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LIMEIRA/SP
2018
CAMILLA FERNANDA BORO
LIMEIRA/SP
2018
Agradecimentos
Agradeço primeiramente a Deus que esteve e está comigo todos os dias da minha vida e me
proporcionou chegar até aqui. A minha família, pelo amor, apoio, incentivo e paciência.
construção desse trabalho, mas ao longo dos anos na faculdade, em especial à Maria de Fátima
Xavier, Tháyla Kayty Tavares Cardoso Amaral e a minha orientadora Milene Bellanga
Luchiari.
Agradeço as minhas amadas amigas Thais Oliveira e Larissa Oliveira por terem proporcionado
Elaine Oliveira Máximo e Telma Priscila Machado, pela dedicação, carinho, e por
E por fim, a todos que de alguma forma contribuíram para essa conquista.
Primeiramente agradeço ao meu Deus, por ter me dado capacidade, coragem e perseverança
para que eu pudesse completar mais essa etapa da minha vida. Agradeço a minha família por
Fátima Xavier, Tháyla Kayty Tavares Cardoso Amaral e a minha orientadora Milene Bellanga
As minhas companheiras Camilla Boro e Telma Priscila Machado, pelo empenho, dedicação,
Larissa Oliveira por terem nos revelado a importância das pessoas refugiadas.
A Deus, que me deu saúde, força e discernimento para que pudesse chegar até essa etapa da
minha vida.
Aos professores que participaram da construção desse trabalho, em especial à Maria de Fátima
Xavier, Tháyla Kayty Tavares Cardoso Amaral e a minha orientadora Milene Bellanga
As minhas colegas de grupo, que se não fosse pelo apoio mútuo, o objetivo desse trabalho não
E a todos que direta ou indiretamente puderam me auxiliar de alguma forma durante a minha
formação.
adaptar a uma nova cultura, ambiente, processo de educação, entre outros. A justificativa da
observou-se poucas produções científicas relacionada ao tema, o que gera bases deficientes
para políticas públicas destinadas a esse tipo de atenção. Desta forma, tencionou-se contribuir
para melhorias ligadas à saúde mental e à qualidade de vida desses indivíduos no país de
exílio. Foi realizada uma pesquisa qualitativa baseada em uma breve entrevista pré-
estruturada com 7 indivíduos, com idades acima de 18 anos, do sexo masculino e refugiados
no Brasil, com o objetivo de entender seus aspectos emocionais, os impactos sentidos pelo
fato de terem sido obrigados a buscar exílio no Brasil e como eles sentem que são tratados no
novo contexto em que foram inseridos. O resultado dessa pesquisa foi analisado e
discutido sobre os impasses encontrados no manejo desses refugiados. A hipótese inicial foi
nas falas dos refugiados, tendo em vista os contratempos que provavelmente enfrentaram no
psicanálise.
Sumário
APRESENTAÇÃO........................................................................................................1
1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................3
2 OBJETIVOS............................................................................................................26
3 MÉTODO..................................................................................................................27
3.1 Participantes............................................................................................................27
3.2 Instrumentos............................................................................................................27
3.3 Procedimentos.........................................................................................................27
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO.............................................................................29
de exílio.........................................................................................................................29
distância........................................................................................................................37
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................49
6 REFERÊNCIAS.......................................................................................................52
7 ANEXOS...................................................................................................................58
1
Apresentação
Mundialmente, um indivíduo refugiado costuma ser àquele que vive o fundado temor
de perseguição ou violência em seu próprio país por motivos de religião, etnia, raça, guerra
civil, catástrofes naturais ou por motivos de séria violação aos direitos humanos, ficando
exposto a situações que colocam sua vida em risco e o forçam a deixar seu país de origem
para buscar asilo no exterior. Observa-se que no país que acolhe um refugiado, o aspecto
subjetivo e emocional nem sempre é levado em conta, tendo em vista que o cuidado com as
Haydu & Martins, 2017). A bagagem de sentimentos e experiências que essas pessoas
com cada um. Cabe ao país de exílio identificar e fornecer métodos e recursos adaptativos
O tema em questão foi escolhido por chamar muito a atenção das pesquisadoras, visto
que se trata de um tema contemporâneo, e também pelo fato de estar acontecendo atualmente
a maior crise de refugiados desde a segunda Guerra Mundial. O presente estudo iniciou-se
cumprir fundamentos que garantam a satisfação dos interesses públicos. Em seguida, discutiu-
se a saúde mental dos refugiados tendo em vista que a própria situação de refúgio os expõe a
riscos em termos de saúde mental, além das defasadas práticas de cuidado atuais.
Logo após, foi abordado o tema da discriminação crescente no Brasil, que além de
afetar membros da própria sociedade brasileira, também atinge pessoas que buscam exílio no
psicanálise freudiana que são de extrema importância para a análise deste estudo, bem como
emocionais da pessoa refugiada, os impactos sentidos pelo fato de terem sido obrigados a
buscar exílio no Brasil e como eles sentem que são tratados no novo contexto em que foram
inseridos.
respostas obtidas e as teorias mencionadas. Por fim, foram apontadas as principais questões
1 INTRODUÇÃO
nacionalidades distintas. Essas pessoas devem ser acolhidas fisicamente, com o básico para a
sobrevivência, mas muitas vezes também precisam receber um cuidado voltado à saúde
mental, pois podem acabar sofrendo pelas perdas que vivenciaram e pela violação dos seus
diretos. Diante dessa condição emocional, Galina, Haydu e Martins (2017) citam que boa
parte das pessoas refugiadas corre o risco de desenvolver transtornos que podem ser
Quando o indivíduo é obrigado a sair do seu país de origem, pode desencadear fatores
não somente nas necessidades físicas, mas também psíquicas. O cuidado em saúde mental
com essas pessoas é possível através de preparos dos profissionais de saúde que lidam
diretamente com essas demandas, os quais devem se atentar para as suas adversidades
Além do motivo do deslocamento para outro país, as pessoas refugiadas também se deparam
com mortes de parentes, massacre, violência, tortura, entre outros. O deslocamento forçado e
Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), cuja tarefa é auxiliar as
auxiliar na proteção de refugiados e assegurar seus direitos, também beneficia outros grupos
de pessoas, sendo elas as pessoas apátridas (que não possuem nacionalidade ou cidadania), e
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pessoas deslocadas dentro de seu próprio país. É válido citar que as políticas públicas
unicamente para esse tipo de população ainda deixam a desejar (ONU, 2018).
Segundo Haydu (2016), serviços públicos são aqueles oferecidos pela Administração
ou por seus representantes para que se possam atender as necessidades primárias, que são
da população. Esses serviços são diferenciados por terem um regime de direito público, ou
seja, devem desempenhar vários princípios que objetivam garantir a satisfação dos interesses
públicos, defendendo de modo eficaz a carência da população por meio de melhoria continua.
Existem dois elementos que abrangem a noção de serviço público: O substrato material e o
traço formal. O substrato material diz respeito aos serviços que são oferecidos à comunidade,
como água, luz, gás, transporte coletivo, etc., e o traço formal consiste na sujeição desses
serviços citados ao regime de Direito Público, pois devem ser observados em uma série de
princípios.
conceder o serviço público; Regularidade, onde o Estado deve se atualizar para manter a
Transparência, que visa comunicar a população sobre o modo como o serviço foi prestado;
Motivação, onde o Estado esclarece as decisões tomadas em relação aos serviços públicos;
Modicidade das tarifas, que devem ter valores acessíveis; Eficiência, que é o controle efetivo
na prestação de serviços públicos; Cortesia, para que os indivíduos sejam tratados com
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cordialidade e sociabilidade; E por último, segurança, que deve evitar que a vida das pessoas
universalidade, no que diz respeito a desfrutar dos serviços públicos. A ordem jurídica
brasileira tem noção da sua obrigatoriedade em prover proteção aos refugiados, o que os deixa
obrigado a garantir aos refugiados que tenham direito aos serviços públicos, como trabalho,
educação e saúde, que são princípios básicos dos direitos humanos (Haydu, 2016).
seus países de origem e precaver novas ocorrências de solicitação de refúgio. Muitos países
garantem os direitos e a proteção das suas populações, porém, no caso dos refugiados, a sua
própria pátria mãe se mostra incapaz dessa garantia. Esses indivíduos que estão em situações
vulneráveis não podem usufruir da proteção do seu país, pois na maioria dos casos são os
Segundo Haydu (2014, p. 8) “quando essas pessoas vão para outro país e o mesmo não
a recebem e lhes garantem auxílio, podem estar condenando-as à morte ou a uma vida
intolerável”. A pessoa de refúgio não pode ser regressada a nenhum país ou fronteira onde sua
vida possa correr algum risco, desta maneira, a pedra angular é a proteção e o princípio da não
devolução do país de exílio para o país de origem do refugiado, antes que o mesmo ofereça
refugiadas desde o início da criação dos conceitos que as defendem e vale ressaltar que a lei
brasileira é declarada como uma das mais evoluídas no assunto, sendo utilizada como modelo
por países vizinhos (ACNUR, 2015). Pessoas refugiadas no Brasil devem ser amparadas pela
Lei 9.474 de 1997, que descreve uma metodologia para a determinação, suspensão ou
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extinção da condição de refugiado, deixando claro quais são os direitos e deveres dessas
pessoas e ditando quais são as medidas mais duradouras e efetivas cabíveis para essa
população.
