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© Paulo Marcial 2021

pastor distrital - Luanda.


Á INFLUÊNCIA DA IGREJA NO MUNDO:


O SAL E A LUZ

por Paulo Marcial

A
instituição da igreja na terra foi planejada por Deus no céu. A igreja foi
chamada do mundo, está no mundo, mas para ser em palavras e práticas,
diferente do mundo. É a única instituição credenciada por Deus “para a
salvação de homens”.1 Sua missão na terra é influenciar o mundo para o breve retorno de
Cristo. Ser o guia do mundo. Parte da solução e não do problema.
É digno de nota que, haverá perda de identidade se o devido propósito da igreja não
for notório. Amizade da igreja com o mundo é um perigo para a sua própria missão, (Tg 4.4).
Quando a igreja imita o mundo, desaparece a sua capacidade influenciadora. Torna-se parte
do mundo e partícipe dos seus pecados. Daí o conselho amigável e espiritual de Paulo: “E
não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação da vossa mente, para
que experimenteis qual é a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”. (Rm 12.2 BKJ).
No seu maior discurso, em Mateus 5:1 - 7:29, Cristo, após ter apresentado seu ensino
sobre as bem-aventuranças (Mt 5.3-12), usa duas metáforas fundamentais para descrever a
influência da igreja no mundo primitivo e contemporâneo (Mt 5.13-16). A primeira delas é
o sal. Jesus disse, “vós sois o sal da terra” (5.13). A influência do sal é interna e indispensável.
Se não se infiltrar, o sal perde o seu valor, impacto e sua oportunidade de transformar vidas.
A segunda é a luz (5.14). A luz não é sentida, mas é vista; sem ela, o mundo tropeça. William
Hendriksen mostra correctamente que nos textos de Mateus 5.13-16, “O mundanismo ou a
secularização é aqui condenada, porém a indiferença e o isolacionismo são igualmente condenados”.2

A Igreja é o Sal da Terra - Mt 5.13


O sal tem uma função importantíssima, intransferível e insubstituível. Na sua
diferença está o seu maior papel para as comunidades. William Barclay afirma que, “os gregos

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costumavam dizer que o sal era divino”. […]. “Nada é mais útil que o sol e o sal”.3 O papel da
igreja não é adoçar a terra, mas salgar o mundo. Sua missão de servir é para atrair muitos a
Cristo. Como o sal da terra, a igreja possui várias funções, das quais descrevemos três:
Em primeiro lugar, o sal é antisséptico e retarda a deterioração (Mt 5.13). Há uma clara
evidência de que, até ao momento em que Jesus fez o seu discurso no monte, não havia
refrigeração industrial nem tão pouco a doméstica. O uso da refrigeração é um avanço da
civilização moderna e não primitiva. Sendo assim, o sal era usado como um preservador de
alimentos. Sua missão era, geralmente, impedir o processo de putrefação dos mantimentos.
Para fazer cumprir essa nobre tarefa, Ellen
White diz, “o sal deve ser misturado com a
substância em que é posto; é preciso que
penetre a fim de conservar. Assim, é com o
contacto pessoal e a convivência que os
homens são alcançados pelo poder salvador
do evangelho”.4
Tal como o sal não deve ficar no
saleiro por muito tempo, correndo o risco de
perder o seu valor e tornar-se insípido, a igreja
também não deve isolar-se das outras pessoas. Uma vida de santidade não se constrói fugindo
as pessoas, mas o pecado. Ser antissocial não é sinal de uma vida espiritual sem mácula. No
contexto do texto em estudo, o isolamento da igreja não é parte do plano divino. A igreja
precisa penetrar, entrar em contacto com o as pessoas, para impedir a autodestruição do
mundo. John Stott foi enfático, “Os cristãos foram colocados por Deus numa sociedade
secular para retardar este processo [deterioração]. Deus pretende que penetremos no mundo.
O sal cristão não tem nada de ficar aconchegado em elegantes e pequenas dispensas
eclesiásticas; nosso papel é o de sermos "esfregados" na comunidade secular, como o sal é
esfregado na carne, para impedir que apodreça”.5

