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UMA VIAGEM NO TEMPO

Primeiras leituras

Coleção particular
O contato com a
produção artística
nos abre uma janela para o
passado e permite conhecer
um pouco pessoas que
viveram em diferentes CABANEL, A.
momentos. Os textos e as Ofélia. 1883.
Óleo sobre tela,
imagens desta seção foram 77 3 117,5 cm.
selecionados para que você ......................................................................
possa conversar com seus
colegas a respeito do que eles O poeta
revelam sobre o contexto Era uma noite — eu dormia Que divino pensamento,
em que foram produzidos. E nos meus sonhos revia Que vida num só momento

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
As ilusões que sonhei! Dentro do peito sentiu...
Quem eram seus autores?
E no meu lado senti... Não sei... dorme no passado
Como era o mundo em que Meu Deus! por que não morri? Meu pobre sonho doirado...
viviam? Tinham interesses e Por que do sono acordei? Esperança que mentiu!
preocupações semelhantes
No meu leito — adormecida, Sabem as noites do céu
aos nossos? Essas são
Palpitante e abatida, E as luas brancas sem véu
somente algumas das A amante de meu amor! As lágrimas que eu chorei!
questões que podem inspirar Os cabelos recendendo Contem do vale as florinhas
a conversa de vocês. Nas minhas faces correndo Esse amor das noites minhas!
Como o luar numa flor! Elas sim... eu não direi!
Ver, no Guia de recursos, algumas su-
gestões para o trabalho com os poemas Senti-lhe o colo cheiroso E se eu tremendo, senhora,
apresentados nesta seção. Arquejando sequioso; Viesse pálido agora
E nos lábios, que entr’abria Lembrar-vos o sonho meu,
Lânguida respiração, Com a fronte descorada
Um sonho do coração E com a voz sufocada
Que suspirando morria! Dizer-vos baixo — Sou eu!
Birmingham Museums and Art Gallery, Birmingham

Não era um sonho mentido; Sou eu! que não esqueci


Meu coração iludido A noite que não dormi,
O sentiu e não sonhou: Que não foi uma ilusão!
E sentiu que se perdia Sou eu que sinto morrer
Numa dor que não sabia... A esperança de viver...
Nem ao menos a beijou! Que o sinto no coração! —

Soluçou o peito ardente, Riríeis das esperanças,


Sentiu que a alma demente Das minhas loucas lembranças,
Lhe desmaiava a tremer: Que me desmaiam assim?
Embriagou-se de enleio, Ou então, de noite, a medo
No sono daquele seio Choraríeis em segredo
Pensou que ele ia morrer! Uma lágrima por mim?

Recendendo: exalando perfume. AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos.
Sequioso: desejoso. In: Obra completa. Organização de Alexei
Lânguida: sensual. Bueno. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000.
MILLAIS, J. Minha linda senhora. 1848. Enleio: arrebatamento, êxtase. p. 134-136.
Lápis e tinta. ......................................................................

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Soneto Canto de amor


III
Pálida, à luz da lâmpada sombria, P’ra ti, formosa, o meu sonhar de louco
Sobre o leito de flores reclinada, E o dom fatal, que desde o berço é meu;
Como a lua por noite embalsamada, Mas se os cantos da lira achares pouco,
Entre as nuvens de amor ela dormia! Pede-me a vida, porque tudo é teu.

Era a virgem do mar! na escuma fria Se queres culto — como um crente adoro,
Pela maré das águas embalada! Se preito queres — eu te caio aos pés,
Era um anjo entre nuvens d’alvorada Se rires — rio, se chorares — choro,
Que em sonhos se banhava e se esquecia! E bebo o pranto que banhar-te a tez.

Era mais bela! o seio palpitando... Dá-me em teus lábios um sorrir fagueiro,
Negros olhos as pálpebras abrindo... E desses olhos um volver, um só,
Formas nuas no leito resvalando... E verás que meu estro, hoje rasteiro,
Cantando amores s’erguerá do pó!
Não te rias de mim, meu anjo lindo!
Por ti — as noites eu velei chorando, Vem reclinar-te, como a flor pendida,
Por ti — nos sonhos morrerei sorrindo! Sobre este peito cuja voz calei:
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Pede-me um beijo... e tu terás, querida,


AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. Toda a paixão que para ti guardei.
In: Obra completa. Organização de Alexei Bueno.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000. p. 153-154.
Do morto peito vem turbar a calma,
Escuma: espuma. Virgem, terás o que ninguém te dá;
Velei: fiquei acordado, em vigília. Em delírios d’amor dou-te a minha alma,
...................................................................... Na terra, a vida, a eternidade — lá!

ABREU, Casimiro de. As primaveras.


Organização e prefácio de Vagner Camilo.
São Paulo: Martins Fontes, 2002. p. 104.

...................................................................... Preito: manifestação de adoração.


Tez: pele.
Adeus, meus sonhos! Estro: inspiração, gênio criador.
Turbar: perturbar.
Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro! ......................................................................
Não levo da existência uma saudade!

Coleção particular
E tanta vida que meu peito enchia
Morreu na minha triste mocidade!

Misérrimo! votei meus pobres dias


À sina doida de um amor sem fruto,
E minh’alma na treva agora dorme
Como um olhar que a morte envolve em luto.

Que me resta, meu Deus? morra comigo


A estrela de meus cândidos amores,
Já que não levo no meu peito morto
Um punhado sequer de murchas flores!

AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos.


In: Obra completa. Organização de Alexei Bueno.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000. p. 288.

Misérrimo: insignificante.
Votei: dediquei.
Cândidos: inocentes, puros.
...................................................................... FRITH, W. Os amantes. s.d. Óleo sobre tela, 23 3 21 cm.

Primeiras leituras 53

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3
Capítulo

Segunda geração:
idealização, paixão e morte
Objetivos

Coleção Particular
O que você deverá saber ao
final deste estudo.
1. Quais são as
características da
segunda geração
romântica.
• De que modo a temática
do amor e da morte
define o projeto literário
dessa geração.
2. Como o
Ultrarromantismo

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
se manifesta na
literatura brasileira.
• De que forma a obra
de Casimiro de Abreu
traduz os princípios
ultrarromânticos em
versos singelos.
• Como Álvares de
Azevedo revela, em
sua obra, duas faces
da temática amorosa.

O trabalho realizado ao longo deste


capítulo favorece o desenvolvimento da
competência de área 5 e das habilida-
des H15, H16 e H17. Para identificá-las,
consultar, no Guia de recursos, a matriz
do Enem 2009.

Doré, G. Andrômeda. 1869. Óleo sobre tela, 256,5 3 172,7 cm.


O arrebatamento, a explosão do sentimento e o desespero desta Andrômeda
acorrentada são marcas da segunda fase do Romantismo.
Informar aos alunos que, na mitologia grega, Andrômeda era filha de Cassiopeia e Cefeu. Cassiopeia
provocou a ira de Poseidon ao comparar a própria beleza à das ninfas marinhas. Como punição, o
deus dos mares enviou um monstro para devastar o litoral da Etiópia, reino governado por Cefeu.
O oráculo consultado pelo rei aconselhou-o a oferecer sua filha, Andrômeda, em sacrifício, para
ser devorada pelo monstro. Ela foi, então, amarrada a um rochedo para esperar a aproximação do
monstro. O herói Perseu matou o monstro e salvou Andrômeda, com quem se casou.

54 Capítulo 3

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A mor e morte, medo e solidão, culto a uma natureza sombria,
idealização absoluta da realidade: os ultrarromânticos levaram
a extremos a expressão de sentimentos contraditórios, vividos pela
maioria deles de modo atormentado. A literatura que produziram
exprime esse modo de sentir e, algumas vezes, manifesta um olhar
juvenil para os temas da época. É essa literatura que você
conhecerá neste capítulo.
Sugerimos que todas as questões sejam
respondidas oralmente para que os alunos
Leitura da imagem possam trocar impressões e ideias.

1. Observe os elementos que compõem a imagem e a situação em que se


encontra a personagem. Descreva, brevemente, a cena retratada por

ck
Gustave Doré.

to
i nS
Lat
> Essa cena pode ser descrita como dramática. Explique por quê.

lson/Corbis/
2. Nas obras românticas, a associação entre o belo e o feio sugere a apro-
ximação de forças opostas e complementares. De que modo o quadro

Nicho
de Gustave Doré representa essa concepção de beleza?

ael
> Uma outra temática, característica da segunda geração românti-

ch
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Mi
ca, é a oposição entre beleza e feiura associada à oposição entre o
bem e o mal. A imagem também promove esse segundo confronto?
Explique. Retrato de Gustave
Doré. c. 1860-1870.
3. O fato de Andrômeda ser retratada nua contribui para provocar a im-
pressão de fragilidade da mulher diante do monstro que está prestes O francês Gustave Doré
a atacá-la. Por quê? (1832-1883) foi pintor, escultor
e ilustrador. Ganhou renome,
> Embora a situação retratada seja dramática, a obra apresenta traços
na França romântica, por sua
sensuais. Explique como a sensualidade é sugerida por Doré. extraordinária habilidade
para capturar, em ilustrações
Da imagem para o texto carregadas de drama, as
principais características de
uma obra literária. Até hoje,
4. Leia este poema de Álvares de Azevedo e veja como a literatura ultrarro-
as ilustrações mais conheci-
mântica representa a mulher.
das de livros como A divina
comédia e Dom Quixote são
......................................................................
de sua autoria.
Sonhando
Na praia deserta que a lua branqueia,
Que mimo! que rosa! que filha de Deus!
Tão pálida — ao vê-la meu ser devaneia,
Sufoco nos lábios os hálitos meus!
Não corras na areia,
Não corras assim!
Maria Alice Camargo

Donzela, onde vais?