analisar e decidir todas as solicitações de refúgio no Brasil. Antes de uma pessoa solicitar
refúgio e embarcar para o Brasil, é recomendado que ela reúna o máximo de provas referentes
ao motivo de sua imigração. Quanto mais provas ela tiver para demonstrar a perseguição
2018).
dos refugiados, pois ele é o responsável pela independência financeira que atua na autoestima
afins para que o mercado de trabalho possa valorizar os refugiados ao invés de ignorá-los
(Barroso, 2013).
e saúde são fatores importantes para que esse indivíduo se sinta integrado no país de exílio. O
refugiado pode escolher se integrar ou não; quando se integra, mantém sua própria cultura,
porém, faz parte de outra diferente da qual está inserido. Porém, o fato de se integrar ou não,
não depende somente do indivíduo, mas também das condições em que ele está inserido e do
tipo de relações que partilha por conviver com pessoas que não têm os mesmos valores
sociais. Desta forma, a integração é compreendida a partir das políticas do ACNUR, e que
segundo Barroso (2013, p. 6), “o seu entendimento é ampliado à medida que se começa a
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Segundo Galina, Haydu e Martins (2017), além de contar com a proteção física, o
refugiado tem direito à assistência básica e aos direitos fundamentais pertencentes a todo e
qualquer indivíduo proveniente de outro país e residente legal no país de refúgio. Esses
respeitados nas decisões que refletem nas suas vidas, ter acesso aos direitos econômicos,
sociais, de trabalho, ensino e assistência médica. Haydu (2016) cita que as Organizações Não
portuguesa, colaborando para que os serviços públicos sejam garantidos aos refugiados, mas
muitas vezes os cuidados voltados à saúde mental dessas pessoas são deixados de lado para
De acordo com Antunes (2017), nos últimos anos foi observado que o número de
refugiados só vem aumentando. Essas pessoas fazem parte de uma população que enfrenta
maior prevalência de problemas de saúde mental e que devem ter um tratamento diferenciado,
pois têm especificidades que devem ser vistas pelos profissionais e serviços de saúde em
violência, devido à alta prevalência e o seu impacto duradouro, precisam ser vistos
Antunes (2017) aponta que indivíduos que sofreram conflitos armados em seu país de
origem têm uma pior saúde mental. Vários estudos analisaram os fatores de riscos envolvidos,
entre eles a exposição a acontecimentos violentos e traumáticos, como por exemplo, o rapto e
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tem um impacto a longo tempo sobre a saúde mental, incluindo um efeito indireto que pode
De acordo com Haydu (2016), foi possível verificar que pessoas de diversas idades,
antes de se verem obrigadas a deixarem seu país de origem, são diariamente expostas a
ACNUR e Organização Mundial de Saúde (OMS). Desta forma, parece certo afirmar que
outro país desconhecido, são invadidos por uma série de experiências negativas.
Segundo Haydu (2016), esses eventos traumáticos aos quais a pessoa refugiada está ou
foi exposta podem ocasionar transtornos psíquicos. As condições emocionais dessas pessoas
Para Serafim e Melo (2010), o estresse agudo e o estresse pós-traumático são estados
sociais. Para Bahls (2000), no que se refere ao transtorno depressivo, este se fundamenta nas
que a pessoa refugiada vivenciou. Por fim, para Delalibera e Barbosa (2011), o Transtorno do
Luto Prolongado – TLP é composto por experiências que um indivíduo teve a partir de
tempo superior a seis meses. Esses sintomas se manifestam diante da perda de um ente
querido ou da perda da vida que levava em seu país de origem. Complicações de segundo
plano, como o uso demasiado de substâncias químicas e a ideação suicida também têm uma
prevalência significativa entre pessoas refugiadas, segundo Antunes (2017). Além disso, a
Antunes (2017) diz que os refugiados são grupos minoritários que tendem a procurar
com menor frequência o serviço de saúde quando comparado à do país de exílio, apresentando
sintomas somáticos e delírios que são difíceis de diagnosticar pelos profissionais da saúde.
tratamentos em longo prazo, assim como a distinção entre cuidado primário e as suas
alguns tipos de cuidados, mas os serviços de saúde nunca devem esquecer o quão importante
são as intervenções preventivas nestas populações. Segundo Antunes (2017), estudos mostram
efetivas na melhoria da saúde mental dos refugiados. Diante desta panorama, pode-se concluir
que é de extrema importância que sejam criados serviços de atendimentos especializados, com
informações que são solicitadas para avaliar o seu perfil durante o acolhimento no país de
exílio. Algumas instituições trabalham cuidadosamente para tentar compreender quais foram
os impactos subjetivos que essas pessoas sofreram, considerando a angústia e a dor por
deixarem seu país de origem (ACNUR, 2015). O sofrimento mental e social devido à
vivenciam em seu país de origem é algo que pode influenciar negativamente na saúde mental
e acarretar sofrimentos emocionais. O refugiado não deve esquecer a vida passada construída
em sua pátria, muito menos sua cultura deve ser deixada de lado. Para que ele tenha
capacidade de conferir sentido ao trauma sofrido, é preciso que seus próprios elementos
sua biografia, mas a criação de novos elos sociais pode ser um desafio para os que conseguem
refúgio. Diante de tais angústias, é imprescindível que haja uma assistência e apoio adequado,
nos quais essas pessoas possam ser consideradas em suas especificidades emocionais sem
nacionalidade do país de exílio. Essa ação de integração tem apresentado oscilações de longo
prazo em seu percurso. Foi colocada em prática a partir de doações da Fundação Ford ao
ACNUR no período da Guerra Fria, e nessa época os refugiados gozavam de uma grande
carga ideológica, sendo que a integração das pessoas sujeitas à perseguição dos regimes
socialistas detinha a função de mostrar a força deste último regime. Com o fim da Guerra
Fria, as pessoas refugiadas passaram a ser concebidas como ameaças a sociedade, sendo vistas
como perigo quanto à manutenção da identidade nacional e sendo denegridos pelo racismo e
xenofobia de vários países do ocidente. Desta forma, a prática de integração local foi
extinguindo o seu espaço no âmbito do ACNUR, pois de acordo com Barroso (2013, p. 2) “é
O racismo e a xenofobia estão muito presentes entre a população brasileira, nação que
(2017), vivemos em uma sociedade preconceituosa e racista que pratica atos de discriminação
e preconceito contra a própria população, e que não obstante, realiza com frequência atos de
números que a maioria das vítimas de racismo e xenofobia são haitianos (26,8%), e logo em
seguida, as pessoas de religião muçulmana ou árabe são as que mais recebem ataque de
preconceito (quase 16% da população). O Haiti é um dos países classificados pelo seu enorme
fluxo emigratório, que além do cenário histórico marcado pelo curso de independência da
França, também é notado pelos desastres naturais e epidemias que dificultam ainda mais sua
reconstrução e desenvolvimento.
conforme comprovado em 2014 através do índice de 86% dos refugiados exilados nos países
próprio e de egoísmo, que irão agravar ainda mais a crise de acolhimento aos refugiados.
pode ser representado por brincadeiras irônicas, escárnios ou deboches, que são direcionados
em sua grande maioria às pessoas negras ou que estão à margem da sociedade, atitude
considerada pela Lei 9.459 de 1997 como um tipo de violência psicológica. Assim como
citado por Farah (2017), o primeiro artigo desta lei afirma que “serão punidos, na forma desta
procedência nacional”. No entanto, apesar dos dados sobre o índice de discriminação contra
Silva e Fernandes (2017) relatam que na sociedade brasileira, as pessoas negras muitas
vezes não são respeitadas, pois são consideradas como inferiores, perigosas e sujas. Sendo
observado que os atos de deboches, escárnios e piadas vêm se tornando cada vez mais
compõem predominantemente de pessoas negras, fica claro que novas ações nesse âmbito
a necessidade de uma ampliação ou até mesmo da criação de uma nova infraestrutura para
acolhimento dessas pessoas. Contudo, é visto que o Estado brasileiro não possui subsídios
para acolher com dignidade esses indivíduos em situação de refúgio, pois as leis e políticas
públicas voltadas a essa população não são colocadas em prática pelo governo.
Fernandes (2017), essas circunstâncias isoladas ou em conjunto são uma barreira para que
eles se insiram na sociedade exilada ou servem como um gatilho para optarem viver excluídos
do convívio social.
Um dos primeiros desafios que devem ser vencidos para a integração dessa população
direitos. As pessoas refugiadas buscam se inserir como cidadãos iguais a todos os demais
passaram por várias vulnerabilidades sociais, econômicas e culturais, por exemplo, são
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expostos novamente à exclusão. Essa desigualdade pode ser vista nas diferentes realidades,
Diante do poder público, de modo geral, não há acolhimento para os refugiados, essa
elaboração de políticas públicas relacionadas ao tema. Farah (2017, p. 29) destaca que várias
dessas entidades oferecem serviços voluntários, que não se delimitam em apenas acolher, mas
aprendem o português, as pessoas refugiadas adquirem maior autonomia para falar sobre as
Segundo Farah (2017), a luta contra a xenofobia deve envolver principalmente quem
sofre com ela, em um impulso comum entre brasileiros e estrangeiros. O exercício da cultura
de paz atualmente diz respeito a abraçar a causa dos refugiados e demonstrar ação em virtude
da proximidade e troca entre os seres humanos. É importante salientar que não compete a
ninguém promover discriminação, por isso essa solidariedade não deve ser exclusiva a
dignidade humana, pois a imigração faz e sempre fará parte da história da humanidade.
dos refugiados e inspecionar a sua execução, qualquer Estado que tenha autenticado a
Não discriminar ninguém em virtude da sua raça, religião, sexo e país de origem e
origem alguém que no mesmo possa vir a ser vítima de perseguição (Farah, 2017, p.
