
Areia 815 100 856 105,03
Brita 19 mm 917 100 830 90,51
Água 180 100 199 110,56
Plastificante 3,12 100 3,44 110,33
Superplastificante 1,98 100 4,94 248,89
Total 100 113,45

Verificou-se aumento aproximado de 13,45% no custo unitário do CAA em relação ao CC, levando-se
em consideração o custo dos materiais aplicados.

578
Calado, Camões, Andrade, Barkokébas e Vasconcelos

CONCLUSÕES

Os resultados foram obtidos aplicando-se a metodologia de trabalho adotada. Dessa forma, após a
realização da pesquisa no canteiro de obra da Arena Pernambuco, pode-se apresentar algumas
conclusões conforme enumeradas a seguir:

1) Ao estudar os resultados do questionário aplicado para obtenção do histórico da obra, desde a


etapa do projeto até o inicio da pesquisa no canteiro da obra, foi possível verificar que as
conclusões de Rich et al (2010)1 na Inglaterra, continuavam válidas para o Brasil. O projeto
estrutural, escolha inicial dos materiais, logística executiva, formas, por exemplo, deixaram
claro que tudo foi estabelecido para uma obra com concreto convencional vibrado. A decisão
de aplicar grande volume de concreto auto-adensável, cerca de 40% do volume total aplicado,
foi tomada com a obra já iniciada, pela equipe técnica de execução a partir de algumas
variáveis determinantes: necessidade de redução de prazos executivos; elementos estruturais
com elevada densidade de armadura; elementos estruturais com geometria de inviável acesso
para os vibradores; estabelecimento de logística executiva mais racional;
2) O CAA apresentou resistências à compressão levemente superiores às do CC equivalente,
tanto aos sete dias, quanto aos 28 (vinte e oito) dias. A diferença apresentou-se maior aos sete
dias, diminuindo aos 28 dias;
3) A trabalhabilidade do CAA fresco representou o maior desafio com que os executores se
depararam, obrigando-os a manter controle tecnológico de alta efetividade e qualidade, o que
permitiu que os objetivos perseguidos pela produção fossem atendidos;
4) O segundo maior desafio enfrentado foi adaptar as formas para CAA. Como ainda não há
escala de uso do CAA em relação ao CC, as formas foram as usualmente empregadas para CC
com adaptações de reforço. No entanto, apesar dos cuidados, em algumas situações a estrutura
da forma não suportou a pressão lateral exercida pelo CAA, maior que o CC, o que obrigou a
produção a adotar maiores cuidados e promover adaptações durante as operações de
lançamento do concreto;
5) Ao ser analisado o CAA endurecido, verificou-se que houve efetivamente pequeno ganho de
resistência em relação ao CC, o mesmo acontecendo em relação à durabilidade a partir dos
resultados dos ensaios de durabilidade realizados;
6) O projeto estrutural não sofreu análise complementar em face da substituição parcial do CC
pelo CAA. Assim, a análise ficou restrita à verificação sistemática dos resultados da
resistência à compressão, e assistemática do módulo de elasticidade.

Assim, os resultados da pesquisa demonstraram que há enorme possibilidade do concreto auto-


adensável ser empregado como alternativa viável ao uso do concreto convencional vibrado, no que
depender dos construtores e projetistas, mesmo em regiões de clima quente.

REFERÊNCIAS

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and Placement of SCC, 6th International RILEM Symposium on Self-Compacting Concrete and
the 4th North American Conference on the Design and Use of SCC, 26 to 29 September,
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http://pt.wikipedia.org/wiki/Recife#Clima, Jan 14th/2015.
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North American Conference on the Design and Use of Self-Consolidating Concrete, Illinois,
USA, May 12-15.

579
Estudo de viabilidade e durabilidade de concreto auto-adensável em canteiro de obra.
Caso da Arena Pernambuco

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Chapman & Hall, 2-6 Boundary Row, London SE1 8HN, UK, pp. 179-200.
[7] De Schutter, G. (2012). Hydration and microstructure. Proc. of Joint IBRACON-RILEM Course
on SCC. 54o IBRACON, Maceió, Brazil, October.
[8] Griesser, A. (2002). Cement-Superplasticizer Interactions at Ambient Temperatures. Swiss
Federal Institute of Technology – Zurich, Tese de doutoramento.
[9] Camões, A. (2005). Influência da presença de adições minerais no comportamento do betão
fresco em composições com incorporação de superplastificantes. Revista de Engenharia Civil-
Universidade do Minho, N. 23, pp. 19-30.
[10] Phan, T.H. [et al.] (2006). Influence of organic admixtures on the rheological behaviour of
cement pastes. Cement and Concrete Research, N.36, pp. 1807-1813.
[11] Carneiro, F.D. [et al.] (2012). The influence of temperature of the cement on the characteristics of
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580
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

Análisis de la viabilidad económica y estructural de tablestacas de


UHPFRC

Hugo Coll1 J. Angel López2

Sandra Galán3 Pedro Serna4

RESUMEN

Las tablestacas de acero han copado la práctica totalidad del mercado de tablestacas recuperables dada
su elevada esbeltez, reducido peso, excelentes propiedades resistentes y su posible extracción
mediante métodos de vibrado. Sin embargo, la durabilidad de las tablestacas de acero definitivas se ve
muy penalizada en ambientes agresivos, especialmente en obras portuarias o de ferrocarril interurbano,
en las que el acceso para un correcto mantenimiento queda comprometido.

El Ultra-High-Performance Fibre-Reinforced Concrete (UHPFRC) aparece como una alternativa


viable a este tipo de elementos, especialmente para la fabricación de muros hincados de carácter
definitivo. Sus elevada durabilidad y resistencia a compresión (>150 MPa), junto con la combinación
de pretensado, fibras metálicas y ausencia de armadura secundaria, permiten crear tablestacas de gran
esbeltez con un peso comparable a las de acero a un precio competitivo.

Las propiedades autocompactantes del UHPFRC han permitido desarrollar un sistema de producción
sencillo y económico, determinante para la viabilidad económica de este tipo de elementos. Se incluye
en el presente trabajo el método de fabricación empleado para la fabricación de prototipos de 6 m de
longitud y tan sólo 6 cm de espesor. Además, se describen los aspectos más importantes del diseño
estructural, los condicionantes económicos exigidos para garantizar su competitividad y los aspectos
más significativos del proceso de fabricación y de hinca.

Palabras clave: Tablestaca, Hormigón con Fibras, Alto Rendimiento; UHPC, UHPFRC

1. INTRODUCCIÓN

De acuerdo con [1], el Ultra-High-Performance Fiber-Reinforced Concrete (UHPFRC) es un material


caracterizado por: (i) una elevada resistencia a compresión (>150 MPa); (ii) una especial selección de
materiales finos y ultra-finos que le confieren propiedades autocompactantes, elevada compacidad y
durabilidad extrema; (iii) uso sistemático de fibras metálicas en un porcentaje en volumen superior al
2%, que permite prescindir de armaduras de refuerzo secundarias.

1
Universidad Politécnica de Valencia, Instituto de Ciencia y Tecnología del Hormigón, España hucolcar@cst.upv.es
2
Universidad Politécnica de Valencia, Instituto de Ciencia y Tecnología del Hormigón, España jualoma7@gmail.com
3
Universidad Politécnica de Valencia, España sangalso@cam.upv.es
4
Universidad Politécnica de Valencia, Instituto de Ciencia y Tecnología del Hormigón, España pserna@cst.upv.es

581
Análisis de la viabilidad económica y estructural de tablestacas de UHPFRC

Sus elevadas propiedades resistentes, incluso a tiempos reducidos, junto con el elevado control
necesario para su fabricación y puesta en obra, hacen que el UHPFRC esté especialmente concebido
para la realización de elementos prefabricados [2]. A pesar de su elevado precio por metro cúbico, la
optimización en los diseños de UHPFRC puede conducir a diseños competitivos si se consigue un
peso equiparable a los elementos equivalentes en acero [3]. Tal vez por ello, gran parte del trabajo de
diseño de elementos con UHPFRC se ha enfocado a reproducir sistemas o elementos estructurales
propios del acero tales como celosías trianguladas [4], pilotes [2], o incluso tablestacas [5].

Las tablestacas de acero han copado la práctica totalidad del mercado de tablestacas recuperables dada
su elevada esbeltez, reducido peso, excelentes propiedades resistentes y su posible extracción
mediante métodos de vibrado. En estos casos, la durabilidad queda relegada a un segundo plano. Sin
embargo, la durabilidad de las tablestacas de acero en elementos de contención definitivos queda muy
penalizada, especialmente en obras portuarias o de ferrocarril interurbano, en las que el acceso para un
correcto mantenimiento queda comprometido. El UHPFRC se erige como un material apto para
competir con muros de contención tablestacados de acero si se consigue un equilibrio entre el aumento
de vida útil y los costes de producción, transporte e hinca. La comprobación se ha realizado sobre
tablestacas con una configuración en omega, por considerar que es la tipología que mejor cumple con
los requisitos estructurales tanto de la hinca como en servicio.

2. CARACTERIZACIÓN DEL UHPFRC

Para la fabricación de la tablestaca se utilizó una dosificación convencional de UHPFRC de resistencia


característica a 28 días de 150 MPa, medida sobre probeta cúbica de 100 mm, con un 2% en volumen
de fibras metálicas OL 13/0.20, y un tamañao máximo de árido de 1.1 mm. Para una correcta
colocación del hormigón siguiendo el proceso de fabricación planteado se exigió un escurrimiento de
acuerdo con la UNE 83361 de entre 680 y 750 mm sin segregación visible de las fibras y medido tras
20 minutos de la fabricación. La dosificación de hormigón planteada se fabricó en las instalaciones de
la Universitat Politècnica de València, estimando mediante reómetro la curva de evolución diámetro-
tiempo. Los resultados se observan en la Figura 1.

Figura 1. Evolución del escurrimiento (izquierda) y reómetro (derecha).

La caracterización de las propiedades a tracción del UHPFRC se llevaron a cabo mediante la


elaboración de probetas prismáticas de sección cuadrada y 100 mm de lado a través de ensayos a
cuatros puntos sin entalla siguiendo el esquema de la Figura 2 (izquierda). De los ensayos a
flexotracción propuestos se obtuvo la ley carga-flecha experimental, que a través del procedimiento de
análisis inverso propuesto en [6] se transformó en la una ley uniaxial a tracción tensión-deformación.
La Figura 2 (derecha) muestra la ley característica a tracción empleada.

582
Coll, López, Galán e Serna

Figura 2. Ensayo de caracterización (izquierda); ley tensión-deformación característica (derecha).

3. DISEÑO DE TABLESTACAS

Para el diseño de la tablestaca se ha partido de unas premisas de tipología de terreno y altura de


contención de tierras convencionales, considerando un caso teórico de cálculo de tablestaca
prefabricada con UHPFRC pretensada con cordones de 0.6’ tipo Y 1860 S7. Para ello se ha partido de
la hipótesis de una excavación de 3 metros de profundidad efectuada al abrigo de tablestacas sin
presencia de nivel freático. Se ha considerado una tablestaca en voladizo sosteniendo un terreno
homogéneo de espesor indefinido y seco, con las características que se presentan en la Tabla 1.

Tabla 1. Parámetros de terreno para el diseño.


Densidad Ángulo de Cohesión
[KN/m3] rozamiento [º] [KN/m2]
18 30 0

El estudio del problema debe abordarse teniendo en cuanta tanto el estado final en servicio, como el
proceso de hinca. Partiendo de los criterios para definir los espesores y recubrimientos mínimos por
durabilidad y correcta transmisión del pretensado propuestos en [7], y con el objetivo de obtener
elementos de peso similar a la tablestaca equivalente en acero se definió la sección propuesta en la
Figura 3.

Figura 3. Sección tipo de la tablestaca.

583
Análisis de la viabilidad económica y estructural de tablestacas de UHPFRC

3.1 Dimensionamiento de la tablestaca en servicio

La tablestaca, a efectos de cálculo, puede modelizarse como una pantalla autoestable, de manera que
resiste el empuje de tierras producto de su empotramiento en el fondo de la excavación. De este modo,
el equilibrio estático se verifica contrarrestando los empujes activos con los pasivos movilizados de la
parte empotrada.

Para el dimensionamiento se han introducido en una hoja de cálculo los parámetros habituales del
cálculo de tablestacas, partiendo de un modelo simplificado que permita definir en primer lugar la
longitud de empotramiento mínima (Fig. 4).

Figura 4. Modelo simplificado para longitud de empotramiento mínima.

Una vez determinada la longitud de empotramiento es posible plantear las ecuaciones de equilibrio
que permiten obtener los parámetros de dimensionamiento del elemento. Para el problema tipo
obtenemos una longitud mínima de empotramiento de 8.14 m, por lo que se considera una tablestaca
de 12 metos, que quedará empotrada en el terreno 9 m y 3 m de contención de tierras del trasdós. Con
este esquema se determinan los esfuerzos de cálculo más desfavirables en servicio Md = 226.7 KNm
(z=4.09m) y Qd = 30.37 KN (z=3.375m).

3.2 Dimensionamiento de la tablestaca en fase constructiva

Para el dimensionamiento de la tablestaca durante la fase de hincado resultaba necesario plantear el


sistema de hincado, vibración o impactos, y proponer una modelización de las acciones derivadas del
proceso. Es una práctica habitual emplear el vibrado como sistema inicial de hinca, puesto que permite
la alineación de elementos de un modo más sencillo y permite un proceso más rápido. Alcanzada una
determinada profundidad, el terreno opone excesiva resistencia para continuar, empleando para el
último tramo de hincado el método de impactos. De este modo, resulta del lado de la seguridad
considerar que se emplea el método de impactos desde el inicio, al igual que ocurre con la mayor parte
de pilotes prefabircados de hormigón, optándose por esta consideración para el dimensionamiento.

Existen diferentes hipótesis para modelizar la respuesta del terreno frente al proceso de hinca, sobre la
base de los parámetros del terreno existente. En este caso se optó por determinar las capacidades
teóricas por punta y fuste de la tablestaca, tomándola como un pilote hincado, mayorándolas, en lugar
de minorarlas, puesto que se trata de superar esos valores, en lugar de proponerlos como límite para
hundimiento.

