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Contudo, não se pode perder de vista que, já na década de 1770, a região era
povoada e contava com cerca de 50 fogos (casas), escravos e produção de açúcar e
aguardente. Embora incipiente, não podemos negligenciar a existência de um processo
de ocupação e povoamento na região do "rybeirão de Indayatuva" quando Pedro
Gonçalves Meira adquiriu terras que poucos anos depois dariam origem a freguesia, vila
e município de Indaiatuba. Esse processo se intensifica a partir da década de 1820,
quando iniciou-se a abertura do caminho de Jundiaí para Piracicaba que transformou o
antigo picão entre Itu e Campinas em uma estrada e Indaiatuba consolida-se como um
importante ponto de parada e pouso para os tropeiros e viajantes.
1
O livro cartorial mais antigo de Indaiatuba que existe para ser pesquisado é do 2º Cartório de Notas de
Indaiatuba e foi aberto em 1833. Todo acervo preservado desse Cartório encontra-se sob os cuidados do
Arquivo Municipal de Indaiatuba.
2
Indaiatuba foi elevada a freguesia em 1830.
3
Nos documentos pesquisados o sobrenome Gonçalves apareceu as vezes com S outras com Z. Nesse
texto deu-se preferência a grafia com S, adotada no nome das ruas de Indaiatuba.
sorte de terras que vem a ser hu quarto de legoa de testada e hua legoa de
sertão que principia no fim das terras que se acha hu marco da justiça,
partindo de hu lado com o mesmo comprador e de outro com terras
devolutas, correndo para parte de leste confinando junto ao Ribeyrão
chamado Indayatuba, do termo desta villas. (Folha de Indaiá 14 de fevereiro
de 1953. Arquivo Municipal de Indaiatuba. Fundo José Luiz Bicudo do Vale)
Apesar de apontar alguns marcos territoriais, tal descrição não permite definir
com precisão as fronteiras e a real localização dessa sorte de terras, pois, entre outras
coisas, não foi encontrada nenhuma referência documental da fazenda do Tenente a qual
foi anexada esse quarto de légua de largura por uma légua de comprimento.
Informações de documentos mais recentes comprovam que parte dessas terras
adquiridas em 1791 serviram posteriormente como terreno para o desenvolvimento
urbano de Indaiatuba. Contudo, com essas informações documentais é difícil inferir
com precisão a localização e tamanho das terras daquele que é considerado um dos
fundadores de Indaiatuba.
Contudo, essa não foi sua primeira aquisição de terras no local. Em 1794,
Joaquim Gonçalves Bicudo adquiriu um pedaço de terra "na paragem chamada
Indayatuva no Bairro de Jundiay" (CARVALHO, 2009, p.19) dos herdeiros de Antônio
Nunes de Oliveira5. De acordo com escritura de compra e venda sob a guarda do
Arquivo Municipal de Indaiatuba, ele comprou
4
A fronteira sudoeste da então freguesia de Indaiatuba tinha como limites as atuais Rua Dom José (então
Rua São José) e Rua Pedro Gonçalves (então Rua Nova).
5
No escopo dessa pesquisa não foram encontrados documentos que comprovem que Joaquim Gonçalvez
Bicudo possuísse outras terras no local antes dessa propriedade adquirida em 1794.
6
Explicar o que é a Terça.
Republicano Convenção de Itu. cx 27. fl15v). Contudo, esse documento não traz nenhuma
informação sobre sua localização e fronteiras.
