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70 ARTE & E N S A I O S - N.

2 0 - J U L H O DE 2010
O objeto e a experiência material
Marcus Dohmann
O artigo enfoca os objetos como companheiros nas experiências da vida cotidiana,
conectando os mundos emocionais ao espaço mental dos indivíduos, mediante
suas funções e simbolismos, caracterizando-os como verdadeiros predicados da
cultura.
Cultura material, objeto, espaço, consumo.

Have nothing in your houses which you do que lhe deu origem, e sua forma é produto
not know to be useful or believe to be de uma performance imaginada até mesmo
beautiful. antes de sua própria configuração física.

William Morris. The beauty of life, 1880 No princípio, tudo eram coisas, enquanto
atualmente tudo tende ao objeto. O meio
A alma das coisas natural era utilizado pelo homem sem gran-
des interferências ou transformações. Téc-
Água, comida e abrigo. Essas, em tese, deve-
nicas e trabalho humano gozavam de comu-
riam resumir as necessidades básicas do ho-
nhão com as dádivas da natureza, em
mem. Das rudimentares coberturas corpo-
relacionamento intenso e sem qualquer me-
rais, dos adereços feitos com restos de ossos
diação. Hoje, no entanto, a própria natureza
e, eventualmente, das pinturas corporais e dos
transforma-se em objeto, quando o homem
registros rupestres, tivemos que migrar atra-
se utiliza de suas dádivas com finalidades
vés dos mais severos climas e tipos de terre-
sociais, atribuindo-lhes valor, como no caso
nos em nossa caminhada pela evolução ma-
dos mais recentes movimentos ecológicos.
terial. As necessidades de subsistência e de
deslocamento apresentaram os desafios ne- Consolida-se, então, de forma vital, a pre-
cessários que motivaram o ser humano na sença do objeto na existência humana. Dos
constante busca de novas ideias na esfera da rústicos vasilhames à organização pessoal
materialidade, para sua sobrevivência. definitiva do indivíduo conectado ao ciber-
espaço nas grandes urbes atuais, estamos
Forma e conteúdo compuseram os fatores
cercados por uma materialidade sem fim.
que, juntos, podem responder a muitas ques-
Objetificados.1 Literalmente coisificados.
tões sobre a natureza dos objetos, sejam
naturais ou fabricados pelo homem. Enten- Camisas, calças, calçados, relógios, talheres,
dendo que o fundamento principal entre o copos, pratos, cadeiras, mesas, armários, pa-
homem e o meio é dado pela técnica, pode- péis, canetas, computadores, agendas, tele-
se afirmar que as técnicas são um conjunto visores, carros, barcos, aviões, casas, edi-
Marcus Dohmann de meios instrumentais e sociais com os quais fícios. A lista é interminável.
Objetos, coisas, troços e o homem constrói sua vida através dos sis-
tralhas... temas de objetos. O objeto traduz em sua Objetos, coisas, troços e tralhas. Todos es-
Fonte: Fotos do autor e de arquivos
royalty free. materialidade a intenção do ato preexistente tão repletos de sentidos e significados, e até

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ressignificações por aqueles que lhes atribu- razão do fortalecimento de suas raízes e seus
em valores e simbolismos, frutos das expe- vínculos com o espaço em que se situam.
riências intersubjetivas e interativas dos indi-
víduos, entre si e com o resto do mundo. O objeto é, portanto, prova documental que
imprime suas marcas nos indivíduos, crian-
Em meio às várias dimensões que o objeto do interna e externamente um processo di-
encerra, encontramos um eco da nâmico, comunicativo e intercultural.
gestualidade humana, de forma mais flagran-
te em sua dimensão ético-estética. Criar, Uma presença constante
desenvolver, construir e operar formam um
Etimologicamente, objeto, do latim objectum
conjunto de ações pertinentes aos mais va-
e do alemão Gegenstand, Objekt ou Ding,
riados objetos, em distintos lugares. O obje-
significa atirar contra, o que está do lado
to reflete simbolismo que envolve universos
oposto, fora de nós. O elemento que resis-
mentais, em atribuições de sentidos carac-
te ao sujeito.
terizados por fluxos imagéticos de diferen-
tes graus de subjetividade, desde simples Henri Focillon defende a ideia de que as
experiências de “estar no mundo” até a aura coisas seriam dádivas da natureza, enquanto
criada pelo próprio artefato, em sua condi- os objetos resultam do trabalho humano,
ção de ícone, na tarefa de comunicar expe- pois pelo fato de a natureza ser objetiva, e
riências culturais. não prospectiva, as coisas não podem ter
propósito nem projeto. A constituição ma-
O fluxo de sentidos e imagens que os obje-
terial, de fato, caracteriza a realidade do ob-
tos veiculam através dos canais de comuni-
jeto per se. Se tomado isoladamente, teria
cação é capaz de despertar aspectos singu- um valor apenas como coisa, porém assu-
lares das reminiscências dos indivíduos, re- me um valor como dado social, determina-
cordações de vivências passadas que alter- do por sua existência relacional.
nam tensões entre esquecimentos e lem-
branças, a partir do contato da materialidade Abraham Moles, em Teoria dos objetos, afir-
do objeto com os sentidos e sensações pos- ma que o objeto configura-se como um ele-
síveis que ele encerra. mento do mundo exterior, fabricado pelo
homem, podendo ser assumido ou manipu-
Objetos ou coisas sempre remetem a lem- lado. O autor entende que os objetos exer-
branças de pessoas ou lugares, desde uma cem, prioritariamente, propriedades como
fotografia até um simples adereço corporal. mobilidade e independência, explicando que
Os objetos nos conectam com o mundo. uma faca de sílex torna-se um objeto, en-
Mostram-se companheiros emocionais e in- quanto o sílex em sua forma natural não o
telectuais que sustentam memórias, relacio- é.2 Essa definição não é compactuada por
namentos; além de provocar constantemen- Baudrillard, para quem o objeto passa a ser
te novas ideias. traduzido por extenso inventário de artefa-
tos e coisas que o homem utiliza em sua vida
Dessa forma pode-se dizer que existe, sem
cotidiana. Os objetos, ressalta Baudrillard,
dúvida, “uma alma nas coisas”, remetendo a
transcendem a fenomenologia da vida coti-
paisagens subjetivas em que encontramos os
diana, estendendo-se aos conceitos de sím-
sujeitos [re]situados pelos objetos, median-
bolo e signo.3
te os aspectos memoriais que as coisas en-
cerram enquanto expressão da materialidade Barthes,4 insatisfeito com as definições en-
da cultura de determinado grupo social, em contradas, parte de dois conceitos diferen-

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tes para melhor compreender o objeto, di-
vidido em duas conotações distintas, uma de
caráter existencial, externa ao indivíduo e,
por sua vez, direcionada ao subjetivismo; e
outra, tecnológica, segundo a qual o objeto
se define como o que é fabricado, como ele-
mento de consumo, direcionado ao social.
À parte da discussão, Henri Lefebvre afirma
que o objeto não é bom nem ruim, sendo
sua principal característica a relatividade.5 O
homem agrega simbologias aos objetos, o que,
de acordo com Moles, se trata de fato cotidi-
ano, e estarmos rodeados de objetos, lem-
bra, é simples constatação. Imaginamos, cria-
mos, desenvolvemos e construímos objetos,
e essa tem sido a maneira como moldamos e
participamos do processo civilizatório.

Na verdade não há nada mais banal do que


o objeto em si. Como afirma Sahlins,6 “ne-
nhum objeto, nenhuma coisa é ou tem mo-
vimento na sociedade humana, exceto pela
significação que os homens lhe atribuem”.
O objeto tem presença garantida em todos
os lugares, assumindo diversas configurações,
nas mais variadas funcionalidades, do dese-
jável ao inútil.
Argan7 afirma que todo objeto é efeito de
uma causa e, de acordo com Baudrillard,
todas as sociedades humanas sempre orga-
nizaram seu cotidiano através da produção
e do uso dos objetos, obrigando o homem
a estabelecer sempre novas categorias de
significados para classificar os objetos con-
forme suas necessidades. Nesse sentido, eles
podem ser objetos domésticos, públicos,
modernos, barrocos, folclóricos, exóticos,
religiosos, masculinos, femininos, em infin-
dável taxonomia.

Cores, materiais e design ajudam a configurar


estilos e modelos, aos quais atribuímos uma
série de significações que, paralelamente, nos
ajudam a estabelecer uma noção de tempo.
Do sílex ao chip Como lembra Baudrillard, não se trata, é cla-
Fonte: Arquivos royalty free ro, do tempo real, porém, através dos signos,

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sugere indícios culturais que ajudam a situá- ferentes maneiras, determinam como deve-
los no tempo. Dessa forma teremos uma mos andar, comer, sentar, olhar uns aos ou-
tipologia que classifica os objetos como anti- tros e, sobretudo, nos relacionar.12
gos, modernos ou contemporâneos. Essa cro-
nologia refere-se ao tempo atual, no qual nos Espaço, complexidades e inter-relações
situamos, pois qualquer inversão nesse senti-
O espaço impõe aos objetos uma lógica que
do se poderá dar de forma repentina; o que
muitas vezes passa a ser redefinida apesar
é contemporâneo hoje poderá transformar-
de suas vocações originais. Todo espaço
se em antigo ou obsoleto, em breve
consiste em um conjunto de objetos e suas
retornando à contemporaneidade (voltar à
inter-relações, que, em suas constantes trans-
moda). Kant8 já escrevia que os “objetos mu-
formações, materializam novas funções na
dam e criam diferentes geografias em dife-
tessitura social.
rentes épocas”, dando o entendimento de que
o objeto pode variar de significação ao longo Sistemas de objetos e sistemas de ações
do tempo, estabelecendo novas relações, in- conformam o espaço de forma indissociável
dependente de suas proporções originais. e solidária. Atualmente temos um espaço
formado por sistema de objetos cada vez
Os objetos já não possuem morfologia pa- mais artificial, permeado por sistema de ações
dronizada, sendo apresentados, representa- igualmente artificial, devido à total interação
dos ou imaginados de forma distinta em cada entre ambos. De um lado vemos os objetos
lugar, ganhando muitas vezes significados di- como condicionantes da maneira como se
ferentes,9 de acordo com a imaginação e ação dão as ações e, de outro lado, o sistema de
dos sujeitos. Aos objetos são atribuídos va- ações como motor do desenvolvimento de
lores simbólicos que se relacionam com os novos objetos ou mesmo da transformação
contextos nos quais estão inseridos, seja fora de objetos preexistentes.13 A política e a
ou dentro do espaço estritamente orienta- prática de competitividade levam a esse en-
do pelo senso comum ou mesmo pelas con- velhecimento precoce do inventário de ob-
venções sociais. Um objeto pode superar sua jetos técnicos que nos cercam. Dessa forma
função prática, comunicando informações, o espaço estabelece sua dinâmica, com base
como afirma Barthes, pois há sempre um em constante renovação.
sentido que transborda de seu uso.10
Segundo Giles Simondon,14 quanto mais os
De acordo com Ernest Dichter, os objetos objetos se aproximam da natureza, mais
que nos cercam não têm apenas aspectos imperfeitos são, e, ao contrário, quanto mais
utilitários, porém, mais do que isso, atuam tecnicizados, mais perfeitos serão. Enquanto
como espelhos que refletem nossas pró- produtos da ciência e da tecnologia, os ob-
prias imagens. As coisas com que convive- jetos técnicos aspiram, através de sua preci-
mos no dia a dia influenciam diretamente são funcional, à perfeição maior do que a da
nosso comportamento social.11 Em termos própria natureza, constituindo, de modo
de importância, podemos afirmar que os único, as bases materiais para o empreendi-
bens materiais sofreram aumento sem pre- mento de ações mais representativas de
cedentes no contexto da existência huma- nosso período atual.
na. Nunca tivemos tantos objetos como te-
mos agora. Nossas casas estão repletas de Os objetos permitem as mais diversas clas-
objetos, dos quais nos vemos cada vez mais sificações, dependendo dos aspectos que se
dependentes. Atualmente os objetos, de di- deseja avaliar.15 Pode-se estabelecer uma

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primeira classificação a partir das condições construída pelo homem em seus mais di-
funcionais e estruturais de um objeto. Se- versos segmentos, da produção à comuni-
gundo Moles, os objetos possuem dois ní- cação, da sociabilidade à subjetividade. Se-
veis de complexidade, um funcional, ligado gundo Leroi-Gourhan, o capitalismo vai con-
ao repertório de funções combinadas para tribuir para a aceleração do processo que
o uso (dimensão estatística do uso), e outro leva à internacionalização das técnicas, em
estrutural, entendido como informação, uti- sua globalização, não mais como tendência
lizado para comunicar-se com outros obje- a ser seguida, mas como fato.21
tos. Complexidade estrutural e complexida-
de funcional são, portanto, as dimensões A inovação tecnológica influencia fortemente
essenciais da materialidade no mundo, defi- os objetos técnicos que empreendem cons-
nidas pelo ser humano para os objetos, per- tantes renovações e perdem meteoricamente
mitindo, dessa forma, traçar um mapa do seu valor. Barthes22 ressalta que os objetos
mundo dos objetos.16 cuja morte anunciada desde o nascimento
formam um sistema de moda em que a re-
A determinação funcional poderá implicar novação passa a ser totalmente intencional.
diversas outras classificações, dependendo Moles lembra que o uso dos objetos cotidia-
dos aspectos que devam ser realçados. Ob- nos é uma memória datada e inscrita na du-
jetos naturais, técnicos, de arte e de design17 ração cultural em que vivemos.
são apenas parte integrante de um estudo
demográfico maior dos objetos, empreen- O objeto é um entrave na estrada da
dido para o reconhecimento de uma verda- evolução cultural. O “novo” sedimenta-
deira “ecologia de objetos”.18 se na cultura, e o objeto impõe-se ao
exame crítico pelo seu descalabro cul-
Todo objeto possui lógica própria, advinda tural, fenômeno linear, mas apresentan-
de sua unidade. Sua eficiência pode ser au- do acelerações que são a marca da
mentada ou diminuída se alterarmos par- emergência de novos estímulos.23
tes de sua estrutura ou funcionalidade. Mil-
ton Santos chama a atenção para a Entre papéis simbólicos e funcionais, cabe
“inseparabilidade do continente e do con- estudar os objetos como sistemas e não
teúdo, quando assevera que a separação como simples agrupamentos ou coleções,
destrói a unidade de um e de outro”.19 pois sua utilidade, seja no presente, passado
Baudrillard lembra que os objetos atuais ou futuro, advém de seu uso combinado
mantêm caráter de interdependência muito pelos grupos humanos que os criaram e her-
forte, não funcionando isoladamente. Trata- daram das gerações anteriores. Apesar de a
se de um todo cujas partes só são viáveis ideia de tempo ser inseparável da ideia dos
quando em conjunto, como descreve Hegel20 objetos e de seu valor, cabe lembrar que se
– “uma coisa tem propriedades, e essas es- torna muito difícil discutir a idade social de
tão principalmente nas relações com as ou- um objeto, visto que o envelhecimento moral
tras coisas”. depende de um jogo de fatores que não é
revelado com antecedência, pois a conexão
O tempo dos objetos existente entre os objetos é conferida pelos
eventos, materiais ou não.24
As técnicas contam a história dos objetos
na trajetória do homem através dos tem- Outra noção importante que podemos as-
pos, datando a materialidade artificial sociar ao tempo está focada no tamanho do

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objeto, pois é comum sermos induzidos a gica muitas vezes estranha ao ser humano, a
avaliar seu grau de complexidade relacionan- respeito da qual, diante da extrema funciona-
do-o diretamente a essa variável. Apesar da lidade cujos fins muitas vezes nos escapam,
convivência e das ações colaborativas entre Maffesoli exclamou: “os objetos não mais nos
as dimensões da miniaturização e do obedecem”. Trata-se de intencionalidade
gigantismo nos objetos, podemos atualmente mercantil, ao mesmo tempo, dotada de ge-
observar acirrado investimento na nerosas doses de simbolismo26
atomização das tecnologias para produção
de sistemas de objetos invisíveis a olho nu. É comum considerar objetos úteis, estéticos,
necessários ou mesmo simplesmente indul-
Todo e qualquer período histórico conta gentes. Vivemos um tempo em que pensa-
com um conjunto correspondente de técni- mos os objetos como companheiros para
cas e tecnologias que o caracterizam, bem
nossas emoções ou como provocadores de
como um sistema correspondente de obje-
um pensamento. A noção de objeto evocativo
tos como resposta. Moles afirma que o pa-
traz à tona esses dois tipos de abordagem,
pel do objeto é duplamente mediador, pois,
ressaltando a condição inseparável do pensa-
além de se colocar entre o homem e a socie-
dade, é necessário considerar também sua mento e da sensação em relação às coisas
situação material. Por sua vez, Baudrillard (objetos) materiais. Pensamos com os obje-
complementa que não basta definir os obje- tos que amamos e amamos os objetos sobre
tos em sistemas, pois a descrição de um sis- os quais pensamos. Nos tempos atuais, a so-
tema de objetos dependerá da descrição de ciedade humana experimenta total imersão
um sistema de práticas, caracterizando in- no culto aos objetos, que se renovam e mul-
terferência contínua entre as duas partes. tiplicam aos milhares configurando nosso en-
torno e influenciando profundamente nossas
Conforme explica Baudrillard, os objetos im- relações sociais.
põem seu frenético ritmo e sua incessante
sucessão ao homem através da multiplicidade Entre coisas, troços e tralhas, o objeto atual
dos vetores materiais, fazendo com que in- confirma seu papel como uma extensão do
terfiram constantemente no espaço, homem, traduzido em objetividade externa
redefinindo sua configuração, estrutura, fisi- ao ser, convertendo e consolidando-se como
ologia, aparência e, sobretudo, suas relações. o instrumento material de sua existência e,
Da pequena variedade, da comunhão e da em paralelo, sinalizando outro mundo
anterior submissão aos artefatos, o sistema permeado pelo sentido, no qual desperta o
dos objetos evoluiu, apoderando-se do nos- signo, sempre transformado no espetáculo
so cotidiano, em interação prática sem qual- de uma função.
quer profundidade. A ideia de alienação, pro-
posta por Marx, impõe-se, na atualidade, de Marcus Dohmann é docente do PPGAV/EBA/UFRJ e
forma gradativamente mais forte, devido à coordenador do Laboratório do Núcleo Gráfico do De-
passividade com que aceitamos e consumi- partamento de Comunicação Visual.
mos os objetos técnicos atuais.25
Notas
Hoje assistimos à criação de objetos com fun-
1 A objetificação faz com que um esquema conceitual se
ções cada vez mais determinadas, compro- torne real, transformando o que era abstrato em ele-
metendo eficácias com intencionalidades ab- mento concreto. É o processo que dá materialidade às
solutamente científicas, obedientes a uma ló- ideias, tornando-as objetivas, concretas, tangíveis.