De este modo se plantearon hojas de cálculo en las que se definía metro a metro la resistencia por
punta y fuste que debía ser capaz de superar la fuerza transmitida por el martillo en coronación,
obteniendo de este modo las cargas necesarias a lo largo de todo el proceso de hincado. Estos valores
determinarán axiles en la sección que se disiparán trás cada impacto en forma de desplazamiento de la
tablestaca a través del terreno.

584
Coll, López, Galán e Serna

Para evaluar la respuesta seccional de la tablestaca se obtubieron los valores de axil y momentos en
ambas direcciones para cada estado de carga del hincado, teniendo en cuenta para la obtención de los
momentos excentricidades de la carga de impacto en cada dirección asociadas a la tipología de
maquinaria a emplear y a las dimensiones de la sección.

Trás comprobar el sistema de acople del martillo, con muy poca holgura puesto que abraza a la pieza
en su contorno, se optó por considerar una excentricidad mínima emin igual al mayor de los valores
h/20 y 2cm, tomando h como el canto del pilar hueco con paredes de 6cm cuya inercia fuera
equivalente a la de la tablestaca en la dirección considerada. Se consideró una aproximación suficiente
dado que el sistema de impactos golpea casi exclusivamente sobre la parte central de la tablestaca.
Con los axiles debidos al impacto, las excentricidades y la relación de esbeltez en cada una de las
fases, considerando longitud libre entre la coronación y el terreno, se obtienen las excentricidades
máximas que definirán los momentos de cálculo incorporando los fenómenos de inestabilidad.

Para los axiles se tuvo en cuenta tanto la carga máxima resistida por el terreno en cada fase, límite
superior del axil transmitido por la sección, como el axil transmitido por el pretensado de la pieza.
Los resultados obtenidos se resumen en la Tabla 2, con el criterio de ejes definido en la Figura 1,
correspondiendo cada estado de carga a una profundidad de un metro respecto al anterior. Así, se
considera el estado de carga 1 con la tablestaca hincada 1 metro en el terreno y el estado 12 con los 12
m de tablestaca hincados.

Tabla 2. Esfuerzos en hincado.


Estado de carga Carga hundimiento, Axil, Nh [KN] Momento x, Mx Momento y, My
Qh [KN] (Qh·F) [KNm] [KNm]
1 114 342 77 55
2 235 704 134 97
3 362 1085 172 129
4 495 1484 192 150
5 634 1902 199 163
6 780 2340 193 170
7 932 2796 180 172
8 1090 3270 161 171
9 1255 3765 141 170
10 1425 4277 124 171
11 1603 4809 116 178
12 1786 5360 120 193

3.3 Comprobaciones en la sección

Para el cálculo estructural y diseño del pretensado se planteó una hoja de cálculo con las
comprobaciones para los ELU, teniendo en cuenta que se trata de un elemento en flexocompresión, y
comprobando los ELS de fisuración por tracción y compresión. A diferencia del hormigón
convencional en el que el inicio de la fisuración en piezas trabajando a flexión se produce cuando se
alcanza la resistencia a flexotracción del hormigón, en el UHPFRC se considera como inicio de la
fisuración un estado de tensiones no lineal en el que la deformación máxima admitida es εtek =
0.25%. El inicio de fisuración por compresión se considera al 60% de la resistencia a característica a
compresión. Con estos criterios se dimenionó el pretensado necesario en la sección.

Planteando un proceso iterativo con diferentes valores de pretensado se obtuvo el armado activo para
la sección propuesta que permitía garantizar todos los estados límite en los diferentes casos de carga.
Se propuso una disposición de cordones que garantizase la simetría de cargas en ambos ejes respecto
al centro de gravedad, tal como se muestra en la Figura 5.

585
Análisis de la viabilidad económica y estructural de tablestacas de UHPFRC

Figura 5. Sección de tablestaca con 12 cordones de 0.6’ (Y-1860-S7).

4. FABRICACIÓN DE PROTOTIPOS

Se realizaron tres prototipos manteniendo la sección propuesta en la Figura 5, con una longitud total de
6 m, con los que se comprobó el sistema de fabricación propuesta y el proceso de hinca. Dadas las
excelentes características de autocompactabilidad del material, y su capacidad de fluir sin segregación
incluso en condiciones desfavorables, se planteó un sistema de llenado mediante molde (Fig. 6) y
contramolde de manera que la sección compleja de la tablestaca no obligara a generar un molde único
o a hormigonar un elemento de 1.2 metros de perímetro con un espesor de 6cm por uno de sus lados.

De este modo, el molde se fabricó en dos piezas. Una base sobre la que se realizará el hormigonado y
un contramolde, que se coloca tras el vertido del hormigón, presionándolo y obligándolo a ascender
para dar la forma definitiva a la tablestaca. Este mismo sistema ha sido empleado para la fabricación
de waffle-pannels de UHPFRC [7]. Un esquema de este proceso se muestra en la Figura 7.

Con el fin de facilitar el hincado, además de los elementos de cierre de molde y contramolde, se
encajaron piezas metálicas con la forma de la sección, con la finalidad de que el extremo inferior de la
tablestaca acabara en punta. El proceso de ejecución de las piezas con este proceso resultaba sencillo y
se prestaba perfectamente a la industrialización, lo que permitiría en un futuro optimizar costes de los
elementos en el mercado. Las fases fueron: tesado (Fig. 6), hormigonado (Fig. 8), colocación del
contramolde (Fig.9), curado (Fig.10, izquierda), transferencia, desmoldeo (Fig. 10, derecha) y acopio
de piezas (Fig.11).

Figura 6. Tesado sobre bastidor que configura el molde base.

586
Coll, López, Galán e Serna

Para el tesado de los cables, y teniendo en cuenta que se trataba de un elemento de 6 metros a fabricar
cada 2 días, se pensó en un molde autoportante (Fig. 6). En él, el armado activo queda acuñado contra
placas de acero en extremos de la pieza, que se anclaban al molde inferior de hormigón, absorbiendo
éste los axiles y trabajando como un puntal entre chapas exterior a la pieza.

Tras el tesado, se procede al llenado del molde hasta la altura estipulada, para que una vez se
introduzca el contramolde, el hormigón ascienda hasta su cota definitiva (Fig. 8). Alcanzada la cota de
hormigonado deseada, se coloca el contramolde superior del encofrado. A medida que el contramolde
va ocupando el espacio del hormigón, éste asciende y rellena el resto del encofrado (Fig. 9). Con el
contramolde en su posición final y el hormigón a la cota deseada, se repasaron los laterales vistos de
las alas con rodillo bañado en líquido de curado para mejorar el acabado superficial. Posteriormente,
se tapó la tablestaca con plásticos para mantener la humedad.

Figura 7. Esquema de proceso de hormigonado

El destesado se realizó 20 horas después de su fabricación, asegurando una resistencia a compresión a


esa edad de más de 60 MPa. A continuación se extrajo el bloque superior del encofrado para
finalmente poder izar la tablestaca, separándola del boque que forma la base (Fig. 9).

Figura 8. Hormigonado y nivelado.

587
Análisis de la viabilidad económica y estructural de tablestacas de UHPFRC

Figura 9. Colocación del contramolde.

Figura 10. Curado (izquierda) y desmoldeo (derecha).

5. HINCA DE PROTOTIPOS

Para validar los prototipos fabricados se hicieron unas pruebas de hincado mediante vibración. Para
ello fue necesario construir un cabecero desmontable que permitiese en enganche de la boca de
vibración, puesto que la maquinaria estándar disponible tan solo alcanzaba espesores de 4cm. El
cabecero sirvió además para izar, posicionar e hincar la tablestaca (Fig. 12). La prueba se realizó en
unos terrenos de compacidad media-baja. A pesar de la que prueba se completó con éxito, la
transmisión de la vibración desde la maquinaria de hinca hacia la tablestaca no fue eficiente
apareciendo holguras debido a pérdida de presión de los elementos de apriete. Por ello, se hace
necesaria una redefinición del cabecero de enganche que permita mejorar el proceso de hinca.

Figura 11.Piezas almacenadas.

588
Coll, López, Galán e Serna

Figura 12.Hinca de la tablestaca.

CONCLUSIONES

El proceso de fabricación de los elementos ha resultado óptimo, obteniéndose un resultado


satisfactorio en cuanto a geometría y acabados de los elementos prefabricados, requiriendo unos
costes mínimos de control y mano de obra. El comportamiento estructural del elemento ha respondido
a las expectativas, habiéndose conseguido elementos capaces de absorber los esfuerzos dinámicos de
los procesos de hinca y transmitirlos en punta al terreno, permitiendo con ello la penetración en el
mismo sin presentar síntomas de deterioro.

Las características de autocompactante del UHPFRC han permitido definir un proceso de ejecución
que permite la producción de este tipo de elementos con unos costes competitivos. El hormigón se
comporta como un fluido y toma la forma del encofrado adaptándose a la forma exterior e interior del
molde sin dificultades, consiguiéndose al mismo tiempo un muy buen acabado superficial.

Se mantiene cierta incertidumbre sobre la eficiencia del sistema sufridera-tablestaca, necesario para
generar la unión entre los elementos y la maquinaria de hinca, puesto que no se ha encontrado
solución para absorber exclusivamente con el hormigón de la pieza la enorme cantidad de energía
concentrada en la zona de mordedura de la cabeza vibrante.

La consecución de los objetivos permite afirmar que el planteamiento de muros tablestacados


definitivos elaborados mediante elementos prefabricados de UHPFRC colocados en el terreno
mediante proceso de hinca podrían convertirse en una alternativa viable al uso de tablestacas de acero.
Sin embargo, detalles cmon el sistema de unión maquinaria-tablestaca, guiado e impermeabilización
quedan todavía como asignatura pendiente para su salida al mercado.

589
Análisis de la viabilidad económica y estructural de tablestacas de UHPFRC

AGRADECIMIENTOS

El trabajo realizado ha sido posible gracias al soporte económico por parte del Centro de Desarrollo
Tecnológico Industrial (CDTI) del Ministerio de Economía y Competitividad, concedido como apoyo
al proyecto de Desarrollo Experimental concedido a la empresa constructora Vías y Construcciones
SA y al ICITECH de la Universitat Politècnica de València, como centro de investigación asociado.

REFERÊNCIAS

[1] Association Française de Genie Civil (AFGC), 2013. Ultra High Performance Fiber Reinforced
Concretes. Reccomendations.
[2] VandeVoort, T.; Suleiman, M.; Sritharan, S. (2008) Design and Performance Verification of
Ultra-High Performance Concrete Piles for Deep Foundations. Iowa Highway Research Board
(IHRB Project TR-558).
[3] Serna, P.; López, J.A.; Camacho, E.; Coll, H; Navarro-Gregori, J. (2014) Footbridge over the
Ovejas ravine ini Alicante: an economical alternative made only of Ultra-High-Performance
Fibre-Reinforced Concrete (UHPFRC). 2nd FRC International Workshop (1st ACI-FIB Joint
Workshop) 24-25 July. Montreal.
[4] López, J.A.; Serna, P.; Camacho, E.; Coll, H.; Navarro-Gregori, J. (2014) First Ultra-High-
Performance Fibre-Reinforced Concrete Footbridge in Spain: Design and Construction. Journal
of the International Association for Bridge and Structural Engineering (IABSE). Volume 24,
Number 1, February 2014, pp. 101-104(4)
[5] Grünewald, S. 2004. Performance-based design of self-compacting fibre reinforced concrete.
Delft University Press, Delft, The Netherlands.
[6] López, J.A.; Serna, P.; Navarro-Gregori, J.; Camacho, E. (2014) An inverse analysis method
based on deflection to curvature transformation to determine the tensilel properties of UHFPRC.
Materials and Structures. DOI: 10.1617/s11527-014-0434-0
[7] Federal Highway Administration. (2013) Design Guide for Precast UHPC waffle deck panel
system, including connections. Publication no. FGWA-HIF-13-032.

590
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

BPCA – Uma alternativa para a construção de estruturas de


betão em massa

Manuel Vieira1 Bettencourt


Ribeiro2

Armando Camelo3 Emanuel Costa4

RESUMO

O betão com prévia colocação de agregados (BPCA) é o resultado de uma nova tecnologia de
betonagem, desenvolvida em Portugal tendo por base o conhecimento existente dos betões
autocompactáveis, na qual uma argamassa fluida é vertida num aglomerado de agregados grossos
previamente dispostos no molde. Esta nova tecnologia difere de uma outra que também recorre a
agregados previamente colocados, definida na regulamentação americana no documento ACI 116R,
por não recorrer a qualquer equipamento de injecção da argamassa e ser mais adequada a grandes
volumes. A argamassa vertida no esqueleto dos agregados grossos flui pelos vazios entre os agregados
apenas devido ao seu peso próprio, pelo que deverá ser estudada de modo a cumprir requisitos de
fluidez e de resistência à segregação.

O BPCA foi desenvolvido no âmbito de estudo proposto pela EDP-Gestão da Produção de Energia,
S.A. para o estabelecimento de uma nova tecnologia para aplicações de betão em massa. Em resultado
deste estudo foram já executadas três aplicações práticas: parte da ensecadeira de jusante do escalão de
montante do Aproveitamento Hidroelétrico do Baixo Sabor (AHBS), durante o mês de Outubro de
2010; o bloco 19-20 do escalão de jusante do AHBS, em Julho de 2011; e a ensecadeira da restituição
do reforço de potência de Salamonde – Salamonde II, no mês de Junho de 2012. Neste estudo foi
ainda desenvolvido um sistema de distribuição da argamassa que permite vertê-la em diferentes pontos
do mesmo bloco.

