Você está na página 1de 64

João Fernandes da Silva Júnior

RELIGIÃO E MAGIA NO EGITO


ANTIGO
Introdução
O Egito, terra de mistérios na qual viveu uma fascinante civilização que
deixou gigantescas construções como um legado de sua tecnologia e de seu
conhecimento extraordinário.
Inicialmente comentamos que somos um apreciador do tema Egito, mas não
somos um egiptólogo. Materializamos esse livro tendo como base alguns
anos de pesquisa sobre o tema, o qual, aliás, sempre foi de nosso profundo
interesse.
Comunicamos também que este livro resulta de um trabalho exclusivamente
de ordem histórico-religiosa.
O nosso foco é o Egito desde seus tempos imemoriais.
O antigo povo egípcio era detentor de avanços tecnológicos substanciais: já
era conhecida e utilizada a operação de vasectomia; os faraós usavam
preservativos (camisinhas); conheciam a Trigonometria; etc.
Foi descoberta uma mandíbula egípcia por um grupo de pesquisadores.
Ela data de aproximadamente 2750 a. C. e apresenta duas perfurações
abaixo da raiz do primeiro molar. Esse fato indica que foi realizada uma
drenagem de um abscesso naquele dente.
Escavações recentes nos locais de trabalho da construção da pirâmide de
Gizé levaram à descoberta de evidências de cirurgias realizadas no cérebro
de um trabalhador que continuou vivo por mais dois anos após os
procedimentos.
Dessa forma entendemos que o império egípcio foi marcado por feitos
científicos totalmente fora de seu contexto de época.
Os egípcios antigos acreditavam na reencarnação e por isso eles deixavam o
corpo do morto intacto para poder receber de volta o seu antigo “morador”.
Esse era o motivo da prática do embalsamamento (utilizado somente para
os faraós, os médicos e pessoas importantes na corte).
Para que os órgãos não apodrecessem dentro do cadáver danificando a sua
estrutura corpórea, eles eram retirados e guardados em potes que
acompanhavam a múmia.
Na verdade, a herança deixada pelos faraós para a Humanidade futura vai
além das pirâmides e dos sarcófagos.
Eles deixaram como legado as sofisticadas invenções e os costumes que
atravessaram os séculos e milênios.
O egiptólogo Warren R. Dawson da Universidade de Oxford, na Inglaterra
escreveu o livro “O Legado do Antigo Egito” e citou nessa obra papiros
médicos datados de até mais de 40 séculos atrás, os quais retratam
procedimentos médicos e medicamentos que são usados até hoje.
Os papiros por ele comentados descrevem a utilização de óleo de rícino;
ácido acetilsalicílico; própolis para a cicatrização de ferimentos; além de
uma série de analgésicos.
É citado também que o hábito de tomar o pulso do paciente como forma de
avaliar a sua saúde está descrito no Papiro de Ebers (datado de 1550 a. C.)
que “o batimento cardíaco deve ser medido no pulso ou na garganta”. As
práticas médicas estavam profundamente ligadas à religião egípcia.
A preservação e o conhecimento sobre o funcionamento de cada órgão eram
vitais para a manutenção da múmia e o retorno do espírito para aquele
corpo.
A utilização das alianças nas festividades de casamento é proveniente do
conhecimento acerca da circulação sanguínea.
Os egípcios acreditavam que do coração partiam veias que o ligavam a cada
um dos membros do corpo. Na mão esquerda a veia terminava no dedo
anular, e como eles também tinham a crença de que o coração era o centro
de tudo e como este órgão encontra-se ligeiramente deslocado para o lado
esquerdo do peito, eles adotaram o costume de colocar uma fita no dedo
anular esquerdo como uma maneira de “prender” o coração da pessoa
amada, e com o passar do tempo a fita foi substituída por um aro de metal.
Alguns arqueólogos que estavam trabalhando próximos do Cairo
descobriram uma tumba de um cirurgião com mais de quatro mil anos de
idade.
Dentro dela foram achados também trinta instrumentos cirúrgicos de bronze
usados pelo antigo médico egípcio. A tumba pertence à Skar, médico-chefe
de um dos faraós da quinta dinastia.
Como vimos, o Egito antigo continua ainda envolto em inúmeros mistérios.
A cada dia uma nova descoberta vem revelar fatos extraordinários.
João Fernandes da Silva Júnior
Capítulo I
Uma Breve Visão do Egito Antigo
Existem fortes indícios de que os egípcios é que foram os primeiros grandes
navegadores, e não, os fenícios como comumente se acreditava.
A vela de barco mais antiga já descoberta estava dobrada dentro do
sarcófago de uma múmia em Tebas e datava de 1000 a. C.
Aproximadamente no ano 2500 a. C. Os egípcios construíram um canal que
ligava o Mar Vermelho ao Mediterrâneo.
Desde que os primitivos povos se instalaram no Egito a cerca de 5500 a. C.,
o rio Nilo era importante para a agricultura e para a sobrevivência daquela
civilização. Eles contraíram o Nilômetro para medir a variação das cheias.
Os antigos egípcios também transportavam a lama do Nilo e o esterco para
as terras onde faziam as suas plantações.
Além de terem sido um dos primeiros povos a utilizar o arado manual
criaram canais com vazão controlada para a irrigação artificial, e um
sistema de bombeamento de água chamado Shaduf (era um processo
elevatório que conduzia a água até locais que naturalmente não ficavam
inundados, o que aumentava a área produtiva para o plantio). A bomba
utilizada nesse processo era movida a tração animal.
A roda para bombear água movida a tração animal também vem do Egito,
no tempo dos romanos, entre 30 a. C. e 395 d. C.
Os egípcios foram grandes mestres na construção civil, como provam as
pirâmides, as estatuas no Vale dos Reis, e a esfinge que estão entre as mais
requintadas estruturas da antiguidade.
Todas estas construções estavam diretamente ligadas ao aspecto religioso de
sua cultura, eram edificações construídas para dar suporte a sua própria
história e ao seu passado de glória.
Os templos foram projetados para durar para toda a eternidade em razão da
crença na imortalidade da alma.
A medicina egípcia avançou muito por causa dos sofisticados processos de
mumificação.
Eles descobriram o funcionamento do sistema circulatório; as funções das
vísceras.
Durante o processo de mumificação os corpos e órgãos eram banhados em
nitrão (um sal comum na região, que tinha a função de evitar a
decomposição); as faixas de linho que envolvia os mortos eram banhadas
em resina e goma arábica; e durante o processo de mumificação os papiros
com trechos das orações do “Livro Egípcio dos Mortos” eram usados, e a
função espiritual desse ritual era garantida por um sacerdote que usava uma
máscara do deus Anúbis.
I – O Egito Antigo
Como assinalou o historiador grego Heródoto, no século V a. C., “O Egito
é uma dádiva do Nilo”.
Desde os primeiros momentos de sua história, os egípcios criaram uma
sociedade que era baseada no aproveitamento das águas do Nilo para a
agricultura, mediante a construção de obras hidráulicas capazes de regular
sua vazão anual.
Nenhum outro país é cercado de uma aura de mistério como o antigo Egito.
Uma mística incomum paira sobre as construções e as areias do deserto
daquela região.
Achados arqueológicos identificaram a presença de uma civilização bem
avançada anterior ao chamado Período Pré-Dinástico (4000 a 3200 a. C.).
As pesquisas sobre estes achados ainda estão em andamento para identificar
a origem de tal povo.
Muitos egiptólogos acreditam que o povo egípcio seja resultante da fusão
de diversos grupos de origem asiática e africana.
Assim, da união desses grupos resultou um povo de lavradores e que viveu
no Vale do Nilo, que absorvendo progressivamente os invasores. Antes de
1821 as fontes históricas sobre os egípcios eram os relatos dos autores
clássicos que viveram muito depois dos acontecimentos descritos por eles,
após a data mencionada Jean- François Champollion decifrou a Pedra de
Roseta e foi iniciada uma nova fase para se proceder a leitura diretamente
nos textos e inscrições antigas daquele povo.
A compreensão do texto da Pedra de Roseta foi crucial para a compreensão
moderna dos hieróglifos egípcios.
O texto ali escrito registra um decreto promulgado em 196 a. C. na cidade
de Mêmphis, em nome do rei Ptolomeu V, e é composto de três parágrafos
com a mesma mensagem, sendo o primeiro na forma hieroglífica do antigo
Egito; o do meio em demótico; e o inferior em grego antigo.
Abaixo uma tradução do texto da Pedra de Roseta:
No reinado do jovem – aquele que recebeu a realeza de seu pai - senhor das
coroas, glorioso, que criou o Egito, e é piedoso com os deuses, superior a
seus inimigos, que recuperou a vida civilizada do homem, senhor dos
Banquetes de Trinta Anos, assim como Hefesto, o Grande; um rei, como o
Sol, o grande rei das regiões alta e baixa; descendente dos Deuses
Philopatores, aquele que foi aprovado por Hefesto, a quem o Sol deu a
vitória, a imagem viva de Zeus, filho do Sol, Ptolomeu eterno, amado de
Ptah; no nono ano, quando Aeto, filho de Aeto, era sacerdote de Alexandre.
Os sumos sacerdotes e profetas e aqueles que entram no santuário interior
para a cerimônia de vestição dos deuses, e os portadores dos penachos, e
os escribas sagrados, e todos os outros sacerdotes. Estando reunidos no
templo em Mênfis naquele dia, declararam:
Como o rei Ptolomeu, o eterno, o bem-amado de Ptah, o Deus Epifânio
Eucaristo, filho do rei Ptolomeu e da rainha Arsínoe, Deuses Filopatores,
muito beneficiou os templos e aqueles que residem neles, bem como todos
aqueles que são seus súditos, sendo ele um deus vindo de um deus e de uma
deusa (como Hórus, o filho de Ísis e Osíris, que vingou seu pai Osíris), e
estando inclinado com benevolência em relação aos deuses, dedicou aos
templos renda em dinheiro e trigo, e teve enormes gastos para trazer o
Egito à prosperidade, e para manter os templos, e foi generoso através de
seus próprios meios, e, dos impostos e taxas que recebe do Egito, isentou
totalmente alguns, enquanto a outros abrandou (o que era cobrado), para
que estas pessoas e todas as demais pudessem viver em prosperidade
durante seu reinado.
Pareceu bem aos sacerdotes de todos os templos do país aumentar
grandemente as honras já existentes do rei Ptolomeu, o eterno, o bem-
amado de Ptah ... E um festival será realizado em homenagem ao rei
Ptolomeu, o eterno, o bem-amado de Ptah, o Deus Epifânio Eucaristo,
anualmente, em todos os templos da nação a partir do primeiro de Toth,
por cinco dias; durante o qual todos deverão usar guirlandas, e executar
sacrifícios, e as outras homenagens costumeiras; e os sacerdotes serão
chamados de sacerdotes do Deus Epifânio Eucaristo, além dos nomes dos
outros deuses a quem servem; e seu sacerdócio deverá ser inscrito em todos
os documentos formais e cidadãos comuns também poderão assistir os
festivais e financiar o santuário mencionado, bem como tê-los em suas
casas, prestando a eles as costumeiras honrarias durante os festivais, tanto
mensalmente quanto anualmente, para que todos fiquem sabendo que os
homens do Egito exaltam e honram o Deus Epifânio Eucaristo, o rei, de
acordo com a lei.
I. 1 – Período Pré-Dinástico (4000 a 3200 a. C.). Tribos nômades que
eram provenientes da Península da Arábia e do deserto do Saara se fixaram
no Vale do Nilo por causa do solo fértil e das inundações anuais que
proporcionaram um razoável desenvolvimento da agricultura.
Tais tribos possuíam cada uma sua liberdade política e religiosa, inexistia
um governo central. Posteriormente com a necessidade de realização de
grandes obras coletivas – como a drenagem dos pântanos de irrigação,
construção de barragens, etc – as tribos foram se unindo, aumentando a
quantidade de trabalhadores. Foram criados os nomos regidos pelos
nomarcas.
Cada nomo era uma divisão administrativa do antigo Egito. A religião que
eles seguiam era o totemismo. Com o passar do tempo os nomos foram
sendo unidos e formaram dois reinos (3500 a. C.): o Alto Egito (situado ao
Sul) e o Baixo Egito (localizado ao Norte).
Após as sucessivas guerras entre os dois reinos aconteceu então a
unificação do império, e o primeiro imperador foi Menés.
É interessante observar que naquela época a religião já era baseada no
conceito de vida depois da morte. Menés conseguiu unificar o reino e foi
responsável pela criação de um grande império.
Escavações realizadas em Abidos, Saqqara e locais próximos trouxeram
informações sobre os tinitas (habitantes de Thinis). Foi uma época de
grande prosperidade econômica por causa das expedições à costa do Mar
Vermelho e às minas de cobre e turquesa do Sinai.
Menés usava a coroa branca e vermelha (símbolos do Baixo e do Alto
Egito). Ele governou o Egito estando situado em uma antiga cidade
chamada Thinis (na região Sul).
Foi nessa época que desenvolveram grandiosas obras como o represamento
de águas e a irrigação de grandes áreas de terra. Algum tempo depois ele
fundou uma nova capital: Mêmphis.
Durante o reinado desse primeiro faraó foi criado o alfabeto hieroglífico.
Sob o comando de Menés e seus sucessores o Egito atingiu um grau de
desenvolvimento cultural e tecnológico bem superior a qualquer outra
civilização anterior.
As cidades não precisavam mais ser autossuficientes e haviam por isso se
tornado interdependentes.
No centro dessa sociedade, havia os faraós, que alcançaram muita riqueza e
poder, tanto político como religioso. Isso porque o faraó era considerado
mais do que um rei: ele era adorado como um deus. Nessa época, foram
erguidas cidades suntuosas e empreendidos projetos bem sofisticados de
engenharia.
I. 2 – Antigo Império (3200 a 2300 a. C.). Os faraós da IIIª Dinastia
transferiram a capital do país para Mêmphis, visando maior integração de
todo o território situado entre o Vale do Nilo e o Delta.
A arte egípcia já se apresentava nesse tempo com as características de
maior esplendor. O território foi estendido até a segunda catarata do Nilo, e
diversas expedições foram realizadas rumo à Núbia e à Líbia.
O comércio marítimo no Mediterrâneo oriental aumentou. Teve início a
exploração das minas de cobre do Sinai, das pedreiras em Assuã e do
deserto núbio.
Os faraós da IVª Dinastia representaram o apogeu do Antigo Império,
construindo as grandes pirâmides de Gizé (pesquisadores se surpreenderam
com o processo utilizado para a sua construção, em razão do elevado padrão
de tecnologia empregado), de Quéops, de Quéfren e de Miquerinos nas
proximidades da capital. Na cidade de Heliópolis o deus cultuado era Rá-
Atum-Kepri, que criou o primeiro casal divino: Chu (a atmosfera) e Tefnut
(o céu).
Do casamento desse casal nasceram Osíris, Ísis, Seth e Néftis. Já na capital,
em Mêmphis, a religião estava baseada em torno do deus Ptah. Nessa época
a ideia sobre a divindade do faraó já estava bem difundida, e isso contribuiu
sobremaneira para que o faraó unificasse toda a região.
Todo esse processo representava na verdade uma organização social e
religiosa que deveria ser mantida, caso contrário o país retornaria à fase de
“caos”. Era tudo o que eles não desejavam.
Foi nesse período que foi adotado o costume de escrever nos sarcófagos
textos religiosos sobre a viagem da morte (era o chamado Texto das
Pirâmides), que era um privilégio dos faraós.
