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“ TECNOLOGIA DE CRIAÇÃO DO

CAMARÃO DA MALÁSIA”
(Macrobrachium rosenbergii)

MANUAL DE CARCINICULTURA DE ÁGUA DOCE

Vitória, 2005
SERVIÇO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS DO ESPÍRITO
SANTO – SEBRAE/ES

PRESIDENTE DO CONSELHO DELIBERATIVO ESTADUAL


LUCAS IZOTON VIEIRA

DIRETOR SUPERINTENDENTE
JOÃO FELÍCIO SCÁRDUA

DIRETOR TÉCNICO E DE PRODUTO


EVANDRO BARREIRA MILET

DIRETOR DE ATENDIMENTO
CARLOS BRESSAN

GERENTE DA CARTEIRA DE PROJETOS II


VERA INEZ PERIN

GESTOR DO PROJETO DE AQUICULTURA


GUSTAVO ANDRÉ ALVES

ELABORAÇÃO:

CTA – CENTRO DE TECNOLOGIA EM AQÜICULTURA E MEIO AMBIENTE LTDA.


END. AVENIDA ANÍSIO FERNANDES COELHO, Nº 1211
JARDIM DA PENHA - VITÓRIA/ES
CEP: 29060 - 670
TELEFAX: 027.3345.4222
E-MAIL: CTA@CTA-ES.COM.BR

VITÓRIA
2005

1
Sumário

Sumário 3

Apresentação 5

1.0 Introdução 6

2.0 Ficha Técnica 7

3.0 Biologia 8
3.1 Filogenia e Classificação 8
3.2 Distribuição Geográfica 8
3.3 Morfologia Externa 9
3.4 Morfologia Interna e Fisiologia 10
3.4.1 Sistema Digestivo 10
3.4.2 Sistema Circulatório 10
3.4.3 Sistema Respiratório 10
3.4.4 Sistema Excretor 11
3.4.5 Sistema Nervoso e Órgãos Sensitivos 11
3.4.6 Sistema Reprodutivo 11
3.5 Dimorfismo Sexual 11
3.6 Muda e Crescimento 12
3.7 Regeneração e Autotomia 12
3.8 Reprodução e Comportamento 12
3.9 Ciclo de Vida 13

4.0 Espécies de Camarão de Água Doce de Potencial para Cultivo 14

5.0 Produção de Larvas (Larvicultura) 15


5.1 Escolha do Local 15
5.2 Condições Físico-Químicas e Bacteriológicas da Água 16
5.3 Luminosidade 16
5.4 Higiene 16
5.5 Construção de Tanques 17
5.6 Produção de Larvas 20
5.7 Estocagem e Transporte de Pós-Larva 22
5.8 Abastecimento e Drenagem de Água 23
5.9 Equipamento 23

6.0 Características de Sistemas de Cultivo 25

7.0 Escolha do Local 27

8.0 Construção de Parque de Cultivo 28


8.1 Arranjo Físico 28

9.0 Tecnologia de Produção 32

2
9.1 Monitoramento de Qualidade de Água 32
9.1.1 Temperatura da Água de Cultivo 33
9.1.2 Transparência 34
9.1.3 Oxigênio Dissolvido – (O.D.) 35
9.1.4 Potencial de Hidrogeniônico (pH) 37
9.1.5 Alcalinidade Total 38
9.1.6 Dureza 38
9.1.7 Teor de Ferro 38
9.2 Manutenção e Preparação dos Viveiros 39
9.3 Transporte das pós-larvas e Povoamento dos Viveiros 40
9.4 Fertilização 41
9.5 Biometria 41
9.6 Despesca 41
9.7 Ração e Arraçoamento 42
9.7.1 Ração 42
9.7.2 Arraçoamento 43
9.8 Controle de Predadores e Competidores 45

10.0 Tecnologia Pós-Despesca 48

11.0 Análise de Riscos 51

12.0 Estudo de Mercado 52

13.0 Aspectos Financeiros 53


13.1 Sistema Semi-Intensivo 53
13.1.1 Custo de Produção 53
13.1.2 Custo Total da Produção 54
13.1.3 Custo Unitário da Produção 54

14.0 Fluxograma de Produção 55

15.0 Glossário 56

16.0 Referências Bibliográficas 58

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Apresentação
A carcinicultura de água doce, atualmente, pode ser considerada como uma
atividade economicamente viável, ecologicamente equilibrada, tecnologicamente
desenvolvida, geradora de emprego, importante meio de fixação do homem em
áreas rurais e como um promissor aqüinegócio. A carcinicultura comercial no
Brasil vem apresentando um rápido crescimento nos últimos anos, sustentada por
tecnologias apropriadas à cadeia produtiva, pelos excelentes resultados de
produção das fazendas e pela ótima aceitação no mercado consumidor.

Este manual apresenta informações básicas e essenciais sobre a carcinicultura


comercial em sistema tradicional. A maioria das informações práticas é fruto das
ações desenvolvidas nas pequenas propriedades rurais do Espírito Santo, onde
se implantou o cultivo de camarão de água doce, sobretudo pela utilização do
camarão da Malásia (Macrobrachium rosenbergii).

Com uma linguagem simples e direta este manual pode ser facilmente utilizado
por técnicos, estudantes, produtores rurais e investidores em geral. Este é apenas
um veículo de informação, atualização e estimulo à atividade de carcinicultura. É
importante ressaltar que para a implantação de cultivos comerciais se faz
necessário uma assistência técnica, por pessoal capacitado para que se
obtenham resultados financeiros satisfatórios.

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1.0 - INTRODUÇÃO
A criação de camarão da Malásia é uma atividade relativamente nova no Brasil.
As primeiras experiências com cultivo comercial foram feitas em 1978 pela
Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária, com pós-larvas importada do
Hawai.

O cultivo dessa espécie de camarão desponta hoje como uma excelente


alternativa econômica para pequenos e médios produtores rural.

Aplicando-se as modernas tecnologias de manejo disponíveis no mercado,


consegue-se chegar a altos índices de produtividade, garantindo, desta forma, um
rápido retorno dos investimentos realizados.

Atualmente, o camarão de água doce vem sendo cultivado nos estados


litorâneos, principalmente no nordeste e sudeste e também alguns estados do
interior do País. O Espírito Santo conta com aproximadamente 200 propriedades
rurais produzindo camarão da Malásia, a maioria delas constituídas por pequenos
produtores com área alagada de até 1.0 ha.

A boa aceitação do produto no mercado consumidor e a baixa produção nacional


garantem excelentes condições de comércio, sendo praticamente toda a
produção alocada no mercado interno.

Os governos Estaduais e sobretudo Federal vêm tentando implementar uma


política arrojada de aumento de produção e da produtividade, mediante a criação
de órgãos destinados ao acompanhamento das atividades especificas, como a
Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca, e a disponibilização de linhas de
crédito mais favoráveis aos produtores.

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2.0 - FICHA TÉCNICA
Carcinicultura de água doce
(Criação de Camarões de água doce)

Setor da economia
Primário

Ramo de atividade
Aqüicultura

Funcionários necessários
01 ou 02

Área mínima
5000 m2

Grau de risco
Baixo

Pré-requisitos
Para esse empreendimento é desejável um terreno pouco acidentado e próximo
de uma fonte de água doce (rio, nascente, poço ou córrego) para o cultivo em
viveiros de terra.

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3.0 - BIOLOGIA

3.1 Filogenia (*) e Classificação

Crustáceos da Ordem Decápoda, apresentam cinco pares de apêndices


locomotores, os camarões são descendentes dos malacostracos, grupo de
crustáceos existentes desde o período cambriano, e portanto, com cerca de 90
milhões de anos. Os malacostracos abrangem dois grupos: os Peracarida e os
Eucarida. Os camarões de água doce, embora próximos zoologicamente aos de
água salgada, são da Sub-ordem Pleocyemata, diferindo daqueles da Sub-ordem
Dendrobranchiata. O camarão de água doce pertence ao gênero Macrobrachium
e à espécie Macrobrachium rosenbergii.

Sua Classificação Zoológica é a seguinte:

Filo: Arthropoda
Sub-filo: Crustacea
Classe: Malacostraca
Sub-classe: Eumalacostraca
Super-ordem: Eucarida
Ordem: Decapoda
Sub-ordem: Pleocyemata
Infra-ordem: Caridea
Super-família: Palaemonoidea
Família: Palaemonidae
Sub-família: Palemoninae
Gênero: Macrobrachium
Espécie: Macrobrachium rosenbergii

3.2 Distribuição Geográfica

Os camarões de água doce do gênero Macrobrachium encontram-se amplamente


distribuídos pelo mundo. Atualmente são conhecidas mais de 120 espécies e
destas, trinta são encontradas no continente americano. Distribuem-se nas
regiões tropicais e subtropicais.

Podem ser encontrados em lagos, rios, pântanos e estuários. Algumas espécies


necessitam da água salobra para fecharem seu ciclo de vida, outras não, vivendo
basicamente na água doce.

1) Os termos como filogenia, que aparecem sublinhados no texto, encontram-se definidos no


glossário.

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Figura 1 – Morfologia externa de M. rosenbergii mostrando os tagmas,
somitos e principais apêndices cefalotoráxicos e abdominais (Pe =
pereiópodo; Pl = pleópodo). (Extraído de Valenti, 1998)

3.3 Morfologia Externa

Os camarões apresentam o corpo dividido em duas partes: cefalotórax e


abdômen. O cefalotórax é constituído por vários segmentos (6 cefálicos e 8
toráxicos) formando uma peça única, a carapaça. Dos segmentos cefálicos o
primeiro só é visível nos estágios embrionários, desaparecendo na fase adulta. O
abdômen, é constituído por seis segmentos seguidos de uma estrutura
pontiaguda, o telso.

O corpo é alongado, achatado lateralmente e revestido por um exoesqueleto


formado basicamente por quitina (carboidrato) e sais de cálcio. A extremidade
anterior da carapaça apresenta um prolongamento em forma de espinho, o rostro,
ao longo do qual se encontram estruturas dentadas em sua superfície superior e
inferior. Localizado inferiormente à base do rostro estão inseridos os pedúnculos
oculares.

