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AULA 1 - HISTÓRIA DO BRASIL

AMÉRICA PORTUGUESA
Antecedentes
A crise do século XIV é um sinônimo de crise do feudalismo e da crise da Idade Média.
Logo após a queda do Império Romano do Ocidente no século V, aconteceu uma
desestabilização das grandes cidades devido à ausência de Estado. As pessoas migraram para o
campo onde encontram proteção em troca de trabalho. Surgia a figura do senhor feudal. A
Europa passava por um processo de ruralizarão e dividiu-se em vários feudos.
Nessa época, o rei era mais um senhor feudal - ele era o suserano dos suseranos.
Tratava-se de um sistema com descentralização política. No campo econômico,
apresentava um sistema agrário fechado (todo o necessário para subsistência era produzido no
interior do feudo), havia poucas trocas comerciais e cada feudo tinha sua própria moeda. O
único traço de união na Europa era a Igreja. A sociedade era estamental, dividia-se em clero,
nobres e massa.
A partir do século XI, surgiram alguns problemas. As técnicas de produção melhoraram
e começou a haver excedente; esses passaram a ser comercializados nos burgos (espécies de
feiras). Houve, também, as cruzadas que tinham o objetivo de reconquistar a terra santa. Nessas
guerras, a Europa entrou em contato com as especiarias que passaram a ser comercializadas nos
burgos.
No século XIV, houve a peste negra que dizimou parte da população. Iniciaram-se
guerras para conquistar outros feudos que não tinham sido afetados pelas pestes. As mortes
causaram uma crise demográfica que acarretou uma queda na produção.
A ordem viria por meio da criação do Estado Moderno Europeu - Antigo Regime. O rei
conseguiu dois apoios fundamentais para se fortalecer e controlar o caos: o da nobreza feudal
(que estava amedrontada pelas revoltas campesinas) e o da burguesia (classe que estava
nascendo). Criou-se uma moeda e um imposto único que facilitavam o comércio.
Alguns reis aliaram-se a Igreja para se fortalecer (como na Espanha e em Portugal) e
outros afastaram-se (como na Inglaterra).
Passou a existir uma monarquia absolutista caracterizada pelo poder centralizado nas
mãos dos reis. (Luis XIV é o símbolo do absolutista.) A teoria do direito divino dos reis, a
interpretação encontrada em O Príncipe de Maquiavel e a teoria de Thomas Hobbes (que dizia
que o estado de natureza era de constante conflito, e por isso de forma consciente, por meio de
um pacto político, o homem entregava seu poder ao rei) justificam a concentração de poder nas
mãos do rei.
A economia caracterizou-se pelo mercantilismo. Esse termo foi criado pelos iluministas
e consistia no conjunto de práticas econômicas utilizadas pelo Estado moderno europeu. Suas
características eram:
 intervencionismo estatal;
 protecionismo alfandegário;
 industrialismo.

Uma das principais práticas do mercantilismo era a busca por colônias implementando
o exclusivo (ou pacto) colonial. A palavra pacto traz a ideia de um acordo entre duas partes. A
relação entre metrópole-colônia era mais maleável que pensamos. A palavra exclusivo traz a
ideia de que a economia da metrópole estava submetida ao interesse da metrópole.
Foi nesse contexto que tivemos a expansão marítima - conjunto de grandes navegações
mercantilista.
Um dos fatores que fomentaram a expansão marítima foi a expansão da fé (tirar os
muçulmanos do norte da África).
A partir da conquista de Constantinopla pelos turcos otomanos, houve dificuldade para
a aquisição de especiarias por parte da Europa. Surgiu, então, a ideia de buscar uma rota
alternativa para chegar as Índias e conseguir especiarias.
Outro fator foi a fome monetária - necessidade de metais para cunhar moedas para
suprir a ascensão do comércio.
A expansão marítima foi possível graças a figura do rei. O rei financiava as grandes
navegações (à nobreza prometia terras no além-mar, à Igreja prometia a expansão da fé e à
burguesia a ampliação da rota de comércio). Os avanços técnicos (astrolábio, caravela, nau,
galeão) e o espírito aventureiro também possibilitaram essa empreitada.
O pioneiro das grandes navegações foi Portugal devido à localização geográfica
favorável, à tradição náutica (ligada à pesca do bacalhau em alto mar) e ao fato de Portugal ter
sido o primeiro Estado moderno a se formar. A Espanha também entrou na expansão marítima
antes mesmo de estar formada como Estado. A conquista de Celta em 1415 foi o pontapé inicial
para a expansão portuguesa.
O projeto português era do périplo africano - contornar o continente africano e chegar
as Índias.
Nesse contexto das grandes navegações, portugueses e espanhóis acertaram a divisão
do mundo em áreas de influência. O primeiro tratado foi de Alcáçovas-Toledo (1479-80) no qual
se dividiu o mundo em norte e sul tendo como marco as Ilhas Canárias.

Colombo chegou a América financiado pela Espanha, mas seu objetivo era circunavegar
a Terra para chegar as Índias. Era necessário um novo tratado.
A Bula Intercetera (1443), feita por arbitragem do papa Alexandre VI, estabeleceu o
marco divisor 100 léguas a oeste de Cabo Verde: o que estava a oeste era espanhol e o que
estava a leste era português. Portugal discordou e conseguiu ampliar de 100 para 370 léguas
firmando assim o Tratado de Tordesilhas em 1494.
Sobre a Ásia, foi feito o Tratado de Saragoça em 1520.

Período Pré-colonial
Esse período é assim chamado porque não havia um projeto de colonização. Entre 1500-
1530, o Brasil era um entreposto porque o principal objetivo era chegar ao oriente.
Não havia interesse na colonização porque Portugal tinha um lucro gigantesco no
comércio oriental e aparentemente não havia metais preciosos na Colônia.
Desenvolveram-se algumas atividades aqui como o escambo com indígenas. Essas
trocas aconteciam nas feitorias1.

1O forte tinha uma função de defesa do território, já a feitoria tinha dupla função: defesa e armazenamento de produtos. A
primeira feitoria foi a de Cabo Frio fundado por Américo Vespúcio em 1503.
Também foram feitas expedições para o interior do território chamadas de entradas e
bandeiras.
Em 1530, o rei português encomendou um projeto de colonização a Martim Afonso de
Sousa. Esse projeto foi encomendado devido aos vários ataques estrangeiros que havia (lógica
de ocupar para não perder) e à queda do comércio oriental.
AULA 2 - HISTÓRIA DO BRASIL
AMÉRICA PORTUGUESA
Administração
O território foi dividido em capitanias hereditárias que eram demarcadas de acordo com
os acidentes geográficos do litoral. O protagonista desse sistema era o donatário. A ideia era
distribuir a terra entre os principais nobres de Portugal e a eles caberia o ônus da colonização;
todavia, os grandes nobres rejeitaram a proposta. Então, a terra foi dada aos fidalgos de segunda
escala e aos militares.
A Carta de Doação vinha acompanhada do primeiro documento jurídico brasileiro, o
Foral, que previa todos os direitos e deveres os donatários.
As sesmarias eram uma subdivisão das capitanias hereditárias (mediam seis léguas por
seis léguas). Para muitos, a partir daí iniciou-se o processo de concentração fundiária no Brasil.
O sistema de capitanias hereditárias foi um fracasso na maioria dos casos. Dentre os
motivos, podemos citar:
 a distância de Portugal que levou à falta de comunicação com a metrópole;
 a vasta extensão das capitanias;
 os ataques indígenas que prejudicaram a colonização;
 a falta de interesse de muitos donatários que sequer chegaram a vir ao Brasil;
 a falta de apoio da Coroa portuguesa.

Por outro lado, algumas capitanias deram certo. As capitanias de Pernambuco e São
Vicente foram bem-sucedidas, tiveram plantação de cana-de-açúcar e atraíram pessoas.
Portugal tentou recuperar as capitanias que fracassaram instituindo um governo geral.

Governo Geral (1548)


Foi uma tentativa de centralização administrativa. Portugal transformou as capitanias
que deram errado em capitanias reais. (As capitanias hereditárias só acabaram com Marquês de
Pombal.)

Nesse momento, Salvador era a capital. Os principais órgãos eram:


 bispado da Bahia (1555): um órgão para moralizar e organizar a ação do clero na Colônia;
 tribunal da relação (1606): órgão colonial para cuidar de pequenas questões jurídicas, o
ouvidor-mor era o responsável;
 conselho de vereança ou câmaras municipais (1609): eram os principais órgãos políticos
da Colônia, nelas havia um conflito entre descentralização e centralização e discutiam-
se os impostos, as obras públicas. Somente os ‘homens bons1’ podiam participar, era
um local exclusivo para a elite colonial.

Economia
O principal produto do Brasil colonial era o açúcar. O açúcar foi escolhido porque tinha
status de especiaria, e por isso era lucrativo; além disso, Portugal já havia tido experiências
anteriores com o cultivo da cana nas ilhas atlânticas. O solo massapê e o clima tropical também
eram favorável à tal atividade.
A principal unidade produtiva era o engenho de açúcar formado pela lavoura, casa
grande, senzala, moenda2 e casa de purgar (onde se transformava o caldo em melaço).
As propriedades eram plantations: latifúndio monocultor escravista. No primeiro
momento, a escravidão era indígena. Na América Portuguesa a quantidade de índios não era tão
grande quanto a da América Espanhola. Houve várias mortes devido ao choque bacteriológico.
Muitos índios migraram para o interior do país (eram seminômades). E muitos dos capturados
resistiam ao trabalho devido a questão cultural. A Igreja protegia os índios permitindo a
escravização apenas daqueles que resistiam à catequese - conceito de guerra justa. Durante
todo o período colonial, houve escravização indígena sendo ela permitida ou não.
A escravidão africana remonta ao século IX. Ela gerava grandes lucros à Coroa. (O tráfico
negreiro foi o que mais rendeu dinheiro a Portugal). A Igreja permitia a escravidão do negro
alegando que escravo não tinha alma; porém, alguns setores católicos discordavam como Padre
Antônio Vieira.

Em um engenho sois imitadores de Cristo crucificado porque padeceis em um modo


muito semelhante o que o mesmo Senhor padeceu na sua cruz e em toda a sua paixão.
A sua cruz foi composta de dois madeiros, e a vossa em um engenho é de três. Também
ali não faltaram as canas, porque duas vezes entraram na Paixão: uma vez servindo para
o cetro de escárnio, e outra vez para a esponja em que lhe deram o fel. A Paixão de
Cristo parte foi de noite sem dormir, parte foi de dia sem descansar, e tais são as vossas
noites e os vossos dias. Cristo despido, e vós despidos; Cristo sem comer, e vós famintos;
Cristo em tudo maltratado, e vós maltratados em tudo. Os ferros, as prisões, os açoites,
as chagas, os nomes afrontosos, de tudo isto se compõe a vossa imitação, que, se for
acompanhada de paciência, também terá merecimento de martírio.
VIEIRA, A. Sermões. Tomo XI. Porto: Lello & Irmão, 1951 (adaptado).

Sociedade
Gilberto Freyre dividia a sociedade colonial entre casa grande e senzala. Ilmar Matos
apresenta outra divisão na qual o colonizador é o agente da colonização portuguesa (ex.: bispo,
capitão, governador-geral, ouvidor-mor), os colonos são os proprietários de terra e de escravo
(o senhor de engenho), e o colonizado é o índio, o escravo, o mercador, o mascaste, os
descendentes portugueses não proprietários de terra.

1 O homem bom do Brasil colonial era aquele que não utilizava as mãos para promover seu sustento: era o grande proprietário de
terra e escravo.
2 Há duas formas para mover a moenda: com animal (chamada de trapiche) ou com água (chamada de engenho real). A moenda

era cara e, por isso, havia fazendas que não tinham moenda.
AULA 3 - HISTÓRIA DO BRASIL
AMÉRICA PORTUGUESA
OCUPAÇÕES ESTRANGEIRAS
A primeira tentativa de ocupação francesa foi a França Antártica entre 1555 e 1567. Os
piratas franceses já frequentavam o litoral brasileiro. Os índios que habitavam no Rio eram
hostis aos portugueses.
Nicolas Villegagnon era o responsável pela ocupação e convenceu o rei francês de que
o Rio era rentável para a França. Um dos fatores que incentivaram essa ocupação foi o interesse
no escambo (de peles, animais, pau brasil) com os índios. Havia poucos franceses disponíveis
para vir para cá. A França era católica, mas havia um forte movimento reformista. Os huguenotes
(reformistas cavinistas) estavam em conflito com o rei da França. Villegagnon propôs levar os
calvinistas para a América.
Ele ocupou uma ilha e construiu nela um forte. Celebrou-se uma missa para celebrar a
conquista, mas os huguenotes debocharam da missa no momento da transubstanciação.
Villegagnon ficou revoltado e propôs um debate religioso. Os católicos ficaram de um lado da
ilha e os huguenotes do outro. Esses decidiram voltar para a Europa.
Essa ocupação fracassou devido à cisão interna gerada pela briga entre huguenotes e
católicos. Mem de Sá resolveu atacar o Rio de Janeiro (repressão portuguesa). Os franceses
lutaram aliados à Confederação dos Tamoios e os portugueses aliaram-se aos índios rivais. Rio
de Janeiro e Niterói foram fundados nesse contexto para firmar a presença dos portugueses na
região.

A França Equinocial (1612 – 1615) foi fundada na capital do Maranhão, São Luís. Os
interesses são diferentes. As motivações eram o escambo com os índios, uma base para pirataria
no Caribe, um caminho para as minas de Potosí.
Daniel de Ravardière foi o líder. Uma intervenção metropolitana impediu que a
ocupação fosse à frente.
Os franceses desistiram de tentar uma colônia no Brasil, mas continuaram frequentando
nosso território. Em 1711, um francês sequestrou a cidade do Rio de Janeiro.

A Holanda era uma grande parceira de Portugal nos primórdios da ocupação brasileira.
Ela fazia emprestava dinheiro, refinava e distribuía o açúcar. Cerca de 40% do açúcar era
refinado pela Holanda.
No século XVI, nasceu Dom Sebastião. Ele foi criado pelo Cardeal D. Henrique que fez
dele um católico fervoroso. Ao assumir o trono, ele alegou que seu objetivo era expulsar os
muçulmanos do mundo. Então, resolveu iniciar o processo de expulsão pelo Marrocos e decidiu
liderar pessoalmente as tropas. Ele morreu sem deixar herdeiros.
O Cardeal Dom Henrique assumiu, mas logo faleceu. Iniciou-se a União Ibérica (1580 -
1640). Em 1551, foi assinado o Tratado de Tomar que previa que cada reino administraria sua
própria colônia.
A Espanha vetou o acesso holandês ao açúcar brasileiro. Os holandeses não se
conformaram e continuaram fazendo comércio. A Holanda criou uma companhia de comercio
para fazer dinheiro com a América, a Companhia das Índias Ocidentais. Essa companhia tentou
invadir o Brasil.
Em 1624, os holandeses invadiram Salvador, porém os latifundiários não aceitaram o
domínio e fizeram uma guerra (Guerra Brasilis). Somou-se a isso a repressão metropolitana por
meio da Jornada dos Vassalos - navios cruzando o Atlântico para expulsar os holandeses. Isso
quase quebrou a Companhia das Índias. Três anos depois, a Companhia conseguiu roubar todo
o carregamento de prata e ouro da Espanha. Com dinheiro, fizeram a segunda invasão, dessa
vez ao Recife.
Entre 1630 – 1654, tivemos o Brasil holandês. De 1630 a 1636, foi o período das guerras
de invasão. Nesse momento, as Companhias das Índias estavam lutando contra os latifundiários.
Enquanto isso, os escravos formavam a República de Palmares.
A República de Palmares era composta por doze aglomerados mucambos, cada um com
uma administração local, regidos por um chefe político (Ganga Zumba) e um chefe militar
(Zumbi). Em Palmares, havia agricultura de subsistência, e algumas manufaturas de metalurgia
e tecido. Palmares estava integrado ao comércio local.
Os holandeses ganharam a guerra. Nassau foi enviado para administrar o Brasil
holandês. Ele reduziu os impostos, concedeu empréstimos facilitados, reformou engenhos
abandonados e deu-os a novos latifundiários formando, assim, uma elite fiel.
Nassau criou um sistema de “escravo contra a safra futura”: o escravo só seria pago
quando a safra estivesse pronta. Ele implementou a tolerância religiosa, um canal de
comunicação com os latifundiários - Conselho dos Escabinos - e fez reformas urbanas (como a
construção de canais).
A Companhia das Índias demitiu Nassau porque ele não dava lucro.
Portugal já tinha feito sua independência da Espanha (fim da União Ibérica) por meio da
revolta nobiliárquica que colocou os Bragança no poder. Não podendo ter Nassau, os
pernambucanos queriam ter Portugal de volta, pois estavam em conflito com a nova
administração que aumentava os impostos, cobrava os créditos facilitados, acabava com a
tolerância religiosa e colocava fim à prática dos escravos contra safra. Essa crise levou à
Insurreição Pernambucana (1644 - 1654).
Houve uma guerra entre holandeses e luso-brasileiros. As batalhas mais famosas foram
a Batalha dos Guararapes. A Holanda estava em guerra com a Inglaterra. Após ter sido
derrotada, ela cobrou a Portugal os investimentos feitos no Brasil e ameaçou bombardear
Lisboa. Portugal firmou a Paz de Haia e pagou à Holanda uma indenização.

Fim da União Ibérica em 1640


Portugal perdeu algumas colônias, perdeu a hegemonia no tráfico negreiro, perdeu o
monopólio do açúcar. (Os holandeses passaram a plantar açúcar nas Antilhas gerando
concorrência.)
Portugal estava passando por uma grave crise econômica e espelhou-se na
administração espanhola formando o Conselho Ultramarino em 1642. O grande problema do
Conselho é que ele tornava a tomada de decisões lenta.

Os Beckmann juntamente com os demais latifundiários estavam insatisfeitos porque a


Companhia de Comércio do Maranhão tinha o monopólio e ela não conseguia suprir a
quantidade de escravos que os latifúndios demandavam; dessa forma os senhores de terra
tinham que tentar escravizar os índios, mas a Cia de Jesus não permitia. Então eles pediram a
expulsão da Companhia de Comércio e dos jesuítas. Portugal reprimiu a revolta, mas acatou as
reivindicações.

