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Luiz Leonardo de Lacerda Saunders

Trabalho de Conclusão de Curso


A Tecnologia HVDC e sua sinergia com a
evolução da matriz energética brasileira

Belo Horizonte
2021
Luiz Leonardo de Lacerda Saunders

Trabalho de Conclusão de Curso


A Tecnologia HVDC e sua sinergia com a evolução da
matriz energética brasileira

Monografia apresentada em Conselho de


Curso de Graduação em Engenharia Elétrica
da Universidade Federal de Minas Gerais,
como parte dos requisitos para a obtenção do
Grau de Bacharel em Engenharia Elétrica.

Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG


Escola de Engenharia
Curso de Graduação em Engenharia Elétrica

Orientador: Prof. Glássio Costa de Miranda

Belo Horizonte
2021
Agradecimentos

Agradeço primeiramente à Universidade Federal de Minas Gerais, por oferecer um


ensino público, gratuito e de qualidade.
Aos professores Glássio Costa de Miranda, pela orientação e apoio e ao professor
Ivan Jose da Silva Lopes pela contribuição ao trabalho realizado.
Aos professores Maurilio Nunes Vieira e Maria Helena Murta Vale pelo empenho e
dedicação ao ensino ao longo do curso e pela motivação passada durante minha graduação,
extremamente importantes para que eu concluísse mais essa etapa em minha vida.
Aos colegas da Engenharia Elétrica, e ao Grêmio de Estudantes de Engenharia
Elétrica pelo auxílio ao longo do curso, companheirismo durante os momentos de descon-
tração e por todo o apoio durante as diferentes etapas da graduação.
À minha família pelo incentivo e apoio incondicional ao longo destes anos, essen-
ciais para que eu continue seguindo meus sonhos.
A todos que, de alguma forma, contribuíram com meu trajeto acadêmico nesta
longa caminhada, o meu muito obrigado.
Resumo
Este trabalho faz uma análise das características, aplicabilidades e do atual papel dos
sistemas de transmissão de energia em HVDC dentro do Sistema Interligado Nacional
levando em conta suas vantagens, desvantagens, ambientes de desenvolvimento, análise
de custos e alinhamento com as premissas vigentes dos órgãos de planejamento do setor
elétrico.

Apresenta-se aqui as topologias e configurações de sistemas HVDC mais comumente apli-


cadas a projetos de linhas de transmissão atualmente, seguida de uma análise técnica
de seus componentes e ponderações sobre seus usos frente à concorrência dos sistemas
CA. Também são analisados os aspectos construtivos das linhas HVDC identificando suas
características e ponderando sobre quais são mais valiosas dentro do contexto do sistema
elétrico brasileiro.

Seguindo as análises técnicas, é feita uma avaliação do alinhamento das tecnologias HVDC
às diretrizes de órgãos como o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), MME (Mi-
nistério de Minas e Energia) e a EPE (Empresa de Pesquisa Energética) para o futuro do
SIN (Sistema Interligado Nacional) e ao conceito de flexibilização de sistemas de energia
juntamente à análise da matriz energética brasileira. Neste contexto, são apresentados
estudos, ilustrações, tabelas e gráficos devidamente interpretados possibilitando uma ve-
rificação dos pontos levantados e análises feitas com os dados fornecidos pelos documentos
referenciados.

Palavras-chaves: HVDC, CCAT, Transmissão de energia, Corrente Contínua, SIN, Ma-


triz Energética Brasileira.
Abstract
This paper analyzes the characteristics, applicability and the current role of HVDC sys-
tems within the National Interconnected System, taking into account its advantages,
disadvantages, development environments, cost analysis and alignment with the current
premises of the planning bodies of the electricity sector .

Presented here are the topologies and configurations of HVDC systems most commonly
applied to transmission line designs today, followed by a technical analysis of their com-
ponents and considerations about their uses in relation to the competition of CA systems.
The construction aspects of the HVDC lines are also analyzed, identifying their charac-
teristics and considering which ones are most valuable within the context of the Brazilian
electrical system.

Following technical analysis, an assessment is made of the alignment of HVDC technologies


to the guidelines of bodies such as ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), MME
(Ministério de Minas e Energia) and EPE (Empresa de Pesquisa Energética) for the
future of the SIN (Sistema Interligado Nacional) and the concept of flexibility in energy
systems together with the analysis of the Brazilian energy matrix. In this context, studies,
illustrations, tables and graphs are properly interpreted, allowing for a verification of the
points raised and analyzes made with the data provided by the referenced documents.

Key-words: HVDC, Eletric Power Transmission, Direct Current.


Lista de ilustrações

Figura 2.1 – Primeiro sistema HVDC a entrar em operação – Suécia. . . . . . . . . 23


Figura 2.2 – Triângulo de potências com a representação das componentes de cor-
rente em fase 𝐼𝑝 e em quadratura 𝐼𝑞 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
Figura 2.3 – Interconexão entre dois sistemas síncronos. . . . . . . . . . . . . . . . . 26
Figura 2.4 – Diagrama de fasores da interconexão da Figura 3. . . . . . . . . . . . . 26
Figura 2.5 – Diagrama típico de um sistema HVDC LCC . . . . . . . . . . . . . . . 28
Figura 2.6 – Diagrama típico de um sistema HVDC VSC . . . . . . . . . . . . . . . 30
Figura 2.7 – Diagrama típico de um sistema HVDC CMM . . . . . . . . . . . . . . 31
Figura 2.8 – Diagrama simplificado de uma conexão HVDC Back-to-Back . . . . . . 32
Figura 2.9 – Design de um elo CC Monopolar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
Figura 2.10–Design de um elo CC Bipolar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
Figura 2.11–Design de um elo CC Homopolar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
Figura 2.12–Comparação de um elo bipolar CC com um sistema de transmissão CA
com circuito duplo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
Figura 4.1 – Comparação entre torres de um sistema de transmissão em HVAC e
HVDC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
Figura 4.2 – Parcelas do custo total de uma linha de transmissão . . . . . . . . . . . 44
Figura 4.3 – Distribuição de custos de um sistema HVDC . . . . . . . . . . . . . . . 46
Figura 4.4 – Perdas na Transmissão x Distância de transmissão para HVAC e HVDC 47
Figura 4.5 – Comparação Custo x Distância entre HVDC e HVAC . . . . . . . . . . 48
Figura 5.1 – LT’s existentes e planejadas no Brasil - Horizonte 2024 . . . . . . . . . 51
Figura 5.2 – Sistemas HVDC no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
Figura 5.3 – Conexão de Itaipu ao SIN . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
Figura 5.4 – Potencial brasileiro para geração de energia solar e eólica . . . . . . . . 57
Figura 5.5 – Previsão da evolução da composição da capacidade total instalada de
geração de energia por fonte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
Figura 5.6 – Evolução da capacidade média de importação/exportação total dos
subsistemas do SIN . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
Lista de tabelas

Tabela 4.1 – Perdas típicas nas estações conversoras dos terminais HVDC . . . . . . 45
Tabela 5.1 – Performance do sistema HVAC 765kV de Itaipu . . . . . . . . . . . . . 54
Tabela 5.2 – Performance do sistema HVDC ±600kV de Itaipu . . . . . . . . . . . . 55
Lista de abreviaturas e siglas

HVDC High Voltage Direct Current

HVAC High Voltage Alternating Current

SIN Sistema Interligado Nacional

EPE Empresa de Pesquisa Energética

MME Ministério de Minas e Energia

GD Geração Distribuída

UHE Usina Hidrelétrica

PDE Plano Decenal de Expansão da Energia

LT Linha de Transmissão

CA Corrente Alternada

CC Corrente Contínua

PNE Plano Nacional de Energia

IGBT Insulated-gate bipolar transistor

GTO Gate turn-off thyristor

VSC Voltage Source Converter

rms root mean square

CCAT Corrente Contínua em Alta Tensão

LCC Line Commutated Converter

CMM Conversor Multinível Modular

IGCT Integrated Gate-Commutated Thyristor

STATCOM Static Synchonous Compensator

FDS Flexible Distribution Systems

SUDENE Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste

Proinfa Programa de Incentivo às Fontes Alternativas

ONS Operador Nacional do Sistema Elétrico


Lista de símbolos

𝑊 Watt - Unidade de potência ativa

𝑉𝐴 Volt-Ampère - Unidade de potência aparente

𝑉 𝑎𝑟 Volt-Ampère reativo - Unidade de potência reativa

𝑉 Volt - Unidade de tensão

𝐻𝑧 Hertz - Unidade de frequência

𝐴 Ampère - Unidade de corrente

𝑚 Metro - Unidade de comprimento


Sumário

1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
1.1 Considerações Gerais e Importância do Trabalho . . . . . . . . . . . 19
1.2 Objetivos Específicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
1.3 Organização do texto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

2 ASPECTOS GERAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.1 O histórico da transmissão de energia elétrica a corrente contínua . 22
2.2 A transferência de potência elétrica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
2.2.1 O triângulo de potências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
2.2.2 A transferência de potência entre fontes ativas . . . . . . . . . . . . . . . 26
2.3 As tecnologias HVDC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
2.3.1 Sistemas LCC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
2.3.2 Sistemas VSC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
2.3.3 Sistemas CMM . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
2.4 As topologias de um sistema HVDC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
2.4.1 Estações HVDC Back-to-Back . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
2.4.2 Configurações dos elos CC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
2.4.2.1 Link Monopolar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
2.4.2.2 Link Bipolar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
2.4.2.3 Link Homopolar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
2.5 Vantagens dos sistemas HVDC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
2.6 As desvantagens dos sistemas HVDC . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

3 METODOLOGIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

4 ESTUDOS E ANÁLISES DOS SISTEMAS HVDC . . . . . . . . . . 41


4.1 Aspectos construtivos de linhas HVDC . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
4.1.1 Os condutores aéreos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
4.1.2 Torres de transmissão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
4.2 Desempenho dos sistemas HVDC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
4.2.1 Perdas nos sistemas HVDC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
4.2.2 Avaliação dos Custos Globais do Sistema HVDC . . . . . . . . . . . . . . . 46
4.3 HVDC vs HVAC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
4.4 A importância da flexibilidade da rede elétrica . . . . . . . . . . . . . 49

5 O HVDC NO BRASIL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
5.1 O desempenho do sistema de Itaipu . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
5.2 Energias renováveis e o impacto da filosofia de Geração Distribuída 56
5.3 A modelagem do SIN e sua sinergia com as tecnologias HVDC . . . 58

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
6.1 Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
6.2 Trabalhos Futuros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62

REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
19

1 Introdução

1.1 Considerações Gerais e Importância do Trabalho

O uso da tecnologia HVDC (High Voltage Direct Current) para transmissão de


energia elétrica expandiu-se aceleradamente a partir de 2008 quando partindo de 90 pro-
jetos e uma capacidade total de transmissão de 70.000MW observamos um salto para 228
projetos em operação ou construção, correspondendo a uma capacidade total de trans-
missão de 317.717 MW até 2014 (Comitê de Transmissão e Distribuição - IEEE, 2012).
Em menos de 10 anos, a capacidade de transporte de energia envolvendo o sistema HVDC
mais que triplicou e isso mostra que esta tecnologia está voltando a ser viável dentro das
necessidades atuais graças ao avanço das tecnologias e da pesquisa em torno desta técnica.
No Brasil o crescimento do uso desta tecnologia decorre de empreendimentos de
geração de energia elétrica, tais como as usinas hidroelétricas (UHE) do Rio Madeira,
Santo Antônio e Jirau, e a UHE Belo Monte, sendo aí possível observar um alinhamento
da tecnologia HVDC com a atual matriz energética brasileira predominantemente hídrica.
Faz-se considerações sobre os sistemas de transmissão em corrente contínua utilizados
como alternativa aos sistemas de transmissão em corrente alternada, devido a uma de
suas principais características, que é a de possibilitar a transmissão de grandes blocos de
energia através de grandes distâncias reduzindo a um mínimo a preocupação e os gastos
com a compensação de reativos nas linhas de transmissão. Em um país como o Brasil com
dimensões continentais e produção de energia concentrada em grandes centros de geração
de energia hidrelétrica é de se esperar que vantagens na transmissão a longas distâncias
atraiam a atenção de investidores e planejadores do SIN.
Desafios são adicionados ao cenário nacional quando paralelamente ao crescimento
do uso do HVDC, atualmente observamos o crescimento exponencial do conceito e dos
investimentos em Geração Distribuída da Energia (GD), que é a geração elétrica realizada
junto ou próxima do(s) consumidor(es) independente da potência, tecnologia e fonte de
energia. Neste modelo a fonte geradora de energia muitas vezes é conectada diretamente
ao sistema de distribuição, o que por sua vez descarta a necessidade de longos sistemas
de transmissão de energia. Tal adição representa um ganho na diversificação da malha
energética brasileira no entanto representa um desafio por aumentar a complexidade do
SIN.
20 Capítulo 1. Introdução

1.2 Objetivos Específicos


O foco deste trabalho é o estudo e análise da adequação da tecnologia HVDC
dentro do contexto energético brasileiro colocando em perspectiva o futuro da tecnologia
HVDC frente as filosofias atuais de geração e transmissão de energia. As análises aqui
apresentadas visam tornar claras as vantagens e demais características das tecnologias
HVDC que justificam a sua exploração como alternativa para a construção de linhas de
transmissão no país, este que está dentro da esfera de influência do avanço das tecnologias
HVAC e também segue, nos tempos atuais, vivendo um período de incentivo em fontes
de energias renováveis que se alinham à modelos de geração distribuída, tais como a solar
e a eólica.

1.3 Organização do texto


O documento se encontra dividido em 6 capítulos, incluindo este, da seguinte
forma:
O primeiro capítulo apresenta uma contextualização e uma breve introdução do
tema, mostrando o objetivo geral do trabalho e seus objetivos específicos.
No segundo capítulo, apresenta-se uma contextualização a respeito dos sistemas
HVDC e uma breve apresentação de suas características, contando com uma revisão bi-
bliográfica que é base fundamental para o entendimento dos estudos aqui abordados.
O terceiro capítulo retrata a metodologia utilizada no trabalho, indicando os pro-
cedimentos, as normas e as premissas usadas para o estudo do tema proposto.
O quarto capítulo exibe o desenvolvimento dos resultados da pesquisa com base
nas características técnicas dos sistemas HVDC, avaliando seu desempenho e ambientes
de desenvolvimento. Ao fim aqui comparamos o desempenho dos sistemas HVDC com o
de HVAC para a transmissão de energia elétrica.
O quinto capítulo consiste na avaliação do uso da tecnologia HVDC no Brasil
observando a sua integração ao SIN, apresentando o cenário atual e as expansões previstas
pelos órgãos do setor de energia. Também é trago um estudo de caso sobre o desempenho
dos sistemas de transmissão em corrente alternada e corrente contínua de Itaipu. Neste
estudo é realizado um breve comparativo que nos ajuda a compreender o sucesso das
tecnologias de transmissão em HVDC.
Por fim, o sexto capítulo apresenta as conclusões obtidas após a finalização do
trabalho com ponderações de trabalhos futuros.
21

2 Aspectos Gerais

Dada a idade da tecnologia HVDC, contamos hoje com uma boa quantidade de es-
tudos direcionados ao tema, nos fornecendo uma rica gama de informações sobre o mesmo
que se encontram em constante atualização frente à utilização dos sistemas de transmis-
são de potência via HVDC que gera demanda pela pesquisa e desenvolvimento do campo.
Apesar dessa base científica gradualmente construída, o autor deste trabalho identificou
uma lacuna na academia no que tange as análises de aplicabilidade da transmissão de
energia em HVDC se levando em consideração o planejamento elétrico no Brasil.
O planejamento da expansão do sistema elétrico é uma etapa essencial para o de-
senvolvimento e operação de um sistema elétrico e, como esperado, este fato segue válido
para o SIN. Por consequência, empresas e órgãos do setor elétrico brasileiro como a EPE,
e o MME investem tempo, esforço e dinheiro em pesquisas e análises que fomentam o
planejamento elétrico. Os resultados destes esforços são registrado em diversos relatórios
que pautam as políticas energéticas nacionais, sendo que muitos destes relatórios são dis-
poníveis ao público, e aqui orientarão algumas análises deste trabalho como por exemplo,
o PDE 2030 (Plano Decenal de Expansão da Energia) e o PNE 2030 (Plano Nacional de
Energia) (EPE; MME, 2021).
A comunicação dos conhecimentos citados com a academia será feita aqui aplicando
as diretrizes do planejamento energético em estudos técnico-econômicos da utilização de
linhas de transmissão em corrente contínua e alta tensão e estudos comparativos entre a
transmissão de potência em corrente contínua e corrente alternada.
Estudos comparativos nos fornecem uma base para compreender as vantagens téc-
nicas dos sistemas de transmissão de potência em HVDC tal qual suas limitações. A
capacidade de transmissão de potência entre dois sistemas AC de frequências diferentes
representa uma vantagem das redes DC tal qual a maior capacidade de realização do con-
trole digital do fluxo de potência. “Através de rápida modulação no processo de conversão,
a transmissão DC pode ser usada para amortecer oscilações da rede AC e então melhorar
a estabilidade do sistema” (Sato (2013)). Também é conhecido que parâmetros capaciti-
vos e indutivos não limitam a capacidade de transporte de energia ou o comprimento de
linhas de transmissão DC, sendo estas mais adequadas para transmissão de energia em
longas distâncias. Aqui já é possível notar a adequação das LT’s HVDC ao SIN dadas
as proporções continentais do Brasil e a necessidade de grandes troncos de transmissão
responsáveis por conectar subsistemas em regiões opostas do país.
Alinhados à comparação das tecnologias HVDC, encontramos também estudos de
caso que trazem para junto dos aspectos técnicos da transmissão de energia CC, estudos
22 Capítulo 2. Aspectos Gerais

financeiros e dos impactos ambientais de linhas de transmissão reais como por exemplo a
“Avaliação da Operação do Sistema HVDC de Interligação do Complexo do Rio Madeira
à Região Sul do Sistema Elétrico Brasileiro” (Oliveira (2015)). Além do caráter mais
prático de tais estudos fornecendo uma base de dados satisfatoriamente confiável para a
realização de projeções, sua síntese também é especialmente importante por trazer à luz
algumas aproximações fidedignas das especificações físicas dos componentes dos sistemas
de transmissão HVDC, algo raro em um meio onde muitas vezes os detalhes construtivos
das LT’s se encontram protegidos por serem propriedade intelectual de empresas do setor
elétrico.

2.1 O histórico da transmissão de energia elétrica a corrente con-


tínua
Partindo do conceito de que a transmissão de energia é o transporte da mesma
de um ponto de geração até o centro consumidor, com o passar do tempo, temos em
vista diferentes níveis das grandezas que envolvem este fenômeno. Assim, inicia-se uma
descrição histórica com início no século XIX onde pode-se identificar diversos fatores que
explicam o uso e o posterior desuso dessa tecnologia.
O uso dos sistemas de transmissão de energia elétrica em corrente contínua iniciou-
se com Thomas Edison em 1882, onde a primeira subestação de energia elétrica do mundo
foi construída. Localizada na Pearl Street em Nova York, onde era fornecido uma tensão
de 110 V que supria a demanda de 59 clientes em um raio de aproximadamente 1,6 Km,
utilizava-se máquinas a vapor para atender a um gerador CC. Contudo, existia uma difi-
culdade em manipular a tensão, além dos altos níveis de perdas que fizeram com que essa
tecnologia ficasse limitada no quesito distância entre a geração e o centro consumidor. Os
comutadores e geradores de motores CC, somados aos requisitos de manutenção impu-
nham limitações na tensão, velocidade e tamanho dessas máquinas (ANDRADE; LEÃO,
2012).
Partindo deste pressuposto, Nikola Tesla em parceria com George Westinghouse
desenvolveram uma nova tecnologia que utiliza a corrente alternada (CA) e juntamente
com o transformador, o motor de indução e os circuitos polifásicos marcaram o início de
uma nova era. Desta forma, foi possível implantar sistemas elétricos de potência em CA,
sendo que o transformador por ser robusto, simples e eficiente permitiu o uso de diferentes
níveis de tensão desde a geração até a distribuição de energia. Os motores de indução,
por serem simples e relativamente baratos foram de perfeito encaixe nas indústrias e
residências. Já o sistema polifásico foi importante para evitar pulsos de potência, com
isso, o movimento do motor de indução é suavizado. O sistema CA se mostrou mais
vantajoso por essas e outras diversas razões, e essa competição entre os sistemas CC e
2.1. O histórico da transmissão de energia elétrica a corrente contínua 23

Figura 2.1 – Primeiro sistema HVDC a entrar em operação – Suécia.

Fonte: ABB (2016)

CA foi chamado de "Guerra das Correntes".


No final do século 19, os sistemas CC foram superados e sua utilização ficou cada
vez mais escassa. Assim, os sistemas CA se provaram mais eficientes e viáveis, e desta
forma, desde aquela época a vitória dos sistemas CA resultou em sua aplicação para
geração, transmissão e distribuição de energia elétrica no mundo inteiro.
Conforme o tempo avançou, os engenheiros no entanto não se esqueceram dos
princípios de funcionamento das tecnologias de CC dado que suas limitações partiam
principalmente das limitações tecnológicas da época de sua concepção. Em 1930, após
o desenvolvimento das válvulas a arco de mercúrio, um sistema HVDC foi comissionado
em Berlim, mas nunca entrou em operação devido às consequências do final da Segunda
Guerra Mundial. O primeiro sistema a realmente entrar em operação foi uma ligação
entre a costa da Suécia e uma ilha situada a aproximadamente 90 Km à seu leste (vide
Figura 1). Baseado em conversores a arco de mercúrio e cabos submarinos, essa tecnologia
foi adotada em outros lugares como Sardenha — Itália em 1967, em uma LT (Linha de
Transmissão) de longa distância Pacific Intertie - EUA em 1970 e em 1973 no Canadá. O
retificador a arco de mercúrio foi utilizado para a transmissão de sistemas de potência e
processos industriais entre 1930 e 1975, até que foi superada pelas válvulas de tiristores.
O início do desenvolvimento dos tiristores foi marcado pelo primeiro sistema HVDC back-
to-back em El River, no Canadá. Essa tecnologia dominou o mercado durante os anos de
1975 até o ano 2000. (ONO, 2019)
Com o desenvolvimento dos semicondutores para a eletrônica de potência, os cha-
24 Capítulo 2. Aspectos Gerais

mados IGBTs (Insulated-gate bipolar transistor), GTOs (Gate turn-off thyristor), os con-
versores fonte de tensão (VSC — Voltage Source Converter) têm alcançado altos níveis
de suportabilidade de tensão e corrente e hoje são as tecnologias mais utilizadas.