Tem pena de mim!

A praia é tão longa! e a onda bravia


As roupas de gaza te molha de escuma;
De noite — aos serenos — a areia é tão fria,
Tão úmido o vento que os ares perfuma!
És tão doentia!
Não corras assim!
Donzela, onde vais?
Gaza: gaze; fazenda fina e
Tem pena de mim! transparente.

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A brisa teus negros cabelos soltou,
Manuel Antônio Álvares de O orvalho da face te esfria o suor;
Azevedo (1831-1852) foi o mais Teus seios palpitam — a brisa os roçou,
destacado autor ultrarromân- Beijou-os, suspira, desmaia de amor!
tico brasileiro. Entre os 16 e os Teu pé tropeçou...
21 anos, produziu toda a sua Não corras assim!
obra literária, mas não publi- Donzela, onde vais?
cou nenhum de seus livros em Tem pena de mim!
vida. Quando morreu, estava
terminando a preparação [...]
da Lira dos vinte anos, livro

Maria Alice Camargo


Deitou-se na areia que a vaga molhou,
publicado postumamente Imóvel e branca na praia dormia;
em 1853. A ele se somam Poe- Mas nem os seus olhos o sono fechou
sias diversas, O poema do E nem o seu colo de neve tremia.
frade, O Conde Lopo (poema O seio gelou?...
narrativo), Poemas malditos, Não durmas assim!
Macário (teatro), Noite na ta- Ó pálida fria,
verna (conjunto de narrativas Tem pena de mim!
fantásticas) e o Livro de Fra
Gondicário (diário), além de [...]
discursos e cartas. Aqui no meu peito vem antes sonhar
Nos longos suspiros do meu coração:
Coleção Particular

Eu quero em meus lábios teu seio aquentar,

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Teu colo, essas faces, e a gélida mão...
Não durmas no mar!
Não durmas assim.
Estátua sem vida,
Tem pena de mim!
[...]
E a imagem da virgem nas águas do mar
Brilhava tão branca no límpido véu!
Nem mais transparente luzia o luar
No ambiente sem nuvens da noite do céu!
Nas águas do mar
Fotografia de Álvares
de Azevedo. s.d. Não durmas assim!
Não morras, donzela,
Espera por mim!
AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. In: Obra completa.
Organização de Alexei Bueno. Rio de Janeiro:
Aquentar: aquecer. Nova Aguilar, 2000. p. 123-124. (Fragmento).
......................................................................

Caso os alunos discutam se a donzela a) Álvares de Azevedo explora a apresentação sucessiva de imagens,
está mesmo morta, retome o poema e criando um efeito quase cinematográfico no texto. Quais as diferentes
mostre que, a partir da quarta estrofe, a
donzela não tem mais qualquer reação
imagens associadas à donzela?
(“Mas nem os seus olhos o sono fechou b) Qual é o cenário apresentado no texto?
/ E nem o seu colo de neve tremia.”). O
eu lírico, porém, reluta em aceitar o fato 5. As estrofes podem ser divididas em duas partes: uma narrativa e outra
de que ela já morreu.
em que o eu lírico estabelece uma interlocução com a donzela. Como
essas duas partes contribuem para a construção do poema?
6. Observe os vocativos utilizados pelo eu lírico em seus apelos à donzela.
“Ó pálida fria, “Estátua sem vida,
Tem pena de mim!” Tem pena de mim!”

a) O que esses vocativos sugerem?


b) No poema, quais outros termos confirmam essa conclusão?
7. Apesar de frágil e doentia, a mulher também se mostra sensual. Como
a sensualidade se manifesta no texto?

56 Capítulo 3

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8. O quadro de Gustave Doré ilustra uma visão romântica da beleza que se
origina do confronto entre os opostos. O poema de Álvares de Azevedo Byron (1788-1824) foi o
mais famoso dos poetas ro-
também introduz uma noção de beleza pouco comum. Qual é ela?
mânticos ingleses. Entre suas
> De que modo essa noção de beleza pode ser relacionada àquela re- obras mais conhecidas está
presentada no quadro de Gustave Doré? Don Juan, em que apresen-
ta um retrato satírico da
O contexto histórico foi apresentado no Capítulo 1 e o contexto brasileiro, no Capítulo 2. sociedade inglesa da época.
Sugerimos retomar com os alunos as informações ali contidas e, se necessário, remetê-los à
releitura daqueles capítulos.
Defensor ardoroso da liber-

A segunda geração romântica:


dade, Byron viveu de acordo
com seus princípios e morreu
lutando pela independência

uma poesia arrebatada da Grécia.


Aclamado pelos gregos
como herói nacional, teve seu
A segunda geração romântica é marcada por uma postura de exagero sen- coração enterrado na cidade
timental que a torna inconfundível. Inspirados por escritores ingleses como de Missolonghi. O seu corpo
Byron e Shelley, os representantes dessa geração liam uma poesia que exaltava embalsamado foi enviado à
os sentimentos arrebatados ao mesmo tempo que apresentava o poeta isolado Inglaterra.
da sociedade, incompreendido por defender valores morais e éticos contrários
aos interesses econômicos da burguesia.
Filhos do século XIX, esses jovens se mostram mais voltados para o próprio
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

1839 1818-1819
coração do que para os grandes temas que definiram a poesia da primeira
geração (a divulgação dos símbolos da identidade nacional e a criação de um Byron escreve Don Juan.
conceito de pátria).
Por esse motivo, incorporam a imagem de um herói romântico que defende
Chopin publica
valores incorruptíveis como a honestidade, o amor e o direito à liberdade. Em os Prelúdios, que
nome desses valores estão dispostos a sacrificar a própria vida. exemplificam a tendência
ultrarromântica na
música.
Tome A postura exagerada, associada ao arrebatamento sentimental,
1840
nota característica dos autores da segunda geração romântica, fez com D. Pedro II assume o trono,
aos 14 anos.
que ficassem conhecidos como ultrarromânticos.

coleção particular,
rio de janeiro
O projeto literário dos
ultrarromânticos Doré, G. Paolo e Francesca de Rimini.
RUGENDAS, J. Retrato
s.d. Óleo sobre tela, 280 3 195 cm.
A idealização absoluta e o interesse por de D. Pedro II. 1846. Óleo
Coleção Particular

sobre tela, 100 3 79 cm.


duas ideias essencialmente românticas —
amor e morte — definem o projeto literário
1845

da segunda geração. Conflito entre Inglaterra


e Brasil sobre o tráfico
Essa geração de poetas atormentados, de escravos.
que frequentemente morriam ainda jovens,
foi marcada pela expressão exacerbada de
1845

Edgar Allan Poe publica o


um subjetivismo pessimista, pelo desejo poema “O corvo”. a
de evasão da realidade, pela atração pelo
mistério e ainda pela consciência da inadap-
1850

Inauguração da linha de
tação do artista à sociedade em que vive. A vapores do Rio de Janeiro
solidão, o culto a uma natureza mórbida para a Europa.
e soturna e, acima de tudo, a idealização
da mulher virginal e etérea são as formas
1855

Publicação de Noite na
poéticas encontradas para traduzir em taverna, de Álvares de
imagens os sentimentos arrebatados que Azevedo.
vivenciam.
a O poema “O corvo”, considerado uma obra-prima de Edgar Allan Poe, opõe o busto de Palas Atena, símbolo da sabedoria, à ave símbolo
do mau agouro. Por meio dessa oposição, ele recria o embate entre o lado racional e o irracional dos seres humanos. Em torno desse poema
criou-se uma espécie de reverência literária sempre associada ao macabro, ao sombrio, ao mórbido.
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Projeto literário do Romantismo: Uma outra faceta do projeto literário ultrarromântico será exemplificada por
segunda geração Casimiro de Abreu. Em oposição à expressão pessimista do sentimento amoro-
so, típica, por exemplo, de Álvares de Azevedo, que fala da solidão e da morte,
Expressão de sentimentos Casimiro de Abreu fala de sonhos de amor e suspiros de saudade, associados a
arrebatados por meio de belas imagens de chácaras e jardins por onde passeiam moças virgens e puras.
imagens como a solidão e a O tratamento dado ao amor, porém, é o mesmo nos dois autores. Ambos
natureza sombria
apresentam o sentimento amoroso idealizado de tal forma que não encontra
Amor totalmente espaço no mundo real, por isso é sempre projetado em sonhos e marcado por
idealizado suspiros e lamentos.

