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Nº 07/2021 (R1)

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CIRCULAR Nº 07/2021 (R1)

Orientação aos auditores independentes sobre a execução de procedimentos de


auditoria relativos ao tema da exclusão do ICMS na base de cálculo do PIS e da
COFINS, incluindo considerações adicionais sobre “gross-up”

Prezados Associados,

Os auditores independentes têm-se deparado com situações diversas com relação a


exclusão do Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICMS) da base de cálculo do
Programa de Integração Social (“PIS”) e da Contribuição para o Financiamento da
Seguridade Social (“COFINS”). Esta circular tem o objetivo de esclarecer os principais
procedimentos a serem realizados e alinhar o entendimento entre os profissionais de
auditoria sobre o tema em referência. Adicionalmente, conforme nova seção na
página 4 a seguir, esta Circular 07/2021, originalmente emitida em 26 de julho de 2021,
está sendo atualizada em outubro de 2023 para incluir orientação aos auditores
independentes à respeito de um tema relacionado ao “gross-up” de exclusão do ICMS
acerca do qual as discussões com as entidades se tornaram recorrentes em 2023.

Esse assunto já pode ter sido analisado na auditoria de exercícios encerrados


anteriormente, pois inclusive foi tratado pelas áreas técnicas da CVM no OFÍCIO-
CIRCULAR/CVM/SNC/SEP/n.º 01/2021, de 29 de janeiro de 2021, item 7.2. Porém, torna-
se importante revisitá-lo em função de novos desdobramentos judiciais, o que resulta
em alteração das circunstâncias, podendo impactar o tratamento contábil
dispensado por algumas entidades e, consequentemente, a realização de diferentes
procedimentos de auditoria.

Como é de conhecimento público, o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF)


decidiu, por maioria, em julgamento com repercussão geral no dia 13 de maio de 2021,
que o ICMS não compõe a base de cálculo do PIS e da COFINS, sendo a decisão válida
a partir de 15 de março de 2017, data em que foi fixada a tese de repercussão geral,
quando do julgamento do recurso extraordinário (RE) 574.706, ressalvadas as ações
judiciais e administrativas protocoladas até a data da sessão em que foi proferido o
julgamento. O estabelecido nessa decisão também esclareceu que a tese trata do
ICMS destacado em nota fiscal.

O tratamento contábil dispensado por cada entidade, antes da decisão do STF,


dependia de uma análise criteriosa da situação específica, levando em consideração
a situação processual, o teor da respectiva decisão transitada em julgado e a
existência ou não de confiança razoável na mensuração do valor de eventual ativo
decorrente do assunto. Porém, com a recente decisão do STF, foram esclarecidas as
principais dúvidas que permaneciam em aberto desde 15 de março de 2017, tais como
o período de direito ao crédito, assim como a base de cálculo dos valores.

Orientamos, dessa forma, os auditores a observar a situação de cada entidade, uma


vez que esses novos fatos resultaram em diversas situações com desdobramentos
diferentes, sendo as mais comuns apresentadas a seguir:

• Entidades que não possuem ação judicial, nem pedidos administrativos:


têm o direito de excluir o ICMS da base de cálculo do PIS e da COFINS a
partir da data do julgamento do STF (caso não o tenham feito a partir de 15
de março de 2017) e de realizar a compensação ou pleitear o ressarcimento
dos valores pagos a maior a partir de 15 de março de 2017.

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• Entidades que possuem pedidos administrativos e ações judiciais iniciadas


após 15 de março de 2017 têm o direito de excluir o ICMS na base de cálculo
do PIS e da COFINS a partir da data do julgamento do STF e pleitear a
compensação ou o ressarcimento dos valores pagos a maior a partir de 15
de março de 2017, com o trânsito em julgado.

• Entidades que possuem pedidos administrativos e ações judiciais iniciadas


antes de 15 de março de 2017 e que não tiveram o trânsito em julgado: têm
o direito de excluir o ICMS na base de cálculo do PIS e da COFINS a partir da
data do julgamento do STF e aguardam o trânsito em julgado de seu
processo de forma consistente com a decisão do STF de maio de 2021, para
iniciar os procedimentos para pleitear a compensação ou o ressarcimento
dos valores pagos a maior, no período de abrangência de seu processo.

• Entidades que possuem pedidos administrativos e ações judiciais e que já


tiveram o trânsito em julgado para excluir o ICMS das bases de cálculo do
PIS e da COFINS: devem avaliar se os esclarecimentos relacionados à
determinação da mensuração com base no ICMS destacado resultam em
uma nova estimativa dos valores aos quais obtiveram o direito.

O entendimento técnico referente ao tratamento contábil a ser dispensado à matéria


deve ser avaliado por administradores das entidades, acompanhado de seus
auditores independentes, à luz do que prescreve o CPC 25 – Provisões, Passivos
Contingentes e Ativos Contingentes, parágrafo 33:

“33. Os ativos contingentes não são reconhecidos nas demonstrações contábeis,


uma vez que pode tratar-se de resultado que nunca venha a ser realizado.”
Porém, quando a realização do ganho é praticamente certa, então o ativo
relacionado não é um ativo contingente e o seu reconhecimento é adequado
[grifo nosso].