2.2 A transferência de potência elétrica

2.2.1 O triângulo de potências


Transformadores, geradores e linhas de transmissão são elementos predominan-
temente indutivos e a maioria das cargas também possui um componente indutivo. A
presença de indutância atrasa a resposta desses componentes para a variação de tensão
entre eles, e este efeito causa mudanças de fase entre as formas de onda de tensão e
corrente que afetam a eficiência do processo de transporte de energia.
A potência instantânea (𝑝) de determinado sistema é o produto dos valores instan-
tâneos de tensão (𝑣) e corrente (𝑖) em seus terminais (𝑝 = 𝑣𝑖). A integração da variação
da potência instantânea durante um ciclo completo dividida pelo período de repetição,
i.e.

1 ∫︁ 𝑡+𝑇
)︂
(︂
𝑃 = 𝑝 𝑑𝑡 (2.1)
𝑇 𝑡

nos fornece a potência média, também denominada potência ativa. Se ambas a


tensão e corrente variam sinusoidalmente na mesma frequência, em termos de rms (root
mean square) da tensão (𝑉 ) e corrente (𝐼), a potência ativa pode ser expressa por:

𝑃 = 𝑉 𝐼𝑐𝑜𝑠(𝜑) [𝑉 ] (2.2)

onde𝜑 é o ângulo de fase entre a tensão e corrente.


Como os valores rms são sempre positivos, o produto VI (referido como volt-ampere
ou potência aparente), não dá nenhuma indicação do sinal de potência ativa. É o sinal de
cos(𝜑) (o fator de potência) que determina se o componente do circuito está gerando ou
absorvendo potência.
Na Figura 2.2, usando a tensão como referência do ângulo de fase e considerando
as componentes de corrente em fase (𝐼𝑝 ) e em quadratura (𝐼𝑞 ), o produto de 𝑉 e 𝐼𝑝 é a
potência ativa (P) enquanto o produto de 𝑉 e a componente em quadratura 𝐼𝑝 é chamada
de potência reativa.

𝑄 = 𝑉 𝐼𝑠𝑒𝑛(𝜑) [𝑉 𝑎𝑟] (2.3)


2.2. A transferência de potência elétrica 25

Figura 2.2 – Triângulo de potências com a representação das componentes de corrente em


fase 𝐼𝑝 e em quadratura 𝐼𝑞 .

Fonte: Arrillaga, Liu e Watson (2007)

A potência reativa é necessária para estabelecer os campos magnético e eletrostá-


tico, que são temporariamente armazenados e, em seguida, liberados (ou seja, consiste em
regiões positivas e negativas dentro do ciclo). Na verdade, a energia associada à potência
reativa oscila entre o elemento e o resto do circuito (à taxa de duas reversões por pe-
ríodo). Embora a potência reativa tenha um valor médio zero, ainda representa a energia
recíproca real que deve estar presente em virtude da indutância ou capacitância da rede.
Quando a diferença de ângulo de fase (𝜑) na equação (2.3) se encontra entre 0 e
𝜋, 𝑠𝑒𝑛(𝜑) é positivo e assim é dito que o circuito está consumindo potência reativa (Q).
Da mesma forma, quando a diferença de ângulo de fase 𝜑 na equação (2.3) se encontra
entre 𝜋 e 2𝜋, 𝑠𝑒𝑛(𝜑) é negativo e assim é dito que o circuito está fornecendo potência
reativa (Q) ao sistema. A convenção utilizada é de que quando Q é negativo, a corrente
se encontra atrasada em relação à tensão e quando Q é positivo a corrente está adiantada
em relação à tensão.
Somando o quadrado das expressões 2.2 e 2.3 obtemos a expressão para a potência
aparente (S) do sistema que é dada também pela multiplicação dos valores rms de corrente
e tensão do circuito.

𝑆 = 𝑉 𝐼 = (𝑉 𝐼𝑐𝑜𝑠(𝜑))2 + (𝑠𝑒𝑛(𝜑))2 [𝑉 𝐴] (2.4)

Por fim no triângulo das potências temos que a potência ativa (P) é representada
pelo cateto adjacente, a potência reativa (Q) é representada pelo cateto oposto e a potência
aparente (S) é representada pela hipotenusa do triângulo, sendo 𝜑 o ângulo de fase entre
tensão e corrente.
26 Capítulo 2. Aspectos Gerais

2.2.2 A transferência de potência entre fontes ativas

Figura 2.3 – Interconexão entre dois sistemas síncronos.

Fonte: Arrillaga, Liu e Watson (2007)

Podemos observar na Figura 2.3 um diagrama de uma uma linha puramente in-
dutiva interconectando duas fontes de tensão ideal 𝑉1 e 𝑉2 , que podem ser geradores ou
nós de um sistema síncrono. O diagrama de fasores observado na Figura 2.4 representa a
condição de operação quando a tensão no terminal 1 está adiantada em relação à tensão
no terminal 2 por um ângulo de 𝛿 (dito ângulo de potência), e a corrente no terminal
2 está atrasada em relação à tensão 𝑉2 por um ângulo de 𝜔 (dito ângulo do fator de
potência). Usando a tensão do terminal 2 como referência de fase, as expressões a seguir
derivam do diagrama de fasores da Figura 2.4.

𝐼2 𝑋𝑐𝑜𝑠(𝜔) = 𝑉1 𝑠𝑒𝑛(𝜃)
(2.5)
𝐼2 𝑋𝑠𝑒𝑛(𝜔) = 𝑉1 𝑐𝑜𝑠(𝜃) − 𝑉2

Figura 2.4 – Diagrama de fasores da interconexão da Figura 3.

Fonte: (ARRILLAGA; LIU; WATSON, 2007)

Partindo das equações 2.5 as equações de transferência das potências ativa e reativa
se tornam:

𝑉1 𝑉2 𝑠𝑒𝑛(𝛿)
𝑃 = 𝑉2 𝐼2 𝑐𝑜𝑠(𝜃) = (2.6)
𝑋

𝑉2 (𝑉1 𝑠𝑒𝑛(𝛿) − 𝑉2 )
𝑄 = 𝑉2 𝐼2 𝑠𝑒𝑛(𝜃) = (2.7)
𝑋
2.3. As tecnologias HVDC 27

Assim, para controlar a transferência de potência ativa ou reativa, é necessário


variar um ou mais das quatro variáveis 𝑉1 , 𝑉2 , 𝛿 e 𝑋 nas Equações 2.6 e 2.7. A amplitude
e fase da tensão gerada pode ser regulada pela turbina e pela excitação do gerador, no
entanto, do ponto de vista de transmissão de energia, o controle de geração é lentos e
ineficiente. O controle lento impõe uma restrição de transmissão de energia no ponto de
operação em estado estacionário, já que o ângulo de potência (𝛿) na Equação 2.6 deve ser
mantido baixo a fim de preservar a estabilidade da transmissão após grandes distúrbios.
Outro fator importante é a relativamente alta exigência de potência reativa (2.7) que
tende a sobrecarregar desnecessariamente sistemas de geração e transmissão.

2.3 As tecnologias HVDC


As tecnologias HVDC são utilizada principalmente para se transmitir energia elé-
trica através de longas distâncias por cabo ou linhas áereas e para interligar sistemas
assíncronos ou síncronos que apresentem oscilações da frequência nominal (o que carac-
teriza tipicamente redes mais fracas ou instáveis). Para a construção de sistemas HVDC,
existem várias topologias de conversores capazes de competentemente transformar energia
em corrente alternada para corrente contínua. Dentre estes estes conversores há os do tipo
fonte de tensão e os do tipo fonte de corrente. Logo abaixo as topologias destes sistemas
mais usuais são descritas brevemente.

2.3.1 Sistemas LCC


Como já citado na seção 2.2 deste trabalho, a transmissão em corrente contínua
é desenvolvida e utilizada desde meados do século XX, quando os dispositivos semicon-
dutores de alta potência viabilizaram este tipo de aplicação. A partir daí, o sistema mais
largamente utilizado para a transmissão a corrente contínua em alta tensão (também
muito comumente denominada CCAT ao invés do termo em inglês HVDC), é baseado
em tiristores, com os conversores LCC (Line Commutated Converter). Tal nomenclatura
deriva das características das chaves utilizadas, que disparam com um sinal quando a po-
laridade da tensão entre o ânodo e o cátodo é positiva, ao passo que entra em corte quando
a corrente passa por zero. Sendo assim o disparo do tiristor depende da tensão da rede.
Isso faz com que esse tipo de conversor seja dependente também de redes "fortes"(mais
robustas e estáveis). (KIM et al., 2009)
No Brasil os maiores exemplos de transmissão em corrente contínua utilizando
LCC são as linhas de Itaipu, que interliga a usina em Foz do Iguaçu com a estação de
Ibiúna em São Paulo, e a linha de transmissão do Projeto do Rio Madeira, que interliga as
usinas de Santo Antônio de Jirau, em Porto Velho à estação de Araraquara em São Paulo.
Ambas foram projetadas com bipolos de ±600kV e possuem a capacidade de transmissão
28 Capítulo 2. Aspectos Gerais

de 3150 MW por bipolo segundo (ITAIPU, 2014) e EPE (2020).


A Figura 2.5 apresenta um diagrama simplificado típico de um sistema baseado
em LCC. Para a conexão dos sistemas 1 e 2, são adotados filtros CA em ambos os lados
que atenuam significativamente os harmônicos criados no chaveamento e geram parte da
potência reativa consumida pelos conversores. Para a configuração em conexão de dois
conversores com transformadores de três enrolamentos, obtêm-se um conversor de 12 pul-
sos responsável por prover mais níveis à tensão CA, reduzindo o conteúdo de harmônicos
de baixa ordem.

Figura 2.5 – Diagrama típico de um sistema HVDC LCC

Fonte: Ferreira (2014)

Neste tipo de sistema, a corrente CC é unidirecional. O sentido do fluxo de potência


é modificado através da inversão na polaridade da tensão do elo CC. Conversores do tipo
LCC possuem uma grande robustez contra falhas na linha de corrente contínua, uma
vez que operam como fonte de corrente com capacidade rápida de interrupção. Também
é válido lembrar que a capacidade de condução de corrente de tiristores ainda é muito
maior do que a de outros tipos de chave autocomutadas como os IGBT, o que acaba por
aumentar os limites de potência transmitida por este tipo de sistema.

2.3.2 Sistemas VSC


Os VSC são conversores do tipo fonte de tensão compostos basicamente por chaves
autocomutadas, como os IGBT’s ou IGCT’s (Integrated Gate-Commutated Thyristor).
Neste caso, o chaveamento do dispositivo semicondutor é feito por sinais de controle
externos e independentes da rede, o que permite que um sistema VSC conecte sistemas
ditos "fracos"ou que possuam um de seus lados passivo. Quando comparado com o LCC
podem-se citar algumas vantagens e desvantagens dos sistemas VSC:
2.3. As tecnologias HVDC 29

1. Vantagens:

• esse tipo de conversor pode atuar em redes fracas como de fontes alternativas
de energia ou até mesmo em redes sem fontes;
• o controle do VSC evita que haja sobrecorrentes diante de afundamentos de
tensão provocadas por faltas no sistema CA;
• não há limites mínimos de corrente para que o controle funcione normalmente;
• é possível controlar a potência ativa e reativa na transmissão, de forma inde-
pendente para cada extremidade do sistema, desde que respeitando os limites
do conversor;
• filtros passivos são capazes de controlar os harmônicos do lado CA que são de
ordens maiores;
• o espaço ocupado por estações VSC tende a ser menor do que estações LCC,
uma vez que os filtros para alta frequência são menores;

2. Desvantagens:

• as perdas no VSC são maiores que no LCC devido à maior frequência de


chaveamento;
• sua capacidade máxima de transmissão é consideravelmente menor;
• Em caso de ocorrência de curto-circuito no lado CC, é necessário abrir os dis-
juntores do lado CA para extingui-lo uma vez que os diodos em anti-paralelo
das chaves continuam conduzindo corrente, ainda que os IGBTs estejam blo-
queados (Por outro lado, caso a conexão seja feita através de uma ponte de
tiristores, haverá atuação dos mesmos no sentido de extinguir o curto por meio
da atuação do controle e proteção nas válvulas);
• sistemas VSC possuem custo mais elevado.