Em 1838, por sua vez, faleceu Joaquim Gonçalves Bicudo. Ele deixou como
seus legítimos herdeiros cinco homens e três mulheres: Manoel Gonçalves (o
desmemoriado), Maria de Candelária e Maria do Rosário de seu primeiro matrimônio
com Maria de Campos Penteado, e Antonio de Campos Bicudo, Maria Tereza, José de
Campos Bicudo, João de Campos Bicudo e Elias de Campos Bicudo de seu segundo
matrimônio com Dona Ana de Campos. Em seu inventário, encontra-se, entre "os bens
de raiz" (bens imóveis), "hum sítio com Engenho de Ágoa, formas, coxos, por quatro
contos e quatro centos mil reis, que a margem se sae - 4:400$000" (Joaquim Gonsalves
Bicudo; João de Campos Bicudo - Inventário 1838. Fundo: Arquivo Central da
Comarca de Itu. Arquivo do Museu Republicano Convenção de Itu. cx 47. fl.11).
De acordo com esse documento, esse sítio possuía benfeitorias em seu fundo e
que essa parte das terras ficaram com o herdeiro João de Campos Bicudo. Nos autos de
partilha, essas terras foram assim partilhadas:
7
Joaquim Gonsalves Bicudo; João de Campos Bicudo - Inventário 1838. Fundo: Arquivo Central da
Comarca de Itu. Arquivo do Museu Republicano Convenção de Itu. cx 47. fls.29-32v.
8
Joaquim Gonsalves Bicudo; João de Campos Bicudo - Inventário 1838. Fundo: Arquivo Central da
Comarca de Itu. Arquivo do Museu Republicano Convenção de Itu. cx 47. fls.69v-70.
9
Essa informação consta em uma escritura de troca de sítio com fábrica de açúcar e terras entre Manoel
Leite de Sampaio e João Paulo de Camargo. De acordo com esse documento de 1846, Manoel Leite de
Ana Joaquina de Campos venderam as terras herdadas a Francisco Pacheco de Campos
e Silva, e José do Amaral Camargo10, que também adquiriu terras de João de Campos
Bicudo.
só reservão para si o valor de noventa e tantos mil réis nas terras que se achão
entre meio dos dois córregos e a Freguesia e que destas sede um corte de
Casas dentro da Freguesia que se acha entre Pedro José da Silva e a rua de
Sam José, e que reservão tão bem madeiras que precisar para fazer suas casas
na Freguesia (Livro 1 - Escrituras 1833 a 1841. Fundo 2º Cartório de Notas
de Indaiatuba. Arquivo Municipal de Indaiatuba. fl.67-68)
Sampaio e sua mulher Dona Teresa Correa Pacheco trocou "sítio com casas de morada e fabrica de fazer
asucar que possuem no bairro desta Freguesia de Indaiatuba na beira da Estrada que vai para a Agoa
choca" com "sítio com casas de morada e fabrica de fazer asucar no bairro do Pirahy de baicho"
pertencente a João Paulo de Camargo e sua esposa Dona Maria Carolina de Camargo. De acordo com
esse documento, parte das terras trocadas por Manoel Leite de Sampaio foram compradas de João Leite
de Sampaio Ferras que, por sua vez, adquiriu-as de Antonio Bicudo. Tal sítio com fábrica de açucar tinha
como fronteiras "de hum lado com o sitio que foi do Alferes Joaquim Gonçalves Bicudo principiando na
Barroca Vermelha e subir por ella asima the a cabeceira de onde partira orrumo direito the dar no corrego
da Ponte Alta e seguir por ella asima the sua cabeceira de onde seguira orrumo de Norte the entestar com
as terras que o mesmo vendedor vendeo digo que o ante possuidor João Leite de Sampaio Ferras vendeo a
Joaquim de Campos Rego que oje são de Esmeria Lopes e do outro lado no sertão, partindo com Jacinto
de Oliveira Bueno." (Livro 2 - Escritura 1841 a 1852. Fundo 2º Cartório de Notas de Indaiatuba. Arquivo
Municipal de Indaiatuba. fl.102v-105)
10
José do Amaral Camargo adquiriu terras do sítio do falecido Joaquim Gonçalves Bicudo oriundas das
heranças de João e Elias de Campos Bicudo. De acordo com o título de compra e vendas de terras datada
de 9 de outubro de 1838, José do Amaral Camargo adquiriu de João de Campos Bicudo e de sua mulher
Dona Anna Gertrudes de Campos, pelo valor de um conto e duzentos mil de reis, "as benfeitorias que tem
em seo sítio que he quatro lanços de casa dois cobertos de telhas e dois cobertos de palha com portas de
ferragem, e fexaduras [?] gramados tanques monjolo e duzentos pés de café" (Livro 1 - Escrituras 1833 a
1841. Fundo 2º Cartório de Notas de Indaiatuba. Arquivo Municipal de Indaiatuba. fl.73). Por sua vez, de
Elias de Campos Bicudo e sua mulher Dona Anna Joaquina de Campos, ele adquiriu um trecho de terras
no valor de noventa e cinco mil setecentos e dezenove reis. Dois anos depois, em 1840, o mesmo José do
Amaral Camargo vendeu as terras compradas dos Bicudos ao Capitão José de Almeida Prado (Livro 1 -
Escrituras 1833 a 1841. Fundo 2º Cartório de Notas de Indaiatuba. Arquivo Municipal de Indaiatuba. fls.
