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INTRODUÇÃO À LÓGICA

José Rogério de Pinho Andrade


Conceito(s) de Lógica

“A arte que dirige o próprio ato da razão, isto é, que nos permite chegar com ordem, facilmente e sem erro, ao
próprio ato da razão”. (Jacques Maritain)
“O dos métodos e princípios usados para distinguir o raciocínio correto do incorreto”. (Irving M. Copi)
“A disciplina que trata das formas de pensamento, da linguagem descritiva do pensamento, das leis da
argumentação e raciocínios corretos, dos métodos e dos princípios que regem o pensamento humano”. (Cleverson
Bastos e Vicente Keller)

Divisão e objeto da Lógica

Segundo Aristóteles a lógica se divide em:

a) lógica formal (ou menor), que estabelece a forma correta das operações do pensamento. Se as regras
forem aplicadas corretamente, o raciocínio é considerado válido. Diz respeito à estrutura de validade do
argumento.
b) lógica material (ou maior), que trata da aplicação das operações do pensamento segundo a matéria ou
natureza dos objetos a conhecer. Diz respeito à adequação do pensamento à realidade, isto é, ao critério de
verdade ou de falsidade.

O objeto da lógica é a proposição, que exprime, por meio da linguagem, os juízos formulados pelo pensamento. O
encadeamento dos juízos constitui o raciocínio e este se exprime por meio da conexão lógica de proposições; esta
conexão é denominada de silogismo. Deste modo, pode-se concluir que a lógica estuda os elementos que constituem
uma proposição, os tipos de proposições e de silogismos e os princípios necessários a que toda proposição e todo
silogismo precisam se subordinar para serem verdadeiros.

Raciocínio e Argumento

O raciocínio é um processo mental, que nem sempre temos a consciência de que e como ocorre. Por outro
lado, muitas vezes temos plena consciência de que estamos raciocinando, o que costuma exigir um certo esforço.
Define-se o raciocínio como o processo mental pelo qual, com o que já se conhece, o espírito adquire um novo
conhecimento, ou seja, é a aquisição de uma conclusão (conseqüente) a partir de elementos dados como
antecedentes. Também chamado de inferência.
A lógica não procura dizer como as pessoas raciocinam. Ela se interessa primeiramente pela questão se as
nossas crenças de fato constituem boas razões para as nossas conclusões, isto é, se aquilo que concluímos, deriva
daquilo que sabemos. A ciência, como um saber, visa a explicar e prever os fenômenos que acontecem ou podem
manifestar-se. Essa justificação é dada em forma de raciocínio e expressa em forma de argumentos.
O argumento é a representação lógica do raciocínio. É um tipo de operação discursiva do pensamento e
consiste em encadear logicamente juízos e deles tirar uma conclusão. Argumento “pode ser definido como um
conjunto (não-vazio e finito) de sentenças, das quais uma é chamada conclusão, as outras de premissas, e pretende-
se que as premissas justifiquem, garantam ou dêem evidência para a conclusão.” (MORTARI, 2001, p. 9)
Possui uma estrutura de rigor constituída por proposições ou enunciados (representação lógica do juízo). As
proposições antecedentes são chamadas de premissas e a conseqüente de conclusão.

Por exemplo: Todo homem é MORTAL (premissa maior)


Sócrates é homem (premissa menor) Antecedente = Premissas

Logo, Sócrates é MORTAL (conclusão)


Conseqüente = Conclusão

O juízo, por sua vez, é formado pela associação de ideias, ou simples apreensão. A ideia é o conhecimento
intelectual do objeto como tal ou em si. É aquilo que apreendemos pelo pensamento de forma direta e imediata numa
coisa, não precisando de qualquer demonstração. É representada logicamente pelo conceito ou termo.
Por exemplo: Homem; Mesa; Ventilador; Elefante...
Os termos (representação lógica das ideias) são classificados na proposição como sujeito e como predicado
e possuem duas propriedades fundamentais: a extensão e a compreensão.
Extensão do termo é o conjunto de objetos designados por um termo ou conceito. Refere-se à quantidade
de elementos por ele designado.
Extensão do termo sujeito: o termo sujeito pode ser classificado em: universal, particular e singular.