Este tipo de conversor tem ganhado espaço nos últimos anos graças ao avanço das
tecnologias de fontes alternativas e a necessidade de conectá-las à rede de energia. Dois
exemplos de sistemas HVDC utilizando tecnologia VSC, apresentada na Figura 2.6 podem
ser encontrados em Konstantinou e Agelidis (2009) que menciona o sistema de Gotland
HVDC Light, na Suécia, em que são transmitidos 50MW por 70km a 80kV em cada polo
para se conectar uma geração eólica offshore por cabos submarinos; e o Caprivi Link, na
Namíbia, onde são transmitidos 300MW por uma linha de 970km a 350kV responsáveis
por conectar duas redes fracas por meio de linhas aéreas.
Assim como nos sistemas LCC, o uso de filtros CA nesta configuração é essencial
para a filtragem de harmônicos. A diferença é que para o sistema VSC, os filtros são para
harmônicos de alta ordem, sendo estes para as frequências de chaveamento, em geral,
30 Capítulo 2. Aspectos Gerais

Figura 2.6 – Diagrama típico de um sistema HVDC VSC

Fonte: Ferreira (2014)

de 21 vezes a frequência da rede, enquanto os filtros encontrados nos sistemas LCC são
sintonizados para o 11º e 13º harmônicos mais um passa-alta.

2.3.3 Sistemas CMM


O conversor em cascata de submódulos em ponte completa é apresentado em Peng
et al. (1995) com a aplicação voltada à instalação para a derivação com a rede, como
um STATCOM (Static Synchronous Compensator). Em Lesnicar e Marquardt (2003),
nasce o CMM (Conversor Multinível Modular) com submódulos em meia ponte próprios
para sistemas HVDC. Essa nova topologia foi desenvolvida buscando unir as principais
vantagens do VSC com a maior capacidade de transmissão de potência do LCC. A par-
tir de certa quantidade de níveis, verifica-se que o CMM pode operar sem filtros CA e
transformadores, o que representa uma redução no tamanho e custo de tais sistemas, o
que motiva estudos desta topologia. Partindo destas observações, tem-se que as principais
vantagens da topologia CMM frente ao VSC são (GEMMELL et al., 2008):

• menores perdas por chaveamento;

• tensões com menos conteúdo harmônico e maior capacidade de transmissão;

• por sua característica modular, a manutenção é facilitada devido ao uso de submó-


dulos redundantes montados para entrar em operação sempre que um submódulo
qualquer do sistema é danificado.

A principal desvantagem desta topologia são os custos do conversor com uma maior
quantidade de chaves, que é significativamente maior e contrapõe a economia feita com a
ausência de filtros.
Quando comparado ao LCC, a topologia CMM possui o mesmo conjunto de vanta-
gens que o VSC apresenta em sistemas de transmissão de corrente contínua. Entretanto,
o CMM padece do mesmo problema da incapacidade de bloquear curtos-circuitos no lado
2.4. As topologias de um sistema HVDC 31

CC dos conversores do tipo fonte de tensão de 2 ou 3 níveis, resultando na necessidade


do uso de cabos blindados, encarecendo a realização do sistema. Por fim, o CMM tam-
bém carece de aplicações da ordem de mais de 1000MW para rivalizar em capacidade de
transmissão com o LCC.

Figura 2.7 – Diagrama típico de um sistema HVDC CMM

Fonte: Ferreira (2014)

Na Figura 2.7 é apresentado o diagrama simplificado de um sistema CMM sem


transformador e filtros. É importante lembrar que a simplicidade desse sistema contrasta
com a complexidade dos conversores utilizados nesta topologia, compostos por uma grande
quantidade de submódulos com chaves e capacitores.

2.4 As topologias de um sistema HVDC

2.4.1 Estações HVDC Back-to-Back


Estações conversoras Back-to-Back são utilizadas quando há a necessidade da co-
nexão de uma ou mais redes ou sistemas de energia vizinhos assíncronos entre si ou que
possuem um elo muito fraco devido a diversos fatores como frequência e níveis de tensão e
potência incompatíveis. Com um link HVDC back-to-back, os dois sistemas de transmis-
são vizinhos independentes com frequências elétricas incompatíveis, níveis de energia de
curto-circuito excedentes ou com diferentes filosofias operacionais são conectados. O reti-
ficador (conversão de CA em CC) e o inversor (conversão de CC em CA) estão na mesma
estação conversora, conhecida como back-to-back. Os links HVDC são usados para melho-
rar os links CA fracos, transmitindo grandes quantidades de potência ativa e facilitando
o controle rápido do fluxo de energia, especialmente quando as redes existentes atingiram
o limite de sua capacidade de curto-circuito.
Conforme pode ser visto na Figura 2.8, a energia dos dois sistemas vizinhos é
primeiro coletada em um terminal AC inicial e convertida em CC com a ajuda do sistema
retificador de potência. Após a soma, a potência resultante é novamente convertida, desta
vez em CA, através do sistema inversor de potência do outro lado do link CC sendo
fornecida à rede conectada no terminal final.
32 Capítulo 2. Aspectos Gerais

Figura 2.8 – Diagrama simplificado de uma conexão HVDC Back-to-Back

Fonte: Adaptado de Electrical4u (2019, p.02)

Tal conexão é denominada de sistema back-to-back pois este é o nome designado a


um par de componentes bipolares que são conectados em série com polaridade oposta no
âmbito de eletrônica e eletrônica de potência. Aqui temos funcionando da mesma forma
o sistema retificador e o sistema inversor que são conectados em série operando em alta
tensão CC, daí a aplicação do termo back-to-back para este sistema.

2.4.2 Configurações dos elos CC


Os elos HVDC (também comumente referidos como links) são classificados em três
tipos que carregam consigo pontos fortes e fracos ao constituírem LT’s: O elo monopolar
conecta duas estações conversoras por meio de uma única linha condutora podendo ser por
terra ou mar. O bipolar, onde duas estações conversoras são conectadas por condutores
bipolares (±) e cada condutor tem seu próprio aterramento. O homopolar constituído por
dois conectores de mesma polaridade. Uma melhor apreciação dessas configurações segue
abaixo.

2.4.2.1 Link Monopolar

O elo monopolar (Figura 2.9) possui apenas um condutor e o caminho de retorno


é fornecido por terra ou mar. Segundo Eltamaly e Elghaffar (2017) esse tipo de linha de
transmissão normalmente opera com polaridade negativa em relação à terra, de modo
a reduzir a perda do efeito corona e a interferência de radiofrequência. Os eletrodos de
aterramento são projetados para operação de corrente contínua nominal e para qualquer
capacidade de sobrecarga necessária no caso específico e costumam ser fixados a cerca
de 15 a 55km da subestação. O caminho de retorno à terra possui baixa resistência e,
portanto, baixa perda de energia em comparação com um condutor de linha metálico de
tamanho e comprimento igual, desde que os eletrodos de aterramento sejam adequados.
Eltamaly e Elghaffar (2017) também enfatizam que o retorno ao solo é questionável
apenas quando estruturas metálicas enterradas (como tubos) estão presentes e estão sujei-
2.4. As topologias de um sistema HVDC 33

Figura 2.9 – Design de um elo CC Monopolar

Fonte: ELECTRONICSHUB (2015)

tas à corrosão pelo fluxo de corrente CC, reforçando que a transmissão HVDC no sistema
monopolar foi usado apenas para baixa potência e principalmente para transmissão por
cabo e em alguns casos as linhas monopolares instaladas anteriormente são convertidas
em sistemas bipolares, adicionando pólos de subestação e pólos de transmissão adicionais.

2.4.2.2 Link Bipolar

Figura 2.10 – Design de um elo CC Bipolar

Fonte: ELECTRONICSHUB (2015)

Um elo bipolar tem dois condutores, um positivo e o outro negativo. Cada terminal
possui dois conjuntos de conversores de mesma classificação, em série no lado CC. A junção
entre os dois conjuntos de conversores é aterrada em uma ou ambas as extremidades com
o uso de uma linha curta de eletrodo. Já que ambos os pólos operam com correntes
iguais em operação normal, não há corrente fluindo no ramo aterrado sob essas condições
34 Capítulo 2. Aspectos Gerais

(Sood (2006)). Como já mencionado, a operação monopolar também pode ser usada nos
primeiros estágios do desenvolvimento de uma ligação bipolar.
Segundo Kundur (1994), durante uma falha ou problema em uma das linhas, a
outra linha, juntamente com o retorno ao solo, pode fornecer metade da carga nominal,
sendo assim a continuidade do fornecimento é mantida. Depois de tomar as medidas
corretivas, o sistema volta para a operação bipolar normal, mostrando a confiabilidade de
uma linha bipolar igual à de uma linha trifásica de circuito duplo, embora tenha apenas
dois condutores em vez de seis para a linha trifásica.

2.4.2.3 Link Homopolar

Este tipo de link possui dois ou mais condutores com a mesma polaridade, ge-
ralmente negativa e estão operando com retorno de terra. Se ocorrer uma falha em um
condutor, o equipamento conversor pode ser conectado a um polo saudável e assim forne-
cer mais de 50% da potência nominal por sobrecarga às custas de aumento da perda de
linha. Também é uma vantagem deste sistema o fato de que há menos perda de corona e
interferência de rádio devido à polaridade negativa nas linhas. No entanto, segundo Sood
(2006) e Eltamaly e Elghaffar (2017), a grande corrente de retorno à terra é a princi-
pal desvantagem desta configuração sobrepondo as vantagens desse sistema de forma a
torná-lo preferido apenas quando as correntes contínuas de terra são inevitáveis.

Figura 2.11 – Design de um elo CC Homopolar

Fonte: Adaptado de Eltamaly e Elghaffar (2017)


2.5. Vantagens dos sistemas HVDC 35

2.5 Vantagens dos sistemas HVDC


Nos dias atuais, após anos de desenvolvimento e testes das tecnologias HVDC
nos encontramos em um cenário onde as mesmas já firmaram suas bases nos sistemas de
transmissão de energia. Sendo assim, apesar da concorrência com as tecnologias FACTS
e o constante desenvolvimento de sistemas CA, CC e híbridos para transmissão e distri-
buição de energia, já é possível situar mais claramente o ambiente de predominância das
tecnologias HVDC.
Partindo das observações já feitas nas seções anteriores deste capítulo e conforme
autores como Sood (2006), e Kim et al. (2009), já sabemos que para transmissões de
longa distância, o fator predominante para a utilização de sistemas HVDC é o econômico,
já que, quanto maior a distância coberta pelo sistema, maior será a economia no custo
das linhas de transmissão, que por sua vez irá cobrir o maior custo de implantação das
estações conversoras. No entanto, algumas vezes o fator econômico perde sua relevância
ao se destacarem-se outras vantagens do uso de um sistema HVDC, como por exemplo
fatores ambientais e quanto a capacidade de controle do sistema energético e aumento de
estabilidade do sistema de potência junto com a melhora da flexibilidade de operação do
mesmo.
Quando tratamos de distâncias mais curtas para a transmissão, segundo Arrillaga,
Liu e Watson (2007), Kundur (1994) e Sood (2006) outras vantagens são decisivas para
a aplicação de sistemas HVDC e em uma breve síntese podemos citar (MARCHIORO,
2014):

• Em um sistema CA e CC paralelos, a modulação dos parâmetros em CC (corrente


e/ou potência) aumenta o limite de estabilidade de regime permanente do sistema
CA;

• A transmissão de potência CC é independente da abertura angular entre os terminais


CA;

• Possibilidade de interligação de sistemas de energia de diferentes frequências (por


exemplo, 50 e 60Hz);

• Controle do fluxo de energia evitando sobrecarga e prevenindo disparos em cascata,


restringindo assim falhas do sistema em condições de contingência múltipla;

• Para transmissão submarina a partir de 50km, a transmissão em CC é, atualmente,


a melhor solução dados os efeitos capacitivos de linhas CA;

• Maior potência transmitida por condutor;


36 Capítulo 2. Aspectos Gerais

• Admissão do uso de retorno por terra (indesejável na maior parte das vezes mas
extremamente útil para suavização de faltas e continuidade da transmissão durante
manutenções);

• Linhas de transmissão com construções mais simples, econômicas e utilização de


menor faixa de servidão possibilitando ganhos ambientais, e em tempo de constru-
ção;

• Não incrementa a corrente de curto-circuito no sistema CA;

• Baixa corrente de curto-circuito nas linhas CC;

• Menor perda de energia para transmissão;

• Menor investimento para transmissões de energia em longas distâncias.