Palavras-chave: argamassa autocompactável, BPCA, fluidez, betão em massa

1. INTRODUÇÃO

O betão com prévia colocação de agregados (BPCA) é o resultado de uma nova tecnologia de
betonagem, desenvolvida em Portugal tendo por base o conhecimento existente dos betões
autocompactáveis, na qual uma argamassa fluida é vertida num aglomerado de agregados grossos
previamente dispostos no molde. Esta nova tecnologia difere de uma outra que também recorre a
agregados previamente colocados, definida e descrita na regulamentação americana nos documentos
ACI 116R [1] e ACI 304.1R [2], por não recorrer a qualquer equipamento para injectar a argamassa e
ser mais adequada a grandes volumes. A argamassa vertida no esqueleto dos agregados grossos flui

1
Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Departamento de Materiais, Lisboa, Portugal. mvieira@lnec.pt
2
Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Departamento de Materiais, Lisboa, Portugal. bribeiro@lnec.pt
3
EDP - Gestão da Produção de Energia, S.A., DEB - EBBR - Barragens, Porto, Portugal. armando.camelo@edp.pt
4
EDP - Gestão da Produção de Energia, S.A., DEB - EBBR - Barragens, Porto, Portugal. emanuel.costa@edp.pt

591
BPCA – Uma alternativa para a construção de estruturas de betão em massa

pelos vazios entre os agregados apenas devido ao seu peso próprio, pelo que deverá ser estudada de
modo a cumprir requisitos de fluidez e de resistência à segregação.

O BPCA foi desenvolvido no âmbito de estudo proposto pela EDP-Gestão da Produção de Energia,
S.A. (EDP) ao Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) para o estabelecimento de uma
nova tecnologia para aplicações de betão em massa. Em resultado deste estudo foram já executadas
três aplicações práticas: parte da ensecadeira de jusante do escalão de montante do Aproveitamento
Hidroelétrico do Baixo Sabor (AHBS), durante o mês de Outubro de 2010; o bloco 19-20 do escalão
de jusante do AHBS, em Julho de 2011; e a ensecadeira da restituição do reforço de potência de
Salamonde – Salamonde II, no mês de Junho de 2012. Neste estudo foi ainda desenvolvido um
sistema de distribuição da argamassa que permite vertê-la em diferentes pontos do mesmo bloco.

Esta nova tecnologia, tal com tem sido desenvolvida em Portugal, tem já sido divulgada em
publicações anteriores [3, 4], tendo-se organizado ainda, em Junho de 2012, um seminário no LNEC
onde vários participantes neste estudo apresentaram os resultados obtidos até então [5].

O princípio deste tipo de tecnologia já foi objecto de um estudo académico [6] no qual, no entanto, a
argamassa estudada mantinha a composição base das aplicadas por injecção, nomeadamente usando o
pó de pedra em vez de uma areia corrente, não se tendo assim evoluído para um material
economicamente mais competitivo. Na literatura encontram-se ainda outras referências a uma
tecnologia similar – “rock-filled concrete”. Nesta tecnologia o volume a betonar é previamente
preenchido com pedras de grandes dimensões, cujos interstícios serão colmatados com um betão
autocompactável [7, 8]. Sublinhe-se que o betão resultante está mais próximo do que se designa por
betão ciclópico, não sendo adequado a aplicações mais nobres de betão em massa como o são as
barragens.

Nesta comunicação, é apresentada uma súmula da informação já divulgada, incluindo-se a descrição


sumária das diferentes fases do estudo efectuado, com enfoque na descrição daqueles casos práticos,
expondo as considerações extraídas destas aplicações, nomeadamente no que respeita ao processo de
aplicação desta tecnologia para a construção de estruturas de betão em massa.

2. DESENVOLVIMENTO DO ESTUDO

O estudo para o desenvolvimento da tecnologia de BPCA surgiu numa iniciativa da EDP, no âmbito
do seu programa LEAN, tendo solicitado ao LNEC um plano de trabalhos para a sua concretização.

O plano de trabalhos aprovado para o estudo previa 4 fases que, descritas de forma resumida, seriam
as seguintes:
 Fase 1 – desenvolvimento de argamassas;
 Fase 2 – realização de um protótipo em laboratório
 Fase 3 – aplicação do betão numa ensecadeira
 Fase 4 – realização de um modelo experimental em obra

A Fase 1 envolveu o desenvolvimento de uma argamassa a aplicar na execução de um protótipo (na


Fase 2) e da avaliação do seu comportamento para variações da sua composição. Em resultado do
trabalho realizado nesta fase, considerou-se que a argamassa desenvolvida satisfazia os requisitos
necessários para poder ser utilizada num bloco de betão com agregados pré-colocados, com dimensão
máxima típica de barragens. Durante o estudo da argamassa constatou-se da importância de avaliar a
compatibilidade cimento-adjuvante, de modo a produzir-se uma argamassa fluida e robusta o
suficiente para não segregar durante a aplicação. Observou-se ainda que modificações nos materiais
ou nas dosagens, à excepção de pequenos ajustes na composição, podem ser relevantes, e requerem
pelo menos avaliação prévia por ensaios rápidos e pela execução de pequenos protótipos.

592
Vieira, Ribeiro, Camelo e Costa

A Fase 2 contou com a colaboração da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP)


onde se executou o protótipo, o qual consistia num cubo de 2 m de aresta, cuja argamassa era vertida
na face superior, podendo observar-se a sua percolação, pelo esqueleto de agregados, numa das faces
que se encontrava moldada com um painel de acrílico (Fig. 1). A execução do protótipo para além de
ter permitido concluir que seria possível a aplicação do BPCA em grandes massas, foi útil para
identificar os problemas potencialmente relevantes para a sua realização, nomeadamente aqueles que
se referem à descarga da argamassa.

Entretanto, por opção da EDP, e considerando o aumento do volume de ensaios a efetuar no betão a
aplicar na ensecadeira de jusante do escalão de montante do Aproveitamento Hidro-elétrico do Baixo
Sabor (AHBS) que seria realizada em condições de obra, foram englobadas numa fase única as 3ª e 4ª
fases inicialmente previstas para este estudo.

Dado o plano de trabalhos apresentado pelo LNEC, o estudo terminaria com a aplicação do BPCA
nesta obra. No entanto, a colaboração do LNEC com a EDP, para implementação desta tecnologia
continuou nas outras duas obras que a seguir se descrevem também.

Figura 1. Face do protótipo antes e após a o enchimento.

2. DESCRIÇÃO DAS APLICAÇÕES PRÁTICAS DE BPCA

A primeira aplicação à escala real ocorreu, durante o mês de Outubro de 2010, na betonagem da
secção central da ensecadeira de jusante para a construção do escalão de montante da barragem de
Baixo Sabor. Esta secção, com 11 m de comprimento e 5 m de altura, tinha em corte uma forma
trapezoidal com 5,5 m de largura na base e 3 m no topo. A betonagem foi executada em três camadas,
tendo sido a primeira com 1 m de espessura e as restantes com 2 m cada. Na Figura 2 apresenta-se
uma imagem do estado da ensecadeira após a execução da segunda camada em BPCA. As secções
extremas foram executadas com betão corrente.

593
BPCA – Uma alternativa para a construção de estruturas de betão em massa

Figura 2. Ensecadeira de jusante para a construção do escalão de montante da barragem de Baixo Sabor.

Nesta aplicação, a argamassa foi vertida directamente sobre a superfície dos agregados previamente
colocados. Refira-se que esta opção deve ter em conta a distância que a argamassa irá percorrer, para
preencher o esqueleto dos agregados, e as condições ambientais, nomeadamente o risco de evaporação
da água com tempo quente, seco e ventoso.

A segunda obra onde foi aplicado o BPCA foi na betonagem do bloco 19-20 da barragem por
gravidade de Baixo Sabor (escalão de jusante), a qual decorreu no mês de Julho de 2011 (Fig. 3). O
volume a betonar neste bloco foi de 13,5 m de comprimento por 8,5 m de largura e 5 m de altura. A
betonagem decorreu também em três camadas, tal como realizado na ensecadeira atrás referida.

Figura 3. Bloco 19-20 da barragem de Baixo Sabor (escalão de jusante).

594
Vieira, Ribeiro, Camelo e Costa

Figura 4. Ensecadeira para a obra do reforço de potência de Salamonde II.

A última aplicação em BPCA ocorreu na construção da ensecadeira para a obra do reforço de potência
de Salamonde II, cujos trabalhos decorreram durante o mês de Junho de 2012 (Fig. 4). A maior parte
desta ensecadeira foi betonada com a tecnologia do BPCA, no entanto, devido a dificuldades em
garantir a estanquidade da cofragem, as zonas dos encontros junto ao terreno foram betonadas com os
métodos tradicionais. Esta ensecadeira, cuja secção transversal era trapezoidal com cerca de 10 m de
altura, 6 m de largura na base e 3 m no topo, vencia um vão de cerca de 70 m, a meia altura. A
execução foi realizada em blocos de cerca de 20 m de comprimento e 2 m de espessura.

4. OPERAÇÕES PARA A REALIZAÇÃO DE UM BETONAGEM EM BPCA

O objectivo fundamental da realização destas aplicações de BPCA foi avaliar o desempenho deste
material em condições de larga escala e de obra. Uma avaliação global do BPCA, como tecnologia
construtiva, implicaria uma organização diferente da corrente para toda a obra, nomeadamente no
processo de produção do betão. Uma vez que nenhuma das estruturas, aqui relatadas, previa no seu
projecto a aplicação do BPCA, existem partes desta tecnologia que não puderam ser optimizadas, tais
como por exemplo a produção e colocação dos agregados na estrutura.

As principais fases de uma aplicação de BPCA estão ilustradas na Figura 5. Refira-se que as cofragens
a utilizar deverão ter em conta o impulso e a necessária estanqueidade durante a colocação da
argamassa, devendo prever-se um impulso hidrostático equivalente considerando a densidade da
argamassa, além da correta vedação dos painéis da cofragem.

595
BPCA – Uma alternativa para a construção de estruturas de betão em massa

a) b)

c) d)

e) f)
Figura 5. Diferentes fases na aplicação da tecnologia de BPCA.

A aplicação de BPCA inicia-se com a colocação e espalhamento dos agregados (Fig. 5 a) no interior
do volume delimitado pela cofragem. Estas operações podem ser executadas com uma mini-
escavadora com lagartas de borracha. Numa aplicação preparada para a utilização da tecnologia de
BPCA, o transporte dos agregados poderia ser efectuado por tapete rolantes directamente da instalação
de britagem e de selecção dos agregados, que pode estar perto da pedreira, para o local de betonagem.
O processo de britagem deve ter um sistema de fraccionamento e de lavagem para produzir fracções
entre os 19 mm e os 150 mm. Refira-se que na aplicação do bloco 19-20 da barragem de Baixo Sabor
a menor dimensão do agregado grosso foi de 38 mm.

A prévia molhagem dos agregados é essencial (Fig. 5 b), nomeadamente em tempo quente (para
garantir uma temperatura inferior a 25 ºC), de modo a prevenir uma absorção excessiva da fase líquida
da argamassa que se irá aplicar.

Uma vez colocados os agregados, fabrica-se a argamassa, a qual deve ser amassada em misturadoras
adequadas e com uma sequência de mistura apropriada para atingir a homogeneidade e fluidez
pretendidas (Fig. 5 c).

O transporte da argamassa pode ser realizado com camiões betoneira, que devem ter em conta a
possibilidade de perda, em particular nos percursos com troços muito inclinados. O melhor método de

596
Vieira, Ribeiro, Camelo e Costa

colocação da argamassa no local é usando o tipo de bombas regularmente empregues para bombar
betão, tal como se observa na Figura 5 d.

Nas duas últimas aplicações, descritas na secção anterior, a argamassa foi bombada para um
reservatório intermédio (Fig. 5 e) a partir do qual era distribuída para diferentes pontos do bloco a
betonar, por meio de tubos, de modo a reduzir o percurso que a argamassa teria de percorrer no
interior do esqueleto de agregados. Nestas duas últimas aplicações foi decidido canalizar a argamassa
até umas manilhas que permitiam que aquela pudesse ser colocada a uma profundidade de 0,5 m
abaixo da superfície dos agregados. Esta acção, mitigava o risco da evaporação excessiva da fase
líquida da argamassa e consequente perda de fluidez, e permitiu reduzir o tempo de percolação pela
carga hidrostática criada no interior dos tubos.

Logo que se vislumbrem os primeiros sinais de afloramento da argamassa (Fig. 5f), expressos pela
subida de líquido à superfície, resultante da água de molhagem dos agregados e eventualmente de
alguma exsudação, deve-se verter um pouco mais de argamassa de modo a empurrar esse líquido para
fora do volume a betonar. Após o termo da colocação da argamassa e após o início da sua presa, a
superfície deverá ser preparada de modo a receber a seguinte camada. Esta preparação deve considerar
a remoção do material da superfície, com jacto de ar, de areia ou por meios mecânicos, deixando à
vista uma superfície rugosa definida pelos agregados grossos.

Entretanto, procede-se à desmoldagem do bloco betonado e à cofragem dos seguintes. Na Figura 6 a)


mostra-se a face lateral de uma camada de BPCA recentemente desmoldada. Na Figura 6 b) pode-se
comparar superfícies resultantes de um betão corrente (lado direito) e do BPCA (lado esquerdo),
constatando-se que as diferenças não são significativas.

a) b)
Figura 6. Faces moldadas com BPCA: a) bloco 19-20 da barragem de Baixo Sabor; b) ensecadeira de Baixo
Sabor.

5. CARACTERÍSITCAS DO BPCA COMO MATERIAL

As aplicações de BPCA nas obras acima descritas foram realizadas com argamassas cujas composição
e características se apresentam no Quadro 1. As diferenças devem-se a alterações nos materiais
constituintes, nomeadamente do adjuvante superplastificante (SP) e da areia. Foi utilizado um
adjuvante modificador de viscosidade em todas as argamassas num teor médio de 0,4% da massa de
ligante, a qual considera o cimento (C) e as cinzas volantes (CV). A elevada fluidez foi atingida com
recurso a um elevado teor de cinzas volantes e à eficiência dos SP. A fluidez das argamassas foi
avaliada pelo seu espalhamento. Para este ensaio foi usado um cone truncado, de 60 mm de altura e
cujos diâmetros da base e do topo têm 100 mm e 70 mm, respectivamente. Este cone era cheio com a
argamassa, sem compactação, após o que se elevava permitindo o espalhamento da argamassa, cuja
média do diâmetro final (de duas determinações perpendiculares) corresponde ao resultado do ensaio.

