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Vida de Cristo II 1

VIDA DE CRISTO
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Vida de Cristo II 2

A Formação dos Discípulos, Ensino e Milagres no Ministério de Jesus

A Primeira Fase do Ministério: Judéia

João 1.35-51 – Os Primeiros Discípulos


Os primeiros discípulos de Jesus foi resultado do ministério de João, o Batista, e do
seu testemunho acerca de Jesus. Esta narrativa é bastante independente da tradição
sinóptica e alude ao fato de um ministério inicial de Jesus na Judéia.
v. 37 – Por causa do testemunho de João, dois dos seus discípulos seguiram a
Jesus. Um deles se chamava André, (conferir v. 40), e, o outro, a tradição afirma ser João
devido a outras designações existentes nesse evangelho (13.23-26; 18.15-16, etc.).
v. 38 – A pergunta de Jesus “a quem buscais” reflete a inquirição sobre o real sentido
da busca (Zêtein), indicando na linguagem do evangelista um movimento do homem para
alguma coisa em particular, sob impulso de amor ou ódio. A resposta dos discípulos “Rabi,
onde moras?”, reflete suas intenções para com Jesus. Em primeiro lugar, “Rabi” é uma
palavra que significa literalmente “o meu grande”. Os rabis de Israel costumavam ensinar
junto à própria casa. Os dois discípulos mostraram que de agora em diante seu mestre era
Jesus. Mas, o verbo morar (ménein) tem em João conotações mais profundas (ver v. 39).
v. 39 – Os verbos aparecem com o objetivo de retornar a frase antecedente, quanto
ao significado. Entretanto eles representam outros dois elementos importantes na formação
dos discípulos do Senhor – “permaneceram com ele”, o verbo ainda tem sua raiz em
“ménein”. No quarto evangelho essa construção é usada em outras passagens e indica uma
aproximação íntima e de um relacionamento de instrução e de iluminação (ver 4.40; 14.25;
14.17). No v. 41 se afirma que depois desse permanecer com Jesus, os dois discípulos
encontraram o Messias. “Achamos” é a conclusão à qual chega a compreensão progressiva
dos discípulos e o caminho do homem rumo à fé. As etapas, portanto, são: seguir a Jesus
(v.37), procurar (v.38); ir, ver e permanecer com ele (v. 39); por fim, achar (v. 41).
v. 43 – Felipe – Após o chamado de Jesus, comportou-se como verdadeiro apóstolo
(a exemplo de André que conduziu seu irmão, Simão).
v. 46 – A resposta de Natanael ao convite de Filipe toca no problema da origem de
Jesus. Muitos tinham dificuldades de crer em Jesus, uma vez que estava escrito que o
Messias devia vir de Belém, não da Galiléia (7.41,42).
v. 47 – “um verdadeiro israelita em quem não há dolo”- isto é um homem digno de
trazer o nome “Israel”. Sabemos da Bíblia que o nome de Jacó mudado para Israel, quando
ele viu a Deus “face a face”. Vêm à mente as palavras de Paulo em Rm. 9.6 “porque nem
todos os de Israel são de fato israelitas”. As palavras de Jesus definem profundamente o
caráter de Natanael sob o aspecto humano e pessoal, e ainda sob o aspecto religioso.
v. 48 – “De onde me conheces?” – É um pedido de um sinal que supere a sua
perplexidade. O sinal dado por Jesus é “..eu te vi”, o que convence Natanael de estar à
frente de um ser superior, ao qual lhe reconhece a messianidade.
v. 50 – A pergunta de Jesus tem como objetivo solicitar ao discípulo que progrida na
sua fé. A afirmativa do v. 51 evoca a visão de Jacó como referencial para admissão do seu
cumprimento em Cristo. O título Filho do Homem, no quarto evangelho, é usado como a
“exaltação” (3.14; 8.28; 12.34), com o juízo escatológico (5.27); e com a glorificação (12.23;
13.31).

João 2.1-11 – O Primeiro Milagre de Jesus


A estrutura do texto é nítida: introdução que apresenta as circunstâncias do fato (1-
2); o diálogo entre Maria e Jesus (3-5); o milagre (6-8); a consideração do mestre-sala (9-10)
e a conclusão (11).
Caná : cidade da Galiléia situada a 10 km de Nazaré.
“mãe de...” – este tipo de designação era honorífico no Oriente.
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O vinho: em conexão com um banquete nupcial era um elemento importantíssimo,


pois significava a alegria proveniente da salvação em tempos messiânicos.
v. 4 – “mulher que tenho eu contigo?”- não é um gesto de censura ou desprezo à sua
mãe, mas uma demonstração da diferença de valores. Ele se preocupa com a ausência do
vinho messiânico e ela, com a ausência do vinho material. Esta conclusão é possível pela
frase que se segue “ainda não é chegada a minha hora”, que no 4º evangelho sempre está
relacionada com o cumprimento da Missão de Jesus. Com relação ao milagre mostra que a
particular existência messiânica se processa de acordo com o ritmo do Pai.
v. 6 – As talhas que os judeus usavam nas purificações – o costume rigoroso de
lavar as mãos antes e depois das refeições. Duas ou três medidas correspondia cerca de 40
litros, fazendo-nos supor uma quantidade total de aproximadamente 240 litros. Uma
quantidade enorme que simboliza a abundância do Dom de Jesus.
v. 11 – A este milagre, João o chama de “sinal” que significa literalmente “começo
dos sinais”. “Sinal” é um termo técnico joanino que designa os milagres de Jesus sob o seu
aspecto particular de gestos reveladores. Nos sinópticos, os milagres são vistos como atos
de poder sobre Satanás e cumprimento dos tempos messiânicos.

João 2.13-25 – A Primeira Páscoa em Jerusalém e o Sinal do Templo


Páscoa: era a maior festa judaica na qual se recordava a libertação de Israel, do
Egito.
No templo era freqüente a presença de cambista para trocarem as moedas de maior
circulação (o denário, romano e a dracma, grega), pela moeda aceita para pagamento das
taxas que todo israelita maior de idade deveria pagar no Templo, o “siclo”.
v. 15 – Jesus fez um açoite. Os antigos rabinos acreditavam que o Messias viria
munido de um açoite, com o qual fustigaria a imoralidade. Este fator unido à declaração de
Jesus – “casa de meu Pai”- relembra Zc 14.21. A ação de Jesus foi, portanto, compreensível
a todos como profética e messiânica. Por isso os judeus lhe pediram um sinal (v.18). Eles
exigiam a realização de algo espetacular que comprovasse a sua autoridade, semelhante o
ocorrido com Moisés, no Egito (Ex 4.30-31).
v. 19 – Templo – a palavra usada “naós”, que significa a parte mais sagrada do
templo. A expressão relembra Os 6.2, onde se nota certa “escada numérica”, provavelmente
no sentido de pouco tempo. Jesus alude a si mesmo como templo de Deus que será
destruído, mas também ressuscitado. Suas palavras não foram compreendidas neste
sentido, mas foram entendidas com relação ao templo material.

João 3.1-21 – Jesus e Nicodemos


Nicodemos: príncipe dos fariseus, membro do Sinédrio.
v. 2 – Nicodemos manifesta certa fé, embora débil, originada nos sinais que Jesus
realizava. A expressão “pois ninguém...” é uma conotação que revela honestidade.
v. 3 – A afirmação de Jesus corresponde à profissão de fé de Nicodemos, na
seguinte disposição:
“quem não nascer do alto...” evoca “se Deus não estiver com ele”.
“não poderá ver o Reino de Deus” evoca “sabemos que vieste como Mestre da parte
de Deus”.
A uma fé imperfeita, baseada em sinais, como a de Nicodemos, Jesus contrapõe a
necessidade do nascimento do alto para se chegar à verdadeira fé nele.
v. 4 – Nicodemos entendeu em sentido físico o nascimento de fala Jesus. É bem
farisaica a questão, pois entendia-se que a pertença do Reino de Deus era um direito ligado
à raça hebraica e à geração carnal.
v. 5 – Alude a Ez 36.25-26; Is 44.3, onde a efusão da água e do Espírito foi
prometida ais que crêem. A ação do Espírito em conexão com a Palavra criam no homem a
fé, a compreensão sobrenatural e a adesão ao Cristo (entrada no Reino).
v. 6 – “carne...espírito...”- significam o “humano” contrapondo-se ao “divino”. Jesus
anuncia o princípio de que “o que é gerado tem a mesma natureza do que gera”
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V. 7 – O fato apresentado por Jesus não deve ser um obstáculo à fé, porque não
deve ser entendido carnalmente. Ele afirma que é vontade de Deus – “é preciso” que os
judeus (“importa-vos) nasçam do alto para poderem chegar à verdadeira fé em Deus.
v. 8 – “O vento...” – é um cumprimento do v. 6. O grego “pneuma” significa ao mesmo
tempo “vento” e “espírito”.
v. 9-21 – a incompreensão de Nicodemos diante da revelação divina, suscita de
Jesus a retribuição do título que Nicodemos lhe dera “Mestre” (v. 2). Exprime certa ironia,
pois Nicodemos é reconhecido como representante dos guias espirituais do povo escolhido.
A veracidade do testemunho baseia-se na sua sabedoria e no que viu. Ser humano
algum pode falar do que não ouviu ou não viu. A base do testemunho é a ciência do plano
salvífico de Deus, que age segundo o seu amor, a fim de que todos tenham adesão
completa na pessoa de Cristo, enquanto unigênito Filho de Deus.

Motivos porque Jesus deixou a Judéia

A prisão do Batista e a crescente fama do ministério de Jesus, fez com que os


fariseus e membros da liderança da nação deslocassem sua atenção sobre ele (conf. Mt
4.12; Mc 1.14). Jesus então se afasta do centro do judaísmo, onde o controle da liderança
judaica seria mais rígido.

João 4.1-42 – O Ministério de dois dias numa aldeia de Samaria


V 4 – “Tinha de passar por Samaria...” – A expressão designa mais a vontade de
Deus do que a única opção de passagem para a Galiléia. Ele poderia Ter seguido o
caminho comum aos judeus: pelo Vale do Jordão; evitando assim a odiada Região de
Samaria.
Sicar: aldeia situada a aproximadamente 60km ao norte de Jerusalém, ao pé dos
montes Ebal e Gerizim.
O tempo judaico era contado do nascente do sol ao poente. “Cerca da hora Sexta”
seria perto do meio dia. As mulheres costumavam tirar água do poço pela manhã ou no final
da tarde este horário (meio-dia) sugere que aquela mulher evitava multidões por possuir
uma moral duvidosa.
Quanto ao preconceito dos judeus para com os samaritanos, sabe-se que é uma
questão histórica, desde o tempo da divisão dos dois reinos e da mistura racial com os
gentios. Os judeus não comiam nem bebiam em utensílios tocados por lábios de
samaritanos com medo de uma contaminação ritual. O pedido de Jesus causa impacto na
mulher porque representa abrir mão do preconceito judaico.
Jesus se revela como agente da generosidade de Deus e não da mesquinhez do
judaísmo. A mulher entende a “água viva” como sendo a fonte da qual se origina o poço. O
patriarca Jacó fora obrigado a cavar profundamente para tirar água de uma mina. Esse
sistema continuava intacto durante mais de um milênio. Jesus então lhe mostra que o “novo
Jacó” não escava seus poços na terra, mas no coração dos homens. Como um dinamismo
“vivo”, esta realidade espiritual não se acumula como a água em uma cisterna, mas jorra
poder como uma fonte para a vida eterna.
v. 15 – A situação é invertida. Agora é a mulher quem pede de beber, embora que
este pedido seja procedente de um entendimento superficial daquilo que Jesus falou e
também parte de um desejo egoísta.
v. 16-18 – Jesus a confronta com a sua realidade de ruínas. Os rabis admitiam no
máximo três casamentos. Ela já havia ultrapassado esse limite. Jesus faz cair por terra a
máscara.
v. 19 – Ao perceber que ele expusera seu pecado, ela reconheceu nele o caráter do
profeta; e que sua necessidade urgente era o culto a Deus, pois somente através dele pode
se obter o perdão. Mas onde está a verdade acerca do culto? Com os judeus ou com os
samaritanos?
v. 21-24 – Jesus ratifica a verdade de que Deus escolhera o povo de Israel, para que
através dele o culto fosse estabelecido pelo conhecimento da revelação de sua palavra. Mas
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chegaria a hora em que o culto não mais dependeria de formas exteriores tais como locais
ou rituais de adoração, mas o próprio Deus permearia o ser humano e o conduziria a si em
perfeita adoração.
v. 25 – O conhecimento do Messias para os samaritanos está relacionado a um
profeta que ensinará a lei de Deus e restabelecerá todas as coisas. Jesus se apresenta
como sendo este que vem de Deus para anunciar todas as coisas.
v. 27-30 – Com a chegada dos discípulos, a mulher deixa o cântaro e anuncia em
forma de questionamento acerca de Jesus. Os habitantes daquela cidade vão ao encontro
dele para verificar.
v. 31-38 – Os discípulos vieram suprir uma necessidade física de Jesus; em
contrapartida, Jesus declara que sua necessidade maior era fazer a vontade de Deus e
realizar a sua obra. Mostra-lhes os “campos brancos” nos samaritanos que se dirigiam a Ele.
Repercussão:
“Muitos creram por causa do testemunho da mulher” (v.39)
“Outros pediram a Jesus que permanecesse com eles” (v. 40)
“Muitos creram por causa de Sua Palavra e o reconheceram como o Salvador do
Mundo”.

A Segunda Fase do Ministério : Galiléia

Introdução ao Ministério na Galiléia


É a fase mais longa do ministério de Jesus. Dezoito meses foram dedicados nesse
território. Em Cafarnaum ao norte do Lago Tiberíades (ou Mar da Galiléia) foi estabelecida a
Base Missionária de Jesus – Nas suas idas e vindas em viagem pelo Mar, à Judéia e outros
territórios sempre tinha nessa cidade o ponto de partida e chegada. Muitas curas e milagres
foram realizados (Mt 11.20-30). Muitas perseguições e especulações dos fariseus foram
empreendidas. À medida em que seu ministério adquiria fama, também se cercava de
hostilidades.
Principal ponto de tensão entre Jesus e os fariseus: o Sábado.
Mt. 12.1-8; Mc 2.23-28; Lc 6.1-5 – os discípulos colhiam espigas no Sábado, não
para antagonizar com os fariseus, mas porque estavam genuinamente famintos. Dt 23.25
permitia tal prática. Assim sendo, eles eram acusados não pelo ato de comer em si, mas
porque esfregavam os grãos nas mãos para separar o grão limpo da palha. Jesus mostra
que as necessidades humanas estão acima das minúcias técnicas e legais. Ele apela ao
fato de I Sm 21.1-6 e em Nm 28.9 e 10.
Mc 3.1-6; Mt 12.9-14; Lc 6.6-11 – outra controvérsia levou os fariseus a juntarem
forças com os herodianos e participarem do ódio comum a Jesus

O Círculo dos Doze


a) O número de doze discípulos e o termo “povo de Deus”
Mc 3.13-19 e paralelas, narra como este grupo foi escolhido por Jesus.
Segundo Mt 19.28, os doze são testemunhas escatológicas do Filho do Homem
frente a Israel, quando de sua aparição com poder e glória para julgamento. Portanto, o
número está relacionado com as doze tribos de Israel. Entretanto não é uma grandeza
histórica, pois as dez tribos do norte não haviam regressado do Exílio, mas, esperava-se o
restabelecimento do “povo de doze tribos” no tempo messiânico. No presente, apenas se
designava Israel, em sentido figurado. De sorte que o “número de doze” pode designar duas
coisas:
1º) Jesus chama todo o povo da promessa ao Reino de Deus
2º) ele quer criar um novo Israel. A tradição vê em Ap 21.14 nos doze, as pedras
fundamentais da comunidade escatológica.
Segundo I Co 15.3-5, os doze são testemunhas pascais.
Mas, quem são os doze?
Simão, chamado Pedro: Simão, Pedro era filho de João ou Jonas (Jo 1.42),
conhecido pescador da Galiléia. Ele encabeça a lista dos apóstolos, nos Sinópticos, o que
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sugere certo grau de consideração por parte dos escritores. De fato, Pedro emergiu como
líder mais influente da comunidade primitiva. Eusébio dá o ano 68 d. C. para a morte de
Pedro, e segundo relato do mesmo autor, o apóstolo morreu crucificado de cabeça para
baixo, nos jardins de Nero. Existe um número considerável de evidências extra-bíblicas que
aludem ao fato de Pedro Ter passado os últimos anos de sua vida em Roma e Ter sido
sepultado no local onde atualmente se encontra a “Basílica de São Pedro”.
Tiago, filho de Zebedeu: era o irmão de João e foi o primeiro a sofrer como mártir,
durante o governo de Herodes Agripa I. Morto ao fio da espada, no ano 44 d. C. Diz a
tradição que ele foi o primeiro missionário da Espanha. A tradição católica romana crê que
seus ossos estão sepultados na atual cidade de Santiago, ao Noroeste da Espanha.
João: era irmão de Tiago, e ao que parece, mais novo do que ele, pois seu sangue
sempre é citado após o do seu irmão. Uma tradição diz que era filho de Salomé, que por sua
vez era irmã da mãe de Jesus. Sendo assim, tanto Tiago como João eram primos de Jesus.
Ao que parece, a família de João era quem fornecia peixe ao sumo-sacerdote, razão pela
qual seria conhecido deste (conf. Jo 18.15). Foi o único que permaneceu ao pé da cruz por
ocasião da morte de Jesus. Quando ouviu dizer que Jesus havia ressuscitado foi o primeiro
a correr para o sepulcro, contudo, deixou que Pedro entrasse antes dele na câmara
mortuária. (Jo 20.1-4,8). A tradição diz que esse apóstolo cuidou da mãe de Jesus enquanto
pastoreava a Igreja de Éfeso e que Maria ali morreu. Tertuliano afirma que ele foi levado a
Roma e “lançado em óleo fervente, saiu ileso, e então foi exilado numa ilha” – a ilha de
Patmos. Acredita-se que ele viveu até idade avançada e seu corpo foi devolvido a Éfeso
para sepultamento.
André: seu nome significa “varonil”. A tradição afirma que ele era fisicamente forte,
homem devoto e fiel. Era irmão de Pedro, com o qual morava na mesma casa (Mc 1.29). Ele
viveu seus últimos dias na Cítia, ao norte do Mar Negro, foi crucificado numa cruz em forma
de X, a qual a tradição denominou de “cruz de Santo André”.
Filipe: Jesus encontrou com Filipe durante a 1ª fase do seu ministério. A vida desse
apóstolo fica na obscuridade pela pouca informação que se tem a seu respeito. Sabe-se de
Jo 1.26 do seu encontro com Jesus e posteriormente testifica dele a André. De Jo 6.7, a
pergunta que faz por ocasião da multiplicação dos pães. De Jo 12.20-22 sobre o contato
que teve com alguns gregos que desejavam ver Jesus; e, de Jo 14.8, quando ele pede para
Jesus mostrar o Pai. Algumas tradições dizem que ele pregou na França, no Sul da Rússia,
na Ásia Menor ou até na Índia. No ano de 194 d.C. o bispo Polícrates de Antioquia escreveu
que “Filipe, um dos doze apóstolos, dorme em Hierápolis”. Contudo, não se tem provas
concretas dessas alegações.
Bartolomeu: ou Natanael. Alguns estudiosos dizem que Bartolomeu era o
sobrenome de Natanael. Alguns eruditos acham que este discípulo era de origem nobre e
estava ligado aos Ptolemaicos, família governante do Egito. Esta teoria fundamenta-se em
afirmações de Jerônimo serviu como missionário na Índia, onde foi decapatado pelo rei
Astríages.
Mateus, ou Levi: era um publicano, isto é, oficial de menor categoria contratado
pelos cobradores de impostos oficializados pelo Império romano. Os publicanos recebiam
seus salários, cobrando uma fração a mais do que se empregador exigia. Mateus fazia sua
coleta de pedágio na Estrada entre Damasco e Aco; sua tenda situava-se fora de
Cafarnaum, o que lhe dava oportunidade de cobrar impostos dos pescadores. Normalmente
um publicano cobrava 5% do preço de compra sobre os artigos normais do comércio, e 12%
sobre os artigos de luxo. Como estava associado com o Império, era marginalizado pelos
outros judeus, que o considerava traidor do seu povo. Aos publicanos eram negados
direitos, tais como o de depor em tribunais. Também não se aceitava o troco na hora de
pagar os impostos, para não se contaminarem com o dinheiro vindo de um impuro. Segundo
John Fox, autor do Livro de Mártires, Mateus passou seus últimos dias pregando na Pártia e
na Etiópia.
Tomé: João diz que ele era chamado “gêmeo”. A vulgata latina aplica a palavra
Dídimo, como nome próprio. Ele é bem lembrado pela incredulidade (Jo 20.25), e pouco
lembrado pela sua coragem (Jo 11.16). Os pais da igreja respeitaram o exemplo de Tomé.
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Agostinho afirmou: “Ele duvidou para que não tivéssemos dúvida”. A tradição afirma que ele
foi missionário na Índia sendo martirizado e sepultado em Myiapore, hoje subúrbio de
Madrasta. Seu nome é lembrado pelo próprio título da Igreja Martoma ou “Mestre Tomé”.
Tiago, filho de Alfeu: Alguns eruditos acreditam ser irmão de Mateus, cujo pai tem o
mesmo nome (Mc 2.14). Alguns comentaristas teorizam que esse discípulo trazia uma
estreita semelhança física com Jesus, o que poderia explicar o fato de Judas Ter de beijar o
Mestre por ocasião da traição. Diz uma lenda que Tiago pregou na Pérsia e foi crucificado.
Tadeu, ou Judas: Mateus e Marcos se referem a ele como Tadeu; Lucas o
menciona como Judas, filho de Tiago (Lc 6.16) e João, “como Judas, não o Iscariotes” (conf.
Jo 14.22). O historiador Eusébio afirmou que esse discípulo foi enviado por Jesus ao rei
Abgar da Mesopotâmia, a fim de orar por sua cura. Diz outra tradição que ele foi
assassinado a pauladas e pedradas por mágicos, na cidade de Suanir, na Pérsia.
Simão, o zelote: Mateus se refere a ele como “Simão, o cananeu”, enquanto que
Lucäs “Simão, o zelote. Cananeu é a transliteração da palavra aramaica “Kanna’áh” que
significa “zeloso” ou “zelote”. O que dá a entender que esse discípulo pertencia ao grupo
dos zelotes. A igreja Copta do Egito afirma que ele pregou nesse país, na África, Grã-
Bretanha e na Pérsia. Outras fontes concordam que ele tenha servido nas Ilhas Britânicas.
Nicéforo, de Constantinopla escreveu: “Simão que nasceu em Caná da Galiléia, era
chamado zelote, tendo recebido do alto, o Espírito Santo, viajou através do egito e da África,
depois pela Mauritânia e Líbia, pregando o Evangelho. E a mesma doutrina ele ensinava ao
Mar Ocidental e às ilhas chamadas Britânia”.
Judas Iscariotes: “Iscariotes” significa “homem de Queriote”. Queriote era cidade
próxima a Hebrom, na Judéia. Se Judas era de Queriote, foi o único dos discípulos
procedente da Judéia. Os habitantes da Judéia desprezavam os Galileus e os consideravam
como rudes colonizadores das fronteiras. Judas foi o traidor do Mestre e suicidou-se ao
perceber o que fizera com ele.

