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RESUMO
A virada para a esquerda no Brasil com a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, em 2002, após uma década marcada por políticas neoliberais, trouxe uma
série de desafios a serem enfrentados no que se refere às Políticas Públicas para a
Educação. Este trabalho foi desenvolvido através de um estudo bibliográfico que
trata do contexto histórico, social, econômico e, sobretudo, educacional, que
permeou o período do Governo Lula (2003-2010), e tem por objetivo uma análise
mais aprofundada das medidas tomadas para a Educação em todas suas esferas
(básica, superior e técnica) visando compreender o alcance e as interferências das
diretrizes determinadas pelos mecanismos de financiamento e governança
internacional, como o Banco Mundial, nos rumos da Educação brasileira. O
presente estudo também se debruçou sobre o governo de Dilma Rousseff (2011-
2014) para entender as continuidades e mudanças sobre as Políticas Públicas de
Educação em relação ao governo de seu antecessor.
Abstract
The turn to the left in Brazil with the election of President Luiz Inácio Lula da Silva
(PT) in 2002, after a decade marked by neoliberal policies, brought a number of
challenges to be faced in relation to Public Policy for Education . This work was
developed through a literature study that discusses the historical, social, economic
and, above all, educational context, which permeated the period of the Lula
Government (2003-2010), and aims to further analysis of the measures taken to
education in all its spheres (basic, higher and technical) in order to understand the
scope and interference with the guidelines established by the funding mechanisms
and international governance, such as the World Bank, in the course of the
Brazilian education. This study also focused on the government of Dilma Rousseff
(2011-2014) to understand the continuities and changes on Public Education
Policies of the government of his predecessor.
1
Artigo apresentado na VI Semana de Humanidades – UEPB/Campus III, Guarabira-PB, de 28 a 31 de
outubro de 2014
1. INTRODUÇÃO
Após ter tentado por três vezes, em 1989, 1994 e 1998, Luiz Inácio Lula da
Silva foi eleito, nas eleições de 2002, com mais de 58 milhões de votos e deixou o
cargo com uma aprovação de 80% dos brasileiros. Examinar os fenômenos que
fizeram com que o Governo Lula saísse tão bem avaliado não é o objetivo do
presente trabalho, mas sim, na configuração histórica do seu Governo, tratarmos
das principais linhas e práticas de governo para, assim, fazermos essa ponte para o
ponto essencial, que é como a Educação foi tratada nesse período.
O seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, repassou o país em um
momento bastante delicado, tendo praticamente dobrado a dívida pública com os
órgãos internacionais como o FMI e Banco Mundial, uma média, nos oito anos de
governo, de 26,59% da taxa de juros SELIC, e a inflação atingindo 12,53% em 2002,
além de uma política de privatizações de empresas estatais. Herdando o país
nessas condições, Lula teve um início muito complicado para conciliar as agendas
das reformas que pretendia fazer e a realidade fiscal do país. E mais: apesar de ter
tido 61% dos votos populares em 2002, o seu partido, o PT, tinha apenas um
quinto de membros no Congresso. Foi a partir daí que começou o esquema
sistemático de corrupção, através de compra de votos, chamado de Mensalão, que,
apesar de ser uma prática comum em outros mandatos, ficou indelevelmente
ligado ao nome de Lula e do PT. No entanto, como o historiador inglês Perry
Anderson (2011) observou, “Com relação ao dinheiro, a corrupção da qual o PT se
beneficiou, e sobre a qual governou, foi, provavelmente, mais sistemática do que a
de qualquer antecessor.” (ANDERSON, 2011, p. 26). Ou seja, foi a partir da
corrupção do Mensalão que Lula e o PT garantiram a governabilidade de uma
maioria no Congresso que garantiria o apoio às suas decisões políticas.