Os agentes do discurso
No Brasil do Segundo Império, os poetas eram em sua maioria jovens estu-
dantes que, longe da casa paterna, viviam em repúblicas. Muitos deles rumavam
para São Paulo, onde iam cursar a faculdade de Direito no Largo de São Francisco.
Havia muito pouco o que fazer na cidade, como conta Álvares de Azevedo em
carta para sua mãe.
......................................................................
Nunca vi lugar tão insípido, como hoje está S. Paulo. Nunca vi coisa mais
tediosa e mais inspiradora de spleen. [...]

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Não há passeios que entretenham, nem bailes, nem sociedades, parece
isto uma cidade de mortos e o silêncio das ruas só é quebrado pelo ruído
das bestas sapateando no ladrilho das ruas.
Esse silêncio convida mais ao sono que ao estudo, enlanguesce, e entor-
pece a imaginação e pode-se dizer que a vida aqui é um sono perpétuo.
Spleen: tédio. AZEVEDO, Álvares de. Correspondência. In: Obra completa. Organização
de Alexei Bueno. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000. p. 811. (Fragmento).
Enlanguesce: entristece.
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Longe da vida no Rio de Janeiro, então capital federal, onde os


Coleção Particular

acalorados debates políticos estimulavam a participação de escri-


tores e traziam a questão da nacionalidade para primeiro plano, o
dia a dia dos estudantes em São Paulo era pouco inspirador.
O isolamento cultural em que se viam definia uma condição de
produção marcada por uma característica mais cosmopolita. Em
lugar de se ocuparem com os problemas nacionais, poetas como
Álvares de Azevedo dedicavam suas horas à leitura dos mestres
românticos europeus. Isso fazia com que produzissem uma poesia
mais introspectiva, de caráter menos nacional.
A circulação dos textos também era influenciada pelo contexto
em que viviam. Como havia poucas oportunidades de interação
social, os salões tornavam-se o espaço mais frequente para a divul-
gação da produção poética do período. Nessas reuniões da elite, ao
chegar, um poeta era imediatamente convidado a declamar alguns
versos. Essa prática associava poesia a uma forma de divertimento
Descida do Brás, São Paulo, 1863, popular, o que contribuía para a sua divulgação.
fotografada por Militão Augusto de Azevedo.
Na segunda metade do século XIX, São
Paulo não oferecia a efervescência da capital Declamadores e repentistas
carioca, tão apreciada pela juventude.
A prática de declamar versos nas reuniões da elite fez com que surgissem dois
É importante lembrar, quando se estiver tipos de poetas: os declamadores e os repentistas.
tratando da questão da circulação dos Os declamadores apresentavam versos de sua autoria, previamente compostos,
textos produzidos por autores da segunda ou declamavam quadrinhas populares. Os repentistas animavam a festa, porque
geração, que alguns deles morreram tão
cedo que não chegaram a ver sua obra pu-
aceitavam o desafio de um mote proposto pelo público, a partir do qual compu-
blicada. É o caso, por exemplo, de Álvares nham os seus versos. Poetas como Muniz Barreto e Laurindo Rebelo se consagraram
de Azevedo. A divulgação dos poemas que pela capacidade de improvisação demonstrada nos salões da burguesia.
escreveu aconteceu após a sua morte, em
1852. A sua primeira obra, Lira dos vinte
anos, foi publicada em 1853.
58 Capítulo 3

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• A poesia da segunda geração e o público
O convívio estreito no espaço acadêmico estimulava a troca de textos e fazia
com que os autores fossem leitores uns dos outros, realimentando o interesse
por temas associados à expressão de sentimentos individuais, à solidão e às visões
idealizadas da infância e do amor.
Nas pequenas sociedades estudantis que se formavam, a vida boêmia fa-
cilitava a aceitação, sem juízo moral, dos textos de seus membros. A leitura e
a discussão dessa produção literária fornecia aos poetas um público de perfil
intelectualmente respeitável, diferente daquele para o qual recitavam nos salões
burgueses. Eram todos leitores dos versos arrebatados de Byron, Shelley e Alfred
de Musset. Reconheciam, portanto, o interesse que os temas associados ao amor
e à morte tinham para seus companheiros.

Locus horrendus:

Coleção Particular
a natureza tempestuosa
O cenário preferido pelos poetas ultrarromânticos é tem-
pestuoso, soturno. As forças incontroláveis da natureza — raios,
chuva, ventos — simbolizam, de certo modo, os sentimentos
violentos que precisam ganhar expressão literária. Essa natureza
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

compõe uma espécie de lugar horrendo (locus horrendus), que


acolhe o poeta por refletir simbolicamente seu sofrimento
individual.
Somente no contexto do sonho a natureza será apresenta-
da em tons mais positivos, assumindo uma feição paradisíaca.
Espaço das fantasias, ela funcionará como contraponto aos
cenários mais frequentes em que a escuridão, os lugares ermos,
os cemitérios e as praias abandonadas servem de refúgio para
os sofredores desesperados.

A sedução da morte
Aivazovsky, I. O naufrágio. 1871.
Óleo sobre tela, 110 3 129,5 cm.
Tempestades são um dos temas
A ideia de morrer, para o ultrarromântico, tem sentido positivo, porque garante preferidos dos pintores românticos.
o término da agonia de viver. É no contexto das desilusões e da maneira pessimista
de encarar a própria existência que a morte surge como solução.

......................................................................

Morte
(Hora de delírio) Maria Alice Camargo

Pensamento gentil de paz eterna, Pensamento gentil de paz eterna,


Amiga morte, vem. Tu és o termo Amiga morte, vem. Tu és apenas
De dous fantasmas que a existência formam, A visão mais real das que nos cercam,
— Dessa alma vã e desse corpo enfermo. Que nos extingues as visões terrenas. [...]
Pensamento gentil de paz eterna, Amei-te sempre: — e pertencer-te quero
Amiga morte, vem. Tu és o nada, Para sempre também, amiga morte.
Tu és a ausência das moções da vida, Quero o chão, quero a terra, — esse elemento
Do prazer que nos custa a dor passada. Que não sente dos vaivéns da sorte. [...]

FREIRE, Junqueira. In: BANDEIRA, Manuel (Org.).


Antologia dos poetas brasileiros: fase romântica. Rio de Janeiro:
Moções: movimentos. Nova Fronteira, 1996. p. 218-219. (Fragmento).
......................................................................

Segunda geração: idealização, paixão e morte 59

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Os versos de Junqueira Freire (1832-1855) revelam as razões românticas para
O “mal do século”
o culto da morte. Ela é amiga, acaba com o corpo doente e com a alma inútil,
O fascínio pela morte, pela dá paz a quem vive em agonia.
escuridão, pela doença fez
Promessa de descanso eterno, refúgio para as dores da vida, a morte aparece
com que muitos dos jovens
escritores buscassem meios
nos poemas ultrarromânticos diretamente ligada ao amor não correspondido,
artificiais de fugir da realida- fonte de sofrimento insuportável. O binômio amor-morte é traduzido, muitas
de e conquistar o mundo dos vezes, pela oposição entre o desejo de amar e o desejo de morrer.
sonhos. Drogas, como o ópio É também a morte que faz cessar outra fonte de grande aflição para o ultrarro-
e o haxixe, e bebidas fortes, mântico: os impulsos sexuais. Adeptos da total idealização amorosa, esses poetas
como o absinto, eram alguns não podem negar a força dos desejos, mas os associam a um sentimento de culpa
dos “paraísos artificiais” a que e destruição. Por esse motivo, seus poemas apresentam a possibilidade da realiza-
recorriam. Como resultado da ção amorosa vinculada somente a contextos irreais, sejam eles a manifestação do
vida boêmia, muitos român- sonho ou a promessa da vida eterna.
ticos morreram cedo, quase
sempre vítimas da tuberculose
(também conhecida como
“tísica”). Esse comportamento
Trilha sonora
autodestrutivo, associado ao
tédio e à depressão, passou a A releitura do amor ultrarromântico no rock gótico do Evanescence
ser conhecido como “mal do ....................................................
século”.
Traga-me para a vida (Bring me to life)

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
[...]
Sem uma alma
Meu espírito dorme em algum lugar frio
até que você o encontre
e o leve de volta pra casa
(acorde-me)
Acorde-me por dentro
(Eu não consigo acordar)
Acorde-me por dentro
(salve-me)
Me chame e me salve da escuridão
(acorde-me)
Obrigue meu sangue a fluir
(eu não consigo acordar)
antes que eu me desfaça
(salve-me)
salve-me do nada em que eu me tornei
[...]