136-139).
menos o limite sudoeste da freguesia (Rua São José) e que esse trecho de suas terras
serviram posteriormente para expansão da malha urbana da cidade de Indaiatuba.
Apesar dessa informação confirmar a tese de que as terras da família Bicudo serviram
para a constituição da malha urbana de Indaiatuba, esse indício ainda não aponta
nenhuma relação dessas terras com o sitio ou fazenda do Pau Preto, cuja referência
aparece pela primeira vez em um documento de 1840. Até 1892, não há nenhuma
menção ao nome Pau Preto em posses da família Bicudo.
João de Campos Bicudo foi o único dos herdeiros que não se desfez de sua parte
das terras herdadas de seu pai. Casado com Anna Gertrudes de Campos e falecido em
1863, João de Campos Bicudo deixou apenas três herdeiros homens: João de Campos
Bicudo, Joaquim Emígdio de Campos Bicudo e Querubim de Campos Bicudo. Desses
três herdeiros, interessa-nos o do meio. Joaquim Emígdio de Campos Bicudo é o
primeiro nome da família Bicudo que aparece em documentos cartoriais como
proprietário de uma terra intitulada Pau Preto em Indaiatuba. Na descrição de seus
imóveis em seu inventário de 1892, constam:
Vinte casas de colonos, avaliados por três contos de reis, que sahi 3:000$000
Casas do quintal e ranchos avaliados por duzentos e cincoenta mil reis, que
aqui sahi 250$000
Os terrenos que foram dos finados Padre Antonio Casemiro e de João Bicudo
confrontando com terras da Villa, do pasto de [fl.11] que foi de Francisco
Calisto, de Liduina Leite de Moraes e do Capitão José Manoel da Fonseca
Leite,[?], avaliados por seis contos e quinhentos mil reis 6:5000$000
Um pasto que foi dos finados Francisco Calisto, confrontando com terras de
Dona [?] Leite de Morais, com Francisco Gonçalves Ribeiro, com terreno da
Villa e com terras desta herança avaliado por dois contos de reis 2:000$000
(Joaquim Emygdio de Campos Bicudo; D. Escolástica da Fonseca Bicudo -
Inventário 1892. Arquivo do Museu Republicano Convenção de Itu. Fundo:
Arquivo Central da Comarca de Itu. Grupo: 1º Ofício da Comarca de Itu.
Série: Processos. Caixa 141. Folha 10v.
A herança de Joaquim Emígdio de Campos Bicudo ficou com sua esposa e
inventariante, Dona Escolástica da Fonseca Bicudo que, de acordo com Carvalho,
assumiu a fazenda e a produção de café do marido. O casal teve oito filhos, cinco
homens e três mulheres. Desses, João da Fonseca Bicudo, o caçula, morou com sua
família no casarão da fazenda Pau Preto.