14
19).
A migração de árabes pode ser considerada histórica no país desde o século XIX, e por
isso é necessário compreender esse fluxo migratório para que exista condições de
implementar políticas públicas que atendam a carência deste e de outros povos que solicitam
refúgio. A intenção deve ser focalizar a diminuição dos conflitos e facilitar a integração social
dos refugiados, visando primordialmente o campo educacional para aplicar medidas que
como Farah (2017) afirma, a educação não é apenas para transmitir conhecimento científico, é
mesmo que não seja recomendada a expulsão ou discriminação dos brasileiros em países que
os acolhem, ainda sim os discursos xenofóbicos prevalecem dentro do país. Para combater
cultura de paz e da permissão de expressões culturais dos diversos povos presentes no país.
experiência de ser forçado a se deslocar de país fortalece ou atormenta mais quem a vivencia.
ter uma identidade renovada em uma cultura distinta é vista como algo muito útil e
proveitoso, enquanto outros afirmam que o distanciamento físico de suas raízes tem sentido
de abandono, o que promove angústia e pode levar ao suicídio (Barakat, 1987 citado por
Farah, 2017). Portanto, Lussi (2015) afirma que as políticas públicas criadas especialmente
possibilitando que seus direitos possam ser promovidos, permitindo a integração social e a
Tendo em vista que este trabalho interessa-se nos aspectos da saúde mental de pessoas
principais autores utilizados são Donald Woods Winnicott e John Bowlby. Para tanto, faz-se
Segundo Kahn (2015), Freud mudou grande parte da percepção das pessoas ao que
Mundial, ao elaborar suas ideias e apresentá-las à Sociedade Médica de Viena por volta dos
diversas subculturas ao abordar sua compreensão sobre a mente humana. Ao longo dos anos,
provisão de um ambiente mais humano e amistoso no que se refere ao cuidado com a saúde
mental. Seus seguidores abordaram e reiteraram as ideias feitas por Freud, sendo que até o
próprio realizou reformulações de suas ideias e práticas psicanalíticas ao longo de sua vida.
para conter pensamentos recalcados, muito além do que podemos, se quer, imaginar. Logo, a
partir das experiências inconscientes, o Id foi caracterizado como uma das três estruturas do
aparelho psíquico postuladas na segunda tópica de Freud (1923/2006), estrutura essa que é
inteiramente regida por uma força inconsciente, sendo um depósito de energia psíquica que
visa diminuir a tensão e o desconforto e aumentar o prazer para obter uma satisfação imediata.
Para Freud (1923/2006), o bebê é puro Id no início da vida e não é capaz de distinguir-
se da mãe. Ao longo do tempo vai se moldando com base no princípio de realidade, e a partir
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disso, surge a ideia de ego, que basicamente é definido como um mediador entre a fantasia e o
mundo real. De início, o ego age de acordo com as exigências do Id para não ser frustrado
inevitavelmente todo ser humano está sujeito a pulsões que podem causar frustrações
intolerantes à consciência. Desta forma, surge o conceito do recalque, que para Freud
todas as menções e prévias das pulsões que abalariam a estabilidade psicológica do indivíduo
Para Freud (1972/1980, citado por Jorge, 2008), o recalque é como um bloqueio que
protege a integridade do ego, mas que rouba muito da energia psíquica do sujeito caso haja
uma séria batalha entre o conteúdo recalcado e o mediador da realidade. O recalque age como
uma defesa do ego para que ele possa suportar uma nova realidade. Esse bloqueio pode
refletir em algumas atitudes que não possuem prévias explicações no plano consciente, mas
que podem ser amenizados com o devido apoio psicológico. Assim, é possível dizer que as
necessidades do Id são mais voltadas para a satisfação imediata do prazer, ou seja, da ordem
desenvolvimento. Seu estudo se concentrou na relação mãe-bebê por acreditar que a base da
saúde mental é moldada na primeira infância pela relação com a mãe, representante do
ambiente externo. Elaborou também a ideia que as privações emocionais nos estágios
Winnicott (1965, citado por Rocha, 2006) diz que todo o ser humano traz consigo para a
vida um potencial genético herdado e a tendência ao amadurecimento, que fazem parte do ser
desde a sua concepção no ventre materno. O autor lembra que essa tendência não deve ser
considerada como algo óbvio, visto que seu bom desenvolvimento depende muito do apoio
Para Winnicott (1955d/2000), o bebê não pode existir sem uma mãe e sem um
ambiente, devendo haver uma relação harmoniosa entre ambos para que o primeiro evolua e
indiscriminação entre interno e externo e o bebê tem a ilusão de que o seio da mãe é uma
criação sua, prolongando assim sua onipotência narcísica nos primeiros meses. Nesta fase, a
mãe ou alguém que faça seu papel é um elemento muito importante, pois é uma figura vista e
sentida pelo bebê como sendo parte dele próprio e que aos poucos pode servir de auxílio ou
não no caminho rumo à integração. Winnicott (1965, citado por Rocha, 2006) utiliza este
termo para se referir a uma parte do processo de amadurecimento do ser humano, formado
Preocupação Materna Primária. Esse estado condiz a uma condição especial da mãe, de
sensibilidade aumentada, que ocorre desde a gestação até os primeiros meses de vida do bebê
em que ela é capaz de se identificar com ele, fornecendo um ambiente suficientemente bom
para que ele possa se desenvolver. Consequentemente, esses cuidados resultarão no bebê o
por falta de cuidados essenciais. Ou seja, a mãe que se atenta em amparar as necessidades de
dono das sensações correspondentes a essa etapa inicial da vida” (Winnicott, 1956/1958n,
que precisa estar em sintonia com o bebê a fim de atender prontamente as suas necessidades.
Winnicott (1955d/2000) afirma que quando essa criança é atendida sem invasão, tendo um
espaço de tempo entre as mamadas, entre uma forma de segurar e outra, vai sendo construído
um registro de continuidade de um ser que deve ser respeitado, mantido e não invadido pelo
ambiente. Se seu potencial inato que tende ao amadurecimento for satisfatório e a mãe for
suficientemente boa, esse bebê sofrerá muito pouco com a intrusão do ambiente. Mas se os
erros ambientais não forem rapidamente corrigidos e ocorrerem com frequência, o bebê será
criança no início da vida são guardadas na memória, onde acabam incitando sua confiança ou
Segundo Fulgêncio (2006, citado por Ciccone, 2013), Winnicott adverte que quando o
desenvolvimento emocional saudável, ou seja, esse processo que percorre por toda a vida se
um ambiente suficientemente bom, é possível que esse sujeito se reconheça como uma pessoa
integrada que se permite relacionar com outras pessoas saudavelmente. Ciccone (2013) afirma
vínculo mãe-bebê e de sua prática clínica, elaborando conceitos que levaram a estudos sobre o
o início da vida, uma sustentação externa que garanta seu bom desenvolvimento. Mesmo que
o ambiente seja essencial, não é o único fator responsável pelo seu crescimento. Para
Monteiro (2003), dois dos mais importantes conceitos citados por Winnicott para que isso
handling é baseado na experiência que é proporcionada pela mãe, a qual se refere ao contato
2003). É na fase da dependência absoluta que esses cuidados são primordiais, pois é nela que
se assenta o processo de maturação, e após alguns meses de atenção especial voltada ao bebê
nesta fase, a mãe tende a retomar aos pouco à sua vida que vai se desadaptando das
denominado por Winnicott (1965r, citado por Rocha, 2006) de dependência relativa, no qual a
mãe, a partir de sua percepção do desenvolvimento do bebê, pode passar a apresentar falhas
progressivas e benéficas às suas necessidades. Essa atitude gera no bebê uma desadaptação
gradativa em relação ao ambiente, no sentido de que ele consiga suportar por mais tempo a
ausência de alimento ou colo, por exemplo. Neste estágio, o bebê tende a perceber sua mãe
como um ser individual e separado dele, começando a se dar conta da sua dependência no
ambiente favorável. Winnicott (1971f, p.5, citado por Rocha, 2006, p.18) destaca que por ser
uma adaptação gradual, é extremamente importante que a mãe consiga representar esse
capacidade do bebê de se relacionar com objetos pode ser perdida parcial ou totalmente.
