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JUSTIÇA, PRECONCEITO E

DISCRIMINAÇÃO
Profª Sabina Maura Silva
JUSTIÇA, PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO
• No sentido mais originário, a justiça possui uma relação muito íntima e
necessária com os temas da moralidade e do agir ético dos sujeitos humanos.

• Ser tratado de forma justa é uma reivindicação que tem conexão não somente
com as leis, mas, primeiramente, com o reconhecimento social e comunitário dos
indivíduos como membros de sua coletividade.

• Assim, a justiça remete ao nível das relações sociais, da organização da vida


em sociedade e da maneira pela qual os indivíduos são acolhidos, ou não,
dentro de seus grupos.
JUSTIÇA, PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO
• Um dos problemas mais importantes e debatidos em relação a esta significação ampla
de justiça, na atualidade, é o da predominância das atitudes preconceituosas e das
práticas nelas baseadas que discriminam negativamente indivíduos e grupos.
• Estes elementos integram uma série de relações sociais que excluem um número
considerável de pessoas dos direitos e do reconhecimento de dignidade.
• Preconceito e discriminação são conceitos que descrevem os fatores preponderantes da
experiência da exclusão social. E embora refiram conjuntamente às situações de
negação de valor a certos grupos, correspondem a conceitos diferentes.
JUSTIÇA, PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO
1. Justiça e preconceito
• Antes de tudo, os preconceitos são sempre plurais, sendo dirigidos aos indivíduos que
pertencem a determinados grupos.
• Caracterizam formas de atitude que as pessoas têm em relação às qualidades do outro,
vistas negativamente como sinais de uma inferioridade essencial.
• Tais posturas podem ter como alvo desde a cor da pele até a situação socioeconômica
das pessoas, passando pela origem geográfica, a forma de se comunicar, o nível de
instrução, a faixa etária, o gênero e a orientação sexual.
JUSTIÇA, PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO
• Os preconceitos podem ser definidos como lentes que direcionam a percepção, filtrando de
maneira emotiva as formas como se sente o mundo e se considera os semelhantes. Estes filtros
selecionam as percepções e alteram o modo como se enxerga os contextos sociais.
• Derivam de julgamentos desfavoráveis a um grupo ou aos seus membros individuais, sem
qualquer postura crítica.
• As atitudes decorrentes se baseiam em estereótipos enraizados em crenças fixadas e herdadas
socialmente, que são interiorizadas pelos indivíduos por meio das vivências familiares, de
alguns valores morais e da maneira pela qual as pessoas se formam em suas relações.
• O racismo, o machismo e a homofobia são alguns exemplos de preconceitos.
JUSTIÇA, PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO
• A vigência dos preconceitos acarreta duas consequências importantes no que se refere às
injustiças sociais.
• Inicialmente, estão amparados em observações injustificadas ou unilaterais. Ao reduzir as pessoas
às impressões ou opiniões que se tem sobre elas, não se consegue compreender nem a totalidade
de sua pessoa e, menos ainda, as situações nas quais elas estão imersas.
• Em segundo lugar, essa visão limitada, que leva em consideração apenas as aparências, fornece
elementos que tomam como naturais as injustiças e as situações de assimetria social.
• Por exemplo, supor que a pobreza existe porque há pessoas que não se esforçam o suficiente
para obter condições de vida adequadas.
• Assim, os pobres são indivíduos preguiçosos e, por isso, culpados por sua própria situação.
JUSTIÇA, PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO
• As atitudes preconceituosas não são somente insuficiências individuais.
• As pessoas se expressam e atuam de maneira preconceituosa em razão de sua inserção nos
processos sociais. Portanto, os preconceitos são componentes que estão presentes na
socialização e, por isso, são tão custosos de serem erradicados dos sentimentos e dos
pensamentos. Alcançar uma compreensão crítica e mudar os comportamentos exige, em primeiro
lugar, que os sujeitos percebam os preconceitos arraigados em suas visões de mundo, conceitos e
formas de reagir.
• Isso exige, por parte dos indivíduos, o exercício de reflexão que pretenda compreender aquilo que
é vivenciado diretamente. O conhecimento aprofundado, que esclarece os limites das impressões e
julgamentos cotidianos, apressados e estreitos, ultrapassa os pré-conceitos, essas noções
anteriores a qualquer análise.
JUSTIÇA, PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO
• A compreensão crítica sobre os preconceitos revela seus principais elementos.

