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GLOSSÁRIO
C bulação por entre os meandros da
interioridade, nas suas mais pro-
Cantiga: composição curta, geralmente em versos de redon- fundas dimensões.
dilha maior, alternando com redondilha menor, dividida em
mote e glosa de oito a dez versos. O assunto da cantiga
renascentista é invariavelmente o amor, a ausência e o sofri-
P
Petrarquismo: fenómeno de mode-
mento único do homem. lização que se processa a partir da
G obra de Francesco Petrarca, alar-
gou-se às literaturas de toda a Europa
Glosa: estrofe que recupera e explica um determinado e para além delas, tendo também reper-
tema apresentado num mote, que é colocado no início do cussões nas artes plásticas, na música, no
poema e do qual se pode repetir um ou mais versos em pensamento, na �lologia, no plano antropológico,
posição certa, como um refrão. na produção editorial […]. No que diz respeito à litera-
Inicialmente, fazia parte de composições poéticas breves, tura, dominou o lirismo ao longo dos períodos que vão do
como o vilancete, que apresentava uma ou mais glosas de Renascimento até ao Neoclassicismo, com ecos que se
sete versos, ou como a cantiga, que apresentava uma glosa estendem até aos nossos dias. […] A mulher é envolvida
de oito ou dez versos. por um halo angelicado, que dela faz uma presença serena
A glosa continuou a sofrer transformações durante a Renas- e grati�cante.
cença, começando a ser constituída por um mote de qua-
tro versos que lhe servia de introdução e quatro estrofes de Platonismo: doutrina do �lósofo grego Platão […], carac-
dez versos, cujo último verso era a repetição de cada um terizada especialmente pela conceção de que as ideias
dos versos do mote inicial, mantendo a medida velha. eternas e transcendentes originam todos os objetos mate-
riais, e que a contemplação dos seres suprassensíveis
L determina parâmetros de�nitivos para a excelência no
comportamento moral […]. Por extensão, o amor platónico
Locus amoenus : expressão latina que designa a paisagem
identi�ca-se pela castidade e idealidade. Segundo Platão,
ideal, sempre presente na poesia amorosa em geral e, com
o amor mundano e carnal pode tornar-se, através da medi-
maior incidência, na poesia bucólica.
tação �losó�ca, uma afeição contemplativa por realidades
No espaço literário português, no que diz respeito à poe-
suprassensíveis. Em termos �gurados, pode dizer-se que o
sia de inspiração bucólica, encontramos Sá de Miranda
amor platónico é amor à distância, frequentemente incon-
(1481-1558) e Diogo Bernardes (1520-1605), que, in�uen-
fesso e idealizado.
ciados pelos clássicos greco-latinos e por outros seus con-
temporâneos, como é o caso de Petrarca, e ainda pelo
lirismo galaico-português, apresentam na sua produção
V
literária o ideal da comunhão com a natureza, que assume Volta: estrofes ou glosas que desenvolvem o conteúdo do
papel de con�dente. mote nas composições em medida velha.

M
Mote: mote, moto ou cabeça é o verso ou pequeno con-
junto de versos, que encabeça o poema, geralmente com
três versos, sobre os quais os poetas glosam as suas canti-
gas ou vilancetes.

N
Neoplatonismo: escola �losó�ca alexandrina que surgiu no
Bibliogra�a/Webgra�a do Glossário
século II. […] O neoplatonismo penetra em toda a cosmo-
António José Saraiva e Óscar Lopes, História da literatura portuguesa ,
visão renascentista, enquanto sustentáculo de um sistema 17.ª edição, Porto, Porto Editora, 1996
de correspondências que liga o homem a Deus e ao uni-
Carlos Ceia (org.), E-dicionário de termos literários  (disponível em http:// 
verso. Petrarca seguiu e fez a apologia do pensamento de www.edtl.com.pt)
Platão […]. […] O neoplatonismo dos [vários] pensadores Dicionário Houaiss da língua portuguesa , Instituto Antônio Houaiss de
italianos do Renascimento implica um movimento circular Lexicogra�a, Lisboa, Temas e Debates, 2005
duplo, mas vertical, que de Deus desce até ao homem e do Massaud Moisés, Dicionário de termos literários , 12.ª edição, São Paulo,
homem ascende até Deus. A Camões, o neoplatonismo não Cultrix, 2004
oferece possibilidades de elevação. […] À impossibilidade Vítor Aguiar e Silva (coord.), Dicionário de Luís de Camões , Alfragide,
de atingir um estádio grati�cante, corresponde a deam- Editorial Caminho, 2011
208 Unidade 4 // LUÍS DE CAMÕES

Grupo I

FICHA A
Lê atentamente o seguinte poema e depois responde aos itens que se seguem, de forma
FORMATIVA clara e bem estruturada.