Se a adaptação oferecida pelo ambiente for promissora, capacitará o bebê para que ele
independência. É possível alcançá-lo à medida que a mãe faz com que seu bebê seja capaz de
lidar com as complexidades do mundo. O que antes era somente o bebê e sua mãe passa a
abranger o pai, os familiares e um conjunto cada vez maior. Apesar de utilizar o termo
“rumo” à independência, Winnicott (1971f, p.3 citado por Rocha, 2006, p.18) afirma que não
existe a independência em si, pois para ele, todo ser é eternamente dependente de outro até o
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fim de sua vida, a busca pela independência sempre será contínua mesmo quando já existir
capacidade de autocuidado.
externa coincide com a sua capacidade de criar. Depois de ter proporcionado a ideia de ilusão,
a mãe apresenta ao bebê a desilusão, atitude esta que faz com que a prática criativa se
internalize e torne-se fonte intrínseca do viver criativo. No que se refere à criatividade para
quando o bebê busca alcançar algo que remete a uma autonomia e é própria do estar vivo.
que é compreendido como belo e que está no indivíduo que vivenciou o amparo materno,
self se origina o gesto espontâneo, que como dito por Winnicott (1965, citado por Ciccone,
2013) somente o self verdadeiro pode ser criativo e se sentir real. Deste modo, pode-se dizer
que poder o sentimento de se sentir real decorre da criatividade do verdadeiro self, logo, flui o
Para Ciccone (2013), as relações primárias são fundamentais para as relações futuras,
e primordialmente, para a saúde mental do sujeito, do seu meio social e sociedade. A autora
fala sobre uma importante etapa do desenvolvimento emocional, que para Winnicott, se
remete ao verdadeiro self e o gesto espontâneo como sinônimo de ser criativo. Em suma, o
indivíduo que vivenciou um ambiente suficientemente bom e que pôde desfrutar das
bom.
Como disse Winnicott (1970/1986h, p.23, citado por Ciccone, 2013 p.77):
A criatividade é o fazer que, gerado a partir do ser, indica que aquele que é está vivo,
personalização, sentir-se o protagonista de um mundo que ele mesmo criou, que participa e
Além de Winnicott, é possível se basear nas obras de John Bowlby no que diz respeito
aos estudos sobre as contribuições do ambiente provido a uma pessoa para o seu
desenvolvimento psicológico.
afetivos, sobre a teoria de ligação, destacando que os seres humanos são propensos à
formarem vínculos afetivos com outros indivíduos e lugares. Explica a ansiedade, depressão,
perdas inesperadas.
Um estudo realizado com macacos Rhesus em 1958 por Harry e Harlow (1905-1981)
sugeriu que o apego se refere mais à segurança emocional do que à comida, ao simular duas
mães artificiais aos macacos filhotes: uma feita somente de arame, mas que fornecia leite, e
outra que também era feita com essa armação, mas que foi forrada com pano felpudo e
confortável e não disponibilizava leite aos filhotes. O resultado mostrou que os filhotes se
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apegaram mais à mãe macia, e esta preferência mantinha-se independente de qual mãe
fornecia o alimento.
Este e outros estudos sobre o tema do apego fizeram Bowlby (1982/1997) questionar o
modelo clássico que discorria sobre a gênese dos vínculos afetivos. Este modelo era pautado
que para satisfazer certos impulsos, como alimentação na infância e sexo na vida adulta, seria
necessária a presença de outro ser humano. Portanto, isso definia que os seres humanos
sociais).
Seu questionamento sobre o tema fez com que ele criticasse este modelo e formulasse
emitido e que resulte na proximidade de um indivíduo a outro que seja considerado alguém
diferenciado dentre os demais, podendo ser generalizado quando se trata de objetos ou lugares
exemplo, que acarretam muitas vezes em carinho e atenção por parte do outro. Apesar de ser
mais evidente nas crianças em seus primeiros anos de vida, o comportamento de ligação faz
parte do ser humano desde o nascimento até a morte. Na vida adulta, essas reações são
relacionamentos entre os seres humanos também são colocadas por Bowlby (1989) sob a luz
da teoria do apego. Essa teoria se define basicamente pela ideia de que o cuidado materno (ou
de qualquer outra figura que desempenhe esse papel) durante a infância é essencial para
entendimento de que a figura a qual se está apegado é acessível e disponibiliza respostas aos
sinais, gerando sensação de cuidado e proteção, o que reforça a relação entre ambos os
23
envolvidos. Tal fenômeno é visto como um impulso biológico, condizendo com a necessidade
que esse aspecto remete à definição clássica da teoria do apego, visto que diversos outros
inicial, como por exemplo, o apego e as relações conjugais, o apego e as relações entre
Bowlby (1989) diz que, a depender do tipo de acolhimento fornecido pela figura de
de determinado indivíduo podem variar. O apego seguro, segundo ele, proporciona uma
quais se derivam das experiências sociais positivas vividas nas relações mútuas. Já no apego
vivência de relações em que o cuidado necessitado não foi provido, o que provavelmente
desenvolve no indivíduo expectativas negativas que serão refletidas nas suas relações ao
longo da vida.
afetivos. Ainda sob o olhar da perspectiva da infância, ele diz que quando a criança é retirada
dos cuidados maternos, a situação pode ocasionar num rompimento afetivo e abalar o vínculo
mãe-bebê, que a depender da idade da criança, pode levá-la a um estado composto por três
fases. O autor cita as fases de protesto, desespero e desligamento após este rompimento. Na
primeira fase, que pode durar por vários dias, a criança apresenta-se raivosa e com choro
constante, acreditando que ainda irá rever a mãe. Após isso, a criança se mantém em um clima
calmo, ainda desconfiando que verá sua mãe, mas as suas esperanças se perdem e a ela entra
menor grau de reorganização. Na fase de torpor, geralmente a pessoa que sofreu uma perda
muito grande mostra-se confusa e faz uso da negação por ainda encontrar-se incapaz de
admitir o que foi perdido. Esta fase pode durar dias ou até semanas, podendo ser intermitente
Após essa fase, geralmente a realidade se sobressai de modo episódico e faz com que o
indivíduo se dê conta da perda pela qual esta vivendo, o que pode gerar crises de choro e ao
mesmo tempo alvoroço em relação aos pensamentos e sensações referentes ao que foi
perdido. Essas particularidades são típicas da fase de saudade, que pode também desencadear
um forte impulso de busca real pela figura perdida seguido de desorganização e desespero, o
que suscita choro e raiva, características normais do luto e que não raramente, podem durar
por anos a depender do vínculo do indivíduo com a figura perdida. Algumas pessoas tendem a
se inibir, outras, a extravasar o sofrimento na forma de gritos, tal como uma criança
abandonada, e assim como essa criança manifesta tal comportamento na intenção de que sua
mãe a escute ou que alguém a auxilie na busca pelo que foi perdido, acredita-se que com o
adulto os episódios ocorrem com o mesmo objetivo em mente, seja ele consciente ou não
(Bowlby, 1982/1997).
Por fim, a quarta fase desse processo na vida adulta, que é a de maior ou menor grau de
reorganização, é definida por uma aceitação da perda imutável e é percebido que uma nova
ego, mas que não isenta uma nova ocorrência de episódios de saudade e tristeza. Lewis (2000,
citado por Dalbem & Dell'Aglio, 2005), afirma que as rupturas de vínculos são inevitáveis,
25
2 OBJETIVOS
2.1. Geral
processo de chegada ao país de exílio até sua adaptação às exigências nacionais, procurando
entender as vivências anteriores que puderam influenciar nessa inesperada transição de vida.
2.2 Específicos
✓ Analisar as respostas mais frequentes de acordo com os dados coletados para que se
surgirão relatos marcantes, possíveis traumas e fragilidades nas respostas dos participantes.
27
3 MÉTODO
3.1 Participantes
3.2 Instrumentos
elaboração das questões foi realizada a partir das literaturas encontradas pelas pesquisadoras e
aspectos emocionais desses indivíduos, os impactos sentidos pelo fato de terem sido
obrigados a buscar exílio no Brasil e como eles sentem que são tratados no novo contexto em
organizada mensalmente pela instituição que traz um resumo de seu trabalho e as principais
Integradas Einstein de Limeira – CEP/FIEL com parecer de número 2.703.893 (Anexo 2), as
28
Esclarecido - TCLE (Anexo 3) para os participantes. Aqueles que assinaram o TCLE foram
convocados para a entrevista individual, que ocorreu na própria instituição e foi gravada.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Essa seção discorre acerca dos resultados encontrados por meio da realização da
qual será classificada em três temas para maior compreensão dos dados obtidos. Em seguida,
exílio
acontece há tempos, mas atualmente esse número tem crescido bastante. O ano de 2017 foi o
haitianos no Brasil (ACNUR, 2018). Essa crescente busca por exílio no país, incita a reflexão
sobre crenças relacionadas à miscigenação brasileira, algo que causa, de alguma forma, a
ideia de que aqui todos são bem aceitos, sem qualquer tipo de discriminação ou desigualdade
(Farah, 2017). Neste sentido, é possível citar o caso de haitianos e africanos que chegam ao
percepção deles, um país que possui em sua população um número majoritário de pessoas
negras dificilmente iria promover a segregação dos indivíduos. Na prática, pode-se observar
que não é isso que realmente acontece, pois o número de refugiados haitianos e africanos que
entrevistados ouvidos na presente pesquisa citou, como uma das maiores dificuldades
Brasil, declarou que em seu país de origem foi sequestrado e torturado três vezes devido a
30
questões políticas e ideológicas, logo após ter sido motivado a investigar um massacre que
aconteceu no sudeste de seu país, algo que, segundo ele, o deixou muito intrigado. Isso fez
com que P. se tornasse mais uma das vítimas do conflito que já deixou milhões de mortos no
país e que se estende há mais de 20 anos. Para ele, a questão da guerra causou uma enorme
instabilidade política no país que dura até hoje e que se agravou ainda mais após o atual
presidente da República Democrática do Congo, que está no poder desde 2001, se enjeitar a
deixar seu posto no fim de seu segundo mandato e acentuar a atuação do exército contra os
opositores do governo. Outro fator que motiva os conflitos no Congo, segundo ele, é a
como estupro de mulheres, exploração e morte de inocentes. Após sua chegada no Brasil
esses assuntos lhe causavam muito sofrimento e no início procurava não falar sobre esses
acontecimentos. P. disse que apesar de ter chegado ao Brasil e não ter recebido nenhum apoio
falar sobre os abusos que aconteceram e ainda acontecem em seu país, e que hoje em dia, a
maior dificuldade que encontra em permanecer no Brasil é ser vítima de racismo. P. afirmou:
“A cultura daqui também é diferente, sem falar que o Brasil é um país muito racista. Já
passei por alguns países diferentes, mas nunca vi racismo na mesma proporção que vejo
Já outro entrevistado, A., natural do Mali, disse: “[...] aqui no Brasil não tem racismo
estampado, mas no dia a dia você sente esse racismo, sabe... No dia a dia, que você tem que
andar de metrô e senta ao lado de uma branca, percebe que a branca levanta dali, te deixa
sozinho, sentado... Em uma reunião de serviço, você chega e de repente as pessoas se retiram
da sala, deixam você sozinho. Eu sinto isso no dia a dia. Mas depois você entende que Deus
31
nos fez humanos, Deus fez a vida, a vida que todos respiram. Isso tem que passar pela
cultura, pelo entendimento das pessoas, elas precisam saber que todos somos iguais. Eu já
estou habituado.”
