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O contrato de namoro no ordenamento jurídico brasileiro

Angélica Aparecida Ortolan [1]

Lívia Copelli Copatti [2]

[1] Graduanda em Direito pela Faculdade IMED. E-mail: angelica.ortolan@hotmail.com.


[2] Doutoranda em Direito pela Universidade Estácio de Sá – UNESA. Mestre em Direito pela
Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC. Docente na Faculdade Meridional – IMED. Advogada. E-
mail: livia_dto@yahoo.com.br.
O contrato de namoro no ordenamento jurídico brasileiro

Resumo: O presente trabalho analisa a problemática acerca do Contrato de Namoro no ordenamento


jurídico brasileiro. Para o desenvolvimento do trabalho, é utilizado o método dedutivo e bibliográfico. O
objetivo principal deste trabalho é esclarecer o que é Contrato de Namoro e apontar os seus pontos de
discussão: a validade do Contrato de Namoro e a invalidade Jurídica do instrumento particular. Para
atingir esse objetivo, primeiramente o presente trabalho caracteriza a entidade familiar denominada de
União Estável, apresentando seus conceitos, os requisitos para a sua configuração, e os efeitos
decorrentes de sua dissolução. A compreensão deste instituto é indispensável para o melhor
desenvolvimento da abordagem do contrato de namoro. Busca-se de certa forma com o Contrato de
Namoro evitar partilha de bens e os direitos relativos a alimentos, entre outros concernentes a União
Estável, uma vez que o casal de namorados não possuiria intenção de constituição de família. Enfim,
conclui-se, com base na análise bibliográfica que existem duas posições doutrinárias divergentes sobre o
tema. Assim sendo, diante da inexistência de uma legislação regulamentadora e de diversos
posicionamentos jurídicos, o presente trabalho justifica-se pela necessidade de encontrar um fundamento
para determinar a validade ou a invalidade jurídica do contrato de namoro.

Palavras-Chave: Contrato de Namoro; União Estável; Partilha de Bens.

Abstract: This paper analyzes the problem about the Dating Agreement in Brazilian law. For development
work, deductive and bibliographical method is used. The main objective of this work is to clarify what is
Dating Agreement and pointing their points of discussion: the validity of the Relationship Agreement and
the Legal invalidity of the particular instrument. To achieve this goal, this paper first characterizes the
family entity called Stable Union, presenting their concepts, the requirements for your configuration, and
the effects of its dissolution. The understanding of this institute is essential for the optimal development of
the approach to dating contract. Search up somehow with the Contract Dating avoid division of property
and the rights to food, among others concerning the Stable Union, since such couples as having no
intention of starting a family. Finally, we conclude, based on the literature review that there are two
divergent doctrinal positions on the issue. Thus, given the absence of a regulatory law and various legal
positions, the present work is justified by the need to find a basis for determining the validity or invalidity
of legal dating contract.

Key words: Dating Contract; Stable Union; Sharing of Goods.

1. INTRODUÇÃO

O Contrato de Namoro é um tema que atualmente vêm sendo discutido, no âmbito jurídico, pela
sua validade ou não. O mesmo encontra-se desprovido de alguma legislação regulamentadora, sendo visto
por alguns órgãos, juristas e profissionais como válido e, para outros como inválido.

Atualmente, os namoros são muito diferentes do que eram há alguns anos. Os casais dormem juntos,
viajam, compartilham muito tempo em atividades conjuntas desde um simples almoço. Isso faz com que o
namoro, em alguns casos, muito se aproxime da união estável, entendida conforme o artigo 1.723 do Código
Civil (BRASIL, 2002) como o relacionamento caracterizado pela “convivência pública, contínua e duradoura,
estabelecida com o objetivo de constituição de família”e que possui consequências para as partes envolvidas,
como o direito a alimentos, partilha de bens, entre outros.

Por esse motivo, muitas pessoas, preocupadas com o fato de, no futuro, poder ter um namoro confundido
com uma união estável, estão namorando “de papel passado”.
Por fim, serão apresentadas as considerações finais do trabalho, levando em consideração todos
os aspectos desenvolvidos e deixando abertos dois posicionamentos jurídicos diversos para o Contrato de
Namoro.

2. CONTEXTUALIZAÇÃO DA UNIÃO ESTÁVEL

Este título destina-se a analisar uma das entidades reconhecidas constitucionalmente e que maior
relevância possui para o objetivo do trabalho, sendo necessária a sua compreensão para o melhor
desenvolvimento da abordagem do contrato de namoro.

