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Qual a origem de tudo que existe? Qual o princípio fundamental de onde brotam todas
as coisas do mundo? De que tudo é feito? A esses questionamentos totalizantes os
gregos antigos começaram buscar respostas elaboradas estritamente mediante a
razão.
Nesse sentido, parece que a Natureza em sua totalidade fala ao pensamento humano!
Aliás, esses pensadores gregos compreendiam o homem como presente à própria
ordem universal da natureza. Há uma sintonia em que o pensamento tenta sempre
mais desvelar a essencialidade fundamental para além da multiplicidade aparente aos
sentidos. O pensamento é despertado e inquietado sempre mais pela própria
Natureza…
CAPÍTULO III
A FENOMENOLOGIA
Identificando o ser com o ser finito e enclausurando-se nos limites do contingente, sem
ousar ir às últimas conseqüências da Gewo-jenheit do ser finito, a filosofia de
Heidegger é, talvez, em nossos dias a expressão mais trágica do homem arrancado às
suas relações transcendentais com o Infinito.
Nicolai HARTMANN, (η. em 1882), vem da escola de Marburgo de que é o chefe
incontestável. Mas o sucessor de Cohen e Natorp orienta-se francamente para uma
metafísica realista e une-se à escola fenomenológica na sua luta contra o idealismo
neo-kantiano. Nos seus Elementos de uma metafísica do conhecimento
(Grundzüge einer Metaphysik der Erkenntnis, 1921, 1935) faz ressaltar como o
conhecimento não cria o seu objeto, mas é uma relação entre seres que pre-existem
independentemente desta relação. O problema do conhecimento supõe e implica um
problema do ser. Ao estudo deste problema consagra Hartmann a sua obra sobre
"os fundamentos da ontologia" (Zur Grundlegung der Ontologie, 1935). É este
talvez o trabalho mais importante e original que nestes últimos tempos se consagrou
às mais altas questões da metafísica. Sòlidamente arquitetado, rigoroso e claro,
depois de acentuar na introdução a persistência dos problemas ontológicos em todos
os sistemas idealistas, re-iativistas ou céticos, estuda, em quatro partes bem
equilibradas, o ser como ser, as relações entre a essência e a existência, o ser real e o
ser ideal. N. Hartmann é uma das figuras mais elevadas do pensamento
contemporâneo.
K. Jaspers, (n. em 1883), prolonga com mais profundeza e amplidão de vistas as
grandes linhas da filosofia existencial de Heidegger. Os seus três volumes sobre a
Filosofia (Philosophie) e as conferências recentemente publicadas sob o título
de Razão e Existência (Vernunft und Existenz, 1935) anunciam um pensador de
raça em plena maturação do seu sistema.
Peter Wust é um notável filósofo católico que sentiu as influências dos métodos
empregados pelos adeptos da filosofia existencial. Colocar-se em face da vida,
observar e analisar um dos seus aspectos antinômicos e daí partir em busca de
solução do problema dos destinos e mesmo de todo o problema do ser. Na sua obra
fundamental (Dialektik der Geistes, 1928) é o problema da inquietude humana,
finamente analisada no espírito de cada homem e na evolução histórica das
sociedades, que constitui o ponto inicial da investigação filosófica. Ao problema da
vida o cristianismo dá sua verdadeira solução, explicando o contraste das nossas
grandezas e misérias esclarecendo a razão última da nossa inquietude essencial e
abrindo–lhe as perspectivas de uma paz definitiva. Na última de suas obras
(Ungewissheit und Wagnis, 1937) é a insegurança e o risco, traços dominantes da
psicologia do homem contemporâneo, que são submetidos à finura e profundeza de
suas análises e fundamentam as suas conclusões.