597
BPCA – Uma alternativa para a construção de estruturas de betão em massa

Quadro 1. Características das argamassas.


Ensecadeira Bloco 19-20 Ensecadeira
Parâmetro da argamassa
Baixo Sabor Baixo Sabor Salamonde
Água/Ligante em massa 0,36 0,39 0,34
CV/(C+CV) em massa, % 61,9 68,5 64,9
Volume de pasta, % 62,0 61,0 58,7
SP/Ligante em massa, % 2,11 0,88 0,94
Areia/Ligante em massa, % 1,22 1,33 1,40
Espalhamento (mm) 334 330 337

Após a execução das betonagens, procedeu-se à caracterização do BPCA como material. Para os
provetes de ensaio foram extraídas carotes do betão das duas primeiras aplicações, enquanto que na
última se extraíram carotes de cubos com 1 m de aresta, moldados ao mesmo tempo que a aplicação
do BPCA. No Quadro 2 estão apresentados os resultados médios dos ensaios realizados.

Quadro 2. Características dos BPCA.


Ensecadeira Bloco 19-20 Ensecadeira
Propriedade
Baixo Sabor Baixo Sabor Salamonde
Resistência à compressão (MPa) 34,6 33,7 34,5
Resistência à tracção por
2,35 2,49 1,95
compressão diametral (MPa)
Módulo de elasticidade (GPa) 19,1 19,6 –
Permeabilidade à água (x10-11 m/s) 35,8 5,6 2137
Resistência à tracção simples (MPa) 1,17 1,07 –

Os resultados apresentados indicam que as características dos BPCA ensaiados são adequados para ser
aplicados em barragens, desde que o seu projecto tenha em consideração os valores de resistência e de
permeabilidade que o material exibe. No entanto, deve ter-se em conta que os resultados apresentados
possam estar por defeito, dada a elevada relação entre a dimensão dos agregados mais grossos e as dos
provetes de ensaio. Esta questão poderá ter conduzido a resultados mais baixos nas propriedades mais
dependentes da qualidade da interface entre o agregado e a argamassa, tais como a resistência à tração
simples. Tendo em conta esta contingência de influência representatividade da dimensão dos provetes,
e relativamente à resistência à tração, considera-se que os valores obtidos por compressão diametral
deverão estar mais próximos da resistência do betão do que os obtidos por tração simples.

Uma avaliação crítica deve ainda ser efectuada aos resultados obtidos no BPCA proveniente de
Salamonde, nomeadamente ao da permeabilidade. O mais alto teor de areia e menor volume de pasta
pode ter conduzido a que a argamassa, em algumas zonas do seu percurso, durante o enchimento,
possa ter bloqueado o escoamento, levando à formação de cavidades e a um betão mais permeável.
Esta análise é corroborada pelo baixo resultado da resistência à tração.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Estas aplicações à escala real permitiram a obtenção de um conjunto de informação que poderão
sustentar a aplicação generalizada desta nova tecnologia. Assim, sugere-se que a aplicação do BPCA
deva ser executada de acordo com as seguintes recomendações: um teor nulo de partículas da areia
com dimensão superior a 2,36 mm; cumprimento dos limites superior e inferior para o espalhamento
da argamassa (recomendam-se os limites de 300 mm a 350 mm), logo após a amassadura, limites que
deverão ser definidos em ensaios preliminares com os materiais a empregar na obra; avaliar se não
existem perdas de fluidez da argamassa durante o processo de bombagem; verter a argamassa sempre
nos mesmos locais, de modo a mitigar o risco de perda de fluidez e de congestionamento; limpar a
superfície da camada inferior, descobrindo os agregados grossos; estabelecer um tempo máximo de

598
Vieira, Ribeiro, Camelo e Costa

paragem, em caso de interrupção do fornecimento de argamassa, dependente do comportamento da


argamassa; considerar uma pressão equivalente à hidrostática para as cofragens.

Em conclusão, tomando como referência as aplicações à escala real já executadas, considera-se que a
tecnologia do BPCA pode ser usada na construção de estruturas de betão em massa, nomeadamente
em barragens.

REFERÊNCIAS

[1] ACI 116R. 2000, Cement and Concrete Terminology. Farmington Hills: ACI American Concrete
Institute. 73 p.
[2] ACI 304.1R. 1992, Guide for the Use of Preplaced Aggregate Concrete for Structural and Mass
Concrete Applications. Farmington Hills: ACI American Concrete Institute. 19 p.
[3] Vieira, M., Bettencourt, A., Camelo, A. and Ferreira, J. (2010), Self-Compacting mortar for mass
concrete application with PAC technology, Proc. of SCC2010, Eds. Kamal H. Khayat and Dimitri
Feys, Montreal, Canada, Vol. II, pp. 663-672
[4] Vieira, M., Bettencourt, A. and Camelo, A. (2013), Preplaced-aggregate concrete with self-
compacting mortar. On site world premier applications, Proc. of SCC2013, Paris, França, 8 p.
[5] LNEC (2012), Betão com prévia colocação de agregado, 1º Seminário sobre BPCA, LNEC
Lisboa, 27 de Junho de 2012, http://www.lnec.pt/congressos/eventos/pdfs/curso_BPCA.pdf
(consultada em Fevereiro de 2015)
[6] Bayer, I.Raci (2004). Use of preplaced aggregate concrete for mass concrete applications. Middle
East Technical University, Ankara, Tese de mestrado.
[7] Huang, M. [et al.] (2008) Rock-fill concrete, a new type of concrete. Tailor Made Structures, Eds.
Walraven & Stoelhorst, Taylor & Francis Group, London, 1196 p. ISBN 978-0-415-47535-8
[8] An, X. [et al.] (2014). Rock-filled concrete, the new norm of SCC in hydraulic engineering in
China. Cement & Concrete Composites, Vol. 54, pp. 89-99.

599
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

Acabado superficial de hormigones autocompactantes.


Método ICS

1
F.J. Benito M. Valcuende 2 C. Parra 3

C. Rodríguez 1 I. Miñano 1

RESUMEN

En este trabajo se estudian y catalogan los daños superficiales debidos a la presencia de poros en
elementos de hormigón autocompactante (HAC) con diferentes valores reológicos en estado fresco.
Para ello, se han fabricado 21 amasadas de hormigones con pequeñas variaciones en la humedad de
los áridos y la cantidad de superplastificante utilizado. Con esto último se ha controlado la reología de
los hormigones para que en todos ellos el diámetro final de escurrimiento fuese de 700 ±50 mm (HAC
del tipo AC-E2 para la EHE-08).

Para el estudio del acabado superficial de elementos de hormigón por burbujas de aire no liberadas se
ha desarrollado una metodología de trabajo ICS (índice de calidad superficial) que cuantifica los poros
superficiales en elementos de hormigón endurecido. Con ella, se pretende analizar cómo afectan, en el
acabado superficial, variaciones en la reología de los HAC.

Además, sobre varios muros de hormigón se prueba y compara el método ICS con otras dos
metodologías que permiten catalogar los daños superficiales. Por un lado, utilizando el programa
ImageJ de análisis digital de imágenes. Con él, se logra un aumento productivo en el manejo de la
información obtenida, aunque la heterogeneidad de las muestras hace necesario numerosos ajustes en
el procesamiento de las imágenes para obtener resultados óptimos y comparables entre sí. Por otro
lado, se aplica el método propuesto por el CIB W29 [1] que es totalmente intuitivo, basándose la
catalogación en la comparación visual del hormigón con unas plantillas dadas.

El método ICS agiliza y sobre todo simplifica la inspección sobre las muestras de hormigón con unos
resultados óptimos, eliminándose los procesos de ajuste que precisan los métodos de análisis de
imágenes que requieren de un control (por un técnico) que valide la idoneidad los resultados
obtenidos.

Los resultados obtenidos ponen de manifiesto que incrementos en la tensión de corte (τ) y sobre todo
en la viscosidad () de los HAC pueden llegar a provocar grandes cantidades de burbujas en los
hormigones, mostrándose gran cantidad de poros en la superficie de estos. En los HAC que se
obtienen  superiores a 42 Pa.s (límite de buen acabado superficial señalado por D.T. Institute [2]) se

1
Centro Tecnológico de la Construcción Región de Murcia, 30820, Alcantarilla, España. isabelminano@ctcon-rm.com
2
Departamento de Construcciones Arquitectónicas. Univ. Politécnica de Valencia. Valencia, España. mvalcuen@csa.upv.es
3
Departamento de Arquitectura y Tecnología de Edificación, Univ. Polit. de Cartagena, 30203, España. carlos.parra@upct.es

601
Acabado superficial de hormigones autocompactantes. Método ICS

detecta una gran cantidad de poros de gran tamaño en la superficie de los hormigones, frente a los
hormigones con menores  y/o τ. El hormigón con el peor acabado superficial que se fabricó, con un
6,1% de superficie afectada por poros, contaba con una viscosidad de 58 Pa.s y una tensión de corte de
26 Pa, frente a los 14 Pa.s y 15 Pa, respectivamente, del elemento de hormigón que menos superficie
tuvo afectada, con un 0,6%.

Palabras clave: Acabado superficial, poros, burbujas y hormigón autocompactante

1. INTRODUCCIÓN

Los HAC presentan dificultades en la estabilidad de la mezcla, pues a medida que aumenta la fluidez
del material su resistencia a la segregación disminuye y puede dar lugar durante el vertido a bloqueos
de los áridos al pasar por zonas congestionadas de armaduras [3] y, una vez endurecido, a defectos
superficiales y a una distribución no uniforme de sus propiedades físicas y mecánicas [4]. En HAC
con una tensión de corte inicial muy baja, su viscosidad debe ser alta, y viceversa para obtener una
adecuada estabilidad que evite la segregación del hormigón y proporcione un adecuado acabado
estético a los elementos hormigonados. El uso de aditivos plásticos en los hormigones permite obtener
texturas más tersas y de menor rugosidad [5]. Al HAC se le exige un buen acabado superficial, en
especial en los hormigones arquitectónicos que no van a ser revestidos [6].

Los poros superficiales son el resultado de no haberse liberado algunas de las burbujas de aire
presentes en el hormigón en contacto con el encofrado. La cantidad de aire ocluido en los hormigones
autocompactantes está influido principalmente por la dosificación, la granulometría de los áridos, el
tipo y tiempo de amasado, altura de vertido y el tipo de encofrado. La viscosidad del HAC es de gran
importancia en la ascensión de este aire ocluido [3,7, 8]. Éste, en su ascenso, tiende a unirse y formar
grandes burbujas de aire. En caso de no liberarse las que se encuentran en contacto con los encofrados
los resultados estéticos pueden no ser los esperados. Los poros de menor tamaño tienden a ser
semiesféricos, mientras los más grandes son irregulares. Todos ellos afectan a la uniformidad visual
de las superficies de hormigón, de gran importancia en los hormigones vistos con finalidad
arquitectónica. Por lo tanto, el control de la cantidad de poros superficiales es necesario para
garantizar la calidad final del proyecto. La estructura porosa del hormigón, por lo general, y sobre
todo los macroporos o aire ocluido, afectan a las propiedades mecánicas del hormigón.

Actualmente, la inspección manual es ampliamente utilizada, como la propuesta en el CIB W29 con
únicamente 2 pasos a realizar (comparación visual y obtención de resultados), sin embargo, estas
inspecciones son subjetivas y dependen de la pericia del técnico que las realiza, dificultándose la
repetición de los criterios por otro observador. El procesamiento digital de imágenes elimina la
subjetividad de los resultados, pero introduce variables que deben ser analizadas correctamente para
obtener unos resultados que se ajusten con la realidad. Estas variables pueden variar para cada tipo de
hormigón (variaciones en luminosidad, rugosidad, geometría, etc.). Para el procesamiento digital de
imágenes, como mínimo se precisan de 5 pasos (Figura 1), y alguno de ellos se puede repetir en varias
ocasiones hasta obtener los resultados deseados (prueba-error). Con el análisis digital de imágenes se
elimina la subjetividad de la inspección pero se aumenta en complejidad a la hora de tomar decisiones
técnicas en el análisis de la imagen, sobre todo en materiales heterogéneos, como el hormigón,
precisando de un control técnico de alta cualificación para tomar decisiones de ajuste en el programa
de análisis, como puede ser el balance de color, contornos, oquedades, regiones, índice de
circularidad, ajuste de sombras o incluso detección de anomalías dentro de imperfecciones, sobre todo
en poros de grandes dimensiones donde se pierde la forma semiesférica y se dificulta su análisis
digital. La automatización de la catalogación del acabado superficial muestra ser adecuada para
trabajos que precisan de gran precisión, con el análisis de poros de muy pequeña dimensión. Sin
embargo, cuando se pretende determinar la calidad superficial por razones estéticas, y debido a que la
percepción visual de los poros varia con la distancia a la que se sitúa el observador [1], hace que los
requerimientos del análisis sean diferentes para cada caso.

602
Benito, Valcuende, Parra, Rodríguez e Miñano

Este trabajo muestra una metodología de inspección manual pero de nula subjetividad, eliminando,
además, los requerimientos técnicos que se exigen en el análisis digital. La metodología consiste en
tres pasos. Se inicia de forma manual marcando y contabilizando únicamente el número de poros que
se pretende catalogar. Los datos se introducen en una tabla Excel y se obtiene los resultados. La
sencillez de los pasos permite realizar la inspección por diferentes agentes en cada momento, además
de precisar de menos tiempo al requerido para los ajustes necesarios en el análisis digital que precisan
en muchas ocasiones de varias pruebas-error para calibrar correctamente los filtros, el balance de color
u otros parámetros. En la Figura 1 se muestra un esquema de los pasos a seguir en los 3 métodos
utilizados en este trabajo, cada uno de ellos con sus bondades y problemáticas.

Figura 1. Esquema operacional de cada sistema.