Assim, o presente título apresentará o histórico do concubinato, o contexto histórico da união


estável, bem como sua estruturação, seus efeitos patrimoniais e sucessórios.

2.1 Histórico do concubinato

Para Gonçalves (2013, p. 605), “a união prolongada entre o homem e a mulher, sem casamento,
foi chamada durante longo período histórico de concubinato”. Nesse contexto, Pereira traz a análise
histórica do concubinato e da união estável nos seguintes termos:

A união livre entre homem e mulher sempre existiu e sempre existirá, enquanto houver
desejo sobre a face da terra. Entendemos aqui por união livre aquela que não se prende
as formalidades exigidas pelo Estado, ou seja, uniões não oficializadas e com uma certa
durabilidade. Mesmo antes do advento do CC/2002, podíamos denominá-la também
união estável, ou, às vezes, concubinato. Estas uniões, registra a História, às vezes
acontecem como relações paralelas às relações oficiais. Muitas vezes a história do
concubinato é contada como história de libertinagem, ligando-se o nome concubina à
prostituta, à mulher devassa ou à que se deita com vários homens, ou mesmo a amante,
a outra. (PEREIRA, 2012, p. 32).

De acordo com Rodrigo da Cunha Pereira (2012), em Roma, o concubinato era comum e
frequente, mas não produzia quaisquer efeitos jurídicos. As mudanças começaram a ocorrer na Idade
Contemporânea, na França, sendo a mesma considerada a pátria do direito concubinário, pois, suas
decisões apreciando as pretensões das concubinas vieram a influenciar o todo o direito ocidental,
especialmente o brasileiro.

A sociedade brasileira do início do século XX repudiava a união livre, não a considerava uma
forma de concepção de família e sim uma relação ilícita, que deveria ser rejeitada e proibida, associando à
mesma ao adultério. (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2012).

Por longo tempo na história brasileira a instituição do concubinato/união estável foi ignorada pelo
legislador, sendo que na década de 1960, a doutrina e a jurisprudência foram aos poucos se modificando,
passando a reconhecer os efeitos patrimoniais de uma sociedade de fato, mesmo quando esta tinha origens
na coabitação, entre um homem e uma mulher, que embora não casados, viviam como se assim fossem.
(WALD; FONSECA, 2013).

Assim, Pereira exemplifica esse momento da história legislativa brasileira:

O desenvolvimento e a evolução de um ‘direito concubinário’ no Brasil, são muito


recentes, apesar de sua existência como fato social marcante, desde a colonização
portuguesa. Muitos civilistas omitiram ou excluíram de seus estudos esse assunto,
alegando ser juridicamente irrelevante. Outros proclamaram a imoralidade dessas
relações e outros simplesmente relegaram-nas o plano do ilegítimo. (PEREIRA, 2011,
p. 36).

Posteriormente, adveio a Súmula 380 do Supremo Tribunal Federal que estabelece: “Comprovada
a existência de sociedade de fato entre concubinos, é cabível a sua dissolução judicial, com a partilha do
patrimônio adquirido pelo esforço comum” e a Súmula 382 que proclamava: “A vida em comum sob o
mesmo teto, ‘more uxorio’, não é indispensável à caracterização do concubinato”.

A união estável verificada entre o homem e a mulher foi igualmente alçada à condição de
entidade familiar, contando com especial proteção do Estado, conforme §3º do art. 226 da Constituição
Federal de 1988.

No entanto, mesmo com o reconhecimento constitucional, a união estável continuou a não ser
aceita pela sociedade e, muito menos pela jurisprudência, sendo que para que tal reconhecimento fosse
possível foi necessária a promulgação da Lei 8.971/94 que reconheceu a convivência entre os
companheiros e estabeleceu normas para a união estável, tornou regra a convivência contínua e duradoura
entre homem e mulher durante cinco anos de duração da união ou a existência de filhos, determinando
ainda as regras no âmbito do direito sucessório. (BRASIL, 1994).

Sobre isso, Wald e Fonseca referem:

O art. 1º dessa lei assegurou à companheira e ao companheiro o direito aos alimentos,


desde que o devedor destes fosse solteiro, separado, divorciado ou viúvo e a união
estável durasse mais de cinco anos ou dela tivesse surgido prole. Esse direito se
mantinha enquanto o credor provasse sua necessidade e não constituísse nova união e
enquanto o devedor pudesse fornecê-los. (WALD; FONSECA, 2013, p. 377).

