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INTRODUÇÃO
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Discente do curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Maringá. Contato:
flaviapent@hotmail.com
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Discente do curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Londrina. Contato: julieatt@msn.com
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Docente do curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Londrina. Mestre em Educação pela
Universidade Estadual de Londrina. Contato: fruiz@uel.br
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Por outro lado, e, contraditoriamente, observamos que, durante a década de 1990, houve
um considerável aumento dos anos de escolarização do povo brasileiro, o número de
analfabetos diminuiu, e, contudo, o nível de desemprego aumentou. PORCHMANN
(2004, p. 384), ao relacionar trabalho e educação, argumenta que a “deterioração das
condições de funcionamento do mercado de trabalho, ao invés de ser contida pela
melhoria educacional, contribuiu para o desperdício e o desgaste de habilidades
educacionais em atividades precárias e de baixa qualidade”.
Há, ainda, uma tentativa crescente de incorporação dos métodos de gerenciamento das
empresas capitalistas na gestão do espaço escolar, aplicando na escola, por exemplo, a
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que reproduza a sociedade existente a partir de seu trabalho. Com o objetivo de formar
um trabalhador alienado e executor de tarefas. Trabalhador este que é expropriado do
produto de seu trabalho. Nesta perspectiva, diferentemente, do que diz o metalúrgico
que citamos acima, o trabalho não é algo que faça a pessoa crescer enquanto ser
humano, mas acaba por retirar-lhe a dignidade já que o mesmo não consegue
minimamente suprir suas necessidades e as necessidades de sua família com o salário
indigno que muitas vezes recebe.
Nas reportagens pesquisadas podemos perceber nitidamente que a sociedade enxerga a
escola como sendo fundamental para conseguir um emprego e consequentemente
melhorar de vida, tornar-se rico.
Porém, unimo-nos a SAVIANI (2002) quando enfoca que a função da escola é
ensinar/transmitir os conteúdos construídos historicamente pela sociedade. Esta
instituição precisa nutrir o alunado de conhecimentos diversos, conhecimentos estes que
os façam perceber as injustiças do sistema para que possam trabalhar para superação da
injustiça social que assola os dias atuais. Assim, estará trabalhando em prol da formação
plena dos sujeitos que a compõem. Estará trabalhando também para formar pessoas
melhores, auxiliando no processo de humanização.
A escola não pode servir aos interesses do sistema capitalista, pois não é sua função
formar a mão de obra para o mercado de trabalho, mas sim, função do próprio mercado
de trabalho formar sua mão de obra qualificada.
Existe hoje uma falsa crença de que as pessoas não conseguem bons empregos porque
não possuem um alto nível de escolaridade, ou seja, que a escola influencia na posição
social que a pessoa ocupa. Porém, PARO (1999) deixa claro em seu texto que o
problema das injustiças sociais não é a falta de escolaridade, mas sim a falta de
empregos para todas as pessoas, pois, o atual sistema econômico, o capitalismo se nutre
das diferenças sociais, precisa delas para continuar existindo.
BIANCHETTI (2006) enfatiza que a formação do homem está voltada para o mercado
de trabalho, que como as demandas deste mercado estão mudando, hoje a escola precisa
formar um outro homem. Antes no modelo Taylorista-fordista a necessidade era de um
trabalhador especializado, específico, fragmentado, um trabalhador que apenas
executava uma tarefa parcelada e consequentemente não se enxergava na mercadoria
produzida. Hoje existe a necessidade de um outro tipo de trabalhador e a escola precisou
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se adequar para formar esses novos trabalhadores, assim acabou por surgir uma nova
tendência, a interdisciplinaridade, pois, hoje o mercado exige um trabalhador flexível,
adaptável, que saiba trabalhar em equipe, o que passa a exigir um trabalhador capaz de
realizar diferentes tarefas, tarefas complexas (generalista). Sendo assim, continua-se
atrelando a escola aos ditames do capital.