• Primeiramente, a recusa do que é singular ou diferente, não tolerando características ou


comportamentos humanos que não se enquadrem no que se considera “normal”.

• Pode-se dizer que os preconceitos se originam também da ignorância em relação à complexidade


própria à vida humana e às relações sociais. As realidades sociais são tomadas como coisas que
devem permanecer sempre as mesmas. O preconceito é conservador por excelência.

• Em geral, os preconceitos exprimem sentimentos de medo e de insegurança e que originam uma


profunda angústia frente ao diverso e ao que se desconhece. Os estereótipos apreendidos
socialmente acabam preenchendo este vazio de conhecimento e fornecem falsas explicações para
situações de conflito ou de tensão.
JUSTIÇA, PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO
• As formas de preconceito mais comuns observados na atualidade, mas que não são as
únicas, referem-se às diferenças étnicos-raciais, de gênero e orientação sexual. Com
relação ao primeiro tipo, nas sociedades ocidentais a população negra é a mais afetada.
• No que tange às atitudes preconceituosas que se verificam com relação às mulheres, a
situação subalterna das funções ligadas ao feminino e as atitudes misóginas ainda
prevalecem, apesar de todos os avanços alcançados pela luta das feministas.
• Quanto à população LGBTQ+, a homofobia e a transfobia levam à violência física e
psicológica, entre outras formas de violação de seus direitos. Lamentavelmente, em
certas circunstâncias, um mesmo indivíduo pode ser foco de mais de um preconceito.
JUSTIÇA, PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO
1. Justiça e discriminação
• Diferentemente dos preconceitos, que são concepções que a partir das quais as pessoas reagem à
diversidade, a discriminação se relaciona com práticas sociais reais. Ou seja, preconceitos
socialmente difundidos se traduzem em tratamento diferenciado, em geral de caráter negativo ou
segregativo para com indivíduos e/ou grupos. Tais procedimentos podem ser informais ou podem
ser legitimados por meio de leis ou normas de comportamento.
• Embora se esteja mais habituado a atitudes discriminatórias negativas e excludentes, que
expressam a recusa de direitos a grupos ou pessoas com características incomuns ou tidas como
“inferiores”, nas últimas três décadas se verifica um esforço social no sentido da “discriminação
positiva”.
JUSTIÇA, PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO
• Nesse caso, trata-se de práticas organizadas ou de medidas sociopolíticas que
pretendem responder aos desafios para superar uma longa história de exclusão.
• São formas de compensação de injustiças e assimetrias consolidadas no curso
da formação da moderna sociedade capitalista.
• No Brasil, a política de ações afirmativas busca reparar desigualdades sociais e
raciais, reservando, por exemplo, cotas educacionais ou profissionais para
negros, indígenas, pessoas com deficiências, pessoas de baixa renda e, em
alguns casos, mulheres.
JUSTIÇA, PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO
• Tanto as atitudes preconceituosas quanto os procedimentos e comportamentos que realizam a
discriminação se exprimem e se realizam por meio de uma imensa pluralidade de formas linguísticas e
de práticas socialmente compartilhadas.
• Muitas vezes, expressões comuns estão carregadas de ambiguidade e sutilezas difíceis de discernir.
• Palavras como judiar e denegrir carregam traços racistas. Leis e normas que parecem racionais e
razoáveis, quando examinadas mais atentamente revelam seu condicionamento histórico e seu caráter
excludente.
• Por exemplo, até a promulgação da Constituição Federal de 1988, a responsabilidade e os direitos sobre
os filhos menores de idade cabia exclusivamente ao pai, que por isso detinha o pátrio poder. A partir da
nova Carta, essa expressão foi substituída por poder familiar, exprimindo uma mudança na
compreensão do papel feminino na organização da família.
JUSTIÇA, PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO

• Assim, é possível perceber como as injustiças sociais muito devem


tanto à não percepção e compreensão da origem histórica das
diferenças, como aos modos de reprodução das relações que não
rompem com as demarcações discriminatórias.
• Refletir sobre esses problemas exige a crítica dos elementos sociais
que se articulam nas diversas formas de injustiça manifestadas
pelos preconceitos e discriminações.

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