Foi aprovada em 10 de maio de 1996, a Lei nº 9.278, que definiu a entidade familiar denominada
união estável, sem estabelecer um prazo mínimo para o reconhecimento da sua existência, definiu
também os direitos e deveres dos companheiros, que denominou de “conviventes”; instituiu uma
presumida comunhão de aquestos, conferiu direito aos alimentos ao companheiro necessitado, no caso de
dissolução da entidade familiar por rescisão. (BRASIL, 1996).

Além disso, referida lei atribuiu o direito de habitação em relação ao imóvel destinado à
residência familiar e finalmente converteu a união estável em casamento por simples requerimento ao
oficial do Registro Civil e deu competência às varas de família para resolver os litígios referentes à união
estável. (BRASIL, 1996).

Por fim, o Código Civil de 2002 sistematizou toda a matéria relativa à união estável, ainda que
não revogando expressamente a legislação anterior, mas embasando os dispositivos legais principalmente
na lei n. 9.278/1996.

2.2 Conceito e Requisitos para a configuração da união estável

De acordo com Rodrigo Cunha Pereira (2012, p. 47), “união estável é a relação afetivo-amorosa
entre duas pessoas, não adulterina e não incestuosa, com estabilidade e durabilidade, vivendo sob o
mesmo teto ou não, constituindo família sem o vínculo do casamento civil”. Concubinato por sua vez, é a
relação na qual existem impedimentos para o casamento, conhecida como a relação adulterina.

A união estável, como entidade familiar é conceituada pelo art. 1.723 do Código Civil,
estabelecendo como pressupostos: a) diversidade de sexo; b) convivência pública, contínua e duradoura;
c) existência de relação estabelecida com o objetivo de constituição de família e d) ausência de
impedimento para contrair matrimônio. (BRASIL, 2002).

O primeiro requisito é motivo de discussões e, embora ainda previsto na lei, houve sua
flexibilização, tendo em vista que o Supremo Tribunal Federal - STF reconheceu em maio de 2011, a
união estável entre pessoas do mesmo sexo, também denominada de união homoafetiva, como família e,
posteriormente, o Superior Tribunal de Justiça – STJ – reconheceu a possibilidade de converter essa união
estável em casamento, já tendo regulamentação para o procedimento pelo Conselho Nacional de Justiça.

O segundo requisito para a configuração da união estável é o da convivência pública, contínua e


duradoura. De acordo com Coelho (2011) a convivência pública, dá-se quando os companheiros
apresentam-se perante a sociedade, como se casados fossem, de modo ostensivo e notório. Os
conviventes devem ser reconhecidos publicamente como um casal.

Neste sentido, Gonçalves esclarece que:

Não pode, assim, a união permanecer em sigilo, em segredo, desconhecida do meio


social. Requer-se, por isso, notoriedade ou publicidade no relacionamento amoroso, ou
seja, que os companheiros apresentem-se à coletividade como se fossem marido e
mulher (more uxorio). (GONÇALVES, 2013, p. 622).

Refere ainda o autor que, para que haja a convivência contínua, não devem ocorrer interrupções
longas no relacionamento, que possam descaracterizar a existência da mesma. As interrupções breves
motivadas por desentendimentos entre o casal, não desconfiguram a união estável.

O terceiro requisito para a caracterização da entidade familiar está previsto no art. 226, § 3º da
Constituição Federal, que é a existência de relacionamento entre os companheiros com o objetivo de
constituição de família. Coelho (2011, p. 143) menciona que, “esse é o requisito mais importante da união
estável, o ânimo de criar uma família (affectio maritalis)”.

Como quarto requisito, previsto no § 1º, do art. 1.723 deve haver ausência de impedimento para
contrair matrimônio, consubstanciado no art. 1.521 do CC. Portanto, não se configura união estável a
relação havida entre ascendentes e descendentes; afins em linha reta, ou seja, sogro e nora, sogra e genro,
padrasto e enteada, madrasta e enteado e entre adotante com quem o foi do adotado e adotado com quem
o foi do adotante; irmãos e colaterais até terceiro grau; adotado com filho do adotante; companheiro
sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra seu consorte. Excetua-se o
inciso VI, do art. 1.521 do Código Civil, afastando o impedimento para os separados de fato e separados
judicialmente.