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3.4 Morfologia Interna e Fisiologia

3.4.1 Sistema Digestivo

O sistema digestivo é formado pelas seguintes estruturas básicas:


1 - boca
2 - esôfago
3 - estômago (dividido em duas câmaras: cardíaca e pilórica)
4 - intestino médio
5 - intestino posterior
6 - ânus
7 - glândulas digestivas (hepatopâncreas )

O animal captura o alimento, o reduz a pequenos pedaços e o ingere,


conduzindo-o ao esôfago e posteriormente à câmara cardíaca, situada no
estômago, onde será novamente triturado graças a ação de uma série de
estruturas calcificadas que formam o moinho gástrico. Após passar pelo moinho
gástrico, no estômago cardíaco o alimento é filtrado por cerdas, sendo conduzido
até o 2º compartimento, a câmara pilórica. Posteriormente, no hepatopâncreas
ocorre a digestão de proteínas, gorduras e carboidratos. A absorção dos
alimentos ocorre no próprio hepatopâncreas e no intestino médio.

3.4.2 Sistema Circulatório

À circulação é do tipo aberta ou lacunar. O sangue flui por vasos sangüíneos e


também em lacunas entre os tecidos. O coração é curto e suspenso em um
grande seio pericárdico por onde chega o sangue que penetra no coração e,
posteriormente, é bombeado para todas as partes do corpo. O pigmento que
facilita e possibilita a respiração é a hemocianina, que se encontra dissolvida no
plasma sanguíneo.

3.4.3 Sistema Respiratório

A respiração é do tipo branquial. As brânquias são estruturas sob a parede do


corpo, contendo vasos sangüíneos e estão sob a carapaça (o branquiostegito)
numa região denominada câmara branquial. O exopodito da 2º maxila em forma
de remo, escafognatito, promove através de seus movimentos, uma corrente de
água pelas brânquias oxigenando-as.

As brânquias também são importantes no sentido de manter a osmorregulação


destes animais, ou seja, o equilíbrio de sais nos líquidos internos em relação ao
ambiente em que se encontram. A maior parte da excreção de amônia também se
faz pelas brânquias.
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3.4.4 Sistema Excretor

O sistema excretor é formado basicamente por um par de glândulas verdes ou


antenais, localizado na base das antenas. Suas principais funções consistem em
eliminar os restos metabólicos e atuar no controle da concentração de sais no
seus fluidos orgânicos. A absorção de sais se realiza através de uma de suas
estruturas denominada de canal nefridial.

3.4.5 Sistema Nervoso e Órgãos Sensitivos

O sistema nervoso é do tipo ganglionar ventral, característico dos arthropodos. É


constituído por um gânglio amebóide ou supraesofágico localizado na cabeça, os
gânglios subesofágico e um cordão nervoso ventral duplo.

Os camarões são animais dotados de alta sensibilidade à luz e aos alimentos,


reconhecendo com extrema facilidade diferentes ambientes. Podemos citar
algumas estruturas de grande importância:

- os olhos do tipo composto, visão superior a 180º ;


- pêlos tácteis, sensíveis ao toque, na maior parte do corpo;
- pêlos antenulares, responsáveis pelo paladar e olfato;
- estatocisto, responsável pelo equilíbrio e localizado na base da antênula.

3.4.6 Sistema Reprodutivo

O sistema reprodutor masculino é formado por um par de testículos conectados a


ductos espermáticos e glândulas androgênicas, que se abrem externamente na
base do 5º par de pereiópodos.

O sistema reprodutor feminino é constituído por dois ovários e, dois ovidutos que
se abrem entre o 3º e o 4º par de pereiópodos.

3.5 Dimorfismo Sexual

Os camarões apresentam sexos separados, são espécies dióicas. As fêmeas têm


o abdômen proporcionalmente mais largo que o macho. Os espermatozóides são
desprovidos de cauda e apresentam forma de estrela; são armazenados num
saco denominado ampola do espermatóforo.

Abaixo, listamos algumas características dos machos que podem ser usadas para
diferencia-los das fêmeas:

- maiores;
- mais fortes;
- quelas mais desenvolvidas;
- excrescência no centro do primeiro somito abdominal;
- apêndice masculino localizado no 2º par de pleópodos.

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3.6 Muda e Crescimento

O fenômeno da muda é característico de quase todos os arthropodas, ocorrendo


em aproximadamente 90% de todos os crustáceos até hoje conhecidos. Consiste
na substituição de um exoesqueleto antigo por um novo, que se forma abaixo
daquele e pode ser definido como um evento fisiológico cíclico e continuo,
subdividido em 4 estádios.
Pré-ecdise, Ecdise, Pós-ecdise e Intermuda.

Pré-ecdise - Caracteriza-se pelo acúmulo de reservas alimentares, reabsorção de


cálcio (Ca++) da cutícula e pelo seu aumento no sangue e na atividade do
hepatopâncreas.

Ecdise - O corpo do animal torna-se intumescido devido à grande absorção de


água. O animal então sai do exoesqueleto velho; frequentemente esse processo
se dá de forma rápida.

Pós-ecdise - Ocorre secreção da endocutícula, calcificação e endurecimento do


esqueleto. O animal geralmente fica refugiado e alimenta-se pouco nesta fase.

Intermuda - Estágio que pode ser longo ou curto dependendo do estádio ou


desenvolvimento do camarão. A intermuda é o período que se sucede entre duas
mudas. Tende a diminuir na fase adulta. Ocorre acúmulo de reservas alimentares
para a próxima muda.

O fenômeno de muda e o processo de crescimento são controlados por fatores


externos como luz, temperatura, e principalmente por ação de hormônios. A
regulação destes hormônios depende de diferentes estímulos que atuam sobre o
sistema nervoso central. O fotoperíodo pode ser um fator de controle.

3.7 Regeneração e Autotomia

Os camarões possuem uma interessante propriedade biológica, a de se


regenerar, ou seja, recuperar partes perdidas. A regeneração não é um fenômeno
rápido, podendo levar vários meses para refazer um único apêndice perdido.
Outro fenômeno interessante é a autotomia ou auto-amputação de pereiópodos. É
causada pela contração do músculo autotomizador, geralmente utilizado em
condições de fuga, quando agarrados por predadores.

3.8 Reprodução e Comportamento

Para o acasalamento destaca-se a importância dos ferormônios característicos de


muitos decápodes aquáticos. Tais substâncias acredita-se sejam eliminadas pela
fêmea após a muda, objetivando atrair o macho para o ato copulatório.

O acasalamento se dá de três a seis horas após a fêmea ter completado sua


muda. O macho inicia então o cortejo de acasalamento e utilizando de seus
quelípodos abraça a fêmea. Este período pode levar de dez a vinte minutos. Logo
após se inicia o ato copulatório a partir da união dos poros genitais masculino e
feminino. Por sua vibração o macho introduz o espermatóforo no poro genital da
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fêmea e esta o carrega até o momento da sua desova. A desova ocorre em um
período não superior a vinte e quatro horas. No momento da desova os óvulos ao
passarem pelo espermatóforo são fecundados, cabendo então à fêmea incubá-los
até a eclosão, período que leva aproximadamente vinte dias.

O ovo fecundado apresenta no início uma coloração alaranjada, tornando-se


acinzentado ao longo do desenvolvimento embrionário. A incubação ocorre no
abdômen graças aos pleópodos, que através de suas cerdas formam uma
verdadeira câmara incubadora.

Eclosão - O ovo, contendo o embrião, eclode a partir do rompimento da


membrana que o envolve, liberando uma larva denominada de zoea. Esta
subdivide-se em onze estádios larvais. Durante este período são planctônicas e
mantêm-se sempre com o ventre para cima. Os estádios larvais levam
aproximadamente vinte e oito a trinta e cindo dias, variando muito de acordo com
as condições de temperatura, salinidade e alimentação.

3.9 Ciclo de vida

As larvas necessitam de água salobra com salinidade de 12 a 16‰ para se


desenvolverem, morrendo em alguns dias se forem mantidas em água doce.
Desta forma, após a eclosão, são levadas pela força da correnteza até o estuário.
Uma vez no estuário elas atingem a última fase, zoea XI, sofrendo metamorfose e
originando a pós-larva que, além de adotar novo comportamento, passando a se
locomover como camarões jovens e adultos, iniciam movimento de migração
visando alcançar a água doce, tornando-se, então, adultas e maturas
sexualmente, e portanto, aptas à reprodução.

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4.0 Espécies de Camarões de Água Doce de Potencial para
Cultivo
Das cento e vinte espécies de camarões de água doce do gênero Macrobrachium,
um quarto encontra-se distribuída no Continente Americano. Há uma grande
variação quanto à morfologia, hábito de vida e distribuição geográfica. Podemos
considerar “a priori”, de interesse comercial, todas as espécies de camarões de
maior porte. Entretanto, outras características devem ser levadas em
consideração; dentre elas podemos citar:

1) taxa de crescimento relativamente rápida;


2) comportamento não agressivo;
3) resistência às variações do meio;
4) agradável ao paladar;
5) resistência a doenças.

A espécie exótica, M. rosenbergii, tem respondido bem a todas estas


características. Entretanto, não podemos deixar de considerar as espécies
nativas, que merecem mais atenção por parte dos pesquisadores e das
instituições de pesquisa nacionais, para que, a partir do desenvolvimento de
novas tecnologias, passem a participar mais ativamente do mercado, aumentando
assim a oferta deste produto e reduzindo, com isso, a pressão de captura sobre o
ambiente natural.

Dentre estas espécies podemos citar: Macrobrachium carcinus (pitú),


Macrobrachium acanthurs, conhecido como camarão canela ou também como
pitú, dependendo da região, e Macrobrachium amazonicum, camarão canela. Nos
rios do oeste da América do Norte e Central encontra-se o Macrobrachium
americanum, de igual interesse econômico.

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5.0 Produção de Larvas (Larvicultura)
No Brasil, por se tratar de uma espécie exótica, o camarão da Malásia não é
encontrado naturalmente em nossos rios, lagos ou estuários, e portanto, a
reprodução “artificial” desta espécie será efetuada em laboratório. A atividade de
produção de larvas denomina-se larvicultura.

Há três formas diferentes de se produzirem larvas:

1 - Método de águas claras em sistema aberto - Consiste basicamente na


substituição diária da metade a dois terços da água dos tanques de cultivo;

2 - Método de águas verdes - Consiste no cultivo das larvas associadas às algas


verdes, que funcionam como filtro biológico, diminuindo desse modo as trocas de
águas;

3 - Sistema fechado - Consiste na recirculação da água de cultivo, permitindo sua


reutilização. Este método é baseado na passagem da água por um filtro biológico,
que através de bactérias aeróbicas e outros microorganismos metaboliza as
substâncias tóxicas presentes. Pode ser dividido em dois tipos: Sistema Fechado
Estático e o Sistema Fechado Dinâmico, sendo este último o mais recomendado e
utilizado atualmente.

Para a instalação de um laboratório de larvicultura devem-se ter com clareza uma


estimativa de produção e seus objetivos.