Eles verdes são


a este moto alheio:
COTAÇÕES
Minina dos olhos verdes,
Grupo I porque me não vedes? 
A
Voltas Haviam de ser,
1. 15 pontos porque possa vê-los,
Eles verdes são,
2. 15 pontos que uns olhos tão belos
e têm por usança
3. 15 pontos não se hão de esconder;
5 na cor, esperança 20

4. 15 pontos e nas obras, não. mas fazeis-me crer


B Vossa condição que já não são verdes,
5. 40 pontos não é d’olhos verdes, porque me não vedes.
100 pontos porque me não vedes.
Verdes não o são
10 Isenções a molhos 25 no que alcanço deles;
que eles dizem terdes, verdes são aqueles
PROFESSOR não são d’olhos verdes, que esperança dão.
Grupo I Se na condição
nem de verdes olhos.
A
Sirvo de giolhos, está serem verdes,
1. O mote relaciona-se com o con-
teúdo das voltas da cantiga, pois 15 e vós não me credes, 30 porque me não vedes?
apresenta o tema que aí será desen- porque me não vedes.
volvido. Neste caso, apresenta o Luís de Camões, op. cit., pp. 17-18
tema a desenvolver nas voltas: a
ignorância e o desprezo por parte da
«minina» dos olhos verdes face ao 1. Relaciona o conteúdo do mote com o assunto desenvolvido nas voltas.
sujeito poético.
2. A contradição reside no facto de os 2. Explicita a contradição presente nos quatro primeiros versos da primeira volta.
olhos verdes sugerirem esperança,
mas nas «obras», nos atos, tal não
acontecer.
3. Apresenta um sentido para o verso «Sirvo de giolhos » (v. 14).
3. Esta expressão sugere a rendição
4. Atenta nas terceira e quarta voltas e refere porque é que o sujeito poético põe em
completa, por amor, do sujeito poé-
tico à «minina». causa a cor dos olhos da «minina ».
4. Como a «minina » não lhe dá espe-
rança de correspondência no amor,
isso significa que não o «vê», logo
os seus olhos não podem ser olhos
verdes: «mas fazeis-me querer / que
 já não são verdes, / porque me não
vedes » (vv. 21-23).
2
Índice geral
Unidade 0 Diagnose e projeto de leitura
pp.

12 Avaliação diagnóstica 18 Projeto de leitura

Unidade 1 Poesia trovadoresca


pp. EDUCAÇÃO LITERÁRIA pp. GRAMÁTICA pp. ORALIDADE
22 Mensagens cruzadas Classes e subclasses de Apreciação crítica:
31
palavras Mixórdia de temáticas ,
24 Contextualização histórico-literária 35 «Níveis prejudiciais de
Cantigas de amigo 35 Funções sintáticas amor»,
Ricardo Araújo Pereira
30
«Ondas do mar de Vigo»
Martim Codax 37
Tempos e modos verbais. Compreensão:
44
Processos fonológicos Anúncio publicitário
34
«Ai �ores, ai �ores do verde pino»
D. Dinis Fonética e fonologia. Apreciação crítica:
38
Processos fonológicos 45 «A idade média está na
«Levad’, amigo que dormides as (inserção, supressão e moda»
36 manhanas frias» alteração)
Nuno Fernandes Torneol Apreciação crítica:
Classes de palavras. O país onde a maledicência
«Bailemos nós já todas tres, 61
41 Tempos e modos verbais. é melhor que o silêncio ,
40 ai amigas» Lexicologia: arcaísmo Mariana Seruya Cabral
Airas Nunes
45
Tempos e modos verbais.
Cantigas de amor Adjetivos pp. ESCRITA
48
«Proençaes soem mui bem trobar»
D. Dinis 49
A frase complexa: Exposição sobre um tema:
coordenação e subordinação. 42 Piropo , Miguel Esteves
48
«Quer’eu em maneira de proençal» Cardoso (crónica)
D. Dinis 51
Processos fonológicos.
Formas verbais Apreciação crítica:
50
«Se eu podesse desamar» 52 O beijo , Francisco García
Pero da Ponte Funções sintáticas. Lorca (desenho)
59 Classes e subclasses de
Cantigas de escárnio e maldizer palavras
pp. LEITURA
56
«Ai, dona fea, fostes-vos queixar» O português: génese,
João Garcia de Guilhade variação e mudança. Exposição sobre um tema:
«Roi Queimado morreu 64 Principais etapas da 54
O rei que refundou
58 com amor» formação e evolução do Portugal , Luís Miguel
Pero Garcia Burgalês português Queirós