Los resultados del trabajo experimental y la comparación de los resultados entre los 3 métodos
analizados, previa homogeneización de los resultados, permiten validar la eficacia del método
propuesto ICS para la mayoría de las ocasiones que no precisan de un análisis de poros de muy
pequeño diámetro por su prácticamente nulo impacto visual a una distancia prudencial. En este
sentido, el CIB W29 indica que la calidad de un muro depende de la superficie del desperfecto y a la
distancia desde la que se visualiza dicho desperfecto. Si un desperfecto no destaca visualmente a una
distancia de 3 metros la calidad superficial del hormigón se puede considerar alta. Si la distancia debe
ser mayor la calidad del muro de hormigón desciende. El método ICS se aplica sobre 3 muros de
hormigón situados a 2 metros de distancia del observador y se analizan los poros mayores a 4mm de
diámetro. En los trabajos realizados en laboratorio sobre probetas de HAC se analizan todos los poros
mayores a 1mm. Además, en el ICS los poros significativos se agrupan en 5 grupos en función de su
diámetro y de que se puede inscribir en unos círculos de referencia de 2, 4, 6, 8 y 10 mm. Esto
permite simplificar enormemente la metodología de trabajo con respecto al procesamiento de
imágenes, pudiendo realizar una toma de datos manual con un posterior análisis matemático y
estadístico con una simple hoja de cálculo de fácil manejo. En función de la precisión de resultados y
la visibilidad del hormigón (ubicación del elemento) se pueden utilizar los 5 grupos de poros
indicados o se descartan algunos.

1.1 Método propuesto ICS

En la presente investigación, para el estudio del acabado superficial de elementos de hormigón con
poros superficiales se ha desarrollado una metodología de trabajo que los cuantifica de forma sencilla.
Con ella, se pretende analizar cómo afectan en el acabado superficial de los hormigones variaciones
en la reología de los HAC. Esta metodología se ha denominado ICS y consiste en cuantificar la
superficie ocupada por los poros en relación con la superficie total inspeccionada. Para ello, en el
presente trabajo se analiza un tercio de la superficie lateral de probetas de Ø150 mm y 300 mm de alto
(157x300 mm). Se ha cuantificado la superficie ocupada por los poros superficiales mayores a 1mm.
Se han formado 5 grupos de poros por su diámetro (2, 4, 6, 8 y 10 mm). En el caso de los poros de 2
mm, dado su pequeño tamaño y su gran cantidad se ha analizado únicam ente la zona central de
50x50 mm de cada probeta. Los datos obtenidos en esta zona central se extrapolan al resto de la zona
analizada. Para incluir los poros en uno de los grupos se deben poder inscribir en las circunferencias
de diámetro de cada grupo elegido (2, 4, 6, 8 y 10 mm) y no pertenecer a un grupo inferior. Cuando

603
Acabado superficial de hormigones autocompactantes. Método ICS

varios poros se agrupan entre sí con forma no circular y su diámetro total es mucho mayor a 10 mm se
descompone en dos o más diámetros menores para reducir la superficie no dañada dentro de la
circunferencia. Previamente al análisis de la superficie de las probetas de HAC se realizó un trabajo de
validación del método ICS sobre 3 muros de hormigón, donde además del método desarrollado se
aplicó el método propuesto por el CIB W29 y por el método de análisis digital de imagen con el
programa ImageJ.

1.2 Método propuesto ICS en probetas cilíndricas de HAC

Se han analizado un total de 84 probetas, distribuidas en 21 amasadas. Se realizó un trabajo previo


para obtener una dosificación de partida adecuada que cumpliera los requisitos de los HAC del tipo
AC-E2. Todas las dosificaciones contaban con un empaquetamiento de partículas similar. Sobre la
dosificación de partida se varió el contenido de humedad de los áridos y la cantidad de
superplastificante, modificando los valores reológicos de cada amasada, pero siempre dentro de las
tolerancias marcadas para los HAC del tipo AC-E2. Una vez catalogado los poros por su diámetro, se
calcula la proporción de la superficie de éstos con respeto al 100% de la zona inspeccionada. La zona
ocupada por los poros para cada grupo será el producto entre la cantidad de poros y el área del círculo
en que se inscribe (2, 4, 6, 8 o 10 mm).

1.3 Inspección con planillas del CIB W29

En 1971 el grupo de trabajo W29 del CIB establece una escala para clasificar los hormigones por su
grado de calidad superficial, con valores del 1 a 7 (de menor a mayor cantidad de daños superficiales).
La escala cuenta con 7 plantillas o imágenes de hormigones utilizadas como patrones, con diferentes
cantidades de poros superficiales que se deben comparar visualmente con el elemento de hormigón.
La precisión de la clasificación depende, principalmente, de la pericia de quien la realiza. Con el
alejamiento del observador, el tamaño de poro no percibido aumenta. Este tamaño de poro no
percibido determinara la calidad del muro para una determinada distancia. Por ejemplo, en el CIB
W29 se indica que si a una distancia de 3 metros los desperfectos del hormigón no destacan
visualmente, la calidad superficial del hormigón se puede considera alta. Si la distancia debe aumentar
a 4 metros la calidad desciende a buena. A 5 metros la calidad superficial del hormigón se considera
normal. Si se precisa de más distancia para dejar de apreciar una zona dañada el elemento, éste cuenta
de un no buen acabado superficial. La metodología es de difícil comparación entre diferentes
investigaciones por su baja objetividad. En trabajos de Pacios et al. [6], se pone de manifiesto la
necesidad de elaborar una metodología que permita cuantificar la calidad de los acabados de
hormigones de manera que se facilite la comunicación entre los arquitectos, contratistas y fabricantes
de hormigón cuando se trata de definir un acabado superficial en hormigón visto.

1.4 Método digital con "ImageJ"

El método de análisis digital, en este caso utilizando el programa ImageJ, proporciona información
cuantitativa sobre la calidad de las superficies de hormigón. ImageJ es un programa de proceso y
análisis de imágenes.

Las imágenes de la superficie de hormigón se importa en el programa ImageJ, previamente se delimita


la zona de inspección, en este caso 250.000mm2 (500x500mm). La imagen se ajusta a 8 bits y se
convierten en blanco-negro para resaltar las imperfecciones de la superficie (Fig.2). Además, y si es
necesario, se ajusta el balance de color. Se escala la imagen y se ajusta la equivalencia entre los
pixeles de la imagen y las dimensiones conocidas de la inspección. Se aplican diferentes filtros de
tamaño o forma de los poros a analizar y se calculan las áreas de cada uno de ellos. Si los resultados
obtenidos son óptimos para los requisitos de la investigación se da por terminada la inspección. Si por
el contrario se detectan errores en el análisis por mal ajuste de los filtros o balance de color se procede
a repetir el proceso hasta obtener los resultados óptimos (prueba-error).

604
Benito, Valcuende, Parra, Rodríguez e Miñano

Figura 2. De izq. a derecha: zona analizada, imagen en blanco y negro y representación de resultados.

El procesamiento y análisis digital de imágenes está estrechamente vinculado con la calidad de


imagen utilizada. En este caso se utiliza una cámara digital Canon de 10 megapixeles situada a 2
metros de la muestra y de forma perpendicular, con luz ambiente indirecta para evitar alteraciones en
las sombras generadas en el interior de los poros de los paramentos de hormigón analizados. La
calibración de imagen se hizo colocando un patrón de medida (regla) sobre el elemento observado que
permite obtener la equivalencia entre los pixeles de la imagen y la dimensión real.

Para determinar la idoneidad de los ajustes en ImageJ se debe tener en cuenta las variaciones en los
resultados obtenidos. El ajuste en los balances de color de las imágenes afecta en los resultados finales
(Fig. 3). Si la tonalidad del hormigón es homogénea se precisa de poco o ningún ajuste de la tonalidad,
siendo la opción en que los resultados se ajustan más a la realidad. Sin embargo, si el elemento de
hormigón a analizar cuenta con diferentes tonalidades por brillos, sombras, manchas, rugosidades o no
planicidad a la hora de su análisis es necesario un ajuste del balance de color con el riesgo de variar el
tamaño de los poros o zonas dañadas finales (Fig 3, abajo).

Figura 3. Arriba y abajo, ejemplos de diferencias en el ajuste del balance de color que afectan a los resultados.

El porcentaje de superficie de hormigón que está cubierto por poros sobre el área total de la superficie
de hormigón y el número de poros en la superficie son los dos parámetros principales que afecta a la
percepción de la calidad superficial de los elementos de hormigón. Ante un mismo porcentaje de
superficie de poros, el aumento de la cantidad de estos implica un menor tamaño, lo que a una cierta
distancia podría ser inapreciable. Sin embargo, con el mismo porcentaje, pero con una menor cantidad
de poros podrían ser visibles desde mayor distancia por su mayor tamaño.

Por tanto, se debe analizar la cantidad de poros, el porcentaje de superficie afectada por estos poros y
a la distancia que será visualizado el elemento de hormigón. Las exigencias de calidad superficial

605
Acabado superficial de hormigones autocompactantes. Método ICS

sobre un muro en una zona de tránsito deben ser mucho mayores que la de un muro en un sitio alejado
del tránsito. Para el primero, los filtros deben ser más minuciosos, con análisis de poros de mucho
menor tamaño que para el segundo muro. El tamaño de los poros filtrados tiene un impacto importante
en los resultados finales. En el caso real de este trabajo experimental, en el muro nº1 inspeccionado
con el filtro de 1x1 (el tamaño de poros tenidos en cuenta es el mayor a un 1mm 2) se obtienen 312
poros, ocupando el 1,31% de la superficie de la inspección (500x500mm). Cuando el filtro se aumenta
a 5x5, 10x10 o 20x20, la cantidad de poros desciende a 25, 6 y 1, y la superficie afectada desciende a
0,87%, 0,74% y 0,27%, respectivamente.

2. OBJETIVOS Y PROGRAMA EXPERIMENTAL

2.1 Acabado superficial en probetas de HAC

El objetivo que se plantea en este trabajo es estudiar y catalogar el acabado superficial de elementos
de hormigón endurecido debidos a la presencia de poros, y analizar cómo afecta en los resultados la
reología de los HAC. El hormigón se colocó sin compactar, llenándose los moldes en una sola tongada
y a una misma altura de vertido. Todas las mezclas estudiadas se fabricaron con 375Kg/m3 de
cemento y una relación efectiva agua/cemento de 0,55. El superplastificante utilizado fue Viscocrete
3425 de SIKA. Se han fabricado 84 probetas cilíndricas de 150 mm de diámetro y 300 mm de altura,
repartidas en las 21 amasadas realizadas. Para determinar la superficie afectada por poros superficiales
sobre cada una de las probetas se ha analizado una superficie de 47.123 mm2 (1/3 de la superficie
lateral). Sobre esta zona se marca su centro geométrico y se traza, coincidiendo con su centro inscrito,
un cuadrado de 50x50 mm. Se inspeccionan ambas superficies. Sobre la mayor se identifican los poros
mayores de 2 mm. Sobre la pequeña, además de los anteriores, se identifican los poros mayores de
1mm (Fig. 4).

Figura 4. Replanteo de zona analizada en probetas y ejemplo análisis.

2.2 Acabado superficial en muros con ImageJ, método ICS y planillas CIB

Se realizó el análisis de la calidad superficial de 3 muros de hormigón (Fig. 5). Se acoto la inspección
en una zona de 250.000mm2 (500x500mm) y se aplican los 3 métodos de análisis superficial
analizados en este trabajo. Se analizaron las zonas con el programa ImageJ, con el método
desarrollado ICS y con las planillas del CIB. Los resultados obtenidos con ImageJ y con el método
ICS se trasformaron a la escala de 1 a 7 que utiliza las planillas del CIB W29. Esto permite comprobar
la bondad de las metodologías utilizadas en este trabajo y sobre todo dar validez del método
desarrollado ICS. Para ello, se han analizado con el método desarrollado ICS y con el programa
ImageJ las plantillas propuestas por CIB W29. Sobre estas plantillas se sigue el mismo procedimiento
descrito anteriormente para las probetas. Los resultados obtenidos en cada plantilla se relacionan con
sus correspondientes valores de 1 a 7 y se obtiene la expresión que mejor ajusten entre ambas series de
datos, Y = 0,0126ln(x) + 0,0895 para el caso del ICS y Y = 0,0099ln(x) + 0,0414 para el

606
Benito, Valcuende, Parra, Rodríguez e Miñano

procesamiento con ImageJ, obteniendo un ajuste del 98% sobre los datos utilizados. Con estas
expresiones se trasforman los valores porcentuales a la escala de 1 a 7 con un decimal. Esta
trasformación permite mantener el uso de la escala aceptada de 1 a 7 y validar el método propuesto
ICS. En la Tabla 1 se muestran los resultados de las inspecciones de cada muro. En el caso del análisis
digital de imágenes se muestran los resultados del filtro de 5x5 (los poros de superficie menor a
25mm2 no son tenidos en cuenta en el análisis). Con las plantillas CIB el muro nº1 y nº 2 obtienen un
valor de entre 3 y 4 y el muro nº3 entre 4 y 5. Tras la conversión de los resultados del método con
ImageJ e ICS, los resultados para el muro nº1 son 3,9 y 3,6, para el muro nº2, 3,8 y 3,6 y para el muro
nº3 4,6 y 4,5, respectivamente (Tabla nº 1).

Tabla 1. Resultados de las 3 inspecciones para cada muro en la escala de 1 a 7.


ImageJ ICS CIB W29
Muro nº1 3,9 3,6 3a4
Muro nº2 3,8 3,6 3a4
Muro nº3 4,6 4,5 4a5

Figura 5. Izq. inspección con planillas CIB. Derecha, método ICS arriba y análisis con ImageJ abajo.

3. RESULTADOS Y DISCUSIÓN

3.1. Estudio reológico e índice de calidad superficial de los HAC fabricados

Se midieron en estado fresco de los HAC los principales parámetros reológicos con el dispositivo 4C-
Rheometer. Se determinó el asentamiento según la UNE EN12350-2. Todas las mezclas presentaban
un diámetro final de escurrimiento (Øf) de 700 ±50 mm y buena resistencia a la segregación en la
inspección visual realizada. Los valores T500 oscilaron entre 1,0 y 3,4 segundos. En la Tabla 2 se

607
Acabado superficial de hormigones autocompactantes. Método ICS

muestran todos los resultados obtenidos en las 21 amasadas realizadas, incluyendo los valores ICS
obtenidos en las 84 probetas analizadas.