Por fim, dentre as vantagens citadas, é importante destacar conforme estudos


do FDTE (2012) e autores como Arrillaga, Liu e Watson (2007), Kim et al. (2009) a
grande confiabilidade do bipolo CC. Este é capaz de operar como um circuito duplo CA,
desde que possa transmitir energia no modo monopolar com retorno pela terra evitando a
interrupção do fluxo de potência frente a perda de um dos polos até que as manutenções
necessárias sejam realizadas e a operação em link bipolar seja reestabelecida.

Figura 2.12 – Comparação de um elo bipolar CC com um sistema de transmissão CA com


circuito duplo

Fonte: Adaptado de Ono (2019)


2.6. As desvantagens dos sistemas HVDC 37

2.6 As desvantagens dos sistemas HVDC


As desvantagens dos sistemas HVDC se concentram em diversos aspectos das
suas estações conversoras. Para pequenas distâncias o alto custo dos equipamentos das
estações sobrepõem a economia com os cabos de transmissão tornando projetos de LT’s
mais curtas, inviáveis economicamente. Conforme citado por Sood (2006), apesar de não
necessitar de compensação de reativos nas linhas CC, os custos são aumentados devido à
necessidade da instalação dos conversores e filtros de alto custo para tratar os harmônicos
gerados pelos conversores. Para linhas CC também observamos maiores níveis de campo
elétrico induzido no solo o que representa uma preocupação a mais para o entorno destas
estruturas.
Arrillaga, Liu e Watson (2007) relatam que apesar do sistema de transmissão CC
apresentar valores de correntes de curto-circuito inferiores aos sistemas de transmissão
CA, as falhas de comutação nos tiristores dos conversões são perturbações que podem
comprometer a estabilidade dinâmica e a continuidade do fornecimento de energia. No
geral, a adição dos componentes citados nas estações terminais adicionam complexidade
aos sistemas de controle além de que tecnologias para otimizar a comutação nos tiristores
são muito dispendiosas, afetando negativamente o custo-benefício dos projetos.
39

3 Metodologia

O trabalho consiste de uma análise contextualizada da aplicação da tecnologia


HVDC em diversos âmbitos do SIN, como por exemplo em linhas de transmissão e estações
conversoras back-to-back. É realizado um comparativo entre as vantagens e limitações das
LT’s em HVDC e HVAC que contará com análise dos aspectos técnicos das LT’s, torres,
subestações conversoras e demais equipamentos de eletrônica de potência; avaliação das
perdas de energia no sistema; estudo de caso acerca do sistema de transmissão de Itaipu; e
impactos ambientais dada as distintas faixas de servidão adotadas para transmissão DC e
AC com a finalidade de sintetizar premissas para a escolha do uso de soluções que contem
com a tecnologia HVDC na ampliação e aperfeiçoamento do SIN.
Aplicada à análise aqui proposta, também é levado em conta a contextualização
da geração, transmissão e distribuição de energia no Brasil feita pelos estudos da EPE
e com um olhar mais clínico sobre os dados de geração e transmissão de energia elétrica
dispostos pela ANEEL e pelo ONS em suas plataformas, com destaque para o sistema
SIGA da ANEEL que reúne em um grande banco de dados informações sobre diversos
empreendimentos do setor elétrico e seus dados de geração de energia e demais relatórios
oficiais dos órgãos do setor como o PDE 2030 e o PAR/PEL 2021-25.
A união de todos os conhecimentos citados se faz necessária para entender a di-
nâmica do crescimento e desenvolvimento não só do SIN mas do setor elétrico brasileiro
como um todo que não é pautado apenas por decisões de cunho técnico mas também
por muitas iniciativas que carregam interesses econômicos e políticos, sendo estes últi-
mos reforçados ao lembrarmos que a energia elétrica é um recurso estratégico e de suma
importância para o atual funcionamento de nossa sociedade.
Todos estes conhecimentos são fortes aliados para o entendimento do aumento do
uso de LT’s em HVDC e subestações conversoras back-to-back HVDC e a compreensão
de seu papel e importância dentro de um sistema elétrico. A interpretação dos resultados
obtidos juntamente com as ponderações necessárias constituem uma base para que pos-
samos sintetizar de forma adequada a sinergia da tecnologia HVDC com a evolução da
matriz energética brasileira.
41

4 Estudos e Análises dos Sistemas HVDC

4.1 Aspectos construtivos de linhas HVDC

4.1.1 Os condutores aéreos

Assim como em linhas de transmissão de corrente alternada, as linhas em corrente


contínua também são em sua grande maioria constituídas de alumínio, dado o menor preço
e a maior leveza deste material, possuindo um maior diâmetro do que em condutores de
peso e resistência equivalente. O maior diâmetro dos condutores acaba por garantir uma
maior distância das linhas de campo elétrico no entorno do mesmo, um fator importante
para linhas HVDC uma vez que o efeito corona é mais intenso nelas do que para linhas
AC.
A ocorrência de descargas corona nas proximidades dos condutores de uma linha
de transmissão em corrente contínua resulta na ocorrência de cargas espaciais entre os
pólos e entre os pólos e a terra afetando o processo físico que rege as perdas corona e
consequentemente o desempenho da linha.
O comportamento do campo elétrico sob as linhas de transmissão em corrente con-
tínua difere muito do existente nas linhas de corrente alternada. Segundo estudos vistos
em Dart et al. (2007), para tensões abaixo da tensão de início de corona nos conduto-
res, ocorre um campo eletrostático sob a linha. Acima da tensão de início de corona, os
condutores positivos e negativos da linha de transmissão geram íons com a mesma po-
laridade dos mesmos. Por isto, uma carga espacial de polaridade positiva ocorre sob o
condutor positivo e uma carga espacial negativa sob o condutor negativo. Entre os dois
pólos da linha de transmissão ocorre uma mistura de carga espacial positiva e negativa,
proporcionando uma recombinação iônica.
A carga espacial produzida pelo corona em um condutor de uma linha de trans-
missão em corrente contínua tem o efeito de reduzir o campo elétrico na vizinhança da
superfície do condutor e aumentar o nível de campo elétrico no solo, o que representa uma
preocupação a mais para as vizinhanças de uma linha CC. Os condutores de alumínio de
maior diâmetro por sua vez, são fortes aliados ao reduzir este efeito.
Considerando as altas tensões de operação dos elos CC (600kV ou acima) se empre-
gam normalmente mais de um condutor por fase ao invés de cabos uma vez que condutores
são mais leves, flexíveis (reduzindo o esforço mecânico sobre as torres) e de melhor ma-
nipulação. Esses conjuntos são comumente conhecidos como bundles e tal configuração
também contribui para a redução do campo elétrico e portanto, do efeito corona além de
42 Capítulo 4. Estudos e Análises dos Sistemas HVDC

reduzir também as reatâncias em série.

4.1.2 Torres de transmissão


À primeira vista, a vantagem mais notável dos sistemas de transmissão HVDC são
as torres e condutores. As torres de transmissão em CC não diferem muito das torres de
transmissão em CA a não ser por suas dimensões bastante reduzidas. Como já citado na
seção anterior, com a ausência do efeito skin e perdas por reatâncias capacitivas e indutivas
na linha, é possível utilizar condutores mais leves e de diâmetros menores. Naturalmente,
as torres de CC já ocupam um espaço muito menor que as torres para transmissão em
CA conforme disposto na Figura 4.1, no entanto, se considerarmos sistemas com o mesmo
nível de redundância, dois condutores em CC substituem dois sistemas trifásicos CA, ou
seja, seis condutores, aumentando ainda mais a possível economia de material e faixa de
servidão.

Figura 4.1 – Comparação entre torres de um sistema de transmissão em HVAC e HVDC

Fonte: Adaptado de SIEMENS (2006)

Trazendo a discussão para o contexto brasileiro, uma reduzida faixa de servidão


é um grande aliado no projeto de linhas de transmissão. A redução da área tomada pela
obra das LT’s, resulta em menores gastos com mão de obra e maior agilidade na fase de
4.2. Desempenho dos sistemas HVDC 43

execução de obras da linha além de facilitar as negociações para realizar a indenização


dos proprietários cujos imóveis se encontram no caminho da construção da linha (valor
que a jurisprudência fixa entre 20% e 30% sobre o valor da terra nua). Fora a redução
da burocracia envolvida proporcionada pelos aspectos citados, a mesma também é menor
frente aos órgãos ambientais. A redução de impactos ambientais proporcionada pela troca
de torres CA por CC é significativa e dentre os ganhos observados, segundo estudos vistos
em Ono (2019), podemos citar:

• Redução do desmatamento da cobertura vegetal;

• Redução do impacto do empreendimento sobre a população de espécies do local;

• Mitigação da fragmentação e/ou alteração da conectividade entre remanescentes de


vegetação nativa;

• Facilitação da manutenção da faixa de servidão mitigando riscos de acidentes e


danos aos arredores da LT.

4.2 Desempenho dos sistemas HVDC


A avaliação comparativa de sistemas de transmissão é baseada principalmente
nas análises de custos, sendo consideradas as características técnicas das alternativas
disponíveis e seus respectivos custo-benefício. Para os critérios de avaliação do desempenho
de linhas de transmissão, aqui será apresentada uma visão mais condensada para sintetizar
os resultados conhecidos e analisá-los dentro do contexto deste trabalho.
Segundo a metodologia aplicada por FDTE (2012) e Santos (2012), para se esti-
mar o custo de uma linha de transmissão, são considerados alguns fatores, resumidos na
Figura 4.2:
Vários destes custos englobam aspectos já introduzidos e discutidos neste docu-
mento nas seções 2.4 e 4.1 e portanto aqui prosseguiremos para uma análise dinâmica das
perdas dos sistemas HVDC uma vez que tal fator possui grande peso nos custos de uma
LT.