60
«Quen a sesta quiser dormir»
Pero da Ponte

68 Mensagens de hoje 69 Glossário 70 Ficha formativa


3

Unidade 2 Fernão Lopes – Crónica de D. João I 

pp. EDUCAÇÃO LITERÁRIA pp. GRAMÁTICA pp. ORALIDADE


76 Mensagens cruzadas 85
A frase complexa: Apresentação: «O meu 25
coordenação 86 de abril», Francisco Sousa
78
Contextualização Tavares (crónica)
histórico-literária 88
Predicativo do
complemento direto
pp. ESCRITA
Crónica de D.João I
93
Funções sintáticas.
A frase complexa 94
Exposição sobre um tema:
«Do alvoroço que foi na cidade «Fome e miséria»
cuidando que matavom Processos irregulares de
83 o Meestre, e como aló foi 98 Apreciação crítica:
formação de palavras 98
Alvoro Paaez e muitas «Manifestação cultural»
gentes com ele»
pp. LEITURA
«Das tribulações que Lixboa
Apreciação crítica: «A estranha
90 padecia per mingua de 97 vida de Steve Jobs»,
mantiimentos»
João Pedro Pereira

100 Mensagens de hoje 101 Glossário 102 Ficha formativa

Unidade 3 Gil Vicente – Farsa de Inês Pereira 

pp. EDUCAÇÃO LITERÁRIA pp. GRAMÁTICA pp. ORALIDADE


108 Mensagens cruzadas 119
Fonética e fonologia. 128
Apreciação crítica:
Processos fonológicos Cartoon 
110
Contextualização
histórico-literária 124
Frases complexas: 152
Reportagem: «Educação:
coordenação e subordinação de iletradas a superletradas»
Farsa de Inês Pereira 
128 Funções sintáticas
«Sem casamento, que pp. ESCRITA
117
enfadamento…» 129 Complemento do nome Apreciação crítica: Excerto do
124
«Pretendente apresentado e Processos fonológicos. programa 5 para a meia-noite 
120 139
logo rejeitado…» Funções sintáticas Exposição sobre um tema:
«Aparece um escudeiro e é Do português antigo ao 136 A relevância do espaço na
126
solteiro…» português contemporâneo. Farsa de Inês Pereira 
146
«Casamento celebrado, Tempos e modos verbais. Exposição sobre um tema:
132 Funções sintáticas. 140 A construção do tempo
casamento frustrado?»
na A Farsa de Inês Pereira 
137
«Que casamento e que
tormento!» Exposição sobre um tema:
146 «A farsa de Inês Pereira , crítica
142 «Bem casar para livre estar…» de costumes»

154 Mensagens de hoje 155 Glossário 156 Ficha formativa


4

Unidade 4 Luís de Camões, Rimas 

pp. EDUCAÇÃO LITERÁRIA pp. GRAMÁTICA pp. ORALIDADE


162 Mensagens cruzadas Funções sintáticas. Apreciação crítica:
172 A frase complexa: 174 «Se eu fosse um dia o teu
164
Contextualização subordinação olhar», Pedro Abrunhosa
histórico-literária
A frase complexa: coordenação Exposição sobre um tema:
A representação da amada 174
e subordinação. «Estâncias na medida velha
Funções sintáticas. que têm duas contrariedades:
170 «Leva na cabeça o pote» Campo lexical 180 louvando e deslouvando uma
dama», análise e comparação
171 «Posto o pensamento nele» 175
Campo lexical e campo de «[Vós] sois a Dama» e «De
semântico
grão merecer», Luís de Camões
173 «A verdura amena» 177 Campo semântico
Apresentação:
176 «Aquela cativa» Funções sintáticas. «Amor é um fogo que arde sem
179
A frase complexa: subordinação 183 se ver», de Luís de Camões e
178
«Um mover d’olhos brando versão musicada do mesmo
e piadoso» Classes de palavras. poema, Polo Norte
183 Processos regulares
A experiência amorosa de formação de palavras Exposição sobre um tema:
e a re�exão sobre o Amor 186 «A Gaivota dos Alteirinhos»,
Funções sintáticas. Jorge Palma
182
«Tanto de meu estado me acho A frase complexa:
incerto» 186 coordenação.
«Pede o desejo, Dama, que vos Classes de palavras.
182 Pronominalização
veja»
A representação da natureza 189
A frase complexa:
subordinação
pp. ESCRITA
185
«Alegres campos, verdes Funções sintáticas.
arvoredos» Conectores frásicos. Exposição sobre um tema:
192 Processos regulares de Leitura comparativa entre
A re�exão sobre a vida pessoal formação de palavras. «Ondas do mar de Vigo»,
172
Étimo Martim Codax, e «Posto o
«Erros meus, má fortuna, amor
188 pensamento nele», Luís de
ardente» Étimo, palavras divergentes Camões
194
e convergentes
188
«O dia em que eu nasci, moura Exposição sobre um tema:
e pereça» 197 Funções sintáticas 177
Belle , Amma Asante (�lme)