5.1 Escolha do local para Instalação da Larvicultura

Como vários camarões do gênero Macrobrachium, o camarão da Malásia


depende de água salobra para completar o seu ciclo de vida. A distância dos
grandes centros urbanos e industriais e de uma fonte fornecedora de água podem
se constituir uma garantia para o sucesso da larvicultura. Para tanto, é importante
que, no momento da escolha da área para instalação sejam levados em
consideração a proximidade e a facilidade de abastecimento, tanto de água
salgada como de água doce, sua quantidade e o não comprometimento por
agentes poluidores. No momento de projetá-la torna-se imprescindível o
acompanhamento de um técnico ou de um profissional qualificado. O projeto não
deverá, em hipótese alguma, estar previsto para área de preservação permanente
ou para qualquer outra área legalmente impedida de sediar tal atividade.

A não disponibilidade de área próxima ao litoral não é fator que inviabilize um


projeto de uma larvicultura. Ela poderá ser instalada mesmo em região distante do
litoral, embora, com custos operacionais mais elevados, pois trabalhar-se-á em
sistema fechado, ou seja, a partir de uma recirculação de água, o que implica na
construção de tanques para filtração biológica e tanques para depósito de água
salgada e água doce, incluindo-se ai os gastos com o transporte da água salgada
do litoral até o laboratório.

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5.2 Condições Físico-Químicas e Bacteriológicas da Água

A água a ser utilizada na larvicultura deve ser livre de agentes poluidores e deve
ser coletada com alguns cuidados. A água do mar pode ser coletada
superficialmente ou a alguns metros de profundidade. Em qualquer hipótese a
água coletada deverá ser filtrada e clorada. O sistema de condução de água não
deverá ser feito por encanamento de ferro, em função do seu grande poder de
oxidação. A água doce pode ser captada diretamente do manancial de superfície
ou subterrânea, e até mesmo da rede de abastecimento público. Em relação às
águas subterrâneas deve-se registrar especial preocupação com os níveis de
oxigênio nelas existentes, uma vez que, ordinariamente, o oxigênio é escasso
nessas águas. Para sua utilização, tornam-se também necessários a filtração e
cloração como forma de tratamento.

A seguir, listamos alguns valores dos parâmetros físico-químicos e bacteriológicos


da água recomendados para uma larvicultura:

- pH, entre 7, 4 e 8, 4
- OD (oxigênio dissolvido) > 5,0 mg/l
- NO2 < 0,1 mg/l
- NH3 < 0,6 mg/l
- T ºC: 26,0 a 30,0
- Coliformes fecais: ausência
- Salinidade entre 12 e 16‰
- Dureza total entre 60 e 120 mg/l (CaCO3)
- Ferro (Fe) 0,02 mg/l
- Cloro (Cl) 40 mg/l
- Sódio (Na) 30 mg/l
- Cálcio (Ca) 12 mg/l
- Magnésio (Mg) 10 mg/l

5.3 Luminosidade

É muito importante que haja a incidência de luz em uma larvicultura. O sistema


deverá estar equipado com lâmpadas, de modo a proporcionar o fotoperíodo que
se deseja, controlado com “timers”. No entanto, não deverá acontecer incidência
de luz solar diretamente nos tanques com as larvas para que se evitem a cegueira
e o desconforto delas. Por isso aconselha-se fazer cobertura do local colocando-
se algumas telhas transparentes intercaladas com outras de amianto comum.

5.4 Higiene

A Higiene é fator de extrema importância para o sucesso de um laboratório de


larvicultura. Todos os tanques e seus acessórios devem estar totalmente
desinfetados, assim como os equipamentos utilizados rotineiramente. Os
funcionários devem ser treinados sobre como manter todo ambiente limpo e livre
de contaminação. O sistema de captação e drenagem de água deve ser bem
monitorado, procurando-se eliminar qualquer resíduo alimentar ou restos de
animais da estrutura que, direta ou indiretamente, possam entrar em contato com

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as larvas. Para desinfecção deve-se usar cloro granulado (hipoclorito de cálcio)
ou cloro líquido (hipoclorito de sódio) em concentração apropriada.

5.5 Construção de tanques

Em um laboratório de larvicultura encontram-se tanques para as mais diversas


funções e de acordo com elas podem apresentar diferenças em seu desenho,
objetivando adequar-se o melhor possível ao papel que vai desempenhar. Neste
contexto podemos citar:

1 - tanque para armazenamento de água doce;

2 - tanque para armazenamento de água salgada;

3 - tanque de mistura e preparação de água salobra;

4 - tanque de acasalamento;

5 - tanque de eclosão;

6 - tanque de desenvolvimento de larvas;

7 - tanque de estocagem das pós-larvas.

A construção de qualquer um dos tanques mencionados depende da função da


capacidade de produção da larvicultura. Entretanto, devem-se levar em
consideração alguns cuidados no desenho dos tanques, no sentido de se facilitar
o manejo do cultivo bem como sua manutenção.

Os tanques para armazenamento de água doce e salgada devem ser construídos


de maneira a estocar uma quantidade suficiente para suprir toda necessidade do
laboratório, prevendo-se inclusive alguns contratempos como problemas na
bomba de água, encanamento e outros que possam levar tempo para reparo.

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Figura 2: Tanques de fibra (10.000 l) para estocagem de água doce e salgada.

Geralmente os tanques são de fibra de vidro ou construídos em alvenaria,


impermeabilizados e pintados com tinta atóxica epoxi.

A construção do tanque de preparação de água salobra não é diferente da


mesma usada nos tanques citados anteriormente. Entretanto, alguns cuidados
são necessários, como a existência de aeração e sua boa distribuição ao longo de
todo o tanque. A salinidade, temperatura e o pH devem ser checados a cada troca
de água mantendo-se os valores desejados, pois esta tanque abastecerá
diretamente o tanque de desenvolvimento larval. Para se preparar água salobra a
14‰, deve-se misturar água doce com água do mar. Os volumes de água doce e
marinha são calculados de acordo com a seguinte fórmula.

Vm = V.T.M. x 14 / S.A.M.

onde, V.M. = Volume de água do mar


V.T.M. = Volume do tanque de mistura
S.A.M. = Salinidade da água do mar

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Figura 3: Tanque de desenvolvimento larval acoplado a um filtro biológico.

Figura 4: Detalhe de um filtro biológico.

Algumas larviculturas têm utilizado tanques para acasalamento. Estes são bem
menores, podendo ser construídos em alvenaria ou fibra de vidro. O revestimento
interno deverá ser de tinta epóxi procurando-se utilizar cores mais escuras como
o verde e o preto. Tanques de acasalamento podem ser montados com sistema
de filtração biológica.

Tanques para a eclosão de larvas podem apresentar diversas formas, como


circular, retangular, quadrada ou cônica. Neles, são colocadas fêmeas ovadas,
cujos ovos encontram-se próximo à eclosão. Estes tanques são construídos
geralmente em alvenaria ou fibra de vidro. Devem ser revestidos por tinta epóxi,
preferencialmente de cor escura. Estes tanques quando retangulares ou
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quadrados, devem ser abaulados em seus vértices facilitando o movimento de
circulação de água, proporcionado por uma aeração direcionada, evitando a
concentração das larvas nos cantos. Como mencionado anteriormente, deve-se
evitar a incidência de raios solares diretamente sobre os tanques. Os parâmetros
físicos e químicos devem ser monitorados diariamente. As recém-eclodidas
larvas, fase que denominamos zoea, devem ser então sifonadas e distribuídas
conforme concentração para os tanques de desenvolvimento larval.

Os tanques de desenvolvimento larval não devem ser construídos com altura


inferior a 1.2 m, mantendo-se o nível da água em torno de 80 a 90 cm. Podem ser
em fibra de vidro ou alvenaria e apresentar formato circular, retangular, quadrado
ou cônico. Principalmente nestes tanques, deve-se ter o cuidado de revesti-los
internamente com tinta epóxi preta, evitando-se com isto reflexão da luz incidente
sobre a superfície interna do tanque. Devido ao fototactismo positivo, as larvas
são atraídas pela luz, e em seu contato constante com a superfície refletora,
podem ocorrer pequenas lesões na carapaça, principalmente no rostro em
formação. Estas lesões propiciam o aparecimento de patógenos como fungos,
bactérias ou protozoários que podem debilitar as larvas ou até mesmo matá-las.

Os tamanhos da tela e da malha ajustados ao sistema de drenagem são


fundamentais para não permitir que as larvas sejam levadas junto com a água no
momento de sua renovação.

Os tanques de estocagem de pós-larvas podem ser construídos de fibra de vidro


ou em alvenaria. Estes tanques devem ser bem aerados com boa taxa de
renovação de água.

5.6 Produção das larvas

As larvas recém nascidas são denominadas de zoea. Esta fase apresenta onze
estádios de desenvolvimento (Zoea I, Zoea II, ..., Zoea XI). As larvas, na fase I
correspondem aos estágios iniciais, entre dez e doze dias, devem ser mantidas
com uma densidade entre 300 e 500 indivíduos por litro; posteriormente, na fase
II, sua densidade diminui para no máximo 120 indivíduos por litro. As larvas são
planctônicas e no ambiente natural alimentam-se basicamente de zooplâncton
(larvas de insetos, nemátodos, rotíferos, dentre outros). Em laboratório, até a
fase de Zoea I as larvas não devem ser alimentadas, pois consomem o próprio
vitelo. A partir de 2 ou 3 dias (Zoea II) devem ser alimentadas com Artemia
(microcrustáceo), durante sua fase de náuplios. A Artemia é rica em proteínas e
ácidos graxos que garantem um bom desenvolvimento das larvas. A Artemia é
vendida sobre a forma de cistos que devem ser eclodidos no próprio laboratório
de larvicultura.

19
Figura 5: Tanques de eclosão de Artemia.

Além da Artemia as larvas são alimentadas com uma ração à base de ovos, leite
em pó, carne de moluscos, peixe e outros constituintes.

No caso de se preparar rações muito particuladas, deve-se ter cuidado com o


diâmetro da partícula em função do estágio de desenvolvimento em que se
encontram as larvas.

O alimento deve ser bem dosado para evitar desperdício, assim como para não
poluir a água.

Como mencionado anteriormente o desenvolvimento das larvas de


Macrobrachium rosenbergii compreende 11 estágios de ZOEA. Todos estes
estágios levam aproximadamente 25 a 35 dias.