I. 3 – Primeiro Período Intermediário (2300 a 2100 a. C.). Durante o
governo da VIª Dinastia teve início do Antigo Império. As classes dos
nobres e a dos sacerdotes se tornaram cada vez mais fortes em detrimento
do poder do faraó.
Isso foi causado pelas vantagens obtidas pelos membros da nobreza e pelos
sacerdotes, enfraquecendo a unidade egípcia. Justamente nesse período o
Egito foi invadido por tribos estrangeiras e o império acabou sendo dividido
em quatro centros políticos independentes.
I. 4 – Médio Império (2100 a 1780 a. C.). Em torno de 2100 a. C. o povo
egípcio conseguiu reconquistar a sua unidade política e religiosa, tendo
início o Médio Império.
Dois eventos bem importantes marcaram esse período: O início de relações
comerciais de grande porte com outros povos, e a ideia da imortalidade da
alma foi estendida para as pessoas do povo (já que antes se acreditava que
somente o faraó teria vida após a morte).
I. 5 – Segundo Período Intermediário (1780 a 1580 a. C.). Na XIIIª
Dinastia teve começo a decadência do Médio Império. No ano 1785 a. C. o
território egípcio foi invadido pelos Hicsos, tendo início o Segundo Período
Intermediário que durou por duzentos anos.
I. 6 – Novo Império (1580 a 1090 a. C.). O faraó Amósis I fundou a XVIIIª
Dinastia e derrotou definitivamente os Hicsos. Esse tempo foi o do
expansionismo e do militarismo egípcio, tendo na figura de Tutmés III a
expressão do faraó guerreiro. Foi nessa época que foi feita a reunião dos
Textos das Pirâmides surgindo “O Livro Egípcio dos Mortos”.
A função desse livro era orientar a alma na vida após a morte. Outro evento
importante foi a reforma religiosa promovida pelo faraó Amenhotep IV que
adotou o nome de Akhenaton. Ele instituiu o monoteísmo, somente o deus
Aton podia ser adorado. Durante a XIXª dinastia o Novo Império entrou em
decadência por causa das sucessivas invasões, até ser conquistado pelos
assírios em 670 a. C.
I. 7 – O Renascimento Saíta (662 a 525 a. C.). Psamético, o fundador da
XXVIª Dinastia em 662 a. C. expulsou os assírios, conseguindo restaurar a
independência egípcia e fixou a nova capital do país em Sais. No ano 252 a.
C. foi fechado o capítulo da história egípcia com a invasão persa. Psamético
III foi derrotado e morto por Cambises (rei dos persas em Pelusa), e o Egito
foi incorporado ao império persa.
A organização social e religiosa foi mantida. A libertação do Egito só
aconteceu em 404 a. C. em 343 a. C. Artaxerxes III restaurou a soberania
persa, que perdurou até 332 a. C. quando Alexandre, o Grande, entrou
vitorioso nas terras egípcias após derrotar Dario III.
I. 8 – Período Macedônio (332 a 30 a. C.). Alexandre foi recebido como
um libertador do povo egípcio e se fez reconhecer como sendo o “Filho de
Amon”. Ele prometeu respeitar as instituições e instaurar a paz, a ordem e a
economia daquele país. Alexandre lançou as fundações da cidade de
Alexandria, e com sua morte em 323 a. C. o controle político do Egito
passou para um de seus generais, Ptolomeu, que a partir de 305 a. C. deu
início a Dinastia dos Lágidas.
I. 9 – Período Romano-Bizantino (30 a. C. 640 d. C.).
Em 30 a. C. a minoria romana conservou a organização da época helenística
com base nos nomos. A indústria e o comércio ganharam impulso e
atingiram regiões mais distantes.
Aconteceram inúmeras obras, como a construção de estradas, de templos,
de teatros, de cisternas, etc. No final do Século II da Era Cristã
generalizaram-se os ataques nômades às fronteiras (Líbia, Etiópia, Palmira)
e as perseguições ligadas à expansão do Cristianismo. Após Constantino,
começam as disputas religiosas.
Em 451 a adesão da igreja alexandrina ao monofisismo levou à formação de
uma igreja copta, distinta da grega, e dessa forma o que era tido como
heresia, por força das perseguições imperiais, transformou-se na religião
nacional egípcia.
Com a divisão do Império Romano verificou-se uma progressiva
substituição de Alexandria por Constantinopla em importância cultural e
econômica. No Século VI o declínio econômico era generalizado em todos
os setores. E no início do Século VII os árabes foram recebidos como
autênticos libertadores.
I. 10 – Período Medieval (640 a. C. - 1517). Em 640, com a conquista
árabe do Egito. Foi uma época caracterizada por lutas internas e por
constante troca de emires. A difusão do árabe e do Islamismo transformou a
invasão muçulmana na mais importante de todas que o Egito sofreu.
I. 11 – Período Otomano (1517 - 1798). Em 1517 Selim I derrotou o
último sultão mameluco e foi iniciado o período de dominação turca. No
Século XVIII o paxá era meramente uma figura decorativa. Napoleão
Bonaparte conquistou o Egito em 1798 na célebre Batalha das Pirâmides.
II – Religiões
Até a unificação dos povos do Vale do Nilo e o surgimento das dinastias dos
faraós existiram vários grupos étnicos no Egito, e cada um cultuando os
seus próprios deuses. Era uma época de politeísmo.
A principal divindade egípcia era o deus Rá (que teve diversos nomes como
Atom, o disco solar; e Hórus, o sol nascente).
Para conseguirem organizar a vida civil e religiosa no antigo Egito os
sacerdotes tiveram de criar diversos tipos de eventos que ficaram
conhecidos como festivais religiosos, os quais eram celebrados segundo três
calendários distintos: o Calendário Lunar (30 dias divididos em três
semanas com 10 dias); o Calendário Civil (que tinha 365 dias) e o
Calendário Sótico (baseado na estrela Sótis – Sírius).
Como o ano lunar de 12 meses de 30 dias resultava em 360 dias, eles
fizeram então um ajuste e somaram mais cinco dias (chamados
Epagômenos). Os principais festivais eram:
a) Festivais dedicados a um deus ou a uma deusa. Neles era realizada uma
homenagem por meio de recordação pública da vida do deus ou da deusa;
b) Festivais para homenagem aos mortos. Serviam para valorizar a história
ancestral;
c) Festivais que iniciavam os ciclos de preparar o solo, semear e colher.
Para exercer controle sobre o conhecimento que detinham os sacerdotes
criaram as Escolas de Mistérios, e ali os ensinamentos eram transmitidos
somente para aquelas pessoas que passavam por rigorosas provas de
coragem e de fidelidade para a sua iniciação. Assim os princípios
permaneciam velados para a população.
O aprendizado iniciático incluía técnicas de arquitetura baseadas em
cálculos matemáticos e astronômicos.
III – A Lenda de Ísis e Osíris
Reza a lenda de Seth com muita inveja de Osíris por causa deste haver
herdado o reino do Pai na Terra, concebeu um plano para matar Osíris e
assim poder usurpar o poder dele.
Osíris dormia quando Seth tirou as suas medidas e ajudado por 72
conspiradores ordenou que um esquife fosse construído com as medidas
exatas de Osíris.
Pouco depois ordenou que fosse preparado um banquete e lançou um
desafio com segundas intenções: quem coubesse dentro do esquife o
ganharia de presente. Todos os deuses tentaram, mas nenhum deles coube
ali dentro, quando
Osíris entrou no esquife o maléfico Seth o trancou e mandou que o
jogassem em um rio, e a correnteza levou o esquife até a Fenícia.
Ali ele ficou preso em uma planta até fazer parte do caule que foi usado
para construir uma coluna. Ísis, a esposa de Osíris, partiu em busca de seu
amado, e depois de muitas aventuras ela conseguiu regressar ao Egito com
o esquife. Tentando escondê-lo ela o deixou em uma plantação de papiro.
O vingativo Seth descobriu e cortou em quatorze pedaços o corpo de Osíris,
e os espalhou por todo o Egito.
Outra vez Ísis partiu em busca dos despojos do esposo, e agora com a ajuda
de sua irmã Néftis, usando magia se transformaram em milhafres (espécie
de ave de rapina) encontraram todas as partes do corpo de Osíris, exceto
seus órgãos genitais que haviam sido devorados por um peixe. Ajudada por
Anúbis, Ísis embalsamou o corpo de Osíris e este se transformou assim na
primeira múmia egípcia.
Utilizando os seus poderes mágicos Ísis conseguiu que Osíris a fecundasse,
e Hórus nasceu dessa união. Seth então iniciou uma luta pelo poder
envolvendo todos os deuses.
Por fim, Osíris – vivendo no Além – ameaçou mandar que todos os mortos
se levantassem se não fosse feita a justiça.
O deus Rá e um tribunal de deuses estabeleceram que a sucessão fosse
realizada de maneira hereditária, assim Hórus conseguiu subir ao trono. Por
causa disso o faraó em vida representava Hórus e após a morte se
identificava com Osíris.
IV – Os Rituais de Mumificação
A mumificação e os rituais funerários obedeciam a regras bem rígidas que
haviam sido estabelecidas pelo próprio Anúbis.
O processo todo durava setenta dias. Depois de terem retirado os órgãos
internos, os embalsamadores colocavam as vísceras nos Vasos Canopos
(cada um deles sob a proteção de um dos quatro filhos de Hórus): Inseti
(com a cabeça de homem) protegia o fígado; Hapi (com a cabeça de
babuíno) resguardava os pulmões; Duamutef (com a cabeça de cão)
protegia o estomago; e Kebehsenuf (com a cabeça de falcão) os intestinos.
O coração era lacrado dentro do corpo da múmia porque os egípcios o
consideravam como o órgão responsável pela inteligência e pelos
sentimentos (e seria, portanto, indispensável na hora do juízo). O cérebro
era desprezado (eles o jogavam fora).
O corpo era envolvido em centenas de metros de tiras de linho, e entre as
tiras eram colocados amuletos diversos para proteger o corpo contra
inimigos e demônios existentes no mundo subterrâneo.
Um sacerdote funerário celebrava a cerimônia de abertura dos olhos e da
boca visando devolver a vida e todos os sentidos do morto antes de a
múmia ser encerrada no túmulo.
V – O Juízo Final
A vida eterna iniciava no túmulo com uma viagem pelo mundo subterrâneo.
Primeiramente o Ka (força vital) deixava o corpo acompanhado após a
cerimônia de enterro pelo Ba (a alma).
O deus Hórus conduzia o Ba através dos portais de fogo e da serpente até o
salão do juízo.
Ali Anúbis pesava o coração do morto, se o coração fosse mais pesado do
que a pluma, o monstro Amut (parte leão, parte crocodilo e parte
hipopótamo) o devorava e isso ocasionava que o morto ficaria em coma
perpétuo. Mas se o coração ficasse equilibrado com o peso da pluma, o Ba e
o Ka se reuniam para formar um Akh (espírito) que viveria no mundo de
Osíris.
VI – A Mitologia
Os deuses do Egito antigo foram os faraós que reinaram durante o Período
Pré-Dinástico, e assim, os mitos foram inspirados em histórias que
aconteceram de verdade.
O casamento consanguíneo possuía um sentido de complementaridade, os
deuses irmãos casavam entre si. Osíris foi o primeiro faraó e foi divinizado
após sua morte (e passou a ser o soberano no Reino dos Mortos), em razão
de seu reinado ter marcado uma época de prosperidade.
Os deuses egípcios foram representados sob a forma humana e sob a de
animais. O culto aos animais sagrados era um dos aspectos mais
importantes da religião do povo egípcio.
O culto era dirigido a um só indivíduo de cada espécie, era escolhido
segundo determinados sinais, e depois entronizado em um recinto
especialmente construído para aquele fim. Ao morrerem os animais
sagrados, eles eram mumificados e sepultados em cemitérios exclusivos.
VII – Os Deuses
Num era a divindade mais antiga do panteão de Heliópolis. Ela
personificava o abismo líquido, as águas primordiais de onde o mundo foi
criado. Era a divindade mais sábia de todas. Era uma divindade bissexual.
Gerou Atun e Rá.
Atun era um deus adorado em Heliópolis, resultado da transformação de
Num.
Ele deu origem a uma explosão que gerou os demais corpos celestes no
Cosmos. Mais tarde se uniu a Rá, se tornando Atun-Rá. Gerou Shu (ar),
Tefnut (umidade), Geb (terra) e Nut (céu).
Tido como o rei dos deuses e patrono dos faraós, Amon era senhor dos
templos de Luxor e Karnac. Sua esposa era Mut e seu filho era Khonsu. Era
também cultuado sob o nome de Amon-Rá, o criador dos deuses e da ordem
divina.
Rá recebeu de Nun o domínio sobre a Terra, mas o mundo não estava
completamente acabado. Ele se esforçou tanto para finalizar aquele trabalho
de criação que chorou, e de suas lágrimas que banharam o solo surgiram os
seres humanos.
Eles foram criados como os deuses e os animais. Rá gostava de fazê-los
felizes e tudo o que crescia nos campos era dado a eles para que se
alimentassem bem. Não faltava o vento fresco, nem o calor do Sol, as
enchentes e vazantes do Nilo.
Shu é o deus do ar seco. A lenda conta que ele e sua irmã Tefnut foram
criados após a masturbação do deus Atun.
Tefnut era considerada a deusa da umidade vivificante. Ela era a irmã e
mulher de Shu, e ambos são os pais de Geb e Nut.
Nut era a deusa dos céus que acolhia os mortos em seu reino. Ela e Geb
eram os pais de Osíris, Ísis, Seth, Néftis e Hathor.
Geb era o deus da Terra, irmão e marido de Nut. Ele era responsável pela
fertilidade e pelo sucesso nas colheitas.
Osíris era irmão e marido de Ísis, pai de Hórus. Ele representava o
renascimento, rei supremo do mundo dos mortos. Acredita-se que ele tenha
sido o primeiro faraó que ensinou a agricultura e as artes da civilização.
Ísis foi a mais popular deusa egípcia, considerada como um modelo de
esposa e deusa da família. Usava seus poderes mágicos para auxiliar aos
necessitados.
Seth era a personificação da ambição e do mal. O deus da guerra e senhor
do antigo Egito durante o domínio dos Hicsos.
Néftis era a esposa de Seth.
Háthor era a personificação das forças benéficas do céu.
Hórus, filho de Osíris e de Ísis. Sua mãe teve de escondê-lo de seu tio Seth
que ambicionava o trono de Osíris. Após ter triunfado sobre Seth o deus
Hórus tomou posse do trono dos vivos. Ele era quem conduzia a alma dos
mortos até o Dwat (o Reino dos Mortos).
Anúbis era o filho de Seth e de Néftis. Era o mestre dos cemitérios e patrono
dos embalsamadores. Era o juiz que depois de uma série de provas que
fazia os defuntos passarem dizia se eles mereciam ser bem recebidos no
Além ou devorados por um monstro.
Toth era o deus da sabedoria, a ele era atribuída a revelação de quase todas
as disciplinas intelectuais, a escrita e a aritmética, as ciências em geral e a
magia aos homens. Era o deus-escriba, inventor da escrita hieroglífica.
Maát representava a justiça, a verdade, o equilíbrio e a harmonia do
Universo. Era a protetora dos templos e dos tribunais.
Ptah é aquele que criou as artes. Era o deus de Mêmphis. Concebeu o
mundo pelo pensamento e o criou por sua palavra. Era marido de Sekhmet e
pai de Nefertum.
Sekhmet era a deusa das guerras e das batalhas.
Bastet representava os poderes benéficos do Sol.
Khnum era um dos deuses relacionados com a criação. Foi o principal deus
da Ilha Elefantina. Ele tinha por esposas as deusas Anuket (águas calmas) e
Sati (a inundação).