4.2.1 Perdas nos sistemas HVDC


A discussão sobre as perdas em sistemas HVDC é muito bem abordada por autores
como Jardini e Nolasco (2008) que dita que normalmente este tipo de avaliação nas
estações conversoras é usualmente realizada através da soma das perdas individuais dos
componentes do sistema, uma vez que os métodos de medição e instrumentos disponíveis
atualmente não permitem medições diretas muito precisas da estação conversora como um
44 Capítulo 4. Estudos e Análises dos Sistemas HVDC

Figura 4.2 – Parcelas do custo total de uma linha de transmissão

Fonte: Santos (2012)

todo. O procedimento recomendado para o cálculo das perdas em estações conversoras é


descrito na norma IEC 61803.
Deve-se somar as perdas em:

• Válvulas Conversoras;

• Transformadores conversores;

• Sistema Auxiliar (englobando sistemas de refrigeração de válvulas, transformadores


e outros;

• Reator de Alisamento

• Filtros do Circuito CA e Banco de Capacitores;

• Filtros CC

Seguindo estas diretrizes, uma avaliação das perdas típicas nas estações conversoras
pode ser encontrada em Jardini e Nolasco (2008) e nos fornece uma ideia geral das perdas
totais considerando dois terminais de um sistema HVDC conforme visto na Tabela 4.1.
A perda ocorrida nas estações conversoras dos sistemas HVDC superam a dos
sistemas HVAC convencionais devido ao maior número de componentes e maior comple-
xidade dos sistemas terminais. No entanto é importante mencionar que tal diferença não
é tão díspar uma vez que, segundo ABB (2016), as perdas totais em uma estação do
tipo HVDC clássico são atualmente na casa de 0,6% da energia transmitida, enquanto
conforme consta na ONS (2014), a perda admissível para apenas um transformador de
uma subestação HVAC é de 0,3%.
4.2. Desempenho dos sistemas HVDC 45

Tabela 4.1 – Perdas típicas nas estações conversoras dos terminais HVDC

Fonte: Adaptada de Jardini e Nolasco (2008)

Quando começamos a tratar das perdas das linhas de transmissão, partindo das
discussões iniciadas na seção 4.1.1, Arrillaga, Liu e Watson (2007), Jardini e Nolasco
(2008) e Sood (2006) indicam que a perdas de linhas de corrente contínua são inferiores
às perdas das linhas de corrente alternada graças a, dentre outros fatores, o menor número
de condutores dos sistemas HVDC.
Dada a tamanha complexidade dos cálculos teóricos e o grande número de fatores
que influenciam as perdas devido ao efeito corona em linhas de transmissão HVDC, geral-
mente as estimativas fazem uso de fórmulas empíricas. Para o efeito joule, o FDTE (2012)
apresentam cálculos para as perdas joulicas em linhas HVDC e HVAC, que consistem da
dissipação de calor gerada pela passagem de corrente elétrica pelos condutores. As perdas
por efeito joule para a transmissão em corrente contínua são dadas pelas equação 4.1
enquanto as perdas por efeito joule para a transmissão em corrente alternada são dadas
pela equação 4.1.

)︃2
1
(︃
𝑃
𝐽𝐿𝑐𝑐 =2*𝑟*𝐼 = *𝑟*
2
(4.1)
2 𝑉𝑝𝑡
(︃ )︃2
𝑃
𝐽𝐿𝑐𝑎 =3*𝑟*𝐼 =𝑟* 2
(4.2)
𝑉𝑓 𝑓
Onde:

• 𝐽𝐿𝑐𝑐 são as perdas joulicas em corrente contínua em MW/km;

• 𝐽𝐿𝑐𝑎 são as perdas joulicas em corrente alternada em MW/km;


46 Capítulo 4. Estudos e Análises dos Sistemas HVDC

• 𝑟 é a resistência do feixe por polo em Ω/km;

• 𝐼 é a corrente que passa pelo condutor em A;

• 𝑉𝑝𝑡 é a tensão polo-terra em kV;

• 𝑉𝑓 𝑓 é a tensão fase-fase em kV;

• 𝑃 é a potência nominal em MW.

4.2.2 Avaliação dos Custos Globais do Sistema HVDC


Agora, frente a todas as informações dispostas, já é possível olharmos para o
sistema HVDC como um todo para avaliarmos seu custo-benefício frente às tecnologias
HVAC e entendermos sua aplicação em projetos de engenharia e importância para um
sistema elétrico tão extenso quanto o brasileiro.

Figura 4.3 – Distribuição de custos de um sistema HVDC

Fonte: Jardini e Nolasco (2008)

Uma boa visualização da distribuição dos custos do sistema HVDC é possível


através da Figura 4.3. No gráfico apresentado observamos a distribuição de custos de
sistemas HVDC, considerando diversos níveis de tensão e potência transmitida, para cada
trecho de 1.500km de linha. Nota-se aqui a disparidade do peso do custo das estações
conversoras HVDC em relação aos demais custos de seu sistema, incluindo as linhas de
transmissão, sendo apenas o caso de um sistema de 300kV e 700MW a única exceção.
Também é bom pontuar aqui, conforme observado na Figura 4.3, o melhor desempenho
das linhas de 600kV e 800kV de tensão em relação a perdas por efeito joule e por efeito
corona.
Observando estes resultados e tendo entendido a estrita relação das perdas em
energia do sistema com os custos, podemos compreender as bases para a preferência
4.2. Desempenho dos sistemas HVDC 47

por alternativas em HVDC de transmissão de energia. Os resultados vistos em Jardini e


Nolasco (2008) se reproduzem em mais estudos observados em SIEMENS (2006), ABB
(2016) e Eltamaly e Elghaffar (2017) e a convergência dos relatórios técnicos fortalecem
a posição da tecnologia HVDC nas malhas energéticas hoje em operação.
Em Arrillaga, Liu e Watson (2007) encontramos um gráfico da comparação das
perdas globais dos sistemas HVDC e HVAC para diferentes níveis de tensão.

Figura 4.4 – Perdas na Transmissão x Distância de transmissão para HVAC e HVDC

Fonte: Arrillaga, Liu e Watson (2007)

Conforme podemos observar na Figura 4.4, para menores distâncias as perdas nos
sistemas HVAC e HVDC é muito equiparada, no entanto o cenário muda para maiores
distâncias. A partir dos 1000km de linha já é possível notar uma maior variedade de
desempenhos para a transmissão de energia em HVDC e HVDC de diferentes níveis de
tensão sendo que para o mesmo nível de tensão as transmissão em HVDC supera, em
perdas, a transmissão em HVAC. Naturalmente as perdas para ambas as tecnologias se
tornam menores para maiores níveis de tensão dada a menor corrente necessária para
transmitir uma mesma potência, reduzindo o efeito joule. Uma reta que se destaca aqui é
a que descreve a perda para sistemas CC de 800kV, uma vez que se mostra como sendo a
configuração que melhor mitiga as perdas do sistema chegando a ter uma redução de 2%
nas perdas quando comparadas à transmissão CA e 1000kV para distâncias de 2500km. O
crescimento da mitigação das perdas se deve ao fato de que quanto maior o comprimento
da linha CC, mais a economia nas perdas nas linhas de transmissão sobrepõe a maior perda
nas estações de conversão dos terminais HVDC o que justifica a opção pela transmissão
em corrente contínua para maiores distâncias.
48 Capítulo 4. Estudos e Análises dos Sistemas HVDC

4.3 HVDC vs HVAC


Após todas as ponderações técnicas e ao considerarmos as perdas totais dos siste-
mas de transmissão, o custo das linhas e torres, os custos dos equipamentos que constituem
os terminais e o custo da compensação de reativos, podemos vislumbrar na Figura 4.5 um
comparativo entre os custos de um sistema HVAC comparados aos custos de um sistema
HVDC com a percepção clara da existência de um limiar, definido pela distância de trans-
missão, onde os sistemas HVDC passam a ser preferíveis em relação aos sistemas HVAC.
Tal limiar é usualmente chamado de breakeven distance na literatura e em documentos
técnicos.

Figura 4.5 – Comparação Custo x Distância entre HVDC e HVAC

Fonte: Adaptado de Kim et al. (2009)

Localizado entre as distâncias de 400km a 800km, este limiar expressa o ponto


em que o custo dos sistemas HVAC passa superar os custos de sistemas HVDC para
transmissão de energia em alta tensão. Tal consideração é uma generalização e para re-
sultados mais exatos os níveis de tensão e potência devem ser considerados como feito nas
análises anteriores, no entanto, esta é uma aproximação suficientemente satisfatória para
indicar o peso dos principais elementos dos sistemas HVAC e HVDC no custo de linhas
de transmissão.
4.4. A importância da flexibilidade da rede elétrica 49

Este gráfico merece alguns pontos de destaque e começaremos pelos já discutidos


custos dos equipamentos CC em relação aos custos dos equipamentos CA, o que reflete o
impacto negativo da complexidade e preço das estações conversoras de corrente contínua
ao planejarmos um sistema de transmissão. O segundo ponto é o custo da compensação
paralela de sistemas CA graças à preocupação com os níveis de potência reativa das linhas
de transmissão nesse tipo de sistema. Por fim notamos a inclinação das curvas que reflete o
custo dos condutores aéreos para as duas tecnologias. Para sistemas HVAC que dependem
de um maior número de condutores, a inclinação da curva é bem maior uma vez que se faz
o uso de no mínimo 3 condutores, contra 2 ao considerarmos a configuração mais usual,
de bipolos, dos sistemas HVDC.
A dinâmica entre sistemas CC e CA por fim revela a capacidade das diferentes
tecnologias abordadas de coexistirem e diversificarem uma malha energética, otimizando-
a em sua eficiência e custo e levantando aqui um importante conceito que é possibilitado
graças a muitos estudos e experimentações com as diferentes tecnologias de transmissão:
A sinergia das tecnologias de transmissão e distribuição de energia.

4.4 A importância da flexibilidade da rede elétrica


Uma variedade de razões técnicas, econômicas e ambientais que afetam a geração,
transmissão e a utilização de energia estão forçando os planejadores e engenheiros do
sistema elétrico a adotar uma nova visão sobre as filosofias de desenvolvimento dos sistema
de energia. O dilema é que, por um lado, há uma oposição crescente à aceitação de novas
linhas de transmissão e tensões de transmissão primária cada vez maiores. Por outro
lado, há a percepção de que as interconexões do sistema de energia trazem indiscutíveis
benefícios, como economias de escala, escolhas mais amplas de usinas geradoras, reduções
na capacidade de reserva, diversidade na demanda e confiabilidade do fornecimento.
Claramente, um fator importante na solução é a possibilidade de aumentar a capa-
cidade de transporte de potência das linhas de transmissão. A este respeito, a transmissão
AC convencional é severamente restringida pela necessidade de manter os dois sistemas
interconectados pela linha em sincronismo após distúrbios, condição conhecida como es-
tabilidade transitória Arrillaga, Liu e Watson (2007). Portanto o aumento na capacidade
de transporte de energia em estado estacionário está ligado a melhorias na estabilidade
dos níveis de transientes, que por sua vez requerem uma controlabilidade mais rápida.
Controlabilidade e flexibilidade são usado na transmissão de energia como termos sinô-
nimos, em outras palavras, maior flexibilidade implica em controlabilidade maior e mais
rápida. Esta evolução na capacidade de transporte de potência foi possibilitada pelo de-
senvolvimento de semicondutores de potência e sua aplicação no controle de aparelhos e
sistemas de potência, comumente chamados de eletrônica de potência.
50 Capítulo 4. Estudos e Análises dos Sistemas HVDC