O desconcerto do mundo 199 Complemento do adjetivo Exposição sobre um tema:


Principais etapas da formação 189 «O erro, o arrependimento
191 «Os bons vi sempre passar» 203 e as consequências»
e da evolução do português
Apreciação crítica:
A mudança «O futuro das nossas
197
crianças», Trayko Popov
196
«Mudam-se os tempos, (cartoon )
mudam-se as vontades»
Síntese: «Camões tornado
201 carne», Raquel Ribeiro
(notícia)

206 Mensagens de hoje 207 Glossário 208 Ficha formativa


5

Unidade 5 Os Lusíadas 

pp. EDUCAÇÃO LITERÁRIA pp. GRAMÁTICA pp. ORALIDADE


214 Mensagens cruzadas Complemento do nome. Apreciação crítica:
223 A frase complexa: 235 Anibaleitor , Rui Zink
217 A epopeia: natureza da obra subordinação (romance)
Os Lusíadas 
226 Funções sintáticas Síntese: Uma geração (des) 
Constituição da matéria épica: 238 interessada , Teresa
Teresa Camarão
Camar ão
222
canto I, ests. 1 a 3 (Proposição) Funções sintáticas. (documentário)
Constituição da matéria épica: 230
Campo lexical. Anúncio publicitário: «Azeite
226 Arcaísmos e neologismos. 251
canto I, ests. 4 e 5 (Invocação) Gallo – Poema»
Hiperonímia e hiponímia
228
Constituição da matéria épica:
canto I, ests. 6 a 18 (Dedicatória) Campo lexical.
232 Classes de palavras.
Re�exões do poeta: canto I, ests. Antonímia
231 105 e 106  («Bicho da terra tão
pequeno») A frase complexa:
pp. ESCRITA
subordinação.
Re�exões do poeta: canto V, ests. Processos fonológicos.
233 92 a 100 (Partida de Vasco da 235
Processos regulares 230
Exposição sobre um tema:
Gama) e irregulares de formação «A importância do sonho»
Re�exões do poeta: canto VII, de palavras Exposição sobre um tema:
237 ests. 78 a 87  (Ninfas do Tejo e do A ambição humana;
Mondego) 239 Arcaísmo e neologismo «O homem, bicho da Terra
232
tão pequeno», Carlos
Re�exões do poeta: canto VIII, 255 Processos fonológicos Drummond de Andrade
240 ests. 96 a 99  (O poder corrupto
(poema)
do dinheiro) Arcaísmos.
Constituição da matéria épica/ A frase complexa: 241
Apreciação crítica:
 /miti�cação do herói: canto IX ests. subordinação. Cartoon , Luís Afonso
244 259
52-53 e 66 a 70  (A chegada à Ilha Campo semântico.
Palavras divergentes. Exposição sobre um
dos Amores)
Funções sintáticas tema: Comparação entre
Re�exões do poeta: canto IX, ests. 259 Os Lusíadas , de Luís de
248 88 a 95 (A Ilha dos Amores e a 267 Funções sintáticas Camões, e Troia , �lme de
imortalidade) Wolgang Petersen
Constituição da matéria épica: 269
Do português antigo ao Síntese: Sob o signo do
254 canto X, ests. 75 a 79  (A Máquina português contemporâneo 262 Império , J. Oliveira Macêdo
do Mundo) (ensaio, excerto)
Constituição da matéria épica:
256 canto X, ests. 80 a 91  (A Máquina
do Mundo)
Re�exões do poeta: Canto X, ests. pp. LEITURA
260 145 a 156  (Lamentações e profecia
de futuras glórias nacionais)
Artigo de divulgação
266 cientí�ca: «Como se faz um
campeão»

274 Mensagens de hoje 275 Glossário 276 Ficha formativa


6

Unidade 6 História trágico-marítima 

pp. EDUCAÇÃO LITERÁRIA pp. GRAMÁTICA pp. ORALIDADE


282 Mensagens cruzadas 287 Funções sintáticas Documentário: Caravelas e
288 naus – um choque tecnológico
A literatura de catástrofe: a Campo lexical e campo no século XVI 
284 298 semântico; arcaísmos e
História trágico-marítima 
neologismos Síntese: «A milionária cadeia
Literatura de viagens 294 da pirataria na Somália»,
Gabriel Bonis (artigo)
285
«O início da aventura do herói
Albuquerque»
«Um duplo ataque: os pp. LEITURA pp. ESCRITA
290
corsários e a natureza»
Relato de viagem: «Marrocos, Apreciação crítica: História
295
«Acabam-se os trabalhos: a 301 uma comarca exótica», Tiago 298 trágico-marítima , Helena
justa recompensa» Salazar Vieira da Silva (pintura)

304 Mensagens de hoje 305 Glossário 306 Ficha formativa

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