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vida, mas ele explica que precisa lutar para mantê-la em segurança.

Durante essa conversa sobre


questões tão importantes, uma ama traz o filho deles.
Assim falando, o glorioso Heitor foi para abraçar o seu filho,
mas o menino voltou para o regaço da ama de bela cintura
gritando em voz alta, assarapantado pelo aspecto de seu pai amado
e assustado por causa do bronze e da crista de crinas de cavalo,
que se agitava de modo medonho da parte de cima do elmo.

Então se riram o pai amado e a excelsa mãe:


e logo da cabeça tirou o elmo o glorioso Heitor,
e deitou-o, todo ele coruscante, no chão da casa.
Em seguida beijou e abraçou o seu filho amadoa10

No meio de uma guerra brutal que se trava do outro lado do portão, e de uma discussão
acalorada entre marido e mulher sobre o significado da guerra, de repente o humor muda
quando o pai, rindo, tira o elmo que assusta a criança. É um momento de reconciliação
doméstica — no lugar do elmo, o rosto risonho de Heitor antes de beijar o filho. Mas o elmo
ainda está lá, no chão, cintilante, e talvez a criança ainda soluce, um lembrete de que a cena é
apenas um breve alívio da guerra que terminará com a morte de Heitor e a destruição da grande
cidade de Troia.
Trazia tudo isso comigo quando me aproximei das ruínas de Troia, situadas no alto de uma
colina. Outrora a cidadela se localizava perto do mar, mas desde sua queda, por volta do ano 1200
a.C., o mar recuou devido aos sedimentos que trouxe o rio Escamandro (hoje Karamenderes).
Onde, em tempos antigos, dominara a passagem entre a Ásia e a Europa, a cidade agora
simplesmente se erguia no meio de uma grande planície separada do mar, que eu mal podia ver
no horizonte.
Ainda mais decepcionante do que a posição da cidade na paisagem foi seu tamanho. Troia era
minúscula. Consegui atravessar em cinco minutos o que eu havia imaginado como uma
gigantesca e imponente fortaleza e cidade. Era difícil entender como aquela minifortaleza resistira
ao poderoso exército grego durante tanto tempo. Era isto que a literatura épica fazia? Pegava uma
pequena fortaleza e exagerava sua proporção?
Enquanto refletia sobre meu desapontamento, ocorreu-me que Alexandre reagiu exatamente
de modo oposto: ele amou Troia. Como eu, ele sonhara com a epopeia desde a infância, quando
foi apresentado ao mundo homérico. Aprendeu a ler e a escrever estudando Homero.11 Satisfeito
com o feito do filho, o rei Filipe encontrou o filósofo vivo mais famoso, Aristóteles, e o
convenceu a ir para a Macedônia. Acontece que Aristóteles era o maior comentarista de Homero
e o considerava a fonte da cultura e do pensamento gregos. Sob sua tutela, Alexandre passou a
considerar a Ilíada não só a história mais importante da cultura grega, mas também um ideal ao

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