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Em segundo lugar, O sal realça o sabor dos alimentos (Mt 5. 13). Sem o sal, o alimento
torna-se insosso e desagradável ao paladar. Presta para os animais, mas não para os seres
humanos. Com a entrada do pecado, a vida tornou-se desgastante, sem sabor e sem
esperança. O pecado escraviza, mas o pior de tudo é que o pecado mata (Rm 6:23a). A igreja
precisa refletir a glória de Deus ao mundo para dar um novo aroma. Mostrar que o seu
fundador dá alivio ao cansado. Com Cristo, o sal será dado na medida precisa, para que não
se torne insuportável. “Os crentes sinceros
difundem uma energia vital, penetrante, que
comunica nova força moral às almas por quem
trabalham. Não é o poder do próprio homem,
mas o do Espírito Santo, que opera a obra
transformadora”,6 escreve Ellen White no seu
comentário sobre o maior discurso de Jesus.
Em terceiro lugar, o sal precisa conservar
a sua identidade e fazer valer a sua diferença (Mt
5.13). A eficácia do sal é reconhecida mesmo
quando for torturado ou conservado. Vendido ou comprado. Por esta razão, o sal está em
mansões e em cubículos. Sua influência não depende do tamanho da cozinha em que for
posto, mas na sua diferença. A igreja deve romper as fronteiras do tribalismo e do racismo.
A diferença entre a igreja e mundo deve ser notória e abraçada. Há muitos cristãos que se
tornaram um perigo nas redes sociais. Servem para o louvor na igreja, mas não para
evangelismo no mundo. Acusam o mundo de se deteriorar, mas não fazem nada para a
conservar. Foram contaminados pelo mundo, mas continuam amigos da igreja. Esse sal é
insípido e perigoso. Nas palavras de John Stott “o cloreto de sódio é um produto químico muito
estável, resistente a quase todos os ataques, Não obstante, o sal pode ser contaminado por impurezas,
tornando-se, então, inútil e até mesmo perigoso”.7 A diferença da igreja não é desprovida de
interesse quando Cristo é o centro de sua adoração.

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Ellen White escreve correctamente:
“Sem uma viva fé em Cristo como Salvador pessoal, é impossível fazer com que
nossa influência seja sentida em um mundo cético. Não podemos dar a outros
aquilo que nós mesmos não possuímos. É proporcionalmente à nossa própria
devoção e consagração a Cristo, que exercemos uma influência para benefício e
erguimento da humanidade. Caso não haja real serviço, nem genuíno amor, nem
realidade de experiência, não há poder para ajudar, nem comunhão com o Céu,
nem sabor de Cristo na vida. A não ser que o Espírito Santo se possa servir de nós
como instrumentos mediante os quais comunique ao mundo a verdade qual ela é
em Jesus, somos como sal que perdeu o sabor e está de todo inútil”. (MDJ, p. 37)

A Igreja é a Luz do Mundo - Mt 5.14


A luz revela-se publicamente. A luz luta contra a escuridão. A igreja infiltra-se no
mundo como sal e é vista pelos homens como luz. O relato de Genesis 1:3 mostra que a luz
veio à existência pela palavra de Deus. Antes da sua formação o mundo era coberto de trevas
(Gn 1:2a). Deus fez separação entre “a luz e as trevas” (Gn 1.4). A luz é necessária, porque a
escuridão existe. O mundo está em trevas. O diabo, o príncipe das trevas, prendeu muitos
na sua incredulidade. Por isso, a igreja precisa resplandecer a sua luz (Mt 5.16a). Mostrar ao
pecador o caminho que tropeça. Há uma verdade inegável e indiscutível na afirmação de
Fritz Rienecker, “Se os discípulos devem ser a luz do mundo, está subentendido que o mundo
é um único grande espaço escuro. Nessa escuridão as pessoas se batem ferem-se no corpo e
na mente. Quem traz luz para dentro dessas trevas, que significam noite e desesperança totais,
é unicamente Jesus e sua turma de seguidores “iluminados” por Ele!8
A origem da luz é Cristo e não a igreja. A igreja faz brilhar a luz, mas não a produz.
Sua tarefa será cumprida se depender da fonte. João, o discípulo amado, regista a palavras
de Jesus, “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue, nunca andará em trevas, mas terá a luz
da vida” (Jo. 8.12). Quando seguimos a Cristo, Ellen White escreve no Manuscrito 31 de 1886,
“A preciosa luz da verdade incide no caminho de todo aquele que o busca”. Nesta linha de
pensamento, William Barclay diz que a palavra grega akolouthon, traduzida aqui por “seguir”,
tem cinco significados: i) um soldado que segue seu capitão; ii) o escravo que acompanha seu

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senhor; iii) a aceitação de uma opinião, veredito ou juízo de um conselheiro sábio; iv) a
obediência às leis de uma cidade ou Estado; v) alguém que segue a linha de argumentação
de um mestre. Portanto, necessitamos de sabedoria do céu para seguir o caminho na terra.9
Destacamos quatro verdades importantíssimas:
Em primeiro lugar, a luz simboliza segurança e vida (Mt 5.14). Quem anda na luz sabe
para onde vai. Quem anda na luz, não tropeça. Não teme e não se apressa (Jo 11.9). Na luz
os perigos são vistos e os obstáculos são evitados. Onde há luz, há vida (Jo 1.4). O mundo
está preso em seu pecado. Não oferece segurança. Se a igreja se esconder, o mundo perece.
A igreja foi erguida por Deus para ser a luz de advertência do mundo. Não somos a luz da
igreja, mas a luz do mundo. A igreja é luz que aponta a direção certa a seguir. Essa luz deve
ser visível para que muitos recebam segurança divina e vida em abundância. No seu
comentário de Mateus (p. 34), William Barclay tem razão ao afirmar com precisão, “Um
cristianismo cuja influência se detém na porta da igreja, não tem grande valor para ninguém”.
Ellen White enfatiza, “Se aqueles que professam ser seguidores de Cristo não são a luz do
mundo, é porque o poder vital os deixou; se não têm luz para comunicar”, nem segurança e
vida para oferecer, “é porque não têm ligação com a fonte da luz”.10
Em segundo lugar, a luz é símbolo da verdade (Mt 5.14). O diabo é mentiroso e pai da
mentira. Seu reino é reino de trevas e desde o principio não se apegou à verdade, pois não
há verdade nele. Sua mentira filosófica fez com que o mundo caísse na sua armadilha. Ele
aprisionou muitos para fazerem a sua vontade (2Tm 2:26). Para que as pessoas voltem à
sobriedade e escapem de suas astúcias mortíferas, a luz precisa bilhar. A verdade precisa ser
apresentada. A ordem de ser a luz do mundo Deus já havia dito a Israel: “Também te darei
para luz dos gentios, para seres a minha salvação até as extremidades da terra” (Isaías 49:6; cp. 42:6).
Segundo Mounce “A função de servo atribuída a Israel é assumida por Jesus (João
8:12; 9:5) e passada à frente, para seus seguidores”.11 A igreja é luz que combate a corrupção
moral e espiritual da sociedade. Se esta luz se apagar, a falsidade prosperará, a corrupção
remoça, a injustiça social enflora. A verdade deve ser pregada. A verdade é luz. A luz