A Missão dos Doze – Mt 10; Mc 6.7-13; Lc 9.1-6


A restrição de que os doze “não deveriam ir aos gentios, nem entrar em cidades de
Samaritanos...” mas “...às ovelhas perdidas da casa de Israel” denota que este povo é
necessitado de misericórdia e não um justo merecendo recompensa.
Os discípulos não deveriam possuir ganância de lucro, mas sobriedade e total
abandono à divina providência. Jesus impediu qualquer identificação com outros grupos
itinerantes daquela sociedade. “...pregadores itinerantes não eram estranhos à cena oriental
daquela época. Os pregadores judeus equipados com alforges, bordão e quase nada mais,
viajavam por toda a parte pregando suas mensagens. Semelhantemente, pares de judeus
eram enviados, mas normalmente como coletores de esmolas...”. Os alforges eram usados
para a coleta de esmolas, sob a administração dos religiosos da época. Eles ensinavam a
dar para uma causa justa, para o próprio Deus.
Os discípulos agiriam ao contrário:
- Dariam de graça o que receberam da Graça de Cristo – “de graça recebestes, de
graça daí”
- Não tirariam vantagem da dádiva;
- Se contentariam com o sustento que lhes fosse oferecido
- Não resistiriam com violência às perseguições – fugiriam se fizesse necessário
- Começariam e terminariam a tarefa de proclamar o reino e permaneceriam com a
consciência tranqüila do trabalho executado, independente de seus resultados;
- Não temeriam responder diante das autoridades sobre a razão da fé, mas
confiariam na ação do Espírito Santo

O Código do Reino: Considerações sobre o Sermão do Monte – Mt 5-7

Conhecendo a Lei Israelita


O descobrimento de diversos códigos de Lei das culturas do antigo Oriente Médio,
pela arqueologia, tais como: o código de Hamurabi, a Coleção Suméria de Lipit-ishtar, as
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Leis Acádicas de Eshuna, as Leis Assírias, as Leis Hititas e algumas Leis Babilônicas,
levaram alguns estudiosos a compará-las com o Pentateuco. O resultado dessa
comparação foi a favor de uma Lei geral amplamente difundida, mas variada em detalhes.
Dentre as variações de detalhes está a formulação pela qual foi elaborada a Lei
israelita. Segundo J. Mackensie, “na parte final do Código da Aliança e na maioria dos
outros Códigos aparece uma formulação cuja forma clássica é encontrada no Decálogo: um
simples imperativo ou proibição expresso a Segunda pessoa do singular e no imperfeito. A
Segunda pessoa do plural é usada ocasionalmente. Essa formulação não encontra paralelo
nas outras coleções do Antigo Oriente Médio. Além disso, ela é empregada nas leis morais
e rituais cultuais e nunca em leis cerimoniais...o locutor é o próprio IAWEH. Estas leis
constratando os juízos exprimem a vontade revelada de Iaweh e os termos da Aliança”.
(MACKENZIE, 540).
As fontes da Lei Israelita eram o seu formulador e aqueles que a aplicavam. Por isso,
Iaweh é a Fonte, mas a tradição de quem aplicava a Lei também se revestia dessa
autoridade – o rei, o ancião e o sacerdote. “A autoridade da tradição se baseava na
concepção de Aliança... esse significado se apoia na crença israelita de que a obrigação de
observância da lei constituía o dever de que as promessas da aliança de Iaweh lhes
impuseram”. Dessa forma, a sociedade é considerada um organismo governado por Deus
mas a construção da história dessa sociedade é determinada pela postura do homem com
relação à Lei de Iaweh. Para os judeus, a Torah era um guia para a vida e autoridade
máxima. Por isso observar a Lei era desejar a perfeição; e, para tornar mais fácil alcançar o
objetivo, criou-se mais preceitos para impedir que se quebrasse a mesma – é o surgimento
da “lei oral”, à qual atribuíam o 2º lugar em autoridade.

Jesus e o cumprimento da Lei e dos Profetas – Conf. Mt 5.17

CUMPRIR não significa somente levar uma predição, mas realizar a INTENÇÃO da
Lei e dos Profetas. É mais que uma concretização dos fatos previstos; é a realização de
uma esperança, de um destino, de um plano, de uma realidade.
Mc 1.15 – “O tempo está cumprido...”
Mt 1.22 – “...para que se cumprisse”.
Portanto, Jesus veio para levar à perfeição a revelação da vontade divina, expressa
imperfeitamente na lei, ao mesmo tempo que cumpriu os preanúncios dos Profetas, pois
estes falaram ao Seu respeito. O clímax desse cumprimento foi a cruz. Ele aceitou a Lei
tanto em princípio como compulsória permanente, interpretando Escritura com Escritura e
não segundo a Lei Oral. O que realmente importava era Deus e a postura do homem com
relação a ele; os rituais eram secundários.
A partir de mt 5.21-48, Jesus mostra através de seis ilustrações o que ele queria
dizer com CUMPRIR A LEI sobre o homicídio, o adultério, o divórcio, os juramentos, a
vingança, e o relacionamento com os inimigos.
Nessas ilustrações existem alguns fatores em comum:
- A Lei trata unicamente do ato pecaminoso e sua punição
- Os antigos repassaram o que receberam por intermédio de Moisés e dos
Profetas; a autoridade procede da concepção de aliança
- O coração do homem não possui o caráter ideal para levar a termo o
cumprimento da Lei.

O ensino de Jesus mostra também algumas características básicas do Reino:


- Os que dele participam experimentam do caráter exigido para cumprir a vontade
de Deus;
- Jesus repassa em forma de ensinamento essa vontade, com autoridade pessoal
e usando a 1ª pessoa do plural, o que indica ser ele próprio o interlocutor da
mesma; como no V. T. o era Yaweh.
- O mal existente no coração humano deve ser tratado para que o homem alcance
o ideal do Reino. Não adianta preocupações com os atos pecaminosos, quando o
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coração continua com a velha natureza. Torna-se necessário uma natureza nova
para se obter um novo comportamento, que agrade a Deus identificando-o com
ele em caráter.

A parábola do Semeador – Mt 13.18

Talvez pareça estranho que o semeador tenha espalhado as sementes pelo caminho
– que em nossa cultura indicaria desperdício. Na verdade os aldeões da Galiléia assim
procederiam porque abriam “picadas” através dos campos devido a ausência de um sistema
de estradas. Esses aldeões não aravam a terra antes do plantio, mas depois. A razão era
bastante simples. Eles dificilmente poderiam prever onde haviam ficado as sementes
lançadas ao solo; a fina camada do solo também impedia que eles recebessem as rochas
abaixo da superfície, noutras porções do campo. Os pássaros mergulhavam afim de
apanhar as sementes que ficassem expostas sobre o terreno endurecido dos caminhos.
Após a lavragem a semente caída em solo de pouca profundidade germinava primeiro,
porquanto só lhe restava uma direção para desenvolver-se, ao mesmo tempo que o calor
absorvido pelas rochas fazia as plantas germinarem mais rapidamente; entretanto, a
ausência de profundidade ressecava os brotos e os fazia morrer. Em outras áreas, as
sementes de espinhos e abrolhos ressequidos no ano anterior eram revolvidas durante a
lavagem, juntamente com a boa semente. E as sementes daninhas germinavam e
sufocavam as tenras plantinhas do cereal. Finalmente, porém o bom solo produzia uma
colheita compensadora.
Também o reino é semelhante: Deus resolve introduzi-lo através de meras palavras (
a semente), ou seja, a pregação do Evangelho (figuradamente da semeadura). Agora,
depende do tipo de receptividade que os homens dão à Palavra. Os que bem a recebem
produzirão resultados surpreendentes: “a trinta, a sessenta e a cem por um”, palavras estas
que significam que tantas e tantas vezes mais sementes serão produzidas do que aquelas
que foram semeadas. A proporção trinta por um fazia a média; sessenta por um era colheira
excelente; cem por um, uma colheita extraordinária. Jesus ensina que no final, a Palavra do
Reino terá produzido resultados favoráveis, além de toda a expectativa.

Mc 4.26-29 – A Parábola da lavoura em desenvolvimento

Nessa parábola a semente germina e se desenvolve sem qualquer poder criativo por
parte daquele que a semeia. Jesus nega que o Reino seja obtido pelos esforços e
realizações humanos (como o legalismo farisaico; ou as tentativas dos zelotes para o
tornarem pela espada).

Mc 13.24-53 – A Parábola da semente de mostarda e do fermento

Ao comparar o Reino com uma semente de mostarda, Jesus antagoniza com o


conceito de que o Reino de Deus seria inaugurado entre deslumbrantes manifestações de
glória, com vitórias militares, sobre os poderes gentílicos – os supostos primórdios do Reino.
Para Ele, esses primórdios era quase que invisível, embora seu final seria extremamente
ponderável.
A parábola do fermento aponta na mesma direção: 3 medidas eqüivalem a cerca de
23 kg de farinha, uma imensa quantidade. O reino pode ser comparado em seu início com
uma pequena quantidade de fermento que faz uma quantidade de massa se avolumar
extraordinariamente – em seu final ele dominará a terra inteira.

A Terceira Fase do Ministério : Época das Retiradas

1ª Retirada: de Betsaida Júlia – viagem pelo Mar da Galiléia – Chegada em


Cafarnaum
Vida de Cristo II 10

A 1ª multiplicação dos pães – Mc 6.30-46; Lc 9.10-17; Mt 14.13-23; Jo 6.1-15


O que levou a multidão a querer fazer de Jesus o rei, após o milagre da multiplicação
dos pães?
Jesus realizou este milagre na estação primaveril da Páscoa, exatamente o tempo do
ano em que os judeus esperavam que o Messias se manifestasse. Outrossim, os judeus
esperavam que o Messias repetisse o milagre veterotestamentário do maná, alimentando-os
qual um segundo Moisés por ocasião do banquete apocalíptico. Os papiros do Mar Morto
contém ilustrações sobre os arranjos das mesas, por ocasião desse banquete.
Consequentemente quando ele faz o milagre, na época esperada pelos judeus, esses se
manifestaram para coroá-lo. Entretanto, Jesus fugiu da coroação política. A partir desse
episódio, a sua popularidade transmutou em declive.

A discussão com os fariseus – Mc 7.1-23; Mt 15.1-20; Jo 7.1


Visto que Jesus não compareceu à festa da Páscoa, as autoridades judaicas
enviaram uma delegação que investigasse as atividade dele. Os membros de tal delegação
criticaram os discípulos de Jesus, porque comiam com mãos cerimonialmente impuras (a
higiene não era a questão em foco). Em resposta à critica, Jesus indagou por qual razão
eles transgrediam a Lei de Deus, na observância de suas tradições. E citou um exemplo: um
filho que quisesse evitar a obrigação de sustentar ou dar algo útil a seus progenitores
necessitados, de acordo com os rabinos, que dedicasse a Deus, como uma oferta futura, o
que teria de dar aos seus pais, não lhe sendo mais legal ajudar os mesmos. Entrementes, o
filho retinha a posse e o uso de tal item para si mesmo. Jesus declarou em seguida o
princípio de que a contaminação espiritual interna é mais importante do que a mera
contaminação cerimonial.

2ª Retirada: para as terras de Tiro e Sidom (Fenícia, ou o nosso moderno


Líbano)

Mc 7.24-30; Mt 15.21-28 – Jesus foge das multidões, mas não permanece em


oculto, uma mulher siro-fenícia o procura para que a sua filha seja liberta do demônio. No
diálogo que houve, “filhos” se referem aos judeus; “cachorrinhos” aos gentios. Geralmente
os judeus chamavam os gentios de “cães”. A expressão utilizada por Jesus significa “animal
doméstico de estimação”. A mulher apegou-se esperançosamente a essa expressão, a fim
de argumentar que até os gentios esperavam uma migalha da graça de Deus, caída da
mesa do banquete messiânico. Foi preciso grande fé da parte dela, para conceber que o
livramento de sua filha seria para o Cristo, o equivalente a uma migalha.

Mc 7.31 – 8.10; Mt 15.32-39 – A cura de um surdo e gago – a Segunda


multiplicação dos pães
A cura do surdo e gago e a Segunda multiplicação dos pães ocorrida nesse território
sugere a participação de muitos gentios. Conforme os judeus foram rejeitando mais e mais a
Jesus, os gentios sempre em número crescente, foram participando das bênçãos. Esses
eventos fizeram com que as delegações farisaicas que sempre estavam de olho em Jesus,
promovesse uma perseguição crescente contra Ele.

Mc 8.10-12; Mt 15.39 – 16.4 – Os fariseus pedem um sinal do céu


Diante dos milagres executados por Jesus, os fariseus e saduceus lhe pediram um
sinal do céu, talvez porque faltasse o “espetacular” que caracterizaria o personagem do
Messias. Jesus, então, acusa-os de serem inteligentes para saber que um mesmo
fenômeno atmosférico pode significar coisas diferentes em ocasiões diferentes, mas eram
incapazes de reconhecer o óbvio sinal de que os tempos messiânicos eram chegados.
Uma instrução aos discípulos: guardar-se dos fermentos dos fariseus e dos
saduceus. O fermento dos fariseus era o legalismo rígido e o dos saduceus era o
materialismo e anti-supermaturalismo.
Vida de Cristo II 11

3ª Retirada: Para Cesaréia de Filipe – Mc 8.27 – 9.1-29; Mt 16.13 – 17.1-21; Lc


9.18

A confissão de Pedro: Mc 8.27-30; Mt 16.13-20; Lc 9.18-21


A declaração e divindade de Jesus, suscita deste uma resposta de que nenhum ser
humano foi a causa desse saber, mas unicamente o Pai. A assertatia “sobre esta pedra
edificarei a minha igreja”, de interpretações diversas, tem sua maior aceitação em três
vertentes:
1) Jesus, o leito rochoso enquanto Pedro um mero seixo;
2) A verdade contida na confissão de Pedro, de que Jesus é o Messias e é Deus;
3) Pedro na qualidade de representante do grupo, que posteriormente deram início
às atividades eclesiásticas

Ensinos sobre o seu sofrimento, morte e ressurreição – Mc 8.31-37; Mt 16.21-


26; Lc 9.22-25
Pedro compartilhava do comum e errôneo ponto de vista judaico sobre o Messias.
Quando Jesus prediz seu sofrimento e morte, Pedro levantou objeção. Jesus declara a total
ignorância de Pedro acerca do plano de Deus, em seguida, Jesus exorta a seus discípulos
que tomem a sua cruz e sigam-no. O indivíduo condenado à morte de cruz era forçado a
caminhar ao local da crucificação com a trave horizontal, por entre gritos de injúrias,
maldições, cuspes no rosto e bofetadas. Tomar a própria cruz significa expor-se
voluntariamente ao ódio do mundo incrédulo, com o risco de perder a própria vida.

A transfiguração – Mc 8.38 – 9.8; Mt 16.27; Lc 9.26-36


O rosto fulgurante e a voz são experiências que lembram Moisés, no Sinai, indicando
que Jesus estava sendo tratado como alguém “superior a Moisés”. O aparecimento de
Moisés e Elias significa o cumprimento da Lei e dos Profetas em Cristo. O verbo “cumprir”
subtende que a morte de Jesus era algo determinado e não um acidente lamentável.

A Quarta Fase do Ministério de Jesus : Judéia

Introdução

Por ocasião da Festa dos Tabernáculos (Jo 7), os irmãos de Jesus sugeriram
sarcasticamente que um personagem público, como Ele era, deveria fazer propaganda no
local adequado para tal: Jerusalém. Mas Jesus mostrou que:
- Ele regulava seus movimentos pelo cronograma de Deus e não pelas
aclamações de popularidade
- Ele tinha por destino ser alvo do ódio do mundo; e não de receber aclamações
populares.
Por razões óbvias na fase anterior, a crescente perseguição dos judeus, Jesus vai à
festa em oculto. Não obstante há uma certa inquietação por parte dos judeus a seu respeito:
v. 11 – “onde está ele?”

Principais Ensinos
Em seu contato com os judeus, nessa Quarta fase de seu ministério, os ensinos
trazem um corpo de reivindicações, que provocam maior rejeição à Sua pessoa, ao ponto de
não poder permanecer mais entre eles.

Reivindicações de Jesus

1. Autoridade para ensinar a verdade (Jo 7.14-29)


v. 15 – A pergunta dos judeus reflete a concepção educacional dos mesmos: “Como
este sabe letras...” refere-se ao ensino formal dos rabis. Conforme prescreve uma
introdução à Mishná:
Vida de Cristo II 12

“Hevra Mishnayis... Hevra Shass...”


“A primeira expressão se refere aos pequenos grupos de homens que, debruçados
sobre os livros da Mishná, tenuamente iluminados pela luz das velas, estudavam, junto com
eles, o rabino lia e explicava o texto, cantarolando as palavras, enquanto os homens
escutavam, formulavam perguntas, suscitavam dúvidas e aprovavam com um balanço de
cabeça – ou desaprovavam com um puxão de barba. Muitas vezes decidiam a discussão
com um movimento de polegar. Hevra Mishnayis existia em qualquer sinagoga, encontrada
em cada aldeia, povoado ou cidade onde existiam judeus. O tema que debatiam era sempre
o mesmo: a Mishná, ou seja, a compilação da Lei Oral...”
“... A Segunda expressão refere-se também a grupos de homens estudando.
Entretanto, o livro era outro: a Guemará, um comentário à Mishná e à sua nova elaboração.
Esse é o ensino superior em Israel”.
Jesus não é identificado como discípulo de alguma escola rabínica conhecida. Sua
autoridade para ensinar (“ensino” em Israel significa “espor, a partir da Torah, a vontade de
Deus) não foi ratificada por uma escola de judaísmo.

vv. 19-19 – A defesa de Jesus:


v. 16 – O ensino dele é procedente daquele que o enviou
v. 17 – Quem o enviou foi Deus. O ensino não existe somente para se descobrir a
vontade de Deus, mas executá-la. Se alguém direciona suas ações nesse objetivo,
certamente poderá fazer um julgamento correto do ensino de Jesus. Jesus condena o
mecanismo educacional do judaísmo.
v. 18 – A característica principal do seu ensino é que não exalta a si mesmo diante
do povo; mas a Deus. Diferente dos rabis que se vangloriavam das suas teologias. Mas
quem é fiel àquele que o autorizou a ensinar, também é humilde o suficiente para glorificar a
Deus. por isso não pode ser encontrado nele alguma injustiça.
v. 19 – Jesus desmascara seus acusadores, no sentido de que o conteúdo do ensino
deles não era respeitado. Prova de que eles não desejavam verdadeiramente fazer a
vontade de Deus.
v. 20 – Acusação de que ele está possuído por demônios.
v. 21-24 – Se a lei permite que um homem seja mutilado no Sábado, porque não
considerar também a sua restauração? O julgamento dos judeus era superficial.
Segundo o pensamento Socrático de justiça, um homem seria considerado um
perfeito injusto quando, após cometer toda sorte de injustiça, fosse tido por justo pela
sociedade. Mas, com um justo perfeito ocorreria o contrário, pois o verdadeiro justo faria
justiça por amor a ela em si mesma. Como saberíamos, pois, se um homem é justo por
causa da justiça ou por causa do reconhecimento de seus concidadãos? Um homem é
verdadeiramente justo quando realizasse atos de justiça à Justiça e então, ele seria
considerado injusto pela sociedade. Este homem então seria vítima de toda a violência e
injustiça que essa sociedade poderia lhe impor.
v. 25-27 – Duas concepções messiânicas:
Reconhecimento por parte das autoridades da nação. O Messias deveria ser
aprovado pelos estudiosos do assunto ou pelos guardiões das Escrituras.
A origem do Messias marcada pelo misticismo característico do judaísmo popular
tem uma característica de obscuridade. Entretanto, a ortodoxia acreditava que sua
procedência fosse de Belém, conforme relato dos profetas.
v. 30-32 – Repercussão:
Procuraram matá-lo.
Outros creram nele por causa dos sinais.
Os sacerdotes e os fariseus enviaram guardas para prendê-lo (Certamente a guarda
do Templo). A crença popular aumentando, aumenta também a ameaça para os fariseus,
principalmente no aspecto político.

2. A Fonte da Água Viva 7.37 – Durante a Festa dos Tabernáculos, todas as manhãs
o sacerdote ia com a multidão em procissão ao Tanque de Siloé, levando consigo um
Vida de Cristo II 13

cântaro de ouro. Tirava água do tanque e trazia ao templo onde derramava sobre um altar
de pedra, relembrando o milagre da água no deserto. Ao retornar para o templo com o
cântaro cheio, a multidão procedia com júbilos e louvor a Deus. Entretanto, no último dia, o
sacerdote não mais ia acompanhando da multidão, nem tão pouco voltava com a água,
simbolizando que a Festa estava terminada e que o júbilo perene somente aconteceria por
ocasião da chegada do Messias. Foi nesse contexto que Jesus exclamou ser a água que dá
condições de um fluir perene. Ele mostra que na Sua pessoa, o segundo grande milagre
realizado por Moisés é cumprido.
Repercussão:
Alguns creram nele como profeta – v. 40.
Outros como o Cristo – v. 41
Outros o tiveram como impostor – v. 41
Outros mandaram prendê-lo – v. 42

3. A Luz do Mundo – 3.12


Também na Festa dos Tabernáculos, além do derramar da água, acendia-se à moite
enormes lâmpadas de ouro no Pátio das Mulheres, no Templo. O ritual lembrava a coluna
de fogo no deserto. O ritual era realizado entre júbilos e danças. Jesus se apresenta como
sendo a Coluna de Fogo suficiente que dirige não só os descendentes de Abraão, mas a
humanidade inteira ao destino celeste.
Repercussão: acusação de falso testemunho - 8.13.
As acusações contra os fariseus:
“Vós sois de baixo”- designando a origem terrena (carnal, contrapondo-se com a
espiritual) dos judeus;
Escravos do pecado – v. 34
Assassinos – v. 37
Filhos do diabo – v. 44
Ignorante sobre Deus – v. 54-55
Mentirosos – v. 55

4. O Eu Sou – 8.58 – Jesus identifica-se com a Pessoa do Deus Jeová – o Deus dos
Hebreus.
Essa declaração implica em quatro verdades:
- Na divindade e eternidade de Cristo;
- Sua singularidade de filho e sua dignidade
- Prova sua missão messiânica
- Prova sua união perfeita com o Pai e implica na Doutrina da Trindade

5. A Porta – 10.7,9 – A porta de um aprisco era única e bastante reforçada. Ela


indicava poder de seleção, exclusividade e proteção.

