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AO CHEFE DA DIVISÃO DE ENSINO DA ESCOLA TENENTE REGO

BARROS – CEL AV R1 FRANCISCO JOSE SILVA MONTEIRO

16982600849 OLIVEIRA ADV

CELIANE RODRIGUES DIAS, brasileira, casada, professora,


portadora do RG n° 21416 PM/PA, inscrito no CPF sob o n° 356.883.782-04, residente
e domiciliado na Travessa Max Parijós, nº 1276, Bairro: Novo, CEP: 68.400-000,
Cidade: Cametá/PA, vem, por intermédio de sua advogada, que esta subscreve
(procuração anexa), à presença de Vossa Senhoria, REQUERER o deferimento de
horário especial de trabalho com a dispensa de 26hs e 30 min semanais de trabalho por
todo o período letivo de 2019, em razão de possuir dependente com deficiência, sem a
compensação de horário ou redução proporcional da remuneração com fundamento no
art. 98, §2º e 3º da Lei n° 8.112/90, pelos fatos e fundamentos de direito a seguir
expendidos:

2 DOS FATOS

A requerente é servidora púbica federal, ocupante do cargo de professora,


lotada na Escola Tenente Rego Barros, em Belém- PA, sendo genitora de Isabela Dias
Coutinho Bastos, atualmente com 07 (sete) anos de idade, portadora das seguintes
necessidades especiais:

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Av. Senador Lemos, 695. Umarizal, Belém-Pa. CEP: 66050-000
 alienação mental (CID F84.0 – transtorno de
espectro autista na forma grave) – conforme Inspeção de
Saúde nº 8873 realizada pela Junta Médica Oficial do
Hospital da Aeronáutica de Belém; Laudo Médico emitido
pelo Hospital de Clínicas Gaspar Vianna; Receituário do
Hospital Porto Dias.

Além disso, a dependente da requerente realiza diversos tratamentos


médicos-terapêuticos destinados a minorar o atraso global de desenvolvimento, o que
demanda a assistência permanente da requerente, nos seguintes termos:

 Declaração de que a dependente da requerente


participa do programa de Equoterapia da PM-PA;

 Declaração de que a dependente da requerente


comparece semanalmente ao circuito de fonoaudiologia e
psicomotricidade;

 Declaração de que a dependente da requerente


comparece ao centro de apoio psicopedagógico “abc da
inclusão”;

 Receituário de uso de medicamentos controlados;

 Parecer Terapêutico Ocupacional atestado a


gravidade do espectro autista da dependente da requerente;

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Ocorre que Vossa Senhoria, nos termos do Ofício nº 9/AJUR/552,
solicita que a dependente da requerente seja novamente encaminhada a Junta Médica
Oficial.

Data vênia máxima, a dependente já foi periciada conforme ata da


Inspeção de Saúde nº 8873 realizada pela Junta Médica Oficial do Hospital da
Aeronáutica de Belém, sendo que o quadro de alienação mental, mais
especificadamente autismo (na forma grave), resta hodiernamente confirmado de acordo
com ampla documentação médica acostada neste requerimento, sendo desnecessário,
constrangedor e violador aos direitos da pessoa com deficiência a reiteração de tal
perícia.

O horário especial com redução de jornada visa única e exclusivamente


oportunizar que a mãe acompanhe sua filha nas terapias e nos tratamentos médicos
imprescindíveis ao seu desenvolvimento, de forma que, a imposição de compensação de
horário retiraria qualquer possibilidade de convivência familiar necessária para o bom
desenvolvimento social e emotivo da menor.

A atual carga horária de 40hs é incompatível com a rotina de consultas


médicas, exames regulares e as demais atividades multidisciplinares – que são
fundamentais no tratamento da menor, acabam exigindo muito esforço da requerente no
sentido de se fazer presente e acompanhar todo o tratamento e evolução da filha.

O art. 1°, III, da Constituição Federal adotou o Princípio da Dignidade da


Pessoa Humana como um dos fundamentos da República Federativa do Brasil, do que
decorre que ele é vetor de interpretação e aplicação dos demais princípios e normas
constitucionais e infraconstitucionais.

Outrossim, o constituinte originário de 1988 elevou como objetivos


fundamentais da República Federativa do Brasil a promoção do bem de todos, sem
preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação (art. 3°, VI, da Constituição Federal). Como corolário do princípio da

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dignidade da pessoa humana e dos objetivos fundamentais previstos na norma
constitucional, consagrou-se a proteção especial aos portadores de necessidades
especiais e imputou-se ao Estado o dever de oferecer terapias para proporcionar sua
habilitação ou reabilitação e sua integração social, conforme dispõem os seus arts. 7°,
XXXI, 23, II, 24, XIV, 37, VIII, 203 e 208, da Constituição Federal, verbis:

Art. 7° São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de


outros que visem à melhoria de sua condição social:

XXXI - proibição de qualquer discriminação no tocante a salário


e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência;

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do


Distrito Federal e dos Municípios:

II- cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia


das pessoas portadoras de deficiência;

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal


legislar concorrentemente sobre:

XIV - proteção e integração social das pessoas portadoras de


deficiência;

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer


dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também,
ao seguinte:

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VIII - a lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos
para as pessoas portadoras de deficiência e definirá os critérios
de sua admissão;

Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela


necessitar, independentemente de contribuição à seguridade
social, e tem por objetivos:

. IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de


deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária;

V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à


pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não
possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-Ia
provida por sua família, conforme dispuser a lei.

Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado


mediante a garantia de:

III - atendimento educacional especializado aos portadores de


deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino;

Atento a isto, o art. 98, §§ 2° e 3°, da Lei 8.112/1990, lastreado no direito


constitucional dos portadores de necessidades especiais à assistência do Estado,
assegurou horário especial ao servidor deficiente ou ao servidor cujo filho, cônjuge ou
dependente seja deficiente, nos seguintes termos:

Art. 98. Será concedido horário especial ao servidor estudante,


quando comprovada a incompatibilidade entre o horário escolar
e o da repartição, sem prejuízo do exercício do cargo.

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§ 1° Para efeito do disposto neste artigo, será exigida a
compensação de horário no órgão ou entidade que tiver
exercício, respeitada a duração semanal do trabalho.

§ 2° Também será concedido horário especial ao servidor


portador de deficiência, quando comprovada a necessidade por
junta médica oficial, independentemente de compensação de
horário.

§ 3° As disposições do parágrafo anterior são extensivas ao


servidor que tenha cônjuge, filho ou dependente portador de
deficiência física, exigindo-se, porém, neste caso, compensação
de horário na forma do inciso II do art. 44.

Ocorre, entretanto, que a norma infraconstitucional, a par de assegurar


àquele servidor portador de necessidades especiais e àquele que tenha cônjuge, filho ou
dependente em tal condição, dispôs que, no primeiro caso a concessão de horário
especial independeria de compensação de horário (§ 2°), enquanto que, no segundo caso
(§ 3°), estaria condicionada à compensação, na forma do art. 44, II, da Lei 8.112/1990.

Ora, em que pese a previsão normativa e tendo em vista que o escopo das
diversas normas constitucionais e da Convenção Internacional sobre os Direitos dos
Portadores de Deficiência de proteção daquelas pessoas acometidas de necessidades
especiais, observa-se que o tratamento diferenciado conferido pelo § 3° do art. 98 da Lei
8.112/1990, ao exigir a compensação de horário, revela-se incompatível com as
previsões constitucionais e do próprio Estatuto da Criança e do Adolescente, à medida
que confere tratamento menos abrangente ao portador de deficiência sob os cuidados do
servidor, do que ao servidor quando ele próprio é o portador da deficiência,
estabelecendo um injustificável tratamento preferencial ao adulto com deficiência em
relação à criança com deficiência.

O Tribunal Regional Federal da 1ª Região, assim decidiu que:

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CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO - MANDADO
DE SEGURANÇA - HORÁRIO ESPECIAL SEM
COMPENSAÇÃO - ART. 98 § 2º DA LEI 8.112/90 -
SEGURANÇA CONCEDIDA. 1. Será concedido horário
especial ao servidor que tenha cônjuge, filho ou dependente
portador de deficiência física, quando demonstrada a
necessidade por junta médica oficial (Lei 8.112/1990, art. 98, §
3º), com compensação de horário, em regra. 2. No entanto,
comprovado por laudos médicos que o filho do servidor
impetrante é portador de grave deficiência mental, que lhe exige
assistência diuturna, faz jus o servidor à concessão de horário
especial de trabalho, sem compensação de horário, tendo em
vista que as normas constitucionais que dispensam especial
proteção à família devem se sobrepor na presente hipótese,
frente à gravidade da situação do menor. 3. Apelação e remessa
oficial não providas. (AMS 0011224-67.2000.4.01.0000/PI, Rel.
JUIZ FEDERAL MARK YSHIDA BRANDÃO, 1ª TURMA
SUPLEMENTAR, e-DJF1 de 18/05/2011, p. 124) (destaquei)

In casu, não restam dúvidas de que a filha da requerente é portadora de


necessidades especiais, consoante demonstram os relatórios médicos acostados aos
autos os quais atestam que Sarah Enders Bessa é portadora de necessidades especiais
mentais, acarretando atraso no desenvolvimento motor e baixo ganho ponderal, de
modo que, para minorar tais limitações, a menor vem sendo realizando diversos
tratamentos médicos-terapêuticos de modo que, em todas estas atividades, a presença da
genitora revela-se essencial e indispensável, sem considerar as demais atividades
cotidianas que exigem os cuidados de uma mãe.

Por outro lado, o risco de dano irreparável ou de difícil reparação


encontra-se evidenciado na necessidade de assistência permanente e constante à criança

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e o indispensável acompanhamento por parte da impetrante, não podendo ser privada do
acompanhamento materno, de modo que a não concessão da do horário especial
prejudicaria o desenvolvimento e o próprio tratamento da menor, em total
descumprimento daquilo que assegura a Constituição Federal, o Estatuto da Criança e a
Convenção sobre os direitos das pessoas com deficiência.

4 DO PEDIDO

Ante o exposto, requer-se:

1) A concessão de regime de horário especial de trabalho, com a redução


de sua jornada de 26hs e 30 min semanais de trabalho por todo o período letivo de 2019,
sem a necessidade de nova perícia, ante a clara comprovação da deficiência da
dependente, de modo que não prejudique o tratamento da menor e a necessária
participação da requerente, independentemente de compensação posterior e sem redução
remuneratória

Nestes termos,
Pede deferimento.
Belém/PA, 11 de junho de 2019.

IASMIM KYMBERLI SOUSA DE MIRA


OAB/PA nº 27.817

Documentos anexos:

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