A educação e, principalmente a escola, precisa ter a definição do tipo de homem a se
formar, indo além do que os organismos internacionais incentivam, procurando
proporcionar a vivência democrática para que saibam mais tarde atuar na sociedade de
forma política e consciente. É preciso perceber que a preocupação dos Organismos
Internacionais com a educação, além de formar a classe trabalhadora, ainda justifica-se
como uma tentativa de melhoria do índice de desenvolvimento humano dos países em
desenvolvimento. A preocupação, entretanto não tem princípios humanitários, mas sim
acontece porque se percebe que a miséria e a pobreza vêm se tornando um estorvo para
o sistema capitalista, colocando em risco o seu desenvolvimento. Torna-se necessário
então minimizar a pobreza e a miséria, para que as pessoas possam acessar os códigos
da modernidade, fazendo operações bancárias, enfim, tornando-se cidadãs
consumidoras (OLIVEIRA, 2000).
Nesta perspectiva, há uma tendência a priorizar a educação básica, pois, entende-se que
apenas ela é necessária para instruir minimamente os indivíduos para terem acesso ao
mundo do sistema. Isto justifica o investimento neste nível de educação e a precarização
do nível superior de ensino. O ideário defendido implicitamente consiste em que é
necessário se preocupar com a formação do povo, porém, que lhe seja uma formação
básica, mínima, que apenas qualifique mão de obra barata a ser explorada, e que dê
condições também mínimas para que as pessoas operem os códigos da modernidade.
Haja vista os incentivos constantes aos cursos técnicos.
A preocupação com a educação é sempre na perspectiva de reprodução e alimentação
do sistema, nunca de contestação do status quo. A escola assim, torna-se um artefato
que está sempre a serviço do capital, ou melhor, do processo de acumulação do capital,
contribuindo para propagar uma conformidade que torna aceitável a tentativa de
perpetuação da perversidade da divisão das classes sociais. Assim, a educação, que
poderia contribuir de forma significativa para um processo lento, mas possível, de
transformação, acaba ficando, tristemente, como responsável para abastecer de
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3.Considerações finais
ações, enquanto cidadão político que luta por uma sociedade mais igualitária e faz valer
os seus direitos. Num sentido mais amplo, esta instituição precisa ter como objetivo
primeiro a apropriação do conhecimento pelo sujeito, formando cidadãos políticos, que
sejam capazes de participar ativamente da transformação social.
Isso não quer dizer que a escola não deva contribuir para formar para o trabalho. Porém,
não para o trabalho alienado. A escola precisa oferecer aos alunos o conhecimento
sistematizado para que estes possam interagir no mundo do trabalho, compreendendo as
relações de poder e de opressão que se tecem, de forma a atuarem futuramente como
agentes de transformação e não apenas como sujeitos passivos que se deixam sobrepujar
pelo sistema. Esta concepção é distinta da teoria do capital humano, não se tratando de
formar mão de obra para o “mercado de trabalho”, mas formar o cidadão/trabalhador
para que tenha possibilidades de sobrevivência num sistema perverso que visa à
acumulação de capital na mão de poucos. Nas palavras de KUENZER (2003, p. 44):
Para finalizar, entendemos que muito ainda os educadores precisam discutir sobre a
educação. A escola não contribuirá para a tão almejada transformação social se não
houver o convencimento de que esta instituição não deve estar atrelada ao modelo
econômico vigente, mas sim, trabalhar numa perspectiva contra-hegemônica que busque
superar esta concepção produtivista de educação. É necessário, então, ressignificar as
práticas pedagógicas, pensando em situações de ensino e aprendizagem que possibilitem
aos educadores e alunos cogitarem as alterações necessárias para a edificação de uma
sociedade na qual o sistema não oprima mais os sujeitos. É necessário reconhecer que o
que se quer ao atrelar a educação ao trabalho é a formação do trabalhador alienado,
submisso, que se deixe dominar facilmente, sem resistência, sem luta. Precisamos
almejar uma educação que emancipe, que liberte, que trabalhe em prol da formação do
ser político, de sujeitos que ajam pela mudança, que usem o conhecimento
sistematizado para transformar a realidade.
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Estes ensejos não se tratam de um otimismo ingênuo, nem da negação das dificuldades
encontradas realmente no interior da escola, muitas vezes, e na maioria das vezes,
determinada pelo sistema. Consideramos finalmente, que essa empreitada, de tentar
desatrelar a escolarização da formação de mão de obra barata, é difícil e morosa;
entretanto, não podemos deixar-nos levar pelo “pessimismo imobilizante”. Precisamos,
sim, nos arriscar em discussões e reflexões que apontem um norte para esse momento
tão conflituoso por qual passa a sociedade e consequentemente a educação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS