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Para Ana
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 3
INDICE
INDICE 3
INTRODUÇÃO 4
PARTE 1. O ENSINO DE ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA E O
EMBATE COM A HISTORIOGRAFIA. 11
Arquitetura e Política: Arqueologia de um problema 11
Excurso à pré-história de um problema ou quando o pessoal se torna
intelectual. 14
Arquitetura e Estado: tema e problema 18
Retorno à Arquitetura. A proposta do Curso de Graduação de São Carlos22
A dissertação: Um problema, um objeto, um personagem: 28
Texto e obra na arquitetura: o sentido da questão historiográfica 34
Modernidade, Estado e Tradição: uma nova abordagem 46
O personagem: Lúcio Costa e o espírito brasileiro 57
Uma nova trama também tem as sua lacunas 64
PARTE 2. LE CORBUSIER: MÁQUINA, CIDADE E PAISAGEM 72
Máquina e Natureza na Estética Purista 81
Poesia e Cálculo na Cidade Contemporânea 90
Cidade e Paisagem: os projetos sul-americanos 94
PARTE 3. A ARQUITETURA BRASILEIRA E SEU CONTEXTO 110
A área de Teoria e História da Arquitetura e do Urbanismo na pós-
graduação de São Carlos 113
O Grupo de Pesquisa ArqBras: “A Constituição da Arquitetura Moderna
em São Paulo, 1930-70. 116
BIBLIOGRAFIA BÁSICA DA PESQUISA EM ANDAMENTO 133
Periódicos especializados brasileiros 144
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 4
INTRODUÇÃO
“Um texto que sistematize a sua obra ou parte dela” remete diretamente ao
questionamento do que configura “a obra” de um docente e pesquisador. Que esta
não deveria ser entendida apenas como o conjunto das publicações de um
pesquisador, parecia bastante claro ao pensarmos em áreas, como a de Arquitetura
e Urbanismo, com uma forte inserção no campo profissionalizante. É claro que os
projetos realizados são parte constitutiva - e fundamental - da “obra” de um arquiteto
que seja também docente. Assim como a produção tecnológica de um engenheiro
ou a experiência clínica de um médico, etc.
Este texto é, assim, um esforço de reflexão não apenas sobre meus textos,
publicados ou não, mas sobre a sua contribuição - e eventuais repercussões -
específicas para e no debate da área de arquitetura moderna e brasileira. Mas é
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 6
Processo que implica, hoje mais do que nunca, em função da campanha que
contra ela movem os interesses do ensino privado - abrigados e expressos pela
grande imprensa e pelo próprio Ministério da Educação - um ingente trabalho na
busca incessante de aprimoramento da competência específica da Universidade, de
sua capacidade de formar quadros profissionais habilitados a responder de forma
consciente aos desafios colocados, social e culturalmente, pelo processo de
expansão - e deterioração - de nossas cidades. E, lembrando de Le Corbusier mas
também de Koolhas, acrescento: preparar-se para os desafios colocadas à atuação
do arquiteto pelas escalas de intervenção implicadas na vida urbana contemporânea
e nas novas espacialidades que acompanham o decantado processo de
globalização.
A docência e a pesquisa são - esta é uma das “teses” deste trabalho - ações
críticas e ativas na configuração do campo cultural da arquitetura. A reflexão crítica e
historiográfica incidem sobre a atuação profissional, como se define no comentário à
dissertação, na medida em que afirmar valore, reforça tendências, contribui para o
esquecimento ou a institucionalização de projetos ou autores e, portanto, age na
“criação de cultura arquitetônica”. E, por isso, traz implicações diretas sobre a
formação das futuras gerações de profissionais.
como não o é João Gilberto. Assim como não o foram Machado ou Eça. Nem Torres
Garcia, que nos ensinava que nosso Norte é o Sul.
Acredito que Mário Pedrosa tinha razão ao caracterizar o Brasil como “um
país condenado ao moderno”. E que Colin Rowe também a tinha ao rejeitar um
convite para participar de um Simpósio sobre o tema “Precedente e Invenção”, com
o argumento de que a discussão era inócua, na medida em que simplesmente não
existe invenção sem precedente. Neste sentido a “cultura”, aqui, tem a ver com o
conhecimento daquelas obras e textos ( e filmes, e músicas, e peças, e...) que
conformaram o solo a partir do qual foi um dia possível acreditar que o Brasil daria
certo, muito mais do que com o atual protagonismo dos “promotores culturais” sobre
os produtores de cultura.
PARTE 1.
O ENSINO DE ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA
E O EMBATE COM A HISTORIOGRAFIA.
1
MARTINS, C. Arquitetura e Estado no Brasil (Anteprojeto para uma investigação sobre as
condições de Implantação da Arquitetura Moderna no Brasil - 1930- 45). Texto apresentado para
ingresso no Programa de Mestrado em História (Área de Historia Social) da FFLCH-USP. São Paulo,
jan. 80, datilografado. Original no Arquivo do autor.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 14
2
Como para todo pós-adolescente, nossos referencias eram filtrados através de uma pequena
gangue. Silvio (Zanchetti) é hoje professor do MDU em Recife, Caio (Cardoso) se tornou diretor da
Alumni em São Paulo, Claudia (Toni) está na USP, Zé (Roberto Prazeres) seguiu a crítica musical,
Walcir (Carrasco) anda pela Veja, pelos teatros e novelas da vida. Que será de Iraí, nossa pequena
musa morena? E Bernardo (Toledo Piza), que me deliciava com a sua flauta (do Musikantiga) e me
apresentou o Huxley de Contraponto?
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 15
A política fazia parte de forma difusa desse universo da pequena gang que
vivia com intensidade as belezas de uma São Paulo noturna que era ainda um
universo passível de ser conquistado pelos nossos tênis. A política estudantil tinha
ressonâncias distantes num Colégio que se orgulhava de ser o último a manter
sempre abertos os seus portões. Sabíamos das lutas da Maria Antônia mas eram
mais próximos os embates entre os “chiquistas” e os “tropicalistas”, mais atraente o
debate sobre os hinos militantes de Vandré ou “o sol nas bancas e revistas” de
Caetano.
A FAU em 1970: a segunda turma na “FAU nova”, a primeira com 150 alunos,
a primeira sem Artigas, Paulo Mendes e Maitrejean. Cento e cinqüenta alunos
recebidos no Atelier um por um grupo de professores que nos prometiam um
primeiro ano em que viveríamos uma “tempestade de informações”, cujo objetivo era
o de estabelecer um “mosaico da atividade profissional”. Mesmo calouros não
precisaram mais do que algumas poucas semanas para perceber que aquilo era a
admissão da total falta de rumo da Escola. Em meados de abril, uma famosa
barricada de pranchetas impedia o acesso dos professores ao Ateliê e um cartaz
impunha nossa única condição: “Só entrem aqui com uma proposta de ensino. E não
nos perguntem qual é. Vocês são os professores.”
Para uma parte de nós, a dúvida cada vez mais forte de que o desenho fosse
naquele momento um instrumento suficiente para compreender a realidade social e
política do país. A convicção cada vez mais presente de que transformá-la
necessitava “instrumentos mais contundentes do que a lapiseira”.
3
CHOAY, Françoise. “Arquitetura e Urbanismo” in DUFRENNE, Michel. A Estética e as Ciências
da Arte. Lisboa, Bertrand, 1982. vol. 2. pp. 189-224. A obra recolhe as contribuições de um grupo de
especialistas reunido por proposta da UNESCO em 1967. A primeira parte do texto de Choay tem o
emblemático subtítulo de “Uma disciplina que se procura”.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 17
mais tarde, mostra que este processo se desenrolava a nível internacional. À crise
doutrinária da Arquitetura Moderna se respondia com a busca de critérios “objetivos
e científicos” fora dela. O preço a pagar era a perda de especificidade da ação e da
reflexão arquitetônica. Mas então, não o sabíamos.
4
Nisto não parece haver, de resto, uma especificidade desses anos. Abrahão Sanovicz em
depoimento ao autor se referia ao significado de Escola para a formação de sua geração, nos
mesmos termos. Depoimento, São Carlos, julho/96.
5
MARTINS, Carlos e SAMPAIO, Vera, Para uma discussão do Ensino de Arquitetura e dos
Critérios de Avaliação. mimeo, GFAU, 1973. Este trabalho não faz parte do material comprobatório
porque eu não disponho de nenhuma cópia. O Dedalus registra um exemplar depositado na
Biblioteca da FAU.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 18
estudantes desde o AI5, trazia em seu catálogo um texto de Saia em que ele
afirmava:
“...não será o sociólogo, nem o economista, nem mesmo operário, quem irá
conduzi o processo de transformação social. Pelo caráter abrangente de sua
formação, pela sua dimensão humanista, caberá ao arquiteto - e só a ele - esse
papel.6
6
SAIA, Luís, “O Papel do Arquiteto” in I Bienal Internacional de Arquitetura, São Paulo, Fundação
Bienal de S. Paulo, IAB, BNH, 1973.
7
DURAND, José Carlos G. O Arquiteto (Estudo introdutório de uma ocupação). Dissertação de
Mestrado, DCS/FFLCH/USP, São Paulo, 1972.
8
TAFURI, M., CACCIARI, M., DAL CO,F., De la Vanguardia a la Metrópolis, Barcelona, Gili, 1972.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 20
9
AAVV. A Proposta da ANDES para a Universidade Brasileira, Belo Horizonte,
ANDES/APUBH/UFMG, 1985.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 22
10
AAVV. O Saber e o Poder. O Público e o Privado. Rio de Janeiro, ANDES/Marco Zero, 1984.
Minhas intervenções no Seminário que deu origem à publicação estão registradas às paginas
XX=VV.
11
A proposta encaminhada à Congregação da EESC era evidentemente, mais ampla que essa
definição de núcleo conceitual e foi elaborada por uma Comissão do SAP. Circunstâncias específicas
do processo de discussão na Escola fizeram que Agnaldo Farias e eu fossemos agregados a
posteriori a essa Comissão e encarregados de elaborar o núcleo de definição conceitual do Curso,
bem como definir as diretrizes gerais da estrutura curricular para as áreas de Teoria e História,
Projeto e Linguagem e Representação. Era um dos supostos e argumentos da proposta o
aproveitamento da capacidade intelectual instalada na área de Ciência e Tecnologia na Escola e no
Campus.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 23
12
Cfr. MAIA, É., VASCONCELLOS, J., PODESTÄ, S., Três Arquitetos, 1980-1985, Belo Horizonte,
s/ed., 1985.
13
Na proposta original, a carga horária total das disciplinas de Teoria e História significava cerca
de 20 % da carga total, bastante elevada tanto em relação aos padrões tradicionais das Escolas
Brasileiras quanto às Escolas internacionais normalmente reconhecidos como centros fortes na área
teórica. Barcelona e Veneza, por exemplo, tem essa proporção pouco abaixo dos 10%.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 25
O quarto ano ficava assim, na proposta inicial, dedicado ao debate das teorias
e questões da produção contemporânea, genericamente compreendida como aquela
que se embate com o campo de questões colocados pela teoria e pela produção
internacionais a partir da segunda metade dos anos sessenta. Neste caso,
obviamente não se trata de um enfoque histórico mas de uma abordagem que
14
Cfr. Ementas das disciplinas SAP 353 e 354. Arte e Arquitetura no Brasil I e II. Serviço de
Graduação, EESC/USP.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 26
15
Num processo que para alguns chega a ser excessivo, o Curso, aos seus 13 anos de existência
já passou por duas propostas de reorganização integral, afora os arranjos parciais no âmbito de
disciplinas ou seqüência. Em 1989 ensaiou-se uma tentativa de implantação do esquema de atelier
integrado, que não foi adiante. Desde 1997 o Curso está novamente em processo de reorganização
curricular, atendendo agora ao processo geral das Escolas do país de reflexão sobre as mudanças
propostas pela alteração do Currículo Mínimo em 1996 e pela necessidade de elaborar as diretrizes
curriculares exigidas pela nova LDB.
16
MARTINS, Carlos, “Especialização versus formação generalista”: o mercado e o ensino”,
Conferência da Mesa Temática “O Controle da Produção”, XV Congresso Brasileiro de Arquitetos
Oscar Niemeyer,. Curitiba, IAB, 29/10 a 01/11. O texto da conferencia está no prelo e deverá ser
publicado nos Anais do Congresso até o final deste ano.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 27
17
É verdade que o esquema de atelier segue sendo a base da proposta de ensino em vários
países com uma forte tradição de prática arquitetônica consistente, como é o caso da Espanha, da
Itália ou da Argentina, que adota basicamente o modelo hispânico. Entretanto as enormes diferenças
de modelo universitário, nestes casos apoiado no sistema de livre ingresso, tornam extremamente
problemática qualquer relação imediata.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 28
Se para um leitor externo, as questões colocadas nos textos devem poder ser
compreendidas por si só, para o autor empenhado em redefinir os nexos que
articulam o desenvolvimento do próprio trabalho não há como escapar às condições
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 29
E mais adiante:
Que estas citações, assim como o próprio texto de De Decca não apareçam
no texto da dissertação indica que o seu efeito foi mais conceitual e metodológico do
que temática. Ou dizendo de outra maneira, abriu a possibilidade de uma
perspectiva de trabalho que permitia equacionar o papel do trabalho historiográfico
na constituição do campo temático e repensar a dimensão operativa do trabalho do
historiador. No nosso caso isto significava a necessidade de reconstruir o processo
pela qual o discurso programático dos protagonistas havia sido assimilado pela
18
Cfr. CHAUÍ, M. “A História a Contrapelo”, prefácio a DE DECCA, E., 1930. O Silêncio dos
Vencidos, São Paulo, Brasiliense, 1980. Os trechos citados estão às pp. 13 e 14.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 31
19
MARTINS, C. Arquitetura e Estado. Elementos para uma investigação sobre a Constituição do
Discurso moderno no Brasil. A Obra de Lúcio Costa 1924/1952. Dissertação de Mestrado,
FFLCH/USP, 1988. O trecho citado está à p. XIII. Doravante citaremos como MARTINS (1988).
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 32
Dizíamos:
20
Esse o título do ensaio específico de Tafuri no já citado De la Vanguardia a la Metrópolis.
21
A leitura do paradoxo arquitetura moderna “socializante” versus Estado autoritário é quase
constitutiva da própria narrativa historiográfica. Ela aparece já, ainda que diplomaticamente
dissimulada no texto de Goodwin, que caracterizamos como o momento fundante, de “montagem”da
trama narrativa. Cfr. GOODWIN (1943).
22
Na dissertação tomamos os trabalhos de Micelli como representativos desta posição.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 33
operação ideológica que um autor ou corrente possa elaborar não encontra os meios
próprios de institucionalização.
Como a noção de ordem de visibilidade era, para nós, clave para a definição
do “eixo de mirada” da dissertação, vale a pena resgatar aqui, a formulação de Le
Bot:
23
Cfr. LE BOT, Marc. “Arte/Design” in Malasartes (3): 20.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 34
Nos socorríamos também de Bonta, que era ainda mais direto na sua defesa
de uma dimensão ativa da análise textual, indicando sua incidência direta nos
processos de percepção e apropriação dos sentidos da obra arquitetônica:
24
Cfr. BANHAN, Reyner, El crítico como historiador, El historiador como Crítico, in Summarios (4):
7
25
Juan Pablo BONTA tem um trabalho clássico sobre as transformações no tempo das matrizes
de leitura do Pavilhão de Barcelona, de Mies. O texto aqui citado é “Arquitectura hablada” in
Summarios (4): 8
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 36
"De hecho, la história de la arte es la única entre todas las histórias especiales
que se hace en presencia de los hechos y, por lo tanto, no tiene que evocarlos,
reconstruirlos ni narrarlos, sino solo interpretarlos. (...) (sin embargo) la obra de
arte no vale para nosotros de la misma manera que valia para el artista que la
hizo para los hombres de su tiempo; la obra es la misma, pero las conciências
cambian".27
Estas eram as referencias que nos permitiam uma conclusão que era antes a
afirmação prévia da possibilidade e do sentido de nosso trabalho:
26
MARTINS (1988): 5
27
Carlo Giulio ARGAN, El historia del Arte in Historia del Arte como Historia de la Ciudad.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 37
E uma vez mais era Argan quem nos indicava a importância de lembrar que
todo juízo estético ou moral é sempre um juízo histórico, cuja importância está além
da veracidade:
28
Carlo Giulio ARGAN, op.cit., pp 25-26.
29
Carlo Giulio ARGAN, op.cit., p 20
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 38
30
Philip L. GOODWIN, Brazil Builds. Architecture Old and New: 1652/1942, Nova York, MoMA,
1943.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 39
31
Ibid., p. 92.
32
A partir do texto de Goodwin, e na pauta da interpretação aberta, dedicaram-se à arquitetura
brasileira vários números especiais de revistas internacionais. Cf., entre outras, The Architectural
Review, março 1947; The Architectural Forum, novembro 1947: L'Architecture D'Aujourd'Hui,
setembro 1947 e agosto 1952.
33
Henrique E. MINDLIN, Modern Architecture en:(*tem esses ":"?) Brazil, Amsterdã, Meuelenhof,
1956. Publicado simultaneamente em traduções francesa e alemã por V. Frèal e Callwey Verlag,
respectivamente.
34
O barroco de Minas Gerais foi objeto de uma pesquisa exaustiva em Germán BAZIN,
L'Architecture Religieuse au Brésil. Paris, s.f. (1973)
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 40
35
Siegfried GIEDION, "Brazil and Contemporary Architecture", prefácio em Mindlin (1956), pp. IX-
X.
36
Geraldo FERRAZ, Warchavchik e a introdução da Arquitetura Moderna no Brasil: 1925/1940,
São Paulo, M.A.S.P., 1965.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 41
37
Lúcio COSTA, "Depoimento de um Arquiteto Carioca (Muita Construção, Alguma Arquitetura e
um Milagre)", Correio da Manhã, 15.06.1951. Reeditado como Arquitetura Brasileira, Rio de Janeiro,
M.E.C. (Col. Cadernos de Cultura), 1952.
38
Yves BRUAND, L'Architecture Contemporaine au Brésil, (Tese doutoral), Paris, s.e., 1975.
Publicada em português como Arquitetura Contemporânea no Brasil, São Paulo, Perspectiva, 1981.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 42
Vejamos:
Iluminar estas zonas, enfrentar essas perguntas, talvez exija outra trama.
Uma primeira questão é de ordem metodológica. Embora esse esquema toque
nas relações entre arquitetura e outras esferas da produção cultural, o faz mais
quando a ausência de sincronismo causa um ruído estranho à sua linearidade.
É o caso da assincronia entre a arquitetura e a Semana. Resultado de uma
visão de alteridade, embora possa afirmar o contrário, a matriz interpretativa
que analisamos não parte do entendimento da arquitetura como parte
integrante do campo da produção cultural. Por isso não consegue inserir em
sua trama que a arquitetura, apesar de seus condicionantes e procedimentos
específicos, tem de enfrentar os mesmos desafios e buscar respostas às
mesmas questões que estão colocadas para o conjunto da produção cultural de
um momento histórico dado.
Outro ponto que nos parece importante é o tratamento dado pela interpretação
dominante à questão da "originalidade" da arquitetura brasileira, apresentada
como condição de legitimação internacional e não fundamentalmente como
uma necessidade do processo - ou estratégia - de institucionalização interna da
linguagem moderna. Esse viés releva o fato de que a articulação entre tradição
e modernidade não é um problema exclusivo da arquitetura mas uma questão
central de todas as áreas da produção cultural nesse período. Esquece ou
ignora que tampouco é uma questão "originalmente" brasileira.
Por fim, aquilo que nos parece o nó gordio da estrutura interpretativa analisada:
a constatação da importância do papel das encomendas oriundas do aparelho
estatal não tem correspondência num esforço consistente de interpretação das
relações entre modernidade, arquitetura e Estado.
Apoio de mecenas esclarecidos e ambiciosos que utilizam a arquitetura para
sua afirmação política pessoal ou esforço de articulação do recurso
arquitetônico ao projeto ideológico de construir a imagem da modernização?
Ou ainda, projeto específico dos produtores culturais que vêem na ação
através do Estado a estratégia necessária de afirmação de sua produção?
Nesta questão, que é central, a interpretação dominante não se pergunta se a
afirmação através do Estado foi uma condição circunstancial ou se é estratégia
inerente ao projeto construtivo na sua vertente corbusiana. E por isso é incapaz
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 46
39
MARTINS (1988): 71-76
40
Paul VEYNE, Como se escreve a história, p 51.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 47
Numa operação que é talvez mais evidente nas formulações da Bauhaus mas
que diz respeito a toda a vertente construtiva do movimento moderno, a arte, e a
arquitetura, deslocadas de seu papel tradicional pela expansão do sistema
capitalista industrial, se propõem a afastar-se da região mítica e metafísica em que
eram concebidas para pensar as condições de sua integração no processo de
transformação social.
41
MARTINS (1988): 78.
42
MARTINS (1988): 80.
43
MARTINS (1988): 80.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 49
44
Talvez a mais emblemática formulação desse genérico horizonte socializante seja o ensaio de
Hannes Meter, Die Neue Welt, traduzido e publicado em MEYER, H., La Arquitectura en la lucha de
clases y otros escritos, Barcelona, Gili, 1972, com seleção, prólogo e notas de Dal Co.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 50
45
MARTINS (1988): 84.
46
O trabalho de Franco Borsi, publicado em 1987, mas que não conhecíamos à altura da redação
da dissertação é um excelente sumário dos processos de reapropriação do repertório classicizante
tanto pelos regimes autoritários como pela chamada “Nova Tradição”, imperante nas democracias
formais do Ocidente durante os anos 30. Cfr. BORSI, F., The Monumental Era. European Architecture
and Design 1929-1939, New York, Rizzoli, 1987.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 51
Utilizando uma expressão cunhada por Von Moos para explicar as afinidades
entre Le Corbusier e Nehru, que possibilitaram a realização de Chandigarh47, e
apoiado nos trabalhos de Medeiros, Chauí e Lamonier48, buscávamos estabelecer as
relações entre o ideário moderno recém introduzido e o ambiente ideológico das
primeiras décadas do século:
47
Cfr. VON MOOS, Stanislaus, Le Corbusier. Elements od a Sintesis, Barcelona, Blumen, 1977.
Pp. 215-20. Ed. orig.: 1969.
48
MEDEIROS, Jarbas, Ideologia Autoritária no Brasil 1930-45; CHAUÏ, Marilena, Apontamentos
para uma crítica da Ação Integralista Brasileira; LAMOUNIER, Bolivar, Formação de um Pensamento
Político Autoritário na Primeira República.
49
MARTINS (1988): 89
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 52
O segundo capítulo se encerra com aquela que me parece a mais nuclear das
proposições do trabalho, em relação ao tema específico da relação entre Arquitetura
e Estado. Identidade e Estado no Projeto Modernista foi publicada em 1992, e
ganhou, assim como o primeiro capítulo, vida própria, talvez pelo seu caráter de
síntese de uma proposta de olhar sobre as relações entre o projeto moderno na
arquitetura brasileira e o Estado, salvo ignorância minha, inédita.
50
Cfr. BRITO, Ronaldo. O Trauma do Moderno in TOLIPAN, Sergio, Sete Ensaios sobre o
Modernismo, Rio de Janeiro, FUNARTE, 1983. ZILIO, Carlos, A Querela do Brasil, Rio de Janeiro,
FUNARTE, 1982.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 53
“Se fosse possível estabelecer uma lei da evolução de nossa vida espiritual,
poderíamos talvez dizer que toda ela se rege pela dialética do localismo e do
cosmopolitismo...”51
Comentávamos:
Essa tensão entre local e universal pode ser pensada como uma característica
inerente à produção cultural mais significativa de um país cuja condição
subordinada, colonial ou não, não obscurece o fato de ser, ele próprio, criação
do sistema econômico ocidental em expansão e, portanto, parte integrante de
seu próprio movimento.
Com a produção modernista, a partir da década de 20, ela adquirirá, entretanto,
contornos e configurações mais precisas. A ambiência do primeiro Pós-guerra,
com seu surto de industrialização, com o crescimento e a complexização da
vida urbana, a presença massiva e atuante dos contingentes de imigrantes, o
conhecimento e a repercussão dos acontecimentos internacionais - da própria
Grande Guerra à Revolução Bolchevique - contribuem para marcar uma
sensação, ambígua certamente, de pertinência, cada vez mais indissociável, ao
sistema internacional. Mas também de inelutável diferença.52
51
Cfr. CANDIDO, Antonio, Literatura e Sociedade, São Paulo, Nacional, (5a. ed.) 1976.
52
MARTINS (1988): 111.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 54
53
Cfr. MANRIQUE, Jorge A., “Identidad o Modernidad? “ in BAYÓN, Damián, América Latina en
sus Artes, México, Siglo XXI, 1974.
54
LAFETÄ, João Luiz. “Estética e Ideologia. O Modernismo em 30” in Argumento, nº 3, 1974.
55
MARTINS, Luciano. La Genèse d’une Intelligentsia: Les Intellectuels et la politique au Brésil,
1920-1940, Paris, CEMS, 1986.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 55
56
MARTINS (1988): 121.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 56
“Num país como o nosso. Em que a cultura infelizmente ainda não é uma
necessidade cotidiana de ser, está se aguçando com violência dolorosa o
contraste entre uma pequena elite que realmente se cultiva e um povo
abichornado em seu rude corpo. Há que forçar um maior entendimento mutuo,
um maior nivelamento geral da cultura que, sem destruir a elite, a torne mais
57
BRITO (1983): 15.
58
Diante deste quadro, a perspectiva de Micelli não pode menos que parecer redutiva. Parece
bastante aquém do convincente aceitar que a atuação de intelectuais e artistas modernistas em
instâncias políticas fosse o preço a pagar “pelo êxito em monopolizar as instâncias de financiamento
que lhes deram o controle das concessões públicas dos serviços e recursos nessa área e a
autoridade intelectual para externar juízos em assuntos culturais” . Cfr. MICELLI, Sérgio, Intelectuais
e Classe dirigente no Brasil, 1920-1945, Rio de Janeiro, DIFEL, 1979, pp. 159-60. Ver tb. MICELLI, S.
(org.). Estado e Cultura no Brasil, São Paulo, DIFEL, 1984.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 57
59
Carta a Paulo Duarte, datada provavelmente de final de 1937, reproduzida em DUARTE, Paulo,
Mário de Andrade por ele mesmo, São Paulo, HUCITEC/PMSP, 1985, pp. 150-4.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 58
“.. na véspera da indicação fazia praça de credo nacionalista ... (e) se fizera
da noite para o dia agente secreto do internacionalismo judaico”.62
“Por mais que certas tendências se tenham incrustado em minha cabeça não
acho isso um mal não. Mas não posso também achar um bem, apesar de todo
o meu entusiasmo pelo que seja brasileiro. Meu espírito a esse respeito anda
numa barafunda tamanha que resolvi adquirir idéias firmes sobre o caso”. 63
60
COSTA, Lúcio, Depoimento de uma Arquiteto Carioca, Rio de Janeiro, MEC, 1952.