O termo "flexibilidade"no contexto de sistemas de energia não é algo novo e foi


definido tomando como referência sistemas CA de transmissão implicando no uso de ele-
trônica de potência. Com o surgimento das soluções CC para sistemas de transmissão,
o conceito de flexibilidade vem ganhando uma nova abrangência e relevância. Na subse-
ção 2.3.1 foram abordados os sistemas LCC que já conferem menos restrições ao sistema
de energia no entanto ainda sendo um pequeno avanço quando comparado aos sistemas
VSC.
A incorporação recente de dispositivos avançados de chaveamento permitindo a
autocomutação, como discutido na subseção 2.3.2 sobre os VSC’s, abriu o leque dos graus
de controlabilidade de um sistema HVDC, logo contribuindo muito para sua flexibilidade.
Os novos conversores HVDC são capazes de controlar sua tensão terminal e as condições
de energia independentemente dos parâmetros do sistema CA. Em um sistema CC to-
talmente flexível, a componente fundamental da tensão de saída do conversor pode ser
controlada em magnitude e fase, e seu conteúdo harmônico praticamente eliminado. Toda
esta flexibilidade naturalmente não está sendo fomentada exclusivamente por avanços nas
tecnologias CC, mas por todo um movimento global de desenvolvimento das matrizes
e malhas energéticas, e aqui entra também os benefícios destes avanços para a rede de
distribuição de energia.
Os sistemas de distribuição vem dando destaque a tecnologias HVDC e o motivo
dessa crescente importância conquistada é a filosofia de Geração Distribuída. Os sistemas
HVDC permitem desacoplar a tensão e frequência das várias fontes de geração de energia
renovável dos valores nominais fixos das redes convencionais possibilitando a otimização
da geração. Em mais uma sinalização da relevância do desenvolvimento das tecnologias
CC na transmissão e distribuição, o CIGRE1 iniciou o uso do acrônimo FDS (Flexible
Distribution System) para sistemas de distribuição que empregam eletrônica de potência
para incrementar a confiabilidade, controlabilidade e eficiência da rede (CIGRE, 2005). A
razão do emprego dessa sigla foi de unir em um único termo o ambiente de desenvolvimento
das tecnologias FACTS e HVDC, o que indica a capacidade dessas duas tecnologias de
trabalharem associadamente no desenvolvimento de malhas energéticas mais flexíveis. O
termo FDS ainda não é usado em escala uma vez que o estudo mais disseminado das
tecnologias englobadas pelo termo é relativamente recente e as nomenclaturas ainda não
se encontram totalmente padronizadas, mas pode ser observado que em artigos atuais
publicados por autoridades do mundo todo, o nome FDS é utilizado.

1
O CIGRE é uma comunidade global colaborativa comprometida com o principal programa de desen-
volvimento de conhecimento do mundo para a criação e compartilhamento de conhecimento do sistema
de energia. Essa comunidade única é sustentada por uma rede global de 60 organizações do CIGRE
denominadas Comitês Nacionais, ou CNs. Essas organizações locais têm um conhecimento profundo
das condições locais em mais de 90 países. Os CNs também indicam seus melhores talentos locais para
os mais de 250 grupos de trabalho que participam do programa de conhecimento global do CIGRE.
51

5 O HVDC no Brasil

O Brasil é um país de dimensões continentais com uma matriz energética predo-


minantemente hídrica organizada de forma que grandes centros de geração hidroelétrica
são responsáveis por fornecer a maior parte da energia consumida no país. As centrais
geradoras hidrelétricas fornecem um total de 58,36% da energia elétrica gerada no Brasil
segundo ANEEL (2021). Esta configuração termina por demandar o transporte de grandes
blocos de energia por grandes distâncias, uma vez que os centros urbanos estão distantes
das estações geradoras. O maior bloco consumidor de energia no Brasil é a região Sudeste
(SE) enquanto o maior potencial de geração hidrelétrico se concentra no Norte (N). A
consequência desta organização de centros geradores e consumidores no país é a formação
de grandes troncos de transmissão de energia que interligam Norte e Nordeste ao Sudeste
e Centro-Oeste do Brasil. Um mapa com as principais linhas de transmissão em operação
e em planejamento no Brasil pode ser observado na Figura 5.1.

Figura 5.1 – LT’s existentes e planejadas no Brasil - Horizonte 2024

Fonte: itaipu.gov.br
52 Capítulo 5. O HVDC no Brasil

A organização atual do sistema elétrico brasileiro já é muito favorável ao uso das


tecnologias HVDC tanto pela distância de centros geradores e consumidores quanto pelo
fato de que em solo nacional utiliza-se a transmissão de energia por corrente alternada à
60Hz enquanto todos os países vizinhos operam seus sistemas CA a 50Hz. Desta forma, a
melhor opção de intercâmbio de energia elétrica entre os demais países da América Latina
e o Brasil são os elos CC de subestações HVDC Back-to-Back.
Até o presente momento, segundo dados dispostos no PAR/PEL 2021-25 pelo
ONS (2020), o país conta com três grandes elos de transmissão que operam em HVDC:
Itaipu (dois bipolos de 3150MW a ±600kV percorrendo 820km), Rio Madeira (dois bipolos
de 3150MW a ±600kV percorrendo 2380km) e Belo Monte (dois bipolos de 4000MW a
±800kV percorrendo 2092km o bipolo Estreito e 2518km o bipolo Terminal Rio), com mais
três em etapa de planejamento conforme visto na Figura 5.2. Há também, identificados na
figura, os 3 sistemas Back-to-Back em solo brasileiro: Itaipu-Acaray que interliga o Brasil
ao Paraguai; Garabi que interliga o Brasil à Argentina; e Rivera-Melo que interliga o Brasil
ao Uruguai. O sistema de Itaipu foi o primeiro do Brasil a contar com a tecnologia HVDC,
inaugurado em 1984, por ser o mais antigo é o que mais fornece dados consolidados para
análise do desempenho de sistemas C.C. no Brasil.

Figura 5.2 – Sistemas HVDC no Brasil


5.1. O desempenho do sistema de Itaipu 53

5.1 O desempenho do sistema de Itaipu


A Itaipu Binacional é líder mundial em produção de energia limpa e renovável,
tendo produzido mais de 2,7 milhões de gigawatts-hora (GWh) desde o início de sua
operação, em 1984. Com 20 unidades geradoras de 700MW cada (sendo a última instalada
em 2007) somando um total de 14.000 MW de potência instalada, Itaipu fornece 10,8%
da energia consumida no Brasil e 88,5% no Paraguai. O escoamento da energia de Itaipu
para o SIN é realizado por Furnas e Copel.
Há poucos dados confiáveis disponíveis no Brasil sobre o desempenho das tec-
nologias HVDC aplicadas até o momento dada a relativamente recente expansão dessas
tecnologias em território nacional. No entanto Itaipu, por ter sido o sistema mais antigo a
entrar em operação, fornece alguns dados interessantes que podem nos ajudar a compre-
ender o sucesso e atual expansão das tecnologias HVDC no Brasil. Logo abaixo veremos
sobre os elos de transmissão da binacional seguido de uma análise de faltas.

Figura 5.3 – Conexão de Itaipu ao SIN

Fonte: itaipu.gov.br

O sistema de transmissão em corrente contínua de Itaipu é formado por duas linhas


de ±600kV, com extensão de aproximadamente 820km, entre as subestações de Foz do
Iguaçu (PR) e Ibiuna (SP). A conversão CA/CC é feita através de oito conversores em
cada subestação, cada dois formando um polo, que compões dois bipolos em ±600kV,
sendo a transmissão realizada através de quatro linhas, uma em cada polo.
54 Capítulo 5. O HVDC no Brasil

O sistema de transmissão em corrente alternada é composto de três linhas de


transmissão entre as subestações de Foz do Iguaçu (PR) e Tijuco Preto (SP) que apesar
de "apelidadas"de 750kV, operam com uma tensão de 765kV transportando energia a uma
distância de aproximadamente 900km. Em Tijuco Preto existem sete transformadores,
para 500 kV e 345 kV, de forma a diversificar a sua distribuição. Ao longo do sistema
existem ainda duas outras subestações, a de Ivaiporã (PR) e a de Itaberá (SP). Em
Ivaiporã há conexão com a região Sul do Brasil através de transformadores para 500 kV, o
que permite a otimização da geração de energia no sistema em função da disponibilidade
energética. Ora o fluxo de energia nesses transformadores vai em direção ao Sul ora em
direção ao Sudeste (ITAIPU, 2021).
Em Graham, Santo e Kumar (2014) encontramos um estudo sobre a performance
dos sistemas de transmissão CA e CC de Itaipu sendo possível chegar a algumas conclu-
sões.

Tabela 5.1 – Performance do sistema HVAC 765kV de Itaipu

Fonte: Adaptada de Graham, Santo e Kumar (2014)

A Tabela 5.1 apresenta o número de faltas transitórias (solucionadas após a pri-


meira tentativa de religamento) e permanentes (religamento mal sucedido) ocorridas na
linha HVAC que interliga Itaipu a Tijuco Preto durante o período de 1995 e 2009. Também
constam na tabela o comprimento dos trechos englobados pela coleta de dados, valendo
lembrar que a linha 3 foi inaugurada apenas no ano 2000.
Considerando as três linhas, obtém-se os seguintes resultados:
5.1. O desempenho do sistema de Itaipu 55

• média de 0,174 faltas transitórias a cada 100km de linha ao ano;

• média de 0,852 faltas permanentes a cada 100km de linha ao ano, incluindo as faltas
causadas por falhas nas torres (normalmente causadas pela ação dos ventos).

Tabela 5.2 – Performance do sistema HVDC ±600kV de Itaipu

Fonte: Adaptada de Graham, Santo e Kumar (2014)

Na Tabela 5.2 encontramos os dados referentes ao desempenho das linhas HVDC.


Nela constam os dados de religamentos bem sucedidos em plena tensão (falta transiente)
e em tensão reduzida (após 3 tentativas de religamento em plena tensão e 1 tentativa em
450 kV) e religamentos mal sucedidos (faltas permanentes) no período de 1993 e 2012,
com um cálculo separado para o período de 1995 a 2009, para cobrir o mesmo período
de medição das linhas AC e assim permitir uma melhor comparação. Novamente todas as
faltas foram consideradas na coleta de dados, o que inclui as faltas causadas por falhas
nas torres de transmissão.
As médias obtidas para o intervalo entre 1995 a 2009 das linhas HVDC foram:
56 Capítulo 5. O HVDC no Brasil

• 0,488 faltas por polo a cada 100km de linha ao ano (com religamento bem sucedido
em plena tensão);

• 0,057 faltas por polo a cada 100km de linha ao ano (religamento bem sucedido em
450kV);

• 0,169 faltas por polo a cada 100km de linha ao ano (religamento mal sucedido,
incluso falhas em torres).

Observando os resultados obtidos por este estudo, notamos que as linhas CA apre-
sentaram uma maior soma de falhas a cada 100km de linha ao ano (1,026 contra 0,714 das
linhas CC). Outro aspecto importante é que das falhas apresentadas, aproximadamente
83% das falhas nas linhas CA configuraram falhas permanentes enquanto para as linhas
CC o valor foi de 23,7%. O que indica uma melhor capacidade das linhas CC de reali-
zar religamentos rápidos, reduzindo o tempo de interrupção do fornecimento de energia.
Números como estes refletem o sucesso da aplicação das tecnologias HVDC ao Sistema
Interligado Nacional, e por Itaipu ter sido o empreendimento pioneiro a por à prova tais
sistemas, tal sucesso foi vital para o incentivo das pesquisas em HVDC no Brasil.