Segundo a análise de Anderson (2011), o escândalo teria sido o fim breve da
história do PT no poder caso Lula não tivesse conseguido reverter a situação
econômica do país para um caminho de desenvolvimento econômico sustentável,
que foi traduzido no aumento do PIB de 4,3%, de 2004 a 2006, com uma ajuda
considerável de condições favoráveis da conjuntura do comércio internacional –a
demanda chinesa por commodities, o agronegócio e a mineração. (ANDERSON,
2011). Contribuiu também a melhoria na agricultura familiar, que passou a
garantir 70% dos alimentos. Com isso, concomitante ao distanciamento dos
ditames dos organismos internacionais, como FMI e Banco Mundial, veio a
possibilidade de uma política de valorização do salário mínimo, através de
aumentos sustentáveis no seu valor real, a redução significativa da taxa de
desemprego, com medidas de incentivo para o ingresso ao mercado de trabalho
formal, combinadas coma diminuição das taxas de juros, permitindo
financiamentos e investimentos diretamente na economia, e assim alavancando o
mercado de consumo interno foram medidas essenciais que contribuíram para
essa elevação. Mas esse florescimento econômico não foi o único triunfo de Lula,
mas foi a partir dele, com o recolhimento de mais impostos e o aumento da receita,
que foi possível fazer a outra medida que marcou o Governo Lula: o
desenvolvimento e integração de programas de caráter social, para atingir a
população oprimida e de baixa renda, seja para erradicar a fome ou expandir a
acessibilidade à educação básica e superior. O primeiro deles foi o Bolsa Família,
cujo embrião foi criado ainda no governo de FHC. O impacto do Bolsa Família foi -
e ainda é – imenso, como diz Perry Anderson (2011):
Dessa forma se configurava a base do Governo Lula e foi daí que ele tirou as
forças necessárias para o segundo mandato, com mais confiança e tranqüilidade do
que o primeiro, combinando um aumento das condições materiais, para o grupo
mais rico, com uma melhora nas condições sociais, para a população mais pobre, o
que atingiu a maior diminuição da pobreza na história brasileira. Foi também no
seu segundo mandato que o governo brasileiro adotou uma postura inovadora,
independente e influente no cenário internacional. OBRICS (acrônimo referente às
iniciais de Brasil, Rússia, China e África do Sul),formado em 2009,como bloco
político, econômico e diplomático, com o objetivo de alinhar suas ações com outros
países emergentes, e que conta com os cinco com os maiores índices de
desenvolvimento econômico, como Brasil, Rússia, Índia e China(que foi
posteriormente acrescido da África do Sul), é a evidência desse novo
posicionamento econômico, social, diplomático e político. Fiori (2013) demonstra:
Fica claro, através desta passagem de Leher (2005), a tendência cada vez
mais forte de tornar a educação como uma formação voltada para suprir o
mercado de trabalho, formar trabalhadores ideias, nas suas especificidades,
tornando-os aptos para desempenhar seu papel e assim suprir a necessidade de
crescimento produtivo do país. Uma visão bem economicista da educação. O lado
humano – e cultural –, o estudo das ciências humanas, é deixado de lado em
detrimento das ciências exatas, que terá mais chances de contribuir efetivamente
com a cadeia produtiva – material – do país. Isso gera o que Belluzzo (2013, p. 107)
denominou uma geração de idiots savants, que, muito embora especialistas em
suas áreas, colecionadores de títulos e diplomas, não possuem a menor ideia do
contexto de mundo em que está inserido:
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Entrevista de Lula para a revista Carta Capital na Edição de Maio-2014
<http://www.cartacapital.com.br/ revista/802/lula-em-campanha-3387.html>
período e perpassam também para a sua sucessora, a Presidente Dilma Rousseff. A
reforma “dar-se-ia pela tríplice combinação de aumento da carga didática dos
docentes, aumento do número de estudantes por classe e, principalmente, pela
educação a distância (EAD)” (LEHER, 2003). Ainda demonstrando a intervenção
dos governos no direcionamento das universidades e na quebra da autonomia
política.
Veremos que, para implementar esses planos, o poder público sozinho não
era capaz; é aí que entra as Parcerias Público-Privadas, que irá nortear
praticamente toda a estratégia para a Educação nos Governos de Lula e Dilma,
seguindo a cartilha do Banco Mundial, na intenção de abrir a educação para o
mercado. De forma geral, podemos caracterizar essas parcerias como uma
atualização do conceito de privatização, em voga no governo de FHC, mas aqui
assumindo um contorno mais branco, temporário, dando também uma noção de
que ambas as partes são co-autoras e, portanto, responsabilizadas pela concessão.
Dessa forma:
3
Câmara Aprova o Texto-Base do Plano Nacional de Educação
<http://educacao.uol.com.br/noticias/2014/05/28/camara-aprova-o-texto-base-do-plano-
nacional-de-educacao.htm#fotoNav=6>
de 15 a 17 anos; para o Ensino Superior busca-se uma elevação na taxa bruta de
matrícula; e, por fim, e muito importante, é a meta de 50% das escolas públicas,
atendendo pelos menos 25% dos alunos da Educação Básica, funcionem em Tempo
Integral. O PNE vigorará por 10 anos e a fiscalização para o cumprimento das
metas cabe, além do próprio governo, da própria sociedade civil e dos movimentos
sociais.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
4
Ivo Poletto na entrevista para o IHU Online http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/529999-
superavit-primario-e-as-consequencias-sociais-do-endividamento-
direita tradicional, num embate de forças entre o ideal e o real, para ambos os
lados:
5. REFERÊNCIAS
LEHER, Roberto. Educação no Governo Lula da Silva: Reforma sem Projeto. Revista
Adusp, 2005.
SADER, Emir (Org). 10 Anos de Governos Pós-Neoliberais no Brasil: Lula e Dilma. Rio
de Janeiro: FLACSO Brasil, 2013.
UOL Educação. Câmara Aprova o texto-base do Plano Nacional de Educação
<http://educacao.uol.com.br/noticias/2014/05/28/camara-aprova-o-texto-base-
do-plano-nacional-de-educacao.htm#fotoNav=6>Acessado em 28/05/2014