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Parecer n.

º DAJ 30/20

Data 12 de fevereiro de 2020

Autor Cristina Braga da Cruz

Temáticas SIADAP
abordadas Reclamação
Quotas

Notas

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Através do ofício MGD nº 59, enviado através de correio eletrónico, veio o Município
de solicitar parecer sobre a seguinte questão:

“(…) No âmbito de uma reclamação apresentada, tempestivamente, por um


trabalhador desta autarquia, referente à homologação da sua avaliação no biénio de
2017 – 2018, colocou-se a questão de saber, no caso de tal reclamação merecer
provimento e, por consequência, ser feita a respetiva alteração da nota qualitativa
atribuída de Desempenho Adequado para Desempenho Relevante, se o cumprimento
do quesito das percentagens máximas das “quotas” de diferenciação, deve ou ser
considerada, dado que se encontram preenchidas todas as percentagens da
diferenciação de desempenhos.

Assim, o que se pretende ver esclarecido é se, no caso em apreço e no pressuposto de


uma decisão favorável sobre a reclamação, se a mesma terá de produzir os devidos
efeitos legais, sem ficar condicionada com a aludida determinação e preenchimento
das percentagens de diferenciação de desempenhos.”

Relativamente à questão colocada cumpre tecer as seguintes considerações:

O sistema integrado de gestão e avaliação do desempenho na administração pública


(SIADAP) foi aprovado pela Lei n.º 66-B/2007, de 28 de dezembro e é aplicado à
administração local pelo Decreto Regulamentar n.º 18/2009, de 4 de setembro.

Nos termos do n.º 1, do art.º 75º, da Lei n.º 66-B/2007, de 28/12, a diferenciação de
desempenhos é garantida pela fixação da percentagem máxima de 25% para as
avaliações finais qualitativas de “Desempenho relevante” e, de entre estas, 5% do total
dos trabalhadores para o reconhecimento do “Desempenho excelente”.

Ora, em sede de decisão sobre a reclamação, não se verifica o condicionalismo imposto


pelas percentagens máximas previstas para a diferenciação de desempenhos - nem tal
seria admissível, uma vez que conduziria à frustração e ao esvaziamento do efeito útil

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do instituto, constitucionalmente consagrado como garantia graciosa do particular face
à Administração.

Sobre esta matéria remetemos para a conclusão que, em Reunião de Coordenação


Jurídica entre a Secretaria de Estado da Administração Local; a Direção Geral das
Autarquias Locais; a Inspeção-geral da Administração do Território; o Centro de
Estudos de Formação Autárquica; as Direções Regionais da Administração Local das
Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional; a DRAPL – Madeira e a
DROAP – Açores, realizada na DGAL em 14 de Julho de 2006, foi aprovada por
unanimidade e que sustenta que “a utilização total das percentagens máximas de
classificações de Muito Bom e Excelente na avaliação ordinária não inviabiliza a
atribuição destas classificações … em sede de reclamação ou de recurso, por tal ser
contrário aos princípios e orientações do próprio sistema de avaliação.”

Por ser uma questão de fundo, entendemos que as conclusões formuladas na vigência
do anterior SIADAP e que supra transcrevemos, se afiguram plenas de validade e
pertinência no atual SIADAP.

Saliente-se ainda que, no mesmo sentido, sustenta atualmente a Direcção-Geral da


Administração e Emprego Público, na FAQ nº 4 do ponto VI – Diferenciação de
Desempenhos:

“A alteração da avaliação final em sede de reclamação ou de recurso está


condicionada pelas percentagens máximas de mérito e excelência?

Não. Nestes casos, por respeito pelas garantias constitucionalmente consagradas de


reclamação e recurso, esta alteração não depende da prévia existência de
percentagens disponíveis, nem releva para efeitos de apuramento do respetivo
cumprimento.”

Assim, caso um trabalhador apresente reclamação do ato de homologação e, na


sequência da reclamação, veja a sua avaliação de desempenho alterada da menção de
“Desempenho adequado” para a menção de “Desempenho relevante”, salvo melhor

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opinião, a utilização total das percentagens relativas à diferenciação de desempenho,
não pode condicionar essa alteração de avaliação, sob pena de violar um direito
constitucionalmente garantido.

Em conclusão, no caso do trabalhador que, no âmbito de uma reclamação apresentada


tempestivamente, e que mereceu provimento, viu alterada a sua avaliação alterada da
menção qualitativa de “Desempenho adequado” para “Desempenho relevante”, mesmo
após o preenchimento das percentagens de diferenciação de desempenhos, tal alteração
terá de produzir os devidos efeitos legais1.

1
Vide a título de exemplo: art.º 52.º, da Lei n.º 66-B/2007, de 28/12, arts. 46.º e 47.º, ambos da Lei n.º
12-A/2008, de 27 de fevereiro.

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