6. O Bom Pastor – 10.11,14 – Deus é considerado no Velho Testamento, o Pastor de


Israel (Ez 34.6, 11 e 12). O “Bom” Pastor contrapõe os “pastores” de Israel que até então
não haviam reunido o rebanho, mas dispersado o mesmo. Prova disso é o exclusivismo dois
partidos religiosos do judaísmo e a barreira existente entre judeus e judeu.

Outros eventos importantes

a) O caso da mulher adúltera (Jo 8.11-11)


os escribas e fariseus tentaram nesse episódio, envolver Jesus num dilema. Se
Jesus recomendasse a pena de morte, de acordo com o Código Mosaico, poderiam acusá-
lo de voltar-se contra a lei romana, que vigorava para os judeus proibindo-os de imporem a
pena de morte. Se Jesus não recomendasse a pena de morte, as autoridades poderiam
destruir sua reputação, no sentido de propagar que ele não era leal à Moisés.
Vida de Cristo II 14

v. 9 – Era costumeiro que o acusador mais idoso fosse o primeiro a atirar a pedra. À
medida que o mais idoso se retirava, os outros iam embora.

b) A cura do cego de nascença (Jo 9)


A cura dos cegos está relacionada coma Missão Messiância (Conf. Mt 11.3-5; Lc
4.18; Is 61.1). Quando Jesus vê o cego, relaciona o problema daquele homem com a sua
missão. A cegueira, mais do que qualquer outra deficiência era considerada conseqüência
de pecado pelo judaísmo. Isto porque a cegueira impedia o estudo da lei, deixando o
homem ignorante quanto à vontade de Deus. em outras palavras, a cegueira física causava
também cegueira espiritual (Is 29.18). – O Messias viria curando os cegos para que eles
conhecessem o caminho de Deus através da Lei.
A pergunta dos discípulos reflete duas correntes teológicas do judaísmo que
tentavam explicar a tragédia humana:
A cegueira seria conseqüência do pecado praticado ainda pelo feto;
A cegueira seria conseqüência do pecado dos pais; conf. Êx 20.5.

Contraste entre a postura de Jesus e a dos discípulos:


DISCÍPULOS JESUS
1. Procuraram alguém que se 1. Procurou a solução para a tragédia.
responsabilizasse pela tragédia (o 2. Interessou-se pela ação divina.
culpado) 3. Viu o homem como objeto da
2. Interessavam-se pela causa da misericórdia e do poder de Deus.
tragédia;
3. Viram o homem como objeto de
especulação.

“é preciso que eu faça...” – é a expressão tangível da ação iluminadora de Messias


em relação a toda humanidade.

“dia...e noite...” – na literatura rabínica significa o período da vida e da morte. Aqui,


a expressão é usado no sentido de urgência em fazer as obras do Pai, pois o tempo que ele
lhe concedera estava ficando cada vez mais curto.

O método da cura: saliva, terra e água do Tanque de Siloé. O Tanque de Siloé é


uma piscina termal, situada ao sul do templo, a qual recebe água da Fonte de Guiom, por
meio de um canal que fora construído no reinado de Ezequias (II Rs 20.20). A tradução do
nome “Siloé” é “Enviado”, e está baseada numa terminologia popular designada “águas
enviadas”.
Repercussão do milagre:
vv. 8-12 – Testemunho diante dos vizinhos – o cego identifica Jesus apenas como
“homem – “o homem chamado Jesus” (v. 11)
vv. 13-14 – Testemunho diante dos fariseus?: o cego foi levado perante os fariseus,
o que indica um comparecimento formal diante de autoridades; pelo fato da cura Ter se
processado no Sábado. Ao fazer o milagre, Jesus supostamente havia infringido a Lei
mosaica em três pontos:
- Curar quando não representava emergência;
- Misturar saliva e terra, uma espécie de trabalho;
- Fazer o cego caminhar e se lavar no tanque outra espécie de trabalho (induziu
outro a pecar).

A controvérsia dos fariseus:


Se Jesus era suficientemente bom para fazer milagre, como poderia ser tão mau a
ponto de violar o Sábado?
1ª hipótese: Se ele transgride a lei não pode ser enviado de Deus;
2ª hipótese: Se ele faz milagres e maravilhas só pode proceder de Deus.
Vida de Cristo II 15

v. 17 – As controvérsias farisaicas suscitam no cego uma Segunda conclusão sobre


a pessoa de Jesus: “É profeta!”
vv. 15, 17 e 26 – A insistência dos fariseus era necessária para obter um testemunho
contra Jesus no próprio tribunal. Os pais do rapaz seriam testemunhas ideais (vv. 18-21). O
v. 22 reforça a intenção dos fariseus, pois quem não quisesse perder os privilégios da
comunidade judaica, deveria trair Jesus.
A defesa do cego é direcionada de tal modo, que deixa os fariseus sem obter o
testemunho esperado, também pressiona os mesmo a reconhecerem Jesus como
procedente de Deus, a partir de um julgamento baseado no próprio ensino deles. Esta
defesa está baseada em três argumentos:
1º) O milagre é um fato e contra fatos não há argumentos que provem sua
inexistência (vv. 11, 15 e 25). A fé daquele homem baseava-se num encontro pessoal com
Cristo. Ele jamais poderia fazer “vista grossa” ao que tinha acontecido com ele mesmo. Ele
não poderia distorcer o fato para encaixá-lo na tradição rabínica, nem poderia ser juiz... “Se
é pecador não sei...”
2º) Tamanha insistência sobre a pessoa de Jesus deveria Ter uma motivação maior,
que eles não queriam admitir ou queriam sufocar. Jesus não fazia parte do círculo farisaico.
Daí a ironia do ex-cego “Quereis fazer-vos também sues discípulos?” (v. 27). Neste caso, o
preconceito falou mais alto – “este nem sabemos de onde é...”. Anteriormente, perante
Nicodemos, disseram: “és tu também da Galiléia? Examina e vê que da Galiléia não surge
profeta”. (Jo 7.52 e também o v. 41).
3º) A suposta dúvida dos fariseus sobre a procedência de Jesus era espantosa ao
cego. Aqueles mestres ensinavam sobre os que procediam de Deus e os que não
procediam dele, em suas sinagogas. Como poderiam desconhecer a procedência de Jesus?
Ao mostrar a incoerência entre a teoria e prática dos seus ensinos, o argumento utilizado
pelo ex-cego foi considerado um insulto.
A expulsão do ex-cego indicou a perda dos privilégios da comunidade israelita. Jesus
não abandonou aquele que se expôs por causa dele. Procurou o homem e o reintegrou à
aliança com Deus, mediante a fé no Messias o Cristo (vv. 34.35).
O último estágio do relacionamento do cego com Cristo foi o reconhecimento de que
ele era o “Filho do Homem”, um título messiâncio (v. 38).
O pecado dos fariseus consistia em reconhecer seu próprio orgulho e fazer dele uma
arma para perseguir Jesus e seus discípulos. A cegueira deles era consciente (vv. 39-41).

c) A Festa da Dedicação (Jo 10.22-42)


Era realizada no mês de Dezembro em memória da vitória de Judas Macabeus sobre
os invasores gregos. Comemorava, principalmente, a consagração do templo, que fora
profanado por Antíoco Epifanes.
v. 24 – os judeus rodearam a Jesus para obter dele uma declaração formal sobre sua
identidade messiânica. Uma declaração dessa categoria poderia levá-lo à prisão, sob
acusação de blasfêmia.
vv. 25-30 – A resposta de Jesus:
Jesus não precisava denunciar sua identidade com palavras, pois suas obras
falavam por ele, pois eram realizadas em nome de Deus.
A incredulidade deles era a marca de que eles não pertenciam ao verdadeiro povo
de Deus, pois recusavam reconhecê-lo como autoridade.
As ovelhas são animais submissos – os que reconhecem a autoridade de Deus
através do Cristo e aceitam o seu mover, recebem a vida eterna e a proteção do próprio
Deus.
Jesus e o Pai são um, portanto, ele tem o mesmo poder.
Reação dos judeus: pegam em pedras para apedrejá-lo, por causa da palavra que
dissera “Eu e o Pai somos um”.
vv. 34-38 – A defesa de Jesus diante da ameaça de apedrejamento:
Vida de Cristo II 16

eles não interpretavam a Palavra “vós sois deuses” fora do contexto das funções
exercidas por aqueles que a recebiam (ancião/sacerdote/rei – autoridades para aplicar a lei).
Por que tomavam as palavras de Jesus fora do contexto de seus milagres e sinais?
Eles estavam dispostos a reconhecer e festejar um altar que fora dedicado a Deus
(Festa da Dedicação), mas não reconheciam uma vida santificada a Deus. Era mais fácil
reconhecer um objeto do que uma pessoa dedicada a Deus.
Eles deveriam fazer pelo menos o que o bom senso mandava: crer nas obras – não
se pode negar fatos que procedem de Deus.

Conclusão: Jesus se retira para Além-Jordão e dá início à 5ª fase de seu ministério,


na Peréia.

A Quinta Fase do Ministério de Jesus : Peréia

Introdução

Peréia : Região da palestina designada no N. T. como “a outra banda do Jordão”, ou


“as terras d’além Jordão”. Compreende a faixa de terra que se estendia ao longo do Jordão
desde um pouco ao sul de Pela até o Arnon. Segundo Josefo, a região se inter-relacionava
com Decápolis, pois ele considerava Gadara, sua capital e contava Otopos, em lugar
daquela, na Confederação das cidades gregas. A Peréia estava sob domínio de Herodes
Antipas.

Principais acontecimentos e ensinos

Um ensino sobre a salvação (Lc 13.22-30)


v. 22 – A pergunta procede de uma preocupação existente quanto ao número de
pessoas a serem incluídas no Reino Messiânico. Este assunto era largamente debatido nos
círculos de estudos do judaísmo. Seriam salvos todos os judeus, ou apenas um grupo
seleto? (como ensinavam os fariseus).
A resposta de Jesus:
- Leva o ouvinte a pensar e destruir toda a falsa segurança no seleto grupo de
“justos”
- Leva o ouvinte a se classificar juntamente com os que estão do lado de fora, e
que devem estar interessados em entrar no Reino.
“Porfiai” – descreve os esforços estrênuos exigidos de um atleta em competição. É
um presente do imperativo, que significa “continuai porfiando”.
- A porta é estreita, por ela só entra quem exclui todos os outros interesses.
- Se é difícil entrar por ela enquanto estiver aberta, será impossível quando se
fechar.
- Aquele que abre a porta, tem poder para fechá-la (conf. Ap 3.7). Aqueles que
escarneceram Jesus por ser filho de um carpinteiro de Nazaré, o chamarão de
Senhor, na alegação de que um dia ouviram seus ensinos. Mas declarações
superficiais não serão aceitas por Ele.
- Eles o rejeitaram porque suas credenciais, segundo os valores judaicos, não
eram adequadas. Agora a situação se inverte: as credenciais daqueles que
passaram a vida confiantes na sua árvore genealógica e orgulhosos da mesma,
não serão aceitas e perceberão que não pertenciam a linhagem correta, por não
praticarem as palavras de Jesus
- Os valores de Deus são diferentes dos valores da justiça humana: os publicanos
e meretrizes entrarão no Reino, não por causa de seus pecados, mas porque
reconheceram a sua situação de pecadores, algo que era difícil a um fariseu que
se considerava justo.

A ameaça de Herodes e o lamento de Jerusalém (Lc 13.31-35)


Vida de Cristo II 17

A Peréia é o território dominado por Herodes Antipas. Este Herodes há demonstrava


certa perturbação nervosa, desde a época em que mandara matar João Batista (Mt 14).
Jesus é avisado pelos fariseus que Antipas desejava matá-lo. Não se sabe ao certo
se estes fariseus eram herodianos, ou mantinham ligação com os mesmos.
Jesus não se deixou intimidar pela ameaça. “Raposa” simboliza a astúcia. Jesus
descreve Herodes como uma pessoa insignificante, no que diz respeito à sua vida e
ministério. O futuro de Cristo era estabelecido por Deus, Herodes não tinha o poder de tirar
ou acrescentar coisa alguma. Ele não poderia deter o curso do Ministério de Cristo.

O lamento sobre Jerusalém (v.33)


Morrer na Peréia ou na Galiléia não teria nenhum significado. A morte de um profeta
em Jerusalém significava o julgamento de toda uma nação.
Deus tentara conduzir Jerusalém para debaixo do seu cuidado amoroso e soberano,
através dos profetas. Jerusalém rejeitara os profetas de Deus. essa rejeição alcança seu
ponto máximo em Cristo. As conseqüências desse padrão de rejeição será o abandono do
Templo, símbolo da presença de Deus. A atividade redentora do Messias cessará, o juízo
virá.
“Aquele que vem” é sinônimo do Messias. Mas a sua vinda não significará libertação
e sim, destruição.

A cura de um hidrópico, no Sábado (Lc 14.1-24)


Hidropisia: doença provocada pelo excesso de fluidos no organismo. É causada por
desordens nos rins e no coração, ou alguma outra disfunção. Baseando-se numa teologia
de “causa e efeito”, a doença era atribuída a alguma imoralidade sexual.
A pergunta de Jesus aos fariseus (v.2) é de difícil resposta, porque se constitui num
dilema:
- Segundo o regulamento rabínico, a cura somente poderia ser realizada se a vida
da pessoa estivesse em perigo iminente.
- Por outro lado, “lícito” pode significar “contido na Lei de Moisés” e nela nada
constava que proibisse a cura.
Diante desse dilema eles se calaram. O silêncio deles reforçou a efetuação da cura,
não deixando espaço para uma queixa posterior. Jesus curou o hidrópico e o despediu.

As Parábolas

(vv. 7 – 11) – Instruções aos convidados


No banquete, a mobília era composta de sofá para três – o triclínio. Um certo número
de triclíneos era disposto em formato de U. Os hóspedes reclinavam sobre o cotovelo
esquerdo. O lugar de honra era o do centro. O segundo e terceiros lugares eram o da
esquerda do homem principal (reclinando-se por trás dele) e à sua direita (reclinando-se a
cabeça sobre o seu peito).
Jesus observou a corrida pelos melhores lugares, isto significava uma coisa: cada
qual se considerava superior ao outro. Ele aproveitou essa situação para ensinar sobre a
ética do Reino.
Nessa parábola ele faz alusão às bodas. Com toda certeza, uma festa muito mais
formal do que aquela. Jesus aponta para uma falha na religiosidade deles, exatamente onde
ela precisava ser mais eficaz: no relacionamento humano. A auto-exaltação demonstrada
pelos convidados o desqualificam para uma posição de honra no seu Reino. A humildade é
marcada pela grandeza de não ser preferido diante dos outros, este valor será sempre
honrado por Deus, que exaltará todos aqueles que o demonstram.

(vv. 12-14) – Instruções ao hospedeiro


Outra coisa identificada no banquete foi o individualismo exclusivista do hospedeiro.
Ele escolhera um grupo seleto de amigos que demonstrava um “mundo” só deles. Jesus
Vida de Cristo II 18

desafia o hospedeiro a quebrar preconceitos sociais e convidar pessoas das quais não se
podia esperar benefício social algum.
Os aleijados, mancos e cegos eram excluídos de certos privilégios da comunidade
judaica, porque esta os considerava alvos da ira de Deus. Jesus recomenda que o
hospedeiro convide pessoas que o seu grupo social excluiu completamente desses
privilégios.

Interrupção do ministério Pereu devido à morte de Lázaro (Jo 11.1-54)

Lázaro: É desconhecido nos Sinópticos. Entretanto, suas irmãs (Marta e Maria) são
citadas (Lc 10.38; Mc 14.37). Os irmãos constituem uma família visivelmente dedicada a
Jesus. Parece existir também um vínculo de parentesco entre eles e Simão, o leproso. Conf.
Jo 12.
As irmãs pressupõem, pela mensagem enviada a Jesus, que este reconhecerá de
quem se trata, usando apenas uma referência: “aquele que tu amas”, sem citar o nome.
Alguns comentaristas suscitam a possibilidade de Lázaro ser o discípulo amado.
v.8 – Diferentemente de Jesus, que só visava cumprir a vontade do Pai, os discípulos
recuam diante do chamado para salvar a vida de alguém, com medo de arriscarem suas
próprias vidas.
v. 9 – A comparação com as doze horas do dia: assim como Deus controlava o
amanhecer e o entardecer, também controlava todos os momentos da vida de Jesus.
Mesmo no entardecer de sua vida, Jesus usava o tempo disponível para salvar alguém.
O Funeral : Envolviam o corpo em panos, após sua lavagem com água. Colocavam
o corpo no sepulcro em uma laje junto com uma grande quantidade de ervas e especiarias.
Após a decomposição, guardavam os ossos em caixas e colocavam as mesmas em
cavernas, ou túmulos abertos em rochas.
Era comum os judeus fazerem procissões para enterrar seus mortos. Para o
sepultamento três elementos básicos se destacavam:
Pranteadores: Os israelitas não tinham o menor constrangimento em expor suas
emoções. Reuniam amigos e até pagavam profissionais para chorar o morto (ou fazerem os
outros chorar). Era vergonha não mostrar qualquer sentimento de pesar em uma situação
como esta. Esses “profissionais do pranto” às vezes gritavam o nome de algum parente do
morto, para dar um toque especial ao lamento, e aumentar ainda mais a tristeza.
Cantores: Alguns salmos e outros hinos eram cantados na ocasião. Esses cânticos
tinham a finalidade de consolar os que sofriam.
Instrumentos musicais: Principalmente a flauta. Alguns rabis regulamentaram o
número de flautas que deveriam ser tocadas e como deveriam fazê-lo.
Outros costumes:
- Rasgar a roupa: Os fariseus fizeram 39 leis regulamentando a maneira certa de
uma pessoa enlutada rasgar a roupa.
- Jogar cinzas sobre a cabeça. Principalmente misturada à terra, representava um
profundo sentimento de humilhação diante de Deus e dos homens.
- Raspar a cabeça, jejuar e meditar em profundo silêncio.
Túmulos: os túmulos podiam ser cavernas naturais, ou abertos em rochas. Haviam
túmulos com espaço ara doze ou mais pessoas.

A ressurreição de Lázaro e suas implicações ao ministério de Jesus


A oração de Jesus, dirigida ao Pai e a ressurreição de Lázaro é prova concreta
diante de fariseus e judeus que ele o ouvira e reconhecera a filiação. É de suam
demonstração pública que ele é o Senhor da vida e da morte.
v. 45 – muitos creram nele
v. 46 – outros viram nele uma ameaça
v. 47 – reconhecimento das autoridades sobre a autenticidade dos sinais operados
por Cristo
Vida de Cristo II 19

v. 48 – temor quanto à possibilidade do povo ir após Jesus. Certamente, os romanos


não seriam tolerantes à uma liderança que não mantivesse o “status quo” do sistema
imperial. A violência romana era a marca registrada para as províncias que assim se
comportassem.
Possíveis conseqüências:
- O Templo seria profanado e destruído;
- As autoridades perderiam suas posições;
- O povo seria deportado e novas culturas (pagãs/gentílicas) assumiriam o local;
- O papel histórico do povo judaico como “servo sofredor” pela humanidade, não
seria reconhecido e justificado.
O princípio que moveu a perseguição dos judeus a Jesus é “o judaísmo pode
funcionar sem o Messias; ele não pode funcionar sem a visão messiânica e sem a irrestrita
aderência ao esforço moral que é indispensável à sua realização” (ABC do Judaísmo).
Entende-se por “visão messiânica”:
a) A visão Ortodoxa: crê na possibilidade do Messias como indispensável no
drama divino da redenção. Antes que o Messias venha, o povo de Israel não será
restabelecido na terra e a sociedade não será redimida. A vinda do Messias deve
preceder o cumprimento da promessa messiânica.
b) A Visão Reformada: rejeita a crença de que a realização de um ideal dependa
de um indivíduo. Dão ênfase à crença na Idade Messiânica quando uma ordem
de paz, justiça e liberdade será estabelecida:
- O Deus uno será adorado em toda a terra;
- Todos os homens encontrarão a sua fraternidade na Paternidade de Deus;
- A paz, a justiça e a liberdade prevalecerão em todo mundo;
- O papel histórico do povo judeu será justificado e reconhecido;
- A promessa messiânica é inerente à vida. Seguramente ela será cumprida
quando o homem prover a si mesmo como sendo digno dela e Deus assim o
deseje.
v. 47 – SINÉDRIO: Este conselho assistia ao sumo-sacerdote, que era seu
presidente e possuía cerca de 70 membros, ou mais: anciãos do povo, sumo sacerdotes
depostos, saduceus, e, cada vez mais, escribas e fariseus.
v. 49 – CAIFÁS: Foi sumo sacerdote de 18 a 36 d.C., acabando deposto pelos
romanos. A expressão “vós nada sabeis!” exprime a expressão da grosseira típica dos
saduceus.
v. 51 – O autor vê nessa expressão, uma predição da morte de Jesus e os objetivos
de Deus implícitos na mesma.
Segundo a tradição, o sacerdote possuía poderes de adivinhação. Alguns cogitam a
possibilidade do uso do Urim e do Tumim para a tomada de decisões (Êx. 28.30; Lv 8.8 e
27.11). Acerca do Urim e do Tumim, pensa-se ser eles:
- Pedras em forma de cubos (dados) para tirar sorte;
- Pedras preciosas que recebiam uma transferência de luz (para alguns escribas
significa “luzes”)
- Um objeto de forma chata, onde num dos lados estava escrito o vocábulo “urim”,
derivado de “arar” que significa “amaldiçoar”; e no outro lado, “tumim”, derivada
de “tamam”, que significa “ser perfeito”.
vv. 53-54 – Compreendendo a ameaça, Jesus se retirou dentre os judeus e foi para
Efraim, cidade de localização incerta.
Começa um período de idas e vindas a Betânia e adjacências até a semana da
Páscoa.