Assim que se complete o final do desenvolvimento da última larva ZOEA XI esta


sofre uma metamorfose originando o que denominamos de fase de pós-larvas, e
assume características morfológicas muito próximas às de um camarão adulto. O
período exato do tempo de desenvolvimento embrionário, ou mesmo o momento
em que se procederá a metamorfose pode variar em função do manejo da
larvicultura, da alimentação, da densidade nos tanques e outros fatores. Uma vez
atingindo o estágio de pós-larva, estes animais deixam de ser planctônicos,
transformando-se em bentônicos, passando a nadar com sua região ventral para
baixo e se locomovendo no substrato do fundo.

20
5.7 Estocagem e transporte de Pós-larvas

Quando observado que mais de 90% das larvas já sofreram metamorfose e estão
na fase de pós-larva, deve-se então iniciar a aclimatação dos animais para a água
doce e transferi-las para os tanques de estocagem onde permanecerão por mais
ou menos cinco dias para posterior comercialização.

A aclimatação dos animais para a água doce deve ser realizada adicionando-se
água doce nos tanques de desenvolvimento larval, de forma gradativa, evitando
qualquer choque de salinidade. A salinidade deverá chegar a zero, ou seja, o
tanque de estocagem deve ser totalmente de água doce.

A manutenção da qualidade da água nos tanques de estocagem é fator primordial


de sobrevivência das pós-larvas. Deverão os tanques ter uma taxa de renovação
não inferior a 50% diariamente e aeração continua.

O transporte das pós-larvas deve ser efetuado com material adequado e


preparado com antecedência. O saco plástico deve ser especial evitando-se
aqueles que possam liberar resíduos tóxicos, e sem furos. As pontas devem ser
amarradas para evitar concentração de pós-larvas nos cantos.

Para transporte a grandes distâncias preparam-se os sacos plásticos com


capacidade de 30 litros, na proporção de 1/3 de água para 2/3 de oxigênio puro.
O material deverá ser acondicionado em caixas de isopor, contendo gelo entre as
paredes internas e os sacos plásticos. Isto permitirá que a temperatura da água
diminua o metabolismo das pós-larvas levando-as a um menor consumo de
oxigênio. Deve-se evitar o transporte durante as horas mais quentes do dia.

Figura 6: Embalagem de pós-larvas para transporte.

21
5.8 Abastecimento e Drenagem da Água

O abastecimento de água doce numa larvicultura é executado por bombas. A


água, após armazenada nos tanques, deverá ser filtrada. Dependendo do local
onde está instalada a larvicultura o abastecimento poderá ser por gravidade. Todo
o encanamento, tanto para água doce como para salgada, deve ser à base de
cano de PVC para evitar ferrugem e eliminação de metais na água. A partir dos
tanques reservatórios, a água doce ou salgada deve fluir, preferencialmente por
gravidade, para o tanque de mistura e deste para o filtro e conseqüentemente
para toda a larvicultura.

5.9 Equipamento

Alguns equipamentos indispensáveis à uma larvicultura são listados a seguir:

- Refratômetro ou Condutivímetro; - “timer”;


- termômetro; - bombas de água;
- oxímetro; - termostatos;
- pHmetro; - aquecedores;
- kits de NO2 e NH3; - gerador;
- microscópio; - liquidificador;
- balanças; - freezer;
- lupa; - geladeira.
- compressores;

Materiais diversos:
Baldes, telas, béckers, placa de petri, pipetas, sifonadores, e outros.

22
Figura 7 – Leiaute simplificado de um laboratório de larvicultura que opera em
sistema fechado dinâmico. E - Tanque de eclosão. T – Tanque de Larvicultura.
F – Filtro Biológico. P – Pedilúvio. (Extraído de Valenti, 1998).

23
6.0 Características de Sistema de Cultivo

Podemos destacar três tipos de sistemas de cultivo adotados para engorda do


camarão da Malásia: o sistema extensivo, o semi-intensivo e o intensivo,
diferenciados, basicamente, em função do manejo utilizado.

a) Sistema Extensivo
O cultivo é realizado em represas com baixa densidade de estocagem, com até
dois indivíduos por metro quadrado (2 ind./m2). Neste caso, não são praticados o
monitoramento da qualidade de água, arraçoamento e a adubação da água, e não
se faz o controle de produção. A produtividade gira em torno de 300 kg/ha/ano.

b) Sistema Semi-intensivo
Neste tipo de sistema o cultivo é realizado em viveiros escavados no solo, que
variam de 1.000 a 5.000 m2, utilizando uma densidade de até 10 ind./m2, com
controle de qualidade de água, oferta de rações específicas para o camarão,
realização de biometrias, despescas seletivas e totais e controle de produção,
podendo a produtividade atingir de 1.200 a 1.800 kg/ha/ano.

c) Sistema Intensivo
Caracteriza-se por apresentar um rigoroso controle de produção e qualidade de
água, utilização de rações balanceadas, densidade acima de 10 ind./m2,
emprego de tecnologia de ponta, com utilização principalmente de aeradores e a
produtividade esperada é superior a 3.000 kg/ha/ano.A figura 08, a seguir,
caracteriza e diferencia os três tipos de sistema de cultivo descritos.

Extensivo A - Aeração
Tamanho de Alimento U - Monitoramento
viveiro natural Semi M do viveiro
Densidade Alimentação intensivo E - Produtividade
de povoamento artificial N - Custos
intensivo T - Lucros
O - Riscos

Figura 08 - Diagrama ilustrativo de sistemas de cultivo

Para os cultivos semi-intensivo e intensivo existem dois métodos de criação em


função do crescimento não uniforme, característico desses camarões: o
tradicional e o contínuo.
Método Tradicional: o povoamento é realizado com pós-larvas, e, a partir do 4º
ou 5º mês de engorda iniciam-se as despescas seletivas encerrando-se ao
24
término do 6º ou 7º mês com a despesca total (final). O viveiro é totalmente
drenado e reabastecido, iniciando-se um novo cultivo, a segunda safra. Em geral,
recomenda-se uma manutenção dos viveiros a cada duas safras, conforme será
descrito posteriormente. É o método de cultivo mais recomendado.
Método Contínuo: O viveiro não é drenado a cada despesca final,
permanecendo alagado por dois ou três anos. Com cerca de 5 meses de cultivo
faz-se a primeira despesca parcial, utilizando-se uma rede seletiva para capturar
apenas os camarões de peso comercial. Este procedimento é repetido diversas
vezes, a cada 20/30 dias, sempre seguido de novos povoamentos.

25
7.0 Escolha do Local
A escolha do local para a instalação dos viveiros de criação deverá levar em
consideração os seguintes aspectos:

a) Temperatura: o local não deve apresentar grandes variações de temperatura. A


temperatura média da água do mês mais frio deve ser igual ou superior a 20°C. O
ideal é que a temperatura se mantenha em torno dos 28ºC.

b) Água: os viveiros podem ser abastecidos com água de superfície, de rios,


riachos, açudes, barragens, ou água subterrânea. No primeiro caso, deve-se
evitar, o máximo possível, com uso de filtros a entrada de predadores e/ou
competidores, no entanto, a qualidade e a quantidade (aproximadamente
16m³/ha/hora) são fatores primordiais ao cultivo de camarões. É extremamente
importante que as características físico-químicas da água sejam analisadas antes
do uso.

Os parâmetros físico-químicos recomendados são:

- pH entre 7,0 e 8,4


- OD > 5 ppm
- TºC entre 20 e 30ºC
- Dureza entre 60 e 120 mg/l (CaCO3)
- Fe < 2.0 ppm
- NO2 < 1,0 ppm
- Odor nenhum
- Coliformes fecais: ausência

c) Topografia: o terreno deve ser plano ou levemente ondulado.

d) Solo: o solo ideal para construção de viveiros devem apresentar um teor de


argila entre 20 e 70%. Com menos de 40% de argila, o solo apresentará baixo
poder de retenção da água. Com mais de 70%, o solo poderá apresentar
rachaduras por ocasião de sua exposição ao sol para fins de assepsia.

e) Localização: o local do cultivo deve dispor de boas vias que facilitem o acesso
rápido e fácil escoamento da produção.

26
8.0 Construção do Parque de Cultivo
Os viveiros de engorda, geralmente retangulares, podem ser naturais ou
escavados no solo. Suas principais características são:
Profundidade: mínimo de 0,8 e o máximo de 1,50 m;
Área: variando entre 1000 e 5000 m², e a relação comprimento/largura poderá ser
de 3:1 ou de 4:1.

O fundo deve ser plano com uma pequena inclinação no sentido da drenagem.
Recomendam-se paredes (taludes) inclinadas, num ângulo interno de 45° e
cobertas por vegetação rasteira para protegê-las da erosão.

Figura 9: Detalhe da construção de um viveiro de engorda.

Os viveiros destinados para berçário, são construídos de maneira semelhante aos


de engorda, possuindo, no entanto, áreas menores variando de 500 a 1000 m².

8.1 Arranjo Físico

O viveiro deverá estar ligado a um canal de abastecimento de água e a uma


canaleta de drenagem. O fundo do canal de abastecimento deve ser construído
acima do nível máximo de água do viveiro. A entrada de água no viveiro pode ser
feita por tubos em PVC ou por uma comporta em alvenaria, o mesmo ocorrendo
com o sistema de drenagem. Recomenda-se a colocação de uma tela plástica no
inicio do canal de abastecimento para evitar a entrada de peixes ou outros
animais que possam predar os camarões ou prejudicar a produção e a qualidade
da água do viveiro.

27
Figura 10: Vista geral de viveiros de engorda de camarão de água doce.

28
Figura 11: Planta Baixa e cortes de um viveiro padrão para o cultivo de
camarão de água doce. (Valenti; 1998)

29
Figura 12: Modelo de comporta tipo monge. (Extraído de Valenti,
1998)

30
9.0 Tecnologia de Produção

A fase da carcinicultura que mais desperta a atenção do investidor é, sem dúvida


alguma, a fase de criação dos jovens (pós-larvas) até o seu tamanho comercial. A
produção de pós-larvas é uma atividade normalmente desempenhada apenas por
grandes produtores, pelo próprio governo, ou ainda por empresas especializadas,
por exigir o uso de laboratórios de alta tecnologia.

9.1 Monitoramento da Qualidade de Água

O monitoramento das características físicas, químicas e biológicas da água é


imprescindível para que se proceda o controle da qualidade do cultivo, o que
refletirá diretamente na produção e produtividade do sistema de engorda.