LEE, Amy; MOODY, Ben; HODGES, David. “Bring me to life”. Intérprete:


Evanescence. In: Fallen. Rio de Janeiro: Sony, 2003.
O objetivo da atividade é levar os alu- Letra disponível em: <http://letras.terra.com.br/evanescence>.
nos a perceber que grupos de música Acesso em: 13 mar. 2005. (Fragmento).
contemporânea com os quais se iden- ....................................................
tificam exploram, na verdade, temas e
As músicas depressivas e trágicas do gru-
reprodução

abordagens que já apareciam durante o


Romantismo. A mesma visão extremada po de rock Evanescence recriam a estética
de amor é recriada pelo eu lírico feminino, ultrarromântica. A maior parte das letras
que se define como alguém entorpecido,
do grupo explora o desespero, falando de
sem alma. A sua salvação estaria na vinda
do amado para resgatá-la da escuridão amor, dor e sofrimento, como é o caso da
em que se encontra e evitar que ela se música “Bring me to life”.
desfaça no nada em que se transformou. Discuta com seus colegas: qual é o estado
O fato de o eu lírico ser feminino, porém, de espírito em que se encontra o eu lírico da
representa uma releitura contemporânea
da visão do amor, porque, para os poetas
canção? A caracterização do eu lírico pode
ultrarromânticos, a mulher era um ser ser interpretada como uma releitura con-
completamente passivo, que devia ser temporânea da visão ultrarromântica de
adorado e idolatrado. Eles não davam amor? Por quê?
voz aos sentimentos femininos, como
acontece na música do Evanescence. Capa do CD Evanescence: Fallen.
Sony, 2003, Rio de Janeiro.

60 Capítulo 3

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Galeria Tate, Londres
• Amor e morte: as virgens pálidas
Consequência do deslumbramento com a ideia da
morte, a imagem de beleza feminina será modificada.
Mulheres lânguidas, pálidas, etéreas substituem as virgens
robustas de estéticas anteriores.
Assaltados pelo desejo físico, os ultrarromânticos
compõem poemas em que a associação entre a perfeição
feminina e os traços da morte parece condenar qualquer
possibilidade de manifestação física do amor.
Millais, J. Ofélia. 1851-1852.
...................................................................... Óleo sobre tela, 76,2 3 101,6 cm.

Pálida imagem

Maria Alice Camargo


No delírio da ardente mocidade [...]
Por tua imagem pálida vivi!
Se a vida é lírio que a paixão desflora,
A flor de coração do amor dos anjos
Meu lírio virginal eu conservei;
Orvalhei-a por ti!
Somente no passado tive sonhos
O expirar de teu canto lamentoso E outrora nunca amei!
Sobre teus lábios que o palor cobria,
Foi por ti que na ardente mocidade
Minhas noites de lágrimas ardentes
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Por uma imagem pálida vivi!


E de sonhos enchia!
E a flor do coração no amor dos anjos
Foi por ti que eu pensei que a vida inteira Orvalhei... só por ti. Palor: palidez, brancura.
Não valia uma lágrima — sequer,
AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. In: Obra
Senão num beijo trêmulo de noite... completa. Organização de Alexei Bueno. Rio de Janeiro:
Num olhar de mulher! Nova Aguilar, 2000. p. 265-266. (Fragmento).
......................................................................

O eu lírico do poema suspira e chora por uma mulher de lábios pálidos. A


solução encontrada para a desilusão amorosa vem expressa em uma estranha
condição: se a vida é um lírio que é destruído (desflorado) pela paixão, então
ele foge do amor (mantém-se virgem).
O ultrarromântico desenvolve o tema do amor sexualizado de modo ne-
gativo, sempre associado à condenação de sua realização e como um fator de
corrupção humana.
Por causa dessa postura, idealiza totalmente o relacionamento amoroso.
Somente em sonhos os amantes podem se tocar. A frustração gerada pelo desejo
não satisfeito dá ao poema uma tensão erótica bastante grande. Essa tensão será
uma das características da poesia de Álvares de Azevedo.

A linguagem da poesia da segunda


geração: imagens e ritmos
Embora a liberdade formal continue sendo um traço característico da
produção poética da segunda geração, os autores do período fazem uso recor-
rente de algumas palavras que os auxiliam a construir as imagens de saudade,
solidão, morte e pessimismo.
Os termos escolhidos aludem a uma existência mais depressiva, marcada
em alguns casos pela irracionalidade: pálpebra demente, matéria impura, longo
pesadelo, desespero pálido são apenas alguns exemplos das expressões que os
autores selecionam para registrar um olhar mais pessimista para a vida.
Em outros momentos, a obsessão pela morte leva esses mesmos poetas a evocar
imagens de anjos macilentos, leitos pavorosos, virgens frias, etc. Toda a série de
substantivos e adjetivos que indicam palidez também será utilizada com frequência
para caracterizar a beleza feminina etérea idolatrada pelos autores do período.

Segunda geração: idealização, paixão e morte 61

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Texto para análise
Leia o texto a seguir.
......................................................................

Lembrança de morrer
Neste poema, Álvares de Azevedo trata das questões que
moveram a segunda geração: a morte, o amor e o sonho.
Quando em meu peito rebentar-se a fibra, Só tu à mocidade sonhadora
Que o espírito enlaça à dor vivente, Do pálido poeta deste flores...
Não derramem por mim nem uma lágrima Se viveu, foi por ti! e de esperança
Em pálpebra demente. De na vida gozar de teus amores.
E nem desfolhem na matéria impura Beijarei a verdade santa e nua,

Maria Alice Camargo


A flor do vale que adormece ao vento: Verei cristalizar-se o sonho amigo...
Não quero que uma nota de alegria Ó minha virgem dos errantes sonhos,
Se cale por meu triste passamento. Filha do céu, eu vou amar contigo!
Eu deixo a vida como deixa o tédio Descansem o meu leito solitário
Do deserto, o poento caminheiro Na floresta dos homens esquecida,
— Como as horas de um longo pesadelo À sombra de uma cruz, e escrevam nela:

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Que se desfaz ao dobre de um sineiro; — Foi poeta — sonhou — e amou na vida. —
Como o desterro de minh’alma errante, Sombras do vale, noites da montanha,
Onde fogo insensato a consumia: Que minha alma cantou e amava tanto,
Só levo uma saudade — é desses tempos Protegei o meu corpo abandonado,
Que amorosa ilusão embelecia. [...] E no silêncio derramai-lhe canto! Preludia: anunciava,
prenunciava.
Se uma lágrima as pálpebras me inunda, Mas quando preludia ave d’aurora Lousa: lápide de uma
Se um suspiro nos seios treme ainda, E quando à meia-noite o céu repousa, sepultura.
É pela virgem que sonhei... que nunca Arvoredos do bosque, abri os ramos...
Aos lábios me encostou a face linda! Deixai a lua prantear-me a lousa!
AZEVEDO, Álvares de. In: BANDEIRA, Manuel (Org.). Antologia dos poetas brasileiros:
fase romântica. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996. p. 175-177.
......................................................................

1. No poema transcrito, o eu lírico fala de sua morte. tema da poesia da segunda geração: o amor.
Que imagem ele utiliza para se referir à vida e a seu Explique, a partir de elementos do texto, qual é
fim na primeira estrofe? a visão de amor presente no poema.
> Que expressão dessa estrofe sugere que o eu 4. No poema, o eu lírico faz referência à mulher amada.
lírico considera a vida um lugar de sofrimento? Ela tem existência real ou não? Justifique.
Explique por quê. > Qual é a imagem de mulher presente no poema?
2. Nas duas primeiras estrofes, o eu lírico se dirige àque- 5. Nas últimas estrofes, o eu lírico pede para ser enter-
les que o conhecem e faz um pedido. O que ele pede? rado com um epitáfio que pode ser entendido como
a) A justificativa para esse pedido aparece na ter- um lema ultrarromântico. Explique por quê.
ceira estrofe, em que o eu lírico compara a morte
> Nessas estrofes, o eu lírico estabelece uma relação
a duas situações. Quais são elas?
de proximidade e integração entre si mesmo e a
b) Considerando essas comparações, explique de natureza. Qual é ela?
que maneira o eu lírico vê a morte.
6. Compare as informações apresentadas na linha do
c) Essa visão da morte indica a filiação desse poema
tempo deste capítulo com as da linha do tempo do
à segunda geração romântica. Explique por quê.
Capítulo 2 e discuta as questões a seguir com seus colegas.
3. Releia. a) Qual é a diferença entre os acontecimentos apre-
“Só levo uma saudade — é desses tempos sentados nas duas linhas do tempo?
Que amorosa ilusão embelecia.”
b) De que maneira essa diferença determina, na se-
a) A que se refere o eu lírico nesses versos? gunda geração romântica, a produção de obras li-
b) Esses versos indicam a presença de outro grande terárias mais voltadas para questões individuais?