A Sexta Fase do Ministério de Jesus : Judéia

Principais acontecimentos e ensinos

A entrada real em Jerusalém: Mc 11.1-11; Mt 21.1-11; Lc 19.29-44; Jo 12.12-19


Vida de Cristo II 20

- É um ato messiânico (conf. Mt 21.4-5), designado mais como entrada real do que
triunfal. O evangelista Mateus omite a parte da profecia de Zacarias (9.9), que possui uma
conotação política.
BETFAGÉ – Não há exatidão quanto à sua localização, mas presume-se que dista
cerca de seis quilômetros, a Sudeste de Jerusalém. O significado de seu nome é “casa dos
figos novos”.
O JUMENTINHO – Só um animal que jamais houvesse sido usado como besta de
carga era considerado apropriado para objetivos sagrados (I Sm 6.7).
Indicações de aceitação da realeza de Jesus:
- Conf. I Rs 1.3 – os ministros de Davi colocaram Salomão sobre a mula de seu pai
e fizeram uma procissão real.
- II Rs 9.13 – Os israelitas pavimentaram o caminho de recém ungido Jeú, com
suas capas.
- O clamor da multidão: “Hosana!” significa “salva-nos, nós te rogamos!”; “Filho de
Davi” e “aquele que vem” são expressões messiânicas.
Lc 19.39-40 – A objeção dos fariseus deve-se ao fato que este entusiasmo era
politicamente errado e perigoso.
v. 40 – A resposta de Jesus dá a entender que Deus usaria as pedras antes de
recorrer aos fariseus.

A Figueira Amaldiçoada – Mc 11.12-14; Mt 21.18-19)


“Os figos aparecem ao mesmo tempo que as folhas em uma figueira, surgindo, na
verdade, os botões antes das folhas. As folhas amadurecem antes dos figos, mas poucos
figos são comestíveis antes da colheita principal (...). O fato dele (Jesus) Ter achado
somente folhas significava que aquela figueira não iria produzir frutos”.
- A figueira é símbolo da nação de Israel. Em Lc 13.6-9, Jesus usou uma parábola
para mostrar que estava sendo dada a última oportunidade a Israel para dar o
fruto desejado por Deus.
- No caso da figueira amaldiçoada, o Templo era chegado, Jesus chegava ao final
de seu ministério e aquela geração não o recebera, isto é, não produziria o fruto
desejado por Deus – o arrependimento.

A Segunda Purificação do Templo – Mc 11.15-19; Mt 21.12-17; Lc 19.45-48


A família sacerdotal, principalmente a de Anás, exerciam controle comercial no
Templo junto aos romanos. A venda de animais e o câmbio era realizado no Pátio dos
Gentios. Possivelmente, o preço era exorbitante. O Templo (hieron) era o complexo de
50.000 m2 e não o santuário (naós). Jesus viu o povo sendo explorado em nome da religião
e protestou.
A reação do povo:
Mt 21.14-15 – Coxos e cegos afluíam para serem curados / suscitou das crianças, o
louvor
Mc 11.18 – “a multidão maravilha-se da sua doutrina”
Lc 19.48 – “o povo ao ouvi-lo ficava dominado por ele”
A reação das autoridades:
Mc 11.18 – “procuravam um modo de matá-lo
Mt 21.15 – “Indignaram-se com o louvor das crianças”
Lc 19.47 – “procuravam matá-lo”

Jesus é ungido em Betânia (Jo 12.1-11; Mc 14.3-9; Mt 26.6-13)


Diferença dos relatos:

Mc 14.1-9 Mt 26.1-14 Jo 12.1-11


v.2 – dois dias antes da Dois dias antes da Páscoa Seis dias antes da Páscoa
Páscoa Na casa de Simão, o leproso (v.1)
“uma mulher...” v.3 “uma mulher...” v.7 “Maria...” (irmã de Lázaro e
Vida de Cristo II 21

Marta) vv. 2 e 3
“quebrou o vaso e derramou “uma mulher...derramou “ungiu os pés de Jesus e os
sobre a cabeça de Jesus” sobre a cabeça” v.7 enxugou com seus cabelos”
v.3b v.3
“alguns dos presentes se “os discípulos se Judas Iscariotes objetou v. 4
indignaram” v.4 indignaram” v.8
“perfume de nardo puro, de “precioso bálsamo...”v. 7 Material da unção: uma litra
muito preço” v. 3 de nardo puro (300g), um
perfume muito caro” v.3

O relato de João, no v. 1, “seis dias antes da Páscoa, Jesus chegou a Betânia”, trata-
se da chegada em Betânia e não da data (a mesma é referida por Mateus e Marcos, cuja
importância do relato é a reunião do Sinédrio, ocorrida paralela ao jantar e não o jantar em
si).
BÁLSAMO DE NARDO: um dos perfumes mais caros da época. Uma litra
correspondia a 300g e cada grama a um denário. O valor total do nardo derramado por
Maria, era, portanto, 300 denários. O valor de um ano de trabalho de um trabalhador
comum. Talvez, o alto valor do nardo deve-se ao fato de que o mesmo era fabricado a partir
de uma planta de flores rosadas cultivadas ao norte da Índia, ou talvez, no Himalaia.
O VASO DE ALABASTRO: O termo significa “sem alças”. Em seu uso helenístico e
romano, refere-se aos frascos de qualquer tipo de material, sem alças, contendo perfume.
Existem aqueles cujo material era a calcita, uma forma compacta e cristalina de carbonato
de cálcio, de cor branca ou entre o amarelado e o branco. Os frascos transparentes se
constituíam artigos de luxo (John Mackenzie).
A dúvida é se o quebrar o vaso era comum para que se fizesse o uso do perfume,
(como coloca John Mackenzie e outros), ou se, com este gesto ela indica que prepara o
corpo para a sepultura (conf. O Comentário Broadman, 458:5).
A ÉTICA JUDAICA EM BANQUETES OU JANTARES: Quando recebia convidados
em sua casa, era costume do anfitrião ungir a cabeça do convidado e lavar seus pés (tarefa
designada aos escravos e às mulheres). Em caso de unção, colocava-se na cabeça do
visitante um pequeno cone de um material à base de óleo, cheio de perfume. Em contato
com o calor do corpo, o cone se derrete lentamente e o perfume é exalado, além do líquido
pingar na roupa da pessoa. Contudo, apesar desta prática ser usual não foi o caso aqui
citado, do jantar em Betânia. Todavia todos os evangelhos concordam com o pensamento
de Jesus sobre este gesto de Maria (conf. Mt 26.10-13; Mc 14.6-9; 10; 12.7-8).
Ao final do jantar, Judas se revela como o traidor; procura os sacerdotes para
entregar Jesus e recebe por isto 30 moedas de pratas (Mt 26.14-16; Mc 14.10-11; Lc 22.3-
4).

A Páscoa e seu significado por ocasião da morte de Jesus

A FESTA DA PÁSCOA: Uma das três festas da Peregrinação. De acordo com Dt


16.16 “todos os vossos varões se apresentarão diante do Senhor vosso Deus, no lugar em
que ele tiver escolhido: na Festa dos Ázimos, na Festa das Semanas e na Festa das
Tendas”. A páscoa segue-se a festa dos ázimos, ambas fazem parte da mesma semana,
onde no primeiro dia se celebra a Ceia Pascoal. Um dia antes, ocorrem os preparativos.
Primeiro, as pessoas se colocam em fila diante dos sacerdotes que sacrificam os cordeiros
e levam o sangue ao altar, em sinal a Deus. Depois, cada pessoa volta para sua casa, onde
se esfola o cordeiro e o assa. Durante este tempo, a dona de casa já retirou todo o pão
fermentado e o substituiu pelo não fermentado. Também é preparado um composto de
ervas amargas.
No Êxodo, a refeição fora digerida às pressas, agora se faz estirado sobre triclínios.
O vinho é obrigatório e, se alguém é pobre demais para consegui-lo, o Templo lhe fornece
as quatro taças regulamentares. Durante a refeição são contados os salmos de Hilel (114-
119), entrecortados pelas bênçãos do pai de família, ou daquele que faz a vez dele. Os
Vida de Cristo II 22

filhos surpresos, ou simulando surpresa, perguntam: “Por que tudo isto?” “Em que esta noite
é diferente das outras?” Então, o pai explica o sentido dos diferentes ritos e as intercessões
de Deus em favor do povo.
Por ocasião da Páscoa, cerca de 180 mil peregrinos subiam a Jerusalém, na época
neo-testamentária. Como todos eles não podiam se alojar na cidade, as aldeias vizinhas
abrigavam as pessoas. A presença de autoridades políticas ou diplomáticas ocorriam com
freqüência, ocasião em que a polícia era reforçada. Esta polícia era a romana, presidida
pelo Procurador. Eram muitos comuns os ataques dos zelotes e a pessoa do Procurador era
responsável por manter a ordem.

A Festa dos Ázimos: Em Êx 12; Lv 23.4’Nm 28.16 – celebrada no dia 15 de Nisã e


associada à Páscoa, indica o agradecimento pelo início da colheita: “aquilo que vem da
natureza é santo, como algo que vem de Deus. portanto, deve-se oferecer a Ele antes que
se possa utilizá-lo”. O ritual consiste na abstenção do fermento no pão por toda a semana.
Colocar o fermento, uma substância externa, significa profanar a sua santidade.

As últimas instruções de Jesus aos discípulos


Em Lucas 22.24-30 está registrado o episódio da discussão entre os discípulos sobre
qual deles parecia ser o maior. O evangelista coloca esta discussão no jantar da Páscoa, e
ao que parece, a mesma suscitou de Cristo a lição de humildade, descrita pelo evangelista
João. A partir daqui, João prossegue detalhadamente as últimas instruções.

Leitura obrigatória: Jo 13-17


A partir do cap. 13 inicia o “livro da paixão” do Evangelho de João. O evangelista
apresenta com detalhes, as últimas instruções de Jesus aos discípulos. Tais ensinos
refletem a preocupação do Mestre com o destino dos seus seguidores e o mesmo está
elaborado mediante três formas de preparo para a provação a que seriam submetidos:
Um exemplo pessoal de humildade (o lava-pés), como uma parábola referente ao
significado da cruz (13.1-30);
Uma instrução detalhada sobre a existência cristã na era posterior à sua morte
(13.31-16.33);
A intercessão divina, para situar o destino dos discípulos num contexto eterno, por
meio da oração de consagração (17.1-26).

1º) O Exemplo do lava-pés (13.1-30)


Nada poderia ser mais contundente do que o exemplo dado por Jesus. A prática de
lavar os és dos convidados era comum antes das refeições e não durante a mesma. A
tarefa era executada por escravos não judeus, por ser considerada extremamente
humilhante. No primeiro século, a humildade Não era vista como uma virtude, mas Jesus fez
dela a “marca registrada” do discipulado.
Os dois extremos de Pedro:
- Recusa-se uma nova abertura para o futuro, na presunção de que seu
compromisso já se completara (v.8)
- Abre-se completamente para o futuro, não levando em consideração o
compromisso realizado no passado, mesmo com suas limitações (v.9).
Jesus ilumina a mente de Pedro para compreender a dinâmica de uma fé em
formação: não era necessário recomeçar tudo para superar as limitações anteriores do
discipulado. Ma, necessário prosseguir em descobertas mais profundas e essenciais ao
cristianismo (v.10).
“tirar e tomar o manto” – sugere a voluntariedade com que Jesus abriria mão de
sua vida: “(...) ele não era uma vítima desesperada, mas sim o grande Eu Sou”(BROADMAN
381.1) e o poder com que Ele a tomaria de volta.
v. 21 – A simples menção de um traidor “turbou o espírito” de Jesus. É referente à
angústia pela perda de alguém amado.
Vida de Cristo II 23

O grupo precisava tomar conhecimento sobre a traição, mas não necessariamente


que trairia. Esta atitude tem caráter protetor – protege da fúria dos companheiros – suscita
nos discípulos a necessidade de auto exames; e, dá uma chance a Judas mudar de atitude.
v. 26 – O bocado de pão molhado representava um favor especial do hospedeiro. O
fato de Jesus tê-lo dado a Judas ratificava o seu amor por ele e constituía um último apelo
de amor àquele que estava à beira da traição.

2º) As instruções sobre a existência cristã após a sua morte


Após a saída de judas (v. 30), Jesus compartilha com os discípulos a glória do Filho
do Homem. A seção a partir do v. 31, encontra-se assim dividida:
As vantagens da era pós ressurreição:
1º) A existência e apoio de uma comunidade de amor (13.34-35);
2º) A preparação de um lugar na casa do Pai (14.2-3);
3º) O conhecimento do caminho de salvação (14.4-6);
4º) O poder para efetuar obras maiores que as de Jesus (14.12);
5º) O privilégio da oração intercessória (14.13-14);
6º) A ajuda do Parácleto ou Espírito da Verdade (14.16,1,25 e 26);
7º) O retorno pessoal de Jesus e seu Pai para fazerem morada em seus amados
(14.18-23);
8º) A provisão de uma paz que o mundo não conhece (14.27).
Outros princípios são também defendidos:
- O Jesus ressurreto se relacionará com os crentes da mesma forma que o Pai se
relacionava com Ele (14.20);
- A presença do Espírito Santo concedido pelo Pai a Jesus era a presença do Pai
com Ele; da mesma forma que a presença do Espírito concedido à igreja deve
ser entendida como a presença do Senho com ela (14.3-18-23).
“não se turbe os vossos corações...” Motivos para corações turbados:
- um haveria de trai-lo;
- outro, negá-lo;
- ele iria para um lugar onde eles não poderiam segui-lo.

3º) A Oração Intercessória (cap. 17)


A oração intercessória está assim dividida:
- Jesus ora por si mesmo (1-5);
- Jesus ora pelos seus discípulos (6-19);
- Jesus ora pelos futuros crentes (20-26).
Ao orar por si mesmo, Jesus declarou a sublime certeza de que Deus lhe dera
autoridade sobre toda a humanidade. A hora do seu destino era chegada e se constituía a
concretização da vontade de Deus, a fim de que os homens conhecessem a vida eterna. Ele
conclui pedindo que sua glória pudesse novamente tornar-se como fora quando preexistia
com Deus, antes que o mundo existisse.
Ao orar pelos discípulos, Ele destacou:
- A quem eles pertenciam “de fato” e de “direito” – a Deus e Seu Cristo;
- A necessidade de serem guardados do mundo, a base da segurança era a
guarda “no Nome”, que Deus lhe dera;
- A santificação necessária ao serem enviados ao mundo: a unidade é descrita em
termos de Missão.
Ao orar pelos futuros crentes ele destacou que a obra da redenção não estava
limitada ao tempo e espaço, pelo contrário, seria válida para as pessoas de todos os tempos
e espaços que revelassem uma unidade baseada na fé compartilhada na unidade de Deus e
de Cristo, como enviante e enviado. A unidade da igreja é descrita em termos de motivo, o
amor- que o mesmo amor com que Deus o amara estivesse presente na igreja, assim como
em Cristo estivera. A razão para tal perfeição da igreja seria o testemunho perante o
mundo: a Missão.
Vida de Cristo II 24

A prisão e julgamentos de Jesus (Lc 22.47; Jo 18.3 e 12)


GETSÊMANI – A palavra significa “prensa de azeitonas” ou “largar de olivas”. Era um
jardim localizado nos arredores de Jerusalém.
Lucas registra que a agonia do Mestre, na oração ali realizada, traduziu-se no suor
vertido com gotas de sangue. Este fenômeno é denominado pela medicina de “diapédesi” e
é considerado um fenômeno resultante de uma profunda comoção mental, profunda
angústia e tristeza.
A tônica da oração não é a passagem do cálice que estava para ser bebido, mas o
“faça-se a Tua vontade”. Jesus foi tentado, mas saiu vencedor por meio da obediência à
vontade de Deus, que sempre foi a marca de sua vida.
Protagonistas do episódio: Judas é o líder do grupo. Seguidos de guardas do
Templo, guardas romanos, servos dos escribas e fariseus que tomaram parte da decisão do
Sinédrio.
O sinal de Judas, o beijo é sinal de afetividade, amizade, respeito de um discípulo
para com o seu mestre. A palavra utilizada aqui é katafilein, a mesma utilizada no momento
em que o pai do filho pródigo o recebera com grande amor.

Síntese biográfica das personalidades responsáveis pela prisão, sofrimento e


morte de Jesus.
Pilatos – (26-36 A.D.) Residia na Cesaréia, sede do poder político romano da Judéia.
Era a autoridade suprema, depois do imperador romano, naquele território. Seus poderes
incluíam pena de morte. Relatos históricos o apresentam como possuidor de uma
insensibilidade impressionante. Controlava até mesmo os cultos judaicos. Caso os mesmos
não o agradasse, podia suspender tudo e dispersar o povo. O controle dos cultos se fazia
também mediante a apreensão das vestes do sumo sacerdote que ficavam em seu poder e
quando ia a Jerusalém as “emprestava” aos judeus.
Os erros mais conhecidos de Pilatos foram:
- Mandar colocar bandeiras com a efígie de César, nas ruas da cidade santa;
- Controlar o dinheiro do Templo e confiscar grande parte dele para construir um
aqueduto;
- Mandar soldados romanos matar alguns galileus enquanto estes cultuavam no
Templo.
Tais erros o colocaram numa situação delicada diante do povo, por suscitar o ódio e
tumulto entre o mesmo. Por outro lado, não deixava também de colocá-lo numa situação
difícil diante do imperador, que poderia vê-lo como alguém que não sabe como manter a
ordem. Talvez por isso tenha sido cauteloso com os judeus no episódio do julgamento de
Jesus. Para agradar o povo, costumava soltar nas Festas um preso político.

Barrabás – Mateus o chama de “preso notório...” e os outros evangelhos concordam


sobre o motivo da prisão, sedição e homicídio. João acrescenta que era salteador. Há forte
possibilidade de Barrabás Ter pertencido ao grupo dos Zelotes, cujos seguidores
costumavam levantar motins por ocasião das festas.

Anás: (forma grega do nome ananiah). Sogro de Caifás, nomeado sumo sacerdote
pelo Procurador romano Quirino e deposto do cargo por Valério Grato, em 15 d.C. O título
dado a ele, na época da crucificação refere-se a sua posição anterior. Muitos historiadores o
consideram como o líder do partido dos saduceus, portanto o principal mentor da
conspiração contra Jesus.

Caifás: Foi nomeado sumo sacerdote por Valério Grato, em 18 A.D. e deposto por
Vitélio em 36 A.D. Exercia o controle “de facto” sobre o sumo sacerdote.

Herodes Antipas: Atuou como um espião para Tibério César, junto aos oficiais
romanos e reis satélites. Provavelmente, deve-se a esta atividade, a inimizade de Pilatos (Lc
23.12) e Vitélio, o legado da Síria. Sua primeira esposa foi a filha de um rei nebateu, Aretas.
Vida de Cristo II 25

Posteriormente, desprezou-a para ficar com Herodíades, mulher de seu irmão filipe ou
Boethus, da qual teve uma filha, Salomé.
Os julgamentos de Jesus

1º Julgamento: Diante de Anás, o Sumo Sacerdote (Jo 18.12-14,19-24).


2º Julgamento: Diante de Caifás (Jo 18.24-28)
3º Julgamento: Diante do Sinédrio (Mt 26.57-68; Mc 14.53-65; Lc 22.66-71)
4º Julgamento: Diante de Pilatos (Mt 27.1,2,11-26; Mc 15.1-15; Lc 23.1-7; Jo 18.18-
19 ao 19.16)
5º Julgamento: Diante de Herodes (Lc 23.8-12)
6º Julgamento: Diante de Pilatos ( Lc 23.13-25)
Vida de Cristo II 26

Apêndice

Cristo comeu a páscoa?