Leituras Obrigatórias:
GOES FILHO, Synesio Sampaio. Navegantes, bandeirantes, diplomatas: um ensaio sobre a
formação das fronteiras do Brasil. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

Leituras Complementares:
REIS, Arthur Cezar Ferreira. “Os tratados de limites”. In: HOLANDA, Sérgio Buarque de. História
geral da civilização brasileira: do descobrimento à expansão territorial (vol. 1).
AULA 4 - HISTÓRIA DO BRASIL
Durante a União Ibérica, a expansão territorial seguiu três direções:
• direção norte;
• direção sul;
• direção centro-oeste.

A metrópole bancou algumas expedições para a região norte: expedição Castelo Branco
(1616) e expedição de Pedro Teixeira (1617).
O Forte do Presépio foi construído para evitar a presença estrangeira na região.
A principal atividade produtiva eram as drogas do sertão (baunilha, cacau, guaraná).
Essa atividade tinha mão de obra indígena hegemônica e era controlada pelas missões religiosas.
A pecuária era proibida a menos de 60 léguas do litoral para preservar o solo para a cana
de açúcar. Essa atividade de desenvolveu no centro-oeste, Ilha de Marajó, região dos pampas
gaúcho e vale do São Francisco. O mercado de destino da pecuária é o mercado interno (para a
alimentação, transporte e tração). A pecuária utilizava mão de obra escrava indígena e mão de
obra livre.
Não há como falar de expansão sem citar os bandeirantes.
As principais bandeiras saíram de São Paulo e algumas do nordeste. As primeiras
bandeiras foram de apresamento - escravização dos índios.
Havia também as monções (bandeira de abastecimento, de comercio fluvial que iam
para o interior utilizando rios), as bandeiras para recuperar escravos fugidos (sertanismo por
contrato) e as bandeiras prospectoras (com o objetivo descobrir metais preciosos).
Em um determinado momento, Portugal percebeu que Palmares era uma realidade e
decidiu negociar. A negociação ficou conhecida como o Acordo de Recife (1678). Palmares seria
um reino africano no meio do Brasil. Foi concedida a utilização dos terrenos da região norte de
Alagoas e reconhecida a liberdade dos negros nascidos em Palmares. Contudo, alguns negros
liderados por Zumbi disseram que Ganga Zumba teria feito o Acordo para benefício próprio.
Houve um racha em Palmares. O governo de Recife contratou uma expedição de bandeirantes
liderados por Domingos Jorge Velho que foi para o interior de Alagoas a fim de acabar com
Palmares.
Com relação a expansão sul, Colônia de Sacramento foi fundada em 1680 na margem
oposta a Buenos Aires para dar apoio aos peruleiros e para fazer oposição à ocupação
espanhola.
O Tratado de Lisboa foi o primeiro dos acordos de limite no qual se acertou em 1681
que os espanhóis sairiam de Colônia.
O Primeiro Tratado de Utrecht (1713) teve como contexto a Guerra de Sucessão
Espanhola. A Espanha perdeu seu rei e o herdeiro mais próximo era um Bourbon que tinha
ligação com a coroa francesa. A Inglaterra temia uma união de ambas as monarquias que
poderiam formar uma super potência. Inglaterra juntamente com Portugal e Holanda ganhou a
guerra.
Portugal tinha uma disputa territorial com a França (ao norte). A França reconheceu a
soberania portuguesa no Brasil e foi estabelecido o limite ao norte que seria o rio Jupoque (atual
Oiapoque).
O Segundo Tratado de Utrecht (1715) foi com a Espanha. Mais uma vez, ficou firmado
que ela sairia de Colônia.
Algumas fortalezas foram criadas no sul do Brasil para defender o território diante da
eminência de uma invasão espanhola.

O Tratado de Madri (1750) foi assinado entre Portugal e Espanha. (Alexandre Gusmão
era o representante de Portugal e Lancaster era representante da Espanha.)
Admitiu-se a violação mútua de Tordesilhas. Foi utilizado o princípio do uti possidetis
(quem estiver ocupando, fica com o território). Um dos artigos do Tratado diz que mesmo em
caso de guerra na Europa, haveria paz na América.
Estabeleceu-se a permuta territorial: Portugal ficou com Sete Povos das Missões e cedeu
Colônia de Sacramento à Espanha.
Foi a primeira vez em que a ocupação portuguesa no centro-oeste e no vale amazônico
foram reconhecidas.

Houve dificuldade na demarcação mesmo tendo sido usado como base o Mapa das
Cortes (acidentes geográficos como limites). Um dos motivos foi a troca de governos: Dom José
I assumiu e nomeou Marquês de Pombal. Esse não aceitava que Portugal abrisse mão de Colônia
por uma questão econômica.
Pombal aproveitou-se da Guerra Guaranítica. (Os índios dos Sete Povos das Missões não
queriam passar para o outro lado da fronteira após o Tratado de Madri.)
O Tratado de El Pardo aconteceu no contexto da Guerra dos 7 anos. Ele anulou o Tratado
de Madri. Para Portugal, era vantajoso porque estava ocupando o sul, Colônia, a bacia
amazônica e o centro-oeste.
Entretanto, correlação de forças mudou. Dona Maria I, a Louca, assumiu. Ela demitiu
Pombal e isso levou ao Tratado de Santo Idelfonso. Na Espanha, estavam acontecendo as
reformas bourbônicas; foi criado o Vice-reino do Rio da Prata para fortalecer a presença
espanhola na região. Dom Pedro de Ceballos tomou Colônia de Sacramento e subiu
conquistando os territórios até Florianópolis para a Espanha. Em 1777, Portugal perdeu
Sacramento e os Sete Povos das Missões.

Observação: o Tratado de Badajos (1801) não foi um tratado de limites. A Espanha estava aliada
a Napoleão e, aproveitando-se disso, invadiu Portugal na chamada Guerra das Laranjas. No final,
foi assinado um acordo de paz entre Portugal, Espanha e França. Nesse acordo, não houve
retorno ao status quo ante bélico. Dessa forma, Portugal ficou com a região dos Sete Povos e a
Espanha ficou com a região de Olivença.

Leituras Obrigatórias:
GOES FILHO, Synesio Sampaio. Navegantes, bandeirantes, diplomatas: um ensaio sobre a
formação das fronteiras do Brasil. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

Leituras Complementares:
CORTESÃO, Jayme. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Ma- dri. São Paulo: Funag/Imprensa
O cial, 2008.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. “A Colô nia do Sacramento e a expansão no extremo sul”. In: ___
(org.). História geral da civilização brasileira: do descobrimento à expansão terri- torial (vol. 1).
16a. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008. pp. 351-95
AULA 5 - HISTÓRIA DO BRASIL
O SÉCULO DO OURO
O século XVIII foi o século da mineração. Discutir a mineração é discutir as
consequências mais duradouras do bandeirantismo. Os sertanistas que se interiorizaram
fixaram-se no interior após a descoberta do ouro. Os paulistas fizeram a negociação da
descoberta do ouro.
A escravização indígena foi proibida inúmeras vezes, mas essa proibição foi ignorada
pelos bandeirantes. Sinésio afirma a existência de uma lenda negra, uma lenda negativa ao redor
dos bandeirantes. Para melhorar as condições políticas, eles barganharam por meio do ouro.
Por exemplo, Borba Gato estava fugindo da Coroa acusado de assassinato e refugiou-se no
interior. Após descobrir ouro, ele tornou-se comandante das forças na região.
A negociação da descoberta rendeu inúmeras sinecuras (benesses que o governo
concedia) aos paulistas.
Quando o ouro foi descoberto houve um aumento dos custos. Nos momentos iniciais,
havia uma enorme instabilidade devido ao aumento da inflação e da fome em Minas Gerais.
A Coroa Portuguesa não tinha presença e só tinha contato indireto por meio dos
paulistas.
Falta de autoridade da Coroa, predomínio dos vicentinos, carestia, conflitos, epidemias
e fome eram o que caracterizava aqueles dias. A organização dava-se na forma de arraiais, que
transformaram-se em vilas e, depois, em cidades (essa transformação não tinha a ver com
tamanho, era uma decisão política da Coroa Portuguesa). A sociedade começou a se urbanizar.
Esse momento inicial de instabilidade durou até 1708.
Em 1708, houve uma reorganização demográfica devido a Febre do Ouro - gente de todo
o Império Português foi para região das Minas Gerais. Foi um período de enorme e desordenado
crescimento demográfico. A maior parte veio da Bahia porque para chegar do litoral do sudeste
ou sul a Minas tinha-se de passar pela Serra do Mar e pela Mantiqueira - região controlada pelos
paulistas. Pela Bahia, não havia controle. A cana de açúcar estava em declínio, e isso também
impulsionava a migração para Minas.
Contudo, para Portugal, a cana de açúcar foi o principal produto. Quando a quantidade
de migrantes ultrapassou a de paulistas e os conflitos aumentaram. Esses ‘migrantes’ eram
chamados pelos paulistas de emboabas.

Guerra dos Emboabas (1708)


Começou por conta da alteração demográfica quando os paulistas deixaram de ser a
maioria, mas mantinham seus privilégios. Um português, Viana, iniciou o conflito que se
generalizou.
O governante do Rio de Janeiro foi até Minas Gerais e ficou do lado dos paulistas, mas
os emboabas cercaram-nos. A Coroa destituiu o governador e enviou outro que pôs fim ao
conflito de forma neutra - ninguém foi favorecido -, mas, na prática, os bandeirantes voltaram
para São Paulo.
A lógico do sertanista era olhar para o interior e os emboabas tinham uma visão mais
atlântica. A guerra também foi um choque entre duas visões de mundos.
A mão de obra era o fator mais escasso na Colônia e os emboabas tinham acesso à mão
de obra escrava africana. A guerra foi um marco da transição para a mão de obra escrava
africana. O escravo que saia de Angola já trabalhava com mineração, então ele era portador de
uma tecnologia mais qualificada.
Os bandeirantes foram para interior da Bahia, centro-oeste e norte - fazendo o segundo
ciclo do ouro.
No apogeu, houve maior controle da Coroa sobre a região. Foi criado o Estatuto das
Minas que estabelecia o quinto (imposto de 20%), a data aurífera (cujo tamanho variava de
acordo com o número de escravos), as casas de fundição, a proibição da circulação do ouro
bruto.
Na década de 1750, a Coroa se deu conta que estava recebendo pouco ouro. O ouro era
de aluvião e estava acabando.
Na região do Serro, começaram a encontrar diamantes. Tempos depois, essa região
virou o distrito de Diamantina.
A capital foi transferida para o Rio de Janeiro justamente para ficar mais próxima da
zona mineradora e das guerras guaraníticas. Pombal estabeleceu monopólio sobre o distrito de
Diamantina
Pombal queria que Portugal fosse independente politicamente. Ele aplicou as ideias
iluministas.
Todavia, precisou de dinheiro para reconstruir Lisboa após o terremoto de 1755.
O Tratado de Metheun estabelecia a base de troca entre Inglaterra e Portugal; ele
também ficou conhecido como Tratado de Panos e Vinhos por serem esses os principais
produtos. A Inglaterra beneficiou-se mais devido à estrutura de consumo. Pombal queria
emancipar Portugal da Inglaterra, queria a modernização lusitana e uma maior autonomia
econômica.
Ele fez uma reforma educacional na Universidade de Coimbra, acabou com a distinção
entre a nobreza togada e agrária. Visando ocupar o território da Colônia, transformou os índios
e mestiços em súditos concedendo-lhes direitos, estabeleceu os mestres-escolas, expulsou a
Companhia de Jesus.
Essa racionalização administrativa do ponto de vista fiscal significou arrocho. O Vice-
reino do Brasil e o do Grão-Pará foram unidos em 1761 sob uma única capital: o Rio de Janeiro
(1763).
A ascensão social nas regiões das Minas era possível, mas rara – exemplo: Chica da Silva.
A alforria aumentou na época da decadência do ouro. A taxa de alforria (manumissão) chegava
a 20%. Isso gerou um número considerável de negros libertos. Uma grande quantidade de
libertos entrou no exército.
O ápice do arrocho foi quando o governo estabeleceu a finta - os impostos deveriam
chegar a 100 arrobas de ouro por ano. A Colônia nunca conseguiu enviar as cem arrobas. A
qualquer momento a Coroa poderia decretar a derrama - cobrança violenta das dívidas tomando
recursos e posses (isso explica o caráter elitista da Inconfidência). O aviso da derrama foi o que
gerou a Inconfidência. A derrama nunca foi decretada.
Pombal criou várias companhias de navegação. Dom José morreu em 1777. Dona Maria
assumiu e retirou Pombal. Na prática, a racionalização e o arrocho persistiram. Em 1785, ela
proibiu as manufaturas no Brasil exceto a de tecido para roupa de escravo – todo os esforços da
Colônia deveriam estar voltados para a agricultura.
O período mariano foi de 1777 a 1808 e o período joanino foi de 1808 a 1821.

Leituras Obrigatórias:
MAXWELL, Kenneth. Marquês de Pombal, o paradoxo do Iluminismo. São Paulo: Paz e Terra,
1997.
BOXER, Christian R. A idade de ouro do Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1963.

Leituras Complementares:
FALCON, Francisco. A época pombalina. São Paulo: Á tica, 1993.
MAXWELL, Kenneth. A devassa da devassa. São Paulo: Paz e Terra, 1985.
PAIM, Antônio (org.). Pombal e a cultura brasileira. Rio de Janeiro: Ediçõ es Tempo Brasileiro,
1982. Cap. I, p. 11-15.
AULA 6 - HISTÓRIA DO BRASIL
PROCESSO DE EMANCIPAÇÃO DO BRASIL
A primeira maneira que as ideias iluministas chegaram ao Brasil foi por meio de Pombal.
Esse iluminismo era o despotismo ilustrado que legitimava a monarquia. O iluminismo
revolucionário foi estudado nos seminários.
Os estudantes brasileiros que estudaram em Coimbra foram os founding fathers do
Brasil - uma ilha de letrados em um oceano de analfabetos.
As insurreições não previam a independência do país como um todo, mas algumas
historiografias consideram de forma diferente. Alguns livros chamam-nos de movimentos
nativistas, a maior parte desses movimentos tinha características anti-fiscalistas.

Movimentos Nativistas
a)Aclamação de Amador Bueno (1640)
Bueno foi aclamado rei de São Paulo. Lá havia duas facções (espanhóis e portugueses)
durante a União Europeia.
Bueno era membro da facção espanhola e mandava prender jesuítas ou quem quer que
falasse sobre sebastianismo. Com o fim da União Ibérica, os espanhóis não quiseram tornar-se
portugueses e aclamaram o líder da facção como rei. Ele recusou-se a assumir o cargo.

b)Revolta de Beckman (1680)


Aconteceu no Maranhão devido às companhias de comércio.
Os holandeses tinham conquistado também Angola e tinham estabelecido o fluxo de
escravos para o Brasil. Os colonos do Maranhão queriam um fluxo de escravos maior. Se não
houvesse escravos, queriam pelo menos poder escravizar os índios. O primeiro ato foi expulsar
os jesuítas. Os irmãos Beckman foram presos e mortos.

c)Guerra dos Emboabas (1708-9)


Falamos sobre ela na Aula 5.

d)Revolta de Vila Rica ou de Felipe dos Santos (1720)


Foi uma revolta contra as casas de fundição. Ela foi duramente reprimida e seu líder,
Felipe dos Santos, foi esquartejado. Foi uma revolta antifiscalista com características populares.

e)Guerra dos Mascates (1721)


Latifundiários de Olinda contra comerciantes de Recife.
Esses comerciantes conseguiram uma autorização para que Recife se tornasse uma vila
e, consequentemente, passasse a ter suas próprias leis. Vários proprietários de Olinda estavam
endividados com os comerciantes de Recife. As câmaras municipais podiam perdoar ou cobrar
as dívidas.
Foi um conflito de classes. Os olindenses invadiram Recife, derrubaram o pelourinho e
assumiram o poder. Esse movimento foi conhecido como a Fronda dos Mazombos. Mascaste é
um nome pejorativo para os comerciantes. Fronda foi um movimento da aristocracia contra Luís
XIV na França. Fronda dos Mazombos é uma historiografia que se coloca ao lado de Recife.

f)Inconfidência Mineira (1789)


Foi um movimento de elite, fortemente influenciado pelo iluminismo. Foi um
movimento emancipatório influenciado pela Revolução Americana.
g)Conjuração Baiana (1798)
Movimento popular influenciado pela Revolução Francesa e do Haiti1. O movimento
buscava a abolição da escravidão e tinha um ideal separatista.