Antonio Cassemiro da Costa Roris morreu em 1884 e deixou oito filhos em vida,
mas apenas cinco deles foram contemplados em seu testamento: Laudelina Leite de
Sant'Anna que casou com José Julio de Santa Anna e morava em Indaiatuba; Maria
Carmelina de Almeida que casou com João Paulo de Almeida e morava em Piracicaba;
Zeferino Leite de Moraes, conhecido como Passivino, morava em Indaiatuba; Gertrudes
Leite de Camargo que foi casada com Serafim Rodrigues de Camargo e morava em
Piracicaba; e Antonio Emygdio de Araujo Costa que também morava em Indaiatuba. De
acordo com o Livro de Registro de Terras, escrito sob encomenda pelo próprio Vigário
em 1855, há dois registros de duas chácaras sob sua propriedade:
1. "(...) uma chácara que dividi-se por um lado com terras pertencentes a mesma
Freguesia, por outro com os herdeiros do falecido Firmiano, por outro com os mesmos,
e com os herdeiros do falecido Joaquim Fernandes, com Manoel Leite, Antonio
Marques, João de Arruda, herdeiro do falecido Joaquim do Amaral, Joaquim do [?],
Antonia Maria ou Maria do Nascimento."
Fazenda Pau Preto. Arquivo Municipal de Indaiatuba. Fundo Nilson Cardoso de Carvalho.
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Anna Gertrudes de Campos; João de Campos Bicudo - Inventário 1860. Arquivo do Museu Republicano
12
Convenção de Itu. Fundo: Arquivo Central da Comarca de Itu. Grupo: 1º Ofício da Comarca de Itu. cx
75.
2. "(...) uma chacara, que divide-se por dois lados com Firmino de Almeida, por
um com João de Campos Bicudo, por outro com Henrique de Araujo Campos, Dona
Gertrudes de Araujo." (Livro do Registro de Terras da Província de São Paulo, volume
nº 106, local: Indaiatuba. Arquivo do Estado de São Paulo. fl.17v)
Portanto, a fazenda do Pau Preto, com sede à Rua Pedro Gonçalves e ícone da
história de Indaiatuba só teve a forma e a vida conhecida no imaginário social da cidade
com Joaquim Emígdio de Campos Bicudo, no segundo quartel do século XIX.
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Arrematação de uma chácara na Villa de Indaiatuba que fas Joaquim Emygdio de Campos Bicudo pela
quantia de = 2:001:000
Aos vinte e três dias do mes de Maio de mil oito centos oitenta e cinco nesta cidade de Itu, em a sala das
audiências onde se achava o Juiz de Direito e de Orphãos Doutor Frederico [?] d'Avelar Brotero, comigo
Escrivão de seu cargo, ahi pelo Juiz foi determinado ao Official José do Amaral Campos que apregoasse e
trouxesse a praça a chacara na Villa de Indaiatuba dividindo com Joaquim Emygdio de Campos Bicudo
com Leduina de Tal, com Theodoro de Araujo Campos e com a rua nova e justamente ao espolio do
finado Padre Antonio Cassemiro da Costa Roriz, avaliada novamente em dois contos de reis, o que
cumprindo o Official, e depois d'apregoar por algum tempo recebendo o laudo que se he offereceu, de
ordem do Juiz affrontou entregando um ramo sigual de arrematação ao arrematante Joaquim Emygdio de
Campos Bicudo, que arrematou a dita chacara pela quantia de dois contos e um mil reis que exhibio [?],
mandando entregar [fl.36v] a referida quantia a Francisco de Almeida Pompeo a quem nomeava
depositario, houve a arrematação fosse boa, firme e valiosa afim de produzir todos os seus efeitos, e
determinou que o arrematante juntasse conhecimento do pagamento da competente seja, o que cumpriu e
a conhecimento é o que se segue. Para constar lavrou este termo de arrematação que assignou com o Juiz
o arrematante e o Official. Eu Francisco Bernardino de Campos Camargo. Escrevião que escrevi. Joaquim
Emygdio de Campos Bicudo. José do Amaral Camargo.