Esta pergunta posta em outra forma seria: Em que dia do mês foi Jesus crucificado?
Porque a crucificação ocorreu no mesmo dia judaico em que se comia a refeição pascoal,
como no-lo apresentam os quatro evangelistas. Quase todos concordam em que a
crucificação ocoreu na Sexta-feira, e que a refeição foi tomada na tarde anterior, nossa
Quinta-feira e começo da sesta-feira judaica, pois o dia judaico se contava de um ocaso do
sol ao outro. Mas em que dia do mês foi? A festa da páscoa começava no dia 15 de Nisa,
sendo o cordeiro sacrificado na tarde de 14. Contudo o dia as semana variava com a lua
nova. Se Jesus comeu a ceia regular da páscoa, foi crucificado no dia 15 de Nisan. Se
comeu uma ceia no dia anterior, e se foi crucificado na hora do sacrifício do cordeiro, então
o dia foi 14 de Nisan. Neste caso ele noa comeu, de fato, a páscoa. Temos, portnato, que
procurar a verdade a este respeito, porque declarações positivas se encontram aos
evangelhos.
1. Primeiro que tudo, algumas idéias sentimentais sobre a questão necessitam ser
removidas. Uma grande controvérsia surgiu nas igrejas primitivas sobre a questão da
páscoa. (a) Na Segunda metade do segundo século cristão algumas igrejas na Ásia Menor,
compostas principalmente de cristãos judaicos, continuavam a observar a páscoa, em vista
de Ter Jesus participado dela na noite anterior à sua crucificação. Policarpo, discípulo de
João, expressa a sua persuasão de que Jesus comeu a páscoa. (b) Algumas das igrejas,
porém, tiveram receio de seguir este exemplo e relacionar as antigas leis mosaicas com o
cristianismo. Daí o assumirem elas na controvérsia a posição de que Jesus mesmo não
comeu a páscoa, porém que na qualidade de Cordeiro Pascoal foi crucificado na hora
costumeira do sacrifício do cordeiro. Ele foi a nossa páscoa. As igrejas gregas da atualidade
sustentam esta opinião, enquanto que as igrejas latinas mantém que Jesus de fato comeu a
páscoa. Estes argumentos, contudo, são puramente subjetivos e em sentido algum
modificam a realidade do fato; e é por esta razão que pomos de parte esta antiga
controvérsia e passamos ao testemunho dos evangelhos.
2. O testemunho dos sinópticos, Mateus, Marcos e Lucas. A evidência que eles dão
em prova de que Jesus participou da refeição pascoal regular na tarde depois de 14 de
Nisan é abundante e explícita.
(a) Jesus predisse que a sua morte ocorreria durante a festa da páscoa. Veja-se Mt
26.2: “Sabeis que daqui a dois dias é a páscoa; e o Filho do homem será entregue para sr
crucificado”. Veja-se também Mc 14.5 e Lc 22.1, onde se faz referência ao fato. O termo
‘páscoa’ é usado no sentido geral da festa dos pães ázimos, como Lucas explica. A festa
dos pães ázimos seguia à ceia pascoal, começando na manhã seguinte e continuando por
uma semana. Um dos termos foi usado para abranger outro. A páscoa é estendida a ponto
de incluir a festa toda que seguia, e vice-versa.
(b) É verdade que as autoridades judaicas decidiram não matar Jesus durante a
festa (Mt 26.5; Mc 14.2). Esta decisão, porém, foi tomada, não por qualquer escrúpulo de
consciência, mas porque tinham receio dum tumulto entre o povo, devido às grandes
multidões presentes, dentre as quais muitos evidentemente eram favoráveis a Cristo. Mas
desde que Judas se lhes ofereceu para entregá-lo ocultamente, desvaneceram-se-lhes os
receios e trataram logo de por em execução os seus planos assassinos (Mt 26.14; Mc 14.1).
Na verdade os príncipes tomaram medidas para apressar a morte dos crucificados, a fim de
que os corpos não ficassem expostos no Sábado. Contudo, por diversas vezes tinham
procurado destruir Jesus no Sábado. Era permitido realizarem-se execuções públicas
durante as festas (Dt 17.12, etc.).
(c) Os sinópticos expressamente dizem (Mt 26.17,20; Mc 14.12,17; Lc 22.7,14) que
no primeiro dia dos pães ázimos Jesus enviou Pedro e João, de Betânia à cidade, a fim de
prepararem a páscoa, e que na noite do mesmo dia ele a comeu com seus discípulos. Lucas
diz “É chegada a hora”, o que implica a hora costumeira da páscoa. Sabemos que o primeiro
dia dos pães ázimos era 14 de Nisan. Acerca disto não há dificuldade alguma. Josefo fala
Vida de Cristo II 27

da festa como que continuando por oito dias. Sendo o cordeiro da ceia morto na tarde deste
dia, era esse dia considerado o começo da festa. Além disto Marcos e Lucas encerram a
questão, dizendo que nesse dia sacrificaram a páscoa e Jesus mesmo a chama de páscoa
(Lc 22.15). É escusado declarar que Jesus tenha comido a páscoa um dia antes do dia
costumeiro. Isto não podia ser feito, especialmente por alguém hostilizado pelas
autoridades. É igualmente escusado dizer-se que os judeus a tenham comido um dia
depois. Se houve um engano quanto à lua nova, não é provável que comessem a páscoa
em dois dias diferentes, nem é provável que Jesus questionasse sobre o assunto.
3. O testemunho de João. Se tivéssemos somente o testemunho dos sinóticos,
nunca se manifestaria divergência de opinião quanto a este assunto. Há quem insista em
que João está em conflito irreconciliável com os outros evangelistas, desde que ele
representa Jesus como comendo na noite após o dia 13 de Nisan (Quarta-feira), e não na
noite após o dia 14 (Quinta-feira). Essa idéia tem alcançado popularidade entre muitos
escritores ortodoxos e semi-ortodoxos, como sejam Ellicott, Westcott, Alford, Godet, Farrat,
Greswell, Meyer, Bleek, Weisa. Alguns destes mantém esta idéia, sem dúvida porque
entendem que a controvérsia pascoal na Ásia Menor nasceu por causa do suposto conflito
entre João e os outros evangelistas, e que isto mostra que o Evangelho de João já existia
quando surgiu esta controvérsia. Há, porém muitos homens competentes que contendem
pela perfeita harmonia entre João e os outros com referência a esta questão. Assim fazem
Wleseler, Robinson, Andrews, MsClellan, Tholuck, Clark, Broadus, Edersheim, etc.
Andrews, Robinson e McClellan apresentam argumentações elaboradas e convincentes a
respeito de todo este assunto. Não adianta argumentar que João no capítulo 13 se refira a
uma refeição diferente, em outra ocasião. Os pontos de contato com os sinóticos são por
demais distintos e claros, como, por exemplo, o do bocado entregue a Judas. Ao mesmo
tempo são apontados cinco passagens como sendo diretamente opostas às declarações
feitas nos sinóticos. Examinemo-las:
(a) João 13.1, etc.: “Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus, etc.”. Alega-se que
aqui temos uma declaração distinta de ser esta ceia antes da páscoa, e conseguintemente
24 horas antes; porém diversas coisas se tomam por provadas nesta alegação. Uma é que
a frase “festa da páscoa” tem de ser limitada a esta refeição e não ser estendida ao ponto
de abranger toda a festa dos pães ázimos (Lc 22.1). Freqüentes vezes, por metonímia de
linguagem, o nome de uma parte é dado ao todo. Além disto, não é certo que o v. 1 deva ser
ligado com o v. 2. Os melhores intérpretes concordam em que uma idéia completa pode ser
aí encontrada: ou uma expressão feral de Jesus Ter amado o que era seu antes da páscoa
e até o fim; ou que ele veio a perceber em si a consciência especial deste amor somente
pouco antes da páscoa. E se a interpretação mais natural for aceita e a aplicação deste
amor for feita no v. 2, não é necessário que o termo “antes” signifique 24 horas. Observe-se
também que o sentido exato do original no v. 2, não é “acabada a ceia” (Almeida), mas
“enquanto ceavam”. Com esta tradução concordam as outras referências em 13.4,
“levantou-se da ceia”; 13.12, “tornou a reclinar-se”; 13.23, “achava-se reclinado sobre o peito
de Jesus”. Assim a significação natural é que pouco antes de começarem a refeição Jesus
se propôs a dar uma amostra do seu amor para com os seus discípulos, por meio de uma
ilustração prática. Portanto, logo que se acharam reclinados à mesa, conforme o costume,
Jesus se levantou e, passando em redor da mesma, foi lavando os pés deles; logo depois
tornou a reclinar-se e prosseguiu com a ceia. Com esta explicação está claro que nada pode
ser alegado contra a idéia de que esta era a refeição regular da páscoa; mas, doutro lado, a
coisa mais natural é que João aqui esteja descrevendo o que aconteceu na ocasião da
páscoa. E se não, por que mencionou a páscoa?
(b) João 13.27: “O que fazes, faze-o depressa”. Aqui a objeção é que os discípulos
não teriam pensado que Jesus estivesse referindo à festa (13.29), se a refeição pascal
estivesse em processo ou já concluída. Eis a razão por que se insiste em que esta
observação foi feita um dia antes de ser celebrada a páscoa. Porém se assim fosse, onde
estaria a necessidade da pressa? Haveria bastante tempo no dia seguinte. O termo “festa”
não precisa ser limitado à ceia da páscoa; mais natural seria referir-se à festa toda, da qual
a ceia era uma parte. Assim a pressa seria recomendada a fim de prever-se o necessário
Vida de Cristo II 28

para a festa dos pães ázimos que começava na manhã seguinte. Não é de importância eu
este dia fosse dia santo, sendo o primeiro dia do festival da páscoa. A Mishna
expressamente permitia que se procurasse até no Sábado o quanto fosse necessário para a
páscoa. Se isto era permissível no Sábado, ainda mais o seria num dia de festa que não era
Sábado. Portanto não somente era possível que os discípulos tivessem compreendido mal a
observação de Jesus na tarde da páscoa, mas era bem mais natural terem entendido mal
assim nesse dia do que no dia anterior. Esta passagem, pois, como a que precede, quando
corretamente interpretada, realmente confirma os sinóticos.
(c) João 18.28: “e eles não entraram no pretório, para não se contaminarem, mas
poderem comer a páscoa”. À primeira vista, parece haver aqui contradição; porque isto
claramente se deu depois da ceia de João 13.2, e se não tinham comido a refeição da
páscoa, aqui temos um caso claro de conflito entre os escritos inspirados. Mas não está de
modo algum provado que a frase “comer a páscoa” quer dizer apenas comer a ceia pascal.
Esta frase ocorre mais cinco vezes no Novo Testamento, além desta passagem; porém
todas em Mateus, Marcos e Lucas (Mt 26.17; Mc 14.12, 14; Lc 22.11,15). Em todas elas a
referência é à ceia pascal; mas a palavra “páscoa” é usada em três sentidos no Novo
Testamento – a ceia pascal, o cordeiro pascal, a festa pascal. A palavra é usada oito vezes
em João além desta, e em todas se refere à festa pascal. É justo portanto dar-se à palavra
aqui o significado que o próprio João costuma dar-lhe, e não aquele que os sinóticos lhe
dão. Torna-se isto mais provável, se recordarmos que João escreveu bem mais tarde do
que eles, depois da destruição de Jerusalém, quando estes termos já não eram usados com
tanta restrição. A mesma expressão “comer a páscoa” é usada em II Cr 30.22, onde é
traduzida “comeram durante a festa”. A Septuaginta a traduz (do hebraico): “E eles
guardaram a festa dos pães ázimos por sete dias”. Veja-se Robinson. Assim, é inteiramente
possível que a frase “comer a páscoa” signifique neste caso a celebração da festa pascal.
Alguns insistem em que os membros do sinédrio não tinham comido a páscoa à hora do
costume devido à agitação causada pelo julgamento de Jesus. Isto, porém, não é provável;
ademais, se a observação foi feita de manhã cedo, como poderia ter referência a situação
deles à noite, quando seria comia a páscoa? Pois que, qualquer impureza contraída durante
o dia terminava ao pôr do sol. Essa impureza, portanto, teria de ser entendida como
pertencente apenas ao dia em que fosse contraída. Se a festa da páscoa já havia
começado, eles quereriam participar nas ofertas desse mesmo dia. Portanto esta passagem
(Jo 18.28), como as demais, vem a ser um argumento a favor da concordância com os
sinóticos.
(d) João 19.14: “Ora, era a preparação da páscoa”. Argumenta-se que isto quer dizer
o dia anterior à festa da páscoa e, portanto, que Cristo foi crucificado no dia 14 de Nisan,
contrariamente ao que os sinóticos dão a entender. A tarde antes da páscoa era usada
como preparação, porém não era assim tecnicamente designada. O termo “preparação”
(parasceve) era realmente o nome dum dia da semana, o dia antes do Sábado – nossa
Sexta-feira. Nesse caso não ficamos em conjeturas. Todos os evangelistas usam-no
somente neste sentido. Mateus o emprega por Sexta-feira (27.62); Marcos expressamente
diz que a “preparação” era o dia anterior ao Sábado (15.42); Lucas diz que era o dia da
“preparação”, e ia começar o Sábado (23.54); e João também assim emprega a palavra em
outras duas passagens (19.38,42), e em ambas se vê que a pressa era motivada pela
aproximação do Sábado. O emprego do termo no Novo Testamento é, pois, decisivo sobre
este ponto. Segue-se então que este dia era a Sexta-feira da semana pascal; e isto
concorda com os sinóticos. Além disto, o termo “preparação”, devido à influência do Novo
Testamento, por muito tem sido, na língua grega, o nome usual para Sexta-feira. É a mesma
coisa no grego hodierno. Era a véspera do Sábado, tal como entre os alemães o terno
Sonnabend significa a véspera do Domingo. De sorte que esta passagem também constitui
mais um argumento a favor da harmonia entre João e os sinóticos.
(e) João 19.31: “...pois era grande aquele dia de Sábado”. Desta passagem
argumenta-se que, nesta páscoa, o primeiro dia da festa pascal coincidia com o Sábado
semanal; mas isto é uma inferência inteiramente gratuita. Tal coincidência justificaria o
chamá-lo de “grande dia”, mas também podia ser assim designado o primeiro dia da festa, o
Vida de Cristo II 29

último dia é chamado “o grande dia da festa”. O Sábado ocorrido durante essa festa, do
mesmo modo seria um grande dia. Os argumentos de Robinson sobre este ponto são
concludentes. Nada se pode confirmar desta expressão, contra a posição dos sinóticos.
McCLellan discute várias passagens em João que demonstram que a crucificação teve lugar
na Sexta-feira, e que este era o primeiro dia da festa (Jo 18.39,40; 19.31,42; 20.1,19, etc.).
Concluímos, pois, que uma interpretação imparcial das passagens não somente remove
todas as aparentes contradições entre João e os sinóticos, mas também decididamente
favorece a opinião de que eles têm a mesma data para a páscoa, e que Jesus comeu a
páscoa na hora regular e foi crucificado na Sexta-feira, 15 de Nisan.

Extraído de
Harmonia dos Evangelhos
S. L. Watson e W. E. Allen
Casa Publicadora Batista
Vida de Cristo II 30

Evidências da Ressurreição de Cristo

Precauções para Segurança

1 – O Julgamento

Jesus foi trazido para julgamento diante do Governador romano, Pôncio Pilatos.
Todas as evidências disponíveis mostram que Pilatos foi um déspota extremamente cruel e
impiedoso. O historiador filo registra que ele foi responsável “por atrocidades sem conta e
numerosas execuções sem qualquer julgamento prévio”.

Confirmação Arqueológica sobre Pilatos


Até 1961 as únicas referências históricas sobre Pôncio Pilatos eram literárias. Então,
dois arqueólogos italianos, escavando a cidade portuária de Cesaréia, no Mar Mediterrâneo,
que servia como capital romana na Palestina, desencavaram uma inscrição em latim, que
media sessenta por noventa centímetros. Antônio Frova pode reconstruir a inscrição. Para
sua surpresa, leu: “Pôncio Pilatos, Governador da Judéia, apresentou Tibério ao povo de
Cesaréia”. Esta foi a primeira descoberta arqueológica de uma referência histórica à
existência de Pilatos.

Seis Julgamentos

É necessário que tomemos conhecimento de que Jesus Cristo passou por seis
julgamentos distintos. Um foi diante de Anás, o Sumo Sacerdote, outro diante de Caifás, o
terceiro diante do Sinédrio, o quarto diante de Pilatos, o quinto diante de Herodes, e o sexto
novamente diante de Pilatos. Houve três julgamentos judaicos e três julgamentos romanos.
Por que tudo isto com referência a um homem? Tanto as autoridades romanas como
as judaicas tinham muitas razões para estarem preocupadas com a permanência de Cristo
em liberdade.

Razão Política

Em primeiro lugar havia a razão política. Quando Jesus respondeu à pergunta do


Governador: “És tu o rei dos judeus?’, dizendo “Tu o dizes”, ele lhes deu motivos para ser
executado.
O juiz Haim Cohn, um erudito membro do Supremo Tribunal de Israel, em um artigo
intitulado “Reflexões sobre o Julgamento de Jesus” (“Reflections on the Trial of Jesus”) diz:
“Não pode haver dúvida de que uma confissão como esta era suficiente, de acordo com a lei
romana para condenar o acusado”. A ofensa devia ser punida com a morte e o Governador
era revestido com o jus gladi (o direito de executar a sentença de morte).
O professor R. E. Grant, da Universidade de Chicago, em seu ensaio “O Julgamento
de Jesus à Luz da História” (“The Trial of Jesus in the Light of history”), acredita que tanto os
judeus como os romanos interpretaram da mesma maneira a resposta de Cristo como sendo
uma referência à dignidade real. Grant acredita que a idéia do reino que Jesus pregava foi
interpretada, tanto pelos judeus quando pelos romanos, como trazendo com ela as
sementes de rebelião contra o poder romano.
Solomon Zeitiin escreveu na “Jewish Quarterly Review” (Revista Trimestral Judaica)
que “as autoridades romanas puniam não apenas os indivíduos que incitavam o povo contra
os romanos, mas também os líderes populares. Em alguns aspectos podemos dizer que os
líderes judeus eram mantidos como reféns para conseguirem que o povo fosse obediente ao
Estado Romano. Muitos líderes judeus, por causa da situação política, tinham de agir como
informantes contra alguns dos dissidentes e revolucionários do seu próprio povo para salvar
suas próprias vidas”.
Jesus era considerado pelas autoridades judaicas como uma ameaça, não apenas à
situação econômica mas também ao bem estar político do Estado Judeu, que era dominado
Vida de Cristo II 31

pelos romanos. Portanto foi em benefício tanto dos judeus como dos romanos, que o Sumo
Sacerdote informou as autoridades romanas sobre as atividades de Jesus.

O Problema Judaico

O Dr. David Flusser, da Universidade Hebriaca de Jerusalém, observa que o perigo


de um judeu revoltoso, cujos seguidores poderiam quebrar a paz a qualquer momento, se
constituía num problema tanto para as autoridades judaicas como romanas. Sob o ponto de
vista das autoridades judaicas, o Dr. Flusser escreveu: “Uma falha em trazer ao
conhecimento do Governador uma ameaça em potencial, enquanto esta podia ser
verificada, poderia ser desastrosa para eles e provocar represálias e motivar uma vigilância
mais intensa. Além do mais, poderia constituir-se numa atitude inteligente. No caso de haver
uma eclosão de protesto, esta seria atribuída aos defensores do profeta e o ódio popular
seria dirigido contra o Governador Romano e não contra eles mesmos. Assim, não
importava se as autoridades judaicas podiam ou não impor a pena de morte, pois pelo
senso comum, seria melhor deixar que Pilatos tomasse essa atitude”.

O Problema Romano

Sob o ponto de vista de Pilatos, escreve Flusse, o problemas era igualmente claro:
“Se ele, como governador, se recusasse a seguir o conselho dos líderes locai, que
conheciam seus incompreensíveis e traiçoeiros patrícios como nenhum romano podia
jamais esperar conhecer, e se este indivíduo, Jesus, viesse a ser uma séria ameaça, o
pensamento de que sua própria sorte, como governador, ficaria nas mãos do enfurecido
Tibério, o fazia tremer dos pés à cabeça”.
Entretanto, Flusser é o primeiro a notar que o medo de Pilatos incorrer no ódio dos
judeus não era nada comparado ao medo dos judeus de incorrerem na ira de Roma.
O historiador Paul Maier observa que houve “uma dúzia de insurreições na Palestina
desde que Pompeu conquistou a terra em 63 A.C. – a maioria deles esmagada pelas forças
de Roma – e que a ocorrência de uma outra possível rebelião messiânica, patrocinada por
Jesus de Nazaré, poderia abalar o precário equilíbrio da autoridade local e, esgotada a
paciência de Roma, poderia levar à direta ocupação pelas legiões romanas”.
Por razões políticas Jesus Cristo era uma ameaça.

Os Motivos Econômicos

Outra razão para querer Jesus fora do caminho era de natureza econômica. Depois
que Ele derrubou as mesas dos cambistas no Templo, eles temiam que ele pudesse, mais
tarde, acabar com o comércio dentro do templo. Possivelmente temiam uma revolta contra
as práticas que existiam no templo, por parte dos milhares de peregrinos que vinham para a
Páscoa, os quais tinham aclamado a Jesus como o Messias.

Os Motivos Religiosos

Outras razões que os levavam a se ocupar de Jesus eram pessoais e religiosas.


Este “fantástico religioso” estava conquistando muitos seguidores e causando problemas
aos líderes judeus. Muitos dos seus ensinamentos tradicionais estavam sendo questionados
pelas pessoas que tinham sido influenciadas por Jesus.

Os Dois Tribunais de Justiça

O sistema legal judaico era composto de dois diferentes Sinédrios. Um Sinédrio era
composto por 23 membros que julgavam casos que envolviam a pena de morte. O outro
Sinédrio, de 71 membros, podia servir como um Tribunal para casos que envolvessem o
Chefe do Estado ou o Sumo Sacerdote, e quaisquer outras pessoas por ofensas contra o
Vida de Cristo II 32

Estado ou o Templo. O Sinédrio de 71 membros podia deixar de julgar um caso que


envolvesse a pena capital. Provavelmente foi o Sinédrio de 23 membros que julgou Jesus.
Havia sempre um destes colegiados nas maiores cidades da Judéia.
Finalmente, depois de três julgamentos judaicos e três romanos, as autoridades
judaicas, de acordo com as romanas, decidiram que Jesus devia ser crucificado.
Muitas “precauções” foram adotadas para haver certeza de que, quando Jesus
estivesse morto, Ele permaneceria morto e enterrado!

2 – Morte por Crucificação

Os textos literários antigos e artefatos utilizados na crucificação esclarecem muito


pouco sobre esse costume antigo de execução. Mas há algumas inferências de que era
praticado.

A História da Crucificação

A partir de várias referências encontradas nos trabalhos de Heródoto e Tucidides


pode se asseverar que se não foram os persas que inventaram a crucificação, pelo menos
eles a praticavam em larga escala. Uma das melhores fontes sobre a prática da crucificação
é a Inscrição de Beshito na qual Dario conta que crucificou vários líderes rebeldes que ele
havia conquistado.
Uma das possíveis razões do aumento da popularidade desse tipo de execução é
que os persas tinham consagrado a sua terra ao deus Ormuz. A crucificação não macularia
a terra porque o corpo do executado não tocava o solo.
Alexandre, o Grande, introduziu a crucificação no mundo mediterrâneo –
principalmente no Egito e em Cartago. As indicações sugerem que os romanos aprenderam
o costume dos cartagineses.

