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Introdução

Em nosso ordenamento temos várias vertentes e um leque de temas sobre


propriedade, bens, posse, que se desdobram em várias classificações e
ramificações diferentes, em linhas de pensamentos diferentes, mas nesse
trabalho vamos discorrer sobre o tema de imissão da posse. Que vem a ser o
ato que confere ao interessado a posse de um bem de que se faz jus, podendo
vir também de atos entre particulares por acordo extrajudicial.

Não é um tema muito conhecido e falado entre a maioria das pessoa comuns e
possui algumas particularidades. Vamos então discorrer um pouco sobre
alguns pontos desse mecanismo jurídico.

Sobre a posse

Faz-se necessário em primeiro lugar, entendermos o que é posse. A posse é


tida como condição fática do exercício de alguns poderes inerentes à
propriedade e não somente no jurídico. Posse determina o usufruto da coisa.
Também é relevante observar a diferença entre posse e domínio. Posse é a
situação fática, por exemplo, se você tem a posse de um imóvel, você é
simplesmente o detentor do mesmo, já domínio é quando se tem o registro da
coisa. Quando por exemplo você tem um imóvel, ainda que tenha ocorrido
transação onerosa do bem, mas não houve um registro para regular a
transação, você tem então a posse. O sistema jurídico Brasileiro adotou a
teoria do filósofo Ihering, segundo podemos verificar no Código Civil:

Art. 1.196 CC; “Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o
exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade”.

Assim, não se é exigido a intenção de ser dono ou poder físico sobre a coisa,
para então reconhecer a posse. A posse pode ser ainda dividida ente direta e
indireta. Na direta, existe real integração(físico) do bem, por exemplo, o
morador de um imóvel, o proprietário. Já na indireta, a pessoa não tem
integração com o bem e pode existir outra pessoa tendo, como por exemplo
ocorre em uma locação. Para exemplificar melhor, supomos que A alugou seu
apartamento para B. Assim, A tem a posse indireta, B a posse direta e a
propriedade do bem continua sendo de A.

Ação de Imissão de Posse

Ação de imissão de posse é um mecanismo jurídico, através do qual o


indivíduo vem a proteger o direito de adquirir posse que não possui ainda. Tal
ação é um procedimento processual de natureza petitória, pelo qual a parte
pode ter a posse de um bem. É um tipo de ação própria, classificada como
possessória indireta. Deve-se observar que esta ação somente é realizada em
uma primeira vez que se faz necessário a reivindicação da posse, não podendo
a mesma ser usada se o fato ocorrer por uma segunda vez em diante. Tem
legitimidade para propor tal ação, aquele que comprou o imóvel, o proprietário.
Em caso de litisconsórcio, ambos os cônjuges devem comparecer para efetuar
a ação.

Como já foi dito acima, sua natureza desta ação é petitória. Pois é uma ação
que visa a conferir posse, dar proteção ao direito de posse, e não a proteger
posse que já existe (fato jurídico da posse).

Podemos encontrar fundamentos principalmente entre os artigos 1196 até


1222 do Código Civil. Mas é possível encontrar o tema em outros artigos, como
por exemplo o 501 do Código Civíl, parágrafo único;

Art. 501. “Decai do direito de propor as ações previstas no artigo


antecedente o vendedor ou o comprador que não o fizer no prazo de um
ano, a contar do registro do título.
Parágrafo único. Se houver atraso na imissão de posse no imóvel,
atribuível ao alienante, a partir dela fluirá o prazo de decadência.”

Em um exemplo em que se adquire um imóvel, você passa então a ser o


proprietário deste. Mas por algum motivo, ainda nem entrou nesse imóvel,
ainda não foi ao local, etc, nesse caso, você ainda não tem efetivamente a
posse. A ação de imissão da posse, é o ato judicial onde você irá adquirir de
fato a posse do imóvel. Ela protege seus direitos de desfrutar do imóvel.

Em uma situação que você ainda não tem a posse ou faz tempo que não a
tem, uma das opções de ação, é a possessória indireta, neste caso, a ação de
imissão de posse. Imissão tem o sentido de ‘’autorização’’, sendo assim,
realizar esta ação significa que será feito um pedido ao juiz para entrar na
posse que ainda não se teve.

O caso mais comum em que vemos o uso desta ação, é quando ocorrem
compras de imóveis em leilão por exemplo, mas quando a pessoa chega no
imóvel, se depara com alguém morando nele e esta pessoa se nega a deixar o
imóvel. Mas também pode ocorrer esse fato em comprar entre particulares.

Além dos artigos já citados do Código Civil, também podemos encontrar


fundamentação para a ação de imissão de posse no Código de Processo Civil,
como por exemplo os artigos 625, 806 e o 538, que será citado em seguida.

Arts. 538 CPC; “Não cumprida a obrigação de entregar coisa no prazo


estabelecido na sentença, será expedido mandado de busca e
apreensão ou de imissão na posse em favor do credor, conforme se
tratar de coisa móvel ou imóvel.”

Se faz válido também citar o artigo 78, § 3º da ADCT (Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias) Que são regras que estabelecem a harmonia da
transição do regime constitucional anterior (1969) para o novo regime (1988).

Artigo 78, § 3º; O prazo referido no caput deste artigo fica reduzido para
dois anos, nos casos de precatórios judiciais originários de
desapropriação de imóvel residencial do credor, desde que
comprovadamente único à época da imissão na posse.