En 18 de las amasadas se obtuvieron viscosidades dentro de la zona considerada como de buenos


acabados superficiales por el D.T. Institute [2]. La amasada nº 15 (H-15) con viscosidad de 58 Pa.s se
encuentra claramente fuera de esta zona. Un 43% de las amasadas se encuentran en las zonas de
autocompactabilidad determinadas por Níelsson y Wallevik [9], otro 15% se encuentran fuera del
anterior estudio pero dentro de la zona delimitada por Zerbino et al. [10] y el 42% restante se
encuentra a la izquierda de las anteriores zonas, con  inferiores a 24 Pa.s, aunque dentro de la zona
marcada por D.T. Institute [2] como de buen acabado superficial de los HAC (Fig. 6). En las 21
amasadas fabricadas se consiguieron valores inferiores a 30 Pa en la tensión de corte.

Tabla 2. Resultados reológicos y de la inspección ICS de las 84 probetas analizadas.


Visc. Tensión Ø final T500 Índ.
Amasada ICS por probeta Promedio
(Pa*s) corte (Pa) (mm) (seg.) VSI
H-1 19 15 718 1,3 0 1,7% 1,9% 1,2% 1,2% 1,5%
H-2 17 17 700 1,2 0 1,7% 1,5% 1,1% 1,0% 1,3%
H-3 14 22 670 1,2 0 1,6% 1,2% 2,0% 2,0% 2,1% 1,5% 1,7%
H-4 14 15 720 1,1 0 0,6% 1,1% 1,3% 1,5% 1,1%
H-5 21 15 720 1,4 1 1,3% 2,0% 1,2% 1,0% 1,4%
H-6 22 20 680 1,4 0 1,5% 1,6% 1,5% 1,9% 1,7% 1,6%
H-7 42 20 680 2,3 0 2,0% 3,1% 3,0% 2,8% 2,7%
H-8 43 18 690 2,1 0 3,2% 2,6% 2,6% 1,8% 2,5%
H-9 42 20 680 2,1 1 1,5% 2,2% 1,9% 2,5% 1,8% 2,0%
H-10 34 26 660 1,9 0 2,6% 2,8% 2,3% 2,5% 2,5%
H-11 35 16 707 1,7 1 1,1% 1,7% 1,4%
H-12 35 22 670 1,9 0 1,6% 2,3% 2,4% 2,9% 3,6% 2,9% 2,6%
H-13 41 20 680 2,0 0 3,4% 3,4% 3,0%
H-14 27 18 691 1,8 0 2,8% 3,6% 2,2% 1,9% 3,5% 2,1% 2,7%
H-15 58 26 650 3,4 0 4,8% 6,1% 5,5% 4,9% 5,3% 5,3%
H-16 24 17 700 1,4 0 3,5% 3,5% 3,5%
H-17 32 24 655 2,2 0 4,9% 5,4% 5,3% 5,2%
H-18 46 17 703 2,5 1 4,3% 4,1% 4,2%
H-19 11 17 700 1,2 0 1,7% 2,5% 2,1%
H-20 21 14 723 1,3 1 1,3% 1,6% 1,7% 1,0% 1,4%
H-21 11 14 728 1,0 0 2,2% 1,6% 2,5% 3,1% 1,7% 3,1% 2,3%

En general, en las 84 probetas analizadas, se han obtenido resultados de acuerdo a la bibliografía


consultada [3, 7, 8]. La viscosidad y el valor T500 de los HAC son parámetros determinantes en la
cohesión de la mezcla y ésta influirá en la cantidad de aire ocluido que se liberara del hormigón sin
dejar poros superficiales. Esto es constatado en la Figura 6, donde se representa la tendencia de ajuste
de los valores del T500 para los 84 valores ICS. El valor del coeficiente de correlación es de 0,80,
2
indicando una relación moderadamente fuerte entre ambas variables. El Rdel
Gráfico obtenido
Modelo Ajustado indica que el
2
modelo ajustado explica el 63% de la variabilidad en T500 (Ecuación:T500
Y ==sqrt(1,44681
382,3x+ 0,255302*Porcentaje^2)
+ 13x + 1,1).
Bajo riesgo segregación 3,4
Buena trabajabilidad

T500 (Segundos)

3
Muy cohesivo

2,6
T500

2,2

1,8

1,4
Buen acabado
Riesgo segregación 1
0 2 4 6 8
Viscosidad (Pa.s) Porcentaje ICS (%)
Figura 6. Izq. zonas de autocompactabilidad. Derecha, relación entre el T500 y ICS de las 84 probetas.

608
Benito, Valcuende, Parra, Rodríguez e Miñano

En términos generales se puede indicar que la menor viscosidad de los HAC facilita el movimiento de
las burbujas de aire en el hormigón y, por tanto, pueden ascender y liberarse de forma más sencilla,
dejando las superficies de hormigón con menores poros superficiales. Además, esta liberación de aire
ocluido se ve potenciada en hormigones de alta fluidez, lo que facilita el movimiento, por su propio
peso, de las partículas en el interior del hormigón, ayudando a liberar parte del aire ocluido o
macroporos que, además, por su gran tamaño pueden afectar significativamente a la resistencia
mecánica de los hormigones y a su durabilidad [11,12].

En relación a la conversión de resultados realizados, en la Figura 7 se muestran 5 de las probetas


analizadas, ordenadas conjuntamente con 4 de las planillas del CIB, de menor a mayor en su calidad
superficial para su validación visual. Sobre cada probeta se indica el valor obtenido en la conversión,
tras su análisis con el método ICS. El ajuste entre ambos métodos se puede considerar alto, aunque la
inspección y cuantificación visual con las plantillas CIB dependen de la pericia y criterio de cada
observador.

CIB=2,5% CIB=2,6% CIB=3,3% CIB=4,4%


CIB=4,8%

Figura 7. De menor a mayor 5 probetas analizadas con los valores de la conversión a la escala CIB.

CONCLUSIONES

De acuerdo con el trabajo experimental realizado, se pueden establecer las siguientes conclusiones:
1.-La utilización de programas de análisis de imagen permite obtener resultados precisos en
condiciones visuales normales. En zonas no homogéneas por cambios de tonalidades, sombras o
irregularidades el análisis digital se complica y precisa de varios ajustes técnicos para conseguir
resultados óptimos, precisando de personal cualificado lo que complica y ralentiza el proceso.
2.-El método del CIB W29 es un buen indicador cualitativo de la calidad superficial de elementos de
hormigón. Es muy intuitivo y de gran rapidez en su desarrollo, aunque carece de objetividad en la
inspección. No cuantifica el área ocupada por los poros. Únicamente el elemento de hormigón se
compara visualmente con un patrón con diferentes cantidades de poros superficiales.
3.- Se constató la sencillez de aplicación del método desarrollado ICS, y su fácil implantación en el
laboratorio o en obra. El agrupamiento de poros por diámetros no vario significativamente los
resultados finales, obteniendo valores similares a los otros 2 métodos utilizados, sin precisar de
grandes conocimientos en procesamiento digital. Los resultados obtenidos, a diferencia del método
CIB, cuantifican la superficie afectada por los poros superficiales.
4.-El método ICS se puede aplicar en superficies curvas, con diferentes tonalidades o manchas
superficiales, no alterándose los resultados del área ocupada por los poros superficiales.
5.- Con aumentos del valor T500, la viscosidad de los hormigones aumenta y más poros se retienen en
la superficie de los hormigones.
6.- Combinaciones de valores bajos de los valores T500 y Øf permiten obtener los mejores acabados
estéticos en los HAC.

609
Acabado superficial de hormigones autocompactantes. Método ICS

REFERENCIAS

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Commission W29 Concrete Surface Finishings, Rotterdam (1971).
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hormigón visto, por la utilización de diferentes tipos de desencofrante y aditivos plásticos
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[6] Pacios, A., Olmos, I., Flores, D., González, D., Martín, O. Relación entre el control de recepción
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pré-moldados. Revista Téchne, n. 137, p. 60-64, ago. 2008.
[8] Valcuende M, Parra C, Marco E, Garrido A, Martínez E, Cánoves J. Influence of limestone filler
and viscosity-modifying admixture on the porous structure of self-compacting concrete. Constr
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[11] Kumar R, Bhatttarcharjee B. Porosity, pore size distribution and in situ strength of concrete. Cem
Concr Res 2003; 33(1):155-164.

610
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

Recurso a BAC na execução dos deflectores do “roller bucket” da


Barragem de Ribeiradio

Armando Camelo1 Pedro F. Silva2 Vanessa Gaspar3

RESUMO

A barragem de Ribeiradio, escalão de montante do Aproveitamento Hidroelétrico de Ribeiradio-


Ermida, com 83 metros de altura e localizada em Sever do Vouga, tem prevista a entrada em serviço
da respetiva central hidroelétrica até final de 2014.

O descarregador de cheias da barragem com soleira WES (“Waterways Experiment Station”)


distribuída por três vãos, apresenta a jusante uma bacia de dissipação do tipo “roller bucket” com
deflectores (dentes), num total de 14 dentes.

Os dentes apresentam uma forma complexa, com a interseção de superfícies planas com superfícies de
dupla curvatura e dimensões aproximadas de 2,2 x 10,2 x 3,3 [m] (largura; comprimento; altura
máxima), sendo o afastamento livre entre dentes de 0,70 m.

A estratégia de execução apontou para a betonagem dos dentes em segunda fase, isto é, após a
betonagem da soleira do “roller bucket”, tendo sido definido um adequado encastramento dos dentes
na soleira.

Dada a complexidade das formas dos dentes, foi necessário o recurso a cofragem metálica envolvendo
integralmente toda a volumetria do dente e em forma fechada, dispondo de janelas para colocação do
betão, distribuídas ao longo da sua extensão e no extremo de jusante. A elevada solicitação hidráulica
destas estruturas, com velocidades de escoamento da ordem dos 30 m/s obriga a um elevado nível de
exigência para o acabamento das superfícies dos dentes, pelo que houve necessidade de utilização de
CPF (“controlled permeability formwork”) na face superior da cofragem.

De modo a evitar juntas construtivas durante a betonagem, quer por motivos estruturais e hidráulicos,
quer por impossibilidade de acesso para se efetuar o correto tratamento das juntas e de impossibilidade
de efetuar a vibração do betão, cada dente teria de ser betonado em contínuo e com betão

1
EDP Gestão da Produção de Energia, S.A., Porto, Portugal. armando.camelo@edp.pt
2
EDP Gestão da Produção de Energia, S.A., Porto, Portugal. pedroferreira.silva@edp.pt
3
EDP Gestão da Produção de Energia, S.A., Porto, Portugal. vanessa.gaspar@edp.pt

611
Recurso a BAC na execução dos deflectores do “roller bucket” da Barragem de Ribeiradio

autocompactável (BAC) capaz de preencher adequadamente a densidade de armadura prevista no


projeto.

A complexidade de forma destas estruturas obrigou a um cuidado planeamento e detalhe construtivo e


à realização de ensaios prévios, numa primeira fase à escala laboratorial para afinação da composição
do BAC e verificação da capacidade de envolvimento de armaduras e, numa segunda fase, com a
realização de um protótipo à escala real que permitiu a adequada formação de todos os intervenientes
na construção.

Este artigo pretende relatar as diferentes fases envolvidas no processo de execução dos betões dos
deflectores (dentes) da bacia de dissipação da barragem de Ribeiradio.

Palavras-chave: Betão autocompactável, deflectores de “roller bucket”, protótipos de execução

1. INTRODUÇÃO

O escalão de Ribeiradio, pertencente ao Aproveitamento Hidroelétrico de Ribeiradio-Ermida (AHRE)


e localizado em Sever do Vouga, é constituído por uma barragem em betão com perfil gravidade com
83 m de altura e coroamento à cota (112,0) com 262 m de desenvolvimento e planta em arco de
circunferência. Imediatamente a jusante da barragem de Ribeiradio situa-se a central, em poço,
equipada com um único grupo gerador dimensionado para turbinar o caudal máximo de 125 m3/s, que,
sob a queda útil nominal de 64,0 m, garante uma potência nominal no veio da turbina de 74,6 MW [1].

Na Figura 1 apresenta-se a localização do Aproveitamento Hidroelétrico de Ribeiradio-Ermida e uma


vista geral do escalão de Ribeiradio [1], [2].

a) b)
Figura 1. A. H. de Ribeiradio-Ermida: a) localização; b) vista geral do escalão de Ribeiradio.

A barragem encontra-se equipada com um descarregador de cheias assente sobre o paramento de


jusante, controlado por três comportas de setor idênticas com 13 x 13,55 [m²], terminando num “roller
bucket” com soleira dentada que devolve os caudais descarregados ao rio. A capacidade máxima de
descarga com a albufeira no NPA e todas as comportas abertas é de aproximadamente 2950 m³/s,
ligeiramente superior ao caudal máximo da cheia milenar, o qual é estimado em 2750 m³/s [1].

No entanto, esta solução não era a inicialmente prevista no projeto. Os estudos hidráulicos em modelo
reduzido do descarregador de cheias da barragem de Ribeiradio realizados pelo Laboratório Nacional
de Engenharia Civil (LNEC) e previstos no projeto, tiveram como objetivo verificar as condiç es de
funcionamento hidr ulico deste rgão de segurança da barragem e a eventual definição de formas
alternativas de modo a obter-se uma solução considerada como a tecnicamente mais favor vel [3].

612
Camelo, Silva e Gaspar

2. CARACTERÍSTICAS DO DESCARREGADOR DE CHEIAS

O projeto inicial previa um descarregador de cheias do tipo frontal, assente no corpo da barragem,
com três vãos de 13 m de largura cada e munidos com comportas de segmento, terminando num
trampolim (Fig. 2 a)). Estava igualmente prevista a construção de um açude, a 135 m a jusante do
lábio do descarregador, com a finalidade de criar um colchão de água na zona de impacto do jato [3].

