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SÃO PAULO – No meio da turbulência causada pela piora do cenário político e fiscal,
que levou a Bolsa a ser negociada perto dos 110 mil pontos e ter, em setembro, o
pior desempenho em 18 meses, gestores de ações aproveitaram para ir às compras
e se desfazer de posições que ficaram “caras” – e portanto, menos atrativas.
“Se nós pensarmos pelo lado doméstico, vai ser um negócio meio difuso. O BC
[Banco Central] vai agir para controlar essa inflação e a diferença vai ser o stock
picking [escolha selecionada de ações]. Vai ser encontrar as assimetrias”, destaca
André Lion, gestor da Ibiuna Investimentos.
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“Seria razoável pensarmos ainda que teria uma desvalorização cambial com o dólar
chegando a R$ 5,40 ou R$ 5,50. Nesse caso, empresas que estão com muita dívida e
que abriram capital recentemente poderiam sofrer mais”, afirma Lion.
André Vainer, co-fundador e gestor da Athena Capital, completa dizendo que hoje o
mercado está revendo os cenários.
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Estamos buscando aproveitar as oportunidades e verificar se
houve algo que justifique o preço. O ambiente macroeconômico
pode afetar o curto prazo, mas, às vezes, o mercado penaliza
muito uma companhia, e a parte estrutural dela não mudou
André Vainer, da Athena Capital
Às compras
Ao falar das compras mais recentes que fez, Vainer cita dois exemplos: Cyrela
(CYRE3) e Arezzo (ARZZ3), duas companhias em que a Athena não tinha
investimentos até pouco tempo atrás.
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No caso da Cyrela (CYRE3), o executivo explica que o mercado vem precificando um
cenário bastante negativo, como se ela não fosse mais “uma empresa
estruturalmente rentável”. “Se a Cyrela não for mais rentável, quem vai sobrar? Ela
vai continuar a ser um bom negócio, apenas um pouco pior do que estava antes”, diz
o gestor.
Segundo ele, não há como negar que a incorporadora vai ser afetada pelo aumento
da taxa de juros e pelo menor crescimento da economia e impactos na demanda.
Porém, estruturalmente, diz, ela segue atrativa com os desempenhos fortes das
suas joint ventures.
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O gestor da Athena Capital diz que não houve um “evento específico” que tornou a
empresa mais atrativa. No entanto, ele destaca que a Arezzo deve gerar valor na
crise porque tem margens maiores e não precisa repassar tanto os recentes
aumentos ao consumidor.
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Lion não nega que ruídos em torno da política de preços da companhia têm gerado
forte oscilação das suas ações. Mas afirma que isso não atrapalha as perspectivas
mais positivas que mantém para a petroleira.
“A governança tem os seus limites, mas ela foi testada e ficou provado que ela
funciona. Nós estamos no fim do ano e percebemos que a empresa continua com
objetivo e gestão profissional. Além disso, os números e o posicionamento dela não
refletem o valuation. Não faz o menor sentido”, pontua o gestor da Ibiuna.
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Diante do cenário mais conturbado, algumas casas também voltaram a olhar com
maior atenção para empresas de qualidade e de menor risco. Julio Erse, CIO da
Constância Investimentos, explica que esse tipo de companhia não vinha trazendo
retornos do início da pandemia para cá – mas que a situação mudou e alguns
papéis passaram a ter desempenho melhor.
O problema, segundo Erse, é que boa parte dessas empresas não gera muito caixa
hoje e que isso pode ser ainda mais preocupante agora que o Brasil vive um cenário
de elevação dos juros – o que se projeta que poderá acontecer no futuro também
nos Estados Unidos.
“Nós acreditamos que é preciso ter o crescimento para justificar o valuation de hoje”,
diz o gestor. Empresas como bancos digitais – como o Inter, por exemplo –
desafiam o modelo de negócio tradicional do setor, pontua Erse, mas seu
crescimento só deve se transformar em lucro de fato em alguns anos. “Há um risco
de execução. O investidor deve tomar cuidado para não trocar os retornos de hoje
pelos retornos do futuro”, diz.
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Com o olhar mais focado em empresas de qualidade e que geram caixa atualmente,
Erse diz que aumentou recentemente a posição em alguns papéis ligados ao setor
de proteína animal, como Minerva (BEEF3), e ao setor financeiro, com preferência
para as ações do Itaú (ITUB4) e do BTG Pactual (BPAC11).
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Na fase do “namoro”
Já no caso da Hapvida, Karen afirma que uma das razões para o maior interesse é o
fato de a sinistralidade (a relação entre o número de procedimentos acessados pelo
beneficiário e o valor pago pela empresa para o plano de saúde) da companhia, por
exemplo, ter crescido com o coronavírus. Outro fator, diz a executiva, é que a
empresa vem se beneficiando da pressão competitiva de players que não possuem a
eficiência ou rentabilidade necessárias para sustentar seus preços no médio e longo
prazos.
Karen afirma que a ação está hoje no “banco de reservas”, porém pode entrar em
breve na carteira. Segundo ela, o crescimento do setor de produtos voltados para
animais foi acelerado durante a pandemia e, recentemente, a companhia adquiriu a
Zee.Dog, marca premium do setor pet por R$ 715 milhões – uma compra
estratégica, na avaliação da gestora.
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mercado
“O caso da Evergrande trouxe isso de uma forma mais rápida e notória. O governo
antes incentivava essa demanda para o setor imobiliário e agora, está
desestimulando”, diz. “Houve uma mudança de paradigma na demanda, e ela deve
cair, o que deve afetar fortemente o minério de ferro”.
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