Sebek representava uma divindade aliada ao deus Seth. Ele era venerado nas
cidades que dependiam da água. Qualquer homem que fosse ferido ou
morto por um crocodilo era considerado um ser privilegiado.
Tuéris era a deusa-hipopótamo que protegia as mulheres grávidas e os
nascimentos. Assegurava a fertilidade e partos sem perigo. Além de
amparar as crianças ela também protegia qualquer pessoa de más
influências durante o sono.
Khepra (escaravelho em egípcio antigo) era associado à ideia de
ressurreição.
Ápis para os antigos egípcios era o boi sagrado, a expressão mais completa
da divindade sob a forma animal. Essa antiga divindade agrária – cultuada
desde a Iª Dinastia – simbolizava a força vital da natureza e sua potência
geradora.
Babuíno (também conhecido como cinocéfalo) era um grande macaco
africano com cabeça semelhante à de um cão. Estava associado ao deus
Toth.
Íbis é uma ave pernalta de bico longo e recurvado, e existem várias espécies
com cores distintas, mas somente a de plumagem branca era cultuada pelos
egípcios.
Apófis era a serpente que habitava o além-túmulo, e representava as
tempestades e as trevas.
Obviamente que a mitologia egípcia incluía muitos outros deuses e deusas,
entretanto, eles representavam o mesmo conjunto de forças. O grupo
descrito acima resume de modo satisfatório o imenso panorama do panteão
egípcio.
VIII – A Magia
A quantidade de fatos que conhecemos sobre a magia no Egito antigo não
abrange a totalidade do que era praticado na época dos faraós, mas serve de
base para termos uma ideia geral.
Baseado no que já foi descoberto, sabemos que os conhecimentos acerca
das crenças e práticas religiosas no Egito antigo serviram de base para
quase todas as religiões e filosofias existentes na atualidade.
Essa foi a herança, o legado deixado por aquele povo misterioso que
possuíam conhecimento sobre quase todas as áreas da ciência, e dentre
essas informações está a astrologia egípcia.
Os sábios egípcios eram extremamente habilidosos para marcar a passagem
do tempo, porque além de ótimos observadores eles sabiam tudo sobre o
movimento de rotação da Terra, e representavam esse fato simbolicamente
através do casal Nut e Geb.
O povo egípcio considerava a astrologia uma das ciências mais importantes
para a vida deles.
Geralmente eles não saíam de casa sem antes consultar as predições do deus
de seu signo, isso era motivado pela crença de que aqueles que nasciam em
um dia ruim teriam uma vida bem difícil e pouca coisa poderia ser feito
para modificar o que já estava escrito nas estrelas.
Uma das mais antigas representações do zodíaco se encontra em Dendera,
pintado no teto do templo de Hathor. Seus dados astronômicos refletem o
plano estabelecido nos tempos dos companheiros de Hórus (isto é, antes da
primeira dinastia egípcia, por volta de 3100 a. C.).
Levando essa data em conta observamos que a astrologia surgiu no Egípcio
bem antes de nascer entre os sumérios. Esse zodíaco de Dendera é diferente
do zodíaco tradicional egípcio.
Os astrólogos egípcios usavam em suas previsões um calendário semelhante
ao utilizado atualmente, e que provavelmente teria sido criado pelo sábio
Imhotep por volta de 2769 a. C. nesse calendário o ano egípcio iniciava
quando a estrela Sírius surgia no horizonte de Mêmphis (16 de julho), e o
zodíaco era dividido em 12 signos que correspondiam aos doze meses do
ano.
Cada signo representava a figura de um deus, e cada divindade regia
durante um determinado período e vibrava as suas características pessoais
sobre as pessoas que nasciam sob um determinado signo.
IX – O Zodíaco
DATA SIGNO ATRIBUTOS SIGNO
OCIDENTAL
16/07 a
15/08 Rá Deus do
Sol Leão
16/08 a
15/09 Neith Deusa da Caça Virgem
16/09 a
15/10 Maát Deusa da Verdade Libra
16/10 a
15/11 Osíris Deus da Renovação Escorpião
16/11 a
15/12 Hathor Amor e Adivinhação Sagitário
16/12 a
15/01 Anúbis Guardião dos Mortos Capricórnio
16/01 a
15/02 a Bastet Deusa Gata Aquário
16/02 a
15/03 a Tuéris Deusa da Fertilidade Peixes
16/03 a
15/04 a Sekhmet Deusa Leoa Áries
16/04 a
15/05 a Ptah Criador do Universo Touro
16/05 a
15/06 a Toth Deus da Sabedoria Gêmeos
16/06 a
15/07 a Ísis Deusa-Mãe Câncer
X – Horóscopo Egípcio
1 – Rá (16/07 a 15/08)
É a principal divindade do panteão egípcio, e está associado ao Sol. Pai de
todos os deuses. As pessoas nascidas sob este signo são determinadas,
fortes e criativas. Possuem muita energia e habilidade para lidar com
embaraços. Não suportam fracassar.
2 – Neith (16/08 a 15/09)
Deusa da abundância. Cuida dos campos, da colheita e da caça. É a
protetora dos deuses e guardiã da alma dos mortos. As pessoas nascidas sob
esse signo são pacientes, disciplinadas, práticas e objetivas. Não toleram
mentiras e são extremamente objetivas. Apresentam grande inteligência e
são muito detalhistas. São exigentes com elas mesmas e com os outros.
3 – Maát (16/09 a 15/10)
Deusa da justiça, da verdade e do equilíbrio. As pessoas nascidas sob esse
signo não toleram a injustiça. Cultivam relações harmoniosas e se esforçam
para se manter em equilíbrio. São diplomáticos e bons confidentes.
4 – Osíris (16/07 a 15/08)
Rei dos deuses. Foi o primeiro faraó do Egito. Os nascidos sob esse signo
são justos, sábios e profundos. Apresentam grande espiritualidade. De
temperamento forte, explosivo lutam com garra por aquilo que desejam.
5 – Hathor (16/07 a 15/08)
Deusa da alegria. As pessoas que nascem sob esse signo são voltadas para
as artes, a beleza, a dança e a música. Protege os apaixonados e concede a
fertilidade para as mulheres.
6 – Anúbis (16/07 a 15/08)
Deus que julga as almas dos mortos. O seu instrumento para isso é a
balança da verdade, onde pesa o coração dos mortos e avalia se merecem a
salvação ou o castigo. Os nascidos sob esse signo são inteligentes e
determinados.
7 – Bastet (16/07 a 15/08)
A deusa gata era uma das esposas de Rá. Representava o poder benéfico do
Sol e a força selvagem. As pessoas nascidas sob esse signo são bondosas ao
extremo, e têm o desejo de servir à Humanidade. São amigas e fazem
grandes esforços para ajudar aqueles que amam.
8 – Tuéris (16/07 a 15/08)
Era a deusa da fertilidade. Protegia as parturientes, as fêmeas prenhes de
qualquer espécie, e as crianças. Os nascidos sob esse signo apresentam
muita energia espiritual e são extremamente sensíveis.

9 – Sekhmet (16/07 a 15/08)


A deusa da guerra. As pessoas desse signo são ousadas e corajosas. Adoram
enfrentar novos desafios.
10 – Ptah (16/07 a 15/08)
Era o grande mago. As pessoas que nascem sob esse signo são pacientes e
perseverantes.
11 – Toth (16/07 a 15/08)
Deus que simbolizava a inteligência aguda e a sabedoria. Os nascidos sob
esse signo são comunicativos, inteligentes e com grande agilidade mental.
12 – Ísis (16/07 a 15/08)
Era a mais importante deusa do panteão egípcio, e as pessoas desse signo
são sensíveis, amorosas, incapazes de guardar rancor, e são sinceras.
Capítulo II
História e Enigmas
A história egípcia é repleta de enigmas. Dia a dia novos fatos estão sendo
descobertos sobre aquele povo.
I – A Ilha Elefantina e outros Enigmas
A ilha Elefantina está localizada ao Sul do Egito, à frente da cidade de
Assuã. Possui 1500 metros de extensão e 500 metros de largura na parte
Sul.
O nome da ilha se deve ao fato de nela terem sido realizados diversos tipos
de comércio com a troca de marfim.
Os egípcios antigos chamavam a ilha de Yebu (elefante).
Foi a capital do primeiro nomo do Alto Egito, e a ilha sempre esteve
associada ao deus Khnum e as deusas Satet e Anuket.
Nas últimas décadas esta ilha tem sido alvo de inúmeras escavações
arqueológicas.
O faraó Amenhotep III mandou construir na ilha um templo por do seu
trigésimo ano de reinado.
Tal templo existiu até o Século XIX, mas depois foi destruído.
Ramsés II também mandou construir um templo na mesma ilha, e hoje
ninguém sabe de sua localização.
Foi descoberta uma pequena pirâmide de época bem remota e um antigo
calendário do tempo do faraó Tutmés III (XVIII Dinastia).
Reza as lendas locais que vários templos e túmulos existentes na ilha
Elefantina ainda não foram localizados.
Meroé era o nome de uma antiga cidade localizada na margem Leste do rio
Nilo.
Esta cidade foi a capital do reino de Kush entre o Século VII a. C. e o
Século IV da Era Cristã.
Foi justamente durante essa fase que os núbios criaram uma escrita própria,
conhecida posteriormente pela designação de escrita meroítica.
Ali existem mais de duzentas pirâmides em três grupos. Alguns estudiosos
comentam que aquele reino era governado somente por rainhas.
Outros pesquisadores afirmam que Meroé seria, na verdade, a cidade Merhu
mencionada em antigos hieróglifos egípcios.
Agora fazemos uma comparação entre o templo apresentado na foto
anterior e o templo de Medinet Habu que foi construído sob as ordens do
faraó Ramsés II (da XIXª Dinastia). As semelhanças arquitetônicas são bem
evidentes.
Em um teste realizado com Carbono 14 para a datação das pirâmides
egípcias foi indicada a data de 13.000 anos, entretanto essa data é bem
anterior à existência do império egípcio.
O resultado foi que o teste passou a ser considerado como sendo uma
anomalia, já que não confere com as teorias já apresentadas. Alguns
pesquisadores acreditam que uma civilização anterior e mais avançada
existiu antes da egípcia no mesmo local.
Platão trouxe ao mundo a história do continente de Atlântida em dois de
seus livros – Timaeus e Crítias – afirmando que aquele continente ficava
situado no Oceano Atlântico, nas proximidades dos Pilares de Hércules (ou
Estreito de Gibraltar) até a sua destruição 10.000 anos antes da civilização
grega. A Atlântida possuía anéis alternados de mar e terra, e um palácio
localizado no centro.
Platão contou a história utilizando uma série de diálogos de Kritias, que
ouviu o relato feito por Sólon.
Atlântida era um poderoso império, e havia sido criada por Poseidon (o
deus do mar), era pai de cinco pares de gêmeos e dividiu a ilha em dez
partes, e cada uma delas seria governada por um de seus filhos.
A capital da cidade apresentava maravilhas arquitetônicas incomuns para a
época. Em um monte localizado no centro da gigantesca ilha havia um
templo dedicado a Poseidon, e nele uma estátua de ouro dele guiando seis
cavalos alados.
Com o passar dos milênios o povo atlante se tornou corrupto e os deuses
decidiram destruir aquele continente.
II – As Origens da Religião Egípcia
Os antigos egípcios chamavam a magia de Grande Ciência Sagrada, e era
utilizada para estudar os segredos na Natureza e suas relações com o
homem, além disso, servia também como um conjunto de práticas que
visavam o desenvolvimento integral das faculdades espirituais do ser
humano.
Em “O Livro Egípcio dos Mortos” é apresentado uma série de conceitos
sobre a ressurreição e a vida futura do ser humano.
Já durante o reinado de Menés os egípcios acreditavam que o morto viveria
uma vida de facilidades e regalias no além-túmulo, em companhia dos
deuses, desfrutando de gozos celestiais.
Dentro da religião egípcia o conceito para entender e explicar a natureza do
ser humano apresenta um conceito bastante complexo.
O homem seria composto por oito partes distintas.
Já durante o período da Vª Dinastia (3400 a. C.) se afirmava o seguinte:
A alma para o céu e o corpo para a terra.
A religião egípcia, como todas as outras religiões antigas, com exceção do
Budismo, apresenta os deuses como seres com os vícios e virtudes dos
homens, porém, muito mais sábios e com a magia que os torna muito mais
poderosos.
Graças ao “Livro dos Mortos”, o defunto podia vencer todos os obstáculos
e ser convertido em Espírito Santificado, após cruzar os 21 pilares, passar
pelas 15 entradas, e cruzar 7 salas até chegar frente a Osíris e aos 42 juízes
que irão julgá-lo.
E graças a este livro, ele sabe o que pode salvá-lo e conduzi-lo à morada
dos deuses após transpor as Portas da Morte, onde, no Campo de Paz,
gozará os prazeres da Vida Eterna entre os deuses.
Assim, “O Livro Egípcio dos Mortos” tinha a função de ajudar o espírito a
se refazer do susto da morte quando ele tentava retornar para seu corpo
físico e não conseguia, porque os deuses iriam arrastar o espírito para longe
do ataúde.
Graças aos seus “guias” (os deuses encarregados de conduzi-lo) o espírito
atravessaria o Aukuret – o Mundo Subterrâneo – no qual não existe ar e nem
água.
Após a travessia ela chegava ao Amenti onde morava Osíris, imóvel e
enigmático (tendo atrás de si Ísis e Néftis) que ficava a contemplar o
espírito conduzido por Hórus, e Anúbis pesava o coração do morto na
presença da deusa Maât e mais 42 deuses (cada um representava um nome
do Egito).
Diante de cada um deles o falecido o interpelava pelo nome e declarava não
ter cometido nenhum pecado.
Era a chamada Confissão Negativa presente no “Papiro de Nu”:
Nada surja para opor-se a mim no julgamento, não haja oposição a mim
em presença dos príncipes soberanos, não haja separação entre mim e ti na
presença do que guarda a Balança. Não deixe os funcionários da corte de
Osíris que estipulam as condições da vida dos homens, que meu nome
cheire mal! Seja o julgamento satisfatório para mim, seja a audiência
satisfatória para mim, e tenha eu alegria de coração na pesagem das
palavras. Não se permita que o falso se profira contra mim perante o
Grande Deus, Senhor do Amenti.
O texto constante neste papiro permite que observemos a abrangência do
código moral egípcio, já que o desencarnado afirmava não ter lançado
maldiçoes, nem ter praticado uma série de atos condenáveis.
Conforme sabemos desde os tempos da IIª Dinastia a religião egípcia já
tendia para o monoteísmo que só se desenvolveu mais em 1500 a. C.
durante a XVIII Dinastia, do faraó Amenófis IV e sua esposa Nefertiti.
O culto ao deus Atom sediado em Tel El Amarna durou apenas durante o
reinado deste faraó, sendo proscrito de todo o Egito após a desencarnação
do soberano. Amenófis IV mudou de nome para Akhenaton e iniciou o culto
a Atom por ver dois pontos principais:
1º) o poder que os religiosos estavam tomando gradualmente sobre a
população, com seus ritos e práticas que encantavam as multidões;
2º) por entender que todos os outros deuses eram “menores” subordinados a
um Deus Maior (representado pelo próprio Sol). Essa posição tomada pelo
faraó contrariou diretamente os propósitos dos religiosos os quais tentaram
por todos os meios retomar o poder enfraquecido...
Lembremos que os seguidores de cada uma das grandes religiões nunca se
livraram cem por cento das superstições provenientes de cultos ancestrais.
E os padres e demais religiosos egípcios se aproveitaram desse fato para
voltar ao domínio que possuíam antes de Akhenaton.