61
COSTA, Lúcio, “A Arquitetura Tradicional e o Aleijadinho” in O Jornal, 1929. Reproduzido em
Lucio Costa: Sobre Arquitetura, GFAU/UFRGS, Porto Alegre, 1962.
62
MARIANO FILHO, José, “Escola Nacional de Arte Futurista”, O Jornal, 22/07/1931.
63
Apud FORJAZ CRISTIANO DE SOUZA, Ricardo, Trajetórias da Arquitetura Modernista,
PMSP/SMC, 1982.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 60
64
COSTA, Lúcio, “O Palácio da Embaixada Argentina”, O Jornal, 28/04/1928, Reproduzido em
XAVIER, Alberto (org), Lucio Costa: Obra Escrita, FAU/UnB, 1966.
65
Em Registros de uma Vivência, Costa indica que o texto era o “Programa para um curso de
pós-graduação do Instituto de Artes, dirigido por Celso Kelly, na antiga Universidade do Distrito
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 61
A técnica moderna permite essa fusão, mas não a garante. É por isso que na
arquitetura moderna de origem “nórdica”,
“... estimulados pelo nacionalismo racista. No seu apelo aos últimos vestígios
de aspereza gótica que se possam, porventura, ainda esconder sob o brilho da
“kultur”- é fácil reconhecer no modernismo alemão os traços inconfundíveis
Federal, criada por Anísio Teixeira...”. Não temos conhecimento de publicação anterior à Revista da
Diretoria de Engenharia (PDF), de junho de 1936.
66
COSTA, Lúcio, “Razões da Nova Arquitetura”, reproduzido em Lúcio Costa: Sobre Arquitetura,
GFAU/UFRGS, Porto Alegre, 1962.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 62
“Filia-se a nova arquitetura, isto sim, nos seus exemplos mais característicos -
cuja clareza nada tem do misticismo nórdico - às mais puras tradições
mediterrâneas, àquela mesma razão dos gregos e latinos, que procurou
renascer no Quatrocentos, para logo depois afundar sob os artifícios da
maquiagem acadêmica - só agora ressurgindo, com imprevisto e renovado
vigor. E aqueles que, num futuro não tão remoto quanto o nosso comodismo
de privilegiados deseje, tiverem a ventura - ou tédio - de viver dentro da nova
ordem conquistada, estranharão, por certo, que se tenha pretendido opor
criações de origem idêntica e negar valor plástico a tão claras afirmações de
uma verdade comum.
Porque, se as formas variam - o espírito ainda é o mesmo, e permanecem,
fundamentais, as mesmas leis.”
Dizíamos, na Conclusão:
Mas parece, ao objetivos deste texto, mais importante indicar que no trabalho
aí sumariado, estava contido, ao menos para o seu autor, menos uma conclusão
que um programa de trabalho, cuja realização se daria tanto na atividade de ensino
quanto no desenvolvimento do metier do pesquisador. E ao qual, a construção
institucional não era, nem é, estranha. De certa forma, estávamos ainda, assim
pensava eu, às voltas com o caráter inacabado do programa modernista, expresso
de forma contundente no compromisso ainda não saldado - e por isso mesmo
renovado - com a educação.
67
MARTINS (1988): 190.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 65
O fato é que acabamos por voltar, seja no ensino, seja em novos momentos
de elaboração teórica, ao tema da dissertação, o que lhe dá um estranho sabor de
incompletude. Por circunstâncias do momento de sua conclusão, a dissertação não
foi publicada enquanto tal, tendo vivido uma curiosa fortuna crítica, reproduzida
precariamente em xerox, apresentada parcialmente em congresso ou seminários,
extensivamente utilizada na sala de aula, ela foi, mesmo para o seu autor, se
caracterizando como um trabalho em progresso.
68
EVENSON, Norma, “The Yesterday’s City of Tomorrow Today” in BROOKS, Henry Allen, (org.)
Le Corbusier. The Garland Essays, New York/Londres, 1987, pp. 241-9. O volume recolhe os ensaios
publicados originalmente na coleção, também organizada por Brooks, The Le Corbusier Archive, 32
vols., New York/Paris, Garlan/Fondation Le Corbusier, 1982-1984.
69
MARTINS, Carlos, “État, Nature et Culture aux Origines de l”Architecture Moderne au Brésil. Le
Corbusier et Lúcio Costa, 1929-1936, in FLC, Le Corbusier et la Nature (Rencontres de la Fondation
Le Corbusier), Paris, 1991, pp. 19-28. Esse texto foi traduzido e publicado em Caramelo, nº 6, pp.
129-36. Alguns de seus argumentos iniciais são retomados também no artigo em “De aquella luz
nació una arquitectura”, publicado em BLOCK, nº 2, em 1998.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 66
tema da arquitetura brasileira mas continha uma sugestão que poderia se revelar
estimulante para os historiadores voltados ao estudo do mestre internacional.
Nesse encontro, num dos momentos de debate, William Curtis sugeria que a
compreensão plena da obra de Le Corbusier só seria completa com um
mapeamento das condições e formas de recepção da poética corbusiana nos
distintos países do mundo em que sua arquitetura deixou uma marca forte. Por
coincidência minha comunicação começava por um breve resumo do foco central da
dissertação para, em um certo momento, afirmar:
história e por convicção, universalista. Por isso mesmo, quando convidado pelos
jovens editores da revista Caramelo a publicar “algo”, considerei que um texto
concebido para ouvintes - e leitores - estrangeiros e, portanto, supostamente pouco
familiarizados com as questões específicas do processo brasileiro, talvez tivesse,
também aqui, o seu interesse.
70
MARTINS, C., “A Constituição da Trama Narrativa na Historiografia da Arquitetura Brasileira”, in
Revista Pós, (Número especial O Estudo da História na Formação do Arquiteto), FAUUSP, julho/95,
p.94-5.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 70
71
MARTINS, Carlos e FARIAS, Agnaldo, “Intermezzo Braziliano” in Rassegna, *** completar ***
72
Haveria que indicar, como a confirmar a regra, as exceções de Baumgart, que é destacado por
sua contribuição à renovação estrutural representada pelo edifício do Ministério, e a Joaquim
Cardoso, que, entretanto, ganha destaque na crônica da arquitetura pela aparentemente inusitada
coincidência entre a condição de engenheiro calculista e poeta. Mesmo na esfera específica de uma
história do concreto armado, sem exigir a reflexão sobre as relações entre este e a arquitetura
moderna, pouco temos além do pioneiro livro de Vasconcellos , C. A., A História do Concreto Armado
no Brasil, São Paulo, Pini, 2 vol. 1989.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 71
PARTE 2.
LE CORBUSIER: MÁQUINA, CIDADE E PAISAGEM
73
Não considerarei, para efeito desta discussão, as relações “líricas” alegadas por alguns dos
nossos arquitetos, que relacionam as linhas curvas de sua arquitetura à suavidade da paisagem e às
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 73
curvas da mulher amada. Estas leituras devem, creio, ser aceitas como liberdade poética e não como
hipótese orientadora de leitura.
74
MARTINS, Carlos, Razón, Ciudad y Naturaleza. La Génesis de los conceptos en el urbanismo
de Le Corbusier. Tese de Doutoramento. Escuela Técnica Superior de Arquitectura de Madrid /
Universidad Politécnica de Madrid, 1992. 536 p. Nas citações posteriores a tese aparecerá como
MARTINS (1992). A numeração de páginas estará referida ao volume original, para facilitar a
comprovação. Preferi, entretanto, citar os trechos na língua portuguesa, da versão traduzida, que
será publicada pela Editora HUCITEC.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 74
A leitura dos projetos urbanísticos para a América do Sul foi deslocada para o
terceiro capítulo quando começou a tomar forma uma das idéias centrais da tese, a
de que esses projetos não significavam um simples abandono dos postulados
puristas mas eram o resultado de um complexo processo de reorientação do “olhar”
de Le Corbusier, indelevelmente marcado pela experiência do vôo, que para ele
significa a conquista fenomênica da vue d’oiseau, mas também a possibilidade de
descoberta da exuberância natural e da escala do continente americano. Afirmamos
na tese que essa nova “descoberta da América”, registrada na verdadeira epifania
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 77
O debate com os adeptos da “nova objetividade”, que atinge o seu ponto mais
ácido na virulenta crítica de Teige, a que Corbusier responde com o famoso Defense
de l’Architecture, foi objeto ainda da elaboração de um quarto capítulo que preferi
não inserir no corpo da tese por questões de continuidade argumentativa. Serviu,
entretanto, para compreender a impropriedade da caracterização de sua arquitetura
e de seu urbanismo como “funcionalistas”. Ao contrário, ele é firmemente
denunciado pelos teóricos e arquitetos da “nova objetividade” como um formalista
que abandonou suas formulações iniciais, traindo as convicções racionais de seus
companheiros de jornada, para dedicar-se a um “incompreensível jogo com as
formas do passado”.
75
A referência era a Maurice BESSET, Qui était Le Corbusier, Genebra, Skira, 1968, (2ª ed.:
1987); Stanislaus von MOOS, Le Corbusier, Barcelona, Blume, 1977. Ed. orig: Le Corbusier.
Elemente einer Synthese. Frauenfeld, Huber, 1968. A versão inglesa, corrigida e ampliada, é de
1979; Jean PETIT, Le Corbusier lui-même. Genebra, Rosseau (Col. Forces Vives), 1970; Gerard
MONNIER, Le Corbusier: Qui suis-je?, Lyon, La Manufacture, 1986; Willian J. R. CURTIS, Le
Corbusier, Ideas and forms. Oxford, Phaidon, 1986; Thilo HILPERT, La Ciudad Funcional: Le
Corbusier y su visión de la Ciudad, Madri, IEAM, 1983. Ed. orig.: Die Funktionelle Stadt.
Braunschweig, Fried. Vieweg, 1978. O excelente trabalho de Hilpert tampouco constitui uma visão de
conjunto na medida em que se detém na formulação da Carta de Atenas e constitui uma leitura antes
sociológica que histórica. O primeiro esforço de uma visão de conjunto do urbanismo de Le Corbusier
é realizado em Norma EVENSON, The Machine and the Grand Design, N. York, Braziler, 1969.
76
MARTINS (1992): 18-19.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 79
77
MOOS (1969), Trad. cit., p. 183.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 80
78
Lewis MUNFORD, "Yesterday's City of Tomorrow Today", Architectural Record, nº 143,
novembro 1962, p. 141.
79
Jane JACOBS, The Death and Life of Great American Cities. Nova York, Random, 1961, p. 23
80
EVENSON (1987), p. 249.
81
Ibid., p. 246.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 81
A verificação dos textos do período purista mostra antes de mais nada, uma
utilização polissêmica da palavra máquina82:
82
A citação que se segue é um conjunto de excertos do item “Máquina, Metáfora e Analogia”. Cfr.
MARTINS (1992). pp. 62-74.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 82
83
Este sentido, mais literal, do "maquinismo" não é o menos importante para uma caracterização
genérica das diversas poéticas das vanguardas construtivas. Entretanto é o que menos nos interessa
desenvolver aqui, seja porque é o que corresponde a uma visão mais difundida (e, em certa medida
"naïf") na "crítica das vanguardas" seja porque a sua adequada compreensão exige uma remissão às
condições sociais, tecnológicas e políticas dos contextos nacionais específicos em que atuam, que
escapa completamente ao objetivo deste trabalho. É evidente que "as possibilidades do maquinismo"
não têm as mesmas implicações ideológicas pensadas no quadro da experiência social-democrática
de Weimar que no projeto soviético de construção do "Estado Operário" ou na França dos anos 20.
No entanto, implicam uma visão genericamente "universalista" e são a base da crença em um vago
"horizonte socializante", do qual é uma boa amostra o artigo de Hannes MEYER, "Die Neue Welt" de
1926, reproduzido em Mara de BENEDETTI e Attilio PRACCHI, Antologia dell´Architettura Moderna:
Testi, manisfesti, utopie, Bolonia, Zanichelli, 1988, pp. 444.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 83
84
Le Corbusier, La Leçon.de la Machine,.(1924) Grifado no original.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 84
85
Como o indica von MOOS, mais que uma novidade da visão de Le Corbusier, há neste aspecto
a filiação à tradição iluminista francesa. Comentando a crítica de Sedlmayr, para quem "quase não se
pode imaginar um ídolo mais baixo do que a máquina", afirma: "Nem Pascal, nem Descartes, nem
Leibniz estariam de acordo com isto. Nem Voltaire, que se maravilha: «L´homme est tellement
machine». Sem falar de La Metrie e de seu «Homme machine». A fórmula da máquina para viver,
como tantas outras emitidas por Le Corbusier, encontra assim suas raízes no Século das Luzes,
apesar do que, durante decênios, será denunciada como uma ficção frivolamente futurista e anti-
humanista." Cf. MOOS (1968), p. 93. É sintomático que Après le Cubisme tenha sido posto sob a
autoridade dessa tradição: cada um dos seus capítulos começa com uma epígrafe tomada de
Voltaire, Poussin, Rousseau e Montesquieu.
86
Le Corbusier, La Leçon.de la Machine,.(1924).
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 85
87
Cf. STEADMAN, Philip. Arquitectura y Naturaleza: Las analogías biológicas en el diseño,
Madrid, Blume, 1982. Ed. orig.: Cambridge Univ. Press, 1979. Ver especialmente, para este ponto, o
cap. 2, "La Analogía Orgánica", pp. 23-38. O texto oferece, sem dúvida, sugestões muito
estimulantes, como voltaremos a comentar no referente à idéia de "seleção mecânica". Sem
embargo, em nossa opinião, minimiza a importância do recurso à geometria, reiterativo em Ozenfant
e em Le Corbusier, como base comum para as analogias entre máquinas, seres vivos e obras de
arte.
88
Le Corbusier, La Leçon.de la Machine,.(1924)
89
Le Corbusier, La Leçon.de la Machine,.(1924)
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 86
entre arte e máquina são, na poética purista, mais sutis do que estamos
acostumados a encontrar na literatura corrente:
90
DUCROS, Après.le Cubisme..(1987), p. 47.
91
LC, Vers.une architecure..(1923), p. 79.
92
LC, La Leçon.de la Machine..(1924).
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 87
93
As citações a seguir são excertos de “Seleção e forma-tipo”. Cfr. MARTINS (1992): 107-13.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 88
94
O&J, Purisme (1921), Trad. cit., p. 171.
95
O&J, Purisme (1921), Trad. cit., p. 171.
96
STEADMAN (1979), Trad. cit., pp. 158, 164.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 89
"Se nossos espíritos são diversos, nossos esqueletos são semelhantes, nossos
músculos ocupam o mesmo lugar e realizam as mesmas funções: dimensões e
mecanismos estão então determinados.(...) Sensíveis à harmonia que dá a
quietude, reconheceremos o objeto que esteja harmonizado com nossos
membros. (...) Portanto os objetos-membros humanos estão conformes com
nosso sentimento de harmonia ao estar conformes com nosso corpo."97
Porém o reconhecimento dessa harmonia não implica a admissão desses
objetos enquanto tais no universo da arte, nem tem sentido, portanto, falar da
sua perenidade. No mesmo texto, Le Corbusier reivindica taxativamente a
hierarquia:
"Primeiro a Sixtina, quer dizer, as obras onde verdadeiramente se inscreveu
uma paixão. Depois máquinas de sentar, de classificar, máquinas-tipo. (Estas
são) problema de purificação, de limpeza, de elaboração, antes que problema
de poesia."98
Existe, portanto uma beleza mecânica, tanto nos objetos naturais quanto nos
desenvolvidos pelo trabalho humana. Esta é resultado do lento processo de seleção
mecânica, que obedece, assim como a seleção natural, a uma lei maior, a lei da
economia.
97
"Besoins-Type, Meubles-Type" em Le Corbusier, L'Art Décoratif d’Aujourd’hui(1925), p. 76.
98
Ibid., p. 77.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 90
99
Le Corbusier, Urbanisme, Paris, Frèal, 1925, p. 24.
100
Ibid., Idem.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 91
senão que busca estabelecer uma clara distinção entre a linha civilizatória que
esteve apoiada no "espírito geométrico" e aquela que se caracterizou por apartar-se
dele:
101
Ibid., p. 36. É evidente que esta citação poderia ser extraída integramente de um dos seus
textos sobre pintura, ou sobre arquitetura. O fato de que Le Corbusier, independentemente da
argumentação "técnica" em relação à circulação mecânica, à industrialização da habitação ou à
separação das funções urbanas, coloque os antecedentes históricos nos mesmos termos que o faria
(e o fez) para justificar suas proposições pictóricas ou arquiteturais mostra que ele concebe
inicialmente a cidade como um fato estético.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 92
"O trabalho da razão se acrescenta sem fim, sua curva é ascensional; ele cria o
instrumento; é o que chamamos o progresso. Os sentimentos da paixão são
constantes (...) Podemos arriscar a hipótese de que as grandes obras
emotivas, obras de arte, nascem da feliz integração entre a paixão e o
conhecimento."104
102
Ibid., p. 33.
103
Cfr. MARTINS (1992), cap. 1, especialmente item 2. Pp. 41-62.
104
"Pérennité", em: Le Corbusier, Urbanisme (1925), pp. 43-44.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 93
metáfora da ordem e não como criação perecível da técnica. Por isto sua cidade
deve ser obra do poeta, mais que do engenheiro:
Esta visão da cidade como fato essencialmente tem, para a compreensão das
proposições urbanísticas corbusianas, conseqüências radicais. Sabido que boa parte
de Urbanisme é dedicada a explicar minuciosamente o funcionamento cidade
proposta pelo modelo da Ville Contemporaine, é surpreendente que a literatura não
tenha dado a devida atenção à oposição que le Corbusier estabelece entre a “alma”
e o “mecanismo” da cidade:
105
Ibid., p. 44.
106
Ibid., p. 49-50. Grifo nosso.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 94
"... que essa harmonização mecânica permanece deste lado das sensações
profundas e definitivas ligadas a nosso ser sensível, à organização sentimental
que detém o segredo de nossa felicidade ou de nosso infortúnio."108
107
"Classement et choix", em: Le Corbusier, Urbanisme (1925), pp. 54-55.
108
Ibid., p. 55.
109
Se tomamos como indicador, ainda que saibamos que não pode ser exclusivo, a fortuna do texto
com relação a suas traduções, verificamos o seu atraso com respeito aos demais textos de Le
Corbusier. A primeira tradução ao alemão (Frankfurt, Ullstein) é de 1964, quatro anos posterior,
portanto, à primeira reedição francesa (Paris, Vincent Frèal, 1960); em castelhano aparece por
primeira vez em 1977 (Buenos Aires/Barcelona, Poseidón); a tradução italiana é de 1979 (Bari,
Laterza). E, um último dado significativo, a primeira edição em língua inglesa é de 1991 (Precisions
on the present state of architecture and city planning, Cambridge (Mass.), MIT Press, trad. de Edith
Schreiber Aujame).
110
Cf., entre outros, Mary McLEOD, "Le Corbusier and Algiers", Oppositions, nº 19-20, 1980, p. 55.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 95
Por outro lado, o trabalho de Tafuri parece também marcar uma tendência ao
considerar os planos de América do Sul como "ponto de partida" conceitual cujo
completo desenvolvimento se daria nos distintos planos para Argel, realizados ao
longo da década seguinte112. É evidente que essa interpretação tem fortes
argumentos no desequilíbrio dos esforços, tanto projetuais como propagandísticos,
do próprio Le Corbusier113. No entanto, não houve realmente, como veremos mais
adiante, um desinteresse seu pela possibilidade de viabilização dos projetos sul-
111
É interessante verificar que os -poucos- trabalhos que se detêm na análise dos projetos urbanos
de 1929 dão-se principalmente na órbita da pesquisa e/ou da publicação italianas. Cf. TAFURI
(1972)(1969); Marcello FAGIOLO, "Le Corbusier 1930: I Piani per l'America Latina e per Algeri",
Ottagono, nº 44, março 1977; Francesco TENTORI, Vita e Opere di Le Corbusier, Roma/Bari,
Laterza, 1979, especialmente pp. 75-86; Francesco TENTORI e Rosario DE SIMONE, Le Corbusier,
Roma/Bari, Laterza, 1987, especialmente cap. 6: "Proposte per le Cittá dell'America Latina", pp. 95-
104.
112
Tentori é um dos primeiros em resgatar a importância da viagem de 1929: “è stata trascurata
l'enorme importanza per L-C do viaggio in América.(...) sono probabilmente um dei momenti più
intensi e felici della sua vita." Cf. TENTORI (1979), p. 75.
113
Somente em relação aos planos urbanísticos gerais de Argel (quer dizer, sem contar com o
desenvolvimento de projetos parciais) a Fondation Le Corbusier tem arquivadas 335 pranchas, contra
os escassos croquis relativos aos projetos sul-americanos de 1929. Cf. FLC, Architecture: Plans et
Archives, Paris, s.f. (1989). Os planos de Argel ocupam ainda boa parte da atividade propagandística
de Le Corbusier até inícios dos anos 40. Ver, para uma análise dos distintos planos para Argel e sua
inserção na tradição do urbanismo colonial francês, Jean Pierre GIORDANI, Le Corbusier et les plans
pour Algier, (Tese de Doutorado), Paris, Université de Paris I, 1987. Para uma análise exaustiva das
implicações políticas da postura lecorbuseriana no período, particularmente sua relação com o
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 96
"movimento sindicalista" francês e o período de Vichy, ver Mary McLEOD, Urbanism and Utopia: Le
Corbusier from Regional Sindicalism to Vichy, Dissertação de PhD, Princeton University, 1985.
114
À exceção de Buenos Aires, cujo "plano" foi retomado a partir de 1938, tampouco mereceu da
crítica a devida atenção,: embora mantivesse os princípios gerais dos esboços de 1929.
115
Cf. TAFURI, Manfredo, "Machine et memoire: The City in the work of Le Corbusier" em: BROOKS
(ed.), 1987, pp. 203-218. Ver especialmente nota 28, p. 217.
116
A formulação é inicialmente de Tentori: "Le conferenze che deve tenere (...) lo stimolano a fare
una summa retrospettiva di tutta a sua opera." Cf. Francesco TENTORI, Vita e opere di Le Corbusier,
Bari, Laterza, 1979, p. 75. Também Cf. William CURTIS, Le Corbusier: Ideas and forms, Oxford.
Paidon, 1986, p. 121.
117
Cf. LIERNUR (1987), p. 41. A idéia do "urbanismo sensível" está formulada pelo próprio Le
Corbusier que apresenta assim as propostas sul-americanas em La Ville Radieuse: "Comoções sul-
americanas (1929). Introdução a um urbanisme sensível. O clima, a região, a topografia são os
incitadores à diversidade dentro da unidade de uma regra humana." Cf. LC, La Ville Radieuse (1935),
p. 220.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 97
118
Não dispomos da reedição francesa de 1960. Cf., exclusivamente para o Prefácio, a tradução de
Johanna Givanel, Barcelona, Poseidón, 1978. A citação é da pp. 10-11, o grifo, nosso. As demais
citações do livro são, salvo menção expressa, tradução nossa, a partir da 1ª edição.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 98
menir; sua vertical faz com a horizontal do mar um ângulo reto. Cristalização,
fixação do sítio. Aqui há um lugar onde o homem se detém, porque há uma
sinfonia total, magnificência de relações, nobreza. O vertical define o sentido do
horizontal. Um vive por causa do outro. Aí estão as potências da síntese."119
"... o arranha-céus lá no alto não me diz nada muito reconfortante; ele está
demasiado longe."121
"Do alto do platô (cerca de 80 metros) eu sigo para o mar, a nível constante, a
rua principal da cidade, vinda do norte, vinda do campo. Façamo-la seguir em
nível fazendo que ramifique em dois, três, quatro ou cinco braços (ou dedos)
que irão até (...) acima do porto. As ruas estarão no ar e deter-se-ão
bruscamente no ar, a pique."122
"E se, com um gesto simples, havendo criado no lugar adequado (au bon
endroit) os organismos específicos de uma cité d'affaires, sonhamos um
instante com a beleza da cidade, com o orgulho que despertará nos cidadãos,
veremos elevar-se da água, como prolongamento do promontório, um desses
espetáculos arquitetônicos magníficos que, em pequena escala, já conhecemos
119
"Architecture en tout, Urbanisme en tout", em Le Corbusier, Précisions (1930), p. 76.
120
As condições e as possíveis repercussões da estadia de Le Corbusier em Montevidéu são, até
agora, as menos conhecidas dentro do que se estudou sobre a viagem de 1929.
121
Le Corbusier, Précisions (1930), p. 238.
122
Ibid., p. 239.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 99
Das quatro cidades que visita e para as quais apresenta alguma proposta124,
São Paulo é a única que não podia ver inicialmente desde o mar.
123
Ibid., Idem.
124
Le Corbusier visita, ainda, Assunção, em Paraguai, e Mar del Plata, em Argentina, mas não
realiza aí, até onde conhecemos, nenhuma conferência, nem registra nenhuma impressão específica
sobre as cidades.
125
"Corollaire...", em: Le Corbusier, Précisions (1930), p. 242.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 100
Nas antípodas de Buenos Aires, a cidade "a que a natureza nada havia
contribuído" e que, portanto, era "pura criação do espíritoencontra-se Rio de Janeiro.
Nas notas preparatórias das conferências de Rio, aparece esta formulação, com que
se supõe deveria começar a palestra, logo depois dos costumeiros agradecimentos:
"Quando tudo é uma festa (...) quando se está no Rio de Janeiro (...) quando se
escalou as colinas (...) quando se subiu a um avião (...) quando, pelo avião,
tudo se tornou claro, e haveis aprendido essa topografia - esse corpo tão
acidentado e tão complexo -, quando, vencida a dificuldade, haveis sido
surpreendido de entusiasmo, haveis sentido nascer as idéias, haveis entrado
no corpo e no coração da cidade (...) quando sois arquiteto e urbanista, e
coração sensível às magnificências naturais, e espírito ávido de conhecer o
destino de uma cidade (...) então, no Rio de Janeiro (...) acomete-vos um
desejo violento, talvez louco, de aqui também tentar uma aventura humana, o
desejo de jogar uma partida afirmação-homem contra e com presença-
natureza."127
126
AFLC C3.7.125. Grifado no original. Esta declaração é especialmente significativa se
consideramos que, nessa data, Rio no é, absolutamente, uma cidade insignificante do ponto de vista
econômico e demográfico. Além da sua significação política como capital do país, Rio havia vivido um
intenso crescimento demográfico: 35.000 habitantes em 1750, 112.000 em 1825; 522.000 em 1890 e
ao redor de 1.600.000 a finais dos anos vinte. Cf. José CORTEZ, "Umgestaltung der Stadt Rio de
Janeiro, Architekten Cortez und Bruhns", Der Stadtebau, vol 23, nº 4, 1928, pp. 100-104. Dados na p.
100.
127
Le Corbusier, Précisions (1930), p. 236.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 101
"Do avião eu desenhei para o Rio de Janeiro, uma imensa auto-estrada que
ligava a meia altura os promontórios abertos sobre o mar, de maneira a
comunicar rapidamente a cidade, pela auto-estrada, com as zonas salubres
das mesetas."128
"Um braço dessa auto-estrada pode chegar até o Pão de Açúcar; em seguida
desenvolve-se em um curva ampla, majestosa, elegante, acima da Baía
Vermelha, da baía de Botafogo; toca a colina onde termina a Praia da Glória,
domina ao fundo esse sítio encantador, roça o promontório de Sta. Teresa e,
lá, no coração da cidade ativa, abre-se, inclinando um braço para o golfo e o
porto mercante e termina sobre o teto da cité d'affaires. O outro braço dirige-se,
acima dessa extensão da cidade que se afunda no estuário de terras e poderia
prosseguir seu curso em direção à a estrada que sobe para São Paulo. Se se
acreditasse útil, nada impediria que, por cima das coberturas dos arranha-céus
da cité d'affaires, a auto-estrada seguisse por cima do golfo, por uma passarela
larga mas leve, e chegasse às colinas de Niterói, frente ao Rio."129
128
Ibid., p. 242.
129
Ibid., p. 242-243.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 102
trabalhos de destinos tão distintos" porque "o objetivo e o subjetivo são os dois
pólos entre os quais surge a obra humana"130, Le Corbusier induzia a erro. O
equívoco não está na afirmação em si, mas na insinuação implícita de que o
terreno do trabalho plástico pertence à esfera do subjetivo e o do urbanismo ao
âmbito da ação objetiva. Isto não é, especialmente no caso do seu urbanismo,
verdadeiro. Admitindo que o discurso de justificação técnica das suas
propostas, ainda que se possa haver demonstrado inconsistente, não era
charlatanismo consciente, é inegável que a organização das sínteses espaciais
no conjunto de problemas formulados é uma opção de ordem estética. Isto é
claro no caso da polêmica com Perret e, acreditamos haver demonstrado, está
também presente na relação com o plano de Agache para o Rio.
A aporia da relação entre ciência e arte na teoria purista tem o seu equivalente
na relação não resolvida, nem prática nem teoricamente, entre técnica e
estética ou, nos termos de Le Corbusier, entre engenheiro e arquiteto. Que em
ambos casos a distinção final se indique na intervenção da "paixão" do criador
é já bastante concludente. No urbanismo de Le Corbusier, como em sua teoria
pictórica ou em sua pintura, o controle técnico das variáveis é fundamental,
mas não suficiente para os objetivos que se atribui à Arte, seja pictórica,
arquitetônica ou urbanística.
130
Na legenda da reprodução de um de seus quadros na contracapa de La Ville Radieuse, com cuja
citação abrimos o cap. 1. Cfr. MARTINS (1992), p. 36.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 104
131
"Cada cidade inscreve-se -diz Hilpert-, sem confusão possível, em um lugar e em um instante
preciso. As cidades imaginárias, elas próprias são sempre, mesmo se seus autores o negam, o
produto de condições históricas concretas." Cf. Thilo HILPERT, "Le lieu de la Ville Radieuse", A.M.C.
Architecture Mouvement Continuité, nº 49, 1979, pp. 91-96. Assim como o lugar da Ville Radieuse é
Moscou, o da Ville Contemporaine es Paris. Note-se, por exemplo, que na Oeuvre Complète 1910-
1929 ele apresenta, sem qualquer reparo, alguns desenhos do projeto de 1922 sob o título de Plan
Voisin.
132
Liernur chama a atenção para o fato: "No desenho da sexta conferência introduz-se um tipo de
relação entre circulação e edifício que até esse momento não é possível encontrar na obra de Le
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 105
Corbusier -salvo talvez no traçado dos acessos à Villa Savoye, da mesma época- que constitui outra
de suas idéias confluentes. Estamos referindo-nos à coexistencia de uma forma orgânica das
circulações com uma forma cartesiana dos edifícios." LIERNUR (1987), p. 45. A observação é
pertinente quanto ao desenho, mas cabe assinalar que essa relação já está detalhadamente descrita
em Urbanisme,
133
Cf. TENTORI (1979), pp. 82-84. Essa análise é retomada em ABALOS & HERREROS (1987), pp.
43-45.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 106
134
Não é possível portanto aceitar a análise, embora pertinente e bem documentada, de Gerosa
quando afirma: "Assim, precisamente na América Latina, vem sendo produzido um novo tipo urbano,
a cidade concentrada (sem periferia) em união com a paisagem e fortemente caracterizada no plano
formal." Pier Giogio GEROSA, "Elementi architettonici per la tipologia urbana. Le Corbusier 1914-
1957", Lotus International, nº 24, 1979, pp. 120-128. Grifado no original.
135
Nada haveria impedido, por exemplo, sua aplicação ao caso de São Paulo que, embora não fosse
o "terreno ideal" da formulação "de laboratório", não estava assentada sobre uma topografia
especialmente impeditiva.
136
Ainda matizando o substrato ideológico -crise na confiança na máquina como instrumento
realizador da utopia maquinista- da virada formal, Frampton talvez exagera a "alteridad"(*além desta
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 107
palavra não ter trad. ao port., acho que assim está estranho pois "alteridad" se refere a LC e não às
propostas, sug: "exagera a idéia do "outro" LC nas propostas") das propostas urbanas de 1929. Ver
Keneth Frampton, "El otro Le Corbusier: la forma primitiva y la ciudad lineal 1929-1952", Arquitectura
(Madri), nº 264-265, janeiro-abril 1987, pp. 30-37. Consideradas desde o ponto de vista da relação
com a paisagem -que não se reduz à dimensão topográfica- elas podem ser consideradas(*rep, sug:
"Elas podem ser consideradas desde o ponto...paisagem-, para usar..., como o encontro"), para usar
a expressão de Abalos e Herreros, o encontro de "algo longamente entrevisto", o que parece
confirmar as inequívocas referências à fascinação experimentada na viagem juvenil frente à síntese
"acústica" entre a Acrópole e sua paisagem.
137
Parece-nos em princípio mais aceitável a posição de Monteys, quando afirma: "É possível pensar
portanto (...) que os projetos "reais", por assim dizer, são em certo modo uma aplicação dos
enunciados teóricos sobre terrenos reais". Cf. Xavier MONTEYS, "La morfología del territorio y la
urbanística de Le Corbusier" em Le Corbusier Maquetas (1987), pp. 28-45. Ver também Id. "Le
Corbusier y la ciudad moderna", Arquitectura (Madri), nº 286-287, outubro 1990, pp. 53-71.
138
Cf. LC, "Concevoir d'abord, construir ensuite", L'Architecture d'Aujord'hui, nº especial, 1933, pp.
29-30.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 108
Mas fica ainda por explorar a hipótese de uma influência em termos menos
evidentes - inclusive pela relação temática e de escala - que os destes
exemplos. Casos como o da Casa do Baile de Pampulha, de Niemeyer, em que
a marquise ondula em contraponto com a margem do lago ou de alguns
projetos de menor escala e que, mesmo inscritos no contexto urbano, parecem
dialogar preferentemente com o horizonte140, parecem indicar que um certo
deslocamento do foco de interesse do mundo da técnica para uma
essencialidade da paisagem não é uma "invenção" brasileira mas uma leitura -
atenta por certo, como o reconheceu sempre ele próprio - de um momento
específico das formulações de Le Corbusier. Momento em que nosso autor se
propõe emular o "ordenador" que, na Acrópole, "havia tomado suas raízes
139
Nos projetos para Argel, Jean-Pierre Giordani discutiu as relações entre as propostas urbanísticas
de Le Corbusier e a tradição do urbanismo colonial francês. Cf. Jean-Pierre GIORDANI, Le Corbusier:
les plans pour Alger, Paris, Université de Paris, 1987, 452 p. (inédito)
140
Cf. Sophia TELLES, "Lúcio Costa: Monumentalidade e Intimismo", Novos Estudos CEBRAP, São
Paulo, CEBRAP, nº 25, outubro 1989, pp. 75-94.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 109
plásticas do humilde abrigo do homem" para "discernir o espírito das linhas que
fundiria em um todo a criação natural e a criação humana."141
141
LC, La Maison de l'Homme (1942), p. 175.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 110
PARTE 3.
A ARQUITETURA BRASILEIRA E SEU CONTEXTO
Museu Nacional Reina Sofia, Gráfica Centro-Européia dos Anos 30, Cercle e Carré,
Torres Garcia, Vanguardas Italianas do Entre-Guerras no Instituto Valenciano de
Arte Moderna, O Cubismo em Praga, O Pop inglês no Centro Juan March, Lissistsky,
e Arte Conceitual no Centro Cultural Caja de Pensiones, a grande retrospectiva de
Malevich no Stedelij Museum de Amsterdã, a visita ao Museu do Die Brücke em
Berlim, entre inúmeras outras propiciaram um contato direto com as obras do
período que não poderia ter sido suprido de outra forma. O momento do pós 1989 foi
também o período de abertura inicial da União Soviética para a circulação
internacional das obras até então censuradas internamente, como por exemplo a
exposição Konzeptionen, sobre a arquitetura soviética dos anos 20 e 30, em que
pudemos perceber que o próprio rótulo de Construtivismo, até então de validade
genérica não dava conta da multiplicidade de poéticas e movimentos dos
efervescentes anos 20 e 30. A isto se somava a realização anual de ARCO, uma
grande feira de arte contemporânea, com presença das melhores galerias da Europa
e algumas das fortes norte-americanas, além de simpósios e conferências com
personalidades de primeira plana do mundo da arte, como Le Bot, Sazhman,
Castelli, Steimberg, Bonito Oliva e tantos outros.
Porque este nível de detalhes? Para dizer que durante os três anos e meio de
Madrid, tive a possibilidade de ver, ouvir, estudar mais arte e arquitetura que em
toda a minha carreira anterior no Brasil.
Esta transformação no olhar para com os textos e as obras foi o que permitiu
voltar da Espanha com uma proposta de montagem da área de Teoria e História
para o Programa de Mestrado de São Carlos.
Para não citar a todos, podíamos contar, a médio prazo em termos formais
para a pós-graduação, mas de fato desde então - falo de 1992/3 - com docentes
como Nabil Bonduki, já então uma referencia nacional na área de habitação popular;
Carlos Andrade, que vinha de concluir um importante trabalho sobre o sanitarismo
de Saturnino de Brito, Fernanda Fernandes, com uma sólida formação italiana,
Cibele Rizek, na área de sociologia, mas com vasta experiência docente em ensino
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 114
a percepção dos novos focos temáticos que o seu próprio desenvolvimento sugere
ou estimula. Consideramos ainda que a eventual redefinição de enfoques, a
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Oliveira”
não consta no Dedalus
Fonte: Bruand.
7. ANTEPROJETO
Rio de Janeiro, RJ, Faculdade Nacional de Arquitetura, Universidade do Brasil,
1947-1959.
Acervos:
Não há coleção deste periódico em São Paulo.
Coleção na FAU-UFRJ e na Biblioteca Nacional, RJ
9. ARCHITECTURA NO BRASIL
Rio de Janeiro, RJ, 1921-6
Publicação mensal.
Acervos:
Biblioteca Nacional
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 146
10.ARQUITETO
São Paulo, SP, 1966.
Publicação suspensa em 1966.
Acervos:
FAU-USP: 1966 1(1-10): não corrente.
11.ARQUITETO
São Paulo, SP, Sindicato dos Arquitetos do Estado de São Paulo, 1972-.
Publicação irregular.
Acervos:
FAU-USP: 1972/92 (1-63,65-67,72,74-86,89-93,98-101): não corrente.
12.ARQUITETURA &G
Belo Horizonte, MG, Escola de Arquitetura, da Universidade de Minas Gerais, s/d.
Acervos:
Não há coleção deste periódico em São Paulo.
13.ARQUITETURA E CONSTRUÇÕES
São Paulo, SP, Instituto Paulista de Arquitetos, 1929-32.
Publicação irregular.
Acervos:
EPBC-USP: 1929/31 1; 2(13,18-19,21,24); 3(1,4-6): não corrente.
FAU-USP: 1929/32 (1,3-8,10,12-13,15-17,21-22,24); N.SER. 3-4: não corrente.
14.ARQUITETURA E DECORAÇÃO
São Paulo, SP, 1953-8.
Publicação bimestral.
Acervos:
EESC-USP: 1953/57 (1-4,6-13,15-18,20-24,26): não corrente.
FAU-USP: 1953/58 (1-27): não corrente.
15.ARQUITETURA E ENGENHARIA
Belo Horizonte, MG, Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), Minas Gerais, 1946-.
Publicação irregular.
Acervos:
EESC-USP: 1951/63 (16,20-22,24-41,43-55,58-60,64,66): não corrente.
EPBC-USP: 1949/65 (11,14,24,27,29-35,37,39,41-49,51-60,64-66,68): não
corrente.
FAU-USP: 1950/65 (14-67): não corrente.
17.ARQUITETURA E URBANISMO
Rio de Janeiro, RJ, Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), Rio de Janeiro, 1936-.
Publicação bimestral.
Acervos:
EESC-USP: 1939/40 4(6); 5(1-2,4): não corrente.
EPBC-USP: 1936/40 1(1-4); 2(2-6); 3; 4(1-3,5-6); 5: não corrente.
FAU-USP: 1936/41 1(1,4); 2-6: não corrente.
18.ARQUITETURA MACKENZIE
São Paulo, SP, Diretório Acadêmico da Faculdade de Arquitetura Mackenzie,
1958-.
Acervos:
EESC-USP: 1958(1): não corrente.
19.ARQUITETURA
Rio de Janeiro, RJ, Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), Rio de Janeiro, 1961-.
Periódico mensal.
No período de 1961-2, o título do periódico era IAB-Guanabara.
Acervos:
EESC-USP: 1961/68 (1,3-37,39-42,44-78): não corrente.
EPBC-USP: 1963/68 (8-21,26-32,34-35,37-54,57-78): não corrente.
FAU-USP: 1961/69 (1-78): não corrente.
21.ARTES PLÁSTICAS
São Paulo, SP, Órgão dos Artistas Plásticos de São Paulo, 1948-.
Publicação irregular.
Acervos:
FAU-USP: 1948/49 (1-4): não corrente.
25.BOLETIM.
Rio de Janeiro, RJ, Faculdade Nacional de Arquitetura. Universidade Do Brasil,
1959-.
Publicação irregular.
Acervos:
FAU-USP: 1961/65 (20-21,23-24,26-33,66-77) : não corrente.
27.CADERNOS DE ESTUDOS
Porto Alegre, RS, Centro de Estudos Universitários de Arquitetura, 1958-.
Publicação irregular.
Acervos:
FAU-USP: 1958/63 (1-19) : não corrente.
28.CASA E JARDIM
São Paulo, SP, Efece, 1953-.
Publicação mensal
Acervos:
EESC-USP: 1953/96 (1-14,16,18,20,23-85,87-90,92-94,96-215,217-226,228-
231,233-234,236,238-239,242-248, 250, 253, 256, 259, 262, 269, 285, 293,297-
299,301-404,407-468,472,475,479-501)
FAU-USP: 1953/96 (1-214,216-403,405-497)
35.DIGESTO ECONÔMICO
A revista Digesto Econômico começou em dezembro de 1944. Ela teve uma
circulação mensal ate 1950, período coberto pela pesquisa.
Acervos:
FEA-USP: todos os números desta revista (1944-1950) podem ser encontrados
nesta biblioteca.
36.EPUC. ENGENHARIA-ARQUITETURA
Rio de Janeiro, RJ, Diretório Acadêmico, da Escola Politécnica, da Pontifícia
Universidade Católica, 1955-1960.
Acervos:
EESC-USP: 1955/59 (1-2,4-13) : não corrente.
EPBC-USP: 1955/60 (1-13) : não corrente.
FAU-USP: 1955/59 (1-10,12) : não corrente.
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 150
45.REVISTA DE ARQUITETURA
Rio de Janeiro, RJ, 1934/5-.
Acervos:
Não há coleção deste periódico em São Paulo.
46.REVISTA DE ENGENHARIA
Editor Instituto de Engenharia
Publicação mensal
O Boletim do Instituto de Engenharia foi extinto em dezembro de 1941. Quase um
ano depois, em setembro de 1942, foi criada a Revista Engenharia que dá
continuidade ao trabalho desenvolvido pelo Boletim.
Acervos:
IPT: todos os números desta revista, de 1942 a 1950, se encontram na Biblioteca
Central do Instituto.
48.REVISTA DO S.P.H.A.N.
Rio de Janeiro, RJ, SPHAN, 1937-.
Continua como Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (1946-48);
Diretoria do Patrimônio Hist. e Art. Nac.; 1937; 1946.
Acervos:
FFLCH-His: 1937-45 (completa)
FAUUSP: 1946-87 (completa)
Arquitetura Moderna Brasileira em Contexto 152
50.REVISTA POLYTÉCHNICA
São Paulo, SP, POLI-USP, 1904-.
Publicação irregular.
Acervos:
Poli: 1904-94: não corrente.
51.TÉCNICA
Salvador, BA, Fundação para o Desenvolvimento da Ciência na Bahia, 1940/1.
Acervos:
EESC-USP: 1943/59 (11-14,34-36,38-40) : não corrente.
EPBC-USP: 1955/59 (34-40) : não corrente.
52.URBANISMO E VIAÇÃO
Rio de Janeiro, RJ, 1939-43.
Acervos:
EPBC: 1939-46: não corrente.