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SERMÃO

ÚLTIMO CULTO DE 2020 NA IGREJA PLENA DE ICARAÍ

TEXTO BÍBLICO: LAMENTAÇÕES 3.21


"QUERO TRAZER À MEMÓRIA O QUE PODE ME DAR
ESPERANÇA."

INTRODUÇÃO
O profeta Jeremias é uma virada na compreensão da fé. Os
profetas ainda não haviam decifrado o sofrimento como parte da
caminhada com Deus. Mas, pouco a pouco, a partir do oitavo
século a.C. foram aprendendo que a vida com Deus inclui
adversidades e desafios.

Lamentações 3 é um salmo – um hino de lamento. Este salmo era


cantado em cultos de lamento, após a catástrofe da devastação de
Israel pelos Babilônios, grande parte do povo foi levado cativo, e a
cidade e o templo ficam destruídos.

E é diante da adversidade que o texto de Jeremias nos chama a


atenção para duas palavras: MEMÓRIA e ESPERANÇA. E é o que
eu quero destacar aqui nesta noite.

EXPOSIÇÃO
Vamos a primeira palavra...

I. MEMÓRIA

Jeremias é o profeta que lidou com angústia e muito sofrimento.


Por quê?

1) Ele é o profeta que não é ouvido;


2) Profetiza, mas não vê nenhuma de suas palavras se
cumprirem;
3) É preso numa cisterna;
4) Vê o seu povo e a sua terra devastada pela babilônia, ficando
em Jerusalém e convivendo com esta cidade que estava em
ruínas; Ele poderia simplesmente recalcar, i.e., enterrar todo o
sofrimento que tinha vivido, para aliviar a sua dor. É isso que
ele faz? Não! Ele diz: “quero trazer a memória”.

Falar de memória, 2020 e o profeta Jeremias não seria


imprudente? Não! memória é vida! Ou como diria Aristóteles a
“memória é o escriba da alma”. Uma das coisas que aprendi com
a tradição judaica é que memória é passado que dá sentido ao
futuro.

Fantástico isso, não?!

Imagina se tirassem todas as suas memórias, quem você seria?


Ninguém! Pois ainda que alguém ficasse todos os dias dizendo
quem você é, isso não seria o suficiente, pois somente os
sentimentos, lembranças, memórias dos momentos vividos dão o
sentido necessário ao que se viveu. Você só é quem é, por causa
da sua memória.

O povo Hebreu tem duas palavras para ‘Memória’: Zakar, que


é uma lembrança, geralmente usado para exprimir uma atividade
intelectual como em Isaías 47.7 – “Até agora (...) não te lembraste
do seu fim”. A segunda é Zeker (Memória) – este tem um sentido
altamente teológico. Os antigos hebreus usavam este termo quando
queriam reafirmar os atos salvíficos de Deus na história, não como
um mero exercício intelectual, e sim, como meio de preservar a fé.
Os Israelitas são um povo de memória. Para eles o passado não
é um retrato velho e antigo, mas um testemunho vivo que dá força
para o futuro.

Aqui, precisamos parar e aprender como criar memórias


significativas em 2021:

1) Para construir memória significativa, é necessário construir um


AGORA significativo;
a. Na sociedade técnica, pós revolução industrial (séc.
XVIII), nós gastamos o tempo para ganhar espaço.
Fizemos do nosso tempo uma moeda.
b. Precisamos voltar as escrituras e lembrar que a primeira
coisa que Deus santificou não foi a terra, os animais, o
planeta, nem mesmo o ser humano, mas o tempo. Em
Gênesis 2.3 diz que “Abençoou Deus o sétimo dia e o
santificou, porque nele descansou de toda a obra
que realizara na criação.”
2) A memória pode ser o nosso carrasco ou o nosso professor.
Para construir uma memória significativa precisamos que ela
nos ensine e não se torne um tormento.
a. Olhar para trás pode ser um motivo de dor ou de
aprendizado.
b. Você pode encontrar no seu passado motivos para
buscar redenção ou culpa. Escolha hoje a redenção.

Que tipo de memória estamos falando? Vamos a segunda palavra.

II. ESPERANÇA
Enquanto a memória é um olhar no retrovisor, a esperança é um
olhar para frente. Podemos entender a palavra Esperança como
espera passiva, aquilo que nos acomoda. O hebraico bíblico tem
duas palavras para esperança: Tikva e Mikve. As duas vem do
verbo Kavar que significa “tecer” ou “torcer” fibras para formar um
cordão ou corda”.

A ideia é que esperança é algo que se pode segurar com as


mãos, não é coisa abstrata, vazia, mas é como tecer ou torcer fibra.

Para mim, Rubem Alves foi quem melhor exprimiu o sentido para
esta palavra no português, ele transformou o substantivo
“esperança” em verbo, “esperançar”.

Um tipo de esperança que nos faz caminhar, olhar para frente,


para o futuro. Isto é, ainda que espere, não é uma espera sem
futuro, mas uma espera de olhos abertos. Nós cristão olhamos para
o futuro de maneira otimista, porque sabemos que Deus já está lá.
Não vamos viver um futuro incerto, Deus não é um vírus cego e
sem destino, Ele é o Senhor da História.

Como podemos esperançar?


1) Esperançar não é suspensão da realidade, ela não nos
imuniza diante da vida. Esperançar é viver uma fé que não
depende de circunstâncias.
2) Esperançar não é otimismo. O otimismo pode se frustrar,
porque é baseado em esforço próprio. A nossa esperança
cristã, é uma esperança em Deus. Por isso que o apóstolo
Paulo diz que “Deus é o Deus da Esperança”.
3) Esperançar é confiar na misericórdia e bondade do Senhor;
a. Veja o que diz lamentações 3.22-25: “Graças ao
grande amor do Senhor é que não somos
consumidos, pois as suas misericórdias são
inesgotáveis. Renovam-se cada manhã; grande é a
sua fidelidade. Digo a mim mesmo: A minha porção é
o Senhor; portanto, nele porei a minha esperança. O
Senhor é bom para com aqueles cuja esperança está
nele, para com aqueles que o buscam”.

Bom... Memória e esperança... o que esse texto significa para nós


hoje?
CONCLUSÃO
Para nós a esperança é firmada no que sabemos de Deus.
Toda esperança cristã, é antes de tudo, uma esperança teológica. É
o que sabemos de Deus, que gera segurança e confiança diante do
incerto.

O problema é que nós construímos a nossa esperança a


partir da economia, política, na boa saúde, na formação intelectual,
na família e fazemos dessas coisas os ídolos funcionais do nosso
coração. Dizendo a nós mesmos: “Aqui eu estou seguro, agora
posso descansar”. Até que... vem uma pandemia e joga tudo no
chão. O que revela para nós, que construir 2021 em coisas que não
seja o Deus único e verdadeiro, é construir uma casa na areia.

O Profeta Jeremias não viu, mas 32 anos após sua morte, no


ano 538 a.C., os Judeus recebem a permissão de retornarem a
Jerusalém e reconstruir a cidade, os muros e o templo – o exílio
havia terminado.

Para construir memórias esperançosas precisamos firmar o


nosso coração em Deus, confiar e descansar n’Ele.

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