Em síntese, ambos disseram que a cultura do racismo parece estar tão enraizada na
população brasileira, que muitas vezes as pessoas não percebem que estão sendo racistas ao
emitir alguns comentários ou ações dirigidos a imigrantes e/ou refugiados. Assim como
Greenwald e Banaji (1995) citam, existe um termo dentro da psicologia que pode ser
associado a esse fato, chamado de “viés inconsciente”, que ocorre quando um tipo de
associação involuntária gera pressupostos, opiniões e ações que um indivíduo tem diante de
conversas carregadas de estereótipos podem ser vistos como uma base para que o viés
inconsciente interfira nas decisões e opiniões cotidianas portadoras de racismo. Ou seja, para
Custódio (2015), o racismo no Brasil se reproduz em nível invisível na maioria das vezes,
forma como o racismo se reflete dentro dela, sendo este um criador de obstáculos reais aos
afetados, como a dificuldade de acesso à educação e ao emprego – citada pela maioria dos
entrevistados – e também as dificuldades que muitas vezes levam o refugiado a acreditar que
não é capaz de conseguir o que deseja, fazendo-o se auto-excluir do meio em que está
inserido. Segundo uma das respostas do entrevistado A., que também já está há 5 anos no
Brasil, o maior culpado de haver essa segregação de raças é o colonizador. Ele afirmou: “O
a irmandade entre o povo. Se você olha no tempo do ‘apartheid’, o próprio nome já diz que
32
então.”
Assim como as pessoas negras muitas vezes não são respeitadas porque são
consideradas como inferiores, perigosas e sujas na sociedade brasileira (Silva & Fernandes,
essa visão. Ficou perceptível durante as entrevistas que o próprio termo “refugiado”
na 25 de março. Não tenho vergonha de dizer que sou refugiado, pois sei que isso é somente
uma fase da vida e que vai passar, não é o que me define. [...] No meio da população em
geral existe muito preconceito com o termo ‘refugiado’, pois muitos o associam somente a
pobreza e miséria. Refúgio não é só isso. Pode ser que envolva isso em algum momento, mas
não é só isso. A ignorância da população brasileira faz com que uma pessoa refugiada se
sinta muito mal, obrigando muitos a se fecharem e não falarem que são refugiados.”
Ou seja, segundo P., a própria população brasileira não tem o conhecimento adequado
do que realmente é uma pessoa refugiada e tratam-na como fugitiva, desprovida de qualidades
e como alguém que está à margem da sociedade. Isso mostra que a falta de informação
também é uma das principais barreiras entre os brasileiros e os refugiados, pois acaba por
Segundo o contexto histórico do Brasil, a Lei Áurea (1888) apenas concedeu liberdade
aos negros escravizados, mas não houve implantação de nenhuma política pública para que
essas pessoas fossem integradas socialmente. Existia a idéia que o Brasil tornar-se-ia um país
de brancos e que em pouco tempo os negros não seriam mais vistos por aqui. Não foi bem
assim que ocorreu, e desta forma, esse momento histórico ainda traz vestígios ao momento
atual por simplesmente tornar genuína as derradeiras ideias racistas coloniais, enraizadas no
senso comum por não haver a preocupação de que os anos de escravidão trariam outros novos
33
emprego no Brasil, A. declarou: “Foi difícil arrumar um emprego bom, porque parece que
aqui todos enxergam o negro como alguém que pode fazer qualquer coisa. Revalidei meus
diplomas após 2 anos que estava aqui, mas é complicado seguir carreira, não pretendo isso
aqui.”
Isto é, muitas pessoas chegam ao país de exílio com qualificação para o mercado de
trabalho, mas não tem oportunidade de emprego na própria área, porque, além da dificuldade
com um idioma e cultura desconhecidos, o preconceito por parte de quem emprega também
acaba sendo uma barreira. Os refugiados acabam precisando recorrer a ocupações com pouca
ou nenhuma especialidade, sujeitando-se a salários muito abaixo aos que suas qualificações
normalmente mereceriam, e quem acaba perdendo com isso também é o país, que devido à
Esta fala citada do participante pode exemplificar também o fato de que além do
racismo velado, a sociedade brasileira sofre com seu funcionamento baseado em privilégios
oportunidades e escolhas sem importarem-se como as mesmas se dão, enquanto outros sequer
têm acesso aos mesmos benefícios. O fato de existirem grupos privilegiados na sociedade é o
que geralmente cega a visão de que nem todo mundo consegue atingir a linha de chegada com
o mesmo êxito, apesar de existir no país a liberdade de qualquer um lutar pelo que deseja
(Custódio, 2015).
Bois (1868 – 1963), Custódio (2015) cita a probabilidade de uma pessoa branca poder preferir
encarar ou não as questões que pessoas negras têm dentro da sociedade, enquanto essas
últimas sequer podem cogitar a possibilidade de escolherem lidar com isso, apenas pelo fato
de ser quem são. É neste sentido que torna-se possível identificar a hierarquia de privilégios
34
instaurada nas sociedades que abrange as diferentes esferas sociais, como assuntos
Brasil, todos os indivíduos, sem exceção, estão inclusos no preceito da universalidade. Esse
preceito legitima e garante o acesso aos serviços públicos à toda e qualquer pessoa,
englobando também os imigrantes e refugiados, sendo que estes possuem total direito ao
trabalho, educação e saúde em solo brasileiro. Entretanto, mais uma das dificuldades bastante
citadas pelos refugiados nas entrevistas foi a de conseguir emprego no Brasil. O refugiado N.,
natural de Cuba, disse que está no Brasil há dois anos e que quando chegou aqui, precisou
devido à chegada dos venezuelanos na mesma época. Disse que ouviu falar sobre
oportunidades de emprego em Belém do Pará e até se deslocou até o município, mas que não
obteve sucesso e acabou indo para a capital de São Paulo, onde ainda encontra-se
abrigo, o que atesta que diante do poder público, de modo geral, não há acolhimento para os
instituições religiosas.
Haydu (2016) cita que a oportunidade de trabalho no país de exílio pode ser um
origem antes de terminar seus estudos – no ensino superior – também citaram a dificuldade
em voltar a estudar no Brasil, sendo que essa dificuldade está diretamente ligada ao fator do
trabalho, pois muitos alegam que necessitam de dinheiro para investirem na continuação dos
estudos.
35
O entrevistado B., que é natural do Haiti, disse que precisou interromper os estudos na
época em que ocorreu o terremoto, em 2010, e que ainda não teve oportunidades de retomar,
pois precisou fugir há 2 anos e 3 meses da terrível crise que assola seu país. “A maior
com trabalho. Por eu ter que trabalhar o dia todo, não sobra tempo para poder estudar.”
trabalho, não só pelo fato de ser difícil conseguir emprego para custear os estudos, mas
também no sentido de conseguir emprego e este exigir uma carga horária extensa que impeça
dependência, nesse sentido, pode ser comparada ao estágio de dependência absoluta ao qual
Winnicott (1965r, citado por Rocha, 2006) se refere, em que o bebê depende absolutamente
do ambiente para suprir suas necessidades. Inclusive, essa dependência também revelou-se
estar ligada à dificuldade de conseguir emprego, quando os entrevistados disseram que esse
fato os impossibilita de obter autonomia para suprir suas necessidades básicas, como sustento
e moradia.