III – A Origem da Magia
A magia era tida como a Ciência dos prodígios, e os magos podiam realizar
coisas impossíveis, embora atualmente a maioria das pessoas desacredite de
tais eventos.
Entretanto, ao longo de quase toda a História as pessoas acreditavam na
ação de forças invisíveis e sobrenaturais as quais os magos e iniciados
poderiam colocar em movimento para controlar o mundo natural.
Desde aquela época os magos praticavam a magia para adquirir grande
soma de conhecimento e de riqueza, para curar doenças diversas e se
prevenir contra perigos, para ganhar guerras e se prevenir contra os
inimigos conhecendo o que poderia acontecer no futuro.
Os métodos utilizados comumente na prática da magia eram variações de
técnicas antigas provenientes de civilizações já desaparecidas: feitiços,
poções mágicas, encantamentos, rituais e cerimônias que tinham a
finalidade de invocar deuses e demônios.
A palavra magia deriva do título dos altos sacerdotes da antiga Pérsia (Irã)
que eram denominados de magi.
Em todas as sociedades antigas, a magia e a religião estiveram interligadas.
Os magos eram tidos como pessoas privilegiadas que possuíam acesso aos
deuses, aos espíritos e aos demônios. Muitas vezes os magos e iniciados só
apelavam aos deuses com a intenção de obter uma ajuda para lançar um
feitiço contra alguém.
Na verdade, o conhecimento que se convencionou chamar de magia está
presente no mundo desde que surgiram os primeiros agrupamentos
humanos, e das necessidades desses seres brotou a precisão de ter domínio
sobre as chamadas “forças da Natureza”.
A magia era tida como sendo a manifestação de uma potência sobrenatural,
já que o entendimento humano da época não conseguia penetrar nos
mistérios da Natureza e suas leis.
Com o passar do tempo os homens mais capacitados intelectualmente
aprenderam a lidar com os elementos desencadeadores (os espíritos)
daqueles fenômenos e iniciaram a manipulação dos fluidos para as suas
práticas mágicas.
Muitos creditam ao continente atlante o surgimento de uma forma mais
expressiva, mais evoluída de magia.
Naquele continente desaparecido era comum a utilização de seres
elementais para os rituais de magia em larga escala.
Como a multidão em geral não possuía acesso ao conhecimento das causas
dos chamados fenômenos sobrenaturais deu-se início a aura de mistério que
envolvia a magia e seus praticantes.
Eram tidos como seres especiais, escolhidos. Foi justamente nessa época
que a magia chegou a ser considerada como uma ciência oculta que
estudava os segredos da Natureza e suas relações com os seres humanos.
Alguns pesquisadores acreditam que os homens pré-históricos efetuavam
desenhos de animais nas paredes das cavernas obedecendo a rituais
primitivos de magia que tinham por função auxiliar no sucesso da caça.
Na civilização egípcia os chamados deuses menores eram entidades que
satisfaziam as vontades dos magos e dos iniciados.
Eles tentavam recrutar os espíritos menos esclarecidos para que estes
trabalhassem para eles.
Os iniciados acreditavam que as divindades possuíam dois nomes: o nome
comum ou profano, que todas as pessoas conheciam; e o nome secreto ou
sagrado, conhecido somente pelos que se dedicavam aos estudos da magia.
Os sacerdotes egípcios usavam nomes bastante complicados para suas
divindades para que os estrangeiros não pudessem aprendê-los com
facilidade, era uma questão de segurança para o Estado.
A diversidade de fenômenos religiosos com a qual nós nos deparamos
atualmente abre uma série de questionamentos para a análise dos mesmos,
há a necessidade de uma cuidadosa elaboração de argumentos para
penetrarmos nos arcanos do passado.
O império da razão e da Ciência tem afetado diretamente as ações
religiosas, por um lado parte dos cientistas se abre para as perspectivas de
uma Ciência espiritualizada, e de outro lado há pesquisadores que voltam as
suas costas para tudo aquilo que seja relativo à religiosidade.
Segundo alguns pensadores a magia seria o primeiro estágio passado pela
Humanidade; a religião seria o segundo, e a Ciência seria o terceiro estágio,
e o definitivo vivido pela Humanidade.
A religião egípcia era obcecada pela vida eterna e sobrevivência da alma.
“O Livro Egípcio dos Mortos” abria as portas para a transcendência.
Em tudo as forças da Natureza se mostravam soberanas e, na verdade,
estavam personificadas como deidades.
Embora seja verdadeiramente impraticável investigar as origens da magia e
da religião egípcia, os indícios dos primeiros cultos e templos datam do
quarto milênio antes de Cristo.
Era uma sociedade na qual todos praticavam a religião.
O mito era uma forma de tentar explicar os processos naturais, além de
passarem um tipo de fundo moral, de valores éticos que deveriam ser
seguidos por todos e ensinados para as gerações seguintes.
Osíris era o deus que reinava sobre o Egito, juntamente com sua irmã e
esposa Ísis.
Ele havia ensinado a agricultura e a metalurgia para os seres humanos.
Eram três os cultos que existiam no Egito: o oficial (realizado pelo faraó e
pelo corpo de sacerdotes nos grandes templos), o popular e o funerário.
O culto era realizado diariamente por um grupo de sacerdotes que possuía
funções específicas no decorrer da cerimônia, como preparar as oferendas,
em boa parte alimentos, e o cuidado com os materiais ritualísticos, por
exemplo, o que denota uma hierarquia no segmento sacerdotal.
Nessa prática religiosa, o templo era o principal local e poderia servir tanto
para o culto aos deuses quanto para o culto ao faraó (nos templos em
memória do faraó falecido).
O local tinha um tempo sagrado e tornava-se um espaço santo quando
utilizado em rituais e festivais: representava o lugar e o momento em que os
homens e os deuses uniam-se.
Assim, aparecia de forma transparente num processo de comunicação, no
qual seria afirmada a presença da divindade e a renovação dos
compromissos entre divindade e homens e vice-versa.
Desse modo, o monarca se tornaria representante e mediador da
humanidade, reafirmando a vitória da existência sobre a não-existência
(caos) e afastando tal inexistência para além das fronteiras do Egito.
Os cultos populares eram os adotados pelo povo e envolvia uma série de
rituais específicos para cada tipo de deus. Já as práticas funerárias tinham a
função de preparar o defunto para a outra vida.
Toda a ritualística e as oferendas envolvidas nos rituais funerários
constituíam um tipo de prática de magia, como por exemplo, o ritual de
abertura dos olhos e da boca do morto no ato funerário.
A magia também possuía relação direta com a medicina, os papiros
prescreviam encantamentos associados aos medicamentos.
Dentre todos os tipos de feitiços os mais utilizados eram os relativos ao
amor.
Também a monarquia divina dos faraós se serviu das práticas religiosas.
Durante as campanhas do faraó Kamés contra os hicsos (reis pastores
provenientes da Palestina) os rituais de adoração ao deus Amon foram
utilizados e posteriormente foram recebidos conselhos desse deus para
aniquilar os inimigos.
Sacerdotes e sacerdotisas serviam aos deuses e às deusas e parece haver
uma divisão de tarefas por sexo em algumas atividades, como o uso de
instrumentos musicais.
Eles estavam inseridos na estrutura de poder, tendo hierarquias definidas a
serviço do faraó.
Os sacerdotes assumiam funções ritualísticas e administrativas e alguns
cleros se tornaram aparentemente mais importantes nesse jogo de poder,
sobretudo os segmentos das cidades de Tebas, Heliópolis, Mênfis e
Hermópolis.
Entretanto, isso não impedia outras formas de culto. Assim, sacerdotes e
sacerdotisas da deusa Hathor recebiam especial reverência porque seus
atributos estavam ligados ao amor, às paixões, à alegria e também à
felicidade.
A religião no Egito Antigo era marcada por várias crenças, mitos e
simbolismos.
A prática religiosa era muito valorizada na sociedade egípcia, sendo que os
rituais e cerimônias ocorriam em diversas cidades. A religião egípcia teve
grande influência em várias áreas da sociedade.
A magia no Egito era considera como uma ciência exata. A Alta Magia
tinha como objetivo adquirir um tipo de conhecimento que não era acessível
de ser conseguido pelos meios da experiência comum.
Nas sociedades modernas o termo mito assume uma conotação pejorativa,
entretanto, entre os povos antigos os mitos eram respeitados e venerados
como verdades absolutas.
Eram dádivas dos deuses e, preceitos consagrados pelos ancestrais. Os
mitos eram passados de geração a geração, fazendo parte das crenças
metafísicas de todas as populações.
Eles “explicavam” de uma maneira fantástica aquilo que a ciência ainda não
tinha desenvolvimento para penetrar.
No antigo Egito, o moto era baseado em uma verdade racional e não algo
fundamentado em simbolismos sem sentido.
Todo ritual era uma na prática uma manifestação de uma divindade, um tipo
de consagração aos deuses.
Era algo sagrado em sua mais profunda concepção.
Vede! Não está escrito neste rolo? Lede, vós que o encontrareis nos dias
que estão por nascer, se vossos deuses vos derem a inteligência! Lede, ó
crianças do futuro e aprendei os segredos deste passado, que para vós está
tão longínquo, mas que na verdade está tão próximo!
Os homens não vivem somente uma vez, partindo em seguida para sempre.
Eles vivem numerosas vezes em diferentes lugares, embora nem sempre seja
neste mundo. Entre duas vidas, há um véu de obscuridade.
A porta se abrirá no fim e nos mostrará todas as câmaras que nossos
passos terão percorrido desde o começo. A nossa religião ensina que
vivemos eternamente. (“Papiro de Anana”).
O texto acima foi escrito por Anana, vizir do faraó Seth II, da XIXª
Dinastia.
Essa era a encantadora concepção dos egípcios antigos com relação à vida
após a morte.
IV – A Criação do Mundo segundo os Egípcios
Houve um tempo em que inexistia o céu e a terra, somente as águas
primevas reinavam na escuridão por períodos incontáveis.
Essas águas primevas continham os germes de todas as coisas que vieram a
existia aqui na Terra, conforme conta o “Papiro de Hunefer” (1370 a. C.):
Homenagem a ti que é Rá quando te levantas e temo quando te pões. És o
senhor do céu, és o senhor da terra; o criador dos que habitam nas alturas
e dos que moram nas profundezas. És o Deus Uno que nasceu no princípio
dos tempos, criaste a Terra, modelaste o Homem, fizeste o grande aquífero
do céu, formaste Hapi, (o Nilo), criaste o grande mar e dás vida a quantos
existem dentro dele. Juntaste as montanhas umas às outras, produziste o
gênero humano e os animais do campo, fizeste os céus e a terra. Salve, oh
tu, que pariste a si mesmo. Salve Único Ser poderoso de miríades de formas
e aspectos, rei do mundo. Homenagem a ti Amon-Rá que descansas sobre
Maât. És desconhecido e nenhuma língua será capaz de descrever seu
aspecto; só mesmo tu. És Uno. Os homens te exaltam e juram por ti pois é
senhor deles. Milhões de anos passaram pelo mundo.
“Papiro de Nesi Amsu” (300 a. C.):
Rá o deus solar, evolveu do abismo aquífero primevo por obra do deus
Quépera, que produziu esse resultado pelo simples pronunciar do próprio
nome e que seu nome é Osíris, a matéria primeva da matéria primeva,
sendo Osíris como resultado disso, idêntico a Quépera no que respeita suas
evoluções.
Os egípcios consideravam as águas primevas como sendo o elemento
primordial de onde todas as criaturas vivas nasceram.
V – Osíris, o Deus da Ressurreição
Os egípcios, de todos os períodos dinásticos, acreditavam em Osíris que,
sendo de origem divina, padeceu a morte e a mutilação sob as potências do
mal, após grande combate com essas potências e voltou a levantar-se se
tornando dali para adiante, rei do mundo inferior e juiz dos mortos e
acreditavam que, por ele ter vencido a morte, os virtuosos também
poderiam vencê-la.
Osíris era a união do Sol e da Lua e foi morto e esquartejado em 14 pedaços
por Seth, seu irmão, filho de Seb e Nut e marido de Néftis, que espalhou
seus membros por todo o Egito, isto é, por todo o Universo, pois, ao separar
a dupla original, o Sol e a Lua, Seth dá origem aos planetas, às estrelas
fixas, a todos os seres da Natureza, tudo isso nascido dos membros de
Osíris, que foram arrancados e disseminados por todo o Cosmo, o Egito.
Entretanto Osíris, ligado à morte, é o mundo atado, petrificado, privado da
liberdade e submetido às leis da Natureza e aos ritmos implacáveis do
Destino.
Sua irmã e esposa, Ísis, o trouxe de volta à vida depois de muito trabalho e
esforço utilizando as fórmulas mágicas que lhe dera Toth, e teve um filho
dele, Hórus, que cresceu e combateu Seth venceu-o e assim vingou o pai.
Osíris passou a ser igual, ou maior, que o deus Rá. Ele representava para os
homens a ideia de um ser que era, ao mesmo tempo, deus e homem, e
tipificou para os egípcios, de todas as épocas, a entidade capaz, em razão de
seus padecimentos e de sua morte como homem, de compreender-lhes as
próprias enfermidades e a morte.
Originalmente, encaravam Osíris como um homem que vivera na terra
como eles, comera e bebera, sofrera morte cruel e, com a ajuda de Ísis e
Hórus (seu filho), triunfara da morte e alcançara a vida eterna ao subir aos
céus.
Por mais que se recue no tempo das crenças religiosas egípcias sempre há a
crença na ressurreição e a morte física pouco importava, pois o morto
atingia o Além.
O centro do culto de Osíris, durante as primeiras dinastias, foi Abidos, onde
estaria enterrada a cabeça do deus quando fora esquartejado pelas potências
do mal.
Os vários episódios da vida do morto se constituíram em representações no
templo de Abidos.
Com o tempo ele passa de exemplo de ressurreição para a causa da
ressurreição dos mortos.
Osíris se tornara um deus nacional, igual, e em alguns casos maior que Rá.
Nas XVIIIª e XIXª (1600 a. C.) dinastias, ele parece ter disputado a
soberania das três companhias de deuses, o que quer dizer, a trindade das
trindades.
Durante 5.000 anos no Egito, mumificaram-se os homens à imitação da
forma mumificada de Osíris e eles foram para os seus túmulos crentes que
seus corpos venceriam o poder da morte, o túmulo e a decomposição,
porque Osíris os vencera.
A principal razão da persistência do culto de Osíris no Egito foi
provavelmente a de ele prometer a ressurreição e a vida eterna aos fiéis.
Os antigos egípcios acreditavam fielmente que viveriam no Além ao lado
de suas divindades.
VI – Uma Visão Geral
O vizir Ptah-Hotep (2700 a. C.) escreveu:
Jamais reveles a outrem o que alguém te confiou, abrindo-te o teu coração.
Se queres ser um homem perfeito, aperfeiçoa o teu coração. Diz aquilo que
é, em vez daquilo que não é. A Amon aborrece o excesso de palavras. Se
algo for contestável, não o digas. O teu silêncio é mais útil do que a
abundância de palavras. Deixa o teu coração sofrer, mas domina a tua
palavra. O segredo mais íntimo revela-se no silêncio. É vasta a influência
do homem agradável ao falar. Mas, as facas estão afiadas para quem
forçar a passagem, pois esta Só é permitida no devido tempo.
Notadamente sempre foi atribuído um cunho sombrio para a civilização do
antigo Egito por causa dos papiros e demais documentos sobre rituais e
filosofia metafísica, porém, aquele povo era espiritualizado o suficiente
para acreditar na sobrevivência do espírito e no respeito profundo aos seus
mortos.