Uma Morte Cruel

A morte por crucificação tornou-se um dos mais infames e cruéis métodos de tortura
do mundo antigo. Cícero a chamava “a mais cruel e horrenda das torturas”. Will Durant
escreveu que “até mesmo os romanos se compadeciam de suas vítimas”.
Flávio Josefo, o grande historiador judeu, que foi conselheiro de Tito durante o cerco
de Jerusalém assistiu a muitas crucificações e as chamava de “a mais ignóbil das mortes”.
Josefo conta que quando os romanos ameaçaram crucificar um dos prisioneiros judeus,
toda a guarnição dos Macários se rendeu para obter passagem livre. A crucificação era tão
repulsiva e degradante que normalmente os romanos não a usavam para os cidadãos
romanos, reservando-a para os escravos, a fim de desencorajar revoltas, ou para aqueles
que se rebelassem contra o governo romano. Era usada, principalmente, em casos políticos.
A acusação contra Cristo enfatiza este uso da crucificação: “E ali passaram a acusá-
lo, dizendo: Encontramos este homem pervertendo a nossa nação, vedando pagar tributo a
César e afirmando ser ele o Cristo, Rei”.
Seus acusadores estavam cientes do fato de que dez anos antes Tibério declarara
que um juiz podia executar imediatamente qualquer pessoa que se rebelasse contra Roma.
A crucificação, para a maioria, era conhecida da legislação criminal judaica. Os
judeus defendiam a execução por apedrejamento, fogueira, decapitação e estrangulamento.
O enforcamento foi permitido mais tarde. Nos casos em que as leis criminais judaicas
prescreviam “pendurar na forca”, não se tratava de uma punição para morte, mas uma pena
degradante depois da morte para os idólatras e blasfemos que já tivessem sido
apedrejados até morrer.
O enforcamento, de acordo com a lei, identificava o acusado como tendo sido
amaldiçoado por Deus. Normalmente, a crucificação, romana ou judaica, indicava qual o tipo
de crime o indivíduo havia cometido.
Vida de Cristo II 33

O Açoitamento

Após o Tribunal pronunciar o veredicto de crucificação, era costume amarrar o


acusado a um poste no próprio local. O criminosos era despido de suas roupas e, então
severamente chicoteado pelos encarregados do suplício.
O chicote, conhecido como “flagrum”, tinha um cabo inflexível ao qual era atadas
longas tiras de couro de vários comprimentos. Pedaços de ossos e chumbo, agudos e
denteados, eram trançados entre elas. Os judeus limitavam, por lei, a 40 chicotadas. Os
fariseus, com sua ênfase ao estrito cumprimento da lei, limitaram as chicotadas a 39, porque
no caso de contar errado, não quebrariam a lei. Os romanos não tinham tais limitações.
Despidos de qualquer aversão ou ódio, os romanos podiam ignorar totalmente a
limitação judaica, e provavelmente o fizeram no caso de Jesus.

Uma Perspectiva Médica

O Dr. C. Truman Davis, que estudou meticulosamente a crucificação sob o ponto de


vista médico, descreve os efeitos do “flagrum” romano usado no açoitamento: “O pesado
açoite é descido com toda a força após outra nos ombros, costas e pernas da pessoa. No
início as tiras grossas cortam apenas a pele. Mas como os açoites continuam, eles cortam
mais profundamente, atingindo os tecidos subcutâneos, produzindo primeiro um
gotejamento de sangue dos vasos capilares e veias da pele, e, finalmente jorros de sangue
arterial dos músculos subjacentes. As pequenas bolas de chumbo primeiro causam
contusões grandes e profundas que vão se abrindo por causa dos açoites seguidos.
Finalmente a pele das costas fica em tiras e toda a área torna-se uma massa irreconhecível
de tecido ferido e sangrento. Quando o centurião que cuida do prisioneiro percebe que este
está próximos da morte, param com os açoites.
Eusébio, um historiador do terceiro século, confirma a descrição do Dr. Davis quando
escreve: “As veias do condenado ficam expostas e o mesmo acontece com os próprios
músculos, tendões e vísceras da vítima. Will Durant diz que o corpo “se torna uma massa de
carne inchada e sangrenta”. Era costume, depois da flagelação, escarnecer do indivíduo e
os soldados romanos fizeram isto com Cristo. Colocaram um manto de púrpura sobre seus
ombros, supostamente significando realeza, e uma “coroa de espinhos” em sua cabeça.

A Coroa de Espinhos

Que espinho ou que tipo de espinho foi usado não se sabe. Uma espécie vem de
uma planta chamada “Espinho de Cristo Sírio”, um arbusto de mais ou menos 30 cm de
altura com dois espinhos ponteagudos e recurvados na parte inferior de cada folha. Esta
planta é comum na Palestina, especialmente próximos ao lugar chamado Gólgota, onde
Cristo foi crucificado.
Outra planta, simplesmente chamada “Espinho de Cristo”, é um arbusto anão de 10 a
20 cm de altura. Seus espinhos são fáceis de apanhar. Os galhos também são facilmente
obráveis para formar uma coroa, e os espinhos, em pares de comprimentos diferentes, são
duros – como pregos ou cravos.
Depois de colocar a coroa de espinhos na cabeça de Cristo, começaram a
escarnecer dele, dizendo: “Salve, Rei dos Judeus”. Também cuspiram nele e bateram-lhe
com uma vara. Então o levaram para ser crucificado.

O Peso da Trave

O condenado à crucificação tinha que carregar a sua própria trave, da prisão até o
lugar da execução. Esta trave tem uma história singular. Uma pesquisa do Dr. Pierre Barbet
mostra que “a furca era um pedaço de madeira em forma de V invertido, onde o varal das
carroças de duas rodas se apoiava quando estava no estábulo. Quando um escravo devia
ser punido, a furca era colocada enganchada em sua nuca, suas mãos eram amarradas aos
Vida de Cristo II 34

braços da mesma e era obrigado a caminhar no meio do povo, enquanto proclamava o seu
crime”.
O Dr. Barbet explica que, “a furca” era, às vezes, difícil de conseguir, começaram a
usar um pedaço de madeira comprido, que era usado para segurar portas de e era chamado
de patibulum (de patere, abrir)”. O patibulum pesava aproximadamente 49 quilos e era
amarrado aos ombros da vítima.

Crucificação com Pregos

Ao chegar ao lugar da crucificação, o condenado era pregado ou amarrado à cruz


por cordas. Muitas pessoas têm questionado a exatidão histórica quanto ao fato de Jesus
Ter tido as mãos e os pés pregados. A razão deste ceticismo é que a evidência deste fato
na história é quase inexistent.
O Dr. J. W. Heitt, em seu artigo na Revista Teológica de Harvard entitulado “O Uso
de Pregos na Crucificação”, disse: “Em resumo, é surpreendente como há pouca evidência
de que os pés de uma pessoa crucificada tenham sido alguma vez, pregados com pregos”.
Ele conclui dizendo que as mãos e pés das vítimas eram amarrados com cordas à cruz.
Durante anos a afirmação do Dr. Hewitt foi considerada como a palavra final. Por
isso, a conclusão era de que o registro do Novo Testamento sobre o fato de Cristo Ter sido
pregado à cruz era falso e enganoso. A crucificação, mediante pregos poderiam rasgar a
carne e não sustentaria o corpo na cruz.

Um Morto Fala

Então, veio a ocorrer uma revolucionária descoberta arqueológica em junho de 1968.


O arqueólogo V. Tzaferis, sob a direção do Departamento de Antigüidades e Museus de
Israel, descobriu quatro túmulos em cavernas no local de Giv’at há-Mivtar (Ras el-Masaref)
ao norte de Jerusalém, perto do Monte Scopus. Este grupo de túmulos, escavados em
pedra calcária, datam do período, entre o fim do segundo século A.C. e o ano 70 A.D..
Composto de átrios que conduzem às câmaras mortuárias, eles abrigavam 15 ossuários de
pedra calcária que continham os ossos de 35 pessoas.
Em muitas de suas urnas, a umidade tinha ajudado a preservar os ossos. Foi
constatada a evidência de morte por violência em cinco casos: por pancada de clava, por
uma flecha, e por crucificação. Os restos de esqueletos foram examinados pelo Dr. N. Haas
do Departamento de Anatomia da universidade Hebraica e da Faculdade de Medicina de
Hadassah.
O Túmulo nº. 1 – datado da primeiro século A.D. por causa de sua cerâmica-
continham alguns ossuários. No ossuário nº. 4, gravado com o nome de Yohanan Ben
Há’galga, foram encontrados os ossos de um homem adulto e de uma criança. Um grande
prego de 20 cm tinha sido cravado no osso do calcanhar e as duas penas tinham sido
fraturadas. Haas relata: “Os ossos dos dois calcanhares foram transfixados por um grande
prego de ferro. As tíbias tinham sido fraturadas intencionalmente. A morte foi causada por
crucificação”.
Esta descoberta da época de Cristo acrescenta sólida evidência arqueológica de que
o método de pregar as pessoas à uma cruz de madeira, como um meio de execução, como
é mencionado no Novo Testamento, não mais está unicamente baseado em evidências
literárias.
Os ossos do Ossuário nº. 4 confirmam uma outra passagem do Novo Testamento:
“Os soldados foram e quebraram as pernas ao primeiro e ao outro que com ele tinha sido
crucificado; chegando-se, porém a Jesus, como vissem que já estava morto, não lhe
quebraram as pernas”.
Haas concluiu que Yohanan teve as pernas quebradas como um golpe de
misericórdia, e que “o choque, repercutindo através dos ossos já comprimidos da barriga da
perna direita, foi uma pancada violenta e cruel para a esquerda, amarradas como estavam
às arestas agudas da cruz de madeira”.
Vida de Cristo II 35

O objetivo de Quebrar as Pernas

Novamente aqui temos uma evidência concreta para apoiar o texto do Novo
Testamento sobre o ato de quebrar as pernas. Para entender porque as pernas eram
quebradas, precisamos estudar as formas de execução. Os soldados pregavam o pesado
prego de ferro, perfurando através da depressão do pulso, na junção com a mão. Em
seguida, as pernas eram colocadas juntas e um prego grande era martelado nelas. Os
joelhos eram deixados flexionados levemente e um assento, conhecido como sedecula era
preso a cruz, para apoiar os quadris da vítima.
Haas observou que no caso de Yohanan “os pés foram colocados quase paralelos,
ambos transfixados pelo mesmo prego nos calcanhares, como as pernas próximas; os
joelhos foram dobrados, o direito sobrepondo-se ao esquerdo; o corpo estava contorcido; os
braços estavam esticados cada um perfurado por um prego no antebraço”.
O método comum de acabar com a crucificação era conhecido como fraturamento
dos ossos. Consistia na fratura dos ossos das pernas evitar que a vítima tentasse levantar o
corpo para respirar e evitar o sufocamento final.
O Dr. Truman Davis, já citado anteriormente, descreve o que se passa no corpo
humano depois de um curto período na cruz, como aconteceu com Jesus: “Com o cansaço
dos braços, ondas de cãibras correm pelos músculos, apertando-os numa profunda e
implacável dor latejante. Com estas cãibras vem a incapacidade de levantar o corpo. Presos
pelos braços, os músculos peitorais ficam paralisados e os músculos intercostais não podem
se mover. O ar pode ser aspirado pelos pulmões mas não pode ser expirado. Jesus deve
Ter lutado para levantar o corpo, tentando respirar um pouco. Finalmente, o fluxo de dióxido
de carbono aumenta nos pulmões e na corrente sangüínea e as cãibras melhoram
parcialmente. Espasmodicamente, ele é capaz de se levantar um pouco para exalar e inalar
o oxigênio vivificador”.
Depois de algum tempo, segue-se um desmaio por causa da circulação sangüínea
insuficiente para o cérebro e o coração. A única maneira pela qual a vítima pode evitar isso
é ficando em pé e assim o sangue pode voltar a circular na parte superior de seu corpo.
Quando as autoridades queriam acelerar a morte ou acabar com a tortura, as pernas
da vítima eram quebradas, logo abaixo dos joelhos, com um porrete. Isto evitava que ela
tentasse levantar o corpo para aliviar a tensão dos músculos peitorais e da caixa toráxica.
Seguia-se, então, uma sufocação rápida ou uma insuficiência coronária. No caso de Cristo,
as pernas dos dois ladrões crucificados com ele foram quebradas, mas não as dele porque
os executores viram que ele já estava morto.

Sangue e Água

Um dos executores enfiou uma lança no lado de Cristo e, como está registrado em
Jo 19.34 “imediatamente saiu sangue e água”.
Davis diz que “vazou um fluido aquoso da bolsa que circunda o coração. Nós,
entretanto, temos evidências pos-mortem conclusivas de que Cristo morreu, não pela morte
usual por sufocamento, mas por falha cardíaca devida ao choque e constrição do coração
pelo fluido do pericárdio”.
O Dr. Stuart Bergsma, um clínico e cirurgião, escreveu sobre o “sangue e água”,
dizendo: “Uma pequena quantidade de líquido pericárdio, cerca de 20 ou 30 cc,
normalmente é encontrada numa pessoa sadia. É possível que com um golpe que perfurou
o pericárdio e o coração, tenha escapado o líquido pericárdio em quantidade suficiente para
ser descrito como água”.
O Dr. Bergsma também conta que em exames post-mortem foram encontrados
muitos casos em que houve ruptura do coração e que a cavidade pericárdica continha
aproximadamente 500 cc de líquido e coágulos de sangue fresco”.
Duas outras autoridades médicas declaram que na ocorrência de ruptura do coração
“a morte é normalmente tão súbita, que em muitos casos a pessoa é vista morrendo
Vida de Cristo II 36

repentinamente ou é encontrada morta. A grande maioria destes casos é de ruptura


completa da parede do coração, produzindo hemopericardia”.

Os costumes Romanos

Depois de a vítima ser pregada, uma descrição de seu crime era afixada no alto da
cruz. Na tabuleta (ou titulus) no caso de Cristo lia-se: “Jesus de Nazaré, o Rei dos Judeus”.
De acordo com seu costume, os soldados romanos normalmente dividiam as roupas
da vítima. Entretanto, no caso de Cristo, havia apenas uma peça. Assim, lançaram sortes
por ela.
Pilatos exigiu que se certificassem da morte de Cristo antes do corpo ser entregue a
José de Arimatéia. E somente permitiu que o corpo fosse retirado ca cruz depois de quatro
executores confirmarem que Cristo estava morto.

Um Trabalho Bem Feito

A eficiência da execução por crucificação era bastante conhecida na época de Cristo.


O Dr. Paul L. Maier, professor de história Antiga na universidade Ocidental de Michigam,
escreveu: “Na verdade, há o registro de um caso em que a vítima foi retirada da cruz e
conseguiu sobreviver. O historiador judeu Josefo, que passou para o lado romano na
rebelião do ano 66 A.D., descobriu que três de seus amigos estavam sendo crucificados.
Pediu ao General Tito, comandante romano, para suspender a sentença e eles foram
imediatamente retirados de suas cruzes.
“Entretanto, dois morreram, embora aparentemente tenham permanecido na cruz por
pouco tempo. No caso de Jesus, porém, houve complicações adicionais por causa dos
açoites e esgotamento, além da lança que perfurou sua caixa toráxica e provavelmente
causou a ruptura do pericárdio. Os romanos eram muito eficientes: as vítimas não
escapavam com vida”.

3 – O Túmulo na Rocha

O corpo de Cristo foi colocado em um túmulo novo, cavado em rocha sólida, numa
área de cemitérios particulares. Os túmulos judaicos normalmente tinham uma entrada de
um metro e vinte a um metro e meio de altura. Depois da ressurreição, as mulheres
entraram em pânico ao verem o túmulo revolvido e voltaram correndo para contar aos
homens. Pedro e João correram para o túmulo e a Bíblia diz que João “abaixou-se e olhou”.
João abaixou-se porque a entrada media apenas um metro e vinte ou um metro e meio. Ele
não era um anão e certamente não queria bater a cabeça.
Muitos túmulos deste período tinham um átrio que levava à câmara mortuária. Uma
escavação retangular no centro da câmara mortuária possibilitava que uma pessoa ficasse
de pé. Ao seu redor havia alguns loculli ou sofás, como de alvenaria sobre os quais se
colocava o corpo. Muitas vezes, uma parte mais elevada servia de travesseiro.
Os sepulcros primitivos tinham um encaixe ou vala, cortado na frente da rocha, para
segurar a pedra que fechada a entrada. A vala era feita de tal maneira que sua parte mais
baixa ficava imediatamente em frente da entrada. Quando o bloco que segurava a pedra era
removido, a pedra rolava e se encaixava na frente d abertura, vedando-a completamente.

4 – O Sepultamento Judaico

Uma Quarta precaução para “maior segurança” foi o método do sepultamento. O


Novo Testamento é muito claro ao dizer que o sepultamento seguiu os costumes judaicos.

Nunca Passar a Noite


Vida de Cristo II 37

O corpo de Jesus foi tirado da cruz e coberto com um lenço. Os judeus eram muito
rigorosos quanto a não permitir que o corpo permanecesse a noite toda na cruz: “Se o corpo
for deixado pendurado durante a noite, um mandamento será transgredido. Porque está
escrito, o corpo não deve permanecer toda a noite pendurado à árvore, mas deve ser
enterrado no mesmo dia, pois foi pendurado por causa de um anátema contra Deus – e
como dizer porque foi pendurado? – porque blasfemou o nome de Deus; e assim também o
nome do céu (Deus) é profanado”.
Por outro lado, a crucificação de Jesus ocorreu na véspera do Sábado, e também por
este motivo o corpo não deveria ficar na cruz, conforme o registro de João 19.31.
O corpo foi imediatamente transportado para o lugar de sepultamento, no caso de
Cristo, para um túmulo particular perto do Gólgota, onde fora crucificado.

Preparação do Corpo

A fim de preparar o corpo para o sepultamento, os judeus o colocavam sobre uma


mesa de pedra a câmara funerária. Primeiro o corpo devia ser lavado com água morna. O
Talmud Babilônico (comentários dos judeus) registra que a lavagem do corpo era tão
importante para um sepultamento apropriado, que os judeus permitiam que fosse feita até
mesmo no Sábado.
A. P. Bender, em um artigo que publicou na Revista Trimestral Judaica, sob o título
“Crenças, Ritos e Costumes dos Judeus, relacionados com a Morte, Sepultamento e Luto”,
escreve que, de acordo com os antigos costumes dos judeus, “a água exigida para a
lavagem do morto devia ser morna. O cerimonial da lavagem do cadáver não devia ser feito
por uma pessoa apenas, mesmo que se tratasse de uma criança. Da mesma forma, o morto
não devia ser mudado de posição a não ser por duas pessoas no mínimo. O cadáver era
colocado numa prancha, com os pés voltados para a porta, e coberto com um lençol limpo.
Então era lavado com água tépida, da cabeça aos pés, e durante esse trabalho cobria-se a
boca do morto para que não escorresse água para dentro”.
“Primeiro, o corpo ficava com o rosto voltado para cima, depois inclinava-se para o
lado direito enquanto o lado esquerdo e parte das costas eram lavados, depois vira-se para
o lado esquerdo enquanto o lado direito e o resto das costas recebiam o mesmo tratamento,
e em seguida o corpo ficava de costas. Em alguns casos as unhas eram cortadas, mas
geralmente eram simplesmente limpas com uma espécie de alfinete, e o cabelo geralmente
arrumado do jeito que era usado em vida”.
“Enquanto se realizava este cerimonial eram recitados alguns versos pelos que
oficiavam, concluindo com estas palavras: “E eu aspergirei água limpa sobre você, e ficará
limpo” (Ez 36.25)”.
“A prancha na qual o corpo repousava era lavada, e a água que tivesse espirrado ao
redor era enxugada, para que ninguém passasse por cima. Derrubar a prancha era perigoso
e, como conseqüência, alguém poderia morrer nos três dias seguintes” (Testamento de R.
Jehuda Chasid, VI).

As Ervas Aromáticas

Era costume, como se verifica no Novo Testamento, preparar o corpo, depois de


lavado, com várias espécies de ervas aromáticas.
No caso do sepultamento de Cristo, foram usados cerca de 45 quilos de ervas. Pode-
se pensar nisto como sendo uma grande quantidade, mas, para um líder não o era.
Gamaliel, por exemplo, neto de um conhecido sábio judeu chamado Hilel, também foi
contemporâneo de Jesus. Saulo de Tarso estudou com ele. Quando Gamaliel morreu, usou-
se 39 quilos de ervas. Josefo, o historiador judeu, relata que quando Herodes morreu, foram
necessários 500 escravos para carregar as ervas. Assim, 45 quilos não era uma quantidade
incomum.

Faixa de Linho
Vida de Cristo II 38

Os membros eram arrumados e o corpo vestido com a mortalha feita de linho branco.
Não podia haver a mínima ornamentação ou mancha na mortalha, que era costurada pelas
mulheres, não sendo admitida a existência de nós. Para alguns, isto indicava que a mente
do morto estava “desembaraçada dos problemas da vida” e para outros, indicava a
“continuidade da alma pela eternidade”. Ninguém podia ser enterrado com menos de três
vestimentas distintas.
O autor é bastante cético quanto ao Sudário de Turim. Muitos acreditam que a túnica
é a mesma do sepultamento de Cristo.
Nesta altura, as ervas aromáticas, misturadas com um pó de madeira perfumada
conhecido como aloés, eram acrescentadas a uma substância pegajosa conhecida como
mirra. Começando pelos pés, o corpo era enrolado com as faixas de linho. Entre as dobras
eram colocadas as ervas misturadas com a mirra. As faixas seguiam até às axilas. Os
braços eram colocados para baixo, e depois era enfaixado o pescoço. Uma peça separada
era enrolada ao redor da cabeça. O peso estimado de toda esta roupagem deve ser entre
52 e 54 quilos.
João Crisóstomo, no Século IV A.D. comentou que “a mirra usada era uma
substância que aderia tão firmemente ao corpo que as mortalhas não poderiam ser
removidas com facilidade”.

5 – Uma Pedra Grande

Mateus relata em seus escritos que uma grande pedra foi rolada contra a entrada do
túmulo. Marcos diz que a pedra era muito grande. Na linguagem de hoje, ele teria dito:
“Puxa, que pedra imensa”.
Qual seria o tamanho desta pedra imensa?

Vinte Homens

No texto de Marcos 16.4 dos manuscritos de Bezae da Biblioteca de Cambridge, na


Inglaterra, foi encontrado um comentário intercalo que acrescenta: “E quando ele foi
colocado lá, ele (José) pôs contra o sepulcro uma pedra que vinte homens não podiam tirar”.
O significado disto é percebido quando se considera as regras para transcrever
manuscritos. Era costume que, se um copista estivesse enfatizado a sua própria
interpretação, ele escreveria seu pensamento na margem e não o incluiria no texto. Pode-se
concluir, entretanto, que a inserção no texto teria sido copiada de um texto muito próximo da
época de Cristo, talvez um manuscrito do primeiro século. A frase, então, poderia Ter sido
registrada por uma testemunha que ficou impressionada com a enormidade da pedra que foi
empurrada contra o sepulcro de Jesus.

