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A FILHA DE SIÃO

É oportuno lembrar-nos da mulher, síntese do feminino. O Natal está vinculado


a ela. O que pretendo dela apresentar, ultrapassa de longe a fantasia da
“mulher ideal”, presente no mundo masculino. Mas fundamenta-se em fatos
pouco abordados. Já no século XIII o grande teólogo escocês Duns Scotus
afirmava que o Criador, ao planejar o Universo, pensou primeiro em Cristo, a
quem pertenceria toda a obra da criação. Mas em seguida pensou em Maria,
não só como a mãe do Senhor do Universo, mas também como o feminino da
humanidade e de todos os seres vivos. O Concílio chamou Maria de Filha de
Sião, aplicando a ela o que está em Mt 21, 5. Assim ela foi reconhecida como a
figura do povo eleito, portadora das promessas a serem cumpridas na plenitude
dos tempos (LG 55). Com ela os tempos alcançam a sua plenitude.

Quem sabe, estou abusando. Mas o caro leitor não sentirá dificuldades em
acompanhar o raciocínio dos teólogos. O que significa a expressão “Filha de
Sião”? No seu sentido original se refere a uma parte da cidade de Jerusalém,
onde moravam os pobres. No meio da vacilação geral sobre as promessas
messiânicas, acarretada pelo exílio babilônico, e pelo aparente fracasso da
profecia davídica, essa população dos “anawim” (pobres), era portadora das
esperanças de Israel. Era o “pequeno resto”, que mantinha as esperanças.
Maria foi a herdeira e representante do povo eleito. A representação abstrata
de Sião, nela se personifica. Se os filhos de Abraão não percebem a presença
do Messias, para nele crer, Maria se torna o lugar da residência divina. Ela
deixa de ser apenas uma pessoa isolada, para tornar-se uma entidade coletiva,
que acolhe numa fé profunda, as promessas divinas de salvação. Ela porta,
verdadeiramente, em sua pessoa concreta, o destino do povo eleito, mesmo se
em algumas ocasiões se tenha reduzido a um pequeno grupo. A Mãe do
Messias não é uma simples componente da Igreja. Mas todo o mistério do povo
de Deus se encontra nela, e tem nela a sua expressão eminente. Ela é a
continuação da comunidade vetero-testamentária. Por meio de Maria, Sião deu
à luz um povo novo. “Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1, 33) é a
maternidade perpétua, e a continuidade da Filha de Sião.

Dom Aloísio Roque Oppermann

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