provocados pela instabilidade financeira, incluindo as angústias oriundas de outros fatores que
integram o contexto de refúgio. O ambiente em que este indivíduo está inserido no país de
exílio deveria ser facilitador, amparando suas angústias e medos presentes desde o fundado
Contudo, metade dos refugiados entrevistados para a pesquisa sente que não recebeu
os cuidados necessários voltados aos seus sentimentos de angústia, medo e abandono quando
36
chegaram ao Brasil, obtendo, sobretudo, o que era essencial para a sobrevivência em termos
de suprimento físico. Sabendo que as necessidades do Id são mais voltadas para o alcance do
prazer, ligadas às demandas fisiológicas, enquanto as do ego são vistas como necessidades
citado por Jorge, 2008), através das respostas ficou claro que, em relação aos refugiados, as
necessidades do ego são deixadas de lado para suprir o que geralmente é visto como
emergencial.
mental, mostrando mais uma vez o quanto o poder público deixa a desejar. Pode-se dizer que
tensão. Outro entrevistado disse não ter experienciado sentimentos ruins, pois já vinha tendo
maior afinidade com o Brasil no que se refere à oportunidade de ter contato com quem já
morava aqui e estudar sobre a cultura brasileira antes de chegar ao país: “Tenho um amigo
que já morava aqui antes de mim e que me ajudou muito quando cheguei ao Brasil. Eu já
conversava com ele pela internet para saber como estavam as coisas por aqui e também já
estudei um pouco da história do Brasil, já sabia que queria ficar em São Paulo. Não tive
Esta fala é de E., natural do Haiti e que encontra-se no Brasil há 5 anos. Três anos
após o terremoto e com o agravamento da crise de seu país, E. decidiu buscar exílio no Brasil,
mas antes preferiu e teve condições de se informar sobre o que estava por vir. A fala dele
indica que o conhecimento sobre o destino e o contato prévio com elementos do país de exílio
do contexto em que o refúgio se dá, não é possível que o indivíduo consiga se organizar desta
refugiado, pois isso assegura sua autoestima e seu sentimento de pertencimento. Estar
ideia de se sentirem aceitos como humanos e criarem raízes através do trabalho e dos estudos,
distância
possuía 8.863 refugiados que são reconhecidos vindos de 79 nacionalidades distintas. Sabe-se
que este número só vem aumentando desde então, e o que é de extrema importância a ser
reconhecido é que esses indivíduos precisam ser acolhidos com o básico para a sua
pois sofrem com as violações de seus direitos ou até mesmo pelas perdas que vivenciaram em
sua pátria mãe. Galina, Haydu e Martins (2017) relatam que boa parte dessas pessoas corre o
risco de desenvolver transtornos mentais que podem ser classificados como moderados e
severos.
Quando um indivíduo é obrigado a sair do seu próprio país, pode vir a sofrer com
emocionais para acolher essa população. Este cuidado é possível através do preparo de
profissionais de saúde que lidam diretamente com essas demandas, levando em conta as
parentes, tortura, violência, entre outros. O fato de ter que sair do seu país de origem e as
experiências vividas podem ocasionar sofrimento psicológico ligado ao trauma que foram
Quando a pessoa refugiada chega ao exílio, pode querer ou não se integrar. Quando a
integração acontece, é possível enxergar que a mesma mantém as suas próprias tradições,
porém é incapaz de viver a realidade que viveu em sua pátria mãe. Desta forma, a integração
dessa pessoa também depende da qualidade do ambiente em que está sendo inserida e do
tipo de relação que partilha por viver com pessoas que não tem os mesmos valores sociais
(Barroso 2013, p. 6). Diante das entrevistas realizadas, foi observado nos relatos dos
participantes que toda a dor e sofrimento por terem que deixar o seu país de origem foi
minimizada na chegada ao Brasil, tendo em vista que viviam em situação tão terrível que as
estudei para ajudar meu país e quero muito fazer isso. O Brasil está muito bem em vista do
Congo, gostaria que lá fosse igual aqui na questão democrática. A corrupção que existe aqui
é somente uma questão de educação. [...] Eu sofri muito em meu país, chorei muito quando
cheguei ao Brasil. Já morei no Rio de Janeiro, mas não consegui ficar muito tempo lá, era
estranho e me fez querer muito voltar para o Congo. Quando me mudei para São Paulo não
conhecia ninguém, tive que começar do zero e senti que todo orgulho que tinha de mim
mesmo foi quebrado. Cheguei a morar em albergues junto com moradores de rua. O nada
que eu tinha quando cheguei aqui me marcou muito e me fez olhar para tudo que tinha lá no
na escola como é fora de nosso país. Quando nós saímos para outros lugares, nós andamos
39
com uma fé que todos os lugares podem acontecer mortes e qualquer coisa má, até em nossa
casa.”
Diante destas falas, é possível observar a comparação que é feita nas situações em que
Brasil, como por exemplo, desemprego, moradia, dinheiro, etc., a situação do país de origem
dos refugiados é tão precária, que essas dificuldades básicas para sobrevivência são vistas de
maneira minimizada quando comparadas às dores e perdas que essas pessoas tiveram ao
deixar seu próprio país. Diante de todo e sofrimento vivido e o fato de estar em um país
desconhecido, sem sua família, cultura e amigos, os refugiados ficam impotentes em meio à
realidade em que se encontram. Como visto na fala de P., o seu Eu foi quebrado e colocado
dor da separação dos seus entes queridos e de sua pátria mãe o fez questionar sobre o próprio
Em frente às perdas, Bowlby (1982/1997) fala em sua teoria sobre a fase do torpor, da
busca pela figura perdida, saudade, desorganização, desespero, e a fase de menor ou maior
grau de reorganização. Quando a pessoa está nesta primeira fase, geralmente demonstra-se
confusa e faz uso da negação, pelo fato de ser incapaz de admitir o que perdeu, podendo este
sentimento perdurar por dias ou até semanas com intervalos de desolação e raiva acentuadas.
Quando essa fase acaba, o indivíduo se dá conta da realidade e da perda pela qual passou,
podendo desenvolver crises de choro e ao mesmo tempo alvoroço diante do pensamento e das
sensações ao que foi perdido. Esses comportamentos são características normais do luto e que
não raramente, podem durar anos, dependendo do vínculo que o indivíduo tem com a figura
perdida.
Pode-se notar a fase do torpor nos relatos de um dos entrevistados, R., 36 anos, natural
da Angola. R. relata que se sentiu sozinho quando chegou ao Brasil e que ao imaginar tudo o
que havia deixado para trás, sentiu um vazio dentro de si que aos poucos e vagarosamente foi
40
sendo preenchido. Foi notado que esse rompimento de vínculo não necessariamente se remete
apenas à saudade de um ente querido deixado para trás, mas também do ambiente em que
aquela pessoa ficou inserida a maior parte de sua vida. O fato de ser retirado de seu país e ser
própria língua para se comunicar, os costumes são diferentes, as regras de convivência, leis,
trabalho, educação, entre outros são distintas, o refugiado claramente pode se sentir confuso e
angustiado no início.
Depois que esses sentimentos se acalmam, Bowlby (1982/1997) fala que o indivíduo
começa a se reorganizar e aceitar o que perdeu, sendo percebida pelo mesmo a possibilidade
de uma nova vida, que pode ser iniciada no contexto em que o mesmo está inserido, mas que
não está isento de uma nova ocorrência de episódios de tristeza e saudade. Foi o que R. viveu,
pois após se reorganizar internamente, disse que continuou seu propósito como ativista no
Os seres humanos estão propensos a formar grandes vínculos afetivos com outras
necessidades, os quais se formam através das experiências sociais positivas vividas nas
relações mútuas ao longo da vida. Ressaltando que o temor de perseguição que as pessoas
refugiadas vivenciam é algo que pode interferir na saúde mental e acarretar sofrimentos
emocionais, é imprescindível que elas não se esqueçam da vida passada que foi formada em
sua pátria mãe e menos ainda deixem de lado sua cultura. Desta forma, é possível conferir
sentido ao trauma que foi sofrido, sendo necessário que seus próprios componentes culturais
sejam levados em consideração para um possível trabalho psicológico, tal como dar esperança
no Brasil é de extrema importância para os refugiados, pois os mesmos conseguem fazer parte
de algo, onde seus valores sociais são colocados como prioridades, entre as pessoas que
também vivenciaram os mesmos problemas por terem que deixar os seus países, na medida
em que vão atribuindo os seus próprios sentidos aos traumas que vivenciaram levando em
considerações as suas próprias crenças. A. declarou: “[...] Muitos falaram que tínhamos
mesmos problemas que ele um dia viveu, por ter sido obrigado a sair do seu próprio país
sentido a tudo que viveu e dando significado diante das perdas, angústias e sofrimentos ao
deixar seu país. Ele ainda declarou: “Qualquer momento pode acontecer de eu voltar para
meu país. Meu trabalho é muito grande aqui, eu faço vários trabalhos para a comunidade,
não só para a comunidade, mas em geral para as pessoas imigrantes e represento muito a
minha comunidade para a embaixada. Porque eu estava estudando, eu faço tudo isso para
ajudar, porque outras pessoas só vêm para trabalhar, e essa é a diferença. Eu passei muito
tempo na Cáritas, acompanhando quem precisa de ajuda e também faço parte de vários
grupos de lutas sobre os direitos humanos. Mas quando eu voltar para o meu país, eu vou
saber que eu avancei muito, porque as maiores experiências que eu precisava, graças a Deus
Além do trabalho em comunidade que pode ser visto como uma saída para se integrar
no país e fazer sentindo em uma vida que está começando do zero, outras medidas podem ser
adotadas, como por exemplo, o uso demasiado de drogas e bebidas. Esses comportamentos
são costumeiramente manifestados pelo fato de a pessoa procurar uma resposta à perda de um
42
ente querido ou da vida que levava em seu país de origem. O uso demasiado de substâncias
químicas e a ideação suicida também têm uma prevalência significativa entre pessoas
brasileiro. Eu quero sair, não estou acostumado a viver em uma situação assim, lá tem boa
condição, bom atendimento, mas quero sair. O ambiente é belo, não são pessoas más, só são
pessoas que foram afastadas da sociedade, mas que a noite usam muitas drogas e cachaça.