MORTAL == UNIVERSAL

HOMEM == PARTICULAR

SÓCRATES == SINGULAR

O termo quantificador (todos, algum, nenhum) estabelece a extensão do termo sujeito. No entanto,
quando há indefinição do termo sujeito quantitativamente (não aparece o termo quantificador) a regra
a seguir é a do “critério essencial” que pode ser enunciado a partir de duas regras básicas:
I – quando o termo predicado for essencial, o termo sujeito será universal;
II – quando o termo predicado for acidental, o termo sujeito será particular.

Extensão do termo predicado: não se dá pelos indicadores de quantidade, mas depende da qualidade do
enunciado, ou seja, depende de o enunciado ser afirmativo ou negativo

Regras básicas são consideradas para a classificação do termo predicado em relação à extensão:
I – sentenças afirmativas têm predicado particular;
II – sentenças negativas têm predicado universal.

A proposição (sentença ou enunciado) é a representação lógica do juízo. Juízo é o ato pelo qual a
inteligência afirma ou nega a identidade representativa dos conceitos. Por meio dele afirmando-se unimos duas ideias
e negando-se, as separamos. É a atribuição de um predicado a um sujeito por meio do verbo Ser.
Por exemplo: A borboleta é um inseto; Toda baleia é mamífero; Nenhum peixe é ave; Alguns homens não são
dedicados.
A proposição por si só não pode ser considerada premissa ou conclusão. Só é premissa quando ocorre
como pressuposição num argumento ou raciocínio. Só é conclusão quando ocorre num argumento em que se afirma
decorrer das proposições pressupostas nesse argumento. As premissas são o antecedente de uma conclusão.
Podem vir no início, no meio e, mais comumente, no final do raciocínio.

Classificação das proposições: se classificam segundo a qualidade e a quantidade

a) Do ponto de vista da qualidade se dividem em:


Afirmativas - atribuem alguma coisa a um sujeito: S é P;
Negativas - separam o sujeito de alguma coisa: S não é P.
b) Do ponto de vista da quantidade se dividem em:
Universais - o predicado se refere à extensão total do sujeito;
Particulares - o predicado é atribuído a uma parte da extensão do sujeito.

Assim, podem ser:

UNIVERSAIS AFIRMATIVAS (A) – Todo S é P.


UNIVERSAIS NEGATIVAS (E) – Nenhum S é P.
PARTICULARES AFIRMATIVAS (I) – Algum S é P.
PARTICULARES NEGATIVAS (O) – Algum S não é P.

Silogismo categórico

Um silogismo é um argumento em que uma conclusão é inferida de duas ou mais premissas. Copi assim
define o silogismo categórico: “é um argumento que consiste em três proposições categóricas que contém
exatamente três termos, cada um dos quais ocorre exatamente em duas das proposições constituintes”.
Segundo a filósofa Marilena Chauí em sua obra “Convite à Filosofia”, “a teoria aristotélica do silogismo é o
coração da lógica, pois é a teoria das demonstrações ou das provas, da qual depende o pensamento científico e
filosófico”.
Ela destaca, ainda, que o silogismo possui três características principais:
a) Ele é mediato - exige um percurso de pensamento e de linguagem para que se possa chegar a uma
conclusão;
b) É demonstrativo;
c) É necessário - a conclusão deriva de modo necessário daquilo que está nas premissas.
O Silogismo é uma argumentação em que, de um antecedente que une dois termos a um terceiro, infere-se
um conseqüente que une estes dois termos entre si. É constituído por três proposições onde a primeira é chamada
de premissa maior, a segunda de premissa menor e a terceira de conclusão, inferida pela mediação de um termo
chamado termo médio.
Diz-se que o silogismo é de forma típica quando suas premissas e conclusão são todas proposições
categóricas de forma típica (Todo S é P, Nenhum S é P, Algum S é P ou Algum S não é P) e estão dispostas numa
ordem específica. A conclusão de um silogismo categórico de forma típica é uma proposição categórica de forma
típica que contém dois dos três termos do silogismo.