Quase Duas Toneladas

“Depois de minha conferência na Universidade do Estado de Georgia, nos Estados


unidos, dois professores do curso de engenharia seguiram uma excursão para Israel com
outros membros do corpo docente. Lembraram-se dos comentários que eu havia feito sobre
o tamanho da pedra. Assim, sendo engenheiros, viram o tipo de pedra usada no tempo de
Cristo e calcularam o tamanho necessário para fechar uma entrada medindo entre 1,20m e
1,50m.
Mais tarde, escreveram-se uma carta com todos os termos técnicos, e, no verso do
papel, puseram as suas conclusões em uma linguagem bastante simples.
Disseram que uma pedra daquele tamanho deveria pesar no mínimo de uma e meia
a duas toneladas. Não é de admirar que Mateus e Marcos tenham dito que a pedra era
extremamente grande”.
Alguém pode perguntar: “Se a pedra era tão grande, como José fez para colocá-la na
posição inicial, fechando o túmulo”? Simplesmente deu-lhe um empurrão e deixou a
Vida de Cristo II 39

gravidade fazer o resto. Ela deve Ter sido mantida no lugar por algum calço, quando foi
posta numa canaleta ou valeta com declive na direção da entrada do túmulo. Quando o
calço foi removido, a pedra redonda e pesada rolou para sua posição.

6 – A Guarda Romana

Os líderes judeus andavam em pânico, porque milhares estavam se voltando para


Cristo. Para evitar um problema político, era vantajoso, tanto para os judeus quanto para os
romanos, ter certeza de que Jesus tinha sido efetivamente descartado.
Assim, o Sumo Sacerdote e os fariseus se juntaram e disseram a Pilatos: “Senhor,
lembramo-nos de que aquele embusteiro, enquanto vivia, disse: Depois de três dias
ressuscitarei. Ordena pois, que o sepulcro seja guardado com segurança até ao terceiro dia,
para não suceder que, vindo os discípulos, o roubem, e depois digam ao povo: Ressuscitou
dos mortos; e será o último embuste pior que o primeiro”.
“Pilatos lhes disse: Aí tendes uma escolta; ide e guardai o sepulcro como bem vos
parecer. E indo eles, montaram guarda ao sepulcro, selando a pedra e deixando ali a
escolta”.
Algumas pessoas podem argumentar que Pilatos poderia Ter dito: “Olhem, vocês
têm os guardas do templo. Usem guardas do templo para efetuar a segurança”.

A Guarda do Templo

Agora, se você pensa que foi a Guarda do Templo você precisa saber como era
constituída. Ela era formada por um grupo de 10 levitas que eram colocados de guarda em
diferentes lugares do templo. O número dos homens da guarda era de 270. Representavam
27 unidades de 10. A disciplina militar da guarda do templo era bastante boa. À noite, se o
capitão encontrasse um membro da guarda dormindo, ele era açoitado e queimado com
suas roupas. Um membro da guarda também estava proibido de sentar-se ou de se
encostar contra alguma coisa em serviço.

A Guarda Romana

Entretanto estamos convencidos de que foi a Guarda Romana que foi colocada no
sepulcro de Cristo para vigiá-lo.
A.T. Robertson, um grande estudiosos da língua grega diz que esta frase está no
imperativo e só pode se referir à Guarda Romana, e não à guarda do Templo. De acordo
com ele, Pilatos disse literalmente: “Tende uma guarda”.
Robertson acrescenta que a forma latina koustodia aparece bem antes nos papiros
de Oxyrhynchus com referência à Guarda Romana. Os judeus sabiam que Pilatos queria
manter a paz, assim estavam certos que ele lhes daria o que queriam.
O que era a Guarda Romana?
A “custódia” romana fazia muito mais do que cuidar de um edifício. A palavra
“custódia” representava uma unidade de guarda da legião romana. Esta unidade era,
provavelmente, uma das maiores máquinas ofensivas e defensivas jamais concebidas.
Uma fonte de ajuda para maior compreensão da importância da guarda romana é
Flavius Vegitius Renatus. Seus amigos o chamavam de Vegitius. Era um historiador militar e
viveu centenas de anos depois de Cristo, quando o Exército Romano começou a se
deteriorar quanto à disciplina. Ele escreveu um manual para o Imperador romano
Valentiniano com o propósito de encorajá-lo a instituir os métodos de guerra ofensiva e
defensiva usados pelos romanos na época de Cristo. Seu livro, chamado “A Organização
Militar dos Romanos”, constitui-se num clássico.
Vegitius queria ver os exércitos de Roma restaurados à eficiência e poder que os
caracterizava nos tempos de Cristo. Estes exércitos foram grandes porque eram altamente
disciplinados. Ele escreveu: “A vitória na guerra não depende apenas de número ou de
coragem; apenas destreza e disciplina assegurarão a vitória”. Sabemos que “os romanos
Vida de Cristo II 40

devem a conquista do mundo ao seu contínuo treino militar, à observância meticulosa da


disciplina nos acampamentos e ao cultivo incansável das outras artes de guerra”.
Há duas outras fontes excelentes. Na Universidade de Indiana, nos Estados Unidos,
o Dr. George Currie escreveu sua tese de doutoramento sobre a custódia romana e o Dr.
Smith publicou o seu famoso “Dicionário da Antigüidade Grega e Romana”.

A Força da Guarda Romana

Essas e outras fontes mostram que a Guarda Romana não se constituía numa força
de um, dois ou três homens. Pinturas desdenhosas do sepulcro de Jesus Cristo mostram
um ou dois homens de pé nas proximidades com lanças de madeira e saiotes curtos. Isto é
risível.
Uma unidade da Guarda Romana compunha-se de 4 a 16 homens. Cada homem era
treinado para proteger um metro e oitenta de terra. Supunha-se que 16 homens, formando
um quadrado de quatro de cada lado, fossem capazes de proteger uma área de 36 metros
quadrados contra um batalhão inteiro, e conservá-lo em seu poder.
Normalmente o que eles faziam era isto: quatro homens eram colocados
imediatamente na frente do que deveria ser protegido. Os outros doze ficavam dormindo em
semicírculo em frente a eles com as cabeças para o lado de dentro. Para roubar o que estes
guardas estavam protegendo, os ladrões deveriam, primeiro, passar por cima dos que
estavam dormindo. A cada quatro horas, uma outra unidade de quatro soldados era
acordada, e os que tinham estado acordados iam dormir.
Eles faziam este rodízio intermitentemente.
O historiador Dr. Paul Maier escreve: “Pedro teria sido guardado por quatro
esquadrões de quatro homens cada um, quando foi preso por Herodes Agripa (Atos 12).
Assim seria o número mínimo esperado do lado de fora da prisão. Os guardas de
antigamente sempre dormiam em turnos, e assim seria virtualmente impossível que um
grupo sublevado passasse por cima dos guardas adormecidos, sem acordá-los”.

O Suborno

Mateus também registra que era uma força constituída de muitos homens, quando
escreveu que “alguns da guarda vieram à cidade e contaram ao Sumo Sacerdote tudo o que
tinha acontecido”.
A esta altura um crítico pode dizer: “Eles vieram ao Sumo Sacerdote. Isto mostra que
eram da Guarda do Templo”. Entretanto o contexto é claro, de que eles vieram ao Sumo
Sacerdote porque ele tinha influência entre as autoridades romanas e porque era a única
possibilidade de salvar as suas vidas, tendo em vista o desaparecimento do corpo de Cristo,
que eles deveriam Ter guardado. O Sumo Sacerdote tentou suborná-los (o que teria sido um
escárnio se pertencessem à Guarda do Templo). Deu-lhes dinheiro e disse-lhes o que
contar ao povo. Quando as notícias chegaram a Pilatos, este disse que o Sumo Sacerdote
deveria guardá-los para não serem mortos. O certo seria receberem pena de morte, porque
diziam que dormiram enquanto guardavam o túmulo.
É significativo que o Governador tenha ficado satisfeito, porque eu não consegui
encontrar nenhum relato na história – secular, judaica ou cristã – mostrando que o
Governador Romano tivesse alguma coisa a ver com a Guarda do Templo.
Mesmo que a guarda do sepulcro tivesse sido feita pela Guarda do Templo, a
segurança teria sido não menos perfeita.

A Máquina de Combate

T.G. Tucker, em seu livro, “Life in the Roman World of Nero and St. Paul” (“A Vida no
Mundo Romano de Nero e S. Paulo”) descreve um destes guardas: “Sobre o peito e com
abas sobre os ombros, usava um colete de couro coberto com camadas de argolas ou
Vida de Cristo II 41

talvez escamas, de ferro ou bronze. Na cabeça colocava um capacete como uma panela
achatada ou boné de ferro”.
“Na mão direita segurava a famosa lança romana. Era uma arma pesada, de um
metro e oitenta de comprimento, consistindo de uma aguda ponta de ferro fixada em uma
haste de madeira, e o soldado podia usá-la como uma baioneta ou podia arremessá-la como
lança e então lutar corpo a corpo, com a espada”.
“No braço direito tinha um escudo que podia ser de várias formas. O escudo não era
apenas empunhado mas era sustentado por uma correia que passava pelo ombro direito.
Para não ser atrapalhada pelo escudo, a espada – uma arma mais perfurante do que
cortante, de mais ou menos 90 cm de comprimento – ficava dependurada do lado direito
numa correia que passava pelo ombro esquerdo. Do lado esquerdo, o soldado usava uma
adaga fixada no cinto”.
Políbio, o historiador grego do Século II A.C. relata que, além disto tudo, “os homens
usavam uma coroa feita de penas, com três penas levantadas, purpúreas ou pretas, de mais
ou menos 45 cm; quando colocavam esta coroa n cabeça junto com o resto das armas, o
homem parecia bem alto do que era na realidade, e sua aparência era impressionante e
aterrorizava o inimigo. Os homens de classe menos abastada também usavam uma placa
de bronze, de 20 cm quadrados, que colocavam na frente do peito e chamavam “guarda do
coração”; isto completava o armamento. Mas estas placas custavam mais de 10.000
dracmas, e ao invés de usarem a guarda do coração, com os resto do equipamento usavam
uma cota de malha”.

Uma Disciplina Severa

Tucker chama a atenção para o fato de que, quando um soldado se juntava a uma
unidade, “fazia um juramento solene de que obedeceria lealmente ao seu comandante em
chefe, o Imperador, representado por seus subordinados, seus oficiais imediatos. Este
juramento era repetido a cada 1º de janeiro e na data comemorativa da ascensão do
Imperador”.

7 – O Selo Romano

Mateus registra que “juntamente com a guarda colocaram um selo na pedra”. A.T.
Robertson diz que este selo só poderia ser colocado na pedra em presença dos soldados
romanos que estavam de guarda. Vegitius diz a mesma coisa. A finalidade deste
procedimento era prevenir que alguém pudesse mexer no conteúdo do túmulo.
Depois da guarda inspecionar o túmulo e colocar a pedra no lugar, uma corda era
esticada sobre a pedra. Esta corda era fixada em cada extremidade com uma argila especial
para lacração. Finalmente, as porções de argila eram marcadas com o sinete oficial do
Governador Romano.
Uma fato semelhante a este aconteceu com Daniel: “Foi trazida uma pedra e posta
sobre a boca da cova; selou-a o rei com o seu próprio anel, e com o dos seus grandes, para
que nada se mudasse a respeito de Daniel”.

Finalidade do Selo

Henry Sumner Maina, membro do Supremo Conselho da Índia, antigamente


Professor de Direito Civil da Universidade de Cambridge, comentando sobre a autoridade
legal vinculada ao selo romano, disse: “Os selos na antigüidade eram realmente
considerados como um meio de autenticação”.
Autenticar alguma coisa significa provar que ela é real ou genuína. Assim, este selo
no túmulo de Jesus era um testemunho público de que o corpo de Cristo estava realmente
lá. Além do mais, por causa do selo romano, verifica-se que seu corpo estava protegido cos
vândalos por nada menos do que o poder e autoridade do Império Romano.
Vida de Cristo II 42

Qualquer um que tentasse remover a pedra da entrada do túmulo iria quebrar o selo
e, assim, incorrer no castigo da lei romana.

Advertência aos Ladrões

Em Nazaré, foi descoberta uma placa de mármore com uma inscrição bem
interessante: “Uma Advertência aos Ladrões de Túmulos”. Estava escrita em grego e dizia:
‘Decreto de César. É minha vontade que sepulturas e túmulos permaneçam perpetuamente
sem serem perturbados para aquelas que os fizeram para culto de seus ancestrais ou filhos
e membros de suas casas. Se, entretanto, alguém fizer acusação de que outrem os
destruiu, ou de alguma outra maneira retirou o que estava enterrado, ou malignamente
transferiu para outro lugar para causar dano, ou substituiu a lacração ou outras pedras,
contra tal ordeno que seja instaurado um julgamento, tanto em respeito aos deuses quanto
es respeito ao culto dos mortos. Por isso deve ser obrigatório honrar os mortos. É
absolutamente proibido que qualquer pessoa os perturbe. Em caso de violação ordeno que
o ofensor seja sentenciado à pena capital sob a acusação de violação de sepulcro”.
Maier observa: “Todos os editos romanos referentes à violação de sepulturas
determinavam apenas uma grande multa, e pode-se presumir que alguma infração tão séria
teria levado o governo romano a aumentar a pena exatamente na Palestina e erigir uma
notificação concernente especificamente a Nazaré ou circunvizinhança”. Pode muito bem
ser a resposta à comoção causada pela ressurreição de Cristo.

SUMÁRIO

Muitas preocupações de natureza religiosa e problemas de ordem política motivaram


tanto os judeus como o Governador Romano, Pôncio Pilatos, a matarem Jesus Cristo.
Algo, porém, aconteceu. Alguma coisa aconteceu, há quase 2.000 anos atrás, que
mudou o curso da história de A.C. (Antes de Cristo) para A.D. (Depois de Cristo. Do latim:
Anno Domini – o ano do Nosso Senhor).
Esta “alguma coisa” foi tão dramática que mudou completamente a vida de 11
homens, de tal maneira que dos 11 apenas um não morreu como mártir.
Esta “alguma coisa” foi um túmulo vazio. Um túmulo vazio que uma caminhada de 15
minutos a partir do centro de Jerusalém poderia confirmar ou refutar.
Mesmo depois de 2.000 anos de história, a humanidade não esqueceu o túmulo
vazio e as aparições de Jesus Cristo ressurreto.
Se você quiser racionalizar os eventos que cercam Jesus Cristo e Sua ressurreição,
precisa mexer com alguns imponderáveis. De fato, você pode dizer que tanto os judeus
quanto os romanos lograram a si mesmo quando tomaram tantas precauções para ficar
seguros da morte de Jesus e de que ele permaneceria no túmulo. Estas “precauções para
segurança” – tomadas com o julgamento, crucificação, sepultamento, lacração e guarda do
sepulcro de Cristo – dificulta aos críticos defenderem a sua posição de que Cristo não
ressuscitou dos mortos.
Considere os fatos que vamos localizar:

Fato 1: - O Selo Romano foi Quebrado

O primeiro fato óbvio foi a quebra do selo que mostrava o poder e autoridade do
Império Romano. As conseqüências de se quebrar o selo eram severas. O FBI e a CIA do
Império Romano seriam chamados a agir, a fim de encontrar os responsáveis. Quando
fossem encontrados, seriam imediatamente executados, por crucificação de cabeça para
baixo, e seu estômago subiria à garganta. As pessoas temiam a quebra do selo.

Fato 2: - O Túmulo Vazio


Vida de Cristo II 43

Outro fato óbvio, depois da ressurreição foi o túmulo vazio. Os discípulos de Cristo
não foram para Atenas ou Roma pregar Cristo ressurreto dentre os mortos. Eles voltaram
para Jerusalém, onde, se o que eles tinham ensinado fosse falso, sua mensagem teria sido
contestada. A ressurreição não poderia Ter sido sustentada nem por um só momento em
Jerusalém se o túmulo não estivesse vazio.
O Dr. Paul Maier diz: “Onde o cristianismo começou? A resposta deve ser: Apenas
em um ponto da terra: a cidade de Jerusalém. Mas este seria o último lugar em que poderia
começar se o túmulo de Jesus permanecesse ocupado, desde que alguém, exibindo um
Jesus morto, poderia ser desferido um golpe direto no coração do cristianismo incipiente,
inflamado por sua suposta ressurreição”.
“O que houve em Jerusalém, no Dia de Pentecostes, sete semanas depois da
primeira Páscoa, somente poderia Ter acontecido se o corpo de Jesus estivesse
desaparecido de alguma maneira do túmulo de José de Arimatéia, porque de outra maneira
a organização do templo, nesta confusão com os apóstolos, teria simplesmente abortado o
movimento, fazendo uma simples caminhada até o sepulcro de José de Arimatéia e
expondo a Prova “A”. Não fizeram isto, porque sabiam que o túmulo estava vazio. A
explicação oficial – de que os discípulos tinham roubado o corpo – foi uma admissão de que
o sepulcro estava realmente vazio.

Confirmação Histórica

Há fontes e tradições, tanto romanas quanto judaicas, que reconhecem um túmulo


vazio. Estas fontes variam do historiador judeu Josefo até uma compilação de documentos
judaicos do Século V chamado de “Toledoth Jeshu”. Maier chama a isto “evidência positiva
de uma fonte hostil”, que é a forma mais forte de evidência histórica. Em resumo, isto
significa que se uma fonte admite o fato que decididamente não é a seu favor, então o fato é
genuíno”.
A primeira alegação dos judeus e romanos, contra a evidência de que o túmulo
estava vazio foi de que “os discípulos roubaram o corpo”.
Gamaliel, que era membro do Sinédrio manifestou a idéia de que o movimento
cristão provinha de Deus; ele não teria feito isto se o túmulo estivesse ocupado, ou se o
Sinédrio soubesse do paradeiro do corpo de Cristo.
Mesmo Justino, o Mártir, em seu “Diálogo com Trifo”, conta que as autoridades de
Jerusalém enviaram representantes especiais por todo o mundo mediterrâneo para
desmentir a história do túmulo vazio, com a explicação de que os seguidores de Jesus
tinham roubado o corpo. Por que teriam as autoridades judaicas subornado os guardas
romanos e propagado a explicação do “corpo roubado” se o túmulo estivesse ocupado?
O historiador Ron Sider concluiu que : “Se os cristãos e seus oponentes judaicos
concordaram que o túmulo estava vazio, não temos escolha a não ser aceitar o túmulo vazio
como um fato histórico”.
Tom Anderson, antigo presidente da Associação dos Advogados do Júri do Estado
da Califórnia e co-autor do “Manual básico de Direito da Associação dos Advogados do Júri
da América”, diz: “Vamos presumir que Cristo não ressuscitou dos mortos. Vamos presumir
que os relatos escritos de suas aparições a centenas de pessoas são falsos. Quero colocar
uma questão: sendo um evento tão propagado, você não acha que seria razoável que um
historiador, uma testemunha, uma antagonista qualquer tivesse registrado, para todo o
sempre, que tinha visto o corpo de Cristo: “Ouçam, eu vi o túmulo – não estava vazio! Vejam
eu estava lá, Cristo não ressurgiu dos mortos! Na verdade, eu vi o corpo de Cristo! No
entanto, o silêncio da história é ensurdecedor quando vem testemunhar contra a
ressurreição de Cristo”.

Evidência Conclusiva

Paul Maier observa: ‘Portanto, se todas as evidências forem pesadas cuidadosa e


imparcialmente, é de fato justificável, de acordo com os cânones da pesquisa histórica,
Vida de Cristo II 44

concluir que o sepulcro de José de Arimatéia, no qual Jesus tinha sido sepultado, estava
realmente vazio na manhã da primeira Páscoa. E nenhum indício de prova foi ainda
descoberto em fontes literárias, arqueológicas ou de inscrições antigas que pudesse
contestar esta afirmação”.
O túmulo vazio é um testemunho silencioso da ressurreição de Cristo, que nunca foi
refutado até ao dia de hoje.

Fato 3: - A Grande Pedra Removida

Naquele domingo de manhã, a primeira coisa que impressionou as pessoas que se


aproximaram do túmulo foi a posição pouco usual da pedra de quase duas toneladas, que
tinha sido colocada fechando a entrada. Todos os autores dos Evangelhos mencionam a
remoção dessa grande pedra.

Acima da Inclinação

Por exemplo, em Mateus 27, é dito que “uma grande pedra foi rolada contra a
entrada do sepulcro”. Aqui a palavra grega usada para rolar é kulio, que significa “rolar”.
Marcos usa a mesma raiz da palavra kulio. Entretanto, em Marcos 16, ele acrescenta uma
preposição para explicar a posição da pedra depois da ressurreição.
Em grego, como em inglês, para mudar o sentido ou dar maior intensidade a um
verbo, acrescentar-se uma preposição. Ele acrescentou a preposição ana, que significa
“acima ou para cima”. Assim, anakulio pode significar “rolar alguma coisa para cima de uma
ladeira ou inclinação”. Para Marcos Ter usado este verbo, deveria existir uma ladeira ou
uma inclinação descendo em direção à entrada do túmulo.

Longe do Lugar

De fato, a pedra estava tão longe “em cima da ladeira” que Lucas usou a mesma raiz
da palavra kulio, mas acrescentou uma preposição diferente, apo. Apo pode significar, de
acordo com o léxico grego, “uma separação de”, no sentido de “distante de”. Apokulio,
então, quer dizer rolar um objeto no sentido de “separar” ou de “distanciar dele”.
Eles viram a pedra removida no sentido de estar distanciada do “quê”?
Voltemos a Marcos 16. No Domingo de manhã, as mulheres vieram até o túmulo.
Pode-se dizer: “Espere um pouco. Por que estas mulheres vieram até o túmulo
domingo de manhã”? Uma razão era ungir o corpo por sobre a mortalha com uma mistura
de especiarias e perfumes.
Alguém pode perguntar: “Por que elas teriam vindo, desde que a guarda romana
estava lá vigiando o túmulo?”
É muito simples. As mulheres não sabiam sequer que a Guarda Romana tinha sido
encarregada de vigiar o sepulcro. Na Sexta-feira elas tinham visto o corpo ser preparado
numa área particular. Moravam no subúrbio de Betânia e assim não estavam a par das
decisões dos romanos e judeus de colocarem uma segurança extra no local do
sepultamento do Cristo.
Voltemos a Marcos 16 novamente.
As mulheres estavam dizendo: “Quem tirará para nós a pedra da entrada do
túmulo?” Aqui, elas usaram a palavra grega para “entrada”. É lógico, não é? Mas, quando
chegaram lá disseram: “Quem retirou a pedra para longe de ...?” e aqui, porém mudaram a
palavra, e em vez de dizerem “entrada”, para usarem o termo grego que indica sepulcro
inteiro, completo e sólido. Apokulio, então, significa “longe de” no sentido de “distante do
sepulcro sólido e completo”.