Síntese geral do processo de emancipação


Começou a haver núcleos de urbanização com algum grau de ascensão social. A mão de
obra africana tornou-se generalizada. Surgiu uma camada média formada por profissionais
liberais, artesãos e funcionários públicos - a Coroa necessitou aumentar sua presença ampliando
a quantidade de funcionários. Com isso nascia um mercado interno na Colônia.
O eixo econômico mudou para o centro-sul e a capital foi transferida para o Rio de
Janeiro (1763).
O barroco mineiro tornou-se a forma estética por excelência do século XVIII e só foi
possível devido ao certo grau de urbanização das sociedades.
O processo de transmigração da Corte já tinha sido pensado por Pombal e no início do
século XVIII, pois o centro da riqueza do Império português estava no Brasil.
A transmigração da Corte foi extremamente benéfica para o Rio de Janeiro.
Decretou-se a abertura dos portos as nações amigas inaugurando o comércio
internacional brasileiro. O porto de Santa Catarina era uma espécie de centro logístico - não
estava aberto. Era uma política externa portuguesa feita no Brasil
Portugal estava ocupado por franceses e a resistência era feita pela Inglaterra. José da
Silva Lisboa abriu os portos com a mesma tarifa, mas a Inglaterra não se agradou. Ela queria que
os portos fossem abertos somente para ela. Após pressões, ela conseguiu a cláusula da nação
mais favorecida. Dom João assinou os Tratados Desiguais de 1810: a Inglaterra passou a pagar
menos impostos que os súditos portugueses.
Nos Tratados de Aliança e Amizade, a Inglaterra garantiu proteção e segurança à dinastia
dos Bragança.
A partir de 1808, os ingleses puderam entrar no Brasil, houve o fim da inquisição,
implementou-se a tolerância religiosa e foi concedido aos ingleses o direito à
extraterritorialidade jurídica. Dom João comprometeu-se a acabar com o tráfico de escravos. Os
ingleses poderiam revistar qualquer navio brasileiro e abastecer em qualquer lugar do nosso
território. A única coisa proibida era o comércio de pimenta, pau-brasil, diamante e com a África.
O Alvará de 1875 foi revogado. Criaram-se a casa da moeda, a fábrica de pólvora, a
imprensa régia, o real horto (jardim botânico), o banco do Brasil, a biblioteca real, a escola de
medicina da Bahia, a academia naval, a academia militar, várias estradas no sudeste.
Estimulou-se a pesquisa e a prospecção mineralógica (Von Eschwegel), a vinda de
imigrantes (que ganharam terras).
Foi declarada guerra aos índios botocudos (Guerra Justa), que atacavam os homens
brancos. Invadiu-se a Guiana Francesa – ocupando Caiena de 1809 a 1811.
De 1811 a 1813, houve a invasão da Banda Oriental que não se perpetuou devido à
intervenção inglesa. Em 1817, a região foi invadida novamente até ser anexada em 1821 com o
nome de Cisplatina.
O Tratado de Badajós foi o acordo de paz que encerrou a Guerra da Laranjas entre
Portugal e Espanha no período napoleônico. Ele não estabeleceu status quo ante belo: a Espanha
ficou com Olivença e os gaúchos com os Sete Povos.
A interiorização da metrópole foi a mistura da elite portuguesa com a elite brasileira. A
Corte veio para o Rio e formou uma elite luso-brasileira presente no sudeste. Esse foi o período
no qual mais entrou escravos no Brasil. O Rio tornou-se o maior porto escravista do planeta.

1 O levante do Haiti começou durante o período jacobino da Revolução Francesa.


Leituras Obrigatórias:
DIAS, Maria Odila Leite. “A interiorização da metrópole”. In: ___. A interiorização da metrópole
e outros estudos. São Pau- lo: Alameda, 2005.
RICUPERO, Rubens. “O Brasil no mundo”. In: SCHWARCZ, Li- lia (org.). História do Brasil nação:
1808-2010. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011. v. 1.

Leituras Complementares:
LIMA, Manuel de Oliveira. Dom João VI no Brasil. 3a. ed. Rio de Janeiro: Topbooks, 1996.
MOTA, Carlos Guilherme (org.). 1822: Dimensões. São Paulo: Perspectiva, 1972.
RODRIGUES, José Honório. Independência: revolução e contra-revolução. Rio de Janeiro: Livraria
Francisco Alves, 1975.
CALDEIRA, Jorge. “O processo econômico”. In: COSTA E SIL- VA, Alberto da (org.). História do
Brasil nação: 1808-2010. Vol. I: Crise colonial e independência. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011,
pp. 161-203.
AULA 7 - HISTÓRIA DO BRASIL
INDEPENDÊNCIA DO BRASIL (1808-1825)
Antecedentes
Existia uma dependência histórica de Portugal com a Inglaterra. Desde a segunda
metade do século XVII, Portugal pegava empréstimos e navios emprestados com a Inglaterra.
O Tratado de Metthuen ilustrava essa dependência.
Com o bloqueio continental, Napoleão determinou que ninguém poderia fazer
comércio com a Inglaterra sob pena de invasão. Dom João manteve o comércio com a
Inglaterra. Napoleão deu um ultimato. Dom João optou por ficar com seu aliado secular.
O primeiro a falar sobre transmigração da Corte foi Padre Antônio Vieira. Marquês de
Pombal e Dom Rodrigo Coutinho também falaram sobre tal ideia. O Brasil era a colônia
portuguesa mais lucrativa. Diante da invasão franco-espanhola (Tratado de Fontaine-bleau),
Dom João colocou em prática o projeto da transmigração
Portugal ficou sendo administrado por um regente inglês. A Família Real foi escoltada
por três navios ingleses.
Em 1808, a Família Real chegou ao Brasil. O Rio de Janeiro passou a ser a metrópole, a
capital do reino português.
Abertura dos povos as nações amigas foi feita logo após a chegada, sendo que a
principal nação beneficiada foi a Inglaterra. Esse foi o marco do fim do pacto (exclusivo)
colonial.
Dom João revogou o Alvará de 1875 e permitiu a instalação de manufaturas no Brasil.
Em 1810, após sofrer pressões inglesas, Dom João aceitou os Tratados Desiguais (de
aliança e amizade, e de comércio e navegação):
 os comerciantes ingleses que frequentavam o Brasil passaram a ter o direito à
tolerância religiosa;
 os ingleses ganharam direito a cláusula de extraterritorialidade;
 conseguiram diminuir a tarifa alfandegária para 15% (valor menor que o de
portugueses);
 Dom João aceitou o fim do tráfico atlântico de escravos.

Felizberto, o maior traficante de escravos, estava construindo uma casa e cedeu-a para
Dom João morar. Foi criada uma imprensa. O primeiro jornal foi a Gazeta do Rio de Janeiro
com informes oficiais.
Foram feitas uma série de reformas joaninas como a casa da pólvora, o Banco do
Brasil, a Real Academia Militar, o teatro do Brasil, a biblioteca real, o real horto (atual jardim
botânico).

Política Externa
Logo no início, Dom João decidiu invadir a França na América em resposta à invasão
francesa a Portugal. Em 1809, os luso-brasileiros tomaram Caiena. Carlota Joaquina queria
conquistar a Banda Oriental para ser ‘la reina del sur’.
José Artigas foi considerado o herói nacional uruguaio. Ele liderou uma resistência na
Banda Oriental e conseguiu expulsar os luso-brasileiros entre 1810-11. Artigas tinha um
projeto popular nacional e planejava a reforma agrária. A própria elite uruguaia voltou-se
contra Artigas.
Dom João promoveu, então, uma segunda invasão a Banda Oriental e conseguiu
anexá-la chamando-a de província Cisplatina.
Com o Congresso de Viena, todos os reis teriam seus territórios devolvidos desde que
estivessem no território, mas Dom João não estava e não queria voltar para Portugal. Havia
pressões dos portugueses enraizados (aqueles que vieram com a família real e já tinham-se
fixado e enriquecido aqui) e, além disso, temia-se uma revolução liberal em Lisboa.
Então, o Brasil foi elevado a Reino Unido de Portugal e Algarve, assim, Brasil e Portugal
tornaram-se a mesma coisa. A partir desse momento, o Brasil deixou de ser colônia (1815).
Nossa situação era completamente diferente da América Espanhola. Dom João foi um rei
europeu coroado no Brasil.
Segundo Evaldo, as revoltas de Pernambuco no século XIX tiveram origem na
Insurreição Pernambucana. Os pernambucanos expulsaram os holandeses sozinhos e
devolveram o território para Portugal, entretanto eles não receberam prestígio. A cana e o
algodão estavam em decadência enquanto aumentava-se impostos em todo o país e só no
sudeste, sobretudo no Rio, as reformas eram feitas. Os comerciantes também estavam
insatisfeitos devido ao privilégio aos comerciantes reinóis. O Seminário de Olinda tinha uma
influência muito grande do iluminismo. A Revolução Pernambucana de 1817, também foi
conhecida como Revolta dos Padres, devido ao envolvimento de clérigos como Frei Caneca.
Eles expulsaram o governador de Pernambuco, instituíram um governo provisório, diminuíram
os impostos, estabeleceram a liberdade de imprensa, a igualdade entre portugueses e
brasileiros e a igualdade jurídica. Os latifundiários, temerosos de a igualdade jurídica fosse o
primeiro passo para a abolição, saíram do movimento provocando um racha. Dom João
aproveitou para fazer uma forte repressão.
Em 1820, aconteceu a Revolução Liberal do Porto. A elite portuguesa liderou uma
revolta demandando:
 a volta da Família Real para Portugal;
 uma constituição para limitar o poder da Família Real;
 o retorno do pacto colonial.

Aqui do Brasil, Dom João afirmou aceitar o movimento e a constituição, e voltou para
Portugal. Dom Pedro ficou no Brasil como príncipe regente.
Em Portugal, foram instaladas as Cortes constituintes e isso deu força ao processo de
independência brasileiro porque iniciou um conflito de interesses entre as cortes portuguesas
e os brasileiros. As Cortes queriam a volta do pacto colonial e os brasileiros1 queriam a
manutenção do Reino Unido.
As Cortes eram formadas por 180 deputados: 100 de Portugal, 30 de Algavere e 50
brasileiros.
A defesa da manutenção do Reino Unido ganhou um aliado de peso: Dom Pedro.
Houve uma série de atritos entre os brasileiros e Dom Pedro, e as Cortes.
As Cortes portuguesas começaram a perceberem que Dom Pedro estava defendendo
demais os interesses brasileiros. As Cortes exigiram sua volta a Portugal e no dia 9 de janeiro
de 1822, houve o Dia do Fico: Dom Pedro rompia com as Cortes decidindo ficar no Brasil. Em
março do mesmo ano, ele criou a Lei do Cumpra-se: qualquer ordem vinda de Portugal só
poderia ser cumprida depois da autorização de Dom Pedro. A partir de meados desse ano,
começaram a acontecer uma serie de revoltas pela independência.
Em São Paulo, Dom Pedro recebeu duas cartas: um das Cortes (dizendo que caso ele
não voltasse, as Cortes invadiriam o Brasil) e outra da Princesa Leopoldina. ‘Laços fora’, o grito
da independência havia sido dado.
O primeiro obstáculo a ser superado para a efetivação da independência foi fazer com
que todos os brasileiros concordassem com a Independência, sobretudo as elites periféricas.
Essas lutas ficaram chamadas de Guerras de Independência. Na América espanhola, as guerras
eram entre colonos e metrópole. Aqui no Brasil foi diferente. No Rio, houve três dias de
conflito. A independência da Bahia aconteceu no dia 2 de julho quando as tropas bahianas
contra a independência forma derrotadas. (Maria Quitéria vestiu-se de homem para poder

1 Os brasileiros viam a volta do pacto (exclusivo) colonial como um desejo de recolonização.


lutar ao lado das tropas pela independência.) Visconde de Pirajá foi o grande arquiteto da luta
pela independência.
O primeiro grande país a reconhecer a nossa independência foi os EUA no contexto da
Doutrina Monroe: em janeiro de 1824, reconheceram nossa independência por questões
ideológicas.
Em 1825, Portugal reconheceu a independência assinando um tratado fruto de uma
negociação tripartite entre Brasil, Portugal e Inglaterra. A negociação foi delicada porque Dom
Pedro era o herdeiro do trono português:
 Dom João ficou com o título de imperador perpétuo;
 uma indenização pela independência e pelos bens da Coroa que ficaram aqui
foi paga;
 havia uma cláusula que dizia que o reconhecimento tinha sido dado pelo Rei e
não conquistada pelos brasileiros;
 o Brasil teve que prometer não interferir nas colônias africanas portuguesas2.
 a Inglaterra exigiu a manutenção dos Tratados de 1810 e estipulou um prazo
de três anos para o fim ao tráfico negreiro.

Leituras Obrigatórias:
DIAS, Maria Odila Leite. “A interiorização da metrópole”. In: ___. A interiorização da metrópole
e outros estudos. São Pau- lo: Alameda, 2005.
RICUPERO, Rubens. “O Brasil no mundo”. In: SCHWARCZ, Li- lia (org.). História do Brasil nação:
1808-2010. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011. v. 1.

Leituras Complementares:
LIMA, Manuel de Oliveira. Dom João VI no Brasil. 3a. ed. Rio de Janeiro: Topbooks, 1996.
MOTA, Carlos Guilherme (org.). 1822: Dimensões. São Paulo: Perspectiva, 1972.
RODRIGUES, José Honório. Independência: revolução e contra-revolução. Rio de Janeiro:
Livraria Francisco Alves, 1975.
CALDEIRA, Jorge. “O processo econô mico”. In: COSTA E SIL- VA, Alberto da (org.). História do
Brasil nação: 1808-2010. Vol. I: Crise colonial e independência. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011,
pp. 161-203.

2 O reencontro com a África portuguesa aconteceu somente em 1974 com o reconhecimento da independência da Guiné-Bissau.
AULA 8 - HISTÓRIA DO BRASIL
PRIMEIRO REINADO (1822-31)
O Brasil foi uma monarquia constitucional, pois acreditava-se que ela seria importante
para o conservadorismo, para evitar agitações. Em um primeiro momento, as elites proprietárias
de terras apoiaram essa monarquia, mas logo opuseram-se a ela.
Todos os deputados brasileiros que compunham as Cortes Portuguesa voltaram ao
Brasil.
Dom Pedro foi coroado.
Existia uma oposição de projetos políticos: as elites proprietárias de terras e escravos
(desejavam uma descentralização do poder político) X Dom Pedro I e as elites que fizeram a
independência (desejavam a centralização do poder).
As elites proprietárias formaram o grupo político dos brasileiros e Dom Pedro foi
apoiado pelo grupo dos portugueses. Em sua maioria, esses portugueses eram comerciantes
que estavam no Rio.
Os brasileiros eram um grupo hegemônico na Assembleia Constituinte porque, em um
primeiro momento, eram aliados de Dom Pedro. Em 1823, esse grupo fez o projeto da
Constituição da Mandioca1 que previa a descentralização do poder político.
Dom Pedro não aceitou a constituição e fechou o local da constituinte. Esse evento ficou
conhecido como A Noite da Agonia. Ele mesmo organizou um grupo para criar outra
constituição.
Em suma, Dom Pedro fechou a constituinte e outorgou uma carta.
De acordo com a Constituição de 1824, o imperador era irresponsável (não poderia ser
responsabilizado pelos problemas políticos que aconteciam no país) inviolável e era o chefe da
Igreja (padroado). A Constituição dividia os três poderes e criava um poder acima deles para
regulá-los - o poder moderador. (Portugal adotou esse modelo.) Os presidentes das provinciais
seriam impostos por Dom Pedro.
O Conselho de Estado era um órgão de consulta de Dom Pedro e também foi o órgão
gestor da política externa brasileira.
O voto era censitário (renda anual de 100 mil réis para participar das eleições paroquiais;
os eleitores tinham que ganhar no mínimo 200 mil reis e esses escolhiam os deputados que
tinham que ganhar no mínimo 400 mil réis e os senadores tinham que ganhar no mínimo 800
mil réis). Eles votavam numa lista tríplice e o imperador escolhia um deles. O senado era um
cargo a vida toda. Não havia proibição do voto do alfabeto2.
Uma província não jurou a constituição: Pernambuco. A revolta ficou conhecida como
Confederação do Equador. Os pernambucanos afirmaram ter criado um novo país. Eles
contaram com o apoio de outras provinciais do nordeste e adotaram a Constituição da Gran-
Colômbia. Dom Pedro desesperou-se e contratou mercenários e uma esquadra. Frei Caneca foi
executado.

Guerra da Cisplatina
Levante dos 33 orientales: a elite uruguaia comprometeu-se a lutar pela independência.
As Províncias Unidas do Rio da Prata comprometeram-se a ajudar o Uruguai.
O Brasil queria ter hegemonia nas Províncias do Prata. A Marinha Brasileira era forte,
mas a cavalaria uruguaia era superior. Havia um impasse.
Após de três anos de desgaste, começaram as negociações entre Brasil e Argentina. A
Inglaterra foi convocada para intermediar. Ela apoiou a criação de um país independente, o
Uruguai - o algodão entre dois cristas.

1 O nome dado é porque o voto era baseado na quantidade de alqueires de mandioca plantado porque esse alimento era a base
da alimentação dos escravos.
2 A Lei Saraiva proibiu o voto do analfabeto e criou a carteira eleitoral.
Economia
O Brasil do Primeiro Reinado não tinha dinheiro. A crise brasileira ocorreu devido à
decadência da cana-de-açúcar e do algodão. Estávamos concorrendo com o açúcar de beterraba
feito na própria Europa e o algodão brasileiro era volátil: só ganhávamos dinheiro quando o
algodão americano estava ruim. Houve a falência do Banco do Brasil.
Bernardo de Vasconcelos tentou implementar a monarquia representativa, ele era um
liberal (até certo momento). Ele criou a Lei Bernardo Pereira de Vasconcelos que estabelecia em
15% a tarifa para todos. Na prática, isso baixou a arrecadação do governo. A dívida externa era
crescente.
Em 1826, Dom João morreu em Portugal. O herdeiro do trono português era Dom Pedro,
mas ele estava em meio à Guerra da Cisplatina, então ele abdicou ao trono português em favor
de sua filha, Dona Maria da Glória, que era uma criança. O tio dela, Dom Miguel, aproveitou para
usurpar o trono. Dom Miguel não se conformava com o liberalismo de Portugal, ele já tinha
tentado dar dois golpes.
Com ele, Portugal viveu um retorno ao absolutismo. As forças liberais chamaram Dom
Pedro e ele bancou as tropas para lutarem em Portugal mantendo os interesses de Maria da
Glória (Crise Sucessória Portuguesa). Além de aumentar os gastos, politicamente isso também
foi ruim, porque os brasileiros começaram a achar que Dom Pedro era mais português do que
brasileiro.
Os brasileiros foram muito influenciados por um evento que aconteceu na Franca
chamado de Os 3 gloriosos que foi a Revolução Francesa de 1830. Esse episódio pôs fim a uma
monarquia absolutista e iniciou uma monarquia constitucional regida pelo Rei Burguês.
Cresceu no Brasil um sentimento contra Dom Pedro. Leopoldina, que era amada pelo
povo, faleceu. As crises aumentaram. Libero Badaró, um jornalista que era o principal opositor
de Dom Pedro, foi assassinado.
Houve três dias de conflito entre portugueses e brasileiros no centro do Rio de Janeiro.
Esse evento foi chamado de A Noite das Garrafadas (porque os portugueses arremessaram
garrafas pelas janelas das casas nos brasileiros). Dom Pedro resolveu demitir todos os brasileiros
que estavam no ministério, então. O ministério formado ficou conhecido como o Ministério dos
Marqueses.
A pressão para a renúncia de Dom Pedro era tão grande que chegaram a colocar uma
esquadra na Baía de Guanabara. Em Portugal, ele era bem visto, como um salvador do
liberalismo. Ele decidiu ir para Portugal e deixou o trono brasileiro para seu filho. José Bonifácio
foi indicado como tutor de Dom Pedro II. Em 7 de abril de 1831, Dom Pedro abdicou. A partir
desse momento, o Brasil tinha um monarca brasileiro (Dom Pedro II tinha 5 anos). Devido sua
tenra idade, o Brasil passou a ser governado por regentes - uma espécie de experiência
republicana.