62 Capítulo 3

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Casimiro de Abreu:

Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro


versos doces e meigos
Casimiro de Abreu (1839-1860) foi o poeta mais lido e declamado da segunda
geração romântica brasileira. Começou sua atividade literária em Lisboa, onde
entrou em contato com poetas europeus. Embora trilhe um caminho individual
diferente, acaba se interessando pelos mesmos temas que fascinavam os estu-
dantes de Direito do Largo de São Francisco.
A musicalidade de seus versos, que acentuava a suavidade e facilitava a
memorização dos poemas, o modo sensível com que tratou de temas como a
saudade, a natureza e o desejo, sem a carga de pessimismo e culpa que aparece
em outros autores da época, explicam sua popularidade, principalmente entre
o público feminino. Casimiro de Abreu. c. 1859.
Como aconteceu com vários escritores de sua geração, Casimiro de Abreu Autor desconhecido.
morreu cedo, aos 21 anos, vítima da tuberculose.

Leveza e suavidade
O olhar ingênuo para as questões de amor destaca-se em sua poesia e lhe dá identi-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

dade. Suas figuras femininas, por exemplo, não vêm associadas a imagens de morte.
Seus poemas falam de aspectos comuns da vida: a moça que vende as flores
colhidas no jardim é comparada aos pássaros que brincam entre as rosas. Alguns
críticos identificam, nessa evocação sentimental de pequenos objetos e cenas,
uma valorização dos elementos prosaicos e um uso da linguagem coloquial que só
reaparecerá, muito tempo depois, nos versos modernistas de Manuel Bandeira.

Os belos dias da infância perdida


O sentimento amoroso também aparece simbolizado pelo saudosismo de uma
infância inocente, ingênua e perfeita. Entre os nossos ultrarromânticos, Casimiro de
Abreu é quem vai explorar o tema do saudosismo. Seus versos simples caíram no
gosto popular e ele se tornou um dos mais conhecidos poetas de sua geração.
A infância como momento de felicidade suprema foi imortalizada nos co-
nhecidos versos de Casimiro de Abreu.
......................................................................

Meus oito anos


Oh! que saudades que tenho Que auroras, que sol, que vida,
Da aurora da minha vida, Que noites de melodia
Da minha infância querida Naquela doce alegria,
Que os anos não trazem mais! Naquele ingênuo folgar!
Que amor, que sonhos, que flores, O céu bordado d’estrelas,
Naquelas tardes fagueiras A terra de aromas cheia,
Maria Alice Camargo

À sombra das bananeiras, As ondas beijando a areia


Debaixo dos laranjais! E a lua beijando o mar!
[...]
Como são belos os dias ABREU, Casimiro de. As primaveras.
Do despontar da existência! Organização e prefácio de Vagner Camilo.
— Respira a alma inocência São Paulo: Martins Fontes, 2002. p. 38-39.
Como perfumes a flor; (Fragmento).
O mar é — lago sereno,
O céu — um manto azulado, Fagueiras: amenas, suaves,
O mundo — um sonho dourado, agradáveis.
A vida — um hino d’amor! Folgar: brincar.
......................................................................

Segunda geração: idealização, paixão e morte 63

II_cap_03_literatura_PNLEM_D.indd 63 28/05/10 3:10:39 PM


Todas as imagens associadas à infância são positivas. A natureza é caracteri-
zada por árvores de sombra acolhedora, o mar é como um lago sereno, e o céu
é estrelado. Nesse cenário paradisíaco do passado, emerge o traço principal que
torna a infância um momento tão saudoso para o ultrarromântico: era o tempo
da inocência. Casimiro de Abreu fala explicitamente disso quando afirma que
“respira a alma inocência” e menciona “o ingênuo folgar”.
A inocência da criança é perdida na idade adulta. O poema representa uma
possibilidade de reviver, de forma idealizada, esse tempo perdido.

A idealização da pátria
Ao lado do olhar mais positivo para a vida, Casimiro também idealizou a
pátria, cantando o tema das saudades dos exilados inaugurado por Gonçalves
Dias. Um dos seus poemas mais conhecidos é um canto de louvor ao Brasil.
......................................................................
Arthur Rackham
Estate/Bridgeman Art
Library – Stapleton
Collection/Corbis/
LatinStock

Minha terra
Minha terra tem palmeiras
Onde canta o sabiá.
G. Dias

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Todos cantam sua terra, — É uma terra de amores
Também vou cantar a minha, Alcatifada de flores
Nas débeis cordas da lira Onde a brisa em seus rumores
Hei de fazê-la rainha; Murmura: — não tem rival!
— Hei de dar-lhe a realeza Lisboa – 1856.
Nesse trono de beleza
ABREU, Casimiro de. As primaveras.
rackham, a. Representação Em que a mão da natureza Organização e prefácio de Vagner Camilo.
de Ariel e Calibá. c. 1900. Esmerou-se enquanto tinha. São Paulo: Martins Fontes, 2002. p. 19-23.
(Fragmento).
Ariel e Calibã [...]
Ariel e Calibã são persona- Tem tantas belezas, tantas, Débeis: fracas, sem força.
gens da última peça escrita A minha terra natal, Esmerou-se: caprichou, realizou algo com
por Shakespeare, A Tempesta- Que nem as sonha um poeta cuidado e perfeição.
de. Espíritos que servem a um E nem as canta um mortal! Alcatifada: atapetada.
mesmo senhor, apresentam ......................................................................
comportamentos opostos.
Ariel é cordato e, ainda que às A pátria é a “rainha” a ser louvada. As joias da sua coroa são os elementos da
vezes conteste as ordens re- natureza sem igual com que foi agraciada por Deus.
cebidas, é obediente. Calibã
Ver, no Guia de recursos, uma atividade suplementar a respeito de Casimiro de Abreu.
é violento, tempestuoso mas,
embora eventualmente obe-
deça, não o faz sem protestar. Álvares de Azevedo:
ironia, amor e morte
Álvares de Azevedo se refere
ao contraste entre essas duas
naturezas no prefácio da
Lira dos vinte anos: “A razão
é simples. É que a unidade Em todos os textos que escreveu, Álvares de Azevedo sempre explorou o
deste livro funda-se numa tema dos desesperos passionais, tratados a partir de duas perspectivas: a séria e
binomia: — duas almas que a irônica. É o próprio autor quem define, no prefácio à segunda parte da Lira dos
moram nas cavernas de um vinte anos, as duas linhas da sua produção literária: “Nos mesmos lábios onde
cérebro pouco mais ou me- suspirava a monodia amorosa, vem a sátira que morde”. Monodia é a denomi-
nos de poeta escreveram este nação que se dá a um canto em uníssono. O sentido do termo é importante no
livro, verdadeira medalha de contexto, porque revela que o poeta percebia sua lírica amorosa como textos
duas faces”. Ele reconhece, que expressavam uma mesma visão idealizada do amor.
assim, sua capacidade de
Apresentando-se como Ariel e Calibã, anjo e demônio, Álvares de Azevedo
apaixonar-se perdidamente,
mas também de rir do pró-
prepara o leitor para poemas que exploram as angústias amorosas ou as ridicu-
prio arrebatamento. larizam. Desse conflito, nasce sua identidade literária, que o torna único entre
os ultrarromânticos, e que será definida pelo modo contrastante de tratar os

64 Capítulo 3

II_cap_03_literatura_PNLEM_D.indd 64 28/05/10 3:10:40 PM


temas da época, rompendo com o tom monocórdio e desafiando uma concepção
homogênea e estática de literatura. a estante de
Álvares de Azevedo também se distingue por ser o primeiro a trazer a ironia
para o centro da cena romântica. Álvares de Azevedo
Além dos clássicos român-
Lira dos vinte anos ticos que fizeram a delícia dos
poetas da segunda geração
Obra dividida em três partes, a Lira dos vinte anos revela as diferentes faces — Byron, Musset e Heine —,
literárias de Álvares de Azevedo. A primeira e a terceira partes são marcadas pelo o jovem Álvares de Azevedo
devorava outros autores na
sentimentalismo e egocentrismo típicos dos ultrarromânticos.
solidão de São Paulo. Nos poe-
São poemas que registram o fascínio pela ideia de morrer e a atração pelas mas da Lira dos vinte anos, ele
virgens pálidas e frias. Neles, a possibilidade de concretização do amor fica con- revela, por meio de epígrafes,
finada ao mundo dos sonhos e da imaginação. as fontes de sua inspiração
literária: George Sand, Victor
...................................................................... Hugo, Shakespeare, Dante,
Théophile Gautier, Lamartine,
Quando à noite no leito perfumado Alexandre Dumas, Goethe,
Quando à noite no leito perfumado Observe a “cena amorosa” criada Alfred de Vigny, Shelley, Cer-
no poema: o eu lírico descreve vantes, Chateaubriand e An-
Lânguida fronte no sonhar reclinas,
uma mulher que dorme. Ela é dré de Chénier, entre outros. A
No vapor da ilusão por que te orvalha apresentada de acordo com os presença de poetas ingleses e
Pranto de amor as pálpebras divinas? clichês ultrarromânticos (virginal,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

franceses entre os preferidos


rosto lânguido, expressão sonha-
de Álvares de Azevedo torna
dora, cabelos soltos).
E, quando eu te contemplo adormecida A aproximação e o beijo rouba- mais clara a influência euro-
Solto o cabelo no suave leito, do (terceira estrofe) acontecem peia em sua poesia.
Por que um suspiro tépido ressona com a donzela adormecida. Essa
condição é o que permite a aproxi- Explicar aos alunos, caso surja dúvida,
E desmaia suavíssimo em teu peito?
mação sem risco de concretização que epígrafe é a frase colocada no
do encontro amoroso. Enquanto início de um capítulo ou poema para
Virgem do meu amor, o beijo a furto ela dorme e sonha, ele nos fala resumir o sentido ou indicar a motiva-
sobre as suas fantasias, deixando ção da obra.
Que pouso em tua face adormecida
claro que é governado pela “febre
Não te lembra no peito os meus amores do sonhar”.
E a febre do sonhar de minha vida?

