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1° O setor agroindustrial canavieiro iniciou, sobretudo nas últimas décadas, um

processo de pesquisa e desenvolvimento que garante seu destaque no setor agrícola


brasileiro. As usinas de cana-de-açúcar procuram se adequar ao cenário da economia
nacional por meio de inovações a fim de integrar as áreas agrícola e industrial.

A compreensão da importância da ligação entre as áreas agrícola e industrial da cadeia


produtiva sucroalcooleira é relevante para que a empresa tenha vantagem competitiva
em relação à qualidade do principal insumo que utiliza - a cana-de-açúcar - e ao
investimento em sistema de corte, carregamento e transporte.

Até pouco tempo, o setor usineiro dependia exclusiva-mente da mão-de-obra humana


para realizar o corte da cana-de-açúcar. De uns tempos para cá, o processo de colheita
de cana passa por um intenso processo de mecanização. Essa mudança de perfil, onde o
homem está cedendo, gradualmente, lugar à máquina, faz, em partes, a colheita nas
lavouras de cana-de-açúcar ficar mais eficiente.
2° O carregamento é uma etapa que liga a colheita da cana à sua acomodação final nos
caminhões que fazem o transporte até a usina. Essa etapa utiliza a circulação de veículos
mais leves do que os treminhões dentro da lavoura, evitando, assim, a compactação do
solo e aumentando a agilidade desse processo.

Os sistemas de carregamento da cana-de-açúcar podem ser manuais e mecanizados:

Carregamento manual: pouco utilizado, esse tipo de carregamento ocorre em


situações em que se tem um relevo bastante acentuado. Geralmente, o carreador fica em
local de desnível em relação ao talhão. Neste caso, coloca-se uma prancha de madeira
que possibilita o acesso do carregador até a caçamba do veículo de transporte da cana-
de-açúcar. Em outras situações, o carregamento manual é realizado quando o transporte
ocorre por meio de carro-de-boi.

Carregamento mecanizado: carregamento que se tornou comum no Brasil na década


de 1950, na região Centro-Sul, com a utilização de máquinas importadas. Atualmente,
quando a propriedade apresenta relevo adequado e a dimensão justifica o uso de
máquinas, a colheita mecanizada se faz presente em todas as regiões produtoras.

Muitos fatores podem influenciar na quantidade de matéria estranha arrastada por meio
do carregamento mecanizado da cana-de-açúcar, entre os quais:

Qualidade da queima: Em canaviais em que a queima não ocorreu de forma eficiente,


é grande a quantidade de folhas não queimadas, que na colheita mecanizada são levadas
juntamente com os colmos, aumentando a quantidade de matéria estranha no
carregamento. No corte manual essas folhas geralmente são retiradas.

Umidade e granulometria do solo: Quanto mais argiloso e úmido se encontra o solo,


maior é a possibilidade de aumento do índice de matéria estranha no carregamento de
cana. O solo úmido se adere facilmente aos colmos no momento da rolagem desses pelo
terreno, que ocorre durante a ação da máquina. O solo úmido também se adere
facilmente ao rastelo que está efetuando o carregamento, indo juntamente com a cana
colhida para a caçamba, aumentando o percentual de matéria estranha.

Disposição dos colmos cortados: Quando os colmos estão dispostos em montes ou


esteiras de modo organizado, geralmente, a quantidade de material estranho é menor,
pois as movimentações das máquinas ocorrem com menos freqüência.

Tipos de rastelo e garra: Rastelos com dispositivos hidráulicos que limitam a sua


penetração no terreno (acompanhando o relevo do solo), e garras que também possuem
esse dispositivo limitando o seu fechamento, geralmente carregam menor quantidade de
material estranho junto aos colmos.

Habilidade do operador: Quanto mais experiente o operador, menor será a quantidade


de material estranho presente no carregamento.

Independente da classificação, os sistemas de corte e carregamento são geralmente


identificados pela forma em que a cana é recebida na indústria: cana inteira ou picada.
É importante ressaltar aqui a definição de frentes de corte. A cana-de-açúcar que chega
à usina vem de pontos diferentes e é trabalhada por uma equipe denominada frente de
corte, que opera com equipamentos diferentes conforme o tipo de cana (corte manual ou
colheita mecanizada). A quantidade de frentes de corte depende da capacidade de
moagem da usina, da distribuição geográfica e do tamanho das fazendas, entre outros
fatores. 

Frentes de cana inteira

A colheita mecânica comercial de cana inteira não é muito utilizada, atualmente.


Portanto, quando uma frente é identificada como sendo de cana inteira, entende-se que o
sistema seja semi-mecanizado, ou seja, com corte manual e carregamento mecânico.

Os caminhões chegam até a frente de cana inteira e se dirigem ao ponto de engate e


desengate onde fazem o desprendimento de suas carretas (Romeu e Julieta e treminhão),
que são, então, atreladas aos tratores-reboque. Na seqüência, os caminhões
desengatados e os tratores com as carretas acopladas dirigem-se para alguma
carregadora dentro da área de colheita. A escolha se dá em função da carregadora que
estiver mais livre. As carregadoras permanecem paradas junto à cana disposta em
montes ou esteirada. O caminhão ou o trator é posicionado ao lado da carregadora, que
se movimenta, coletando a cana com suas garras e depositando o feixe na carroceria do
caminhão ou reboque (Figura 1).