O termo predicado da conclusão é denominado o termo maior do silogismo, e o termo sujeito da conclusão tem o
nome de termo menor do silogismo.

Regras do Silogismo

Para que o silogismo nos permita chegar a uma conclusão verdadeira ou à realização de uma inferência
correta, deve obedecer a um conjunto complexo de oito regras sem as quais não terá validade, não sendo possível
dizer se a conclusão é verdadeira ou falsa. São elas a seguir:

1- Um silogismo deve ter apenas três termos: um termo maior, um menor e um médio; o termo médio é o termo
que se repete nas premissas, a conclusão não deve ter o termo médio, o predicado da conclusão, em regra,
é o termo maior e o sujeito da conclusão, é o termo menor do raciocínio
2- O termo médio deve aparecer nas premissas e jamais na conclusão;
3- O termo médio deve ser universal (tomado em toda a sua extensão) apenas uma vez; pois do contrário não
realizará a sua função que é ligar os termos maior e menor entre si.
4- Nenhum termo pode ser mais extenso na conclusão do que nas premissas;
5- De duas premissas negativas nada se conclui;
6- De duas premissas particulares nada pode ser concluído, pois o termo médio não terá sido tomado em toda
sua extensão pelo menos uma vez e não poderá ligar o maior e o menor;
7- Uma das duas premissas deve ser afirmativa e/ou universal; duas premissas afirmativas devem ter a
conclusão afirmativa;
8- A conclusão sempre acompanha a parte mais fraca, isto é, se houver uma premissa negativa, a conclusão
será negativa; se houver uma premissa particular a conclusão será particular; se houver uma particular
negativa a conclusão será particular negativa.

Figuras e Modos do Silogismo

A figura ou figuração do silogismo é definida pela posição que o termo médio ocupa nas premissas exercendo
a função de sujeito ou de predicado. Distribuindo o termo médio nos silogismos encontramos quatro figuras:

1. SUB-PRE: o termo médio aparece como sujeito na primeira premissa e como predicado na segunda
premissa.

Exemplo: Todo homem é mortal


Todos os brasileiros são homens.
Logo, todos os brasileiros são mortais.

2. PRE-PRE: aqui o termo médio aparece como predicado nas duas premissas.

Exemplo: Todo os filósofos são amantes do saber.


Alguns homens são amantes do saber.
Logo, alguns homens são filósofos.
3. SUB-SUB: o termo médio aparece como sujeito nas duas premissas.

Exemplo: Todo homem é mortal


Alguns homens são filósofos.
Logo, alguns filósofos são mortais.

4. PRE-SUB: o termo médio se apresenta como predicado na primeira premissa e sujeito na segunda.

Exemplo: Todo os homens são racionais.


Todos os racionais são seres pensantes.
Logo, alguns seres pensantes são homens.
O Modo do silogismo nada mais é do que a configuração das premissas que o compõem, segundo o critério
de quantidade e qualidade. Por exemplo:

Todo X é Y Proposição do tipo: A


Algum X é Z Proposição do tipo: I
Logo, Algum Z é Y Proposição do tipo: I

É um silogismo do tipo AII.


São possíveis 64 modos diferentes de construirmos um silogismo categórico da forma típica. Multiplicando a
quantidade de modos (64) pelo número de figuras (4) podemos construir 256 silogismos diferentes, dos quais
somente alguns são válidos. Vejamos:

a) Silogismos válidos da primeira figura - SUB-PRE: AAA, EAE, EIO, AII, AEO, IEO.
b) Silogismos válidos da segunda figura - PRE-PRE: AEE, EAE, EIO, AOO.
c) Silogismos válidos da terceira figura – SUB-SUB: AAI, EAO, IAI, AII, OAO, EIO.
d) Silogismos válidos da quarta figura – PRE-SUB: AAI, EIO, EAO, AEE, IAI.

Aristóteles considerava que são válidos todos os silogismos que não cometem nenhuma falácia contra as oito
regras do silogismo categórico.

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