Assim, tais características e requisitos são necessários para que reste configurada uma união
estável e, estando ausente algum deles, não se poderá falar em relação familiar.

2.3 Direitos decorrentes da união estável

Quanto às causas suspensivas do casamento, previstas no art. 1723, § 2º do Código Civil, estas
não obstam a caracterização da união estável. Esclarece Coelho (2011, p. 145), “Assim, poderá, ter início
uma união estável quando o viúvo une-se a outra mulher logo em seguida ao falecimento da esposa, sem
esperar a conclusão do inventário”.
Determinados direitos para os companheiros são relacionados ao patrimônio, uma vez que a
mesma gera responsabilidades e às vezes, bens, pois de acordo com os autores Cristiano Chaves de Faria
e Nelson Rosenvald (2010, p. 78) “os companheiros assumem os solidários encargos de cuidar do
sustento do lar, respondendo por despesas comuns para a manutenção da família”.

Assim, como no casamento, na união estável também haverá direito à meação dos bens
adquiridos por esforço comum, durante a convivência. Esta meação sobrevém de uma presunção absoluta
do ordenamento jurídico brasileiro, de que ambos os companheiros contribuíram para a aquisição do
patrimônio. (FARIAS; ROSENVALD, 2010).

Este direito encontra-se consubstanciado no art. 1.725 do Código Civil, que dispõe: “na união
estável, salvo contrato escrito entre os companheiros, aplica-se às relações patrimoniais, no que couber, o
regime de comunhão parcial de bens”. No entanto, se as partes estipularam contrato de convivência no
qual este é contrário ao regime de bens expresso acima, ou se a na constância da união estável não houve
aquisição de patrimônio ou ampliação de capital, não há que se falar em direito à meação.

No tocante à herança, os direitos sucessórios limitam-se “aos bens adquiridos onerosamente na


vigência da união estável”, conforme preceitua o art. 1.790, caput do Código Civil. Preleciona Carlos
Roberto Gonçalves (2013), que além de o Código Civil restringir o direito hereditário aos bens adquiridos
onerosamente na constância da união, houve a imposição por parte do mesmo da concorrência do cônjuge
sobrevivente com os descendentes, ascendentes e até colaterais do falecido.

Esse dispositivo de lei é considerado por vezes, como inconstitucional, uma vez que há
discriminação se este for comparado aos direitos sucessórios do casamento e a Constituição Federal de
1988, Lei Maior, recomenda a proteção jurídica à união estável, ao lado do casamento.

O direito dos companheiros em pleitear e/ou pedir alimentos está assegurado no art. 1694 do
Código Civil, in verbis: podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os
alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para
atender às necessidades de sua educação.

Contudo, esse direito somente possuirá relevância quando o (a) ex-companheiro (a) comprovar as
suas necessidades econômicas e que não possui condições de manter-se, conforme se encontra
preceituado no art. 1.695, do Código Civil: “são devidos os alimentos quando quem os pretende não tem
bens suficientes, nem pode prover, pelo seu trabalho, à própria mantença, e aquele, de quem se reclamam,
pode fornecê-los, sem desfalque do necessário ao seu sustento”.

É importante ressaltar que os direitos acima elencados não fazem parte de rol taxativo, sendo que
outros direitos poderão surgir em decorrência da convivência em união estável, tudo dependendo do
relacionamento entre as pessoas.

3. CONTRATO DE NAMORO

Após a regulamentação da união estável como entidade familiar, e seus efeitos patrimoniais
advindos de sua dissolução, houve o estabelecimento de situações de insegurança e temor em casais de
namorados, principalmente no que diz respeito a um futuro rompimento de seus relacionamentos.
Vislumbram, assim, a necessidade de regulamentar o mesmo através de um contrato, para que não sofram
problemas e discussões especialmente patrimoniais.

Contextualizando a questão do namoro, Maluf e Maluf referem o seguinte:


Diferentemente, dos companheiros, cujos direitos pessoais e patrimoniais são
resguardados pela lei, os namorados não têm direito a herança nem a alimentos. Assim,
com o fim do namoro, não há qualquer direito na meação dos bens do ex-namorado.
Aliás, nem há de se falar em regime de bens ou em partilha de bens entre namorados.
Os namorados não têm nenhum direito, pois o namoro não é uma entidade familiar.
(MALUF, Carlos Alberto Dabus, MALUF, Adriana Caldas do Rego Freitas Dabus,
2013, p. 376-377).