Em relação solução inicial de projeto (COBA), os ensaios realizados no modelo mostraram o


adequado funcionamento da soleira descarregadora e do canal do descarregador. No entanto, no que
diz respeito ao funcionamento da estrutura terminal do descarregador, concluiu-se ser necessário o
estudo de soluções alternativas ao trampolim, de forma a minimizar os efeitos da restituição dos
caudais ao leito do rio, nomeadamente, as erosões no leito e nas encostas. Os resultados dos ensaios
obtidos em modelo reduzido recomendaram a alteração da solução inicial do projeto para uma solução
de dissipação de energia do tipo “roller bucket” (Fig. 2 b)) [3].

a) b)
Figura 2. Descarregador de Cheias: a) solução inicial; b) solução final.

Na sequência dos resultados dos ensaios das alterações introduzidas na solução do projeto do
descarregador de Ribeiradio, optou-se por um “roller bucket” com 14 m de raio e soleira dentada com
proteção do leito do canal a jusante. Posteriormente, e por razões estruturais, foi considerado
conveniente arredondar as arestas dos dentes da soleira dentada do “roller bucket”, de forma a
minimizar os riscos de erosão dessas arestas [3].

Na Figura 3 apresenta-se a solução proposta para o “roller bucket” ue caracteri ada por uma concha
com raio de 14 m, soleira dentada com dentes de arestas boleadas e proteção do leito a jusante com
laje de betão com 30 m de comprimento. soleira dentada constitu da por 14 dentes, de largura
máxima de 2,20 m e espaçamento 0,70 m, distribuídos da seguinte forma: três dentes nos blocos 6 e 9
e quatro dentes nos blocos 7 e 8 [3], [4].

Figura 3. Solução final do descarregador.

613
Recurso a BAC na execução dos deflectores do “roller bucket” da Barragem de Ribeiradio

3. RECURSO A BAC PARA A EXECUÇÃO DOS DENTES DO “ROLLER BUCKET”

estrutura da ona final do descarregador de cheias da barragem de Ribeiradio, ue inclui o “roller


bucket” com soleira dentada, é bastante complexa em termos de execução devido ao elevado número
de dentes (14 no total), espaçamento entre cada dente (apenas 0,70 m) e pelo facto de os dentes se
encontrarem implantados numa soleira com perfil curvo.

Por forma a garantir o adequado funcionamento hidráulico e durabilidade dos dentes face às elevadas
velocidades de escoamento a que estarão sujeitos, impunha-se a necessidade de obter no produto final
um elevado grau de acabamento. A complexidade das formas dos dentes implicou o recurso a
cofragem metálica fechada que envolvesse toda a volumetria do dente, dispondo apenas de algumas
janelas para colocação do betão no seu topo. De modo a evitar juntas construtivas durante a
betonagem, quer por motivos estruturais e hidráulicos, quer por impossibilidade de acesso para se
efetuar o correto tratamento das juntas e de impossibilidade de efetuar a vibração do betão, cada dente
teria de ser betonado em contínuo e com betão autocompactável (BAC) capaz de preencher
adequadamente a densidade de armadura prevista no projeto (Fig. 4) [4]. Dado o elevado nível de
exigência para o acabamento das superfícies dos dentes, optou-se ainda pela colocação de CPF
(“controlled permeability formwork”) na face superior da cofragem.

Figura 4. Armaduras dos dentes previstas no projeto. Corte.

Juntamente com o Empreiteiro, foi definida a estrat gia de betonagem para a ona do “roller bucket”.
Tendo em consideração as condicionantes anteriormente descritas, a soleira do “roller bucket” seria
betonada numa primeira fase em toda a sua extensão entre blocos, deixando-se a betonagem dos
dentes para segunda fase. Este faseamento construtivo é ilustrado na Figura 5.

Figura 5. Faseamento construtivo do “roller bucket”. Bloco 7: corte pela bacia de dissipação.

4. TESTES INICIAIS (COMPOSIÇÃO DO BETÃO E PROCEDIMENTOS DE EXECUÇÃO)

De acordo com a norma NP EN 206-9:2010, o betão autocompactável (BAC) é definido como “Betão
que é capaz de escoar e compactar apenas sob ação do seu próprio peso, encher a cofragem com as
suas armaduras, tubos, negativos, etc., conservando a homogeneidade” [5]. A fluidez e resistência à
segregação do BAC asseguram um elevado nível de homogeneidade, número reduzido de vazios e
resistência uniforme do betão, potenciando um elevado grau de acabamento das superfícies e
durabilidade da estrutura [6], facto que determinou a decisão de utilização deste tipo de betão nestas
estruturas.

614
Camelo, Silva e Gaspar

Com efeito, a complexidade de forma das estruturas obrigou a um cuidado planeamento e detalhe
construtivo e à realização de ensaios prévios, numa primeira fase à escala laboratorial para afinação da
composição do BAC e verificação da capacidade de envolvimento de armaduras e, numa segunda fase,
com a realização de um protótipo à escala real que permitiu a adequada formação de todos os
intervenientes na construção.

Acresce que as dimensões da estrutura com uma largura máxima de 2,20 m, altura máxima de 3,30 m
e desenvolvimento de 10,20 m, para betonagem numa só operação, exigem cuidados adequados
quanto às tensões térmicas provocadas pela hidratação do ligante, razão pela qual haveria que otimizar
a mistura para as mais baixas dosagens possíveis.

4.1 Ensaios prévios em laboratório

Testaram-se duas composições de BAC que já tinham sido utilizadas em alguns elementos da obra,
com diferentes dimensões máximas de agregado (8 mm e 16 mm). Por forma a avaliar as capacidades
de escoamento e envolvimento de elevadas densidades de armaduras, construíram-se duas caixas, uma
horizontal e aberta no topo e outra inclinada e fechada no topo, contendo uma malha de armaduras
bastante apertada, com uma percentagem de aço de cerca de 9% relativamente ao volume de betão
(Fig. 6), situação significativamente mais desfavorável do que a de um simples ensaio de caixa em “L”
com três varões.

Figura 6. Caixa horizontal e inclinada para teste do BAC.

As dosagens dos constituintes das composições de betão testadas estão indicadas no Quadro 1.

Quadro 1. Composições de betão testadas. Dosagem dos constituintes [7].

Dosagem [kg/m3]
Dmáx Cinzas Água Agregado Agregado
Composição Cimento Adjuvante
[mm] volantes total fino grosso
R4.9.1 16 245 255 155 7.0 660 1000
R5 8 225 300 161 12.9 760 825

Nas Figs 7 e 8 apresentam-se imagens da realização destes ensaios. A composição R4.9.1 foi testada
na caixa horizontal aberta e a composição R5 na caixa inclinada fechada.

615
Recurso a BAC na execução dos deflectores do “roller bucket” da Barragem de Ribeiradio

a) b)
Figura 7. a) caixa horizontal para teste da composição R4.9.1 (Dmáx 16 mm); b) caixa inclinada e fechada para
teste da composição R5 (Dmáx 8 mm).

Figura 8. Ensaio com betão R4.9.1. Dificuldades de escoamento.

Como se pode verificar na Figura 8, o betão R4.9.1 (Dmáx 16 mm) apesar de apresentar um “slump
flow” de 660 mm teve grande dificuldade em fluir e envolver convenientemente a elevada densidade
de armaduras, tendo sido necessário recorrer a apiloamento. A composição R5 (Dmáx 8 mm) foi
testada com um “slump flow” de 750 mm e não apresentou problemas de escoamento na caixa
inclinada. Alguns dias após a betonagem, procedeu-se à descofragem das caixas e retiraram-se
algumas carotes para avaliação da homogeneidade, compacidade dos betões e envolvimento das
armaduras (Fig. 9).

a) b)
Figura 9. Carote retirada do betão R5: a) aspeto geral; b) pormenor do envolvimento da armadura.

Esta primeira fase de ensaios, à escala laboratorial, permitiu concluir que apenas a composição com
menor máxima dimensão de agregado apresentou um comportamento satisfatório em termos de
capacidade de compactação, homogeneidade e envolvimento das armaduras.

4.2 Ensaios em protótipo à escala real

Tendo por base a validação da composição R5 (Dmáx 8 mm) na fase de ensaio laboratorial, acordou-
se com o Empreiteiro a realização de um protótipo à escala real de um dos dentes, previamente à
execução das estruturas definitivas. A execução do protótipo teve como objetivo simular as condições
reais de obra e testar os meios e procedimentos definidos para a betonagem dos dentes, por forma a
otimizar as metodologias construtivas para a fase de execução em obra.

616
Camelo, Silva e Gaspar

4.2.1 Trabalhos preparatórios


Como já mencionado, a cofragem dos dentes é completamente fechada e bastante complexa devido à
interseção de planos com diferentes curvaturas, sendo o topo constituído por uma única peça e as faces
laterais por diversos painéis verticais e retilíneos. Para garantir uma adequada colocação do betão e,
consequentemente, preenchimento de todo o volume do molde, foi necessário dotar a cofragem de
topo de diversas bocas de betonagem. Inicialmente estavam previstas três bocas de betonagem mas
posteriormente solicitou-se a colocação de uma quarta no troço inicial de cota mais baixa do dente
(Fig. 10).

Para a materialização do dente foi necessário efetuar numa primeira fase a betonagem de uma base do
“roller bucket” com 3,20 m de largura e contendo todas as armaduras especificadas no projeto de
execução. Na Figura 11 ilustra-se uma imagem da primeira fase de execução do protótipo e da fase
final de montagem das armaduras do dente.

Figura 10. Projeto da cofragem do protótipo do dente.

a) b)
Figura 11. Faseamento construtivo do prot tipo: a) armaduras do “roller bucket”; b) armaduras do dente.

Dado o elevado nível de exigência para o acabamento das superfícies dos dentes, decidiu-se colocar
uma tela do tipo CPF (“controlled permeability formwork”) na face superior da cofragem.
Verificaram-se diversas dificuldades na fixação da tela à cofragem, pelo que se optou por colocar uma
faixa única no topo da cofragem com cerca de 0,5 m de largura e sem juntas (contínua em todo o
desenvolvimento do dente).

4.2.2 Execução da betonagem do protótipo


A betonagem do protótipo decorreu no dia 6 de Março de 2014, tendo-se procedido a um ligeiro acerto
na quantidade de água (menos 3 l/m3) da composição R5 por forma a ajustar a sua fluidez, passando a
composição a designar-se por R5.1.

617
Recurso a BAC na execução dos deflectores do “roller bucket” da Barragem de Ribeiradio

Depois de revistas as condições de vedação das juntas dos painéis de cofragem, procedeu-se ao início
da betonagem a partir da primeira boca de betonagem (Fig. 12). Para a betonagem dispôs-se de apenas
uma autobetoneira, o que originou tempos de espera demasiado longos.

O início da betonagem a partir da primeira boca não se revelou muito eficiente pois o volume de betão
até se atingir o topo da boca era muito reduzido. Em obra recomendou-se o início da betonagem pela
segunda boca e que a primeira servisse de purga, permanecendo aberta até se atingir o seu topo.

Durante a betonagem verificaram-se fugas de betão pelas juntas da cofragem quando o betão se
situava a cerca de meia altura da face plana do topo, devido à impulsão induzida pelo betão, pelo que
houve que efetuar novo aperto dos tirantes verticais da cofragem.

Figura 12. Betonagem do protótipo. Início a partir da primeira boca (seta vermelha).

No decurso já do terço final da betonagem ocorreram ainda novas fugas pela cofragem, para além de
esperas longas por avarias do equipamento de transporte de betão. A ocorrência destes incidentes
apenas permitiu concluir a betonagem no dia seguinte, materializando uma junta horizontal (ver
Fig.13 d)).

4.2.3 Desmoldagem do protótipo


As principais patologias ilustram-se na Figura 13 e consistiram no seguinte: a) zonas com
concentração superficial de poros; b) ocorrência de cavidades superficiais; c) betão do topo do dente
com superfície ondulada – zona em que foi utilizada tela CPF; d) juntas entre camadas de betonagem;
e) zonas com perda de calda; f) zona em que o betão instalou-se entre a tela e a cofragem.

a) b) c)

d) e) f)
Figura 13. Patologias observadas após descofragem do protótipo.

618
Camelo, Silva e Gaspar

A grande maioria das patologias observadas deveu-se a dois fatores fundamentais: os elevados tempos
de espera entre camadas de betonagem e as fugas de betão que ocorreram por duas vezes através dos
painéis laterais da cofragem. Estas duas ocorrências tiveram como consequência o aparecimento de
zonas com concentração de poros, vazios superficiais e ainda zonas onde ocorreu fuga de calda, para
além das linhas onde aparecem bem vincadas as juntas entre as camadas de betonagem (entre
autobetoneiras).

As restantes patologias estão relacionadas com a fixação da tela à cofragem e com eventuais
desalinhamentos/deformações da própria cofragem. A fixação do geotêxtil com recurso a
pregos/rebites não impediu algumas deformações da tela que são bem visíveis na superfície do betão
do protótipo.

4.2.4 Aprendizagem com o protótipo e recomendações para execução em obra


Perante o disposto nos pontos anteriores, foi necessário implementar algumas afinações/correções
antes do início da execução dos dentes definitivos na barragem, que se detalham em seguida:

 encastramento do dente na soleira de primeira fase com adequada materialização da respetiva


junta vertical;
 amarração (ao betão de primeira fase) e estanqueidade adequadas da cofragem;
 betonagem contínua, sendo desejável alocar-se um mínimo de duas autobetoneiras por cada
dente;
 utilização de descofrante à base de cera nas cofragens planas verticais;
 colocação de tela em todas as restantes cofragens, por forma a garantir uma boa qualidade de
acabamento superficial do betão; devendo a tela ser substituída a cada betonagem;
 central de betão em regime de produção exclusivo para cada betonagem dos dentes;
 início da betonagem a partir da segunda boca de alimentação, permanecendo a primeira aberta
para servir de purga até o betão atingir o topo da boca.

5. EXECUÇÃO DOS DENTES DO “ROLLER BUCKET”

Com base na experiência acumulada com a realização do protótipo e nas recomendações resultantes, a
execução dos dentes da barragem de Ribeiradio iniciou-se no dia 25 de Julho de 2014 e a betonagem
do último dente ocorreu no dia 14 de Outubro de 2014.

A composição de betão utilizada sofreu um ligeiro ajuste por forma a melhorar alguns aspetos
observados durante a realização do protótipo, tendo-se aumentado ligeiramente a dosagem de cinzas
volantes (Quadro 2).