Os antigos egípcios consideravam que o coração era o altar da alma e o
corpo físico era o templo, por causa disso o corpo era preservado até a
entrada do morto no “Reino dos Mortos”. O embalsamamento e a
mumificação eram uma incumbência da “Casa da Morte”.
Nas “Casas da Vida” (templos iniciáticos) eram ministrados conhecimentos
avançados sobre a vida e a morte.
As crenças religiosas no antigo Egito preconizavam que o morto deveria ser
auxiliado para poder ressuscitar em sua vida no Além.
E para isso ele era auxiliado, pois dependia de ele ser considerado um
“homem justo” e de ter agido assim em sua vida na Terra, sendo então
aprovado no Tribunal de Osíris.
Ainda mais, o morto careceria de estar em boas condições físicas para
andar, falar, enxergar, ouvir, e mesmo manter relações sexuais, e por isso
ele necessitava daqueles rituais realizados sobre as múmias. Inicialmente,
aconteciam os procedimentos de praxe para a purificação com a água e o
natrão, posteriormente ocorria à aspersão de incenso e também as orações.
Em seguida o sacerdote-funerário tocava a boca do morto com um
instrumento em ouro em formato de dedo que servia para identificar que
aquele ser era um recém-nascido em uma nova vida.
Durante esse ritual a estátua do morto permanecia em posição vertical,
deitada sobre um monte de areia.
No interior da tumba se davam os últimos rituais com o sacerdote
realizando defumações com incenso e também outras ervas aromáticas,
proferindo preces.
Por último uma mesa de oferendas era colocada diante do morto, naquela
mesa deveria existir um coração e uma pata dianteira de um boi.
A mumificação era uma das peculiaridades da civilização do antigo Egito.
Obviamente que outras culturas também utilizavam essa prática, embora
sem a sofisticação do povo egípcio.
O termo senefer, mumificar, tinha outro significado: conceder beleza e
vitalidade.
As culturas da Pré-História praticavam o sepultamento diretamente em
covas que eram abertas nas areias do deserto, envolviam o morto em peles
de animais ou em esteiras de juncos, e sempre utilizavam a oferta de
materiais de caça, água e comida colocados junto com o morto.
Na verdade, o ambiente quente e seco produzia a desidratação do corpo do
defunto, conservando os tecidos e produzindo múmias naturais.
Com o passar das eras e a emergência da cultura dinástica – na fase
histórica – tumbas passaram a ser construídas de maneira sofisticada e
profusamente decoradas, porém fechadas após o enterramento do defunto.
O corpo era sepultado em urnas, fato que proporcionava a rápida
decomposição dos corpos, pois deixavam de existir as condições naturais de
conservação dos mesmos.
De acordo com as antigas crenças religiosas dos egípcios, eram
indispensáveis tanto a conservação quanto o bom aspecto do corpo material
do morto para que fosse efetivada uma vida após a morte biológica.
O corpo físico (Khet) tinha de estar em boas condições para que o Ka
(perispírito) ou duplo espiritual tivesse uma referência.
Tendo o suporte material conservado o Ka efetuaria sua jornada após a
morte. No Ka existia a energia vital.
Segundo os conceitos religiosos da época, o ser humano era constituído por
nove partes presentes desde o seu nascimento e que permaneciam depois da
desencarnação:
VI. 1 – Djet (corpo físico durante a vida) e Khet (corpo físico após a
morte);
VI. 2 – Ba, a alma que se deslocava entre o mundo dos vivos e o mundo dos
mortos, era representado como um pássaro com a cabeça de um homem;
VI. 3 – Ka, o duplo pleno de energia vital;
VI. 4 – Ren, o nome, a identidade da pessoa;
VI. 5 – Akh, espírito divinizado;
VI. 6 – Ab, coração, consciência do morto, que era pesado durante o
julgamento da alma;
VI. 7 – Sekhem, a força que comanda o corpo;
VI. 8 – Sahu, o corpo luminoso e transparente, a essência do ser;
VI. 9 – Khaibit, a sombra.
VII – O Egito e seus Mistérios
O povo mais espiritualizado da antiguidade”, foi assim que Heródoto de
Helicarnasso (484-424 a. C.) descreveu os egípcios antigos.
As primeiras manifestações religiosas egípcias são datadas de cinco mil
anos antes de Jesus.
Os egípcios, inicialmente, como quase todos os povos primitivos,
praticavam rituais de adoração aos fenômenos da Natureza, tendo ficado
nesse estágio até cerca de 3000 a. C., quando começaram a acontecer
diversas modificações que proporcionaram a evolução daquela civilização e
o desenvolvimento de uma religião complexa.
Conforme foi se desenvolvendo a civilização egípcia seu próprio sistema
político e também a vida cotidiana estavam cada vez mais ligados á
religião, ou seja, segundo eles acreditavam cada detalhe da vida de cada
pessoa estava subordinado à vontade dos deuses. E o faraó era considerado
um deus encarnado, e era adorado como tal.
A antiga religião egípcia era sectária, ou seja, os templos eram locais
sagrados proibidos para a população, somente o faraó e os sacerdotes
tinham acesso a eles.
Isso proporcionou que houvesse uma prática religiosa para a classe
sacerdotal e outra para o povo. Cada cidade possuía seu próprio deus.
VIII – A Medicina no Antigo Egito
A medicina do antigo Egito está entre as mais antigas práticas médicas
documentadas da antiguidade.
O “Papiro de Edwin Smith” documenta entre outras coisas até o
diagnóstico e tratamento de lesões.
As práticas eram extremamente avançadas para a época, por isso a cultura
médica do antigo Egito gozava de excelente reputação, até mesmo líderes
de outros impérios requisitavam frequentemente ao faraó que enviasse seu
melhor médico para tratamento de familiares.
Nenhum outro povo detinha conhecimento tão detalhado da anatomia
humana. Os médicos egípcios conheciam a existência do pulso e sua
relação com o coração.
A cirurgia era uma técnica comum entre os médicos para o tratamento das
lesões físicas.
IX – A Arte Egípcia
Os indícios mais significativos do antigo Egito aparecem na arte. As cores
das pinturas murais esculpidas nas rochas de túmulos em Tebas possuem
uma aparência tão fresca como se houvessem sido pintadas há pouco tempo
atrás.
Capítulo III
Espiritualismo no Egito Antigo
A arqueologia na transição entre os Século XIX e XX era o centro das
atenções científicas do mundo.
Embora entre todo esse processo tenham acontecido lances “inexplicáveis”
como as mortes ocorridas na equipe de Lorde Carnarvon e Howard Carter,
descobridores da câmara mortuária de Tutancâmon.
I – As Informações de Emmanuel
As informações apresentadas por Emmanuel sobre a civilização egípcia são
bem claras e oportunas, desvendando a aura de mistério que sempre
envolveu o tema.
Dentre os espíritos degredados na Terra, os que constituíram a civilização
egípcia foram os que mais se destacavam na prática do Bem e no culto da
Verdade.
Aliás, importa considerar que eram eles os que menos débitos possuíam
perante o tribunal da Justiça Divina. Em razão dos seus elevados
patrimônios morais, guardaram no íntimo uma lembrança mais viva das
experiências de sua pátria distante. Um único desejo os animava, que era
trabalhar devotadamente para regressar, um dia, aos seus penates
resplandecentes.
Uma saudade torturante do céu foi a base de todas as suas organizações
religiosas. Em nenhuma civilização da Terra o culto da morte foi tão
altamente desenvolvido. Em todos os corações morava a ansiedade de
voltar ao orbe distante, ao qual se sentiam presos pelos mais santos afetos.
Foi por esse motivo que, representando uma das mais belas e adiantadas
civilizações de todos os tempos, as expressões do antigo Egito
desapareceram para sempre do plano tangível do planeta. Depois de
perpetuarem nas Pirâmides os seus avançados conhecimentos, todos os
espíritos daquela região africana regressaram à pátria sideral.
A Ciência Secreta
Em virtude das circunstâncias mencionadas, os egípcios traziam consigo
uma ciência que a evolução da época não comportava.
Aqueles grandes mestres da Antiguidade foram, então, compelidos a
recolher o acervo de suas tradições e de suas lembranças no ambiente
reservado dos templos, mediante os mais terríveis compromissos dos
iniciados nos seus mistérios. Os conhecimentos profundos ficaram
circunscritos ao círculo dos mais graduados sacerdotes da época,
observando-se o máximo cuidado no problema da iniciação.
A própria Grécia, que aí buscou a alma de suas concepções cheias de
poesia e de beleza, através da iniciativa dos seus filhos mais eminentes, no
passado longínquo, não recebeu toda a verdade das ciências misteriosas.
Tanto é assim, que as iniciações no Egito se revestiam de experiências
terríveis para o candidato à ciência da vida e da morte – fatos esses que,
entre os gregos, eram motivos de festas inesquecíveis.
Os sábios egípcios conheciam perfeitamente a inoportunidade das grandes
revelações espirituais naquela fase do progresso terrestre; chegando de um
mundo de cujas lutas, na oficina do aperfeiçoamento, haviam guardado as
mais vivas recordações, os sacerdotes mais eminentes conheciam o roteiro
que a humanidade terrestre teria de realizar. Aí residem os mistérios
iniciáticos e a essencial importância que lhes era atribuída no ambiente
dos sábios daquele tempo.
O Politeísmo Simbólico
Nos círculos esotéricos, onde pontificava apalavra esclarecida dos grandes
mestres de então, sabia-se da existência do Deus único e absoluto, Pai de
todas as criaturas e Providência de todos os seres, mas os sacerdotes
conheciam, igualmente, a função dos Espíritos prepostos de Jesus, na
execução de todas as leis físicas e sociais da existência planetária, em
virtude das suas experiências pregressas.
Desse ambiente reservado de ensinamentos ocultos, partiu, então, a ideia
politeísta dos numerosos deuses, que seriam os senhores da Terra e do Céu,
do Homem e da Natureza.
As massas requeriam esse politeísmo simbólico, nas grandes festividades
exteriores da religião.
Já os sacerdotes da época conheciam essa fraqueza das almas jovens, de
todos os tempos, satisfazendo-as com as expressões exotéricas de suas
lições sublimadas.
Dessa ideia de homenagear as forças invisíveis que controlam os
fenômenos naturais, classificando-as para o espírito das massas, na
categoria dos deuses, é que nasceu a mitologia da Grécia, ao perfume das
árvores e ao som das flautas dos pastores, em contato permanente com a
Natureza.
O Culto da Morte e a Metempsicose
Um dos traços essenciais desse grande povo foi a preocupação insistente e
constante da morte. A sua vida era apenas um esforço para bem morrer.
Seus papiros e afrescos estão cheios dos consoladores mistérios do além-
túmulo.
Era natural. O grande povo dos faraós guardava a reminiscência do seu
doloroso degredo na face obscura do mundo terreno. E tanto lhe doía
semelhante humilhação, que, na lembrança do pretérito, criou a teoria da
metempsicose, acreditando que a alma de um homem podia regressar ao
corpo de um irracional, por determinação punitiva dos deuses. A
metempsicose era o fruto da sua amarga impressão, a respeito do exílio
penoso que lhe fora infligido no ambiente terrestre.
Inventou-se, desse modo, uma série de rituais e cerimônias para solenizar o
regresso dos seus irmãos à pátria espiritual.
Os mistérios de Ísis e Osíris mais não eram que símbolos das forças
espirituais que presidem aos fenômenos da morte.
Os Egípcios e as Ciências Psíquicas
As ciências psíquicas da atualidade eram familiares aos magnos sacerdotes
dos templos.
O destino e a comunicação dos mortos e a pluralidade das existências e dos
mundos eram, para eles, problemas solucionados e conhecidos. O estudo
de suas artes pictóricas positiva a veracidade destas nossas afirmações.
Num grande número de afrescos, apresenta-se o homem terrestre
acompanhado do seu duplo espiritual. Os papiros nos falam de suas
avançadas ciências nesse sentido, e, através deles, podem os egiptólogos
modernos reconhecer que os iniciados sabiam da existência do corpo
espiritual preexistente, que organiza o mundo das coisas e das formas. Seus
conhecimentos, a respeito das energias solares com relação ao magnetismo
humano, eram muito superiores aos da atualidade. Desses conhecimentos,
nasceram os processos de mumificação dos corpos, cujas fórmulas se
perderam na indiferença e na inquietação dos outros povos.
Seus reis estavam tocados do mais alto grau de iniciação, enfeixando nas
mãos todos os poderes espirituais e todos os conhecimentos sagrados. É
por isso que a sua desencarnação provocava a concentração mágica de
todas as vontades, no sentido de cercar-lhes o túmulo de veneração e de
supremo respeito. Esse amor não se traduzia, apenas, nos atos solenes da
mumificação. Também o ambiente dos túmulos era santificado por um
estranho magnetismo. Os grandes diretores da raça, que faziam jus a
semelhantes consagrações, eram considerados dignos de toda a paz no
silêncio da morte.
Nessas saturações magnéticas, que ainda aí estão a desafiar milênios,
residem as razões da tragédia amarga de Lord Carnarvon e de alguns dos
seus companheiros que penetraram em primeiro lugar na câmara
mortuária de Tut Ankh Amon, e ainda por isso é que, muitas vezes, nos
templos que correm, os aviadores ingleses observam o não funcionamento
dos aparelhos radiofônicos, quando as suas máquinas de voo atravessam a
limitada atmosfera do vale sagrado.
As Pirâmides
A assistência carinhosa do Cristo não desamparou a marcha desse povo
cheio de nobreza moral. Enviou-lhes auxiliares e mensageiros, inspirando-
os nas suas realizações, que atravessaram todos os tempos provocando a
admiração e o respeito da posteridade de todos os séculos.
Aquelas almas exiladas, que as mais interessantes características
espirituais singularizam, conheceram, em tempo, que o seu degredo na
Terra atingia o fim. Impulsionados pelas forças do Alto, os círculos
iniciáticos sugerem a construção das grandes pirâmides, que ficariam
como a sua mensagem eterna para as futuras civilizações do orbe. Esses
grandiosos monumentos teriam duas finalidades simultâneas:
representariam os mais sagrados templos de estudo e iniciação, ao mesmo
tempo em que constituiriam, para os pósteros, um livro do passado, com as
mais singulares profecias em face da obscuridade do porvir.
Levantaram-se, destarte, as grandes construções que assombram a
engenharia de todos os tempos. Todavia, não é o colosso de seus milhões de
toneladas de pedra nem o esforço hercúleo do trabalho de sua justaposição
o que mais empolga e impressiona a quantos contemplam esses
monumentos. As pirâmides revelam mais extraordinários conhecimentos
daquele conjunto de Espíritos estudiosos das verdades da vida. A par
desses conhecimentos, encontram-se ali os roteiros futuros da humanidade
terrestre. Cada medida tem a sua expressão simbólica, relativamente ao
sistema cosmogônico do planeta e à sua posição no sistema solar. Ali está o
meridiano ideal, que atravessa mais continentes e menos oceanos, e através
do qual se pode calcular a extensão das terras habitáveis pelo homem, a
distância aproximada entre o Sol e a Terra, a longitude percorrida pelo
globo terrestre sobre a sua órbita no espaço de um dia, a precessão dos
equinócios, bem como muitas outras conquistas científicas que somente
agora vem sendo consolidadas pela moderna Astronomia.
Redenção
Depois dessa edificação extraordinária, os grandes iniciados do Egito
voltam ao plano espiritual, no curso incessante dos séculos.
Com o seu regresso aos mundos ditosos da Capela, vão desaparecendo os
conhecimentos sagrados dos templos tebanos, que, por sua vez, os
receberam dos grandes sacerdotes de Mênfis.