CASTAGNOLLI (1992), comenta que em termos gerais, a qualidade de água


inclui todas as características químicas, físico-químicas e biológicas que possam
influir na sua utilização, independente da finalidade que se pretende. Deste modo,
é fundamental o conhecimento das características das águas, tanto para a
compreensão do ambiente, como para o cultivo de organismos aquáticos. Em
relação à carcinicultura, qualquer característica da água que, de alguma forma,
possa afetar a sobrevivência, crescimento, reprodução e comportamento dos
camarões, é considerado uma variável de qualidade de água. Existem inúmeras
variáveis que concorrem para a melhoria da qualidade da água, entretanto, o
Carcinicultor deve concentrar sua atenção somente naquelas que podem ser
controladas através de manejo adequado, (SEBRAE/ES, 1992).

As principais variáveis de qualidade de água monitoradas junto aos viveiros de


cultivo de camarão são: temperatura, oxigênio dissolvido (O.D.), pH,
transparência, alcalinidade, compostos nitrogenados, dureza de Ca++ e Mg++ e
teor de ferro.

31
Figura 13: Análise de qualidade da água de cultivo (Oxigênio Dissolvido).

9.1.1 Temperatura da Água de Cultivo

Segundo CAVALCANTI et al. (1986); NEW & SINGHOLKA (1994), a faixa


compreendida entre 25 e 30ºC é considerada ideal para o cultivo de camarões,
reduzindo o desenvolvimento em temperaturas menores que 24ºC e maiores que
31ºC.

Diversos autores citam que temperaturas da água abaixo de 25 ou 26ºC estão


aquém das condições térmicas consideradas ótimas para o crescimento
satisfatório (NEW & SINGHOLKA, 1984, VALENTI, 1989). Experimentos de
cultivo, conduzidos pelo CTA (1994) no município de Guarapari/ES, onde as
temperaturas dos meses de junho, julho e agosto estiveram próximas a 22ºC,
mostraram uma redução no crescimento esperado, corroborando portanto com a
literatura. A redução no crescimento justifica-se na indisposição dos animais à
alimentação.

As medições de temperatura devem ser realizadas no início da manhã e da tarde.


Preconiza-se a mensuração de temperatura nestes horários, pois estes refletem
os pontos extremos da sua variação.

O monitoramento da temperatura da água de cultivo é de fundamental


importância no cálculo de ração a ser oferecida aos animais. Em temperaturas

32
menos quentes, o animal reduz seu metabolismo, necessitando de uma
quantidade menor de alimento. Quando isso não é levado em consideração, pode
haver um acúmulo de ração no viveiro, comprometendo a qualidade da água de
cultivo, gerando prejuízos aos produtores.

9.1.2 – Transparência

A profundidade do desaparecimento do disco de Secchi é inversamente


proporcional à quantidade de compostos orgânicos e inorgânicos no caminho
ótico. (PREISENDORFER, 1986).

A análise da transparência da água pode fornecer uma indicação da quantidade


de plâncton e de material em suspensão presentes na coluna de água. Estes
dados são importantes para se determinar a profundidade natural do viveiro. A
transparência é medida através do uso do disco de Secchi e os valores ótimos
situam-se entre 25 e 50 cm abaixo da superfície da água. (SEBRAE/ES, 1992;
RODRIGUES et al, 1991).

O monitoramento da transparência é uma das formas de controlar a qualidade de


água do viveiro, pois ela está diretamente relacionada a parâmetros como
produtividade natural, as taxas de O.D., pH, incidência luminosa, e presença de
macrófitas, entre outros. Vale ressaltar que os custos com a aquisição de um
disco de Secchi são mínimos. Os carcinicultores podem ainda adaptar um prato
com 30 cm de diâmetro, pintado alternadamente em preto e branco e preso a um
cabo de madeira adequadamente graduado.

A transparência abaixo de 25cm de superfície indica alta concentração de


plâncton e portanto, como medida de segurança, deve-se suspender a
fertilização e renovar a água para evitar queda do nível de oxigênio. Por outro
lado, acima de 50 cm indica que a produção planctônica ainda pode ser
incrementada, podendo o viveiro receber mais adubo. (RODRIGUES et al, 1991).

33
Figura 14: Disco de Secchi utilizado para determinar a transparência da água.

9.1.3 – Oxigênio Dissolvido – (O.D.)

O oxigênio é fundamental para que todos os seres vivos aeróbios possam


respirar, possibilitando assim, a assimilação da energia armazenada nos
alimentos. O oxigênio existente no meio líquido depende fundamentalmente da
fotossíntese e, em menor escala, do percentual proveniente da atmosfera, e
decorrente da pressão e da ação mecânica dos ventos. O consumo está
relacionado à respiração dos seres aeróbios, à decomposição da matéria
orgânica, às perdas para a atmosfera, além da oxidação de íons metálicos como
ferro e o manganês. Convém registrar ainda, que a solubilidade do oxigênio é
inversamente proporcional à temperatura.

Pode-se afirmar que o oxigênio é a variável mais crítica para a manutenção da


água, em pontos ótimos de desenvolvimento para os camarões. Baixos índices de
oxigênio têm sido responsáveis por grandes perdas no processo de criação.
Convém salientar, que a variação diária do oxigênio está ligada
fundamentalmente ao processo de fotossíntese e respitração/ decomposição
(TAVARES, 1995). O fitoplâncton tem papel dominante na dinâmica do oxigênio
nos viveiros. O oxigênio dissolvido varia nos viveiros cíclicamente, no período de
24 horas. Esta variável resulta de um balanço contínuo entre os processos
respiratórios e de fotossíntese das comunidades aquáticas.

O teor de oxigênio dissolvido na água aumenta a partir do início da manhã, tendo


seu ponto máximo ao final da tarde (17h) e diminuindo no início da noite,
atingindo seu ponto mínimo e mais crítico no fim da madrugada (5h).

34
Figura 15: Gráfico ilustrativo das variações de pH e oxigênio ao longo do dia em
viveiros de camarão.(linha vermelha =pH; linha azul = concentração de oxigênio
dissolvido).

Segundo, SEBRAE/ES (1992), concentrações inferiores a 1.0 mg/l por períodos


prolongados são letais para camarões, entre 1.0 e 5.0 mg/l não chegam a
comprometer a vida dos animais, entretanto afetam seu crescimento.
Concentrações superiores a 5.0 mg/l são consideradas satisfatórias.

Freqüentemente, sobretudo em grandes cultivos, são utilizados aeradores para


agitar a superfície liquida dos tanques e melhorar os índices de oxigênio na
coluna de água (figura 16).

O consumo de oxigênio pelos camarões varia em função do tamanho do animal e


da temperatura do ambiente.

35
:
Figura 16 - Aerador de pás em atividade em área de cultivo.

9.1.4 Potencial de Hidrogênio (pH)

O potencial de hidrogênio, pH, é uma medida da concentração do íon hidrogênio


e indica se a água está ácida, valores inferiores a 7 ou básica, valores superiores
a 7. A escala varia de zero a quatorze, sendo sete o ponto neutro. O pH está
relacionado à decomposição dos detritos orgânicos e respiração dos organismos
aquáticos, variando em função do teor de dióxido de carbono (CO2) dissolvido na
água, diminuindo com a fotossíntese e aumentando com a respiração
(CASTAGNOLLI, 1992; ODUM, 1985). A utilização do CO2, pelo fitoplâncton,
principalmente durante a fotossíntese, faz com que o pH do dia se eleve. À noite,
com a produção de CO2 pelos animais e vegetais, o pH diminui. Portanto o pH
também apresenta um componente cíclico ao longo do dia, conforme o O.D..

Segundo TAVARES (1995), as águas dos viveiros localizados próximos às áreas


agrícolas tendem ao aumento do pH, devido à erosão, que transporta nutrientes e
calcários. Ela comenta ainda, que o efeito do pH sobre os organismos geralmente
é indireto, uma vez que depende da oscilação dos níveis de certos componentes
como amônia, metais pesados, gás sulfídrico, e outros que são tóxicos aos
organismos aquáticos.

A faixa de pH ideal para cultivo de camarão da Malásia é de 7,0 a 8,5. Entretanto,


devido as oscilações desta variável ocorridas ao longo do dia, é considerada
satisfatória uma variação de 6,5 a 9,5 (TAVARES, 1994). NEW & SINGHOLKA,
1984, citam que o pH nunca deve ultrapassar a 9,0. Quando o pH está fora da

36
faixa ideal, ele irá dificultar a obtenção de uma boa transparência, pois de uma
forma indireta, indisponibilizará o fósforo, importante nutriente ao fitoplâncton. A
correção de pH pode ser feita através da calagem, técnica que consiste na adição
de calcário calcítico ou dolomítico no viveiro de engorda.

As análises deverão ser realizadas, preferencialmente, no início da manhã ou no


fim da tarde, através de amostras de fundo, coletadas com o auxílio da garrafa de
Van Dorn ou com um becker no interior da comporta de escoamento do viveiro.

9.1.5 – Alcalinidade Total

Esta variável refere-se à concentração total de bases na água, sendo geralmente


expressas em mg/l de equivalente, basicamente, de carbonato de cálcio (CaCO3),
bicarbonato (HCO3-) ou carbonato (CO3--). Em viveiros de criação de organismos
aquáticos, HCO3- e CO3-- são responsáveis por todas as medidas de alcalinidade
(TAVARES, 1995).

A alcalinidade da água é importante para o tamponamento do pH, evitando


alteração bruscas desta variável. Valores acima de 20 mg/l de CaCO3 indicam
boas reservas alcalinas, enquanto que, em níveis superiores a 180 mg/l de
CaCO3, pode ocorrer precipitação do íon cálcio, obstruindo as brânquias,
causando a mortalidade dos camarões.

9.1.6 - Dureza

O teor de Cálcio na água pode ser utilizado para a caracterização do grau de


dureza. Reflete principalmente o teor de íons de Ca++ e Mg++, que são
combinados ao carbonato e/ou bicarbonato (TAVARES, 1995). Portanto, a dureza
total reflete a dureza de cálcio, junto com a dureza de magnésio. Segundo
VALENTI (1989), a dureza é uma variável, geralmente, associada à alcalinidade.
O Camarão de água doce, M. rosenbergii, prefere água com dureza moderada,
em torno de 60 - 120 mg/l de CaCO3.
Tanto a dureza quanto a alcalinidade podem ser corrigidas através da técnica de
calagem.