Quadro 2. Composição utilizada na execução dos dentes em obra [7].

Dosagem [kg/m3]
Dmáx Cinzas Água Agregado Agregado
Composição Cimento Adjuvante
[mm] volantes total fino grosso
R5.2 8 225 325 160 13.3 750 830

Outra das melhorias introduzidas na fase de execução em obra consistiu na materialização da junta de
encastramento dos dentes no “roller bucket” com recurso a placas de poliestireno expandido (Fig. 14).

619
Recurso a BAC na execução dos deflectores do “roller bucket” da Barragem de Ribeiradio

Figura 14. Juntas de encastramento dos dentes no bloco 6 da barragem de Ribeiradio.

Alguns dos cinco primeiros dentes apresentaram uma ligeira fissuração superficial de retração
(aberturas inferiores a 0,1mm) desenvolvida perpendicularmente ao seu eixo longitudinal, e outros
apresentaram as seguintes patologias: a) parte superior muito irregular com envolvimento de tela no
betão; b) topo superior de jusante com ligeira falha de betão; c) falha de betão na junta com a soleira
do “roller bucket”; d) falha de cerca de 10 cm em altura no betão no topo de jusante (Fig. 15)

a) b)

c) d)
Figura 15. Principais patologias ocorridas na execução dos primeiros cinco dentes.

As patologias observadas deveram-se essencialmente ao seguinte: a) deficiente fixação da tela à


cofragem; b) e d) alguma exsudação do betão por inadequado doseamento de água; c) utilização de
espuma em excesso para a vedação da cofragem.

No seguimento da ocorrência destas patologias, procedeu-se à alteração de alguns procedimentos de


execução, nomeadamente a colocação de janelas de purga adicionais no topo da cofragem. Tomaram-
se também cuidados adicionais para garantir que o betão não era aplicado com água em excesso. Foi
elaborado um procedimento de reparação específico para cada dente e cada patologia.

Apesar destes problemas verificados nos primeiros dentes, os restantes apresentaram uma melhoria
significativa, tendo a tela CPF desempenhado um papel importante na elevada qualidade do
acabamento da superfície curva dos dentes, conforme ilustrado na Figura 16.

620
Camelo, Silva e Gaspar

Figura 16. Elevada qualidade do acabamento da superfície curva dos dentes.

A betonagem dos restantes dentes decorreu sem problemas e as últimas recomendações efetuadas
mostraram-se eficazes. O resultado final do “roller bucket” com os 14 dentes é ilustrado na Figura 17.

Figura 17. Vista geral do “roller bucket” com os 14 dentes executados.

No Quadro 3 apresenta-se um resumo dos resultados do controlo de qualidade efetuado à composição


de betão utilizada na execução dos dentes.

Quadro 3. Resultados do controlo de qualidade da composição R5.2 [7], [8], [9], [10].
Slump Flow P. água máx. 28d [mm] R. Comp. R. Comp. R. Comp.
[mm] P. água méd. 28d [mm] 7d [MPa] 28d [MPa] 90d [MPa]
NP EN
NP EN 12390-8 NP EN 12390-3
12350-8
Min. 650 19 9 23 38 51
Méd. 700 24 12 29 45 59
Máx. 720 34 17 34 55 66
D. padrão 20 7 3 3,0 4,8 4,5

Os resultados obtidos cumprem os requisitos de resistência e durabilidade estabelecidos para a


composição: classe de resistência C30/37 aos 28 dias e classe A de impermeabilidade (definida por
uma penetração de água máxima de 35 mm e média de 25 mm).

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Recurso a BAC na execução dos deflectores do “roller bucket” da Barragem de Ribeiradio

CONCLUSÕES

O recurso a BAC mostrou-se como a única opção vi vel para a execução dos dentes do “roller bucket”
da barragem de Ribeiradio. As condicionantes referidas ao longo do artigo, nomeadamente:
 necessidade de se utilizar cofragem metálica fechada devido às formas complexas dos dentes;
 ausência de juntas de betonagem por forma a garantir um comportamento estrutural e
hidráulico adequado às solicitações de elevadas velocidades de água e por impossibilidade de
acesso para tratamento das mesmas;
 a elevada densidade de armaduras;
 os requisitos mecânicos e de durabilidade exigidos no projeto,
implicaram que os dentes fossem executados numa única betonagem com este tipo de betão.

A alteração do projeto do descarregador de cheias com inclusão de um “roller bucket” com soleira
dentada aconselhou à implementação de um programa de ensaios, quer para a composição de betão,
quer para as metodologias de betonagem, tendo o protótipo à escala real desempenhado um papel
muito relevante, permitindo afinar as estratégias construtivas e adequados procedimentos de execução.

REFERÊNCIAS

[1] COBA (2014). Aproveitamento Hidroelétrico de Ribeiradio-Ermida – Projeto: Normas de


Exploração das Albufeiras e dos Órgãos de Segurança – Revisão A.
[2] Camelo, Armando (2012). Novas Tendências para Betões aplicados em Barragens. Jornadas
Barragens em Betão. Universidade de Évora.
[3] LNEC (2013). Aproveitamento Hidroelétrico de Ribeiradio-Ermida – Estudo hidráulico em
modelo reduzido do descarregador de cheias da Barragem de Ribeiradio.
[4] COBA (2013). Aproveitamento Hidroelétrico de Ribeiradio-Ermida – Escalão de Ribeiradio.
Projeto de Execução.
[5] NP EN 206-9:2010, Betão – Parte 9: Regras adicionais para betão autocompactável (BAC).
Lisboa: IPQ.
[6] EFNARC (2005). The European Guidelines for Self-Compacting Concrete: Specification,
Production and Use.
[7] EDP Gestão da Produção de Energia, S.A. (2014). Documentos Internos.
[8] NP EN 12350-8:2010, Ensaios do betão fresco – Parte 8: Betão autocompactável. Ensaio de
espalhamento. Lisboa: IPQ.
[9] NP EN 12390-8:2009, Ensaios do betão endurecido – Parte 8: Profundidade de penetração de
água sob pressão. Lisboa: IPQ.
[10] NP EN 12390-3:2009, Ensaios do betão endurecido – Parte 3: Resistência à compressão de
provetes. Lisboa: IPQ.

622
ÍNDICE
DE AUTORES

ÍNDICE
DE AUTOR
IV Congresso Ibero-americano sobre Betão Auto-compactável – BAC2015
FEUP, 6-7 de julho de 2015

A
C. Varga .................................................... 119
A. Enfedaque ............................................. 471
C.J. de la Cruz ........................................... 387
A. Manzano-Ramírez ................................... 81
Camila Teixeira Silva ................................ 195
A.L. Castro ................................................. 235
Carla Costa ................................................ 225
Adriano Carvalho ....................................... 517
Carlos Calado .................................... 309, 571
Aires Camões ..................... 299, 309, 451, 571
Carlos Silveira ........................................... 331
Albert de la Fuente ..................................... 481
Cátia Lourenço ............................................ 61
Alessandra Castro ...................................... 109
Cristina Frazão .......................................... 451
Alexis Kiouranis ........................................ 551
D
Alysson Moura ........................................... 185
D. Altheman .............................................. 179
Ana Blanco ................................................ 481
Daiane dos S. Silva.................................... 169
Ana M. Matos ............................................ 245
David Nascimento ..................................... 499
Anderson H. Barbosa ......................... 159, 169
David Revuelta Crespo .............................. 267
André Lopes ............................................... 527
Delfina Gonçalves ............................. 439, 451
Andreas König ........................................... 407
Diana Neves ................................................ 51
Ángel Castillo .................................... 139, 509
E
Antonia Pacios ........................................... 407

Antônio Eduardo Bezerra Cabral ............... 149 E. Verzegnassi ........................................... 179

Armando Camelo ............................... 591, 611 Ederli Marangon .......................... 35, 215, 429

Augusto C.S. Bezerra ................................. 351 Edgar Bacarji ............................................... 45

Augusto Pinotti ............................................ 89 Eduardo Galeote ........................................ 481

Eduardo Júlio............................................... 61
B
Eduardo N.B. Pereira................................. 499
B. González-Fonteboa................................ 367
Eduardo Oliveira Menezes ........................ 195
Béda Barkokébas ............................... 309, 571
Eduardo Thomaz ....................................... 185
Bettencourt Ribeiro .................................... 591
Eliana Monteiro ......................................... 309
Bianca Vasconcelos ................................... 571
Eliana Soldado............................................. 61
C
Elton Bauer ................................................ 277
C. Parra .............................................. 489, 601
Elvis Flores Galán ..................................... 397
C. Rodríguez ...................................... 489, 601
Emanuel Costa........................................... 591
C. Rodríguez-Puertas ................................. 119

625
Índice de Autores

Eugen Brühwiler ........................................ 517 J. Rodríguez Montero ................................ 419

Everton L. S. Mendes................................. 357 J. Sousa-Coutinho...................................... 245

F J.A. Ramos Martin .................................... 419

F. Lamas Fernández ................................... 419 J.C. Gálvez ................................................ 471

F. Martínez-Abella ..................................... 367 J.L. Pérez-Ordóñez .................................... 367

F. Puertas ........................................... 119, 129 J.L. Piqueras Sala ...................................... 419

F.J. Benito .......................................... 489, 601 J.L.Reyes-Araiza ......................................... 81

Fagner Carvalho ........................................... 99 Jarbas Bressa Dalcin .................................. 215

Filipe Ribeiro ............................................. 517 Joana Coutinho .......................................... 539

Frank Dehn .......................................... 19, 407 João Costa ................................................. 289

Joaquim Barros .......................... 439, 451, 561


G
Joaquim Figueiras ..................................... 539
G. Ramos ................................................... 387
Jorge de Brito ............................................ 259
G.F. Maciel ................................................ 319
José Luis García Calvo .............................. 267
Gemma Rodríguez de Sensale ................... 461
José Sena-Cruz .......................................... 499
Gonçalo Escusa .......................................... 499
K
H
Kaleb Batista Basílio ................................. 195
Hamidreza Salehian ................................... 439
Karoline Moraes ........................................ 205
Helen Vieira ................................................. 35
Kelvya de Vasconcelos Moreira................ 149
Helena Figueiras ........................................ 539
L
Hugo Coll, .................................................. 581
L.A. Gachet ............................................... 179
Hugo Costa .................................................. 61
L.L. Pimentel ............................................. 235
Hugo Sefrian Peinado .......................... 71, 551
Lais S. Machado ........................................ 159
I
Liberato Ferrara ........................................... 19
I. González-Taboada .................................. 367
Lino Maia .................................................... 51
I. Miñano ............................................ 489, 601
Lucas Ricardo Zanoni ............................... 195
Iliana Rodríguez Viacava ........................... 461
Lúcio Lourenço ......................................... 561
Inês Laginha ............................................... 225
Lúcio Matos........................................... 89, 99
J
Luis Eduardo Kosteski .............................. 215
J. Ángel López ................................... 341, 581 Luis García-Ballester ................................. 397
J. Ramón Gasca-Tirado ................................ 81

626
Índice de Autores

Luís Leitão ................................................. 377 P


Luís Oliveira .............................................. 561 P. Rivilla .................................................... 119
Luís Teixeira .............................................. 377 Paulo C.C. Gomes ..................................... 357
Luisa A. Gachet Barbosa ........................... 397 Paulo Fernando Soares .............................. 551
Luiz Carneiro ............................................. 185 Paulo Gomes ............................................. 205
Luiz Pereira-de-Oliveira .................... 289, 331 Paulo Helene ............................................. 309

M Paulo Lopes ............................................... 561

M. Cruz Alonso.......................................... 407 Pedro Carballosa de Miguel ...................... 267

M. Torres-Carrasco .................................... 119 Pedro F. Silva ............................................ 611

M. Valcuende ..................................... 489, 601 Pedro Serna ............................... 341, 397, 581

M.G. Alberti ............................................... 471 Pedro Silva ................................................ 259

M.M. Alonso ...................................... 119, 129 R


M.P. Barbosa...................................... 235, 319 R. Martínez-Gaitero .................................. 129
Mª Eugenia Maciá ...................................... 139 R. Mingorance Mingorance ....................... 419
Mabel Fernández ........................................ 341 R.C.C. Lintz .............................................. 179
Maléna Bastien Masse ............................... 517 R.D. Toledo Filho........................................ 45
Manuel Valcuende-Payá ............................ 397 R.S. Campos .............................................. 235
Manuel Vieira ............................................ 591 Rafael G. Pileggi ....................................... 357
Marcos Anjos ............................................. 299 Rafael Germano Dal Molin Filho .............. 551
Marcus Mendes .......................................... 277 Rafael Santos ............................................. 109
Maria T.P. Aguilar ..................................... 351 Ricardo Carmo ............................................ 61
Mário Pimentel................................... 517, 527 Ritianne da Silva ......................................... 35
Marisa Fujiko Nagano.......................... 71, 551 Roberto B. Figueiredo ............................... 351
Miguel Azenha ........................................... 377 Roberto C. de O. Romano ......................... 357
Miguel Guimarães ........................................ 51 Roberto Monteiro ...................................... 205
Miguel Nepomuceno .......................... 289, 331 Rocío Sancho............................................. 139
Miguel Pires ............................................... 439 Romel Dias Vanderlei ......................... 71, 551
Mônica Barbosa ......................................... 109 Romildo Dias Toledo Filho ....................... 429

N Rosa C. Cecche Lintz ................................ 397

Nicolas Roussel .............................................. 3 Rosa Corral ................................................ 509

627
Índice de Autores

Rosana Rolfi Netto ..................................... 461

Rui Faria .................................................... 377

Sandra Galán .............................................. 581

Sandra M.F. Teixeira ................................. 351

Sandra Nunes ..... 225, 245, 377, 517, 527, 539

Sandra Silva ............................................... 561

Sérgio C. Angulo ....................................... 357

Sergio H. P. Cavalaro................................. 481

Sidiclei Formagini ...................................... 195

Steffen Grünewald ....................................... 19

Tibério Andrade ......................................... 571

Vanessa Gaspar .......................................... 611

Vítor M.C.F. Cunha ................................... 499

W.A. Hurtado ............................................. 387

628

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