Dorme, ó anjo de amor! no teu silêncio


O meu peito se afoga de ternura
No apelo para que a virgem
E sinto que o porvir não vale um beijo permaneça adormecida, o eu líri-
E o céu um teu suspiro de ventura! co deixa entrever sua opção pela
fantasia. Ela não evita, porém, a
manifestação do desejo: ele afirma
Um beijo divinal que acende as veias, que o futuro vale menos que um
Que de encantos os olhos ilumina, beijo; o céu, menos que um suspiro
Colhido a medo como flor da noite de alegria da mulher amada.
Do teu lábio na rosa purpurina, Nas duas últimas estrofes, o eu
lírico, ao mesmo tempo em que
associa a manifestação física do
E um volver de teus olhos transparentes, amor ao medo (o beijo divinal é
Um olhar dessa pálpebra sombria, “colhido a medo”), afirma o desejo
de ter revividas as ilusões que
Talvez pudessem reviver-me n’alma animavam sua vida.
As santas ilusões de que eu vivia!
AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. In: Obra completa.
Organização de Alexei Bueno.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000. p. 133-134.
......................................................................

Na segunda parte da Lira dos vinte anos, o humor, a ironia e o sarcasmo


emergem com força.
Nesse contexto mais descontraído, o poeta cria cenas engraçadas que lembram
ao leitor que a realidade nem sempre colabora com os jovens apaixonados.

Segunda geração: idealização, paixão e morte 65

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......................................................................

Namoro a cavalo
[…]
Mas eis que no passar pelo sobrado,
Ontem tinha chovido... Que desgraça! Onde habita nas lojas minha bela,
Eu ia a trote inglês ardendo em chama, Por ver-me tão lodoso ela irritada
Mas lá vai senão quando uma carroça Bateu-me sobre as ventas a janela...
Minhas roupas tafuis encheu de lama...
O cavalo ignorante de namoros
Eu não desanimei. Se Dom Quixote Entre dentes tomou a bofetada,
No Rocinante erguendo a larga espada Arrepia-se, pula, e dá-me um tombo
Nunca voltou de medo, eu, mais valente, Com pernas para o ar, sobre a calçada...
Fui mesmo sujo ver a namorada...
[...]
AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos In: Obra completa.
Organização de Alexei Bueno. Rio de Janeiro:
Chris Hellier/Corbis/LatinStock–
Coleção Particular

Nova Aguilar, 2000. p. 242-243.


Tafuis: festivas, elegantes, exageradas. (Fragmento).
......................................................................

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Podemos ver, na veia sarcástica e irônica de poemas como esse, um
aviso de que o poeta das virgens lânguidas é capaz de tratar de assuntos
mais mundanos e explícitos.

Noite na taverna:
histórias de amor e morte
......................................................................
— Silêncio, moços! acabai com essas cantilenas horríveis! Não vedes
Doré, G. Dom Quixote e Sancho
que as mulheres dormem ébrias, macilentas como defuntos? Não sentis que
Pança. 1863. Gravura. Dom Quixote,
o intrépido cavaleiro que brandia sua o sono da embriaguez pesa negro naquelas pálpebras onde a beleza sigilou
espada contra terríveis monstros que os olhares da volúpia?
não passavam de moinhos de vento, é
mencionado neste poema por Álvares AZEVEDO, Álvares de. Noite na taverna. In: Obra completa.
de Azevedo para compor a triste Organização de Alexei Bueno. Rio de Janeiro:
figura do apaixonado que não mede Sigilou: selou. Nova Aguilar, 2000. p. 565. (Fragmento).
esforços para encontrar sua amada.
......................................................................

A cena de abertura das narrativas de Noite na taverna não poderia ser


mais explícita: em um cenário em que mulheres bêbadas dormem sobre as
mesas, um grupo de rapazes dá início ao relato de suas aventuras amorosas.
São eles Solfieri, Bertram, Gennaro, Claudius Hermann e Johann. Cada uma
dessas personagens irá assumir a voz narrativa para contar aventuras que
Dalila Luciana

envolvem o lado destrutivo, para os ultrarromânticos, do sentimento amo-


roso: o desejo carnal.
As histórias contadas não deixam dúvida sobre a lição final: o amor verdadeiro
só é possível após a morte.
Macário, a única peça de teatro escrita por Álvares de Azevedo, apresenta um
cenário muito semelhante ao de Noite na taverna. É em uma taverna, à noite,
que tem início o diálogo entre o estudante Macário e um estranho, que mais
tarde se apresenta como Satã. Essa obra, que mostra o interesse do autor por
temas satânicos, será estudada quando for apresentado o teatro romântico.
Ilustração de Di Cavalcanti
O conjunto da obra de Álvares de Azevedo é povoado por imagens de culpa
para Noite na taverna, de Álvares associadas à erotização do relacionamento amoroso, que simbolizam a obsessão
de Azevedo, edição de 1941. desse autor com o lado macabro da vida e do amor.

66 Capítulo 3

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Fagundes Varela:

Reprodução/AE
uma poesia de transição
Luís Nicolau Fagundes Varela (1841-1875) costuma ser associado aos autores da
segunda geração. Embora tenha aparecido tardiamente no mundo literário de São
Paulo, escreveu textos ultrarromânticos. O conjunto da sua obra, porém, traz alguns
poemas em que aparecem os primeiros sinais da preocupação com temas sociais.
Essa característica antecipa o traço fundamental que definirá os autores da terceira
geração romântica brasileira. Por esse motivo, é visto como um autor de transição.
Juiz de Direito, Fagundes Varela teve sua vida marcada por uma tragédia pessoal:
seu primeiro filho morreu com apenas três meses de vida. A dor provocada por essa
perda levou-o à vida boêmia e ao alcoolismo. Em homenagem ao filho, compôs um
de seus poemas mais conhecidos: “Cântico do calvário”. Leia a primeira estrofe.
...................................................................... Fagundes Varela. c. 1871.
Autor desconhecido.
Cântico do calvário
À memória de meu filho morto a l l de dezembro de 1863.
Eras na vida a pomba predileta
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Que sobre um mar de angústias conduzia


O ramo da esperança. — Eras a estrela
Que entre as névoas do inverno cintilava
Apontando o caminho ao pegureiro.
Eras a messe de um dourado estio.
Eras o idílio de um amor sublime.
Eras a glória, — a inspiração, — a pátria,
O porvir de teu pai! — Ah! no entanto,
Pomba, — varou-te a flecha do destino!
Astro, — engoliu-te o temporal do norte! Pegureiro: pastor.
Teto, — caíste! — Crença, já não vives! Messe: colheita.
[...]
VARELA, Fagundes. Poemas. Erechim: Edelbra. p. 212-213. (Fragmento).
......................................................................

Apesar de abordar os temas mais caros aos ultrarromânticos — solidão, morte,


inadaptação social­—, Fagundes Varela compôs alguns poemas em que a escra-
vidão é apresentada como uma injustiça social e uma ofensa à humanidade.

Texto para análise

O texto a seguir refere-se às questões de 1 a 3.

Texto 1

Noite na taverna
Bertram, uma das personagens sentadas na taverna sombria em que
se ambienta a novela ultrarromântica de Álvares de Azevedo, conta a “perdição”
a que foi levado pelo amor de uma mulher.
Um outro conviva se levantou. [...] os lábios no ardor dos vinhos e na moleza de seus
Esvaziou o copo cheio de vinho, e com a barba nas beijos, quem me fez devassar pálido as longas
mãos alvas, com os olhos de verde-mar fixos, falou: noites de insônia nas mesas de jogo, e na doidice
— Sabeis, uma mulher levou-me à perdição. Foi ela dos abraços convulsos com que ela me apertava o
quem me queimou a fronte nas orgias, e desbotou-me seio! [...]