Notas
(249) Empregada por Hegel, Kant, Hamilton e Hartmann, a palavra fenomenologia
significava apenas "o estudo descrito de um conjunto de fenômenos ou aparências,
tais quais se manifestam no tempo e no espaço, por oposição às suas leis abstratas e
fixas, às realidades trancendentes de que são manifestação; ou à críUca normativa de
sua legitimidade". Lalande. Vocabulaire de la Philosophie. No significado novo que lhe
dá, Husserl, "ne cherche pas à décrire des faits empiriques, tels qu’en pourrait
comprendre une psychologie, humaine ou animale; il cherche à atteindre l’essence de
certaines opérations de conscience, les nécessités idéales inhérentes à la perception,
à l’acte de signifier ou de juger, il s’applique a démêler dans ces événements, dans la
représentation par exemple, les acts en vertu desquels quelque chose est posée dans
la conscience et d’autre par l’intention, au sens scolastique du terme, par laquelle ces
positions se réalisent, se singularisent dans des états particuliers. V. Delbos, Husserl,
sa critique du psychologisme et sa conception d’une logique pure, Revue de
métaphysique et de morale, Sep. 1911, p. 697. Mais breve e talvez mais claramente:
fenomenologia é o método de apreender e dizer os fenômenos. Ε fenômeno, no novo
sistema, eqüivale não à "aparência" (Erscheinung) nem à "ilusão" (Schein), mas à
realidade que "se manifesta por si mesma, ao "ser em si".
(250) "A filosofia é uma ontologia universal e fenomenológica, partindo da
hermenêutica do Homem; como analítica da Existência a filosofia ata a ponta do fio
condutor de toda a questão filosófica ao seu ponto inicial e terminal". Sein und Zelt, p.
38.
(251) "A existência pura, o simples fato de existir é manifesto, o donde (Woher) e para
onde (Wohin) do ser permanecem ocultos". Sein und Zeit, p. 134.
BIBLIOGRAFIA
Gurvitch, Lestendencies actuelles de la philosophie allemande, 1930;
— LÉVINAS, La théorie de l’institution dans la phénoménologie de
Husserl, Paris, 1930;
— A. Fischer, Die Existenzphilosophie M. Heiddegers, Leipzig, 1935; _ a. Delp,
S. J., Tragische Existenz, Freib. i. B., 1936;
— J. J. Pfeiffer, Existenzphilosophie Eine Einführung in Heidegger und
Jaspers, Leipzig, 1934;
— B. Jansen, S. J., Aufstiege zur Metaphysik, Freib. in B. 1933;
— La phénoménologie, Puhl, de la Société thomiste, 1932.
Fonte: Agir Editora.
por J. M. Bochenski
HUSSERL começou sua carreira com trabalhos matemáticos. Foi então que publicou o
primeiro volume de sua importante Philosophie der Arithmetik, obra que não prefigura
por forma nenhuma o caminho por onde sua filosofia iria enveredar. Nos anos 1900-
1901 apareceu sua obra principal, Logische Untersuchungen (Investigações lógicas),
na qual dirige a atenção para os fundamentos da lógica. Esta obra monumental divide-
se em duas partes: a primeira, os Prolegomena zur reinen Logik (Prolegômenos à
lógica pura), contém uma critica do psicologismo e do relativismo, de um ponto de
vista intelectualista e objetivista, ao passo que a segunda mostra a aplicação dos
princípios enunciados na primeira a alguns problemas particulares da filosofia da
lógica. Em 1913, HUSSERL, publica suas Ideen zu einer reinen Phänomenologie
(Idéias relativas a uma fenomenologia pura). Aqui a fenomenologia converte-se numa
“filosofia primeira” e aplica-se ao estudo do conhecimento em geral, tornando-se já
patentes as conclusões idealistas. Estas conclusões encontram seu pleno
desenvolvimento nos dois livros seguintes: Formale und Transzendentale Logik (1929)
e Erfahrung und Urteil (1939) (Lógica formal e transcendental e Experiência e Juízo).
Globalmente considerados o caminho seguido pelo pensamento de HUSSERL, pode
resumir-se da seguinte maneira: partindo do estudo filosófico da matemática,
desenvolve primeiramente um método objetivista e intelectual e, na aplicação deste
método à consciência, desemboca no idealismo.