5.2 Energias renováveis e o impacto da filosofia de Geração Dis-


tribuída
Uma série de fontes renováveis vem sendo consideradas como alternativas de fontes
de geração de energia mais próximas dos pontos de consumo. Os exemplos mais típicos são
cogeração, pequenas hidrelétricas, fazendas eólicas, sistemas fotovoltaicos e microturbinas.
Estes elementos podem operar como sistemas isolados ou serem integrados com o SIN.
Partindo do que já foi mencionado nos capítulos introdutórios deste trabalho,
além dos benefícios ambientais, a geração distribuída também é vista como uma oferta
de importantes possibilidades para melhorar a qualidade e a segurança do fornecimento
de energia. Os sistemas encorporados pela GD podem fornecer potência reativa a fim de
otimizar a qualidade de energia no SIN, realizar o controle de tensão do sistema e evitar
perdas, bem como fornecer capacidade de black start para porções da malha integrada tal
qual a perspectiva de ilhamento de sistemas.
No Brasil as iniciativas de GD se concentram em fontes alternativas como a energia
solar e eólica que vem ganhando espaço na matriz energética nacional através de vários
incentivos governamentais e da premissa da flexibilização do SIN. Incentivos fiscais para
a região da SUDENE (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste), que engloba
todo o Nordeste mais o Norte de Minas Gerais, como redução no IRPJ e do ICMS e
programas como o Proinfa (Programa de Incentivo às Fontes Alternativas), produzem um
5.2. Energias renováveis e o impacto da filosofia de Geração Distribuída 57

(a) Potencial eólico do Brasil (b) Mapa da Irradiação Solar Direta Normal
Fonte: Feitosa et al. (2003) Fonte: Pereira et al. (2017)

Figura 5.4 – Potencial brasileiro para geração de energia solar e eólica

cenário favorável para o desenvolvimento de empreendimentos que fortalecem o cenário


das energias renováveis no país. Não apenas fruto destes incentivos, a expansão da ge-
ração de energia solar e eólica também parte do cenário extremamente favorável a estas
modalidades encontrado em diversas regiões do Brasil.
Há uma tendência crescente de geradores dispersos serem conectados à rede de dis-
tribuição através da conversão estática de potência, o que é essencial com fontes CC como
células de combustível, células fotovoltaicas, e até mesmo alguns projetos de turbinas eó-
licas que transmitem sua potência através de conversores. Os elos CC são extremamente
benéficos para o acoplamento de turbinas eólicas à rede uma vez que eliminam a necessi-
dade de sincronização da frequência das turbinas eólicas com a frequência da rede além
de permitir o projeto de geradores off-shore.
Encontramos na Figura 5.4a um mapa com o potencial eólico brasileiro e obser-
vamos que as regiões Nordeste e Sul apresentam o melhor cenário para a implantação
de geração. Tais dados se alinham com a informação da ABEEólica 1 que dita que, até
o ano de 2018, 412 dos 508 parques eólicos do país se encontravam na região Nordeste.
1
Fundada em 2002, a ABEEólica – Associação Brasileira de Energia Eólica é uma instituição sem fins
lucrativos, que congrega e representa a indústria de energia eólica no País, incluindo empresas de toda
a cadeia produtiva.
58 Capítulo 5. O HVDC no Brasil

No mapa fornecido na Figura 5.4b encontramos um cenário parecido para a energia solar
onde principalmente o interior da Bahia e o Norte de Minas Gerais apresentam condições
extremamente favoráveis para a exploração do recurso solar para a produção de energia
elétrica.

5.3 A modelagem do SIN e sua sinergia com as tecnologias HVDC


Após todas as análises apresentadas e ponderações das seções anteriores pode-
mos enfim compreender os recentes rumos da expansão do SIN e enxergar as tecnologias
HVDC como apenas mais uma peça da evolução da matriz energética nacional. Os siste-
mas HVDC ganham espaço como consequência de todo um contexto onde se encontram
avanços não só tecnológicos mas também sociais e culturais que caminham no sentido do
desenvolvimento de uma matriz energética mais renovável e "limpa"no sentido global, e
para o caso do Brasil, mais diversificada, de forma a diminuir a dependência do sistema
elétrico das fontes hídricas. Fontes essas que sofrem com a sazonalidade dos reservatórios
de água, implicando na constante ativação de Usinas Termoelétricas que além de pos-
suírem um maior impacto ambiental, também operam a um custo financeiro maior. Esta
tendência já é contemplada pela maioria dos relatórios da EPE e do MME e pode ser
observada na Figura 5.5.

Figura 5.5 – Previsão da evolução da composição da capacidade total instalada de geração


de energia por fonte

Fonte: PDE 2030

Do ponto de vista energético, há um benefício associado à diversificação de fontes


devido ao que é referenciado no PDE 2030 (EPE; MME, 2021) como efeito portfólio. Cada
fonte renovável possui sua sazonalidade, modulação e perfil de produção instantâneo, e a
agregação das mesmas pode levar a maior estabilidade da produção conjunta.
Do ponto de vista elétrico, especialmente sob a ótica da operação do sistema, a
5.3. A modelagem do SIN e sua sinergia com as tecnologias HVDC 59

diversificação de fontes contribui para amenizar os impactos sistêmicos provocados por


variabilidades instantâneas na disponibilidade de energia, como por exemplo, da geração
proveniente de empreendimentos como usinas eólicas e solares fotovoltaica.
As tecnologias HVDC que mais se adequam diretamente às fontes renováveis são as
do tipo HVDC-VSC. O ainda alto custo deste tipo de solução pesa contra estas tecnologias
no Brasil em tempos atuais, de forma que ainda demorará algum tempo para que o HVDC
se consolide neste meio, por hora se limitando a sistemas experimentais e pioneiros com
uma importância mais voltada para a área de 𝑃 &𝐷 e para casos excepcionais onde há
necessidade de compensar elos CA muito fracos.
O ambiente mais beneficiado pelo HVDC dentro do sistema nacional, que conta
com os sistemas HVDC-LCC (capazes de suportar o transporte de blocos maiores de po-
tência), é o de intercâmbio de potência entre subsistemas do SIN. As longas distâncias e
massivas quantidades de potência que os subsistemas são capazes de consumir e prover
configuram um cenário ideal para a aplicação das tecnologias HVDC aqui discutidas. A
Figura 5.6 ilustra a previsão de crescimento da capacidade de intercâmbio de potência
entre os subsistemas do SIN. Como os dados mostram, a previsão é de um crescimento
expressivo da capacidade de importação/exportação de potência principalmente dos Sub-
sistemas Norte, Nordeste e Sudeste/Centro-Oeste.

Figura 5.6 – Evolução da capacidade média de importação/exportação total dos subsis-


temas do SIN

Fonte: PDE 2030


60 Capítulo 5. O HVDC no Brasil

Além das grandes centrais hidrelétricas existentes nos subsisistemas Norte e Nor-
deste, como já mencionado, a região Nordeste e Norte de Minas Gerais vem experimen-
tando uma concentração de empreendimentos em energia renovável, e a exportação dessa
energia de menor custo para os demais subsistemas é algo já vislumbrado pelos planeja-
dores do SIN. Essa expansão não só aumenta a confiabilidade do atendimento à demanda
do próprio subsistema, tornando pouco provável a ocorrência de ilhamentos, como traz
benefícios sistêmicos para o sistema como um todo o tornando mais robusto e resiliente à
ocorrência de contingências.
Dentre as potenciais soluções para a expansão das interligações, pode-se destacar
o bipolo B demonstrado na Figura 5.2 que, ainda em etapa de planejamento, deve fazer a
ligação da subestação de Governador Graça Aranha (MA) à subestação de Silvânia (GO)
com uma capacidade de 4000MW e tensão de ±800kV CC.
61

6 Considerações Finais

6.1 Conclusão

O sistema de transmissão e distribuição de energia é moldado principalmente a


partir de suas duas extremidades. De um lado estão os consumidores da energia organi-
zados a partir de um contexto histórico e sócio-econômico e de outro estão as centrais
geradoras, atreladas às características da matriz energética local. A dinâmica formada pela
necessidade de atendimento da carga juntamente às limitações das fontes geradoras dita
os rumos dos esforços envolvidos no desenvolvimento e integração de novas tecnologias e
técnicas de geração e transmissão de energia.
Como mais uma parte do todo, a partir de 1983, as tecnologias HVDC conquis-
taram espaço no SIN e desde então vêm evoluindo e se demonstrando cada vez mais
aplicáveis aos desafios de engenharia atuais no que diz respeito à geração e transporte
de energia elétrica. Com suas principais vantagens sendo destacadas na transmissão de
grandes blocos de energia a longas distâncias, as linhas de transmissão em HVDC forne-
cem uma solução mais barata, manipulável, segura, robusta e ecologicamente sustentável
do que as alternativas em HVAC que sofrem com limitações de distância de transmissão,
controle de sincronismo e compensação de reativos.
Os sistemas HVDC-LCC são os mais utilizados em solo nacional até o momento.
Responsáveis por conectar principalmente diferentes subsistemas do SIN, os sistemas LCC
melhoram a robustez do sistema como um todo e possuem um maior limite de transporte
de potência, no entanto dependem da estabilidade dos terminais CA uma vez que o disparo
dos tiristores responsáveis pela comutação nestes sistemas depende da tensão da rede.
Sendo empregados em grandes troncos de transmissão de energia, os elos CC vêm
oferecendo maior capacidade de escoamento da produção de energia em território na-
cional, flexibilizando a rede elétrica e permitindo o escoamento da energia gerada pelas
hidrelétricas concentradas no Norte e Nordeste. Estas interconexões também pavimentam
o caminho para a exportação da energia gerada pelos parques eólicos e usinas fotovoltaicas
que estão se expandindo sob fortes investimentos do setor público e privado nas regiões
Nordeste e Norte de Minas Gerais. Esta sinergia entre as tecnologias HVDC, a geografia
brasileira e a filosofia de flexibilização da rede e de geração distribuída vem fomentando
um cenário onde se estimula tanto a busca por modelos sustentáveis de geração de energia
quanto a evolução dos sistemas CC.
Os sistemas HVDC-VSC ainda encontram barreiras de aplicabilidade graças a seu
custo elevado e limitação de transporte de potência. Contudo, sua compatibilidade à ar-
62 Capítulo 6. Considerações Finais

quitetura dos sistemas de geração de energias renováveis dá esperanças de que com o


desenvolvimento das tecnologias CC, seus componentes alcancem preços mais competi-
tivos e suas limitações sejam contornadas se tornando uma opção viável e até preferível
dentro do planejamento de sistemas elétricos.
Por fim, onde as tecnologias HVDC encontram seus limites, a evolução dos dispo-
sitivos FACTS contribui para a melhora da qualidade de energia, robustez e segurança dos
sistemas de distribuição e transmissão CA. A combinação destes dois sistemas vem au-
mentando os graus de controlabilidade dos sistemas de potência e reduzindo seus custos,
tendo sua sinergia demonstrado que dificilmente em um futuro próximo algumas destas
tecnologias perderá o seu espaço dentro do planejamento de sistemas elétricos dadas suas
qualidades e aplicabilidades.

6.2 Trabalhos Futuros


Numa perspectiva de crescimento dos empreendimentos de geração de energias
renováveis, já existe uma grande investigação acerca dos modelos de geração distribuída
e sua conexão ao SIN. Um possível foco de interesse seria o estudo mais aprofundado das
tecnologias HVDC-VSC e uma perspectiva de seu uso neste âmbito.
Outra abordagem pertinente seria um estudo mais atual quanto ao custo das tec-
nologias HVDC aplicadas à transmissão. Muitos documentos acadêmicos encontrados du-
rante os estudos acerca do tema contam com dados desatualizados ou com um alto índice
de incerteza, enquanto os documentos técnicos disponíveis ao público, com relatórios de
custos de empreendimentos reais, em sua grande maioria não possuem fins acadêmicos e
assim faltam com a clareza dos dados apresentados. Desta forma mais estudos de caso
acerca de empreendimentos mais recentes de HVDC no Brasil (como por exemplo os bipo-
los de Belo Monte e do Rio Madeira) que coletem e relacionem os custos destes sistemas
seria de grande valia para as análises destes sistemas dentro do âmbito das tecnologias de
transmissão de energia.
63

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