Com a decisão do STF com repercussão geral, em muitas circunstâncias, a


compensação ou o ressarcimento dos valores pagos a maiores referentes aos créditos
tributários mencionados é uma questão temporal, mesmo nos casos em que as
entidades aguardam o trânsito em julgado de seu processo individual, uma vez que a
matéria já está definida, o que torna sua realização praticamente certa, à luz do
parágrafo 33 do CPC 25, transcrito acima. Tal entendimento poderia ser refutado em
cenários em que o processo específico de uma entidade apresentar riscos específicos,
considerando, por exemplo, questões meritórias acessórias ou processuais, bem
como limitação na capacidade de realização dos referidos créditos, que podem
representar, em seu caso particular, que a realização do ganho não seria praticamente
certa.

Nesse sentido, se for praticamente certo que ocorrerá uma entrada de benefícios
econômicos, o ativo e o correspondente ganho devem ser reconhecidos no período
em que ocorrer a mudança de estimativa e eventuais provisões reconhecidas devem
ser revertidas, desde que observado o que prescreve o parágrafo 59 do CPC 25.

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Observamos que os valores a serem registrados nas demonstrações contábeis nessa


situação dependem de estimativas, julgamentos e da documentação suporte
disponível. Logo, orientamos os auditores que observem o estabelecido na NBCTA
540 – Auditoria de Estimativas Contábeis, Inclusive do Valor Justo, e Divulgações
Relacionadas e na NBCTA 500 – Evidência de Auditoria, quando da realização de
procedimentos de auditoria, a fim de obter evidências suficientes e apropriadas para
emitir uma opinião. Por exemplo, a obtenção e análise dos assessores jurídicos das
entidades, envolvimento de especialistas tributários para entendimento das
premissas de cálculo do valor, recálculo dos valores reconhecidos, inspeção de
documentação, avaliação da análise de valor recuperável desses ativos, análise dos
valores apresentados em notas explicativas, entre outros.

Em raras situações, os preparadores das demonstrações contábeis podem dispor de


elementos e concluir que não é possível estimar os valores envolvidos com confiança
razoável. Nesses casos, o auditor deve avaliar todas as circunstâncias envolvidas,
como, por exemplo, deficiências nos controles internos, isto é, se é o caso de
inexistência, deficiência ou falha de controle interno que dificulte a obtenção
oportuna de informações. Também deve avaliar as informações abrangentes sobre as
estimativas e condições consideradas sobre o fato, bem como as bases de conclusão
para o não reconhecimento, e se os motivos estão devidamente divulgados nas notas
explicativas, quando aplicável.

Circunstância de deficiências de controles internos poderá levar o auditor a analisar o


impacto em seus trabalhos, incluindo as evidências alternativas de auditoria de que
possa dispor. Por exemplo, a falta de recursos da administração para concluir a
mensuração dos valores até a data da emissão da demonstração contábil ou
informação trimestral pode ser considerada uma limitação de escopo à luz do
parágrafo 17 da NBCTA 700 e do parágrafo 6(b) da NBCTA 705, quando o auditor deve
concluir se deve modificar a sua opinião, por não ter conseguido obter evidência de
auditoria apropriada e suficiente para concluir se as demonstrações contábeis
tomadas em conjunto não apresentam distorções relevantes. Por outro lado, caso a
Companhia identifique alguma situação, considerada como elemento de incerteza,
como, por exemplo, a existência de algum aspecto processual, ausência de alguma
documentação ou algo mais específico, o auditor deverá exercer o julgamento
profissional para avaliar se está diante de uma incerteza de fato, o que remeteria a
classificação deste ativo como contingente, ou uma situação de limitação de escopo
em seu relatório de auditoria ou revisão.

Os auditores devem também avaliar se as entidades procederam à divulgação


apropriada em nota explicativa, de modo que os usuários possam conhecer
tempestivamente a implicação dos novos fatos e desdobramentos derivados da
decisão do STF e considerar o eventual impacto de sua ausência em seu relatório.

Para as demonstrações contábeis com exercício findo em ou anterior a 31 de


dezembro de 2020 ainda não encerradas, os auditores devem observar o tratamento
dado pela administração ao tema, como comentado anteriormente e também
observar o entendimento dessa no que tange a aplicação de divulgações do CPC 24 -
Eventos Subsequentes. Normalmente, fatos novos que confirmem a existência de um
ativo em data posterior ao encerramento do exercício (por exemplo, o julgamento do
STF de 13 de maio de 2021) não geram efeitos retroativos às demonstrações contábeis.

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Com relação às demonstrações intermediárias de 30 de junho de 2021 (bem como


demonstrações contábeis a partir de 31 de maio de 2021), ainda que a mensuração dos
créditos possa se concretizar entre a data final do período a que se referem as
demonstrações e a data na qual é autorizada a emissão dessas demonstrações
contábeis, uma vez que as condições para reconhecimento do ativo já existiam na
data final do período de reporte, tal fato não é um evento subsequente conforme CPC
24 (isto é, não representam fatos ou condições novos), mas um evento do próprio
período ou exercício a ser contemplados nas demonstrações.