9.1.7 – Teor de Ferro

O Ferro atua reduzindo o pH. Nestas condições, ele se combina com o fósforo,
impedindo a assimilação deste por parte do fitoplâncton, dificultando o incremento
da transparência e da produtividade natural do viveiro. Vale ressaltar que o
mesmo efeito provocado pelo Ferro ocorre com o Cálcio em condições de águas
alcalinas (> 9,0). Portanto, o produtor deve manter-se atento à necessidade da
aplicação de calcário em viveiros, no entanto, a aplicação só deverá acontecer

37
mediante a recomendação de especialistas, a partir de análises previamente
realizadas.
9.2 Manutenção e Preparação dos Viveiros

Após o término de cada cultivo, torná-se necessário a realização da manutenção


dos viveiros de engorda, que consiste basicamente na raspagem do fundo do
viveiro, retirando-se os concentrados poluidores, bem como a execução de
reparos em taludes, monges, sistema de abastecimento, e outros.

Concluída esta etapa, inicia-se a preparação do viveiro para um novo


povoamento, processando-se a assepsia, calagem, quando necessário, adubação
orgânica, abastecimento dos viveiros e adubação química. O povoamento deve
ser feito no máximo dez dias após o início do abastecimento dos viveiros,
evitando-se com isto o desenvolvimento oportunista de predadores e
competidores de pós-larvas de camarão.

Procedimento:

Com o viveiro ainda seco, espalham-se aproximadamente 500 kg/ha de calcário


dolomítico, iniciando-se logo a seguir a fertilização orgânica distribuindo-se ao
longo do viveiro esterco de boi bem curtido, numa quantidade de 2.000 kg/ha.
Feito isso, inicia-se o abastecimento. Quando o volume de água atingir
aproximadamente 50% do volume total, adiciona-se o fertilizante químico
(superfosfato triplo ou simples) numa quantidade de 60 kg/ha. O fertilizante,
deverá ser dissolvido num balde com água e lançado de forma homogênea por
todo o viveiro.

Ao se completar o nível de água do viveiro, interrompe-se o fluxo de entrada e de


saída por mais ou menos, dez dias. Neste período deve-se fazer um
acompanhamento para verificar se o nível de água se mantêm, e através da
utilização do disco de Secchi aferir os valores de transparência.

É conveniente que seja providenciado a construção de trapiches próximos ao


monge e a identificação dos viveiros, contendo o numero e metragem. Quanto
aos monges, deve-se providenciar uma proteção com tela sombrite para evitar a
fuga dos animais.

38
Figura 17: Viveiro sendo drenado para iniciar as etapas de manutenção.

9.3 Transporte das pós-larvas e Povoamento dos viveiros

O transporte das pós-larvas deve ser realizado nos horários mais frescos do dia,
utilizando-se o caminho mais curto do laboratório à propriedade. Recomenda-se
também colocar alguns cubos de gelo entre os sacos, contendo as pós-larvas, e a
parede da caixa de isopor. Chegando a propriedade, as pós-larvas passam por
um período de aclimatação, que consiste em colocar os sacos plásticos na água
do viveiro por um período de 20 a 30 minutos, objetivando o equilíbrio térmico
entre as águas de dentro e de fora do saco. Posteriormente, deve-se misturar
lentamente a água destes com as do viveiro, liberando cuidadosamente os
animais, evitando-se assim possíveis choques.
As pós-larvas com 3 a 8 dias, após a metamorfose, podem ser colocadas no
viveiro berçário numa densidade de 50 – 100 indivíduos/m2, permanecendo por
aproximadamente 60 dias quando atingem 1,2 g de peso médio, sendo então
transferidas ou colocadas diretamente nos viveiros de engorda, numa densidade
de 5 - 7 indivíduos/m2, para sistema semi-intensivo ou 14 - 18 indivíduos/m2 para
cultivo intensivo. Neste último caso há necessidade de se utilizar tecnologia
especifica para operação.

39
9.4 Fertilização

O quadro a seguir apresenta alguns tipos de adubos orgânicos e químicos mais


comumente utilizados na fertilização de viveiros e suas respectivas quantidades,
tomando-se como base um hetare.

Adubo orgânico (esterco curtido) Quantidade P/1 ha (kg)


Boi 1.500 a 2.000
Porco 200 a 300
Aves 100 a 200

Adubo químico Quantidade P/1 ha (kg)


Superfosfato triplo ou simples 50 a 60
NPK 13: 20: 6

Os fertilizantes mais recomendados são: o superfosfato simples (50 a 60 kg/ha)


para correção de transparência e o esterco de boi curtido (1.500 a 2.000 kg/ha),
com objetivo de incrementar o desenvolvimento de pequenas larvas de insetos e
vermes aquáticos, que se constituirão como alimento natural para os camarões.

9.5 Biometria

A biometria, técnica de acompanhamento de desenvolvimento de crescimento e


engorda do camarão, deve ser realizada pelo menos uma vez por mês, pois, a
partir dos dados obtidos, são efetuados os cálculos de biomassa instantânea e a
oferta de ração, de acordo com os percentuais sobre a biomassa. Estes
percentuais (2 a 5%), variam basicamente em função da etapa de
desenvolvimento do animal, estratégia de engorda e temperatura da água.
Representando a ração aproximadamente 50% dos custos de produção do
camarão, é possível atribuir à biometria o seu papel direto na economicidade do
investimento.

9.6 Despesca

Dependendo da época em que se encontra o ciclo de engorda, são realizadas


despescas seletivas e/ou totais. Estas despescas são fundamentais para que haja
resultados satisfatórios de produção e consequentemente maior otimização da
utilização dos viveiros de cultivo, possibilitando a realização de dois ciclos de
engorda por ano. As despescas são realizadas sempre que, durante a biometria,
for observada a presença de camarões de tamanho comercial. Para a prática de
despesca, devem-se adotar as seguintes medidas:
- Realização das despescas nos horários frescos do dia;
- utilização de rede específica (malha de 15 a 20 mm);
- ausência de arraçoamento no dia anterior à despesca;

40
- existência de utensílios de apoio, como, baldes, isopores, caixas de
pescado, entre outros, além de pessoal suficiente para uma rápida
despesca;
- gelo suficiente para a realização de um eficiente choque térmico e
solução de hipoclorito de sódio para a assepsia do produto;
- material para o tratamento pós-colheita (mesa, tesoura, bandejas, filme de
PVC) e bem como local para estocagem do camarão.

Figura 18:Despesca seletiva.

9.7 Ração e Arraçoamento

9.7.1 Ração

Um dos aspectos que garantem o sucesso da atividade é o emprego de alimento


adequado à espécie que se pretende cultivar. Uma ração adequada é aquela que
apresenta as seguintes exigências:
a - atende às exigências nutricionais conhecidas da espécie;
b - apresentar boa estabilidade e granulometria;
c - imerge, isto é, afunda com facilidade;
d - tem boa atratibilidade,
e - é economicamente viável.

41
O valor nutritivo da ração deve considerar os insumos utilizados, teores de
proteínas, carboidratos e lipídeos, além dos suplementos vitamínicos e minerais,
indispensáveis à absorção de nutrientes, e com importante participação numa
série de reações metabólicas do organismo.

As proteínas representam a fração mais onerosa da ração e por isso são


utilizadas com muito critério pelas indústrias de ração, que consideram o perfil
aminoacídico destas, e não tão somente o percentual utilizado.

A produção de peixes ou camarões depende do sistema de cultivo e da


disponibilidade e tipo de alimento.

Diversos estudos têm demonstrado os cuidados que devem ser tomados na


produção de dietas artesanais. Entre estes estudos, a presença de fatores
antinutricionais tem recebido atenção especial. Muitos destes fatores estão
associados à contaminação dos alimentos por microorganismos patogênicos,
como por exemplo, um tipo de fungo que produz uma substância, a aflatoxina,
altamente tóxica e encontrada principalmente nos cereais.

Outros fatores referem-se aos níveis de utilização dos insumos e, por conseguinte
dos nutrientes. Por exemplo, a soja que contém a sojina (fator antinutricional),
deve ser utilizada com cuidado e não simplesmente como um substitutivo em
potencial para os insumos protéicos de origem animal. Outras restrições podem
ser citadas para o farelo de trigo, devido a elevada concentração de
fibras, para as farinhas de peixe, carne, ossos e aves, através de seus níveis de
gordura e cinzas.

Uma boa ração deve apresentar as seguintes características bromatológicas:

Proteína bruta entre 25 - 30%


Carboidratos (açúcares) entre 30 - 40%
Gorduras entre 06 - 08%
Fibras entre 06 - 08%
Outros (Cinzas) entre 08 - 10%
Umidade até 10 %
Relação Ca/P entre 2.5 / 1 %

9.7.2 Arraçoamento

A prática do arraçoamento é uma etapa que vem finalizar e garantir que o


alimento, balanceado e produzido com todos os cuidados, seja devidamente
utilizado, evitando com isso desperdícios, prejuízos e deterioração da água de
cultivo.

42
Recomenda-se que o arraçoamento seja realizado considerando os seguintes
fatores:
1 - densidade de estocagem;
2 - idade dos animais;
3 - qualidade da água de cultivo.

Desta forma, considerando a adoção do sistema de cultivo semi-intensivo, a


freqüência alimentar recomendável é de duas refeições ao dia, às 7h e às 18h.
Em cultivos intensivos a frequência alimentar pode chegar a quatro vezes ao dia.
A ração deve ser espalhada ao longo de todo o viveiro.

A ração deve ser estocada sobre um estrado, em ambiente fresco e ventilado. O


saco aberto não utilizado totalmente deve ser mantido bem fechado.

Em condições de águas turvas, apresentando valores baixos de oxigênio não se


recomenda o arraçoamento até o restabelecimento por completo das condições
adequadas de qualidade de água. As vésperas de uma despesca também não se
recomenda o arraçoamento.

É conhecido o papel da temperatura no metabolismo de espécies aquáticas. O


camarão da Malásia, por ser uma espécie tropical, não se alimenta
adequadamente em temperaturas abaixo de 22ºC, deixando de se alimentar
abaixo dos 18ºC. Assim, de posse dessas informações, a oferta de ração deverá
sofrer ajustes dependendo da temperatura da água, procedendo-se uma
observação criteriosa, principalmente no inverno.

A tabela a seguir apresenta a quantidade diária de ração recomendada nos dois


primeiros meses de cultivo.
1ª quinzena - 05 kg/ha
2ª quinzena - 07 kg/ha
3ª quinzena - 08 kg/ha
4ª quinzena - 10 kg/ha

Após os dois primeiros meses de cultivo a oferta diária de ração passa a ser de
5% da biomassa total de camarões do viveiro, diminuindo para 4% no 5º mês e
3% no 6º mês.

43
9.8 Controle de Predadores e Competidores

A atividade de carcinicultura está sujeita a uma série de fatores, muitas vezes de


caráter imprevisível e oportunista que podem influir negativamente na
produtividade do viveiro (SEBRAE/ES, 1992). Um destes fatores é a presença,
muitas vezes indesejável, de outros animais dentro ou ao redor dos viveiros de
produção. SANDIFER (1983), cita que os predadores, juntamente com a depleção
de oxigênio dissolvido, tem sido responsáveis pelos maiores prejuízos na criação
de camarão.