Antonio Cassemiro da Costa Roriz; Zeferino Leite de Moraes - Inventário 1884. Arquivo do Museu
Republicano Convenção de Itu. Fundo: Arquivo Central da Comarca de Itu. Grupo: 1º Ofício da Comarca
de Itu. cx 126. fl.36-36v.
1. Recorte da Planta da Rede de Esgotos. Águas e Esgotos de Indaiatuba. 1925. Nesse trecho é possível
visualizar uma área e uma construção denominadas, respectivamente, Terreiro de Café Fazenda Bicudo e
Sede da Fazenda Bicudo. O local apontado como a sede da Fazenda é onde se encontra o atual Casarão do
Pau Preto. Mapoteca do Arquivo Municipal de Indaiatuba. Registro do autor.
Dois anos antes, em 1838, Francisco Pacheco de Campos havia comprado parte
das terras que Elias de Campos Bicudo havia recebido de herança de seu pai Joaquim
Gonçalves Bicudo. Em 1840, por sua vez, ele vendeu as terras do sítio Pau Preto e as
comprada de Elias de Campos Bicudo ao Capitão José de Almeida Prado (Livro 1 -
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"Pagou o Senhor Francisco Pacheco de Campos Silva a quantia sincoenta e cinco mil reis siza
correspondente a seis centos e cincoenta mi reis preço por que comprou Dona Antonia de Arruda a parte
que ella tinha no sítio Pao preto na Freguesia de Indaiatuba." Livro 1 - Escrituras 1833 a 1841. Fundo 2º
Cartório de Notas de Indaiatuba. Arquivo Municipal de Indaiatuba. fl. 168.
Escrituras 1833 a 1841. Fundo 2º Cartório de Notas de Indaiatuba. Arquivo Municipal
de Indaiatuba. fl. 139-141). No documento não há descrição da localização e tamanho
das terras vendidas.
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De acordo com o documento, Francisco de Paula Almeida Prado adquiriu "hum Sitio e terras, com
casas de morada Engenho de Agoa e fabrica de asucar com três cardeiras rumilhor e esqumadeiras
alambique formas silindors e toda maquina a hela pertencente; asim mais carros porcadas canaviais canas
moveis e madeiras [?] roçados e derruba e derrubadas para milho assim mais outras miudezas e de todos
os bens moveis quatro Bois e assim muito mais miudezas de que me apresentarão a relação. Livro 2 -
Escritura 1841 a 1852. Fundo 2º Cartório de Notas de Indaiatuba. Arquivo Municipal de Indaiatuba. fl.
187v-188)
d'Almeida Prado), Maria de Almeida Prado, Francisca de Almeida Prado (casada com
José Elias de Almeida Prado), João de Almeida Prado, Izabel de Almeida Prado (casada
com Felippe de Campos Almeida), Tereza de Almeida Prado (casada com o Capitão
José Manuel Fonseca, com quem teve quatro filhos, sendo um deles Escolástica da
Fonseca Bicudo), Escolástica de Almeida Leite (casada com Joaquim da Fonseca Leite)
e Leonor de Almeida Prado Berrini, casada com Luiz Berrini. O capitão José de
Almeida Prado é de uma família tradicional da elite de Itu e também esteve presente em
Indaiatuba desde os primórdios da ocupação do local. Ele tinha ainda algumas casas na
freguesia e outras terras na região. De acordo com o Livro de Terras de 1855, possuia
um sítio denominado Cachoeira de duas mil braças de sertão, limitado por "um lado
com o Rio Jundiahi, por outro com Manoel Galvão de França Paxeco, por outro com
João Tibiriçá, e Lourenço Tibiriça" (Livro do Registro de Terras da Província de São
Paulo, volume nº 106, local: Indaiatuba. Arquivo do Estado de São Paulo. fl.12). Esse
sítio Cachoeira é atualmente denominado como Sítio Cachoeira do Jica.