Segunda geração: idealização, paixão e morte 67

II_cap_03_literatura_PNLEM_D.indd 67 28/05/10 3:10:41 PM


................................................. Um dia ela partiu; partiu, mas deixou-me os lábios
ainda queimados dos seus e o coração cheio do
Foi uma vida insana a minha com aquela mulher! Era
germe dos vícios que ela aí lançara. Partiu; mas sua
um viajar sem fim. [...]
lembrança ficou como um fantasma de um mau anjo
Nossos dias eram lançados ao sono como pérolas ao
perto de meu leito.
amor; nossas noites sim eram belas!
[...]
.................................................
AZEVEDO, Álvares de. Noite na taverna. In: Obra completa.
Organização de Alexei Bueno. Rio de Janeiro: Nova Aguilar,
2000. p. 571-573. (Fragmento).
......................................................................
Dalila Luciana

1. O que o narrador descreve como a “perdição” a que foi levado por uma
mulher?
2. Bertram atribui sua degradação moral a essa mulher. Quais expressões
se referem a ela e aos sentimentos do narrador?
> Que imagem de mulher é sugerida por essas expressões?
3. A construção dessa imagem de mulher contribui para ilustrar a visão
que os poetas da segunda geração têm do amor sexualizado. Qual é
essa visão?
Ilustração de Di Cavalcanti
> De que maneira o relato de Bertram deixa implícita a visão de amor

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
para a obra Noite na
taverna, edição de 1941. que será defendida pelos poetas ultrarromânticos?

O texto a seguir refere-se às questões de 4 a 6.

Texto 2

É ela! É ela! É ela! É ela!


Neste poema, Álvares de Azevedo trata de modo irônico o amor ultrarromântico.

É ela! é ela! — murmurei tremendo, Oh! de certo... (pensei) é doce página


E o eco ao longe murmurou — é ela! Onde a alma derramou gentis amores;
Eu a vi... minha fada aérea e pura — São versos dela... que amanhã de certo
A minha lavadeira na janela! Ela me enviará cheios de flores...

Maria Alice Camargo


Dessas águas-furtadas onde eu moro Tremi de febre! Venturosa folha!
Eu a vejo estendendo no telhado Quem pousasse contigo neste seio!
Os vestidos de chita, as saias brancas; Como Otelo beijando a sua esposa,
Eu a vejo e suspiro enamorado! Eu beijei-a a tremer de devaneio...
Esta noite eu ousei mais atrevido É ela! é ela! — repeti tremendo;
Nas telhas que estalavam nos meus passos Mas cantou nesse instante uma coruja...
Ir espiar seu venturoso sono, Abri cioso a página secreta...
Vê-la mais bela de Morfeu nos braços! Oh! meu Deus! era um rol de roupa suja!
Como dormia! que profundo sono!... Mas se Werther morreu por ver Carlota
Tinha na mão o ferro do engomado... Dando pão com manteiga às criancinhas
Como roncava maviosa e pura!... Se achou-a assim mais bela, — eu mais te adoro
Quase caí na rua desmaiado! Sonhando-te a lavar as camisinhas!
Afastei a janela, entrei medroso... É ela! é ela! meu amor, minh’alma, Águas-furtadas: espécies
Palpitava-lhe o seio adormecido... A Laura, a Beatriz que o céu revela... de sótão.
Fui beijá-la... roubei do seio dela É ela! é ela! — murmurei tremendo, “De Morfeu nos braços”:
Um bilhete que estava ali metido... E o eco ao longe suspirou — é ela! dormindo.
Mavioso: agradável aos
AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. In: Obra completa. Organização de Alexei ouvidos, melodioso.
Bueno. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000. p. 237-238. Cioso: com cuidado, zelo.
......................................................................

68 Capítulo 3

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4. Álvares de Azevedo tematiza, no poema, os sentimentos que tomam o
eu lírico ao ver a mulher amada.
Transcreva no caderno algumas passagens que remetem ao sentimen-
talismo característico da segunda geração romântica.
5. A situação descrita no poema remete a um tema recorrente na lírica Caso os alunos não saibam, explicar que
amorosa: a visão da mulher amada adormecida. Otelo é personagem de Shakespeare, da
peça de mesmo nome, que mata a sua
Escreva no caderno as passagens que indicam a idealização da cena e amada, Desdêmona, por ciúme.
da mulher amada. Werther é protagonista do romance Os
sofrimentos do jovem Werther, de Goethe,
a) Que elementos não correspondem à idealização característica da que simboliza o exagero ultrarromântico
segunda geração? ao se matar por não ter seu amor por Car-
lota correspondido. Um trecho do romance
b) Explique de que maneira esses elementos revelam uma postura é estudado no Capítulo 5, do volume 1.
irônica em relação ao lirismo exacerbado dos ultrarromânticos. Laura é musa do poeta italiano Petrarca,
cantada em seus versos.
6. Qual é a referência literária usada pelo eu lírico para justificar, ironica- Beatriz é a musa imortalizada pelo poeta
mente, o seu amor por uma mulher que não corresponde à imagem de italiano Dante Alighieri, em A divina
comédia.
musa ultrarromântica? Explique.

Ver, no Guia de recursos, orientações a respeito desta atividade.


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Jogo de ideias

Neste capítulo, você viu que o Ultrarromantismo se caracterizou


pela exacerbação dos sentimentos e pôde perceber que idealização,
paixão e morte se mesclam em textos arrebatados e, não raro, som-
brios. Viu, ainda, na “Trilha sonora” apresentada no capítulo, que o
rock gótico de alguns grupos da atualidade, como o Evanescence, faz
uma releitura desses sentimentos ultrarromânticos.
Essa tendência se verifica, também, nas letras melancólicas e, por
vezes, trágicas de algumas bandas brasileiras (NXZero, Fresno, Forfun,
etc.) e outras estrangeiras (Simple Plan, My Chemical Romance, Good
Charlotte, etc.), que unem, muitas vezes, a batida pesada de suas can-
ções a letras que falam de amor e perda.
Seria interessante explicar aos alunos
que, em geral, o tipo de música aprecia-
Para compreender melhor como os sentimentos ultrarromânticos e do pelos emos é denominado emocore
como o exagero que caracteriza a segunda geração influenciam, ainda por mesclar a batida hardcore com letras
românticas que retratam as angústias e
hoje, alguns grupos musicais e seus fãs adolescentes, você deverá selecio- os sentimentos dos adolescentes.
nar uma canção de uma banda que represente essa tendência musical,
mostrando de que maneira a música selecionada se relaciona à segunda
geração romântica.
Para cumprir essa tarefa, você deverá seguir os passos abaixo:
> selecionar uma canção de um grupo musical da atualidade que
apresente elementos, na sua letra, que possam ser relacionados
ao gosto ultrarromântico;
> apresentar a canção para os seus colegas, explicando, oralmente,
que elementos da letra (e/ou da melodia) da música permitem es-
tabelecer sua relação com os textos e os temas que caracterizaram
a segunda geração romântica.

Segunda geração: idealização, paixão e morte 69

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A tradição da segunda geração romântica:
o fascínio da morte

Byron: a morte
como libertação
No Ultrarromantismo, a morte exercerá um grande fascínio entre os poetas.
Byron será o primeiro a cantar a morte como o caminho que livra o indivíduo
da existência sem sentido, marcada pelo sofrimento. Em seus poemas, a morte é
apresentada como um anseio do sujeito. No trecho abaixo, o eu lírico afirma que
nascemos “para a dor”. A morte, portanto, é o momento do alívio.

......................................................................

Eutanásia
Quando o Tempo trouxer, ou cedo ou tarde,
Esse sono sem sonhos para me embalar,

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Sobre o meu leito de agonia possa, Olvido!
Tua asa langue levemente tremular.
[...]

Sem ter por perto carpidores oficiosos,


Deixai que a terra me recubra silencioso:
Que eu não tire à amizade uma só lágrima,
Que eu não estrague um só momento jubiloso.
[...]

“Ah! morrer todavia e ir-se para sempre!”


Aonde todos foram já ou devem ir!
Ser o nada que eu era, anteriormente
A nascer para a vida e para a dor curtir!

As alegrias conta que tuas horas viram,


Conta teus dias sem nenhum sofrer:
Thorvaldsens Museum, Copenhague

E sabe, não importa o que hajas sido,


É bem melhor não ser.

BYRON, George Gordon N. Poemas.


Organização e tradução de Péricles Eugênio da Silva Ramos.
São Paulo: Hedra, 2008. p. 93-95.

Olvido: esquecimento; personificado no poema,


porque é evocado pelo eu lírico.
Langue: lânguida, sensual.
Carpidores: pessoas que choram.
Jubiloso: de intensa alegria.
......................................................................

Os versos do poeta inglês encontraram eco na voz de


vários poetas brasileiros da segunda geração romântica,
sobretudo de Álvares de Azevedo.

Escultura em gesso com 174 centímetros de Byron feita por Bertel


Thorvaldsen e finalizada em 1834, no Trinity College, em Cambridge.