Leituras Obrigatórias:
RICUPERO, Rubens. “O Brasil no mundo”. In: SCHWARCZ, Lilia (org.). História do Brasil nação:
1808-2010. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011. v. 1.
CERVO, Amado & BUENO, Clodoaldo. A História da Política Exterior do Brasil. 4a Edição. Brasília:
Ed. UnB, 2011.

Leituras Complementares:
CERVO, Amado & BUENO, Clodoaldo. O Parlamento brasileiro e as relações exteriores (1826-
1889). Brasília: Ed. UnB, 1981. Caps. I e II, pp. 20-49. CERVO, Amado & BUENO, Clodoaldo. Depois
das caravelas: as relações entre Portugal e Brasil: 1080-2000; Brasília: IPRI/Ed. UnB, 2000.
AULA 9 - HISTÓRIA DO BRASIL
AS REGÊNCIAS (1831-1840)
Em 1831, por ocasião da abdicação do imperador em 7 de abril, tivemos a Regência
Trina Provisória. Ele abdicou em um momento de recesso parlamentar sendo que era o
parlamento que teria de decidir quem seria o regente. Em 1831, quando o congresso voltou a
funcionar em sua segunda legislatura (a primeira foi de 1826-31), transformou-se a Regência
Trina Provisória em Permanente (de 1831-35).
Em 1835, pela primeira vez, houve eleição geral para um chefe de Estado (para governar
por 4 anos) devido a uma emenda constitucional. Alguns historiadores chamam isso de
experiência republicana. O Ato Adicional de 1834 previa a eleição para regente. Em 1835,
passamos a ter a Regência Uma; quem venceu foi o ministro da justiça da Regência Trina
Permanente, Padre Feijó (que tinha renunciado após ser acusado de golpe de Estado).
No final do período colonial, houve uma ampla mobilização do clero, era um clero
iluminista com feição mais revolucionária. Padre Feijó era o líder do partido (facção) liberal.
Em 1837, Feijó renunciou a regência após problemas políticos sobretudo por conta de
revoltas coloniais (Cabanagem e Farroupilha). Araújo Lima, o Marquês de Olinda, assumiu o
governo (Regência Una de Olinda). Ele tinha uma tendência mais conservadora. Os partidos do
Segundo Reinado são os partidos formados nas regências.

No Primeiro Reinado, tínhamos dois grupos políticos o partido português e partido


brasileiro. Nas regências, o partido português virou restauradores. A monarquia era popular
enquanto o movimento republicano era de elite. O grupo dos restauradores perdeu a relevância
após 1834 - quando Dom Pedro I morreu, uma vez que eles queriam a volta do imperador.
O partido brasileiro deu origem aos liberais. Ao chegar ao poder, eles auto intitularam-
se de liberais moderados. A revolução feita por esse grupo foi simplesmente tirar o
imperador. Os restauradores podem ser chamados de caramurus, corcundas, pés de chumbo
ou marotos.
Os liberais queriam conservar a escravidão, o regime de latifúndio, a monarquia, a
unidade territorial, o voto censitário. Todos os que queriam mudar qualquer outra coisa eram
chamados de liberais exaltados. Em suma, os moderados queriam a manutenção da ordem.
Ao optar por uma regência trina, o poder executivo era descentralizado. A Lei dos
Regentes, aprovada em 1831, enfraqueceu o poder do executivo ao tirar os poderes do regente:
ele não poderia dissolver a assembleia, nem declarar guerra, nem ratificar tratados
internacionais1. Feijó implementou uma agenda de descentralização.
Com o Primeiro Reinado, o juiz de paz seria um juiz local (o juiz de paz era eleito). Em
1831, foi criado um código penal. Isso aumentou o poder das provinciais.
Um dos grupos que mais participava das rebeliões eram os militares - a maior parte dos
de baixa patente eram negros. Essas rebeliões ficaram conhecidas como rebeliões de tropa e
povo. Feijó criou, então, a guarda nacional que era organizada por latifundiários locais (só livres
de nascença podiam participar dessa guarda). Em outras palavras, Feijó descentralizou o
exército entregando o poder militar às elites.
O avanço liberal teve como objetivo enfraquecer o executivo e descentralizar a política.
Os liberais eram chamados de chimangos e os exaltados eram chamados de farroupilhas ou
jurujubas.
A figura chave do avanço liberal foi o ministro Feijó. O cerne do absolutismo brasileiro
era o poder moderador e o conselho de Estado (órgão de consulta vitalício). Em 1831, houve um
projeto que queria acabar com o senado vitalício (sem passar pelo senado). Em 1832, esse golpe
parlamentar foi impedido por Carneiro Leão que afirmava que o poder moderador era
inaceitável, mas que a constituição precisava ser respeitada. O Ato Adicional de 1834 foi a
consequência da tentativa de golpe. Ele instituiu o fim do conselho de Estado, a descentralização
legislativa por meio da criação de assembleias legislativas em cada uma das provinciais, a criação
do município neutro (Rio de Janeiro) e a transferência da capital da província para Niterói.

Rebeliões Regenciais
J. M. de Carvalho dividiu em duas fases. A primeira fase é formada por rebeliões de tropa
e povo. Os chimangos criaram a Guarda Nacional para reprimir essas rebeliões. Esse tipo de
rebelião era majoritariamente urbana.
A segunda fase de rebeliões foi formada pelas rebeliões provinciais (muitas causadas
por conta do Ato Adicional). Elas não eram urbanas, nasciam de um conflito intraelites. Eram
uma espécie de guerra civil entre facções políticas dentro de uma província. Após 1831, o Estado
perdeu a capacidade de ser árbitro do conflito intraelite devido à descentralização. As rebeliões
saíram do controle.
As províncias são valiosas e falta legitimidade ao governo regencial para servir de
árbitro. No norte e no sul havia revoltas (Cabanagem e Farroupilha). Esse cenário de rebelião
modificou o quadro político.
Os liberais moderados racharam: uma parcela tornou-se regressista (partido da ordem
Bernardo Pereira de Vasconcelos); e outra parte, progressistas. Feijó foi perdendo legitimidade.
Após Bento Gonçalves fugir de uma ilha na Bahia e voltar a comandar o movimento
revolucionário no sul do país, surgiram suspeitas de que o governo apoiava os revoltosos. Feijó
renunciou. Araújo Lima assumiu o governo, convocou a eleição e ganhou. Seu ministro do
império foi Bernardo Pereira de Vasconcelos (que era a oposição). Começava o regresso
conservador.
O regresso (1837-44) não teve maioria no parlamento. O principal foco dos regressistas
foi reprimir as rebeliões. Na Bahia, havia a Sabinada; e no sul, a Farroupilha2 (ambas elitistas).
Como exemplos de rebeliões populares podemos citar a Cabanagem (no Pará) e a Balaiada (no
Maranhão). Os elementos do exército farroupilha foram integrados ao exército nacional após o
fim da revolta.
O regresso começou a tentar alterar medidas do Ato Adicional. A Lei Interpretativa ao
Ato Adicional esvaziou o Ato Adicional e tirou o poder das assembleias. Foi feita o Código de
Processo Criminal que criou o delegado de polícia (que era nomeado pelo poder central).

1Pela Constituição de 1824, o Congresso só precisava ser consultado em casos em que o tratado envolvia cessão de territórios.
2Um dos motivos da Farroupilha foi o preço da carne de charque sulista, que pagava tarifa em cada estado enquanto a carne
uruguaia ou argentina, por conta dos Tratados Desiguais, só pagava 15% uma única vez.
No Segundo Reinado, conservadores passaram a ser chamados de saquaremas e os
progressistas viraram os liberais (os luzias).
Os liberais só tinham como voltar ao poder por meio de um golpe. Começam a conspirar
sobre a maioridade. Os liberais decidiram trazer o imperador para assim tirar os conservadores.

Leituras Obrigatórias:
MOREL, Marco. O período das regências (1831-1840). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.
CERVO, Amado & BUENO, Clodoaldo. “Administrando o imobilismo”. In: ___. História da política
exterior do Brasil. 4a. ed. rev. e ampl. Brasília: Ed. UnB, 2012, pp. 57-71.
________. História geral da civilização brasileira. 8a. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004. v.
4.

Leituras Complementares:
BETHELL, Leslie. “O Brasil no Mundo”. In.: CARVALHO, José Murilo de (Coord.) História do Brasil
Nação – Vol. II: A Construção Nacional (1830-1889), parte 5. Rio de Janeiro: Ed. Objetiva, 2012.
(Direção da Coleção Lilia Moritz Schwarcz)
CARVALHO, José Murilo de. A Construção da Ordem e O Teatro das Sombras. Rio de Janeiro: Ed.
Relume-Dumará, 1996
AULA 10 - HISTÓRIA DO BRASIL
O período regencial é objeto de debate historiográfico. Para alguns autores, o Ato
Adicional era um acordo entre centralização e descentralização (mas essa visão não é usada pelo
Cespe).
Como não havia um exército confiável, não tínhamos como controlar a soberania. Todos
os elementos que garantiam a estabilidade da política externa tinham sido fragilizados: não
havia orçamento, exército e marinha estavam enfraquecidos, e o conselho de Estado havia sido
extinto.
Amado Cervo chama essa postura de imobilismo, sobretudo em relação ao Prata em um
momento no qual Rosas estava em ascensão na Argentina (1835). Na região do Pirara, houve
ameaça europeia.
Os ingleses exigiam a proibição do tráfico de escravos1.
Houve também tensões com a Igreja. O chefe de Estado era o chefe da Igreja, mas o
chefe de Estado era um padre - um padre que nomeava bispos. Feijó apoiava um candidato a
bispo que era contra o celibato. A Igreja não quis reconhecer. Ficar sem bispo era um problema
burocrático para o Estado. O Rio ficou sem bispo por muito tempo.
Durante a regência, o Brasil pagou muita indenização devido ao bloqueio do Prata.
O ponto positivo desse período foi que o debate sobre a política externa passou a
acontecer no parlamento.
.
Em 1841, o conselho de Estados foi restaurado com uma parte dedicada a política
externa. No ano seguinte, a Reforma Sepetiba deu maior robustez às instituições organizando o
departamento de negócios estrangeiros.
A diplomacia brasileira tentou enfraquecer os convênios que os farrapos faziam com
dissidentes de outros Estados. Os farrapos fizeram pressão para que o Império atacasse Rosas.
Temendo que os farrapos se separassem novamente, o Brasil atacou. Para Amado Cervo, a partir
do final da Farroupilha, o Brasil assumiu a agenda gaúcha; ele afirmou que a política externa foi
sequestrada pelo Rio Grande do Sul.

CONSTRUÇÃO DO ESTADO IMPERIAL BRASILEIRO


O Golpe da Maioridade foi um golpe liberal. O imperador tinha 14 anos.
As eleições2 aconteciam dentro das Igrejas. As eleições que aconteceram logo após o
Golpe, ficaram conhecidas como Eleições do Cacete devido à violência e à fraude. Os liberais
ganharam, mas o imperador dissolveu e os conservadores voltaram ao poder.
A facção áulica era o grupo que controlava o Paço Imperial, mas perdeu o poder após o
imperador completar 18 anos.
Entre 1844-46, ele empoderou-se. Os áulicos estavam próximos ao poder conservador.
Em 1841, o conselho de Estado reabriu e o poder moderador foi restaurado plenamente.
Em 1942, tivemos a última eleição com característica colonial.
Em 1844, Dom Pedro II convocou os liberais para deixar claro que ele tinha o poder.
Começava a haver um regime político no qual o poder moderador fazia parte do jogo político
(daí o nome parlamentarismo às avessas).
O imperador escolhia o primeiro-ministro (chefe de gabinete) que escolhia 6 ministros.
O ministro do Império controlava todos os presidentes de províncias; e o ministro da justiça,
todos os delegados. Depois disso, as eleições eram convocadas. Conclusão: o governo nunca
perdeu uma eleição. O parlamentarismo às avessas gerava certa estabilidade.
A figura do presidente dos ministros blindava a figura do imperador; porque caso o
governo fosse ruim, era o presidente quem caia.

1A Lei Feijó ficou conhecida como “lei para inglês ver” porque ela não foi cumprida.
2Fósforo era a pessoa que ganhava dinheiro fazendo-se passar por um votante e cabalista era quem recebia dinheiro para garantir
que as pessoas fossem votar.
O primeiro presidente foi Marquês de Olinda, um liberal. A partir daí, começou um
sistema de gabinete.
Governo Quinquênio ou Gabinete Gabinete da
Governo Liberal
Conservador Lustro Liberal Saquarema Conciliação
(1840)
(1840-44) (1844-48) (1848-53) (1853)

Gabinete Declínio Gabinete Gabinete


Retorno Liberal
Progressista Conservador Conservador Liberal de Ouro
(1878-85)
(1862) (1868 -78) (1885-88) Preto (1888-89)

A partir de 1837, depois de um longo período de crise econômica, o açúcar começou a


ser superado. No momento em que o regresso conversador chegou ao poder, o café tornou-se
o principal produto.
Os conservadores mais poderosos eram aqueles do Vale do Paraíba.
O Tempo Saquarema foi o período no qual os conservadores conseguiram convencer os
liberais de que adotar medidas centralizadoras e conservadoras era melhor para o país. A matriz
ideológica tanto dos liberais quanto dos conservadores era a mesma: a conservadora.
Em 1853, os conservadores saíram do poder para outro gabinete conservador ser
formado. Carneiro Leão compôs seu gabinete com quatro ministros conservadores e dois
liberais. Esse gabinete ficou conhecido como Gabinete da Conciliação.
Em 1860, os liberais ganharam 20% das cadeiras, esse ano foi conhecido como o
renascer liberal. Em 1862, o Gabinete Progressista misturava liberais com conservadores.
Dos 39 gabinetes, 20 foram liberais e 19 conservadores. Dos 49 anos, 29 foram de
conservadores. Em outras palavras, os gabinetes liberais duravam menos tempo que os
conservadores. Esses últimos eram mais homogêneos e estáveis.
As Lei Eusébio de Queirós, Lei 28 de Setembro (ou Do Vente Livre), Lei Saraiva de
Cotegipe (ou Do Sexagenário) e Lei Áurea foram todas aprovadas em gabinetes conservadores.
A Lei Alves Branco em 1844 para Amado Cervo simboliza o embrião da industrialização
brasileira. Ela foi uma vitória da facção industrialista e aumentava a arrecadação pondo fim aos
Tratados Desiguais. A tarifa dobrou para 30% e se houvesse similar nacional, a tarifa seria 60%.
Esse protecionismo contribuiu para o fim da Farroupilha. Entretanto, o espírito de 44 não durou
muito tempo. A partir da década de 50 não havia mais clareza tarifária. Amado Cervo elega que
a política tarifária passou a ser errática não permitindo que o empresariado se organizasse. O
sucesso do café também inibiu a industrialização no primeiro momento.

Leituras Obrigatórias:
MATTOS, Ilmar Rohlo. Tempo Saquarema. Rio de Janeiro: Ed. Hucitec, 1987.
CARVALHO, José Murilo de. “A vida política”. In.: CARVALHO, José Murilo de (Coord.) História do Brasil
Nação – Vol. II: A Construção Nacional (1830-1889), parte 4. Rio de Janeiro: Ed. Objetiva, 2012. (Direção
da Coleção Lilia Moritz Schwarcz).

Leituras Complementares:
CARVALHO, José Murilo de. A Construção da Ordem e O Teatro das Sombras. Rio de Janeiro: Ed. Relume-
Dumará, 1996
AULA 11 – HISTÓRIA DO BRASIL
SEGUNDO REINADO (SÍNTESE POLÍTICA)
No parlamentarismo ás avessas, o rei reinava e governava, havia um fusível político (o
presidente dos ministros) e, o sistema era bipartidário.
Tanto os liberais quanto os conservadores eram ideologicamente conservadores:
queriam manter o latifúndio, a monarquia, a escravidão, o voto censitário, a unidade territorial.
José Murilo de Carvalho defende a tese da acumulação primitiva de poder: a monarquia
foi acumulando poder (maioridade, fim do habeas corpus, Lei Interpretativa, criação do
delegado de polícia). A escravidão era o compromisso da monarquia com os setores senhorias.
Ilmar e Castro enfatizam o elemento da escravidão que legitimava o medo da haitianização do
Brasil (o que viabilizava o discurso conversador). Para Murilo, foi a homogeneidade das elites
que permitiu a unidade. As elites que ocupavam o aparato governamental eram
majoritariamente compostas por advogados formados em Coimbra, São Paulo e Recife. Esses
bacharéis iam subindo de cargo e essa rotatividade da elite fazia com que eles se conhecessem.
Essa matriz coimbrã garantiu uma homogeneidade de formação.

•Gabinte da Maioridade
1840

•Hegemonia Conservadora
1844

•Quinquênio Liberal
1844-48

•Gabinete Saquarema
1848–53

•Gabinete de Conciliação
1853

•Gabintene Progressita
1862-68

•Decênio Conservador
1868-78

•Liberais
1878-85

•Retorno dos Conservadores


1885-88

•Gabinte Ouro Preto


1888-89
Saquarema é um termo usado para se referir aos conservadores do Rio de Janeiro por
conta do Visconde de Itaboraí, dono de uma fazenda em Saquarema na qual reunia os
conservadores. Dos seis ministros do Gabinete Saquarema, três eram do Rio de Janeiro - a
Trindade Saquarema.
O Gabinete da Conciliação tinha alguns liberais e começou a declinar após a morte de
Marquês do Paraná.

Gabinete Saquarema
Durante esse período, houve a primazia do Rio de Janeiro, sobretudo do Vale do Paraíba
e a repressão à Praieira1.
Paulino José Soares de Souza se tornou ministro das relações exteriores. Durante sua
gestão foi aprovada a Lei Eusébio de Queirós (que instituía o fim do tráfico de escravos), houve
o retorno ao intervencionismo platino (após mais de 10 anos de imobilismo) e a questão das
fronteiras (com a pressão norte-americana para que o Brasil abrisse a livre navegação na
Amazônia).