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resplandece nas trevas, e as trevas não prevalecem contra ela (Jo 1.5).
Em terceiro lugar, a luz serve de guia (5.16). A luz clareia o caminho. A igreja é
composta por filhos da luz, filhos do dia, e não da noite nem das trevas. O Senhor mantém
acesa a lâmpada da sua igreja para que dirijam seus semelhantes a direção certa. O guia livra
as pessoas da morte para que andem diante de Deus na luz que ilumina os vivos (Sl 56:13).
Segundo Barclay, isto significa que necessariamente a igreja deve ser exemplo para o mundo.
[...]. É dever do cristão iniciar a ação justa e boa que seus irmãos mais fracos possam imitar,
erigir-se no guia que os menos valorosos possam seguir. O mundo necessita luzes que guiem seu
caminho. Há multidões que desejam ver alguém disposto a dirigi-los naquelas coisas que eles
mesmos não se animariam a realizar por conta própria” (Mateus, p. 135).
Em quarto lugar, a luz é símbolo da ação correcta (5.15). Cristo não disse seja ouvida a
vossa boa voz, mas seja vista a vossa boa obra. A tónica não está na palavra que a igreja
proclama, mas nas obras que ela realiza. É, portanto, coerente afirmar que a igreja ilumina o
mundo com a sua boa obra. Ressaltamos que antes de pregarmos a doutrina certa para o
mundo, devemos ter a vida certa. Há muitas pessoas com discursos apeladores ao coração,
mas a sua conduta é destruidora. Na Review and Herald, 6 de Setembro de 1881 há uma
excelente afirmação: “O verdadeiro carácter da igreja não se mede pela elevada profissão que
ela faz, nem pelos nomes que se encontram em seu registo [rol de membros], mas pelo que
ela está em realidade fazendo [...]”.12

A Igreja Brilha Para Deus – Mt 5.16


William Barclay diz que no idioma grego há duas palavras que designam o bem: a
palavra “agazós”, mediante a qual se define a bondade direta de alguma coisa; “kalós”, que
quer dizer que algo não somente é bom, mas também belo, atrativo, elegante. A palavra que
se usa neste versículo é kalós. As boas ações do cristão não devem ser somente boas; também
devem ser atrativas.13 Apesar de serem atrativas, Jesus deixou claro no seu discurso que a
igreja não deve fazer boas obras a fim de atrair a atenção da sociedade para si. No texto, o

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foco não é fazer a igreja conhecida. As boas obras da igreja são demostradas para levar as
pessoas a glorificar a Deus. A igreja não brilha para ser reconhecida, mas para Deus ser
conhecido e adorado. Revelar a Deus pelo agir é o fim da influência da igreja como sal e luz
do mundo. Quando pelo poder de Cristo, a luz da igreja resplandecer, Deus será exaltado.


1
White, Ellen G., Atos dos Apóstolos, (Washington, DC: Ellen G. White Estate, 2007) p. 6.
2
Hendriksen, William, Mateus, vol. 1, (São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001), p. 395.
3
Barclay, William, Mateus, (Trinity College: Glasgow, 1956) p. 129.
4
White, Ellen G., O Maior Discurso de Jesus, (Washington, DC: Ellen G. White Estate, 2008), p. 36.
5
Stott, John, Contracultura cristã — a mensagem do Sermão do Monte, (Inglaterra, Inter-Varsity Press,
1981), p. 31.
6
White, p. 36.
7
Stott, p. 57.
8
Rienecker, Fritz, O Evangelho de Mateus, (Curitiba: Editora Evangélica Esperança, 2004), p. 38.
9
Barclay, William, Juan II, Tomo 6, p. 21.
10
White, p. 41
11
Mounce, Robert H., Mateus, (São Paulo: Editora Vida, 1996), p. 53.
12
Veja White, Ellen G., Serviço Cristão, (Washington, DC: Ellen G. White Estate, 2007), p. 12.
13
Barclay, William, Mateus, p. 137.

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