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GOMES JARDIM
O relógio
João Cabral de Melo Neto
Ao redor da vida do homem
há certas caixas de vidro,
dentro das quais, como em jaula,
se ouve palpitar um bicho.
Se são jaulas não é certo;
mais perto das gaiolas
ao menos, pelo tamanho
e quebradiço da forma.
Umas vezes tais gaiolas
vão penduradas nos muros;
outras vezes, mais privadas,
vão num bolso, num dos pulsos.
Mas onde esteja: a gaiola
será de pássaro ou pássara:
é alada a palpitação,
a saltação que ela guarda;
e de pássaro cantor,
não pássaro de plumagem:
pois delas se emite um canto
de uma tal continuidade
que continua cantando
se deixa de ouvi-lo a gente:
como a gente às vezes canta
para sentir-se existente.
02. Que características do relógio fazem o autor optar por aproximá-lo mais da gaiola que da jaula?
pelo tamanho, por ser frágil e por estar sempre pendurada em algum lugar.
03. Que elementos característicos da linguagem e do estilo do autor podem ser percebidos nesse
poema?
04. (UFPE -PE) Considerando o poema Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto,
analise as proposições a seguir:
a) ( ) É um Auto de Natal, isto é, seguindo os modelos medievais, descreve cenas do nascimento
de Jesus Cristo, baseadas no Evangelho de São João, porém ambientadas no Sertão nordestino.
b) ( ) É um longo poema em versos livres, cujo final revela o desespero e a solidão humana.
c) (x) O personagem principal é um retirante que foge da seca, em direção ao Recife, mas só
encontra fome e morte pelo caminho.
d) ( ) A cena do suicídio do personagem principal, Severino, quando ele salta de uma ponte no
Recife, é a conclusão do poema.
e) ( ) Pode-se dividir o poema em duas partes: a viagem, que alterna monólogos do protagonista e
diálogos com os que encontra pelo caminho; e a chegada ao Recife, onde Severino depara-se com
Mestre Carpina, José, pai de um menino recém-nascido.
O RETIRANTE EXPLICA AO LEITOR
QUEM É E A QUE VAI
E se somos Severinos
iguais em tudo e na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte,
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida).
MELO NETO, João Cabral de. Morte e vida severina e outros poemas para vozes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994.
1. Ao iniciar a narrativa, o poeta dá voz a uma personagem. Que elementos do poema comprovam isso e
que personagem é essa?
A frase inicial "O retirante explica ao leitor quem é que vai" e o travessão que inicia a fala da personagem, que se
chama Severino.
2. Por que a personagem sente dificuldade em apresentar-se? E o que ela faz para poder apresentar-se diante
dessa dificuldade?
A personagem não encontra uma característica pessoal que possa distingui-la de outras pessoas e por isso explica sua origem ao
apresentar-se ao leitor.
3. Ao buscar uma forma de apresentar-se ao leitor, Severino constrói um panorama de sua vida e da situação
em que se encontra. Indique o que esse panorama revela e dê um exemplo retirado do texto que evidencie
isso.
Esse panorama revela a condição precária de sua vida. Isso pode ser percebido, por exemplo, nos versos "a de tentar despertar /
terra sempre mais extinta, / a de querer arrancar/algum roçado da cinza".
4. A construção desse trecho do poema ocorre de forma crescente, isto é, as características de Severino vão se
somando umas às outras para que o leitor forme uma imagem dele. Esse recurso de linguagem chama-se
gradação. Em sua opinião, por que o poeta utiliza a gradação?
A gradação permite que o poeta apresente ao leitor uma realidade social trágica, ao descrever a pobreza da personagem e ao
mostrar que há muitos outros seres humanos que compartilham a mesma situação.
5. No trecho:
Severino parece finalmente encontrar uma característica que o distingue dos demais Severinos.
Assista a animação ou leia o texto “Morte e Vida Severina” e responda as seguintes questões abaixo:
Alunos: Percebam as especificidades do texto Morte e Vida Severina e como o autor traça a narratividade para retratar o
cotidiano de uma cultura onde se nascem tantos quanto se morrem e essas mortes são ocasionadas por fome, velhice ou ordem
de algum coronel da região. A morte em alguns casos é vista como salvação de uma vida sem fortunas e de muito sofrimento. E,
ao mesmo tempo que a morte salva, a esperança renasce com o nascimento de uma criança.