Segundo DAJOZ (1983), a coabitação de duas espécies pode ter sobre cada uma
delas uma influência nula, favorável ou desfavorável. Evidentemente que a
presença de predadores e de outros seres que possam atuar como competidores
com os camarões, provocará prejuízos tanto maiores quanto mais intensa e direta
forem a predação e competição. Neste caso, sem dúvida, os maiores prejuízos
são causados pelos predadores, entretanto, deve-se evitar também a presença de
competidores, principalmente por ração e espaço.

A tabela a seguir, apresenta os principais animais predadores e competidores


possíveis de serem encontrados nos viveiros de carcinicultura e o tipo de
interação deles com o camarão.

Tabela 01 Predadores ou competidores presentes nos viveiros de engorda do


camarão da Malásia e suas interações.
Animais Nome popular Nome científico Tipo de
interação
Invertebrados lavadeira Odonata (ordem) 1
barata d’água Hemiptera (ordem) 1
caranguejo de água Trichodactilydae (família) 1
doce

Anfíbios sapo Bufo spp. 2


rã Leptodactilus spp. 1e2
perereca Hila spp. 2

Peixes traíra Hoplias malabaricus 1


tilápia Tilápia rendalli 2
Oreochromis nilotica 2

44
lambari/piaba Astyanax spp. 2
carpa comum Ciprinus carpio 2
carpa capim Ctenopharigodon idella 2
cará Geophagus brasiliensis 2
cará ferreira Ciclossoma facetum 2
barrigudinho Poecilia vivipara 2
bagre Rhandia sp. 1e2

Aves martim pescador Cerile sp. 1


garça Casmerodus sp. 1
Egretta thula 1
socó Butorides striatus 1
Mamíferos lontra Lutra longicaldis 1
1- Predação; 2- Competição por alimento.

Dos animais anteriormente citados, os mais indesejáveis em viveiros de cultivo de


camarão da Malásia são:
- Ninfas de Odonata - Forma jovem e aquática da popularmente conhecida
lavadeira ou libélula. São predadores implacáveis, principalmente de pós-larvas.
O desenvolvimento das ninfas de odonatas (odonaiade) chega a durar de um a
cinco anos, tempo sobejamente suficiente para causar grandes prejuízos nos
viveiros de camarão, principalmente em berçários, se considerarmos que a fase
mais vulnerável à predação é a que se segue de pós-larva a juvenil. Para se
evitar a presença desses indesejáveis animais, deve-se realizar o povoamento no
máximo dez dias após o início do abastecimento de viveiros, pois, neste caso, as
pós-larvas crescerão mais rápido que as ninfas da libélula, diminuindo
consideravelmente a predação.
- Traíra (Hoplias malabaricus) - É carnívora e muito voraz, possue dentes
pontiagudos capazes de abater peixes com ¼ do seu tamanho. Em viveiros de
camarão traz grandes prejuízos nas formas adulta e de ovo. É encontrada na
maioria dos rios brasileiros, penetrando nos viveiros, nas formas adulta ou de ovo,
pelo canal de abastecimento. Sua erradicação é muito difícil, pois tem o hábito de
se enterrar na lama dificultando sua captura por redes, como também sua
eliminação quando os viveiros são drenados.

Além dela, existem mais duas espécies de peixes, o bagre (Rhandia sp) e o
lambari (Astyanax ssp) que são comumente encontrados nos viveiros de engorda
de camarão da Malásia, sendo considerados respectivamente predadores e
competidores por alimento (ração).

45
Existem vários métodos para controle de entrada de peixes nos viveiros de
cultivo. O método mais recomendado é o da instalação de telas e filtros de areia e
brita, nos canais de abastecimento e assepsia dos viveiros com cal virgem ou
hidratada. O uso de produtos químicos nestas canaletas não é aconselhável,
dada a alta sensibilidade dos camarões e o grande poder residual que alguns
elementos tóxicos apresentam, com exceção do Rotenona, princípio ativo do
timbó, que tem poder ictiotóxico, proporcionando a morte somente dos peixes nos
viveiros. SEBRAE/ES, (1992), cita que a Rotenona é um veneno seletivo e age
como inibidor do processo de respiração celular em peixes. Recomenda-se utilizar
no máximo de 20 a 40 Kg/ha, quantidade esta não prejudicial aos camarões. A
Rotenona deve ser usada com cuidado para que não haja contaminação do
ambiente externo ao cultivo. A Rotenona vem sendo usada de maneira
clandestina, pois o produto não teria registro junto aos órgãos competentes. Caso
o produtor se decida a usá-la, deve antes, solicitar ao IBAMA, autorização, em
caráter provisório.

Outro método, bastante utilizado é a assepsia do viveiro antes do povoamento,


através da aplicação de cal virgem (CaO), espalhado em toda a sua área. Para
maior eficiência recomenda-se a adição de sulfato de amônia (100 - 200 Kg/ha),
que em altas concentrações, juntamente com o CaO (50 - 60 g/m2), é tóxico pelos
altos níveis de amônia livre liberada com o aumento de pH. Este procedimento
deve ser adotado com a capacidade de armazenamento de água do viveiro em 10
cm.

Decorridas vinte e quatro horas da assepsia, deve-se eliminar a água do


viveiro, tornando-se o mesmo apto para a continuidade da preparação através da
fertilização, abastecimento e povoamento.

46
10.0 Tecnologia Pós-Despesca

Com o objetivo de manter a textura adequada do camarão por um maior período


de tempo, deve-se adotar alguns cuidados especiais, a começar pela despesca. A
morte imediata, após a retirada do produto do viveiro, através do choque térmico,
é procedimento indispensável. A água a ser utilizada no choque térmico deverá
estar bem gelada, utilizando-se preferencialmente gelo em escama. Recomenda-
se adicionar à água, para o choque térmico, solução de hipoclorito, a 5 ppm, para
assepsia.

A sanidade dos produtos de origem aquática em função de sua elevada


perecibilidade é fator fundamental para se alcançar êxito no mercado.

A perda de textura (mushiness) em camarões Macrobrachium rosenbergii, tem


sido relatada em uma série de trabalhos. É importante destacar que a influência
de fatores biológicos do animal vivo tem um impacto muito grande no
comportamento da estrutura do colágeno, proteína muscular, uma vez que esta
proteína tem participação importante na resistência mecânica do músculo cozido.

A velocidade de decomposição está diretamente relacionada à concentração da


flora bacteriana decompositora, que se encontra na superfície corporal, estando a
temperatura diretamente relacionada ao desenvolvimento e à taxa de
decomposição que ocorre nos organismos mortos.

Entre as principais ações técnicas adotadas, citamos:

1 - Realizar a despesca com mais objetividade possível, ou seja, se for total


deve-se drenar o viveiro e recolher todos os camarões, inclusive aqueles de
menor tamanho, tendo providenciado para isto caixas térmicas e gelo suficiente
para a quantidade esperada. Recomenda-se que a quantidade de gelo mínima
para o choque térmico deverá ser três vezes maior que o volume de camarão
previsto a ser despescado. Em colheita seletiva ou parcial, deve-se proceder à
despesca com uma rede de malha seletiva passando-a no máximo duas vezes,
tendo-se o cuidado de cobrir com eficiência o fundo e as margens do viveiro.
Estas medidas amenizam o estresse com a colheita, evitando a morte antecipada
dos animais;

2 - recomenda-se também a não oferta de alimentos, ração, no dia anterior à


despesca, visto que, o trato digestivo cheio induz à deterioração mais rápida;

47
3 - após a despesca, o camarão sob resfriamento, passa por uma toalete,
retirando-se as quelas, antenas e o ápice do espinho rostral, localizado no
cefalotórax (cabeça);

4 - após a toalete, os camarões são classificados segundo os tamanhos pequeno,


médio, grande e especial, com pesos médios de 20, 25, 35 e 45g,
respectivamente. Realizando despescas seletivas já a partir do 4º mês de
engorda, e não estendendo o tempo de cultivo, além dos 7 meses, reduz-se
substancialmente o volume de animais “gigantes”. Esta prática é decorrente de
um esforço que as empresas camaroneiras de todo país fazem no sentido de não
se comercializar animais deste porte, devido aos mais diversos fatores, dentre os
quais citamos:
a - exigência de maior tempo de cultivo aumentando da conversão
alimentar;
b - para produzi-lo em tempo menor, haverá a necessidade de diminuir
consideravelmente a densidade de estocagem acarretando baixas
produtividades;
c - estudos mostram que há alterações em textura e paladar;
d - maiores dificuldades em se alcançar tempo de cozimento satisfatório;
e - maior dificuldade na absorção dos temperos culinários.

5 - após a classificação, o camarão deverá ser acondicionado em bandejas


plásticas ou de poliestireno, envolvidas por um filme de P.V.C. e lacrada por uma
etiqueta adesiva contendo informações sobre a origem do produto, tamanho,
conservação, recomendações de uso, receitas culinárias, supervisão técnica, e
outras.
6 - o congelamento deve ser rápido e o armazenamento em câmaras frigoríficas a
- 18 ºC. Pequenos produtores têm feito opção pela aquisição de refrigeradores
com dispositivo “fast freezing”. Médias e grandes empresas dispõem de infra-
estrutura específica para beneficiamento do camarão, incluindo congelamento por
nitrogênio ou amônia a temperaturas que variam de - 18 a - 40 ºC.

48
Figura 19: Lavagem, toalete e classificação do camarão da Malásia.

49
11.0 Análise dos Riscos
Os riscos desse tipo de negócio são baixos. O produtor deve ter um cuidado
muito especial com a engorda do camarão, o que vai definir a qualidade do
produto. Por isso, é preciso que haja o acompanhamento periódico realizado por
técnico especializado na área.

50
12.0 Estudo de Mercado
O cultivo de camarão de água doce é uma das atividades da aqüicultura que mais
cresce no mundo.

Os dados mais recentes sobre a produção mundial de M. rosenbergii, em


cativeiro, são os fornecidos pela FAO, referentes ao ano de 2002, que registram
uma produção global na ordem de 120.000 toneladas. Dentre os maiores
produtores mundiais, destacamos:

1 – Na Ásia: Índia, Vietnã, Tailândia, China, Bangladesh e Taiwan;


2 – Nas Américas do Norte e Central: República Dominicana, Porto Rico,
México e EUA;
3 – Na América do Sul: Equador e Brasil.