Reformas Eleitorais2
• Lei dos círculos (1855): criou o voto distrital, o que levou a uma ascensão
progressiva dos liberais. Vários caciques não foram eleitos e um grande número
de desconhecidos chegou ao poder – notabilidades de paroquia;
• Segunda Lei dos Círculos (1860): modificou o voto distrital para que o círculo
aumentasse, o círculo passou de 1 para 3 deputados;
• Lei do Terço (1873): um dos três deputados tinha de ser da oposição;
• Lei Saraiva (1881): acabou com o sistema indireto de votos. Para votar, bastava
ser alfabetizado e ter 200 mil réis.

Gabinete Progressista
Esse gabinete tinha alguns conservadores moderados. Nele foram propostas várias
medidas, mas nenhuma delas foi implementada.
Nesse período, o Brasil rompeu com a Inglaterra (Questão Christie) e a Guerra do
Paraguai começou.

Caxias era um membro do partido conservador; ele teve que lutar como general sob um
governo liberal. Caxias foi nomeado ministro da guerra, mas foi boicotado pelos jornais e
imprensa. Dom Pedro II percebeu que isso estava atrapalhando a guerra, uma decisão havia de
ser feita: Caxias ou Zacarias. Zacarias se demitiu (1868) e Caxias assumiu. O gabinete foi
escolhido para dar suporte a guerra. A queda do Gabinete Zacarias foi a caixa de Pandora do
Império – anos depois, o partido republicano foi fundado.
Depois da Guerra do Paraguai, começou a crise do Império.
Entre 1871 e 1875, o gabinete Rio Branco fez uma série de reformas como a Lei do
Ventre Livre, uma reforma educacional, a Lei do Terço. Ele reformou a Guarda Nacional, fez o
primeiro censo brasileiro, ligou o Brasil à Europa por telégrafos, fez uma escola de engenharia,
prendeu os bispos que seguiram a bula papal e ignoraram as ordens do imperador.
No governo liberal de 1878, a instabilidade foi oriunda das pressões abolicionistas.
Quando os conservadores voltaram ao poder, eles começaram a reprimir os abolicionistas. A
questão militar surgiu nos gabinetes liberais.

1 Francisco Torres Homem escreveu o Libelo do Povo um panfleto contra a repressão à Praieira.
2
As duas primeiras reformas eleitorais aconteceram no Gabinete da Conciliação.
Leituras Obrigatórias:
DORATIOTO, Francisco. O Império do Brasil e a Argentina (1822-1889). Textos de História, vol.
16, n. 2, 2008, pp. 217-47.

Leituras Complementares:
CERVO, Amado; BUENO, Clodoaldo. História da política exterior do Brasil. Brasília: Ed. UnB, 2003.
SANTOS, Luis Cláudio Villafañ e Gomes. O Império e as Repúblicas do Pacífico. As relações do
Brasil com Chile, Bolívia, Peru, Equador e Colômbia. Curitiba: Ed. UFPR, 2002.
SANTOS, Luis Cláudio Villafañ e Gomes. O Brasil entre a América e a Europa. São Paulo: UNESP,
2004.
AULA 12 – HISTÓRIA DO BRASIL
Entre 1845 e 1851, houve um debate no parlamento sobre a manutenção do imobilismo
ou não. Devido a pressões gaúchas, o Brasil decidiu invadir o Uruguai para derrubar o governo
dos blancos. Rosas declarou guerra ao Brasil (Guerra contra Oribe e Rosas). Antes de enviar
tropas, diplomatas brasileiros foram enviados para conseguir apoio local (dos colorados no
Uruguai e de Urquiza na Argentina).
A queda do Rosas levou a uma conflagração interna na Argentina. Buenos Aires não
assinou a Constituição liberal federalista de 1853. A disputa entre Buenos Aires e províncias
perdurou por toda a década de 1850. Isso possibilitou que o Brasil conseguisse a hegemonia
platina.
Mitre era um liberal e na década de 1860 o grupo em ascensão no Brasil era a Liga
Progressista formada por liberais. Para Doratioto, essa convergência ideológica facilitou a
aproximação entre as duas nações. Foi nesse contexto que a Tríplice Aliança se formou (1865).
Em 1851, houve a Missão Paraná no Uruguai na qual foram assinados seis tratados. O
título Visconde do Uruguai concedido ao ministro das relações exteriores é uma síntese da
hegemônica brasileira na região.

Cronologia:
Guerra contra Oribe - 1851
Guerra contra Rosas - 1852
Guerra contra Aguirre / Berro (blancos) - 1864
Guerra do Paraguai (contra Solano López) - 1864-70

Tráfico de Escravos
Em 1807, a Inglaterra aboliu o tráfico de escravos. Em 1815, no Congresso de Viena ficou
proibido o tráfico de escravos acima da Linha do Equador.
Em 1810 e em 1817, Portugal fez acordos bilaterais prometendo acabar com o tráfico
no futuro.
Em 1825/27, o tratado previa que o tráfico acabaria em três anos.
Em 1831, foi feita a Lei Feijó ( a “lei para inglês ver”) que não foi seguida. Em 1845, a Bill
Aberdeen, resposta à Lei Alves Branco, equiparou o tráfico a pirataria. Para burlar a
determinação britânica, os traficantes passaram a usar a bandeira norte-americana nos navios,
a deixar que um navio fosse capturado para passar com os outros e a subornar os tribunais
ingleses. O tráfico de escravos aumentou absurdamente. Os navios ingleses começaram a
bombardear os navios brasileiros. O governo do Brasil decidiu abolir o tráfico de escravo.
Para Amado Cervo, a proibição do tráfico negreiro foi uma decisão brasileira, soberana,
fruto de um Estado nacional consolidado. Eusébio de Queirós teve de defender essa lei diante
de um parlamento conservador. Ele afirmou que a Inglaterra atrapalhava a abolição do tráfico
porque a ação repressiva aumentava o preço do escravo e isso fazia com que os traficantes se
tornassem inimigos: poucos controlavam todo o tráfico de escravos e os senhores de terra se
endividaram. Além disso, ele afirmou se tratar de uma questão de saúde pública e, sobretudo,
de segurança tendo em vista que em algumas regiões o número de escravos excedia a
quantidade de pessoas livres – medo de uma haitização.
Depois da Lei Eusébio passou a existir o tráfico interprovincial: os escravos passaram a
ser enviados para o sudeste.
Terra Mão-de-obra
Colônia Livre Cativa
Pós-1850 Lei de Terras – consolidou o Após a Lei Eusébio de Queirós, ela
latifúndio no Brasil dificultando o poderia vir a ser livre e imigrante.
acesso à terra.

Fronteiras
Duarte da Ponte Ribeiro reinseriu o conceito do uti possidetis no Brasil.
Durante as regências, Ponte Ribeiro representou o Brasil no Peru. Lá, ele assinou um
tratado (que o governo brasileiro não tinha autorizado), mas esse nunca foi ratificado pelo
Congresso.
Paulino José Soares de Sousa deu sustento a opinião de Ponte Ribeiro. O gabinete de
Paulino teve alguns focos importantes. Suas principais diretrizes eram:
• buscar negociações bilaterais;
• uti possidetis de facto;
• usar fronteiras naturais;
• conceder direito de navegação.
Foi feito um Convênio em 1851 com o Uruguai.
O representante norte-americano no Brasil sugeriu que deveria ser estabelecida a livre
navegação na Amazônica. Paulino recusou temendo uma ocupação americana da região. Ele
alegou que eram águas internacionais, mas não americanas – eram águas internacionais dos
países que formavam a bacia. Peru e Bolívia queriam a livre navegação.
Ponte Ribeiro conseguiu que o Peru (1851) aceitasse o uti possidetis de facto em troca
da livre navegação. Ele conseguiu fechar tratados análogos com Colômbia (1852) e Venezuela
(1853). (Esses dois últimos países não ratificaram os tratados).
Em 1859, a Venezuela aceitou um tratado com o Brasil. Em 1867, assinamos com a
Bolívia o Tratado Ayacucho.
Em 1866, o Brasil abriu a livre navegação amazônica uma vez que a Guerra Civil
Americana já tinha acabado.
O Tratado com o Paraguai aconteceu em 1872.
Firmamos um tratado com a Argentina, em 1889, que dava três meses de carência para
a resolução da Questão de Palmas caso contrário a questão seria levada à arbitragem.
À Colômbia não interessava o direito de navegação porque ela tem saída para dois
oceanos.
As questões da Guiana e Pirara só foram resolvidas na República.

Leituras Obrigatórias:
DORATIOTO, Francisco. Maldita Guerra. Nova História da Guerra do Paraguai. São Paulo: Cia das
Letras, 2002.

Leituras Complementares:
GRINBERG, Keila; SALLES, Ricardo (orgs.). O Brasil imperial. Vol. II: 1831-1870. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2009.
AULA 13 - HISTÓRIA DO BRASIL
OCASO DO IMPERIO
Joaquim Nabuco argumentava que os militares que lutaram na Guerra do Paraguai
tinham tido contato com as ideias republicanas, mas do ponto de vista historiográfico esse
argumento não se sustenta mais.
Boris Fausto e José Murilo de Carvalho enfatizam o papel do exército. Para Boris Fausto,
só os militares poderiam proclamar a república sendo que o movimento republicano era
extremamente fragmentado e estava concentrado sobretudo no sul do país. Silva Jardim não
conseguia fazer comícios republicanos no norte, ele era impedido pela população. Só o exército
estava presente em todo país, qualquer outra forma de proclamação da república não seria
nacional. Mas essa teoria não responde por que a república foi proclamada.
Alguns autores identificam que a escravidão era tão necessária à monarquia que uma
vez abolida, a monarquia não se sustentou.
F. Costa dizia que a monarquia perdeu o apoio do clero devido à questão religiosa em
1874 (quando os bispos de Belém e de Olinda foram presos).
José Murilo de Carvalho argumenta que uma pequena parcela dos militares (jovens que
tinham tido contato com as ideias positivistas e iluministas) proclamou a república. Deodoro ia
derrubar o governo liberal do Ouro Preto (os militares simpatizavam com os conservadores),
mas devido ao boato de que Silveira Martins, um liberal que não se dava com Deodoro,
assumiria; a república foi proclamada.
Todas as questões (diferentes visões historiográficas) surgiram após a Guerra do
Paraguai. O positivismo formou uma proto-homogeneidade, teve a mesma função de Coimbra.
A hipótese de Ângela Alonso mais do que explica como o exército estava ganhando
homogeneidade, ela explica como os bacharéis estavam perdendo-a. Ela menciona a década do
renascer liberal que deu origem a liga progressista que entrou em colapso quando o imperador
teve que escolher entre Caxias e Zacarias. Os conservadores assumiram o poder - os liberais
entenderam aquilo como golpe de Estado. Durante os dez anos de governo dos conservadores,
formou-se uma nova categoria, uma nova classe social. Os liberais ficaram alijados do poder. A
geração de 1870 não participou do governo, não conseguiu emprego e não conseguiu criticar o
governo porque a agenda liberal havia sido sequestrada pelos conservadores. Essa geração
precisava se reinventar. Surgiu um bando de ideias novas: positivismo, federalismo,
republicanismo, abolicionismo, novas estratégias para difundir ideias. Essas ideias eram
heterogêneas.

A Guerra do Paraguai
As forças que explicam a Guerra do Paraguai têm a ver com o processo de formação dos
Estados nacionais que herdaram os conflitos platinos dos impérios ibéricos.

Histórico de Conflitos
Cisplatina: Brasil X Argentina e Uruguai (Brasil perdeu)
Oribe e Rosas: Brasil X Blancos e Federados (Brasil ganhou por se aliar aos Colorados e a
Urquiza)
Paraguai: Brasil X Paraguai (Brasil ganhou por conta da Tríplice Aliança)

A formação da Tríplice Aliança foi favorecida pela coesão liberal.


O fim do isolamento paraguaio se deu após a mudança de governo: Gaspar Rodrigues
morreu e Solano Lopez assumiu. Em um primeiro momento, ele fez um esforço para romper o
isolamento se aproximando do Brasil. O Brasil, na década de 1940, reconheceu a independência
do Paraguai.
Em 1851, tomamos o Uruguai e colocamos Urquiza no governo argentino. O Paraguai
começou a temer a questão da livre navegação e redirecionou sua estratégia aproximando-se
da Argentina, mas logo percebeu que qualquer hegemonia colocava a livre navegação em risco.
Então, Solano Lopez tentou conseguir acesso ao mar. O Paraguai começou a buscar autonomia.
O governo uruguaio tentou se aproximar do Paraguai. Argentina e Brasil se juntaram
para intervir no Uruguai derrubando o governo em 1863. O Solano Lopez deu um ultimato ao
Brasil. No mesmo ano, o governo paraguaio capturou navios brasileiros, invadiu o Mato Grosso
e algumas cidades argentinas. Em 1865, o Brasil assinou o tratado da Tríplice Alianca (Argentina,
Brasil e Uruguai). Esse tratado sofreu críticas porque os conservadores temiam que a Argentina
ampliasse a fronteira com o Brasil.
A Guerra do Paraguai começou em um gabinete liberal. No primeiro momento, houve
um entusiasmo gigantesco sobre a guerra - há historiadores que indicam que o nacionalismo
surgiu aí. Mas conforme a guerra se prolongava, o entusiasmo foi diminuindo.
O exército brasileiro estava comando por Bartolomeu Mitre. Quando Caxias assumiu o
comando, os liberais começaram a criticar. Em 1868, um governo foi feito para se adequar ao
general. Isso foi fundamental para a guerra - em menos de um ano depois, Caxias já tinha
conquistado Assunção. Ele foi o único duque do império que não pertencia à família real.
Em 1869, os governos de Argentina e Brasil tinham mudado. Não havia mais identidade
política. Visconde do Rio Branco, ministro das relações exteriores, ficou um ano no Paraguai
fazendo uma espécie de statebuilding. Assinamos, então, um tratado com o Paraguai, mas
segundo a Tríplice Aliança isso não poderia acontecer. O Brasil manteve as tropas no Paraguai
até que o governo Paraguai decidiu fazer arbitragem com a Argentina (o Paraguai ganhou o
território).
Em 1866, o Brasil abriu a livre navegação amazônica. A Inglaterra estava neutra no
conflito, mas conseguiu acesso ao tratado da Tríplice Aliança que falava em tomada de território
e o fez público (além disso, fez empréstimos ao Brasil financiando cerca de 20% a 30% da guerra).
Dentre as consequências podemos apontar a queda da popularidade do Mitre (houve
rebeliões para derrubá-los) e o assassinato do presidente uruguaio. No Brasil, houve rebeliões
de mulheres contra a guerra. Uma parte do efetivo foi de escravos ao quais prometeu-lhes a
alforria. Essa insatisfação levou ao descontentamento do parlamento.
Do ponto de vista econômico, o endividamento aumentou. Entre 65% a 80% da
arrecadação estava no setor externo da economia (o império arrecadava com as importações e
as províncias arrecadavam com as exportações). O império brasileiro não tinha capilaridade na
arrecadação de impostos. O orçamento imperial sempre foi deficitário devido a essa má
arrecadação. Para diminuir o déficit, o governo fazia empréstimos. (Após a Lei Alves Branco que
aumentou a arrecadação, conseguimos ficar 8 anos sem empréstimos.)

Resumo:
▪ Oliveira Viana – Livro: O ocaso do império no Brasil
▪ Joaquim Nabuco - oficiais republicanizados na Guerra do Paraguai
▪ Ilmar Matos - questão abolicionista (vinculação entre monarquia e escravidão)
▪ Boris Fausto - só os militares poderiam proclamar a república porque estavam
presentes em todo o território
▪ As questões – questão militar, questão abolicionista, questão religiosa, questão
republicana
▪ Angela Alonso - um bando de ideias novas (republicanismo, positivismo, federalismo,
abolicionismo, novas estratégias de ação política); a república seria fruto da geração
de 1870, uma geração heterogênea.
Leituras Obrigatórias:
DORATIOTO, Francisco. Maldita Guerra. Nova História da Guerra do Paraguai. São Paulo: Cia das
Letras, 2002.

Leituras Complementares:
GRINBERG, Keila; SALLES, Ricardo (orgs.). O Brasil imperial. Vol. II: 1831-1870. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2009.
AULA 14 - HISTÓRIA DO BRASIL
CULTURA DO IMPÉRIO
Entre 1830 e 1850 foi o período de construção e de consolidação da identidade nacional
do Império. Ele se iniciou no Regresso Conservador (1837), mas antes tivemos alguns
movimentos como o Seminário de Olinda, a missão artística francesa e as faculdades de direito.
Em 2 de dezembro de 1837, foi criado o Colégio Dom Pedro II. A partir desse colégio, os
filhos da elite e alguns órfãos passaram a estudar juntos.
Em 1838, vários intelectuais formaram o IHGB com o objetivo de criar uma história e
geografia nacional. O IHGB tem um projeto político explicito e definitivo de formar uma
identidade nacional brasileira. Foi nele que nasceu o romantismo. Gonçalves de Magalhães foi
um dos fundadores do IHGB.
Esse projeto de identidade nacional era para elite. Ele só alcançou o povo na Guerra do
Paraguai e só se difundiu mesmo na Era Vargas.
Nesse processo, a figura do índio foi destacada, por exemplo: poema A Confederação
dos Tamoios de Gonçalves de Magalhães.
Os herdeiros da missão artística (Pedro Américo e Vitor Meireles) copiavam os cânones
europeus para representar os momentos históricos. O projeto brasileiro era de autoexotismo:
olhávamos para dentro com um olhar de fora.
O nome das ruas também foi usado para produzir uma identidade nacional.
A incorporação do evolucionismo e do determinismo deram origem ao racismo e,
consequentemente, a uma política de branqueamento nas décadas de 70 e 80 e ao fomento à
imigração. Havia a crença de que o progresso estava ligado ao branqueamento da população.