De acordo com Maria Berenice Dias (2011, p. 178), o denominado “contrato de namoro”, possui
como objetivo evitar a incomunicabilidade do patrimônio presente e futuro e assegurar a ausência de
comprometimento recíproco.

Assim, tal documento e/ou declaração é uma manifestação expressa de vontade das partes, em
que ambas esclarecem que não estão convivendo em uma união estável. (FARIAS; ROSENVALD,
2010).

Segundo Lôbo (2011), determinados profissionais da advocacia diante das dificuldades para
identificação da passagem de uma relação fática (namoro) para uma relação jurídica (união estável) e
instigados por pessoas que os procuram desejando prevenirem-se das implicações jurídicas decorrentes de
união estável, adotaram o que se tem denominado de contrato de namoro.

Os requisitos para a celebração de contratos estão disponíveis no Código Civil (BRASIL, 2002).
O art. 421 dispõe que “a liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do
contrato.” Porém, art. 425 do mesmo diploma dispõe que “é lícito às partes estipular contratos atípicos”.
Porém devem observar as normas dispostas para a realização do mesmo.

Uma destas normas está disposta no art. 422 do CC: “Os contratantes são obrigados a guardar,
assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé”. Portanto,
no caso de eventuais declarações mentirosas que tentem descaracterizar a união estável quando está já
possui os requisito para a configuração da mesma, o contrato será nulo.

Há uma calorosa discussão acerca da validade do contrato de namoro. A posição majoritária é


pela invalidade jurídica do contrato de namoro, mas não se podem descartar as posições que reconhecem
a validade jurídica do mesmo, bem como sua eficácia. Sustenta a posição minoritária pela validade
jurídica Zeno Veloso e pela posição majoritária da invalidade: Sílvio de Salvo Venosa, Maria Berenice
Dias, entre outros.

De acordo com Gonçalves (2013), o denominado “contrato de namoro” possui, eficácia relativa,
pois a união estável é um fato jurídico, um fato da vida, uma situação fática, com reflexos jurídicos, mas
que decorrem da convivência humana. Contudo se as aparências e a notoriedade caracterizarem uma
união estável, o contrato que estabeleça o contrário e que busque neutralizar a incidência das normas
cogentes, de ordem pública, inafastáveis pela vontade das partes, não possuirá validade.

Confirma este entendimento Diego Oliveira da Silveira (2013), afirmando que mesmo existindo
um contrato de namoro, se houver prova substancial que confirme a existência de uma união estável, não
merecerá acolhimento o documento que dispor em sentido contrário à realidade vivida pelo casal.

Assim, é possível verificar que o contrato de namoro poderá fazer parte da realidade de casais
que desejem a não caracterização de uma união estável e resguardar seus patrimônios, muito embora haja
discussão sobre os efeitos e a validade de tal pactuação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta do presente trabalho foi analisar e compreender o contrato de namoro enquanto instrumento
hábil para regulamentar o relacionamento entre os namorados e quais seus efeitos e validade perante o
ordenamento jurídico nacional.

Para tanto, foi analisada a união estável, onde se observa que se trata de um contexto social que, até a
entrada em vigor do Código Civil de 2002, era rechaçada pela sociedade, apesar do reconhecimento
constitucional, sendo chamada de concubinato. Foi apresentada a sua estrutura e caracterizadores, bem como os
direitos e deveres dos companheiros.

Os efeitos patrimoniais da união estável foram analisados, assim, como os efeitos sucessórios, a qual foi
possível notar o tratamento diferenciado dado à união estável pelo Código Civil, o qual acaba por lesar o
companheiro sobrevivente no que diz respeito à sucessão.

Foi possível verificar que busca-se com o Contrato de Namoro evitar partilha de bens, direitos relativos a
alimentos, entre outros concernentes a União Estável, uma vez que o casal de namorados não possuiria intenção
de constituição de família. Assim, diante da inexistência de uma legislação regulamentadora e de diversos
posicionamentos jurídicos, o presente trabalho justifica-se pela necessidade de encontrar um fundamento para
determinar a validade ou a invalidade jurídica do contrato de namoro.

Conclui-se, assim, que o contrato de namoro pode até ser útil como meio de prova da inexistência da
União Estável, contudo, havendo provas de existência de União Estável o contrato não será capaz de produzir
qualquer efeito jurídico, muito menos afastar os efeitos da União Estável.

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