70 Capítulo 3

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O descanso de uma alma atormentada
A morte vista como o fim de uma vida sem alento também ganhou lugar na
poesia pré-modernista de Augusto dos Anjos. Nos versos do poeta, ela será a voz
que dirá ao eu lírico que o momento do desejado descanso para uma existência
atormentada enfim chegou.

......................................................................

A esperança
[...]
Muita gente infeliz assim não pensa;
No entanto o mundo é uma ilusão completa,
E não é a Esperança por sentença

Maria Alice Camargo


Este laço que ao mundo nos manieta?
[...]
E eu, que vivo atrelado ao desalento,
Também espero o fim do meu tormento,
Na voz da Morte a me bradar: descansa!
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

ANJOS, Augusto dos. Eu & outras poesias. Rio de Janeiro:


Civilização Brasileira, 1982. p. 111.
(Fragmento). Manieta: amarra, ata.
......................................................................

Uma prece
No poema do modernista Manuel Bandeira, o pedido para a chegada do fim
derradeiro vem em forma de prece. Para uma vida sem alegrias, o eu lírico roga
que lhe seja dado o que sempre buscou: uma boa morte.

......................................................................

Oração a Nossa Senhora da Boa Morte


[...]
Desenganei-me das outras santas Coleção Particular, São Paulo

(Pedi a muitas, rezei a tantas)


Até que um dia me apresentaram
A Santa Rita dos Impossíveis.
Fui despachado de mãos vazias!
Dei a volta ao mundo, tentei a sorte.
Nem alegrias mais peço agora,
Que eu sei o avesso das alegrias.
Tudo que viesse, viria tarde!
O que na vida procurei sempre,
— Meus impossíveis de Santa Rita —
Dar-me-eis um dia, não é verdade?
Nossa Senhora da Boa Morte!

BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira.


Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993. p. 154-155. Representação da Nossa Senhora
(Fragmento). da Boa Morte. Século XVIII.
...................................................................... Madeira policromada.

Segunda geração: idealização, paixão e morte 71

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Conexões

Para navegar
Devido à natureza dinâmica da internet, com milhares de sites sendo criados ou desativados dia-
riamente, é possível que alguns não estejam mais disponíveis. Alertar seus alunos sobre isso.

http://www.ibiblio.org/wm
O Webmuseum está no ar desde 1994 e oferece acesso a obras de arte por períodos históricos e estilos,
separando-os por país de origem. Há boas imagens de William Blake (1757-1827), artista notável do Romantismo
inglês, que registrava em seus quadros e poemas o místico e a emoção. O site também apresenta obras de
Caspar David Friedrich (1774-1840), romântico alemão. Em inglês.

http://www.musopen.com/music.php
Site em inglês com grande acervo de músicas organizadas por compositor, intérprete, instrumento, período
e formas musicais. Há composições de Beethoven que exemplificam o gosto ultrarromântico por sentimentos
melancólicos, como a Sonata patética (Sonata no 8 in C Minor “Pathétique”, Op. 13) e a Sonata ao luar (Sonata
no 14 in C Sharp Minor “Moonlight”, Op. 27). Também a Polonaise (Polonaise in A Flat Major, Op. 53), de Chopin,
ilustra bem o arrebatamento da segunda geração romântica. Além disso, Scenes from a Childhood (Scenes from
a Childhood, Op. 15), de Robert Schumann, compostas como resgastes de momentos da infância, permitem
uma interessante relação com o saudosismo de Casimiro de Abreu.

http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.jsp

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O site Domínio Público disponibiliza, para aqueles que o consultam, uma biblioteca virtual que permite o
acesso à obra de Álvares de Azevedo, o principal autor da segunda geração romântica brasileira. Lá estão Lira
dos vinte anos, Macário, Noite na Taverna, Poemas malditos e Poemas irônicos, venenosos e sarcásticos.

Para ler e pesquisar

Contos fantásticos do século XIX: o fantástico visionário e o fantástico cotidiano,


de Italo Calvino (Org.).

reprodução
São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
Essa seleção de contos do século XIX, realizada pelo escritor Italo Calvino, reúne os
mais importantes nomes da narrativa curta em tempos românticos. Nessa obra, estão
os narradores e personagens que povoaram o imaginário literário de mistério, som-
bras, paixões avassaladoras, reações intempestivas, ciúmes, vinganças e toda a sorte
de pesadelos e desencantos amorosos. Hoffmann, Edgar Allan Poe, Christian Andersen,
Stevenson, Henry James, Walter Scott estão entre os nomes indicados por Calvino e que
tanto influenciaram a segunda geração romântica brasileira.

Retrato do amor quando jovem, de Décio Pignatari.


São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
Organizado por Décio Pignatari, o livro apresenta um panorama do amor jovem ao longo de cinco séculos,
através das obras de grandes nomes da literatura universal, como Dante, Shakespeare e Goethe.
O cavaleiro das trevas, de Frank Miller.
São Paulo: Abril/DC Comics, 1986.
História em quadrinhos responsável pela reformulação da triste e vingativa figura de Batman, o homem-
-morcego, habitante da sugestiva Gotham City, criado em 1939 por Bob Kane, Bill Finger e Jerry Robinson. Órfão
desde muito cedo, na versão de Frank Miller, seguida por muitas outras de igual inclinação romântica, esse
herói sombrio carrega em sua alma a certeza de que uma dor gerada pela perda de pessoas amadas jamais
poderá ser superada. O ambiente soturno que caracteriza as produções da segunda geração romântica poderá
ser reconhecido nas falas e desenhos dessa HQ.

72 Capítulo 3

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Seria aconselhável assistir aos filmes, antes de apresentá-los aos alunos,
para avaliar se são compatíveis com o grau de maturidade da turma.

Para assistir
Crepúsculo, de Catherine Hardwicke.

reprodução
EUA, 2008.
Nessa versão moderna de uma história de amor impossível, vemos a idealização amorosa
personificada no sentimento que une um casal adolescente. Edward Cullen, um rapaz bas-
tante reservado, foi transformado em vampiro quando tinha 17 anos de idade. Misterioso
e distante, esconde o seu segredo de todos os que frequentam o colégio em que estuda.
Mas, quando a jovem Bella chega à escola, ele imediatamente se apaixona por ela e eles
acabam se aproximando. A garota corresponde e, indo contra todos os receios dele, não se
afasta quando descobre que seu amado é um vampiro. Ele, por outro lado, sabe que esse
relacionamento pode colocar a vida de Bella e de todos que ama em grave risco.

Um amor para recordar, de Adam Shankman.


EUA, 2002.

reprodução
Nesse filme, uma comovente história de amor revela a relação tão cara aos ul-
trarromânticos entre esse sentimento e a morte. Landon é um rapaz popular e
rebelde que, depois de uma brincadeira de mau gosto que termina com um sério
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

acidente com um jovem do colégio, é punido pela direção da escola. Seu castigo será
participar de uma peça teatral. Nos ensaios, ele conhece Jamie, uma garota estudio-
sa e tímida que jamais imaginou ter qualquer contato com Landon. A convivência
entre eles faz despertar um sentimento poderoso que transforma o rapaz. Mas Ja-
mie faz de tudo para não se render a esse amor. Landon não consegue compreendê-
-la até que descobre que sua amada está com uma doença fatal. Então, ele fará de tudo
para que esse amor “seja eterno enquanto durar”.

Doce novembro, de Pat O’Connor.

reprodução
EUA, 2001. O filme apresenta cenas de sexo.
Nesse filme, vemos a força transformadora do amor e a impossibilidade desse sentimento
durar para sempre em razão de uma fatalidade. O atarefado executivo Nelson Moss vê sua
vida se transformar radicalmente quando, ao renovar sua licença de motorista, conhece
Sara Deever. A moça, disposta a viver cada momento de sua vida intensamente, não se
conforma com o fato de Nelson só pensar em trabalho. Convence-o, então, a passar o mês
de novembro com ela, sem qualquer compromisso sério, para que ele perceba como a
vida tem muito mais a oferecer. O executivo, então, passa a ter seus dias preenchidos por
romantismo e se apaixona perdidamente por Sara. Mas esse amor não pode durar para
sempre, porque a sua amada tem uma doença terminal e, por isso, resolveu viver cada
momento como se fosse o último.

Para ouvir

Ao vivo: o tempo não para, de Cazuza.


Rio de Janeiro: Universal, 1999.
A música “Exagerado”, de Cazuza, evoca o romantismo exacerbado dos poetas da segunda geração. O ideal de amor
eterno e o exagero sentimental estão presentes nessa canção, estabelecendo um interessante diálogo com a poesia
que caracterizou o chamado “mal do século”.

Prelúdios (Opus 28), de Frédéric Chopin.


Chopin é considerado, na música, aquele que melhor representa a geração ultrarromântica. Os 24 prelúdios do com-
positor são considerados o ponto mais alto do Romantismo e sua obra mais perfeita, em que se destaca a genialidade
do músico ao conseguir expressar toda a sua individualidade através das notas dessa partitura.

Segunda geração: idealização, paixão e morte 73

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