Eu penso assim: se alguma pessoa quiser, porque aqui é muito grande e com pouco recurso,
colocaria essas pessoas para trabalhar, para ter dinheiro para alimentação e até guardar
algum dinheiro. Muitos não trabalham e ficam naquilo e eu não gosto. Se você está no fundo
do buraco você tem que sair de lá não pode ficar, tem que estudar, fazer alguma coisa para
viver. “
Quando foi questionado a outro entrevistado qual era o seu maior desejo no momento,
o mesmo respondeu o seguinte: “Tomar muita cerveja, na África não tomava, aqui eu bebo.
Aqui tenho muito problema, tomo cerveja para esquecer.” (A., 29 anos e natural do Togo).
agentes externos, como álcool e drogas para que consiga suportar a nova vida.
Winnicott (1971f, p.5, citado por Rocha, 2006) fala em sua teoria que não existe a
independência em si, pois todas as pessoas são eternamente dependentes de outra pessoa, até
o fim da vida. A busca pela independência sempre vai permanecer, mesmo quando já existe a
indivíduo se sinta amparado e seja capaz de viver em um mundo em que exista a realidade
43
compartilhada. O suporte de um ambiente que seja suficientemente bom faz com que a pessoa
refugiada se reconheça como uma pessoa integrada, que pode se permitir relacionar com
outras ao decorrer do seu percurso. Haydu (2016) relata que novos vínculos podem acontecer
no país de exilio com o compartilhamento de sua biografia, mas como dito em sua própria
teoria, a criação de novos elos sociais pode ser um desafio para os que conseguem refúgio.
pautado para avaliar seu perfil e reger o processo de reintegração. Para que o refugiado se
tentam compreender os efeitos subjetivos que foram causados nessa população, considerando
a angústia e o tormento por serem obrigados a deixarem seus familiares e amigos no país de
origem. (ACNUR, 2015). A obrigatoriedade de deixar o país de origem faz indagar se essa
experiência fortalece ou atormenta mais quem vivenciou tais situações de sofrimento. Desta
forma, algumas pessoas acreditam ser algo satisfatório e benéfico estarem distantes das
perseguições e diante da oportunidade de vivenciar uma nova vida em outro país, enquanto
outras acreditam que a distância física de sua cultura e raízes é algo que causa intenso
sentimento de desamparo, abandono e até mesmo desejo de suicídio por estar longe de seu
O entrevistado E.G., natural do Haiti, relatou que por pouco não morreu no terremoto
que marcou seu país, enquanto cumpria a grade curricular do seu curso de direito. Disse que
mesmo antes do terremoto, seu país já estava em um estado de calamidade. Essa experiência
fez com que o mesmo se tornasse vítima desse desastre natural e buscasse exílio em outro
país. Para ele, o Brasil lhe ofereceu uma oportunidade de recomeço, todavia, quando foi
44
respondeu: “Tenho certeza que voltarei para casa em breve, acredito que as coisas vão
melhorar por lá e que vou poder continuar meus estudos para ter um futuro melhor.”
Quando questionado sobre seu maior desejo no momento, A., natural do Mali, respondeu: “O
meu desejo é melhorar minhas experiências, voltar ao meu país e morar lá”.
Ainda, outro entrevistado disse: “O meu desejo é de um dia voltar ao meu país. [...]
Nesta estadia que eu estou aqui, se demorar ou não demorar, mas eu tenho certeza que um
Diante dessas falas, pode-se dizer que mesmo com todo sofrimento vivenciado no país de
origem e com o auxílio que oferecido no Brasil, estes refugiados entendem que o retorno à
pátria mãe é ideal e satisfatório, sobretudo, quando seu país não se configura numa ameaça
para sua vida. Haydu (2014, p.8) descreve que, a pessoa refugiada deve retornar às suas raízes
somente quando seu país lhe proporcionar proteção e segurança para sua sobrevivência, ao
contrário, o refugiado não pode voltar ao seu país de origem ou qualquer outra nação que sua
O entrevistado P. relatou: “Há 23 anos acontece uma guerra no Congo que muita
gente não sabe. O país agora está totalmente desestruturado, e tudo isso é por causa da
tecnologia moderna. [...] Depois da segunda Guerra Mundial, não houve conflito mais
sangrento do que no Congo, lá existe o maior índice de mulheres sendo estupradas no mundo
todo. Isso tudo me revolta e me faz querer ir pra rua fazer manifestações. Não temos
conseguimos, somos torturados. Eu mesmo já fui torturado várias vezes. [...] Se eu não
Continuou: “Sinto falta de tudo no Congo, se tivesse condições votaria pra lá hoje
mesmo. Sinto muita falta da minha família, meus amigos... Eu estudei para ajudar meu país e
quero muito fazer isso [...]. Eu não penso na dúvida de voltar para casa. Sei que um dia eu
45
preciso voltar [...], por mais que eu goste do Brasil, nossa casa é nossa casa, não tem
comparação.”
Ainda que diante de tamanha violência e a incerteza sobre as condições de vida de seu
país, a certeza de que um dia retornarão à origem foi percebida diversas vezes durante os
relatos. É perceptível que o retorno às raízes e o ambiente em que cada indivíduo cresceu,
mesmo muitas vezes sendo tão precários, ainda é vantajoso pois remete-os às memórias
A pátria mãe da pessoa refugiada, semelhantemente à mãe que deu a proteção e cuidado
ao seu filho, faz o papel de quem recebe afeição e apreço, tornando o retorno prazeroso já que
foi lá que o refugiado vivenciou seus primeiros anos de vida até, muitas vezes, a fase adulta.
Isso pode remeter à ideia de que a experiência com o país de origem, em algum momento foi
Como dito por R.: “Eu sempre tenho um provérbio que diz: O importante não é sair, o
importante é sair e voltar para a casa. Eu sei que um dia eu vou voltar, eu não tenho certeza
seu país de origem representa a mãe suficientemente boa que oferece cuidados maternos ao
seu filho, como descrito por Winnicott ao falar sobre os conceitos holding e handling
(Monteiro, 2003). É importante evidenciar que nessa transição do país de origem ao país de
exílio, o refugiado traz consigo sua história e experiências que muitas vezes são utilizadas
Em vista dos refugiados terem afeição à pátria mãe, eles possuem uma identidade
única, cada qual com sua própria raça, nacionalidade, cultura, costume, religião e história. No
país de exílio, o refugiado conta com os direitos de assistência básica e, principalmente, ser
respeitado em suas particularidades, as escolhas que regem suas vidas, bem como, direito a
46
necessário que o mesmo entre em contato com seus próprios elementos culturais e estruturais,
ou seja, dar voz à sua experiência para que se crie uma expectativa de construir um novo olhar
e significado à sua história, renovando a sua identidade (Haydu, 2016). Nas entrevistas, a
maioria dos refugiados trouxe suas histórias que marcaram suas vidas. Histórias que
entrevistado P.: “[...] Me senti revoltado e estudar fora mudou minha visão. Nós não vivemos
uma democracia em nosso país, percebi isso na Europa e comecei a lutar para tentar mudar
o mundo ou pelo menos parte dele. [...] Durante 20 anos o reino da Bélgica explorou muito o
Congo, [...] mas isso é algo que a sociedade não sabe e que me causou muita revolta. Foi
mais uma das coisas que me fez querer mudar de vida. Não temos liberdade de expressão no
Congo, não conseguimos nos reunir para reivindicar, e se conseguimos, somos torturados.
[...] Antigamente não conseguia falar sobre isso, mas hoje consigo tocar no assunto por
Como dito por P., em sua luta pelo o que acreditava ser justo ao seu país, acabou
passando por experiências em que foi silenciado, ou seja, vivenciou sofrimento que
ocasionaram angústia ao falar de sua experiência, ao falar de sua história e subjetividade. Para
situações que ocasionam frustrações severas ao inconsciente. Assim, como já descrito neste
presente trabalho, o conceito que Freud (1923/2006) denominou como recalque, se define
como um mecanismo de defesa, sendo um bloqueador do inconsciente que visa reter todas as
informações das situações que atuam abalando a instabilidade emocional do indivíduo. Como
dito pelo próprio entrevistado, ao vivenciar essa transição de país, R. foi obrigado a entrar em
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contato com esses sentimentos desagradáveis e angústias perturbadoras que constituem sua
história, na qual hoje o mesmo é capaz de expor as experiências que representam sua
identidade.
construir sua identidade, como declarou: “[...] Pensamos assim, se nossos avós lutaram para
essa independência, temos que ser independentes [...] Ao começarmos essa luta, pensamos na
seguinte forma: Os nossos pais que já tem experiências com essa luta, também foram vistos
como inimigos. Porque eles viram o regime que está no poder massacrar muita gente. Temos
uma data que para nós é muito importante, 27 de maio... Esse dia foi sangrento. Os
mulçumanos fazem guerra santa, aquele que não aceita o Deus deles são mortos, em Angola
era, então, aquele que não aceitasse o partido são mortos. Então começamos essa luta...
começamos a pesquisar primeiro os nossos ancestrais como Nelson Mandela, Martin Luther
Winnicott (1965, citado por Rocha, 2006) descreve a importância da pessoa que
representa a figura de mãe que ao longo do tempo compete subsídio na trajetória rumo à
integração. Esse processo é parte do amadurecimento humano, pois neste caminho são
que a história de relações passadas da pessoa refugiada, bem como a história de sua família,
imprimem uma marca que o identifica como único, mesmo dentre inúmeros refugiados.
diferenças, ainda sim se identificam com os brasileiros, sendo que é essa identificação que
facilita sua adaptação, como relatado pelo entrevistado N.: “O cubano ama muito o Brasil e
quer muito o Brasil. O povo cubano assiste muitas novelas brasileiras, eles conhecem o
Brasil pelas novelas. Então, vocês têm muito, muito, muito em comum com nós. Vocês foram
colonizados pelos portugueses e nós pela Espanha. Assim, a Espanha e Portugal estão juntos.
