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FASCISMO E NAZISMO

LIBERALISMO E NEOLIBERALISMO
CONSERVADORISMO

O liberalismo começa com a aversão ao inatismo de Descartes com a tabula rasa de John Locke,
isto é: a vida se inscreve em palimpsestos, o trabalho na propriedade, como o gotejamento de
Jackson Pollock e o corpo colorido de Yves Klein pintando a folha de papel em branco da vida
em emergência. Sua obra, como muitas, fora deturpada ao longo do tempo pelos economistas
principalmente. A propriedade, defendida por Locke como adquirida ao infligir nela trabalho, a
esculpindo, é assim tida como de direito dos seres humanos. Poderíamos dizer, a grosso modo
que, então, propriedade de direito do proprietário é definida pelo seu uso, e não pelo seu uso,
logo atacando diretamente a questão latifundiária.

O liberalismo se insere na célula da democracia, incentivando a propriedade privada, o


monopólio dos meios de produção, a detenção dos patrimônios pelas colônias. Este último é
análogo a ideia do que e como se faz o direito à propriedade por Locke, isto é, o trabalho define
a propriedade, neste caso sendo a descoberta e a exploração que faz a terra da nação.

A não-intervenção do Estado significa a objeção a políticas públicas e gratuitas que regulem a


segurança e bem estar do povo na sociedade - indo na contramão das compensações do Bem
Estar Social pós-guerra - e capitalizando direitos, mentalidades, propriedades, ou seja, não é mais
a máxima arendtiana "O direito de ter direitos" mas pagar para ter direitos. Como bem sabemos,
poder ter escolhas não significa ter liberdade, e é justamente este absurdo que o liberalismo
prega: indivíduos, cidadãos presos como macacos em cativeiro, com a escolha de uma banana
madura ou uma verde, mas não a da chave que abrirá a cela e o possibilitará a coletar seus meios
de subsistência por si mesmo - sem o uso de capital privado e teleologicamente desigual.

O fascismo possui várias derivações, como uma árvore da vida virada de cabeça pra baixo. A
louvação, idolatria ao tradicionalismo e ancestracionalismo é a grande base para tal ideologia. O
romantismo alemão, que em nada se relaciona com amor e sexo, qualquer relação humana na
verdade, buscando se transcender através da individualidade e solipcismo e fechar o mundo com
a imanência de si, também influenciou o fascismo nos seus aspectos de tragédia. Seu nome, que
etimologicamente significa "feixe", "ajuntamento", procura eliminar qualquer distinção entre o
povo e seu líder, os governados e o governante, os submissos e o dominante, sendo eles a res
extensa de seu líder.
Se a democracia insere uma organização social baseada em um escritório, uma papelaria, uma
livraria, algo com um quê de típico compartilhamento tanto intelectual quanto de ócio dos gregos
(e se há um padrão nos regimes políticos é o de inserir na sua gestão uma sistemática que
funciona como um local de trabalho ampliado) o fascismo se organiza como um cartel militar.
Marquês de Sade certa vez escreveu "Tudo é bom em excesso" e isso se generaliza no fascismo,
especialmente na crítica que o cineasta Pier Paolo Pasolini faz em seu filme Saló ou os 120 Dias
de Sodoma em que transpõe os eventos bíblicos do Antigo Testamento aos acontecimentos que
seguiram-se ao fascismo de Mussolini na Itália. Nesta obra, as atividades dos campos de trabalho
fascistas são ritualizadas em ciclos (ciclo de merda, ciclo de sangue, ciclo da perversão, dentre
outros) se convertendo em uma espécie de calendário obrigatório, um nascer e pôr da violência
ocorrida cardinalmente. As pessoas, antes emancipadas, afastadas disso, se tornam
paulatinamente participantes, cúmplices, psiquiatrizadas com a síndrome de Estocolmo nessa
obra, que por não terem mais vontade de se rebelarem, de quebrarem tais ciclos, são
indissociáveis dos algozes, e a teleologia por trás do fascismo - a de acabar com a distinção entre
o líder e o povo - é por fim cumprida.

O nazismo, então, utilizará de convenções terminológicas como a eugenia encima da biologia


para justificar sua teleologia. Substituir-se-à a máxima bíblica de que Deus fez o homem a sua
imagem como se ele tivesse diversas faces e se admitirá apenas uma face, tendo como
aperfeiçoamento de si a epigenética experimental. Os hiperbóreos, os arianos serão os blocos
primais da ancestralidade e a origem da vida; o progenota de Darwin e Lamarck, a Eva
Mitocondrial de Lynn Margullis e Hideaki Sena, o replicador dos neodarwinistas será convertido
como o Deus biológico e, logo, o Deus da vida para os nazistas. Segundo o historiador Walter
Graziano, o nazismo precede a Adolf Hitler, e o que precede o nazismo é a chamada Sociedade
Thule, uma ordem mística com raízes nos ensinamentos teosóficos e védicos, que, na ignorância
de Hitler de sua existência, decidem por convidá-lo a se tornar um membro dela, e fazem dele
seu boneco de fantoche manipulado pelas cordas de uma organização maior por detrás dele e
seus discursos movidos a cocaína. Em seu livro Hitler Ganhou a Guerra, Graziano nos mostra
como, apesar de Hitler ter sido objetivamente derrotado, o nazismo não se derrotou,
principalmente pelo seu movimento migratório graças ao financiamento dos EUA da Operação
Paperclip, e o surgimento da organização secreta Skull and Bones, formada por, dentre outros,
George Bush e Bush Jr. e que possui ligações com os antigos nazistas. Assim, ele se alastra de
forma rizomática pelo mundo.

Outra fonte enriquecedora de informações sobre o nazismo e Hitler em si é o filme de Hans-


Jürgen Syberberg, Hitler: Um Filme da Alemanha, que conta detalhadamente os
acontecimentos da vida do ditador desde seu nascimento, suas frustações e decepções com a arte,
a recusa que Karl Valentin e Austin Osman Spare fizeram dos contratos de trabalho vitalíceos
que Hitler os ofereceu, a formação da suástica baseada no conceito de completude da
quaternidade observada na cruz de Cristo e André, na de Quetzacoatl, das quatro estações de
Vivaldi e do orientalismo, dos quatro elementos primordiais dos estoicos e de Empédocles.
A expressão "conservador" surge na França por volta de aproximadamente 1910 para definir os
que se opõem ao antigo regime, isto é, os jacobinos. Se caracteriza, com base nas obras de David
Hume e Edmund Burke por um forte ceticismo e desaprovação a capacidade do ser humano de
ter certeza sobre o que é bom ou não para ele de modo independente, por inconsciência. De
acordo com os conservadores, a consciência, seja ela sexual, de classe, racial, econômica,
religiosa, social é vazia e insignificante, e deve ser guiada pelos nortes da sobrevivência clássica,
ou seja, os arquétipos paleolíticos, quando muito os medievais. Conceitos biológicos como o de
cromossomo, órgão reprodutor, aparelho neural, aptidão inata muscular se inserem sob
convenções que os conservadores usam para justificar que cada coisa deve manter o seu lugar,
não se entregar a um fluxo de devir com algo maior como inspiração de como a sociedade deva
ser gerida, gendrada, como pensam os positivistas como Louis-Auguste Blanqui.

REFERÊNCIAS:

GRAZIANO, Walter, Hitler Ganhou a Guerra. Tradução de Eduardo Fava Rubio. -- São Paulo:
Editora Palíndromo, 2005

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