Este considerável crescimento da atividade está diretamente relacionada ao


grande avanço na tecnologia de produção e beneficiamento do produto. Além
disso, a abertura de novos mercados internacionais, como Itália, França,
Inglaterra, vem favorecendo este crescimento.

No Brasil, apesar do seu grande potencial para o desenvolvimento da atividade, a


produção estimada é da ordem de apenas 400 toneladas/ano. Os produtores
estão presentes em praticamente todas as regiões do país, em números
reduzidos e em projetos de pequeno e médio porte.

O Espírito Santo, encontra-se numa situação privilegiada quando comparada com


os outros estados brasileiros. Atualmente, existem aproximadamente 200
produtores de camarão, perfazendo um total de 150 ha de área alagada, tendo
uma capacidade de produção da ordem de 300 t/ano.

Convém acrescentar que o laboratório de larvicultura, situado em Colatina, Norte


do Espírito Santo, mantém uma relação de 350 compradores de pós-larva, sendo
sua grande maioria do próprio Estado e os demais da região vizinha de Minas
Gerais.

51
13.0 Aspectos Financeiros
Os aspectos financeiros para o sistema semi-intensivo são apresentados a seguir.

13.1 - Sistema Semi-Intensivo

Nos casos de os terrenos para implantação serem próprios, os investimentos fixos


serão relativamente baixos.

Estes investimentos para elaboração do projeto simplificado, terraplenagem,


construção das canaletas de captação e drenagem de água, plantio de grama e
compra de instrumentos e ferramentas, para uma carcinicultura em sistema semi-
intensivo para 1,0 ha, com abastecimento de água por gravidade, encontram-se
no quadro a seguir.

Quadro 1 – Investimentos Fixos


Item Discriminação Valor em R$ 1,00
1 Elaboração do Projeto 600,00
2 Terraplenagem (80 horas máquina x 5.600,00
R$ 70,00)
3 Construção das canaletas de 2.000,00
captação, drenagem e monges
4 Plantio de grama 400,00
5 Materiais de apoio (freezer, caixa de 2.000,00
pescado e isopor, rede, tarrafa,
balança, etc.)
Total 10.600,00

13.1.1 - Custo de produção

Mão-de-obra direta

O cultivo de camarões para uma área pequena não precisa de mão-de-obra


especializada em tempo integral, porém é aconselhável contar com a assistência
de um técnico pelo menos uma vez a cada sessenta dias. Projetos de criação
semi-intensivos acima de 8,0 ha comportam um técnico especializado em tempo
integral.

Quadro 2 - Custo da Mão de Obra Direta/Ano


Item Discriminação Quant. Salário mensal (R$) Total (R$)
1 Operário * ½ 150,00 1.800,00
2 Assist. téc. - 150,00 1.800,00
Total - - 3.600,00

* Neste caso, como o operário não possui dedicação exclusiva ao projeto,


podendo ser utilizado em outras atividades da propriedade, foram considerados
somente os gastos seletivamente referentes ao projeto.

52
Materiais diretos

Os materiais diretos que devem ser comprados são: pós-larvas, ração


balanceada, caixas de isopor, fertilizantes, combustível, gelo e embalagens.

Quadro 3 – Custos dos materiais diretos/ano (2 safras)


Item Discriminação Quant. Unid. Preço Unit. Preço total
(R$) (R$)
1 Pós-larvas 150 milh. 28,00 4.200,00
2 Ração balanceada 6.000 kg 1.75 10.500,00
3 Gelo 1.800 Kg 0.20 360,00
4 Diversos (embalagens, - - - 1.600,00
etiquetas, fertilizantes,
comb.,energia, etc.)
Total 16.660,00

13.1.2 - Custo total da produção

Custo total da produção é a soma dos custos da mão-de-obra (R$3.600,00), com


os custos dos materiais diretos/insumos (R$16.660,00), totalizando R$ 20.260,00.

13.1.3 - Custo unitário de produção

Neste estudo, a produção de camarões foi fixada em 3.000 kg/ha/ano, levando-se


em consideração: dois cultivos de engorda de 06 meses cada, período de
berçário de 60 dias, sobrevivência final de 70%, peso médio final de 30 g e
conversão alimentar de 2,0:1.

Para calcular o custo por cada quilo de camarão, divide-se o custo total da
produção pela quantidade de camarão:
R$ 20.260,00 : 3.000 kg = R$ 6,75 (custo unitário de produção).

Tabela 3 - Rentabilidade esperada/ano


Tamanho do parque de cultivo
Discriminação 1 há
Prod. p/ venda 3.000 kg
Preço médio R$ 10,50
Receita bruta R$ 31.500,00
Custo operacional R$ 20.020,00
Lucro operacional R$ 11.480,00

53
14.0 Fluxograma de Produção

RAÇÃO PÓS - LARVAS FERTILIZANTES

VIVEIRO DE ENGORDA

DESPESCA

SELETIVA TOTAL

CHOQUE TÉRMICO

SELEÇÃO E TOALETE

ESTOCAGEM CÂMARA FRIA OU FREEZER

COMÉRCIO

54
15.0 Glossário

- Aeróbio: Organismo que para se manter vivo depende da existência de


oxigênio no ambiente para poder respirar;

- Bênton: Comunidade de seres animais (zoobentos) ou vegetais (fitobentos)


que vivem no fundo de lagos, rios e oceanos;

- Biomassa: é a somatória do peso de todos os organismos cultivados dentro de


um sistema fechado;

- Degradação: perda de qualidade em relação a uma condição inicial;

- Degradação ambiental: processo gradual de alteração negativa do ambiente,


resultante de atividades humanas que podem causar desequilíbrio e
destruição, parcial ou total, dos ecossistemas;

- Despesca: ato de retirada total ou parcial dos animais aquáticos das estruturas
de cultivo;

- Ecossistema: conjunto de fatores bióticos (vivos) e abióticos (não vivos) que


interagem entre si, num mesmo espaço geográfico;

- Erosão: processo de carreamento de material dos solos;

- Exoesqueleto: esqueleto externo (carapaça) formada por uma estrutura rija


que se desenvolve externamente em certos animais;

- Filogenia: grande divisão sistemática para classificação dos animais;

- Fitoplâncton: vegetais (geralmente algas unicelulares) que se movimentam à


deriva na coluna de água;

- Fotoperíodo: fase luminosa de um ciclo claro-escuro. Período de luminosidade


durante o dia;

- Fototactismo: resposta direcionada ao estimulo luminoso;

- Homotermo: animal que mantém sua temperatura corpórea constante,


independentemente das variações térmicas do ambiente;

- Macrófitas aquáticas: vegetais (superiores) que habitam desde brejos até


ambientes verdadeiramente aquáticos; incluem-se vegetais que variam desde
macroalgas até angiospermas; podem ser submersas ou emersas;

- Metabolismo: conjunto de reações químicas de um organismo necessárias à


manutenção da vida;

55
- Onívoro: ser que se alimenta de tudo, sem ser exclusivamente carnívoro ou
herbívoro;

- Organoléptica: Propriedade dos corpos ou substâncias que impressiona os


sentidos;

- Patógeno: capaz de produzir doenças;

- Pecilotermo: ser que altera sua temperatura corpórea de acordo com as


variações térmicas do ambiente;

- pH: potencial hidrogeniônico. Refere-se à concentração de íons hidrogênio na


água, definindo o “grau de acidez”;

- Plâncton: comunidade de seres animais (zooplâncton) ou vegetais


(fitoplâncton), que vivem em suspensão nas águas doces, salobras e
marinhas, e são conduzidos ao sabor das correntes;

- Poro Urogenital: orifício externo por onde são eliminados os produtos da


excreção e os gametas;

- Taludes: são as “barragens” (estruturas de contenção de água) dos viveiros de


cultivo;

- Timbó: designação comum a plantas basicamente leguminosas e


sapindáceas, que produzem efeitos narcóticos em peixes e, por isso, são
usadas para pescar. Fragmentadas e esmagadas, são lançadas na água; logo
os peixes, como que anestesiados, começam a boiar e podem ser facilmente
capturados à mão;

- Turfas: solos muito ricos em matéria orgânica. Apresentam coloração escura,


consistência pegajosa e odor fétido;

- Zoobentos: animais que vivem presos, sobre ou próximos ao fundo oceânico,


leito de rios ou fundo de lagos;

- Zooplâncton: pequenos animais (principalmente microcrustáceos e bactérias)


que se movimentam à deriva na coluna de água;

56
16.0 Referências Bibliográficas

- CASTAGNOLLI, N. 1992. Criação de Peixes de Água Doce. Jaboticabal,


FUNEP, 189p.

- CAVALCANTI, L. B.; CORREA, E. S.; CORDEIRO, E. A. 1986 Camarao,


Manual de Cultivo do Macrobrachium rosenbergii (pitu havaiano gigante da
Malásia). Aquaconsult, Recife. 143p.

- DAJOZ, R. 1978. Ecologia Geral. Ed. Vozes, 3ª edição, 474p.

- ESTEVES, F de A. 1988. Fundamentos de Limnologia. Ed. Interciência/Finep.


Rio de Janeiro.

- NEW, M. B. e SINGHOLKA, S. 1984. Freshwater prawn farming. A manual for


the culture os Macrobrachium rosenbergii. FAO Fishery Technical, (225):1 118.

- ODUM, E. P. 1985. Ecologia. Interamericana, Rio de Janeiro, 434p.

- PREISENDORFER, R. W. 1986. Secchi disk Science: Visual optics of natural


water. Limnol. Oceanogr. 31:909 926.

- RODRIGUES, J. B. R. 1991. Manual de cultivo de camarão de água doce


Macrobrachium rosenbergii na região Sul do Brasil. Florianópolis, UFSC. 76p.

- SEBRAE/ES. 1995. Serviço de apoio às Micro e Pequenas Empresas do


Espírito Santo. Diagnóstico da Carcinicultura no Espírito Santo. Relatório Final.
CTA.

- TAVARES, L. H. S. 1995. Limnologia Aplicada à Aqüicultura. Jaboticabal.


Funep. 79p. (Boletim técnico da CAUNES n.1).

- VALENTI, W. C. 1989. Efeitos de densidade populacional sobre o cultivo do


camarão Macrobrachium rosenbergii (De Man, 1819) no Norte do Estado de
São Paulo: analise quantitativa (Crustácea, Pataemonidae), São Paulo, USP.
132p (Tese de Doutorado).

- VALENTI, W. C. 1998. Carcinicultura de Água Doce. Tecnologia para


produção de camarões. IBAMA/FAPESP. 383p.

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