Aos mistérios de Ísis e de Osíris, sucedem-se os de Elêusis, naturalmente
transformados nas iniciações da Grécia antiga.
Em algumas centenas de anos, reuniram-se de novo, nos planos espirituais,
os antigos degredados, com a sagrada benção do Cristo, seu patrono e
salvador. A maioria regressa, então, ao sistema da Capela, onde os
corações se reconfortam nos sagrados reencontros das suas afeiçoes mais
santas e mais puras, mas grande número desses Espíritos, estudiosos e
abnegados, conservaram-se nas hostes de Jesus, obedecendo a sagrados
imperativos do sentimento e, ao seu influxo divino, muitas vezes têm
reencarnado na Terra, para desempenho de generosas e abençoadas
missões. (“A Caminho da Luz”; de Emmanuel).
Iremos comentar sobre os dados fornecidos por Emmanuel com relação às
pirâmides no Item II do presente capítulo.
É importante salientarmos que os conhecimentos deixados nas pirâmides
ainda não foram totalmente compreendidos, por isso, muita coisa ainda
pode vir a surgir...
II – As Pirâmides
O médium norte americano Edgar Cayce (1877-1945) durante suas leituras
psíquicas revelou uma série de detalhes sobre a origem atlante dos antigos
egípcios.
Ele mencionou que alguns remanescentes da última grande ilha: Poseidônis
conseguiram se salvar e se instalaram em definitivo nas terras do Egito.
Além disso, ele comentou que existe uma sala – a Sala dos Registros –
localizada dentro da Esfinge.
No interior desse recinto existiriam diversos documentos os quais, quando
forem descobertos irão proporcionar uma verdadeira revolução no
conhecimento humano. Ali os textos atlantes versam sobre todas as ciências
humanas, além disso, tratam do registro dos feitos da civilização atlante.
A grande pirâmide possuía originalmente 145, 7 m de altura (com o correr
do tempo, perdeu 10 metros de seu cume). E o quadrado da altura é
exatamente igual à superfície de cada uma das fases triangulares. A altura
da pirâmide multiplicada por 10 e elevada à nona potência é igual à
distância média entre a Terra e o Sol. O ângulo de inclinação dos seus lados
é de 54º54’. Sua base é um quadrado com 229 m de lado.
O perímetro da grande pirâmide dividido por duas vezes a sua altura, resulta
no número pi (3,14159...) até o décimo quinto dígito, e isso é interessante
porque até o Século VI d. C. o pi havia sido calculado somente até o quarto
dígito...
Os lados da pirâmide estão corretamente orientados para, respectivamente,
o Norte, o Sul, o Leste e o Oeste.
A base da grande pirâmide é um quadrado de 232.805 metros de lado.
Se multiplicarmos por 10 milhões a medida empregada para a construção da
pirâmide – o côvado sagrado, que é de 0,635660 metro – teremos 6.356.600
metros, um valor que é atribuído ao comprimento do raio do centro da Terra
ao polo. E também se for multiplicado o côvado piramidal – 25,4264 mm –
por 100 bilhões é obtido o comprimento do percurso da Terra em sua órbita
no período de vinte e quatro horas.
Ao recopilar as informações relacionadas com a preparação do livro
‘Forma e Dimensões da Terra’ (Edições de Serbal, Barcelona, 2000) tive
acesso ao volume ‘The Great Pyramid, its secrets and mysteries revealed’
(Nova York, 1994), uma das várias reedições da obra ‘Our inheritance in
the Great Pyramid’, escrita pelo astrônomo escocês Charles Piazzi Smyth
no ano de 1880.
Foi então que decidi traduzir parte de seu conteúdo geodésico, para dar-
lhe assim uma maior projeção e pensando também em que dessa forma se
poderia animar algum leitor a consultar tão interessante e volumoso
trabalho, mais de seiscentas e cinquenta páginas convenientemente
ilustradas. Nos cinco capítulos de que consta se abordam ainda outras
questões igualmente importantes, como as propriedades geométricas, muito
relacionadas com o número Pi, e metrológicas da pirâmide, que não podem
ser tratadas aqui por motivos de espaço e tempo.
Menção a parte são as surpreendentes conexões, que estabelece o autor,
entre tão grandioso monumento e as religiões judaica e cristã. Ainda que
não seja nada novo, não faz mal recordar que as pirâmides do Egito têm
sempre despertado a curiosidade e o assombro de todos os que as têm
contemplado de uma ou outra forma.
Matemáticos gregos, tão importantes como Tales e Pitágoras, devem ter
sentido esta sensação quando as visitaram, chegando o primeiro a medir a
altura da maior de todas elas. O método utilizado pelo sábio de Mileto teve
sua componente astronômica, pois comparou o triângulo formado por uma
baliza vertical e sua sombra com o homólogo da pirâmide. Os grandes
conquistadores tão pouco foram alheios aos encantos da grande pirâmide
de Keops, de fato o grande Alexandre construiu no Egito a cidade que leva
seu nome no início do século IV a. C.
Napoleão Bonaparte é outro dos que merece ser citado, a título anedotário,
assinala que sua inegável ousadia fez com que passasse a noite de 12 de
agosto de 1799 no interior da mesma. Entretanto, sua decisão mais
impetuosa há tomou um ano antes, quando em 20 de agosto de 1798, uma
vez concluída sua exitosa campanha militar, decidiu fundar o Instituto do
Cairo (logo Instituto do Egito). O Instituto se dividiu nas quatro classes
seguintes: I) Matemática, II) Física, III) Economia Política e IV) Artes e
Literatura. A presidência a ocupou, desde o primeiro momento, o
matemático Gaspar Monge (1746-1818), um dos responsáveis pela
expedição científica, associada à conquista.
O próprio Bonaparte se reservou a vice-presidência, indicando para a
Secretaria, ao também matemático Jean Baptiste Joseph Fourier (1768-
1830), membro destacado da expedição científica. Um dos principais
sucessos da Comissão organizadora da expedição foi o achado da Pedra
Rosetta, nas proximidades da cidade de mesmo nome (Rashîd), a uns 56 km
ao NE de Alexandria. O descobrimento foi realizado pelo tenente de
Engenheiros P. F. Bouchard, integrado na Comissão como experto em
Geometria. Como é notório, nela se apoiou J. F. Champollion para
decifrar os hieróglifos egípcios.
Após a rendição francesa, no ano de 1801, a pedra passou a mãos inglesas,
ficando a mesma sob a guarda do Museu Britânico. Outro que é obrigado
destacar é a monumental obra intitulada ‘Description de l’Égypte ou
Recueil des observations et des recherches qui ont été faites en Egypte
pendant l´expédition de l´armée française’, cujo editor científico foi Edme-
François Jomard (1777-1862); um dos Engenheiros Geógrafos que
participou da expedição e que foi membro do Instituto do Egito desde 1799
a 1801; a preparação da obra a iniciou quando regressou a Paris no ano
de 1803.
Para se ter ideia do trabalho realizado por Jomard, basta dizer que os
nove volumes de textos e os treze de pranchas, não se acabaram de
publicar até o ano de 1828. Todos eles se conservam na Biblioteca
Nacional Francesa, cuja cartoteca criou o próprio Edme-François Jomard.
Este Engenheiro geógrafo se interessou também pela grande pirâmide, sob
os aspectos metrológicos e geodésicos. Ele foi o primeiro em determinar a
equivalência métrica do estádio grego de 600 pés, que cifrou em 185 m.
Havendo deduzido que tal distância era a décima parte do desenvolvimento
de um minuto de meridiano e sabendo que os antigos autores defendiam
que a apótema da pirâmide tentava representar tal grandeza, procedeu a
sua medida, achando o valor de 184,722 m. Como comprovação calculou o
desenvolvimento de um grau de meridiano na latitude média do Egito,
achando 110.827,66 m; que uma vez divididos por 600 se transformam em
184,713 m, um valor muito parecido ao que havia obtido.
Também mediu o lado da base da pirâmide, resultando 230,9 m, para
comprovar a crença de que o perímetro da base era a metade do
desenvolvimento do minuto de meridiano. Compreende-se assim que anos
depois Piazzi Smyth reconheceu estes trabalhos e se apoiou na publicação
anterior, na hora de escrever a sua. Outro personagem, tão crucial na
história da ciência e da humanidade, como Isaac Newton, também se
interessou pela egiptologia e na grande pirâmide, tal como o documentou
nosso protagonista; em uma de suas passagens detalha como Newton se
referia ao codo egípcio como codo profano, em comparação com o
sagrado empregado pelos judeus. Piazzi Smyth cita assim mesmo, em
várias ocasiões, a um astrônomo tão prestigioso como John Herschel; que
pensava que essa pirâmide fora construída por reis pastores palestinos,
antes que se iniciasse a história.
Entretanto, só teve rigor científico quando, baseando-se na precessão dos
equinócios, deduziu que a estrela mais próxima ao Polo Norte Celeste, na
época dos faraós, foi a da constelação do Dragão, assinalando-se uma
distância polar de 3º42´. O grande astrônomo declarou que existia uma
aparente relação direta entre o tamanho do globo terrestre e o da Pirâmide
de Khufu, depois de haver estudado o livro de J. Taylor ‘The Great
Pyramid: why was it built, and who built it?’ (Londres, 1859).
Sua morada, naquelas latitudes, a aproveitou para realizar seus primeiros
trabalhos geodésicos, participando na triangulação que amarrou o
Observatório da Caille com o telescópio, que havia sido instalado por J.
Herschel. Ao morrer lhe foram designados os vértices de maior altitude:
Kamies-Setor Berg (1567 m), Winter Berg (2078 m) e Sneeuw Kop (1588
m), que observou durante o período compreendido entre julho de 1844 e
Julho de 1845.
Assim mesmo tomou parte na medição da base de Zwartland, uma
operação complicada que durou cinco meses e foi realizada sob condições
atmosféricas tão adversas que tiveram que ser substituídos com frequência,
por enfermidade, de vários dos integrantes da equipe. Quando finalizou a
campanha geodésica, este se incorporou ao Observatório, e foi nomeado
Astrônomo Real da Escócia e o de Professor de Astronomia prática da
Universidade de Edimburgo.
Entretanto postergou sua partida até outubro de 1845, para assim poder
finalizar a extensão da triangulação até o cabo das ‘Agulhas’, o ponto
mais meridional do continente africano. Ele recebeu um informe muito
favorável de Maclear, que elogiava suas habilidades como operador e
como desenhista, ademais de sua invejável força física. Ao chegar a
Edimburgo, finalizou os trabalhos pendentes de seu predecessor, sendo
estes publicados no ‘Edimburgo Observations, vol. XIV, XV’; também
conseguiu corrigir o telescópio principal do Observatório.
No ano de 1856 se casa com Jessie Duncan, que foi sua colaboradora
durante seus quarenta anos de matrimônio. Ela o acompanhou sempre em
todas suas campanhas de observação, como aquela que empreendeu, nesse
mesmo ano, na Ilha de Tenerife.
Ali acudiu a instâncias do Almirantazgo, que o subvencionou com
quinhentas libras; usando para seus trabalhos uma luneta equatorial, cuja
objetiva tinha um diâmetro ao redor de 20 cm e que havia sido fabricada
pela firma T. Cooke & Sons. A primeira estação astronômica foi o pico de
Guajara, com uma altitude de 2713 m, a uns 20 km de Teide, permanecendo
ali junto a sua mulher desde 14 de julho até 20 de agosto. Com sua grande
perseverança, logrou comprovar que a energia radiante da Lua cheia não é
em absoluto desprezível, detectando também radiação infravermelha
procedente da mesma.
Assim mesmo reconheceu, ao estudar o espectro solar, que as linhas de
Fraunhofer tinham também uma origem terrestre. Consequentemente se
trasladou, em 21 de agosto, a Alta Vista, uma montanha de 3261 m, ainda
que não se possa instalar o telescópio antes do dia 3 de setembro. Desde
esta nova estação observou a Estrela Antares (constelação de Escorpião) e
outras duas de Casiopea, além de Júpiter. Suas expectativas se viram
cumpridas, permitindo-lhe realizar magníficos desenhos do planeta;
reproduzidos tanto em ‘Edimburgo Observations, vol. XII’ como na
‘Philosophical Transactions’ de 1858.
Além das investigações astronômicas, realizou outras do tipo geológico,
nos arredores de Teide, descrevendo diversos derrames de lava e
analisando experiências anteriores efetuadas por Humboldt no mesmo
lugar. Sua afeição a fotografia, possibilitou a ilustração de sua expedição
científica com panorâmicas de indiscutível interesse histórico, publicando
os resultados da mesma no informe ‘Tenerife Astronomical Experiment of
1856’, que dirigiu ao Almirantazgo, dois anos depois. Também apareceu
seu trabalho, com algumas omissões, nas ‘Philosophical Transactions’ do
mesmo ano de 1858.
Algumas das fotografias tomadas por Piazzi Smyth, nesta ocasião, se
conservam no volume, já citado, das Observações de Edimburgo; ainda que
se encontre em maior número em sua ‘Specialties of a residence above the
clouds’, publicada em Londres, também em 1858. No ano seguinte,
empreendeu viagem a Rússia, da qual deu conta três anos depois com
‘Three Cities in Rusia’, ainda que centrasse principalmente sua atenção na
descrição do grande Observatório de Pulkovo. Lamentavelmente não pode
ser atendido por seu diretor, W. von Struve, senão por seu filho Otto e por
todos os astrônomos responsáveis dos diferentes programas em curso.
No mês de setembro de 1864, depois de regressar a Inglaterra, apareceu
sua obra ‘Our Inheritance in the Great Pyramid’, fiel reflexo de seu
interesse por todo o relacionado com o antigo Egito. De maneira que não
resulta surpreendente que o casal se deslocasse a Gisé em novembro desse
mesmo ano. Ali mediu, como veremos em seu momento, a Grande
Pirâmide, determinou sua orientação, assim como o tamanho e a pendente
de seus maiores passadiços, além de analisar as dimensões de suas
câmaras interiores.
Todas as suas investigações sobre a pirâmide de Khufu, acompanhadas de
numerosas ilustrações, podem ser consultadas em ‘Edimburgo
Observations. Vol. XIII’; um volume que sempre será considerado
referência obrigatória para conhecer as peculiaridades geométricas e
metrológicas de tão esplendido monumento. Depois desta expedição, passa
uns quantos anos sem que efetue nenhuma viagem fora da Inglaterra.
Na primavera de 1872 faz uma rápida visita a sua cidade natal, onde
realiza observações espectroscópicas da luz zodiacal. Cansado de estudar o
espectro solar, nas más condições atmosféricas do Observatório de
Edimburgo, decidiu trasladar-se a Portugal, no ano de 1877, buscando um
tempo muito mais ensolarado. Seus progressos não se fizeram esperar,
depois de publicar os resultados na Real Sociedade de Edimburgo (Volume
nº 29 das ‘Transactions’), recebeu em 1880 o prêmio Macdougall-Brisbane
como reconhecimento a suas investigações. No ano de 1881 volta a
Portugal, nesta ocasião a Ilha Madeira, com a intenção de observar
novamente seu Sol tão brilhante. Os resultados, desta outra campanha
astronômica, os incluiu no volume intitulado ‘Madeira Spectroscopic’,
publicado em 1882.
As observações solares continuaram nos anos seguintes, destacando o
estudo do espectro que levou a cabo em Winchester, durante o verão de
1884. Seu objetivo era comprovar se as grandes erupções vulcânicas de
1883 haviam afetado de alguma maneira, o poder de absorção da
atmosfera terrestre. O resultado de tão interessante o intitulou ‘The Visual
Grating and Glass-lens Solar Spectrum’, incluindo-o nas ‘Edimburgo
Transactions. Vol. XXXII. Part. II’ do ano 1884.