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2 Moles, Abraham. Teoria dos objetos. Rio de Janeiro: Tem- 15 Baudrillard (Baudrillard, Jean. O sistema dos objetos. São
po Brasileiro, 1981: 27-28. Paulo: Perspectiva, 2002:10) afirma que existiriam qua-
se tantos critérios de classificação quanto objetos: se-
3 O objeto tem autonomia de existência, devido a sua di- gundo a funcionalidade, tamanho, forma, matéria, dura-
mensão material, mas não consegue imputar uma auto- bilidade, etc.
nomia de significação, que provém das diferentes rela-
ções que mantém com os mais diversos eventos. 16 Moles, op. cit.: 29.
4 Barthes, Roland. A aventura semiológica. São Paulo: Martins 17 Bense apud Santos, op. cit.
Fontes, 2001.
18 Santos, 2008, op. cit.: 69-70.
5 Berger, A. Arthur. What Objects Mean: An Introduction to
Material Culture. Nova York: Left coast press, 2009: 69. 19 A forma e o conteúdo existem separadamente apenas
como “verdades parciais”, abstrações que só reencon-
6 Sahlins, Marshall. Cultura e razão prática. Rio de Janeiro: tram seu valor quando vistas em conjunto (Ledrut apud
Zahar, 2003: 170. Santos, Milton. A natureza do espaço. São Paulo: Edusp,
7 Argan, Giulio C. Projeto e destino. São Paulo: Ed. Ática, 2008: 100).
2000: 17. 20 Apud Santos, 2008.
8 Apud Santos, op.cit.: 96. 21 A tendência e o fato são as duas faces (uma abstrata,
9 Segundo Barthes (2001:215), o objeto dito polissêmico ofe- outra concreta) do mesmo fenômeno de determinismo
rece-se facilmente a várias leituras não apenas de um evolutivo (Leroi-Gourhan, A. Evolução e técnicas. I – O
leitor para outro como também pelo mesmo. homem e a matéria. Lisboa: Edições 70, 1984: 25).

10 Roland Barthes (2001:210) esclarece que “a função de 22 Apud Santos, 2008.


um objeto torna-se sempre, pelo menos, o próprio sig- 23 Moles, op. cit.: 103.
no dessa função: nunca há objetos, em nossa sociedade,
sem uma espécie de suplemento de função”. 24 Santos, op. cit.: 158.

11 Ernest Dichter in Berger, 2009: 14. 25 Santos, op. cit.: 214.

12 Sudjic, Deyan. The Language of Things: Understanding the 26 De acordo com Moles, objetos e necessidades estão in-
World of Desirable Objects. New York: W.W. Norton terligados a partir de uma dialética de estímulos e res-
& Company, 2009: 7-49. postas a estes estímulos, envolvidos, de um lado, por
uma complexidade de necessidades e, de outro, por
13 Os objetos preexistentes veem-se envelhecidos pela apa- uma complexidade de sortimento, constituintes da di-
rição dos objetos tecnicamente mais avançados, dota-
mensão do Homo Faber (in Moles, A. et al. (org.). Civi-
dos de qualidade operacional superior.
lização industrial e cultura de massas. Petrópolis: Vozes,
14 Apud Santos, op.cit. 1973: 17).

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