Levantada e Transportada
Vida de Cristo II 45

De fato, a pedra estava em tal posição, acima da ladeira e longe do bloco do


sepulcro, que João (Capítulo 20) teve de usar um outro verbo grego, aire, o qual (de acordo
com o léxico de Arndt e Gingrishi significa “levantar alguma coisa e levar para longe”.
Agora, eu pergunto, se os discípulos quisessem entrar, andando nas pontas dos pés
entre os guardas que estavam dormindo, rolar a pedra e roubar o corpo do Cristo, por que
teriam removido uma pedra de quase duas toneladas ladeira acima longe do bloco do
sepulcro para uma posição que mostraria que alguém a tinha levantado e carregado para
longe? Aqueles soldados deviam ser totalmente surdos para não terem ouvido a remoção
da pedra.

Fato 4: - Uma “Crise de Ausência”

A Guarda Romana teria fugido? Os soldados teriam deixado seu posto? Isto tem que
ser posto de lado porque a disciplina militar dos romanos era excepcionalmente boa. Justino
em seu Digesto, capítulo 49, menciona todas as transgressões que exigiam a pena de
morte: Passar para o lado inimigo (3.4), desertar (3.11 – 5.1-3), perder ou vender o
armamento (3.13), desobedecer, em tempo de guerra (3.15), atravessar a muralha ou
trincheira (3.17), iniciar um motim (3.19), recusar proteção a um oficial ou abandonar o posto
(3.22), fugir do serviço (4.2), assassinar alguém (4.5), agredir um superior ou insultar um
oficial (6.1), liderar fuga (6.3), revelar planos ao inimigo (6.4;7) ferir outro soldado (6.6),
mutilar-se ou tentar suicídio sem motivo razoável (6.7), abandonar a vigília noturna (10.1),
quebrar o bastão do centurião ou bater nele quando punido (13.4), fugir do quartel (13.5) e
perturbar a paz (16.1).
Ao acima descrito pode-se acrescentar “cair no sono”. Se não fosse descoberto qual
o soldado que falhara em serviço, então muitos deles eram presos e julgados para se apurar
quem seria punido com a morte, pela falha da unidade da guarda.

Queimado Vivo

Um dos modos de execução de um soldado culpado era despi-lo de suas roupas e


depois queimá-lo vivo numa fogueira iniciada com a queima de suas vestes. Certamente a
unidade inteira não teria caído no sono com esta ameaça pairando sobre as suas cabeças.
A história da disciplina e segurança romana atesta o fato de que se o túmulo não estivesse
realmente vazio, os soldados nunca teriam deixado a sua posição, nem teriam ido ao Sumo
Sacerdote. O medo da ira de seus superiores e a possibilidade de sofrerem a pena de
morte, significava que prestavam uma grande atenção aos mínimos detalhes de sua tarefa.
O Dr. George Currie, que estudou cuidadosamente a disciplina militar dos romanos,
escreveu que o medo da punição resulta em impecável atenção ao dever, especialmente às
vigílias noturnas.

Medo de Punição

O Dr. Bill White é responsável pelo Jardim do Sepulcro em Jerusalém. Suas


responsabilidades o levaram a estudar, de forma intensiva, a ressurreição e os eventos
subseqüentes à primeira Páscoa. White faz severas observações críticas acerca das
autoridades judaicas subornarem a Guarda Romana:
“Se a pedra estivesse simplesmente rolado para o lado do sepulcro, como seria
necessário para se poder entrar, então eles poderiam ser justificados ao acusar os homens
de dormirem em seus postos, e em puni-los com severidade. Se os homens protestassem
dizendo que um terremoto tinha quebrado o solo e que a pedra rolou por causa do tremor,
eles ainda seriam passíveis de punição por um comportamento que poderia ser rotulado de
covardia”.
“Mas estas possibilidades não aconteceram. Houve alguma evidência inegável que
tornou impossível para o Sumo Sacerdote fazer qualquer acusação contra a Guarda
Romana. As autoridades judaicas devem Ter ido ver a cena, examinando a pedra e
Vida de Cristo II 46

reconhecido que sua posição tornava humanamente impossível que os homens tivessem
permitido a sua remoção. Nenhum lampejo de engenhosidade humana pode apresentar
uma resposta adequada ou arranjar um “bode expiatório”, e, assim, foram forçados a
subornar a guarda e procurar encobrir as coisas”.

Fato 5: - A Mortalha Conta a História

No sentido literal, contra todas as afirmações em contrário, o túmulo não estava


vazio por causa de um fenômeno surpreendente. Depois de visitar o túmulo e ver que a
pedra tinha sido removida, as mulheres voltaram correndo e contaram aos discípulos. Então
Pedro e João correram para lá. João correu mais que Pedro e chegando ao túmulo não
entrou. Abaixou-se para olhar e viu que alguma coisa tão espantosa que imediatamente
creu.
Olhou para o lugar onde o corpo de Jesus estivera. Lá estava a mortalha, no formato
do corpo, levemente amassada e vazia – como o casulo vazio da larva da crisália. Aquilo
era o suficiente para fazer de qualquer indivíduo um crente. Ele nunca esqueceu isto.
A primeira coisa que penetrou a mente dos discípulos não foi o túmulo vazio, mas a
mortalha vazia – impertubável em sua forma e posição.

Fato 6: - As Aparições Confirmam

Em várias ocasiões Cristo apareceu vivo depois dos eventos cataclísmicos daquela
primeira Páscoa.

Um Princípio para Recordar

Ao estudar um evento da história, é importante investigar se há um número suficiente


de pessoas que foram participantes ou testemunhas oculares doe vento, que ainda estavam
vivas quando os fatos foram publicados. Isto é de bastante ajuda para dar validade à
exatidão do relato publicado. Se o número é substancial, o evento pode ser vem
estabelecido, de forma imparcial. Por exemplo, se todos nós testemunhamos um
assassinato e em uma semana cheio de mentiras, nós, como testemunhas, podemos
contestá-lo e refutá-lo.
Em outras palavras, quando é escrito um livro sobre um determinado evento, a
exatidão de seu conteúdo pode ser confirmada se um número razoável de pessoas, que
estejam vivas na época de sua publicação, forem testemunhas ou participantes do evento
registrado.
Muitos fatos importantes são muitas vezes negligentes quando se investiga as
aparições de Cristo depois de sua ressurreição. O primeiro é o grande número de
testemunhas que viu a Cristo depois daquela primeira manhã de Domingo.

50 Horas de Depoimentos

Um dos mais antigos registros das aparições de Cristo após a sua ressurreição é o
de Paulo. O apóstolo apela para o conhecimento que seus ouvintes tinham o fato de Cristo
Ter sido visto por mais de 500 pessoas de uma só vez. Paulo lhes trás à lembrança o fato
de que a maioria daquelas pessoas ainda vivia e seu testemunho não podia ser
questionado.
O Dr. Edwin M. Yamauchi, Professor Adjunto de História na Universidade de Miami,
em Oxford, Ohio, enfatiza: “O que dá autoridade especial à lista de testemunhos, como
evidência histórica, é a referência a mais de 500 pessoas que ainda estava vivas na época
em que o fato da ressurreição foi registrado pelos escritores”.
O Apóstolo Paulo diz: “Se não crêem em mim, podem perguntar a elas”. Uma
afirmação deste tipo, em uma epístola reconhecidamente autêntica, escrita no período e
Vida de Cristo II 47

trinta anos seguintes ao evento, é talvez a evidência mais forte que alguém poderia esperar
obter, relativamente a um fato ocorrido há quase 2.000 anos atrás”.
Tomemos estas mais de 500 testemunhas que viram Jesus vivo depois de sua morte
e sepultamento e as coloquemos num tribunal. Você percebe que, se cada uma destas 500
testemunhas tivesse que depor num Tribunal, digamos, por seus minutos cada uma,
incluindo as verificações cruzadas, teríamos um incrível período de 50 horas de
testemunhos oculares em primeira mão? Acrescente a isto o testemunho das muitas outras
testemunhas e você teria o maior e mais documentado julgamento de toda a história!

A Variedade de Pessoas

Um segundo fator muitas vezes negligenciado é a verdade de lugares e de pessoas


envolvidas nas aparições de Jesus.
O professor Merril c. Tenney do Wheaton College nos Estados Unidos, escreveu
que: “É digno de nota que estas aparições não são estereotipadas. Nem mesmo duas delas
são semelhantes. A aparição a Maria Madalena ocorreu de manhã dedo; aos viajantes de
Emaús à tarde, e aos apóstolos, provavelmente depois do escurecer. Apareceu à Maria ao
ar livre. Maria estava sozinha quando viu Jesus os discípulos estavam juntos, em grupo; e
Paulo registra que em certa ocasião Ele apareceu a mais de 500 pessoas de uma só vez.
“As reações também foram variadas. Maria ficou inundada de emoção; os discípulos
ficaram amedrontado; Tomé ficou obstinadamente incrédulo quando lhe contaram o fato da
ressurreição do Senhor, mas adorou-o quando ele lhe apareceu. Cada ocasião teve a sua
atmosfera peculiar e característica e revelou alguma faceta diferente do Senhor
ressuscitado”.
De modo algum de pode dizer que suas aparições foram estereotipadas.

Testemunhas Hostis

Um terceiro fator bastante importante para explicar as aparições de Cristo é que ele
também apareceu aqueles que eram hostis ou difíceis de convencer.
Tenho lido e ouvido muitas vezes certas pessoas comentarem que Jesus foi visto
vivo, depois de sua morte e sepultamento, apenas por seus amigos e seguidores. Usando
este argumento, tentam jogar por terra o grande impacto causado pelo relato unânime das
testemunhas.
Nenhum autor ou pessoa bem informada pode considerar Saulo de Tarso como
tendo sido um seguidor de Cristo. Os fatos mostram exatamente o contrário. Ele desprezava
a Cristo e perseguia Seus seguidores. Para Paulo foi uma experiência tremenda e chocante
quando Cristo apareceu a ele. Embora naquele instante Paulo não fosse um discípulo, mais
tarde tornou-se uma das maiores testemunhas quanto à verdade da ressurreição.
Consideremos Tiago, o irmão de Jesus. O Evangelho revela que seus irmãos não
eram crentes. Mais tarde, porém, Tiago se tornou um seguidor de seu irmão e se juntou ao
grupo de cristãos perseguidos. Por quê? O que causou esta mudança de atitude? A
explicação histórica é que Jesus também apareceu a Tiago.
O argumento de que as aparições de Cristo se deram apenas para seus seguidores
é um argumento, para a maioria, com reservas. E argumentos com reservas podem ser
perigosos. É igualmente possível que todos aqueles a quem Ele apareceu, tenham se
tornado seus seguidores. Isto talvez explique a conversão de muitos dos sacerdotes de
Jerusalém.
Ninguém que esteja devidamente informado acerca dos fatos pode dizer, com
segurança, que Jesus apareceu apenas a “um número insignificante de pessoas”. Muito
pelo contrário.

Fato 7: - As Mulheres o Viram Primeiro


Vida de Cristo II 48

Um outro aspecto que comprova a narrativa da ressurreição é que a primeira


aparição de Cristo ressuscitado não foi para os discípulos, mas para as mulheres – Maria
Madalena e outras mulheres. Isto deve Ter causado um certo embaraço para os discípulos
que constituíam o círculo mais íntimo de Cristo. Podem Ter se sentido bastante enciumados.
De acordo com os princípios judaicos de provas legais, entretanto, as mulheres eram
testemunhas nulas. Não tinham o direito de testemunhar num Tribunal.

Testemunho Não Confiável

O Dr. Maier cuidadosamente observa que o testemunho das mulheres, em geral, não
era considerado confiável, e assim, a “reação inicial dos onze foi, compreensivelmente, de
suspeita e descrença. Novamente, se os relatos da ressurreição tivessem sido manipulados,
as mulheres nunca teriam sido incluídas na história, ao menos como as primeiras
testemunhas”.

Sumário

O fato dramático da ressurreição mudou o curso da história. Dois mil anos depois o
homem ainda é o mesmo. Críticos que desejam negar a ressurreição de Jesus Cristo
precisam explicar adequadamente sete fatos históricos:
1- O medo do poder de Roma foi totalmente ignorado quando foi quebrado o selo
romano posto sobre o túmulo.
2- Tanto os judeus quanto os romanos admitiram que o túmulo estava vazio.
3- De alguma maneira a pedra de quase duas toneladas foi removida da entrada do
túmulo, enquanto a Guarda Romana estava vigiando.
4- Uma guarda militar romana, altamente disciplinada, deixou se posto e precisou
ser subornada pelas autoridades para mentir sobre o que realmente acontecera.
5- A mortalha, intacta, não continha o corpo.
6- Mais tarde Cristo também apareceu a mais de 500 testemunhas, em diferentes
situações.
7- Por causa da desconsideração dos judeus em relação à confiabilidade das
mulheres, a manipulação da história da ressurreição nunca as teria escolhido
para serem as primeiras testemunhas do fato.
Vida de Cristo II 49

O Tempo da Ressurreição de Cristo

1. Marcos, Lucas e João dizem que a ressurreição se deu no primeiro dia da semana, isto é,
cedo de manhã no Domingo. Marcos 16.9 diz que “havendo Jesus ressurgido cedo no
primeiro dia da semana, apareceu, etc.”. A posição de “cedo” é um tanto ambígua no grego
e a passagem é muito discutida. Marcos 16.2 diz que foi muito cedo no primeiro dia da
semana que as mulheres forma ao sepulcro; Lucas 24.1 declara que elas foram ao túmulo
vem de madrugada no primeiro dia da semana. João afirma que Maria Madalena foi ao
sepulcro de madrugada no primeiro dia da semana. Não há dúvida de que estes três
evangelistas querem assevera que Jesus ressurgiu muito cedo na manhã do Domingo, e
que logo depois vieram as duas Marias e mais algumas mulheres, a fim de ungirem o seu
corpo com especiarias. Céticos objetam que alguns detalhes nas narrativas de Marcos e
João são incoerentes. João 20.1 diz que Maria foi enquanto era ainda escuro; Marcos 16.2
declara que foi ao nascer do sol, mas no mesmo verso diz que era ainda cedo, o que
concordaria com o “ainda escuro” de João. Segue-se que a expressão “ao nascer do sol”, de
Marcos, tem de ser interpretada à luz de suas próprias palavras. Duas soluções podem ser
oferecidas:
(a) Podemos supor, coo McClellan e outros, que a nota de tempo em João se refere
ao início da jornada das mulheres vindas de Betânia, quando ainda estava escuro, ou muito
cedo. Em poucos minutos seria o começo do crepúsculo (Lucas), e ao chegarem ao túmulo
o sol estaria visível. Tudo isto é inteiramente possível, e parece muito provável; pois que ao
romper do dia a linha divisória entre a alva e o nascer do sol é muito tênue. Um passeio
rápido incluiria o período entre ameia escuridão e a luz do dia. A narrativa de Marcos
abrange este período todo.
(b) A expressão “ao nascer do sol” poderia ser simplesmente uma expressão geral
aplicável ao fenômeno do nascimento do sol, sendo que os seus primeiros raios nos
chegam antes que o sol esteja visível. Assim opinam Robinson, Ellicote, Clarck. Robinson
cita vários exemplos tirados da Septuaginta, onde a mesma frase é usada no tempo auristo
dum modo geral para indicar o alvorecer do dia (Jz 9.33; II Rs 3.22; sl 104.22). Qualquer
destas explicações é inteiramente possível e remove a dificuldade.
2. Mateus, porém, parece colocar a ressurreição na tarde depois do Sábado, ou seja, nosso
Sábado de tarde. Ele diz (23.1): “No fim do Sábado, quando já despontava o primeiro dia da
semana, Maria Madalena e a outra Maria foram ver o sepulcro”. Se esta passagem quer
dizer que a visita foi feira no fim do Domingo (tarde) e depois da ressurreição de Jesus,
então Mateus está em plena contradição com os outros evangelista. Alguns têm assumido a
posição de que Jesus ressurgiu ao pôr do sol no Domingo; esquecem-se de que Marcos
(16.9) diz que ressurgiu cedo de manhã. Há diversos modos de se conciliar Mateus com os
outros evangelhos:
(a) Greswell, Alford e outros querem traduzir a expressão “no fim do Sábado”, por “no
fim da semana”. A palavra grega neste verso é a mesma para Sábado e semana. Em ambos
os casos, portanto, a tradução podia ser a mesma; mas dela pouco sentido resultaria. “No
fim da semana” e “quando já despontava o primeiro dia da semana” não combinam muito
bem. Por esta explanação a Segunda expressão é usada para significar a primeira parte do
Domingo, e a visita ocorreu nesta parte.
(b) Outros traduzem “no fim do Sábado” por “depois do dia de Sábado”. Godet,
Grimm, e outros contendem que o grego poderia significar isto, e é assim traduzido por
vários tradutores ingleses, tais como Newcoe, Sharpe, Wakefield, Norton e outros. Contudo
é extremamente duvidoso que o grego permita semelhante tradução. Parece, portanto, que
temos de escolher entre as duas explicações seguintes:
(c) Mateus não diz claramente que esta visita foi feita depois da ressurreição do
Salvador, porto que suas palavras poderiam ser assim entendidas. Segue-se que as
palavras podem Ter o seu sentido natural. No fim do dia de Sábado, perto do pôr do sol, as
duas Marias forma ver o sepulcro (Mt 28.1), tendo descansado durante o dia (Lc 23.56). As
mulheres que tinham vindo da Galiléia com Jesus, foram, Sexta-feira observar onde foi
colocado o corpo do Jesus, e depois foram preparar especiarias. Se as duas Marias (23.1)
Vida de Cristo II 50

foram ao pôr do sol no fim do Sábado “ver o sepulcro” poderiam Ter comprado especiarias
mesmo depois do pôr do sol (Mc 16.1). Então (Mc 16.2) de manhã cedo levantaram-se e,
levando as especiarias, foram ungir o corpo. Foi nessa ocasião que viram o anjo (Mt 28.5).
Mateus não diz que na visita de 28.1 elas viram o anjo. Fala do terremoto como já tendo
ocorrido e da ressurreição; e então resume a narrativa. Esta teoria encontra algum apoio no
uso da mesma palavra no grego em Lucas 23.54: “Era o dia da preparação (Sexta-feira) e ia
começar o Sábado”. Daí parece que o Sábado começava ao fim do dia. Assim opinam
Westcott, McClellan e outros. Seja como for acerca das mulheres em 28.1, Mateus
certamente não quer dizer que Jesus ressurgiu ao pôr do sol no Sábado. Todo o curso da
sua narrativa no restante do capítulo mostra que foi na manhã do Domingo que o anjo
apareceu. Enquanto (Mt 28.11) as mulheres iam Ter com os discípulos, os soldados
correram aos principais sacerdotes (Mt 28.13), que os subornaram para que dissessem que
os discípulos tinham vindo de noite e furtado o corpo enquanto eles dormiam, indicando
claramente que já era dia. Segue-se que Mateus não ensina que Jesus ressurgiu ao pôr do
sol, porém ao contrário. Além disto, Mateus diz expressamente que a ressurreição ocorreu
no terceiro dia, o que seria impossível se ele tivesse ressurgido no Sábado.
(d) “Dia do Sábado” podia ser dito do dia seguido pela noite, conforme o costume
popular do tempo do Salvador. Os judeus originalmente contavam de sol poente a sol
poente, porém este costume não era universal. Jonas (1.17) e Mateus (12.40) falam de três
dias e três noites, mencionando a noite depois do dia. Meyer, Monson, Clarck e outros têm
esta opinião, que é pelo menos aceitável, embora não seja tão satisfatória como a de
McClellan acima referida. Fosse como fosse, fica claro que Mateus concorda com os outros
evangelistas, no que dizem todos – que Jesus ressurgiu Domingo de manhã. A dificuldade
principal está em saber se a visita das mulheres em 28.1 foi feita na tarde anterior,
simplesmente para verem o sepulcro, ou de manhã, para ungirem o corpo do Salvador. A
narrativa resumida de Mateus deixa este ponto em dúvida: assim nós também temos de
deixá-lo. Contudo, isto não afeta a questão quanto ao número de visitas feitas pelas
mulheres.
Vida de Cristo II 51

Ascensão e instrução final: A Grande Comissão


Mt 28.16-20; Mc 16.14-20; Lc 22.44-53

- Aquele que fora apresentado inicialmente como sendo da genealogia judaica, declara
Ter todo o poder no céu e na terra.
- Em Mateus, o termo chave é “fazer discípulos”. A idéia é, enquanto vão, tragam as
nações para debaixo da minha disciplina (ensino e governo).
- ‘Batizando-os em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo’.
- A ênfase não está no “ensinando-os”, mas no “em guardar todas as coisas que vos
tenho ordenado”: ensino da obediência.
- “Até a consumação dos séculos” é a “PAROUSIA”. O cumprimento do evento
escatológico é uma realidade que tem seu início hoje, na segurança de presença do
Senhor conosco – o EMANUEL – até que todo o processo histórico da humanidade seja
consumado, levado ao alvo.
- Em Marcos, o termo utilizado é “pregai (proclamai) o Evangelho a toda a criatura”. O
evangelista registra a ascensão de Cristo “a direita de Deus” em cumprimento de Sl
110.1.

Conforme estudamos, a ênfase da Grande Comissão é Cristo e sua disciplina, e não


exclusivamente às nações e a necessidade de Salvação. A ênfase Cristocêntrica é
importante porque não se pode fazer da tarefa humana um alvo mais importante do que a
pessoa de Cristo, aqui em destaque.

Conclusão

A Pessoa de Cristo é um fato. Seus ensinos ainda hoje são válidos e contextualizáveis.
Acima de tudo, sua soberania e vida não ficou limitada ao espaço e tempo do período em
que viveu como homem, na Terra; mas continua na igreja. Sua testemunha, assistida pelo
Seu Espírito e Palavra. Grande é a nossa responsabilidade como cristãos – transmiti-lo ao
mundo de maneira autêntica até que os séculos se completem e moremos com ele para
todo o sempre. Amém.

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