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Estamos caminhando. Eu aqui embaixo, perto do chão. Ela segura a minha mão. Que delícia, meus
dedos quentinhos na mão dela. Ela se abaixa, traz o rosto para perto do meu. Olha para mim, nos
meus olhos. Quando ri, aparecem ruguinhas em volta dos olhos dela.
– Olha lá – ela diz, apontando para uma bicicleta. – Que legal ter uma bici. Zum, zum, dá para ir tão
rápido!
– Ele está balançando o rabo. Ih, agora vai fazer xixi. Pronto, fez xixi.
Ela me leva num lugar junto da igreja. Eu gosto de correr atrás dos passarinhos.
– É mesmo! Olha como ele é grande! Será que ele faz piu–piu? Ali tem outro, está vendo? Aquele
faz curucucú.
– Curucucú – repito.
Ela me pega no colo e me abraça. Bem nessa hora, uma mulher passa caminhando. Um monte de
passarinhos bate as asas e saem voando.
– Uoouu! Eles sempre fazem isso – diz a mamãe. – Eles voam para a gente não pegar. Que pena!
– Uoouu! – Eu gosto do som que ela faz. – Uoouu, uoouu – digo, que nem a mamãe.
Ela me põe no chão e olha nos meus olhos. Vejo as ruguinhas e aquele dente engraçado quando ela
sorri.
– Uu–ooooooooouuu – repete.
– Uuuuuu–ooooooooooooooooooooooouuuuu, uuuuuu–ooooooooooooooooooooooouuuuu!
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Ela sorri outra vez, depois me pega no colo e me põe nos ombros.
– Meu amorzinho fofinho, está na hora de ir para casa – diz a minha mamãe.
XXX
No dia seguinte, eu acordo com fome. Começo a chorar, e a mamãe me pega no colo.
– Está com fome, pequerrucho? Aqui está a sua colher e o seu pratinho, cheio da comidinha que
você mais gosta.
Ah, que bom. A minha colher. O meu pratinho. A minha boca. Que delícia.
– Pequerrucho, eu sei que você adora essa brincadeira, mas agora não é hora. Nós vamos visitar os
passarinhos na igreja.
No caminho, eu aponto:
– Que caminhão grande, né? Ele é branco, com umas coisas escritas do lado.
Eu olho para ela, e ela sorri para mim. Ela também gosta do caminhão.
– E depois, o que aconteceu? – Ela me põe num banco. – Me conta o que o Roberto fez.
A mamãe está achando graça, começa a rir de novo. Que coisa chata.
– Não faz isso, Michel! Está muito perto da rua – ela diz com aquela voz horrível. – Eu ligo quando
chegar em casa – ela fala para Ivone.
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Nada.
– Mamãe, mamãe.
Ela não olha. Não sorri. Puxa meu braço. Dói. – Para, mamãe! – eu digo, dentro na minha cabeça.
– Mamãe, os passarinhos!
Ela olha para baixo. Será que esqueceu que eu estou aqui? Será que se lembra de mim? Ela me pega
no colo e caminha mais rápido.
– Mamãe, os passarinhos.
– Passarinhos, passarinhos!
Eu aponto. Ela não olha para o que eu estou mostrando. Continua andando. Ela não enxerga. Não
me escuta.