Questão Republicana
Havia exemplos republicanos antes da década de 1870 (e.g. Confederação do Equador),
mas o movimento republicano só se institucionalizou em 1870 com a formação do partido
republicano após a queda do Gabinete Zacarias - que levou ao colapso do partido progressista
dando origem a dois clubes liberais: o clube da reforma e o clube radical.
O Manifesto Republicano de 1870 foi o embrião do partido republicano que nasceria do
clube radical. O movimento era frágil, heterogêneo e sem presença nacional.
Os paulistas tinham convicções republicanas: no oeste paulista havia os empresários do
café; São Paulo estava em ascensão econômica e a centralização do império incomodava porque
o dinheiro arrecadado era implementado em outros lugares. Os paulistas queriam a
federalização, sobretudo das receitas. Em 1873, foi fundado o PRP (Partido Republicano
Paulista). No Rio Grande do Sul, a maior parte dos republicanos eram militares positivistas
(chamados de científicos); enquanto demais republicanos eram chamados de republicanos
históricos.

Questão Militar
Visconde do Rio Branco enfraqueceu a guarda nacional que era uma demanda militar,
mas ele morreu em 1878. Dois anos depois, Osório morreu. Os liberais não tinham mais diálogo
com o exército.
A questão republicana nasceu com o exército sendo punido pelos liberais. Os grandes
conflitos se davam por conta da crescentemente agenda abolicionista do exército. Os oficiais se
ressentiam também por conta de um governo civil com cada vez menos interlocução com o setor
castrense.
Em um determinado momento os jangadeiros pararam de transportar escravos. Um
deles foi homenageado por um oficial (Senra Madureira), que foi imediatamente transferido. O
governo começou a notificar os militares que participavam de movimentos abolicionismo. A
cúpula do exército começou a achar que o governo civil estava se metendo demais e começou
a defender os oficiais seriam punidos. Isso aconteceu entre 1882 e 1885 (Lei da Ficha Limpa).
Deodoro se recusou a punir Senra Madureira. Em 1885, os conservadores voltaram ao poder e
a Ficha Limpa foi aprovada.
Deodoro fundou uma organização, o Clube Militar, para proteger os membros da classe.

Questão Abolicionista
▪ 1850 - Lei Eusébio Queirós
▪ 1871 - Lei do Ventre Livre
▪ 1885 - Lei dos Sexagenários (ou Lei Saraiva de Cotegipe)
▪ 1888 - Lei Áurea (durante o Gabinete João Alfredo)

Havia um debate sobre a questão da indenização. Silva Jardim achava que os escravos
deveriam receber indenização. A elite brasileira não recebeu indenização. Em contrapartida, o
ano de 1888 foi o ano em que mais títulos de nobreza foram concedidos.
Essa questão deu origem aos republicanos de última hora (republicanos do dia 14).
A resistência negra se dá em coisas que a historiografia não enxerga. A lei só constatou
um fato consumado, já havia espaços de liberdade cotidianos.

Questão Religiosa (1874)


O papa havia feito a Bula Quanta Cura e o Syllabus no qual proibia que maçons
participassem dos sacramentos da Igreja. O governo brasileiro disse que essa ordem não deveria
ser cumprida. Mas dois padres desobedeceram e foram presos por isso. E depois, foram
anistiados.
Obs.: quem rezou a missa de ação de graças pela abolição foi um dos bispos que foi
preso.

Leituras Obrigatórias:
ALONSO, A. Flores, votos e balas. O movimento abolicionista brasileiro (1868-1888). 1. ed. São
Paulo: Companhia das Letras, 2015. v. 3000. 529 p.
ALONSO, A. Ideias em movimento: a geração 1870 na crise do Brasil-Império. São Paulo: Paz &
Terra, 2002. 392 p.

Leituras Complementares:
Costa, Emília Viotti da. Da monarquia à república: momentos decisivos/Emília Viotti da. Costa. –
6.ed. – São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1999.
AULA 15 - HISTÓRIA DO BRASIL
PRIMEIRA REPÚBLICA
Entre 1889-94 tivemos a Primeira República. Deodoro venceu como presidente, mas
Floriano (da oposição) venceu como vice. Floriano chegou a presidência após a renúncia de
Deodoro. Em caso de renúncia deveria haver novas eleições, mas Floriano permaneceu no
poder. Foi um período autoritário.
Em 1894, Floriano fez um acordo e se retirou do poder e uma eleição geral foi realizada.
Houve uma pequena participação popular.
De 1894 a 1930, tivemos a República Oligárquica. Nessa segunda fase, houve a
predominância dos civis, sobretudo da elite cafeicultora. Mas entre 1910-14, houve o governo
de Marechal Hermes.
Segundo José Murilo de Carvalho, a república foi proclamada porque os militares
acabaram construindo uma certa homogeneidade. Os militares defendiam uma visão de ordem
e progresso, uma visão centralizadora. O federalismo era a antítese dessa tese. Para os militares,
a República precisava ser salva de si mesma. Na constituição da República, os militares tinham
que obedecer ao poder constituído dentro dos marcos constitucionais da legalidade. Na
Primeira República, o exército é o poder desestabilizador.
O marco da estabilização se deu a partir do governo de Campos Sales quando ele criou
a política dos governadores.
O governo Artur Bernardes (1923-27) viveu quase todo o período em estado de sítio.
Porém, o governo mais instável foi de Hermes da Fonseca. Houve várias rebeliões.
Política das salvações era quando o exército fazia intervenções a fim de salvar a
República.
A República da Espada pode ser dividida em três momentos:
▪ governo provisório (1889-91);
▪ governo constitucional de Deodoro (1891);
▪ governo constitucional de Floriano (1891-94).

Durante o governo provisório não havia constituição; a administração era feita por meio
de decretos. O primeiro decreto foi prescrevendo a saída da Família Real em 24 horas. Foi
decretado que o Brasil seria um Estado laico. Iniciou-se um processo de romanização da Igreja
que perdeu prestígio político, mas ganhu educacional.
Houve movimentos messiânicos como a Revolução de Canudos e Rebelião do
Contestado.
O decreto da grande naturalização previa que todo estrangeiro que estivesse morando
no Brasil viraria brasileiro. Essa medida tinha a ver com o branqueamento da população. (O
imperialismo era justificado por meio da ocupação efetiva do território; no momento em que
há uma naturalização, essa justificativa acaba.)
Foram criados novos símbolos nacionais e os arquivos sobre a escravidão foram
queimados.
A política emissionista gerou o chamado encilhamento. Era necessário colocar dinheiro
em circulação para pagar os salários. No mundo, ocorria um choque de liquidez. É difícil apontar
se o encilhamento é fruto da política interna ou de um contexto sistêmico. O encilhamento
deixou um legado industrializante, ainda que tímido.
Do ponto de vista político, para os países da Europa as repúblicas latinas eram instáveis.
O Brasil se aproximou dos EUA ideologicamente, queríamos nos inserir no mundo da mesma
forma que eles. Podemos dizer que se tratava de uma visão kantiana das relações internacionais:
era ideológica e não (era) pragmática.
Na hora em que a República foi proclamada, o Brasil tinha assinado um acordo para resolver a
Questão de Palmas. O Tratado de Montevideo (1890) não tinha sido aprovado pelo congresso.
Por esse tratado, o pedaço do Rio Grande do Sul estaria ligado ao Brasil por uma estreita faixa
de terra podendo ser facilmente incorporado pela Argentina.
A questão foi resolvida por arbitragem feita pelos EUA.
A proposta norte-americana na Conferência Interamericana (1889) era a criação de um
zolvenrein, uma união aduaneira, na América diminuindo os impostos – mas isso quebraria o
Brasil. Havia uma outra proposta sobre o estabelecimento de um tribunal arbitral geral.
O Brasil começou a fazer algo que faria ao longo de toda República: servir de
intermediador das tensões entre Argentina e EUA.
O Acordo Blaine-Mendonça (1891), entre Brasil e EUA, foi o primeiro acordo comercial
da República. Esse acordo marcou a alteração das diretrizes do Império. No império, as
negociações eram biliterais e não por arbitragem e o último tratado comercial assinado tinham
sido os desiguais. O Império era mais próximo à Europa enquanto a República era ligada aos
EUA.
A Constituição de 1891 incorporou algumas ações do governo provisório como o estado
laico e a grande naturalização. Ela foi inspirada da constituição norte-americana de 1787 e na
argentina de 1853. Ela adota o federalismo fortalecendo os estados (cada estado tinha suas
próprias forças armadas e podia pegar empréstimos internacionais). O voto era aberto e com
várias restrições: padres, desocupados, mulheres, militares de baixa patente, analfabetos, todos
não podiam votar - menos de 1% da população votava.
O artigo 88 da constituição proibia o Brasil de entrar em guerra exceto as defensivas -
visão kantiana.
O governo Deodoro foi marcado por tensões. Ele temia sofrer um golpe parlamentar
como ocorreu no Chile (que estava em guerra civil - presidente X Assembleia). Os EUA apoiaram
o presidente chileno. Por isso, Blaine-Mendonça foi aprovado à toque de caixa: Deodoro
precisava se aproximar dos EUA. Esse acordo era benéfico ao açúcar brasileiro (o ministério era
formado sobretudo por nordestinos). Deodoro tentou dar um golpe contra o parlamento, a
Marinha ameaçou bombardear o Rio. Deodoro renunciou.

Leituras Obrigatórias:
MATTOS, Hebe. “A vida Política”in.: História do Brasil Nação – Vol III : A Abertura para o Mundo (1889-
1930). Rio de Janeiro: Ed. Objetiva, 2012.

Leituras Complementares:
CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira,
2002.
CARVALHO, José Murilo de. A Formação das Almas. o imaginá rio da República no Brasil. São Paulo:
Companhia das Letras, 1990
AULA 16 - HISTÓRIA DO BRASIL
ANOS ENTRÓPICOS
A instabilidade continuou no governo Floriano pois ele carecia de legitimidade. Essa
instabilidade se agravou por conta das rebeliões: Revolta da Armada, Revolução Federalista.
Havia a tese de três modelos políticos de República: o positivista (centralização), o norte-
americano (federalista) e o francês (jacobinista).
Os jacobinos estavam vinculados aos abolicionistas; porém quando a monarquia aboliu
a escravidão, ela usurpou a bandeira do movimento republicano. O povo se aproximou da
monarquia. O projeto radical jacobino atingiu o ápice no período Floriano.
O governo Floriano Peixoto tinha um problema de legitimidade porque
constitucionalmente deveria ter ocorrido outra eleição. Foi um governo autoritário. Ele prendeu
oficiais da Marinha, o ministro do supremo, proibiu livro. Mas ele tinha uma popularidade
significativa por conta das medidas populares como congelamento dos preços. Ele recebeu o
título de Marechal de ferro.
Houve um estimulo ao antilusitanismo.
Durante a Segunda Revolta da Armada, Floriano não cede às ameaças e a cidade é
bombardeada cidade. Os cônsules estrangeiros conseguiram convencer os revoltosos a
suspenderem os bombardeios – o Rio virou uma zona neutra e Niterói passou a ser
bombardeada. Ao enfrentar a Marinha que estava bombardeando as pessoas, Floriano ganhou
mais popularidade. A Esquadra de Papel (ou Esquadra Flint) veio reprimir a Revolta. Os
revoltosos capturados eram degolados ou fuzilados e isso fazia com que eles temessem se
render. Parte dos insurgentes ficaram exilados dentro de um navio português. Eles foram até
Buenos Aires, atravessaram a fronteira e foram ajudar os federalistas. Esse episódio levou
Floriano a romper relações diplomáticas com Portugal. Eram anos entrópicos.
Francisco Glicéres formou o Partido Republicano Federal, uma coalizão dos partidos
republicanos estaduais.
O governo de Prudente de Moraes foi o início da República Oligárquica. Ainda havia
instabilidade (1894-98). Ocorria a Revolução Federalista no sul, as relações com Portugal foram
reatadas, houve a invasão britânica à Ilha de Trindade (a solução foi mediada pelo governo
português).
O jacobinismo florianista continuou após a morte de Floriano.
Na primeira expedição a Canudos, a polícia da Bahia perdeu. Na segunda, o exército
perdeu. As pessoas começaram a temer ir para Canudos. Para montar a última expedição o
governo ofereceu casa própria para quem se alistasse.
Prudente de Moraes teve problemas com Francisco Glicéres, então presidente do
Congresso. Glicéres começou a se articular com o vice-presidente. Prudente ficou doente e
Manoel Vitorino assumiu o governo: demitiu todos os ministérios e passou a agir de forma
contrária.
No dia em que Moreira Cesar morreu, Prudente se recuperou e o processo jacobino
fracassou de vez. Como um exército que não conseguia reprimir jagunço sebastianista no sertão
poderia dar ordem e progresso ao país? Prudente reassumiu o governo. A quarta expedição foi
a maior em toda história e foi comandada diretamente pelo Ministro da Guerra, Marechal
Bittencourt, o arraial foi cercado e todos foram degolados. Quando os militares voltaram, eles
ocuparam o Morro da Providência - a primeira favela. A República Oligárquica é excludente até
para quem a apoia. Um veterano de Canudos tentou matar Prudente, Marechal Bittencourt
defendeu Prudente e foi assassinado.
Foi decretado Estado de sitio e iniciou-se uma violenta repressão ao jacobinismo. Foi
feito o funding loan: uma negociação que congelava a dívida anterior por 15 anos e concedia
um novo empréstimo. A garantia dada foi a renda das alfândegas do Rio de Janeiro como
garantia.
Campos Sales (1898-1902) era muito impopular. Ele adotou uma política econômica
ortodoxa aumentou os impostos, seu objetivo era sanear as finanças. Era uma política de
deflação e arrocho.
Renato Lessa publicou o livro A invenção republicana no qual Campos Sales é chamado
de demiurgo da República porque ele restaurou a estabilidade. O apoio de São Paulo e Minas
Gerais equivalia a cerca de 50% dos votos, com o apoio da Bahia já era possível aprovar qualquer
coisa. Campos Sales criou a política dos governadores ou dos estados, ele negociava o apoio
diretamente com os governadores, era um acordo assimétrico entre presidente e governadores
dos estados para enfraquecer o congresso.
O Pacto de Ouro Fino consagrou a aliança PRM-PRP. Rachas aconteceram na eleição de
Hermes da Fonseca e na segunda eleição de Nilo Peçanha.
Havia muitas fraudes eleitorais; os presidentes eram eleitos com 98% dos votos.
A política dos governadores é a estrutura que garante a substituição do poder
moderador, ela confere estabilidade, governabilidade, é um acordo assimétrico entre o
executivo estadual e federal. O presidente oferece aos governadores o federalismo e os
governadores oferecem ao presidente o apoio político: votos e uma bancada dócil.

Leituras Obrigatórias:
LESSA, Renato. A Invenção Republicana: Campos Sales, as bases e a decadência da Primeira
Republica. 2a. Edição. Rio de Janeiro: Ed. Topbooks, 1989.
Primeira República. 2a. Edição. Rio de Janeiro: Ed. Topbooks, 1989.

Leituras Complementares:
NICOLAU, Jairo. Historia do Voto no Brasil. Rio de Janeiro: Ed. Zahar, 2002.
AULA 17 - HISTÓRIA DO BRASIL
A primeira década republicana foi considerada a década do caos, houve muita
instabilidade: conflitos, revoltas, crise econômica, crise internacional.
A credibilidade e governabilidade foram resgatadas somente no governo Campos Sales.
Ele conseguiu controlar o parlamento negociando diretamente com os governadores das
províncias – ação que ficou conhecida como política dos governadores ou dos estados.
Campos Sales precisava negociar algo muito impopular que era hipotecar a alfândega
do Rio de Janeiro.
O acordo entre o executivo federal e os estaduais era assimétrico. O executivo pedia
apoio político e em troca oferecia a não-intervenção e o federalismo. Renato Lessa usa o termo
colmeia oligárquica para se referir a esse período.
A base dessa colmeia era o coronelismo. A obra mais famosa sobre esse tema é chamada
Coronelismo, enxada e voto. O coronelismo tinha como foco o município. Tinha como
características principais a coerção, coação e cooptação.
No patrimonialismo, não há dissociação entre o público e o privado. Ao longo da
República, esse modelo persistiu.
O sistema eleitoral era favorável ao indivíduo que controlava o sistema. O conflito entre
os coronéis se dava no nível micro. Essa lógica restringia o conflito à esfera municipal.
O caudilho também era um chefe político, mas ele tinha poder militar. O coronel não
tinha esse poder porque a guarda nacional estava cada vez mais fraca. Os caudilhos rivalizavam
com o poder central; os coronéis se apoiavam nele.
O cangaço foi um fenômeno político típico desse período e acabou só na Era Vargas
devido ao processo de centralização.
A colmeia oligárquica era formada por um acordo assimétrico no topo e pelo
coronelismo na base.
As contestações populares eram, invariavelmente, aplacadas por forte repressão do
Estado oligárquico.
Houve fissuras intra-elites. Em 1910, Minas Gerais se juntou aos gaúchos e elegeram
Hermes da Fonseca, um presidente militar.
Em muitos estados, houve rotatividade oligárquica, mas isso não impactou o governo
federal.
O Pacto de Ouro Fino (1913) formalizou o acordo entre PRP e PRM. Em 1922, houve
uma nova tensão. Rui Barbosa lançou sua campanha civilista com o apoio de São Paulo enquanto
Nilo Peçanha, com apoio do exército, lançou a reação republicana. Ambos perderam. Artur
Bernardes ganhou, mas teve que governar em estado de sitio quase todo o mandato.
Canudos, Contestado e Juazeiro foram movimentos messiânicos. A república oligárquica
foi salva porque o exército foi desmoralizado em Canudos impedindo assim a chance de um
golpe de Estado.
Canudos desarticulou a mão-de-obra local afetando os coronéis.
A Revolta do Contestado envolvia a disputa pelas terras ao redor da ferrovia. Nessa
região, havia o choque de vários interesses distintos: dos proprietários da ferrovia, dos
moradores, dos proprietários das terras anexas à ferrovia.
Padre Cícero foi eleito prefeito de Juazeiro por mais de 20 anos. Nesse período, Hermes
da Fonseca estava fazendo intervenções segundo a lógica salvacionista. Isso gerou a Revolta de
Juazeiro.
O governo Rodrigues Alves e Pereira Passos estavam remodelando o Rio de Janeiro. A
Revolta da Vacina (1904), se deu nesse contexto de modo altamente autoritário. Oswaldo Cruz
implementou uma série de políticas como a captura de ratos e a vacinação da população. Os
juristas eram contra essa última medida por ser uma violação ao corpo, mas a lei foi aprovada.
Alguns autores apontam que a vacinação obrigatória foi a gota d’água em um cenário de grande
insatisfação oriunda do bota abaixo do Pereira Passos.
Os militares da Praia Vermelha se revoltaram o que levou ao fechamento da Academia
Militar.
A Revolta da Chibata (1910) aconteceu no navio Minas Gerais. Os marinheiros disseram
que se os maus-tratos não acabassem, eles bombardeariam a cidade do Rio de Janeiro. Os
deputados de São Paulo tentaram usar a revolta para desestabilizar o governo. A cidade foi
bombardeada. A revolta terminou com um acordo; mas com a revolta naval na Ilha das Cobras,
os revoltosos dos dois movimentos foram punidos – quase todos foram mortos.
A política externa desse período pode ser dividida em:

1902-1912
1889-1902 1912-1930
Barão do Rio
Antes do Barão Depois do Barão
Branco

Antes do Barão, o Brasil estava instável. Havia uma política externa kantiana, uma visão
idealista; nos aproximamos de outras repúblicas como dos EUA e da Argentina. Havia fragilidade
institucional e a política externa estava rompendo com práticas da época monárquica.