Adicionalmente, o auditor, ao analisar o registro do ganho decorrente dos créditos


tributários, deve observar a avaliação da entidade quanto ao impacto sobre os tributos
sobre lucro, correntes e/ou diferidos, à luz do CPC 32 – Tributos sobre o lucro.

Por fim, reforçamos que essa orientação também é relevante na execução dos
procedimentos de revisão de demonstrações financeiras intermediárias de acordo
com a NBC TR 2400 e 2410.

Atualização em outubro de 2023: discussões sobre potencial resíduo (valor


adicional ao indébito tributário da exclusão do ICMS das bases de cálculo) do PIS
e da COFINS (‘gross up’)

Em 2023, foram identificadas discussões acerca da possibilidade de se considerar o


reconhecimento de valor adicional ao indébito tributário da exclusão do ICMS da base
de cálculo do PIS e da COFINS, uma linha de interpretação quanto à forma de se
calcular o referido indébito. Segundo esta linha de entendimento, existiria a
possibilidade das entidades apurarem créditos fiscais do PIS e da COFINS em razão
da exclusão dos efeitos do ‘gross up’ do ICMS da apuração das bases de cálculo dessas
contribuições.

Apresentamos a seguir orientações (não exaustivas) aos auditores independentes,


sobre procedimentos a serem considerados em suas análises sobre o referido tema
do ‘gross up’. Ressaltamos que os procedimentos e análises sugeridos abaixo, devem
ser realizados caso-à-caso, considerando os fatos e circunstancias específicos de cada
entidade auditada:

a) O auditor independente deve considerar a necessidade de obtenção das


avaliações, argumentos técnicos e conclusões de assessores legais da entidade.
Quando utilizar opiniões legais, o auditor independente deve avaliar a necessidade de
apresentar quesitos, se e quando aplicável, aos assessores legais para esclarecimentos
adicionais julgados necessários;

b) Seguindo a NBCTA 500, o auditor independente deve considerar a


necessidade do envolvimento de especialistas tributários para o entendimento das
argumentações e conclusões da administração da entidade e dos seus assessores
legais, bem como das premissas de cálculo de valores, inspeção de documentação,
divulgações em notas explicativas, entre outros;

c) Com base nas conclusões obtidas com base nos procedimentos a) e b) acima
realizados, o auditor independente deve avaliar as análises técnicas, conclusões e
documentações suporte, apresentadas pela entidade, e seus assessores legais, sobre
os aspectos contábeis aplicáveis, considerando as normas vigentes.

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Considerando os argumentos apresentados pelas entidades que avaliam este


entendimento (em conjunto com seus assessores legais), verifica-se que, embora
exista a possibilidade de adoção de diferentes critérios/metodologias para a
mensuração do eventual indébito tributário, até a data de emissão dessa Circular
(janeiro de 2024), não há jurisprudências sobre o tema, tornando a avaliação mais
complexa sobre qual entendimento prevalecerá. Portanto, conforme análise de cada
caso, há que se considerar o impacto de incertezas quanto a adoção desta
metodologia de cálculo do ‘gross up’ e os correspondentes valores decorrentes desta
apuração. Sendo estas as circunstâncias, o crédito tributário pleiteado ainda não
atingiu os critérios contábeis para reconhecimento como ativo.

Para os casos em que a compensação fiscal dos valores pleiteados já tiver sido
realizada pela entidade e o passivo contábil tiver sido reduzido por meio da
compensação, o auditor independente deve avaliar o efeito de eventuais novas
contingências que por ventura possam surgir com o uso desta metodologia de
apuração do valor do indébito tributário e se há a necessidade de reconhecer
contabilmente uma provisão para prováveis pagamentos adicionais, conforme CPC
25 - Provisões, Passivos Contingentes e Ativos Contingentes, utilizando-se, entre
outros, dos procedimentos descritos de (a) a (c), acima.

Além do exposto, o auditor independente deve avaliar as análises técnicas, conclusões


e documentação suporte, apresentadas pela entidade (e seus assessores legais) sobre
divulgações materiais, completas e úteis aos usuários das demonstrações contábeis
para tomadas de decisões econômicas, incluindo julgamentos adotados e fontes de
incertezas em estimativas à luz CPC 26 – Apresentação das Demonstrações Contábeis.

Dentre as divulgações materiais a serem consideradas, no caso das entidade que se


utilizaram dessa linha de interpretação para o cálculo do valor adicional do indébito
tributário, além do próprio valor adicional apurado pela metodologia, as premissas,
julgamentos e justificativas da entidade para a adoção dessa metodologia de cálculo,
e se essa metodologia utilizada diverge de eventual metodologia de cálculo divulgada
pelo órgão arrecadador para a apuração dos indébitos tributários, destacando as
diferenças entre ambas.

Estamos à disposição para esclarecimentos

Atenciosamente.

São Paulo, 19 de janeiro de 2024

Sebastian Soares Rogerio Lopes Mota

Presidente Diretor Técnico

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