Ainda na década de 1840, o Capitão José de Almeida Prado realizou uma troca
de parte de suas terras com parte das terras do Alferes João Baptista do Amaral(cujas
propriedade e negociação foi feita por seu genro, Firmino de Almeida Leite). Trata-se
de um relevante documento para a questão aqui discutida, visto que os termos dessa
troca envolvem justamente uma parte do sítio Pau Preto e das terras de Joaquim
Gonçalves Bicudo. De acordo com os avaliadores dessas propriedades, Francisco
Chavier de Almeida e José de Sampaio Bueno, as terras de José de Almeida Prado valia
dez contos de reis (incluindo o valor das benfeitorias: engenho de açucar com cilindros
de ferro, moinho e outras), enquanto que as de João Bapstista do Amaral, sete contos
(também com benfeitorias). Os termos dessa troca foram assim estabelecidas:
16
No documento de 1838 diz que José do Amaral Camargo havia comprado as partes de João de Campos
Bicudo e um trecho de Elias de Campos Bicudo. É possível que nessa compra ambas as partes tenham
sido consideradas como uma só.
17
Sobre as partes das terras de José de Campos Bicudo e Feliciano Leite Pacheco, não foi encontrado o
documento referente a compra delas.
curador pelo qual foi dicto que asseitava a troca na forma declarada dando o
sítio de seu curado sito no Bairro do Itaicy na forma que o mesmo poçuia em
[?] do despacho do Juiz de Orfãos parecer [fl.38] dos louvados retro lançado
ficando pertencendo ao Almeida o sítio de Baptista e o de Almeida a
Baptista, disserão mais que os carros madeiras e moveis que se levem mais
no anno seguinte não. São trocados Almeida [?] as que tem no sítio do Pao
Preto e o curador as do sítio de seu curado devendo porém ambos fazer as
novas plantações nas terras dos sítios trocados; (Livro 2 - Escritura 1841 a
1852. Fundo 2º Cartório de Notas de Indaiatuba. Arquivo Municipal de
Indaiatuba. fls. 37v-38)
Com essa troca, José de Almeida Prado ampliou seu sítio Cachoeira no Bairro
do Itaicy enquanto Firmino de Almeida Leite e seu sogro João Baptista do Amaral
mudaram-se para uma propriedade próxima aos campos da freguesia. É preciso lembrar
que esse processo não foi feito com a totalidade das terras do Sítio Pau Preto e terras de
Joaquim Gonçalves Bicudo, pois o mesmo Capitão Almeida Prado havia feito uma parte
delas como dote de casamento de sua neta Escolástica da Fonseca Leite Bicudo.
Esse documento explica, por sua vez, porque no Livro de Registros de Terras de
Indaiatuba de 1855 (Arquivo do Estado de São Paulo. Volume 106) feito pelo Vigário
Antônio Cassemiro da Costa Roriz, José de Almeida Prado aparece como possuidor de
uma terra que tinha como um de seus limites o Rio Jundiaí (na época parte do Bairro
Itaicy). Firmino de Almeida Leite, por sua vez, é citado como possuidor de um sítio que
tinha como divisão as terras de Elias Baptista do Amaral, Francisco de Paula Almeida
Prado (proprietário do Sítio Engenho d´água), Dona Izabel de Campos Penteado e o
Reverendo Vigário Antônio Cassemiro da Costa Roris. De acordo com essa descrição,
em meados do século XIX, o Sítio Pau Preto e as terras de Joaquim Gonçalves Bicudo
não faziam fronteira com a freguesia.