 
Fig. 1. Coleta de cana inteira com motocana.
Foto: Paulo Magalhães.

Após a conclusão da carga, os caminhões e os tratores-reboque puxando as carretas


dirigem-se ao ponto de engate e desengate, onde as carretas são desprendidas dos
tratores, que seguem para atrelar alguma carreta vazia ou simplesmente aguardam a sua
chegada. As carretas carregadas se prendem aos caminhões para formar, novamente, a
composição de transporte completa (Romeu e Julieta e treminhão). Após a montagem
do caminhão, é feito o acerto de carga, quando as pontas das canas são aparadas rente à
carroceria, além da amarração da carga. Realizado esse processo, o caminhão retorna à
usina.

Frentes de cana picada 

Nos sistemas de cana inteira, os caminhões se desprendem das carretas e os


equipamentos entram na área de colheita. Sistemas mais modernos utilizam transbordos,
implemento que possui uma caçamba atrelada ao trator, e que possibilita transferir a
cana recebida da colhedora para os caminhões. Nesse sistema, além de possibilitar ao
caminhão trazer uma carga maior por viagem, dada a possibilidade de aumentar a sua
carroceria, os caminhões não entram na área de colheita, o que reduz a ocorrência de
compactação do solo. 

Nesse sistema, os caminhões de cana picada chegam primeiro e permanecem


estacionados em uma área denominada malhador. Os tratores rebocando os transbordos
- normalmente duas unidades - vêm até os caminhões, acionam os pistões hidráulicos e
a carroceria dos transbordos se eleva, transferindo a carga para os caminhões. 

Após a transferência, os tratores se dirigem para as colhedoras, que permanecem no


interior da área de colheita. A colhedora realiza seqüencialmente o corte, a picação e a
limpeza da cana, conduzindo-a para os transbordos. Após a conclusão da carga (Figura
2), os tratores se dirigem novamente ao malhador e transferem a cana para os caminhões
(Figura 3), fechando, assim, o ciclo operacional. Quando a carga dos caminhões é
finalizada, estes se dirigem para a usina.

Fig. 3. Tranferência de cana picada para


Fig. 2. Carregamento de cana picada.
o caminhão. 
Foto: Patrícia Lopes. 
Foto: Patrícia Lopes.
3° A compreensão da importância da ligação entre as áreas agrícola e industrial da
cadeia produtiva sucroalcooleira é relevante para que a empresa tenha vantagem
competitiva em relação à qualidade do principal insumo que utiliza - a cana-de-açúcar -
e ao investimento em sistema de corte, carregamento e transporte.
 
Um aspecto importante dos sistemas logísticos é a forma de coordenar os processos de
corte, carregamento e transporte de cana do campo até a área industrial, de maneira a
suprir adequadamente a demanda necessária na área industrial. Os custos do corte,
carregamento e transporte representam 30% do custo total de produção da cana, sendo
que somente os gastos com transporte equivalem a 12% desse total.
 
Da mesma forma, o sistema de recepção, que compreende operações como pesagem,
amostragem, armazenagem intermediária e descarga de cana nas moendas, deve operar
com um fluxo de cana transportada do campo à usina que permita alimentação uniforme
das moendas. Caso contrário, pode haver paradas nas moendas, o que é altamente
prejudicial por conta dos altos custos da ociosidade de máquinas. Manter a moenda
funcionando com quantidade de cana insuficiente gera desperdícios de energia, desgaste
desnecessário dos equipamentos etc.

5° Custo CCT

Em usinas do ramo sucroalcooleiro o custo com o CCT (Corte, Carregamento e


Transporte de Cana) representa aproximadamente 25 % do custo da tonelada de cana ou
10% de cada saca de açúcar, que é significativo dentro do contexto.

Só a determinação do valor global não permite diagnosticar as causas do custo e muito


menos verificar quais as providências a serem tomadas para reduzi-lo, uma vez que
existem muitos fatores que influenciam diretamente nestas variações, tais como:

 Características da região: o relevo, comprimento do talhão, várias fazendas


juntas ou muito distante uma das outras, raio médio da lavoura a empresa, entre outros;
 Características da unidade: tipos de variedades de cana, espaçamento, cana crua
ou queimada, rendimento da produção (toneladas de cana por hectare), sistema com
transbordo ou não, números de turnos de trabalho e outros;
 Características da frota: idade média, marcas dos equipamentos, quantidade de
equipamentos por frente, frota de apoio, qualidade da mão-de-obra, etc;
 Características do Gerenciamento: se há um bom controle de manutenção, da
área operacional e de custos, entre outros.
 
É necessário analisar o processo em seus detalhes, dividindo-o em etapas e parcelas,
determinando para cada uma o custo, sua composição e a eficiência dos equipamentos
utilizados.
A execução de um estudo deste nível requer uma grande carga de trabalho devido a
muitas variáveis e dificuldades de obter essas informações. Há necessidade de analisar
cada sistema globalmente, onde cada equipamento interage com os demais possuindo
características específicas ao seu desempenho no sistema.

Metodologia para elaboração do Custo do Corte, Carregamento e Transporte

Fonte de dados:
Os dados foram obtidos de seis usinas que possuem o SISMA, do módulo de Custos e
Orçamentos, sendo o custo do mês consolidado para os últimos 12 meses.

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