É claro que não podemos pretender resumir aqui nem sequer uma só de suas obras
riquíssimas de conteúdo. Com maior razão do que noutros casos, torna-se mister
remeter o leitor para o próprio texto, especialmente para as Investigações lógicas.
Limitamo-nos a dar uma vista de conjunto muito sumária do método de HUSSERL, de
sua teoria da lógica e do caminho por onde ele chegou ao idealismo.
De fato, a lei lógica nada. diz sobre o "dever", mas diz alguma coisa sobre o "ser". O
principio de contradição, por exemplo, não diz que não seja possível enunciar duas
proposições contraditórias, mas única e simplesmente que uma e a mesma coisa não
pode possuir predicados que se contradigam. Assentes estes princípios, HUSSERL
ataca o psicologismo, segundo o qual a lógica seria um ramo da psicologia. O
psicologismo está em erro, sob duplo aspecto: se ele fosse verdadeiro, as leis lógicas
teriam o mesmo caráter vago que as leis psicológicas, seriam, quando muito,
prováveis e pressuporiam a existência de fenômenos psíquicos – o que é absurdo.
Pelo que, as leis lógicas pertencem a uma ordem inteiramente diferente: são leis
ideais, aprióricas. Em segundo lugar, o psicologismo falseia completamente o sentido
das leis lógicas. Com efeito, estas nada têm que ver com o pensamento, o juízo, etc.,
mas referem-se a algo objetivo. O objeto da lógica não é o juízo concreto de um
homem, mas o conteúdo deste juízo, sua significação, que pertence a uma ordem
ideal. Finalmente, o fundador da fenomenologia entra também em conflito com o
nominalismo em sua teoria da abstração. Mostra ele que o universal nada tem que ver
com uma representação generalizada. O que podemos nos representar, quando
apreendemos um termo matemático por exemplo, quase não tem importância.
LOCKE, HUME e seus sucessores, incapazes de compreender objetos ideais,
hipostasiaram o universal, convertendo-o falsamente em mera imagem.
Mas não existe tal coisa. O universal é, na realidade, um objeto de natureza muito
peculiar, um conteúdo ideal universal.
Por “coisas” entenda-se simplesmente o dado, aquilo que vemos ante nossa
consciência.
Este dado chama-se fenômeno, no sentido de que phainetai, de que aparece diante da
consciência. A palavra não significa que algo desconhecido se encontre detrás do
fenómeno. A fenomenologia não se ocupa disso, só visa o dado, sem querer decidir se
este dado é uma realidade ou uma aparência: haja o que houver, a coisa está aí, é
dada.
Consiste em mostrar o que é dado e em esclarecer este dado. Não explica mediante
leis nem deduz a partir de princípios, mas considera imediatamente o que está perante
a consciência, o objeto.
Mas os positivistas cometem, segundo ele, erros grosseiros, dos quais importa que
nos desembaracemos, se quisermos chegar à verdadeira realidade. Eles confundem o
ver em geral com o ver meramente sensível e experimental. Não compreendem que
cada objeto sensível e individual possui uma essência.
HUSSERL opera ainda na corrente das vivências uma distinção entre a hylé (matéria)
e a morphé (forma) visada.
O mais importante em todas estas análises é que nelas fica solidamente estabelecido
o caráter bipolar da vivência intencional: o sujeito aparece como essencialmente
referido ao objeto, e o objeto como essencialmente dado ao sujeito puro. Quando
estamos ante a realidade – o que nem sempre é o caso, porque um ato intencional
pode apresentar-se sem objeto real – sua existência não é, entretanto, necessária
para o ser da consciência pura; por outro lado, o mundo das “coisas” transcendentes
depende totalmente da consciência atual. A realidade é essencialmente privada de
autonomia, carece do caráter do absoluto, é somente algo que, em princípio, não é
senão intencional, cônscio, algo que aparece.