Leituras Obrigatórias
DORATIOTO, Francisco. “O Brasil no Mundo”. In.: SCHWACZ, Lilia Moritz. História do Brasil
Nação, vol.II: A abertura para o Mundo (1889-1930).

Leituras Complementares:
TOPIK, Steven. Comércio e Canhoneiras: O Brasil e Os Estados Unidos na Era dos Impérios (1889-
1897). São Paulo: Cia. das Letras, 2009.
AULA 18 – HISTÓRIA DO BRASIL
Barão do Rio Branco recuperou alguns valores monárquicos.
Ele não tinha grandes posses, então tinha dificuldade de fazer aquele tour na Europa
que os jovens da época faziam. Na década de 1860, três dias antes de sua formatura, ele ganhou
na loteria. Viajou pela Europa, gastou todo o dinheiro e regressou ao Brasil. Aqui, foi professor
de história, procurador, jornalista, deputado pelo Mato Grosso, cônsul em Liverpool.
Ele só se casou após receber o título de nobreza – que era muito mais uma homenagem
ao pai do que a ele.
Em 1895, Floriano Peixoto delegou ao Barão uma arbitragem. Os EUA deram ganho de
causa integral ao Brasil.
Na arbitragem com a França, o Brasil disputava o território do Amapá. O Barão foi para
Suiça onde conseguiu ter interlocução política e encontrou de última hora um documento oficial
francês que reconhecia que a fronteira com o Brasil era o Oiapoque. O Brasil ganhava
integralmente outra vez.
Após vencer duas arbitragens seguidas, o Barão recebeu uma pensão vitalícia e foi
trabalhar em Berlim. A filha dele casou com um barão alemão. Ela, querendo se livrar do marido,
insinuou que ele estava entregando informações para os alemães durante a Primeira Guerra.
Ela foi bem-sucedida.
Quando Rodrigue Alves criou o ministério de notáveis, ele chamou o Barão para integrá-
lo. O Barão não pisava no Brasil há 26 anos. Ele começou então a tentar recuperar o Acre.
Nabuco foi reabilitado para representar o Brasil na arbitragem contra a Inglaterra.
Com a Bolívia, a assimetria de poder era favorável ao Brasil. O governo boliviano chegou
a mobilizar tropas. (O Barão defendia a modernização das Forças.) O Acre era uma região
riquíssima ocupada por brasileiros. Os peruanos diziam que o Acre era deles. A Bolívia dizia que
o Acre era dela, e tomou a decisão de arrendá-lo ao governo americano.
O Barão ofereceu para a Bolívia uma saída para o mar. Ele propôs a permuta de
territórios (cedeu uma parte do Mato Grosso e da Amazônia), a construção de uma ferrovia e
uma indenização. O argumento era que o Brasil queria o Acre por conta dos nacionais que
ocupavam essa região – uti possidetis.

Chancelaria Rio Branco


O Barão tinha alguns desafios a enfrentar. Ele viu o imperialismo europeu e o temia. O
Brasil sofreu a ocupação da Ilha de Trindade e o desembarque em Santa Catariana da cantoneira
Panter para recuperar desertores. Nabuco, nesse último caso, invocou a doutrina Monroe e a
Alemanha se desculpou.
Os ingleses bombardearam a Venezuela porque não tinham pago uma dívida. A
Argentina propôs a Doutrina Draco que proibia o uso da força para a cobrança de dívidas. O
Brasil foi contra porque cria que isso dificultaria a aquisição de novos empréstimos.
Na questão das fronteiras, havia uma preferência pelo uti possidetis e pelas negociações
bilaterais.
Uma das estratégias da chancelaria do Barão foi o americanismo pragmático: nos
aproximamos para conter o imperialismo europeu por meio da Doutrina Monroe. O Brasil abriu
uma embaixada em Washington.
Rui Barbosa em Haia defendeu a igualdade jurídica entre as nações, ou seja, ficamos
contra os EUA.
A III Conferência Interamericana aconteceu no Rio de Janeiro, foi a primeira vez na
história que um secretário de Estado americano saiu dos EUA. Nessa conferência, o Barão fez
um discurso sobre a importância da Europa deixando claro que o americanismo era pragmático.
A diplomacia do prestígio era outra estratégia relevante. O Brasil passou a se apresentar
para o mundo, a participar e a sediar conferências internacionais. Por conta disso, o Rio de
Janeiro tinha que deixar de ser o cemitério dos estrangeiros e se tornar a vitrine do Brasil.
Em 1905, o Papa comunicou que o arcebispo do Rio se tornaria o primeiro cardeal da
América Latina - Cardeal Arcoverde.
A IV Conferência Interamericana foi em Buenos Aires. Em 1909, em nome da diplomacia
do prestígio, foi concedido ao Uruguai o direito à navegação nos rios da fronteira. Um cubano
indicou o Barão para receber o Nobel da Paz, mas ele (o Barão) retirou sua candidatura.
O ápice das tensões se deu entre 1908 e 1909. O Barão tinha adotado uma postura
neutra no Paraguai não intervindo em um conflito interno.
Após a compra de três dreadnoughts, Zeballos fez uma reunião sugerindo que enquanto
houvesse inferioridade naval era hora de invadir no Brasil. Zeballos foi demitido, mas conseguiu
interceptar um telegrama brasileiro. Ele afirmou que o Brasil estava fazendo uma aliança militar
com o Chile para invadir a Argentina. O Barão entregou o telegrama verdadeiro com o código
(Caso Telegrama nº9). O telegrama, na verdade, propunha um pacto entre Brasil, Chile e
Argentina para afastar a ação de potências estrangeiras e deixava claro que o único entrave era
Zeballos.
O Barão vendeu o navio Rio de Janeiro recebendo só o São Paulo e o Minas Gerais.
O Barão morreu em 1912 no primeiro dia de carnaval. Hermes da Fonseca suspendeu o
carnaval. 1912 foi o ano de dois carnavais.

Leituras Obrigatórias:
Barão do Rio Branco : 100 anos de memória / Manoel Gomes Pereira (Org.).–
Brasília : FUNAG, 2012

Leituras Complementares:
BURNS, Bradford. A aliança não escrita: o Barão do Rio Branco e as relaçõ es Brasil-Estados
Unidos. Rio de Janeiro: EMC, 2003, 270 p. ISBN: 85-87933-07-8.
GARCIA, Eugenio Vargas. Entre América e Europa: A políti- ca externa brasileira na década de
1920. Brasília: Editora da Universidade de Brasília / Fundação Alexandre de Gusmão, 2006.
GARCIA, Eugenio Vargas. O Brasil e a Liga das Naçõ es (1919- 1926): vencer ou não perder. Porto
Alegre: Ed. UFRS, 2000
AULA 19 - HISTÓRIA DO BRASIL
CRISE DA PRIMEIRA REPÚBLICA
Havia elementos de pragmatismo nos momentos de alinhamento do início da República.
O governo Deodoro ao assinar o Tratado Blaine-Mendonça visava facilitar o acesso do açúcar
brasileiro ao mercado norte-americano e melhorar as relações com esse país visto que seria o
árbitro da Questão de Palmas.
A expulsão da Família Real, o encilhamento e a grande naturalização foram fatores
que prejudicaram ainda mais a imagem do Brasil que já estava fragilizada após a proclamação
da república. A fim de melhorarmos essa imagem, adotamos a diplomacia do prestígio.
Houve uma tentativa de profissionalização do exército que gerou um debate acerca da
influência alemã ou francesa sobre o exército.
O exército paulista se aproximou do modelo francês trazendo oficiais para cá (up -
down); enquanto os jovens turcos (nome dado aos jovens militares brasileiros que foram
estudar na Alemanha) seguiam o modelo bottom - up. Todavia, após 1918, a oposição entre o
modelo francês e alemão acaba por conta do fim da guerra.
O período do Barão teve uma ênfase extraordinária na modernização militar. Um dos
motivos era a preocupação com o imperialismo europeu (ocupação da Ilha de Trindade,
bombardeio à Venezuela).
Em 1906, houve um projeto da armada brasileira de comprar três dreadnoughts; dois
chegaram em 1910 e o terceiro foi vendido ao Império Otomano.
Entre a morte do Barão e a ascensão de Vargas houve, de acordo com a maior parte da
historiografia, um período de medievalização da política externa.
O sucessor do Barão, Lauro Muller, optou por ser americanista. Ele chegou a telegrafar
para os EUA perguntando o que deveria ser feito a respeito do Paraguai.
Em suma: entre 1889-1902, antes do Barão, foi um período kantiano americanista; entre
1902-1912, chancelaria do Barão, foi um período de americanismo pragmático e de diplomacia
do prestígio; e entre 1912 -30, pos-Barão, foi um período ideológico.
Segundo Eugenio Garcia, a política externa dos anos 20 oscilava entre a Europa e os EUA.
O Brasil participou da Primeira Guerra, em parte, por conta do americanismo. Entramos
em novembro de 1917 - sete meses após o ingresso norte-americano. Havia uma pressão da
opinião pública pró-aliados liderada por Rui Barbosa. Inglaterra e França também pressionavam
para que o Brasil entrasse na guerra sobretudo devido ao comércio.
A partir de 1916, a Alemanha deu início a guerra de submarinos: navios começaram a
ser afundados. A pressão da opinião pública aumentava. Lauro Muller se demitiu e Nilo Peçanha
assumiu a pasta de relações exteriores.
A marinha alemã havia feito uma reforma, porém não conseguia usar os navios por
conta da posição geográfica da baía. Muitas embarcações da marinha mercante não conseguiam
voltar para a Alemanha, por isso passaram a usar submarinos. (Entre 1915 e 16, a Inglaterra
publicou uma lista proibindo alguns produtos para otimizar o espaço nos navios.) O governo
brasileiro decidiu, então, confiscar os navios que estavam aqui sob o argumento de posse fiscal
- os navios estavam surtos. Depois, arrendamos quase todos como navios militares para a
França.
Em 1917, o Brasil decretou estado de beligerância. O Brasil só enviou um navio
(departamento naval de guerra) em 1918, mas ele não chegou: a tripulação não pode
desembarcar na Espanha por conta da gripe. Enviamos aviadores para participar da força aérea
francesa.
Epitácio Pessoa foi lançado como candidato à presidência em Paris para suceder
Rodrigues Alves que havia falecido de gripe espanhola.
Após a guerra, alguns países defenderam que a marinha alemã deveria ser distribuída
de acordo com as perdas. O argumento brasileiro, por sua vez, agradou aos EUA (era o
argumento de ‘quem viu primeiro’). Então, o Brasil ficou com navios e vendeu para a França,
esses navios foram considerados como sendo indenização de guerra.
Na Liga das Nações, o Brasil teve posição de prestígio como membro rotativo. Na Liga,
as decisões eram tomadas por consenso. Em 1925, por conta da aproximação entre Alemanha
e URSS, a Inglaterra temia uma sovietização da Alemanha e tentou reincluí-la. O tema da
Alemanha no Conselho da Liga voltou à mesa. O Brasil vetou o ingresso alemão: tratava-se de
vencer ou não perder. Após isso, nos retiramos do Conselho. Em outras palavras, nossa retirada
se deu por oposição à entrada da Alemanha sem contemplar a permanência do Brasil no
Conselho. O presidente nessa época era Artur Bernardes, Félix Pacheco era ministro e Afrânio
de Melo Franco era embaixador na Liga.

Os anos 20: entre a América e a Europa

América Europa

Fóruns Tensões; conferências Liga das Nações até 1926.


Multilaterais interamericanas (V em Santiago,
1923; e VI em Havana, 1928).

Aspecto Militar Missão naval norte-americana Missão militar francesa (1919).


(1922).

Aspectos Maior comprador de café; maior Investimentos diretos; maior credora


Econômico e parceiro comercial após a Primeira (Londres); dívida velha - juros baixos.
Financeiro Guerra; dívida nova - juros altos.

Nos anos 20, a tendência é cada vez mais o americanismo. Depois que a guerra acabou,
buscou-se a influência militar na França. Tanto a missão naval norte-americana quanto a missão
militar francesa eram missões secretas. Isso gerou tensões que explodiram no governo Artur
Bernardes.
Três anos antes da Conferência de Santiago, os republicanos voltaram ao poder nos EUA
e convidaram as potências navais do Pacífico a participarem de uma conferência sobre
desarmamento, sendo que o alvo era o Japão. Estabeleceram-se limites militares para as
marinhas.
O principal tema da Conferência de Santiago era o militarismo brasileiro. Foi nesse
momento que um tratado secreto entre Brasil e EUA foi descoberto. Quem salvou a Conferência
foi o Paraguai que propôs um tratado de solução de controvérsia, o Pacto Gondra - em caso de
guerra, deveríamos tentar uma mediação; uma guerra só poderia ser declarada após 6 meses
depois.
Na Conferência de Havana, os EUA estavam na berlinda por conta do Big Stick. Foi aprovado
o princípio de não intervenção.
Leituras Obrigatórias:
FERREIRA, Jorge & DELGADO, Lucília A. N. O Brasil Republicano: O tempo do Liberalismo
Excludente. Rio de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira, 2003.
CARVALHO, José Murilo de. “As Forças Armadas na Primeira República: o poder
desestabilizador”, em FAUSTO, Boris (org.). O Brasil republicano. São Paulo: Difel, vol.2 (História
Geral da Civilização Brasileira, 9). 1977.

Leituras Complementares:
MONTEIRO, Douglas Teixeira. “Um confronto entre Juazeiro, Canudos e Contestado”, in FAUSTO
Boris, O Brasil republicano.
VELLOSO, Monica Pimenta. “O Modernismo e a Questão Nacional” In.: FERREIRA, Jorge &
DELGADO, Lucília de Almeida Neves. O Brasil Republicano: O tempo do Liberalismo Excludente.
Rio de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira, 2003.
AULA 20 - HISTÓRIA DO BRASIL
Crise dos anos 20
Alguns argumentam que o movimento operário e tenentista, e a Semana de Arte Moderna
contribuíram para a crise dos anos 20. Em alguma medida, o Estado da década de 30 englobou
todos esses fatores por meio da legislação trabalhista, modernização industrial e eleitoral,
reforma educacional.
O modernismo teve na década de 20 mais de um desdobramento sendo que a visão
mais racialista foi incorporada por Vargas.
O líder do movimento integralista era Plínio Salgado, um poeta. Macunaíma, o herói da
nossa gente, pertencia a outra vertente menos racial. Vargas englobou ambas.
O movimento operário brasileiro era fraco e as ideias socialistas só chegaram tardiamente.
Essas características eram oriundas da industrialização incipiente que só estava presente em
algumas regiões. O movimento era fragmentado regionalmente e etnicamente.
A Revolução Russa de 1917 enfraqueceu a visão anarcossindicalista e fez ascender o
modelo comunista.
Durante a Primeira Guerra, houve um processo de substituição de importações. Para tal
era necessário ou uma maior quantidade de mão de obra ou sua maior exploração. A capacidade
ociosa de indústrias que já existiam foi usada. Houve, então, uma grande greve. O governo
começou a reprimir o movimento. Os estrangeiros que se envolvessem com parte do
movimento sindical seriam expulsos - Lei Adolfo Gordo.
A legislação trabalhista da Primeira República não era sistemática, alguns grupos
conquistaram alguns benefícios. Os sindicatos amarelos eram tutelados pelo governo.
Em Niterói (1922), alfaiates criaram o partido comunista; ele era, sobretudo, um
movimento de classe média. O partido já nasceu ilegal.
O Primeiro Congresso Operário Brasileiro aconteceu ainda na república velha sob uma
inspiração anarquista. Os comunistas que eram candidatos e foram eleitos usavam uma fachada
legal: o BOC - Bloco Operário Camponês.
O Movimento Tenentista foi um movimento de oficiais de baixa patente do exército.
Defendia a centralização política, tinha uma visão anti-oligárquica e um projeto
desenvolvimentista, era nacionalista, seus membros eram imbuídos do espírito do soldado-
cidadão, defendia o voto secreto, justiça eleitoral, o fim do coronelismo por meio de
interventores nos estados – herança do salvacionismo. A novidade do tenentismo era o meio
pelo qual eles estavam dispostos a fazer isso: pegar em armas para derrubar a oligarquia.