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O nome que vocês têm, lá nós também temos. Por exemplo: Garcia, Gonçalves... Os
portugueses são um mesclado dos espanhóis, dos ingleses, dos italianos... De tudo. Nós
somos pessoas de coração aberto, damos as mãos a qualquer pessoa, nós ajudamos... Então
Apesar dos refugiados se identificarem com o Brasil, percebe-se que não existe
disponibilidade dos brasileiros para uma escuta interessada sobre as histórias de vida dos
refugiados. Esse fenômeno pode ser explicado sob duas óticas: a falta de domínio da língua
Assim como citou Winnicott (1965, citado por Ciccone, 2013), viver criativamente é
visto como algo belo, único e individual, uma vez que houve o acolhimento e sustento
materno. Neste caminho que percorre a integração, com o fortalecimento do self, o verdadeiro
self e o gesto espontâneo são de grande importância para se sentir real. Somente com esses
seja, o fluir do viver criativamente é proteger algo de pessoal e secreto, sendo obviamente
disso, nos relatos dos entrevistados notou-se que a identidade dos refugiados é representada
pelas suas próprias histórias, algo que para estes é de suma importância para que tenham,
quando acolhidos, uma identidade renovada no país de exílio, conservando algo de pessoal e
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Essa pesquisa teve como objetivo principal entender de que maneira a pessoa
refugiada é vista em seus aspectos emocionais e afetivos desde o momento de sua chegada no
país de exílio até sua integração social. Chegou-se à conclusão de que apesar de existirem leis
que as acolham, na maioria das vezes elas são defasadas, no sentido de que as exigências de
sobre direito ao trabalho e à educação, apesar de serem satisfatórias, não são praticadas pelo
poder público, como deveriam ser. O governo ainda permanece distante de suas tarefas nesse
Foi identificada certa resistência por parte de alguns refugiados ao serem convidados a
provavelmente por ainda não terem conferido sentido ao que viveram. Em contrapartida, os
que já estavam a mais tempo no Brasil tiveram mais facilidade ao falar de suas experiências
no país de exílio e da história de seu próprio povo. Foi percebido que a resiliência é uma
grande característica dos refugiados, pois só pelo fato de terem conseguido sair do seu país e
mas foi percebido que na realidade esses programas acabam sendo pouco abrangentes, por
terem somente o apoio de instituições filantrópicas, que acabam tendo poucos recursos para
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álcool para não entrar em contato com a realidade atual, chamaram atenção das pesquisadoras,
pois tais comportamentos podem levar a sérias complicações futuras em relação à saúde física
refugiados que fazem uso de drogas por não terem oportunidades no mercado de trabalho.
Tanto o uso de álcool quanto de drogas podem acarretar em problemas futuros, como a
mental ou doença física, que podem levar a uma vida de sofrimento ou até a morte, fatores
que também precisam ser olhados pelo poder público no âmbito da prevenção e promoção à
A hipótese inicial, de acordo com a literatura levantada, era a de que havia prejuízos
nos aspectos emocionais da pessoa refugiada no país de exílio e que surgiriam relatos
significativos, possíveis traumas e fragilidades nas respostas dos participantes. De fato, tais
aspectos discorridos na análise foram observados diante dos relatos dos refugiados. Porém,
esses possíveis traumas e prejuízos não apareceram de forma clara nas entrevistas,
provavelmente devido ao fato de ter ocorrido apenas um encontro com esses indivíduos.
Acredita-se que um trabalho mais profundo em psicoterapia poderia fazer emergir resquícios
olhar mais humanizado para com as pessoas refugiadas, que apesar da situação em que se
encontram, também possuem suas origens, histórias, cultura entre outros aspectos que devem
ser respeitados. Acredita-se que esse olhar rompe com os estigmas criados pela sociedade
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No que se refere ao papel dos cidadãos como conjunto da sociedade civil organizada,
também compete à população brasileira fortalecer as ações direcionadas aos refugiados, bem
acolhimento dos refugiados. Assim, de forma vinculada, acredita-se que aos poucos o
assegurando condições para que a qualidade de vida dessas pessoas seja potencializada e seus
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Winnicott, D. W. (1999a). D. W. Winnicott, Tudo começa em casa. (P. Sandler, trad.) São
7 ANEXOS
Anexo 1
1. Idade:
2. Formação/Profissão:
10. O que ficou mais marcado para você na sua mudança de país?
11. Após sua chegada, houveram cuidados voltados para seus sentimentos de angústias e
abandono, medo, ansiedade...?
12. Como você lida com a dúvida e a incerteza da possibilidade de voltar para casa?
13. Foi fácil para você fazer novas amizades aqui no Brasil? Como foi?
15. Você se sente dependente das pessoas para fazer as coisas que fazia sozinho no seu
país?
59
Anexo 2
Parecer Consubstanciado do CEP
60
61
62
Anexo 3
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE (1ª via)
Termo de Esclarecimento
Você está sendo convidado a participar como voluntário da pesquisa sobre “Os
Aspectos Emocionais da Pessoa Refugiada no País de Exílio”, pelas pesquisadoras
responsáveis Millene Bellanga Luchiari, Camilla Fernanda Boro, Elaine Oliveira Máximo e
Telma Priscila Machado. Esta pesquisa visa contribuir para o apontamento de possíveis
políticas públicas a serem adotadas para melhorar a saúde mental e qualidade de vida das
pessoas refugiadas, bem como levantar ações facilitadoras e estratégias para melhoria
contínua no cuidado para com essas pessoas. Diante disso, o objetivo será compreender a
maneira como a pessoa refugiada é considerada em seus aspectos afetivos/emocionais desde a
chegada ao país de exílio até sua adaptação às exigências nacionais, procurando entender as
vivências anteriores que puderam influenciar nessa inesperada mudança de vida.
Caso você participe, será necessário responder 15 questões sobre como se sente
no país de exílio, questões familiares, sobre relações e trabalho por meio de uma entrevista
semiestruturada com duração de no máximo 40 minutos. A mesma será gravada por áudio.
Após a coleta de dados e o registro das respostas, esse áudio será destruído. Não será
realizado qualquer procedimento invasivo e não há riscos previsíveis à sua saúde ou à sua
vida, porém pode ocorrer certo desconforto. Caso isto aconteça, você poderá fazer uma pausa
e ainda, desistir de sua participação. Não há benefícios direitos pela sua participação na
pesquisa, porém os resultados poderão contribuir para os avanços no acolhimento aos
refugiados.
Você poderá obter quaisquer esclarecimentos antes, durante ou após a realização
da pesquisa. Ainda, você poderá não participar da pesquisa ou retirar seu consentimento a
qualquer momento, sem prejuízos de qualquer natureza. Pela sua participação no estudo, você
não receberá qualquer valor em dinheiro, mas terá a garantia de que todas as despesas
necessárias para a realização da pesquisa não serão de sua responsabilidade. Ainda, você não
terá qualquer despesa por participar da pesquisa. Seu nome não aparecerá em qualquer
momento do estudo, pois você será identificado com um número.
Após ser esclarecido sobre a pesquisa, a sua participação como voluntário e
havendo uma confirmação livre e espontânea em aceitar a participar como voluntário, você
deverá assinar ao final deste documento, em duas vias. Uma das vias ficará com você e a
outra via permanecerá com as pesquisadoras responsáveis. Em caso de dúvida em relação a
esse documento, você poderá procurar o Comitê de Ética em Pesquisa das Faculdades
Integradas Einstein de Limeira, pelos Tel/Fax - CEP/FIEL (019) 3444-6612 e e-mail
cep_fiel@hotmail.com (Rua Jatobá, 200 – Vila Queiroz – 13485-021 – Limeira/SP) e, ainda,
você poderá procurar as pesquisadoras responsáveis através dos seguintes contatos: (19)
99191-3011 e e-mail: millenebellanga@yahoo.com.br (Milene), (19) 99529-2371 e e-mail:
elaine.maximo@hotmail.com (Elaine), (19) 98200-0891 e e-mail camilla.boro@hotmail.com
(Camilla) e (19) 99797-8693 e e-mail: telmapmachadok3@gmail.com (Telma).
63
Assinatura do Voluntário
RG: _________________
CPF:_________________