A atividade incansável de Piazzi Smyth não terminava com suas
observações astronômicas, pois nos momentos livres os dedicava a
invenções mecânicas. Entre seus logros é destacável, neste contexto, a
construção de um distanciômetro portátil; curiosamente comprovou,
durante sua estada na Rússia, que um astrônomo daquele país havia
idealizado outro instrumento baseado no mesmo princípio construtivo.
Seus vários aportes foram permanentes até que decidiu aposentar-se no
ano de 1888, deixando tanto o posto de Diretor do Observatório como o de
Professor na Universidade, que desempenhou ao longo dos últimos
quarenta e três anos.
Entretanto, em seu retiro de Ripon, continuou realizando numerosas
fotografias de formações nebulosas singulares. Após seu falecimento, estas
foram cedidas ao Observatório Real de Edimburgo. Piazzi Smyth foi
membro correspondente das Academias de Ciências de Munique e Palermo,
assim como das Reais Sociedades de Londres e de Edimburgo.
Quando Piazzi Smyth regressou do Egito, recopilou toda a informação:
cadernos de observações, desenhos, fotografias e informes, para incluir no
Volume nº 13 das Observações de Edimburgo, já citada. A importância
histórica e geodésica de todas suas medidas e o rigor com que se efetuaram
foram reconhecidas imediatamente pela ‘Royal Society of Edimbourg’ que
o recompensou com o prêmio Kize no ano de 1867. Ante o interesse
despertado, decidiu divulgar seu trabalho em forma de novela, dando-lhe
assim um caráter menos acadêmico e mais acessível ao grande público;
esse foi por tanto a origem de sua obra, em três volumes, ‘Life and Work at
the Great Pyramid’, editado em Edimburgo no ano de 1867. Em seguida
(1868) publicou o livro intitulado ‘On the Antiquity of Intellectual
Man, from a Practical and Astronomical point of View’.
Com tais antecedentes, se entende melhor que esta quinta reedição, das
investigações egípcias de Piazzi, tenha aparecido com o nome já sabido de
‘The Great Pyramid, its secrets and mysteries revealed’. Entretanto, o livro
tem em realidade o mesmo índice e conteúdo que a quarta edição (1880),
do primeiro trabalho de Piazzi, isto é, o de ‘Our Inheritance in the Great
Pyramid’; exceção feita da apresentação assinada por Fatma Turkkan.
Esta renomeada especialista em história da arte, reconheceu a Piazzi
Smyth, o mérito de haver levado a cabo a primeira análise da estrutura,
com equipamento científico moderno.
Também assegura Turkkan, que ele foi o primeiro a cavar o suficiente para
encontrar o afloramento rochoso sobre o qual descansa a pirâmide, a única
forma de avaliar com exatitude suficiente o perímetro de sua base; neste
ponto se confundiu, pois, antes o haviam feito os Engenheiros Geógrafos
franceses, tal como reconhece o próprio autor na página nº 24. Entretanto
nem tudo foi festejos, já que antes o havia desaprovado a Piazzi Smyth, seu
excessivo misticismo, ao supor que a pirâmide encerrava uma cônica
cristã, inspirada por Deus, da história do homem, referida tanto ao
passado como ao futuro.
Repete-se aqui o prólogo da quarta edição, indicando no mesmo que Piazzi
Smyth saíra da Inglaterra para o Egito, no mês de novembro de 1864 e que
teve seu acampamento instalado na colina da pirâmide, durante quatro
meses. O livro consta de cinco partes e três apêndices, convenientemente
ilustrados com desenhos do autor e numerosas tabelas. Não obstante tem
outra novidade em relação às edições anteriores, se trata da inclusão de
fotografias tomadas no ano de 1908 e em 1975, que foram cedidas por
diferentes museus.
Os comentários seguintes se referem, sobre tudo, a primeira parte,
intitulada GEOGRAFIA E O EXTERIOR DA GRANDE PIRÂMIDE; um
dos capítulos trata precisamente do tamanho da Terra e de sua distância ao
Sol, enquanto que outro se refere à localização espacial da pirâmide e sua
orientação. Em qualquer caso parece necessário insistir em que uma de
suas revelações mais sugestiva é a continua aparição do número [pi],
quando se estabelecem proporções astronômicas e matemáticas no
monumento egípcio.
Sirvam de exemplo as três seguintes: I) o número [pi] é o cociente entre o
semiperímetro da base e a altura da pirâmide, II) também se obteria o
mesmo número, dividindo a área da base pela seção reta da Pirâmide, III)
este último exemplo é mais sublime, já que segundo Piazzi Smyth, a área da
base da pirâmide coincide com a de um círculo cujo diâmetro é vinte e
cinco vezes o perímetro da câmara real.
O astrônomo estava convencido que a forma da pirâmide pretendia
evidenciar o valor de tão distinguida magnitude geométrica ou matemática,
no sentido mais amplo. Piazzi Smyth era um beligerante detrator do
Sistema Métrico Decimal, de maneira que em suas medições lineares optou
por empregar, como padrão, as conhecidas unidades anglo-saxônicas; isto
quer dizer o pé e a polegada, equivalentes a 0,3048 m e a 0,0254 m
respectivamente (recordem-se que a polegada é doze avos parte do pé, ou o
comprimento de três grãos de cevada, segundo os clássicos metrólogos
ingleses).
Entretanto introduziu uma ligeira modificação nas polegadas inglesas para
transformá-las em outras, que denominou polegadas piramidais; de acordo
com a equivalência seguinte: uma polegada piramidal era igual a 1,001
polegada inglesa, ou o que é o mesmo, uma polegada piramidal era
aproximadamente igual a 0,025425 m. Os resultados recopilados por nosso
protagonista, no ano de 1877, se expressavam efetivamente nessa unidade,
quando se referiam a magnitudes lineares, tal como se encontra nas tabelas
que se reproduzem a continuação; as quais me permitido juntar a
equivalência métrica.
Quatro são as tabelas que se apresentam, para quantificar o alto e o baixo
da pirâmide, assim como sua forma e posicionamento. O recobrimento
estava formado por caliças brancas procedentes das pedreiras da
montanha Mokattam, na margem Este do Nilo; com uma densidade de
0,367, tomando como unidade a da Terra. A maioria do material
empregado na alvenaria era caliça a própria colina da pirâmide, com uma
densidade de 0,412.
Os comentários geodésicos de Piazzi Smyth se sistematizam no capítulo
denominado ‘The Earth size and Sun-distance, monumentalized in the
Great Pyramid’, já citado. No início do mesmo, aborda a quantificação
geométrica do elipsoide de revolução terrestre, mostrando logo uma
parcialidade evidente ao mencionar somente os modelos de Clarke; o qual
não deixa de ser surpreendente, quando se pensa em suas opiniões sobre o
Sistema Métrico Decimal e seus patrocinadores franceses. Sua primeira
afirmação é que a pirâmide reflete, em sua construção, o achatamento
terrestre, em quanto que distingue entre o eixo de rotação e qualquer outro
diametral, que se considere.
Pouco mais adiante, agrega o dito eixo, expressado em polegadas
piramidais, equivale a 499.878.000 ou 500.060.000, segundo ‘different
observers of the best modern schools of the present time’; justificando que
com o estado de conhecimento de sua época não era possível evitar a
anterior incerteza.
O misticismo do autor se reflete, com toda clareza, quando diz a esse
propósito que, ‘o defeito não é achacável aos indivíduos, já que sua ciência
é humana e não divina; de modo que por sua própria essência só podem
lograr aproximações por muito empenho que se coloque. E ainda que a
questão seja natural e absolutamente simples aos olhos do Criador, a
ciência humana a faz tão complicada e difícil que nem os maiores avanços
indutivos nem as aplicações matemáticas mais complexas podem impedir
que se resolva com simplicidade’.
Como justificação cita o recente trabalho (1866) do coronel Clarke,
principal responsável matemático do Ordnance Survey, onde se avaliou o
eixo polar da Terra, delimitando-o entre os valores 499.982.000 e
500.022.000 (expresso em polegadas piramidais) para que o leitor eleja
qualquer extremo ou valor intermediário. P. Smyth elegeu a última opção,
adotando o valor arredondado de 500.000.000 polegadas piramidais e
assinalando que os outros valores diametrais dependeriam do achatamento
do modelo elipsoidal escolhido, dando as três possibilidades seguintes:
1/290, 1/300 e 1/310. A seguir incluiu uma tabela aclaratória, ainda que
não dissesse nada do achatamento elipsoidal escolhido, para comparar as
magnitudes citadas por Clarke com as que ele recolheu na primeira edição
de seu livro ‘Our Inheritance’, como ‘mais próximas a verdade’.
Com tais dados quis comprovar até que ponto era certa a afirmação de
Tylor-Hersechel, segundo a qual uma faixa circunscrita à Terra e com a
largura da Grande Pirâmide, teria uma superfície de 1011 pés quadrados.
Para isso multiplicou os diâmetros tabulados pelo número [Pi] (cifrado em
3,14159), uma vez transformados em pés, e pela largura da pirâmide (para
a qual tomou o valor de 9.131,05 polegadas piramidais, já apresentado nas
tabelas anteriores), também expresso em pés. Os resultados obtidos sempre
foram menores que o previsto, indicando P. Smyth, que com o diâmetro
equatorial menor se obtinha um valor de 99.919.000.000, enquanto que
com o maior se chegava a 99.949.000.000.
Realmente os resultados deveriam ser um pouco maiores, sendo que este
cometeu um erro por defeito, próximo ao 0,02%; os valores resultantes são
por tanto 99.938.356.416, no primeiro caso, e 99.968.841.404,2, no
segundo. Naturalmente que os valores anteriores dependeriam, assim
mesmo, da magnitude assinalada ao lado da base da Grande Pirâmide.
Piazzi Smyth cita várias medidas a respeito.
Em primeiro lugar a dos Engenheiros franceses, extraindo da obra de
Jomard o parágrafo seguinte: ‘C´est entre les deux points les plus
extérieurs de ces enforcements et avec beaucoup de soins et de précautions
qu’íls mesurèrent la base. Ils la trouvèrent de 233,747 mètres’, uma
quantidade que transformada representa 763,62 pés ingleses.
Quando os franceses abandonaram o Egito, foi realizada uma nova medida
da base, a cargo do ‘Ordnance Survey’; obtendo, o coronel Howard Vyse,
um valor de 764 pés, isto é, 9.168 polegadas. Por último menciona que,
encontrando-se ele sobre o terreno, no ano de 1865, os engenheiros do
mesmo organismo, Aiton e Inglis, encontraram os quatro cubos das
esquinas da pirâmide e acharam o valor de 9.110 polegadas, como média
dos quatro lados da base.
Finalmente na página 38, registra outra medição inglesa efetuada quatro
anos depois, que retifica o valor anterior para transformá-lo em 9.130
polegadas. Uma magnitude que, segundo Smyth, estaria muito mais
próxima das 9.140 teóricas; associadas a uma das singulares
características geodésicas e astronômicas da pirâmide.
Antes de concretizar essa propriedade, não faz mal recordar duas das
perguntas que se fazia P. Smyth a esse respeito. Em primeiro lugar
duvidava de que o arquiteto da Grande Pirâmide tivesse conhecimento do
tamanho, forma e movimentos verdadeiros da Terra e de que havia
escolhido intencionalmente o diâmetro contido em seu eixo de rotação,
como uma referência fisicamente significativa, que serviria de padrão para
todas as medidas empregadas na construção.
A pergunta seguinte era sobre os detalhes de tão peculiar propriedade,
guardando uma paradoxal relação com a definição do metro, proposta em
Paris. Efetivamente, havendo suposto que o eixo polar media 500.500,000
polegadas inglesas (de acordo com as melhores estimativas de seu tempo),
se perguntava se a décima milionésima parte do semieixo, isto é 25,025
polegadas, multiplicada pelo número de dias do ano, isto é 365,2422, seria
igual ao verdadeiro valor do lado da base da pirâmide; e em caso
contrário; qual seria a diferença?
Ao ser evidente que o produto é aproximadamente 9.140 polegadas, Piazzi
Smyth tratou de justificar tanto os erros por defeito das primeiras medidas
(francesas e inglesas), como o cometido por excesso, durante a última
medição do ano de 1869. A explicação que dá é razoável, assinalando a
dificuldade inerente a própria medida sobre um terreno coberto pelos
restos fragmentados do primitivo recobrimento da pirâmide; daí é que
supôs que os erros cometidos só deveriam ser considerados como desvios
do valor verdadeiro e teórico de 9.140 polegadas. A interpretação que fez
do resultado era obrigada, tendo em conta o exagerado misticismo de
Piazzi Smyth: o cociente entre o lado da base e o número de dias era igual
a 25,025, o comprimento do denominado codo sagrado, em clara
contraposição com a do codo profano usado pelos egípcios, equivalente a
20,7 polegadas inglesas. Com o primeiro, segundo ele, se podiam explicar
muito melhor as coincidências mais importantes entre as leis do Céu e as
ordinárias da Terra em que habitamos.
Depois de referir-se a geometria do elipsoide terrestre, nos introduz Smyth
em outra analogia, mais astronômica que geodésica, entre a Grande
Pirâmide e o Sol, para avaliar a distância a que se encontra da Terra.
Nesta ocasião recorre ao trabalho efetuado pelo egiptólogo W. F. Petrie,
após ter lido, em 1867, o livro de Smyth ‘Life and Work’. Segundo aquele,
se a circunferência tipificada pela base da Grande Pirâmide podia
simbolizar o ano e se o raio da mesma coincidia com a primitiva altura do
monumento, esta linha deveria representar também a órbita média da Terra
ao redor do Sol, agregando ‘and in the proportion of 109, or 1 to
1.000.000.000; because, amongst other reasons, 10:9 is practically, in one
mode of Beijing it, the shape of the Great Pyramid’.
Essa proporção 10:9 para a forma da pirâmide foi descoberta pouco tempo
depois por H. James e O´Farrel, dois oficiais do ‘Ordnance Service
Office’. O cálculo de Petrie partiu de que a altura da pirâmide era de
5.819 polegadas inglesas, para multiplicá-la depois por 109 e obter assim
o resultado de 91.840.000, uma vez expressado em milhas. Como isso se
acreditava que a distância Terra- Sol era da ordem de 95.234.000 milhas,
Petri deu por encerrado o assunto e supôs que suas hipóteses de
partida eram falsas. Entretanto poucos anos depois se veriam
confirmadas estas, a juízo de Piazzi Smyth, já que os valores determinados,
de tal distância, por diferentes grupos de astrônomos, oscilavam entre os
91 e os 93 milhões de milhas.
Outra das questões geodésicas que aborda Piazzi Smyth, em seu livro, foi a
da orientação astronômica da pirâmide, assinalando, ao iniciar o capítulo
quinto ‘Geoghraphical Indications; from the position of Great Piramyd’,
que o leitor deveria recordar que tão grandioso monumento se encontra
verdadeiramente orientado, com suas faces orientadas aos quatro pontos
cardiais: Norte, Sul, Este e Oeste; pondo por terra a crença de que toda a
fenomenologia associada à pirâmide obedece tão somente a geometria
pura. Ainda que a orientação de algumas construções antigas era um feito
suficientemente conhecido, não deixou de surpreender aos expedicionários
franceses, o bem que a haviam realizado quando tiveram ocasião de
comprová-lo no ano de 1799.
O responsável de efetuar a reorientação foi o astrônomo N. A. Nouet,
membro do Instituto do Egito como integrante de sua Classe de
Matemáticas, que ademais instalou um observatório com os melhores
instrumentos da época.
A operação foi realizada no mês Nevoso do ano republicano número 7,
constatando que tão somente existia um desvio próxima aos 19´58”; se bem
que Jomard agregaria depois que o erro cometido pelos egípcios devia ser
indubitavelmente menor ao haver determinado o azimute dos lados atuais
(tão evidentemente erodidos) e não os primitivos. Imediatamente depois,
deu conta a Piazzi Smyth do discurso que havia pronunciado R. Hooke
sobre os terremotos, em torno do ano de 1677, no que tratou ademais da
possível incidência dos movimentos do eixo de rotação terrestre sobre a
variabilidade do azimute; fazendo uma significada transcrição de parte do
mesmo e reconhecendo, por outra parte, a influência que exerceu sobre ele.
Até o ponto de resultar determinante para que finalmente se decida a
determinar o azimute dos quatro lados da base, empregando a metodologia
astronômica mais confiável, uma vez reconhecida a ciência certa as
sapatas das quatro esquinas que a definiam; nessa determinação incluiu
também os passadiços do interior da pirâmide. Depois de rechaçar, por
serem pouco rigorosos, os procedimentos magnéticos propostos por alguns,
optou por calcular o azimute daquelas direções em função do que
apresentaria a estrela ‘Alpha Ursae Minoris’, a estrela polar, no instante
de sua máxima digressão ocidental. O instrumental empregado pertencia
ao Real Observatório de Edimburgo.
Os detalhes sobre as observações e cálculos realizados foram recolhidos no
segundo volume de sua obra ‘Life and work at the Great Pyramid, 1867’;
devendo destacar sobre tudo que a primeira discrepância de 19´58” se
reduziu a 4´30”. A preocupação pela orientação do monumento alcançou
também a suas galerias, tal como detalha muito depois, no capítulo XVII.
Sirva de exemplo a da galeria de acesso a câmara subterrânea da
pirâmide, cujo eixo contém o Polo Norte Celeste da época em que foi
construída; um ponto idêntico naquela época a estrela ‘Draconis’, já
citada.
Ao tratar do posicionamento da Grande Pirâmide, recorda outra vez Smyth
as hipóteses teóricas de Hooke, agregando as homólogas realizadas pelos
acadêmicos franceses; indicando que se apoio nelas para decidir se
estudava essa questão.
Por conseguinte, deveria comprovar também o valor da latitude, para ver
se coincidia com o teórico de 30º, supostamente previsto pelo arquiteto da
pirâmide. Piazzi Smyth deduziu após várias noites de observação que a
latitude do lugar era igual a 29º 58´51”, isto quer dizer muito próximo do
valor anterior; ao ponto que não o considerou errôneo, máximo quando o
valor teórico se transformaria no calculado ao ser corrigido dos efeitos da
refração atmosférica.
O difícil problema da longitude foi resolvido por Piazzi Smyth com tanta
rapidez como imaginação, igual aos franceses, no ano de 1799, que
elegeram o meridiano da pirâmide como origem, ao efetuar o
levantamento topográfico daqueles territórios. Sua escolha não deve ter
sido casual, pois tivera que ser conscientes de que a pirâmide ocupava o
vértice mais ao Sul do delta do Nilo e de que o plano vertical que a
continha, cortava a costa egípcia no lugar mais septentrional da mesma.
Outra consideração interessante que cita Smyth é devida a H. Mitcheel,
‘Chief Hidrographer to the United States Coast Survey’, que supunha que
as diagonais da pirâmide jogavam assim mesmo seu papel em relação com
o delta; chegando a afirmar que ambas dividiam os terrenos férteis do
mesmo, de uma maneira muito equilibrada. Ao pensar que a Grande
Pirâmide era sensivelmente o centro do arco com o qual se podia assimilar
o litoral do delta, assegurou que nenhum monumento construído pelo
homem tinha uma situação física mais privilegiada.
O meridiano da pirâmide gozava também de outra propriedade de caráter
mais global, na opinião de W. Petrie. Ele pensou, com grande sagacidade,
que de todos os meridianos possíveis, o da pirâmide era o mais terrestre de
todos eles, isto quer dizer, o que atravessava menos superfície marinha;
chegando a defini-lo como o mais natural e ao qual deveriam referir-se
todas as longitudes.
Por sua parte P. Smyth se permitiu agregar, que se podem fazer as mesmas
considerações sobre o paralelo de 30º, uma linha que corta mais terra que
qualquer outra de latitude diferente. Essas duas propriedades, tão notáveis
da Grande Pirâmide, eram finalmente comentadas pelo autor nos seguintes
termos: ‘so that the two grand, solid, man-inhabited earth-lines, the one, of
most land in any Meridian, and the other of most land in any Latitude, cross
on the Great-Pyramid. And finally, on carefully summing up the areas of all
the wide world over, the center of the whole falls within the Great Pyramid
´s special territory of Lower Egypt’. Piazzi Smyth se apoiou, para fazer
essas afirmações, em um estudo cartográfico, tão pouco conhecido como
interessante, que intitulou ‘Equal Surface Projection’ e que foi publicado
em Edimburgo (1870).
A aparição dos diversos trabalhos de Piazzi Smyth na Inglaterra vitoriana,
desataram de imediato a polêmica, principalmente por seu forte conteúdo
místico. A controvérsia consequente, alcançou uns extremos tão
desagradáveis que nosso autor se viu na obrigação de abandonar, com
pesar, uma instituição tão prestigiosa como a ‘Royal Society’ de Londres,
no ano de 1874.
Ainda que seja muito ariscado tecer comentários em uma polêmica como
essa, sem contar com todos os elementos suficientes, é obrigatório destacar
que nunca se reconheceu como devia ser o levantamento topográfico
pormenorizado e rigoroso que realizou Smyth da Grande Pirâmide; um dos
mais exatos, se não o mais exato, jamais realizado. Também é muito certo
que seu misticismo alcançou cotas imagináveis que, sem remédio,
chegaram a desvirtuar a maioria de suas análises científicas cheias de bons
sentidos.
Um exemplo que se pode considerar significativo, está relacionado com a
data em que se produziu o dilúvio universal. Na página 534 do capítulo
XXII, centrado nesse assunto essencialmente místico e por tanto não
científico, faz referência a doze datas, previamente assinaladas como
possíveis, chegando a conclusão de que “o mais importante sucesso na
história da Bíblia” ocorreu no ano 2741 a. C.; agregando para terminar
que no ano de 1878, a cronologia da Grande Pirâmide, também
interpretada pelo sacerdote A. Cachemaille, dava 2743 a. C.
O rechaço de seus trabalhos traspassou fronteiras e permaneceu ao longo
dos anos seguintes, sem conseguir separar seu evidente fundamentalismo
religioso de sua formação como geodesta experimentado e astrônomo
renomado. De novo volto a recorrer ao livro que referi no princípio deste
trabalho, ‘Forma e Dimensões da Terra (pág. 19)’, pois dele extraí uma
das muitas críticas que recebeu o marcado interesse de P. Smyth por
encontrar uma explicação coerente a tão peculiares características
astronômicas, geodésicas, geométricas e metrológicas.
Estou referindo-me a um comentário realizado no ano de 1966 por R.
Taton, um historiador da ciência de reconhecido prestígio (foi Diretor
científico do ‘Centre Nacional de la Recherche Scientifique’), e que diz
assim: ‘todas as especulações feitas em torno das cifras da grande
pirâmide são puro infantilismo e seguem sendo no caso, de modo algum
verdadeiro, de que seus autores houveram utilizado medidas e números
exatos.
Ademais; por que a grande pirâmide e só ela nos haveria transmitido em
forma, por outra parte, tão obscura e, por que não dizer, impenetrável, uma
ciência tão adiantada que superaria a grega para emparelhar com a
moderna? Tem no vale do Nilo, desde o delta até o Sudão, mais de 150
pirâmides; Somente de Keops iria dar-nos o verdadeiro valor do número
[Pi], a dimensão do raio da Terra, a medida exata do meridiano terrestre?
Está claro que tais hipóteses são absurdas e, recordemos que estas se
baseiam em medidas inexatas’.
Pretender ignorar hoje em dia a existência de inegáveis propriedades,
certamente surpreendentes, da Grande Pirâmide, relacionadas com as
Ciências da Terra, carece de sentido.
O próprio protagonista compartilha, de certo modo, essa opinião, quando
na página 91 dizia que os que dirigiram a construção da Grande Pirâmide
podiam ter procedido de outro país, com latitude e longitude diferente.
Levado em consideração que imediatamente depois de construídas, de
modo tão perfeito, teriam voltado a seu lugar de origem. Outra das
possibilidades apontada por Smyth foi fruto de seu irracional afã de querer
solucionar demasiadas coisas com a Bíblia, assim haveria que entender o
que acreditava que também podia ter sido desenhada por Deus, para situá-
la na terra egípcia como um altar que se denota sua presença.
Digamos, a modo de conclusão, que o interesse pelo estudo geodésico e
astronômico da Grande Pirâmide tem estado e segue estando presente na
comunidade científica. Quem sabe uma das provas mais conclusivas, que
certifica essa afirmação, seja a que apareceu publicada, no dia 16 de
novembro de 2000, em uma revista tão prestigiosa como é ‘Nature
(Internacional weekly journal of science)’.
O título do artigo foi ‘Ancient Egyptian chronology and the astronomical
orientation of pyramids’, sendo seu autor Kate Spence, professor na
Faculdade de Estudos Orientais da Universidade de Cambridge. K. Spence
trata de demonstrar que para orientar a pirâmide se usou o alinhamento
celeste de duas estrelas brilhantes das constelações da Ursa (maior e
menor), explicando assim que pudessem cometer um erro inferior aos três
minutos de arco.
Em efeito, estudos baseados na precessão dos equinócios permitem provar
que em torno do ano 2500 a. C. as duas estrelas circumpolares Mizar, na
Ursa maior, e Kocab, na Ursa menor, estavam alinhadas com o Polo Norte
Celeste e localizadas a um e outro lado do mesmo; quer dizer que a
culminação superior de uma se produzia no mesmo instante que a
culminação inferior da outra. Concretamente Kate veio a demonstrar que
no ano 2467 a. C. a linha invisível que unia as duas estrelas era vertical y
continha o citado Polo. De maneira que o plano vertical formado pelo
observador e a linha estelar coincidiria com o plano meridiano do mesmo,
podendo ser imediato à determinação de sua intersecção com o plano do
horizonte, isto é a direção Norte-Sul. (“As Explicações Geodésicas da
Grande Pirâmide Reveladas por Charles Piazzi Smyth”, de Mario Ruiz
Morales).
Temos, portanto, inúmeras questões ainda para descobrir com relação a tudo
o que cada medida da grande pirâmide pode nos indicar...
Biografia do Autor
João Fernandes da Silva Júnior nasceu em 6 de setembro, na cidade de
Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro, e reside desde 2009 em Biguaçu, Santa
Catarina.
Desde muito jovem apresentou interesse pelo estudo da química.
Já foi editor do:
a) Boletim GEPU INFORME;
b) Boletim ADRIAC;
c) Boletim MÊMPHIS;
d) Jornal O CORREIO;
e) Jornal CIÊNCIA ESPÍRITA.
Editou a “REVISTA ANO-LUZ”.
Foi um dos fundadores do G. E. P. U. (Grupo Espírita de Pesquisa
Ufológica) e do NECIESP (Núcleo de Estudos Científicos do Espiritismo).
Escreveu semanalmente um artigo intitulado “Cultura e Espiritismo” no
Jornal Biguaçu em Foco.
Casado atualmente com Kátia Eli Pereira. Tem dois filhos: João Carlos
Fernandes dos Santos Silva, e Joane Fernandes da Silva. Com sua esposa
Kátia Eli Pereira, escreveu o romance espírita “O Preço de uma Traição”, e
“Sempre te Amarei”, e tem outros livros em parceria com ela em
andamento e outros já publicados.
As principais atividades desenvolvidas por ele estão ligadas à área científica
(Parapsicologia, Ufologia, Astronomia, etc.), tendo publicado o livro
“Espaço, Tempo e Espírito – Espiritismo e Física Quântica” em 2008 e
presentemente tem outros livros editados.
Junto com o ex-presidente da Mocidade Espírita André Luiz, Paulo José das
Chagas Machado (desencarnado em 1997) criou:
a) Movimento Renascer (1994/1995);
b) Visita Fraterna (1995);
c) Tarde Fraterna (em 1996), sendo que esta última ainda acontece no
Grupo Espírita Barão de Cotegipe, em Nova Iguaçu, Rio de Janeiro.
d) Participou do Movimento AMAR – Associação das Mocidades
Allankardecistas em Regeneração – criado por seu amigo Marco Antônio
Vieira, em 1994.
Junto com Mauri Modesto reestruturou o programa de estudos da “Palestra
da Vida”, em 1994, no Grupo Espírita Barão de Cotegipe, e criou o jornal
“O Correio”.
Participou do Grupo Espírita da Fraternidade Irmã Scheilla, em Nova
Iguaçu, de 1988 até 2008.
Iniciou no Espiritismo com a ajuda do grande amigo – já desencarnado –
Eugênio Bouvallet, presidente do Grupo Espírita Pioneiros da Verdade, em
Nova Iguaçu, Rio de Janeiro.
Atuou como palestrante no Curso de Médiuns, realizado na antiga USEERJ,
em Niterói, em 1995.
Foi membro do Conselho Superior do:
a) Grupo Espírita da Fraternidade Irmã Scheilla (1988/1996);
b) Grupo Espírita da Fraternidade Irmão José (em Barra de Guaratiba,
1994/1995);
c) Grupo Espírita da Fraternidade Meu Reino não é deste Mundo (na Ilha de
Guaratiba, 1995).
Poliglota, fala inglês, francês, espanhol, italiano e Esperanto (trabalhando
como tradutor de textos universitários sobre química e eletrônica).
Traduziu livros de Trigueirinho para o Esperanto.
É astrônomo amador filiado ao CARJ (Clube de Astronomia do Rio de
Janeiro).
Presentemente está envolvido com a divulgação de temas científicos
relacionados ao Espiritismo, e com a gravação de DVDs com músicas
instrumentais de sua autoria (é compositor, arranjador e produtor musical).
Além de fazer trabalhos gráficos (diagramação, revisão, copydesk, capas de
livros e de revistas, etc.).
Está gravando DVDs com palestras sobre temas científicos (Astronomia,
Ufologia, Exobiologia, etc.).
Junto com sua esposa desenvolve projetos diversos, como criação de roteiro
para curta-metragem “O Morto do Serrote” que concorreu ao Prêmio
Armando Carreirão 2010 patrocinado pelo Funcine e pela Prefeitura
Municipal de Florianópolis. Escreveram o livro paradidático “As Aventuras
de Queno e Guará”, que é um romance infanto-juvenil narrando as
aventuras de dois meninos perdidos e em busca de uma erva medicinal, e o
livro em questão foi contemplado com a publicação pela Imprensa Oficial
de Santa Catarina.
Estudou Química e Eletrônica. Cursou Filosofia, Metodologia do Ensino
Superior, Metodologia de Pesquisa, Gestão de Tecnologia da Informação, e
Ciência e Tecnologia pela Fundação Getúlio Vargas.
Bibliografia
Emmanuel/Xavier, Francisco Cândido
– A Caminho da Luz, FEB, Rio de Janeiro, 2000.
Morales, Mário Ruiz
– As Explicações Geodésicas da Grande Pirâmide Reveladas por Charles
Piazzi Smyth, Descham, Barcelona, 2006.
Silva Júnior, João Fernandes da
– Espaço, Tempo e Espírito – Espiritismo e Física Quântica, Edição do
Autor, Rio de Janeiro, 2008.

Você também pode gostar