1910
1889 1890 1920
Salvacionismo
Positivistas Jacobinos Tenentes
Hermista

Os jovens turcos e a missão francesa (1906-12), divergiam dos tenentes porque


acreditavam que deveriam ser formados soldados profissionais.
Os tenentes estavam insatisfeitos. Eles representavam a insatisfação das camadas
média. José Murilo de Carvalho argumenta que embora esses indivíduos fossem da camada
média, eles não a representavam pois pensavam como militares. Para esse autor, as forças
armadas são um estamento independente e têm uma agenda própria. Essa agenda vinha do
legado salvacionista e de uma série de acontecimentos que ocorreram entre 1906 e 1922. Em
1908, foi aprovado o alistamento obrigatório. Em 1909, houve a missão do Hermes Fonseca na
Alemanha e a escola militar foi reaberta. Em 1916, houve a reforma no acesso ao exército por
meio de um sistema de sorteio. Na década de 20, o exército estava mais permeável as camadas
médias. Em 1918, foi fim da guarda nacional.
Em 1919, o civil Pandia Calogenas assumiu o ministério e contratou uma missão francesa
para modernizar as forças armadas - isso deixou os tenentes descontentes.
Hermes da Fonseca, em 1913, foi o único presidente que se casou no exercício do
mandato. O estopim para o início do tenentismo foi a eleições de 1922 (Artur Bernardes, PRM X
Nilo Peçanha, campanha da reação republicana1).
Demorava muito tempo para um tenente ser promovido a capitão. Chegaram cartas
dizendo que Hermes da Fonseca era corrupto. O clube militar foi fechado. Hermes e seus filhos
foram presos. Os tenentes se juntaram para derrubar Epitácio e evitar a eleição de Artur
Bernardes. A ideia era que todos os fortes iriam marchar e impedir a posse de Artur (que
teoricamente escreveu a carta).
Em 1823, houve a revolução redentora no Rio Grande do Sul contra Borges de Medeiros.
Borges, então, decidiu apoiar Artur. Houve uma conciliação por meio do Acordo de Pedras Altas.
O único forte que se insurgiu foi o de Copacabana. Siqueira Campos fez um discurso e
somente 18 marcharam. Siqueira Campos e Eduardo Gomes sobreviveram.
A Revolta de São Paulo foi comandada por Isidoro Dias Lopes em 1924 e teve amplo
apoio dos tenentes; Miguel Costa, um dos oficiais do exército paulista, conseguiu fugir para o
Rio Grande do Sul porque havia um forte insurreto lá liderado por Carlos Prestes. A Coluna
Prestes durou de 1924-27.
Essa foi a fase heroica do tenentismo.
Prestes acredita que seria em vão tentar destruir o coronelismo nas cidades, era
necessário combate-lo no campo. Ele, então, anda por dois anos pelo interior brasileiros
percorrendo quase 25 mil quilômetros. O exército brasileiro tentava incessantemente o
capturar. A Coluna Prestes inspirou a grande marcha de Mao Tse-Tung.
Os movimentos tenentistas não foram capazes de destruir a Primeira República. O que
acabou com a Primeira República foi a briga interna das próprias oligarquias.
Em 1929, Washington Luís teve um governo discreto, com uma postura reativa; todavia,
ele tomou uma decisão fatal para a Primeira República: ao invés de negociar com o PRM,
Washington Luis tentou eleger um paulista. O PRM enviou um emissário para negociar com o
Rio Grande do Sul. O governador do Rio Grande do Sul era Vargas. O Pacto do Hotel Gloria previa
que caso Washington Luis indicasse um mineiro, Vargas apoiaria esse candidato. Caso contrário,
Minas apoiaria a candidatura de Vargas.
Washington Luis indicou Prestes. A Aliança Liberal lançou como candidato Vargas
(presidente) e João Pessoa (vice-presidente). Washington Luis demitiu todos que apoiaram
Vargas. Prestes venceu. Os tenentes começaram a se articular pois caso a fraude fosse
comprovada, eles dariam um golpe. Vargas assumiu a derrota.
Nessa época, Luis Carlos Prestes fugiu para a Bolívia e depois para a URSS e se aproximou
do comunismo. Oswaldo Aranha convocou Goes para comandar as tropas em caso de revolução.
O estopim foi o assassinato de João Pessoa. Dantas matou João Pessoa por motivos
passionais. Começou uma insurreição armada. Durante todo o mês de outubro o impasse se
estendeu. A alta cúpula decidiu depor Washington Luis. Houve poucos confrontos diretos.
Vargas assumiu como governo provisório. Sua situação era de profunda instabilidade o que
afetou diretamente o governo provisório.

1
Segundo Boris Fausto, essa foi a primeira campanha populista.
Leituras Obrigatórias:
FERREIRA, Jorge & DELGADO, Lucilia A. N. O Brasil Republicano: O tempo do Liberalismo
Excludente. Rio de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira, 2003.
CARVALHO, José Murilo de. “As Forças Armadas na Primeira República: o poder
desestabilizador”, em FAUSTO, Boris (org.). O Brasil republicano. São Paulo: Difel, vol.2 (História
Geral da Civilização Brasileira, 9). 1977.

Leituras Complementares:
MONTEIRO, Douglas Teixeira. “Um confronto entre Juazeiro, Canudos e Contestado”, in FAUSTO
Boris, O Brasil republicano.
VELLOSO, Monica Pimenta. “O Modernismo e a Questão Nacional” In.: FERREIRA, Jorge &
DELGADO, Lucília de Almeida Neves. O Brasil Republicano: O tempo do Liberalismo Excludente.
Rio de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira, 2003.
AULA 21 – HISTÓRIA DO BRASIL
REVISÃO
Alguns historiadores consideram que entre o Barão e Vargas houve um período de
americanismo ideológico.
O conflito entre Lauro Muller e Rui Barbosa, a pressão inglesa e francesa, a pressão da
opinião pública e o bombardeio de navios brasileiros foram alguns dos motivos que motivaram
a participação do Brasil na Primeira Guerra.
Na década de 1920, houve uma disputa entre América e Europa na política externa
brasileira.
A política do Washington Luís era discreta, quase reativa (por exemplo, não aceitamos
a Embaixada Alemã e não mediamos a Questão Letícia) – era uma postura neutra.
O movimento operário era fraco, desorganizado e pouco articulado nacionalmente. A
Greve de 17 foi fruto de um processo de industrialização por substituição de importação que
veio da Primeira Guerra, ela teve influência anarquista. Havia algumas leis trabalhistas durante
esse período.
Em 1922, o Partido Comunista foi fundado, ele era ilegal, mas usava a fachada do BOC
para eleger candidatos.
Em 1926, houve uma reforma constitucional para fortalecer o poder executivo.
A historiografia até a década de 1970 entendia o tenentismo como expressão da classe
média. José Murilo de Carvalho considera o Exército como uma instituição total, então é
necessário entender as mudanças que vinham acontecendo dentro dessa instituição como, por
exemplo, jovens turcos, modernização, alistamento militar obrigatório, ideologia do soldado
cidadão, nomeação de um ministro civil e demora na promoção de tenente à comandante. A
Marinha manteve o caráter elitista, mas participou de alguns levantes tenentistas.
Washington Luís foi deposto pela alta cúpula do Exército. Vargas assumiu a chefia do
governo provisório. Foi um período altamente instável.
O PRR era formado por uma oligarquia enquanto os tenentes queriam uma revolução.
Os tenentes-civis nomearam interventores para todos os estados, a alta cúpula não aceitou.
Vargas temia um golpe da alta cúpula (porque ele era próximo aos tenentes), temia um golpe
dos tenentes (que podiam se radicalizar).
Foi formada a Frente Única Paulista e a Frente Única Gaúcha devido à centralização de
Vargas. Minas Gerais foi o único estado que não teve interventor. Foi um período de profunda
heterogeneidade das forças políticas em disputa.

ERA VARGAS
O Governo Provisório foi de 1930 a 1934. Houve uma oposição entre os tenentes e os
ressequidos (FUP + oligarquias dissidentes). Visando a centralização, Vargas nomeou
interventores para todos os estados – o que aumentou as tensões entre tenentes e a alta cúpula.
Nesse período, o ministério da justiça ficou com Oswaldo Aranha e a Delegacia Regional do
Nordeste ficou com Juarez Távora.
Vargas fez intervenção na cafeicultura.
Houve várias crises entre os tenentes e as forças conservadores. Uma delas foi o
empastelamento do Jornal Carioca, que gerou uma demissão coletiva dos ministros gaúchos
devido à não punição dos tenentes que empastelaram o jornal. Outra crise foi a Dos Rabanetes
X Picolés. Ao longo da década de 1920, vários militares foram expulsos devido às revoltas
fracassadas. Na década de 1930, após a vitória, parte desses militares expulsos foram
reintegrados (os chamados picolés). Os rabanetes eram os grupos que se opunham aos picolés.
Esse conflito levou a queda do ministro da guerra. Vargas demorou meses para decidir e no final
optou por Espirito Santo Cardoso.
As demandas paulistas redundaram na Revolução Constitucionalista de 1932. Os
paulistas reivindicavam um interventor civil e paulista. Como Vargas necessitava de São Paulo,
ele assim o fez. Os paulistas também reclamavam uma constituinte. Essa foi a única constituinte
que teve o voto classista – dezoito de sindicatos de trabalhadores, dezessete de sindicatos de
patrões e cinco de funcionários públicos. Isso garantia o enfraquecimento das oligarquias.
Vargas convocou a eleição para a constituinte, mas ainda assim os paulistas se revoltaram.
Essa foi uma luta pela constitucionalização do país, mas todas as concessões que ela
demandava já haviam sido feitas. Foi uma tentativa de coordenação das forças conservadoras
contrárias à Revolução de 30. As forças estaduais de Minas Gerais e Rio Grande do Sul não
estavam dispostas a tirar o governo, apesar de não estarem satisfeitas com o governo de Vargas.
Por isso, São Paulo ficou sozinho na Revolução. O governo brasileiro usou a aviação para
bombardear São Paulo. Houve expurgos no exército e maior controle das forças armadas após
a derrota de São Paulo. Essa foi a única guerra civil brasileira do século XX. Os revoltosos foram
anistiados.
Tentou-se a criação de um partido dos tenentes – o Clube 3 de outubro. Essa foi a última
tentativa de homogeneizar os tenentes. Houve uma fragmentação do tenentismo: a maior parte
foi cooptada pelo regime Varguista (que cooptou suas bandeiras), outros ingressaram na Ação
Integralista Brasileira, alguns viraram comunistas (prestistas) e outros viraram liberais.
O interventor do Rio de Janeiro foi Pedro Ernesto – fez hospitais e escolas em zonas
pobres da cidade. Vargas iniciou um processo de centralização.
Celso Furtado acredita que o processo de industrialização estava ligado ao café. Havia
industrialização no final do Império e na Primeira Republica, porém só houve um projeto de
industrialização na Era Vargas.
Nos anos iniciais, Vargas tomou medidas para resolver a crise, mas ao longo do tempo
ele percebeu que estava industrializando o país e isso passou a ser um projeto. Furtado chamou
isso de keynesianismo avant la lettre.
Ao longo da Primeira República, tivemos várias intervenções no café. Em 1906, houve
uma crise de superprodução e, consequentemente, uma política de valorização do café. Os
cafeicultores usaram o dinheiro para plantar mais café e para consumir mediante importação.
Em 1913, houve outra crise de superprodução e houve outra política de valorização do café.
Anos depois, em 1922, ocorreu a mesma coisa. O governo federal decidiu não fazer mais essas
ações. São Paulo fundou, então, o Comitê Permanente de Defesa do Café. Em 1929, houve outra
supersafra e o preço havia caído muito. Nessa época, o café representava 72% da pauta de
exportação brasileira. Em 1931, Vargas criou o Conselho Nacional do Café; em 1932, ele alterou
o nome para Departamento Nacional do Café. Vargas passou a comprar sacas de café por meio
de emissionismo. A virada foi essa: ele comprou o café com mil-réis, isso desestimulava a
importação e como os cafeicultores haviam quase quebrado, eles pararam de investir muito em
café. O Brasil começava a se industrializar, sobretudo São Paulo. Não havia conflito entre o setor
agrário e industrial [de São Paulo] porque eram as mesmas pessoas.
Vargas queimou 78 milhões de sacas de café – o suficiente para a população mundial
inteira consumir por 3 anos. O Estado passou a fomentar indireta e diretamente a
industrialização.
Leituras Obrigatórias:
FERREIRA, Jorge & DELGADO, Lucilia A. N. Brasil Republica- no – vol. II Do Início da década de
1930 ao apogeu do Estado Novo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.

Leituras Complementares:
GOLDFEDER, Miriam. Por Trás das Ondas da Rádio Nacional. São Paulo: Paz e Terra, 1981.
HILTON, Stanley. A Rebelião Vermelha. Rio de Janeiro: Ed. Record, 1986.
HILTON, Stanley. A Guerra Civil Brasileira. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1982.
VELLOSO, Monica Pimenta. “Os Intelectuais e a Política Cultural do Estado Novo”. In.: FERREIRA,
Jorge & DELGADO,
Lucília. O Brasil Republicano vol.2: O tempo do Nacional Estatismo. Rio de Janeiro: Ed. Civilização
Brasileira, 2003.
McCANN, Frank D. Os Soldados da Pátria – História do Exército Brasileiro (1889-1937). São Paulo:
Cia das Letras, 2007.
AULA 22 – HISTÓRIA DO BRASIL
ERA VARGAS
Na constituinte de 1932, que deu origem à Constituição de 1934, muitas correntes
políticas estavam representadas. Foi nessa época que surgiram os partidos de massa: com a
presença de inúmeros extratos sociais de todos os estados.
O Partido Comunista conseguiu fazer uma aliança com setores liberais e moderados da
economia. A classe média começou a se aproximar dele [do Partido].
Em suma, a constituição de 1934 foi feita com a ampla presença dos mais diversos
extratos da sociedade. Ela foi uma síntese do projeto industrializante do Estado e da visão liberal
sobre a industrialização. Ela ficou polarizada entre os tenentes (que defendiam o protagonismo
estatal na promoção do desenvolvimento) e os liberais (que defendiam o papel limitado do
Estado na promoção do desenvolvimento). Ela estabeleceu eleições diretas para governador e
a eleição indireta para presidente. Foi incorporado o voto feminino, voto classista, voto secreto
e criada a justiça eleitoral.
Em 1932, havia a crença de que a industrialização só aconteceria se houvesse uma
intensa intervenção estatal.
Quando a constituição foi promulgada, houve eleições imediatas para governadores –
os interventores ganharam na maioria dos casos. A Constituição de 1934 foi muito inspirada na
Carta de Weimer. Ela ficou em vigor de 1934 a 1937.
O governo constitucional (1934-37) foi o ápice da polarização entre os partidos de
massa. A AIB era fascista, de inspiração italiana; ela teve mais de 100 mil adeptos em todo o país
e defendia a miscigenação. A ANL era uma frente de centro-esquerda que congregava vários
partidos políticos e era liderada pelos comunistas que escolheram Prestes para ser seu
presidente de honra. Carlos Lacerda leu a carta de Prestes na abertura da ANL. Ela estava se
tornando o partido mais forte do país. Ela durou apenas 4 meses – Vargas mandou fechá-la.
Prestes organizou, então, o Levante Comunista de 1935 que foi fortemente reprimido.
Vários revoltosos foram presos. Eles estavam acostumados a se revoltar e a serem anistiados,
porém dessa vez isso não aconteceu: muitos foram torturados, mortos. Houve um forte
sentimento anticomunista.
A partir de 1935, Vargas decretou estado de sítio. Um capitão que era integralista fez
um plano de contingência em caso de revolução comunista. Olimpio Mourão Filho fez um
documento alardeando o medo comunista e publicou no Jornal como o Plano Cohen. Essa foi a
desculpa que Vargas precisava para fechar o Congresso e começar o Estado Novo. Houve um
amplo apoio para seu estabelecimento.
Vargas fez uma oposição entre tudo que veio antes como velho e a partir dele como
novo – daí o nome Estado Novo.
O Brasil tinha escassez de divisas porque elas eram oriundas da venda de café que estava
com o preço baixo. Vargas congelou do serviço dívida a um patamar para conseguir economizar
dólares, isso causou uma tensão com o EUA. Nesse momento, era difícil conseguir dinheiro
emprestado. Para Gerson Moura, os países que conseguiram empréstimos na depressão de 30
foram países que conseguiram negociar politicamente.
Começamos a negociar tratados comerciais – foram assinados mais de 30; mas eles não
deram certo pois não era o melhor momento para se fazer acordos liberais porque o sistema
internacional estava protecionista por conta da crise. Todos os acordos foram denunciados.
Vargas tentou se aproximar da Argentina, Uruguai e Paraguai. Um conflito entre Bolívia
e Paraguai levou a Guerra do Chaco; o Brasil conseguiu negociar juntamente com a Argentina. A
Questão Letícia entre Peru e Colômbia não chegou à guerra, mas teve alguns confrontos. Esse
território era fronteira entre o Brasil e o Peru e passou a ser entre Brasil e Colômbia (Tratado de
Salomon-Lozano).
A política externa no geral, não era uma prioridade nos anos 30; só os temas econômicos
eram. Tentou-se evitar o reconhecimento da beligerância de São Paulo evocando a Convenção
de Havana. (Houve um afastamento da França que era simpática aos paulistas.)
Vargas nomeou Benedito Valadares para ser interventor de Minas. Ele [Vargas] afirmou
que havia pressões de todos os lados e que ele não poderia curvar-se a elas. Afrânio de Melo
Franco pediu demissão por conta disso.
A partir de 1933, os EUA começaram a pressionar o Brasil a abrir sua economia. Se
Vargas aceitasse, a industrialização entraria em crise; se ele não aceitasse, o país quebraria.
Nessa época, a Alemanha estava com problema para ter divisas. O ministro da economia
do Hitler precisava fazer comércio sem uso de moeda estrangeira. Começamos, então, a fazer
comércio compensado – uma espécie de escambo. Em 1936, esse tipo de comércio foi
formalizado por um acordo comercial; e em 1938, a Alemanha ultrapassou os EUA em comércio
com o Brasil.
Os produtos norte-americanos serviram de insumos para o parque industrial brasileiro.
Conseguimos autonomia. A equidistância pragmática é um conceito de política externa de
Gerson Moura (divido em equilíbrio possível, difícil e rompido) que foi uma resposta ao conceito
de diplomacia pendular: a política externa brasileira não era errática, ela tinha um projeto.

Leituras Obrigatórias:
MOURA, Gerson. Autonomia na Dependência. Rio de Janeiro: Ed. Á tica, 1984.
MOURA, Gerson. O Tio Sam Chega ao Brasil: A penetração cultural americana. São Paulo: Ed.
Brasiliense, 1984.

Leituras Complementares:
CORSI. Francisco Luiz. Estado Novo: política externa e projeto nacional. São Paulo, Ed. UNESP,
2000.
HILTON, Stanley. Osvaldo Aranha – Uma Biografia. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 1994.
HILTON, Stanley. O Ditador e o embaixador. Rio de Janeiro: Ed. Record, 1987.

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