Existem alguns requisitos para realizar a ação de imissão de posse, como por
exemplo, individualização precisa, prova de a pessoa possui domínio sobre a
propriedade e somente não está usufruindo do mesmo por resistência em sair
da pessoa que está no imóvel, prova da utilização injusta e da perda de
legitimidade do antigo proprietário. Se o proprietário tiver provas de posse
injusta por parte de quem está ocupando seu imóvel, que é quando ocorre a
posse por exemplo por violência física, moral ou de forma clandestina, aumenta
então a possibilidade de conseguir medidas durante o processo como uma
tutela antecipada.

Pode ser que algumas pessoas acabem confundindo ou misturando ação de


imissão de posse com ação reivindicatória. Embora ambas sejam ações
petitórias com fim, o domínio, se diferem quanto a posse em si. A ação de
imissão de posse se vale quando a pessoa adquiriu a propriedade mas não
consegue usufruir do direito de posse, sendo que nunca chegou a exercer essa
posse, e não o fez ainda por alguma resistência que o impede. Já a ação
reivindicatória, se vale quando a pessoa quer reaver seu direito de posse, ou
seja, ele já teve a posse antes mas por algum motivo está agora impedido de
exercer esse direito.

A atual legislação não inseriu nos procedimentos especiais a ação de imissão


de posse, sendo assim, se faz necessária a distinção entre a ação como
instituto do direito processual e pretensão, instituto do direito material. Sendo
então a ação, direito subjetivo contra o Estado para lhe pedir alguma tutela e o
reconhecimento da pretensão. Não podendo o legislador privar o interessado
de se valer da existência de mecanismo processual que possibilita o pedido de
reconhecimento de sua pretensão. Ainda que não tenha previsão específica
expressa no corpo do ordenamento, tal ação tem seu fundamento no direito
material. Logo, a ação de imissão de posse passou de especial para ordinária.
Devendo seguir o rito ordinário ou sumário. Para tanto, observa-se então o
disposto no código 318 do Código de Processo Civíl.

Art. 318. Aplica-se a todas as causas o procedimento comum, salvo


disposição em contrário deste Código ou de lei.
Parágrafo único. O procedimento comum aplica-se subsidiariamente
aos demais procedimentos especiais e ao processo de execução.

Em observância de 3 principais pontos que são: matéria de defesa,


procedimento após sentença e embargos de retenção por benfeitorias, se
realiza o procedimento ordinário de ação de imissão de posse. Sendo assim,
pode o demandado arguir em sua defesa qualquer matéria, tanto relacionada
às defesas processuais, quanto as de mérito. Após pedido julgado procedente,
o primeiro mandado será expedido para que o réu tome ciência dos fatos e
este deve então cumprir a decisão judicial de forma espontânea. Caso não o
faça, será expedido então segundo mandado, este, de imissão de posse. Em
caso de o demandado ter realizado benfeitoria no bem, ele tem o direito de
pedir os valores equivalentes e permanecer no imóvel até que receba este
valor. O demandado deve realizar esse pedido em forma de contestação assim
que receber o primeiro mandado. Lembrando que tal direito é garantido ao
possuidor de boa-fé.

Conclusão

De forma bem sucinta, o que aprendemos com o presente trabalho, é que a


ação de Imissão da posse é nada mais que o meio pelo qual se pede
autorização ao judiciário para entrar no imóvel que foi adquirido pela primeira
vez. É um mecanismo presente no ordenamento jurídico pois existem
elementos que o identificam dentro dos procedimentos de demandas
possessórias. Quando o leque de ações possessórias não satisfazem a
necessidade do sujeito diante do caso concreto, ele pode se valer então da
ação de imissão de posse. Muito importante relembrar que esta ação não pode
ser usada no caso de o proprietário já tiver exercido a posse do bem
anteriormente, podendo valer-se desta, somente no caso de ser somente a
primeira vez que se fez necessário. Na maioria dos casos esta ação é utilizada
após aquisições em leilões, mas também ocorre em situações de compra e
venda entre particulares, geralmente em casos em que o imóvel estava sem
uso por um tempo considerável por parte do proprietário anterior, possibilitando
a surpresa de encontrar alguém morando no imóvel quando chegar para
verificar uma primeira vez após compra efetuada. É de suma importância
observar os requisitos para a propositura dessa ação assim como as suas
particularidades em distinção á outras ações de cunho possessório.

Referências

https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10655278/artigo-1196-da-lei-n-10406-de-
10-de-janeiro-de-2002

https://migalhas.uol.com.br/depeso/277565/a-posse-no-direito-brasileiro

https://joseagostinhoneto.jusbrasil.com.br/artigos/247469407/a-evolucao-do-
conceito-de-posse-atraves-das-teorias-de-savigny-ihering-e-
saleilles#:~:text=Ihering%20entendia%20que%20a%20posse,outro%20exercia
%20os%20direitos%20de

https://direito.legal/direito-privado/o-que-e-imissao-na-posse/#:~:text=Imiss
%C3%A3o%20na%20posse%20%C3%A9%20ato,entre%20particulares%2C
%20mediante%20acordo%20extrajudicial.

https://www.conjur.com.br/2019-abr-28/imissao-posse-ajuizada-antes-registro-
cartorio

http://www.marcoaurelioviana.com.br/artigos/direito-das-coisas/direito-civil-
processo-civil-artigo-acao-de-imissao-na-posse-jus-possidendi-e-jus-
possessionis/
https://www2.camara.leg.br/legin/fed/conadc/1988/constituicao.adct-1988-5-
outubro-1988-322234-publicacaooriginal-1-pl.html

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