terras partem na testada com o sítio que foi do falecido Capitão Vicente do
Amaral Campos e de outro lado com Elias de Campos Bicudo, que principia
do canto da terça the huma barroca vermelha e no certão. De hum lado com
Firmino de Almeida Leite principiando vermelha e subir por ella asima the a
cabeceira de onde partira o rumo direito the dar no corrigo da Ponte Alta e
seguir por ella asima the sua cabeceira de onde seguira o rumo de Norte the
entestar com as terras de Esmeria Lopes e de outro lado no sertão partindo
com Jacinto de Oliveira Bueno. (Livro 2 - Escritura 1841 a 1852. Fundo 2º
Cartório de Notas de Indaiatuba. Arquivo Municipal de Indaiatuba. fls. 101)
Em 1862, por sua vez, Firmino de Almeida Leite e sua esposa Dona Francisca
de Almeida Leite aparecem em documento pertencente ao Fundo Nilson Cardoso de
Carvalho, vendendo parte das terras e sítio herdados de João Baptista do Amaral à José
Sampaio Goés. De acordo com os termos dessa escritura, tratava-se do sítio Pau Preto e
de terras que pertenceram a Joaquim Gonçalves Bicudo que "contém mil braças em
quadra à exceção das terras onde se acham edificadas as propriedades, e nessas mil
braças estão compreendidas duzentas e dezessete braças e meia, que foram do sitio do
finado Joaquim Gonçalves Bicudo" (Documento 11. Fundo Nilson Cardoso de
Carvalho. Arquivo Municipal de Indaiatuba. fl. 27). Essa escritura traz ainda outras
informações relevantes que ajudam a compreender a localização dessas terras:
aí faz canto, digo, Taborda e segue até dividir com José Manoel da Fonseca
Leite, faz canto e segue o rumo dividindo com o mesmo José Manoel, até dar
em terras do doutor Paulo José Labre, faz canto e segue dividindo com o
mesmo doutor até as terras de Inácio de Paula Leite , faz canto, segue
dividindo com este até o ribeirão e daí pelo valo que divide com João
Pedroso de Almeida, até dar no valo onde principiou a divisa. (Documento
10. Fundo Nilson Cardoso de Carvalho. Arquivo Municipal de Indaiatuba.
fl.25)
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Indaiatuba foi elevada a categoria de Vila em 1859.
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Trata-se de informações incompletas devido ao estado de preservação do documento.
Dois anos depois, em 1869, o capitão José Pedro de Siqueira aparece em um
documento fazendo uma transcrição do título da fazenda para sua mãe, Dona Rosa
Maria de Jesus, única herdeira do próprio filho. Nesse termo, o sítio do Pau Preto é
descrito com casas de morar, engenho, fabrica de açúcar, benfeitorias e canaviais,
confrontando suas terras com as "de José Pedro de Barros; do reverendo vigário
Antônio Casimiro da Costa Roriz; com a viúva de Calixto Afonso Taborda; com José
Manoel da Fonseca; com o dr. Bento José Labre; com Inácio de Paula Leite; e por
útlimo com João Pedroso de Almeida." (Documento nº07. Fundo Nilson Cardoso de
Carvalho. Arquivo Municipal de Indaiatuba. fl.20). Com essa descrição é possível
comparar e complementar a descrição das terras que se encontram incompletas no
trecho do documento de 1867 transcrito acima.
Um detalhe na forma como os registros das compras e vendas das terras foram
feitos nos traz uma pista importante para o caso aqui estudado. Até a década de 1860, as
referências as terras do sítio Pau Preto e da família Bicudo eram feitas de forma
separadas. Embora as indicações de divisas e fronteiras indicarem serem estas terras que
conformaram um mesmo lote de terras, os documentos cartoriais guardaram a memória
de sua transmissão ao longo do tempo. Isso reitera a hipótese de que o sítio do Pau
Preto, ícone da cidade de Indaiatuba só tenha sido conformado de acordo com o
imaginário social com Joaquim Emígdio de Campos Bicudo, já que as terras de sua
família (oriundas das posses de Joaquim Gonçalves Bicudo) não eram as mesmas desse
sítio.
Conclusão: